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COPPE / UFRJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Hidrodinâmica
SH Sphaier
Março de 2009
Sumário
1 Introdução 1
2 Conceitos Fundamentais 3
2.1 Sólido, Lı́quido e Gás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Sistema, Propriedade e Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.3 Hipótese de Meio Contı́nuo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.4 Massa e Força . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.5 Massa Especı́fica, Peso Especı́fico, Volume Especı́fico e Densidade . . . . . . . 6
2.6 Fluidos Compressı́veis e Incompressı́veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.7 Viscosidade e Tensão de Cisalhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.8 Movimento sem Fricção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.9 Fluido Ideal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.10 Fluido Real . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3 Cinemática 13
3.1 Descrições do Escoamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.1 Descrição Lagrangeana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.1.2 Descrição Euleriana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.2 Linhas de Corrente, Linhas de Emissão e Trajetórias . . . . . . . . . . . . . . 15
3.3 O operador ∇ e o Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.4 O operador ∇ e o Divergente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.5 Escoamento Rotacional e Irrotacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.6 O operador ∇ e o Rotacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.7 Movimento de um Cubo Infinitesimal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.8 Aceleração de uma Partı́cula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.8.1 Considerações Adicionais sobre Aceleração . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.9 Teorema de Transporte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.10 Circulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.11 Potencial de Velocidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.12 A equação de Laplace para Fluidos Incompressı́veis e Escoamento Irrotacional 41
3.13 Função de Corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
i
ii Texto Preliminar, SH Sphaier
vii
viii Texto Preliminar, SH Sphaier
Introdução
O objetivo principal dessas notas de aula é introduzir os conceitos básicos necessários para
o entendimento dos problemas relacionados com a Hidrodinâmica de Estruturas Flutuantes.
Estes envolvem um estudo dos aspectos fı́sico-matemáticos relacionados com a interação entre
o casco da estrutura e o meio fluido. A presença da superfı́cie livre introduz uma especial
particularidade aos temas em estudo. Outro aspecto mais particular ainda é o estudo de
problemas hidrodinâmicos para estruturas com velocidade de avanço. De certa maneira será
então natural uma maior ênfase a problemas de escoamentos com superfı́cie livre e relaciona-
dos com navios. Outros problemas envolvendo escoamento de fluido em geral, também serão
abordados nesse texto. Os princı́pios discutidos nesse curso formarão a base teórica de fu-
turas disciplinas que focalizarão tópicos de grande importância prática na vida profissional
do engenheiro naval, como por exemplo:
Resistência ao Avanço do Navio
Propulsores
Comportamento Dinâmico do Navio excitado por Ondas
Comportamento Dinâmico de Estruturas Estacionárias excitado por Ondas
Obtenção das Cargas Hidrodinâmicas necessárias ao Dimensionamento Estrutural das Em-
barcações
Culapagem (Slamming)
Hidroelasticidade do Navio
Manobrabilidade
Os temas apresentados nessas notas de aula utilizam conceitos matemáticos relacionados com
1
2 Texto Preliminar, SH Sphaier
cálculo vetorial, equações diferenciais ordinárias e parciais, e cálculo com variáveis complexas.
Conceitos básicos referentes a esses assuntos serão assumidos como conhecidos pelos alunos.
Capı́tulo 2
Conceitos Fundamentais
Na natureza toda matéria é encontrada em uma das seguintes formas: sólido, lı́quido e gás,
ou mistura destas formas. Estas formas são identificadas termodinamicamente como fases, e
representam uma forma fı́sica e quimicamente estável. Como as fases lı́quido e gás apresentam
semelhança no comportamento dinâmico, ambas são designadas fluidos.
Sólido é geralmente chamada uma substância que oferece uma resistência à mudança de forma.
Contrastando com isto, os fluidos não oferecem resistência para variar sua forma. Um fluido
não pode sustentar uma deformação finita sob a ação de forças cisalhantes. Ele não pode
resistir a uma mudança de forma como o sólido.
Sistema é um volume arbitrário, com a substância a ser analisada, tal que através de seus
limites não haja troca de massa. Pode experimentar variações em sua quantidade de movi-
mento e energia, porém não pode sofrer variação de massa. Um sistema pode ser estacionário
ou em movimento. Num sistema em movimento, seus limites se moverão com o sistema, e a
massa dentro dela será a mesma.
Volume de controle é um volume arbitrário, tal que através de suas fronteiras haja trans-
3
4 Texto Preliminar, SH Sphaier
As moléculas de um gás são separadas por regiões vazias (vácuo) com dimensões lineares
muito maiores que aquelas das próprias moléculas. No caso de um lı́quido as moléculas estão
muito mais próximas, a massa do material está concentrada no núcleo dos átomos compondo
uma molécula e é bem diferente que a consideração que seja uniformemente distribuı́da so-
bre o volume ocupado pelo lı́quido. Outras grandezas, como velocidade e aceleração, tem
uma violenta não uniformidade em sua distribuição, quando o fluido é visto em uma escala
tão pequena, que revela a individualidade das moléculas. Entretanto, à mecânica dos fluidos
concerne normalmente o estudo do comportamento da matéria em uma escala macroscópica
comparada com a distância entre as moléculas. Em nossos estudos vamos supor que o com-
portamento macroscópico do fluido é tal que ele possa ser considerado perfeitamente contı́nuo.
Qualidades fı́sicas, como massa e quantidade de movimento, associadas com a matéria contida
em um pequeno volume serão consideradas como sendo distribuı́das uniformemente sobre o
volume. A figura 2.1 mostra a função
M
= f (Vh ) = g(h) (2.1)
V
onde M é a massa de um gás em repouso em um recipiente com volume V0 . Considerando-
se volumes parciais tomados de cima para baixo Vh = Ah onde A é a área da tampa do
Texto Preliminar, SH Sphaier 5
Essa influência externa que faz com que um corpo entre em movimento é uma ação chamada
força:
Massa especı́fica é a propriedade de uma substância que denota uma massa por unidade de
volume.
Texto Preliminar, SH Sphaier 7
Peso especı́fico é a propriedade de uma substância que denota um peso por unidade de volume.
Volume especı́fico é o inverso da massa especı́fica e a densidade é a relação da massa especı́fica
da substância e a massa especı́fica da água pura a 4o C e 760 mm Hg.
Compressibilidade implica em que o volume de uma substância seja uma funcão do nı́vel de
pressão. Inversamente, diz-se que incompressibilidade é a inabilidade que uma certa quanti-
dade de massa tem para variar seu volume pela ação de pressões externas. Assim a massa
especı́fica de uma substância não é função de pressões, se a substância é incompressı́vel.
Lı́quidos são geralmente considerados como substâncias incompressı́veis, uma vez que a sua
massa especı́fica varia levemente com grandes variações de pressão.
A Hidrodinâmica é o estudo geral da dinâmica dos lı́quidos, bem como dos gases incom-
pressı́veis sob a influência de pequenas variações de pressão. Dinâmica dos gases é o es-
tudo geral dos gases compressı́veis sob a influência de pressões, causando, comparativamente,
grandes variacões de massa especı́fica.
Viscosidade é definida como a propriedade que um fluido tem para resistir a razão de de-
formação quando o fluido é submetido a forças tangenciais. De acordo com a lei de Newton
da viscosidade (definindo os fluidos newtonianos), para uma dada tensão cisalhante agindo
num elemento fluido, a razão com a qual o fluido se deforma é inversamente proporcional ao
valor da viscosidade. Isto implica que quando submetido a uma tensão cisalhante constante, a
razão com que a deformação se dá é maior para fluidos com menores valores de viscosidade. A
fim de ajudar a visualizar a natureza da viscosidade e das tensões de cisalhamento, o seguinte
exemplo será considerado. A figura 2.2 representa um sistema de coordenadas cartesianas com
centro no ponto O, através do qual um fluido é considerado em movimento. Para simplificar,
assumimos que a velocidade resultante do fluido está na direção Ox e sua magnitude varia
linearmente somente com y. Consideremos duas camadas L1 e L2 do fluido. Como o fluido
é viscoso, uma tensão de fricção ou cisalhamento atuará entre as camadas fluidas, devida à
velocidade relativa V1 − V2 de uma em relacão à outra. A tensão friccional τyx fará com que a
camada 2, de mais alta velocidade, tente acelerar a camada 1, de mais baixa velocidade. Por
outro lado a camada 1 exercerá uma ação de retardamento sobre a camada 2. Cada camada
atuará sobre as outras através de tensões cisalhantes. O primeiro ı́ndice y em τyx indica que
a tensão se dá sobre um plano perpendicular a Oy. O segundo ı́ndice x indica que a tensão
8 Texto Preliminar, SH Sphaier
dx
θ ≈ tan θ = (2.2)
dy
Esta relação será verdadeira, desde que sejam consideradas pequenas deformações na unidade
de tempo.
De acordo com a lei de Newton da viscosidade a tensão cisalhante tem que ser proporcional
à razão de variação no tempo da deformação angular e a constante de proporcionalidade é a
viscosidade dinâmica µf
d dx
τyx = µf ( ) (2.3)
dt dy
Invertendo a ordem da diferenciação temos
d dx
τyx = µf ( ) (2.4)
dy dt
dθ
τyx = µf (2.6)
dt
O elemento mostrado deforma-se continuamente, mas num tempo de deformação pequeno
vale
dvx
dθ = dt (2.7)
dy
Foi enfatizado que a relação entre tensões cisalhantes e taxa de deformação de um sistema
fluido é linear. Esta relação linear proposta por Newton, é válida para vários fluidos usados em
aplicações no campo da Engenharia. Fluidos que apresentam esta relação são chamados fluidos
newtonianos. Há outros fluidos como sangue, tintas de pintar, melado, que não obedecem
esta lei. Tais fluidos tem uma aplicação relativamente pequena na mecânica dos fluidos e
consequentemente, são parte de um campo de estudo especial.
Acima apresentamos a relação entre a tensão atuando entre duas camadas de fluido e a taxa
de deformação por unidade de tempo introduzindo o conceito de viscosidade. Para o caso mais
geral de uma partı́cula fluida, a deformação dá-se em duas direções. Consideremos então o
10 Texto Preliminar, SH Sphaier
caso de um quadrado infinitesimal com lados dx e dy. A taxa de deformação total por unidade
de tempo é dada pela soma das deformações em x e em y:
dθ ∂vy ∂vx
= + , (2.8)
dt ∂x ∂y
e a tensão cisalhante resultante:
µ ¶
dθ ∂vy ∂vx
τyx = µf = µf + , (2.9)
dt ∂x ∂y
Por definição, movimento sem fricção implica que tensões cisalhantes (ou de atrito) não estão
presentes no movimento da substância, de acordo com a equação:
dθ
τxy = µf =0 (2.10)
dt
Por definição, um fluido ideal é aquele que é invı́scito. Indica a inexistência de tensões
cisalhantes entre camadas fluidas.
Segue que duas camadas adjacentes de um fluido ideal podem mover-se com velocidades
distintas, sem que uma afete a outra por fricção interna. A única influência que uma exerce
Texto Preliminar, SH Sphaier 11
sobre a outra é a de sua geometria, que tem que se amoldar com a outra. Consequentemente,
qualquer camada de um fluido ideal pode ser removida do escoamento e substituı́da por um
contorno sólido da mesma forma geométrica que a camada removida. O que não alterará o
escoamento restante.
Estudo dos fluidos ideais serão importantes para aplicação a regiões onde as forças de origem
viscosas são desprezı́veis em comparação às forças inerciais.
A presença da viscosidade é inevitável quando estamos lidando com fluidos reais. Fluidos
reais não podem deslizar com diferença de velocidades finitas sobre camadas adjacentes ou
sobre contornos sólidos. A viscosidade se fará responsável por impor uma variacão gradual
de velocidade através de camadas fluidas. Próximos a um contorno estacionário a velocidade
de um fluido real tem que aumentar gradativamente de zero junto a fronteira até um valor
finito da velocidade do escoamento, através de uma fina camada do fluido chamada camada
limite de Prandtl.
O tratamento da camada limite como um escoamento de um fluido viscoso e o escoamento fora
da camada limite como de um fluido não viscoso é uma das muitas contribuições propostas
por Prandtl.
12 Texto Preliminar, SH Sphaier
Capı́tulo 3
Cinemática
A cinemática dos fluidos, como no caso da cinemática de corpos rı́gidos lida com a descrição
dos movimentos. Porém, diferentemente da cinemática de corpos rı́gidos, em que se tem um
corpo, ou um número finito de corpos para serem observados, a cinemática dos fluidos tem
que expressar o que ocorre com todo o domı́nio fluido, observando todas as posições do espaço,
uma vez que, segundo a hipótese de contı́nuo, o fluido preenche todo o espaço continuamente.
Assim, inicialmente vamos apresentar as possı́veis formas de descrição de escoamentos. Va-
mos optar pelo uso da descrição euleriana que descreve o campo de velocidades em todo o
domı́nio sem que acompanhemos especificamente uma ou algumas partı́culas. Descreveremos
o que ocorre em qualquer posição do domı́nio em qualquer instante de tempo em termos
do comportamento local do escoamento através de medidas de expansão, de rotação e de
deformação. Entre outras observações vamos desenvolver uma expressão para determinar a
aceleração. Não podemos pensar em uma simples derivada em relação ao tempo do campo de
velocidades, pois não acompanhamos partı́culas fluidas, e para determinar-se a aceleração é
necessário fazer o limite da diferença de velocidades de uma mesma partı́cula fluida dividida
pelo intervalo de tempo.
Esta descrição tem como objetivo observar o que acontece com uma partı́cula, ou mesmo com
cada uma das partı́culas fluidas, no decorrer do tempo.
Este método de descrição tem a finalidade de estudar o comportamento de cada partı́cula
13
14 Texto Preliminar, SH Sphaier
ao longo do tempo. Consideremos que o vetor S = (a, b, c) distingue cada partı́cula, isto é,
o conjunto (a, b, c) da nome às partı́culas. Tomemos a posição inicial de cada partı́cula do
seguinte modo:
Assumimos que a posição de cada partı́cula é dada pelo vetor r = (x, y, z), onde: x =
h1 (a, b, c, t), y = h2 (a, b, c, t) e z = h3 (a, b, c, t) ou
x = g1 (x0 , y0 , z0 , t) (3.4)
y = g2 (x0 , y0 , z0 , t) (3.5)
z = g3 (x0 , y0 , z0 , t) (3.6)
Assim podemos descrever as posições assumidas ao longo do tempo por cada partı́cula em
função de sua posição inicial e do tempo. As componentes das velocidades e acelerações são
dadas por:
∂x ∂y ∂z
vx = vy = vz = (3.7)
∂t ∂t ∂t
∂vx ∂vy ∂vz
ax = ay = az = (3.8)
∂t ∂t ∂t
ou em forma compacta
∂r ∂v
v= a= (3.9)
∂t ∂t
Observamos aqui que a velocidade e a aceleração são dadas pela derivada parcial em relação
ao tempo. Se considerarmos que nos fixamos a uma única partı́cula as derivadas parciais
fornecem as variações totais de deslocamento no tempo, isto é velocidades das partı́culas
∂x dx ∂y dy ∂z dz
vx = = vy = = vz = = (3.10)
∂t dt ∂t dt ∂t dt
e as variações totais de velocidade no tempo, isto é acelerações
∂vx dvx ∂vy dvy ∂vz dvz
ax = = ay = = az = = (3.11)
∂t dt ∂t dt ∂t dt
Texto Preliminar, SH Sphaier 15
Este tipo de descrição é bastante adequada para a descrição de movimentos de corpos rı́gidos.
Embora possa vir a ser adaptada à descrição de escoamentos não é a forma mais utilizada.
Esta descrição tem como objetivo observar o que acontece em um instante de tempo t nas
várias posições do domı́nio fluido, sem se importar com as posições ocupadas por cada uma
das partı́culas fluidas.
Este método de descrição tem a finalidade de descrever o que ocorre às funções escalares ou
vetoriais para as várias posições do espaço no decorrer do tempo. O objetivo do estudo são os
vários campos escalares e vetoriais que caracterizam o movimento do fluido, como velocidades,
acelerações, densidades, etc...
vx = g1 (x, y, z, t) (3.12)
vy = g2 (x, y, z, t) (3.13)
vz = g3 (x, y, z, t) (3.14)
Chamamos de trajetória de uma partı́cula a linha descrita pelas várias posições que uma
partı́cula ocupa ao longo do tempo.
Usando a descrição Euleriana consideremos um campo de velocidades descrito pela equação
v = f (r, t), isto é a velocidade é dada em direção e magnitude em cada ponto do espaço
considerado, podendo se alterar com o tempo. Se observarmos o escoamento em um instante
t fixo e traçarmos curvas tangentes às velocidades em cada ponto estaremos construindo o
que chamamos de linhas de corrente.
A equação das linhas de corrente em um certo instante é dada por
ds × v = 0 (3.15)
dx dy dz
= = (3.16)
vx vy vz
Deve-se observar que não existe uma relação entre linhas de corrente e trajetórias, já que em
geral as linhas de corrente são formadas por diferentes partı́culas, para instantes distintos.
Para um escoamento permanente, as linhas de correntes e as trajetórias são idênticas.
Em adição a estas linhas temos as linhas de emissão. Supondo que queremos saber quais
partı́culas fluidas passam por um certo ponto A, do espaço ao longo do tempo, as partı́culas
fluidas que satisfazem esta condição, segundo a descrição Lagrangeana, terão que obedecer à
equação
F (s, t) = A (3.17)
F (x, y, z, t) = C (3.18)
∂F ∂F ∂F
dF (x, y, z, t) = dx + dy + dz = 0 (3.19)
∂x ∂y ∂z
onde as diferenciais dx, dy e dz são avaliadas ao longo de uma superfı́cie F constante. Esta
expressão pode ser escrita como o produto escalar de dois vetores, o vetor elemento de linha
Texto Preliminar, SH Sphaier 17
∂F ∂F ∂F
i+ j+ k (3.21)
∂x ∂y ∂z
∂ ∂ ∂
∇= i+ j+ k (3.22)
∂x ∂y ∂z
grad F = ∇F (3.23)
Com este vetor pode-se determinar o vetor n normal à superfı́cie F , simplesmente normal-
izando o vetor ∇F :
∇F
n= (3.24)
|∇F |
Tomemos um cubo com lados ∆x, ∆y e ∆z, como mostrado na figura 3.2. Enumeremos suas
faces de tal forma que as faces I e II sejam perpendicutares ao eixo Ox, as faces III e IV sejam
perpendiculares ao eixo Oy e as faces V e VI sejam perpendiculares ao eixo Oz.
Na face I a velocidade na direção Ox é dada por
v x |I (3.25)
∂vx
v x |I + |I ∆x (3.26)
∂x
Texto Preliminar, SH Sphaier 19
vy |III (3.27)
∂vy
vy |III + |III ∆y (3.28)
∂y
v z |V (3.29)
∂vz
vz |V + |V ∆z (3.30)
∂z
Com isto podemos dizer que após um certo tempo ∆t as faces I e II avançarão respectivamente
vx |I ∆t (3.31)
∂vx
(vx |I + |I ∆x)∆t (3.32)
∂x
A diferença desses avanços nos diz que o volume terá uma variação igual a
∂vx
|I ∆x∆t∆y∆z (3.33)
∂x
vy |III ∆t (3.34)
∂vy
(vy |III + |III ∆y)∆t (3.35)
∂y
O volume terá uma variação igual a
∂vy
|III ∆y∆t∆x∆z (3.36)
∂y
vz |V ∆t (3.37)
Texto Preliminar, SH Sphaier 21
∂vz
(vz |V + |V ∆z)∆t (3.38)
∂z
O volume terá uma variação igual a
∂vz
|V ∆z∆t∆x∆y (3.39)
∂z
Somando essas contribuições o volume do cubo sofrerá uma variação de volume igual a:
∂vx ∂vy ∂vz
∆x∆t∆y∆z + ∆y∆t∆x∆z + ∆z∆t∆x∆y (3.40)
∂x ∂y ∂z
A variação por unidade de tempo e de volume é igual a
∂vx ∂vy ∂vz
+ + (3.41)
∂x ∂y ∂z
No limite quando ∆t, ∆x, ∆y e ∆z forem infinitesimais esta expressão medirá a taxa de
expansão ou contração do fluido em torno de um ponto. Chamamos a esta medida de di-
vergência do campo no ponto. Pode-se observar que esta expressão pode ser expressa em
termos do operador ∇:
div v = ∇ · v (3.42)
isto é, a divergência do campo é obtida pelo produto escalar do operador ∇ e o campo de
velocidades v.
Na realidade, dada à superposição das expansões devemos observar que termos de mais alta
ordem aparecem e foram desprezados:
∂vx ∂vy ∂vx ∂vz ∂vy ∂vz
∆x∆t ∆y∆t∆z + ∆x∆t ∆z∆t∆y + ∆y∆t ∆z∆t∆x (3.43)
∂x ∂y ∂x ∂z ∂y ∂z
Para um fluido incompressı́vel não é possı́vel haver variação de volume de uma mesma quan-
tidade de matéria ao longo do tempo. Neste caso as três variações lineares têm que se com-
pensarem de tal forma que:
div v = ∇ · v = 0 (3.44)
Esta equação é chamada de equação da continuidade e expressa como deve escoar um fluido in-
compressı́vel satisfazendo a lei de conservação da massa, istó é, sem ter expansão volumétrica.
No próximo capı́tulo apresentaremos a lei de conservação da massa para um fluido qualquer
e obteremos a mesma equação da continuidade acima, quando tratar-se de fluidos incom-
pressı́veis.
22 Texto Preliminar, SH Sphaier
Utilizando um sistema cartesiano consideremos um cubo infinitesimal com lados dados por
dx, dy e dz, de acordo com a figura 3.4, e estudemos a velocidade angular para este ele-
mento. Inicialmente observemos o que ocorre no plano y = constante. No ponto A temos as
velocidades
Texto Preliminar, SH Sphaier 23
vx e vz (3.46)
No ponto B as velocidades são dadas por
vx + (∂vx /∂x)dx e vz + (∂vz /∂x)dx. (3.47)
No ponto C as velocidades são dadas por
vx + (∂vx /∂z)dz e vz + (∂vz /∂z)dz. (3.48)
Assim as velocidades angulares dos lados AB e AC em torno de A são dadas por:
vz + (∂vz /∂x)dx − vz ∂vz
θ˙1 = − =− (3.49)
dx ∂x
e
vx + (∂vx /∂z)dz − vx ∂vx
θ˙2 = = (3.50)
dz ∂z
logo:
1 ∂vx ∂vz
ωy = ( − ) (3.51)
2 ∂z ∂x
Agindo de forma semelhante podemos determinar as velocidades angulares para o ponto A
em torno dos eixos Ox e Oz.
1 ∂vz ∂vy
ωx = ( − ) (3.52)
2 ∂y ∂z
e
1 ∂vy ∂vx
ωz = ( − ) (3.53)
2 ∂x ∂y
O vetor velocidade angular é dado então por
1 ∂vz ∂vy ∂vx ∂vz ∂vy ∂vx
ω = iωx + jωy + kωz = [( − )i + ( − )j + ( − )k] (3.54)
2 ∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
Ao dobro da velocidade angular chamamos vetor vorticidade:
ξ = 2ω (3.55)
e dizemos que um escoamento é irrotacional quando
ξ = ω = 0. (3.56)
Observando a expressão do vetor vorticidade podemos ver que é dado pelo operador ∇ aplicado
como produto vetorial ao campo de velocidades. A esta expressão chamamos de rotacional
do vetor velocidade:
ξ = rot v = ∇ × v (3.57)
∂vz ∂vy ∂vx ∂vz ∂vy ∂vx
=( − )i + ( − )j + ( − )k (3.58)
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
26 Texto Preliminar, SH Sphaier
- no ponto B
vx + (∂vx /∂x)dx e vy + (∂vy /∂x)dx; (3.60)
- no ponto C
vx + (∂vx /∂y)dy e vy + (∂vy /∂y)dy; (3.61)
Texto Preliminar, SH Sphaier 27
- no ponto D
Com o passar do tempo o quadrado infinitesimal move-se e seus vértices vão ocupar as posições
0 0 0 0 0
A , B , C e D . As coordenadas do ponto D são:
0
A posição final do vértice D, assinalada por D é composta das seguintes contribuições:
posição inicial
x0 + dx e y0 + dy (3.67)
translação
vx dt e vy dt (3.68)
deformação linear
(∂vx /∂x)dxdt e (∂vy /∂y)dydt (3.69)
deformação angular
1 1
(∂vx /∂y + ∂vy /∂x)dydt e (∂vx /∂y + ∂vy /∂x)dxdt (3.70)
2 2
rotação
1 1
− (∂vy /∂x − ∂vx /∂y)dydt e (∂vy /∂x − ∂vx /∂y)dxdt (3.71)
2 2
Ao longo do primeiro e deste capı́tulos estudamos conceitos ligados ao divergente do campo
de velocidade, ao vetor vorticidade e tensões de cisalhamento. Chamamos a atenção para que
se observe as relações existentes entre:
28 Texto Preliminar, SH Sphaier
Para o caso tridimensional, considerando-se um cubo elementar de lados dx, dy e dz, ver
figura 3.6 a posição final do vértice D, oposto ao vértice A, que inicialmente encontra-se na
posição (x0 , y0 , z0 ) será dada por:
- em x:
x0 + dx + vx dt + (∂vx /∂x)dxdt (3.72)
1 1
+[ (∂vy /∂x + ∂vx /∂y)dy + (∂vx /∂z + ∂vz /∂x)dz]dt (3.73)
2 2
1 1
+[ (∂vx /∂z − ∂vz /∂x)dz − (∂vy /∂x − ∂vx /∂y)dy]dt (3.74)
2 2
- em y:
y0 + dy + vy dt + (∂vy /∂y)dydt (3.75)
Texto Preliminar, SH Sphaier 29
1 1
+[ (∂vz /∂y + ∂vy /∂z)dz + (∂vy /∂x + ∂vx /∂y)dx]dt (3.76)
2 2
1 1
+[ (∂vy /∂x − ∂vx /∂y)dx − (∂vz /∂y − ∂vy /∂z)dz]dt (3.77)
2 2
- em z:
z0 + dz + vz dt + (∂vz /∂z)dzdt (3.78)
1 1
+[ (∂vx /∂z + ∂vz /∂x)dx + (∂vz /∂y + ∂vy /∂z)dy]dt (3.79)
2 2
1 1
+[ (∂vz /∂y − ∂vy /∂z)dy − (∂vx /∂z − ∂vz /∂x)dx]dt (3.80)
2 2
Vimos acima que a descrição Euleriana não acompanha partı́culas no espaço ao longo do
tempo. Podemos dizer o que ocorre em cada posição do espaço ao longo do tempo, sem en-
tretanto identificarmos as partı́culas fluidas ao longo do tempo, sem que possamos identificar
duas posições consecutivas de uma partı́cula. Em princı́pio isso cria uma dificuldade para de-
terminarmos a aceleração das partı́culas fluidas, ou mais exatamente o campo de acelerações.
Como veremos agora, esta dificuldade é aparente; sem podermos acompanhar o movimento
das partı́culas fluidas, descrito pelo campo de velocidades, podemos determinar, a partir deste
campo o campo de acelerações. Consideremos que a velocidade na direção Ox seja dada pelo
campo
vx = F1 (x, y, z, t) (3.81)
F1 (x + 4x, y, z, t) − F1 (x, y, z, t)
= lim (3.83)
4t→0 4t
30 Texto Preliminar, SH Sphaier
A parte entre colchetes é o que chamamos aceleração convectiva, e a outra chamamos acel-
eração local. A esta soma denominamos aceleração material ou substantiva. Observemos que
nas expressões acima fizemos 4x/4t = vx , 4y/4t = vy e 4z/4t = vz , uma vez que admiti-
mos (4x, 4y, 4z) como os deslocamentos da partı́cula fluida em consideração. Poderı́amos
ter admitido que estes deslocamentos estivessem associados a outras propriedades. Aqui en-
tretanto decidimos acompanhar uma partı́cula fluida, e no caso mais especificamente para
determinarmos sua aceleração. Admitindo que a função F1 descrevesse outra propriedade,
como por exemplo a temperatura de uma partı́cula fluida, estarı́amos observando a variação
da propriedade temperatura de uma partı́cula, isto é, de uma certa massa, de uma certa quan-
tidade de matéria. Dai então o nome derivada material ou substantiva. Para diferencia-la
adotamos a notação D/Dt para o operador derivada substantiva,
D ∂ ∂ ∂ ∂
= [ vx + vy + vz ] + (3.90)
Dt ∂x ∂y ∂z ∂t
Observemos que o operador D/Dt é o produto escalar do operador gradiente e do vetor
velocidade mais a derivada parcial temporal:
D ∂
= +v·∇ (3.91)
Dt ∂t
Retornando agora ao problema da aceleração e considerando que as velocidades nas direções
Oy e Oz são dadas pelas funções F2 e F3 respectivamente, poderemos escrever para as três
direções:
D ∂ ∂ ∂ ∂ ∂
ax = F1 = [vx F1 + vy F1 + vz F1 ] + F1 = F1 + v · ∇F1 (3.92)
Dt ∂x ∂y ∂z ∂t ∂t
Texto Preliminar, SH Sphaier 31
D ∂ ∂ ∂ ∂ ∂
ay = F2 = [vx F2 + vy F2 + vz F2 ] + F2 = F2 + v · ∇F2 (3.93)
Dt ∂x ∂y ∂z ∂t ∂t
D ∂ ∂ ∂ ∂ ∂
az = F3 = [vx F3 + vy F3 + vz F3 ] + F3 = F3 + v · ∇F3 (3.94)
Dt ∂x ∂y ∂z ∂t ∂t
O vetor velocidade é dado por
D D D D ∂
= F = i F1 + j F2 + k F3 = F + v · ∇F (3.97)
Dt Dt Dt Dt ∂t
D ∂
= v = v + v · ∇v (3.98)
Dt ∂t
dT 4T
= lim = (3.99)
dt 4t→0 4t
onde
4T = T12 − T11 (3.100)
4t = t2 − t1 (3.101)
Pela descrição Euleriana temos as seguintes variações:
- variação local
na seção x1 a temperatura varia de T11 para T31
na seção x2 a temperatura varia de T22 para T21
- variação convectiva
no instante t1 a temperatura varia de T11 para T22
no instante t2 a temperatura varia de T31 para T12
A variação total de temperatura da partı́cula é dada pela soma de uma variação local e uma
variação espacial:
4Tespacial
4T = 4Tlocal + U 4t (3.105)
4x
DT 4T 4Tlocal 4Tespacial
= lim = + U (3.106)
Dt 4t→0 4t 4t 4x
DT ∂Tlocal ∂Tespacial
= + U (3.107)
Dt ∂t ∂x
DT ∂Tlocal ∂Tespacial
= + ·v (3.108)
Dt ∂t ∂r
novos conceitos, é necessário que nos detenhamos um pouco mais sobre os novos conceitos
para tentarmos visualizar fisicamente o que ocorre no fluido.
