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DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO

REL ATO COM ADULTOS: UM ESTUDO DE CASO


DE EXPERIÊNCIA
PSICOPEDAGÓGICA

DIAGNÓSTICO E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA


COM ADULTOS: UM ESTUDO DE CASO

Débora Silva de Castro Pereira

RESUMO - Refere-se este Estudo de Caso à psicopedagogia e sua


relação com adultos. A atividade psicopedagógica, dinâmica em sua essência
e vinculada à aprendizagem, diagnóstico e tratamento psicopedagógico, vem
se apresentando de forma mais abrangente, com ações não somente
direcionadas à criança e ao adolescente, mas também aos adultos. Nesse
universo, relativamente novo, faz-se necessário levar em consideração toda
a perspectiva histórica e a-histórica, numa visão sistêmica entre a observância
da interferência da idade adulta em relação ao meio sociocultural, a
inteligência e a afetividade, com vistas a um trabalho clínico psicopedagógico,
de natureza preventiva e/ou remediativa.

UNITERMOS: Adulto. Transtornos de aprendizagem/ diagnóstico.


Transtornos de aprendizagem / terapia.

Débora Silva de Castro Pereira - Pedagoga, Correspondência


Psicopedagoga, Mestre e Doutora em Educação pela Débora Silva de Castro Pereira
Universidade Autônoma de Barcelona - Barcelona, Rua do Ébano, 148/1202 – Caminho das Árvores-
Professora titular da Universidade Católica do Salvador - BA - CEP – 41820-370
Salvador - UCSAL, Coordenadora do curso de E-mail: descp@uol.com.br
Especialização em Psicopedagogia da Universidade
Católica do Salvador - UCSAL, Diretora do CRIA-
Centro Psicopedagógico, Vocacional e de Recursos
Humanos, Presidente da Associação Brasileira de
Psicopedagogia – seção Bahia.

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INTRODUÇÃO Quando a psicopedagogia destina-se ao


Sempre somos conduzidos e sempre estamos adulto, observa-se com mais clareza que a
nos conduzindo a desafios. São eles que nos aprendizagem não acontece somente nas escolas,
impulsionam a uma nova forma de entender o quando se trabalham conteúdos, teorias, quando
mundo, as coisas que estão à nossa volta, as se tem um rendimento de aprendizagem a
pessoas, a nós mesmos, a aprendizagem. Trabalhar considerar, uma avaliação a fazer, um juízo de
com a psicopedagogia é assim: sempre um desafio. valor a elaborar. Em verdade, aprendemos
O trabalho psicopedagógico, mesmo tendo sempre, a cada dia, a cada instante, a vida toda.
respaldo teórico, técnico e prático, constitui-se em Não existe lugar, tempo ou idade para se
um desafio constante, visto que é sempre um aprender. “Em todas as idades, em toda esfera
trabalho inusitado, diferenciado, uma incógnita, social, nós aprendemos”1. Aprendemos desde
considerando que cada sujeito com quem que nascemos. Segundo Visca2, em seu esquema
trabalhamos é uma pessoa única, aprende do seu evolutivo da aprendizagem, esta começa a se
jeito, no seu próprio tempo, com o seu próprio manifestar desde as primeiras relações vinculares
ritmo. Considerando esses aspectos, a entre a mãe e a criança e vai se estendendo pela
psicopedagogia busca entender o sujeito apren- família, pela comunidade, pela escola até a vida
dente, o ser cognoscente, a sua relação com a adulta e continua existindo sempre.
aprendizagem por meio da investigação, da Assim sendo, por considerarmos a
observação, da intervenção, da avaliação com aprendizagem como um constante “vir a ser”,
vistas ao diagnóstico e, em consequência, ao sabemos da importância e da necessidade de
tratamento. irmos em busca de respaldo teórico, prático nos
A psicopedagogia, muitas vezes, é vista numa meandros da psicopedagogia, para melhor
direção por meio da qual somente são compreendermos a complexidade que é o
contemplados crianças e adolescentes com processo de aprendizagem.
dificuldades de aprendizagem: ledo engano. Esse nível de complexidade que a apren-
Primeiro porque a psicopedagogia não está dizagem traz consigo provoca em cada um de
somente direcionada a crianças e adolescentes. nós grandes desafios, seja numa ação direcionada
Ela está direcionada também a adultos e estende à criança e ao adolescente ou numa ação
sua ação tanto para a clínica como para a direcionada ao adulto.
instituição, na busca do tratamento ou da O estudo com adultos, que iremos apresentar,
prevenção das dificuldades de aprendizagem. nos trouxe experiências muito ricas e singulares.
Segundo porque ela não está somente dirigida a Se pensamos que trabalhar com a criança e o
pessoas com dificuldades de aprendizagem, mas adolescente em psicopedagogia é uma coisa
também ao processo de aprendizagem com todas singular pela própria natureza do trabalho e do
as suas nuances, canalizando o seu fazer para o sujeito que atendemos, imaginem trabalhar com
como se aprende, para o sujeito que aprende, o adulto. A nossa literatura nessa área ainda está
para a aprendizagem. em expansão e não é muito comum atender
A idéia de que a psicopedagogia só trabalha adultos com dificuldades de aprendizagem nos
com crianças com dificuldades de aprendizagem consultórios psicopedagógicos.
é oriunda de um conceito implícito em muitos de Pelo desejo de sempre desbravar o novo, o
nós, consequência da própria origem da que está por vir, nos dedicamos ao estudo do
psicopedagogia, a qual esteve sempre atrelada adulto e a sua relação com a psicopedagogia ou
à criança e às suas dificuldades de aprendizagem. ao estudo da psicopedagogia e a sua relação com
Posteriormente a ação psicopedagógica foi se o adulto. São diferentes situações em se
incorporando ao atendimento a adolescentes e, considerando a posição ocupada, pelo enfoque,
enfim, ao adulto. predominância, importância que se queira dar

