Вы находитесь на странице: 1из 77

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4

2 INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA ................................................................. 5

2.1 Filósofos antigos .................................................................................. 7

2.2 Ciência moderna ou contemporânea ................................................. 11

3 AS NOÇÕES BÁSICAS DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA NO BRASIL


12

4 A PSICOLOGIA E A CIÊNCIA .................................................................. 16

4.1 Estruturalismo .................................................................................... 17

4.2 Funcionalismo .................................................................................... 18

4.3 Associacionismo ................................................................................. 18

1 COMPORTAMENTO ................................................................................ 19

4.4 Behaviorismo ...................................................................................... 19

1.1 Condicionamento clássico ..................................................................... 21

1.2 Extinção e recuperação ......................................................................... 22

4.5 Condicionamento operante (teoria de skinner)................................... 22

4.6 Reforço ............................................................................................... 22

4.7 Gestalt ................................................................................................ 23

4.8 Sensação e percepção ....................................................................... 24

4.9 O todo em relação às partes .............................................................. 25

4.10 Processamento de informações / seleção....................................... 25

4.11 Psicanálise ...................................................................................... 27

4.12 Teoria cognitiva ............................................................................... 28

4.13 O senso comum .............................................................................. 29

4.14 O senso comum no processo terapêutico ....................................... 32

4.15 Construcionismo e o trabalho terapêutico ....................................... 35

2
5 OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA ................................................. 42

6 A PSICOLOGIA COMO PROFISSÃO....................................................... 47

6.1 O psicólogo adivinha o que os outros pensam? ................................. 48

6.2 A psicologia ajuda as pessoas a se conhecerem melhor? ................. 49

6.3 O psicólogo é diferente de um bom amigo? ....................................... 50

1.3 Qual a diferença entre psiquiatra, psicólogo e psicanalista? ................. 51

6.4 Psicólogos e psiquiatras aproximam-se em suas práticas ................. 52

7 A FINALIDADE DO TRABALHO DO PSICÓLOGO .................................. 54

8 AS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ........................................... 57

8.1 Usos e abusos da psicologia .............................................................. 61

8.2 Código de ética profissional do psicólogo .......................................... 61

8.3 Princípios fundamentais ..................................................................... 63

8.4 Das responsabilidades do psicólogo .................................................. 64

8.5 Das disposições gerais....................................................................... 70

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 72

10 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 77

3
1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!

4
2 INTRODUÇÃO A PSICOLOGIA

O termo psychologia é o equivalente neo-grego de Peri psyches do grego


clássico, o título de uma das obras de Aristóteles, de anima, no latim. Entendemos a
história da psicologia em contexto como uma linha de pensamento em história da
psicologia, inspirada e embasada pelos pensamentos de Danziger (2006), Pickren
(2012), Pickren e Rutherford (2010, 2012). Tal perspectiva argumenta que a visão
tradicional de História da Psicologia ignora o conhecimento psicológico teórico, prático
e histórico produzido fora das cercanias estadunidenses e europeias.
É conveniente notar como, historicamente, a constituição do conhecimento
ocidental aconteceu mediante uma formulação epistemológica vinculada a saberes
oriundos de países situados ao norte da linha do equador (Santos, 2009).
No caso da Psicologia, são notórias as hegemonias epistemológicas derivadas
da Alemanha, dos EUA, da França, da Inglaterra, da Rússia (União Soviética) e da
Itália. Ressaltamos que muitas correntes de pensamento psicológico, após o seu
surgimento, difundiram-se para outros países. Isto implica duplo movimento, em que
há, inicialmente, uma dependência em relação a essa matriz (potência externa) e,
posteriormente, ocorre uma polaridade histórica que enseja uma heterogeneidade
abissal em relação ao que ocorre no centro de produção de um conhecimento
psicológico (Klappenbah & Pavesi, 1998). Obviamente, houve extensões desses
conhecimentos para outros países situados ao sul da linha do equador.
Observamos, no entanto, a necessidade de uma reflexão sobre as
consequências dessa migração de conhecimento (Santos, 2009), sobretudo no
tocante a sua constituição histórica local.
Em países como o Brasil é possível observar exemplos de recepções de ideias
estrangeiras de forma descontextualizada, relativamente ao seu domínio
epistemológico originário, para se combinar a novas ideias harmonizadas às
contendas locais (Klappenbach & Pavesi, 1998). Sob a luz da Psicologia do Norte,
muitas dessas assimilações e elaborações próprias a uma cultura do Sul tendem a
ser desvalorizadas ou atentadas com curiosidade.

5
Na desvalorização, rege uma lógica colonial de propagação, dominação e
legitimação dos saberes do Norte. Na curiosidade, percebe-se uma lente crítica a
qual argumenta que não existem psicologias neutras, pois há práticas científicas e não
científicas que criam outras linhas de conhecimento alheias às epistemologias do
Norte e circunscritas em uma forma de conhecimento autônoma e dotada de rigor
(Santos, 2009).
Essas teorias e práticas psicológicas poderiam ser vinculadas a uma
epistemologia do Sul, entendida como um:

(...) conjunto de intervenções epistemológicas que denunciam a supressão


de saberes levada a cabo, ao longo dos últimos séculos, pela norma
epistemológica dominante, valorizam os saberes que resistiram com êxito e
as reflexões que estes têm produzido e investigam as condições de um
diálogo horizontal entre conhecimentos (Santos, 2009, p. 07 apud Branco P;
et al., Cirino S; 2017).

Com efeito, a dispersão do pensamento psicológico não ocorre somente nas


formas de variação relativamente ao seu objeto de estudo, método, teoria, prática e
visão de sujeito e mundo. Acrescenta-se a isso a disseminação do pensamento
psicológico em diversos países, que assimilaram ideias oriundas de sua epistemologia
do Norte e as atualizaram de forma autônoma, ganhando contornos específicos.
A História da Psicologia em Contexto, destarte, sugere uma visada
historiográfica baseada no conhecimento psicológico produzido localmente em outras
regiões geograficamente consideradas fora dos centros de fundação do conhecimento
psicológico. Essa visada não desconsidera a questão dos fatos históricos, das
sucessões temporais e suas fontes de informação, mas se distancia de uma tradição
homogênea de História Geral da Psicologia como fonte ortodoxa legitimadora de
certezas que sustentam a prática psicológica. Não se trata de invalidar outras histórias
da Psicologia, mas problematizá-las em seus limites e complementá-las (Klappenbah
& Pavesi, 1998).
No transcurso do que foi exposto, salientamos a existência de um conjunto de
conceitos que contribuem com a fundamentação e o pensamento da História da
Psicologia em Contexto. Embora seja uma ciência recente, a psicologia é constituída
de uma história bastante extensa, uma vez que a investigação de aspectos pertinentes
ao homem, objeto de estudo desta ciência, dá-se de longa data.

6
Assim, ao considerar a psicologia como uma ciência independente faz-se
necessário, primeiramente, avaliar a história das práticas e dos conhecimentos
produzidos a partir da busca de compreensão do homem e de suas relações entre si
e com o ambiente que o cerca.
Um ponto a ser considerado nesse resgate histórico é o conhecimento
filosófico, uma vez que não se pode compreender a psicologia, sem a análise das
indagações filosóficas sobre o homem e o mundo.
O desenvolvimento do pensamento filosófico, no que concerne ao
entendimento do ser humano, com contraposições entre os estudiosos, apontando
maneiras diferentes de conceber e descrever o universo da existência humana, deve
ser considerado na análise da evolução da psicologia enquanto ciência.
Keller ressalta a importância do olhar atento ao pensamento filosófico na
compreensão da evolução da ciência psicológica ao afirmar:

Muito antes que a psicologia viesse a ser tratada como ciência experimental
havia homens interessados nestes assuntos que hoje seriam chamados de
psicológicos. A influência destes homens sobre as gerações posteriores foi
bem grande e não é demais que se deva abordar a questão de definir a
psicologia moderna pela menção de suas opiniões e descobertas. (KELLER,
1974 apud Universidade Cruzeiro do Sul; 2010).

Os pensamentos acerca do que Keller chama de “assuntos que hoje seriam


chamados psicológicos” são encontrados na análise detalhada das discussões tanto
dos filósofos antigos, quanto dos contemporâneos.

2.1 Filósofos antigos

Fonte: oquehanahistoria.blogspot.com

7
São considerados filósofos antigos, os pensadores desde o período pré-
socrático, mas trataremos nesse texto a partir do período socrático, uma vez que,
conforme elucida Andery, Micheleto e Sério: Sócrates, Platão e Aristóteles
contrapunham-se aos pensadores (jônicos – helênico oriundo da antiga Jônia) porque
traziam para o centro de suas preocupações o homem, em lugar da natureza física
dos jônicos, e porque viam este homem como capaz de produzir conhecimento por
possuir uma alma – absolutamente diferenciada do corpo, mas essencial. (ANDERY,
MICHELETO e SÉRIO, 1988, p. 63 e 64).
Essa preocupação em entender o homem é que faz com que tais pensadores
sejam importantes para o desenvolvimento de uma psicologia na Antiguidade.
Sócrates (469-399 a.C. aproximadamente) contribui para a psicologia ao voltar seu
interesse ao homem, mais especificamente ao que esse homem abriga: sua alma.
Sócrates propôs a distinção entre o conhecimento da natureza e o conhecimento do
homem, valorizando a razão. Para Sócrates, só por meio do pensamento é que se
podia chegar ao conhecimento de si próprio.
Platão (426-348 a.C. aproximadamente), discípulo de Sócrates, mantém a
busca do mestre pelo conhecimento verdadeiro, busca a essência das coisas, o
conhecimento proveniente da alma do homem.
“A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve
fazer do seu próprio conhecimento. ” Platão. Platão acreditava que o homem era
formado por um corpo mortal, mas também por uma alma que não morre e de onde
provém todo conhecimento. Define o mundo das ideias e instaura a preocupação com
a localização da alma no corpo do homem, estabelecendo esse lugar como sendo a
cabeça. Para Platão, a medula era o componente de ligação da alma com o corpo.
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, é considerado o verdadeiro pai
da psicologia. Chegou a estudar as diferenças entre a razão, percepção e sensação.
Diverge de seu mestre, Platão, ao postular que corpo e alma são elementos
indissociáveis. No homem, como em todo o ser vivo, corpo e alma compunham uma
unidade. A alma garantia a vida, a realização das funções vitais; a alma era a forma,
enquanto o corpo a matéria que precisava dessa forma para tornar-se em ato. Era a
forma, a alma, que dava vida, que emprestava finalidade aos corpos animados.

8
E assim como não se podia pensar em matéria destituída de forma, também o
contrário era sem sentido. (ARISTÓTELES apud ANDERY, MICHELETO e SÉRIO,
1988, p. 90 e 91).
No pensamento aristotélico tudo o que vive possui alma ou psyché. Assim ao
considerar tudo o que vive considera-se que tanto os homens, como os animais e as
plantas possuem alma. Fica claro nessa breve análise acerca dos filósofos antigos, o
início de um pensamento psicológico.
Sócrates, Platão e Aristóteles, ainda que evidentemente influenciados por
questões de sua época, apresentam em seus pensamentos a preocupação com o
homem e com sua psyché, quer estabelecendo a imortalidade da alma, quer
postulando a mortalidade da mesma e sua relação ativa com o corpo.
Seguindo a evolução do pensamento acerca do homem, passamos à análise
do período Patrístico, que se inicia com o Cristianismo e segue até o século VIII d.C.
Período Patrístico:
 O pensamento no período Patrístico, um pensamento tido como
filosófico, é formado por tratados de padres, teólogos, apologetas,
exegetas, os quais procuravam compreender as questões do universo
com base em sua doutrina religiosa. Merece destaque aqui Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino.
Santo Agostinho:
 (354-430), considerado um dos poucos a analisar com profundidade a
psicologia, corrobora a visão de Platão da existência de alma e corpo
dissociados. Todavia, complementa a compreensão de que a alma é a
manifestação de Deus no homem e que essa se sobrepõe ao corpo. A
divisão entre corpo e alma, na visão de Santo Agostinho, contempla
ainda a ideia de que a alma é o elemento mortal que liga o homem a
Deus e o corpo é a matéria, fonte de todos os males. O homem que
submete a alma ao corpo, material, afasta-se de Deus.
O homem deve, portanto, desvencilhar-se das coisas mundanas e carnais,
voltando-se às espirituais, as quais lhe vão propiciar a aproximação de Deus, o sumo
Bem. Embora a degradação humana ocorra por livre-arbítrio, voltar-se novamente
para o Bem e para Deus não é mais opção do homem: ao contrário, é necessária a
graça divina para tirar o homem do pecado. (RUBANO e MOROZ (A), 1988, p. 140).

9
Visto que a alma toma lugar tão importante na ação humana, compreender a
alma, a psique humana, passa a ser preocupação da igreja.
São Tomás de Aquino:
(1225-1274), pensador Patrístico anterior a Santo Agostinho, tem como
influenciadores o próprio Santo Agostinho, mas também Platão, Aristóteles e Alberto
Magno, esse último seu professor; além da própria Escritura Sagrada. O período em
que Aquino viveu anuncia a ruptura da Igreja Católica pelo aparecimento do
protestantismo, o que provoca questionamento acerca do conhecimento proferido pela
igreja. Aquino defende a posição da Igreja ao postular um sistema coerente e conciso,
considerando que o governo é de origem divina e, portanto, o homem deve se
submeter a esse.
Para Aquino: a legislação do Estado é para o bem do povo e que o governo
deve submeter-se à Igreja. Santo Tomás de Aquino defende uma postura de
passividade e obediência da sociedade frente à situação vigente. (RUBANO e
MOROZ (B), 1988, p. 140).
Aquino também endossa que a Igreja é a verdadeira produtora de
conhecimento acerca do psiquismo. Ele separa fé e razão, ou ainda Filosofia e
Teologia, afirmando que a primeira deve cuidar das coisas da natureza e a segunda,
do sobrenatural. E, ao estudar o sobrenatural e a fé divina, São Tomás de Aquino,
afirma que alguns conhecimentos só podem ser obtidos pela revelação divina e que o
homem, a mais perfeita criação de Deus, distinta dos outros seres, uma vez que esse
é racional, só pode alcançar a perfeição por meio da busca em Deus.
Num período conturbado por questionamentos à Igreja Católica, Aquino busca
a ordem pública, com o objetivo de estabelecer a convivência pacífica entre os
homens. O fim do período Patrístico fica marcado quando a soberania da Igreja na
busca de compreensão da existência humana dá lugar a novas formas de
pensamento, a partir do crescente questionamento de seus dogmas, advindos da
Reforma Protestante.
A partir da segunda metade do século XV e durante todo o século XVI e XVII
ocorrem marcantes mudanças religiosas, políticas, econômicas, sociais e culturais,
provocando outras formas de concepção da ciência e do homem, dando início a um
novo período do pensamento filosófico, o período da chamada ciência moderna.

10
2.2 Ciência moderna ou contemporânea

Nesse período, a razão, a preocupação com elementos precisos e a


experiência, contrapõem-se à fé. Transferindo as preocupações das relações Deus e
homem, para as preocupações da natureza e homem.
Pesquisas, experimentações e formulações marcam esse período. Galileu
Galilei (1564-1642), físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano, estuda a queda
dos objetos em famosos ensaios na Torre de Pisa. Isaac Newton (1642-1727), físico
e matemático, também estuda fenômenos da natureza, o movimento dos objetos tanto
na Terra como celestiais. René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático, analisa
as leis do movimento, tanto da natureza quando dos homens.
Descartes merece maior atenção, uma vez que é considerado por muitos o pai
da psicologia moderna. Foi o primeiro a fazer distinção nítida entre corpo e mente,
questionamento que inquietava os filósofos desde a Antiguidade.
Descartes propõe a distinção mente (alma e espírito) e corpo, mas ao mesmo
tempo, declara que há interação entre tais elementos. A mente podia interferir no
corpo, sendo assim considerado um “Interacionista”.
Outro aspecto importante do trabalho de Descartes é que a partir da separação
mente (alma e espírito) e corpo, propicia o estudo do corpo humano morto, uma vez
que esse deixa de ser sagrado. Os seguintes pensadores marcam o período de
transição: a era mecanicista.
Pereira e Gioia (1988) descrevem essa nova fase do pensamento:
Seguindo os novos caminhos traçados pelos pensadores que se destacaram
neste período de transição, foi-se firmando um novo conhecimento, uma nova ciência,
que buscava leis, e leis naturais, que permitissem a compreensão do universo. Esta
nova ciência – a ciência moderna – surgiu com o surgimento do capitalismo e a
ascensão da burguesia (...) estava aberto o caminho para o acelerado
desenvolvimento que a ciência viria a ter nos períodos seguintes. (PEREIRA e GIOIA,
1988, p. 173-174). A ascensão da burguesia e o surgimento do capitalismo, junto à
Revolução Industrial e a criação da máquina resultaram em fortes mudanças na
maneira de se conceber as relações humanas e o próprio homem.

11
Para Alvin Toffler (1980) a Revolução Industrial, a qual ele designa a Segunda
Onda, resultou em mudanças em todas as esferas, desde a constituição familiar que
passa a ser nuclear, à produção cultural, que se torna produção em massa, passando
pela própria educação, que segue o modelo das fábricas.
Os estudos acerca do homem também são influenciados por essas mudanças
no sistema socioeconômico-cultural. Eram necessários métodos mais rigorosos,
medidas, instrumentos de controle, todos buscando mais precisão no estudo do
funcionamento da mente.

