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José Fernando Cedeño de Barros

Mestre em Direito Processual pela Faculdade de Direito da


Universidade de São Paulo (USP). Bolsista da Capes – Brasília junto ao
Cerim (Centre d’Études et des Recherches Internationales –
Université Montpellier I) – França. Presidente da Associação Internacional
de Estudos Jurídicos e Econômicos. Professor nos cursos de Pós-Graduação
da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) e
Fundação Armando Álvares Penteado (Faap)

Direito do Mar
e do Meio Ambiente
A Proteção de Zonas Costeiras
e Litorais pelo Acordo Ramoge:
Contribuições para o Brasil e o Mercosul

São Paulo
2007
Copyright © 2007
Coordenadora: Yone Silva Pontes
Diagramação: Linotec
Ilustração de capa: Ana Carolina Sá
Revisão: Ismar Silva Leal e Mirella Del Mazza
Impressão e acabamento: Graphic Express

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Barros, José Fernando Cedeño de


Direito do mar e meio ambiente : a proteção de
zonas costeiras e litorais pelo Acordo Ramoge :
contribuições para o Brasil e o Mercosul /
José Fernando Cedeño de Barros. -- São Paulo :
Aduaneiras, 2007.

Bibliografia.
ISBN 978-85-7129-496-7

1. Acordo Ramoge 2. Direito do mar 3. Direito


internacional público 4. Litoral - Proteção
5. Meio ambiente 6. Zonas costeiras - Manejo
I. Título.

07-1837 CDU-341.221.2:504.42

Índices para catálogo sistemático:


1. Direito do mar e meio ambiente marítimo :
Direito internacional 341.221.2:504.42

2007
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.

Edições Aduaneiras Ltda. LEX Editora S/A.


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Rua da Consolação, 77 – CEP 01301-000 – São Paulo


e-mail: livraria@aduaneiras.com.br
SUMÁRIO

Dedicatória...................................................................................... 9

Agradecimentos .............................................................................. 11

Lista de Abreviaturas ...................................................................... 15

Prefácio – Ouvi os lamentos do mar! – Desembargador José Rena-


to Nalini .......................................................................................... 19

Apresentação – Professora Ada Pellegrini Grinover ...................... 23

Introdução – Professor Ives Gandra da Silva Martins .................... 25

INTRODUÇÃO GERAL
I. Finalidade da Pesquisa.......................................................... 27
II. Delimitação do Tema ............................................................ 37
III. Metodologia Adotada ........................................................... 43

PRIMEIRA PARTE
Os Caminhos Ásperos das Catástrofes
para Chegar à Colaboração Internacional

Capítulo 1
O Mar e o Direito Internacional Público

I. Antecedentes Históricos ....................................................... 51


1. As Conseqüências dos Tratados de Westfália ................... 56
2. O Equilíbrio Europeu: o Novo Sistema de Estados .......... 57
3. O Surgimento do Sistema Internacional de Estados e a
Noção Embrionária de Patrimônio Comum da Huma-
nidade e do Desenvolvimento Sustentável ...................... 58
4 Direito do Mar e Meio Ambiente

II. A Liberdade do Mar .............................................................. 63


4. As Bandeiras de Conveniência ......................................... 70
4.1. O Acidente do Torrey Cannion .................................. 76
4.2. O Affaire do Amoco Cadiz ......................................... 80
4.3. O Naufrágio do Érika ................................................ 81
5. Acidentes Específicos com Petroleiros no Mediterrâneo . 84
5.1. O Petroleiro Grego Patmos........................................ 84
5.2. O Affaire Haven ......................................................... 86
5.3. O Caso do Exxon Valdez ............................................ 88

Capítulo 2
A Crise e a sua Gestão

III. O Papel das Organizações Internacionais na Proteção do


Meio Ambiente ..................................................................... 91
6. De Res Nullius a Patrimônio Comum da Humanidade..... 103
6.1. Proteção dos Oceanos e de Todos os Tipos de Mares . 107
6.2. A Plataforma Continental e o Limite de 200 Milhas
Marítimas da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e os
Poderes de Gestão dos Estados Costeiros.................. 128
7. Os Projetos de Convenção e as Convenções Resultantes .. 137
7.1. A Convenção Internacional sobre Responsabilidade
Civil por Danos Causados pela Poluição por Derra-
mamento de Óleo (CLC/69) ...................................... 141
7.2. A Convenção de Criação de um Fundo Internacional
para a Indenização Decorrente dos Prejuízos Devidos
à Poluição pelos Hidrocarbonetos (Fipol) ................. 142
7.3. A Convenção Internacional sobre a Intervenção em
Alto Mar, nos Casos de Baixas por Poluição por Óleo
(Intervention/69) ........................................................ 144
7.4. Convenção Relativa à Responsabilidade dos Explora-
dores de Navios Nucleares ........................................ 147
7.5. Os Protocolos às Convenções de 1969 e de 1971 ..... 147
7.6. Marpol/73/78 ............................................................. 149
Sumário 5

8. Os Acordos Privados ........................................................ 151


8.1. O acordo Tovalop ...................................................... 152
8.2. O Cristal ..................................................................... 155
8.2.1. O Domínio de Utilização Universal do Cristal 156
8.2.2. As Diferenças Fundamentais entre o Cristal e
o Fipol .............................................................. 158
8.2.3. Fontes de Contribuição ao Cristal ................... 159
8.2.4. Natureza Jurídica de Acordo Privado do Tovalop
e do Cristal ....................................................... 160
9. A Experiência Norte-Americana (Oil Pollution Act (OPA)) 161
10. A Experiência Irlandesa .................................................. 167
11. A Convenção para a Proteção do Mar Báltico ................ 172
IV. A Convenção de Montego Bay ............................................. 176
12. A Convenção de Montego Bay e a Zona Econômica
Exclusiva (ZEE) ............................................................. 182
V. A Conferência do Rio/92 e a Agenda 21 .............................. 184
13. O Plano de Ação de Johannesbourg ............................... 189

SEGUNDA PARTE
A Intervenção do Estado na Proteção do
Meio Ambiente e a Convenção Ramoge