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as duas conjuntamente, ou a cada uma delas. ativar a aquisição de novas habilidades, a


Contudo, não importa por onde começar. O que sedimentação de tantas outras na tentativa de
importa mesmo é o pesquisar, o debruçar-se sobre estabelecer a integração do sujeito ao seu
essa questão tão interessante, instigante e poder contexto, às várias nuances do processo de
extrair dela novas fontes de conhecimento. aprendizagem, do ato de aprender.
Da nossa experiência com adultos, pinçamos Assim sendo, o eixo teórico que nos deu
um dos casos, dentre os quais atendo no sustentação para desenvolver o trabalho
consultório de psicopedagogia, por considerá-lo desenvolvido com S. foi a Epistemologia
bem interessante, especial e resolvi trazê-lo à tona Convergente do Jorge Visca2. Isso não significa
para apresentar no VIII Congresso Brasileiro que outras teorias não tenham sido utilizadas,
Psicopedagogia, em São Paulo, em julho de 2009. estudadas, que outras práticas não tenham
Essa apresentação, agora transformada em artigo, servido de instrumento para novas intervenções
nos traz subsídios para que possamos mergulhar psicopedagógicas. Dessa forma, vemos que o
um pouco nesse caminho do adulto com a desenvolvimento de ações com base em outros
psicopedagogia e da psicopedagogia com o parâmetros constitui-se de extrema importância
adulto. para que possamos, frente a estes, desenvolver
um ação que mais se adeque ao sujeito com quem
O ADULTO, A APRENDIZAGEM E A estamos trabalhando, à proposta estabelecida
PSICOPEDAGOGIA pelo profissional psicopedagogo.
A ativação dos esquemas cognitivos que o O caso de S., que ora apresentamos, nos
trabalho psicopedagógico estimula inclui tanto o conduz à reflexão sobre o ato de aprender, a
conhecimento em sentido estrito, como valores, relação do adulto com a aprendizagem e as suas
normas, atitudes, destrezas, como também a dificuldades, com os seus avanços e recuos, com
possibilidade de uma nova situação de apren- seus medos, acertos, com o reconhecimento das
dizagem. Nessa situação, o sujeito cognoscente suas dificuldades e o aprender a conviver com
constrói, provoca mudanças, enriquece e elas, com o seu progresso quanto à aquisição de
diversifica os seus esquemas. Assim sendo, para novas habilidades e sedimentação de tantas
que tal aconteça faz-se necessário a existência outras, enfim com a possibilidade de aprender,
de uma sólida base metodológica, uma prática e reaprender com mais fluidez e competência.
técnica oriundas de uma teoria que lhe dê
sustentação. CARACTERÍSTICAS DA DEMANDA DO
A necessidade do saber teórico como ADULTO
sustentação numa ação psicopedagógica, seja ela De um modo geral é o adulto quem procura a
desenvolvida por qualquer que seja a meto- ajuda do psicopedagogo quando, por vezes,
dologia, deve se fazer presente para que pos- descobre sozinho, que tem alguma dificuldade
samos trazer fiabilidade e veracidade ao fazer para aprender. Essa descoberta surge
psicopedagógico. Isto significa que o psico- normalmente, quando sente a dificuldade
pedagogo precisa apropriar-se de um estampada na leitura ou na escrita.
conhecimento específico para entender como É uma procura sempre indecisa, difícil. O
acontece a aprendizagem, qual o papel que as adulto resiste em procurar um profissional de
estruturas cognitivas, sociais e afetivas desem- ajuda e principalmente o psicopedagogo, visto
penham para que este processo se concretize no que não conhece o tipo de trabalho que esse
sujeito de forma satisfatória. profissional desenvolve, não sabe para onde está
A elucidação sobre essa forma de ação dirigida a ação psicopedagógica.
instituída em bases teóricas definidas faz com que O adulto, quando detecta que tem uma
o psicopedagogo busque melhores formas de dificuldade de aprendizagem, não acredita que