“Se a modernidade, quer ela exista realmente, quer ela seja um projeto
emancipatório e sempre inacabado, tem a ver com a liberdade e a autonomia,
isto é, a autodeterminação, ela tem também a ver com a auto regulação. A
história da modernidade foi, seguramente, uma história de barbaridades, e o
conhecimento instrumental baseado na ciência foi utilizado para as justificar
(…) O desafio do conhecimento é, antes, o de procurar a relação adequada
a cada situação entre a expectativa e a experiência” (Wagner, 2003: 113-114
apud Ribeiro F; 2011).

3 AS NOÇÕES BÁSICAS DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA NO BRASIL

A Psicologia Sócio Histórica, no Brasil, tem se constituído,


fundamentalmente, pela crítica à visão liberal de homem, na qual encontramos
ideias como:
 O homem visto como ser autônomo, responsável pelo seu próprio
processo de individuação.
 Uma relação de antagonismo entre o homem e a sociedade, em que
esta faz eterna oposição aos anseios que seriam naturais do homem.
 Uma visão de fenômeno psicológico, na qual este é tomado como uma
entidade abstrata que tem, por natureza, características positivas que só
não se manifestam se sofrerem impedimentos do mundo material e
social. O fenômeno psicológico, visto como enclausurado no homem, é
concebido como um verdadeiro eu.
A Psicologia Sócio Histórica entende que essas concepções liberais
construíram uma ciência na qual o mundo psicológico foi completamente deslocado
do campo social e material. Esse mundo psicológico passou, então, a ser definido de
maneira abstrata, como algo que já estivesse dentro do homem, pronto para se
desenvolver — semelhante à semente que germina.

12
Esta visão liberal naturalizou o mundo psicológico, abolindo, da Psicologia, as
reflexões sobre o mundo social. No Brasil, os teóricos da Psicologia Sócio Histórica
buscam construir uma concepção alternativa à liberal. Retomaremos um pouco essas
reflexões a partir de algumas ideias fundamentais.
Não existe natureza humana: Não existe uma essência eterna e universal do
homem, que no decorrer de sua vida se atualiza, gerando suas pontencialidades e
faculdades. Tal ideia de natureza humana tem sido utilizada como fundamento da
maioria das correntes psicológicas e faz, na verdade, um trabalho de ocultamente das
condições sociais, que são determinantes das individualidades.
Esta ideia está ligada à visão de indivíduo autônomo, que também não é aceita
na Psicologia Sócio Histórica. O indivíduo é construído ao longo de sua vida a partir
de sua intervenção no meio (sua atividade instrumental) e da relação com os outros
homens. Somos únicos, mas não autônomos no sentido de termos um
desenvolvimento independente ou já previsto pela semente de homem que
carregamos.
Existe a condição humana: a concepção de homem da Psicologia Sócio
Histórica pode ser assim sintetizada: o homem é um ser ativo, social e histórico. É
essa sua condição humana. O homem constrói sua existência a partir de uma ação
sobre a realidade, que tem, por objetivo, satisfazer suas necessidades.
Mas essa ação e essas necessidades têm uma característica fundamental: são
sociais e produzidas historicamente em sociedade. As necessidades básicas do
homem não são apenas biológicas; elas, ao surgirem, são imediatamente
socializadas. Por exemplo, os hábitos alimentares e o comportamento sexual do
homem são formas sociais e não naturais de satisfazer necessidades biológicas.
Através da atividade, o homem produz o necessário para satisfazer essas
necessidades. A atividade de cada indivíduo, ou seja, sua ação particular, é
determinada e definida pela forma como a sociedade se organiza para o trabalho.
Entendido como a transformação da natureza para a produção da existência humana,
o trabalho só é possível em sociedade.

13
E um processo pelo qual o homem estabelece, ao mesmo tempo, relação com
a natureza e com os outros homens; essas relações determinam-se reciprocamente.
Portanto, o trabalho só pode ser entendido dentro de relações sociais determinadas.
São essas relações que definem o lugar de cada indivíduo e a sua atividade.
Por isso, quando se diz que o homem é um ser ativo, diz-se, ao mesmo tempo,
que ele é um ser social. A ação do homem sobre a realidade que, obrigatoriamente,
ocorre em sociedade, é um processo histórico. E uma ação de transformação da
natureza que leva à transformação do próprio homem.
Quando produz os bens necessários à satisfação de suas necessidades, o
homem estabelece novos parâmetros na sua relação com a natureza, o que gera
novas necessidades, que também, por sua vez, deverão ser satisfeitas. As relações
sociais, nas quais ocorre esse processo, modificam-se à medida que se desenvolvem
as necessidades humanas e a produção que visa satisfazê-las.
É um processo de transformação constante das necessidades e da atividade
dos homens e das relações que estes estabelecem entre si para a produção de sua
existência. Esse movimento tem por base a contradição: o desenvolvimento das
necessidades humanas e das formas de satisfazê-las, ao mesmo tempo em que só
são possíveis diante de determinadas relações sociais, provocam a necessidade de
transformação dessas mesmas relações e condicionam o aparecimento de novas
relações sociais. Esse processo histórico é construído pelo homem e é esse processo
histórico que constrói o homem. Assim, o homem é um ser ativo, social e histórico.
O homem é criado pelo homem: Não há uma natureza humana pronta, nem
mesmo aptidões prontas. A “aptidão” do homem está, justamente, no fato de poder
desenvolver várias aptidões. Esse desenvolvimento se dá na relação com os outros
homens através do contato com a cultura já constituída e das atividades que realiza
neste meio. Os objetos produzidos pelos homens materializam a história e cristalizam
as “aptidões” desenvolvidas pelas gerações anteriores. Quando os manuseia e deles
se apropria, o homem desenvolve atividades que reproduzem os traços essenciais
das atividades acumuladas e cristalizadas nos objetos.

14
A criança que aprende a manusear um lápis, está de alguma forma submetida
à forma, à consistência, às possibilidades e aos limites do lápis. Isso envolve não
apenas uma questão “física”, material, mas, necessariamente, uma condição social e
histórica do uso e significado do lápis.
As habilidades humanas, que utilizam o lápis como seu instrumento, estão
cristalizadas na forma, na consistência e nas possibilidades do lápis, bem como nos
seus limites e significados. Nas relações com os outros homens ocorre a
“descristalização” destas possibilidades — a “mágica” acontece — e, do lápis, o
pequeno homem retira suas habilidades de rabiscar, escrever e desenhar, colocando-
se, assim, no “patamar” da história, tornando-se capaz de recuperá-la e transformá-
la. Portanto, é do instrumento e das relações sociais, nas quais esse instrumento é
utilizado, que o homem retira suas possibilidades humanas.
Esse processo acontece com todas as suas aptidões. O homem, ao nascer, é
candidato à humanidade e a adquire no processo de apropriação do mundo. Nesse
processo, converte o mundo externo em um mundo interno e desenvolve, de forma
singular, sua individualidade. Assim, através da mediação das relações sociais e das
atividades que desenvolve, o homem se individualiza, torna-se homem, desenvolve
suas possibilidades e significa seu mundo.
A linguagem é instrumento fundamental nesse processo e, como instrumento,
também é produzida social e historicamente, e dela também o homem deve se
apropriar. A linguagem materializa e dá forma a uma das aptidões humanas: a
capacidade de representar a realidade. Juntamente com a atividade, o homem
desenvolve o pensamento. Através da linguagem, o pensamento objetiva-se,
permitindo a comunicação das significações e o seu desenvolvimento.
Mas o pensamento humano, historicamente transforma-se em algo mais
complexo, justamente por representar, cada vez melhor, a complexidade da vida
humana em sociedade. Transforma-se em consciência.
A linguagem é instrumento essencial na construção da consciência, na
construção de um mundo interno, psicológico. Permite a representação não só da
realidade imediata, mas das mediações que ocorrem na relação do homem com essa
realidade. Assim, a linguagem apreende e materializa o mundo de significações, que
é construído no processo social e histórico.

15
Quando se apropria da linguagem enquanto instrumento, o indivíduo tem
acesso a um mundo de significações historicamente produzido. Além disso, a
linguagem também é instrumento de mediação na apropriação de outros
instrumentos. Por isso, quando se torna indivíduo — o que só ocorre socialmente —
o homem apropria-se de todos os significados sociais. Mas, por ser ativo, também
atribui significados, ou seja, apropria-se da história, apreende o [pg. 91] mundo,
atribuindo-lhe um sentido pessoal construído a partir de sua atividade, de suas
relações e dos significados aprendidos. Esse processo de apropriação do mundo
social permite o desenvolvimento da consciência no homem.

4 A PSICOLOGIA E A CIÊNCIA

Fonte: Fonte: medium.com

As alterações na forma de compreensão do homem e do funcionamento do


Universo abrem espaço para novas indagações e formas de estudo. Os avanços da
Anatomia, da Fisiologia e da Neurologia propiciaram a constituição de uma ciência
distinta da Filosofia.
A Psicologia que nasce a partir dos estudos da alma realizados pelos grandes
filósofos passa a ser uma ciência “sem alma” (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2005),
no sentido de que tem seu conhecimento produzido em laboratórios por meio de
experimentos de observação e medição.

16
Wilhelm Wundt (1832-1920), fisiólogo alemão da Universidade de Leipzig e
pioneiro da Psicologia Experimental, cria o primeiro laboratório para realizar
experimentos na área de Psicofisiologia, fato que pode ser considerado o início da
psicologia como ciência independente.
Wundt era considerado um paralelista psicofísico, ou seja, acreditava que havia
fenômenos do mundo físico, constituídos pelo corpo, e fenômenos do mundo mental,
constituídos pela mente. Os experimentos de Wundt envolviam as sensações,
percepções, sentimentos e emoções e se davam por meio do método de
“introspecção”, método e termo criado por ele próprio.
O método instituído por Wundt se baseava no sujeito da experiência,
previamente treinado para auto-observação, descrever ao experimentador suas
sensações, percepções e sentimentos. Um exemplo: o experimentador estimulava o
sujeito com uma picada de agulha e esse fazia o relato introspectivo sobre tamanho,
intensidade e duração do estímulo, descrevendo o caminho percorrido no seu interior,
como que descrevendo o processo mental.
Wundt acreditava que cada processo da mente envolvia simultaneamente um
processo físico, daí a análise dos estímulos físicos, e um processo mental, ou seja, as
sensações mentais correspondentes.
Essa psicologia científica teve como primeiras abordagens três escolas:
 O Estruturalismo,
 O Funcionalismo,
 E o Associacionismo.

4.1 Estruturalismo

O Estruturalismo teve como principal instituidor Edward Titchener (1867-1927).


Para o Estruturalismo a psicologia é a ciência que estuda a consciência ou a mente,
sendo que a mente é compreendida para esses pensadores como a soma de todos
os processos mentais.
A função da Psicologia era então compreender esses processos e o modo
como a mente é estruturada, como funcionam os sistemas nervosos centrais.
Titchener mantém a tradição de Wundt em relação ao método de estudo, mas sua

17
forma introspectiva era mais ampla. Titchener questionava a possibilidade de uma
descrição isenta de viés.
Para ele a descrição introspectiva tendia a ser mais uma análise do que uma
descrição, em função disso, defende o uso da experimentação e da descoberta sobre
“o que”, “como” e “por que” dos processos mentais.

4.2 Funcionalismo

Um dos principais pensadores do Funcionalismo foi William James (1842-


1910). Os Funcionalistas assim como os Estruturalistas elegem a consciência como
foco para análise, mas os Funcionalistas estavam interessados na função da mente e
não em sua estrutura.
Assim, ao contrário dos Estruturalistas, a Psicologia Funcional define a
psicologia como uma ciência biológica, uma ciência interessada em analisar os
processos mentais, interessava-se pelo funcionamento, pela função da mente e não
por sua estrutura, por suas propriedades.
Consideravam que a mente é um acúmulo de funções e processos que
conduzem a experiências práticas. A mente passa a ser analisada em função das
interações com o ambiente e o estudo da vida psíquica é considerado a partir de sua
adaptação ao meio.

4.3 Associacionismo

O termo associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se


origina a partir da associação de ideias, partindo das mais simples às mais complexas.
Os Associacionistas não aceitavam o método introspectivo e lançaram as bases da
psicologia comportamentalista, utilizando para tantas pesquisas com animais.
Edward L. Thorndike (1874-1949), o principal pensador do Associacionismo,
formulou a Lei do Efeito, contribuindo para a primeira teoria de aprendizagem em
Psicologia. De acordo com a Lei do Efeito, todo o comportamento de um organismo
vivo tende a se repetir se recompensado. Todavia, se o efeito for um castigo, esse
comportamento deixará de ser repetido. Thorndike realiza vários experimentos com
animais, estudando a lei do efeito na aprendizagem de novos comportamentos.

18
Na atualidade, as três principais escolas da psicologia não são mais o
Estruturalismo, o Funcionalismo e o Associacionismo. Mas, essas escolas serviram
como base para a formulação das três principais teorias dos dois últimos séculos: o
Behaviorismo (ou Psicologia Experimental ou Psicologia Comportamental); a
Psicanálise; e a Gestalt (ou Psicologia da Forma).

1 COMPORTAMENTO

Em psicologia, o comportamento é o conjunto de procedimentos ou reações


do indivíduo ao ambiente que o cerca em determinadas circunstâncias, o meio.
Pode designar um grupo de atividades ou limitar-se a uma só, o comportamento
singular.
Existem algumas correntes da psicologia que estudam especificamente o
comportamento humano. Entre elas o Behaviorismo ou Comportamentalismo, e a
Gesltat ou Cognitiva.

4.4 Behaviorismo

O termo vem da palavra BEHAVIOUR que, em inglês, significa


Comportamento. A palavra foi criada por John B. Watson, escritor do primeiro artigo
do estudo do comportamento por essa corrente de pensamento em 1913.

19
Em seguida, o segundo nome mais importante dessa corrente é o de B. F.
Skinner, defensor do estudo empírico e fisiológico para análise do comportamento.
Com princípios voltados para a análise laboratorial, com informações mais concretas
para serem analisadas, o Behaviorismo descarta as avaliações cognitivas, subjetivas
que envolvam sentimentos e percepções. Essa corrente buscava uma psicologia sem
alma, sem conceitos subjetivos e mentalistas que fornecesse ferramentas para prever
e controlar o comportamento. Para Watson, a única coisa digna da psicologia é o
comportamento observável.
Os Behavioristas partem do pressuposto de que o comportamento humano é
aprendido e utilizam a aprendizagem como foco de suas pesquisas. Como ocorre a
aprendizagem?
Por observação: Normalmente parte da inspiração em exemplos explicativos
ou não, pela observação nos resultados obtidos. Ex.: um administrador arrogante com
seus funcionários pode ser assim por ter presenciado durante toda sua vida seus
familiares tratando os funcionários da mesma forma e obterem resultado.
Por experiência: Vive-se a experiência e aprende-se a partir da análise dos
resultados obtidos. Ex. uma criança não colocará mais o dedo na tomada após ter
experimentado o choque elétrico/ aprendemos a andar de bicicleta experimentando
erros e acertos a partir dos tombos e a diminuição dos mesmos.
Os behavioristas apontam a aprendizagem como foco central da estruturação
da personalidade. Por não trabalharem com o inconsciente, não aceitam o que
chamam de explicação mental. A explicação mental cessa a curiosidade. Ao
responder uma pergunta como – “Por que você foi ao teatro? ”, e obtermos a resposta
“Porque quis”, imediatamente aceitamos como sumário da resposta e não
pediremos mais detalhes. Seria o caso de mudar a pergunta e questionar a pessoa
sobre o que chamou a atenção dela para que fosse assistir à determinada peça, ou
quando, ou tornar a pergunta mais específica para que tenhamos uma resposta mais
explicativa.
Agindo assim, o behaviorismo trabalha com a descrição clara e minuciosa dos
comportamentos. Muitos programas de treinamento falham quando os treinadores não
definem claramente os comportamentos a serem emitidos.

20
Por exemplo, muitos manuais dizem para que o cliente seja tratado como a
pessoa mais importante para a empresa, mas não explicam como o funcionário deve
agir para fazer com que o cliente se sinta bem. Outra ideia fundamental do
behaviorismo é que a repetição de um comportamento é fundamental para torná-lo
automático, ou seja, condicionado.

1.1 Condicionamento clássico


O condicionamento clássico ou condicionamento respondente está ligado aos
reflexos que, condicionados formam novas conexões sinápticas inicialmente
temporárias e a seguir duradouras, pois são reflexos "aprendidos" e podem ser
excitadores ou inibidores. Sua função é preditiva, ou seja, serve para antecipar a
resposta de prazer ou mesmo advertir sobre um possível perigo.
O experimento de Pavlov: O experimento que elucidou a existência do
condicionamento clássico envolveu a salivação condicionada dos cães (Canis lupus
familiares) do fisiólogo russo Ivan Pavlov. Estudando a ação de enzimas no estômago
dos animais (que lhe dera um Prêmio Nobel), interessou-se pela salivação que surgia
nos cães sem a presença da comida.
Pavlov queria elucidar como os reflexos condicionados eram adquiridos.
Cachorros naturalmente salivam por comida; assim, Pavlov chamou a correlação entre
o estímulo não-condicionado (comida) e a resposta não-condicionada (salivação) de
reflexo não-condicionado.
Todavia, ele previu que se um estímulo particular sonoro estivesse presente
para os cães quando estes fossem apresentados à comida, então esse estímulo
pode se tornar associado com a comida, causando a salivação; anteriormente o
estímulo sonoro era um estímulo neutro, visto que não estava associado com a
apresentação da comida.
A partir do momento em que há o pareamento de estimulações (entre som
e comida), o estímulo deixa de ser neutro e passa a ser condicionado. Pavlov se
referiu a essa relação de aprendizagem como reflexo condicionado.