Lembrando que ao entrarmos na dinâmica de um corpo, a relação entre as forças externas
e a massa do corpo descrevem a aceleração (Lei de Newton) e sua integração no tempo a
velocidade, devemos então utilizar o mesmo tratamento para o fluido. Nosso objetivo agora é,
diante das condições ambientais externas determinar o campo de velocidades. A lei de Newton
entretanto diz que: a soma das forças externas se iguala ao produto massa vezes a aceleração
do corpo. Como compatibilizar um modelo que trabalha com um campo de velocidades sem
se preocupar com o que ocorre a cada partı́cula fluida, com a necessidade de conhecermos
o que ocorre a cada parte ao longo do tempo, conhecendo-se a ação que o ambiente exerce
sobre cada parte? Devemos inicialmente separar uma partı́cula fluida ou uma pequena massa
de fluido no meio e determinar a ação externa sobre esta massa. Será a soma de forças de
corpo e forças de superfı́cie. Considerando-se nosso meio fluido como a água, e o escoamento
em uma região de pequenas dimensões comparadas com o tamanho da Terra, podemos dizer
que a as forças de corpo derivam de um potencial gravitacional proporcional a distância
vertical da partı́cula a Terra. As forças de superfı́cie são dadas pela ação do fluido em torno
da partı́cula fluida na forma de tensões normais (pressão) e tensões tangenciais. As tensões
tangencias para um fluido newtoniano são proporcionais a taxa de variação da velocidade na
direção da normal a superfı́cie do corpo. Assim, as forças externas so dependerão da posição
em questão e do campo de velocidade em torno desta posição. A soma das forças externas
dividida pela massa da partı́cula fluida fornece a aceleração da partı́cula fluida. Entretanto
fica pendente a questão de como escrever a expressão da aceleração da partı́cula fluida se
a descrição do escoamento, através de um campo de velocidades não nos permite descrever
a nova posição que cada partı́cula fluida vai ocupar no espaço, decorrido um certo ‘delta’
de tempo. Notemos que, se soubéssemos como descrever a nova posição, saberı́amos através
da função campo de velocidades qual seria a velocidade da partı́cula fluida decorrido este
intervalo ‘delta’ de tempo. A diferença de velocidades dividida pelo ‘delta’ de tempo fornece
a aceleração. Lembremos que queremos descrever como se comporta um escoamento mediante
certas condições ambientais. Contamos para isso com a lei de Newton. Enfim temos que saber
expressar a aceleração de uma partı́cula fluida através da função que descreve o campo de
velocidades. Esta função será então a incógnita do problema.
Para visualizar a aceleração em termos do campo de velocidades coloquemo-nos em um labo-
ratório. Observemos o fluido através de um mecanismo (”medidor”de velocidades) que possa
fornecer a intensidade, a direção e o sentido da velocidade em cada ponto do escoamento.
Por questão de facilidade limitemo-nos a um escoamento bidimensional. Imaginemos que em
cada ponto do escoamento este ”medidor”de velocidades nos fornece uma ”setinha”indicando
direção, sentido e intensidade da velocidade de cada ponto onde estamos ”medindo”as veloci-
dades. Concentremo-nos em torno de um ponto do espaço no escoamento. Observemos as
”setinhas”em vários pontos em torno do ponto de interesse. Por exemplo, podemos fazer uma
36 Texto Preliminar, SH Sphaier
Utilizando uma expansão em série de Taylor da função f (x, t + ∆t) em torno de t teremos
∂f (x, t)
f (x, t + ∆t) ≈ f (x, t) + ∆t (3.112)
∂t
e com isto:
∆I = I(t + ∆t) − I(t) (3.113)
Z Z Z
∂f (x, t)
= f (x, t)dV(t) + ∆tdV(t) − f (x, t)dV(t) (3.114)
V(t+∆t) V(t+∆t) ∂t V(t)
Z Z Z Z
∂f (x, t)
≈ f (x, t)dV(t) + ∆tdV(t) + f (x, t)dV(t) − f (x, t)dV(t) (3.115)
V(t) V(t) ∂t ∆V(t) V(t)
Z Z
∂f (x, t)
= ∆t dV(t) + f (x, t)dV(t) (3.116)
V(t) ∂t ∆V(t)
Uma parte do elemento de volume ∆V(t) é dada pelo produto de um elemento de área ∆S da
superfı́cie envolvente e o deslocamento elementar desta superfı́cie. Este elemento de volume
é dado pelo produto escalar do deslocamento da superfı́cie ∆r e do vetor n normal a ela.
Assim,
∆V(t) = ∆S(t)∆r · n (3.117)
Na expressão do elemento de volume mostrada acima, o produto escalar é o produto da
componente da velocidade da superfı́cie na direção de sua normal e o intervalo de tempo,
∆r · n = Un ∆t (3.118)
Esta expressão é conhecida por teorema de transporte de Reynolds, que pode ser vista também
como uma generalização da regra de Leibnitz. Duas aplicações aqui se destacam. Uma para
quando temos um volume de controle fixo em que Un é nulo, e outra para um volume material.
Neste segundo caso trata-se então da derivada material da integral e Un é a componente normal
da velocidade do fluido vn = v · n
Z Z Z
D ∂f (x, t)
f (x, t)dV(t) = dV(t) + f (x, t)v · ndS(t) (3.121)
Dt V V(t) ∂t S(t)
38 Texto Preliminar, SH Sphaier
3.10 Circulação
Consideremos agora uma linha fechada C no domı́nio fluido. Definimos circulação como a
integral ao longo de C do produto escalar do vetor velocidade v e do elemento de linha ds,
percorrendo-se a linha C de forma que a área interior mantenha-se a esquerda. É usual
utilizar-se a letra grega Γ para exprimir a circulação.
I
Γ = v · ds (3.123)
C
Chamamos a atenção para que se obtemos a circulação diferente de zero não implica em
regime rotacional. Para melhor entendermos este aspecto, apliquemos o teorema de Stokes,
I Z Z
Γ = v · ds = ∇ × v · ndA (3.124)
C A
Esta igualdade está condicionada a que o campo de velocidades tenha derivadas segundas
contı́nuas. Assim sendo poderemos encontrar escoamentos para os quais a circulação ao longo
de uma linha fechada seja diferente de zero, porém o escoamento tenha uma descontinuidade
no interior da curva de forma tal que não se aplique o teorema de Stokes e por conseguinte
não se possa assegurar que o escoamento seja rotacional. A seguir analisemos um escoamento
plano onde se evidencia esta questão. Utilizando-se coordenadas polares (r, θ) o campo de
velocidades é escrito na forma
a a
v = ir vr + iθ vθ = iθ = 2 iθ (3.125)
r (x + y 2 )1/2
onde a é uma constante, r = (x2 + y 2 )1/2 , x = r cos θ e y = r sin θ. Este escoamento é uma
idealização simplificada de um ciclone.
Determinando o rotacional deste campo temos
∂ ∂ ∂ ∂ a
∇ × v = (ir + iθ ) × v = (ir + iθ ) × ( iθ ) = 0 (3.126)
∂r r∂θ ∂r r∂θ r
para todos os pontos do domı́nio a menos do ponto r = 0. Neste ponto a função é descontı́nua
bem como sua derivada em relação a r. Determinando-se a circulação para uma linha r =
constante obtemos Γ = a2π. Determinando-se a circulação para qualquer linha fechada con-
tendo o ponto r = 0 em seu interior obtemos também Γ = a2π. Se entretanto determinarmos
a circulação para qualquer linha fechada que não contenha em seu interior o ponto r = 0, o
resultado é sempre igual a zero.
Texto Preliminar, SH Sphaier 39
Substituindo estas relações na expressão do vetor vorticidade, podemos ver que a condição
acima imposta é satisfeita. O que mostra que o critério de irrotacionalidade é automatica-
mente satisfeito sempre que existir uma funcão φ tal que o campo de velocidades v seja dado
pelo seu gradiente. Isto é, se pudermos exprimir o campo de velocidade através do gradiente
de uma função o escoamento será irrotacional. Vamos mostrar agora que a recı́proca é ver-
dadeira: se o escoamento é irrotacional existirá uma funcão φ tal que o campo de velocidades
v seja dado pelo seu gradiente.
Consideremos dois pontos P1 e P2 num instante t em um escoamento que, por hipótese, é
irrotacional (ver figura 3.8). Tracemos duas linhas ligando os pontos P1 e P2 . Uma linha
segundo o percurso A e a outra segundo o percurso B. Pelo teorema de Stokes a circulação é
nula
I Z P2 Z P1
v · ds = v · ds + v · ds = 0 (3.132)
C P1 ,A P2 ,B
ou então Z Z
P2 P2
v · ds = v · ds (3.133)
P1 ,A P1 ,B
Isto significa que esta integral independe do caminho seguido, dependendo somente dos ex-
tremos P1 e P2 . Introduzindo então uma função φ tal que
Z P2
v · ds = φ(P2 ) − φ(P1 ) (3.134)
P1
40 Texto Preliminar, SH Sphaier
Admitindo-se que o escoamento é irrotacional vimos que existe uma função potencial de
velocidades cujo gradiente gera o campo de velocidades ( equação 3.131). Substituindo esta
equação na equação da continuidade (4.11), que para um fluido incompressı́vel traduz a lei
de conservação da massa, temos
∇ · ∇φ = ∇2 φ = 0 (3.137)
Desta equação podemos então dizer que todo escoamento irrotacional de um fluido
incompressı́vel é sempre descrito por uma função φ, potencial de velocidades
solução da equação de Laplace. O campo de velocidades v é dado pelo gradiente da
função φ.
Observemos que ainda não impuzemos nenhuma condição de contorno a ser satisfeita por esta
função.
Definimos anteriormente linha de corrente como uma linha em que em cada um de seus pontos
o vetor velocidade é tangente a ela. Isto é, o vetor velocidade e o vetor elemento de linha são
colineares, e se são colineares, o produto vetorial entre esses vetores é nulo. A partir deste
produto vetorial define-se a equação diferencial da linha de corrente, como veremos.
Podemos escrever este produto vetorial nulo como:
v × ds = 0 (3.138)
v = vx i + vy j (3.139)
42 Texto Preliminar, SH Sphaier
−vy dx + vx dy = 0 (3.141)
ou
dx dy
= (3.142)
vx vy
válida ao longo de uma linha de corrente.
Introduzindo uma função ψ, como uma função tal que:
∂ψ
vx = (3.143)
∂y
∂ψ
vy = − (3.144)
∂x
e substituindo acima, vemos que ao longo da linha de corrente,
∂ψ ∂ψ
−vy dx + vx dy = dx + dy = 0 (3.145)
∂x ∂y
Mas esta expressão é a diferencial total de ψ e é nula
∂ψ ∂ψ
dψ = dx + dy = 0 (3.146)
∂x ∂y
o que indica que a função ψ é constante ao longo de uma mesma linha de corrente. Com isto
chamamos ψ, função de corrente.
Assim, definimos como função de corrente, uma função constante ao longo de cada linha de
corrente e tal que as componentes do vetor velocidade podem ser obtidas das expressões acima
apresentadas:
∂ψ
vx = (3.147)
∂y
∂ψ
vy = − (3.148)
∂x
A equação da continuidade, que exprime a lei de conservação da massa para fluidos incom-
pressı́veis, para um escoamento bidimensional é dada por:
∂vx ∂vy
+ =0 (3.149)
∂x ∂y
Substituindo as expressões ( 3.148) acima vemos que a equação da continuidade é sempre
satisfeita.
Texto Preliminar, SH Sphaier 43
vemos que a função de corrente pode ser obtida a partir da solução da equação de Poisson,
conhecendo-se a função que descreve a vorticidade. Para escoamentos irrotacionais recaı́mos
na equação de Laplace.
Pela definição introduzida acima linhas de corrente são linhas ao longo das quais a função
de corrente ψ assume valores constantes. Os vetores velocidades tangenciam as linhas ψ =
constante. Por outro lado os vetores velocidades são obtidos através do gradiente da função
potencial φ. Assim se traçarmos linhas φ = constante, os vetores velocidades serão perpen-
diculares a elas. Por conseguinte as linhas ψ = constante serão perpendiculares às linhas
φ = constante. Isto pode ser verificado também determinando-se o produto escalar dos gradi-
entes destas duas funções. A figura 3.9 mostra esquematicamente linhas de corrente e linhas
equipotenciais.
∂ψ ∂ψ ∂φ ∂φ ∂ψ ∂φ ∂ψ ∂φ
∇ψ · ∇φ = ( i+ j) · ( i + j) = + (3.153)
∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂x ∂y ∂y
= −vy vx + vx vy = 0 (3.154)
A figura 3.10 mostra duas linhas de corrente ψ = C1 e ψ = C2 . Os pontos A e B encontram-se
sobre a linha ψ = C1 enquanto o ponto C encontra-se sobre a linha ψ = C2 . Como o fluido
é incompressı́vel a vazão volumétrica através de AC é igual à vazão volumétrica através de
CB e dada por: Z Z
C B
Fx = vx dy = Fy = vy dx (3.155)
A C
Seja F (x, y, z, t) uma função que descreve uma propriedade do escoamento. Com esta função
podemos construir uma série de superfı́cies de nı́vel constantes
∂F ∂F ∂F
ux + uy + uz
∇F ∂x ∂y ∂z
un = u · n = u · =s (3.162)
| ∇F | ∂F 2 ∂F 2 ∂F 2
( ) +( ) +( )
∂x ∂y ∂z
dF ∂F ∂F dx ∂F dy ∂F dz
=0= + + + (3.163)
dt ∂t ∂x dt ∂y dt ∂z dt
rearranjando os termos
∂F dx ∂F dy ∂F dz ∂F
+ + =− (3.164)
∂x dt ∂y dt ∂z dt ∂t
Texto Preliminar, SH Sphaier 47
Assim sendo
1 ∂F ∂F ∂F
r ( vx + vy + vz ) = (3.173)
∂F 2 ∂F 2 ∂F 2 ∂x ∂y ∂z
( ) +( ) +( )
∂x ∂y ∂z
−∂F/∂t
v·n= r (3.174)
∂F 2 ∂F 2 ∂F 2
( ) +( ) +( )
∂x ∂y ∂z
De forma similar vale para a fronteira sólida
1 ∂F ∂F ∂F
r ( ux + uy + uz ) = (3.175)
∂F 2 ∂F 2 ∂F 2 ∂x ∂y ∂z
( ) +( ) +( )
∂x ∂y ∂z
−∂F/∂t
u·n= r (3.176)
∂F 2 ∂F 2 ∂F 2
( ) +( ) +( )
∂x ∂y ∂z
Com estas duas expressões temos finalmente:
1 ∂F ∂F ∂F
r ( ux + uy + uz ) = (3.177)
∂F 2 ∂F 2 ∂F 2 ∂x ∂y ∂z
( ) +( ) +( )
∂x ∂y ∂z
1 ∂F ∂F ∂F
r ( vx + vy + vz ) = (3.178)
∂F 2 ∂F 2 ∂F 2 ∂x ∂y ∂z
( ) +( ) +( )
∂x ∂y ∂z
−∂F/∂t
r (3.179)
∂F 2 ∂F 2 ∂F 2
( ) +( ) +( )
∂x ∂y ∂z
Como
∂F ∂F ∂F ∂F ∂F ∂F
ux + uy + uz = vx + vy + vz (3.180)
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
ou
v n = v · n = un = u · n (3.181)
Isto é, o movimento das partı́culas fluidas será tal que:
v n = un (3.182)
mostrando que as partı́culas fluidas não podem se desprender do contorno sólido, embora
possam deslizar ao longo dele. Concluı́mos assim, que a coerência do movimento fluido e
Texto Preliminar, SH Sphaier 49
movimento da superfı́cie não fluida, supondo que a matéria fluida que se move junto à su-
perfı́cie nunca a abandona, isto é, permanece com F (x, y, z, t) = 0, implica na concordância
das componentes normais.
É fácil mostrar que a situação inversa é verdadeira, isto é, se estabelecemos como premissa
que há uma igualdade de movimentos, fluido e não fluido, na direçào normal à superfı́cie
concluimos que:
DF
=0 (3.183)
Dt
Esta expressão nos diz que as partı́culas que formam a superfı́cie F (x, y, z, t) = 0 sempre
formarão a superfı́cie F (x, y, z, t) = 0.
Vemos então que se temos um contorno sólido no meio fluido executando movimentos de forma
tal que seja descrito pela expressão F (x, y, z, t) = 0 haverá necessariamente uma superfı́cie
material fluida acompanhando-o. As partı́culas fluidas terão suas posições mudando ao longo
do tempo, porém descritas pela mesma expressão F (x, y, z, t) = 0.
Enfim, a expressão
DF
=0 (3.184)
Dt
que diz que as partı́culas fluidas que formam o contorno fluido em contato com o contorno
sólido são sempre as mesmas, é equivalente à expressão da igualdade das componentes normais
das velocidades u e v.
Como vimos acima todo escoamento irrotacional de um fluido incompressı́vel é definido por
uma função φ, potencial de velocidades, solução da equação de Laplace (3.137),
∇2 φ = 0 (3.185)
v = ∇φ (3.186)
Esta equação é geral pois reune uma lei, lei de consevação da massa e um comportamento do
movimento das partı́culas fluidas, escoamento irrotacional, isto é, as partı́culas fluidas escoam
sem serem dotadas de rotação em torno de si. Para caracterizar cada problema especı́fico
temos que associar a esta equação condições de contorno, o que em termos matemáticos define
um problema bem posto. Lembrando que no caso de um escoamento irrotacional a condição
50 Texto Preliminar, SH Sphaier
a ser satisfeita no contorno F (x, y, z, t) = 0, que define o contorno do domı́nio fluido, é:
D ∂F ∂F
F = + v · ∇F = + ∇φ · ∇F = 0 (3.187)
Dt ∂t ∂t
então
∇F ∂φ 1 ∂F
∇φ · = =− (3.188)
| ∇F | ∂n | ∇F | ∂t
em F (x, y, z, t) = 0
Temos assim o problema de valor de contorno estabelecido. Trata-se de um problema de Neu-
man. A função φ é solução da equação de Laplace e sua derivada normal ∂φ/∂n satisfaz uma
função conhecida no contorno. Este problema tem solução única em domı́nio simplesmente
conexo.
Deve-se observar que outras condições podem vir a ser utilizadas em partes ou em todo o
contorno, como por exemplo o valor da função φ. A forma mais geral de apresentar-se o
problema é:
∇2 φ = 0 (3.189)
∂φ(S)
α(S)φ(S) + β(S) = γ(S) (3.190)
∂n
onde as funções α(S), β(S) e γ(S) são conhecidas.
Capı́tulo 4
51
52 Texto Preliminar, SH Sphaier
Como visto anteriormente não há em mecânica dos fluidos criação ou desaparecimento de
massa e este princı́pio é conhecido como lei de conservação de massa. Este princı́pio pode
ser expresso matematicamente por uma equação, muitas vezes chamada de equação de con-
servação da massa. Sua derivação é feita considerando-se um volume de controle infinitesimal,
comparando o fluxo de massa através deste volume com a variação da densidade do fluido em
seu interior.
Embora o princı́pio de conservação da massa não seja um capı́tulo especı́fico da cinemática
foi aqui inserido por ser a hidrodinâmica a área da mecânica dos fluidos que trata fluidos
incompressı́veis. Como consequência o volume de uma massa fluida passa a ser invariante
com o passar do tempo e assim suas velocidades devem manter relações que não permitam
expansões.
Tomemos inicialmente um volume de controle na forma de um cubo infinitesimal de dimensões
dx, dy e dz conforme indicado na figura 4.1. Chamemos as faces normais ao eixo Ox em x1 e
x1 + dx de seção 1 e seção 2 respectivamente. O fluxo de massa através da seção 1, isto é, a
quantidade de massa penetrando no cubo por unidade de tempo através da seção 1, é dado
Texto Preliminar, SH Sphaier 53
por
ρvx dydz (4.1)
onde ρ é a massa especı́fica do fluido. O fluxo de massa através da seção 2, isto é, a quantidade
de massa deixando o cubo por unidade de tempo através da seção 2, é dado por
∂(ρvx )
(ρvx + dx)dydz (4.2)
∂x
Logo na direção Ox a quantidade de fluido deixando o cubo por unidade de tempo é dada
por:
∂(ρvx ) ∂(ρvx )
Fx = (ρvx + dx)dydz − ρvx dydz = dxdydz (4.3)
∂x ∂x
Fazendo o mesmo para as outras direções obteremos o fluxo para o exterior:
Como consequência deste fluxo de massa deixando o cubo haverá então um decréscimo (um
acréscimo negativo) de massa igual a:
∂ρ
− dxdydz (4.5)
∂t
isto é, como uma certa quantidade de massa deixa o volume e não há criação de massa no
interior do volume, a massa especı́fica deve diminuir. Este decréscimo de massa deverá ser
igual ao fluxo de massa:
∂(ρvx ) ∂(ρvy ) ∂(ρvz ) ∂ρ
+ + =− (4.6)
∂x ∂y ∂z ∂t
Esta equação é uma das formas com que exprime-se o princı́pio de conservação da massa.
Sabemos que:
D ∂ρ ∂ρ ∂ρ ∂ρ
ρ= + vx + vy + vz (4.7)
Dt ∂t ∂x ∂y ∂z
Combinando as equações (4.6) e (4.7) obtemos
A expressão dada pelas três últimas parcelas do primeiro membro é o divergente do vetor v.
Utilizando esta relação podemos escrever a equação de conservação da massa na forma:
1 Dρ
+∇·v =0 (4.9)
ρ Dt
54 Texto Preliminar, SH Sphaier
O princı́pio da conservação da massa é uma das premissas básicas em mecânica dos fluidos a
ser obedecida. Este princı́pio, como o próprio nome diz, estabelece que matéria não pode ser
criada nem tampouco destruı́da. Outra condição que impomos ao construirmos nossa teoria
hidrodinâmica é que a matéria se distribui continuamente no domı́nio fluido.
Pelo princı́pio de conservação da massa podemos afirmar que, se houver variação da massa
em uma certa região do espaço onde o fluido se distribui, consequentemente haverá um fluxo
de massa através dos limites desta região. Assim sendo, podemos expressar esta condição
através de um balanço entre a variação da massa no interior da região por unidade de tempo,
e o fluxo de massa através da superfı́cie contorno da região. A variação da densidade local,
em um ponto, multiplicada pelo volume em torno deste ponto, fornece a variação de massa
local. A integral desta massa ao longo de todos os pontos da região em consideração fornecerá
a variação de massa. Deve-se notar que uma variação positiva deste valor significa que há
um acréscimo da massa na região e por conseguinte através da superfı́cie contorno da região
a integral do fluxo deverá indicar haver uma entrada de fluido.
Para expressarmos através de uma equação o princı́pio de conservação da massa, devemos
então escrever este balanço entre a variação de massa em um certo volume e o fluxo através
de seu contorno. É interessante escolher volumes com faces que se amoldem ao sistema de co-
ordenadas que estamos utilizando. Assim se trabalhamos em coordenadas cartesianas (Oxyz)
é conveniente escolhermos um cubo de dimensões infinitesimais, com faces paralelas aos planos
x = 0, y = 0 e z = 0. Trabalhando em coordenadas polares (r, θ) (escoamento plano; massa
dada em massa por comprimento), é mais conveniente trabalharmos com setores com duas
faces de raios constantes, tendo ângulos θ constantes. Da mesma forma que para o cubo
tridimensional, os lados deverão ser formados admitindo-se uma variação infinitesimal nas co-
ordenadas r e θ. As vantagens destas escolhas podem ser vistas pelo simples desenvolvimento
das equações.
Para o caso em que o fluido em estudo seja a água, é perfeitamente aceitável introduzir-
mos a hipótese que esta seja incompressı́vel. Isto é, não há variação da massa especı́fica
(massa/volume) com a pressão e a temperatura. Esta hipótese é bastante razoável em relação
à pressão porém não em relação à temperatura. Entretanto só para grandes variacões de
temperatura é possı́vel se ter uma variação efetiva da massa especı́fica da água. Os problemas
com que nos envolvemos na engenharia naval, são problemas para os quais podemos supor que
não haja variação de temperatura no domı́nio fluido. Assim podemos introduzir a hipótese
que o fluido é incompressı́vel, isto é, a massa especı́fica é constante em todo o domı́nio.
Texto Preliminar, SH Sphaier 57
Separemos um volume V limitado por uma superfı́cie S, num meio fluido. As forças atuantes
sobre este volume poderão ser divididas em dois grupos: forças de corpo e de superfı́cie, cujas
caracterı́sticas veremos a seguir.
São forças que agem nos elementos de volume dV, partes infinitesimais do volume V, inde-
pendentemente da existência de outros elementos.
Se FG é o vetor de força de corpo por unidade de massa agindo sobre dV com a massa
especı́fica ρ, então a força de corpo agindo no elemento de volume será FG ρdV. A força total
agindo sobre o volume V será o somatório de todas as forças de corpo agindo nos volumes dV
ou Z
FG ρdV (4.20)
V
Utilizando um sistema de coordenadas cartesianas Oxyz e sendo o vetor FG dado pelas
coordenadas (XG , YG , ZG ), teremos então:
Z Z Z Z
FG ρdV = i XG ρdV + j YG ρdV + k ZG ρdV (4.21)
V V V V
Consistem nas forças de interação entre as várias partı́culas fluidas. Pelo princı́pio da ação e
reação, a resultante das forças dessa natureza, agindo no interior do volume considerado se
torna nula. Segue que a força resultante, agindo sobre o volume V será igual à resultante das
forças agindo sobre a superfı́cie externa S.
Consideremos que a força de superfı́cie por unidade de área seja dada por Pn . Logo, para um
elemento de área dS, a força será dada por Pn dS. O subscrito n indica que a força depende
da orientação da área dS, dada pelo vetor n. A força resultante total será dada pela integral
das contribuições elementares sobre a área total:
Z
FS = XS i + YS j + ZS k = Pn dS (4.22)
S
A direção do vetor Pn não será obrigatoriamente a mesma da normal. Podemos dividir este
vetor em duas componentes, uma normal à superfı́cie, devida à pressão, e a outra tangencial
à superfı́cie, decorrente do atrito entre as camadas fluidas. Podemos mostrar, como veremos
58 Texto Preliminar, SH Sphaier
adiante, que a pressão é constante para qualquer direção, isto é, independe da direção. Ini-
cialmente vamos considerar que os efeitos viscosos sejam desprezı́veis, trataremos o caso em
que o fluido é considerado ideal.
Observemos que a direção da força depende da escolha da normal. Entretanto sabemos que
isto não pode ser aceito. A força atua de fora para dentro da região fluida isolada. Isto é,
sabemos a direção da força. Como temos liberdade para definir a orientação da normal, a
expressão da força devida à pressão depende da orientação da normal. Vamos adotar aqui que
a normal esteja voltada para o fora do meio fluido envolvendo a porção fluida onde estamos
determinando a força. Assim a força de superfı́cie para um fluido ideal é dada por:
Z
FS = pndS (4.23)
S
onde p é a pressão atuante sobre o elemento de área. A normal n está voltada para dentro
da massa fluida.
A figura 4.3 mostra um elemento de fluido triangular com lados dx, dy e dl. Sobre estes lados
atuam as pressões px , py e pl respectivamente. Os lados dl e dx formam um ângulo θx entre
si e dl e dy um ângulo θy respectivamente. Do equilı́brio de forças segue que:
pl dl cos(θx ) = px dx (4.24)
e
pl dl cos(θy ) = py dy (4.25)
A lei de Newton nos diz que o somatório das forças externas atuantes no elemento fluido é
igual ao produto da massa pela aceleração. Tomando a integral das forças de corpo e das
forças de superfı́cie teremos:
Z Z Z
FG ρdV + pndS = aρdV (4.26)
V S V
Nesta equação temos a expressão da lei de Newton para um fluido invı́scito, sem explicitarmos
se as forças, as acelerações e o gradiente de pressão são dados através de campos vetoriais.
Isto é essa equação pode ser expressa na forma lagrangeana ou na forma euleriana.
- na direção Ox
1 ∂p ∂vx ∂vx ∂vx ∂vx
XG − = + vx + vy + vz (4.34)
ρ ∂x ∂t ∂x ∂y ∂z
- na direção Oy
1 ∂p ∂vy ∂vy ∂vy ∂vy
YG − = + vx + vy + vz (4.35)
ρ ∂y ∂t ∂x ∂y ∂z
- na direção Oz
1 ∂p ∂vz ∂vz ∂vz ∂vz
ZG − = + vx + vy + vz (4.36)
ρ ∂z ∂t ∂x ∂y ∂z
Observemos que se admitirmos que as forças de corpo atuam verticalmente e devem-se a ação
da gravidade então:
FG = −gk = g (4.37)
onde g é a aceleração da gravidade e g = −gk. A equação de movimento toma a forma:
∇p
a=g− (4.38)
ρ
D ∇p
v + gk + =0 (4.39)
Dt ρ
Suponhamos um meio fluido em movimento e que sejam conhecidas as forças de corpo agindo
sobre o meio. O problema geral a ser resolvido é a determinação do movimento nas diver-
sas partes dos espaços preenchido pelo fluido e determinação do campo de pressões. Como
colocamos anteriormente a hidrodinâmica é a parte da mecânica dos fluidos incompressı́veis.
Nesses casos a massa especı́fica ρ é considerada constante e sendo uma caracterı́stica fı́sica
da substância, podemos supô-la conhecida. Das equações de Euler (4.35) temos três equações
de movimento e quatro incógnitas que são as três componentes de velocidades e o campo de
pressões. Agregando a essas equações a equação da continuidade, têm-se quatro equações
diferenciais parciais e quatro incógnitas. Integrando o sistema teremos a solução dada pelo
campo de velocidades e pelo campo de pressões
p = f (x, y, z, t) (4.40)
vx = F1 (x, y, z, t) (4.41)
62 Texto Preliminar, SH Sphaier
vy = F2 (x, y, z, t) (4.42)
vz = F3 (x, y, z, t) (4.43)
Caso o fluido em estudo seja barótropo, isto é, aquele em que a densidade é função da pressão,
ρ = g(p) (4.44)
teremos a massa especı́fica do fluido como uma variável, isto é teremos cinco incógnitas. Assim
o sistema de equações, equações de Euler e equação de conservação da massa, teremos cinco
incógnitas e quatro equações. Mas se incorporarmos à tal sistema a equação representativa do
comportamento da massa especı́fica do fluido em função da pressão, equação (4.44) teremos
um sistema de cinco equações e cinco incógnitas ou simplesmente eliminando ρ com a nova
equação retornamos à um sistema de quatro equações a quatro incógnitas.
