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NOVOS CAMINHOS PARA A CIÊNCIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES:

A INICIAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA - PROJETO PÉS NA


ESTRADA DO CONHECIMENTO DO COLÉGIO DE APLICAÇÃO UFSC

Fernando Leocino da Silva1


Giselle de Souza Paula Pires2
José Carlos da Silveira3
Josiane Eugênio4
Lisiane Vandresen5
Marcia Maria Bernal6
Marcio Marchi7
Nara Caetano Rodrigues8
Thereza Cristina Bertazzo Silveira Viana9

Introdução

A construção da Ciência, ao longo de seu processo de consolidação histórica,


formou um arcabouço de paradigmas acerca dos métodos e dos caminhos corretos para
a produção do conhecimento. A modernidade trouxe um status de extrema
confiabilidade à Ciência, visão não apenas arraigada entre pesquisadores, mas
fortemente disseminada na sociedade como um todo, incluindo a prática educativa.

Com o desenvolvimento dos métodos analítico-experimentais, importância


enorme foi destinada aos dados quantificáveis, segundo o qual, sem eles, o
conhecimento seria escasso ou falseável. Progressivamente, o método científico foi
sendo aprisionado por uma lógica positivista, mesmo entre as áreas humanas e sociais,

1
Mestre em História. Professor de História do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa
Catarina.
2
Doutora em Biologia. Professor de Ciência do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa
Catarina.
3
Doutorando em Geografia. Professor de Geografia do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de
Santa Catarina.
4
Mestre em Educação Especial. Professora de Educação Especial do Colégio de Aplicação da
Universidade Federal de Santa Catarina.
5
Doutoranda em Educação. Professora de Língua Portuguesa do Colégio de Aplicação da Universidade
Federal de Santa Catarina.
6
Mestre em Matemática. Professora de Matemática do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de
Santa Catarina.
7
Mestre em Geografia. Professor de Geografia do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de
Santa Catarina.
8
Doutora em Linguística. Professora de Língua Portuguesa no Colégio de Aplicação da Universidade
Federal de Santa Catarina.
9
Doutora em Sociologia. Professora de Sociologia no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de
Santa Catarina.

1
que em determinado momento buscavam de sua afirmação como campos científicos. A
ciência positivista passou a servir ao mecanicismo que a produção dos tempos
modernos exigia.

Contudo, essa visão levada ao extremo promove uma enorme redução do


potencial que a pesquisa pode apresentar. Em contraponto à determinação puramente
objetiva, está a ideia de que um objeto de pesquisa não é simplesmente "achado" através
de métodos experimentais e analíticos, mas sim construído em um processo de
aproximação entre sujeito e objeto. Nesse aspecto, várias abordagens de caráter
qualitativo podem contribuir no processo de formação do conhecimento.

No que se refere, mais especificamente, às questões do ensino na escola básica,


que durante muito tempo sofreram interferência do paradigma positivista, as indicações
dos documentos oficiais na atualidade apontam para uma escola que proporcione a
formação de alunos capazes de lidar com diferentes linguagens e articular
conhecimentos de diversas disciplinas para atuar na sociedade como um cidadão crítico
e responsável. Uma das possibilidades para a implementação dessas propostas oficiais é
o desenvolvimento de atividades interdisciplinares dentro de uma organização curricular
que viabilize um aprendizado mais significativo com a utilização de recursos que
contemplem diferentes linguagens e habilidades.

Há, assim, uma demanda para que os profissionais que atuam na escola básica
repensem a organização curricular, possibilitando a abordagem de conteúdos de modo
interdisciplinar, bem como promovam uma aprendizagem mais significativa ao
potencializar o trabalho com eixos temáticos. O que se constata, no entanto, é que
poucas são as iniciativas pedagógicas que conseguem ter continuidade, dado que um
trabalho interdisciplinar exige formação adequada, horas para planejamento, revisão dos
conteúdos curriculares/disciplinares, mudança na concepção de avaliação e,
principalmente, mudança na concepção de produção de conhecimento na escola e na
relação professor-aluno.