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essa dificuldade possa ser corrigida. Por sentir- • quando o adulto busca esse tipo de ajuda, ele
se adulto, com certa idade, não ser mais criança, tem direcionado o desejo de descoberta e de
pensa que as suas dificuldades já estão tão cura;
sedimentadas que as coloca como se fossem de • que ele busca muitas explicações. É uma
difícil mudança e correção. pessoa que está ávida por esclarecimentos e
A descoberta da necessidade de procurar um exige do psicopedagogo elucidações sobre o
psicopedagogo, às vezes, vem por meio da trabalho que está sendo desenvolvido. Sente
dificuldade que um dos seus filhos apresenta. a necessidade de entender o que profissional
Ao levar o filho a este profissional, ouvindo falar está fazendo, o que ele está fazendo e por
sobre as dificuldades apresentadas, ouvindo as quê;
explicações que o profissional dá a respeito do • os motivos que o estão levando à procura de
problema em análise, percebe que também é um psicopedagogo, investigá-los para
possuidor de problemas parecidos, os quais direcionar melhor a ação psicopedagógica;
merecem uma atenção psicopedagógica. • o que ele espera desse trabalho psico-
Existem casos em que o adulto procura o pedagógico, quais são os seus anseios com
psicopedagogo por indicação de amigos, os quais relação ao diagnóstico, ao tratamento.
o alertaram sobre um possível problema de ordem Por outro lado, o psicopedagogo, ao considerar
psicopedagógica, “detectado” segundo as suas toda essas questões trazidas pelo adulto, subsídio
convivências com um dos filhos que apresentou para o levantamento de hipóteses e de
dificuldades de aprendizagem. canalização para um trabalho mais efetivo, deve
Muito raramente o adulto é trazido por também não perder de vista questões
alguém. Mas, apesar de não ser comum essa extremamente importantes, específicas da ação
prática, duas pessoas adultas vieram ao nosso psicopedagógica, que deverão fazer parte
consultório conduzidas, uma pela mãe e a outra inerente do diagnóstico e do tratamento, tais
pela madre superiora do convento do qual faziam como:
parte. Foram casos especiais. • os sintomas apresentados quanto às
dificuldades de aprendizagem;
O QUE CONSIDERAR NO TRABALHO • a idade do sujeito e canalizar todo o trabalho,
COM O ADULTO a avaliação, o tratamento para uma ação
Como em qualquer trabalho psicopedagógico, psicopedagógica adequada a essa realidade;
temos que levar em consideração uma série de • a sua história e a-história, ou seja, a sua vida
fatores que possam nos conduzir a uma análise profissional, pessoal, os vínculos que
mais acurada, a uma avaliação, um diagnóstico e estabeleceu ou estabelece com as pessoas com
tratamento mais eficazes. Num trabalho com as quais convive, vínculos consigo mesmo,
adultos isso não é diferente. Os cuidados serão com a aprendizagem de modo geral;
os mesmos, porém essas considerações são muito • “a análise de fatores passados e presentes que
específicas por tratar-se de pessoas que já têm permitam estabelecer diferenças entre idade,
uma consciência firmada sobre si mesmo, sobre saúde, inteligência, afetividade, etc.”3;
o que busca, sobre o que quer, tem uma vida • a sua estrutura cognitiva para poder detectar
relativamente definida, tanto pessoal como sobre a forma como opera mentalmente, qual
profissional. o seu modelo de aprendizagem e, em
Dessa forma, temos que levar em consequência, poder desenvolver um trabalho
consideração: compatível com o detectado.
• que o adulto tem consciência do que procura, Como vemos, o trabalho psicopedagógico
do que quer, apesar de não ter clareza sobre desenvolvido com adulto tem características muito
o que tem; próprias e complexas, pela sua própria natureza,