Exemplo: “Minha primeira namorada adorava cebolas. Por isso, passei a


associar o bafo de cebola a beijo. Não demorou muito para que o simples cheiro de
cebola fizesse uma corrente subir e descer por minha espinha. Ah, que sensação! ”.
 Beijo ardente (estímulo incondicionado) - à excitação sexual
(resposta incondicionada)
21
 Hálito de cebola (estímulo condicionado) + beijo ardente (estímulo
incondicionado) -> excitação sexual (resposta incondicionada).
 Hálito de cebola (estímulo condicionado) -> Excitação sexual
(Resposta condicionada).

1.2 Extinção e recuperação


Depois de romper o namoro, com a moça que tinha hálito de cebola, Tirrell
também fez experimento com a extinção e recuperação espontânea. Recorda que o
“hálito de cebola (Estímulo Condicionado), não mais associado ao beijo (Estímulo
incondicionado), perdeu a capacidade de provocar a sensação. De vez em quando,
porém, depois de passar bastante tempo sem sentir o cheiro, o aroma de cebola
desperta uma pequena versão da reação emocional que outrora experimentava. Sem
o estímulo a resposta vai enfraquecendo, a reação decresce.

4.5 Condicionamento operante (teoria de skinner)

Estabelece que todo comportamento é influenciado por seus resultados,


havendo um estímulo reforçador, podendo ser positivo ou negativo. Trata-se de
associação de comportamentos com suas consequências.
Assim torna-se mais provável que repitam comportamentos recompensados
(reforçados), e menos provável que repitam comportamentos punidos.
A caixa de Skinner: B. F. Skinner descobriu o que chamou de condicionamento
operante. Ele criou a "caixa de Skinner", onde era colocado um rato privado de
alimento Naturalmente, o rato emitia vários comportamentos aleatoriamente e quando
ele se aproximava de uma barrinha perto da parede, Skinner introduzia uma gota
d'água na caixa através de um mecanismo e o rato a bebia.
As próximas gotas eram apresentadas quando o rato se aproximava um pouco
mais da barra. As outras quando o rato encostava o nariz na barra. Depois as patas.
E assim em diante até que o rato estava pressionando a barra dezenas de vezes até
saciar completamente sua sede.

4.6 Reforço

Qualquer evento ou estímulo que aumenta a frequência de um comportamento.

22
Skinner divide os estímulos em dois tipos:
Primários: aqueles que atendem as necessidades fisiológicas, como água,
alimento e afeto.
Secundários: aqueles que atendem as necessidades de ordem psicológica,
como: elogios, admiração, reconhecimento, desafios e outros.
Punição
Pode extinguir comportamentos inadequados, mas não estimula os adequados
e ainda, pode gerar outros comportamentos inadequados. Ex. o indivíduo punido pode
depredar equipamentos, prejudicar programas, sumir com documentos. A punição
deve ser muito bem pensada.
Punição tipo I: aplicação de um estímulo aversivo com a finalidade de eliminar
um comportamento indesejável. Multas, demissões ou qualquer outra penalidade são
estímulos aversivos.
Punição tipo II: é a retida de um estímulo reforçador, visando à eliminação de
um comportamento indesejado. Ex. a pessoa que chega atrasada será descontada no
salário, ou deixará de receber uma determinada bonificação.
Algumas diferenças entre o condicionamento clássico e o operante

 Enquanto o condicionamento clássico inclui uma resposta já


estabelecida através de outro estímulo anterior, o operante não
necessita de nenhuma resposta dada anteriormente;
 No condicionamento clássico o resultado não depende das ações dos
sujeitos, no operante, certamente irá depender;
 Enquanto o condicionamento clássico influi na mudança de opiniões,
definindo gostos e objetivos, o condicionamento operante influi na
mudança de comportamento perante o objetivo.

4.7 Gestalt

Escola de origem alemã. O termo não possui tradução exata, sendo mais
próximo de forma, configuração e no contexto “todo”. Seus fundadores são Max
Wertheimer, Wolfgang Koher e Kurt Kofka, que iniciaram seus estudos por meio da
percepção e sensação do movimento, tendo como base a ilusão de ótica, onde um

23
estímulo físico é percebido pelo sujeito de uma forma diferente da que ela tem na
realidade, conforme ilustração.

Fonte: leticialima.com.br

Se podemos ser confundidos em coisas tão exatas como formas geométricas,


há uma possibilidade ainda maior de perceber erroneamente coisas mais subjetivas
como intenções, pensamentos e sentimentos das outras pessoas.
Distorções semelhantes à ilusão de ótica encontramos nas relações humanas.
Reagimos ao que percebemos e nem sempre o que percebemos é a realidade
objetiva. Quando a realidade percebida se distancia da realidade objetiva, ocorre a
incompreensão, a frustração e os conflitos. As decisões que tomamos também são
influenciadas por essa relação.
A Gestalt tem como ponto de partida a percepção, que por sua vez é
dependente da sensação.

4.8 Sensação e percepção

Tomamos conhecimento do mundo esterno por meio de órgãos do sentido. As


mensagens recebidas por estes são transmitidas ao cérebro por meio do sistema
nervoso, formando na nossa mente, imagens, objetos e situações.
Ex. Quando falamos num limão, temos uma imagem que se formou a partir das
mensagens recebidas por sensações: azedo (paladar) + cheiro característico do limão
(olfato) + cor verde (visão) + forma arredondada (tato/visão) + casca áspera (tato).

24
A imagem do limão, que se formou no nosso cérebro, pela soma das
sensações, chamamos de percepção. Podemos dizer que perceber é dar sentido, dar
significado as nossas sensações.

4.9 O todo em relação às partes

A teoria da Gestalt baseia-se no princípio de que as coisas são percebidas


formando um todo que não pode ser compreendido pela soma das partes. Podemos
notar as partes no todo; o todo é independente das partes. Por exemplo, em uma visita
a uma montadora de carros, em que as peças de um determinado carro são vistas
todas separadas, o casco, chassi, para-choques, etc.
Essas partes não nos fornecem a visão do todo. Com o carro montado é que
podemos observar o conforto, a segurança, a estética, entre outros elementos que
não dá para perceber na observação das peças isoladas.
Esse fato é nítido quando observamos os grupos. Eles têm características
próprias que estão distantes da soma de seus integrantes. As individualidades que
compõem o grupo não representam o que o grupo é de fato.

4.10 Processamento de informações / seleção.

Entre os inúmeros estímulos aos quais o indivíduo está exposto, ele se


direciona a um ou alguns estímulos particulares, escolhendo-os entre todos os outros.
Os escolhidos irão para o processamento das informações e os outros serão
desprezados. Esta escolha está baseada em:
 Situação e estado emocional no momento percebido: um funcionário que
sabe que está na lista de corte de pessoal, certamente receberá a notícia
da demissão com mais tranquilidade do que aquele que espera uma
promoção.
 Valores e opiniões sobre o outro, situações e determinados assuntos:
um gerente que tem preconceitos em relação a homossexuais
provavelmente não dará atenção ou o devido valor as ideias de um
funcionário que julga ser homossexual.

25
 Nossas necessidades que levam a uma seleção do que vamos perceber
no outro: quando precisamos de um chaveiro porque a chave do carro
quebrou; percebemos a existência de chaveiros muito mais facilmente
do que se não tivéssemos essa necessidade. Muitas vezes em nosso
trajeto diário, sequer percebemos a existência deles.
 A tendência que temos em ignorar informações incompatíveis com as
nossas expectativas;
 Nossas expectativas: quando nos apaixonamos, só vemos na pessoa os
aspectos positivos que observo. Um estrangeiro em uma viagem
certamente terá sua opinião sobre determinado país modificada caso
permaneça no local por muito tempo; sua opinião inicial terá sido afetada
por suas expectativas.
Podemos, pois, afirmar que o primeiro contato enfraquece o senso crítico.
Quando percebemos um objeto qualquer ou estamos diante de um acontecimento, a
seleção se inicia e alguns aspectos desse objeto ou situação destacarão e outros
serão desprezados.
A esse aspecto, que mais atrai nossa atenção e que se selecionamos se torna
o nosso foco e chamamos de figura. Outros elementos estarão presentes e são
necessários para a compreensão da figura, abrangem o contexto, mas serão
inicialmente desprezados pela nossa percepção. A esses aspectos damos o nome de
fundo.
A percepção que temos de um objeto ou situação depende do relacionamento
figura-fundo. Conforme concentramos nossa atenção num ou noutro aspecto de um
objeto, a percepção que temos muda completamente. Por exemplo:

Fig. 1 (Fonte: itbm.com.br/ ufrgs.br) Fig. 2

26
Conforme a atenção se demore mais na parte branca ou na parte preta dessa
figura, percebemos um vaso, ou dois rostos na figura 1.
Na figura 2, algumas pessoas veem a velha, e outras veem a moça. As duas
existem na imagem, porém quem vê a velha não vê a moça, e vice-versa, e assim
entram em conflito pelo desentendimento. É importante observar que a maior parte
dos conflitos gerados acontece pelo fato de que o que é figura para uma pessoa, não
o é para outra. Uma situação que é considerada banal por uma pessoa, pode causar
sofrimento psíquico para outra.
A psicologia de Gestalt sugere a busca da boa forma, ou seja, trabalhar a
relação figura-fundo para alcançar a totalidade. Na medida em que somos capazes
de situar um acontecimento ou situação dentro de um contexto mais amplo, o que
significa obtermos o maior número de dados possíveis daquele objeto ou situação,
obtemos percepção mais adequada à realidade.
Gerentes em diferentes níveis de hierarquia e departamentos tendem a obter
diferentes informações e ver coisas de maneira diferente. O departamento comercial
de uma empresa pode aceitar o maior número possível de pedidos porque ela vê nisso
um aumento nas comissões, enquanto os gerentes de produção podem ficar
aborrecidos porque eles veem a impossibilidade de liberar os pedidos a tempo. A
percepção parcial de cada setor gera imensos conflitos dentro das organizações e
exige um bom treinamento em alternar figura e fundo.

“A teoria da Gestalt pode ser expressada da seguinte forma...” escreveu Max


Wertheimer. “...existem conjuntos, o comportamento dos quais não são
determinados por seus elementos individuais, mas onde os processos da
parte são determinados pela natureza intrínseca do todo. É o objetivo da
Gestalt de determinar a natureza de tais conjuntos” (Max Wertheimer 1924
apud Paulino R; 2015).

4.11 Psicanálise

A Psicanálise nasce com Sigmund Freud (1856- 1939), o qual a partir de sua
prática médica postula o inconsciente como objeto de estudo da ciência. Freud e a
Psicanálise, ao contrário do Behaviorismo, se detém a investigar processos obscuros
do psiquismo, analisando sonhos, fantasias e esquecimentos.

27
Freud, influenciado por suas observações em atendimentos médicos, bem
como por outros médicos da época, cria teorias e métodos de pesquisa, sendo o mais
conhecido: o método catártico.
Com a descoberta do inconsciente, Freud postula sua Primeira Tópica,
composta por três instâncias do aparelho psíquico: Inconsciente, Consciente e Pré-
consciente. A primeira tópica é reformulada e substituída posteriormente pela
Segunda Tópica Freudiana, formada a partir da noção de ID, Ego e Superego.

[...] não me impedirei de modificar ou retirar qualquer uma das minhas teorias
sempre que a progressão da experiência possa exigi-lo. Com referência a
descobertas fundamentais, até o momento atual, nada tenho a modificar, e
espero que isto venha a manter-se verdadeiro no futuro. (FREUD, 1917b
[1916]/1996, p. 292 [grifo do autor] apud Silva A; 2012).

4.12 Teoria cognitiva

A teoria de Jean Piaget (1896-1980) também se ocupa da interação do


organismo-meio e a aprendizagem decorrente dessa interação. Para Piaget o eixo
central da análise é essa interação, que resulta em dois processos simultâneos: a
organização interna e a adaptação ao meio.
Por meio da assimilação e acomodação, os esquemas de assimilação vão se
modificando e configurando estágios de desenvolvimento. Em suma, ao descrever a
história da psicologia, fica evidente a contribuição dos diversos pensadores acerca do
assunto e essa evolução gradual mostra a Psicologia como uma ciência em
desenvolvimento. Evidencia também que a ciência, e aqui nos referimos a todas as
ciências e não só a Psicologia, não nasce pronta, mas está sempre em transformação,
influenciada por novas pesquisas, novas descobertas.
Assim, ao buscar compreender a psicologia enquanto ciência, torna-se
fundamental a análise dessas diferenças de concepções entre seus pesquisadores.
Torna-se fundamental compreender questões levantadas por Freud e as
investigações psicanalíticas; por Watson, e o estudo do comportamento observado;
por Skinner e as investigações sobre condicionamento operante; por Piaget e seu
incremento da investigação experimental do desenvolvimento da criança e do
adolescente; pelos alemães com a psicologia da forma, visando à compreensão de
relações de sentido e a percepção de formas, dentre outros estudiosos.

28
Conhecer o processo de formação da psicologia enquanto ciência permite-nos
uma visão mais ampla para compreensão do homem, de suas ações e
questionamentos. Como afirmou Aristóteles “nada melhor para compreender um tema
em sua extensão do que historicizá-lo”, assim ao tentar compreender a psicologia
como ciência independente vale, sem dúvida, a análise histórica desta.

Para um melhor entendimento do caminhar evolutivo da Terapia Cognitiva,


faz-se necessário observar os estudos relacionados ao desenvolvimento na
teoria e tratamento da depressão, iniciado por Beck na década de 60. O
modelo cognitivo do tratamento da depressão surgiu como uma alternativa
aos modelos psicanalítico e behaviorista, preponderantes na época (Beck,
Clark e Alford, 1999 apud; Gonçalves Carlos 2014).

Considerando essa problemática para definir o objeto de estudo da psicologia,


podemos pensar que toda construção parte de uma matéria prima e, nesse caso, a
matéria prima da psicologia é a vida dos seres humanos. Tudo o que a psicologia
criar, pensar ou disser, será sobre a vida dos seres humanos.
Hoje a psicologia pode contribuir em várias áreas de conhecimento,
possibilitando cada área uma gama infinita de descobertas sobre o homem, seu
comportamento e suas relações. Entre elas:
 Psicologia experimental
 Psicologia da Personalidade
 Psicologia Clínica
 Psicologia do Desenvolvimento
 Psicologia Organizacional
 Psicologia da Educação
 Psicologia Esportiva
 Psicologia Jurídica
 Neuropsicologia
 Psicologia construcionista
 Psicologia Hospitalar

4.13 O senso comum

O senso comum é visto como a compreensão de todas as coisas por meio do


saber social, ou seja, é o saber que se adquire através de experiências vividas ou

29
ouvidas do cotidiano. Engloba costumes, hábitos, tradições, normas, éticas e tudo
aquilo que se necessita para viver bem.

Fonte: newstartpsicologia.com

Quando alguém em casa reclama de dores no fígado, ela faz um chá de boldo,
que é uma planta medicinal já usada por nossos bisavôs, sem, no entanto, conhecer
o princípio ativo de suas folhas nas doenças hepáticas e sem nenhum estudo
farmacológico. E o tempo todo, quando precisamos atravessar uma avenida
movimentada, sabemos perfeitamente medir a distância e a velocidade do automóvel
que vem em nossa direção. Até hoje não vimos ninguém que usasse uma máquina
de calcular e uma fita métrica para essa tarefa.
No âmbito da psicologia podemos citar mais alguns exemplos:
 A professora sabe que se recompensar a boa disciplina do aluno do curso
primário com uma estrelinha no caderno, pode aumentar o comportamento
desse aluno ser obediente na sala de aula.
 A mesma recompensa da letra “b” pode servir de exemplo para os outros
alunos.
 A namorada sabe que se marcou um encontro com o namorado para as 20h e
ele chegou às 21h, pode ficar de cara fechada com intenção de puni-lo por tê-
la feito esperar.