1 ∂p ∂vx ∂vx ∂vx ∂vx
XG − = + vx + vy + vz (4.45)
g(p) ∂x ∂t ∂x ∂y ∂z
As equações que estabelecem o problema geral da Hidrodinâmica podem tomar formas mais
simples se introduzirmos algumas hipóteses simplificadoras como por exemplo, impondo que
o escoamento seja irrotacional, permanente, que as forças de corpo derivam de um potencial,
etc... A utilidade prática dessas equações simplificadas é que muitos dos problemas reais na
engenharia estão sujeitos a essas hipóteses.
Sabemos que para regime permanente as linhas de corrente coincidem com as trajetórias das
partı́culas. Tomemos então um pequeno deslocamento numa linha de corrente e multiplique-
mos escalarmente pela equação do movimento na forma compacta (4.30), isto é, tomemos o
vetor
dr = vdt (4.49)
e multipliquemos escalarmente por
Dv 1
FG = + ∇p (4.50)
Dt ρ
obtendo então:
Dv 1
FG · vdt = · vdt + ∇p · vdt (4.51)
Dt ρ
ou
1
FG · dr = Dv · v + ∇p · dr (4.52)
ρ
Desenvolvendo os produtos escalares obtemos:
1 1 ∂p ∂p ∂p
XG dx + YG dy + ZG dz = D( | v |2 ) + ( dx + dy + dz) (4.53)
2 ρ ∂x ∂y ∂z
Como o regime é permanente o termo envolvendo a pressão é a diferencial total da pressão
∂p ∂p ∂p
Dp = dx + dy + dz (4.54)
∂x ∂y ∂z
Introduzindo a hipótese que o campo de forças de corpo deriva de um potencial - U
∂U
XG = − (4.55)
∂x
∂U
YG = − (4.56)
∂y
∂U
ZG = − (4.57)
∂z
então
∂U ∂U ∂U
XG dx + YG dy + ZG dz = −DU = −( + + ) (4.58)
∂x ∂y ∂z
e a equação de movimento toma a forma:
1 1
D(U + v 2 ) + Dp = 0 (4.59)
2 ρ
onde 12 v 2 = 1
2
| v |2 .
64 Texto Preliminar, SH Sphaier
Lembrando que o fluido é incompressı́vel ρ é uma constante e pode então ser colocada dentro
da diferencial e obtemos:
1 p
D(U + v 2 + ) = 0 (4.60)
2 ρ
logo
1 p
U + v2 + = C (4.61)
2 ρ
onde C é uma constante, e chegamos então a equação de Bernoulli para linha de corrente:
Para problemas de engenharia podemos supor com pequeno erro que o potencial gravitacional
da Terra seja dado por U = gz isto é, é igual ao produto da aceleração da gravidade g e a cota,
posição vertical da partı́cula fluida z. Introduzindo esta aproximação associada às condições
impostas acima, então
1 v2 p
z+ + =C (4.62)
2g γ
para cada linha de corrente, onde γ = gρ é o peso especı́fico do fluido.
Esta equação é muito utilizada em mecânica dos fluidos para escoamentos em tubos.
Dv 1
FG = + ∇p (4.63)
Dt ρ
∂ 1 1
v + ∇v 2 − v × (∇ × v) = FG − ∇p (4.66)
∂t 2 ρ
∇×v =0 (4.67)
v = ∇φ (4.68)
e consequentemente:
∂v ∂φ
=∇ (4.69)
∂t ∂t
Com estas relações obtemos para a equação de movimento:
∂φ 1 1
∇ + ∇( v 2 ) = FG − ∇p (4.70)
∂t 2 ρ
Introduzindo a hipótese que o campo de forças de corpo deriva de um potencial - U
∂U
XG = − (4.71)
∂x
∂U
YG = − (4.72)
∂y
∂U
ZG = − , (4.73)
∂z
ou
FG = −∇U (4.74)
obtemos para a equação de movimento:
∂φ 1 1
∇ + ∇( v 2 ) = −∇U − ∇p (4.75)
∂t 2 ρ
Introduzindo a hipótese de fluido incompressı́vel obtemos:
∂φ 1 2 p
∇( + v +U + )=0 (4.76)
∂t 2 ρ
66 Texto Preliminar, SH Sphaier
Isto quer dizer que ∂φ/∂t + 1/2v 2 + U + p/ρ independe da posição; só depende do tempo.
Assim
∂φ 1 2 p
+ v + U + = F (t) (4.77)
∂t 2 ρ
onde F (t) é uma função do tempo.
A expressão acima é a forma integrada da equação de Euler para escoamentos irrotacionais
que chamaremos de Integral de Euler.
Da mesma forma que fizemos acima suponhamos que o potencial gravitacional da Terra seja
dado por U = gz e então:
∂φ 1 2 p
+ v + gz + = F (t) (4.78)
∂t 2 ρ
Caso o escoamento possa ser suposto permanente então ∂φ/∂t = 0 e F (t) é uma constante.
Neste caso a Integral de Euler toma a forma:
1 2 p
v + gz + = C (4.79)
2 ρ
onde C é uma constante.
Observemos a diferença entre as duas equações considerando-se regime permanente em ambos
os casos. Apesar de formalmente as expressões se equivalerem, deve-se notar que a primeira
vale somente ao longo de uma linha de corrente ou no caso trajetória, pois sendo o regime
permanente, elas coincidem. A segunda vale para todo o fluido, mas devemos observar tambem
as restrições. A segunda é mais restrita que a primeira. A primeira vale para escoamento
permanente, fluido incompressı́vel, forças de um potencial, enquanto o segundo vale para
escoamento permanente, fluido incompressı́vel, forças derivando de um potencial e escoamento
irrotacional.
O teorema de Thomson estabelece que para um fluido perfeito, barótropo, onde as forças
de corpo derivam de um potencial, a circulação ao longo de uma linha material fechada é
constante ao longo do tempo.
Texto Preliminar, SH Sphaier 67
Para derivar este teorema relembremos inicialmente a definição de circulação cuja aplicação
segue o esquema mostrado na figura 4.4.
tracemos uma linha fluida fechada no domı́nio fluido e estudemos a variação do valor da
circulação ao longo desta linha com o passar do tempo.
I
D D
Γ= v · ds (4.80)
Dt Dt
68 Texto Preliminar, SH Sphaier
O primeiro integrando representa o produto escalar do vetor aceleração das partı́culas fluidas
e o vetor do elemento de linha. Da equação do movimento
Dv 1
= F − ∇p (4.82)
Dt ρ
O segundo integrando pode ser escrito na forma
Dds Ds v2
v· =v·d = v · dv = d (4.83)
Dt Dt 2
Logo I I I I
D ∇p · ds v2
v · ds = F · ds − + d (4.84)
Dt ρ 2
Z B Z B Z B Z B · ¸B
D v2 v2
v · ds = − dU − dP + d = −dU − dP + d (4.91)
Dt A A A A 2 2 A
Caso os pontos A e B coincidam, isto é, a integral é avaliada através de um percurso fechado
D
então Dt Γ é nulo, como querı́amos mostrar.
Texto Preliminar, SH Sphaier 69
Nesta seção vamos mostrar o uso da equação de Bernoulli para escoamentos invı́scitos. Poste-
riormente, mostra-se como aplica-lá a casos reais introduzindo o conceito de perda de carga.
No caso do escoamento laminar pode-se obter expressões exatas a partir da solução de Hagen-
Poisseuilli. Apresenta-se a fı́sica da camada limite turbulenta e com isto a equação da tensão
na parede de um tubo. A partir desta equação é possı́vel determinar a perda de carga em
escoamentos turbulentos em tubos. Finalmente chegamos a equação da força de atrito em
placas planas, que serve de base para o cálculo da resistência friccional em cascos de navios.
A equação de Bernoulli pressupõe que ao longo de uma linha de corrente a seguinte relação
seja válida entre dois pontos da linha de corrente:
1 1
p1 + ρV12 + ρ g z1 = p2 + ρV22 + ρ g z2 = ρ g h (4.92)
2 2
onde h é a constante de Bernoulli para esta linha de corrente. Podemos reescrever esta equação
na forma:
p1 1 2 p2 1 2
+ V1 + z1 = + V + z2 = h (4.93)
ρg 2g ρg 2g 2
ou
p1 1 2 p2 1 2
+ V1 + z1 = + V + z2 = h (4.94)
γ 2g γ 2g 2
onde γ = ρ g é o peso especı́fico.
Como mostrado nas figuras 4.5 e 4.6, vamos construir uma linha que nada mais é que o
valor de z ao longo de uma linha de corrente. A esta linha de cotas somamos a pressão em
cada ponto da linha e chamamos esta nova linha p/γ + z de linha piezométrica. Se agora
somarmos a esta linha o valor de V 2 /(2 g) teremos a linha de energia. Deve-se observar que
em um escoamento de um fluido ideal sem viscosidade, isto é, um escoamento em que os
efeitos viscosos são desprezados, ao longo de uma linha de corrente a linha de energia terá o
valor da constante de Bernoulli e será constante.
Obsevemos agora o caso de um escoamento que se dá a partir de um orifı́cio aberto para a
atmosfera, em um reservatório aberto para a atmosfera no seu topo. A figura 4.7 mostra um
esquema do arranjo que dá origem ao cálculo. Na superfı́cie livre temos um ponto A e sua
cota é z1 . O ponto B, no centro do orifı́cio, está localizado a uma cota z2 . Em ambos os
pontos a pressão no fluido é a pressão atmosférica devido a estarem expostos à atmosfera.
70 Texto Preliminar, SH Sphaier
Figura 4.5: Linhas de Energia e piezométrica para um escoamento com perdas por efeito
viscoso e ganhos de carga com ação de uma bomba
Texto Preliminar, SH Sphaier 71
Figura 4.6: Linhas de Energia e piezométrica para um escoamento sem perdas por efeito
viscoso
72 Texto Preliminar, SH Sphaier
Entretanto pela lei de conservação da massa, a vazão Qsl através da superfı́cie livre com área
Asl tem que ser igual à vazão Qo através do orifı́cio, com área Ao :
então:
Ao 2
VB2 (1 − [ ] ) = 2 g(zA − zB ) (4.99)
Asl
Entretanto como a área da superfı́cie é muito maior que a área do orifı́cio, podemos dizer que:
Esta expressão é conhecida como fórmula de Torricelli. Esta expressão não leva em consid-
eração a contração que se observa no caso real, que se deve a efeitos viscosos e a variação
mais abrupta da pressão em torno do orifı́cio.
Ao duto que sofre uma contração seguida de uma expansão dá-se o nome de tubo venturi.
Esta forma descrita faz com que um escoamento através de um venturi, tenha sua velocidade
variável com a posição. A figura 4.8 mostra um tubo venturi e a linha piezométrica ao longo
da linha de corrente que passa pela linha de centro do duto.
Aplicando a equação de Bernoulli a um ponto fora da região de contração e expansão e outro
ponto na região de contração temos:
1 1
p1 + ρV12 + ρ g z1 = p2 + ρV22 + ρ g z2 = ρ g h (4.101)
2 2
74 Texto Preliminar, SH Sphaier
Como z1 = z2 então:
1 1
p1 + ρV12 = p2 + ρV22 (4.102)
2 2
e
1
p1 − p2 = ρ(V22 − V12 ) (4.103)
2
Como, pela equação da continuidade:
Q = V1 A1 = V2 A2 (4.104)
então:
A2 D2
V1 = V2 = V2 ( )2 (4.105)
A1 D1
Assim,
1 D2
ρ(V22 − (V22 )4 ) = p1 − p2 (4.106)
2 D1
e chegamos a uma expressão que estabelece uma relação entre a diferença de pressão e a
contração para a escolha da velocidade na região de contração:
p1 − p2
V22 = 2 (4.107)
ρ(1 − ( D
D1
2 4
))
Texto Preliminar, SH Sphaier 75
1 1
p1 + ρV12 = p2 + ρV22 = pestag = ρgh (4.108)
2 2
Observe que enquanto o manômetro faz com que a coluna externa suba até a linha piezométrica,
a coluna de fluido no tubo de Pitot alcançará a linha de energia do ponto. No caso independe
de haver ou não perda de carga. Para diminuir o tamanho do equipamento, podemos colocar
uma coluna auxiliar com um fluido mais pesado.
Da relação acima, vemos que associado a um manômetro permite que se determine a veloci-
dade no ponto:
r
pestag − p2
V2 = (4.109)
ρ/2
A partir deste resultado pode-se pensar em fazer um melhoramento no tubo de Pitot, colo-
cando um medidor de pressão diferencial como mostrado na figura 4.10.
76 Texto Preliminar, SH Sphaier
A equação original de Bernoulli pressupõe que os efeitos viscosos sejam desprezı́veis e que
acompanhemos uma linha de corrente. Quando aplicamos ao caso real de um escoamento em
um duto circular, pensamos em princı́pio em aplicá-la na linha média do escoamento. Porém
a velocidade na linha média não é mais igual à velocidade média obtida a partir da vazão.
Assim, é necessário utilizar um fator de correção, a partir da velocidade média.
A figura 4.11 mostra esquematicamente os perfı́s de velocidade média e de velocidade real.
A partir da vazão e do conhecimento do perfil de velocidades podemos então estimar o valor
máximo no centro do tubo. A questão que aparece é qual é o perfı́l real do escoamento.
Ao estudarmos o escoamento de Hagen-Poiseuilli, escoamento laminar em um tubo circular,
obtivemos uma distribuição parabólica com o raio. Podemos calcular então a velocidade
média. Assim procedendo, chegamos a:
2 2
Vmax = V (r = 0) = αVmédia (4.110)
Figura 4.12: Perfis de Velocidade em um tubo para diferentes números de Reynolds, obtidos
por Nikuradse
Para escoamento laminar chega-se a α = 2. Porém para escoamentos turbulentos este fator
dependerá do número de Reynolds. A figura 4.12 mostra resultados obtidos por Nikuradse
para o perfil de velocidades em escoamentos em dutos para distintos números de Reynolds.
Outra forma de abordar a questão é utilizar distintas leis de potência para representar o
escoamento e para obter este coeficiente α. Utilizando-se a lei 1/7 proposta por Prandtl
obtemos α ≈ 1.06.
as equações do movimento para o caso em que os efeitos viscosos não são desprezı́veis.
Consideremos que o fluido seja incompressı́vel e que as tensões cisalhantes sejam proporcionais
às taxas de deformação angular das partı́culas fluidas, conforme já mostrado no segundo
capı́tulo. Além disso, consideremos que as forças de corpo derivam de um potencial −U . Nes-
sas condições à equação de movimento (4.30) devemos incorporar as forças devidas aos efeitos
viscosos. Derivaremos então a expressão completa das forças de superfı́cie e incorporaremos
os termos das tensões cisalhantes.
Na figura 4.13 consideremos um cubo material elementar de lados dx, dy e dz. As forças
atuando nos planos perpendiculares à Ox são Px dydz e (Px + (∂Px /∂x)dx)dydz e não nec-
essariamente apontam na direção Ox. A força resultante na direção Ox é então dada por
(∂Px /∂x)dxdydz
Considerando as três direções teremos:
Este tensor tem a propriedade de ser simétrico, o que pode ser visto observando-se o cubo
acima e determinando-se o momento em torno do ponto A, ver figura 4.14.
Assim procedendo, obtemos:
e então
τyx = τxy (4.117)
Com base no que vimos no Capı́tulo I e utilizando a simetria do tensor temos:
µ ¶
∂vy ∂vx
τxy = τyx = µf + (4.118)
∂x ∂y
µ ¶
∂vy ∂vz
τyz = τzy = µf + (4.119)
∂z ∂y
µ ¶
∂vz ∂vx
τxz = τzx = µf + (4.120)
∂x ∂z
Substituindo (4.113) em (4.111) teremos então:
· µ ¶
∂σx ∂τxy ∂τxz
δP = i + + (4.121)
∂x ∂y ∂x
µ ¶
∂τxy ∂σy ∂τyz
+j + + (4.122)
∂x ∂y ∂z
µ ¶¸
∂τxz ∂τyz ∂σz
+k + + dxdydz (4.123)
∂x ∂y ∂z
As expressões (4.119) mostram relações entre as tensões e as taxas de deformação das partı́culas
fluidas. Introduzindo essas expressões em (4.122) eliminamos as tensões cisalhantes, e o ten-
sor das tensões passa a ser escrito em função do campo de velocidade. Temos entretanto as
Texto Preliminar, SH Sphaier 81
tensões normais como incógnitas do problema. De forma similar vamos então buscar relações
entre as tensões normais e os campos de velocidade. Para tal consideremos um quadrado de
lado d e com vértices A, B, C e D (ver figura ??) 1 .
0 0 0 0
Sujeito às tensões cisalhantes τ o quadrado é deformado no losango A , B , C e D . O
0 0 0 0
quadrado interno com vértices E, F , G e H é deformado no retângulo E , F , G e H . Sob
a ação das tensões τ o quadrado interno fica sujeito a tensões normais σ1 e σ2 . Equilibrando
as forças atuantes no triângulo retângulo com vértices F , C e G, temos:
d√
dτ sin(π/4) − 2σ1 = 0 (4.124)
2
e então
σ1 = τ (4.125)
De forma similar obtemos
σ2 = −τ (4.126)
e então:
σ1 − σ2 = 2τ (4.127)
Sabemos agora a relação entre as tensões normais e as tensões cisalhantes. Como conhece-
mos as relações entre as tensões cisalhantes e as deformações angulares podemos relacioná-las
às tensões normais. Nosso objetivo entretanto é relacionar as tensões às deformações lin-
eares. Assim sendo vejamos quais deformações lineares decorrem das deformações angulares.
Vejamos então qual é a elongação da diagonal AC.
0 0 0 0
A figura ?? mostra o quadrado ABCD transformado no losango A B C D . O centro M é
0
deslocado para o ponto M . O ângulo reto do vértice A torna-se igual a π/2 − θ. Como
DD0 = EE 0 = AB 0 · θ/2 (4.128)
então √ √
M M 0 = EM 0 / 2 = AB 0 / 2 · θ/2 (4.129)
e como √
AM = AB 2/2 (4.130)
Com M M 0 e AM podemos então determinar a elongação da diagonal AC como procurávamos:
CC 0 MM0 θ
²1 = = = (4.131)
AC AM 2
De forma semelhante podemos determinar a elongação da diagonal BD:
θ
²2 = − (4.132)
2
1
Seguiremos aqui a apresentação feita por Prandtl e Tietjens, ‘Fundamentals of Hydro- and Aerodynamics’,
Dover.
84 Texto Preliminar, SH Sphaier
e portanto
²1 − ²2 = θ (4.133)
Assim
∂θ ∂
σx − σy = 2τxy = 2µ = 2µ (²x − ²y ) (4.134)
∂t ∂t
Como as taxas de deformações lineares são:
∂ ∂vx
²x = (4.135)
∂t ∂x
∂ ∂vy
²y = (4.136)
∂t ∂y
∂vx ∂vy
σx − σy = 2µ( − ) (4.137)
∂x ∂y
Como mostraremos a seguir a pressão é dada por:
1
p = − (σx + σy + σz ) (4.138)
3
A partir destas relações temos:
Expressões similares são obtidas nas direções Oy e Oz. Reunindo as três expressões teremos:
1
δP = −∇p + µ∇(∇ · v) + µ∇2 v (4.145)
3
Substituindo esta expressão na expressão (4.30) e admitindo que as forças de corpo derivam
de um potencial gravitacional −U = −g z ao invés de obtermos a expressão (4.39) chegamos
a seguinte equação de movimento:
D ∇p 1
v + gk + − ν∇(∇ · v) − ν∇2 v = 0 (4.146)
Dt ρ 3
Esta equação é conhecida como equação de Navier-Stokes. Introduzindo agora a hipótese de
fluido incompressı́vel, que impõe que o divergente do campo de velocidades seja nulo, obtemos
a equação de Navier-Stokes para a hidrodinâmica:
D ∇p
v + gk + − ν∇2 v = 0 (4.147)
Dt ρ
Usando a relação
1
(v · ∇)v = ∇(v · v) − v × (∇ × v) (4.148)
2
e escrevendo as forças de corpo na forma gk = ∇(gz) obtemos:
∂v 1 p
− v × ξ = −∇( | v |2 + + gz) − ν∇2 v (4.149)
∂t 2 ρ
onde
ξ =∇×v (4.150)
Aplicando-se o operador rotacional a esta equação obtemos a equação de tranporte de vorti-
cidade
D
ξ = ξ · ∇v + ν∇2 ξ (4.151)
Dt
No caso bidimensional vale
ξ · ∇v = 0 (4.152)
e a equação (4.151) toma a forma
D
ξ = ν∇2 ξ (4.153)
Dt
Capı́tulo 5
5.1 Introdução
87
88 Texto Preliminar, SH Sphaier
Passaremos agora a estudar alguns escoamentos bidimensionais pelas suas funções de corrente
e potencial. As funções que descrevem a função de corrente e a função potencial de velocidades
são soluções da equação de Laplace. Entretanto ao invés de obtermos estas funções resolvendo
formalmente a equação de Laplace faremos um processo inverso. Inicialmente observaremos o
escoamento, com base no campo de velocidades e então chegaremos às expressões das funções
φ e ψ. Em alguns casos necessitaremos trabalhar com coordenadas polares. Introduzindo as
coordenadas polares r e θ relacionadas com x e y por(ver a figura 5.1):
logo as funções
φ = f1 (x, y) = f1 (g1 (r, θ), g2 (r, θ)) = F1 (r, θ) (5.2)
ψ = f2 (x, y) = f2 (g1 (r, θ), g2 (r, θ)) = F2 (r, θ) (5.3)
∂φ ∂φ ∂x ∂φ ∂y
= + (5.4)
∂θ ∂x ∂θ ∂y ∂θ
∂φ ∂φ ∂x ∂φ ∂y
= + (5.5)
∂r ∂x ∂r ∂y ∂r
Texto Preliminar, SH Sphaier 89
Como
∂x
= −r sin θ (5.6)
∂θ
∂y
= r cos θ (5.7)
∂θ
∂x
= cos θ (5.8)
∂r
∂y
= sin θ (5.9)
∂r
Então:
∂φ
= −vx r sin θ + vy r cos θ = rvθ (5.10)
∂θ
∂φ
= vx cos θ + vy sin θ = vr (5.11)
∂r
ou
∂φ
vr =
= vx cos θ + vy sin θ (5.12)
∂r
∂φ
vθ = = −vx sin θ + vy cos θ (5.13)
r∂θ
De forma semelhante obtemos para a função ψ:
∂ψ
vr = = vx cos θ + vy sin θ (5.14)
r∂θ
∂ψ
vθ = − = −vx sin θ + vy cos θ (5.15)
∂r
Um escoamento retilı́neo uniforme com velocidade V constante na direção x é dado por (ver
figura 5.2):
v =Vi (5.16)
logo:
vx = V vy = 0 (5.17)
Como
∂ψ ∂ψ ∂ψ
dψ = dx + dy = dy = −vy dx + vx dy (5.18)
∂x ∂y ∂y
Então Z Z Z Z
∂ψ ∂ψ
ψ= dψ = ( dx + dy) = (−vy dx + vx dy) = V dy (5.19)
∂x ∂y
Texto Preliminar, SH Sphaier 91
ou
ψ =Vy+C (5.20)
onde C é uma constante.
Vemos assim que as linhas de corrente são paralelas ao eixo Ox como era esperado.
Observando agora a função potencial de velocidades temos:
Z Z Z Z
∂φ ∂φ
φ = dφ = ( dx + dy) = (vx dx + vy dy) = V dx (5.21)
∂x ∂y
ou
φ=Vx+C (5.22)
onde C é uma constante.
As linhas equipotenciais são paralelas ao eixo Oy.
q
vr = vθ = 0 (5.23)
2πr
Diferenciando a função ψ
∂ψ ∂ψ
dψ = dr + dθ = −vθ dr + vr rdθ = vr rdθ (5.24)
∂r ∂θ
Assim Z Z
q qθ
ψ= vr rdθ = rdθ = +C (5.25)
2πr 2π
onde C é uma constante. Fazendo ψ = 0 para θ = 0 obtemos C = 0. Logo
qθ
ψ= (5.26)
2π
Texto Preliminar, SH Sphaier 93
Diferenciando a função φ
∂φ ∂φ
dφ = dr + dθ = vr dr + vθ rdθ = vr dr (5.27)
∂r ∂θ
Assim Z Z
q q
φ= vr dr = dr = ln r + C (5.28)
2πr 2π
onde C é uma constante. Vemos neste caso que temos um ponto de descontinuidade r = 0.
Fazendo C = 0 temos
q
φ= ln r (5.29)
2π
A figura 5.3 mostra o conjunto de linhas de corrente e linhas equipotenciais para uma fonte.
Chamamos vórtice livre a um escoamento irrotacional em que as linhas de corrente são cı́rculos
concêntricos. Consequentemente as componentes de velocidades radiais são nulas. Sendo um
escoamento irrotacional, pelo teorema de Stokes a circulação deverá ser zero ao longo de
qualquer contorno cuja área por ele envolvida que não tenha pontos de descontinuidades
para a velocidade. A partir destas premissas vamos então determinar as funções de corrente e
potencial de velocidades, e o campo de velocidades. Consideremos uma área A e um elemento
de área dA em A, conforme indicado na figura 5.4. Calculemos a circulação em torno da curva
LA contorno de A.
Z
Γ= dΓ (5.30)
A
O terceiro termo do segundo membro é de terceira ordem enquanto os outros são de segunda
ordem, podendo ser desprezado. Assim
∂vθ ∂vθ d(vθ r) d(vθ r)
dΓ = vθ drdθ + dvθ rdθ = vθ drdθ + drrdθ = (vθ + r)drdθ = rdrdθ = dA
∂r ∂r rdr rdr
(5.35)
E a integral de dΓ é dada por Z
d(vθ r)
Γ= dA (5.36)
A rdr
Mas Γ = 0 o que nos leva a d(vθ r)/rdr = 0 ou vθ r = C onde C é uma constante
Com isto observamos que no núcleo do escoamento há um ponto de descontinuidade.
A circulação ao longo de uma linha de corrente a um raio r será:
Z
Γ= vθ rdθ = 2πrvθ = 2πC (5.37)
LA
Vemos assim que a circulação é constante e diferente de zero para qualquer linha de corrente
radial. Isto não implica em que o regime seja rotacional, como a princı́pio poderı́amos pensar
com base no teorema de Stokes. Entretanto, observando as condições para sua aplicação
vemos que não pode ser empregado neste caso. A velocidade não é definida em todo o interior
de LA .
A circulação ao longo de uma linha de corrente é a grandeza que caracteriza o vórtice. Pode-
mos mostrar que sempre que calcularmos a circulação ao longo de uma linha fechada contendo
em seu interior o ponto central, esta será igual a 2πC = Γ. Se o ponto central não está contido
no interior do contorno então a circulação é nula. Esta observação é interessante pois nos
leva a dizer que esta região singular no centro do vórtice, trabalha como um “indutor” de
vorticidade. Assim, se considerarmos que a região central tem uma distribuição de vorticidade
ξ sobre uma área dA, sem que necessitemos entrar no interior desta área, teremos:
Z Z Z Z Z
Γ= vθ rdθ = 2πrvθ = ξdA = ∇ × vdA (5.38)
LA A A
Esta forma de tratar o problema abre um capı́tulo da hidrodinâmica que está voltado para
o estudo de escoamentos encontrados na Natureza, onde observamos regiões dotadas de uma
vorticidade induzindo um escoamento potencial para o meio fluido. A partir da diferencial da
função ψ temos:
∂ψ ∂ψ Γ
dψ = dr + dθ = −vθ dr + vr rdθ = −vθ dr = dr (5.39)
∂r ∂θ 2πr
que integrada leva a:
Z Z
Γ Γ
ψ= vθ dr = − dr = − ln r + C1 (5.40)
2πr 2π
Texto Preliminar, SH Sphaier 97
∂φ ∂φ
dφ = dr + dθ = vr dr + vθ rdθ = vθ rdθ (5.41)
∂r ∂θ
chegamos a:
Z Z
Γ Γ
φ= vθ rdθ = rdθ = θ + C2 (5.42)
2πr 2π
dΓ = ω(r + dr)(r + dr)dθ − ωr(rdθ) = ωr2 dθ + ωrdrdθ + ωrdrdθ + ωdrdrdθ − ωr2 dθ = 2ωrdrdθ
(5.44)
Texto Preliminar, SH Sphaier 99
Acima vimos alguns escoamentos potenciais básicos, obtendo suas funções potencial de ve-
locidades e de corrente a partir da definição do escoamento. Passaremos aqui a compor novos
escoamentos a partir dos escoamentos básicos.
Em um ponto P de um escoamento cuja função de corrente é dada por ψA temos uma ve-
locidade vA (figura 5.7). No mesmo ponto devido a um outro escoamento cuja função de
100 Texto Preliminar, SH Sphaier
qθ qθ
ψ =Vy+ = V r sin θ + (5.53)
2π 2π
As velocidades são dadas por:
∂ψ
vθ = − = −V sin θ (5.54)
∂r
∂ψ q
vr = = V cos θ + (5.55)
r∂θ 2πr
O escoamento terá a forma indicada na figura 5.8. No centro da fonte as velocidades são
infinitamente grandes e decrescem a medida que nos afastamos dele. Decrescem mais rapida-
mente para a esquerda, devido ao escoamento retilı́neo. Haverá um ponto de estagnação no
eixo Ox negativo (ponto S), para o qual a velocidade será nula. As partı́culas que partem
Texto Preliminar, SH Sphaier 101
da fonte para a esquerda não conseguem ultrapassar este ponto retornando para a direita do
escoamento, formando uma linha que podemos considerar como um contorno de um corpo.
As partı́culas que se deslocam para a direita tem inicialmente velocidades superiores a do
escoamento retilı́neo, uma vez que a ação da fonte se dá no mesmo sentido. A medida que se
afastam do centro tem suas velocidades decrescendo.
Observando a linha de corrente que passa pelo ponto de estagnação, dividindo o escoamento
em duas regiões pode ser imaginada como o contorno de um corpo semi-infinito. Assim vemos
que escoamentos em torno de corpos podem ser estudados por combinações semelhantes a
acima.
Para determinar a equação da linha de corrente para o contorno, calculemos inicialmente o
valor da coordenada x para o ponto de estagnação. Neste ponto as velocidades são nulas.
