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Joana Naritomi

Herança Colonial, Instituições &


Desenvolvimento
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0510685/CA

Um estudo sobre a desigualdade entre os


municípios Brasileiros

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
Programa de Pós-Graduação em Economia

Rio de Janeiro, Março de 2007


Joana Naritomi

Herança Colonial, Instituições & Desenvolvimento


Um estudo sobre a desigualdade entre os municípios
Brasileiros
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0510685/CA

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Economia da PUC-Rio como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Economia.

Orientador: Prof. Rodrigo Reis Soares


Juliano Junqueira Assunção

Rio de Janeiro
Março de 2007
Joana Naritomi

Herança Colonial, Instituições & Desenvolvimento


Um estudo sobre a desigualdade entre os municípios
Brasileiros
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0510685/CA

Dissertação apresentada como requisito parcial para


obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação em Economia da PUC-Rio. Aprovada pela
Comissão Examinadora abaixo assinada.

Rodrigo Reis Soares


Orientador
Departamento de Economia – PUC-Rio

Juliano Junqueira Assunção


Orientador
Departamento de Economia – PUC-Rio

Cláudio Ferraz
IPEA

Marcelo de Paiva Abreu


Departamento de Economia – PUC-Rio

João Pontes Nogueira


Coordenador Setorial do Centro de Ciências Sociais – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 15 de Março de 2007


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução
total ou parcial do trabalho sem a autorização do
autor, do orientador e da universidade.

Joana Naritomi

Graduou-se em Economia pela IE/UFRJ em 2004.


Cursou entre 2005 e 2006 o Mestrado em Economia
da PUC-Rio.

Ficha Catalográfica

Naritomi, Joana
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0510685/CA

Herança colonial, instituições &


desenvolvimento : um estudo sobre a
desigualdade entre os municípios
brasileiros / Joana Naritomi ; orientador:
Rodrigo Reis Soares ; co-orientador:
Juliano Junqueira Assunção. – 2007.
100 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Economia)–


Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
Inclui bibliografia

1. Economia – Teses. 2.
Desenvolvimento. 3. Instituições. 4.
Herança Colonial. 5. Rent-Seeking. 6.
Geografia. I. Soares, Rodrigo Reis. II.
Assunção, Juliano Junqueira. III. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Departamento de Economia. IV. Título.

CDD: 330
Agradecimentos
Agradeço, principalmente, ao meu orientador, Rodrigo R. Soares, por ter
me incentivado constantemente a me dedicar a essa pesquisa. Agradeço-o por ter
acompanhado de tão perto em todos os momentos, por toda a atenção e paciência
nos inúmeros e-mails e reuniões, e pelo grande entusiasmo ao longo do processo.
Agradeço enormemente, também, ao meu co-orientador, Juliano
Assunção, por todo o interesse, atenção, paciência e incentivo. Agradeço-o
especialmente pelas várias reuniões e por ter estado presente e me ajudado em
todas as apresentações desse trabalho.
Agradeço aos membros da banca examinadora, Cláudio Ferraz (IPEA) e
Marcelo de Paiva Abreu pelos excelentes comentários e pela leitura atenta.

Agradeço muitíssimo à Flávia Chein Feres pelo seu papel fundamental


nessa dissertação. Agradeço a incrível atenção e paciência pelas incontáveis vezes
que lhe pedi ajuda, pelas bases de dados e por ter me ensinado a lidar com
programas que viabilizaram grande parte dessa pesquisa.
Agradeço ao professor Marcelo de Paiva Abreu pelas referências
históricas e pela atenção e disponibilidade. Aos Professores e colegas de pós-
graduação do Departamento de Economia da PUC-Rio pelos comentários no
workshop.
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Agradeço à minha querida amiga Gabriela Egler e ao seu pai Cláudio


Egler (UFRJ) pela projeção do mapa do Brasil em quilômetros, pelas coordenadas
da linha de costa brasileira, pela atenção no esclarecimento de dúvidas e pelo
interesse no projeto.
Agradeço à Lourdes Cabral e ao Jesus Fernando Mansilla Baca
(EMBRAPA) pelos dados de temperatura média mensal e tipos de solo do Brasil e
por toda a atenção dispensada.

Agradeço ao Edson Severnini pela amizade, pelo apoio na apresentação do


workshop e pelas inúmeras ajudas técnicas. Ao Antônio Carlos de Azevedo Sodré
e ao Hamilton Kai pelos comentários sobre o artigo da dissertação. A toda minha
turma de mestrado, especialmente, Aline Carli Lex, Bernardo Silveira, Júlia
Klein, Nelson Camanho e Vivian Figer pelo apoio e amizade.
Agradeço à Fernanda Cabral e ao Gabriel Ulyssea pelo carinho e amizade
incondicionais e por toda a ajuda direta e indireta nesse trabalho.

Agradeço à minha irmã querida Sabrina Naritomi por todo o amor e


disponibilidade em ajudar. À minha ‘irmã’ Luisa Ferreira de Sá pelo
companheirismo e carinho constantes. À minha outra ‘irmã’ Renata Franco
Cecchetti pelo apoio e amizade nas fases mais difíceis do mestrado.
Agradeço muito à minha querida obaachan, Sawa Naritomi, pelas
constantes orações, pelos ‘saquinhos’ inari sushi super especiais e por todo o
carinho e preocupação.

Agradeço muito, enfim, aos meus pais pelo amor, pela rara compreensão e
pelo incansável apoio em todos os sentidos.
Resumo

Naritomi, Joana; Soares, Rodrigo Reis; Assunção, Juliano Junqueira


(Orientadores). Herança Colonial, Instituições & Desenvolvimento: Um
estudo sobre a desigualdade entre os municípios Brasileiros. Rio de
Janeiro, 2007, 100p. Dissertação de Mestrado – Departamento de
Economia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Com o intuito de explicar os contrastes entre as trajetórias de


desenvolvimento no mundo, a literatura internacional tem discutido amplamente o
papel das instituições nesse processo. As disparidades verificadas no Brasil
representam um desafio para a literatura, uma vez que instituições consideradas
cruciais não variam dentro do país e, no entanto, há desigualdades significativas
de desenvolvimento. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo
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analisar as origens e implicações de instituições locais específicas sob um mesmo


conjunto de macro-instituições. Isto é, investiga causas e conseqüências de
instituições de facto sob um mesmo arcabouço institucional de jure. Para tanto,
estuda o papel de dois episódios rent-seeking do Brasil colonial – o ciclo do ouro
e o ciclo do açúcar – como determinantes da qualidade de quatro dimensões
institucionais específicas: desigualdade de distribuição de terras, concentração
política, capacidade gerencial e acesso à justiça. Além disso, explora o caráter de
choque institucional desses eventos históricos para avaliar os impactos dessas
diferentes variáveis institucionais sobre o desenvolvimento econômico dos
municípios, de modo a investigar se o padrão de desenvolvimento atual reflete,
em parte, instituições determinadas por heranças coloniais distintas.

Palavras-chave
Desenvolvimento, Instituições, Herança Colonial, Rent-Seeking, Geografia
Abstract

Naritomi, Joana; Soares, Rodrigo Reis; Assunção, Juliano Junqueira


(Advisors). Colonial Heritage, Institutions and Development: A Study
on the Inequality across Brazilian Municipalities. Rio de Janeiro, 2007,
100p. MSc Dissertation – Departamento de Economia, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.

The international literature has widely debated the role of institutions in


determining the differences in development across countries. Since institutions
considered crucial in this process do not vary within Brazil, the development
contrasts observed among Brazilian municipalities raise a puzzle to the literature.
This dissertation aims to analyze the roots and implications of specific local
institutions under constant macro-institutions. We investigate causes and
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consequences of the variation in de facto institutions, within a constant de jure


institutional setting. For this purpose, we explore the role of rent-seeking episodes
in colonial Brazil – the sugar-cane colonial cycle and the gold colonial cycle – as
determinants of the quality of four specific current local institutions: inequality in
the distribution of land, political concentration, governance practices and access to
justice. In addition to that, we explore the institutional shock represented by these
historical events to evaluate the impact of these different institutional variables on
economic development at the municipality level. We investigate whether the
current development pattern observed within Brazil reflects, in some dimension,
local institutions determined by different colonial heritages.

Keywords
Development, Institutions, Colonial Heritage, Rent-Seeking, Geography
Sumário

1.Introdução 11

2. Literatura Internacional 15
2.1. Literatura teórica 15
2.2. Literatura empírica cross-country 17
2.3. Estudos para um único país 20

3. Geografia, Desenvolvimento & Instituições no Brasil 26


3.1. Dados Municipais 27
3.1.1. Medidas de Desenvolvimento e Variáveis Geográficas 27
3.1.2. Medidas de Qualidade das Instituições Locais 27
3.2. Geografia, Desenvolvimento & Instituições no Brasil:
Evidências Empíricas 31
3.2.1. A Geografia do Desenvolvimento e das Instituições no Brasil 31
3.2.2. Instituições & Desenvolvimento no Brasil 33
3.3. Abordagem Empírica 34
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4. Os Ciclos da Cana-de-Açúcar e do Ouro na História Colonial


Brasileira 36
4.1. O Ciclo da Cana-de-Açúcar 39
4.2. O Ciclo do Ouro 42
4.3. Herança Colonial: Implicações Institucionais de Longo Prazo 47
4.4. Variáveis Históricas 48

5. Especificações e Resultados 53
5.1. Especificações 53
5.1.1. Causas: 1º Estágio 53
5.1.2. Conseqüências: 2º Estágio 54
5.2. Resultados 55
5.2.1. Ciclos Coloniais e Instituições de facto 56
5.2.2. Instituições de facto e Desenvolvimento de Longo Prazo 60
5.2.3. Análise de Críticas à Literatura e Robustez 62

6. Resultados Adicionais 65
6.1. Capacidade Gerencial 65
6.1.1. Componentes do Índice de Capacidade Gerencial 65
6.1.2. Índices de Qualidade Institucional Municipal 67
6.2. Acesso à Justiça 68
6.3. Provisão de Bens Públicos 69

7. Conclusão 71

8. Referências Bibliograficas 72

9. Apêndice 76
Lista de Figuras e Tabelas

Figura 1: Renda per Capita vs. Distância para o Equador –


cross-country (2000) 76

Figura 2: Mapa da Renda per Capita no Mundo 77

Figura 3: Renda per Capita vs. Distância para o Equador –


Municípios Brasileiros (2000) 78

Figura 4: Mapa da Renda per Capita do Brasil 79

Tabela 1: Geografia e Desenvolvimento nos Municípios


Brasileiros 80

Tabela 2: Descrição das Variáveis 81

Tabela 3: Geografia e Desenvolvimento Institucional


nos Municípios Brasileiros 83
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Tabela 4: Institutições e Desenvolvimento nos


Municípios Brasileiros 84

Figura 5: Função influência dos Ciclos e Definições Alternativas 85

Figura 6: Mapa do Ciclo do Açúcar 86

Figura 7: Mapa do Ciclo do Ouro 87

Tabela 5: Estatísticas Descrivas 88

Tabela 6: Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no


Desenvol-vimento Institucional – Gini da Terra e Concentração
Política 89

Tabela 7: Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no


Desenvolvimento Institucional – Capacidade Gerencial e Acesso
à Justiça 90

Tabela 8: Robustez dos Efeitos dos Ciclos Coloniais no


Desenvolvimento Institucional – Definições Alternativas das
Variáveis de Ciclo 91

Tabela 9: Robustez dos Efeitos dos Ciclos Coloniais no


Desenvolvimento Institucional – Características dos Municípios 92

Tabela 10: Robustez dos Efeitos dos Ciclos Coloniais no


Desenvolvimento Institucional - Efeitos não observados de
Regiões e Estados 93
Tabela 11: Efeitos Causais das Instituições De Facto no
Desenvolvimento de Longo Prazo 94

Tabela 12: Robustez dos Efeitos de Instituições De Facto no


Desenvolvimento de Longo Prazo - Hipóteses Alternativas 95

Tabela 13: Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no


Desenvolvimento Institucional - Capacidade Gerencial 95

Tabela 14: Instituições De Facto e Desenvolvimento de


Longo Prazo - Capacidade Gerencial 96

Tabela 15: Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no


Desenvolvimento Institucional - Índice de Qualidade Institucional
Municipal 97

Tabela 16: Instituições De Facto e Desenvolvimento de


Longo Prazo - Índice de Qualidade Institucional Municipal 98

Tabela 17: Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos


Coloniais no Desenvolvimento Institucional - Acesso à Justiça 98
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Tabela 18: Instituições De Facto e Desenvolvimento de


Longo Prazo - Acesso à Justiça 99

Tabela 19: Provisão de Bens Públicos 100


1
Introdução

“Institutions are the rules of the game in a society or, more formally, are the human
devised constraints that shape human interaction. In consequence they structure
incentives in human exchange, whether political, social, or economic. Institutional change
shapes the way societies evolve through time and hence is the key to understanding
historical change.” (Douglas North, 1990, p.3)

Quais são os determinantes das diferentes trajetórias de desenvolvimento


de longo prazo que se verificam no mundo? Responder a esta pergunta é uma
tarefa tanto complexa quanto controversa e, em alguma medida, passa pelo
entendimento do forte padrão geográfico que essas diferenças apresentam. A
relação entre renda per capita e distância para o Equador1 (Figura 1 e Figura 2)
sintetiza essa questão: praticamente todos os países localizados entre os trópicos –
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i.e., em baixas latitudes – são atualmente pobres. (Gallup, Sachs e Mellinger,