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visto que exige um olhar muito especial, muito sobre como pode nos ajudar a fazer a anamnese,
próprio, por se tratar de pessoas com posições a qual virá no final da avaliação.
definidas (não importa que tipo de definição) A anamnese desenvolvida com o adulto é feita
sobre si mesmo, sobre a vida, sobre suas diretamente com o mesmo (salvo em situações
experiências de vida. especiais). Ela é posicionada no final da
avaliação para que o sujeito possa, durante o
O ESTUDO DE CASO período em que está sendo avaliado, buscar
Esse caso, apresentado no VIII Congresso de informações sobre si mesmo, desde o pré-natal
Psicopedagogia, em julho de 2009, em São Paulo, até a idade em que se encontra, procurando
é de uma pessoa adulta com 35 anos, a qual saber sobre a sua trajetória pela escola, pela
chamaremos de S., trazida pela madre superiora aprendizagem como um todo. Sugerimos que
do convento no qual era e continua sendo parte essa busca seja feita com as pessoas mais
integrante. S. tem o ensino fundamental completo, próximas ao adulto, pessoas da família, sejam a
faz terapia e um desejo enorme de vencer as suas mãe, o pai, parentes, amigos ou outras pessoas
dificuldades de aprendizagem. que possam ajudá-lo a reconstruir a sua
O motivo que levou a superiora a trazer S. a caminhada. É uma procura difícil, mas muito
um psicopedagogo foi por sentir a necessidade reveladora, não só para o psicopedagogo como
de descobrir a causa das dificuldades de também para aquele que busca a sua história.
aprendizagem por ela apresentadas e também
por ser a comunidade na qual viviam a A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DESENVOL-
responsável pelas despesas oriundas do trabalho VIDA COM S.
psicopedagógico. O diagnóstico e o tratamento desenvolvidos
com S. tiveram como eixo teórico a Epistemologia
A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA Convergente sem, contudo, desprezar técnicas e
Todos os momentos existentes na avaliação instrumentos advindos de outras linhas de
diagnóstica, assim como os instrumentos pensamento, de outras linhas teóricas.
utilizados, são de grande importância. São eles A avaliação diagnóstica foi composta pela
que nos darão condições de detectar as causas Entrevista Contratual, a aplicação das Provas
que estão provocando as dificuldades de Piagetianas, das Provas Projetivas Psico-
aprendizagem apresentadas pelo sujeito. pedagógicas, de instrumentos variados, tais como
Contudo, em se tratando de avaliação de adultos, jogos, atividades para verificar a capacidade
queremos, entre esses instrumentos, destacar a leitora a escrita, a percepção viso-espacial e, por
entrevista contratual e a anamnese por estas fim, a Anamnese e a devolutiva.
trazerem uma estrutura de funcionamento A entrevista contratual primeiramente
diferente da que nós, psicopedagogos, estamos aconteceu com a presença da Madre Superiora,
acostumados a desenvolver quando avaliamos a a qual falou das suas preocupações quanto às
criança ou o adolescente. dificuldades apresentadas por S., e combinamos
Na entrevista contratual com o adulto é ele um próximo encontro com ela e S. Esse encontro
quem responde por si mesmo (salvo em situações logo aconteceu e S. pode expor também, o seu
especiais), quem relata todas as questões que lhe desejo em fazer a avaliação para saber o porquê
afligem no que diz respeito às suas dificuldades das suas dificuldades, mostrando-se desejosa por
de aprendizagem, ao motivo que o está levando melhorar e aberta a mudanças.
a uma avaliação psicopedagógica e, é ele quem Nessa entrevista contratual, pudemos tomar
decide por fazer ou não a avaliação. Nesse conhecimento dos sintomas que S. apresentava:
momento explicamos todos os passos a serem dificuldades na leitura, na escrita e a presença
seguidos durante a avaliação e damos orientação da auto-estima rebaixada. Nesse momento,