30
Nesses exemplos, as pessoas agiram com intenção de modificar o
comportamento de alguém, mas sem saber de leis ou teorias da psicologia. O
conhecimento do senso comum é intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros. É um
conhecimento importante porque sem ele a nossa vida no dia a dia seria muito
complicada. O senso comum percorre um caminho que vai do hábito à tradição, que
passa de geração para geração. Integra de um modo o conhecimento humano.
A utilização de termos como “rapaz complexado”, “mulher louca”, “menino
hiperativo”, “ficar neurótico” expressa a comunicação do senso comum acerca do
comportamento humano, que muitas vezes não ocorre de maneira científica. Os
termos podem até ser da psicologia científica, mas são usados sem a preocupação
de definir as palavras. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz
da ciência.
Quantas vezes, no nosso dia a dia, ouvimos o termo psicologia? Qualquer um
entende um pouco dela. Poderíamos até mesmo dizer que “ de psicólogo e de louco
todo mundo tem um pouco”. O dito popular não é bem-este (“ de médico e de louco
todo mundo tem um pouco), mas parece servir aqui perfeitamente. As pessoas em
geral têm a “ sua psicologia”.
Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos. Por
exemplo, quando falamos do poder de persuasão do vendedor, dizemos que ele usa
de “ psicologia” para vender seu produto; quando nos referimos a jovem estudante
que seu poder de sedução para atrair o rapaz, falamos que ele usa de “ psicologia”, e
quando procuramos aquele amigo, que está sempre disposto a ouvir nossos
problemas, dizemos que ele tem “ psicologia” para entender as pessoas.
Será essa a psicologia dos psicólogos? Certamente não. Essa psicologia,
usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso
comum. Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia.
O que estamos querendo dizer é que as pessoas, normalmente, têm domínio,
mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento acumulado pela psicologia
científica, o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de
um ponto de vista psicológico.
Esse conhecimento do senso comum, além de sua produção características,
acaba por se apropriar, de uma maneira muito singular, de conhecimentos produzidos
pelos outros setores da produção do saber humano.

31
O senso comum mistura e recicla esses outros saberes, muito mais
especializados, e os reduz a um tipo de teoria simplificada, produzindo uma
determinada visão- de- mundo.

4.14 O senso comum no processo terapêutico

Fonte: psicologiaviva.com.br

Investigações sobre a linguagem no processo terapêutico: a relação


terapeuta-cliente.
As questões relacionadas à linguagem do senso comum e à forma como com
ela lida pelo profissional da psicologia, emergem na relação do psicólogo com o
“cliente”. No trabalho terapêutico, é no primeiro contato que o cliente traz sua queixa,
e a partir dessa queixa inicial é traçado um caminho para se chegar a um diagnóstico.
Este momento é especialmente propício para se investigar as possíveis dissonâncias
presentes na relação terapeuta - cliente.
É o que evidencia o trabalho intitulado: Da linguagem do senso comum à
linguagem do diagnóstico: a reinterpretação da queixa na clínica psicológica
(Moreira, 1999).
Uma professora de Clínica-escola de uma Universidade de São Paulo notou
algumas falhas no atendimento de psicodiagnóstico, percebeu que os universitários
tendem a se encontrar aprisionados a um pensamento explicativo que esteja de

32
acordo com as teorias aprendidas na sala de aula, perdendo de vista o modo de viver
peculiar de cada paciente.
Para avaliar este fato foi realizada uma pesquisa com o objetivo de
compreender o processo de reinterpretação da queixa, enunciada através da
linguagem do senso comum, para a linguagem diagnóstica.

Não é preciso pesquisar o que é a queixa, mas sim como o sofrimento


psíquico foi apreendido como queixa pelo pensamento psicológico, sendo
necessário compreender os sentidos atribuídos à queixa pelo psicólogo na
interação com quem se apresenta em sofrimento. (Moreira,1999, apud
Boldrini C; 2007).

Este é um conteúdo pouco trabalhado no campo teórico. Um psicólogo precisa


saber diferenciar a linguagem do senso comum de uma pessoa da linguagem
científica, assim como identificar a apropriação pelo senso comum da linguagem
científica. Por exemplo: quando um paciente chega falando que está com ataque do
pânico, não necessariamente isso é real, porém o paciente ouviu os sintomas da
síndrome em algum lugar e se identificou, fechando um autodiagnostico. A maioria
das queixas é pautada na percepção de sintomas e sua interpretação social de
sofrimento psíquico como algo que precisa ser eliminado.
Uma clínica-escola funciona como uma contribuição na formação do psicólogo,
no sentido de fazer pensar sobre o discurso do paciente, possibilitando as primeiras
experiências do futuro profissional. O trabalho prático é essencial para que os alunos
possam integrar as disciplinas e tematizar os casos na perspectiva bio-psico-social.
Como o aluno ainda possui poucos conhecimentos práticos, é neste contexto que o
universitário começa a entrar em contato com os diferentes modos de viver e perceber
como isso tem influência no processo do diagnóstico.
A pesquisa teve um caráter qualitativo, com uma metodologia construcionista
para a análise das práticas discursivas utilizadas tanto pelos usuários dos serviços da
clínica-escola, como dos funcionários e universitários.
Através desta pesquisa buscou-se entender como as queixas são
reinterpretadas no processo diagnóstico, pois havia a suspeita de que a descrição da
queixa feita pelo usuário era constantemente interpretada como um sintoma
psicológico, desconsiderando que o discurso da queixa é produto de uma rede de
significações adquiridas no cotidiano do paciente.

33
A pesquisa teve duas etapas: a primeira analisa o diálogo entre funcionário e o
usuário recém-chegado à clínica; e a segunda etapa é com os usuários reunidos em
grupo em uma situação de triagem com os universitários.
A análise da primeira etapa partiu de três critérios: a influência do roteiro sobre
o conteúdo do discurso, a reinterpretação da queixa pelo funcionário e as influências
das condições sócio demográficas na conduta da entrevista.

Pode-se dizer resumidamente que a funcionalidade se refere à utilidade que


a conversa tem para os participantes. No especifico contexto da inscrição no
CPA (clínica escola) este aspecto aparece no uso da queixa, tanto pelo
usuário quanto pela recepcionista. Ou seja, evidencia-se o gerenciamento
da conversa para a reafirmação de repertórios que sejam suficientemente
reconhecidos como indicadores de uma queixa que mereça atenção em nível
psicológico. (Moreira, 1999, apud Boldrini C; 2007).

O primeiro contato do usuário com um atendimento psicológico é o momento


onde a linguagem do senso comum se apresenta claramente. Talvez isso aconteça
porque o primeiro contato, nesta clínica-escola, é realizado com um funcionário, que
aparentemente não possui conhecimento psicológico aprofundado, mostrando-se
como um “igual” para o usuário e possibilitando um maior conforto no uso com as
palavras.
Já na situação de triagem o foco foi outro: primeiramente perceber o
procedimento do grupo e o fluxo temático e depois analisar como a queixa inicial é
reinterpretada pelos universitários para fazerem o fechamento de um diagnóstico e a
formulação de uma proposta de encaminhamento.
Foi observado que o atendimento é pautado no modelo médico, pois se
expressa por meio de um discurso psicopatológico. Na reinterpretação da queixa ficou
claro que o repertório usado pelos universitários estava baseado na queixa inicial.
Ocorreram pequenas modificações durante o processo dialógico no grupo de
triagem onde, através das falas mais abrangentes dos usuários, foi possível realizar
mudanças significativas no diagnóstico final.

Os resultados dos encaminhamentos desses usuários (...) indicam que as


queixas iniciais dos usuários passaram por um processo de reinterpretação
no atendimento diagnóstico da triagem através do qual foram traduzidas para
uma linguagem psicológica. (...) Parece ser possível dizer, portanto, que a
queixa diagnosticada, construída neste processo, impõe uma ‘socialização’
da linguagem do senso comum (discurso do usuário) a partir da perspectiva
da linguagem do diagnóstico (discurso institucional). (Moreira, 1999, p.158
apud Boldrini C; 2007).

34
Esta pesquisa ajuda os psicólogos a repensarem o processo diagnóstico,
demonstrando que é preciso primeiro reconhecer qual é a real “doença” na queixa do
usuário, isto é, não é só classificar e nomear.
O psicólogo tem que entender que o mundo daquela pessoa determina não só
como se constitui o sofrimento psíquico, mas também o modo como este sofrimento
vai ser reportado para o psicólogo.

4.15 Construcionismo e o trabalho terapêutico

O construcionismo social tem sua contribuição não somente para a discussão


de pressupostos teóricos da psicologia, mas também tem ganhado espaço em outros
campos do pensamento humano, apresentando contribuições para o modo de pensar
psicoterapia (Hoffman, 1998).
Alguns psicólogos, como Gergen, Anderson e Goolishian, entre outros, têm
aproximado dos processos psicoterápicos as noções construcionistas de que o
conhecimento é construído na relação ativa entre os homens, relação esta que está
sempre imersa em uma cultura e história únicas.
O trabalho com o olhar construcionista propõe que a atenção do terapeuta
esteja inteiramente focada no modo de ser do cliente, pois este se desenvolve de
maneira muito particular, proporcionando vários sentidos que conduzem à sua busca
por terapia. Desta forma, o papel de especialista na terapia muda de lugar: quem
realmente sabe o que vai ser trabalhado no processo é o próprio cliente.
O terapeuta, para que consiga entrar em contato com os sentidos trazidos,
precisa se desvencilhar de teorias e propostas de intervenção já determinadas, isso
porque para o construcionismo não existe uma noção prévia de uma constituição
humana (self). O homem é formado em um contexto cheio de significados próprios e
cada indivíduo tem sua forma de descrever uma questão, e o terapeuta só terá acesso
a esse mundo de significados através da relação dialógica (Hoffman, 1998).
O construcionismo questiona o terapeuta que adota uma posição de
especialista, enfatizando cada vez mais que a linguagem acadêmica precisa ser
deixada de lado dentro do consultório para que a linguagem do paciente possa
aparecer, mostrando suas queixas reais. Assim, o papel do terapeuta é propiciar
condições para o diálogo que vai em busca de novos sentidos para o cliente.

35
E esses sentidos emergem não somente para o cliente, como para o terapeuta,
que de certa forma está ali para ‘aprender’ sobre o mundo daquela pessoa. O
terapeuta e o (s) cliente (s) passam a trabalhar como parceiros, ambos igualmente
responsáveis pelo andamento do processo terapêutico (Gergen e Kaye, 1998).
Essa posição surge na tentativa de quebrar o procedimento adotado na maioria
dos processos terapêuticos, pautados no modelo médico, segundo o qual se parte da
premissa de que existe um paciente que precisa de um tratamento a ser ministrado
por um especialista para chegar à cura, ou seja, um padrão de processos hierárquicos
unilaterais, onde o terapeuta é o salvador.
Esta é uma postura muito perigosa porque o psicólogo acaba tendendo a fechar
um diagnóstico antes mesmo de conhecer verdadeiramente seu cliente. A ideia de
que o psicólogo tem o conhecimento da real essência humana é um raciocínio que o
construcionismo pretende quebrar.

Existe uma renúncia generalizada ao papel do terapeuta como conhecedor


superior, pairando acima do cliente como um modelo inatingível da boa vida.
Existe, ao contrário, um forte compromisso com a visão do encontro
terapêutico como meio para a geração criativa de sentido. A voz do cliente
não é meramente um instrumento auxiliar na confirmação da narrativa pré-
determinada do terapeuta, mas serve nestes contextos como constituinte
essencial de uma realidade construída em conjunto. (Gergen e Kaye, 1998
apud Boldrini C; 2007).

É importante no trabalho do psicólogo perceber que a ação humana não


acontece num vácuo; há sempre uma realidade envolvida, além das ações do próprio
psicólogo e suas interpretações. Inegavelmente, ali está acontecendo uma relação
social, e novos significados são construídos constantemente, as ideias surgem a partir
dos processos de comunicação.
Para conhecer bem o cliente o terapeuta precisa manter o foco nas relações
em que este está envolvido (sociais, familiares, individual, com crenças e valores etc.).
A própria relação cliente - terapeuta também é, segundo os construcionistas, uma
relação social, e assim está repleta de sentidos e sempre construindo novos.
Existem diversas propostas terapêuticas que partem de pressupostos
construcionistas e que podem atuar em diferentes âmbitos do trabalho clínico. A
terapia familiar é o principal campo no qual o construcionismo tem se mostrado
presente nas últimas décadas. O construcionismo propõe uma intervenção que

36
repensa a concepção tradicional da postura do terapeuta e do processo terapêutico
em si.

Na terapia, a interpretação, a busca do entendimento, é sempre um diálogo


entre cliente e terapeuta. Ela não é o resultado de narrativas teóricas pré-
determinadas, essenciais para o mundo de sentidos do terapeuta. Na
tentativa de entender o cliente, deve-se supor que ele tem algo a dizer, e que
este algo tem um sentido narrativo, afirma sua própria verdade, dentro do
contexto da história do cliente. A resposta do terapeuta ao sentido da história
do cliente e seus elementos está em contradição com a posição tradicional
em terapia, que é responder ao que não faz sentido, à patologia presente no
que foi dito. Neste processo, o novo entendimento narrativo, construído em
co-autoria, deve estar na linguagem comum do cliente. (Anderson e
Goolishian, 1998 apud Boldrini C; 2007).

Quando procuram terapia, as pessoas têm algum (ns) problema (s) para contar;
para isso aparecer, a pessoa precisa articular uma narrativa de sua vida inteira, que é
de certa forma apresentada para o terapeuta. Dentro desta perspectiva se apresenta
a visão narrativa do construcionismo, que toma como base, principalmente, a história
de vida da pessoa e como esta é contada dentro da situação de diálogo presente no
processo terapêutico (Lax, 1998).
As narrativas podem parecer fechadas, por serem focadas, porém estas
sempre tendem para o foco que o cliente dá à determinada situação que é narrada. É
a partir da descrição dos fatos que o terapeuta vai poder reconhecer o contexto
situacional e os sentidos construídos por aquela pessoa, isso porque os relatos são
constituídos a partir de formas relacionais de sua vida cotidiana.
O terapeuta não deverá se “intrometer” na história narrada pelo cliente. Seu
papel vai ser de tentar, a partir dos fatos contados, proporcionar novas visões sobre a
história, numa tentativa de promover insight, isto é, facilitar a construção de novas
narrativas.

A visão narrativa da terapia propõe que as maneiras dos clientes


descreverem suas vidas limitam o desenvolvimento de novas ideias ou
abordagens em relação às suas situações de vida. A tarefa do terapeuta é
unir-se a eles no desenvolvimento de uma nova história sobre suas vidas,
que lhes ofereça uma visão suficientemente diferente de sua situação, mas
não diferente demais, para expandir a conversação. (Lax, 1998, p. 92 apud
Boldrini C; 2007).

O processo terapêutico além de ser uma co-construção de sentidos, também é


visto na perspectiva construcionista como um sistema linguístico. Isto quer dizer que
o objeto com que se trabalha na terapia não é o conjunto das organizações sociais

37
externas trazidas pelos clientes, e sim o que é desenvolvido a partir da conversação
terapêutica.
Um cliente sempre aparece para um tratamento quanto tem uma demanda
interna e é a partir da narrativa do problema que o processo terapêutico se constitui.
E o terapeuta para fazer seu trabalho precisa entender o problema em si; faz isso por
meio da chamada investigação compartilhada. (Anderson e Goolishian, 1998). Para
auxiliar no processo de ‘descoberta’ do problema, Anderson (1998) partindo de dicas
de seus próprios pacientes, propõe que o terapeuta adote uma postura de não-saber.
Essa posição possibilita que o terapeuta esteja com os “ouvidos abertos” para
o que o paciente tem para dizer e também possibilita entender o contexto em que o
paciente vive.
Firmando a posição de que o conhecimento é alcançado a partir da relação,
para conseguir entrar em contato o terapeuta não pode partir de ideias a priori. Esse
novo olhar possibilita que o terapeuta, junto com o paciente, consiga chegar à
resolução dos problemas trazidos.
A principal ferramenta utilizada é a conversação, principalmente o uso de
perguntas terapêuticas, que são o caminho para facilitar o espaço dialógico. Essas
perguntas surgem de um desconhecimento e uma curiosidade para se conhecer o
outro, não se usa um método pré-estabelecido. Essa postura possibilita que o
terapeuta se livre de ideias pré-determinadas por experiências anteriores ou por
“verdades” desenvolvidas teoricamente, fatores que podem vir a dificultar o tratamento
por o paciente não se sentir recebido.

Não saber é não fazer um julgamento infundado ou inexperiente, mas se


refere de maneira mais ampla ao conjunto de suposições, os sentidos que o
terapeuta traz para a entrevista clínica. O estimulo para o terapeuta está em
aprender a singularidade da verdade narrativa de cada cliente, as verdades
coerentes em suas vidas estoriadas. Isto significa que os terapeutas serão
sempre prejudicados por sua experiência, mas que devem escutar os clientes
de maneira que esta não os feche para a totalidade do sentido das descrições
de suas vivências. Isso só poderá acontecer se o terapeuta abordar cada
experiência clínica desde a posição de não saber. Agir de outra forma é
buscar regularidades e sentidos comuns, que podem validar a teoria do
terapeuta, mas invalidam a singularidade das histórias dos clientes, e, logo,
sua própria identidade. (Anderson e Goolishian, 1998 p. 40 apud Boldrini C;
2007).

38
Um trabalho em terapia familiar feito em equipe, denominado de Processo
Reflexivo, é proposto pelo psicólogo T. Andersen (1998). Neste trabalho é proposto
que a equipe faça sua discussão sobre o caso em conjunto com a família, e não como
no modelo tradicional, em que a discussão é feita somente entre membros da equipe
e comunicada à família na forma de um diagnóstico situacional.
Essa proposta tenta quebrar com a ideia de que a equipe sabe mais sobre o
que é melhor para a relação familiar do que os próprios membros da família,
possibilitando assim que os clientes se relacionem entre eles e com a equipe na busca
da solução do (s) problema (s).
Outro fator relevante do trabalho da equipe reflexiva é que todas as falas
dentro do consultório são igualmente valorizadas. Assim, a descrição de cada membro
da família é atenciosamente aceita pela equipe, concepção que pode ajudar a
proporcionar uma melhor comunicação dentro daquele sistema.
Para que essa proposta aconteça, é importante que os outros pressupostos de
terapia construcionista também façam parte do processo: postura do não-saber; co-
construção terapêutica e visão narrativa. Tais pressupostos são suficientemente
amplos para se adaptarem a propostas terapêuticas dos mais variados tipos.