Com
vθ = −V sin θ = 0 (5.56)
temos θ = 0 ou π e r = xs . Com
q
vr = V cos θ + =0 (5.57)
2πxs
temos
q
xs = − e θ=π (5.58)
2πV
A função de corrente neste ponto assumirá o valor
qπ q
ψ(r = xs , θ = π) = V r sin π + = (5.59)
2π 2
A linha ψ = q/2 passa pelo ponto de estagnação, e a equação da linha de contorno do corpo
será:
qθ q
V r sin θ + = (5.60)
2π 2
isto é, esta equação define o lugar geométrico dos pontos (r, θ) que formam a linha de corrente
que passa pelo ponto de estagnação.
Outras dimensões importantes:
qθ q
V r sin θ + = com y = r sin θ = r sin(π/2) (5.61)
2π 2
e com isto
q
y= (5.62)
4V
102 Texto Preliminar, SH Sphaier
Concluı́mos assim que a linha de corrente formando o contorno divisório das duas regiões flu-
idas, estende-se assintoticamente com x → ∞ para os valores y = ±q/2V ; é o caso conhecido
como meio corpo em escoamento retilı́neo.
Da equação da função de corrente vemos que as linhas de corrente são linhas de α = con-
stante. Podemos verificar geometricamente que as linhas de corrente são circunferências
passando pela fonte e pelo sumidouro. A partir da expressão da função ψ em coordenadas
cartesianas podemos calcular as velocidades vx e vy . Entretanto torna-se mais simples obter
as velocidades para cada um dos escoamentos separadamente e soma-las de acordo com o
princı́pio da superposição visto anteriormente.
5.3.4 Dipolo
AB → rα = 2a sin θ (5.72)
sin θ
ψ = V r sin θ − q( ) (5.75)
r
cos θ
φ = V r cos θ + q( ) (5.76)
r
onde q = M/(2π). Com esta expressão podemos determinar os campos de velocidades vr e vθ
∂φ ∂ψ q cos θ
vr = = = V cos θ − (5.77)
∂r r∂θ r2
∂φ ∂ψ q sin θ
vθ = =− = −V sin θ − (5.78)
r∂θ ∂r r2
Observando a expressão da velocidade radial podemos dizer que existe um certo raio:
p
r = R = q/V (5.79)
para o qual a velocidade radial é nula. Isso é, existe uma linha circular fechada com raio
r = R para a qual vr = 0. Somente a velocidade tangencial, dada por vθ , é diferente de zero.
Esse cı́rculo é uma linha de corrente que divide o escoamento em duas regiões: uma interna
ao cı́rculo e outra externa.
Isso quer dizer que, se quisermos representar o escoamento plano em torno de um cı́rculo com
raio R, podemos usar a superposição de um escoamento retilı́neo e um dipolo com intensidade
q = V R2 .
108 Texto Preliminar, SH Sphaier
Com este resultado podemos reescrever as expressões das funções potencial e de corrente em
termos do raio do cı́rculo e da velocidade incidente na forma:
sin θ R2
ψ = V r sin θ − V R2 ( ) = V r sin θ(1 − 2 ) (5.80)
r r
cos θ R2
φ = V r cos θ + V R2 ( ) = V r cos θ(1 + 2 ) (5.81)
r r
Para uma visualização do escoamento, ver a figura 5.12. O escoamento externo é aquele
esperado caso os efeitos viscosos pudessem ser desprezados. A velocidade resultante ao longo
deste cı́rculo deve-se unicamente à velocidade vθ :
v = vθ iθ = −2V sin θiθ (5.82)
Isto significa que a velocidade ao longo do cı́rculo nos pontos onde θ = π/2 e θ = 3π/2 alcança
seus valores máximos em módulo e iguais a duas vezes a velocidade do escoamento incidente,
figura 5.13.
Texto Preliminar, SH Sphaier 109
∂φ ρ
p = −(ρ + | ∇φ |2 +ρgy) (5.84)
∂t 2
Deixando de considerar os efeitos gravitacionais, isto e, considerando somente os efeitos hidro-
dinamicos teremos:
∂φ ρ
pdin = −(ρ + | ∇φ |2 ) (5.85)
∂t 2
ρ
pdin = −ρV̇ R cos θ(1 + 1) − (−2V sin θ)2 (5.86)
2
Para o cálculo da força hidrodinâmica temos:
Z
F= pndL (5.87)
L
onde n é a normal voltada para fora do fluido, isto é para dentro do cı́rculo, e dL = Rdθ.
A figura 5.14 mostra a distribuição de pressão ao longo de um cı́rculo.
O conceito de massa adicional vem da interpretação dos resultados obtidos quando calculamos
as forças atuantes em um corpo. As componentes da força F são:
Z 2π
Fx = i · F = −R p cos θdθ (5.88)
0
Z 2π
Fy = j · F = −R p sin θdθ (5.89)
0
- junto ao corpo
∂φ
= V cos(n, x) = V i · n = −V cos θ (5.94)
∂n
Texto Preliminar, SH Sphaier 113
Vemos assim que há uma reação do fluido proporcional a aceleração porém em sentido
contrário ao da aceleração. Ao fator de proporcionalidade entre a força e a aceleração dá-se
o nome de massa adicional por ter dimensão de massa M . Notemos que neste caso o valor
da massa adicional é igual a massa de fluido deslocada. Entretanto, este resultado não pode
ser generalizado para outra qualquer forma de corpo. Nem sempre a massa adicional é igual
a massa do volume deslocado.
Caso quiséssemos determinar a força de propulsão T para acelerar um cı́rculo de massa M ,
em um plano bidimensional terı́amos, pela lei de Newton:
M V̇ = T + Fhidrodin. (5.102)
Como
Fhidrodin. = −ρπR2 V̇ = −AV̇ (5.103)
então
T = (M + A)V̇ (5.104)
Tudo se passa como se ”adicionássemos”uma massa fluida à massa do corpo; por isto o nome
massa adicional.
114 Texto Preliminar, SH Sphaier
Γθ
φ2 = ± (5.105)
2π
As funções potencial de velocidades e de corrente, e os campos de velocidades são dados por:
sin θ Γ
ψ = V r sin θ − q( )∓ ln r (5.106)
r 2π
cos θ Γθ
φ = V r cos θ + q( )± (5.107)
r 2π
∂φ ∂ψ q cos θ q
vr = = = V cos θ − 2
= V cos θ(1 − 2 ) (5.108)
∂r r∂θ r r
∂φ ∂ψ q sin θ Γ R2 Γ
vθ = =− = −V sin θ − 2
) ± = −V sin θ(1 + 2
)± (5.109)
r∂θ ∂r r 2πr r 2πr
Observando a expressão da velocidade radial podemos ver que continuaremos com uma linha
de corrente circular fechada para r = R e para a qual vr = 0, dividindo o escoamento em
duas regiões. Entretanto os pontos de estagnação deslocam-se das posições (r = R, θ = 0)
e (r = R, θ = π), uma vez que a vθ não mais se anula nestas posições. Pode haver até dois
pontos de estagnação na superfı́cie do cı́rculo, definidos por
Γ
θ = arcsin( ) (5.110)
4πRU
Assim de acordo com a relação entre Γ e 4πRU poderemos ter:
A figura 5.15 mostra a forma das linhas de corrente resultante desta superposição, represen-
tando uma seção circular em um escoamento retilı́neo com circulação.
Consideremos agora o caso em que a velocidade incidente e a circulação são constantes. Isto
é, o regime é permanente e por conseguinte as derivadas temporais são nulas. A pressão
dinâmica é dada por:
ρ Γ 2 sin θ
pdin = − ((2V sin θ)2 + ( ) ) − ρΓV (5.118)
2 2πR πR
O primeiro termo quadrático corresponde a superposição de um escoamento retilı́neo uni-
forme e um dipolo, resultando na representação do escoamento de um fluido ideal em torno
de um cı́rculo. Este caso foi estudado anteriomente e resulta que a distribuição de pressões
e simétrica, não sendo gerada força hidrodinâmica. O segundo termo quadrático gera uma
contribuição constante, uma queda na pressão devida à velocidade gerada unicamente pelo
vórtice. Já o terceiro termo deve-se ao produto cruzado das velocidades do escoamento
retilı́neo uniforme incidindo sobre o cı́rculo e o vórtice. Esta componente gera uma dis-
tribuição simétrica em relação ao eixo Oy, porém não simétrica em relação ao eixo Ox.
Somada as outras contribuições gera uma força na direção vertical.
A figura 5.16 mostra a forma da distribuição de pressões em torno de uma seção circular em
um escoamento retilı́neo com circulação.
O conceito de força de sustentação vem da interpretação dos resultados obtidos quando calcu-
lamos as forças atuantes em um corpo. Procedendo como para o caso do cı́rculo sem circulação
substituimos a expressão da pressão na expressão das forças e obtemos
Fy = ρV Γ (5.119)
A força na direção vertical não será mais igual a zero. A presença do vórtice gera uma força
de sustentação.
Retornemos paqui ao ponto, quando observávamos que para uma certa linha fechada com
r = R = q/V o escoamento era dividido em duas regiões. Nesta linha r = R, vr = 0,
o procedimento foi, estipular a priori que adotarı́amos um dipolo superposto ao escoamento
retilı́neo, para então concluir que havia um cı́rculo divisor das regiões. O problema mais geral
é termos a forma do corpo e buscarmos a representação do escoamento em torno deste corpo.
Para que possamos caracterizar a existência de um corpo devemos impor a não penetração
Texto Preliminar, SH Sphaier 117
e
∂φ
=0 (5.122)
∂n
no contorno do corpo. Consequentemente
0
∂φ
V cos(n, x) + =0 (5.123)
∂n
ou 0
∂φ
= −V cos(n, x) (5.124)
∂n
sobre o corpo, o que sugere
0
φ (x, y, t) = V (t)ϕ(x, y) (5.125)
e então
∂ϕ
= − cos(n, x) = −nx (5.126)
∂n
Caso o corpo esteja em movimento horizontal com velocidade U e o fluido em repouso temos:
∂φ
= Un = U i · n = U cos(n, x) = U nx (5.127)
∂n
ou
φ(x, y, t) = U (t)ϕ(x, y) (5.128)
e então
∂ϕ
= cos(n, x) = nx (5.129)
∂n
Texto Preliminar, SH Sphaier 119
Vamos agora tratar do caso em que o corpo tem movimentos lineares com velocidades horizon-
tal e vertical, respectivamente u1 e u2 e movimento de rotação em torno do eixo perpendicular
ao plano com velocidade ω = u3 k. O potencial de velocidades, que descreve o escoamento φ
satisfaz a equação de Laplace
∇2 φ = 0 (5.130)
e junto ao corpo
∂φ
= un = (u1 i + u2 j + ω × r) · n (5.131)
∂n
3
X
= u1 n1 + u2 n2 + u3 (xn2 − yn1 ) = u1 n1 + u2 n2 + u3 n3 = ui n i (5.132)
i=1
ou
X 3
∂φ
= un = ui n i (5.133)
∂n i=1
onde
∂ϕi
= ni (5.135)
∂n
Z µ ¶ Z µ ¶
∂g ∂f ∂g ∂f
+ f −g dS + f −g dS = 0 (5.138)
Sf ∂n ∂n S∞ ∂n ∂n
X 3
∂φ |∇φ|2 |∇φ|2
p = −ρ −ρ = −ρ u̇i ϕi − ρ (5.141)
∂t 2 i=1
2
3
X
pt = −ρ u̇i ϕi (5.142)
i=1
obtemos:
Z 3
X Z 3
X
Fj = pnj dS = −ρ u̇i ϕi nj dS = − λji u̇i (5.143)
Sc i=1 Sc i=1
onde:
∇2 φ 2 = 0 e φ1 = φ2 = φ (5.147)
teremos: Z Z
∂φ ∂φ
Ec = φ dL + φ dL (5.148)
Lc ∂n L∞ ∂n
onde Lc é o contorno do corpo e L∞ é um contorno em infinito. Para um escoamento bidi-
mensional sem superfı́cie livre a contribuição sobre o contorno em infinito é nula, logo:
Z
∂φ
Ec = φ dL (5.149)
Lc ∂n
Por outro lado as funções potencial de velocidades e de corrente tem a seguinte relação
∂φ ∂ψ
= (5.150)
∂n ∂s
onde s é ortogonal a n
Ao longo de Lc ∂ψ/∂n = 0
e então:
∂ψ ∂ψ
dψ = ds + dn = ψs ds (5.151)
∂s ∂n
Assim obtemos Z
ρ
Ec = − φdψ (5.152)
2 Lc
Como vimos acima podemos escrever φ(x, y, t) = U (t)ϕ(x, y)e então
Z Z Z
ρ ∂U ϕ ρ ∂ϕ ρ AU 2
Ec = − Uϕ dL = − U 2 ϕ dL = − U 2 ϕ cos(n, x)dL = − (5.153)
2 Lc ∂n 2 Lc ∂n 2 Lc 2
122 Texto Preliminar, SH Sphaier
Vemos assim que a energia cinética do fluido é a metade do produto da massa adicional pela
velocidade ao quadrado. Com isto podemos dizer que a massa adicional não está ligada à
aceleração do corpo. É uma propriedade hidrodinâmica que só depende da geometria do
corpo.
Capı́tulo 6
6.1 Introdução
Quando nos deparamos com um problema novo a ser estudado, pode-se pensar em ir a um
laboratório e simular fisicamente o problema, e variando as diversas grandezas intervenientes
obter-se uma compreensão do problema e até mesmo o resultado desejado. Outra vantagem
seria a possibilidade de fazermos variações sistemáticas das grandezas intervenientes e desco-
brir o comportamento do que se busca estudar. Esbarramos, entretanto, em duas dificuldades:
as dimensões do problema a ser simulado no laboratório e a grande variação de casos a serem
analisados. Deve-se observar que ao experimentar e medir grandezas em um laboratório lida-
se com procedimentos dimensionais. Entretanto, para melhor entendermos o fenômeno ou
as diferenças entre vários fenômenos recorremos ao estudo dos resultados e das grandezas na
forma adimensional. Com isto, questões quanto às dimensões do problema e o número de
variáveis podem ser superadas.
A primeira questão a ser trabalhada é a identificação das grandezas envolvidas no fenômeno
fı́sico. Por sinal, muitas vezes as várias grandezas envolvidas são totalmente conhecidas, mas
entretanto as relacões entre elas não o são.
Por um procedimento chamado análise dimensional o fenômeno pode ser formulado como
uma relação entre um conjunto de grupos adimensionais. Uma grande vantagem deste pro-
cedimento é que determinam-se relações entre as diversas variáveis com um menor número de
experiências.
Caso queira-se expressar uma certa grandeza, a variável dependente do problema, em ter-
123
124 Texto Preliminar, SH Sphaier
mos de outras tantas grandezas, as variáveis independentes, pode-se dizer que a combinação
das variáveis independentes tem que gerar quantidades com a mesma dimensão da variável
independente, embora não necessariamente saiba-se a relação funcional entre elas. Assim,
se combinarmos variáveis independentes através de potenciação, multiplicações ou divisões a
dimensão resultante tem que ser a mesma da variável dependente. A partir disto pode-se pen-
sar em expressar a variável dependente através de uma quantidade dada pela relação entre a
variável dependente e algumas variáveis independente para formar uma relação adimensional.
Neste caso, passa-se a buscar a dependência funcional desta nova quantidade em termos de
grupos formados pelas variáveis independentes, porém que sejam adimensionais.
Com isso introduz-se a seguinte definição. Quando um grupo de quantidades é formado
por potenciação, multiplicações ou divisões e a dimensão resultante é unitária, este grupo
é chamado de grupo adimensional. Por exemplo, se é de interesse estudar a força em uma
esfera exposta a um escoamento, pode-se dizer que se quer expressar a força em função da
velocidade do escoamento U , em que a esfera tem diâmetro D, e as caracterı́sticas do fluido
são sua densidade ρ e sua viscosidade dinâmica µ. Com essas grandezas pode-se dizer que a
relação
· ¸ M L
ρU D L2 T
L
= M = [1] (6.1)
µ LT
define um grupo adimensional. Por outro lado a força atuando sobre a esfera é descrita por
uma certa quantidade de experiência desenvolvidas para descrever a função F força na forma
F = f (D, U, ρ, µ) (6.2)
pode-se universalizar para várias esferas os resultados obtidos para uma esfera. Além disto,
pode-se ter uma maior compreensão fenomenológica com apenas algumas experiências em um
laboratório.
Convém salientar que não necessariamente um ou dois grupos adimensionais seriam sufi-
cientes para definir unicamente uma relação que permitisse reunir os resultados para uma
famı́lia de configurações semelhantes. Isto vai depender de quantos arranjos adimensionais
independentes será possı́vel formar com as variáveis independentes. A resposta à questão de
quantos grupos adimensionais são necessários para reduzir a formulação e as experiências em
laboratório para se descrever um fenômeno ou uma relação é estabelecida pelo teorema de
Buckingham ou teorema dos Πs.
Texto Preliminar, SH Sphaier 125
O número de grupos adimensionais independentes que pode ser empregado para descrever um
fenômeno conhecido que envolva n variáveis é igual ao número n − r onde r é o número de
dimensões básicas para exprimir as variáveis dimensionalmente.
U - velocidade média
ρ - massa especı́fica
µ - viscosidade dinâmica
D - diâmetro do tubo
L - comprimento do tubo
e - rugosidade
∆p = f (ρ, µ, U, L, D, e) (6.4)
∆p = k1 (ρa1 µb1 U c1 Ld1 Df1 eg1 ) + k2 (ρa2 µb2 U c2 Ld2 Df2 eg2 ) + .... (6.5)
onde
para [M ]
1=a+b (6.7)
para [T ]
−1 = −3a − b + c + d + f + g (6.8)
para [L]
−2 = −b − c (6.9)
São três equações a seis incógnitas, que resolvidas para 3 delas em função das outras três
fornece por exemplo:
a=1−b (6.10)
f = −b − d − g (6.11)
para [L]
c=2−b (6.12)
e então:
∆p = k(ρ1−b µb U 2−b Ld D−b−d−g eg ) (6.13)
∆p µ b L d e g
2
= k( )( ) ( ) (6.14)
ρU ρU D D D
logo
∆p µ b1 L d1 e g1 µ b2 L d2 e g2
2
= k( ) ( ) ( ) + k( ) ( ) ( ) + ..... (6.15)
ρU ρU D D D ρU D D D
ou
∆p µ L e
2
= f( , , ) (6.16)
ρU ρU D D D
6.3 Semelhança
Outra forma similar de abordar o problema é analisar o fenômeno como se o objetivo fosse o de
fazer uma experiência com um modelo do mesmo fenômeno, porém com dimensões diferentes.
Para tal é necessário que ambas experiências sejam semelhantes.
Diz-se que para haver semelhança entre dois fenômenos é necessário que haja semelhança
geométrica, cinemática e dinâmica.
Texto Preliminar, SH Sphaier 127
Como dito acima, para que se tenha semelhança dinâmica é necessário ter-se semelhança
cinemática e também que a distribuição de massa seja tal que a razão de densidade para
pontos correspondentes seja a mesma para todos os pontos.
A semelhança cinemática implica em que as acelerações e as velocidades para pontos cor-
respondentes sejam paralelas e que tenham razão constante para pontos correspondentes.
Assim, as forças resultantes das ações em cada massa terão as mesmas direções e se houver
semelhança de distribuição de massas a razão entre as forças é uma constante para pontos
correspondentes.
FI m FI p
= (6.18)
FP m FP p
FI m FI p
= (6.19)
FA m FA p
FI m FI p
= (6.20)
FG m FG p
130 Texto Preliminar, SH Sphaier
Por outro lado a força de atrito aplicada a uma área dA = ds · dl é dada por:
∂τ
FA = dV (6.21)
∂n
onde
ρ dV g (6.26)
¯ ¯
ρ v ∂v ¯ ρ v ∂v ¯
∂s ¯ ¯
¯ = ∂ 2∂sv ¯
∂ 2 v ¯m
(6.27)
µ( ∂n2 ) µ( ∂n2 ) ¯p
¯ ¯
ρ v ∂v ¯ ρ v ∂v ¯
∂s ¯ ¯
∂p ¯¯m
= ∂p∂s ¯ (6.28)
∂n ∂n
¯
p
¯ ¯
ρ v ∂v ¯ ρ v ∂v ¯
∂s ¯ ∂s ¯
¯m = ¯ (6.29)
ρg ¯ ρg ¯
p
Texto Preliminar, SH Sphaier 131
Por haver semelhança as relações entre grandezas locais podem ser representadas por relações
globais ou em pontos pré estabelecidos. O mesmo se dá para relações de diferenças. Assim,
por exemplo:
∂vp Up
= (6.30)
∂vm Um
∂np Lp
= (6.31)
∂nm Lm
∂pp p0,p
= (6.32)
∂pm p0,m
vp Up
= (6.33)
vm Um
Lançando mão dessas grandezas, a partir das relações acima obtém-se os grupos adimensionais
conhecidos como número de Reynolds, número de Froude e número de Euler.
O grupo adimensional que advém da relação entre as forças inercias e as forças de atrito é
conhecida como número de Reynolds
FI m FI p
Re|m = Re|p = = (6.34)
FA m FA p
ou ¯ ¯
ρv ∂v ¯ ρv ∂v ¯
¯ ¯
Re|m = Re|p = ∂ ∂s
2v ¯m = ∂ ∂s
2v ¯ (6.35)
µ( ∂n2 ) ¯ µ( ∂n2 ) ¯p
e finalmente
ρU L
Re|m = Re|p = (6.36)
µ
ou ¯ ¯
ρv ∂v ¯ ρv ∂v ¯
∂s ¯ ∂s ¯
F r|m = F r|p = ¯m = ¯ (6.38)
ρg ¯ ρg ¯
p
e finalmente
U
F r|m = F r|p = √ (6.39)
gL
A relação entre as forças de pressão e as forças inerciais gera o grupo adimensional conhecido
como número de Euler
FP m FP p
Eu|m = Eu|p = = (6.40)
FI m FI p
ou ¯ ¯
ρv ∂v ¯ ρv ∂v ¯
¯ ¯
Eu|m = Eu|p = ∂p∂s ¯m = ∂p∂s ¯ (6.41)
∂n
¯ ∂n
¯
p
e finalmente
p0
Eu|m = Eu|p = (6.42)
ρU 2
O arrasto atuante sobre uma placa plana lisa imersa em um escoamento retilı́neo bidimensional
(de dimensão lateral infinita em que o escoamento se repete ao longo desta dimensão) incidindo
na direção longitudinal da placa ou, a resistência oferecida pela água quando uma placa plana
desloca-se imersa na direção de seu plano é de um grande interesse na Engenharia Oceânica.
Utilizando-se experiências em laboratório, quer-se determinar uma relação entre a força de
arrasto F e as grandezas
ρ - massa especı́fica
µ - viscosidade dinâmica
L - comprimento o placa
Texto Preliminar, SH Sphaier 133
equação
0.242
√ = log10 (RnCF ) (6.45)
CF
e foi obtida por Schoenherr a partir da formulação teórica de Prandtl e von Karman
A
√ = log10 (RnCF ) + M (6.46)
CF
A sustentação conseguida para manter um avião voando é providenciada por suas asas e
mais particularmente, por cada elemento de asa, que imaginado como o elemento básico de
uma asa infinita é chamado de perfil. Além da força de arrasto, quer-se determinar a força de
sustentação. O problema é similar ao da placa entretanto duas novas grandezas intervenientes
têm que ser consideradas, o ângulo de ataque e as espessuras do perfil.
Uma famı́lia de perfis é caracterizada por uma lei geral de formação da face e do dorso
diferindo-se cada perfil somente por uma espessura caracterı́stica. Assim, as grandezas inter-
venientes no fenômeno são:
D - força de arrasto
L - força de sustentação
ρ - massa especı́fica
µ - viscosidade dinâmica
c - corda
e - espessura caracterı́stica
α - ângulo de ataque
L = g(c, U, ρ, µ, α, e) (6.47)
D = f (c, U, ρ, µ, α, e) (6.48)
Texto Preliminar, SH Sphaier 135
L ρU c e
CL = 2
= g1 ( , α, ) (6.49)
0.5ρU c µ c
D ρU c e
CD = 2
= f1 ( , α, ) (6.50)
0.5ρU c µ c
Os resultados obtidos experimentalmente mostram que o coeficiente de sustentação não de-
pende do número de Reynolds e que concordam bastante bem com resultados obtidos pela
teoria potencial.
As figuras 6.4 e 6.5 mostram resultados experimentais obtidos para perfı́s na forma adimen-
sional
136 Texto Preliminar, SH Sphaier
Força de Arrasto
No caso de uma esfera colocada num escoamento retilı́neo uniforme as grandezas que carac-
terizam o fenômeno são:
D - força de arrasto
ρ - massa especı́fica
µ - viscosidade dinâmica
d - diâmetro da esfera
Força de Arrasto
ρ - massa especı́fica
µ - viscosidade dinâmica
d - diâmetro
D ρU d
CD = 2
= f( ) (6.54)
0.5ρU d µ
L ρU d
CL = = f ( ) (6.55)
0.5ρU 2 d µ
L - força de sustentação
U - velocidade de avanço da placa
ρ - massa especı́fica
µ - viscosidade dinâmica
D - diâmetro
Em 1950, foi proposta a fórmula de Morison para o cálculo da força por unidade de compri-
mento atuante em um pilar cilı́ndrico vertical em ondas, perpendicular ao eixo do cilindro:
144 Texto Preliminar, SH Sphaier
ρ πD2
f = CD Du|u| + CM ρ u̇ (6.59)
2 4
onde:
ρ - Massa especı́fica
D - Diâmetro do Pilar
Esta expressão, proposta de uma forma semi-intuitiva, pode ser justificada, uma vez que ao se
considerar um escoamento retilı́neo acelerado bidimensional de um fluido ideal (não viscoso),
incidindo sobre uma seção circular, atuará uma força sobre o cilindro, resultante das pressões
hidrodinâmicas, com intensidade proporcional à aceleração da massa fluida, tendo a seguinte
expressão:
πD2 πD2
fI = CM ρ u̇ = (1 + CAD )ρ u̇ (6.60)
4 4
onde:
f = fI + fD (6.62)
πD2 ρ
f = CM (Re)ρ u̇ + CD (Re) Du|u| (6.63)
4 2
Para a determinação dos valores de CM e CD , para o cálculo das forças devidas às ondas,
outros parâmetros devem ser considerados, os quais representam a rugosidade da superfı́cie
do cilindro e o movimento oscilatório das partı́culas fluidas.
Keulegan e Carpenter conduziram algumas experiências para o cálculo de forças de onda,
atuando em um cilindro, em 1958. O cilindro de teste foi colocado horizontalmente abaixo
da superfı́cie livre numa posição correspondente a um nodo de uma onda estacionária, de
comprimento de onda suficientemente grande em comparação com a profundidade. Nessas
experiências foi observada a dependência de CM e CD com o perı́odo de oscilação. Os valores
médios de CM e CD são funções do número de Keulegan-Carpenter, KC, definido por
Um T
KC = (6.64)
D
onde:
Texto Preliminar, SH Sphaier 147
T - é o perı́odo da corrente e
D - é o diâmetro do cilindro.
Um navio avança na superfı́cie livre provocando variações da pressão junto à superfı́cie livre,
o que acarretará automáticamente movimento da superfı́cie para equilibrar a pressão at-
mosférica constante. Assim, forças gravitacionais, forças viscosas e forças de inércia de-
vem obedecer uma relação de semelhança. Como decorrência as igualdades dos números de
Reynolds e de Froude devem ser obedecidas.
Com este resultado tem-se que o coeficiente de resistência total é dado por:
Rt
Ct = = f (F rp , Rep ) (6.69)
0.5ρp Up2 L2p
Admitindo-se que o fluido em que se ensaie o modelo é a água e não se podendo mudar a
acaleração da gravidade chega-se a um impasse. Para satisfazer a igualdade dos números de
Reynolds é necessário que
Um Lm = Up Lp (6.70)
U U
√ m = pp (6.71)
Lm Lp
Deve-se observar que o método de Froude isola a parte da força de origem gravitacional, que
representa a resistência devida a formação de ondas, e que, na época que Froude enunciou o
procedimento, não se conhecia o fenômeno camada limite e sua separação. Embora a forma
da esteira viscosa já havia sido observada e comentada por Leonardo da Vinci.
As figuras 6.12 e 6.13 mostram a forma de se representar os resultados de resistência de um
navio utilizando o método de Froude segundo a proposta de Telfer, em forma adimensional
em função dos números de Froude e de Reynolds introduzindo também a linha friccional do
ITTC e do ATTC.
Texto Preliminar, SH Sphaier 149
6.5.7 Propulsores
6.5.8 Cavitação
Acima mostrou-se que as forças devidas às pressões, às forças gravitacionais, às forças viscosas
e às forças de inércia geram os grupos adimensionais chamados de números de Euler, Froude
e Reynolds, que devem ser iguais para se ter semelhança. Por outro lado não se considerou
o número de Euler quando se falou na resistência ao avanço de um navio. Em si, quando se
impõe a igualdade do número de Froude, automaticamente está se satisfazendo o número de
Euler. Isto é, as pressões são levadas em escala. Entretanto em presença de superfı́cie livre
aparece um termo relativo à pressão atmosférica, que em um ambiente de teste aberto não é
levada em escala. Caso o objetivo seja tratar as forças de arrasto o erro por não se levar em
escala a pressão atmosférica não cria nenhum problema pois como todos os pontos do casco
são igualmente afetados por um valor constante a integral dessa constante é nula.
No caso de se estudar fenômenos que dependem da pressão local e não da sua integral a
situação é outra. Este é o caso por exemplo da cavitação, fenômeno que depende da pressão
local, em que ao ser alcançado o valor da pressão de vaporização à temperatura local forma-
se uma bolha de vapor d’ água no ponto e muitas vezes drásticas consequências podem ser
alcançadas. Este é o caso de escoamentos nas pás de propulsores por exemplo.