Capítulo 1
O Mar Mediterrâneo

VI. O Meio Ambiente e o Mar Mediterrâneo ............................. 197


14. Mare Nostrum ................................................................. 198
14.1. Antigüidade ........................................................... 200
14.2. Idade Média ........................................................... 205
a) Gênova ............................................................... 206
b) Mônaco .............................................................. 209
c) França ................................................................ 211
14.3. Um Espaço Marinho Perturbado. Dados Geográfi-
cos, Históricos e Jurídico-Diplomáticos ................ 218
6 Direito do Mar e Meio Ambiente

14.3.1. Os Processos de Erosão Mecânicos Vincula-


dos às Correntes Costeiras ......................... 227
14.3.2. Os Processos Químicos e Biológicos Espon-
tâneos ......................................................... 231
14.3.3. O Impacto Humano sobre os Litorais – Dados
Ecológicos ................................................. 233
14.3.4. A Poluição do Mar Mediterrâneo no Magreb 237

Capítulo 2
Um Acordo Regional Original
VII. A Convocação, as Conferências e a Assinatura da Conven-
ção Ramoge .......................................................................... 243
15. A Atuação do Principado de Mônaco para a Realização
da Convenção Ramoge ................................................... 246
VIII. A Adaptação dos Estados-Membros à Convenção Ramoge . 250
16. Observações Preliminares Relativas à Organização Insti-
tucional dos Três Estados ............................................... 253
17. A Organização do Estado ............................................... 255
17.1. A Desconcentração ................................................ 256
17.2. Capacidade de Recepção ....................................... 257
17.3. Cortes de Urbanização ........................................... 262
17.4. A Extensão da Urbanização ................................... 262
17.4.1. O Affaire Pancrazi ...................................... 263
17.4.2. O Affaire des Boues Rouges....................... 265
IX. A Gestão e a Proteção do Litoral em Mônaco ...................... 268
X. A Gestão e a Proteção do Litoral na França ......................... 275
XI. A Gestão e a Proteção do Litoral na Itália ............................ 287
XII. Os Espaços Protegidos na ‘Área’ Ramoge ........................... 293
18. Estratégias das Operações de Proteção ........................... 295
18.1. O Conservatoire du Littoral .................................. 297
18.2. A Itália e Mônaco .................................................. 299
18.3. Proteção das Baleias e Golfinhos no Âmbito da
Convenção Ramoge ............................................... 304
18.4. A Importância do Direito Internacional na ‘Área’
Ramoge .................................................................. 306
Sumário 7

Capítulo 3
A Convenção Ramoge e a sua Importância para o Brasil
XIII. Panorama Brasileiro ............................................................. 309
19. Crescimento Econômico e Desenvolvimento Sustentável
no Brasil .......................................................................... 313
19.1. Substituindo os Esquemas Clássicos de Produção 320
20. A Zona Costeira do Brasil .............................................. 326
20.1. A Legislação Incidente .......................................... 329
20.2. Agressões ao Litoral Brasileiro ............................. 331
20.3. As Soluções Nacionais para o Problema da Preser-
vação do Meio Ambiente do Litoral ...................... 340
XIV. A Importância da Convenção Ramoge para o Brasil ............ 345
21. Os Processos de Cooperação e de Integração Realizados
pelos Países-Membros da Convenção Ramoge como Contri-
buição para a Proteção do Meio Ambiente no Âmbito do
Mercosul ......................................................................... 363
22. Considerações Relevantes sobre os Princípios Inspirado-
res do Sistema de Proteção do Meio Ambiente na ‘Área’
Ramoge Aplicáveis no Litoral do Mercosul ................... 372
22.1. O Princípio da Ação Preventiva............................. 373
22.2. O Caso Iporanga .................................................... 375
22.3. O Princípio da Reparação dos Danos Ambientais
na Fonte ................................................................. 380
22.4. O Princípio do Poluidor-Pagador .......................... 381
22.5. O Princípio da Publicidade .................................... 382
a) O Affaire Guerra ................................................ 383
b) O Affaire Gabcikovo-Nagymaros ...................... 386
22.6. Outros Princípios ................................................... 390
23. A Proteção do Meio Ambiente das Zonas Costeiras e
Marinhas na Ótica do Mercosul...................................... 393
Conclusão Geral ............................................................................. 403
Bibliografia ..................................................................................... 407
Anexos ............................................................................................ 437
Resumo ........................................................................................... 451
Resumo em Inglês (Sumary)........................................................... 455
Resumo em Italiano (Riassunto) .................................................... 457
Dedicatória

A Stella Maris, fulgida coeli porta.

“Há uma consideração do Universo


que considera Deus enquanto causa
exemplar da criação.
Enquanto ser infinitamente belo,
que se reflete de mil maneiras
em todos os outros seres que criou,
de tal modo que não há nenhum ser que, a um título ou
outro, não seja um reflexo da beleza incriada de Deus.
Mas, sobretudo, a beleza de Deus se reflete no conjunto
hierárquico e harmônico de todos esses seres.
E não há, em certo sentido,
melhor modo de conhecermos
a beleza infinita e incriada de Deus,
do que analisando a beleza finita e criada do Universo.
Por exemplo, a beleza do mar.”

P. C. O.
AGRADECIMENTOS

Esta obra, realizada ao longo de cinco anos, no âmbito do Pro-


jeto Capes-Cofecub nº 238/98-II – O Estado em Transformação, não é o
fruto de um esforço isolado.

Em primeiro lugar, agradeço à minha mãe, professora d. Ignez


Cedeño de Lima Barros, por todos os sacrifícios que realizou, para que
eu pudesse efetuar o presente estudo. É com pesar que comunico o seu
falecimento, ocorrido em Ribeirão Preto (SP) aos 20 de dezembro de
2002, depois de muito sofrimento.