Durante o longo processo que se seguiu ao lançamento do ‘Processo


Reflexivo’, concluímos que as perguntas são melhores ferramentas para os
profissionais do que os sentidos e opiniões. Tornou-se natural buscar todas
as descrições e entendimentos imanentes, mas não ainda usados, dos
problemas definidos. Assim, passou a ser de interesse central concentrarmo-
nos no vocabulário que é usado para descrever e entender. O vocabulário
que uma pessoa usa é muito pessoal, pois contém metáforas
cuidadosamente selecionadas. (Andersen, 1998, p. 83 apud Boldrini C;
2007).

O vocabulário é extremamente importante, pois como o processo terapêutico


acontece sempre através da comunicação, é importante que o terapeuta tome cuidado
em não usar linguagem técnica e consiga se adaptar à linguagem do cotidiano trazida
pelo cliente. Podem surgir durante uma sessão, gírias e expressões que o terapeuta
desconhece e é nesse momento que a postura de não-saber se torna mais concreta
e necessária para que haja a troca.

O modo de trabalho da equipe aberta reflexiva tendia a equiparar a linguagem


profissional à linguagem cotidiana, que continha apenas palavras e conceitos
que todos poderiam utilizar em comum. (Andersen, 1998 p. 74 apud Boldrini
C; 2007).

39
Nas suas falas, as pessoas escolhem determinadas palavras que acham serem
as melhores para que consigam expressar suas ideias. As palavras possuem nuances
muito peculiares que, dependendo de onde são inseridas, podem desvendar um novo
mundo de significados (Andersen, 1998).
Na conversa terapêutica entre cliente e terapeuta existem 3 vozes
acontecendo paralelamente: a conversa interna de cada um consigo mesmo e o
diálogo entre os participantes. Nas conversas internas cada pessoa recebe as
informações externas e busca integrar esses novos significados e, a partir daí, surge
a possibilidade de troca e criação de novos sentidos.
Através da intercomunicação verbal uma pessoa consegue se reconhecer,
possibilitando ser quem é, e continuar sempre em busca de novas ideias e sentidos.
(Andersen, 1998).
A conversa terapêutica é o caminho para proporcionar a busca de novos
sentidos, novas nuances nas palavras e novas concepções sobre o “si mesmo”. Um
dos requisitos para que a psicologia possa ser reconhecida como disciplina científica
é a formulação de leis gerais de determinação do psiquismo humano, porém por ser
uma ciência humana, biológica e social este modelo a ser assumido nem sempre é
transposto de outras ciências com facilidade.
O pensamento pós-moderno surge na tentativa de mostrar que, pelo menos
nas ciências humanas, os objetivos da ciência precisam ser ampliados, buscando
outros meios menos generalizantes e mais condizentes com a realidade.
Considerando que a psicologia tem como finalidade estudar o comportamento
humano, propõe-se que nos diferentes campos de trabalho do psicólogo haja a
integração entre conhecimento do senso comum e conhecimento científico, pois afinal
o comportamento humano ocorre no cotidiano, e este deve ser o ponto de partida para
a atuação do psicólogo.
A multiplicidade de olhares da psicologia para o fenômeno humano passa a
fundamentar diversas abordagens, fator que dificulta mais ainda que o trabalho do
psicólogo tenha um método único de relação com seu objeto. Porém, existe um
Código de Ética que define as regras de conduta na atuação do psicólogo.
Sua função não é de normatizar a postura profissional e sim adequar as
práticas da psicologia aos valores sociais, fortalecendo, assim, o reconhecimento da
categoria pelos membros da sociedade.

40
É fundamental no trabalho do psicólogo, tanto no campo da pesquisa quanto
no clínico, o reconhecimento de que existem diferenças entre o seu mundo e o do seu
sujeito ou cliente, isto é, a concepção de valores, crenças e mesmo o significado de
algumas palavras podem ser muito distintos.
As vertentes da psicologia social, apresentadas no texto acima, passam a se
preocupar com o trabalho com as pessoas na vida cotidiana, levando sempre em
consideração que: o que a pessoa traz é o que vai ser o objeto de estudo psicológico.
Este objeto é sempre um enigma que somente será desvendado se o psicólogo
conseguir ter dedicação e paciência de esperar um novo mundo de sentidos se
apresentar através do diálogo.
O psicólogo precisa estar aberto para ouvir o que está sendo dito e entender
qual o real sentido do discurso para o outro. O psicólogo está a serviço de um indivíduo
que deve ser visto, objetivamente, como um ser que se relaciona com um senso
comum, que é parte constituinte de sua subjetividade.
Assim, o trabalho do psicólogo seria mais completo, e a comunicação entre o
psicólogo e o “sujeito comum” se tornaria um diálogo horizontal, se o psicólogo
valorizasse e se adaptasse à linguagem de seu cliente.
Com a apresentação de uma pesquisa em uma clínica escola, na terceira parte
do trabalho, houve a intenção de explicitar que no mundo prático do campo da
psicologia tais questões de conflito entre conhecimento cientifico e do senso comum
se fazem presentes e são constantemente ignoradas, principalmente no campo
acadêmico.
A dificuldade de encontrar material teórico que enfatizasse a concepção do
senso comum no trabalho do psicólogo traduz essa despreocupação existente na
área. Explicitar como se dá a conduta do psicólogo numa perspectiva que considera
o conhecimento que as pessoas trazem e propõe deixar de lado um olhar delimitado
por uma teoria, ajuda, de certa forma, a resolver as questões que se apresentam nos
resultados da referida pesquisa.
O construcionismo traz novas formas de valorizar as contribuições do cliente
na relação terapêutica, o que o diferencia de algumas posturas que, aparentemente,
consideram estes fatores secundários dentro do consultório. Suas ideias favorecem
uma prática mais democrática e comprometida com o outro.

41
Assim, simplesmente considerar o pensamento construcionista não vai resolver
os problemas nas clínicas escola, mas pode ajudar os jovens psicólogos, assim como
os experientes, a verificarem se as questões presentes na relação terapêutica, como
as apontadas pela pesquisa relatada e pelos psicólogos construcionistas, também
aparecem no seu dia a dia de trabalho e, a partir disso, repensarem sua atuação.
Com este conhecimento acima, pretendeu-se propor um olhar psicológico mais
amplo, focado nesta visão de realidade construída individualmente no coletivo social.
Na qual a política, a econômica, o social, a linguagem e o cultural são partes
integrantes de vida de cada pessoa que constitui esta realidade em questão.
As concepções apresentadas, principalmente as do construcionismo, não são
restritas ao trabalho do psicólogo social. A ideia geral é que esta ampliação de olhar,
focado no conhecimento trazido pela pessoa “comum”, estivesse presente em todas
as ‘psicologias’, independente da abordagem ou área de atuação.

5 OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA

Fonte: lamenteesmaravillosa.com

A psicologia, que, como a Antropologia, a Economia, a Sociologia e todas as


ciências humanas, estuda o homem. Certamente, esta divisão é ampla demais e
apenas coloca a Psicologia entre as ciências humanas. Qual é, então, o objeto
específico de estudo da Psicologia?
42
Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista, ele dirá: “O objeto de
estudo da Psicologia é o comportamento humano”. Se a palavra for dada a um
psicólogo psicanalista, ele dirá: “ O objeto de estudo da Psicologia é o inconsciente”.
Outros dirão que é a consciência humana, e outros, ainda, a personalidade. Existe
grande diversidade de objetos da psicologia.
A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato de este campo do
conhecimento ter-se constituído como área do conhecimento científico só muito
recentemente (final do século 19), a despeito de existir há muito tempo na Filosofia
enquanto preocupação humana.
Esse fato é importante, já que a ciência se caracteriza pela exatidão de sua
construção teórica, e, quando uma ciência é muito nova, ela não teve tempo ainda de
apresentar teorias acabadas e definitivas, que permitam determinar com maior
precisão seu objeto de estudo.
Um outro motivo que contribui para dificultar uma clara definição de objeto da
Psicologia é o fato de o cientista, o pesquisador confundir – se com o objeto a ser
pesquisador.
No sentido mais amplo, o objeto de estudo da Psicologia é o homem, e neste
caso o pesquisador está inserido na categoria a ser estudada. Assim, a concepção de
homem que o pesquisador traz consigo “ contamina” inevitavelmente a sua pesquisa
em Psicologia. Isso ocorre porque há diferentes concepções de homem entre os
cientistas (na medida em que estudos filosóficos e teológicos e mesmo doutrinas
políticas acabam definindo o homem à sua maneira, e o cientista acaba
necessariamente se vinculado a uma destas crenças).
É o caso da concepção de homem natural, formulada pelo filósofo francês
Rousseau, que imagina que o homem era puro e foi corrompido pela sociedade, e que
cabe então ao filósofo reencontrar essa pureza perdida.
Outros veem o homem como ser abstrato, com características definidas e que
não mudam, a despeito das condições sociais a que esteja submetido. Outros
percebem o homem como ser datado, determinado pelas condições históricas e
sociais que o cercam. Na realidade, este é um “ problema” enfrentado por todas a
ciências humanas, muito discutido pelos cientistas de cada área e até agora sem
perspectiva de solução. Conforme a definição de homem adotada, teremos uma
concepção de objeto que combine com ela.

43
Como, neste momento, há uma riqueza de valores sociais que permitem várias
concepções de homem, diríamos simplificadamente que, no cada Psicologia, esta
ciência estuda os “ diversos homens” concebidos pelo conjunto social. Assim, a
Psicologia hoje se caracteriza por uma diversidade de objetos de estudo.
Por outro lado, essa diversidade de objetos justifica- se porque os fenômenos
psicológicos são tão diversos, que não podem ser aquele reunisse condições de
aglutinar uma ampla variedade de fenômenos psicológicos. Ao estabelecer o padrão
de descrição, medida, controle e interpretação, o psicólogo está também
estabelecendo um determinado critério de seleção dos fenômenos psicológicos e
assim definindo um objeto.
Esta situação leva-nos a questionar a caracterização da psicologia como
ciência e a postular que no momento não existe uma psicologia, mas ciências
psicológicas embrionárias e em desenvolvimento.
A identidade da psicologia é o que a diferencia dos demais ramos das ciências
humanas, e pode ser obtida considerando-se que cada um desses ramos enfoca o
homem de maneira particular. Assim, cada especialidade: a economia, a política, a
história etc. trabalha essa matéria-prima de maneira particular, construindo
conhecimentos distintos e específicos a respeito dela.
A psicologia colabora com o estudo da subjetividade: é essa a sua forma
particular, especifica de contribuição para a compreensão da totalidade da vida
humana. Nossa matéria-prima, portanto, é o homem em todas as suas expressões,
as visíveis (nosso comportamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as singulares
(porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) é o homem-
corpo, homem- pensamento, homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo
subjetividade.
A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai
constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da
vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de um lado, por ser única, e
nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são
experenciados no campo comum da objetividade social.

44
Esta síntese – a subjetividade – é o mundo de ideias, significados e emoções
construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas
vivências e de sua constituição biológica, é, também, fonte de suas manifestações
afetivas e comportamentais.
O mundo social e cultural, conforme vai sendo experienciado por nós,
possibilita-nos a construção de um mundo interior. São diversos fatores que se
combinam e nos levam a uma vivência muito particular. Nós atribuímos sentido a
essas experiências e vamos nos constituindo a cada dia. A subjetividade é a maneira
de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um.
É o que constitui o nosso modo de ser: sou filho de japoneses e militante de um
grupo ecológico, detesto matemática, adoro samba e black music, prática ioga, tenho
vontade, mas não consigo ter uma namorada. Meu melhor amigo é filho de
descendentes de italianos, primeiro aluno da classe em matemática, trabalha e
estuda, é corintiano fanático, adora comer Sushi e navegar pela Internet.
Ou seja, cada qual é o que é: sua singularidade. Entretanto, a síntese que a
subjetividade representa não é inata ao indivíduo. Ele a constrói aos poucos,
apropriando-se do material do mundo social e cultural, e faz isso ao mesmo tempo em
que atua sobre este mundo, ou seja, é ativo na sua construção. Criando e
transformando o mundo (externo), o homem constrói e transforma a si próprio.
Um mundo objetivo, em movimento, porque seres humanos o movimentam
permanentemente com suas intervenções, um mundo subjetivo em movimento porque
os indivíduos estão permanentemente se apropriando de novas matérias-primas para
constituírem suas subjetividades.
De um certo modo, podemos dizer que a subjetividade não só é fabricada,
produzida, moldada, mas também é auto moldável, ou seja, o homem pode promover
novas formas de subjetividade, recusando – se ao assujeitamento e à perda de
memória imposta pela fugacidade social condicionada ao consumo, a medicalização
do sofrimento.
Nesse sentido, retomamos a utopia que cada homem pode participar na
construção do seu destino e de sua coletividade. Por fim, podemos dizer que estudar
a subjetividade, nos tempos atuais, é tentar compreender a produção de novos modos
de ser, isto é, as subjetividades emergentes, cuja fabricação é social e histórica.

45
O estudo dessas novas subjetividades vai desvendando as relações do
cultural, do político, do econômico e do histórico na produção do mais íntimo e do mais
observável no homem aquilo que o captura, submete-o ou mobiliza – o para pensar e
agir sobre os efeitos das formas de submissão da subjetividade (como dizia o filósofo
francês Michel Foucalt).
O movimento e a transformação são os elementos básicos de toda essa
história. E aproveitamos para citar Guimarães Rosa, que em Grande Sertão: Veredas,
consegue expressar, de modo muito adequado e rico, o que aqui vale a pena registrar:
“ o importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e
desafinam”.
É importante refletir um pouco sobre esse pensamento de Guimarães Rosa. As
pessoas não estão sempre iguais. Ainda não foram terminadas. Na verdade, as
pessoas nunca serão terminadas, pois estarão sempre se modificando. Mas por quê?
Como? Simplesmente porque a subjetividade - este mundo interno construído pelo
homem como síntese de suas determinações – não cessará de se modificar, pois as
experiências sempre trarão novos elementos para renová-la.
Talvez você esteja pensando: mas eu acho que sou o que sempre fui – eu não
me modifico! Por acompanhar de perto suas próprias transformações (não poderia ser
diferente!), você pode não as perceber e ter a impressão de ser como sempre foi.
Você é o construtor da sua transformação e, por isso, ela pode passar despercebida,
fazendo – o pensar que não se transformou. Mas você cresceu, mudou de corpo, de
vontades, de gostos, de amigos, de atividades, afinou e desafinou, enfim, tudo em sua
vida muda e, com ela, suas vivências subjetivas, seu conteúdo psicológico, sua
subjetividade. Isso acontece com todos nós.
Tendo uma noção do que seja subjetividade e podemos, então, voltar a
discussão sobre o objeto da Psicologia. A Psicologia, como já dissemos
anteriormente, é um ramo das Ciências Humanas e sua identidade, isto é, aquilo que
a diferencia, pode ser obtida considerando – se que cada um desses ramos enfoca
de maneira particular o objeto homem, construindo conhecimentos distintos e
específicos a respeito dele.

46
Assim, com o estudo da subjetividade, a Psicologia contribui para a
compreensão da totalidade da vida humana. É claro que a forma de se abordar a
subjetividade, e mesmo a forma de concebe – lá, dependerá da concepção de homem
adotada pelas diferentes escolas psicológicas. No momento, pelo pouco
desenvolvimento da Psicologia, essas escolas acabam formulando um conhecimento
fragmentário de uma única e mesma totalidade – o ser humano: o seu mundo interno
e as suas manifestações.
A superação do atual impasse levará a uma Psicologia que enquadre esse
homem como ser concreto e multiderminado. Esse é o papel de uma ciência crítica,
da compreensão, da comunicação e do encontro do homem com o mundo em que
vive, já que o homem que compreende a história (o mundo externo) também
compreende a si mesmo (sua subjetividade), e o homem que compreende a si mesmo
pode compreender o engendramento do mundo criar rotas e utopias.
Algumas correntes da Psicologia consideram-na pertencente ao campo das
ciências do comportamento e, outras, das ciências sociais. Acreditamos que o campo
das ciências humanas é amis abrangente e condizente com a nossa proposta, que
vincula a Psicologia a História, a Antropologia, à Economia etc.