1998).
Não obstante, a maior parte da literatura recente sobre os determinantes do
desenvolvimento de longo prazo não atribui um papel causal a essa correlação.
Em linhas gerais, argumenta-se que o mencionado padrão geográfico reflete, na
realidade, diferentes arcabouços institucionais. As instituições, portanto, seriam a
variável-chave para explicar as disparidades de desenvolvimento. Com base nas
idéias de North (1990) e Engerman e Sokoloff (1997, 2002), um vasto número de
estudos empíricos cross-country se desenvolveu seguindo a idéia da contribuição
seminal de Acemoglu, Johnson e Robinson (2001, 2002).
Nesse contexto, a experiência de ex-colônias européias tornou-se um
campo fértil para a identificação dos efeitos de qualidade institucional sobre o
desempenho econômico atual dos países. De acordo com o consenso que parece
estar emergindo dessa literatura, diferentes condições geográficas e dotações
iniciais determinaram a forma de colonização estabelecida que, por sua vez,
estaria refletida na formação do ambiente institucional. Assim, boas instituições,
herdadas de experiências coloniais particulares, através de seus efeitos sobre

1
Dados para 129 países da Penn World Tables (2000).
11

direitos de propriedade, respeito a contratos, competição política e práticas de


governança, gerariam boas políticas e, em última instância, desenvolvimento.
A maior parte dessa literatura se baseia em dados cross-country e em
medidas institucionais muitas vezes imprecisas que classificam países a partir do
que denominaremos macro-instituições: sistema político, índices de
democratização, risco de expropriação de investimento privado estrangeiro2,
sistema judiciário, restrições ao poder executivo, tradição jurídica, entre outros. A
interpretação mais usual da literatura é que o impacto de eventos históricos –
medidos pela influência européia, origem do colonizador, condições iniciais e
fragmentação etno-linguística, por exemplo – determinou a formação das
instituições do passado, e se manifesta, hoje, através das macro-instituições
mencionadas (la Porta et al., 1998, 1999; Hall e Jones, 1999; Acemoglu, Johnson
e Robinson, 2001, 2002; Tabellini e Person, 2004).
Nesse sentido, o padrão geográfico de desenvolvimento observado dentro
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do Brasil levanta uma série de questões em relação à interpretação das evidências


cross-country bem como às conclusões dessa literatura. A Figura 3 replica o
diagrama de dispersão da Figura 1 – distância para o Equador vs. renda per capita
– para os municípios brasileiros. Assim como no contexto entre países,
municípios próximos ao Equador apresentam uma renda per capita
sistematicamente mais baixa, o que pode ser visualizado na Figura 4. Na
realidade, essa relação é mais forte e clara dentro do Brasil do que entre países (o
R2 entre os municípios brasileiros é 0,56 e o coeficiente é 0,053, ao passo que,
entre países, o R2 é 0,32 e o coeficiente é 0,038).
Diante desse padrão e à luz dessa literatura, como seria possível explicar
as disparidades entre as trajetórias de desenvolvimento no Brasil, uma vez que
macro-instituições consideradas cruciais são e, grosso modo, sempre foram,
constantes dentro do território? Além disso, o Brasil teve uma única metrópole
colonizadora, fala uma única língua e possui um sistema federativo bastante
centralizado. Sendo assim, o padrão geográfico brasileiro representa um desafio
ao argumento de que correlações entre geografia e desenvolvimento refletem, na

2
Este índice, em particular, Protection against expropriation risk (IRIS Center – Political Risk
Services), é um dos mais utilizados na literatura (por exemplo, Acemoglu, Johnson e Robinson,
2001, 2002, 2005). Diversos artigos usam-no como medida de qualidade institucional em si ou
incorporado a outros indicadores, como o índice ICRG (ver Pande e Udry 2006 para um resumo
completo das análises empíricas da literatura).
12

realidade, o efeito do clima e das dotações sobre o tipo de instituição formada no


âmbito nacional.
Restringir a análise ao Brasil, portanto, é uma fonte potencial de novas
perspectivas para esse debate. Por consequência, se instituições realmente
constituem o principal determinante do desenvolvimento, é preciso, para entender
os padrões observados dentro do país, investigá-las na esfera local, a partir de
dimensões mais concretas do que as que se tem discutido na literatura. Ao mesmo
tempo, o estudo do caso brasileiro permite, em particular – devido à constância
das macro-instituições no território e ao caráter fortemente centralizado da
federação brasileira –, avançar no entendimento das diferenças entre os papéis de
instituições de facto e de jure, i.e., entre o funcionamento efetivo das instituições
e o que está formalmente estabelecido. Em outras palavras, potenciais impactos de
instituições locais sobre desenvolvimento no Brasil captam efeitos do ambiente
institucional de facto dentro de um mesmo arcabouço institucional de jure.
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Tendo isto em vista, o presente trabalho tem como objetivo investigar


causas e conseqüências das diferenças de qualidade institucional entre os
municípios brasileiros. Para a análise das causas, mapeamos os municípios que
tiveram sua origem relacionada a dois episódios rent-seeking específicos do Brasil
colonial – o ciclo da cana-de-açúcar e o ciclo do ouro – e estudamos os efeitos de
longo prazo desses eventos sobre diferentes dimensões de instituições locais hoje:
distribuição de terras, concentração política, capacidade gerencial e acesso à
justiça. Para a análise das conseqüências, estudamos a relação entre essas
instituições e o desenvolvimento local, explorando o caráter de choque
institucional desses dois eventos. Isto é, utilizamos os ciclos do açúcar e do ouro
como fontes de variação exógena para identificar o efeito de instituições locais
hoje sobre o desempenho econômico dos municípios.
Assim, sob um mesmo ambiente macro-institucional, avaliamos efeitos de
longo prazo da herança colonial de episódios bem definidos da história brasileira,
identificando canais institucionais específicos, através dos quais esses efeitos se
manifestam hoje. Para essa análise, contamos com um amplo conjunto de
variáveis geográficas – distância para o Equador, distância para a costa, altitude,
incidência de sol, chuva, temperaturas médias dos doze meses do ano e tipos de
solo – e com uma base de dados a nível municipal que, além de fornecer um
número de observações bastante elevado (o Brasil tem mais de 5.000 municípios),
13

apresenta como unidade de comparação uma área limitada, definida e bem mais
homogênea se comparada a países.
Verificaremos, em nossa análise empírica, que municípios cujas origens
estão ligadas ao ciclo da cana-de-açúcar – caracterizado por uma estrutura
socioeconômica polarizada e oligárquica – apresentam, hoje, uma desigualdade de
distribuição de terras mais acentuada e uma maior concentração política nas
câmaras legislativas. Municípios que têm sua origem conectada com o ciclo do
ouro – caracterizado pela presença extremamente intervencionista e
marcadamente burocrática do estado português – apresentam uma pior capacidade
de administração pública e menos acesso à justiça atualmente. Usando variáveis
criadas a partir dos episódios coloniais rent-seeking como instrumentos para as
instituições locais, mostramos que a capacidade gerencial e o acesso à justiça têm
efeitos significantes sobre o desenvolvimento de longo-prazo entre os municípios
brasileiros.
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Ao longo do trabalho apresentaremos em detalhe os diferentes aspectos e


contribuições deste estudo sobre herança colonial, instituições e desenvolvimento
no Brasil. O próximo capítulo faz uma resenha da literatura internacional teórica e
empírica, destacando algumas contribuições recentes relativas a análises de
desigualdades de desenvolvimento dentro de um mesmo país. O terceiro capítulo
apresenta a base de dados e estuda as questões colocadas pelo caso brasileiro,
explorando em mais detalhe os padrões geográficos do desenvolvimento dos
municípios. Além disso, estuda algumas correlações entre instituições locais e
desenvolvimento e descreve a abordagem empírica do trabalho. O Capítulo 4
caracteriza, sob a perspectiva da nossa abordagem, os episódios históricos que
escolhemos analisar, destacando seus respectivos períodos cronológicos,
localizações e as estruturas sociais, econômicas e políticas formadas a partir deles.
Discute, ainda, a construção das variáveis usadas para sintetizar a influência
desses episódios históricos nas áreas afetadas do país. O Capítulo 5 descreve as
especificações usadas na análise empírica e discute os principais resultados,
incluindo análises de robustez e de críticas à literatura. O Capítulo 6 apresenta
alguns resultados adicionais, com o objetivo de investigar em mais detalhe as
principais conclusões da análise empírica conduzida no Capítulo 5. O Capítulo 7
conclui o trabalho.
2
A Literatura sobre Instituições e Desenvolvimento

“If the misery of the poor be caused not by the laws of nature, but by our institutions,
great is our sin.”
Charles Darwin

Neste capítulo, discutiremos as principais contribuições teóricas e


empíricas da literatura que estuda o papel das instituições no desenvolvimento de
longo prazo. Destacaremos em mais detalhe alguns artigos que analisam essa
questão circunscrita a um único país.

2.1
Literatura teórica
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Conforme mencionamos na introdução, há uma vasta literatura que atribui


às instituições um papel-chave para explicar as disparidades de desenvolvimento
entre países. Nesta seção, destacaremos dois pontos teóricos importantes para a
compreensão desse fenômeno: a persistência das instituições no tempo e as
diferentes dimensões de um mesmo arcabouço institucional.
Segundo North (1990), Instituições são as regras do jogo de uma
sociedade, i.e., são restrições que estruturam interações políticas, econômicas e
sociais. Em linhas gerais, provêem a estrutura de incentivos de uma economia e
moldam o seu desempenho. Nesse sentido, sociedades cujas instituições
econômicas facilitam e encorajam acumulação de fatores, inovação e alocação
eficiente de recursos prosperaram mais do que outras que não possuem o mesmo
desenho de incentivos (Acemoglu, Johnson e Robinson, 2005; North, 1990).
De acordo com Acemoglu, Johnson e Robinson (2005), a formação do
arcabouço institucional seria determinada via decisões coletivas da sociedade.
Diante disso, por que algumas sociedades não adotam o melhor conjunto de
instituições disponível? Há diferentes argumentos para explicar essa evidência.
North (1990) destaca as economias de escala presentes no progresso das
instituições. A matriz institucional consistiria em uma rede interdependente de
instituições cujas conseqüentes organizações políticas e econômicas se
15

caracterizam por massivos retornos crescentes. Um dado arcabouço institucional


incentivaria continuamente investimentos complementares, gerando uma
dependência de trajetória institucional. Isto é, se, por um dado evento histórico
criou-se um arranjo institucional específico, mesmo que esse arranjo não induza
crescimento, é possível que persista no tempo. Segundo North, o aspecto político
desses retornos crescentes tornaria ainda mais rígida a matriz institucional.
Em consonância com esta dimensão destacada por North, a literatura
teórica mais recente buscou, essencialmente na arena política, respostas para a
persistência de instituições ruins. Os grupos de interesse beneficiados por um
determinado arcabouço institucional teriam incentivos a manter esse arcabouço e,
assim, a estrutura de poder político e econômico. Segundo Acemoglu, Johnson e
Robinson (2005), a questão-chave residiria no fato de instituições influenciarem
não apenas o tamanho do bolo agregado, mas a forma como esse bolo é dividido
na sociedade. Como diferentes grupos e indivíduos se beneficiam tipicamente de
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diferentes instituições econômicas, existem conflitos envolvendo essas escolhas


sociais, em última instância resolvidos a favor de grupos com maiores poderes
políticos.
O problema central de mudanças institucionais, portanto, seria a
resistência dos “perdedores políticos”, i.e., dos grupos de interesse que, de modo a
proteger seu poder, impedem mudanças institucionais. O “efeito de substituição
política” levaria as elites a bloquear o desenvolvimento institucional, já que
inovações freqüentemente erodem as vantagens dos grupos sociais incumbentes,
aumentando a probabilidade de serem substituídos. Temendo tal substituição, as
elites seriam avessas a apoiar e implementar mudanças e poderiam até bloquear de
fato o crescimento econômico (Acemoglu e Robinson, 2000, 2002).
Além dessa problemática da inércia das instituições, há uma outra questão
de equivalente relevância: a maneira pela qual o arcabouço institucional funciona
na prática pode diferir muito do que foi idealizado ou do que está formalmente
estabelecido. Esta seria a diferença crucial entre instituições de facto e instituições
de jure (Pande e Udry, 2006). Nesse sentido, seria possível que duas economias
que apresentem instituições de jure semelhantes tenham diferenças de
desempenho econômico significativas.
Acemoglu, Robinson e Verdier (2004) abordam, de certa forma, essa
questão distinguindo governos fortemente institucionalizado de governos
16

fracamente institucionalizados. Nos primeiros, instituições políticas formais, tais


como constituição, estrutura do legislativo, ou regras eleitorais, colocam restrições
reais no comportamento de políticos e das elites políticas. Já em governos
fracamente institucionalizados, instituições formais não representam restrições
significantes na ação de políticos nem fazem com que eles prestem contas à
população. Esse último ambiente institucional seria propício ao surgimento dos
chamados cleptocratas que implementam políticas econômicas altamente
ineficientes e controlam o Estado em benefício próprio, um fenômeno
característico de países em desenvolvimento.
Sendo assim, além do fato de instituições serem extremamente persistentes
no tempo, podem ter uma natureza de facto bastante distinta do que se poderia
esperar da aparência de jure. Soma-se a isso, o fato de as instituições serem
endógenas ao mesmo processo de desenvolvimento que determinam. A literatura
empírica, tendo em vista essas questões, buscou verificar argumentos teóricos e
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contribuir com novos pontos de vista para essa discussão.