Agradeço, ainda, às seguintes pessoas e instituições, pelo con-


sistente apoio: professor Pierre Bringuier, meu tutor francês, diretor do
Departamento de Direito Internacional da Faculté de Droit et des Sciences
Économiques de l´Université Montpellier I (França), pela orientação
escrupulosa e paciente, professora Ada Pellegrini Grinover, por seus pru-
dentes conselhos referentes a determinados procedimentos acadêmicos
e preciosa contribuição doutrinária no tocante aos direitos difusos, ao
dr. José Renato Nalini, cujas reflexões filosóficas, colhidas em sua obra
Ética Ambiental, em muito contribuíram para o aperfeiçoamento deste
livro, à doutora Sylvie Tambutté, membro da Diretoria do Meio Am-
biente, do Urbanismo e da Construção do Principado de Mônaco e
da Comissão Ramoge, pelos documentos e livros referentes à proteção do
Mediterrrâneo, ao professor Bernard Barandon, chanceler do Consula-
do Geral de Mônaco em São Paulo, que me permitiu compulsar os exem-
plares atualizados de sua coleção do “Journal Officiel de Monaco”, aos
funcionários (que desejaram permanecer no anonimato) do Departamento
do Meio Ambiente do Hôtel de Ville de Genebra, Suíça, madame Danielle
Schirmann-Duclos, Agrégée d´Université, encarregada de missão junto
ao presidente-diretor geral, delegada dos Negócios Regionais, Ifremer, a
quem endereço especiais agradecimentos pela remessa de material atua-
lizado e importante sobre a questão da proteção da costa da França e,
sobretudo, pelo material científico específico sobre a proteção do mar
12 Direito do Mar e Meio Ambiente

e do litoral da região do Languedoc-Roussillon, zona especialmente sen-


sível do Mar Mediterrâneo, a David Tessier, Coordenador Técnico Re-
gional de Ports-propres – Syndicat Mixte Aménagement touristique du
Languedoc-Roussillon, Montpellier, professor Régis Hocde, diretor do La-
boratório de Morfodinâmica Continental e Costeira da Universidade de
Rouen, professor André Laflamme, Especialista em Cartografia de Zonas
Sensíveis, Setor de Urgências Ambientais, Diretoria da Proteção do Meio
Ambiente do Canadá, ao Lieutenant W. Michael Pittman, U.S. Depart-
ment of Transportation, United States Coast Guard, Washington, D.C.,
professora Marie-Luce Pavia, responsável pelo Departamento de Direi-
tos Humanos e União Econômica Européia, da Université Montpellier I,
madame Elisabeth Lipiatou, diretora geral de Science, Research and
Development – Directorated for Environment, Marine Science and
Technology Programme, Comissão Européia, Bruxelas, doutor Arno Dal
Ri Júnior, Università Luigi Bocconi, Istituto di Diritto Comparato, Milão,
pelas sugestões no tocante às pesquisas realizadas em bibliotecas italianas,
aos professores João Mendonça de Amorim Filho e Miriam Campelo de
Amorim, residentes em Brasília-DF, pelo incentivo e magnífico presente
da coletânea de legislação ambiental no Brasil, publicada pelo Senado
Federal, às irmãs Cláudia e Luísa Fernanda Garcia Lopez, pela revisão
da versão francesa do relatório de atividades apresentado aos dirigentes do
Acordo Capes-Cofecub, e madame Margaret Watts-Dimas, bibliotecária
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Unidade de
coordenação do Plano de Ação para o Mediterrâneo, Atenas, pela remessa
de excelentes e atualizados estudos sobre as atividades realizadas em
prol da proteção das diferentes regiões do Mediterrâneo. No tocante à
Irlanda, cabe-me agradecer a hospedagem e vencedora amizade de Paul
Anthony Galvin e de sua família. Em Paris fui hospedado por Luc Ber-
rou e tive o apoio necessário às minhas pesquisas prestado pelo pessoal
da Embaixada do Brasil na França, o qual agradeço na pessoa de Vilma
Rocha.
Agradeço também a Capes-Brasília, com especial menção ao
embaixador Carlos Alberto de Azevedo Pimentel, pelos préstimos que
resultaram na renovação da bolsa de estudos de estágio de doutoramento.
Consigno, por oportuno, os esforços despendidos pelo profes-
sor Guilherme Chaves Sant’Anna, Renata Chade Cattini Maluf e por
Agradecimentos 13

minhas primas Ana Maria de Figueiredo Ribeiro Rocha e embaixatriz


Yara Meirelles de Azevedo Pimentel. Os dois primeiros, por se encarre-
garem de inúmeras atividades relacionadas ao meu gabinete de advogado,
e, as últimas, por se incumbirem das tratativas que foram imprescindí-
veis à continuidade de minha permanência na Europa.
Agradeço, finalmente, à professora Maria Cláudia de Souza Fóz
Destri e ao professor Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, pelo apoio,
incentivo e leitura crítica dos originais da presente obra.
Cumpre-me o grato dever de agradecer o acesso e as facilidades
de consulta que me foram propiciadas por parte do pessoal responsável
pelas seguintes bibliotecas e instituições especializadas: Biblioteca do
Departamento de Direito Internacional da Faculdade de Direito da USP;
Biblioteca Interuniversitária de Montpellier; Biblioteca Gutenberg; de
Montpellier; Biblioteca Interuniversitária; Biblioteca do Institut Catho-
lique e Biblioteca da Casa do Meio Ambiente, estas três últimas todas
em Toulouse; Biblioteca da Universidade d’Aix-Marseille, em Aix-en-
Provence; Biblioteca do Hôtel-de-Ville, de Genebra; a coleção jurídica e
o centro europeu de documentação da Erasmus Universiteit de Rotterdam;
Biblioteca do Instituto de Direito Econômico do Mar (Indemer); Biblio-
teca do Museu Oceanográfico e Biblioteca Irlandesa, todas no Princi-
pado de Mônaco; aos Arquivos Departamentais des Bouches-du-Rhône,
em Aix-en-Provence; Biblioteca da Universidade de Cork, na República
da Irlanda; Biblioteca da Casa do Meio Ambiente de Dublin e Newbridge
Library, ambas também na Irlanda. Agradeço, ainda, ao pessoal da
Biblioteca Mazarine; Biblioteca Cujas de Direito e Ciências Econômi-
cas, da Universidade Sorbonne; Biblioteca do Instituto Oceanográfico; e
ao Centro de Documentação da Embaixada do Brasil na França, em
Paris; às Bibliotecas do Instituto Universitário de Altos Estudos Interna-
cionais (IUHEI), Instituto Universitário de Estudos sobre o Desenvolvi-
mento (IUED); e Biblioteca das Nações Unidas (ONU), todas em Genebra;
a Biblioteca Nazionale Centrale e a Biblioteca di Scienze Sociali da Uni-
versità degli Studi, ambas de Florença; e, finalmente, aos funcionários
da Biblioteca do Principado de Liechtenstein, sediada em Vaduz.
LISTA DE ABREVIATURAS

