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1. Introdução
Da parte dos agentes políticos, passamos por eleições marcadas por campanhas
demasiado belicosas, financiadas por fontes obscuras, repletas de promessas não
cumpridas e, até mesmo, de inverdades sobre a própria realidade fática do país e seu
povo, cujos objetivos restringem-se a alcançar vitórias a qualquer preço, sem qualquer
preocupação com a possibilidade de induzir os eleitores a erro.
Ocorre que o mesmo senso comum tem plena consciência de que a política,
enquanto ciência, colocada a serviço da organização, direção e administração do Estado,
é fundamental para a própria vida em sociedade. Afinal, sem uma organização
governamental, resta-nos a barbárie.
Público e Judiciário. Parece não ser mais possível exercer a política sem enfrentar
algum tipo de investigação.
2. A invenção da política
Para aquele autor, tal associação tem um significado religioso, que coloca os
dois deuses lado a lado, sem parentesco ou submissão. Héstia é a deusa do lar,
representada pela lareira, permanentemente acesa e que protegia a casa e a família que a
habitava. A proteção de Héstia trazia tranquilidade e estabilidade ao lar, tornando-o,
inclusive, um lugar apropriado para a realização de sacrifícios e culto a outros deuses. Já
Hermes é um deus mais complexo, que tem muitos atributos e funções (deus das
comunicações, mensageiro de outros deuses e patrono dos viajantes, dos comerciantes e
dos ladrões, por exemplo). Não tem morada fixa ou estável, representando o espaço e o
movimento no mundo humano. Na casa, protege a soleira da porta, para evitar que os
ladrões entrem. A Héstia pertence o interior do lar, atuando dentro da vida privada de
seus habitantes. Já Hermes habita no exterior, estando presente no contato com outras
pessoas, fora do lar.
Tratam-se de duas divindades que parecem antagônicas, mas, “se formam par,
na consciência religiosa dos gregos, é porque as duas divindades se situam em um
mesmo plano, porque sua ação se aplica ao mesmo domínio do real, porque assumem
funções conexas”2.
1
te·o·go·ni·a. sf. 1. Descrição do nascimento dos deuses, de sua genealogia e filiação, em religiões politeístas. 2. Conjunto das
divindades cujo culto dá o fundamento da organização religiosa de um povo politeísta. — MICHAELIS. Dicionário brasileiro da
língua portuguesa. Ed. Melhoramentos. 2015. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
brasileiro/teogonia/. Acesso em 06/02/2018.
2
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p. 193/194.
4
A vida pública, por sua vez, era exercitada na ágora, a praça principal de
Atenas, na qual os cidadãos se reuniam em assembleias para discutir e deliberar sobre
os problemas da cidade, buscando encontrar uma solução conjunta. A identificação da
participação na ágora com o nascimento da política na Grécia antiga está longe de ser
uma ideia infundada. Muito pelo contrário.
3
Ibidem, p. 212.
4
Ibidem, p. 252/253.
5
Uma vez que Hermes e Héstia assumiam funções distintas, mas eram
entendidos como divindades conexas e complementares, conclui-se que o povo helênico
enxergava as esferas pública e privada como complementares e, portanto, necessárias
para a plenitude da vida dos cidadãos. A política era a forma como a vida pública era
exercida.
A vida privada, embora possa trazer conforto e segurança, não era capaz de
tornar completa a existência de um cidadão grego. O exercício da política é que
colocava as suas virtudes a serviço da cidade a qual pertencia, valorizando-as perante a
comunidade.
3. A natureza política
6
As aldeias ou tribos são governadas por reis, que são escolhidos, em regra,
dentre os membros mais velhos, dos quais derivam os graus de parentesco entre os
membros da comunidade.
almejam uma vida boa, com liberdade para decidir sobre suas próprias vidas e da
comunidade a qual pertencem.
Conclusão: para Aristóteles, o homem é um “ser vivo político”, sendo que essa
condição decorre da Cidade, que é uma forma de organização comunitária exclusiva dos
seres humanos.
4. A importância da política
àqueles que tendem a dar menos valor a pensamentos abstratos do que a ideias mais
concretas.
Tal papel incumbe ao trabalho, que agrega identidade ao labor, que passa a
assumir maior durabilidade e permanência perante a sociedade. O trabalho soma
“artificialismo” ao labor natural, individualizando-o em relação aos demais indivíduos e
conferindo-lhe perenidade. O labor é efêmero, enquanto que o trabalho é perene.
11
ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p. 15/16.
9
Labor e trabalho, assim, são importantes e podem, até mesmo, trazer satisfação
pessoal momentânea. Produções e conquistas materiais, porém, não tornam ninguém
especial. Não distinguem os indivíduos e nem os destacam em relação a outras criaturas.
Apenas a ação, exercida na política, por meio da difusão do pensamento e do debate de
ideias é que tem esse condão.
A vita activa, desse modo, não pode ficar restrita a um simples “fazer” ou
“produzir”. Ela é um “agir político”, promovido por meio do debate de ideias,
fundamental para que as pessoas possam contribuir para a constante evolução da
sociedade em que vivem.
Esse “agir político”, por sua vez, não pode ser exercitado individualmente, ou
mesmo dentro do círculo familiar ou de amizades. Ele só pode existir junto à
comunidade, o que o caracteriza como coletivo. Essa natureza coletiva talvez seja o
principal traço distintivo entre o labor, o trabalho e a ação. Enquanto os dois primeiros
podem ficar restritos à vida privada e familiar, a última só pode existir na vida pública.
Essa a razão pela qual Hannah Arendt é categórica ao afirmar que “só a ação depende
inteiramente da constante presença de outros”14.
5. Conclusão
Embora essa análise não costume ser feita com frequência pela maioria das
pessoas, acreditamos que dificilmente seria contestada por aqueles a quem venha a ser
apresentada.
12
Ibidem, p. 16/17.
13
Ibidem, p. 31.
14
Ibidem, p. 31.
10
Não temos dúvidas de que, assim como pensavam os antigos gregos (segundo
Vernant), a vida pública é diferente da vida privada. É errado, porém, acreditar que elas
se opõem, visto que, na verdade, se complementam.
Essa escolha pela prioridade à vida privada, porém, é um equívoco. Quem faz
essa opção acredita que assim terá mais liberdade. Utilizando os termos de Hannah
Arendt, ao priorizar a vida privada, abre-se mão da ação, a fim de dedicar-se
exclusivamente ao labor e ao trabalho, com vista à satisfação exclusivamente pessoal e
familiar, com total liberdade.
Esse é precisamente o motivo pelo qual optamos, enquanto seres humanos, por
viver em sociedade. O exercício da política é intrínseco à condição humana.
As pessoas que optam por alijar-se da vida pública, portanto, embora possam
acreditar que o fazem para ampliar sua liberdade de ação, na verdade a estão
restringindo. A condição humana exige que se viva intensamente a vida privada (labor e
trabalho) e, também a vida pública (ação).
BIBLIOGRAFIA