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Brasileirismo africano

Tasso Assunção*
Conjunto de conhecimentos, lendas, crenças, provérbios e manifestações artísticas de um povo
ou grupo populacional preservado oralmente, o folclore é rico de tradição e cultura, a exemplo do
folclore brasileiro e de muitas outas etnias. Por isso mesmo, não é só carnaval e São João – é luta, é
esporte, é dança, é arte. E tudo isso se inclui em uma manifestação folclórica genuinamente
brasileira – trata-se da capoeira.
Seguramente um dos legados negros mais significativos para a cultura do País, a capoeira é
considerada o esporte brasileiro por excelência, embora sua origem ainda seja questionada. Nascida
provavelmente na Bahia, da luta dos escravos angolenses pela liberdade, a capoeira é filha de
negros de origem africana, mas, ressalte-se, de negros africanos enquanto escravos brasileiros, no
tempo do Brasil Colônia.
Ânsia de liberdade
Embora seja uma prática esportiva regulamentada como esporte de competição, a capoeira ainda
tem sua história enevoada pelo desconhecimento de boa parte dos brasileiros. Ao definir a capoeira,
mestre Buana, formado em Brasília pela Associação Beribazu de Capoeira, afirma que a capoeira é
tudo o que já foi dito e muito mais – "é uma forma de luta de um povo que expressou em movimento
sua ânsia pela liberdade".
Quanto à imprecisão sobre o esporte – jogo, luta ou dança? –, Buana a atribui à própria
polivalência da luta. Polivalência essa surgida das circunstâncias históricas em que nasceu a
capoeira. "Como viviam muitos vigiados, sem acesso a qualquer tipo de arma, os escravos tinham
de encontrar uma forma de combater os inimigos. E eles encontraram no próprio corpo uma eficiente
arma", explica Buana.
Para evitar que a capoeira fosse vista pelos senhores de escravo como forma de luta, nela os
escravos introduziram instrumentos musicais (pandeiro, chocalho, atabaque, berimbau), que a
faziam parecer inofensiva. E o principal instrumento utilizado até hoje pelos capoeiristas é o
berimbau (instrumento de repercussão de origem africana), que, além de transmudar a luta em
dança, serve para marcar-lhe o ritmo.
Um ritmo lento e repicado pode significar uma disputa caracterizada por movimentos acrobáticos,
enquanto um ritmo acelerado denota golpes traumáticos e desequilibrantes. Outro elemento
importante dessa arte marcial é a ginga, movimentação ritmada e constante do corpo, que objetiva
distrair a atenção do adversário, o que tinha emprego sobretudo na época da escravidão, como
estratégia de defesa.
Das ruas para as escolas
A partir da abolição da escravatura, sem meios de sobrevivência, alguns negros passaram a se
apresentar em rodas de capoeira nas ruas de Salvador, Rio de Janeiro e Recife, onde até hoje ainda
é mais forte a presença do jogo surgido do cativeiro. Outros agiam a serviço a políticos, que os
contratavam para promover desordem em comícios de opositores. "A partir daí”, conta mestre
Buana, “a capoeira foi tomando o rumo da malandragem”. A polícia, então, com o apoio do
presidente marechal Deodoro da Fonseca, proibiu a prática do exercício".
Apesar de intensamente perseguida até as primeiras décadas do século passado, a capoeira,
entretanto, sobreviveu. Em 1936, Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba, ex-escravo, executou
uma demonstração do esporte ao presidente Getúlio Vargas, que liberou a prática, já metodizada
como outras artes marciais. E foi mestre Bimba o metodizador da luta e fundador da primeira
academia de capoeira do País, em Salvador. Desde então, o esporte vem logrando penetração em
todas as camadas sociais, principalmente no meio universitário.
A inclusão da capoeira entre as matérias do curso de Educação Física se explica, conforme
mestre Buana, pelo fato de tratar-se de "um esporte genuinamente brasileiro que encerra todo um
cabedal de tradição e cultura". Esse progresso vem sendo alcançando em parte graças aos esforços
da Confederação Brasileira de Pugilismo, que congrega praticamente todas as modalidades de luta
(caratê, judô, jiu-jítsu etc.) e que criou a regulamentação oficial do esporte e reconheceu o seu
ensino, tornando o ofício de mestre de capoeira profissão instituída.

*Tasso Assunção é escritor e consultor em produção textual; membro da Academia Imperatrizense de


Letras - AIL.

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