2.2
Literatura empírica cross-country

Há uma vasta literatura recente que tem como objetivo avaliar o papel de
diferentes instituições – medidas com base em dados cross-country como, por
exemplo, risco de expropriação, restrições ao poder executivo e tipos de sistema
político – sobre o desenvolvimento econômico (la Porta et al., 1998, 1999; Hall e
Jones, 1999; Acemoglu, Johnson e Robinson, 2001; Easterly e Levine, 2002;
Tabellini e Person, 2004). A maior parte dessa literatura ressalta que esse tipo de
análise exige cuidado, pois é possível que locais mais desenvolvidos possam
sustentar arcabouços institucionais melhores, ou seja, pode ser que haja uma
causalidade reversa entre instituições e desenvolvimento.
Para lidar com o problema de endogeneidade, a literatura buscou na
história, especialmente nas experiências de ex-colônias européias, fontes de
variação para instituições, tais como origem do colonizador, origem legal,
influência européia, condições iniciais do processo de colonização e dotações
17

(Hall e Jones, 1999; La Porta et al., 1998; Engerman e Sokoloff, 1997, 2002;
Acemoglu, Johnson e Robinson, 2001, 2002).
Conforme mencionamos na introdução deste trabalho, a maior parte da
literatura evoluiu em torno da idéia de que diferentes dotações iniciais ou
condições geográficas teriam determinado a formação de arcabouços
institucionais distintos que, por sua vez, seriam fundamentais para explicar os
contrastes de desenvolvimento entre países. Sendo assim, características
geográficas não teriam um efeito direto sobre o desenvolvimento, mas indireto,
via instituições.
Diversos artigos dessa literatura baseiam-se nos argumentos de Engerman
e Sokoloff (1997, 2002) na interpretação das evidências empíricas. Os autores
destacam a relevância das dotações iniciais para explicar a formação das
instituições que deram origem às diferentes trajetórias de desenvolvimento ao
longo do continente americano. A dotação de fatores no Novo Mundo, segundo
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eles, teria sido determinante para produzir a substancial desigualdade de riqueza,


capital humano e poder político nesses países.
No Caribe e no Brasil, o clima seria favorável a plantações de alto valor e
pouco peso, o que favorecia produções em larga escala com trabalho escravo. Este
ambiente teria criado instituições de caráter desigual em termos políticos e
econômicos. Na América espanhola, marcada pela abundância de recursos
minerais, teriam sido criadas instituições unicamente destinadas à extração
daquelas riquezas. Já na região dos EUA, acima da baía de Chesapeake até o
Canadá, onde o clima não era favorável ao tipo de plantação citada nem havia
recursos minerais expressivos, houve uma baixa utilização de mão-de-obra
escrava. Assim, ter-se-ia formado um ambiente institucional com maior equidade
política e econômica. Deste modo, as condições geográficas determinariam o
nível de desigualdade política e econômica do passado que, através dos seus
efeitos na formação institucional dos países, afetaria de forma significativa o
desempenho econômico hoje.
Acemoglu, Johnson e Robinson (2001) – um artigo seminal dessa
literatura – apresentam argumentos um pouco diferente dos defendidos por
Engerman e Sokoloff. Destacam o efeito das adversidades geográficas
encontradas no Novo Mundo sobre as instituições criadas pelos europeus durante
o período colonial. O tipo de estratégia de colonização teria sido influenciado pela
18

viabilidade do projeto colonizador, ou seja, em lugares onde o ambiente de


doenças não era favorável à ocupação européia, a formação de um Estado
extrativo era mais provável.
Os autores exploram esse efeito como fonte de variação exógena para
identificar o impacto da qualidade institucional sobre desenvolvimento hoje.
Usam a taxa de mortalidade esperada pelos primeiros colonizadores europeus
como instrumento para as instituições atuais nesses países. Esta idéia pode ser
resumida no seguinte esquema (Acemoglu, Johnson e Robinson, 2001, p. 1370):
Mortalidade
potencial do Instituições Instituições Desempenho
colônias
colono antigas atuais atual

De acordo com os resultados do artigo, controlando para instituições,


variáveis geográficas comumente correlacionadas com desenvolvimento, como
distância para o Equador, deixam de ser significantes. Sendo assim, os países não
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seriam pobres em função de fatores geográficos, mas devido à qualidade das


instituições. Especificamente, sob esse ponto de vista, o importante seriam as
condições iniciais da colônia e não a identidade do colonizador, sua religião ou
seu sistema jurídico3. A questão central, deste modo, seria se os colonizadores
europeus conseguiam se instalar de forma segura, caso contrário, criavam
instituições piores.
Um outro argumento relacionado a condições iniciais foi levantado por
Acemoglu, Johnson e Robinson (2002) com base na seguinte constatação: entre os
países colonizados por Europeus, os que eram relativamente mais prósperos em
1500 tornaram-se relativamente mais pobres nos dias de hoje. A condição inicial
relevante, nesse caso, era a prosperidade econômica do local medida pela
urbanização e densidade populacional no momento da chegada do colonizador.
Nos locais mais pobres, era mais provável que fossem criadas instituições que
encorajassem investimentos, pois eram áreas menos interessantes do ponto de
vista extrativo da metrópole. Nos locais mais ricos, instituições extrativas seriam
mais prováveis em função dos interesses da metrópole sobre elas e da ampla
escravização dos nativos. O reverso da fortuna dessas áreas estaria refletindo,
portanto, as instituições criadas pelo colonialismo europeu.

3
Alguns papers da literatura investigam o efeito de aspectos culturais e jurídicos nas diferentes
trajetórias de crescimento. Ver la Porta et al. (1998, 1999) e Hall e Jones (1999).
19

Uma série de outros artigos lançou mão dos argumentos de relevância das
condições iniciais para avaliar os impactos de instituições sobre diferentes
medidas de desenvolvimento (por exemplo, Rodrik, Subramanian e Trebbi, 2002;
Easterly e Levine, 2002). As evidências, de modo geral, apontam para um impacto
indireto da geografia apenas através das instituições e para um efeito positivo de
primeira ordem das variáveis institucionais no desempenho econômico cross-
country, confirmando o argumento central da literatura.
Dada a relevância desse efeito e a imprecisão das medidas de qualidade
institucional comumente utilizadas, nos últimos anos, alguns trabalhos têm se
dedicado a desvendar exatamente quais dimensões institucionais importam para o
desenvolvimento, dando uma conotação mais concreta à discussão (Acemoglu e
Johnson, 2005; Bardhan 2005; Pande e Udry, 2006).
Com este intuito, Acemoglu e Johnson (2005) procuram analisar os papeis
relativos de dois grupos de instituições. O primeiro grupo, instituições
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contratuais, regula transações entre partes privadas e refere-se ao tipo de contrato


que pode ser escrito e cujo cumprimento pode ser garantido (enforced). O
segundo grupo, instituições de propriedade privada, restringe a capacidade de
expropriação de investimentos por parte de elites ou governo. Os autores avaliam
o efeito destes dois grupos de instituições no desenvolvimento econômico de
longo prazo, taxas de investimento e desenvolvimento financeiro. Concluem que
as instituições de propriedade privada têm efeitos de primeira ordem sobre as
variáveis de desenvolvimento.
Na próxima seção, ainda com o objetivo de desenvolver melhor esse
debate e investigar mecanismos específicos através dos quais atuam as
implicações institucionais no desempenho econômico, apresentaremos estudos
que exploram a variação de instituições e desenvolvimento dentro de um mesmo
país.

2.3
Estudos para um único país

Conforme discutimos na seção anterior, há um grande número de artigos


recentes que, de diferentes formas, evidenciam o papel crucial que instituições
têm no desenvolvimento de longo prazo dos países. Pande e Udry (2006) fazem
20

uma revisão ampla dessa literatura e argumentam que, essencialmente, ela já está
completa. Segundo os autores, o grande desafio, a partir de agora, seria explorar
as sinergias entre a pesquisa sobre instituições específicas baseadas em micro-
dados e as grandes questões colocadas pela literatura de instituições e
crescimento. Nesse sentido, o estudo dos contrastes de desenvolvimento
econômico e institucional dentro de um mesmo país pode melhorar o
entendimento de questões mais gerais e apontar novas perspectivas para esse
debate.
Soma-se a isso a existência de uma série de vantagens empíricas apontadas
na literatura de se restringir o escopo de análise para dentro de um país. Banerjee
e Iyer (2004) destacam que, ao se analisar instituições específicas em um único
país, torna-se mais fácil identificar as fontes das variações se comparado à análise
entre países, em que há diferenças marcantes em um complexo de instituições.
Iyer (2003) ressalta que o problema de viés de variável omitida nesse caso é
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menor que na análise cross-country. Além desses pontos, Jimeno (2005) chama
atenção para o fato de algumas instituições não serem diretamente comparáveis
entre países.
Para os Estados Unidos, Berkowitz e Clay (2004) usam o sistema legal
inicial dos Estados americanos como fonte de variação exógena para prover
estimativas do impacto de instituições no desempenho econômico hoje. 15
Estados americanos foram, originalmente, colonizados pela França, Espanha ou
eram partes do México, países cujo sistema legal é o Civil Law. Quando foram
incorporados ao território dominado pela Grã-Bretanha, esses Estados adotaram o
Common Law. As evidências cross-country sugerem que as instituições
associadas ao Common Law têm qualidade superior às associadas ao Civil Law e
há substanciais indícios de que o novo sistema reteve elementos do antecessor.
Dessa forma, as condições iniciais teriam papel fundamental e persistente na
qualidade das instituições legais dos Estados que, por sua vez, têm impacto
significativo nos resultados econômicos recentes.
Mitchener e McLean (2003) examinam como a geografia através da
escravidão, entre outros aspectos, pode explicar as diferenças de desenvolvimento
entre os Estados americanos de 1880 até os dias de hoje. Estudam a elevada
variabilidade da produtividade do trabalho dentro dos EUA e encontram que a
intensidade da escravidão durante o século XIX explica essa alta variação.
21

Seguindo a lógica de Acemoglu, Johnson e Robinson (2002), segundo a qual


havia uma maior proporção de escravos em lugares menos atraentes para o
europeu se estabelecer, os autores usam a mortalidade dos soldados como
instrumento e encontram um efeito causal entre a escravidão e a produtividade
corrente.
Ainda sobre os Estados Unidos, Lagerlöf (2005) procura explorar a
ligação entre a desigualdade no passado e a desigualdade no presente com o
intuito de investigar melhor as relações entre geografia, instituições, desigualdade
e desenvolvimento. Nesse sentido, busca entender se condados que tinham uma
fração maior de escravos em 1850 são, de modo geral, mais pobres hoje. O autor
usa dados dos condados da porção sul dos EUA sob o argumento de que esta parte
do país poderia ser considerada um microcosmo do que Engerman e Sokoloff
(1997, 2002) verificam na análise do continente Americano. Conclui que locais
onde houve escravidão intensa são mais desiguais hoje, confirmando a hipótese de
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Engerman e Sokoloff.
Para a Índia, Banerjee e Iyer (2004) abordam a interação entre história,
instituições e desempenho econômico, tendo como foco uma instituição histórica
específica: o sistema de coleta de rendas da terra implantado pela Grã-Bretanha na
Índia colonial. Demonstram empiricamente que, nos distritos onde a coleta de
renda dos agricultores era atribuída a uma classe de senhores de terra, verifica-se
uma performance sistematicamente pior do que em distritos onde não houve esse
tipo de intermediação. Os autores argumentam que tal sistema teria criado um
antagonismo de classes nas áreas onde havia a intermediação dos senhores de
terra e que esse conflito teria sobrevivido à extinção do próprio sistema. Assim
sendo, a principal explicação para os resultados estaria nas diferenças entre os
ambientes políticos criados e a distinção crucial residiria na natureza da ação
coletiva das duas áreas. Haveria, nesse sentido, um melhor alinhamento de
interesses entre as massas e a elite local nas áreas sem senhores de terra. Esta
seria uma explicação para as variações na composição dos gastos públicos entre as
áreas, pois os gastos em desenvolvimento são maiores nos distritos sem senhores
de terra, perpetuando as disparidades entre as trajetórias de longo prazo dessas
regiões.
Em um outro artigo para a Índia, Iyer (2003) estuda os impactos de longo
prazo do controle colonial na Índia comparando áreas que ficaram sob o controle
22

direto da Grã-Bretanha – Estados britânicos – com áreas administradas por reis


hereditários indianos – Estados nativos – e somente indiretamente controladas
pelos britânicos. A comparação entre os distritos que antes eram Estados nativos e
os que eram Estados britânicos revelou que a anexação britânica implica,
atualmente, uma pior provisão de bens públicos como escolas, saúde e estradas,
mas em termos de investimento agrícola e produtividade não é significante. Isto
demonstra que as áreas anexadas sob domínio britânico eram escolhidas com base
no potencial agrícola e que ficaram para trás em termos de investimento em bens
públicos.
O autor comenta que é pouco provável que os contrastes entre a Índia
britânica e os Estados nativos sejam decorrentes de diferenças em alguma
instituição específica, uma vez que mesmo entre os Estados nativos existe
considerável variação com relação a instituições como sistema de taxação, sistema
legal e estrutura administrativa4. Para explicar as disparidades, o autor identifica
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um problema de incentivos do administrador: os príncipes nativos pareciam se


esforçar mais para prover bens públicos. Isto acontecia devido a: (i)
comprometimento com o local, (ii) medo de ser deposto, (iii) horizonte mais
longo de relacionamento com o local. Através de dados recentes, o autor constata
indícios de que está havendo uma convergência entre os antigos Estados nativos e
britânicos no período pós-independência. Iyer (2003) interpreta tal erosão das
diferenças como sendo conseqüência do fato de todas as áreas, hoje, estarem sob o
mesmo sistema de governo.
Ainda sobre a Índia, Banerjee, Iyer e Somanathan (2004) investigam como
divisões sociais prejudicam o progresso econômico. Para tanto, analisam a relação
entre disponibilidade de bens públicos na porção rural da Índia e três fontes de
divisão social: o poder colonial proveniente do controle direto ou indireto do
Estado Britânico, conforme o estudo de Iyer (2003); a relação entre senhores de
terra e camponeses determinada pelo sistema de coleta de rendas da terra –
analisado em Banerjee e Iyer (2004) – e pelo sistema de castas hindu; e a presença
considerável de minorias religiosas. Concluem que essas três fontes de divisão
social têm efeitos negativos na maior parte dos indicadores de provisão de bens
públicos.