AJDA Annuaire Juridique de Droit Administratif


Anpe Agence Nationale pour la Protection de l’Environnement
ANRH Agence Nationale des Ressources Hydrauliques
AIEA Agência Internacional de Energia Atômica
AFDI Annuaire Français de Droit International
Acordo Tovalop Tanker Oweners Voluntary Agreement concerning Liability
for Oil Pollution
Acordo Opol Offshore Pollution Liability Agreement
Ademe Agence de l’Environnement et de la Maîtrise de l’Energie
Arpec Association Régionale pour l’Environnement
AIZC Aménagement Intégré des Zones Côtières
Bull. Assoc. Géogr. Bulletin de l’Association des Géographes Français
Franç.
Bulletin de la Soc. Buletin de la Société Languedocienne de Géographie
Lang. Géogr.
CMI Comitê Marítimo Internacional
CLC/69 Civil Liability Convention
CEE Comunidade Econômica Européia
CDI Comissão de Direito Internacional
CGPM Conseil Général des Pêches pour la Méditerranée
CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
CIESM Comissão Internacional para a Exploração Científica do Mar
Mediterrâneo
CSM Conseil Scientifique de Monaco
CSP Conseil Supérieur de Pêche
Cerim Centre d’Études et de Recherches Internationales de la
Faculté de la Faculté de Droit et des Sciences Économiques
Montpellier I
CAD Comité d’Aide au Développement
Conama Conselho Nacional do Meio Ambiente
Divea Divisão de Estudos Ambientais
DMF Droit Maritime Français
DO Diário Oficial [da União]
Dez. dezembro
EIA Estudo de Impacto Ambiental
16 Direito do Mar e Meio Ambiente

FGV Fundação Getulio Vargas


Feema Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
FUND/71 Convention on the Establishment of Oil and an International
for Compensation for Oil Pollution Damage
FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations
FEM Fonds pour l´Environnement Mondial
Fipol Fundo Internacional para a Indenização Decorrente dos
Prejuízos Devidos à Poluição pelos Hidrocarbonetos
GRT Gross Register Tonnage
GU/Gazz. Uff. Gazetta Ufficiale della Repubblica Italiana
IMO International Maritime Organization
Ipieca International Petroleum Industry Environmental Association
Conservation
Ismal Institut de la Mer et de l´Aménagement du Littoral
Iude Institut Universitaire d´Études du Dévelopement
Indemer Institut du Droit Économique de la Mer
Ifen Institut Français de l’Environnement
Ineris Institut National de l’Environnement et des Risques
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis
Icad Institut du Cadre des Dirigeants
Iuheid Institut des Hautes Études Internationales

JO Journal Officiel

L Legge/Loi/Lei
LGDJ Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence

Marpol/73 International Convention for the Prevention of Pollution


from Ships
MED POL Programme for the Assessment and Control of Pollution in
the Mediterranean Region

OPRC Convenção Internacional sobre o Preparo, Resposta e


Cooperação em Caso de Poluição por Óleo
OMI Organização Marítima Internacional
OMCI Organização Marítima Intergovernamental Consultiva
Internacional
OCDE/OECE Organização Européia de Cooperação Econômica
OIT Organização Internacional do Trabalho
ONU Organização das Nações Unidas
ONG Organização não-Governamental
Lista de Abreviaturas 17

OPA Oil Pollution Act


Oct Octobre (outubro)
Oct.-Déc. Octobre-décembre (outubro-dezembro)
ONC Office National de la Chasse
PAM Plano de Ação para o Mediterrâneo
PNUE/PNE Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente/
Programme des Nations Unies pour l’Environnement
Plano Cristal Contract Regarding a Supplement to Tanker Liability for Oil
Pollution
PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Programa MAB Programa Internacional sobre o Homem e a Biosfera
PNB Produto Nacional Bruto
PAS Programa de Ajuste Estrutural
PUF Presses Universitaires de France
RT Revista dos Tribunais
RFDadm Revue Française de Droit Administratif
RJU/Rev.Jur. Envir. Revue Juridique de l’Environnement
RAF Royal Air Force
RGDIP Revue Générale de Droit Internacional Public
Ramoge Acordo entre a França, Mônaco e a Itália Relativo à
Proteção das Águas do Litoral do Mediterrâneo
RE Recurso Extraordinário
Rima Relatório de Impacto Ambiental
Rina Registro Italiano Navale
Riv. Dir. Proc. Rivista di Diritto Processuale
SC Estado de Santa Catarina (Brasil)
so Supplemento Ordinário (Itália)
SiDiMar Sistema Difesa Mare
SHON Surface Hors Oeuvre Nette
STF Supremo Tribunal Federal
TJPI Tribunal Permanente de Justiça Internacional
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Unpe United Nations Environment Programme
UMA Maghreb Union
UICN/IUCN The World Conservation Union
Unesco United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization
USP Universidade de São Paulo
UE/UEE União Européia/União Econômica Européia
WWF World Wildlife Foundation
ZEE Zona Econômica Exclusiva
PREFÁCIO

OUVI OS LAMENTOS DO MAR!

