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I. INTRODUÇÃO
Em suas reflexões filosóficas Gabriel Marcel dá um grande destaque para o sentido último da
existência, uma vez que o tema da vida é uma constante nas suas obras que já, por volta dos 25
anos, sente, na pele, os horrores da Guerra (Marcel participou da Cruz Vermelha na Primeira Guerra
Mundial).
Observação: os pensadores, os filósofos do séc. XX que tiveram algum tipo de contato com a 1ª
Guerra Mundial ou a 2ª Guerra Mundial receberam influência direta desses eventos históricos ao
elaborar, desenvolver os sues pensamentos filosóficos, como, por exemplo, Hannah Arendt ao
trabalhar a banalidade do mal no julgamento de Eichmann; Viktor Frankl ao desenvolver a Análise
Existencial e aprimorar a sua logoterapia; com Gabriel Marcel não é diferente.
Marcel, pensador da existência, que denomina sua filosofia de neo-socrática ou socrática cristã,
busca recuperar o ser do homem degradado pela abstração das essências do racionalismo, do
idealismo e das ciências empíricas.
APRESENTAÇÃO
Suas discussões a respeito da existência seguem de Kierkegaard, seu antecessor enquanto filósofo
da existência (Kierkegaard considerado como pai do existencialismo).
Francisco Lucas de Sousa
Sua filosofia leva-nos a descobrir que somos seres existentes, encarnados e participantes do ser. Daí
vem sua convicção religiosa: enquanto nos descobrimos a nós mesmos, descobrimos também a
nossa participação no ser divino.
A existência e a encarnação são dois termos fundamentais a partir dos quais Marcel traduz o seu
pensamento do homem real, presente no mundo.
O homem constitui-se como tal está no mundo, por existir. O existir dá-se na encarnação, na
presença de um corpo. A partir da existência encarnada, o homem vai constituindo o seu ser, como
projeto, indo em busca da conscientização do projetado.
A clareza na distinção entre ser e ter é fundamental, em Marcel, porém não absoluta, nos aspectos
de meio e fim da existência. Como meio, o ser e o ter são a forma de sentir, reconhecer e
compreender a realidade, o outro e o absoluto. Como fim, na constante busca de ser, o ter é
associado a um empecilho para a autêntica existência.
O ter se reconhece, com certo grau de clareza, na perspectiva do problema, no espaço temporal, na
distinção entre o dentro e fora do homem. É inteligível, com a possibilidade de ser descrito.
Desejar é de certo modo possuir sem possuir, assim se expressa esse modo de sofrimento, de
inquietude, que é próprio do desejo e no fundo uma espécie de contradição, no atrito interno,
de uma situação insustentável.
Francisco Lucas de Sousa
A preocupação pela posse, de ter mais, garantir o futuro, acumular, gastar... , absorvida no ter,
esvazia o eu. De maneira que o eu, sujeito existencial degrada-se no ter. A insatisfação no ter e o
sofrimento absorvem o eu, a ponto de degradá-lo.