4
Vale ressaltar que o artigo do Banerjee e Iyer (2004) analisado anteriormente considera a relação
entre instituições e desempenho econômico apenas dentro da Índia britânica.
23

Para a Colômbia, Jimeno (2005) discute a persistência dos efeitos de


instituições coloniais, mensuradas pela intensidade da presença da encomienda, da
escravidão e da presença do Estado colonial nos municípios do país hoje. O
objetivo do artigo é explorar a variabilidade dentro da Colômbia para testar se é
possível encontrar persistência institucional através dos canais propostos por
Engerman e Sokoloff (1997, 2002). Observa que cada uma das três instituições
coloniais consideradas afeta pelo menos um dos seguintes indicadores de
desempenho econômico atual: índice de Gini da terra5, taxa de matrícula no
primário, taxa de matrícula no secundário, taxa de mortalidade infantil e um
índice de necessidades básicas. Os resultados corroboram a idéia de persistência
de instituições coloniais, isto é, sugerem que as formas através das quais a
sociedade colombiana se organizou no passado colonial representam um fardo
para a performance econômica e o bem-estar de hoje.
Com base na literatura empírica internacional, Bonet e Roca (2006)
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investigam qual papel as instituições, a geografia e a cultura têm nas disparidades


de renda per capita entre os departamentos colombianos. Como proxies para
instituições, usam a presença de regimes escravocratas – medidos pelo percentual
de escravos na população entre 1843 e 1851 – e o tamanho relativo do grupo
colonizador – medido pela participação atual da população de origem européia
nos departamentos. Como Proxy para cultura, utilizam o percentual de
eclesiásticos e religiosos na população de 1843 e 1851 e o grau de participação
cívica da população, medido pela relação entre o voto de opinião e o voto
clientelista. Os resultados mostram que geografia e cultura não têm efeitos diretos
nas diferenças de desempenho dos departamentos colombianos. Há evidências da
influência do legado colonial, mas não conseguem identificar se tal influência se
dá via instituições ou capital humano.
Bruhn e Gallego (2006) estudam como as diferentes atividades
empreendidas no período colonial explicam a acentuada desigualdade de
desenvolvimento das regiões dos países na América. Classificam tais atividades
entre ruins – propiciadoras de instituições extrativas – como o plantation
envolvendo trabalho escravo e a mineração; boas que criaram instituições

5
Bonet e Roca (2006), p.14, criticam a escolha do Índice de Gini da terra como um dos
indicadores de desempenho econômico atual: “Al escoger esa variable dependiente , el autor está
explicando solo el Gini de la tierra y no el desempeño económico actual, pues ambas variables no
tienem una relación estadísticamente significativa entre si.”
24

inclusivas e uma sociedade mais equânime; e feias que, independentemente do


tipo de atividade, geraram instituições extrativas devido à exploração da mão-de-
obra nativa em locais onde havia uma alta densidade populacional pré-
colombiana. Os autores encontram evidências de que atividades ruins e feias têm
efeitos negativos sobre o desenvolvimento dos departamentos, províncias ou
estados dos países americanos. Além disso, mostram que esse efeito negativo é
mitigado se o país como um todo tem boas instituições.
Diante dessa literatura, as disparidades de desenvolvimento verificadas no
Brasil impõem alguns desafios, uma vez que o sistema político, a origem do
direito, regras eleitorais, liberdades civis e diversas outras instituições
consideradas cruciais são as mesmas em todo o território. Além disso, o Brasil
tem algumas características que o tornam especialmente interessante, por
exemplo: (i) ao contrário dos EUA, caracteriza-se por um sistema federativo
bastante centralizado; (ii) ao contrário da América espanhola e da Índia, antes da
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chegada dos colonizadores, não havia sociedades complexas e densamente


povoadas que pudessem condicionar os tipos de atividade que se desenvolveram
no país.
Assim sendo, o estudo do caso brasileiro é uma fonte potencial de novas
perspectivas para essa literatura, pois, se instituições são realmente a variável-
chave do desenvolvimento, apenas a sua dimensão de facto poderia explicar a
acentuada variação de desempenho econômico em um país cujas macro-
instituições de jure são constantes em todo o território. No próximo capítulo,
estudaremos em detalhe o caso brasileiro e enfatizaremos os aspectos originais
deste trabalho, destacando sua potencial contribuição para a literatura.
3
Geografia, Desenvolvimento e Instituições no Brasil

“Que condições, se não as físicas e químicas, de solo e de clima, determinam o caráter da


vegetação espontânea e as possibilidades da agrícola, e através desse caráter e dessas
possibilidades, o caráter e as possibilidades do homem?” Freire, Gilberto; Casa Grande &
Senzala (p.96)

Na introdução do trabalho, observamos que o desenvolvimento dos


municípios brasileiros segue um padrão geográfico bastante similar ao observado
entre países. Nos mapas das Figuras 2 e 4 é possível visualizar a semelhança de
tais padrões. Diante disto, argumentamos que o caso brasileiro – marcado por uma
acentuada desigualdade de desenvolvimento interno, um forte padrão geográfico e
macro-instituições únicas – coloca algumas questões importantes para a literatura
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de instituições e desenvolvimento.
Tendo isso em vista, no presente capítulo, investigaremos essas questões
de forma mais profunda ao mostrar que, dentro do Brasil, diversas medidas de
desenvolvimento estão intimamente relacionadas a um amplo grupo de
características geográficas e que medidas institucionais também parecem ser
afetadas por tais características. Além disso, analisaremos como diferentes
dimensões de instituições locais, mesmo sob um mesmo arcabouço macro-
institucional, estão relacionadas com o desenvolvimento dos municípios
brasileiros.
Na primeira seção do Capítulo, apresentaremos os dados municipais que
utilizaremos em nossa análise empírica, destacando a motivação das variáveis de
instituições locais e a forma como são medidas. Na segunda seção, estudaremos
os padrões do desenvolvimento e das instituições no Brasil e as questões
decorrentes. Na última seção, uma vez observadas as características do caso
brasileiro, discutiremos a abordagem empírica do nosso estudo acerca da relação
entre herança colonial, instituições e desenvolvimento dos municípios brasileiros.

3.1
Dados Municipais
26

3.1.1
Medidas de Desenvolvimento e Variáveis Geográficas

A principal medida de desenvolvimento que utilizaremos em nossa análise


empírica – que, de modo geral, também se usa na literatura – é a renda per capita
dos municípios. Usaremos também, com o intuito caracterizar melhor a questão
que estamos estudando, outras duas medida de desenvolvimento para captar,
respectivamente, aspectos de capital humano e saúde: número médio de anos de
estudo e taxa de mortalidade infantil (mortalidade até 1 ano de idade). As medidas
de desenvolvimento foram retiradas do Censo de 2000 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
O conjunto de variáveis geográficas é composto por: distância para o
Equador (valor absoluto da latitude do centróide do município), distância para a
costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura média (12 meses do ano) e
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tipo de solo (12 variáveis dummy para os tipos de solo presentes em torno de um
raio de 0,1 grau de latitude e longitude da sede do município).
No Apêndice, há uma descrição completa e detalhada de todas as variáveis
utilizadas e suas respectivas fontes.

3.1.2
Medidas de Qualidade das Instituições Locais

As medidas de qualidade institucional podem ser subdivididas em dois


grupos que têm como objetivo captar diferentes dimensões do ambiente
institucional de facto dentro do Brasil. O primeiro grupo consiste em duas
medidas institucionais que estão associadas à concentração de poder político nos
municípios.
A primeira medida relaciona distribuição de recursos econômicos a poder
político. Segundo Acemoglu, Johnson e Robinson (2005), mesmo não estando
diretamente alocados em instituições formais, indivíduos podem exercer poder
político. Nesse sentido, a concentração de recursos econômicos nas mãos de elites
atua como uma fonte desse poder. Assim, um ambiente em que haja uma alta
concentração de poder econômico reflete, possivelmente, instituições políticas de
27

facto idiossincráticas independentemente das formalidades do arcabouço


institucional de jure.
De modo a medir a desigualdade de distribuição de recursos com essa
conotação política, utilizamos o Índice de Gini da distribuição de terras, visto que
a agricultura desempenhou um papel histórico chave na formação das forças
políticas dentro do Brasil. Além disso, a concentração fundiária que se verifica
hoje é representativa da desigualdade de distribuição de terras da formação
econômica do país, uma vez que as suas raízes estão no processo colonial (Leal,
1997; Assunção, 2006).

Gini da terra – Índice de Gini da distribuição de terras, calculado


para cada município baseado no Censo Agrícola de 1996.

A segunda medida de concentração de poder político tem como objetivo


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captar o quão competitivo é o processo político local. É possível que elites


políticas controlem eleições mesmo em um contexto aparentemente democrático.
Com o intuito de captar essa dimensão, consideramos um índice de concentração
de votos entre partidos políticos nas eleições para a câmara de vereadores dos
municípios. Vale lembrar que as regras eleitorais são as mesmas para todo o
Brasil e que os partidos políticos são definidos e atuam a nível nacional. Sendo
assim, uma alta concentração do percentual de votos indica que instituições
políticas no nível local são controladas por grupos pequenos, refletindo a
concentração de poder político de facto, mesmo dentro de um competitivo
contexto institucional de jure.

concentração política – Índice de concentração Herfindahl,


calculado a partir do percentual de votos de cada partido nas eleições para
vereador em 2000. Os dados foram obtidos no Tribunal Superior Eleitoral.

O segundo grupo de medidas consiste em duas variáveis associadas a


atributos institucionais do Estado em relação à qualidade das práticas de governo
e à penetração do aparato jurídico no âmbito local. A primeira variável desse
grupo tem como objetivo captar a eficiência do governo na administração do
28

município, provisão de bens públicos e sua potencial capacidade de resposta a


demandas da população.
Tendo isso em vista, usamos um índice de capacidade gerencial calculado
pelo IBGE para cada município brasileiro. O índice tem quatro componentes, cada
um normalizado para variar entre 1 e 6. Os componentes representam diferentes
aspectos da capacidade administrativa dos municípios, desde a eficácia da coleta
de impostos até adoção de instrumentos de administração e planejamento.

capacidade gerencial – Média simples de quatro indicadores


qualitativos normalizados de 1 a 6: ano de atualização da base de dados
do Imposto sobre propriedade (IPTU)6, taxa de pagamento do IPTU em
1999, o número de instrumentos administrativos7 e o número de
instrumentos de planejamento8. O índice é calculado usando dados entre
1997 e 2000.
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O intuito da segunda variável desse grupo é captar a segurança jurídica


com relação à aplicação e funcionamento das leis (rule of law) a nível local no
sentido de proteger direitos de propriedade e cumprimento de contratos. Com base
na definição de acesso à justiça do IBGE presente na Base de Informações
Municipais (BIM), criamos um índice que mede o acesso da população à justiça.
O índice varia de 0 a 3 segundo a existência de tribunais, conselhos e/ou
comissões de justiça.

acesso à justiça – Soma de três variáveis binárias indicando a


existência de: (i) Tribunal de Pequenas Causas, (ii) Conselho Tutelar e
(iii) Comissão de Defesa do Consumidor. Os dados estão presentes na
Base de Informações Municipais (BIM) de 2001.

6
Essa variável foi truncada de 1989 a 1999. Todos os municípios com atualizações anteriores a
1989 foram considerados como 1989.
7
Média de variáveis binárias indicando a existência de: (i) Distritos administrativos da cidade, (ii)
Centros administrativos sub-municipais, (iii) Plano Diretor, (iv) Lei de Parcelamento do Solo ou
equivalente, (v) Lei de Zoneamento ou equivalente, (vi) Código de Obras e (vii) Código de
Posturas.
8
Média de variáveis binárias indicando a existência de: (i) Plano de Governo, (ii) Plano
Estratégico e (iii) Lei Orgânica do Município.
29

Os Tribunais de Pequenas Causas foram criados no Brasil durante os anos


80 com jurisdição sobre casos civis caracterizados por um baixo grau de
complexidade e por pequenas quantias de dinheiro envolvidas. Essas cortes
especiais têm como objetivo intermediar os direitos dos litigantes baseadas em
méritos a um custo burocrático baixo e dispensando expedições judiciais lentas e
custosas entre as partes. Na realidade, a criação dos Tribunais de Pequenas Causas
promoveu o acesso da população de baixa renda ao sistema judicial, reduzindo
custos de litígio. Em 2001, 34% dos municípios brasileiros declararam ter este
tipo de tribunal.
Os Conselhos Tutelares foram introduzidos em 1990, promovendo o
desenvolvimento humano e protegendo os direitos dos jovens. Os Conselhos são
constituídos de cinco membros da sociedade civil e do sistema judiciário eleitos
pela população local. Apesar de estes Conselhos serem obrigatórios de acordo
com a Constituição de 1988, o percentual de municípios com Conselhos Tutelares
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estabelecidos em 2001 era de apenas 68,3%.


A despeito de os Conselhos Tutelares não serem, a priori, uma instituição
diretamente relevante do ponto de vista do desenvolvimento econômico local,
captam uma dimensão interessante do nosso objeto de pesquisa. Se
observássemos o Brasil como um todo, a existência da obrigatoriedade desse
Conselho em todos os municípios para garantir o respeito a princípios
constitucionais poderia ser avaliada de forma positiva do ponto de vista do país.
No entanto, ao analisarmos onde de fato tal obrigatoriedade foi respeitada dentro
do Brasil, podemos captar uma variação puramente de facto dessa instituição.
O Conselho de defesa do Consumidor consiste em diferentes instituições
de proteção aos direitos dos consumidores, que passaram a ser garantias
constitucionais em 1988. O escopo de ação desse conselho cobre uma ampla gama
de tópicos incluindo confiabilidade do produto, fraudes e outras interações entre
os consumidores e firmas. A primeira instituição dos direitos do consumidor foi
estabelecida em 1976 em São Paulo. Em 2001, havia Comissões do Consumidor
em 11% dos municípios brasileiros (IBGE, 2001).
As quatro medidas de qualidade institucional – Gini da terra, competição
política, capacidade gerencial e acesso à justiça –, portanto, estão relacionadas a
diferentes aspectos do ambiente institucional de facto no Brasil. Além de
30

captarem essa dimensão importante, são medidas mais precisas e concretas do que
as usualmente utilizadas pela literatura.
No Apêndice, há uma descrição completa e detalhada de todas as variáveis
utilizadas e suas respectivas fontes.
Nas seções subseqüentes, analisaremos padrões geográficos do
desempenho econômico e da qualidade institucional nos municípios brasileiros.
Apresentamos, ainda, correlações entre as diferentes dimensões institucionais e o
desenvolvimento local.