O mar sempre foi a porta aberta à aventura. Os navegadores o con-


cebiam como espaço imenso, mas limitado. Por desconhecerem sua exten-
são, acreditavam que terminasse numa esquina do mundo. Nossos coloni-
zadores o singraram destemidos. Por isso, Fernando Pessoa pôde afirmar:
“E ao imenso e possível oceano/Ensinam estas Quinas, que aqui vês/Que
o mar com fim será grego ou romano:/O mar sem fim é português!”.1
Para nós brasileiros, o mar sempre encantou. São oito mil qui-
lômetros de costa banhada pelo Atlântico. Em nossa História, “foi desde
sempre o mar”.2 Por mar chegaram os descobridores. Junto ao mar per-
maneceram por séculos. O mar era o caminho de volta, aspiração única
dos metropolitanos. Se o oceano foi chamado irrecusável, também foi
sepulcro de sonhos.
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”.3
A melancolia do mar inspirou nossos poetas. O paulista Vicente
de Carvalho é conhecido como “o poeta do mar”. Em suas “cantigas
praianas”, ele invoca a placidez da praia:

1 PESSOA, Fernando. “Mar Português-II”, Padrão, in Obra Poética.


2 MEIRELES, Cecília. Mar Absoluto.
3 PESSOA, Fernando. Op.cit., idem, ibidem.
20 Direito do Mar e Meio Ambiente

“Ouves acaso quando entardece


Vago murmúrio que vem do mar,
Vago murmúrio que mais parece
Voz de uma prece
Morrendo no ar?”.
Do mar se extraem os sonhos e o alimento. Sua imagem é a de
eterna renovação. Mas a espécie humana é provida de razão e de insensa-
tez. Nem sempre elas se compensam. O final do século passado e o início
desta nova centúria e novo milênio oferecem espetáculo triste e angustiante.
Do mar, tal como da floresta, tudo se tira, nada se repõe. Pesca sem
critério reduz não só os cardumes. Ameaça de extinção muitas espécies.
Acidentes com navios mal conservados, no transporte inconse-
qüente de matéria tóxica, envenena as águas e sacrifica a biodiversidade.
Usa-se do mar como se fora um coletor de lixo em movimento
contínuo. Nele se lançam esgotos, detritos, toda espécie de resíduo gerado
pelo consumismo elevado às últimas potências.
A própria configuração oceânica parece dificultar a reação da
consciência ecológica. Enquanto a devastação da mata é constatável
de imediato, o lixo sobre a superfície logo se faz notar, a poluição atmos-
férica produz nocividade de plano, o sacrifício a que se submete o mar
demora a ser percebido. Suas profundezas impedem a verificação visual
dos prejuízos, mas guardam o testemunho da insânia da criatura que se
acredita dona do Universo.
Milita em desfavor de mais efetiva tutela dos mares, a crença
ingênua de que ele assimila todos os golpes e renasce a cada onda. Só
que hoje, “beijando a areia, batendo as fráguas/choram as ondas; cho-
ram em vão: o inútil choro das tristes águas/Enche de mágoas/A soli-
dão...”.4 O mar estaria sozinho, indefeso e condenado a abandonar a
vocação de fonte de vida?
A reiteração de lamentáveis episódios que vitimam os oceanos
e suas criaturas, com evidente reflexo no déficit qualitativo da vida hu-
mana, obrigou a algumas reações. O Brasil ainda não encarou com serie-

4 CARVALHO, Vicente de. Cantigas Praianas.


Prefácio 21

dade os riscos impostos ao seu litoral. A ocupação desenfreada de todos


os espaços, a destruição quase total da Mata Atlântica, o turismo irracio-
nal, a navegação e a pesca sem critérios, a leniência na fiscalização de
emissores de esgoto, são alguns dos graves ataques perpetrados contra o
Atlântico.
A partir dessa realidade, o livro de José Fernando Cedeño de
Barros adquire relevância extrema. Durante mais de cinco anos, pesquisou
de forma incessante em centros de reconhecida excelência e realizou um
trabalho pioneiro. Ainda não fora produzido, no Brasil, um estudo tão
completo sobre os riscos a serem suportados por toda a civilização, se
não houver mudança de atitude em relação à tutela marinha.
Insuficiente o arcabouço do direito privado para uma proteção
satisfatória. O meio ambiente foi enfatizado na ordem constitucional
vigente e hoje necessita da contribuição de todas as ciências e de todos
os ramos da árvore jurídica. Nenhum tema é tão característico de uma
concepção holística, tal como a ecologia. Urge levar a sério a educação
ambiental, um dos instrumentos postos à disposição da comunidade pelo
constituinte angustiado com a rápida deterioração dos recursos naturais.
Só uma compreensão mais consistente dos fenômenos climáticos e bio-
lógicos, nutrida por uma consciência ética ambiental, é que propiciará o
encontro de alternativas ao caos.
José Fernando Cedeño de Barros é profundo ao analisar o efeito
das catástrofes como fator de reversão da inconseqüência humana e exa-
mina com propriedade a missão das organizações internacionais na tutela
ambiental. Não é por falta de documentos celebrados entre governos e
inúmeros parceiros que os oceanos continuam desprotegidos.
O modelo da Convenção Ramoge, acordo firmado entre a Fran-
ça, Mônaco e Itália com vistas à proteção do Mediterrâneo, é um parâ-
metro a inspirar adoção de providências tendentes a contornar as inten-
sas agressões praticadas contra o litoral brasileiro.
Não é missão singela conter a expansão urbana e conseqüente
especulação imobiliária, a poluição industrial, a agropecuária, o mal
uso dos portos, a pesca predatória, o desmatamento, a mineração e outras
modalidades de lesão intensificadas contra o litoral. O consumismo exa-
cerbado, padrão por que optou a sociedade materialista, hedonista e egoísta,
só interessada em prazeres e em dinheiro, é adversário quase invencível.
22 Direito do Mar e Meio Ambiente