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explicamos o trabalho a ser desenvolvido, específico para ativar a sua percepção visual,
estabelecemos um cronograma e marcamos a auditiva, espacial com vistas a uma melhor
próxima sessão. aquisição da leitura.
Durante e ao final da avaliação, pudemos
detectar que S. estava sempre receptiva ao OS INSTRUMENTOS UTILIZADOS
trabalho, observadora e atenta. Em alguns Nem todos os instrumentos utilizados estarão
momentos apresentava falta de autonomia, medo expostos nesse momento, visto que foram muitos
ao erro, conduta evitativa com relação à no decorrer de quase três anos de tratamento.
aprendizagem, dificuldades de relacionamento Citaremos alguns que consideramos como um
interpessoal, distanciamento do grupo no qual divisor de águas nesse trabalho, aqueles que
convivia e forte inibição. Escrevia e lia sem mais atingiram os objetivos propostos nesse
pontuação. Durante a leitura omitia algumas tratamento: o quarto, o lig quatro, o Otelo, o
sílabas, lia com lentidão, trocava algumas GoBang, O Pingo no i, a Mancala, as Matrizes
palavras quando lia. Apresentou dificuldades na Lógicas e o livro UNI DUNI TRE, da Mabel
ortografia. Possuía uma estrutura de frase muito Condemarin, para trabalharmos a discriminação
simples. Tinha dificuldades em estabelecer a de forma, a percepção visual, a discriminação
noção do todo e das partes, em estabelecer níveis auditiva com vistas a uma melhor aquisição da
de probabilidade, em classificar, em categorizar. leitura, trabalhamos também com palavras
S. estava em defasagem quanto ao seu estágio cruzadas e com a elaboração de projetos. Estes
cognitivo, visto que ainda se encontrava no instrumentos, necessariamente, não seguiram
estágio operatório concreto, com níveis de essa ordem na qual estão apresentados.
argumentações por identidade.
Considerando todos esses dados levan- OS AVANÇOS DE S. – O DEPOIMENTO DA
tados, indicamos para S. um tratamento psico- PSICOPEDAGOGA
pedagógico, a continuação da terapia e um suporte No decorrer do tratamento os instrumentos
pedagógico na área da Língua Portuguesa. citados acima, e tantos outros que se fizeram
A devolutiva foi dada para S. individualmente necessários aplicar, serviram para que S. pudesse
e, posteriormente, para ela e a Superiora. Nesse avançar cada vez mais. Assim, ao longo do
momento decidiram por iniciar o tratamento. S. tratamento pudemos observar:
mostrou-se muito receptiva e pronta para começar. • que S. começou a estabelecer níveis de
argumentação mais compatíveis com a sua
O TRATAMENTO - O QUE FAZER idade, começando uma ascensão para o
Traçamos um plano de trabalho no qual estágio cognitivo Operatório Formal;
começaríamos com instrumentos que mexessem • aprendeu a procurar alternativas para a
com a sua estrutura cognitiva, sua capacidade solução de problemas, buscar outras formas
de tornar-se mais autônoma, com mais iniciativa, de resolver as questões que surgiam;
para depois de algum tempo, a depender da • começou a ficar mais autônoma, mais
evolução observada, introduzir um trabalho independente, tomando decisões, fazendo
voltado para a discriminação percepto-visual, a escolhas;
discriminação auditiva, a capacidade leitora. • começou a acreditar em si mesma, em seu
Assim o fizemos. E para atender a esse potencial, no que podia e sabia fazer, criando
plano utilizamos em nossas intervenções jogos autoconfiança, aceitando as suas limitações e
que pudessem mexer com a sua estrutura aprendendo a conviver com elas;
cognitiva, elaboramos projetos que serviram • aprendeu a conviver com os seus erros, com a
como ponto de partida para desenvolver a sua descoberta destes, a buscar formas de corrigí-
autonomia, independência e um trabalho los e seguir em frente;