3.2
Geografia, Desenvolvimento & Instituições no Brasil:
Evidências Empíricas

3.2.1
A Geografia do Desenvolvimento e das Instituições no Brasil
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O padrão geográfico do desenvolvimento no Brasil vai além da relação


positiva e significante entre a renda per capita dos municípios e a distância para o
equador (ver Figura 3 e Figura 4). Na Tabela 1, verifica-se que diferentes medidas
de desenvolvimento – logaritmo da renda per capita, anos de estudo e mortalidade
infantil – seguem um padrão geográfico bastante claro e significante.
Uma das vantagens de estarmos restringindo a análise a um único país é a
maior riqueza de dados geográficos disponíveis e a possibilidade de uma
representação bastante mais precisa das dotações municipais. Procuramos
explorar essa vantagem da forma mais ampla possível, incluindo uma série de
variáveis que caracterizam as condições geográficas locais: distância para o
Equador e para a costa, incidência do sol e chuva, altitude, temperatura média em
cada um dos doze meses do ano e os tipos de solo presentes no município.
Este conjunto de variáveis geográficas explica uma grande fração da
variação nas três dimensões de desenvolvimento mencionadas: explica 65% da
variação do logaritmo da renda per capita entre os municípios brasileiros, 49% da
variação da média dos anos de estudo e 67% da variação da mortalidade infantil.
Praticamente, todas as principais variáveis independentes são significativas:
municípios distantes do Equador e perto da costa têm resultados melhores para as
três medidas de desenvolvimento. Municípios com mais chuva e menos incidência
31

de sol têm, em média, uma maior renda per capita, mais anos de estudo e uma
taxa menor de mortalidade infantil. Conjuntamente, a temperatura média e os
tipos de solo são significativamente relacionados com todas as dimensões de
desenvolvimento consideradas.
A literatura internacional, de modo geral, tem cuidado na interpretação
dessas correlações geográficas como efeitos causais. A visão mais difundida
recentemente, conforme discutimos no Capítulo2, argumenta que as condições
geográficas condicionam a formação de diferentes arcabouços institucionais que,
em última instância, determinam a trajetória de desenvolvimento de longo prazo
dos países (Acemoglu, Johnson e Robinson, 2005; Engerman e Sokoloff, 1997,
2002).
Conforme argumentamos na introdução, no caso do Brasil, instituições
consideradas relevantes para o desenvolvimento são únicas para todo o país.
Assim sendo, as explicações usuais da literatura de instituições parecem
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insuficientes para dar conta das variações observadas no território brasileiro.


Nesse sentido é possível que fatores geográficos sejam relevantes em si para o
desenvolvimento de longo prazo, o que contradiria a consenso principal da
literatura de instituições. Uma outra possibilidade é que, mesmo sob um
arcabouço macro-institucional constante, a qualidade instituições locais mais
específicas, associadas a condições geográficas e climáticas, tenham um papel
determinante para o desenvolvimento de longo prazo.
Na Tabela 3, exploramos essa possibilidade regredindo quatro medidas de
instituições locais no mesmo conjunto de variáveis geográficas discutidas na
Tabela 1. Assim como no caso das medidas de desenvolvimento, a qualidade
institucional dentro do Brasil também segue um padrão geográfico relativamente
claro. Apesar de alguns dos coeficientes não serem significantes em algumas
especificações e de a fração da variância explicada pelas variáveis geográficas ser
tipicamente menor do que no caso das medidas de desenvolvimento, o padrão
geral permanece o mesmo. Municípios distantes do Equador e próximos ao mar
têm, na maior parte das dimensões consideradas, melhores indicadores
institucionais: menos desigualdade na distribuição de terras, melhor capacidade
gerencial e mais acesso à justiça. Conjuntamente, as temperaturas médias do ano e
os tipos de solo, assim como no caso das variáveis de desenvolvimento, são
32

significativamente relacionados com todas as dimensões institucionais que


estamos analisando.
Sendo assim, o padrão geográfico do desenvolvimento e das instituições
no Brasil, mais uma vez, reproduz o observado entre países. Essas correlações
mostram que, a princípio, a caracterização geográfica do desenvolvimento pode
estar refletindo, em parte, a relação da geografia com a qualidade das instituições
locais e o efeito destas no desenvolvimento. Além disso, demonstram que, de
modo a realmente identificar o efeito de instituições no desenvolvimento, é
preciso ter o cuidado de controlar para todas as possíveis dimensões relacionadas
à geografia e clima, uma vez que estes fatores estão correlacionados tanto com
instituições quanto com desenvolvimento.

3.2.2
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Instituições & Desenvolvimento no Brasil

Na Tabela 4, apresentamos regressões OLS para mostrar que as quatro


medidas institucionais discutidas anteriormente estão relacionadas com
desenvolvimento, mesmo controlando para todas as variáveis geográficas das
Tabelas 1 e 3. Municípios com uma melhor capacidade gerencial, mais acesso à
justiça, menos desigualdade de distribuição de terras e menos concentração
política têm, tipicamente, renda per capita mais alta, mais anos de estudo e uma
taxa menor de mortalidade infantil.
A inclusão das variáveis institucionais aumenta ainda mais o poder
explicativo das regressões da Tabela 1. A fração da variação na variável
dependente explicada pelo modelo aumenta em 9% no caso da renda per capita,
em 16% no caso dos anos de estudo e em 2% no caso da mortalidade infantil.
Apesar de a Tabela 4 indicar que qualidade institucional pode ser relevante
para o desenvolvimento, é insuficiente para realmente identificar o papel das
instituições locais, já que estas podem ser endógenas ao processo de
desenvolvimento. Tendo isso vista, na próxima seção, apresentaremos a
abordagem empírica do trabalho.
33

3.3
Abordagem Empírica

Diante das correlações entre geografia, desenvolvimento e instituições no


Brasil, buscamos investigar o papel específico das quatro dimensões institucionais
apresentadas sobre o desempenho econômico local e como essas instituições
foram historicamente determinadas. Devido às especificidades do caso brasileiro,
os efeitos do arcabouço institucional local captam o papel do ambiente
institucional de facto, uma vez que as instituições de jure são centralizadas e
determinadas a nível nacional. Assim sendo, a abordagem empírica do trabalho
consiste em estudar possíveis causas e conseqüências das instituições locais no
Brasil.
Para estudar as causas, analisaremos dois episódios da história colonial
brasileira marcadamente rent-seeking: os ciclos da cana-de-açúcar e do ouro.
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Estes dois eventos históricos, que serão apresentados e analisados no próximo


capítulo, constituíram as atividades mais marcantes do período colonial e podem
ser circunscritos tanto geograficamente quanto cronologicamente na história
brasileira. Além disso, podemos identificar características específicas do ambiente
político e socioeconômico dessas atividades e intuir algumas possíveis
conseqüências em termos das instituições que se formaram a partir da herança
colonial dos ciclos. Essa caracterização mais precisa distingue o presente trabalho
da literatura que, em geral, lança mão de análises bastante genéricas dos eventos
históricos examinados.
Para estudar as conseqüências, exploraremos o caráter de choque
institucional dos ciclos coloniais para avaliar os efeitos de instituições locais sobre
desenvolvimento. A nossa base de dados permite investigar canais institucionais
específicos – desigualdade da distribuição de terras, concentração política,
capacidade gerencial e acesso à justiça –, que são fortemente correlacionados com
desenvolvimento, aproveitando a variação exógena gerada pelos ciclos históricos
e controlando para características precisas da localização geográfica dos
municípios.
Assim sendo, o caso brasileiro pode contribuir de diversas formas para a
literatura. Primeiramente, por permitir a análise do papel de diferentes instituições
locais relacionadas ao ambiente institucional de facto. Um outro aspecto relevante
34

é o estudo dos efeitos de longo prazo de episódios coloniais específicos e


relativamente bem definidos. Além disso, oferece novas possibilidades em termos
do entendimento da relação entre desenvolvimento, instituições e herança colonial
a partir de unidades de observação homogêneas – municípios – e contando com
um conjunto amplo de variáveis geográficas e climáticas que são bastante mais
representativas entre municípios do que entre países.
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4
Os Ciclos da Cana-de-Açúcar e do Ouro na História
Colonial Brasileira

No Capítulo anterior, mostramos que os padrões de desenvolvimento


econômico e institucional no território brasileiro estão intimamente relacionados a
um amplo conjunto de características geográficas e climáticas. Observando esses
padrões, é possível relacioná-los à diversidade de trajetórias históricas
experimentadas pelas regiões do país. O passado colonial parece ter imprimido
feições distintas na sociedade brasileira de acordo com as possibilidades que a
localização geográfica e os recursos naturais ofereceram à exploração econômica
da metrópole.
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Entre 1500 e 1822, o Brasil esteve sob a condição de colônia de Portugal.


Durante a maior parte deste período, a intervenção portuguesa, de caráter
claramente extrativo, se fez sentir de formas e intensidades diferentes no território
do país. O tipo de intervenção variava de acordo com o interesse europeu sobre
determinados bens, com o tipo de atividade econômica que a exploração desses
bens engendrava e com a viabilidade da atividade e do exercício de um controle
efetivo da mesma, dadas as dimensões geográficas do país.
Nos primeiros anos da colonização, a principal atividade econômica era a
extração de pau-brasil, que era obtido, basicamente, através de escambo com a
população nativa. Quando Portugal decidiu colonizar o Brasil efetivamente, criou
o sistema de capitanias hereditárias que, apesar de sua duração efêmera, marcou o
início de uma exploração mais sistemática da colônia como fonte de extração de
renda. Diferentes atividades econômicas, então, começaram a ser promovidas
pelos colonos.
Na região Nordeste, devido às características climáticas e à proximidade à
Europa, as decisões acerca da exploração econômica desse território vinham
diretamente da metrópole9 e, durante todo o período colonial, foi uma região cujo

9
A coroa portuguesa chegou a proibir o cultivo de qualquer gênero diferente da cana-de-açúcar
em uma determinada faixa do litoral nordestino (Fausto, 2006). Freire (1976) chama atenção para
36

destino esteve muito associado à sua condição de colônia. A região Sudeste não
sofria tanta intervenção inicialmente, tendo sido desenvolvidas atividades
diversificadas e mais condizentes com o interesse dos colonos que permaneceram,
de certo modo, à margem dos empreendimentos coloniais apoiados por Portugal10.
Portanto, a distância em relação à metrópole, devido aos custos e às dificuldades
de transporte na época, era uma variável relevante para o grau de intervenção
sofrido pela colônia ao longo de seu território:

“A distância física entre Lisboa, o principal centro de decisão político-


administrativo, e as cidades litorâneas brasileiras, e destas para o interior,
transformava em meses ou anos o tempo das decisões (...). Impunha-se,
assim, um ‘tempo administrativo’ que adiava as decisões e prejudicava a
eficiência da máquina de governo”.(Wehling, 1994, p.302)

Entre as diversas atividades que se desenvolveram na época colonial –


cana-de-açúcar, fumo, mineração, café, algodão, pecuária, entre outras –, é
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possível destacar dois ciclos econômicos que, segundo Simonsen (1979), foram
cruciais na formação econômica do Brasil: a cana-de-açúcar e a mineração.
Embora seja inevitavelmente reducionista analisar tais episódios como ciclos, pois
dá uma idéia de surgimento ascensão e fim – o que não é totalmente verdade,
especialmente, no caso do açúcar –, estes permitem identificar, nas áreas
diretamente afetadas no período “hegemônico” do produto, a estrutura
institucional a eles associada.
Nos períodos mais prósperos dessas atividades, havia de fato uma
mobilização de esforços econômicos, de mão-de-obra bem como da máquina
burocrática e administrativa para explorar ao máximo as rendas disponíveis. A
partir do momento em que essas rendas davam sinais de esgotamento, apesar de as
atividades, muitas vezes, seguirem existindo, essa mobilização se dissolvia, o que
denota a idéia de ciclo. Vale lembrar que a decadência do açúcar nordestino e a
descoberta de ouro na porção central do Brasil levaram, em 1763, à mudança da
capital da colônia de Salvador (BA) para o Rio de Janeiro.

o contraste entre a policultura e a riqueza nutricional do Sul e a monocultura extensiva e


conseqüente pobreza alimentar do Norte.
10
Houve, no Brasil, uma espécie de “reverso da fortuna” em relação a estas regiões. Sobre a
trajetória de desenvolvimento das capitanias do Sul, Simonsen (1937) afirma que, no final do
século XVI, “não há (...) confronto possível entre a pobreza paulista e a fartura usufruída no Brasil
açucareiro” (Simonsen, 1937, p.292).
37