A luta é desigual e injusta. Do lado da natureza, poucos os que arrostam


as intempéries ideológicas e a falta de espaço político e institucional. Do
lado do capital, a aquisição das inteligências postas a seu serviço e sem-
pre prontas a justificar – em nome de discutível noção de progresso ou
desenvolvimento – os mais cruéis ataques ao meio ambiente.
A crônica dos atentados contra o meio ambiente marinho, so-
mente a partir de 1975, é estarrecedora. A juventude precisa ter conhe-
cimento de seus efeitos e adquirir a consciência de que é intolerável
permitir que se multipliquem. Este livro é um libelo e um chamamento a
que o Brasil acorde para a defesa de seu litoral.
O país, sozinho, talvez seja impotente para impedir o derreti-
mento das calotas polares e a ameaça cada vez mais próxima de aumento
do nível dos mares. Mas é plenamente capaz de impedir a continuidade
dos golpes que vitimam a costa atlântica.
José Fernando Cedeño de Barros mostra com seu talento e eru-
dição que talvez ainda haja tempo de salvar o litoral brasileiro.
Possa produzir o seu livro o enternecimento das consciências
lúcidas para que o mar se libere da morte a que todos o condenamos.
É um apelo científico e humano, exato e sensível, a que todos
tenhamos um outro olhar em direção ao oceano:
“Ah, se o olhar descobrisse
Quanto esse lençol de águas e de espumas
Cobre, oculta, amortalha!... a alma dos homens
Apiedada entendera os teus rugidos
Os teus gritos de cólera insubmissa
Os bramidos de angústia e de revolta
De tanto brilho condenado à sombra
De tanta vida condenada à morte!”.5
José Renato Nalini
Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,
integrante da Câmara Especial do Meio Ambiente

5 CARVALHO, Vicente de. Palavras ao Mar.


APRESENTAÇÃO

O autor e a obra que tenho a honra de apresentar – Direito do


Mar e Meio Ambiente, de José Fernando Cedeño de Barros – merecem
toda minha admiração. Fruto de uma investigação que durou cinco anos,
feita em diversos países e junto a órgãos governamentais, internacionais
e de vários Estados, sem descurar da pesquisa acadêmica, o trabalho
parte da observação da complexa relação existente entre o ambiente e a
ordem jurídico-política – já afirmada por Montesquieu e aprofundada
por Hegel – bem como da tendência atual do Direito Internacional de
fazer convergirem meio ambiente e direitos humanos, para adotar a po-
sição de que é no campo da ordem social que se situa o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se a todos os Estados o
dever de proporcionar a todos a preservação dos bens de uso comum,
nos quais se inserem o mar e seu litoral.

Demonstra o autor como as leis civis, oriundas do Código Na-


poleônico, são inadequadas para considerar o ambiente como sujeito
de direitos e para efetivamente protegê-lo. Sobretudo quando se trata do
mar, submetido a exploração mercantil que, pela legislação sobre res-
ponsabilidade civil, refoge de disciplina e controle e raramente acarreta
punições, tendo em vista as dificuldades de prova do dano, da autoria e
do nexo causal.

Os problemas ambientais em geral, e do mar em particular, não


conhecem, nem respeitam fronteiras. Assim, o autor analisa em profun-
didade um caso regional, atinente ao Mediterrâneo, como o Ramoge
(envolvendo França, Itália e Mônaco), a fim de que sirva de modelo para
traçar um regime universal.

A análise das técnicas utilizadas, bem como os resultados co-


lhidos, transcendem os limites geográficos do Mediterrâneo e dos países
envolvidos, constituindo profunda reflexão, que se aplica ao Brasil, en-
quanto possuidor de um ecossistema marítimo frágil. Em última análise,
24 Direito do Mar e Meio Ambiente

o estudo tem como finalidade contribuir para a realização de uma política


integrada entre diversos países, única forma de proteger o litoral: uma
obrigação para a qual os poderes públicos de Estados contíguos hão de
estar preparados.

Maio de 2006.

Ada Pellegrini Grinover


INTRODUÇÃO

José Fernando Cedeño de Barros lança livro de particular rele-


vância no momento atual, em que reflete sobre o meio ambiente e a
ordem jurídica, a partir de caso concreto e à luz da preservação do mar,
cujo ecossistema dá evidentes sinais de enfraquecimento.
Lester Brown, pesquisador do Worldwatch Institute, em seu li-
vro 29º dia, demonstra estarem os quatro grandes complexos de susten-
tação do meio ambiente em evidente processo de destruição, visto que a
erosão consome áreas consideráveis da Terra, todos os anos, o
desflorestamento cria regiões inóspitas, a poluição atmosférica reduz a
capacidade de renovação do ar e abre espaço para o enfraquecimento da
sustentação natural das espécies e a degradação do mar afeta considera-
velmente a variedade de peixes e a flora submarina. Alerta que, na maio-
ria das escolas francesas, pede-se para que a criança coloque uma planta
em uma garrafa, para observar que, a partir do 29º dia, ela perde condi-
ções de crescer e fenece, em face da inexistência de terra e ar no reci-
piente. Assim, também o mundo corre o risco de entrar em colapso glo-
bal, em algumas dezenas de anos.
Embora se fale em direitos de 3ª e 4ª gerações ao acrescentar
ao rol dos direitos fundamentais, os direitos sociais, ambientais e de
informática, o certo é que ainda estamos muito distantes de ter a ordem
jurídica adaptada aos desafios da realidade atual, no plano do meio am-
biente, sendo o estudo de José Fernando Cedeño de Barros, embora de-
dicado a caso concreto e específico de direitos do mar, um alerta e uma
utilíssima colaboração à meditação do relevante tema.
Conhecendo sua seriedade profissional – foi assistente, em mi-
nha banca de advogados, durante muitos anos – assim como a admirável
capacidade de pesquisa e busca de soluções, após cinco anos de investi-
gações profundas, oferta ao público leitor trabalho que, indiscutivelmente,
servirá de sinalização para a discussão de temas relacionados ao meio
ambiente, no Brasil.
26 Direito do Mar e Meio Ambiente

É, portanto, com particular satisfação que me uno às palavras


de elogios de Ada Pellegrini, confreira, colega e amiga, que, com muito
mais pertinência e acuidade, apresentou o bem elaborado estudo de José
Fernando Cedeño de Barros, cuja utilidade tenho certeza que será reco-
nhecida, de plano, no cenário jurídico nacional.

SP, julho de 2006.

