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MODIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

HUGO RAMOS ALVES

Os presentes tópicos são parcelares. Por conseguinte, não cobrem a totalidade da


matéria abordada pelo programa, nem substituem a consulta de manuais
indicados no programa
Antes do mais, cabe ter presente um princípio fundamental: pacta sunt servanda,
plasmado no artigo 405.º/1 do CC. Uma vez celebrado, o contrato passa a ter força
vinculativa, devendo ser pontualmente cumprido, não sendo possíveis alterações ou
modificações unilaterais do respectivo clausulado.
Assim, a eventual modificação de uma obrigação previamente constituída apenas
pode ter por fonte o acordo das partes (modificação voluntária) ou a própria Lei
(modificação legal). No caso particular da modificação legal, esta pode traduzir-se na
atribuição a um dos sujeitos da relação obrigacional da possibilidade de, contanto que
verificados determinados requisitos, este requeira a modificação do contrato (cfr. o
artigo 437.º), mas, também, na atribuição de um direito de variar a obrigação (“ius
variandi”), figura típica do contrato de transporte de mercadorias. Por via de regra, as
convenções internacionais que regulam as várias modalidades de transporte de
mercadorias (marítimo, terrestre e aéreo) atribuem ao transportador (i) o direito de
retirar a mercadoria no local de partida ou destino, (ii) o direito de parar a mercadoria
no decurso da viagem, (iii) o direito de entregar entregar a carga no local de destino ou
no decurso da viagem para uma pessoa que não seja o consignatário originalmente
designado ou (iv) devolver a carga ao local de partida (sem a entregar no destino).

I. Modificação

Importa ter presente que a modificação da obrigação, ou, em termos mais amplos,
do negócio jurídico, pode ser objeto de gradação, porquanto podem ser modificados
apenas certos aspetos do negócio obrigacional (modificação stricto sensu) ou, inclusive,
o próprio negócio jurídico (modificação lato sensu)1, bem como, ainda, a modificação
do negócio jurídico perspectivado em termos meramente económicos (modificação
latissimo sensu). Ora, nesta última modalidade, podemos ter alterações do objeto
negocial (que podem compreender a dação em cumprimento, dado que o objeto
negocial inicial é substituído por um aliud), das partes (por via da assunção de dívida ou
de cessão de créditos) ou, em termos ainda mais amplos, pela substituição da obrigação
por outra, situação que poderá abranger o instituto da novação.

1
HAU, Vertragsanpassung und Anpassungsvertrag, cit., p. 11.
Isto porque a modificação, em geral, abrange, no que à obrigação diz respeito, o
dever primário de prestar ou mesmo os deveres acessórios, nomeadamente a identidade,
qualidade e quantidade do objeto da prestação, mas, também, sujeições, faculdades ou
exceções, situações enquadráveis na obrigação considerada enquanto unidade
complexa2, o que é indício da veracidade da asserção de Gernhüber, referindo que os
limites do negócio modificativo da obrigação não redundam na autonomia privada, mas,
outrossim, nos limites de um determinado instituto jurídico3.
Em rigor a modificação voluntária ou modificação stricto sensu é um acordo
através do qual as partes alteram alguns aspectos do negócio obrigacional (prazo,
montante em dívida, remuneração de uma das partes, et cetera). A modificação lato
sensu ou latíssimo sensu corresponde, o mais das vezes, a institutos jurídicos, alguns
dos quais serão estudados durante o curso (a assunção de dívida, a cessão de créditos, a
dação em cumprimento ou a novação, por exemplo).

II. Alteração das circunstâncias

I. Decorre da leitura do artigo 437.º, número 1 do CC, que este apenas pode ser
aplicado se estiverem verificados os seguintes requisitos:
Primo, que a alteração considerada relevante diga respeito a circunstâncias em
que se alicerçou a decisão de contratar. In concreto, teremos de estar perante
circunstâncias que se encontrem na base do negócio, com consciência de ambos os
contraentes ou razoável notoriedade, seja como representação mental ou psicológica
comum patente nas negociações (base subjetiva), ou como condicionalismo objetivo
apenas implícito, porque essencial ao sentido e aos resultados do contrato celebrado
(base objetiva)4.