Em linhas gerais, pode-se dizer que a economia européia ditava quais


produtos eram valorizados e as condições geográficas determinavam a localização
da sua exploração no território. A construção da estrutura econômica, política e
social vinculada aos ciclos coloniais, devido a essa exogeneidade na determinação
do produto relevante e da situação geográfica do mesmo, pode ser considerada
como um choque institucional nas regiões afetadas.
Soma-se a isso o fato de que não havia, no Brasil, antes da colonização,
sociedades complexas ou regiões densamente povoadas como na América
espanhola. Esses dois episódios coloniais se deram, portanto, em locais onde não
havia nenhuma estrutura social ou econômica bem desenvolvida, isto é, os ciclos
não foram determinados por alguma característica sócio-econômica preexistente.
Esses eventos foram, assim, originais em todos os seus aspectos institucionais, o
que permite a interpretação destes como choques.
Além dessa característica exógena, os dois ciclos econômicos destacados
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têm um caráter claramente rent-seeking11. A condição de colônia impunha um


sentido extrativista nas principais atividades e um caráter prioritário àquelas que
geravam uma maior lucratividade para a metrópole. Os colonos que se engajavam
em tais atividades visavam, essencialmente, extrair as rendas envolvidas12. Há
diversos relatos sobre a grave carência de abastecimento de alimentos básicos,
tanto nas áreas açucareiras, em virtude da monocultura extensiva, quanto nas
áreas de mineração, locais absolutamente despreparados para receber o volume de
pessoas que chegava e cujos interesses residiam, exclusivamente, na obtenção de
metais preciosos (HGCB, 1968; Simonsen, 1937; Boxer, 2000; Freire, 1976).
Concentraremos a nossa análise nesses dois ciclos coloniais: cana-de-
açúcar e ouro. Ambos são marcados por uma estrutura sócio-econômica
extrativista, por uma lógica rent-seeking e pelo uso massivo de trabalho escravo.
No entanto, distinguem-se entre si por uma série de características importantes

11
Sobre a atividade açucareira: “(...) havia uma proibição formal de publicações relativas ao
comércio e aos lucros portugueses; a apreensão e destruição da obra de Antonil provam essa
asserção.”(Simonsen, 1937, p.112).
12
Os colonos portugueses tinham uma visão de curto-prazo tão forte com relação ao tempo de
permanência no Brasil que, até o século XVIII, era comum homens migrarem para a colônia
deixando suas esposas em Portugal. Durante todo o período colonial, o número de mulheres
brancas, em particular, era muito reduzido (ver Wehling, 1994; ou Russel-Wood, 1977; em relação
às áreas mineradoras). Em relação à economia do açúcar, Padre Manuel da Nóbrega escreveu no
século XVI: “this people of Brazil pay attention to nothing but their engenhos and wealth even
though it be with the perdition of all their souls” (citado em Schwartz, 1987, p.88).
38

que serão ressaltadas no decorrer do trabalho. Assim sendo, se, por um lado,
espera-se que tais eventos históricos tenham conseqüências negativas na
qualidade das instituições de modo geral e, portanto, no desenvolvimento de
longo prazo das cidades afetadas, por outro, é possível que tenham efeitos
diferenciados de acordo com suas características institucionais específicas. Nas
próxima duas seções, analisaremos com mais detalhe os choques institucionais do
ciclo da cana-de-açúcar e do ciclo do ouro e, na última seção, sugeriremos
brevemente possíveis implicações para o desenvolvimento institucional de longo
prazo das áreas afetadas.

4.1
O Ciclo da Cana-de-Açúcar
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A etapa inicial da colonização se deu, sobretudo, no litoral nordestino.


Fatores climáticos e características de solo permitiram o florescimento da cultura
da cana-de-açúcar e a proximidade a Portugal viabilizou o aproveitamento do seu
potencial exportador, fazendo dessa atividade o núcleo econômico central do
Brasil-colônia (Fausto, 2006; Schwartz, 1987; Wehling, 1994)13.
Segundo Prado Jr. (1976), até o século XVII, o Brasil era o maior produtor
mundial de açúcar. No Nordeste, do Recôncavo Baiano ao Rio Grande do Norte,
cultivava-se cana-de-açúcar. Os núcleos principais de produção foram Bahia e
Pernambuco. Rio de Janeiro e Espírito Santo cultivavam cana em menor escala e,
de forma predominante, para a produção de aguardente que servia de moeda de
troca por escravos na África (Fausto, 2006). “Tratando-se da principal cultura do
Brasil naquela época, a do açúcar, contavam-se em Pernambuco sessenta e seis
engenhos; na Bahia trinta e seis, e nas outras capitanias, juntas, metade deste
número” (Simonsen, 1937, p.112).

13
Ao contrário do que se possa presumir, a localização da produção da cana não se deveu
basicamente a condições geográficas. A distância para Portugal teve um papel-chave na
localização geográfica. Por exemplo, hoje, o Brasil ainda é o maior produtor de açúcar,
representando 18.5% da produção mundial de 2005, mas 61% da produção atual se localiza no
estado de São Paulo. A produção de açúcar em São Paulo, hoje, é comparável com a da Índia,
segundo maior produtor mundial (dados do IBGE e do Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos).
39

Tratar como ciclo a economia do açúcar colonial é certamente mais


controverso do que analisar a mineração de tal forma. Enquanto colônia, o Brasil
vivenciou altos e baixos no cultivo da cana, mas, em momento algum, o açúcar
deixou de ter um papel relevante em termos de valor de exportação. Contudo, é
possível identificar períodos relativamente claros de grande prosperidade e,
outros, de acentuada crise.
Com base, principalmente, em Simonsen (1937), consideramos como ciclo
do açúcar o período que vai do início da colonização até 1760. Este período inclui
o chamado, segundo Fausto (2006), “século do açúcar”, isto é, 1570-1670,
momento de intensa produção e lucratividade do negócio açucareiro. A partir de
1670, o valor exportado sofre quedas acentuadas14 e, em 1760, no auge do ciclo
do ouro, inicia-se uma fase de expressiva decadência da cana15. Em meados do
século XVIII, o valor total das exportações já representava apenas 60% do havia
sido no auge do ciclo (Simonsen, 1977). Sendo assim, pode-se perceber um
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movimento de ascensão, auge e declínio do açúcar entre 1536-1760.


A economia do açúcar se estruturou no chamado plantation com base em
três elementos básicos: latifúndio, monocultura e trabalho escravo. Juntamente
com a plantação da cana, nasceram, no Brasil, a grande propriedade rural e a
sociedade patriarcal e escravocrata. O engenho de açúcar era um empreendimento
que exigia um grande volume de recursos para ser iniciado. As terras eram
concedidas àqueles que tinham alguma relação com a coroa portuguesa ou com os
capitães donatários16 e que possuíam recursos para ocupá-las e nelas produzir.
Além disso, o ciclo do açúcar só foi possível devido à solução do problema da
mão-de-obra: o escravo africano.
“Surgiu, assim, o uso dessa instituição como um imperativo econômico
inelutável: só seriam admissíveis empreendimentos industriais, montagem
de engenhos, custosas expedições coloniais, se a mão-de-obra fosse
assegurada em quantidade e continuidade suficientes. E por esses tempos e

14 Em 1710, era necessário quatro vezes mais açúcar para substituir um escravo do que em 1608
(Schwartz, 1987).
15 No início do século XIX, há um renascimento do açúcar, expandindo-se, inclusive, em regiões que,

antes, não abrigavam grandes produtores. Não consideramos esta fase do século XIX no que
denominamos ciclo do açúcar por situar-se no final do período colonial e em uma época em que os
movimentos abolicionistas ganhavam força. Nesse caso, o ambiente institucional já se constituiu de
forma mais híbrida e não se pode interpretar esse renascimento como um choque institucional no
sentido que estamos interpretando o ciclo do açúcar.
16 No início da colonização, as terras brasileiras foram divididas nas chamadas capitanias hereditárias e

entregues à administração e exploração de capitães donatários que, entre outras poderes, concediam
enormes lotes de terras – as chamadas sesmarias – a colonos que tivessem condições de explorá-los
economicamente.
40

nestas latitudes, só o trabalho escravo proporcionaria tal garantia”


(Simonsen, 1937, p.126).

O trabalho escravo, num contexto em que a oferta de terra para


subsistência era extremamente ampla, surgiu, também, como única possibilidade
de se extrair renda (Reis, 2005)17. Um engenho médio tinha de 60 a 100 escravos.
Um grande poderia ter mais de 200. No século XVIII, os escravos representavam
metade da população das capitanias nordestinas, mas nas regiões onde se plantava
açúcar constituíam, freqüentemente, 65 a 70% dos habitantes. No outro extremo
da pirâmide social, estavam os senhores de engenho. Eram a aristocracia local,
invariavelmente branca e concentradora de poderes sociais, econômicos e
políticos (Schwartz, 1987).
Apesar de não terem, na maior parte dos casos, o direito de propriedade
sobre as terras e, portanto, garantias de transmissão hereditária da propriedade
(Schwartz, 1987, p.88), o status social do senhor de engenho carregava a um
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enorme prestígio: “o ser senhor de engenho, he titulo, a que muitos aspirão porque
traz comsigo, o ser servido, obedecido e respeitado por muitos. E [...] bem se póde
estimar no Brazil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimão
os titulos entre os fidalgos do Reino” (Padre Antonil em 1711, citado em
Simonsen, 1977, p.105).
O forte poderio local contrastava com o Estado português marcadamente
centralizador e burocrata. Enquanto metrópole, Portugal procurava criar regras e
dispositivos de controle da atividade açucareira tendo em vista, essencialmente,
manter um fluxo constante de renda e preservar seu poder nas áreas de interesse
(Wehling, 1994). Assim sendo, em Pernambuco, cerca de 80% da receita do
governo resultava de uma série de impostos sobre o açúcar (Schwartz, 1987,
p.96). Diversos relatos da época chamam atenção para a oposição entre a
opulência dos senhores de engenhos e os repetidos pedidos de isenção de
impostos e moratória de dívidas. O ambiente político-institucional da economia
do açúcar tornava-a, portanto, uma atividade fundamentalmente rent-seeking que
sustentava esse universo econômico e político dos engenhos.

17
Em 1729, o Governor Luís Vahia Monteiro escreveu: “The most solid properties in Brazil are
slaves, and a man’s wealth is measured by having more or fewer (…), for there are lands enough,
but only he who has slaves can be master of them” (citado por Schwartz, 1987, p.81).
41

A polarização entre o senhor de engenho e o escravo – entre a casa grande


e a senzala de Gylberto Freire – e a condição de colônia orientada pela
monocultura latifundiária exportadora foram os elementos fundadores das
instituições políticas e econômicas das zonas açucareiras. Poderíamos dizer, em
consonância com as idéias de Engerman e Sokoloff (1997, 2002), que aí estariam
os elementos constitutivos de instituições ruins: extrema desigualdade social, uma
elite política e econômica demasiadamente pequena e a formação de um
arcabouço legal e tributário extrativista. “Like sugar-loaf itself, society
crystallized with white Europeans at the top, tan-coloured people of mixed race
receiving lesser esteem, and black slaver considered, like the dark panela sugar, to
be of the lowest quality” (Schwartz, 1987, p.67).

4.2
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O Ciclo do Ouro

A exploração do ouro no Brasil colonial foi extremamente intensa e


concentrada no tempo. Em 1695, os bandeirantes paulistas fizeram as primeiras
descobertas significativas de ouro em Minas Gerais, próximo ao que corresponde,
hoje, a Sabará e Caeté (Fausto, 2006). A partir daí, foram encontradas sucessivas
jazidas na região de Minas. A produção crescia de forma acelerada e, a partir de
1720 e 1726, Mato Grosso e Goiás passaram a contribuir para esse crescimento18.
Em 1728, descobriram-se as primeiras jazidas diamantíferas. O apogeu da
produção brasileira se deu por volta de 1760, declinando rapidamente, até se
tornar muito reduzida no final do século XVIII (Simonsen, 1937).
Apesar de efêmero, o ciclo do ouro brasileiro teve um impacto
significativo na economia da colônia, na sua demografia e na relação com
Portugal. Segundo Simonsen (1937), “(...) o ouro do Brasil (...) traduzia, naquele
tempo, a maior massa aurífera explorada e produzida após a queda de Roma”
(Simonsen, 1937, p.248). “Entre 1700 e 1770, a produção do Brasil foi
praticamente igual a toda a produção do ouro do resto da América, verificada

18
Nessa época, foram encontrados ouro e diamantes na Bahia, mas são escassos registros da
mineração baiana.
42

entre 1493 a 1850; alcançou cerca de 50% do que o resto do mundo produziu nos
séculos XVI, XVII e XVIII” (Simonsen, 1937, p.258).
As notícias das descobertas de ouro geraram um grande fluxo migratório
para as regiões mineradoras. Tamanha foi a fascinação exercida pelas minas que,
decorridos os primeiros 25 anos, a região centro-sul, antes, inabitada, concentrava
cerca de 50% da população brasileira (Fausto, 2006). A coroa chegou a se
preocupar seriamente com o despovoamento de Portugal, recorrendo a
dispositivos legais para restringir a emigração para a colônia (Porto, 1967; Costa,
1982a).
Juntamente com a enxurrada populacional, as regiões mineradoras
sofreram diversas intervenções da metrópole com o objetivo de controlar e se
apropriar ao máximo do ouro brasileiro. Uma série de impostos e regras para a
exploração das minas e movimento de bens e pessoas foi criada para garantir um
montante de renda que fosse adequado para Portugal, dada a repentina riqueza
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encontrada na colônia. Houve, até mesmo, uma tentativa absolutamente inviável e


frustrada de se exigir um passaporte especial para o ingresso na região das minas
(Boxer, 2000).
Ao menos doze sistemas de impostos distintos foram adotados em
diferentes momentos do tempo. Contudo, é possível destacar dois sistemas básicos
de tributação: o quinto (20% do ouro produzido) e a capitação (imposto por
escravo maior de 12 anos). O ouro era monopólio real, a exploração era feita
através do arrendamento de lotes ou datas de minas. Usualmente, indivíduos
responsáveis pela descoberta de novas jazidas tinham prioridade para escolher a
porção da área encontrada e o restante era alocado a outros candidatos via leilões
ou loterias, sendo que o tamanho do lote variava conforme o número de escravos
do candidato contemplado. Após a alocação inicial, os mineradores tinham
liberdade para vender ou negociar seus lotes ou minas (Boxer, 2000, p.75; Reis,
2005).
De modo a ter mais controle sobre a produção, foi proibida a circulação de
ouro em pó. A exigência do processamento do ouro para convertê-lo em barras era
uma forma de garantir a taxação. Para a maior parte da região, as barras de ouro
só podiam circular com o selo da coroa portuguesa, o que significava ter passado
oficialmente por uma Casa de Fundição, responsável por fundir o ouro e coletar os
devidos impostos.
43

Apesar dos esforços de Portugal, fraudes eram constantes. O problema de


evasão de ouro era tão grave que a descoberta dos santos do pau oco – imagens de
santos ocas que eram utilizadas para esconder ouro – fez com que a metrópole
banisse frades sem autorização e proibisse o estabelecimento de ordens religiosas
em Minas (Boxer, 2000, p.76).
Criou-se, assim, um ambiente de disputa e hostilidade entre cidadãos e o
Estado nas áreas mineradoras. De um lado, os produtores se esforçavam
continuamente para se esquivar dos impostos e fiscalização da coroa portuguesa.
Do outro, a metrópole criava cada vez mais instrumentos de controle. Na medida
em que o ouro começou a escassear, essa disputa ficou ainda mais acirrada. Um
exemplo emblemático disso é a chamada derrama. No auge do ciclo, estipulou-se
uma quantidade mínima de arrecadação de impostos em ouro para as regiões das
minas. Caso essa quantia não fosse atingida, o governo podia se apropriar de todo
o ouro existente até completá-la e se, ainda assim, não fosse suficiente, podia-se
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decretar a derrama, um imposto pago por toda a população. Quando se iniciou a


rápida decadência da mineração colonial brasileira, o dispositivo da derrama
começou a ser mais recorrente, exacerbando, assim, o conflito entre o Estado e a
população (Fausto, 2006).