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• sentindo-se mais segura, começou a escrever • via-se mais capacitada para estar com suas
bilhetes no mural onde a comunidade se companheiras de comunidade;
comunicava; • relatou que a professora de Português, com a
• ao ser escalada para trabalhar na cozinha, ela qual fazia reforço, disse que ela tinha
tinha possibilidades de fazer a lista de compras melhorado na leitura e na escrita;
e a responsabilidade de ir às compras; • falou da sua participação em um Congresso,
• quando foi atender na recepção já se sentia pertencente à ordem religiosa da qual fazia
mais à vontade e ela mesma escrevia os parte, com a presença de pessoas de todo o
recados deixados pelas pessoas; Brasil. Esse foi um momento de glória visto
• percebemos um grande avanço quanto ao que esteve presente em todas as atividades
seu modelo de aprendizagem, além da individuais e de grupo, conheceu pessoas de
aquisição de algumas habilidades, como outros estados e dizia do orgulho que sentiu
organização de idéias, criatividade, fluidez de si mesma em se ver mais segura e feliz;
de idéias e já começava a estabelecer • S. reconhecia que ainda escrevia com
analogias; muitos erros e que sua leitura ainda não
• percebíamos que a sua auto-estima estava estava boa, “mas sei que estou bem
mais elevada e quanto tinha avançado. melhor ”, dizia ela.
• Falou que estava se sentindo mais solta nas
OS AVANÇOS DE S. – O SEU DEPOIMENTO
reuniões da comunidade, que já se pronun-
Sempre, como faz parte da praxis
ciava sem a “suadeira” que lhe acometia
psiocopedagógica, a avaliação é uma constante.
quando ia dizer alguma coisa frente a alguém.
Tanto por parte do psicopedagogo buscando um
Anteriormente achava que as pessoas da
próprio feedback, descobrindo acertos e erros
comunidade a olhavam, esperando os seus
na tentativa de sempre fazer o melhor para
erros e quando se via assim, nessa situação,
mudar ou manter caminhos, alterar hipótese,
morria de medo. Mas, estava garantindo que
confirmá-las, refutá-las na busca de novos
isso já não acontecia mais. Sentia-se outra
instrumentos, como também faz parte do
trabalho a avaliação do próprio sujeito que está pessoa.
sendo tratado, dando-lhe oportunidade de Como pudemos observar, o trabalho com S.
observar e analisar o seu desempenho, a sua foi muito proveitoso e durante todo o momento
participação, o seu crescimento pessoal, as em que estivemos juntas pudemos constatar, por
alterações existentes ou não no seu modelo de meio dela, do seu desempenho, o nível de atenção
aprendizagem, etc. que o adulto dá ao trabalho psicopedagógico, a
Então, nesse clima de análise e de observação, consciência do que está fazendo, o compro-
S. deu o seu depoimento dizendo que: metimento consigo mesmo e como seu
• já se sentia mais integrada à sua comunidade. crescimento pessoal, com a possibilidade de
Antes se sentia um pouco excluída por não mudar, melhorar o aprender a aprender.
conseguir ler corretamente, por não participar S. não pôde mais continuar o tratamento.
ativamente dos momentos de discussão; Surgiram questões de saúde, muitas idas ao
• já estava pedindo para ler textos durante a médico, mais responsabilidades na comunidade
missa e em outros momentos que se fizessem em que vive e por isso teve que parar. Claro que
necessários; foi uma pena não poder continuar, mas valeu a
• se não concordava com algo, se sentia mais pena ver os seus avanços, as mudanças que
capaz para dar alguma opinião. Não ficava trouxeram tantas novas perspectivas de ver o
calada; mundo, de se ver, de se integrar ao novo, a novas
• comentou que já estava se sentindo mais aprendizagens.
segura, mais independente; Verificou-se, ainda, que o trabalho

