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Um retrato dos efeitos da mídia e da sociedade do desempenho no documentário

“Take your pills​”1

Evellyn Caroline Santos LIMA2


Universidade Federal do Maranhão, Imperatriz, MA
Thiago Pereira FALCÃO3
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB

RESUMO: ​O presente trabalho, por meio do documentário “Take your pills”, tem
como objetivo abordar os efeitos da mídia no incentivo do consumo de drogas de
estimulação e seu papel educativo de conscientização em relação aos efeitos dessas
substâncias, abordando o papel duplo que a mídia pode exercer no que se trata da
influência de consumo: tanto pode incentivar, como pode alertar. Abordará, ainda, o
conceito de sociedade do cansaço apresentado por Byung-Chul Han.

PALAVRAS-CHAVE: ​Mídia; Incentivo; Conscientização; Sociedade do desempenho;


Take your pills​.

1 INTRODUÇÃO

A sociedade passou por diversas modificações sociais, econômicas e culturais


até se tornar o que ela é hoje. Para Stig Hjavard (2014), nestas transformações, a mídia
esteve presente, tanto como um agente de influência transformador, como também
sendo ela mesma transformada. E conforme Byung-Chul Han (2015), nossas
transformações nos levaram a ser uma sociedade do desempenho.

A mídia influenciou tanto nossas vidas, que muitos de nós conhecemos mais
sobre assuntos de Ciência por causa de filmes de ficção científica do que graças às
instituições de ensino (HJAVARD, 2014,p.26). De modo que é impossível negar o
papel midiático na conscientização e incentivo sobre diversos temas.

Mas não só de entretenimento pedagógico sobrevivem as mídias. A mídia teve


um importante papel na propagação de informação e construção de conceitos em torno

1
Trabalho submetido para apresentação no GT4 - Narrativas Audiovisuais, do XIII Simpósio de
Comunicação da Região Tocantina (XIII SIMCOM), entre os dias 4 e 6 de dezembro de 2019, na
Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em Imperatriz, Maranhão.
2
Estudante de Graduação do 7º Semestre do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade
Federal do Maranhão, e-mail: ​evellyn.ca.lima@gmail.com.
3
Orientador do trabalho. Professor Dr. do Curso de Comunicação em Mídias Digitais da Universidade
Federal da Paraíba, e-mail: ​thfalcao@gmail.com​.
das drogas de estimulação. É o que mostra o documentário “Take your pills”, da
jornalista Alison Klayman, uma produção original da Netflix lançada em 2018.

Assim, o objetivo do presente trabalho é discutir os efeitos da mídia no incentivo


do consumo de drogas de desempenho e seu papel educativo de conscientização em
relação aos efeitos dessas substâncias, se utilizando ainda da crítica à sociedade atual
feita pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, o qual percebeu que nos tornamos
uma sociedade do desempenho, algo que abre portas para a aceitação do uso de drogas
de desempenho.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Mídia, Incentivo e Conscientização
A mídia contribui significativamente ao conhecimento da sociedade e à opinião
pública, e as novas tecnologias midiáticas. Para Stig Hjarvard (2014,p.23-27) a mídia
teve mais influência que as escolas no conhecimento da teoria da evolução. Isso faz
parte da Midiatização, fenômeno que, conforme Hjavarda (2014), se concretiza com os
meios de comunicação exercendo influência significativa nas instituições sociais.
Instituições como o trabalho, os estudos, e quaisquer outras que se utilizem de
medição de resultados e desempenho não escaparam da midiatização.

A visão social das pessoas em relação às drogas de desempenho também foram


influenciadas pela mídia. É o que demonstra a jornalista Klayman (2018), através de
seu documentário. A mídia teve papel decisivo no consumo de drogas estimulantes:
através da rádio, do jornalismo impresso (especialmente revistas), e até da televisão.
Por outro lado, pouco a pouco a mídia também desenvolveu o papel de alertar sobre as
drogas de desempenho, de conscientizar as pessoas sobre seus efeitos e riscos, que é
justamente o que o documentário “Take your pills” realiza.