“Quando o quinto arrecadado não chegava a estas 100 arrobas, procedia-se


ao derrame (...). Cada pessoa, minerador ou não, devia contribuir com
alguma coisa, calculando-se mais ou menos ao acaso as possibilidades.
Criavam-se impostos especiais sobre o comércio, casas de negócio, escravos,
trânsito pelas estradas, etc. Qualquer processo era lícito contanto que se
completassem as 100 arrobas do tributo (...). A força armada se mobilizava, a
população vivia sob o terror; casas particulares eram violadas a cada hora do
dia ou da noite, as prisões se multiplicavam. Isto durava não raro muitos
meses, durante os quais desaparecia toda e qualquer garantia pessoal. Todo
mundo estava sujeito a perder de uma hora para outra seus bens, sua
liberdade, quando não sua vida”. (Prado Jr., 1976, p.59)

A conseqüência natural desse processo desencadeado pelo ciclo minerador


foi a formação de um aparato de Estado extremamente ineficiente, uma grande
instabilidade institucional e uma relação hostil e sufocante do Estado com os
cidadãos das regiões mineradoras.
De maneira geral, apesar desse caráter inequivocamente extrativista, o
ciclo do ouro teve um impacto bastante relevante em diferentes dimensões da vida
colonial. Favoreceu, por exemplo, o povoamento do interior, deslocou o eixo
44

colonial do nordeste para o centro-sul – acarretando, inclusive, no deslocamento


da capital do país – e estimulou atividades complementares em outras regiões.
Além disso, a sociedade mineira se diferenciou muito do universo casa grande e
senzala do Brasil colonial nordestino. Apesar de o trabalho escravo ter sido, assim
como no negócio açucareiro, a base da produção, não havia a polarização senhor-
escravo da forma que se verificava nos engenhos.

“Ao minerador eram necessários coragem, alguma ferramenta e um punhado


de escravos. (...). Enquanto os senhores de engenho necessitavam possuir
grandes cabedais, para se instalar, o minerador das aluviões brasileiras
poderia ser um homem de poucas posses. Não obstante repousarem os
serviços principais no braço escravo, é inegável que se operou no sertão
Brasileiro uma ‘divisão do trabalho’ muito mais intensa do que se permitia a
organização social do Nordeste brasileiro”(Simonsen, 1937, p.291).

Furtado (1999) chama atenção, ainda, para o seguinte fato: “(...) a


economia mineira brasileira oferecia possibilidades a pessoas de recursos
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limitados, pois não se exploraram grandes minas – como ocorria com a prata no
Peru e no México – e sim o metal aluvião que se encontrava depositado no fundo
dos rios”.
O trabalho escravo era intensamente usado e considerado mais duro que
nos engenhos. Entretanto, a relação dos senhores com seus escravos era diferente.
Não só porque os próprios senhores, conforme mencionamos anteriormente,
tinham características distintas, mas, também, porque o escravo tinha algum poder
nessa relação. Os escravos “(...) podiam esquivar-se de muitos maus tratos dada a
possibilidade de utilizar contra seus donos a arma da denúncia de fraudes fiscais;
qualquer delação, mesmo infundada, podia causar sérios transtornos” (Costa,
1982a, p.11). Na verdade, mesmo que raramente usada, foi instituída pela coroa
portuguesa uma legislação de acordo com a qual o escravo podia ganhar sua
liberdade denunciando evasão fiscal (Reis, 2005).
Além disso, freqüentemente, os escravos compravam a própria alforria.
Inicialmente, através do roubo. Com o tempo, foi se tornando comum permitir que
o escravo trabalhasse parte do tempo por conta própria, pagando uma parte ao
senhor. É interessante notar, segundo Reis (2005), que a exploração do ouro em
si envolvia um alto grau de assimetria de informação entre o escravo, diretamente
envolvido na atividade, e o seu dono ou supervisor. Os escravos podiam roubar ou
esconder o que encontrassem e os mineradores dependiam da disposição deles em
45

reportar descobertas para que o empreendimento fosse lucrativo. A fração de


escravos livres na população descendente de africanos, que correspondia a apenas
1,4% entre 1735 e 1749, aumentou para 41% em 1786 (34% do total da
população; Russell-Wood, 1977). Uma razão para isso é que, com a decadência,
tornou-se impossível ou desnecessária a posse de escravos (Fausto, 2006).
Nasceu, dessa relação entre escravos e senhores, da estrutura
administrativa criada por Portugal e do enorme fluxo migratório, uma sociedade
bastante complexa e diferenciada. A economia do engenho do açúcar, latifundiária
por excelência, não estimulava a formação de cidades. A economia do ouro gerou
um grande número de cidades e centros urbanos. A sociedade mineira se
constituía também de negociantes, advogados, padres, fazendeiros, artesãos,
burocratas, militares. Muitos desses agentes tinham seus interesses estritamente
vinculados à colônia e não por acaso ocorreu, em minas, uma série de
conspirações e revoltas contra autoridades coloniais.
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Fausto (2006) argumenta que, apesar dessa formação social diferente, as


zonas mineiras não deixaram de formar, em seu conjunto, uma sociedade pobre e
desigual. Além disso, o esgotamento dos metais preciosos teve um efeito
extremamente negativo nas cidades que nasceram das minas. Ouro Preto, por
exemplo, tinha 20 mil habitantes em 1740 e apenas 7 mil em 1804.
Segundo Simonsen (1937), os campos de mineração eram compostos, em
grande parte, de terras pobres e as cidades formadas em suas proximidades
tiveram uma prosperidade efêmera.“Era uma decadência triste e uma desolação
geral. Os vizinhos da outrora opulenta Vila Rica miravam-se nas ruínas da antiga
prosperidade. Mendigos habitavam em palácios carunchosos” (Simonsen, 1937;
p.292).
O ciclo do ouro, portanto, esteve associado, por um lado, a uma
diferenciação da sociedade e da economia coloniais. Por outro, apesar das
diferenças com relação ao ciclo da cana, a exploração do ouro foi marcada pelo
rent-seeking e pela formação de um arcabouço institucional acentuadamente
extrativista e ineficiente, criando um embate contínuo entre o Estado e a
população.
46

4.3
Herança Colonial: Implicações Institucionais de Longo Prazo

A ocupação do território brasileiro que foi determinada pelos ciclos


coloniais esteve associada à formação de estruturas socioeconômicas e políticas
que podem ter condicionado o desenvolvimento institucional de longo prazo das
regiões afetadas. Ao estabelecer as condições iniciais em termos da distribuição
do poder econômico e político, do funcionamento da máquina do Estado e do
sistema legal, os episódios rent-seeking do período Brasil-colônia criaram o
ambiente a partir do qual a história institucional daquelas áreas evoluiu. Dada a
tendência à persistência das instituições discutida no Capítulo 2 (por exemplo,
Acemoglu, Johnson e Robinson, 2001, 2002; Acemoglu e Robinson 2000, 2002),
é plausível que tais municípios hoje ainda apresentem sinais da baixa qualidade
institucional inaugurada em um passado histórico marcado pelos ciclos coloniais.
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Esses efeitos de longo prazo dos ciclos, apesar da semelhança do caráter


extrativista, podem apresentar diferenças importantes em função das
idiossincrasias de cada episódio. No caso do açúcar, a conseqüência mais clara é
sobre a formação de uma sociedade extremamente polarizada, com poderes
políticos e econômicos concentrados nas mãos de líderes locais que sofriam muito
pouca interferência de qualquer tipo de poder central e que não eram submetidas a
quase nenhuma restrição externa de sistema político ou legal (Reis, 2005).
A origem de tamanho poder econômico e político era, essencialmente, a
acentuada desigualdade de distribuição de terras. Nas áreas onde se plantava
açúcar, terra significava poder. Segundo Schwartz (1987), os engenhos eram mais
estáveis que os seus senhores. As propriedades mudavam de mãos dentro desse
extrato social restrito sem alterar a desigualdade de poder político e econômico.
Assim sendo, a instituição do latifúndio perdurou no tempo, podendo ter levado
consigo os efeitos perniciosos do rent-seeking colonial. É possível que a
configuração política e social da economia do açúcar, portanto, tenha reflexos
hoje uma vez que a concentração de terras contemporânea do Brasil tem suas
raízes no processo colonial (Leal, 1997; Assunção, 2006).
Essa concentração de poder político pode ter diversas conseqüências hoje.
Talvez através da ausência formal do estado nas áreas inicialmente sob a
influência dos senhores de engenho; ou através do controle do sistema político
47

pelos principais grupos econômicos; ou, possivelmente, pela dominação do poder


do estado por elites locais e pelo estabelecimento de instituições de facto bastante
descoladas das características do ambiente institucional de jure em que estão
inseridas.
No caso do ouro, a formação institucional se estruturou de uma forma
distinta. A sociedade das minas era relativamente mais horizontal e flexível em
termos de mobilidade social que a do açúcar, o que se traduzia em uma
distribuição de poder político, de certa forma, mais igualitária. As questões mais
marcantes do ciclo do ouro foram o seu caráter acentuadamente extrativista e os
constantes embates entre o Estado e a sociedade civil pelas rendas do ouro.
Por um lado, a mineração colonial caracterizou-se por um
intervencionismo sem precedentes de Portugal que engendrou a formação de um
aparato estatal extremamente sufocante e ineficiente. Por outro, esteve associado à
criação de uma sociedade civil dedicada a múltiplas formas de se esquivar da
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pesada mão fiscal do Estado. Nesse sentido, diferentemente do ciclo do açúcar, as


implicações de longo prazo desse extrativismo do ciclo do ouro estão,
provavelmente, relacionadas à ineficiência burocrática, assim como, a uma baixa
participação ou comprometimento da população com o governo local. Nesse caso,
não seriam esperados os efeitos sobre o ambiente político local como, de modo
geral, espera-se das áreas afetadas por grandes empreendimentos agrícolas do
período colonial.
Na próxima seção, descreveremos em detalhe a construção das variáveis
históricas dos ciclos.