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psicopedagógico desenvolvido com S. foi de Ele passa a ver que acertos e erros fazem
grande valia e lhe trouxe grandes avanços. É parte do aprender e que eles podem trazer um
muito gratificante chegar a conclusões desse tipo. colorido diferente à sua caminhada.
Isso vem reforçar a importância e a necessidade Passa a observar que a trilha, mesmo sendo
do trabalho psicopedagógico em face às várias estreita, pode ser prazerosa e bela, trazendo novas
dificuldades de aprendizagem que cada sujeito aprendizagens.
apresenta, não importa que idade tenha. Vem Encontra degraus que o fazem subir, descer,
nos mostrar, mais uma vez, a beleza de acreditar ir e vir, fazer e desfazer e, assim, aprender a
no desenvolvimento do sujeito, de desenvolver aprender.
ações para que isso aconteça, acreditar na O adulto acha que a dificuldade de apren-
possibilidade de se provocar mudanças, na força dizagem o leva a lugar nenhum, contudo,
de uma intervenção psicopedagógica adequada depois entende que, ao descobrir a estrada, o
que possa conduzir o sujeito a uma perspectiva presente é mais interessante, no momento, do
de sempre estar melhorando, mudando, que o ponto final.
aprendendo. Percebe que, não importa o caminho em que
Para encerrar este artigo, trago algumas se encontre, o aprender será uma constante.
considerações que fiz para sinalizar, evidenciar Percebe, também, que mesmo com o caminho
a caminhada do adulto nos caminhos da nublado as perspectivas de aprendizagem são
psicopedagogia e de si mesmo. sempre inúmeras.
Descobre que pode existir sempre luz no seu
OS CAMINHOS QUE SE PERCORRE A caminhar através do seu ato de aprender.
CADA DIA TRAZEM CAMINHADAS E que, mesmo sem saber aonde chegar, a
DIFERENTES
aprendizagem sempre se fará presente, abrindo
O adulto que apresenta dificuldades de
aprendizagem, que busca a psicopedagogia, sabe novos caminhos para o desconhecido, para o
reconhecer a importância da ajuda, sabe buscar novo.
um novo caminho. Ser adulto não significa saber de tudo, sobre
Descobre que o novo se constrói e que a tudo. Ser adulto significa descobrir que muita
aprendizagem será sempre uma constante, coisa ainda está por vir e que, de verdade, muita
mesmo que seja por estreitos caminhos. coisa ainda há que se aprender.

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SUMMARY
Diagnosis and psychopedagogical intervention in adults: a case study

This case study refers to the Psychopedagogy and its relation to adults.
The psychopedagogical activity, which is dynamic and by nature linked to
learning, diagnosis and psychopedagogical treatment, has been presented
in a broader way with actions not only directed to the child and the teenager,
but also to the adults. In this relatively new universe, it is necessary to take
any historical or non-historical perspective into consideration, in a systematic
view between the observance of the adult age interference in relation to the
social-cultural environment, the intelligence and the emotional, everything
towards a clinical psychopedagogical work, naturally preventive and/or
remedial.

KEY WORDS: Adult. Learning disorders / diagnosis. Learning disorders


therapy.

REFERÊNCIAS Gráficos;1993.
1. Fournier M. Comment savoir? Rev Sciences 3. Visca J. Clínica psicopedagógica: episte-
Humaines. 1999;98. mologia convergente. Buenos Aires: AG
2. Visca J. Psicopedagogia: teoria, clínica Servicios Gráficos;1994.
investigación. Buenos Aires: AG Servicios

Trabalho realizado no CRIA – Centro Psicopedagógico Artigo recebido: 28/7/2009


Vocacional e de Recursos Humanos, Salvador, BA. Aprovado: 25/8/2009

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