Capı́tulo 7
Ondas de Gravidade
7.1 Introdução
155
156 Texto Preliminar, SH Sphaier
1. em todo o domı́nio fluido deve ser satisfeita a equação de Laplace, uma vez que supomos
que o fluido é incompressı́vel e o escoamento irrotacional
∇2 φ(x, y, z, t) = 0 (7.1)
ou
D D
z− ζ(x, y, t) = 0 (7.4)
Dt Dt
Desenvolvendo esta expressão obtemos
· ¸
∂ζ(x, y, t)
vz (x, y, z = ζ, t) − + (v(x, y, z = ζ, t) · ∇) ζ(x, y, t) = (7.5)
∂t
·
∂ζ(x, y, t)
vz (x, y, z = ζ, t) − (7.6)
∂t
¸
∂ζ(x, y, t) ∂ζ(x, y, t)
+vx (x, y, z = ζ, t) + vy (x, y, z = ζ, t) = (7.7)
∂x ∂y
∂φ(x, y, z = ζ, t) ∂ζ(x, y, t)
− (7.8)
∂z ∂t
∂φ(x, y, z = ζ, t) ∂ζ(x, y, t) ∂φ(x, y, z = ζ, t) ∂ζ(x, y, t)
− − = (7.9)
∂x ∂x ∂y ∂y
∂φ ∂ζ ∂φ ∂ζ ∂φ ∂ζ
− − − =0 (7.10)
∂z ∂t ∂x ∂x ∂y ∂y
3. na superfı́cie livre Fsl (x, y, z, t) = z − ζ(x, y, t) = 0 deveremos satisfazer a condição
dinâmica imposta pela pressão atmosférica, uma vez que supomos que o fluido é ideal e
incompressı́vel, o escoamento irrotacional e as forças de corpo derivam de um potencial;
então pela Integral de Euler
· ¸
∂φ(x, y, z = ζ, t) 1 2
patm = p(x, y, z = ζ, t) = −ρ + | ∇φ(x, y, z = ζ, t) | +gz (7.11)
∂t 2
4. no fundo, em z + d = 0
∂φ
=0 (7.12)
∂z
∂φ(x, z = ζ, t) ∂ζ(x, t)
e (7.17)
∂x ∂x
1
| ∇φ(x, z = ζ, t) |2 (7.18)
2
2. estas condições devem ser satisfeitas em z = ζ(x, t) sendo ζ uma incógnita do problema.
Temos que avaliar
∂φ(x, z = ζ, t)
, (7.19)
∂t
∂φ(x, z = ζ, t)
e (7.20)
∂x
1
(| ∇φ(x, z = ζ, t) |)2 (7.21)
2
sem que conheçamos a superfı́cie
Estas duas dificuldades impedem uma solução fechada do problema. Faremos algumas sim-
plificações para podermos obter uma solução aproximada. Admitindo que as ondas são de
pequenas amplitudes, as velocidades das partı́culas fluidas também o serão. No limite, se
as amplitudes forem nulas o movimento das partı́culas fluidas é nulo. Podemos ver que nas
duas condições de contorno os termos não lineares serão então produtos de parcelas peque-
nas. Cometendo um certo erro podemos desprezá-los. O erro será tanto menor quanto menor
forem as amplitudes das ondas. Teremos então:
∂φ ∂ζ
− =0 em z = ζ(x, t) (7.23)
∂z ∂t
Texto Preliminar, SH Sphaier 159
∂φ patm
+ gζ + =0 em z = ζ(x, t) (7.24)
∂t ρ
Expandindo os termos a serem avaliados em z = ζ em série de Taylor em torno de z = 0
podemos escrever:
∂φ(x, z = ζ, t) ∂φ(x, z = 0, t) ∂ 2 φ(x, z = 0, t)
= +ζ + ... (7.25)
∂t ∂t ∂z∂t
∂φ(x, z = ζ, t) ∂φ(x, z = 0, t) ∂ 2 φ(x, z = 0, t)
= +ζ + ... (7.26)
∂z ∂z ∂ 2z
Da hipótese de pequenas amplitudes podemos aqui considerar que ao substituirmos
∂φ(x, z = ζ, t) ∂φ(x, z = 0, t)
= (7.27)
∂t ∂t
∂φ(x, z = ζ, t) ∂φ(x, z = 0, t)
= (7.28)
∂z ∂z
estaremos cometendo um erro que será tanto menor quanto menor for a amplitude da onda.
Considerando que a pressão atmosférica é nula, teremos agora nosso problema dado por
∇2 φ(x, z, t) = 0 em todo o domı́nio fluido (7.29)
∂φ ∂ζ
− =0 em z=0 (7.30)
∂z ∂t
∂φ
+ gζ = 0 em z=0 (7.31)
∂t
∂φ
=0 em z = −d (7.32)
∂z
Temos então estabelecido o problema de valor de contorno para determinação da função φ.
Neste problema temos entretanto outra incógnita que é a função que descreve a forma da
superfı́cie livre ζ(x, t). Esta função pode ser escrita em termos da função φ. A condição de
contorno dinâmica (7.31), que é a Integral de Euler linearizada aplicada à superfı́cie livre,
relaciona ζ e φ. Dela podemos obter a equação da superfı́cie livre
1 ∂φ(x, 0, t)
ζ=− (7.33)
g ∂t
Combinando esta expressão com a condição cinemática (7.30) teremos
∂φ 1 ∂ 2 φ(x, 0, t)
+ =0 em z=0 (7.34)
∂z g ∂t2
Reunindo as equações (7.29), (7.379) e (7.32) temos então o problema de valor de contorno
linear para determinação da função potencial de velocidades
∇2 φ(x, z, t) = 0 em todo o domı́nio fluido (7.35)
160 Texto Preliminar, SH Sphaier
∂φ 1 ∂ 2 φ(x, 0, t)
+ =0 em z=0 (7.36)
∂z g ∂t2
∂φ
=0 em z = −d (7.37)
∂z
Em casos de profundidade infinita esta última condição é modificada para
∂φ
lim =0 (7.38)
z→−∞ ∂z
O método de solução por separação de variáveis, baseia-se em supor que a solução da equação
de Laplace, pode ser escrita como o produto de funções a uma única variável. Assim admitimos
que a função φ, função a três variáveis, pode ser escrita como o produto de três funções, F ,
G e H, funções a uma única variável, respectivamente de x, z e t.
A equação de Laplace é expressa de diferentes maneiras para diferentes sistemas de coorde-
nadas. De acordo com o problema em estudo podemos utilizar o sistema mais conveniente e
aproveitar o método de separação de variáveis para expandir a função em série de autofunções
para obtermos sua solução.
Para apresentação do método aplicado à alguns problemas de escoamentos em presença de
superfı́cie livre nos ateremos a um sistema de coordenadas retilı́neo bidimensional.
Adotamos um sistema Oxz, com eixo Ox horizontal na superfı́cie livre e Oz voltado para
cima.
A equação de Laplace é dada por
∂ 2φ ∂ 2φ
+ =0 (7.39)
∂x2 ∂z 2
Aplicando então o método de separação de variáveis de forma tal que
ou então
00 00
F G
=− (7.42)
F G
Texto Preliminar, SH Sphaier 161
Como o primeiro membro é uma função exclusiva de x e o segundo membro é função somente
de z, a igualdade só é possı́vel se:
00 00
F G
=− = ±kk2 (7.43)
F G
onde kk é uma constante.
A partir da expressão (7.272) podemos fazer o seguinte quadro de soluções de acordo com o
valor de kk2 , se positivo ou negativo.
√
onde i é o unitário imaginário, i = −1
A escolha do sinal associado a kk2 e por conseguinte da forma das soluções em x e z dependerá
das condições de contorno.
Analisemos alguns casos:
(a) Não podemos admitir soluções que cresçam para x → ±∞, isto é, não podemos
aceitar
F (x) = exp(±kk x) (7.44)
uma vez que pela equação (7.33) a onda assumiria uma elevação infinita para
grandes valores de x.
(b) Não podemos aceitar soluções do tipo
G(z) = exp(−kk z) (7.45)
162 Texto Preliminar, SH Sphaier
isto é, não podemos aceitar soluções que cresçam com a profundidade,ver equação
(7.381).
(c) A solução deverá ser do tipo
∞
X
φ= Hk (t) exp(kk z) [ack cos(kk x) + ask sin(kk x)] (7.46)
k=0
ou na forma complexa
∞
X £ ¤
φ= Hk (t) exp(kk z) a+ −
k exp(ikk x) + ak exp(−ikk x) (7.47)
k=0
e então
1
b1 exp(−kk d) = b2 exp(kk d) = b (7.51)
2
com esta igualdade e a equação (7.49) então
ou em forma complexa
∞
X
φ= Hk (t) cosh[kk (z + d)][a+ −
k exp(ikk x) + ak exp(−ikk x)] (7.58)
k=0
k0 L = 2π (7.60)
e
00
H + ω2H = 0 (7.64)
A solução desta equação diferencial (7.64) é dada por
1 ∂φ(x, 0, t)
ζ=− (7.68)
g ∂t
ζ0 g cosh(k0 (z + d))
φ=i exp[i(ωt − k0 x)] (7.72)
ω cosh(k0 d)
ζ0 ω cosh(k0 (z + d))
φ=i exp[i(ωt − k0 x)] (7.73)
k0 sinh(k0 d)
A equação (7.71) descreve o perfil da onda, tanto no tempo quanto no espaço. Um ponto
do perfil com elevação ζ1 desloca-se ao longo do tempo ocupando diversas posições x, com
velocidade igual a velocidade do perfil, chamada celeridade da onda. Os valores de x estão
relacionado com o tempo de tal forma que
ωt − k0 x = constante (7.74)
Texto Preliminar, SH Sphaier 165
k0 c − ω = 0 (7.75)
ζ = ζ0 cos(±ωt ± k0 x ± δc ) (7.77)
ou
ζ = ζ0 sin(±ωt ± k0 x ± δs ) (7.78)
onde δc e δs são ângulos de fase. A escolha da forma e dos sinais depende da forma da onda
em relação a origem e direção de propagação.
A figura 7.2 apresenta uma forma gráfica de obtenção do valor de k0 . Reescrevemos a equação
(7.63) na forma
ω2d 1
y= = tanh k0 d (7.80)
g k0 d
e buscamos a interseção da equação das curvas
ω2d 1
y1 = e y2 = tanh k0 d (7.81)
g k0 d
encontramos o valor de k0 que satisfaz a equação (7.63).
166 Texto Preliminar, SH Sphaier
A equação da dispersão (7.63) pode ser reescrita em termos da celeridade da onda na forma
µ ¶2 µ ¶
2π 2π
=g tanh k0 d (7.82)
T L
ou µ ¶
1
c=g tanh k0 d (7.83)
ω
Observando as duas formas da equação da dispersão, (7.63) e (7.83), vemos que o número
de onda, o comprimento de onda e a celeridade da onda dependem da profundidade. Isto é,
ondas com diferentes perı́odos propagam-se com diferentes velocidades, celeridade da onda.
Para grandes profundidades o argumento da tangente hiperbólica cresce muito e então a
tangente tende para o valor 1 (um):
Observemos agora o que ocorre com uma onda monocromática que se propaga em um fundo
plano levemente inclinado de águas profundas para águas rasas (ver figuras 7.3 e 7.4). Trace-
mos dois planos verticais, um situado em águas profundas A e outro em águas mais rasas B.
Podemos dizer que o número de ondas que em um certo intervalo de tempo passa por A é o
168 Texto Preliminar, SH Sphaier
mesmo que o número de ondas que no mesmo intervalo de tempo passa por B. Isto quer dizer
então que o perı́odo da onda é imutável. Consequentemente ω 2 /g é um parâmetro constante
para uma mesma onda. Usando então este argumento na equação de dispersão (7.63) e o
limite de águas profundas podemos escrever:
ω2 2π 2π 2πd
= = tanh( ) (7.86)
g L∞ L L
ou
ω2d d d 2πd
= = tanh( ) (7.87)
2πg L∞ L L
Destas relações temos
2πg 2πg gT 2
L∞ = 2 = ¡ ¢2 = (7.88)
ω 2π 2π
T
T T 2πd
= tanh( ) (7.89)
L∞ L L
ou
2πd
c = c∞ tanh( ) (7.90)
L
Com estas expressões podemos então escrever a celeridade e o comprimento da onda em função
da profundidade e a partir de seus valores em águas profundas.
c 2πd
= tanh( ) (7.91)
c∞ L
L 2πd
= tanh( ) (7.92)
L∞ L
Texto Preliminar, SH Sphaier 169
A hipótese feita acima de o fundo ser um plano inclinado implica que em um mesmo com-
primento de onda a profundidade local varia, e a equação de dispersão foi obtida para fundo
constante. Assim, o estudo que estamos fazendo tem suas limitações. Estamos incorrendo em
um erro, que será tão menor quanto menor for a inclinação do fundo.
Com as equações (7.91) e (7.92) podemos fazer um gráfico representativo da variação de c/c∞
e L/L∞ em função d/L∞ ver figura 7.5.
Para pequenos valores de d, tendemos ao caso conhecido como de águas rasas. Na reali-
dade quem define esta tendência é a relação d/L e não somente a profundidade d. Teremos
águas rasas quando a profundidade relativa for pequena em relação ao comprimento de onda.
Nesta situação o argumento da tangente hiperbólica é pequeno e a tangente hiperbólica é
aproximadamente igual ao argumento resultando que a equação de dispersão torna-se
ω2
= k02 d (7.93)
g
Desta relação vemos que o número de onda e por conseguinte o comprimento de onda contin-
uam variando com a profundidade, porém
µ ¶2 µ ¶2 µ ¶2
ω2 2π L L
2
= = = c2 (7.94)
k0 T 2π T
e então p
c= gd (7.95)
Observamos deste último resultado que a celeridade tem um valor fixo para águas rasas e o
comprimento da onda é proporcional ao perı́odo em águas rasas.
p
L = T gd (7.96)
170 Texto Preliminar, SH Sphaier
Retornando a equação (7.63) lembramos que esta foi obtida da substituição da solução na
forma de cosseno hiperbólico em z na condição de contorno na superfı́cie livre. Se utilizarmos
a solução em cosseno simples em z na condição de contorno na superfı́cie livre, obteremos
A figura 7.6 apresenta uma forma gráfica de obtenção do valor de kj , obtida reescrevendo a
equação (7.97) na forma
ω2d 1
y=− = tan kj d (7.98)
g kj d
Observando a equação (7.100) podemos afirmar que quando ζ é máximo, vx é máximo. Por
outro lado, vz é máximo quando ζ é nulo e decrescente com x. Estas conclusões podem ser
observadas mais claramente na figura 7.7.
Para determinarmos as acelerações devemos inicialmente lembrar que com a linearização do
problema de valor de contorno, desprezamos o termo v 2 na Integral de Euler, cuja origem é o
termo convectivo da aceleração. Para sermos consistentes devemos então desprezar o termo
convectivo e a aceleração é dada somente pela derivada local, logo:
µ ¶
∂vx ζ0 ω 2 cosh[k0 (z + d)]
ax = < =− sin(ωt − k0 x) (7.102)
∂t sinh(k0 d)
174 Texto Preliminar, SH Sphaier
µ ¶
∂vz ζ0 ω 2 sinh[k0 (z + d)]
az = < =− cos(ωt − k0 x) (7.103)
∂t sinh(k0 d)
A aceleração horizontal ax é máxima quando ζ é nulo e decrescente. A aceleração vertical é
máxima quando ζ é mı́nimo (ver figura 7.8).
A observação das órbitas das partı́culas exige que acompanhemos uma partı́cula, isto é, esta
é uma observação Lagrangeana. Como temos campos de velocidades descritos na forma
Euleriana podemos escrever:
Z t
xf (t) = x0 + vx (xf , zf , t)dt (7.104)
0
Texto Preliminar, SH Sphaier 175
Z t
zf (t) = z0 + vz (xf , zf , t)dt (7.105)
0
A dificuldade de solucionar estas equações deve-se a termos que integrar estas funções vx e
vz ao longo da trajetória que é desconhecida. Lembrando entretanto das aproximações feitas
anteriormente temos, para sermos consistentes, que admitir que as órbitas das partı́culas
permanecem nas proximidades do ponto inicial. Expandindo as funções vx e vz em séries de
Taylor em torno da posição média temos
∂vx ∂vx
vx (xf , zf , t) = vx (x0 , z0 , t) + (xf − x0 ) (x0 , z0 , t) + (zf − z0 ) (x0 , z0 , t) + . . . (7.106)
∂x ∂z
∂vz ∂vz
vz (xf , zf , t) = vx (x0 , z0 , t) + (xf − x0 )
(x0 , z0 , t) + (zf − z0 ) (x0 , z0 , t) + . . . (7.107)
∂x ∂z
pode-se verificar que para mantermos a consistência com o desenvolvimento anterior podemos
fazer
vx (xf , zf , t) = vx (x0 , z0 , t) (7.108)
vz (xf , zf , t) = vz (x0 , z0 , t) (7.109)
Assim sendo as órbitas são definidas por
Z t Z t · ¸
∂φ ζ0 ω cosh[k0 (z0 + d)]
x − x0 = (x0 , z0 , t)dt = dt cos(ωt − k0 x0 ) (7.110)
0 ∂x 0 sinh(k0 d)
ζ0 cosh[k0 (z0 + d)]
= sin(ωt − k0 x0 ) (7.111)
sinh(k0 d)
Z t Z t · ¸
∂φ ζ0 ω sinh(k0 (z0 + d))
z − z0 = (x0 , z0 , t)dt = −dt sin(ωt − k0 x0 ) (7.112)
0 ∂z 0 sinh(k0 d)
ζ0 sinh[k0 (z0 + d)]
= cos(ωt − k0 x0 )] (7.113)
sinh(k0 d)
Com as expressões acima obtemos
½ ¾2
(x − x0 )2 (z − z0 )2 ζ0
+ = (7.114)
(cosh[k0 (z0 + d)])2 (sinh[k0 (z0 + d)])2 sinh(k0 d)
Esta expressão indica que as órbitas das partı́culas são elı́pticas. Das equações (7.110) e
(7.112) podemos observar que para z0 = 0 temos a equação da superfı́cie livre. No fundo
podemos observar que
ζ0
x − x0 = sin(ωt − k0 x0 ) (7.115)
sinh(k0 d)
z+d=0 (7.116)
isto é, a partı́cula executa um movimento harmônico horizontal.
A visualização das órbitas pode ser observada na figura 7.9.
176 Texto Preliminar, SH Sphaier
Uma vez obtido o potencial de velocidades podemos determinar a pressão em qualquer ponto
do escoamento:
∂φ
p = −ρ − ρgz (7.117)
∂t
Sob a superfı́cie z = 0 temos
∂φ(z = 0)
p = −ρ = ρgζ (7.118)
∂t
Isto é, a pressão dinâmica na superfı́cie z = 0 é igual a pressão hidrostática de uma coluna de
água correspondente a elevação da superfı́cie livre local. Este resultado é fı́sicamente razoável.
Entretanto, não é preciso. Senão vejamos. Sobre a superfı́cie livre instantânea a pressão é
∂φ
p = −ρ − ρgz = ρgζek0 z − ρgz = ρgζek0 ζ − ρgζ (7.119)
∂t
isto é, a pressão na superfı́cie livre não é nula. Este é um erro que vem da linearização do
problema que acarreta a transferência da posição para se impor a condição de contorno. Em
termos de aplicação prática é conveniente assumir uma distribuição de pressão dinâmica linear
entre a superfı́cie z = 0 e a superfı́cie livre, em que na superfı́cie z = 0 assume-se pdin = ρgζ.
A figura 7.10 mostra o diagrama de pressões conforme discutido acima.
Texto Preliminar, SH Sphaier 177
com isto 00 0
H G (z = 0)
= −g = −gk0 (7.122)
H G(z = 0)
logo a equação da dispersão é escrita na forma
ω 2 = gk0 (7.123)
ζ0 ω
φ=i exp(k0 z) exp[i(ωt − k0 x)] (7.124)
k0
cosh[k0 (z + d)]
lim = exp(k0 z) (7.125)
d→∞ sinh(k0 d)
sinh[k0 (z + d)]
lim = exp(k0 z) (7.126)
d→∞ sinh(k0 d)
Neste caso as órbitas das partı́culas serão circulares
Outro limite importante é o de águas rasas, isto é, quando k0 d << 1. Neste caso temos como
limites para o seno hiperbólico e o cosseno hiperbólico respectivamente o argumento da função
e o valor 1:
lim sinh(k0 d) = k0 d (7.130)
k0 d→²
Observemos que esta equação impõe uma celeridade constante para qualquer perı́odo de onda,
perdendo a caracterı́stica de dispersividade, embora a equação derive da equação de dispersão.
Lembrando que
ζ = ζ0 cos(ωt − k0 x) (7.138)
Texto Preliminar, SH Sphaier 179
obtemos então r
ω p ζ ζ g
vx = ζ = gd = c = ζ (7.139)
k0 d d d d
Destes resultados podemos verificar que no caso de águas rasas a velocidade na direção x
é constante com a profundidade, e bem maior que a componente da velocidade na direção
z, podendo até alcançar valores muito grandes. A celeridade da onda, por outro lado é fixa
independentemente do perı́odo da onda. No caso das órbitas das partı́culas temos
(x − x0 )2 (z − z0 )2
+ =1 (7.140)
A2 B2
onde
ζ0
A= (7.141)
k0 d
z
B = ζ0 (1 + ) (7.142)
d
Convenciona-se aceitar que o limite de águas rasas se dá quando L/d = 20.
Anteriormente determinamos as órbitas das partı́culas fluidas, concluindo que em águas pro-
fundas são circulares. Para tal aproximamos as velocidades instantâneas pela pela veloci-
dades das partı́culas na posição de repouso das partı́culas. Entretanto se considerarmos que
as partı́culas quando se encontram acima da posição de repouso têm maiores velocidades
que quando passam pela posição inferior, podemos concluir que em média, ao longo de um
perı́odo, elas avançam na direção de propagação da onda.
O fluxo de massa médio é igual a:
Z x+L Z ζ
1
F = ρvx dzdx (7.143)
L x −d
onde:
g k0 ζ cosh[k0 (d + z)]
vx = (7.144)
ω cosh[k0 (d)]
A avaliação do fluxo é feita integrando-se inicialmente na vertical:
Z
ρ x+L g ∗ ζ(x, t) sinh[k0 (d + ζ(x, t))]
F = dx (7.145)
L x ωcosh(k0 d)
180 Texto Preliminar, SH Sphaier
ζ02 ρgk0
F = (7.147)
2ω
Assim resulta que há um fluxo médio de massa, que é um efeito de segunda ordem.
Para avaliar a energia que uma onda carrega consigo, consideremos uma fatia vertical da onda
(ver figura 7.11). A energia potencial na fatia é dada por:
Z x+L Z x+L
1 1 (d + ζ)2 ρgd2 ρgH 2
Ēp = d(Ep ) = ρg dx = + (7.150)
L x L x 2 2 16
onde H = 2a é a altura da onda.
A contribuição média de energia devida unicamente ao movimento ondulatório é então
ρgH 2
Ēp = (7.151)
16
A energia cinética dEc de um elemento (de uma partı́cula elementar) é dada por:
dm dx dz ¡ 2 ¢
dEc = | ∇φ |2 = ρ vx + vz2 (7.152)
2 2
onde dm = ρdxdz.
Texto Preliminar, SH Sphaier 181
ρgH 2
Ēc = (7.154)
16
Com estes resultados temos então que a energia total por comprimento de onda é
ρgH 2
Ēt = Ēp + Ēc = (7.155)
8
A força exercida sobre um elemento dz de uma parede vertical fluida pode ser escrita como:
dG = vx pdz (7.157)
Integrando o fluxo elementar de energia do fundo até a superfı́cie livre obtemos o fluxo total
através da respectiva ”parede”:
Z ζ
G= vx pdz (7.158)
−d
Z t+T Z ζ µ ¶2 µ ¶
1 ρgω H 2k0 d + sinh(2k0 d)
Ḡ = vx pdtdz = = Ēt cn (7.159)
T t −d 4k0 2 sinh(2k0 d)
onde
µ ¶
1 2k0 d
n= 1+ (7.160)
2 sinh(2k0 d)
A partir desta expressão podemos dizer que a energia total da onda por unidade de compri-
mento de onda propaga-se com uma velocidade cg , velocidade de grupo, diferente da celeridade
e dada por
cg = cn (7.161)
e
ρgH 2
Ḡ = Ēt cn = cg (7.162)
8
Consideremos agora duas ondas progressivas propagando-se na mesma direção com mesmas
alturas H e perı́odos levemente diferentes, T1 e T2 . O perfil resultante desta superposição é
dado por:
H
ζ = ζ1 + ζ2 = {cos(ω1 t − k0,1 x) + cos(ω2 t − k0,2 x)} (7.163)
2
onde
4ω
ω1 = ω − (7.164)
2
4ω
ω2 = ω + (7.165)
2
Texto Preliminar, SH Sphaier 183
4k0
k0,1 = k0 − (7.166)
2
4k0
k0,2 = k0 + (7.167)
2
Desenvolvendo a expressão (7.163) acima temos:
· ¸ · ¸
1 1
ζ = H cos {(ω1 + ω2 )t − (k0,1 + k0,2 )x} cos {(ω1 − ω2 )t − (k0,1 − k0,2 )x} (7.168)
2 2
· µ ¶¸
4k0 4ω
= H cos (ωt − k0 x) cos t−x (7.169)
2 4k0
Este resultado mostra que o perfil da onda resultante é equivalente ao de uma onda frequência
ω e altura modulada, variando com o tempo de acordo com
1
H̄ = H cos[ (4ωt − 4k0 x)] (7.170)
2
Isto é, a superposição das ondas apresenta um perfil envoltório H̄(t, x) que se propaga com
velocidade
4ω
cenvoltoria = (7.171)
4k0
A figura 7.12 mostra a propagação de um grupo de ondas. Um perfil envoltório viaja com a
velocidade de grupo cg menor que a celeridade das ondas (ver figura 7.5) que se propagam
dentro desta envoltória, com amplitude variável dada pelo perfil da envoltória. Este fenômeno
é conhecido como batimento.
O perfil envoltório”propaga-se com velocidade cg e a onda com velocidade c. Assim a energia
da onda transmite-se com a velocidade de grupo cg . Observando as figuras 7.3 e 7.4, podemos
dizer que toda a energia que entra pela seção A tem que sair pela seção B, então:
cg H 2 = cg,∞ H∞
2
(7.172)
184 Texto Preliminar, SH Sphaier
dω
lim cenvoltoria = (7.174)
4ω→0 dk0
Texto Preliminar, SH Sphaier 185
µ ¶
c 2k0 d
= cg = 1+ (7.175)
2 sinh(2k0 d)
∂φ ζ0 ω sinh(k0 (z + d))
vz = − = cos(k0 x) sin(ωt) (7.179)
∂z sinh(k0 d)
ζ0 cosh(k0 (z0 + d))
x − x0 = − cos(k0 x0 ) sin(ωt) (7.180)
sinh(k0 d)
ζ0 sinh(k0 (z0 + d))
z − z0 = sin(k0 x0 ) sin(ωt) (7.181)
sinh(k0 d)
Observemos que as partı́culas fluidas deslocam-se ao longo de uma reta, e não mais ao longo
de uma elipse como no caso de uma onda progressiva. Da mesma forma que duas ondas pro-
gressivas superpostas geraram uma onda estacionária, duas ondas estacionárias superpostas
geram um onda progressiva.
1
= <− Ai ωF (0)ei (ωt−k0 x) (7.184)
g
Θ = ωt − k0 x (7.185)
ζ = ζ0 cos(Θ) (7.186)
ζ0
A = ig (7.187)
ωF (0)
ζ0
φ = ig F (z)ei Θ (7.188)
ωF (0)
∂φ ζ0
vx = < = <i g F (z)(−i k0 )ei Θ (7.189)
∂x ωF (0)
k0 g
= F (z)ζ0 cos(Θ) (7.190)
ωF (0)
∂φ ζ0
F (z)ei Θ
0
vz = < = <i g (7.191)
∂z ωF (0)
g 0
= F (z)ζ0 (− sin(Θ)) (7.192)
ωF (0)
∂vx k0 g
ax = = F (z)ζ0 (−ω) sin(Θ) (7.193)
∂t ωF (0)
∂vz g 0
az = = F (z)ζ0 (−ω cos(Θ)) (7.194)
∂t ωF (0)
∂φ ∂φ
pz = −ρ = −ρ |z=0 F (z) = ρgζF (z) (7.195)
∂t ∂t
ω 2 = k0 g tanh(k0 d) (7.198)
0
F (z) = k0 sinh[k0 (z + d)] (7.199)
Texto Preliminar, SH Sphaier 187
F (0) → 1 (7.205)
tanh(k0 d) ≈ k0 d (7.206)
ω 2 = k02 gd (7.207)
0
F (z) = lim k0 sinh[k0 (z + d)] ≈ k02 d (7.208)
k0 d→²
No mar real observamos grandes ondas que não conseguem avançar iniciando um processo de
arrebentação. Isto ocorre quando a onda torna-se muito grande em altura. No mundo real,
dois principais fatores contribuem para isto. Um desses fatores é a ação do vento. O processo
de criação da agitação, quando o vento atuando sobre a superfı́cie do mar, faz com que a
onda alcance grandes elevações. Outro fator é o efeito da profundidade quando as ondas, se
propagando de águas profundas alcançam profundidades para as quais a onda diminue seu
comprimento, diminue sua celeridade e altera sua velocidade de grupo e por conseguinte, altera
sua altura. Como já vimos uma onda tem sua velocidade de grupo aumentando levemente
e sua altura diminuindo, também levemente, a medida que se propaga em menores lâminas
d’água para em seguida ter uma queda significativa na velocidade de grupo e um aumento,
também significativo, na altura.
Vamos aqui estudar este comportamento, limitando-nos à teoria linear de ondas. Compara-
remos o resultado obtido com aquele que é obtido quando se estende o modelo e se utilizam
modelos de estudo de ondas com alturas finitas, e não a teoria linear que assume um modelo
de ondas com relação altura comprimento, a declividade da ondas infinitesimais.
188 Texto Preliminar, SH Sphaier
Podemos dizer que uma onda deixa de se propagar quando a velocidade na crista excede a
celeridade da onda. Isto é, uma partı́cula fluida na crista alcança uma velocidade horizontal
maior que a celeridade da onda. Isto é, ao invés do perfil da onda junto a crista avançar,
enquanto a partı́cula fluida inicia seu processo de diminuição da elevação até chegar a posição
de cavado, o perfil tem uma velocidade inferior a velocidade da partı́cula e esta modifica o
movimento que o perfil faria criando uma ponta que se projeta mais rapidamente que o perfil.
k0 g
vx = F (z)ζ0 cos(Θ)
ωF (0)
ω F (z)
vx = ζ0 cos(Θ)
tanh(k0 d) F (0)
ou
vx ζ0 F (z)
= 2π cos(Θ)
c L tanh(k0 d)F (0)
Como o argumento da função F (z) é pequeno, pois estamos com valores de z da ordem da
amplitude da onda, podemos expandir a função em torno de z = 0 obtendo:
Com essa expressão, analisemos o caso de águas profundas. Neste caso a tangente hiperbólica
é igual a 1 e observando a velocidade horizontal na crista chegamos a:
vx H
= π (1 + k0 H/2)
c L
Como k0 H/2 << 1 e a arrebentação da onda se dá quando vx /c > 1, concluimos que o maior
valor da relação H/L é 1/π.