2
HAU, Vertragsanpassung und Anpassungsvertrag, cit., pp. 11-12.
3
GERNHÜBER, Die Erfüllung und ihre Surrogate, 2.ª ed., cit., p. 190.
4
De acordo com OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito civil – Teoria geral, Vol. II, 2.ª ed., cit., p. 148, a remissão
do artigo 252.º, número 2 para o artigo 437.º é apenas um problema relacionado com o erro e não com a
possibilidade de resolver ou modificar o negócio. No mesmo sentido, cfr., por exemplo, MENEZES
CORDEIRO, Tratado de direito civil, Vol. II, 4.ª ed., cit., p. 870. Já MOTA PINTO, Teoria geral do direito
civil, 4.ª ed., cit., pp. 519-520, salienta que uma deficiente previsão do evoluir das circunstâncias releva se
se verificarem os requisitos do artigo 437.º, conquanto afirme que a falsa representação da realidade dá
azo à aplicação do artigo 252.º, número 2, enquanto a falsa representação reportada ao futuro será,
eventualmente, regulada pelo artigo 437.º, número 1.
Secundo, que essas circunstâncias fundamentais hajam sofrido uma alteração
anormal, isto é, imprevisível ou, ainda que previsível, afetando o equilíbrio do contrato.
Tertio, que a estabilidade do contrato envolva lesão para uma das partes, quer
porque se tenha tornado demasiado onerosa, numa perspetiva económica, a prestação de
uma das partes (conquanto não se exija que a alteração das circunstâncias coloque a
parte numa situação de ruína económica, a manter-se incólume o contrato), quer porque
a alteração das circunstâncias envolva, para o lesado, grandes riscos pessoais ou
excessivos sacrifícios de natureza não patrimonial.
Quarto, que a manutenção do contrato ou dos seus termos afete gravemente os
princípios da boa fé negocial5.
Quinto, que a situação não se encontre abrangida pelos riscos próprios do
contrato, i.e., que a alteração anómala das circunstâncias não esteja compreendida na
álea própria do contrato, ou seja, nas suas flutuações normais ou finalidade ou nos riscos
concretamente contemplados pelas partes aquando da celebração do contrato.

II. De acordo com Manuel de Andrade, numa formulação que terá influenciado o
texto do CC, a pressuposição deficiente apenas seria relevante quando fosse conhecida
ou cognoscível para a outra parte no momento da conclusão do negócio e desde que
esta, se lhe tivesse sido proposto o condicionamento do negócio à verificação da
circunstância pressuposta, tivesse aceitado tal pretensão ou a devesse ter aceitado
segunda a boa fé. No entanto, Manuel de Andrade admitiria, ainda, a justificação da
resolução ou modificação do negócio ainda que não se verificassem os requisitos da