2.2 Sociedade do desempenho


A tendência da perfeição no desempenho foi problematizada por Byung-Chul
Han, filósofo e teórico cultural sul-coreano radicado na Alemanha, que tratou das
transformações sociais que se desenvolveram numa sociedade de desempenho, em seu
ensaio “Sociedade do cansaço”, publicado no Brasil em 2015 pela Editora Vozes.
Cada época tem suas próprias enfermidades fundamentais, argumenta
Byung-Chul Han. O século XX foi uma era imunológica, com a divisão nítida entre
“dentro e fora” marcada pelo combate de inimigos do corpo através dos antibióticos, e
do combate dos inimigos externos através das guerras. O começo do século XXI, por
sua vez, não é nem bacteriológico e nem viral, e sim neuronal. “Doenças neuronais
como a depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade
(TDAH), Transtorno de personalidade limítrofe (TPL) ou a síndrome de Burnout (SB)
determinam a paisagem patológica do começo do século XXI” (HAN, 2015, 7-8p).
Essas doenças estão relacionadas aos anseios das pessoas por serem cada vez mais
eficientes em seus trabalhos. Aqueles que não conseguem êxito no objetivo do
desempenho, acabam se tornando apáticas ou depressivas.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O objeto de estudo do presente trabalho é o documentário “Take your pills
(Tome suas pílulas)” uma produção original Netflix lançado em 2018 e dirigido pela
jornalista e cineasta Alison Klayman, aborda o consumo de remédios como Adderall e
Ritalina, receitados no tratamento de TDAH e semelhantes, por indivíduos que não
possuem essas necessidades especiais, mas que o utilizam por pensarem que as
substâncias melhoram o desempenho em seus trabalhos e estudos, ou seja, remédios
específicos de tratamento para determinadas necessidades, tornam-se drogas
estimulantes por quem quer potencializar o próprio desempenho nas atividades
cotidianas.

O documentário “Take your pills” é utilizado pelo artigo para mostrar os efeitos
da midiatização nos hábitos de trabalho e desempenho, assim como a visão das pessoas
a respeito do uso de drogas de desempenho, com base especialmente no pesquisador da
comunicação dinamarquês Stig Hjavard, por meio do seu livro “A miditização da
cultura e da sociedade”, lançado no Brasil em 2014, e também os traços da sociedade do
desempenho, um conceito desenvolvido pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han no
ensaio “Sociedade do Cansaço’, lançado no país no ano de 2015.
4 RESULTADOS PARCIAIS
O documentário “Take your pills” mostra como desde o século XX as drogas de
estímulo se desenvolveram e passaram a ser comuns na cultura de desempenho
identificada por Han. A relevância do documentário está na conscientização e
sensibilização das pessoas em relação ao uso de drogas, tanto para quem realmente
tem TDAH, algo também abordado pela produção, como por quem não possui o
transtorno, mas se vicia em substâncias que trazem uma série de efeitos colaterais
apenas pela busca da perfeição em seu desempenho. Stig Hjarvard mostra a
importância da retratação de algum tema na mídia.

Considere-se, por exemplo, a quantidade de pessoas cujo conhecimento das


várias etapas da história da evolução tem sido formado não tanto nas salas de
aula quanto nos filmes ​Jurassik Park​, de Stven Spielberg, ou na série de
documentários Caminhando com Dinossauros (​Walking with Dinosaurs​), da
BBC (HJARVARD, 2014, 26p).

A Netflix fechou o ano de 2018 com 139 milhões de assinantes no mundo. Por
mais que nem todos esses assinantes sejam espectadores do documentário “Take your
pills”, é inegável que o potencial de alcance da produção é alto. A principal droga de
incentivo abordada pelo documentário é o Adderall.

O Adderall é um medicamento direcionado aos indivíduos com transtorno de


déficit de atenção e hiperatividade, o TDAH. Cada vez mais estudantes americanos se
drogam para conseguirem estudar ao nível que acham satisfatório. Mas a busca pela
perfeição estudantil parece nunca terminar, e hoje o Adderall é conhecido como “crack
universitário”. Além dos estudantes, profissionais do mercado financeiro, empresários
de celebridades, programadores e atletas também são usuários recorrentes da
substância..

O documentário ainda possui uma estética jovial para manter a atenção dos
jovens, que se utiliza inclusive de memes como “The college starter pack”, que mostra
o pacote das “coisas de universitários”, que inclui a anfetamina; e acerta não apenas no
nível informativo do conteúdo, mas também na forma como este é abordado. Não é
mais um daqueles documentários de temas de altíssima relevância, mas que são
entediantes. “Take your pills” pode ser consumido como não apenas um informativo,
mas como uma espécie de entretenimento, ou, infotenimento.

Mas se a mídia pode ser educativa no alerta ao consumo de drogas de


desempenho, como no documentário produzido por Klayman, que aborda mesmo as
origens das drogas de incentivo; a mídia também pode ser a “porta de entrada” ao
consumo das drogas de estímulo, como mostra a produção.