Convém aqui ressaltar que este resultado está restrito ao uso da teoria linear, teoria de ondas
infinitesimais. Estendendo o modelo matemático, utilizando-se teoria de ondas finitas, o
critério vx /c > 1, conduz ao limite H/L < 1/7 = 0.1428
Texto Preliminar, SH Sphaier 189
Vimos acima o problema de radiação. Um corpo oscila junto à superfı́cie livre gera ondas
que se propagam carregando energia. Determinamos a solução para o caso de um batedor de
ondas como exemplo básico. Originalmente não existiam ondas no meio fluido. Vamos agora
estudar o problema da ação de ondas em um corpo fixo junto à superfı́cie livre.
Consideremos um retângulo flutuando na superfı́cie livre e determinemos a força de onda
atuante sobre ele segundo a hipótese de Froude-Krylov, isto é, a força devida a onda inci-
dente. Segundo a hipótese de Froude-Krylov, as forças hidrodinâmicas atuando em um corpo
flutuante devem-se unicamente à ação da onda incidente. Despreza-se o efeito da difração das
ondas incidentes.
Z B
Fd = ωρ A(z) e i (ωt−k0 x) i(−dz) (7.218)
A
Z C
+ωρ A(z) e i (ωt−k0 x) k(dx) (7.219)
B
Z D
+ωρ A(z) e i (ωt−k0 x) (−i)(dz) (7.220)
C
Força Horizontal
½Z −T Z 0 ¾
Fd,x = ωρ A(z) e i [ωt−k0 (x0 −b/2)] (−)dz − A(z) e i [ωt−k0 (x0 +b/2)] dz (7.221)
0 −T
n oZ 0
Fd,x = ωρ e i [ωt−k0 (x0 −b/2)] − e i [ωt−k0 (x0 +b/2)] A(z)dz (7.222)
−T
n oZ 0
= ωρ e i [(ωt−k0 x0 )+k0 b/2] − e i [(ωt−k0 x0 )−k0 b/2] A(z)dz (7.223)
−T
Z 0 n o
= ωρ A(z)dz e i (ωt−k0 x0 ) e i (k0 b/2) − e i (k0 b/2) (7.224)
−T
Z 0
= 2i ωρ A(z)dz e i (ωt−k0 x0 ) sin(k0 b/2) (7.225)
−T
e assim Z 0
Fd,x = −2ωρ A(z)dz sin(ωt − k0 x0 ) sin(k0 b/2) (7.226)
−T
sin(k0 b/2)
Fd,x = −ρgb[1 − e −k0 T ] sin(ωt − k0 x0 ) (7.228)
(k0 b/2)
192 Texto Preliminar, SH Sphaier
[1 − e −k0 T ] → 0 (7.229)
e a força anula-se.
Podemos também observar que a força horizontal é regida pelo seno de ωt. Vemos que a força
horizontal é máxima quando temos um nó em x0 .
Força Vertical
Z C Z x0 +b/2
Fd,z = ωρ A(z) e i (ωt−k0 x) dx = ωρA(−T ) e i (ωt−k0 x) dx (7.230)
B x0 −b/2
i e i (ωt−k0 x) x0 +b/2
= ωρA(−T ) |x0 −b/2 (7.231)
k0
ωρA(−T )
= i { e i [ωt−k0 (x0 +b/2)] − e i [ωt−k0 (x0 −b/2)] } (7.232)
k0
ωρA(−T )
= i { e i [(ωt−k0 x0 )−k0 b/2] − e i [(ωt−k0 x0 )+k0 b/2] } (7.233)
k0
ωρA(−T ) i (ωt−k0 x0 ) −i k0 b/2
= ie {e − e i k0 b/2 } (7.234)
k0
e finalmente
ωρA(−T ) i (ωt−k0 x0 )
Fd,z = 2 e sin(k0 b/2) (7.235)
k0
Podemos observar que a força vertical é regida pelo cosseno de ωt. Isto é, a força vertical
passará por um máximo sempre que a amplitude da onda passar por um máximo em x0 .
Lembrando que em grandes profundidades A(z) = ζ0 g ek0 z /ω então:
sin(k0 b/2)
Fd,z = ρ g ζ0 e−k0 T cos(ωt − k0 x0 ) (7.236)
k0 /2
Assim,
Fd,z = ρ g ζ0 b cos(ωt − k0 x0 ) = ρ g b ζ(t) (7.241)
e a força atuante tem uma semelhança com uma força hidrodtática com variação de afunda-
mento igual a ζ(t) no ponto x0 .
sin(k0 b/2)
Fd,x = ρgb[1 − e −k0 T ] sin(ωt − k0 x0 ) (7.242)
(k0 b/2)
sin(k0 b/2)
Fd,z = ρ g ζ0 be−k0 T cos(ωt − k0 x0 ) (7.243)
k0 b/2
sin(k0 b/2)
(7.244)
k0 b/2
Como
k0 b 2πb πb
= = (7.245)
2 2L0 L0
onde L0 é o comprimento da onda, a relação entre a boca do retângulo e o comprimento da
onda poderá, por um efeito de forma acarretar que a amplitude da força seja nula. Assim as
forças horizontal e vertical terão amplitudes nulas se
b
=n n = 1, 2, .... (7.246)
L
membros afloram da superfı́cie livre e outros tem suas extremidades localizadas totalmente
no meio fluido, quando as ondas são longas.
A figura 7.15 apresenta o esquema de uma estrutura semi-submersı́vel em um plano. As
colunas estão indicadas com C1 e C2 e o pontoon com PON. O fundo da estrutura está na
cota z2 . A parte superior do pontoon está na cota z1 . As bases das colunas tem comprimento
l1 e o comprimento do pontoon tem comprimento l2 .
A pressão é composta por duas parcelas, estática e dinâmica. A essas soma-se a pressão
atmosférica, que normalmente é assumida ser igual a zero.
p = patm + pest + pdin (7.247)
A pressão estática é dada por:
p = ρgz (7.248)
e com ela obtém-se que a força de empuxo é o peso do volume imerso. Nas colunas a força
de empuxo é: Z Z Z
E= pest ndS = ρgz2 (2l1 + l2 )k − ρgz1 (l2 )k (7.249)
S S S
A pressão na parte superior do pontoon é menor que na parte inferior. Assim o pontoon sofre
uma força para cima. A pressão dinâmica é dada por:
∂φ(x, z, t) ∂φ(x, 0, t) k0 z
pdin = −ρ = −ρ e (7.250)
∂t ∂t
e como o perfil da onda é dado por:
1 ∂φ(x, 0, t)
ζ=− = ζ0 cos(ωt − k0 x) (7.251)
g ∂t
então
∂φ(x, 0, t)
= −gζ0 cos(ωt − k0 x) (7.252)
∂t
e
pdin = ρgζ0 cos(ωt − k0 x)ek0 z (7.253)
Na situação em que a crista de uma onda londa passa pelo centro geométrico da plataforma,
toda a plataforma estará sujeita a pressões como se estive toda ela em situação de crista. A
situação em que a crista passa pelo centro da estrutura localizado na posição x0 , corresponde
a
2π
Θ = ωt0 − k0 x0 = ωt0 − x0 = n · 2 · π (7.254)
L
onde n é um inteiro. Se a onda é longa em relação ao tamanho da estrutura, e a crista se
localiza no centro da estrutura, então
l1 + l2 + l1
<< 1 (7.255)
L
Texto Preliminar, SH Sphaier 195
x − x0 x − x0
Θ = ωt − k0 x == ωt − k0 x0 − 2π ≈ 1 − 2π (7.256)
L L
em toda a região da estrutura, e
x − x0
pdin ≈ ρgζ0 ek0 z (1 − 2π ) (7.257)
L
Com a pressão dinâmica determina-se agora as forças nas colunas e no pontoon
Z
fC1 = pdin (z2 )dx ≈ ρgζ0 ek0 z2 l1 (7.258)
l1
Z
fC2 = pdin (z2 )dx ≈= ρgζ0 ek0 z2 l1 (7.259)
l1
Z Z
fP ON = pdin (z2 )dx − pdin (z1 )dx ≈ l2 ρgζ0 (ek0 z2 − ek0 z1 ) (7.260)
l2 l2
Como z1 e z2 têm valores negativos e o módulo de z2 é maior que o de z1 então a força
dinâmica no pontoon aponta para baixo.
Para efeito de projeto pode-se determinar mais precisamente as cotas e as dimensões da
estrutura resolvendo-se as integrais das pressões exatamente. Inicialmente com o volume, a
área de linha dágua e o formato da estrutura determina-se a massa adicional e a frequência
natural. Tenta-se fazer com que este o perı́odo natural não venha a estar contido na faixa de
frequência de excitação do mar. A seguir determina-se o comprimento da onda cujo perı́odo
coincida com o perı́odo natural da estrutura. Para este comprimento ajusta-se as dimensões
principais. Caso as premissas impostas a volume, área de linha da água e formato não sejam
satisfeitas, faz-se um ajuste na geometria e retorna-se ao inı́cio do problema.
∇2 φ = 0 (7.264)
∂ 2φ ∂φ
+ g =0 (7.265)
∂t2 ∂z
na superfı́cie z = 0
∂φ
=0 (7.266)
∂z
em z = −d
µ ¶
∂φ
< = s0 ω cos ωt (7.267)
∂x
em x = 0.
Além destas condições devem ser impostas condições de radiação para lim x → ∞. Neste
caso, esta condição estabelece que longe do corpo uma única onda progressiva propague-se
carregando a energia cedida ao fluido pelo batedor a cada ciclo.
Notemos que a quarta condição, válida na parede do corpo está sendo aproximada, a medida
que vamos aplicá-la na posição média do corpo.
∂ 2φ ∂ 2φ
+ =0 (7.268)
∂x2 ∂z 2
de forma tal que
φ(x, z, t) = F (x)G(z)H(t) (7.269)
obtemos:
00 00
F GH + F G H = 0 (7.270)
Texto Preliminar, SH Sphaier 199
ou então 00 00
F G
=− (7.271)
F G
Como observado anteriormente, o primeiro membro é uma função exclusiva de x e o segundo
membro é função somente de z, a igualdade só é possı́vel se:
00 00
F G
=− = ±kk2 (7.272)
F G
onde kk é uma constante.
A partir desta expressão, podemos mais uma vez repetir o quadro de soluções de acordo com
o valor de kk2 , se positivo ou negativo.
√
em que i é o unitário imaginário, i = −1
A escolha do sinal associado a kk2 e por conseguinte da forma das soluções em x e z dependerá
das condições de contorno.
Lembrando que no presente caso, não temos mais um domı́nio infinito para a variável x, uma
vez que a parede do batedor limita o domı́nio fluido, temos um caso a mais para analisar além
do que vimos anteriormente. Além disto a profundidade é finita, isto é, o domı́nio vertical, o
domı́nio da variável z é finito.
Admitindo que o batedor de ondas oscila harmonicamente com frequência ω, uma possı́vel
solução é dada por:
cosh(k0 (z + d))
φ = a0 exp[i(ωt − k0 x)] (7.273)
cosh(k0 d)
= a0 Z0 (k0 z)F0 (k0 x)eiωt (7.274)
200 Texto Preliminar, SH Sphaier
Reunindo essas duas soluções, a forma geral da solução da equação de Laplace bidimensional
em um domı́nio semi-infinito, em coordenadas cartesianas satisfazendo as condições (7.265),
(7.266) e as condições de radiação é
∞
X
φ= aj Gj (kj z)Fj (kj x)eiωt (7.283)
j=0
X ∞
∂φ
= {−ik0 a0 G0 (k0 z)F0 (0) + −kj aj Gj (kj z)Fj (0)}eiωt = ωs0 eiωt (7.290)
∂x j=1
ou ∞
X
−ik0 a0 G0 (k0 z) − kj aj Gj (kj z) = ωs0 (7.291)
j=1
com a propriedade de ortogonalidade das funções Gj , descrita acima, resulta então para i = 0
Z 0
−ik0 a0 N0 = s0 ω G0 (k0 z)dz (7.295)
−d
e para i 6= 0 Z 0
−ki ai Ni = s0 ω Gi (ki z)dz (7.296)
−d
ou
a0 = iA0 s0 ω (7.297)
202 Texto Preliminar, SH Sphaier
para i = 0 e para i 6= 0
ai = −Ai s0 ω (7.298)
onde Z 0
1
Ai = Gi (ki z)dz (7.299)
−d ki Ni
Podemos agora calcular a pressão hidrodinâmica atuante sobre o corpo a partir da integral
da equação de Euler linearizada
∞
à ∞
!
∂φ X X
p = −ρ (x = 0) = −iωρ aj Gj (kj z)eiωt = s0 ω 2 ρ A0 G0 + i Aj Gj eiωt (7.300)
∂t j=0 j=1
porém, como Z 0
Gj dz = kj Aj Nj (7.303)
−d
temos " #
∞
X
Fx = s0 ω 2 ρ −A20 k0 N0 − i A2j kj Nj eiωt (7.304)
j=1
e então
∞
X
Fh = <(Fx ) = −ρωA20 k0 N0 [s0 ω cos(ωt)] + ρ A2j kj Nj [s0 ω 2 sin(ωt)] (7.305)
j=1
ṡ = s0 ω cos(ωt) (7.306)
φ = a0 G0 (k0 z)F0 (k0 x)eiωt = iA0 s0 ωG0 (k0 z)F0 (k0 x)eiωt (7.311)
1 A0
ζ = − ∂φ/∂t = s0 ω 2 G0 (k0 z)ei(ωt−k0 x) (7.312)
g g
A0
ζ0 = s0 ω 2 G0 (0) (7.313)
g
Deve ser notado que a amplitude da onda varia linearmente com a amplitude do movimento
do corpo, e é função da frequência ω.
Embora tenhamos trabalhado aqui com um caso de um corpo que se estende desde a superfı́cie
livre até o fundo, que tem uma forma reta e só pode executar movimento horizontal o resultado
obtido pode ser generalizado.
Todo corpo oscilando junto a superfı́cie livre gera ondas que se radiam do corpo
para o meio fluido e, devido a estas ondas, sofre uma força de reação hidrodinâmica
composta de dois termos. Um proporcional à aceleração relacionado com os modos
evanescentes e outro proporcional à velocidade relacionado com a energia que se
propaga com a onda progressiva.
204 Texto Preliminar, SH Sphaier
Acima consideramos que o Batedor atuava como um pistão. Vejamos agora que alterações
devem ser introduzidas no procedimento acima se, ao invés de um batedor que se desloca
igualmente em toda sua vertical, tenhamos um batedor que atua com distintas velocidades
ao longo da vertical.
Consideremos por exemplo que o batedor é do tipo flap em que na linha d’água, em z = 0,
ele tem velocidade
s(z = 0, t) = s0 ω cos(ωt) (7.315)
e no fundo
s(z = −d, t) = 0 (7.316)
Com isto haverá alterações em relação ao que vimos para o caso anterior, refletidas nas
equações (7.294), (7.295) e (7.296) de tal maneira que, para o presente problema teremos:
Z 0 ∞
X Z 0 Z 0
d+z
−ik0 a0 G0 Gi dz − kj aj Gj Gi dz = ωs0 ( )Gi dz (7.319)
−d j=1 −d −d d
Z 0
d+z
−ik0 a0 N0 = s0 ω ( )G0 (k0 z)dz (7.320)
−d d
e para i 6= 0 Z 0
d+z
−ki ai Ni = s0 ω ( )Gi (ki z)dz (7.321)
−d d
Texto Preliminar, SH Sphaier 205
ou
a0 = iA0 s0 ω (7.322)
para i = 0 e para i 6= 0
ai = −Ai s0 ω (7.323)
onde Z 0
1 d+z
Ai = ( )Gj (kj z)dz (7.324)
kj Nj −d d
Com isto podemos generalizar estes resultados dizendo que, se o batedor oscila em torno de
uma vertical com pequenas amplitudes
O problema a ser tratado neste capı́tulo é o de propagação de ondas de gravidade e seus efeitos,
quando encontram um corpo de grandes dimensões. Trata-se da determinação do potencial
de velocidades, resolvendo-se a equação de Laplace em um domı́nio em que as fronteiras
superfı́cie livre e superfı́cie do corpo são móveis e desconhecidas. Além desta dificuldade, as
condições cinemática e dinâmica na superfı́cie livre contém termos não lineares, bem como a
condição cinemática na superfı́cie do corpo.
Uma forma clássica de se abordar o problema, em hidrodinâmica de corpos flutuantes, dá-se
através da linearização do problema. Para a onda incidente recai-se na solução de Airy, en-
quanto para o problema de movimentos do corpo flutuante tem-se o capı́tulo da hidrodinâmica
conhecido como Comportamento de Sistemas Flutuantes no Mar. Com o avanço do conhec-
imento sofre as influências de segunda ordem no problema e a necessidade de considerá-las,
este antigo capı́tulo passou a ser chamado de Teoria de Primeira Ordem do Comportamento
de Corpos Flutuantes.
Neste capı́tulo concentramo-nos nos efeitos de segunda ordem. Tratamos o potencial de ve-
locidades, a superfı́cie livre, os movimentos do corpo flutuante como a soma de duas parcelas,
que chamamos uma de primeira ordem e a outra de segunda ordem. Podemos dizer que as
grandezas de primeira ordem têm ”intensidades da mesma ordem”que a relação entre a ampli-
tude da onda incidente dividida pelo comprimento da mesma onda. As grandezas de segunda
206 Texto Preliminar, SH Sphaier
1. em todo o domı́nio fluido deve ser satisfeita a equação de Laplace, uma vez que supomos
que o fluido é incompressı́vel e o escoamento irrotacional
∇2 φ(x, y, z, t) = 0 (7.327)
D D
Fsl (x, y, z, t) = (z − ζ(x, y, t)) = 0 (7.328)
Dt Dt
onde
Fsl (x, y, z, t) = z − ζ(x, y, t) = 0 (7.329)
3. na superfı́cie livre deveremos satisfazer a condição dinâmica imposta pela pressão at-
mosférica, uma vez que supomos que o fluido é ideal e incompressı́vel, o escoamento ir-
rotacional e as forças de corpo derivam de um potencial; então pela Integral da Equação
de Euler
· ¸
∂φ(x, y, z = ζ, t) 1 2
patm = p(x, y, z = ζ, t) = −ρ + | ∇φ(x, y, z = ζ, t) | +gz
∂t 2
(7.331)
Texto Preliminar, SH Sphaier 207
4. no fundo, em z + d = 0
∂φ
=0 (7.332)
∂z
5. na superfı́cie do corpo deveremos satisfazer a condição cinemática que traduz a afinidade
dos movimentos do corpo e das partı́culas fluidas:
D
Fc (x, y, z, t) = 0 (7.333)
Dt
onde
Fc (x, y, z, t) = 0 (7.334)
O domı́nio fluido é limitado por −∞ < x < ∞, −∞ < y < ∞ e −∞ < z ≤ ζ excetuando-se
o interior do domı́nio limitado por Fc = 0.
φ = φ1 + φ2 + φ3 + ..... (7.336)
ζ = ζ1 + ζ2 + ζ3 + ..... (7.337)
p = p1 + p2 + p3 + ..... (7.338)
temos que levar em consideração esta influência. A idéia da metodologia é admitir que haja
uma pequena influência de segunda ordem dada pelo potencial φ2 , que gera um movimento de
segunda ordem da superfı́cie livre ζ2 . Essas grandezas de segunda ordem são supostas serem
de ordem ²2 . Além disto, não se objetiva resolver um problema não linear, porém resolver
um novo problema linear que corrija a solução abandonando os efeitos de terceira ordem ²3
e superiores. Caso os efeitos de terceira ordem sejam importantes, temos então que ir até a
terceira ordem, abandonando efeitos de quarta ordem e superiores.
Aqui estamos estabelecendo a forma das ordens dos termos, mas em geral é possı́vel obter
automaticamente as ”intensidades”das ordens superiores, a partir da primeira ordem, de
acordo com as equações que regem o problema.
Dizemos que duas funções f e g são da mesma ordem (com notação f = o(g)) se:
f
lim =1 (7.339)
²→0 g
Uma outra questão que deve ser observada é o fato de termos funções que devem ser avaliadas
em superfı́cies móveis. Nestes casos expandimos essas funções em torno da posição média em
séries de Taylor.
Assim por exemplo se queremos avaliar o potencial de velocidades, sua derivada em relação
ao tempo ou sua derivada em relação às variáveis x e z na superfı́cie livre fazemos:
∂φ(x, z = 0, t)
φ(x, z = ζ, t) = φ(x, z = 0, t) + ζ + ... (7.341)
∂z
• para a derivada em t
∂φ(x, z = ζ, t) ∂φ1 (x, z = 0, t)
= + (7.358)
∂t ∂t
∂φ2 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ1 (x, z = 0, t)
+ ζ1 (7.359)
∂t ∂z∂t
∂φ3 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ2 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ1 (x, z = 0, t) 1 2 ∂ 3 φ1 (x, z = 0, t)
+ + ζ1 + ζ2 + ζ1 +...
∂t ∂z∂t ∂z∂t 2 ∂z 2 ∂t
(7.360)
210 Texto Preliminar, SH Sphaier
• para a derivada em x
∂φ(x, z = ζ, t) ∂φ1 (x, z = 0, t)
= + (7.361)
∂x ∂x
∂φ2 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ1 (x, z = 0, t)
+ ζ1 (7.362)
∂x ∂z∂x
∂φ3 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ2 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ1 (x, z = 0, t) 1 2 ∂ 3 φ1 (x, z = 0, t)
+ + ζ1 + ζ2 + ζ1 +...
∂x ∂z∂x ∂z∂x 2 ∂z 2 ∂x
(7.363)
• para a derivada em z
∂φ(x, z = ζ, t) ∂φ1 (x, z = 0, t)
= + (7.364)
∂z ∂z
∂φ2 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ1 (x, z = 0, t)
+ ζ1 (7.365)
∂z ∂2z
∂φ3 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ2 (x, z = 0, t) ∂ 2 φ1 (x, z = 0, t) 1 2 ∂ 3 φ1 (x, z = 0, t)
+ + ζ1 + ζ2 + ζ1 +...
∂z ∂z 2 ∂z 2 2 ∂z 3
(7.366)
Utilizamos até aqui a notação clássica de derivadas parciais, utilizamos um subescrito para
denotar ordem e explicitamos as variáveis independentes. Com esta notação a vizualização
das equações torna-se confusa. Tentando melhorar esta vizualização vamos usar a seguinte
notação.
• Ordem
utilizaremos um superescrito entre parênteses
• Derivadas
utilizaremos um subescrito
Substituindo a expressão (7.336) na equação de Laplace (7.327) podemos verificar que cada
um dos potenciais φi tem que satisfazer a equação de Laplace, porém num domı́nio levemente
alterado:
∇2 φ(1) (x, y, z, t) = 0 (7.369)
∂φ ∂(φ(1) + φ(2) + . . .)
= =0 (7.371)
∂z ∂z
e assim
∂φ ∂φ(1)
= =0 (7.372)
∂z ∂z
∂φ ∂φ(2)
= =0 (7.373)
∂z ∂z
em z = −d.
(1) (2)
ζt − φ(1) (2) (1) (1) (1) (1) 3
z + ζt − φz + φx ζx − ζx φzz + O(² ) = 0 (7.374)
lim φ(1)
z = 0 (7.381)
z→−∞
com
k0 c1 − ω = 0 (7.383)
onde c1 é a celereridade da onda; assim
ω L1
c1 = = (7.384)
k0 T
A superfı́cie livre é definida por:
(1)
ζ (1) = ζ0 cos(ωt − k0 x) (7.385)
A relação entre a frequência (temporal) e o número de onda (frequência espacial) é dada pela
equação da dispersão:
ω 2 = gk0 tanh k0 d (7.386)
e a pressão em qualquer ponto do meio fluido é dada por:
h i
(1)
p(1) = −ρ φt + gz (7.387)
deve ser observado que assumimos que o número de onda, a celeridade e o comprimento da
onda são também expandidos em ordens.
Para sermos mais precisos devemos dizer que a pressão hidrostática é de ordem zero. Assim,
(2) (1) 1
φt + gζ (2) = −ζ (1) φtz − [(φ(1) 2 (1) 2
x ) + (φz ) ] (7.393)
2
214 Texto Preliminar, SH Sphaier
Da condição dinâmica de segunda ordem temos que o perfil da onda de segunda ordem é dado
por:
1 (2) (1) 1
ζ (2) = {−φt − ζ (1) φtz − [(φ(1) 2 (1) 2
x ) + (φz ) ]} (7.395)
g 2
Combinando as equações (7.392) e (7.393) chegamos a:
(2) (1) (1) (1) (1) (1)
φtt + gφ(2)
z = −g(ζ
(1) (1)
φzz − φ(1) (1)
x ζx ) − ζt φtz − ζ
(1)
φtzt − φ(1) (1)
x φxt − φz φzt (7.396)
Deve ser observado que a equação (7.397) torna-se homogênea para o caso de águas profundas.
Isto quer dizer que não há um potencial de segunda ordem.
(2)
φtt + gφ(2)
z = 0 (7.399)
Porém, mesmo assim, a superfı́cie livre sofre uma deformação de segunda ordem dada por:
1 (1) 1
ζ (2) = {−ζ (1) φtz − [(φ(1) )2 + (φ(1) 2
z ) ]} (7.400)
g 2 x
Capı́tulo 8
8.1 Introdução
O objetivo do estudo é o de se poder gerar os campos de velocidade, pressão, etc ... como
consequência de um escoamento em torno de um corpo. Lembrando que através da super-
posição de um dipolo e um escoamento retı́lineo uniforme permanente pudemos representar
o escoamento de um fluido ideal em torno de um cı́rculo e que com a superposição de uma
fonte, um sumidouro e um escoamento retilı́neo representamos o escoamento em torno de
um ”ovoide”, vamos estender estes resultados para representar outras formas. Vamos utilizar
várias fontes e vários sumidouros e determinar suas intensidades para tal.
v = ∇Φ (8.1)
215
216 Texto Preliminar, SH Sphaier
∇2 Φ = 0 (8.2)
n · ∇Φ = 0 (8.3)
onde n = nx i + ny j = cos(n, x)i + cos(n, y)j é o vetor unitário normal ao contorno do corpo
apontando para fora do domı́nio fluido, e j o vetor unitário apontando na direção Oy. Para
pontos muito afastados do corpo o potencial de velocidades tende para U x, isto é:
Φ = U (x + φs ) (8.5)
∂φs
= U (i · n + n · ∇φs ) = U {cos(x, n) + }=0 (8.7)
∂n
ou
∂φs
= −n · ∇φs = − cos(x, n) (8.8)
∂n
Com (8.2), (8.4), (8.5) e (8.8) podemos escrever o seguinte problema de valor de contorno
para φs
∂φs
= − cos(n, x) no contorno do corpo (8.10)
∂n
Para representarmos a função φs utilizaremos uma série de fontes e/ou sumidouros distribuı́dos
ao longo de uma linha no interior do corpo. A figura 8.1 apresenta um quadro das definições
geométricas utilizadas.
Chamando qj (η, ξ) à intensidade das fontes, teremos:
n
X ln |rj − ri |
φs = qj (η, ξ) (8.12)
1
2π
onde q
|rj − ri | = (x − ηj )2 + (y − ξj )2 (8.13)
Podemos verificar que ln r satisfaz as equações (8.9) e (8.11) do problema de valor de contorno
estabelecido acima. Colocamos várias singularidades na linha S(η, ξ) e calculamos as suas
influências em cada ponto (x, y) do domı́nio.
As figuras 8.2 e 8.3 mostram a representação de um contorno por elementos reta sobre os
quais são distribuidas as singularidades
A fonte com intensidade qj colocada no ponto (ηj , ξj ) cria o potencial φj .
qj
φj (x, y) = ln |rj − ri | (8.14)
2π
A influência de todas fontes cria o potencial dado em (8.12). As condições (8.9) e (8.11) estão
automaticamente satisfeitas. Falta satisfazer a condições (8.10). Esta determinará então os
valores de qj de tal forma que seja gerada uma linha de corrente fechada representando então
o corpo.
Com (8.12) em (8.10) teremos:
à n !
X qj
n·∇ ln |rj − ri | = − cos(x, n) = −nx (8.15)
1
2π
ou n ½ ¾
X qj ∂ ∂
n· ln |rj − ri |i + ln |rj − ri |j = −nx (8.16)
j=1
2π ∂x ∂y
X qj ½
n
1 ∂|rj − ri | 1 ∂|rj − ri |
¾
n·i+ n · j = −nx (8.17)
j=1
2π |rj − ri | ∂x |rj − ri | ∂y
X n ½ ¾
qj 1 x − ηj y − ξj
cos(n, x) + cos(n, y) = −nx (8.18)
j=1
2π |rj − ri | |rj − ri | |rj − ri |
Texto Preliminar, SH Sphaier 219
n
X qj
{(x − ηj ) cos(n, x) + (y − ξj ) cos(n, y)} = −nx (8.19)
j=1
2π|rj − ri |2
Como temos N incógnitas precisamos satisfazer esta equação em N pontos do contorno. Assim,
teremos N equações
Xn
qj
2
{(xi − ηj ) cos(n, x) |i +(yi − ξj ) cos(n, y) |i } = −nx,i (8.20)
j=1
2πrij
Fazendo
1
Aij = 2
{(xi − ηj )nx,i + (yi − ξj )ny,i } (8.21)
2πrij
podemos escrever
n
X
Aij qj = −nx,i (8.22)
j+1
Os coeficientes Aij , são chamados de coeficientes de influência, pois indicam como uma fonte
de intensidade unitária colocada na posição (ηj , ξj ) do espaço (ponto fonte) influenciaria cada
posição (xi , yi ) do domı́nio (ponto campo).
Os pontos sobre o corpo, onde queremos satisfazer a condição de contorno, são os pontos
médios dos lados do polı́gono. A figura 8.4 mostra detalhes sobre um elemento do corpo.