6 A PSICOLOGIA COMO PROFISSÃO

Fonte: psicologiasdobrasil.com.br

47
Até o momento, abordamos a Psicologia como ciência. Uma ciência que fala
do homem a partir de seu mundo interno, sua subjetividade, que é fonte de
manifestações do indivíduo, suas ações, seus sonhos, seus desejos, suas emoções,
sua consciência e seu inconsciente.
Nesta parte do conhecimento, vamos abordar a Psicologia como profissão, isto
é, a Psicologia enquanto prática, enquanto aplicação do conhecimento produzido pela
ciência psicológica.
A Psicologia, no Brasil, é uma profissão reconhecida por lei, ou seja, a Lei
4.119, de 1962, reconhece a existência da Psicologia como profissão. São psicólogos,
habilitados ao exercício profissional, aqueles que completam o curso de graduação
em Psicologia e se registram no órgão profissional competente.
O exercício da profissão, na forma como se apresenta na Lei 4.119, está
relacionado ao uso (que é privativo dos psicólogos) de métodos e técnicas da
Psicologia para fins de diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional,
orientação psicopedagógica e solução de problemas de ajustamento.
Mas essas são “formalidades da profissão” que você não precisa saber em
profundidade, podemos refletir, a partir de questões formuladas por jovens que estão
escolhendo seu futuro profissional, ou por estudantes que fazem a disciplina em
cursos de 2º ou 3º graus, ou, ainda, pelos próprios alunos dos cursos de Psicologia.
Então, vamos às questões:

6.1 O psicólogo adivinha o que os outros pensam?

Psicólogo não tem bola de cristal nem é o advinha da sociedade


contemporânea. Ele dispõe, apenas, de um conjunto de técnicas e de conhecimentos
que lhe possibilitam compreender o que o outro diz, compreender as expressões e
gestos que o outro faz, integrando tudo isso em um quadro de análise que busca
descobrir as razões dos atos, dos pensamentos, dos desejos, das emoções.
O psicólogo possui instrumentos teóricos para desvendar o que está implícito,
encoberto, não-aparente e, nesse sentido, a pessoa, grupo ou instituição tem um
papel fundamental, pois o psicólogo não advinha. Para poder trabalhar, ele precisa
que as pessoas falem de si, contem sua história, dialoguem, exponham suas
reflexões.

48
O psicólogo pode, junto com o paciente, desvendar razões e compreender
dificuldades, caracterizando-se, assim, sua intervenção. Falamos de uma forma talvez
um pouco exagerada, que as pessoas sabem muito sobre si mesmas; no entanto, o
psicólogo possui instrumentos adequados para auxiliar o indivíduo a compreender,
organizar e aplicar esse saber, permitindo a sua transformação e a mudança da sua
ação sobre o meio.

6.2 A psicologia ajuda as pessoas a se conhecerem melhor?

A Psicologia, como ciência humana, permitiu-nos ter um conhecimento


abrangente sobre o homem. Sabemos mais sobre suas emoções, seus sentimentos,
seus comportamentos; sabemos sobre seu desenvolvimento e suas formas de
aprender; conhecemos suas inquietações, vivências, angústias, alegrias.
Apesar do grande desenvolvimento alcançado pela Psicologia, ainda há muito
o que pesquisar sobre o psiquismo humano e, tentar conhecê-lo melhor, é sempre
uma forma de tentar conhecer-se melhor. Mas é importante fazermos aqui alguns
esclarecimentos sobre isso.
Os conhecimentos científicos, construídos pelo homem, estão todos voltados
para ele. Mesmo aqueles que lhe parecem mais distantes foram construídos para
permitir ao homem uma compreensão maior sobre o mundo que o cerca, e isso
significa saber mais sobre si mesmo.
O que estamos querendo dizer é a ideia de que o aprendizado dos
conhecimentos científicos possibilita sempre um melhor conhecimento sobre a vida
humana. A Biologia, por exemplo, permite-nos um tipo de conhecimento sobre o
homem: seu corpo, sua constituição e sua origem.
A História possibilita-nos compreender o homem enquanto parte da
humanidade, isto é, o homem que, no decorrer do tempo, foi construindo formas de
vida e, portanto, formas de ser. A Economia abrange outro conhecimento sobre o
homem, na medida em que nos ajuda a compreender as formas de construção da
sobrevivência. Não há dúvida: todos os conhecimentos permitem um saber sobre o
mundo e, portanto, aumentam seu conhecimento sobre você mesmo.

49
6.3 O psicólogo é diferente de um bom amigo?

O apoio de qualquer pessoa pode, sem dúvida alguma, ter uma função de ajuda
para a superação de dificuldades — assim como fazer ginástica, ouvir música, dançar,
e sair com na companhia dos amigos.
No entanto, o psicólogo, em seu trabalho, utiliza o conhecimento científico na
intervenção técnica. A Psicologia dispõe de técnicas e de instrumentos apropriados e
cientificamente elaborados, que lhe possibilitam diagnosticar os problemas; possui,
também, um modelo de interpretação e de intervenção.
A intervenção do psicólogo é intencional, planejada e feita com a utilização de
conhecimentos específicos do campo da Ciência. Portanto, difere do amigo que não
planeja sua intervenção, não usa conhecimentos específicos nem pretende
diagnosticar ou intervir em algum aspecto percebido como crucial.
Mesmo quando os psicólogos não atuam para curar, mas para promover a
saúde já existente, eles o fazem a partir de um planejamento e da perspectiva da
Ciência. Fazer ginástica pode ser algo muito prazeroso e pode também ajudá-lo a
aliviar tensões e preocupações do seu dia a dia. Mas não é uma atividade
psicoterapêutica porque não está sendo feita a partir de um planejamento terapêutico
nem foi iniciada com um psicodiagnóstico.
Claro que, se o psicólogo utilizar a ginástica como instrumento de intervenção
psicoterapêutica, aí sim, a ginástica passa a fazer parte de uma atividade com essa
finalidade. Vale aqui lembrar que, se a ginástica for utilizada com outra finalidade
terapêutica que não a de intervenção no processo psicológico do sujeito, ela deixa de
ser psicoterapêutica e passa a ser, de acordo com a nova finalidade, fisioterapêutica,
por exemplo. No entanto, podemos não ser tão rigorosos e dizer que os homens
construíram, ao longo de sua história, formas de ajudarem uns aos outros na busca
de uma vida melhor e mais feliz. Amigos são, sem dúvida, uma “invenção” muito boa
(já dizia o poema: “Amigo é coisa para se guardar, do lado esquerdo do peito...”).
As religiões e as ciências também são tentativas humanas de melhorar a vida.
Não devemos, contudo, confundir estas tentativas com a atuação especializada do
psicólogo.

50
O psicólogo é um profissional que desenvolve uma intervenção no processo
psicológico do homem, uma intervenção que tem a finalidade de torná-lo saudável,
isto é, capaz de enfrentar as dificuldades do cotidiano; e faz isso a partir de
conhecimentos acumulados pelas pesquisas científicas na área da Psicologia.
A Psicologia, em seu desenvolvimento histórico como ciência, criou teorias
explicativas da realidade psicológica (por exemplo, a Psicanálise), ou descritivas do
comportamento (por exemplo, o Behaviorismo), bem como métodos e técnicas
próprias de investigação da vida psicológica e do comportamento humano.
Hoje, a Psicologia possui instrumentos próprios para obter dados sobre a vida
psíquica, como os testes psicológicos (de personalidade, de atenção, de inteligência,
de interesses etc.); as técnicas de entrevista (individual ou grupal); as técnicas
aprimoradas de observação e registro de dados do comportamento humano.
Os dados coletados por meio de testes, entrevistas ou observações devem ser
compreendidos a partir de modelos psicológicos, isto é, cada teoria em Psicologia tem
ou se constitui em um modelo de análise dos dados coletados. Por exemplo, numa
abordagem psicanalítica, a análise dos sonhos poderá ser feita a partir da associação
livre do paciente cada um dos elementos presentes no sonho que relata, e estes dados
analisados a partir da teoria do aparelho psíquico postulada por Freud.
Com a coleta e análise dos dados, o psicólogo pensará em sua intervenção,
que pode ser uma terapia (existem inúmeras: a rogeriana, a psicanalítica, a
comportamental, o psicodrama etc.), um treinamento, um trabalho de orientação de
grupo ou qualquer outro tipo de intervenção individual, grupal ou institucional, no
sentido da promoção da saúde.
1.3 Qual a diferença entre psiquiatra, psicólogo e psicanalista?
A Psiquiatria: surgiu, ainda no século 18, e trabalhava apenas em hospícios.
Só quando a psiquiatria tomou emprestados alguns conceitos de psicologia é que
casos mais moderados foram para os consultórios. Casos (o que se trata): trata
sintomas mais graves de definição mais clara, como esquizofrenia, Alzheimer e
depressões profundas. Como atua: Como nesses casos, só a terapia é muito pouco,
o tratamento é feito com remédios, sendo monitorada a reação que o paciente tem a
eles. Formação: 6 anos do curso de medicina e mais 3 de residência.

51
A Psicologia: surgiu na Grécia antiga, mas seu significado moderno só veio
no século 20. Casos: Há desde os psicólogos sociais, que estudam as massas, até
os de RH que selecionam candidatos. O que atende no consultório é o psicoterapeuta
que diagnostica casos de fobia e ciúme excessivo por exemplo. A Psicanálise: teve
origem no século 19, com o médico austríaco, Sigmund Freud. Atuação: medos,
raivas, inibições – anormalidades normais. Como atua: mais do que uma cura, o que
se busca é a transformação da pessoa, a partir da compreensão dos seus problemas.
O paciente fala tudo o que vem à cabeça; cabe ao psicanalista interpretar de forma
incisiva o que ele quis dizer inconscientemente, ajudando- no autoconhecimento.
Formação: os especialistas dizem que só quem foi analisado pode analisar
seus pacientes e chega-se há passar 8 anos em cursos de sociedades psicanalíticas.
Existe a formação em psicanálise destinado a Psicólogos, médicos e profissionais
com formação universitária que desejem vir a ser psicanalistas. É necessária
experiência em análise pessoal, algum conhecimento dos fundamentos da teoria
psicanalítica e percurso em prática clínica. E temos a formação em psicologia que tem
a duração de 5 anos, podendo o profissional de psicologia depois de formado
especializar em psicanálise.

Fonte: novoolharsc.com

6.4 Psicólogos e psiquiatras aproximam-se em suas práticas

A Psicologia e a Psiquiatria são áreas do saber fundadas em campos de


preocupações diferentes.
52
Desde Wundt, a Psicologia tem seu objeto de estudo marcado pela busca da
compreensão do funcionamento da consciência, enquanto a Psiquiatria tem
trabalhado para construir e catalogar um saber sobre a loucura, sobre a doença
mental. Os conhecimentos alcançados pela Psicologia permitiram realçar a existência
de uma “normalidade”, bem como compreender os processos e o funcionamento
psicológicos, não assumindo compromisso com o patológico.
A Psiquiatria, por sua vez, desenvolveu uma sistematização do conhecimento
e, mais precisamente, dos aspectos e do funcionamento psicológicos que se
desviavam de uma normalidade, sendo entendidos e significados socialmente como
patológicos, como doenças. De certa forma, poderíamos dizer, correndo o risco de um
certo exagero ou reducionismo, que, enquanto a Psiquiatria se constitui como um
saber da doença mental ou psicológica, a Psicologia tornou-se um saber sobre o
funcionamento mental ou psicológico.
O médico Sigmund Freud, com suas teorizações, foi responsável pela
aproximação entre essas duas áreas por ter dado continuidade ao funcionamento
normal e patológico. Freud postulou que o patológico não era mais do que uma
exacerbação do funcionamento normal, ou seja, uma exacerbação entre o que era
normal e doentio no mundo psíquico, ocorrendo apenas uma diferença de grau.
Com isso, as duas áreas estavam articuladas e as respectivas práticas se
assemelharam e se aproximaram muito, a ponto de estarmos aqui ocupando este
espaço para esclarecermos a você as diferenças entre elas.
Mas se Freud aproximou esses saberes em suas preocupações, a década de
50, no século 20, traria o desenvolvimento da psicofarmacologia, o qual foi
responsável por uma retomada das bases biológicas e orgânicas da Psiquiatria,
tributária dos métodos e das técnicas da Medicina.
Assim, ocorreu um novo distanciamento entre a Psicologia e a Psiquiatria,
sobretudo em relação aos métodos e técnicas de intervenção utilizados por estas duas
especialidades profissionais.
A Psicologia deu continuidade à expansão de seus conhecimentos por outros
campos, sempre marcada pela busca da compreensão dos processos de
funcionamento do mundo psicológico, dedicando-se a processos, como o da
aprendizagem, o dos condicionamentos, o da relação entre os comportamentos e as
relações sociais, ou entre os comportamentos e o meio ambiente, o do mundo afetivo,

53
o das diversas possibilidades humanas; enfim, centrou-se nos variados aspectos que
foram sendo apontados como constitutivos do mundo subjetivo, do mundo psicológico
do homem.
As fronteiras entre a Psicologia e a Psiquiatria, excetuando-se as práticas
profissionais farmacológicas, tendem a diminuir no campo profissional no que diz
respeito às intervenções nos processos patológicos da subjetividade humana. Os
afazeres desses profissionais realmente se aproximam muito. Os psiquiatras têm
buscado muitos conhecimentos e técnicas na Psicologia, e os psicólogos têm se
dedicado mais à compreensão das patologias para qualificar seus afazeres
profissionais.
Quando se toma, especificamente, a patologia, a loucura, a doença mental ou
os distúrbios psicológicos como temas ou objetos de trabalho, os pontos de contato
dessas áreas são muitos e o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar tem sido
a meta de ambos os profissionais.
Mas, se sairmos desse campo e entrarmos no campo da “normalidade”, da
saúde, do desenvolvimento, os psicólogos aparecerão acompanhados de outros
profissionais, como os assistentes sociais, os pedagogos, os administradores, os
sociólogos, os antropólogos e outros mais.
Neste campo, as possibilidades teóricas e técnicas da Psicologia são
outras: intervenções nas relações sociais e nas relações institucionais;
desenvolvimento de trabalhos em Educação e de programas de intervenção no
trânsito, nos esportes, nas questões jurídicas, em projetos de urbanização, nas artes;
enfim, a Psicologia pretende contribuir com a promoção da saúde.

7 A FINALIDADE DO TRABALHO DO PSICÓLOGO

Uma das concepções que vêm ganhando espaço é a do psicólogo como


profissional de saúde. Um profissional que, ao lado de muitos outros, aplica
conhecimentos e técnicas da Psicologia para promover a saúde.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é o “estado de bem-
estar físico, mental e social”. Ampliando um pouco essa concepção, ao falarmos de
saúde, estamos fazendo referência a um conjunto de condições, criadas
coletivamente, que permitem a continuidade da própria sociedade.

54
Estamos falando, portanto, das condições (de alimentação, de educação, de
lazer, de participação na vida social etc.) que permitem a um conjunto social produzir
e reproduzir-se de modo saudável.
Nessa perspectiva, o psicólogo, como profissional de saúde, deve empregar
seus conhecimentos de Psicologia na promoção de condições satisfatórias de vida,
na sociedade em que vive e trabalha, isto é, em que está comprometido como cidadão
e como profissional.
Assim, o psicólogo tem seu trabalho relacionado às condições gerais de vida
de uma sociedade, embora atue enfocando a subjetividade dos indivíduos e/ou suas
manifestações comportamentais. Pensar a saúde dos indivíduos significa pensar as
condições objetivas e subjetivas de vida, de modo indissociado.
Reafirmamos que a profissão do psicólogo deve-se caracterizar pela aplicação
dos conhecimentos e técnicas da Psicologia na promoção da saúde. Este trabalho
pode estar sendo realizado nos mais diversos locais: consultórios, escolas, hospitais,
creches e orfanatos, empresas e sindicatos de trabalhadores, bairros, presídios,
instituições de reabilitação de deficientes físicos e mentais, ambulatórios, postos e
centros de saúde e outros.
Neste ponto, é importante lembrar que o compromisso do psicólogo é a
promoção da saúde e não o impedirá de intervir quando se defrontar com a doença e
a necessidade da cura. Isto é, deparando-se com indivíduos que apresentem certa
ordem de distúrbios e sofrimentos psíquicos, que necessitem de uma intervenção
curativa, poderá buscar a cura através de terapias verbais ou corporais (o psicólogo
não pode valer-se de medicamentos, pois esta é uma prática restrita aos médicos —
no caso, os psiquiatras).
Assim, a prática do psicólogo como profissional de saúde irá caracterizar-se
pela aplicação dos conhecimentos psicológicos no sentido de uma intervenção
específica junto a indivíduos, grupos e instituições, com o objetivo de
autoconhecimento, desenvolvimento pessoal, grupal e institucional, numa postura de
promoção da saúde.

55
Mas o que significa trabalhar para a promoção da saúde?
Mantendo o parâmetro colocado no trecho anterior, de que pensar a saúde dos
indivíduos significa pensar as condições objetivas e subjetivas de vida, de modo
indissociado, podemos especificar um pouco mais essa questão, quando nos
referimos ao psicólogo ou à Psicologia.
A Psicologia tem, como objeto de estudo, o fenômeno psicológico, esse
fenômeno se refere a processos internos ao indivíduo. E a subjetividade, o seu mundo
interior, que é, como não podemos deixar de lembrar, construído no decorrer da vida,
a partir das relações sociais com toda sua riqueza, com todas as suas possibilidades
e limitações. Aqui vamos falar de saúde mental dos indivíduos, significando a
possibilidade de o indivíduo pensar-se como ser histórico, perceber a construção da
sua subjetividade ao longo de uma vida.
Perceber a si próprio é, aqui, sinônimo de compreender-se como síntese de
muitas determinações. Ter e manter uma condição saudável do psiquismo é conseguir
pensar-se como um indivíduo inserido em uma sociedade, numa teia de relações
sociais, que é o espaço onde ele torna-se homem.
Assim, a saúde mental do indivíduo está diretamente ligada às condições
materiais de vida, pois a miséria material caracterizada por fome, falta de habitação,
desemprego, analfabetismo, altas taxas de mortalidade infantil tornam-se, nessa
visão, a condição que prejudica o desenvolvimento do indivíduo.
Poderíamos usar a seguinte imagem para tornar mais claro nosso
pensamento: como construir um mundo psíquico, se não há matéria-prima
adequada?
As construções serão frágeis. Retomando e sintetizando, o psicólogo trabalha
para promover saúde, isto é, trabalha para que as pessoas desenvolvam uma
compreensão cada vez maior de sua inserção nas relações sociais e de sua
constituição histórica e social enquanto ser humano.
Quanto mais clareza se tiver sobre isso, maiores serão as possibilidades de o
indivíduo lidar com a situação cotidiana que o envolve, decidindo o que fazer,
projetando intervenções para alterar a realidade, compreendendo as relações que vive
e, portanto, compreendendo a si mesmo e aos outros.