Já no século XX, as drogas de incentivo eram populares entre os americanos


graças aos incentivos midiáticos, notadamente propagandas em revistas, ou músicas
cantadas sobre os efeitos das substâncias variadas da anfetamina, como a música
“Who put the benzendrine in In Mrs. Murphys Ovaltine”, de Harry Hipster Gibson.
Além de filmes, séries, comerciais de televisão e até desenhos animados como “Os
Simpsons”. Nos anos 60, as pessoas davam anfetamina às crianças, e a publicidade em
torno da droga era explícita e incisiva, com dizeres como “Crianças amam
anfetamina!”, influenciando pais e professores a drogarem as crianças. A anfetamina
era conhecida como “droga da matemática”, porque ao usarem, as crianças
conseguiam se concentrar na disciplina e fazerem as atividades por mais tempo do que
quando não estavam sob o efeito da substância.

O documentário retrata outro problema social em relação ao consumo de drogas


de desempenho: os consumidores de metanfetamina, substância com efeitos
semelhantes ao Adderall, que é uma anfetamina, são marginalizados e até perseguidos,
não apenas pela visão social estigmatizada da substância, como também pela polícia.
Há uma desigualdade social no consumo de drogas de desempenho, onde o Aderall é
uma visto como algo de pessoas que buscam o sucesso, e a metanfetamina seria a
substância dos “perdidos”. Existe, portanto, uma espécie de elitismo entre as drogas de
desempenho, algo sensivelmente mostrado pelo documentário. Mas o mais importante
mesmo é que, marginalizados ou não, indivíduos têm se drogado para melhorar seus
desempenhos em diversas atividades.

Na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas


atividades. Por isso, não é capaz de aprofundamento contemplativo – nem no
comer nem no copular. O animal não pode mergulhar contemplativamente no
que tem diante de si, pois tem de elaborar ao mesmo tempo o que tem atrás
de si. Não apenas a multitarefa, mas também atividades como jogos de
computador geram uma atenção ampla, mas rasa, que se assemelha à atenção
de um animal selvagem. As mais recentes evoluções sociais e a mudança de
estrutura da atenção aproximam cada vez mais a sociedade humana da vida
selvagem (HAN, 2015, 32p).

Pode ser tirada do documentário, portanto, a seguinte lição de Byung-Chul Han:


ele compara o ser humano da sociedade do desempenho em um animal ocupado na
floresta. Na floresta, enquanto mastiga sua comida, o bicho tem de prestar atenção à
sua volta para não ser também ele comido. Enquanto isso, também vigia seus filhos e
seu parceiro. A multitarefa é cada vez mais estimulada na sociedade do desempenho,
trazendo ansiedade aos indivíduos inseridos nela.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O documentário “Take your pills” é uma sensível produção midiática que
“redime”, ao menos em parte, o papel negativo da mídia em incentivar a ansiedade por
produzir mais em menos tempo, por utilizar estímulos de desempenho em forma de
drogas. O documentário possui ainda o papel social de conscientizar e alertar
simultaneamente ao papel de entreter, com uma estética atraente capaz de prender a
atenção de diversos tipos de pessoas, mesmo aquelas apressadas e ansiosas pela
próxima tarefa.

Além disso, a sociedade de desempenho problematizada por Byung-Chul Han é


a mesma sociedade retratada no documentário da jornalista Klayman. A demanda
crescente por melhora na cognição também sugere que essa sociedade do desempenho
parece ter vindo para ficar, ao menos é o que as tendências de mercado e cultura
parecem apontar.

REFERÊNCIAS

Amazon. ​ADHD Nation: The disorder. The drugs. The inside story. (English Edition).
Disponível em:
<https://www.amazon.com.br/dp/B010RGSDJG/ref=dp-kindle-redirect?_encoding=UTF8&btkr
=1>. Acesso em 29 de junho de 2019.
HAN, Byung-Chul. ​Sociedade do cansaço.​ 1ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
HJAVARD, Stig. ​A midiatização da cultura e da sociedade. 1ª Edição. São Leopoldo: Editora
Unisinos, 2014. 24-27p.
Folha de S. Paulo. ​Netflix tem recorde de assinantes, mas receita cresce menos que o
esperado. ​Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/01/netflix-tem-recorde-de-assinantes-mas-receit
a-cresce-menos-que-o-esperado.shtml>. Acesso em 29 de junho de 2019.
Netflix. ​Take your pills. Disponível em:
<https://www.netflix.com/watch/80117831?trackId=13752289&tctx=0%2C0%2C38446cff-2e8
6-4a8b-83cb-4e611875a26a-69087934%2C%2C>. Acesso em 29 de junho de 2019.

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