A ideia de interdisciplinaridade na escola

Como são diversas as abordagens em torno do "conceito de


interdisciplinaridade", faz-se necessário explicitar, ainda que brevemente, qual é a

2
noção com que acreditamos trabalhar. Compartilhamos com Ivani Fazenda10, professora
brasileira integrante de um grupo internacional de pesquisadores, tais como Georges
Gusdorf, Hilton Japiassú e seu próprio grupo de pesquisa, GEPI-PUC/SP, os quais
procuram manter em permanente discussão e revisão o próprio conceito. Incluímos
também a autora Olga Pombo11, que define a palavra interdisciplinaridade como "gasta"
frente ao uso excessivo de conceito tão complexo. Para a autora em questão, a noção de
interdisciplinaridade se refere a um conjunto amplo de experiências, realidades,
hipóteses e projetos, como explica a seguir:

Na verdade, o problema que pela palavra interdisciplinaridade se dá a


pensar tem a ver com um fenómeno característico da nossa ciência
contemporânea. Uma clivagem, uma passagem, um deslocamento no
modelo analítico de uma ciência que se construiu desde os seus
começos como a procura de divisão de cada dificuldade no seu
conjunto de elementos ínfimos, isto é, que partiu do princípio de que
existe um conjunto finito de elementos constituintes e que só a análise
de cada um desses elementos permite depois reconstituir o todo. Ora,
é este modelo analítico, modelo que deu inegáveis frutos que não
podem deixar de ser reconhecidos, que se estaria a revelar hoje
insuficiente. E, se isto assim é, então, caber-nos-ia a nós, cidadãos do
final do século XX começo do século XXI, dar conta de uma mudança
muito profunda, de uma clivagem, de um deslocamento no modo de o
homem fazer ciência (POMBO, 2003, p. 4).

Ser interdisciplinar significa manter “uma relação de reciprocidade, de


mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema de
conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para unitária do
se humano” (FAZENDA, 2011, p. 11). Além disso, para atingir essa postura seria
necessário manter diálogo constante com todos os que estão envolvidos no processo. A

10
FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade / Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade (GEPI)
– Educação: Currículo – Linha de Pesquisa: Interdisciplinaridade – v. 1, n. 1 (out. 2011) – São Paulo:
PUC-SP, 2011.
11
POMBO, Olga. Epistemologia da Interdisciplinaridade. Seminário Internacional Interdisciplinaridade,
Humanismo, Universidade, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 12 a 14 de nov. 2003.

3
autora cita cinco princípios básicos que deveriam ser levados em conta na prática
docente interdisciplinar: humildade, coerência, espera, respeito e desapego.

No entendimento de nossa equipe, uma maneira possível de viabilizar o trabalho


numa perspectiva interdisciplinar, além da livre adesão de todos os envolvidos, é
imprescindível a superação da dicotomia entre ensino e aprendizagem e mudança nas
aulas tradicionais, trocando os espaços – físicos e simbólicos – por outros que promovam
as relações educativas não hierárquicas, considerando a pesquisa e o trabalho em parceria
entre os orientadores e os jovens pesquisadores.

Além dos espaços físicos e simbólicos, ponderamos que são elementos


constitutivos da prática didática o tempo de permanência dos alunos e professores, que
não deveria ser imposto, mas ainda não avançamos nesse sentido e seguimos presos, em
certa medida, aos horários impostos pela Unidade Escolar. O que conseguimos foi
significativo avanço quanto à direcionalidade ou coordenação das aulas, já que esta, de
fato, se dilui bastante na Iniciação Científica.

Outro elemento importante é o currículo oficial, que passa a ser questionado e


reconstruído no grupo, em função das necessidades de aprendizagem dos estudantes para
compreensão de conceitos em estudo. E, por último, a avaliação dos processos sofre
alteração, já que se discute e se reconstrói entre todos os professores participantes do
projeto, em uma experiência coletiva, a partir do diálogo (auto)crítico entre estudantes e
professores, avanços e necessidades a serem alcançadas a partir do vivido.

O Projeto de Iniciação Científica e o papel de formação inicial e continuada do


Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina

Consideramos relevante contextualizar brevemente essa atividade desenvolvida


no Colégio de Aplicação da UFSC. Entretanto, para atender à demanda da escola básica,
é necessário que os cursos de formação inicial e continuada preparem os professores
para uma atuação que rompa com o paradigma de produção de conhecimento
disciplinar.