Ives Gandra da Silva Martins


Professor Emérito das Universidades Mackenzie, UniFMU,
UniFieo, Unip e Escola de Comando e Estado Maior do Exército-Eceme, Presidente
do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do
Comércio do Estado de São Paulo e do Centro de Extensão Universitária – CEU.
INTRODUÇÃO GERAL

I. Finalidade da Pesquisa

Um oceanógrafo, Ferris Webster,1 emitiu a hipótese segundo a


qual as mudanças de clima e as utilizações do solo afetariam prioritaria-
mente as regiões costeiras e estuarinas. Uma elevação do nível das águas
teria, destarte, um impacto maior sobre as zonas dedicadas à pesca ou à
ostreicultura, e a mudança do habitat da biomassa se traduziria por um
rendimento comercial reduzido nas regiões costeiras, que são precisa-
mente aquelas nas quais os recursos marinhos são os mais importantes.
Se for pouco provável que as modificações biológicas ou químicas se
manifestem em alto-mar, elas aparecerão, seguramente, nessas regiões,
e não está excluído que existe um liame determinante para o clima,
entre a poluição costeira e os processos biológicos no alto mar.

O oceano intervém, de maneira muito decisiva, no conjunto dos


processos físicos, químicos e biológicos que regem o sistema climático
global, pois recobre mais de dois terços da superfície da terra. Ele inte-
rage com a atmosfera, os continentes, os fundos marinhos e a biosfera. É
ele o fator-chave da mudança global.

Para desembaraçar o complexo emaranhado que liga o oceano e


a atividade humana, é preciso, previamente, terminar com a confusão
entre o estado da natureza e o estado selvagem.

Seria ilusório pensar poder enfrentar as principais questões am-


bientais atuais, em uma época de estagnação econômica, se não se acei-
tam mudanças radicais na afetação dos recursos econômicos, tais como
a redução das despesas militares em proveito da política ambiental.

1 Cf. “L’Océan, facteur clé du changement global”, in Terre, Patrimoine Commun (sous
la direction de Martine Barrère), Ed. La Découverte/Association Descartes, Paris, 1999,
p. 27-35.
28 Direito do Mar e Meio Ambiente

O terceiro milênio e a globalização aumentaram extraordi-


nariamente as relações entre o homem e o universo. Em conseqüência,
o crescimento econômico pode representar uma ameaça para o meio
ambiente.
O mar é a via de eleição por excelência do comércio internacio-
nal. É através dele que se trocam as maiores massas de produtos brutos
ou manufaturados, de forma mais econômica; é pelo mar que são igual-
mente transportadas substâncias químicas tóxicas, não degradáveis bio-
logicamente, como as cargas de petróleo bruto.
O transporte de mercadorias perigosas é rigorosamente regu-
lamentado2 e, no entanto, a marée noire do Erika3 foi apenas um dos
grandes acidentes que se tem sucedido no mar, pondo em evidência a
falta de adaptação e a confusão das regras jurídicas nacionais (internas)
para proteger o meio ambiente.
O transporte por mar permanece uma aventura. Todavia, cabe
aos Estados garantir a segurança da navegação comercial, tendo em conta
que o investimento das medidas de segurança tem custo elevado e ausên-
cia de retorno. As companhias de navegação não estão realmente inte-
ressadas e nem são incitadas a fazer o necessário para satisfazer as suas
obrigações nesta matéria.4
O erro reside em tentar encontrar uma solução unicamente no
âmbito do Direito Civil (responsabilidade civil), na medida em que se
mostram evidentes as dificuldades de execução de uma decisão proferida
por um Poder Judiciário interno em relação aos danos que agridem di-
versos países, pois é consabido o velho refrão de que a poluição não
conhece fronteiras. Somente uma instância internacional poderia prevenir

2 Cf. Convenção de Basiléia, em vigor a 5 de maio de 1992.


3 Sobre o acidente ocorrido com o navio Erika, ver mais adiante, Os caminhos ásperos
das catástrofes para chegar à colaboração internacional, Capítulo Primeiro, II, 4.3.
4 De fato, por ocasião do naufrágio do Erika, os responsáveis, em artigo publicado na revista

“Navires & Marine Merchande”. nº 5 – octobre-novembre-décembre 2000, p. 18-27, afir-


maram que ficaria mais barato recuperar o petróleo vertido no mar, através de uma empresa
especializada, do que gastar para se prevenir contra possíveis e eventuais acidentes... Cabe
lembrar, por oportuno, que o Erika contava mais de 25 (vinte e cinco) anos de idade e se
encontrava mal conservado.
Introdução Geral 29

os efeitos perversos da atividade humana nos litorais e no meio marinho,


dando ênfase à necessidade de uma legislação de âmbito internacional,
até mesmo universal.

Chateaubriand5 sublinhava que as leis políticas, quer dizer, as


leis internacionais e constitucionais, nascem espontaneamente com o
homem, e se estabelecem sem antecedentes, isto é, são naturais, pode-
mos encontrá-las mesmo entre as hordas mais bárbaras.

Montesquieu6 já apontava a complexa relação existente entre a


natureza e o direito, entre o clima e a ordem jurídico-política. Esta ob-
servação foi aprofundada meio século mais tarde por Hegel.7 O direito
internacional inspira-se em formas físicas naturais, como as montanhas,
os rios, os estreitos ou a plataforma continental. Destarte, a qualificação
do Mediterrâneo como região geográfica tem uma importância decisiva
para o direito: é a determinação do direito por critérios naturais.8