Este elemento, elemento i une os pontos i e i + 1. Observando-se a figura temos
t = tx i + ty j (8.24)
∆x
tx = cos(t, x) = cos α = (8.25)
s
∆y
ty = cos(t, y) = sin α = (8.26)
s
p
∆x = xi+1 − xi ; ∆y = yi+1 − yi ; s= ∆x2 + ∆y 2 (8.27)
n = nx i + ny j (8.28)
nx = cos β = cos(α + π/2) = − sin α = −tx (8.29)
ny = sin β = sin(α + π/2) = cos α = ty (8.30)
Convém ressaltar que a melhor escolha é aquela em que as fontes e/ou os sumidouros são
colocados nos pontos médios onde são aplicadas as condições de contorno. Isto aparentemente
cria uma singularidade no coeficiente de influência. Entretanto, esta dificuldade pode ser
ultrapassada analiticamente. Assim procedendo, temos
Uma vez obtidas as intensidades das fontes, podemos então determinar as velocidades, as
acelerações, as pressões e a função de corrente:
1. Velocidades à !
Xn
∂Φ qj x − ηj
vx = =U 1+ (8.32)
∂x j=1
2π |rj − ri |2
n
X qj y − ξ j
∂Φ
vy = =U (8.33)
∂y j=1
2π |rj − ri |2
2. Acelerações
∂vx ∂vx ∂vx
ax = + vx + vy (8.34)
∂t ∂x ∂y
∂vy ∂vy ∂vy
ay = + vx + vy (8.35)
∂t ∂x ∂y
Texto Preliminar, SH Sphaier 223
3. Pressões ½ ¾
∂Φ 1
p = −ρ + | ∇Φ |2 (8.36)
∂t 2
( n
X qj
= −ρ U̇ [1 + ln |rj − ri |] (8.37)
j=1
2π
à n !2 à n !2
2
U
n
X qj x − ηj X qj x − ηj X qj y − ξ j
+ 1+2 + +
2 2π |rj − ri |2 2π |rj − ri |2 2π |rj − ri |2
j=1 j=1 j=1
(8.38)
4. Função de Corrente
X qj µ ¶
y − ξj
Ψ = U (y + θj ) θj = arctan (8.39)
j
2π x − ηj
Observemos que se trata de uma função constante ao longo de cada linha de corrente.
Se quisermos traçar as linhas de corrente, deveremos determinar o conjunto dos pontos
{(x, y), | Ψ = C}, o lugar geométrico dos pontos para os quais Ψ = C.
A força atuante sobre o corpo é dado pela integral da força elementar em cada elemento do
contorno pnds, isto é: Z
F= pnds (8.40)
S
Considerando a pressão constante ao longo de cada elemento do polı́gono a integral pode ser
discretizada em um somatório:
n
X Xn
F={ pi nx,i ∆si }i + { pi ny,i ∆si }j (8.41)
i=1 i=1
Xn
Fx = { pi nx,i ∆si } (8.42)
i=1
Xn
Fy = { pi ny,i ∆si } (8.43)
i=1
Texto Preliminar, SH Sphaier 225
Inicialmente foi introduzida uma solução para a equação de Laplace utilizando-se uma ex-
tensão da idéia de se usar um conjunto de fontes e sumidouros para representar formas de
corpos no meio fluido.
Um tratamento similar do problema pode também ser utilizado, porém de forma mais rigorosa.
A técnica consiste em utilizar a segunda identidade de Green e transformar o problema de valor
de contorno em uma equação integral e resolvê-la discretizando o domı́nio de integração e sobre
cada elemento discreto do domı́nio assumir uma forma de representação da função incógnita,
concentrada em alguns pontos, constante ao longo de cada elemento, variando linearmente
ao longo de cada elemento e assim sucessivamente. Existem várias formas bastante similares,
porém com suas particularidades, de tratar o problema. Assim, encontramos na literatura o
método de paineis, o método da integral de contorno, o método da função de Green, o método
de elementos de contorno, etc...
Iremos apresentar a equação integral equivalente ao problema de valor de contorno para
obtenção da solução da equação de Laplace:
∇2 φ = 0 (8.44)
e da função G,
ln |r| ln r
G= = (8.49)
2π 2π
p
onde |r| = r = (x0 − xc )2 + (y0 − yc )2 , solução fundamental da equação de Poisson com
termo não homogêneo dado pelo δ de Dirac
∇2 G = δ(r) (8.50)
∇2 G = 0 (8.51)
e então Z Z Z
∂G ∂1 φ(S² )
φ(S² ) dS² = φ(S² )(− )r² dθ = − dθ (8.54)
S² ∂nS² S² 2πr² S² 2π
e no limite, quando r² ⇒ 0 Z
φ(S² )
− dθ = −φ(r0 ) (8.55)
S² 2π
A outra integral Z Z
∂φ
[G ]dS² = ln r² φn² r² dθ (8.56)
S² ∂n² S²
O sı́mbolo P V antes da integral significa que sobre a linha contorno não podemos integrar
quando r = 0. Como vimos nestes casos resolvemos analiticamente o problema somente em
torno deste ponto e a contribuição é incorporada através do termo à direita.
Caso o ponto r0 seja um ponto fora do domı́nio, procedemos da mesma forma e temos:
Z Z
∂G(rS , r0 ) ∂φ(rS
0= φ dS − G(rs , r0 )dS (8.59)
S ∂nS S ∂nS
Vemos assim que o problema de valor de contorno é transformado em uma equação integral
equivalente para determinação do potencial φ na forma:
Z Z
∂G ∂φ
cφ = P V φ ds − Gds (8.60)
S ∂n S ∂n
Este potencial tem que satisfazer uma condição de contorno de derivada normal na forma
Z
∂φ 1 ∂G
= − γ + PV γ dS = g(xS , yS ) (8.62)
∂n 2 S ∂n
Temos novamente uma Equação Integral para obtenção do potencial φ conhecendo-se a forma
de sua derivada normal no contorno. Nossa incógnita agora é a função γ ao longo do contorno.
228 Texto Preliminar, SH Sphaier
Formulação Direta
onde:
g(s) = φ(s) (8.64)
∂φ(s)
h(s) = (8.65)
∂ns
∂G(s, r)
H(s, r) = (8.66)
∂ns
Usando um número finito de pontos sobre o contorno e aplicando uma regra de integração
podemos aproximar as integrais de linha ao longo do contorno. Utilizando por exemplo
retângulos temos:
XN XN
1
gi = Hij gj − Gij hj (8.67)
2 j=1,i6=j j=1
½ 2
[cos αj (yi − yj ) + sin αj (xi − xj )] ∆sj /(2πrij ) se i 6= j
Hij = (8.69)
−1/2 se i = j
½
ln rij ∆sj /(2π) se i 6= j
Gij = (8.70)
−∆sj /(2π) se i = j
α é o ângulo entre a normal ao contorno no ponto (xj , yj ) e o eixo Ox, com a normal orientada
para fora do domı́nio.
Marcamos sobre o contorno um conjunto de pontos de 1 a N + 1, seguindo o interior a
esquerda e fazendo o ponto N + 1 coincir com o ponto inicial. Assim o contorno é subdividido
em um conjunto de N elementos. No meio de cada elemento temos os pontos utilizados para
Texto Preliminar, SH Sphaier 229
avaliar as integrais. Em cada elemento podemos determinar os cossenos diretores dos vetores
tangentes:
xf − xi
tx = (8.71)
∆s
yf − yi
ty = (8.72)
∆s
q
∆s = (xf − xi )2 + (yf − yi )2 (8.73)
Sabendo que o vetor normal é perpendicular ao vetor tangente temos nx = ty e ny = −tx .
Sabemos também que
∂ ∂ ∂
= nx + ny (8.74)
∂n ∂x ∂y
Esta última expressão é então utilizada para se determinar as derivadas normais da função
G.
Formulação Indireta
onde:
½ ¡ 2 2
¢
cos αi (yi − yj )/rij + sin αi (xi − xj )/rij ∆sj /(2π) se i 6= j
Dij = (8.76)
−1/2 se i = j
ou então 00 0 00
2R R Θ
r +r =− = ±λ2 (8.80)
R R Θ
Em que o primeiro membro é uma função exclusiva de r e o segundo membro é função
somente de Θ, sendo assim, a igualdade só é possı́vel se ambos forem iguais a uma constante
λ2 . Separando a expressão acima em duas equações diferenciais ordinárias temos:
00 0
r2 R + rR − (±λ2 )R = 0 (8.81)
00
Θ ± λ2 Θ = 0 (8.82)
A equação em R(r) é a equação diferencial de Euler.
Observemos a solução para o caso em que λ = 0:
- a equação em θ é agora
00
Θ =0 (8.83)
cuja solução é da forma:
Θ = a1 + a2 θ (8.84)
Escoamento Laminar
9.1 Introdução
∇·v =0 (9.1)
D
ρ v = ρg − ∇p + µ∇2 v (9.2)
Dt
231
232 Texto Preliminar, SH Sphaier
- impenetrabilidade nas superfı́cies que delimitam o domı́nio fluido, com vetor normal n,
dada por:
v · n = 0. (9.3)
Com a consideração da viscosidade, uma condição adicional tem que ser imposta ao problema
que é:
v·t=0 (9.4)
A solução deste sistema de equações é o grande desafio da mecânica dos fluidos. Não se
conhece uma solução fechada do problema. Particularidades em alguns escoamentos, como
por exemplo o fenômeno de turbulência, tornam o problema bastante mais complexo.
Para que possamos desenvolver o conhecimento sobre o problema, introduzimos algumas
hipóteses simplificadoras levando a situações menos complexas, cujas soluções, acompanhadas
de observações de escoamentos reais nos levam a uma maior compreensão dos fenômenos
envolvidos.
Osborne Reynolds em 1883 conduziu uma experiência mostrando os diversos regimes de es-
coamento de um fluido em um tubo. Utilizou um reservatório com fluido em repouso tendo na
região inferior um tubo horizontal dotado de uma torneira, conforme mostrado na figura 9.1.
Abrindo a torneira deixava o fluido escoar e introduzindo um filete de tinta no escoamento,
com a ajuda de um tubo bem fino cuja extremidade era colocada junto a entrada do tubo
horizontal, observou que inicialmente a tinta escoava ao longo do tubo sem perturbação e
que após um certo trecho começam a aparecer perturbações no filete de tinta, provocando
oscilações, movimentos no sentido vertical. Essas perturbações, que no inı́cio não se manifes-
tavam, aumentavam gradativamente a medida que o fluido avançava no tubo, até alcançar um
regime de escoamento totalmente agitado. Com esta experiência, caracterizou três regimes
distintos de escoamento, aos quais deu o nome de laminar, transitório e turbulento.
Podemos dizer que no regime laminar, as forças viscosas, ordenadoras, não permitem que as
partı́culas de tinta ‘saiam de suas lâminas’, suplantando as forças de inércia. Com o avanço as
forças de inércia vão crescendo e, gradativamente, superando as forças viscosas, acarretando
Texto Preliminar, SH Sphaier 233
crescentes perturbações no escoamento, que vão se tornando mais frequentes até que dominam
o escoamento.
O parâmetro que traduz essa relação entre forças inerciais e viscosas é o número de Reynolds:
ρU L
Re = (9.5)
µ
onde ρ é a massa especı́fica; U a velocidade caracterı́stica; L o comprimento caracterı́stico e
µ a viscosidade dinâmica,
que não faz sentido. Observando, na equação original dimensional (9.2) que o termo convectivo
é de ordem O(U 2 ), podemos ter a expectativa que ele seja desprezı́vel em relação aos outros
dois termos, indicando que as forças viscosas equilibrem as forças devidas ao gradiente de
pressão. Assim, não podemos normalizar a pressão com ρU 2 , porém com U µ/L. Assim
procedendo, obtemos:
0
∂v 0 0 0 0 0 0 0
Re ( 0 + v · ∇ v ) = −∇ p + ∇ 2 v (9.13)
∂t
Para pequenos valores do número de Reynolds os termos inerciais são desprezı́veis e a equação
de Navier-Stokes pode ser simplificada, assumindo a forma:
D ∂v ∂v 1
v= + (v · ∇)v = − ρv × ξ + ∇( v · v) (9.15)
Dt ∂t ∂t 2
e, como as forças de corpo derivam de um campo gravitacional, a expressão:
obtemos:
∂v 1
ρ − ρv × ξ = −∇( ρ | v |2 +p + ρgz) + µ∇2 v (9.17)
∂t 2
O primeiro termo é uma diferencial exata, assim a integral ao longo da trajetória entre dois
pontos 1 e 2 conduz a:
Z 2 Z 2
1 2 1
∇( ρ | v | +p + ρgz) · ds = d( ρ | v |2 +p + ρgz) = (9.21)
1 2 1 2
· ¸2 Z 2
1 2
ρ | v | +p + ρgz = ∇τ · ds (9.22)
2 1 1
Isto é a diferença entre a soma das energias cinética, potencial e de pressão entre esses dois
pontos deve-se a perda por efeito viscoso. Caso os efeitos viscosos sejam desprezı́veis chegamos
à clássica equação de Bernoulli. Não sendo desprezı́veis a diferença entre a soma das energias
é a perda de carga.
Esta expressão é empregada no projeto de redes de abastecimento, em que lidamos com
escoamentos internos em dutos. Conduzimos experiências em laboratórios, com escoamentos
em tubos, uniões, reduções, válvulas, etc..., medindo a velocidade, a pressão e a posição
vertical das extremidades da peça e então avaliando a perda de carga. Tabelando esses
resultados, criamos condições para, posteriormente, dimensionarmos redes.
Linha piezométrica
Linha de Energia
Linhas para o caso em que o diãmetro do tubo é constante, vazão constante, velocidade média
constante.
Linhas para o caso real para vazão constante e caso real. Perda de carga.
A figura 9.2 mostra diversas possibilidades de escoamento, dados pela expressão da solução do
problema (9.27. Essas soluções dependem dos valores do gradiente de pressão e das velocidades
das placas. Entre eles apresentamos os escoamentos de Couette e escoamento plano de Hagen-
Poiseuille.
238 Texto Preliminar, SH Sphaier
Escoamento de Couette
Este é outro caso de escoamento entre duas placas planas, em que a placa superior não se
movimenta e somente o gradiente de pressão atua para movimentar o fluido. A expressão do
campo de velocidades é obtida da expressão (9.27), eliminando a velocidade da placa superior.
O campo de velocidade na direção Ox é dado por:
y dp y
vx = − (b − ) (9.33)
µ dx 2
Texto Preliminar, SH Sphaier 239
vr = 0 (9.40)
r2 dp
vx = + A ln r + B (9.43)
4µ dx
como vx tem que ser finito para r = 0 então A tem que ser nulo. Junto à parede a velocidade
tem que ser nula, isto é, para r = a temos vx = 0, com isto B = −(a2 /4µ)(dp/dx). Assim, a
solução é dada por:
r2 − a2 dp
vx = (9.44)
4µ dx
Este resultado mostra que o perfil de velocidades é parabólico, como mostrado na figura 9.3.
vθ2 1 dp
− =− (9.48)
r ρ dr
Nessas condições:
ω2 R22 − ω1 R12
A= (9.51)
R22 − R12
(ω1 − ω2 )R12 R22
B= (9.52)
R22 − R12
Então: ½ ¾
1 £ 2
¤R12
vθ = ω2 − ω1 (R1 /R2 ) r + (ω1 − ω2 ) (9.53)
1 − (R1 /R2 )2 r
A figura 9.4 mostra a distribuição de velocidades em um fluido contido entre dois cilindros
concêntricos, de acordo com a expressão (9.53).
A seguir vamos analisar as soluções isoladas quando temos somente um cilindro interno e
quando temos somente um cilindro externo.
Para analisarmos o escoamento externo a um cilindro com movimento de rotação, basta que
no problema anterior consideremos que o raio do cilindro externo seja infinito e sua velocidade
angular seja nula. Isto é, ω2 = 0 e R2 → ∞. Nestas condições obtemos, a partir da expressão
(9.53):
R 2 ω1 vθ (R1 ) R1 a
vθ = 1 = = (9.54)
r r r
onde a = vθ (R1 )R1 , isto é, uma constante. Observemos que, embora tenhamos considerado
os efeitos viscosos do fluido, nossa solução equivale a um vórtice potencial, e independe do
coeficiente de viscosidade.
Analisemos agora o escoamento interno a um cilindro com movimento de rotação. Neste caso,
devemos considerar que na solução do problema do escoamento entre dois cilindros, o raio do
cilindro interno e sua velocidade angular sejam nulos. Assim, se ω1 = 0 e R1 = 0 obtemos, a
partir da expressão (9.53):
vθ = ω2 r (9.55)
Concluı́mos assim que, com a hipótese de escoamento laminar, o fluido no interior do cilindro
comportar-se-á como um corpo rı́gido, girando em torno do centro geométrico do cı́rculo.
Texto Preliminar, SH Sphaier 243
Na seção anterior estudamos alguns escoamentos permanentes laminares. Entre outros resul-
tados, vimos que o escoamento externo a um cilindro circular comporta-se como um vórtice
potencial. Vamos agora estudar problemas dependentes do tempo, com a finalidade de de-
screvermos o processo de difusão de vorticidade por efeitos viscosos.
- para o instante t = 0
vx (y, 0) = 0 (9.61)
vx (0, t) = U (9.62)
vx (y → ∞, t) = 0 (9.63)
vx = φ(U, y, t, ν) (9.64)
Recorrendo à análise dimensional podemos dizer que vx é função de quatro variáveis e duas
dimensões fundamentais estão envolvidas, espaço e tempo. Então podemos formar dois grupos
adimensionais:
vx y Uy
= g( √ , ) (9.65)
U νt ν
Porém o problema é linear com U , logo a relação vx /U tem que ser independente de U :
vx y
= f (y, t, ν) = g( √ ) = g(η) (9.66)
U νt
√
onde η = y/(2 νt)
Com vx = U g(η) obtemos as derivadas de vx :
∂vx ∂g dg ∂η dg y dg η
=U =U = −U √ 3/2 = −U (9.67)
∂t ∂t dη ∂t dη 4 νt dη 2t
246 Texto Preliminar, SH Sphaier
∂vx ∂g dg ∂η dg 1
=U =U =U √ (9.68)
∂y ∂y dη ∂y dη 2 νt
∂ 2 vx U d2 g ∂η U d2 g
= √ = (9.69)
∂y 2 2 νt dη 2 ∂y 4νt dη 2
Substituindo essas expressões na equação de difusão e nas condições de contorno e iniciais,
obtemos o seguinte problema: ¯
¯ −2η dg = d2 g2
¯ dη dη
¯ g(η → ∞) = 0 (9.70)
¯
¯ g(0) = 1
A equação acima pode ser então escrita na forma:
0
dg
= −2ηdη (9.71)
g0
0
onde g = dg/dη, que integrada fornece o seguinte resultado:
0 dg 2
ln g = −η 2 + C ou = ae−η (9.72)
dη
Com isto podemos ver que a função g é dada por:
Z η
2
g=a e−z dz + b (9.73)
0
A figura 9.5 mostra a forma da solução, dada pela expressão (9.76). Como vimos pelo de-
senvolvimento, trata-se do escoamento laminar em um domı́nio semi-infinito sobre uma placa
Texto Preliminar, SH Sphaier 247
Figura 9.5: Escoamento Laminar em um Domı́nio Semi-Infinito sobre uma Placa Plana com
Movimento Impulsivo
plana, inicialmente em repouso, que executa um movimento impulsivo. Nesta figura podemos
verificar que a velocidade alcança uma pequena fração da velocidade da placa para η = 2.
Adotando este valor como valor limite da camada de influência viscosa, podemos avaliar o
tempo necessário para que os efeitos viscosos alcancem uma certa distância δ da parede:
√
δ ≈ 4 νt (9.78)
Para se fazer uma avaliação da espessura desta camada, consideremos que é decorrido um
tempo de 10 minutos após a placa ter iniciado seu movimento e a temperatura ambiente é
de 20 graus Celsius. Como os coeficientes de viscosidade cinemática do ar e da água são
iguais a 1.5 × 10−5 e 1.0 × 10−6 respectivamente, obtemos que as espessuras no ar e na água
são iguais à 0.0948 metros e 0.0245 metros respectivamente. Após uma hora essas espessuras
serão iguais a 0.232 metros e 0.06 metros. Isto mostra que o processo de difusão dos efeitos
viscosos é bastante lento, particularmente na água.
248 Texto Preliminar, SH Sphaier
Este problema é bastante similar ao problema visto acima da placa plana. Neste caso temos
que, no inı́cio do escoamento, em t = 0+ , para y positivo a velocidade vx é positiva, enquanto
para y negativo a velocidade vx é negativa. O módulo da velocidade em todos os pontos do
escoamento é igual a 1. Nosso objetivo é analisar o que ocorre a partir desta situação.
A equação diferencial cuja solução descreve o campo de velocidades do escoamento é a equação
de difusão:
∂vx ∂ 2 vx
=ν 2 (9.79)
∂t ∂y
A condição inicial a ser satisfeita pela velocidade em todo o domı́nio é dada por:
- vx (y > 0, 0) = 1
- vx (y < 0, 0) = −1
A condição de contorno que diz respeito ao que acontece para grandes distâncias da linha
y = 0 ao longo do tempo é:
- vx (y → ∞, t) = 1
- vx (y → −∞, t) = −1
vórtice, quando os efeitos viscosos difundem o diferencial de velocidades sobre a folha. Convém
comparar a solução para o problema da placa plana infinita com movimento impulsivo a partir
do repouso, expressão (9.76), com a solução para o problema da folha de vórtice, expressão
(9.80). Enquanto a velocidade normalizada do primeiro caso é igual a 1 menos a função erro,
a outra é igual a função erro. Isto ocorre porque no primeiro caso o movimento da placa,
mantendo o movimento, aumenta a velocidade das partı́culas fluidas ao longo do tempo,
enquanto no segundo caso a velocidade do escoamento inicial normalizada tem módulo unitário
em qualquer ponto, salvo sobre a descontinuidade, e a viscosidade faz com que a velocidade
diminua com o tempo.
Prosseguindo com o estudo de escoamentos que nos mostram o processo de difusão devido
aos efeitos viscosos, vamos apresentar dois casos de grande interesse. São casos relacionado
com o desenvolvimento do escoamento a partir de um vórtice com caráter potencial, em que
introduzimos uma condição inicial que pode ser entendida como a quebra do mecanismo que
”mantém”um vórtice. A velocidade junto ao núcleo torna-se nula e com o tempo a velocidade
vai diminuindo em todo o domı́nio fluido. O segundo exemplo é o caso inverso, em que em um
fluido em repouso introduzimos em um ponto um núcleo de dimensão infinitesimal que impõe
um comportamento de vórtice potencial. Neste caso com o decorrer do tempo, a viscosidade
propaga este comportamento. No limite, quando o tempo decorrido torna-se infinito todo o
escoamento tem o comportamento de um vórtice potencial.
Decaimento de um vórtice
vθ (0, t) = 0 (9.84)
Para grandes distâncias do centro a velocidade comporta-se como induzida por um vórtice
livre. Assim, temos o seguinte comportamento para o campo de velocidades:
Γ
vθ (r → ∞, t) = (9.85)
2πr
A velocidade é função da distância ao centro r, do tempo t e da viscosidade ν.
vθ = g(r, t, ν) (9.86)
onde η = r2 /4νt.
Substituindo na equação de difusão e nas condições de contorno e iniciais, obtemos o seguinte
problema: ¯ 00
¯ f + f 0 = 0f (η → ∞) = 1
¯ (9.88)
¯ f (0) = 0
Desenvolvimento de um Vórtice
Nesta caso temos o fluido inicialmente em repouso e então introduzimos um vórtice na origem.
Agora, a condição inicial e as condições de contorno são:
vθ (r, 0) = 0 (9.91)
Γ
vθ (δ, t) = (9.92)
2πδ
onde δ é muito pequeno.
252 Texto Preliminar, SH Sphaier
vx (y, 0) = 0 (9.96)
vx (y, t) = 0 → ∞ (9.98)
254 Texto Preliminar, SH Sphaier
- no inı́cio do movimento
vx (0, 0+ ) = U (t) (9.99)
d2 f
i σf = ν (9.102)
dy 2
iσ
⇒ = k2. (9.106)
ν
Como
√ 1+i
i = ei π/2 ⇒ i = ei π/4 = √ (9.107)
2
e então r r r r
√ σ 1+i σ σ σ
k=± i =± √ =± ±i (9.108)
ν 2 ν 2ν 2ν
Substituindo (9.108) em (9.103)
√σ √σ √σ √σ
f = Ae 2ν
y
ei 2ν + Be − 2ν
y −i
e 2ν (9.109)
Como a condição de contorno (9.98) impõe que o campo de velocidades decresça a medida
que nos afastamos da placa é necessário que a constante A seja nula.
Com a condição de contorno junto a placa (9.97) e a forma do movimento oscilatório (9.100)
obtemos B = U0 .
Texto Preliminar, SH Sphaier 255
Figura 9.8: Perfı́s de velocidades ao longo do tempo devidos ao movimento oscilatório de uma
placa plana infinita
p √
Observando a figura 9.8 vemos que para y = 4 σν obtemos u = U e(−4 2) ≈ 0.05U . Isto é, se
adotarmos como o limite da camada viscosa a distância para a qual a velocidade alcançou o
valor de 5% da velocidade da placa, temos a seguinte estimativa para a espessura da camada
viscosa r
ν
δ≈4 (9.112)
σ
Capı́tulo 10
10.1 Introdução
Em 1904 Ludwieg Prandtl (1875, 1953) introduziu o conceito de camada limite. Segundo sua
hipótese, em escoamento de um fluido em torno de um corpo nele imerso, com altos números
de Reynolds, isto é, em que as forças inerciais prevalecem sobre as forças viscosas, os efeitos
viscosos se concentram em uma fina pelı́cula junto ao corpo, chamada camada limite. Nela
temos um grande gradiente de velocidades de tal forma que junto ao corpo a velocidade é
nula e imediatamente afastado do corpo a velocidade alcança o valor do escoamento externo.
Reunindo este novo conceito com a experiência de Reynolds, podemos prever que, ao acom-
panharmos o escoamento sobre uma placa plana semi-infinita e nos ativermos a região do
escoamento junto à placa, logo após o escoamento incidente encontrar a placa, as forças vis-
cosas, forças ordenadoras, vão superar as forças inerciais e o escoamento inicialmente será
laminar. Com o movimento do fluido avançando ao longo da placa, a camada limite irá
engrossar, porém ainda sendo apenas uma fina pelı́cula. Com a vorticidade se difundindo
perpendicularmente à placa, as velocidades começam a variar mais fortemente, há indução
de um comportamento rotacional e as forças de inércia começam a superar as forças viscosas,
desagregando a estrutura laminar. O regime entra na fase transitória. Perturbações contin-
uam aparecendo no fluido, principalmente pelo caráter rotacional imposto pela distribuição
de velocidades, de forma tal que as forças inerciais continuam aumentando e dominando as
forças viscosas. O escoamento passa então da fase de transição para a fase turbulenta.
Na engenharia oceânica, dois fenômenos são de grande importância. O atrito junto à parede
de um corpo em movimento e as consequências da separação do escoamento. Assim, daremos
ênfase no presente capı́tulo ao escoamento na camada limite em uma placa plana buscando
obtermos uma lei que nos forneça a resistência por atrito. Além disto, justificaremos a origem
257
258 Texto Preliminar, SH Sphaier
U∞ /L ≈ vy /δ (10.9)
ou
vy ≈ δU∞ /L (10.10)
Como os efeitos viscosos estão concentrados numa fina camada junto à placa, o campo de
pressões não é afetado por esses efeitos, podemos dizer que a pressão é dada pelas carac-
terı́sticas potenciais do escoamento externo à camada limite e que as forças de pressão são da
mesma ordem que as forças inerciais
2
p ≈ ρU∞ (10.11)
Vamos agora normalizar as equações de Navier-Stokes e da continuidade para analisar com-
parativamente os termos da equação em uma forma adimensional, com o comprimento adi-
mensional da placa da mesma ordem que a espessura adimensional da camada limite. Assim,
introduzimos as seguintes variáveis adimensionais:
1 0 ∂vy0 0
∂vy0 1 ∂p0 1 ∂ 2 vy0 1 ∂ 2 vy0
(v + vy 0 ) = − 2 0 + 2 0 2 + 2 (10.15)
Re x ∂x0 ∂y ² ∂y Re ∂x ² Re ∂y 0 2
∂vx0 ∂vy0
+ =0 (10.16)
∂x0 ∂y 0
onde Re = ρU L/µ é o número de Reynolds e ² = δ/L.
Para estimar as relações entre os diversos termos da equação normalizada, necessitamos ter
uma avaliação dos valores de Re e ². O primeiro adimensional, o número de Reynolds, depende
de quatro grandezas conhecidas. Duas delas dizem respeito às propriedades do fluido e as
260 Texto Preliminar, SH Sphaier
outras duas são dadas pelo escoamento e o tamanho da placa. O segundo adimensional
depende da espessura da camada limite, que pode ser obtida como resultado. Entretanto,
usando resultados obtidos anteriormente, sabemos que a espessura na posição x da placa é da
√
ordem O( νtx ), em que tx é o tempo que as partı́culas externas a camada limite levam para,
após alcançarem a aresta de ataque da placa, chegar à posição x. Assim, podemos estimar
que:
δ ¡√ ¢ ³p ´ ³p ´
² = = O νtx /L = O[ νL/U /L] = O ν/LU = O[Re−1/2 ] (10.17)
L
−1/2
e em nossa análise tomar ² = Re .
Uma análise da primeira equação indica que para altos números de Reynolds, Re , o termo do
segundo membro contendo a derivada segunda da velocidade na direção x é pequeno diante
dos outros termos, uma vez que Re aparece no denominador.
Na segunda equação temos termos de três distintas ordens para altos números de Reynolds.
O primeiro membro é de ordem O(Re−1 ). No segundo membro o termo de pressão é de ordem
O(Re ), enquanto o segundo e terceiro termos são de ordem Re−2 e Re−1 , respectivamente. No
limite quando Re → ∞ temos as equações de camada limite na forma adimensional:
∂vx0 0
0 ∂vx ∂p0 ∂ 2 vx0
vx0 + vy = − + 02 (10.18)
∂x0 ∂y 0 ∂x0 ∂y
∂p0
0=− (10.19)
∂y 0
∂vx0 ∂vy0
+ =0 (10.20)
∂x0 ∂y 0
Aplicando análise dimensional ao problema original, temos que
vx = f (x, y, U, ρ, µ) (10.21)
que pela aplicação do teorema de Bukingham, com x, U e ρ como variáveis fundamentais, nos
fornece
vx y xU y y y0 y0
= F( , ) = F( , p ) = F (² 0 , ²Re1/2 √ ) (10.22)
U x ν x νx/U x x0
−1/2
que, como ² ≈ Re
vx 1 y0 y0
= F ( 1/2 0 , √ ) (10.23)
U Re x x0
Entretanto, concluı́mos acima que as equações adimensionais aproximadas independem do
número de Reynolds, e com isto
vx y0
= F ( √ ) = F (η) (10.24)
U x0
Texto Preliminar, SH Sphaier 261
onde: r r r
y0 y L y √ L U
η=√ = =√ U =y (10.25)
x0 δ x νL x νx
Para obtermos a forma da componente de velocidade na direção y, integramos a equação da
continuidade
Z y0 0 Z 0
vy ∂vx 0 1 0 3/2 y 0 y 0 0 0
=− dy = x F ( √ )y dy (10.26)
δ 0 ∂x0 2 0 x0
Z y0 Z 0 1/2
(y 0 /x )
1 0 y0 y 0 dy 0 1 0
= x −1/2 F ( √ ) 0 1/2 0 1/2 = x −1/2
0
F 0 (η)ηdη (10.27)
2 0 x0 x x 2 0
vy 1 0 y0
⇒ = x −1/2 Φ( √ ) (10.28)
δ 2 x0
Destas relações observamos ainda que:
1
Φ0 (η) = ηF 0 (η) (10.29)
2
Esta análise nos permite avaliar a relação de grandeza dos diversos termos das equações, bem
como indicar a forma esperada das funções para descrever as velocidades.