56
8 AS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO

Fonte: laopinion.com

Colocada a finalidade do trabalho do psicólogo, podemos agora falar das áreas


e locais nos quais ele trabalha.
Nos consultórios, nas clínicas psicológicas, hospitais, ambulatórios e centros
de saúde, para citar apenas algumas instituições de saúde, os psicólogos estarão
atuando para promover saúde. Nesses locais, a doença poderá estar presente,
merecendo intervenções terapêuticas. Aí o psicólogo precisará do conhecimento da
Psicologia para fazer um diagnóstico, intervir e avaliar.
A atuação do psicólogo nesse campo é muito conhecida; conhecemos muitas
de suas técnicas, como testes, entrevistas e terapias. Esse tipo de atuação aparece
nas novelas, nos filmes e nos livros. As pessoas comumente se referem a esses
psicólogos como “o terapeuta”.
Na escola ou nas instituições educacionais (creches, orfanatos etc.), o
processo pedagógico vai se colocar como realidade principal. Todo o trabalho do
psicólogo estará em função deste processo e para ele direcionado.

57
E isso irá obrigá-lo a escolher técnicas em Psicologia que se adaptem aos
limites que sua intervenção terá dada a realidade educacional. Estará sendo psicólogo
porque estará utilizando o conhecimento da ciência psicológica para compreender e
intervir, só que, neste caso, com o objetivo de promover saúde num espaço que é
educacional.
Na empresa ou indústria, as relações de trabalho e o processo produtivo vão
ser colocados como realidade principal do psicólogo. Portanto, os conhecimentos, as
técnicas que utilizará estarão em função da realidade e das exigências que elas
colocam para o profissional. A promoção da saúde naquele espaço de trabalho é seu
objetivo maior.
Sempre que falamos nessa área, citamos as empresas e indústrias, isto porque
são as organizações mais conhecidas do trabalho dos psicólogos. Mas, na verdade,
sempre que estivermos pensando em promover saúde a partir da intervenção nas
relações de trabalho, estaremos dentro desse campo. Hoje já existem psicólogos que
fazem trabalhos junto a sindicatos, centrais sindicais, centros de referência dos
trabalhadores, núcleos de pesquisa do trabalho etc.
São psicólogos que têm como realidade principal de intervenção o processo de
trabalho ou as relações de trabalho. Se pensarmos assim, esse profissional poderá
estar atuando num hospital ou numa escola, desde que sua intervenção se dê no
processo de trabalho, e não no processo de tratamento da saúde ou no processo
educacional.
Estamos querendo dizer, com isso, que não há uma Psicologia Clínica, outra
Escolar, e ainda outra Organizacional, mas há a Psicologia, como corpo de
conhecimento científico, que é aplicada a processos individuais ou a relações entre
pessoas, nas escolas, nas indústrias e nas clínicas, assim como em hospitais,
presídios, orfanatos, ambulatórios, centros de saúde etc.
Claro que não podemos negar que, na medida em que os psicólogos iniciam
suas atuações nesses campos, passam a desenvolver discussões e reflexões que
especificam uma intervenção.
Isso pode levar, tem levado e é desejável que leve à construção de
conhecimentos específicos de cada campo: sua clientela, seus processos, sua
problemática, criando assim, como áreas de conhecimento dentro da Psicologia, a
Psicologia Educacional, com todos os seus ramos: aprendizagem, alfabetização,

58
relação professor-aluno, análise institucional do espaço escolar, fracasso escolar,
educação de deficientes etc. a Psicologia Clínica, coloca todo seu conhecimento sobre
populações específicas, como a Psicologia da gravidez e do puerpério, a Psicologia
da terceira idade etc.
Seus conhecimentos sobre os estados psíquicos alterados, sobre a angústia, a
ansiedade, o luto, o suicídio etc. E a Psicologia do Trabalho, também com seus
conhecimentos: o stress, consequências psíquicas do trabalho, a saúde do
trabalhador, as técnicas de seleção, treinamento, avaliação de desempenho etc.
Há, ainda, a possibilidade de o psicólogo se dedicar ao magistério de ensino
superior e à pesquisa. Esses profissionais estão mais ligados à Ciência Psicológica
enquanto corpo de conhecimentos, produzindo-os ou transmitindo-os. Essas são
consideradas atuações de base na profissão, pois, para atuar, os psicólogos
dependem da produção do conhecimento e da formação de profissionais. E também
ao magistério do ensino profissional (antigo ensino técnico), como pode ser o caso de
seu professor.
Esse profissional trabalha no sentido de contribuir com a formação dos jovens,
dando-lhes mais uma possibilidade de enriquecer a leitura e compreensão que têm
do mundo. Devido aos conhecimentos que possui sobre o psiquismo humano, o
psicólogo tem sido requisitado também para o trabalho nas áreas de publicidade —
na produção de imagens (de políticos, por exemplo); Marketing, pesquisas de
mercado etc. Ele está conquistando espaços na área esportiva, junto à Justiça, nos
presídios e nas instituições chamadas de reeducação ou reabilitação. Pode-se citar,
também, uma área menos acessível para o psicólogo, mas na qual sua contribuição
tem sido prestimosa, que é a de planejamento urbano.
Fica claro, portanto, que a Psicologia possui um conhecimento importante para
a compreensão da realidade e por isso é utilizada, pelos psicólogos ou por outros
profissionais, em vários locais de trabalho, em vários campos. Mas os psicólogos
também precisam dos conhecimentos de outras áreas da ciência para construir uma
visão mais globalizante do fenômeno estudado. Na Educação, por exemplo, o
psicólogo tem necessidade dos conhecimentos da Pedagogia, da Sociologia e da
Filosofia.

59
Na maioria dos locais de trabalho, os psicólogos não estão sozinhos. Nesses
locais, o profissional necessita compor-se em equipes multidisciplinares, onde cada
um, com seu conhecimento específico, procura integrar suas análises e ter, assim,
uma compreensão globalizante do fenômeno estudado e uma prática integrada.
Áreas de psicologia

Fonte: site.cfp.org.br

Quando a natureza da agência é priorizada como critério, encontramos, por


exemplo, psicólogos que definem sua atuação como clínica, em função de
60
ser exercida em consultórios particulares (Mello, 1975); ou os que definem
como "Psicologia Social", e não como clínica, o atendimento clínico que
oferecem para população de baixa renda em instituições ou centros
comunitários (Carvalho, 1984 apud Carvalho A; Psicol. Cienc.
prof. vol.4 no.2 Brasília 1984).

8.1 Usos e abusos da psicologia

A Psicologia, além de usada pelos psicólogos, tem sido também “abusada” por
eles. O sentido do abuso, ou melhor, o critério do abuso da Psicologia pode ser dado
pelo fato de não estar sendo usado o conhecimento para a promoção da saúde da
coletividade. Não gostaríamos aqui de apontar locais ou processos onde esse fato
estaria ocorrendo, pois ele poderá acontecer em qualquer prática de qualquer
psicólogo — na clínica, na escola, no hospital psiquiátrico ou na empresa.
No entanto, um deles não deve deixar de ser citado: a utilização da Psicologia
para práticas repressivas, que podem existir nas escolas, presídios, instituições
educacionais e/ou de reabilitação, hospitais psiquiátricos etc.
Isto se torna possível porque o conhecimento da Psicologia, ao permitir que
saibamos promover a saúde mental, permite também que saibamos promover a
loucura, o medo, a insegurança, com o objetivo de coagir o indivíduo.

8.2 Código de ética profissional do psicólogo

Um Código de Ética deve expressar, de um lado, a dinamicidade própria da


liberdade, do risco e da criação e, de outro lado, mostrar um conjunto de ações ou
comportamentos que sejam representativos da realidade com os quais o homem se
põe diariamente em contato.
Toda profissão define-se a partir de um corpo de práticas que busca atender
demandas sociais, norteado por elevados padrões técnicos e pela existência de
normas éticas que garantam a adequada relação de cada profissional com seus pares
e com a sociedade como um todo.
Um Código de Ética profissional, ao estabelecer padrões esperados quanto às
práticas referendadas pela respectiva categoria profissional e pela sociedade, procura
fomentar a autorreflexão exigida de cada indivíduo acerca das suas práxis, de modo
a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações e suas consequências no
exercício profissional.
61
A missão primordial de um código de ética profissional não é de normatizar a
natureza técnica do trabalho, e, sim, a de assegurar, dentro de valores relevantes para
a sociedade e para as práticas desenvolvidas, um padrão de conduta que fortaleça o
reconhecimento social daquela categoria.
Códigos de Ética expressam sempre uma concepção de homem e de
sociedade que determina a direção das relações entre os indivíduos. Traduzem-se em
princípios e normas que devem se pautar pelo respeito ao sujeito humano e seus
direitos fundamentais.
Por constituir a expressão de valores universais, tais como os constantes na
Declaração Universal dos Direitos Humanos; socioculturais, que refletem a realidade
do país; e de valores que estruturam uma profissão, um código de ética não pode ser
visto como um conjunto fixo de normas e imutável no tempo. As sociedades mudam,
as profissões transformam-se e isso exige, também, uma reflexão contínua sobre o
próprio código de ética que nos orienta.
A formulação do Código de Ética do Psicólogo, o terceiro da profissão de
psicólogo no Brasil, responde ao contexto organizativo dos psicólogos, ao momento
do país e ao estágio de desenvolvimento da Psicologia enquanto campo científico e
profissional. Este Código de Ética dos Psicólogos é reflexo da necessidade, sentida
pela categoria e suas entidades representativas, de atender à evolução do contexto
institucional-legal do país, marcadamente a partir da promulgação da denominada
Constituição Cidadã, em 1988, e das legislações dela decorrentes.
Consoante com a conjuntura democrática vigente, o presente Código foi
construído a partir de múltiplos espaços de discussão sobre a ética da profissão, suas
responsabilidades e compromissos com a promoção da cidadania. O processo
ocorreu ao longo de três anos, em todo o país, com a participação direta dos
psicólogos e aberto à sociedade.
Este Código de Ética pautou-se pelo princípio geral de aproximar-se mais
de um instrumento de reflexão do que de um conjunto de normas a serem
seguidas pelo psicólogo. Para tanto, na sua construção buscou-se:
 Valorizar os princípios fundamentais como grandes eixos que devem
orientar a relação do psicólogo com a sociedade, a profissão, as
entidades profissionais e a ciência, pois esses eixos atravessam todas

62
as práticas e estas demandam uma contínua reflexão sobre o contexto
social e institucional.
 Abrir espaço para a discussão, pelo psicólogo, dos limites e interseções
relativos aos direitos individuais e coletivos, questão crucial para as
relações que estabelece com a sociedade, os colegas de profissão e os
usuários ou beneficiários dos seus serviços.
 Contemplar a diversidade que configura o exercício da profissão e a
crescente inserção do psicólogo em contextos institucionais e em
equipes multiprofissionais.
 Estimular reflexões que considerem a profissão como um todo e não em
suas práticas particulares, uma vez que os principais dilemas éticos não
se restringem a práticas específicas e surgem em quaisquer contextos
de atuação.
Ao aprovar e divulgar o Código de Ética Profissional do Psicólogo, a expectativa
é de que ele seja um instrumento capaz de delinear para a sociedade as
responsabilidades e deveres do psicólogo, oferecer diretrizes para a sua formação e
balizar os julgamentos das suas ações, contribuindo para o fortalecimento e ampliação
do significado social da profissão.

8.3 Princípios fundamentais

 O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da


liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano,
apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
 O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida
das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de
quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
 O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e
historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.

63
 O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo
aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da
Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática.
 O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da
população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos
serviços e aos padrões éticos da profissão.
 O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com
dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo
aviltada.
 O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que
atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades
profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com
os demais princípios deste Código.

8.4 Das responsabilidades do psicólogo

Art. 1º – São deveres fundamentais dos psicólogos:


 Conhecer, divulgar, cumprir e fazer cumprir este Código;
 Assumir responsabilidades profissionais somente por atividades para as
quais esteja capacitado pessoal, teórica e tecnicamente;
 Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho
dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios,
conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência
psicológica, na ética e na legislação profissional;
 Prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de
emergência, sem visar benefício pessoal;
 Estabelecer acordos de prestação de serviços que respeitem os direitos
do usuário ou beneficiário de serviços de Psicologia;
 Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psicológicos,
informações concernentes ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo
profissional;

64
 Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da prestação de
serviços psicológicos, transmitindo somente o que for necessário para a
tomada de decisões que afetem o usuário ou beneficiário;
 Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos apropriados, a
partir da prestação de serviços psicológicos, e fornecer, sempre que
solicitado, os documentos pertinentes ao bom termo do trabalho;
 Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, empréstimo,
guarda e forma de divulgação do material privativo do psicólogo sejam
feitas conforme os princípios deste Código;
 Ter, para com o trabalho dos psicólogos e de outros profissionais,
respeito, consideração e solidariedade, e, quando solicitado, colaborar
com estes, salvo impedimento por motivo relevante;
 Sugerir serviços de outros psicólogos, sempre que, por motivos
justificáveis, não puderem ser continuados pelo profissional que os
assumiu inicialmente, fornecendo ao seu substituto as informações
necessárias à continuidade do trabalho;
 Levar ao conhecimento das instâncias competentes o exercício ilegal ou
irregular da profissão, transgressões a princípios e diretrizes deste
Código ou da legislação profissional.
Art. 2º – Ao psicólogo é vedado:
 Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou
opressão;
 Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas,
de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do
exercício de suas funções profissionais;
 Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas
psicológicas como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de
violência;
 Acumpliciar-se com pessoas ou organizações que exerçam ou
favoreçam o exercício ilegal da profissão de psicólogo ou de qualquer
outra atividade profissional;

65
 Ser conivente com erros, faltas éticas, violação de direitos, crimes ou
contravenções penais praticadas por psicólogos na prestação de
serviços profissionais;
 Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de
atendimento psicológico cujos procedimentos, técnicas e meios não
estejam regulamentados ou reconhecidos pela profissão;
 Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico científica;
 Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas
psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas;
 Induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a seus serviços;
 Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha
vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos
objetivos do serviço prestado;
 Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus
vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar
a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados da
avaliação;
 Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício
próprio, pessoas ou organizações atendidas por instituição com a qual
mantenha qualquer tipo de vínculo profissional;
 Prestar serviços profissionais a organizações concorrentes de modo que
possam resultar em prejuízo para as partes envolvidas, decorrentes de
informações privilegiadas;
 Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais;
 Pleitear ou receber comissões, empréstimos, doações ou vantagens
outras de qualquer espécie, além dos honorários contratados, assim
como intermediar transações financeiras;
 Receber, pagar remuneração ou porcentagem por encaminhamento de
serviços;
 Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados
de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor
pessoas, grupos ou organizações.

66
Art. 3º – O psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma
organização, considerará a missão, a filosofia, as políticas, as normas e as práticas
nela vigentes e sua compatibilidade com os princípios e regras deste Código.
Parágrafo único: Existindo incompatibilidade, cabe ao psicólogo recusar-se a
prestar serviços e, se pertinente, apresentar denúncia ao órgão competente.
Art. 4º – Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo:
 Levará em conta a justa retribuição aos serviços prestados e as
condições do usuário ou beneficiário;
 Estipulará o valor de acordo com as características da atividade e o
comunicará ao usuário ou beneficiário antes do início do trabalho a ser
realizado;
 Assegurará a qualidade dos serviços oferecidos independentemente do
valor acordado.
Art. 5º – O psicólogo, quando participar de greves ou paralisações,
garantirá que:
 As atividades de emergência não sejam interrompidas;
 Haja prévia comunicação da paralisação aos usuários ou beneficiários
dos serviços atingidos pela mesma.
Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não
psicólogos:
 Encaminhará a profissionais ou entidades habilitados e qualificados
demandas que extrapolem seu campo de atuação;
 Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço
prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações,
assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o
sigilo.
Art. 7º – O psicólogo poderá intervir na prestação de serviços
psicológicos que estejam sendo efetuados por outro profissional, nas seguintes
situações:
 A pedido do profissional responsável pelo serviço;
 Em caso de emergência ou risco ao beneficiário ou usuário do serviço,
quando dará imediata ciência ao profissional;

67
 Quando informado expressamente, por qualquer uma das partes, da
interrupção voluntária e definitiva do serviço;
 Quando se tratar de trabalho multiprofissional e a intervenção fizer parte
da metodologia adotada.
Art. 8º – Para realizar atendimento não eventual de criança, adolescente
ou interdito, o psicólogo deverá obter autorização de ao menos um de seus
responsáveis, observadas as determinações da legislação vigente:
§1° – No caso de não se apresentar um responsável legal, o atendimento
deverá ser efetuado e comunicado às autoridades competentes;
§2° – O psicólogo responsabilizar-se-á pelos encaminhamentos que se fizerem
necessários para garantir a proteção integral do atendido.
Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger,
por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a
que tenha acesso no exercício profissional.
Art. 10 – Nas situações em que se configure conflito entre as exigências
decorrentes do disposto no Art. 9º e as afirmações dos princípios fundamentais deste
Código, excetuando-se os casos previstos em lei, o psicólogo poderá decidir pela
quebra de sigilo, baseando sua decisão na busca do menor prejuízo.
Parágrafo único – Em caso de quebra do sigilo previsto no caput deste
artigo, o psicólogo deverá restringir-se a prestar as informações estritamente
necessárias.
Art. 11 – Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo poderá prestar
informações, considerando o previsto neste Código.
Art. 12 – Nos documentos que embasam as atividades em equipe
multiprofissional, o psicólogo registrará apenas as informações necessárias para o
cumprimento dos objetivos do trabalho.
Art. 13 – No atendimento à criança, ao adolescente ou ao interdito, deve ser
comunicado aos responsáveis o estritamente essencial para se promoverem medidas
em seu benefício.
Art. 14 – A utilização de quaisquer meios de registro e observação da prática
psicológica obedecerá às normas deste Código e a legislação profissional vigente,
devendo o usuário ou beneficiário, desde o início, ser informado.