Pelo prisma ambiental ou ecológico, o direito internacional pú-


blico tem obedecido à tendência atual de fazer convergirem os direitos

5 Cf. Voyage en Amérique, edição crítica por Richard Seitzer, tomo II, Paris, Librairie
Marcel Didier, 1964, p. 345-346. Cf. sobre a gênese das leis e do estudo do conteúdo do
Direito e da Justiça, o excelente livro de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, Do Processo
Legislativo, São Paulo, Saraiva, 1995, 295 p., em especial o Capítulo Primeiro – Supremacia
da Lei, Primado da Razão, p. 19-56.
6 Cf. De l’Esprit des lois, Livre Premier – Des lois en général – Chapitre Premier – Des
lois dans le rapport qu’elles ont avec les divers êtres, Chapitre II – Des lois de la Nature,
Tome Premier, Paris, Librairie Garnier Frères, 1927, p. 1-5.
7 Cf. George W. Friedrich Hegel, La Scienza della Logica, trad. it. de A. Moni, Bari,
1925, e La Phenomenologie de l´esprit (1806), Grande Logique (1812-1816) e Principes
de la Philosophie du Droit (1821). Cf., ainda, os interessantes estudos, se bem que polê-
micos, de Rudolf Steiner, realizados com base em Hegel e em Goethe, sobre o vínculo
existente entre a natureza e as manifestações espirituais, in Goethe et sa Conception du
Monde, Genebra, Editions Fischbacher, 1985, L’Apparition des Sciences Naturelles e Nature
des Couleurs, Editions Antroposophiques Romandes. Cf., ainda, J. W. Goethe, a respeito
da transformação dos seres orgânicos, cf. La Métamorphose des Plantes et Autres Écrits
Botaniques, Introdução e notas de Rudolf Steiner, trad. francesa por H. Bideau, 3. ed.,
Triades, Paris, 1999, e Viagem à Itália, trad. para o português de S. Tellaroli, Companhia
das Letras, São Paulo, 1999.
8 Cf. Wolfgang Graf Witzthum, La Protection de l’environnement em Méditerranée, in
La Méditerranée – espace de coopération?, Centre d´Études et de Recherches Internationales
et Communautaires, Université d´Aix-Marseille III, Econômica, Paris, 1994, p. 219-230.
30 Direito do Mar e Meio Ambiente

humanos e a proteção ao meio ambiente, que teve sua origem na década


de 70, como assinalam Antonio Augusto Cançado Trindade9 e Celso de
Albuquerque Mello.10
De fato, a noção jurídica de plataforma continental em direito
internacional público, por exemplo, se arrima em noções de geografia e
de oceanografia.
Como acentua Celso de Albuquerque Mello:

“A plataforma [continental] é também uma noção bio-


lógica”.11

Com efeito, a formação da plataforma continental tem origem,


conforme as diversas teorias, na abrasão marinha, na sedimentação
marinha, ou, ainda, segundo a tese dominante, pela invasão do mar no
continente.
Conta, portanto, o direito internacional público, com os ele-
mentos naturais para a criação de suas regras.
Na lição de Vicente Marotta Rangel:12

“Le facteur géographique a joué un rôle décisif dans


la connaissance physique du plateau continental e dans l’éla-
boration de la notion juridique de ce même plateau. Cette
élaboration découle du lien géographique entre la côte et les
zones immergées qui se trouvent devant elle et du principe que
la terre domine la mer”.

As leis civis, ao contrário, após a Revolução Francesa e sob a


inspiração de Napoleão, são proibitivas (interdictales), artificiais, desti-

9 Cf. Direitos Humanos e Meio Ambiente – Paralelo dos Sistemas de Proteção Interna-
cional. Porto Alegre: Fabris, 1993.
10 Cf. Curso de Direito Internacional Público. 1º vol. 11. ed. Renovar: Rio de Janeiro,
1997, p. 743.
11 Cf. Curso de Direito Internacional Público, ob. cit. 2º vol., p. 1.046.
12 Cf. “Le Plateau Continental dans la Convention de 1982”, in Recueil des Cours, 1985/
IV, Tomo 194, vol. 194, p. 282. Em francês, no original.
Introdução Geral 31

nadas a impedir, essencialmente, que seja perturbada a ordem estabele-


cida. A ordem do Código Napoleônico, sob a aparência de um direito
igualitário (a liberação do indivíduo, a afirmação de seu direito absoluto
de propriedade), assegura uma tomada de posição política fundamental:
o primado burguês e a exaltação da propriedade como princípio de capa-
cidade cívica e como instrumento de promoção cultural e de progresso
econômico.13 Desvinculando-se, na maioria das vezes, dos elementos de
Direito Natural, resulta em uma codificação muitas vezes estéril, sobre-
tudo no que se refere à proteção do meio ambiente, máxime se formos
levar em consideração este último como sendo passível de ser sujeito de
direitos, como desdobramento da teoria da convergência dos direitos
humanos e da proteção do meio ambiente.14
Ora, as companhias de navegação são muito cuidadosas no que
se refere à redução de despesas e o procedimento judiciário clássico
é muito favorável à pronunciação de um non liquet, em razão das difi-
culdades de toda espécie, de prova, de início, e de causalidade.
Mesmo que se suponha conhecida a natureza biológica jurídica
de uma poluição, a identificação de seu autor é difícil de se determi-
nar. Não é de se espantar, pois, que as decisões que surgiram após a
entrada em vigor da Convenção “Marpol”, adotada em 1973 para pre-
venir a poluição dos mares, tenham sido, por falta de provas, decisões
de absolvição.15
O Estado (e as organizações internacionais) intervindo por in-
termédio do direito internacional na economia e, mais particularmente,
nas atividades humanas ambientais, pode chegar à condição de Estado
Social.

13 Cf. A Souboul, “Un texte fondamental, le Code Civil”, in La Civilisation et la France


Napoléonienne, Paris: Arthaud, 1990, p. 15.
14 Raphaël Romi faz uma interessante análise a respeito da importante questão da evolu-
ção do conceito da natureza como mero objeto jurídico, para alcançar a posição de sujeito de
direitos. Romi propõe uma medida intermediária entre os dois extremos, que consistiria em
desenvolver um projeto para a natureza: a “nature-projet” revezando-se com a “nature-
objet”, sem acabar nos recônditos da “natureza-sujeito”. Cf. Droit et Administration de
l´Environnement, Montchrestien, Paris, 2. ed., 1997, p. 9.
15 Cf. M. Rèmond-Gouilloud, “L’environnement, facteur du droit”, in Ethique et Envi-
ronnement, La documentation française, Paris, 1997, p. 70.

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