Percebemos, assim, que a produção do conhecimento, tanto na esfera da escola


quanto da universidade, passa por diversos caminhos e, pensando sobre isso, o projeto

4
Pés na Estrada do Conhecimento, desenvolvido pelo Colégio de Aplicação da UFSC,
traz uma proposta de formação inicial e continuada de professores e de utilização da
pesquisa, da reflexão crítica como método pedagógico, incorporados ao processo de
ensino-aprendizagem.

Esse contexto supera a concepção hegemônica entre programas de formação de


professores fundamentadas na racionalidade técnica e possibilita o questionamento de
"crenças educacionais" (BEACH e PEARSON, 1998)12 construídas, pelos professores,
ao longo de toda sua relação com a educação, incluindo sua vivência no ensino básico,
acerca, por exemplo, da produção do conhecimento, do papel da escola, do modelo de
professor, dos processos de ensino/aprendizagem e espaços para desenvolvê-los.

Como resultado do planejamento e desenvolvimento da prática a partir de um


tema, com envolvimento das diferentes disciplinas da grade curricular e fundamentada
na pesquisa desenvolvida pelos alunos da educação básica, ressaltamos a possibilidade
do surgimento de conflitos e questionamentos frente às crenças educacionais, por parte
dos professores envolvidos e a possibilidade de construção de novos sentidos, pelos
docentes, que superam a transmissão/recepção do conhecimento, e consequentemente,
papéis do professor e do aluno nesse modelo.

O referido projeto, já com status de atividade permanente do CA-UFSC, foi


criado para promover novas oportunidades de aprendizagem, em contato direto com o
meio, desafiando tanto a estudantes como a professores dedicados à investigação,
desenvolver uma escrita autônoma e pensar de maneira reflexiva. Os participantes da
Iniciação Científica são todos os estudantes do nono ano do Ensino Fundamental
(aproximadamente 80 alunos/as), professores que atuam nessas turmas ou que, por opção
pessoal, desejam participar, mais os estagiários das diversas Licenciaturas que
manifestam interesse por outra abordagem do conhecimento na sua formação
(atualmente são 12). Temos encontros semanais para planejamento das atividades de
pesquisa (só entre professores e estagiários) e duas aulas semanais inseridas na grade
curricular (com os estudantes) para as atividades de orientação.

A atividade permanente denominada Pés na Estrada do Conhecimento e


Iniciação Científica na Escola é uma proposta interdisciplinar, desenvolvida no
CA/CED/UFSC, há 17 anos, nas três turmas de 9º Ano do Ensino Fundamental.

12
BEACH, R.; PEARSON, D. Changes in preservice teachers' perceptions of conflicts and tensions.
Teaching e Teacher Education, v. 14, n. 3, p. 337-351, 1998.

5
Entretanto, somente em 2010, conseguimos incluir 2h/aula semanais para iniciação
científica (IC) na grade curricular. Nessas aulas, os alunos são divididos em equipes sob
a orientação de um professor, que pode ser de História, Geografia, Matemática,
Sociologia, Ciências, Educação Especial ou Língua Portuguesa13. O trabalho nas aulas
de IC é constituído pela orientação para: pesquisa preliminar sobre os dois grandes
temas; elaboração de um projeto de pesquisa; saídas a campo, que configuram duas
etapas de pesquisa: 1ª etapa 14 – Itá/SC e Aratiba e Erechim/RS; 2ª etapa – cidades
históricas de MG: Mariana, Ouro Preto, Tiradentes e São João Del Rei; elaboração de
ensaio escolar ou reportagem, com apresentação, em forma de slides, no Seminário
Interno de IC e na SEPEX/UFSC; elaboração de audiovisual com apresentação na
SEPEX/UFSC e na Mostra de Audiovisuais do CA.