68
Art. 15 – Em caso de interrupção do trabalho do psicólogo, por quaisquer
motivos, ele deverá zelar pelo destino dos seus arquivos confidenciais.
§ 1° – Em caso de demissão ou exoneração, o psicólogo deverá repassar todo
o material ao psicólogo que vier a substituí-lo, ou lacrá-lo para posterior utilização pelo
psicólogo substituto.
§ 2° – Em caso de extinção do serviço de Psicologia, o psicólogo responsável
informará ao Conselho Regional de Psicologia, que providenciará a destinação dos
arquivos confidenciais.
Art. 16 – O psicólogo, na realização de estudos, pesquisas e atividades
voltadas para a produção de conhecimento e desenvolvimento de tecnologias:
 Avaliará os riscos envolvidos, tanto pelos procedimentos, como pela
divulgação dos resultados, com o objetivo de proteger as pessoas,
grupos, organizações e comunidades envolvidas;
 Garantirá o caráter voluntário da participação dos envolvidos, mediante
consentimento livre e esclarecido, salvo nas situações previstas em
legislação específica e respeitando os princípios deste Código;
 Garantirá o anonimato das pessoas, grupos ou organizações, salvo
interesse manifesto destes;
 Garantirá o acesso das pessoas, grupos ou organizações aos resultados
das pesquisas ou estudos, após seu encerramento, sempre que assim
o desejarem.
Art. 17 – Caberá aos psicólogos docentes ou supervisores esclarecer, informar,
orientar e exigir dos estudantes a observância dos princípios e normas contidas neste
Código.
Art. 18 – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá
a leigos instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício
ilegal da profissão.
Art. 19 – O psicólogo, ao participar de atividade em veículos de comunicação,
zelará para que as informações prestadas disseminem o conhecimento a respeito das
atribuições, da base científica e do papel social da profissão.
Art. 20 – O psicólogo, ao promover publicamente seus serviços, por
quaisquer meios, individual ou coletivamente:
 Informará o seu nome completo, o CRP e seu número de registro;

69
 Fará referência apenas a títulos ou qualificações profissionais que
possua;
 Divulgará somente qualificações, atividades e recursos relativos a
técnicas e práticas que estejam reconhecidas ou regulamentadas pela
profissão;
 Não utilizará o preço do serviço como forma de propaganda;
 Não fará previsão taxativa de resultados;
 Não fará autopromoção em detrimento de outros profissionais;
 Não proporá atividades que sejam atribuições privativas de outras
categorias profissionais;
 Não fará divulgação sensacionalista das atividades profissionais.

8.5 Das disposições gerais

Art. 21 – As transgressões dos preceitos deste Código constituem infração


disciplinar com a aplicação das seguintes penalidades, na forma dos dispositivos
legais ou regimentais:
 Advertência;
 Multa;
 Censura pública;
 Suspensão do exercício profissional, por até 30 (trinta) dias, ad
referendum do Conselho Federal de Psicologia;
 Cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho Federal
de Psicologia.
Art. 22 – As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão
resolvidos pelos Conselhos Regionais de Psicologia, ad referendum do Conselho
Federal de Psicologia.
Art. 23 – Competirá ao Conselho Federal de Psicologia firmar jurisprudência
quanto aos casos omissos e fazê-la incorporar a este Código.
Art. 24 – O presente Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de
Psicologia, por iniciativa própria ou da categoria, ouvidos os Conselhos Regionais de
Psicologia.
Art. 25 – Este Código entra em vigor em 27 de agosto de 2005.

70
Este Código de Ética Profissional é fruto de amplos debates ocorridos
entre os anos de 2003 e 2005, envolvendo:
 15 fóruns regionais de Ética, que culminaram com o II Fórum Nacional
de Ética;
 Os trabalhos de uma comissão de psicólogos e professores convidados;
 Os trabalhos da Assembleia das Políticas Administrativas e Financeiras
do Sistema Conselhos de Psicologia, APAF,
 Tudo sob a responsabilidade do Conselho Federal de Psicologia.

Ao serem incorporadas à vida cotidiana de algumas camadas da população,


“as psicologias” convertem-se quase sempre numa visão de mundo
altamente subjetivista e individualista. Com isso, queremos dizer que mesmo
as teorias psicológicas que não se restringem à experiência imediata da
subjetividade individualizada, como a psicanálise, ao serem assimiladas pela
sociedade, têm se tornado uma forma de manter a ilusão da liberdade e da
singularidade de cada um, em vez de compreender e explicar o que há de
ilusório nessas ideias. É assim que a psicologização da vida quotidiana tem
nos levado a pensar o mundo social e a nós mesmos a partir de uma visão
bem pouco crítica. (...) certamente a tendência que tem mais crescido e
aumentado seu mercado recentemente é a das “terapias de autoajuda“.
Numa mistura de concepções do senso comum ou baseadas em teorias
psicológicas, em pressupostos humanistas sobre a liberdade do homem e
num estilo de administração empresarial nitidamente comportamentalista,
esse discurso (que soa como o de um pastor protestante americano, e isto é
mais do que uma coincidência) prega um paradoxal reforçamento do “eu” com
sua submissão a um conjunto de regras de gerenciamento da própria vida.
(Figueiredo e Santi, 2004, pág. 87-88 apud Moura J; 2008).

O profissional intitulado psicólogo tem como missão contribuir para o bem-estar


social, auxiliando pessoas e grupos a obter clareza sobre sua diversidade de
sentimentos, em busca de respostas que possam identificar as verdadeiras
motivações e razões de escolhas e condutas com relação as suas experiências
vivenciadas. E por fim, proporcionar o entendimento de si mesmo, estimulando a
inteligência emocional, autocontrole, equilíbrio e qualidade de vida.

71
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSEN, T. Reflexões sobre a reflexão com as famílias. In: MCNAMEE, S.;


GERGEN, K. J. (orgs.) A terapia como construção social. Porto Alegre, RS: Artes
Médicas, 1998, p.69-85ANDERSON, H. & GOOLISHIAN, H. O cliente é o especialista:
A abordagem terapêutica do não-saber. In: MCNAMEE, S. & GERGEN, K. J. (orgs.)
A terapia como construção social. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1998, p.34-50

ARAÚJO, J. W. de Ciência e senso comum: a divulgação do conhecimento no


campo da saúde. Perspectiva ciência. inf., n. especial, Belo Horizonte, p. 72-93, jul.
/dez. 2003.

ASSIS, R., & PERES, S. (Orgs). (2016). História da Psicologia: tendências


contemporâneas. Belo Horizonte: Artesã.

ARAÚJO, J. N. G. de; GOULART, Maria Inês Mafra. “Psicologia Social - Psicologia


e Educação: universos em interação”. Minas Gerais, Secretaria de Estado da
Educação. Veredas. Mod.4, v. 1, Belo Horizonte: SEE-MG, 2003, p. 121 -152.
(Coleção Veredas).

ANDERY, Maria Amália Pie Abid; MICHELETTO, Nilza; e SÉRIO, Tereza Maria de
Azevedo Pires. O pensamento exige método, o conhecimento depende dele. Em:
ANDERY, Maria Amália Pie Abid et. al. Para compreender a ciência: uma perspectiva
histórica. 4º ed. Rio de Janeiro: Espaço e tempo, 1988.

ANDRADE, C. C. (2007). A vivência do cliente no processo psicoterapêutico: Um


estudo fenomenológico na Gestalt-terapia (Dissertação de Mestrado).
Universidade Católica de Goiás, Goiânia.

ARAUJO, F. I. C. (2010). “..., mas a gente não sabe que roupa deve usar” um
estudo sobre a prática do psicólogo no Centro de Referência de Assistência
Social (Dissertação de Mestrado). Pontifícia Universidade Católica, São Paulo.

A PSICOLOGIA DOS PSICÓLOGOS. 2. ed. Rio de Janeiro, Imago, 1983.


Comportamento. Trad. Lídia Aratangy. São Paulo, Polígono/USP, 1970.

ANDRADE, C. D. de. Sentimento do mundo. Rio de Janeiro: Record, 1991. p. 173

72
BERBER, P. e LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Trad. Floriano de
Souza Fernandes. 5. ed. Petrópolis, Vozes, 1983.

BRENNER, Charles. Noções básicas de Psicanálise: introdução à Psicologia


psicanalítica. 5. ed. Rio de Janeiro, Imago, 1987.

BASTOS, A. V. B., GONDIM, S. M. G., & Borges-Andrade, J. E. (2010). O psicólogo


brasileiro: Sua atuação e formação profissional. O que mudou nas últimas
décadas? In O. H. Yamamoto, & A. L. F. Costa (Eds.), escritos sobre a profissão de
psicólogo no Brasil (pp. 257-271). Porto Alegre, RS: Artmed.

BERNARDES, J. D. S. (2012). A formação em Psicologia após 50 anos do


Primeiro Currículo Nacional da Psicologia: Alguns desafios atuais. Psicologia
Ciência e Profissão, 32, 216-231.

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; e TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.
Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13º ed. São Paulo: Saraiva,
2005.

BOCK, Ana Mêrces Bahia; FURTADO, Odair; Teixeira, Maria de Lourdes.


Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Editora Saraiva,
1999.

BERGER, P. L. & LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 15 ed.


Petrópolis, RJ: Vozes, 1987.

BOCK, A. M. M. B.; FURTADO, O. e TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias – uma


introdução ao estudo da psicologia. 13 eds., São Paulo: Ed. Saraiva, 1999.

BOCK, A. M. B., et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São


Paulo Saraiva, 2002.

CASTAÑON, G. A. Construcionismo social: uma crítica epistemológica. Temas


em psicologia da SBP, vol. 12, no 1, p.67-81, 2004.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do


Psicólogo. Brasília, 2005.

73
CIRINO, S., MIRANDA, R., CRUZ, R. & Araújo, S. (2013). Disseminating
Behaviorism: The impact of J. B. Watson's ideas on Brazilian Educators. Revista
Mexicana de Análisis de la Conducta, 39(2), 119-134.

CASTELO-BRANCO, P., ROTA, C., Miranda, R., & Cirino, S. (2016). Recepção e
circulação de objetos psicológicos: implicações para pesquisas em História da
Psicologia. In R. Assis & Peres, S (Orgs.). História da Psicologia: tendências
contemporâneas (pp. 31-50). Belo Horizonte: Artesã.

FROTA-PESSOA, O. Genes e ambiente: o comportamento. In: CRP — 6ª região


e Sindicato dos Psicólogos no Estado de São Paulo. Psicologia no ensino de 2º
grau — uma proposta emancipadora. São Paulo, Edicon, 1986.

HERRNSTEIN, Richard J. e BORING, Edwing G. Textos básicos de história da


Psicologia. São Paulo, Herder/USP, 1971.

KELLER, Fred. Simmons. A definição da psicologia: uma introdução aos sistemas


psicológicos. Tradução brasileira de Rodolpho Azzi, São Paulo: EPU, 1974.

MUELLER, F. L. (1968). “História da psicologia” (L. L. de Oliveira, M. A. Blandy & J.


B Damasco Penna). São Paulo, Companhia Editora Nacional/Editora da USP.

PAVLOV; I. P. (1927). Conditioned reflexes (G. V. Anrep, Trad.). London, Oxford


University Press.

PENNA, A. G. (1985). História da psicologia: Apontamentos sobre as fontes e


sobre algumas das figuras mais expressivas da psicologia na cidade do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas.

PEREIRA, Maria Eliza Mazzilli e GIOIA, Silvia Catarina. Do feudalismo ao


capitalismo: uma longa transição. Em: ANDERY, Maria Amália Pie Abid et. al. Para
compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 4º ed. Rio de Janeiro: Espaço e
tempo, 1988.

PERESTRELLO, M. (1988). “Primeiros encontros com a psicanálise. Os


precursores no Brasil (1899-1937) ”. In: S. A. Figueira (Org.) Efeito Psi: A influência
da psicanálise. Rio de Janeiro, Editora Campus.

74
PESSOTTI, I. (1988). “Notas para uma história da psicologia brasileira”. In:
Conselho Federal de Psicologia (Org.) quem é o psicólogo brasileiro? São Paulo,
Edicon.

RUBANO, Denize Rosana e MOROZ, Melania. (A) O conhecimento como ato da


iluminação divina: Santo Agostinho. Em: ANDERY, Maria Amália Pie Abid et. al.
Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 4º ed. Rio de Janeiro: Espaço
e tempo, 1988. (B) Razão como apoio à verdade de fé: Santo Tomás de Aquino.
Em: ANDERY, Maria Amália Pie Abid et. al. Para compreender a ciência: uma
perspectiva histórica. 4º ed. Rio de Janeiro: Espaço e tempo, 1988.

SOARES, A. R. (2010). A psicologia no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão,


30(esp.), 8-41.

SEMINÉRIO, F. L. P. (1980). Formação de psicólogos no Brasil – V. Arquivos


Brasileiros de Psicologia, 32(1), 560-567.

TOURINHO, E. Z. (2002, MAIO). Dialogando com a sociologia de Norbert Elias.


Trabalho apresentado na V Semana Científica do Laboratório de Psicologia
Experimental, Universidade Federal do Pará, Belém, Pará.

TOURINHO, E. Z. & CARVALHO NETO, M. B. (1995). As fronteiras entre a


Psicologia e as práticas alternativas: algumas considerações. In R. F. Moretzsohn
(Org.), Psicologia no Brasil: direções epistemológicas (pp. 81-110). Brasília: Conselho
Federal de Psicologia.

TOURINHO, E. Z. (2001, abril). A produção de conhecimento em Psicologia: a


análise do comportamento. Trabalho apresentado no I Simpósio O Homem e o
Método e II Encontro das Escolas de Psicologia de Belo Horizonte, Belo Horizonte,
Minas Gerais.

TOURINHO, E. Z. (1993). Individualismo, behaviorismo e história. Temas em


Psicologia, 2, 1-9.

Tourinho, E. Z. (1999). Estudos conceituais na análise do comportamento. Temas


em Psicologia da SBP, 7(3), 213-222

75
THOMAE, H. (1998). Abordagem social: o surgimento da Psicologia científica
como disciplina independente. In J. Brozek & M. Massimi (Orgs.), Historiografia da
Psicologia moderna – versão brasileira (pp. 375-387) (J. A. Ceschin & P. J. Carvalho
da Silva, Trad.). São Paulo: Unimarco/Edições Loyola.

VASCONCELOS, R. (1980). Problemas gerais do exercício profissional – III.


Arquivos Brasileiros de Psicologia, 32(1), 577-579.

WHALEY, D. L. e MALOTT, R. W. Princípios elementares do comportamento. São


Paulo, EPU, 1980.

WHALEY, D. L. e MALOTT, R. W. Princípios elementares do comportamento. São


Paulo, EPU, 1980

WUNDT, W. (1973). An introduction to psychology. Nova York: Arno Press. (Texto


original publicado em 1911).

76
10 BIBLIOGRAFIA

DUARTE P. SCHULTZ & SYDNEY ELLEN SCHUTZ/ Livro: História da Psicologia


moderna/ Editora: CENGAGE DO BRASIL ed.1º/ Assunto: Psicologia/ Ano: 2014 –
Ano da edição: 2017/ Código de barras: 978852116331 – ISBN: 852216334/ Idioma:
Português.

LINDA L. DAVIDOFF/ Livro: Introdução à Psicologia/ISBN: 9788534611251/ Edição:


3º - Ano: 2000/ Encadernação: Brochura/ Editora: Makroon Books.

MARINA MASSIMI/ Livro: Saberes psicológicos no Brasil: História, Psicologia e


cultura/ ISBN v.: 978853625562-0 Impressa / ISBN v.: 978853625652-8/ Número de
páginas: 340/ Publicado em: 28/01/2016/ Área (s): Psicologia – Diversos.

77

Вам также может понравиться