Retornando às coordenadas naturais, e desprezando os termos de ordem superior, obtemos
como as equações de camada limite:
∂vx ∂vx 1 ∂p ∂ 2 vx
vx + vy =− +ν 2 (10.30)
∂x ∂y ρ ∂x ∂y
∂p
0=− (10.31)
∂y
∂vx ∂vy
+ =0 (10.32)
∂x ∂y
e que as funções que descrevem vx e vy são da forma
r
νU
vx (x, y) = U F (η) e vy (x, y) = Φ(η) (10.33)
x
A pressão não é obtida a partir dessas equações, porém é prescrita. Além disto a equação
(10.31) mostra que
p = p(x) (10.34)
262 Texto Preliminar, SH Sphaier
Na camada limite o campo de velocidades paralelas à placa varia de zero, junto a placa, até U ,
quando muito afastado da placa. Porém, mesmo próximo da placa, a uma pequena distância,
a velocidade vx já alcança o valor U . Na camada limite esta variação de vx de zero até U
é inicialmente muito acentuada para que posteriormente se aproxime de U assintóticamente,
isto é, a taxa de variação de vx com y é muito grande bem junto a placa. As figuras 10.1, 10.2
e 10.3 mostram esquematicamente os perfı́s de velocidade ao longo do comprimento da placa.
Na tentativa de se caracterizar uma espessura para a camada limite algumas definições são
utilizadas.
Assim: Z h
∗ vx
δ = lim (1 − )dy (10.36)
h→∞ 0 U
Em princı́pio essas definições são aparentemente artificiais. Entretanto, veremos mais adiante
que elas aparecem como elementos da teoria de camada limite.
Apresentaremos nesta seção a solução de Blasius para a camada limite laminar em uma placa
plana.
As equações que regem o escoamento na camada limite, para um fluido newtoniano, em que
as forças de corpo derivam de um potencial, foram estabelecidas acima. As equações (10.30),
(10.31) e (10.32), apresentam a forma dimensional das equações de camada limite, enquanto
as equações (10.18), (10.19) e (10.20) estabelecem a forma adimensional. Desprezando o
gradiente de pressões temos então a equação da continuidade e a equação da quantidade de
movimento em x como as equações de camada limite
∂vx ∂vy
+ =0 (10.38)
∂x ∂y
Texto Preliminar, SH Sphaier 265
∂vx ∂vx ∂ 2 vx
vx + vy =ν 2 (10.39)
∂x ∂y ∂y
Na forma adimensional as velocidades são funções do parâmetro η (10.33),
vx = U φ0 (η) (10.48)
r
1 νU
vy = (ηφ0 − φ) (10.49)
2 x
266 Texto Preliminar, SH Sphaier
A velocidade vy não se anula a medida que y → ∞. Isto é natural uma vez que temos que
satisfazer o princı́pio de conservação da massa, e seu valor limite é:
vy √
lim = 0.865Re,x = 0.865 νU x (10.50)
η→∞ U
O coeficiente de fricção, definido pela relação entre a tensão tangencial e 0.5ρU 2 é:
τ 0.664
cf = 2
=√ (10.56)
0.5ρU Rex
A figura 10.7 mostra a distribuição de velocidade vertical na camada limite, segundo a solução
de Blasius. A figura 10.8 mostra uma comparação dos perfı́s de velocidade horizontal nas
camadas limite laminar e turbulenta, sendo que a turbulenta indica uma média.
270 Texto Preliminar, SH Sphaier
Figura 10.8: Comparação de perfı́s de velocidade horizontal nas camadas limite laminar e
turbulenta
272 Texto Preliminar, SH Sphaier
A solução das equações de camada limite obtida por Blasius, é restrita a placas e regime
laminar, sem gradiente de pressão externo. Uma forma alternativa para tratar as equações
de camada limite foi introduzida por von Kármàn. Trata-se de uma análise integral, em que
a equação de quantidade de movimento é integrada verticalmente da superfı́cie sólida até a
extremidade da camada limite.
Z δ Z δ Z δ 2
∂vx ∂vx 1 ∂p ∂ vx
(vx + vy )dy = − dy + ν 2
dy (10.59)
0 ∂x ∂y 0 ρ ∂x 0 ∂y
Lembrando que fora da camada limite o escoamento tem um carater potencial, a pressão pode
ser obtida utilizando a equação de Euler, e as caracterı́sticas da velocidade externa à camada
limite, localmente.
1 ∂p ∂U (x)
= U (x) (10.60)
ρ ∂x ∂x
Substituindo (10.60) em (10.59) obtemos:
Z δ Z δ 2
∂vx ∂vx ∂U (x) ∂ vx
(vx + vy − U (x) )dy = ν 2
dy (10.61)
0 ∂x ∂y ∂x 0 ∂y
e então: Z δ
∗ dUd τxy
Uδ + vx (U − vx )dy = (10.68)
dx dx 0 ρ
A integral que aparece em (10.68) é a espessura de momentum θ∗ mutiplicada pelo quadrado
da velocidade. Assim, a equação que expressa a integral de quantidade de movimento é:
dU d τxy
U δ∗ + (θ∗ U 2 ) = (10.69)
dx dx ρ
Vamos agora descrever uma aplicação da integral de von Kármàn para obtenção aproximada
da solução de camada limite laminar em presença de um gradiente de pressão. Este esquema
foi inicialmente utilizado por Pohlhausen. Supomos que o perfil de velocidades da camada
limite possa ser descrito por um polinômio do quarto grau em função da relação entre a
posição vertical y e a espessura local da camada δ:
vx y y y y
= a0 + a1 ( ) + a2 ( )2 + a3 ( )3 + a4 ( )4 (10.70)
U δ δ δ δ
As condições de contorno são:
1. vx = 0 para y = 0.
1 ∂p ∂ 2 vx dU
= ν 2 = −U (10.71)
ρ ∂x ∂y dx
dΛ dU f (Λ) d2 U/dx2
= + g(Λ) (10.79)
dx dx U dU/dx
onde:
7257.6 − 1336.32Λ + 37.92Λ2 + 0.8Λ3
f (Λ) = (10.80)
213.12 − 5.76Λ − Λ2
213.12Λ − 1.92Λ2 − 0.2Λ3
g(Λ) = (10.81)
213.12 − 5.76Λ − Λ2
Neste caso a velocidade externa à camada limite é considerada constante ∂U/∂x = 0, logo
Λ = 0 e então
u
= 2η − 2η 3 + η 4 (10.82)
U
e
3
δ∗ = δ (10.83)
10
37
θ= δ (10.84)
315
2µU
τ= (10.85)
δ
A equação de von Karman torna-se:
37 0 νU
U2 δ −2 =0 (10.86)
315 δ
ou
2 · 315 ν
δδ 0 = (10.87)
37 δ
Texto Preliminar, SH Sphaier 275
ou
37
U δdδ − 2νdx = 0 (10.88)
315
integrando-se esta equação temos:
37 δ 2
U − 2νx = 0 (10.89)
315 2
e então:
1260 νx
δ2 = (10.90)
37 U
e r
ρµU 3 U 2ρ
τ = 0.343 = 0.343 √ (10.91)
x Rex
Este resultado aproximado é muito próximo ao anteriormente obtido.
Com o efeito da viscosidade, caracterizado pelo aparecimento da camada limite e de sua sep-
aração junto ao cilindro, o campo de pressão é altamente modificado dependendo do número
de Reynolds.
A figura 10.9 mostra a distribuição de pressões para um escoamento potencial, e as dis-
tribuições de pressão para dois casos de escoamentos reais para dois números de Reynolds
distintos. Um referente a um escoamento laminar e o outro turbulento.
Estes resultados mostram que uma partı́cula fluindo próxima ao cı́rculo, deslocando-se de
θ = π para θ = π/2, ao passar pelo primeiro ponto de estagnação desloca-se, tendo um
gradiente de pressão favorável, aumentando assim sua velocidade. Ao passar pelo ponto
θ = π/2 enfrenta um gradiente de pressão desfavorável reduzindo sua velocidade. No caso de
escoamentos potenciais não há perdas e o ganho de energia cinética no segundo quadrante é
usado para vencer o gradiente adverso de pressão no primeiro quadrante.
Texto Preliminar, SH Sphaier 277
No caso de escoamentos reais isto não é mais possı́vel. Os efeitos viscosos por menores que
sejam, são acentuados na camada limite, e nela a velocidade junto a parede é nula. Assim, as
párticulas na camada limite não acumulam energia cinética no segundo quadrante para vencer
o gradiente adverso do primeiro quadrante. Há a separação do escoamento, transformando a
distribuição ao longo do cı́rculo, no primeiro e quarto quadrantes. As distribuições de pressão
apresentadas na figura 10.9 mostram as diferenças acentuadas para os três casos.
As distribuições de pressão mostram claramente que os pontos de mı́nima pressão estão lo-
calizados próximos aos pontos θ = π/2 e θ = 3π/2. As regiões das esteiras nos escoamentos
reais tornam-se regiões de baixa pressão, entretanto, sem que fiquem abaixo da pressão dos
pontos θ = π/2 e θ = 3π/2. Nos três casos apresentados, a distribuição de pressão na face
de ataque, pouco se modifica. Enquanto na face de fuga as diferenças são acentuadas. A
integração das pressões fornecem as forças atuando sobre o cı́rculo. Com as distribuições de
pressão observa-se que no caso de escoamento de fluido invı́scito, a força resultante (devida
às pressões) é nula, enquanto, para fluido real, devido à separação do escoamento, essa força
é diferente de zero. Na realidade esta contribuição de força, não somente é diferente de zero,
como supera bastante a contribuiçao das tensões cisalhantes na camada limite.
Como vimos no caso do escoamento de Couette e Poisseuille, a superposição de um gradiente
de pressão desfavorável ao efeito viscoso, aparece um retorno no escoamento. Observemos
que no caso da camada limite temos o efeito viscoso causando a redução da velocidade, e
uma distribuição de pressão que só dependerá da situação externa à camada limite. Se esta
distribuição de pressão externa à camada limite gerar um gradiente de pressão desfavorável
no sentido da camada limite poderá haver uma inversão do escoamento. Lembrando que, ao
longo do comprimento a camada limite vai engrossando e o ângulo que o perfil de velocidades
faz com a parede aumenta, é possı́vel que, sujeito a um gradiente adverso, o escoamento
alcance uma situação em que haja um retorno do escoamento. Isto quer dizer que haverá
um ponto de estagnação, e consequentemente um linha divisória de duas regiões, uma em
que o escoamento tem que avançar e outra em que há um retorno. Assim, o escoamento que
tem que avançar é obrigado a deixar a parede. A esta situação chamamos de separação do
escoamento. Devemos lembrar que um escoamento viscoso com alto número de Reynolds em
torno de um corpo, estará sujeito a separação, caso haja um gradiente de pressão adverso.
No ponto onde a separação do escoamento ocorre a tensão cisalhante é nula, e as velocidades
normal e tangencial à parede são nulas. Considerando um sistema de referência localizado na
região de separação temos:
1 ∂p ∂ 2 vx ∂ 2 vx
= ν( 2 + ) (10.97)
ρ ∂x ∂x ∂y 2
e por outro lado admitindo que a pressão fora da camada limite é regida pela caracterı́stica
278 Texto Preliminar, SH Sphaier
1 ∂p ∂U (x)
= U (x) (10.98)
ρ ∂x ∂x
∂ 2 vx ∂ 2 vx ∂U (x)
ν( 2
+ 2
) = U (x) (10.99)
∂x ∂y ∂x
11.1 Introdução
Tratamos neste texto das equações representativas dos prı́ncipios da conservação de massa e
de quantidade de movimento, para escoamentos de fluidos incompressı́veis, com o objetivo de
se desenvolver equações de transporte para escoamentos turbulentos para massa, quantidade
de movimento, energia cinética, vorticidade e tensões de Reynolds.
Consideremos inicialmente as equações que expressam os princı́pios de conservação da massa,
equação da continuidade e da conservação da quantidade de movimento para um fluido in-
compressı́vel, equação de Navier-Stokes em notação tensorial:
∂ui
=0 (11.1)
∂xi
onde:
t - tempo
xi (i = 1, 2, 3) - coordenadas espaciais
ui (i = 1, 2, 3) - componente da velocidade do escoamento na direção i
283
284 Texto Preliminar, SH Sphaier
ρ - a massa especı́fica,
σij = −pδij + 2νsij - tensor das tensões,
sij = −1/2(∂ui /∂xj + ∂uj /∂xi ) - tensor das deformações
δij - delta de Dirac
µ - viscosidade dinâmica
ν = µ/ρ - viscosidade cinemática
p - pressões no escoamento médio
onde:
σ ij tensor das tensões do escoamento médio;
0
σij tensor das tensões das flutuações;
sij taxa de deformação do escoamento médio;
0
sij taxa de deformação das flutuações.
Decompondo a velocidade do escoamento instantâneo u em componentes média u e de flu-
0
tuação u na equação da continuidade,
0
u=u+u (11.11)
∂ui
=0 (11.13)
∂xi
0 0 0
∂(ui + ui ) 0 ∂(ui + ui ) 1 ∂(σ ij + σij )
+ (uj + uj ) = (11.14)
∂t ∂xj ρ ∂xj
e usando a equação da continuidade:
0 0 0 0
∂(ui + ui ) ∂(uj + uj )(ui + ui ) 1 ∂(σ ij + σij )
+ = (11.15)
∂t ∂xj ρ ∂xj
0
∂(ui + ui ) ∂ui
= (11.16)
∂t ∂t
0
1 ∂(σ ij + σij ) 1 ∂σ ij
= (11.17)
ρ ∂xj ρ ∂xj
respectivamente, e a equação de quantidade de movimento promediada assume a forma:
0 0
∂ui ∂(uj + uj )(ui + ui ) 1 ∂σ ij
+ = (11.18)
∂t ∂xj ρ ∂xj
0 0
ui uj = ui uj + ui uj (11.19)
O último termo, chamado de tensões de Reynolds, trata da correlação entre as componentes
0 0
das flutuações das velocidades, isto é, ui correlacionada com uj ou vice versa. O grau de
correlação é medido pelo coeficiente de correlação:
0 0
ui uj
cij = 0 0
(11.20)
ui2 uj2
Texto Preliminar, SH Sphaier 287
Se | cij |= 1 então as variáveis são totalmente correlacionadas. Por outro lado, se cij = 0,
então não existe correlação entre elas.
Reunindo esses resultados, a equação de quantidade de movimento promediada no tempo,
que descreve os efeitos da turbulência sobre o escoamento médio, é expressa como:
0 0
∂ui ∂uj ui ∂uj ui 1 ∂σ ij
+ + = (11.21)
∂t ∂xj ∂xj ρ ∂xj
ou
0 0
∂ui ∂uj ui 1 ∂(σ ij − ρui uj )
+ = (11.22)
∂t ∂xj ρ ∂xj
1 ∂p ∂ ∂ui 0 0
=− + (ν − ρui uj ) (11.23)
ρ ∂xi ∂xj ∂xj
O último termo do segundo membro na última expressão representa o transporte médio das
flutuações de quantidades de movimento pelas flutuações de velocidade. Podemos interpretar
esse termo como um agente que produz tensões no escoamento médio, e observar que tem
caracterı́stica inercial. Além disto, devemos dizer que as tensões de Reynolds são bem maiores
que as tensões viscosas, excetuando uma pequena região junto a paredes, dentro da camada
limite.
Essa equação é exata, mas introduz uma nova incógnita, o termo do transporte médio das
flutuações de quantidade de movimento, ou, a correlação entre componentes das flutuações
de velocidade, que dão origem à tensões adicionais, chamadas tensões de Reynolds.
Na camada limite turbulenta podemos observar uma sub-camada laminar associada funda-
mentalmente à tensão na parede. Na região mais superior da camada limite turbulenta o
escoamento é dependente das tensões de Reynolds, que se devem aos termos de flutuação.
Para se desenvolver expressões que forneçam os campos de velocidade e as forças na camada
turbulenta há que se usar resultados experimentais, análises qualitativas e muita intuição
fı́sica.
Seguindo essas linha convém trabalhar com dois modelos distintos um para a camada interna
e outro para a mais externa. Finalmente busca-se uma forma de compatibilizá-las através de
um modelo para a camada intermediária.
A figura 11.1 mostra a variação da tensão com a distância da parede, e indica a diferença
de contribuição de cada uma das camadas. A figura 11.1 mostra ainda o comportamento da
velocidade adimensional u/u∗ em função da distância adimensional da parede yu∗ /µ.
Texto Preliminar, SH Sphaier 289
∂u
τ = µ[ − ρui uj ] (11.27)
∂y
onde
∂P/∂x = f (x)
∂τ /∂y = f (y)
u = f (ν, τp , ρ, y) (11.29)
onde:
µ - viscosidade dinâmica
τp - tensão na parede
ρ - massa especı́fica
290 Texto Preliminar, SH Sphaier
y - distância da parede
Para a camada turbulenta mais externa utiliza-se abordagem de von Karman, em que se supõe
que a perda de velocidade é dada pela relação:
U −u y
∗
= g( ) (11.32)
u δ
onde
É possı́vel dizer que há uma expressão que compatibiliza esses duas expressõe na camada
intermediária, como será mostrado. Trata-se da lei logarı́tmica de Milikan para a camada
intermediária.
u 1 y u∗
= ln( )+B (11.33)
u∗ κ µ
Para dutos com paredes lisas
κ = 0.41
B = 5.0
Como numa camada limite de placa plana não existe um gradiente de pressão, então:
∂U ∂U ∂τ
ρU + ρV = (11.34)
∂x ∂y ∂y
Considerando agora que o escoamento junto a parede U independe de U∞
U = U (ρ, τp , ν, y) (11.35)
Texto Preliminar, SH Sphaier 291
e
dU
µ = τp (11.36)
dy
logo
yτp
U= (11.37)
µ
e na região intermediária essas expressões devem se igualar, isto é serem igual a uma mesma
constante 1/k, onde k é a constante de von Kármàn.
dF df 1
ξ =y = (11.44)
dξ dy k
Assim, podemos escrever as seguintes equações diferenciais para f e F :
df 1
y = (11.45)
dy k
dF 1
ξ = (11.46)
dξ k
cujas soluções são da forma
1
f (y) =
ln y + A (11.47)
k
1
F (ξ) = ln ξ + B (11.48)
k
As constantes A, B e k compatibilizam as duas equações e devem ser obtidas experimental-
mente. Experiências mostram que A = 5.0, B = −1.0 e k = 0.41.
A soma das duas leis conduz a lei da camada intermediária:
U u∗ δ
= C 0 ln( ) + (C1 + C2 ) (11.49)
u∗ ν
Entretanto uma segunda equação é necessária uma vez que temos duas incógnitas u∗ e δ
Com o objetivo de se ter uma segunda equação observamos que a integral de von Kármàn foi
obtida a partir da equação de quantidade de movimento laminar.
É possı́vel mostrar que a mesma equação é válida para camada limite turbulenta incluindo
as tensões de Reynolds, admitindo-se que as flutuações tenham um caráter isotrópico. Isto é,
u0 2 = v 0 2. Com esta condição adicional e desprezando o gradiente de pressão na integral de
von Kármàn
dθ
τp = ρU 2 = ρu∗2 (11.50)
dx
onde empregamos
u∗ = [τxy (x, 0)/ρ]1/2 = (τp /ρ)1/2 (11.51)
e θ denota a espessura de momento. A espessura da camada limite pode ser calculada em
termos de duas integrais:
Z 1 Z 1
U −u
I= f2 (y/δ)d(y/δ) ≈ d(y/δ) (11.52)
0 0 u∗
Texto Preliminar, SH Sphaier 293
Z 1 Z 1
2 U −u 2
J= [f2 (y/δ)] d(y/δ) ≈ ( ) d(y/δ) (11.53)
0 0 u∗
Das definições de espessura obtemos:
δ∗
= I(u∗ /U ) (11.54)
δ
θ
= I(u∗ /U ) − J(u∗ /U )2 (11.55)
δ
As equações (11.49), (11.50), e (11.55) formam um problema de três equações com três
incógnitas em u∗ , δ e θ. Podem ser resolvidas sem nenhuma hipótese adicional, utilizando-se
as constantes obtidas experimentalmente.
Um dos principais resultados é o coeficiente de arrasto de fricção local cf = τp /(.5ρU 2 ) que
satisfaz a equação:
1 1
√ = √ A ln(Re,x cf ) + C3 (11.56)
cf 2
onde Re,x = U x/ν é o número de Reynolds local. Com este coeficiente pode-se determinar o
arrasto total:
Z
1 l
CF = cf (x)dx (11.57)
l 0
Deve-se mencionar a expressão desenvolvida por Schoenherr que é utilizada pelo ATTC,
Conferência Americana de Tanques de Prova:
1
p = 1.739 ln(Re Cf ) (11.58)
Cf
A figura 11.2 apresenta essas curvas, de resistência friccional utilizadas pelo ITTC e pelo
ATTC, como extrapoladores para cálculo da resist encia de navios a partir de testes com
modelos.
294 Texto Preliminar, SH Sphaier
Observando perfis de velocidade em dutos verifica-se que este pode ser descrito em função da
distância à parede por uma lei de potência (ver figura 11.3) na forma
Baseado nestes resultados e na integral de von Karman, Prandtl apresentou uma formulação
para a camada limite turbulenta utilizando uma aproximação para o perfil de velocidades com
n = 7.
A partir desta aproximação e da forma integral de von Karman, Prandtl assumiu que
1
cf ∼ δ − 4 (11.61)
A figura 11.4 mostra uma comparação entre as resistências de placa plana segundo as aprox-
imações laminar, solução de Blasius, e a aproximação de Prandtl utiloizando lei de potência.
296 Texto Preliminar, SH Sphaier
12.1 Introdução
Com o efeito da viscosidade, caracterizado pelo aparecimento da camada limite e de sua sep-
aração junto ao cilindro, o campo de pressão é altamente modificado dependendo do número
de Reynolds.
A figura ?? mostra a distribuição de pressões para um escoamento potencial, e as distribuições
de pressão para dois casos de escoamentos reais para dois números de Reynolds distintos. Um
referente a um escaomento laminar e o outro turbulento.
Estes resultados mostram que uma partı́cula fluindo próxima ao cı́rculo, deslocando-se de
θ = π para θ = π/2, ao passar pelo primeiro ponto de estagnação desloca-se, tendo um
gradiente de pressão favorável, aumentando assim sua velocidade. Ao passar pelo ponto
θ = π/2 enfrenta um gradiente de pressão desfavorável reduzindo sua velocidade. No caso de
escoamentos potenciais não há perdas e o ganho de energia cinética no segundo quadrante é
usado para vencer o gradiente adverso de pressão no primeiro quadrante.
No caso de escoamentos reais isto não é mais possı́vel. Os efeitos viscosos por menores que
sejam, são acentuados na camada limite, e nela a velocidade junto a parede é nula. Assim, as
párticulas na camada limite não acumulam energia cinética no segundo quadrante para vencer
o gradiente adverso do primeiro quadrante. Há a separação do escoamento, transformando a
distribuição ao longo do cı́rculo, no primeiro e quarto quadrantes. As distribuições de pressão
apresentadas na figura ?? mostram as diferenças acentuadas para os três casos.
As distribuições de pressão mostram claramente que os pontos de mı́nima pressão estão lo-
calizados próximos aos pontos θ = π/2 e θ = 3π/2. As regiões das esteiras nos escoamentos
reais tornam-se regiões de baixa pressão, entretanto, sem que fiquem abaixo da pressão dos
pontos θ = π/2 e θ = 3π/2. Nos três casos apresentados, a distribuição de pressão na face
de ataque, pouco se modifica. Enquanto na face de fuga as diferenças são acentuadas. A
integração das pressões fornecem as forças atuando sobre o cı́rculo. Com as distribuições de
pressão observa-se que no caso de escoamento de fluido invı́scito, a força resultante (devida
às pressões) é nula, enquanto, para fluido real, devido à separação do escoamento, essa força
é diferente de zero. Na realidade esta contribuição de força, não somente é diferente de zero,
como supera bastante a contribuiçao das tensões cisalhantes na camada limite.
• Re < Re0 em que Re0 ≈ 5 é o limite de ”creeping flow”. Neste regime observa-se que o
escoamento não apresenta nenhuma região recirculação.
• Para números de Reynolds na faixa Re0 < Re < Re1 em que Re1 ≈ 40 dois vórtices
aparecem na região a juzante. Este regime circulatório é estável e não há liberação de
vórtices.
• Faixa de números de Reynolds entre Re1 < Re < Re2 em que Re2 ≈ 200. Para números
de Reynolds superiores a 40, a linha de simetria separando os dois vórtices e além dos
mesmos na esteira, apresentam um caráter ondulatório dada a instabilidade do regime
originando consequentemente a separação alternada dos dois vórtices. Entretanto a
esteira permanece com comportamento laminar.
302 Texto Preliminar, SH Sphaier
• Faixa de números de Reynolds entre Re2 < Re < Re3 em que Re2 ≈ 3 × 105 . A camada
limite junto ao corpo é laminar, existe o desprendimento alternado de vórtices, mas o
regime da esteira é turbulento.
• Faixa de números de Reynolds entre Re3 < Re < Re4 em que Re4 ≈ 3 × 106 . Esta é a
fase de transição do escoamento na camada limite, passando de laminar a turbulento.
O desprendimento dos vórtices é desordenado e a esteira é turbulenta.
• Faixa de números de Reynolds entre Re4 < Re A camada limite junto ao corpo é
turbulenta e volta a existir o desprendimento alternado de vórtices. Naturalmente o
regime da esteira é turbulento.
Utilizando estas conclusões, conduz-se a experimentação para obtenção das forças hidrodinâmicas
de arrasto fD e transversal, ou de sustentação (lift) fL . Com o desprendimento alternado de
vórtices observa-se uma flutuação nas forças, que dependerá do parâmetro L/D, e as forças
são então escritas na forma:
ρ
FD = DU |U |(CD + ĈD sin(2ωs + ψs )) (12.8)
2
Texto Preliminar, SH Sphaier 305
ρ
FL = DU |U |(ĈL sin(ωs + φs )) (12.9)
2
onde:
Re < 104
O rms (valor médio quadrático) do coeficiente de sustentação, CL,rms varia entre 0.4 e
0.6
106 < Re
Os poucos resultados experimentais apresentados nesta faixa indicam CL,rms > 0.4
f = fI + fD (12.13)
πD2 ρ
f = CM (Re)ρ u̇ + CD (Re) Du|u| (12.14)
4 2
Para a determinação dos valores de CM e CD , para o cálculo das forças devidas às ondas,
outros parâmetros devem ser considerados, os quais representam a rugosidade da superfı́cie
do cilindro e o movimento oscilatório das partı́culas fluidas.
A expressão acima pode ser aplicada também para o caso de tubos flexı́veis, considerando as
velocidades e acelerações locais do tubo v e v̇:
πD2 πD2 ρ
f = CM ρ u̇ + (CM − 1)ρ v̇ + CD D(u − v)|u − v| (12.15)
4 4 2
Esta abordagem foi proposta em 1950 por Morison et al. para o cálculo da força por unidade
de comprimento atuante em um pilar cilı́ndrico vertical em ondas, perpendicular ao eixo do
cilindro:
ρ πD2
f = CD Du|u| + CM ρ u̇ (12.16)
2 4
onde:
ρ - Massa especı́fica
D - Diâmetro do Pilar
308 Texto Preliminar, SH Sphaier
Um T
KC = (12.17)
D
onde:
Acima foi dito que o desprendimento de forma alternada provoca uma força transversal alter-
nada, excitando oscilações transversais no caso de estruturas cilı́ndricas circulares flexı́veis,
como é o caso de risers, linhas de trasmissão, estruturas esbeltas, etc. No sentido de se ter
um maior conhecimento do fenômeno é interessante relatar a experiência realizada por Feng.
310 Texto Preliminar, SH Sphaier
Um cilindro de seção circular com eixo colocado no plano horizontal foi submetido a um
escoamento na direção perpendicular a seu eixo. Uma mola tranversal ao eixo do cilindro
foi utilizada para ligá-lo ao solo permitindo. A velocidade foi aumentada gradativamente. A
figura 12.12 mostra um esquema da experiência desenvolvida. Observou-se que a medida que
a velocidade aumentava a frequência de desprendimento de vórtices aumentava mantendo-se
o número de Strouhal constante em torno de 2. Quando a frequência de desprendimento
de vórtices alcançava a frequência natural de vibração da estrutura esta apresentava uma
amplificação do movimento e mesmo aumentando-se a velocidade do escoamento a frequência
de desprendimento de vórtices deixava de crescer sintonizando-se na frequência da estrutura.
Convém ressaltar que no caso de estruturas rı́gidas a frequência de desprendimento continuaria
a aumentar mantendo-se o número de Strouhal em torno de 2.
A figura 12.13 mostra os resultados da experiência de Feng indicando a amplificação nos
valores de CD com a variação da velocidade reduzida. A velocidade reduzida é dada pela
relação U/(f ·D) onde U é a velocidade do escoamento incidente, f é a frequência de oscilação
do cilindro e D é o diâmetro.
A experiência de Feng, associada a outras similares, destaca algumas questões interessantes
que merecem ser comentadas:
1. O cilindro tem sua oscilação transversal amplificada a medida que a frequência de de-
sprendimento de vórtices iguala-se a sua frequência de oscilação. A esta ocorrência de
sintonização da frequência dá-se o nome de lock-in. Diversas outras expressões são
utilizadas na literatura. Diz-se, por exemplo, que a frequência da vibração do cilin-
dro captura e controla a frequência de desprendimento de vórtices, passando a reger o
fenômeno de desprendimento.