Os temas são eleitos anualmente e emergem de reflexão sobre a realidade social,


tanto local como nacional ou mundial. Selecionamos temas que sejam possíveis de serem
estudados fora da escola, mas em uma localidade que seja possível chegar de ônibus,
dada as nossas condições econômicas, físicas etc. Nos últimos tempos, como tema
inicial, temos nos preocupado com as questões relacionadas à ocupação de terras para
geração de energia elétrica, mais precisamente sobre a geração de energia pelo modelo
hidrelétrico. Como segunda etapa, pensamos sobre a extração do ouro (século XVIII) e
outros minerais (até os dias atuais) nas cidades históricas de Minas Gerais,
principalmente sobre as consequências dessa extração para os dias atuais.

Como o grande tema da 1ª Etapa (1º Semestre) é “A luta pela posse da terra: o
caso dos atingidos por barragens” e o da segunda etapa (2º Semestre) é “O Brasil
colonial no século XVIII: representações da construção da sociedade das Minas Gerais”,
as primeiras aulas de IC são destinadas à pesquisa preliminar. Essa pesquisa é realizada
em sites institucionais, em jornais, como Brasil de Fato e Le Monde Diplomatique, e em
revistas, como Carta Capital, Planeta, Caros Amigos e ISTOÉ. Os alunos também são
orientados a ler partes de dissertações de mestrado e artigos cujo tema está relacionado à
temática geral de cada etapa do projeto.

O objetivo dessa pesquisa preliminar é que os alunos se situem em relação ao


tema para que possam delimitar o seu foco de pesquisa, os objetivos da investigação a

13
Essas são as disciplinas que constituem o grupo de professores orientadores de IC, no ano de 2016.
14
Essas foram as cidades incluídas no roteiro no ano de 2016, tendo em vista a possibilidade do encontro
com sujeitos que se dispuseram a participar de conversas com os estudantes e a viabilidade de espaço para
receber mais de 80 pessoas; aspectos que precisam ser previamente planejados a cada ano.

6
ser feita em campo, as estratégias para a geração dos dados e a elaboração dos
instrumentos de pesquisa (geralmente entrevistas semiabertas). Esses elementos
constituem o projeto, que dá parâmetros para a pesquisa de campo, realizada durante as
saídas de estudos para as cidades do oeste catarinense e norte do RS, na 1ª etapa, e para
as cidades históricas de MG, na segunda etapa.

Nessas idas a campo, os alunos visitam, por exemplo: as instalações do CDA –


Centro de Divulgação Ambiental da Usina Hidrelétrica Itá, a sede da hidrelétrica, as
Casas de Memória (museus), as igrejas (museus), minas desativadas e, por fim,
conhecem o centro das cidades visitadas e conversam com moradores. Em todos os
espaços visitados, dependendo do enfoque da pesquisa, definido no projeto, os alunos
realizam entrevistas com pessoas da comunidade, guias dos museus, representante da
hidrelétrica e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), artistas, entre outros,
com o objetivo de ouvir diferentes pontos de vista sobre os temas pesquisados.

Após retornarem da saída de estudos, os alunos transcrevem as entrevistas,


fazem o cotejamento dos dados em relação ao que foi previsto no projeto, destacam os
dados mais relevantes e elaboram um ensaio escolar ou reportagem, no caso da segunda
etapa. Como esse é um gênero da esfera escolar, nas aulas de IC, os alunos leem e
analisam ensaios produzidos em anos anteriores para se familiarizarem com a estrutura
do texto e entenderem o seu funcionamento no contexto de sua formação como
pesquisadores-autores.

O ensaio escolar ou reportagem é socializado no Seminário de Iniciação


Científica, momento em que os estudantes têm a oportunidade de apresentar suas
pesquisas em Power Point ou Prezi para colegas, pais e outros convidados (ex-
professores, ex-alunos, autoridades da escola).

No caso da segunda etapa, a produção final é um audiovisual, assim, ao


retornar das saídas de estudos, os estudantes precisam retomar seus projetos, analisar o
material gerado em campo e traçar um roteiro para a produção do audiovisual, que é
apresentado na Mostra feita anualmente na escola e na SEPEX/UFSC.