5
Alguns autores autonomizam o requisito da gravidade da anormalidade da alteração das circunstâncias,
o que bem demonstra a dificuldade de densificação deste conceito. Assim, por exemplo, ALMEIDA
COSTA, Direito das obrigações, 12.ª ed., cit., pp. 338-339, afirmando que a alteração das circunstâncias é
anormal quando seja excecional; para além disso, a alteração das circunstâncias deve envolver lesão para
uma das partes (excessiva onerosidade económica da prestação, grandes riscos pessoais ou excessivos
sacrifícios de natureza não patrimonial), caso o contrato se mantenha incólume. Neste particular, entende
OLIVEIRA ASCENSÃO, Onerosidade da prestação por “alteração das circunstâncias, cit., p. 639, que por
razões de certeza ou segurança jurídica, tornar-se-ia impossível a vida jurídica se todos os negócios
pudessem ser revistos, ao sabor das alterações da realidade subjacente, que incessantemente evolui. Na
mesma ordem de ideias, assinala PAIS DE VASCONCELOS, Teoria Geral do Direito Civil, 7.ª ed., cit, pp.
321-322, que para a determinação do critério de importância e gravidade da perturbação da justiça
contratual, a lei recorreu ao princípio da boa fé, sendo necessário que a alteração das circunstâncias tenha
provocado uma perturbação da justiça contratual, uma injustiça tão grave que nenhuma pessoa de bem, de
boa fé, persistiria na exigência do cumprimento, de um modo rígido e sem consideração da injustiça
envolvida.
teoria da base negocial, desde que a boa fé justifique, no momento em que é invocada, a
aceitação da cláusula de condicionamento na data do negócio6.
Tendo no nosso horizonte o mapa normativo do CC, pensamos poder afirmar que
este adota a teoria da base do negócio, uma vez que se refere expressamente às
circunstâncias que fundaram a base de contratar. Assim, todo e qualquer contrato deve
ser considerado indissociável da situação histórica em que foi celebrado, sendo, por
conseguinte, inseparável do circunstancialismo que o fundamenta7.
Deste modo, a base do negócio relevará desde que estejamos perante uma
situação que objetivamente justifique o negócio e que as partes tenham comummente
assumido como motivação para o mesmo celebrar. Posto isto, exige-se, ainda, que
estejamos perante uma alteração anormal e que a mesma não esteja coberta pelos riscos
próprios do contrato. Com tal formulação, o legislador terá pretendido afastar as
alterações que possam ser consideradas normais na economia do negócio. Assim, fica
excluído, naturalmente, o risco de incumprimento, pois este é ínsito a qualquer
instrumento contratual. Assim, tudo passa pela aferição casuística do risco que, nas
circunstâncias do caso, acompanha o tipo contratual utilizado. Ademais, convém ter em
mente que a alusão à necessidade de o risco estar coberto pelos riscos próprios do
contrato demonstra, igualmente, a natureza subsidiária do instituto.

III. Prescrição

Ictu oculi, a prescrição consiste numa causa de extinção das obrigações civis e
tema a natureza de excepção que pode ser invocada pelo devedor de modo a
legitimamente recusar o cumprimento.
Todavia, esta afirmação clássica é hoje contestada, uma vez que a invocação da
prescrição opera através da extinção de um dos elementos do vínculo – a exigibilidade
da prestação –, modificando a sua natureza. Assim, a invocação da prescrição não
extingue inteiramente o vínculo obrigacional.
6
MANUEL DE ANDRADE, Teoria geral da relação jurídica, Vol. II, cit., pp. 406-409. À época,
pronunciaram-se pela teoria da base do negócio ANTUNES VARELA, Ineficácia do testamento e vontade
conjectural do testador, Coimbra: Coimbra Editora, 1950, p. 263 e segs., bem como VAZ SERRA,
Resolução ou modificação dos contratos por alteração das circunstâncias, in BMJ 68 (1957), pp. 293-
385 (p. 308 e segs). Em abono da teoria da imprevisão, cfr. CARVALHO FERNANDES, Da teoria da
imprevisão no Direito civil português (reimp. da edição de 1963, com uma nota de atualização), Lisboa:
Quid Juris, 2001, passim.
7
OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito civil – Teoria geral, Vol. II, cit., p. 415.
O credor mantém a permissão normativa de aproveitamento da prestação
realizada espontaneamente, ainda que com ignorância do decurso do prazo prescricional
(artigo. 304.º/2), ou mesmo depois da sua invocação. Deste modo, reconhece-se o
cumprimento de obrigação prescrita como causa legítima de enriquecimento.
A invocação da prescrição convola o vínculo em obrigação natural. Com efeito, a
invocação da prescrição coenvolve a modificação da situação jurídica dos sujeitos
implicados – credor e devedor; eventualmente, também, terceiros, como outros credores
do mesmo devedor ou seus garantes – e pressupõe, por isso, quando feita
expressamente, o reconhecimento do vínculo sobre o qual se visa operar a prescrição. A
modificação traduz-se na alteração da natureza da obrigação: de civil passa a natural
sem que haja uma vera e própria extinção da obrigação. Se, após a invocação da
prescrição pelo devedor, este vier a pagar o montante em dívida, o credor beneficiará da
soluti retentio (artigo 403.º/1)., facto que demonstra que a prescrição não extingue a
obrigação (se tal sucedesse, não haveria qualquer justificação para o credor reter o
cumprimento), mas, tão-somente, que alterou a respectiva natureza.

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