A elaboração dos projetos de pesquisa se configura como uma das etapas mais
difíceis de todo o trabalho com IC na escola, tendo em vista a pouca familiaridade dos
alunos com a leitura e a escrita acadêmicas. O agenciamento das várias vozes presentes
nos textos lidos, garantindo a autoria, é o principal desafio. A citação da voz do outro

7
em um texto que se pretende que seja próprio de quem está escrevendo apresenta um
grau de complexidade que só vai se dirimindo ao longo do ano, quando os alunos vão se
apropriando do conhecimento específico sobre o tema e dos gêneros da esfera
escolar/científica. Além disso, os jovens pesquisadores precisam delimitar um foco de
pesquisa dentro de um tema maior, definir objetivos, sujeitos de pesquisa, elaborar
questões para as entrevistas, sem conhecer o campo no qual vão se inserir.

As saídas de estudos possibilitam uma vivência singular pela possibilidade do


deslocamento do lócus da aprendizagem, os muros da escola são derrubados e as
cidades/locais visitados se transformam em uma grande escola, na qual os alunos
aprendem vivenciando as situações, não mais simulando. A possibilidade de se colocar
como pesquisadores que vão a campo em busca de informações sobre um determinado
tema possibilita a emergência de uma postura ética, de sujeito responsável. Eles não
estão a passeio nas cidades visitadas, tendo o projeto de pesquisa como norte da
investigação, saem a campo em busca de resposta para suas perguntas.

E aqui, surge outro aspecto muito interessante que é a legitimação dos saberes
plurais, vindos de conhecimentos das experiências de vida, pois os entrevistados são
pessoas da comunidade que viveram na antiga cidade ou vieram após o realocamento
para a nova cidade de Itá. Assim, o representante da hidrelétrica ou do MAB, a
vendedora da loja, a contadora de histórias, o agricultor que perdeu suas terras, o gari
que está trabalhando na rua, o aposentado que está sentado na praça, a presidente da
cooperativa de artesãos da cidade, a guia das casas de memória, o dono da lanchonete,
todos são sujeitos possuidores de saberes que interessam aos alunos para produzirem
conhecimento sobre seus objetos de estudo.

Nos ensaios e reportagens, é possível perceber uma autoria partilhada na medida


em que os alunos apresentam um posicionamento a partir das vozes dos entrevistados.
Mais uma vez, vem o desafio do agenciamento das vozes, agora dos entrevistados, em
um texto no qual os pesquisadores precisam se posicionar, considerando todo o
processo de pesquisa: desde a pesquisa preliminar, passando pela elaboração do projeto,
pela saída a campo, as entrevistas realizadas, chegando à sistematização na forma do
ensaio escolar. Tal gênero apresenta um grau de complexidade agravado pelo fato de
que os alunos leem poucos ensaios escolares e reportagens ao longo de sua trajetória de
estudantes, ou seja, estão tendo contato pela primeira vez com um gênero que exige um

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movimento no sentido de trazer a voz do outro seja para alinhar-se a ela ou para
distanciar-se dela.

Considerações finais

Por fim, vale destacar que a socialização das pesquisas em um evento específico
para tal fim, utilizando um recurso também próprio da esfera acadêmica – comunicação
em evento científico – para um público que extrapola o interlocutor único da maioria
dos trabalhos escolares, que é o professor, configura uma situação real de interação.
Nessa situação, os alunos têm a possibilidade de assumir a autoria de suas pesquisas
para um público que não conhece os trabalhos e ao lado de pesquisadores da graduação
e da pós-graduação, no caso da SEPEX/UFSC. Esse, pode-se dizer, é o momento no
qual os jovens pesquisadores assumem a posição autor diante desse outro que o
interroga e quer saber sobre as pesquisas sobre as quais eles – os pesquisadores – têm
autoridade para falar.

Não sabemos o quanto avançamos em relação à construção de uma visão de


ciência mais conectada com a história, mais contextualizada, humanizada talvez. Temos
nos esforçado, para que os estudantes possam identificar-se com o trabalho científico,
que nem sempre encontra respostas corretas como as comumente oferecidas pelos livros
didáticos, porém que saibam que há estreitas relações entre as ciências e a cultura
humana. Que possamos aprender que os conhecimentos ditos científicos podem e
devem ser questionados.

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