4.4
Variáveis Históricas

Analisamos alguns determinantes coloniais das instituições de hoje com


base no fato de que (i) é possível identificar o período histórico e a localização
geográfica dos ciclos do ouro e do açúcar; e de que (ii) Portugal era uma
metrópole bastante interventora e ativa ao longo do período colonial.
Primeiramente, identificamos os municípios atuais que foram diretamente
afetados pelos ciclos coloniais que estamos considerando. No caso da cana-de-
48

açúcar, as áreas afetadas foram mapeadas a partir de informações contidas na


literatura sobre a história colonial brasileira e no ano de fundação do município. A
partir de Simonsen (1937), definimos o período relativo ao ciclo do açúcar: do
início da colonização brasileira a 1760. De acordo com Prado Jr. (1976),
Simonsen (1937) e Fausto (2006), as regiões afetadas pelo ciclo correspondem a
áreas dos atuais estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Bahia e Espírito Santo, incluindo também a região de Campos dos Goytacazes no
estado do Rio de Janeiro.
Contudo, não há informação precisa nos relatos históricos sobre a
distribuição da produção de cana-de-açúcar dentro dessas regiões, nem mesmo
sobre a localização exata do ciclo nessas áreas. Assim sendo, utilizamos o ano de
fundação dos municípios com o intuito de identificar as localidades que têm suas
origens relacionadas ao ciclo do açúcar. Mais especificamente, definimos um
município diretamente afetado pelo ciclo do açúcar se este estiver localizado em
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alguma das áreas supracitadas e se seu ano de fundação for anterior a 176019.
Como o ciclo do açúcar se desenvolveu no litoral brasileiro, excluímos da amostra
municípios identificados por esse método que se localizassem a mais de 200 km
da costa20.
No caso do ciclo do ouro, a identificação dos municípios afetados foi
diferente. Com base em relatos históricos (ver, por exemplo, Russel-Wood, 1977;
Simonsen, 1937; Boxer, 2000; Fausto, 2006), podemos determinar os atuais
estados cujas histórias estão relacionadas ao ciclo do ouro (Bahia, Goiás, Mato
Grosso e Minas Gerais). A partir do mapa de “Caminhos Antigos, Mineração e
Máxima Expansão da Capitania Paulista” apresentado por Simonsen (1937),
podemos delimitar a localização precisa das minas históricas dentro de cada um
desses estados21.
De acordo com essas definições de ciclo, construímos duas variáveis
dummy que assumem valor um se o município foi diretamente afetado pelo

19
Os resultados não se modificam quando consideramos como ciclo do açúcar apenas o período
que vai do início da colonização ao fim do chamado “século do açúcar”, isto é, 1700.
20
Foram excluídos cinco municípios do interior da região Nordeste. Vale ressaltar que verificamos
que a criação dessas cinco cidades se dá no século XVII e está associada, na realidade, ao ciclo do
ouro.
21
Os resultados também permanecem praticamente os mesmos quando incluímos todas as áreas
presentes no mapa “Caminhos Antigos, Mineração e Máxima Expansão da Capitania Paulista”
(Simonsen, 1977). Isto significa adicionar pequenas áreas no Norte e no Sudeste do Brasil que não
são usualmente associadas ao ciclo do ouro.
49

respectivo ciclo colonial e zero caso contrário. O problema dessa categorização é


que a influência desses episódios históricos não se restringe apenas aos
municípios delimitados. A produção da cana e a mineração, assim como as
estruturas políticas e sociais associadas a essas atividades, afetaram e
influenciaram áreas vizinhas. De modo a captar esse efeito contínuo, definimos
para cada município diretamente afetado a seguinte função de influência:
⎧⎛ 200 − d i ⎞ 2
⎪ se d i ≤ 200 km,
I i = ⎨⎜⎝ 200 ⎟⎠ (1)

⎩ 0 caso contrário,

onde di é a distância em quilômetros do município i para o município


diretamente afetado mais próximo.
Essa função atribui um peso maior aos municípios próximos às localidades
diretamente afetadas pelos episódios de rent-seeking e decai de forma quadrática
até atingir zero em um raio de 200 km. Assim, a função influência varia entre 0 e
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1 de acordo com a Figura 5. Nessa mesma Figura, apresentamos três funções


influência alternativas utilizadas na análise de robustez dos resultados.
Foram criadas, portanto, duas variáveis indicando a influência do ciclo do
açúcar e do ouro nos municípios brasileiros:
açúcar – Índice de proximidade ao ciclo da cana-de-açúcar, variando entre
0 (municípios a mais de 200km dos diretamente afetados pelo ciclo do açúcar) e
1, de acordo com a equação (1).
ouro – Índice de proximidade ao ciclo do ouro, variando entre 0
(municípios a mais de 200km dos diretamente afetados pelo ciclo do ouro) e 1, de
acordo com a equação (1).
A Figura 6 apresenta a variável de influência do ciclo da cana-de-açúcar.
Os pontos mais escuros se referem a municípios com mais peso nessa função
contínua. Nota-se que a área de influência da cana-de-açúcar está concentrada na
costa Nordeste brasileira. Essa área e os 200km em torno dela correspondem a
1.060 municípios com uma área de 180 mil quilômetros quadrados e com uma
população de 30 milhões de pessoas em 200022.

22
Para se ter uma idéia do que isso representa, essa área equivale a duas vezes o território de
Portugal.
50

A região afetada pelo ciclo do ouro está representada na Figura 7.


Diferentemente do ciclo da cana-de-açúcar, a área mineradora concentra-se no
interior do país. O índice do ciclo do ouro contém mais de 1.500 municípios,
correspondendo a uma área acima de 480 mil quilômetros quadrados e a uma
população de 34 milhões de pessoas em 2000. As estatísticas descritivas, tanto das
áreas afetadas pelos ciclos, quanto das áreas fora dos 200km de influência dos
mesmos, estão na Tabela 5.
Sintetizando a discussão da seção anterior, consideramos os ciclos da
cana-de-açúcar e do ouro como diferentes fontes de variação exógena para
instituições, caracterizados, principalmente, pelos seguintes aspectos:
• Ciclo da Cana-de-Açúcar: Economia baseada no sistema de plantation,
isto é, latifúndio monocultor escravista. Os recursos econômicos e o poder
político eram extremamente concentrados. A sociedade da cana-de-açúcar se
caracterizava por uma acentuada polarização marcada pelo enorme poder e
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influência local dos senhores de engenho e por um grande número de escravos


absolutamente desprovidos de poder econômico, político ou consideração social.
• Ciclo do Ouro: Diferentemente da sociedade do açúcar, a economia
mineradora formou uma sociedade menos rígida, com mais mobilidade social e
equidade de distribuição de poder político. A intensidade do controle do Portugal
também é um fator que distingue os dois ciclos. Com o intuito de controlar todo o
processo de produção e circulação de bens e pessoas, a coroa portuguesa construiu
um aparato governamental complexo e ineficiente que impunha obstáculos na
relação entre a população local e o setor público.
Além dos indicadores de proximidade aos ciclos do açúcar e do ouro,
utilizamos a distância para Portugal para incorporar a influência ativa que a
metrópole mantinha sobre a colônia nesse período. A distância para Lisboa
representava um custo administrativo importante nesse período que, em última
instância, afetava a eficácia do aparato institucional para a extração de renda.
Também consideramos a interação entre a distância para Portugal e as variáveis
dos ciclos de modo a captar os efeitos da variação do controle da metrópole dentro
dos ciclos.
distância para Portugal – Distância Euclidiana calculada a partir das
coordenadas da sede de cada municípios brasileiro e do centro de Lisboa (38º42’N
e 9ºO).
51

açúcar x distância para Portugal – Interação entre a distância para


Portugal e a influência do ciclo da cana-de-açúcar.
ouro x distância para Portugal – Interação entre a distância para Portugal
e a influência do ciclo do ouro.
Deste modo, foram construídas cinco variáveis históricas com o objetivo
de caracterizar os determinantes de longo-prazo de diferentes dimensões
institucionais dos municípios brasileiros. Além disso, utilizamos essas variáveis
como instrumentos para identificar como esses canais institucionais específicos
afetam o desenvolvimento econômico local. No próximo capítulo, discutiremos os
resultados de nossa análise empírica.
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5
Especificações e Resultados

Neste Capítulo, apresentaremos as especificações e os principais


resultados da nossa análise empírica.

5.1
Especificações

Conforme mencionamos no Capítulo 3, a abordagem empírica do trabalho


será dividida em duas etapas. Na primeira, investigaremos os determinantes de
longo prazo das instituições, verificando se os episódios históricos do período
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colonial explicam a variação das instituições locais hoje. Na segunda etapa, os


ciclos do ouro e do açúcar no Brasil-colônia serão utilizados como fonte de
variação exógena em diferentes dimensões institucionais de hoje com o intuito de
avaliar o efeito destas no desenvolvimento de longo prazo dos municípios.

5.1.1
Causas: 1o Estágio

No primeiro conjunto de exercícios empíricos, que buscam entender as


causas da variação das instituições atuais, estimamos a seguinte especificação
para o município i:
Z i = α + γ A Ai + γ AP Ai Pi + γ O Oi + γ OP Oi Pi + γ P Pi + β ' X i + ε i (2)

onde Z i é o indicador institucional de hoje (capacidade gerencial, acesso

à justiça, Gini da terra e concentração política), Ai é a variável do ciclo da cana-

de-açúcar, Oi é a variável do ciclo do ouro, Pi é a distância para Portugal, X i é

o vetor de características geográficas (distância para o Equador, distância para a


costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura e solos) e ε i é o erro.
53

Os parâmetros γ A e γ AP
, sob as condições usuais, refletem o efeito do
ciclo da cana-de-açúcar no indicador institucional. Com uma simples manipulação
de (2), temos que:
E (Z | A = 1, P ,O , X ) − E (Z | A = 0 , P ,O , X ) = γ A
+γ AP
P (3)

Para boas características institucionais, γ A


< 0 indica que o ciclo do

açúcar teve uma influência negativa nas instituições atuais. O parâmetro γ AP


, por
sua vez, capta como esse efeito é afetado pela proximidade a Portugal. Por
exemplo, se γ A
<0 e γ AP
> 0 , há uma indicação de que o ciclo do açúcar gerou
uma piora nas instituições de hoje e que esse legado negativo é mais acentuado
nos municípios mais próximos à metrópole colonial.
De modos similar, os parâmetros γ O e γ OP refletem os efeitos do ciclo do
ouro nas instituições atuais. A partir da equação (2) também temos que:
E (Z | A, P ,O = 1, X ) − E (Z | A, P ,O = 0 , X ) = γ O + γ OP P
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(4)
A lógica da interpretação dos coeficientes do ciclo do ouro é análoga à dos
coeficientes do ciclo da cana-de-açúcar.

5.1.2
Conseqüências: 2o Estágio

Na segunda parte da análise empírica, avaliamos se as instituições de facto


locais são determinantes da renda per capita dos municípios. A princípio,
poderíamos inferir que a direção de causalidade com base na primeira coluna da
Tabela 4. No entanto, há problemas conhecidos de identificação com esse tipo de
inferência em relação à causalidade reversa, a variáveis omitidas ou a erros de
medida.
O problema de causalidade reversa, por um lado, tende a introduzir um
viés positivo na inferência direta da relação entre instituições e renda per capita.
Não apenas melhores instituições aumentam renda per capita, mas também
municípios mais ricos podem ter mais capacidade de criar ambientes institucionais
melhores. Para os problemas de variável omitida e erros de medida, por outro
lado, não é possível afirmar a priori qual é a direção do viés. A parte dos erros de
medida que é independente das variáveis do lado direito da equação determinam
um viés em direção a zero no efeito de instituições sobre renda per capita.
54

Nossa estratégia para identificar os efeitos das instituições sobre renda


baseia-se em um abordagem de variáveis instrumentais, onde os ciclos do açúcar e
do ouro juntamente com a distância para Portugal são usados como fonte de
variação exógena nas instituições municipais. A especificação de primeiro estágio
é dada pela equação (2), ao passo que a regressão de segundo estágio tem a
seguinte especificação:
Yi = μ + γZ i + δ ' X i + ν i (5)

onde Yi é a renda per capita do município i, Z i é um vetor de indicadores

institucionais (capacidade gerencial, acesso à justiça, Gini da terra e


concentração política), X i é um vetor de características geográficas (distância
para o Equador, distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude,
temperatura e solos) e ν i é o termo de erro.

O vetor Xi de características geográficas tem um papel importante na


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nossa análise. As Tabelas 1 e 3 mostram que existe uma correlação significante


entre características institucionais e geográficas na nossa amostra. O fato de
estarmos utilizando observações a nível municipal nos permite dar conta dos
atributos geográficos de uma forma melhor que na análise entre países.
Tipicamente, existe menos variação geográfica entre municípios que entre países.
Sob a hipótese de que as variáveis do período colonial não pertencem à
equação (5) e que os parâmetros γ A , γ AP
, γ O , γ OP e γ P não são conjuntamente
iguais a zero, o parâmetro γ mede o efeito das instituições de facto locais sobre a
renda per capita dos municípios brasileiros.

5.2
Resultados

Da Tabela 6 à 12 apresentamos os resultados da nossa análise empírica


para o primeiro e segundo estágios descritos na seção anterior. Primeiramente,
discutiremos os resultados dos efeitos dos ciclos do Brasil colonial nas
instituições atuais. Em seguida, analisaremos os efeitos da variação
historicamente determinada dessas instituições no desenvolvimento de longo
prazo.
55

5.2.1
Ciclos Coloniais e Instituições de facto

Conforme discutimos no Capítulo 4, a experiência colonial engendrou


diferentes conjuntos de instituições nas áreas afetadas pelos ciclos em comparação
com o resto do país. Confrontando os dois episódios, apesar das semelhanças em
termos do caráter rent-seeking dessas atividades, há variações significativas na
organização da produção e nos mecanismos de expropriação envolvidos. Assim
sendo, é possível que os ciclos coloniais tenham afetado de modo distinto as
instituições atuais.
A Tabela 6 apresenta os resultados dos efeitos de longo prazo dos ciclos
nas variáveis Gini da terra e concentração política. A Tabela 7 contém resultados
análogos para capacidade gerencial e acesso à justiça. Por razões descritivas, as
primeiras duas colunas dessas tabelas apresentam, respectivamente, uma regressão
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nas duas variáveis de ciclo simplesmente e uma regressão na variável distância


para Portugal. A terceira coluna das tabelas 6 e 7 apresenta a estimação da
equação (2) sem os controles geográficos. Finalmente, a quarta coluna mostra os
resultados da especificação (2) completa.
À exceção de concentração política, as duas primeiras colunas das tabelas
6 e 7 para cada variável dependente indicam que a influência colonial está
consistentemente relacionada a instituições piores. Incondicionalmente,
municípios afetados pelos ciclos do ouro ou do açúcar e próximos a Portugal
apresentam mais concentração de terras, piores indicadores de capacidade
gerencial e menos acesso à justiça. Contudo, quando as variáveis históricas são
incluídas juntamente com os controles geográficos nem todos os coeficientes
permanecem significantes.
Na coluna 4 da Tabela 6, verificamos que o Gini da terra tem um aumento
bastante acentuado e significante em áreas que foram afetadas pelo ciclo da cana-
de-açúcar. Em particular, esse efeito negativo do ciclo do açúcar é mais forte em
áreas próximas a Portugal. Os resultados para concentração política (coluna 8 da
Tabela 6 são análogos. Municípios localizados em áreas que foram afetadas pelo
ciclo da cana têm, hoje, mais concentração política e esse efeito é tão mais grave
quanto mais próximo o município for de Portugal. No caso dessa variável,
56

particularmente, a distância para Portugal reduz a concentração política


independentemente de o município ter ou não sido afetado pelos ciclos.
Os resultados para capacidade gerencial e acesso à justiça (colunas 4 e 8
da Tabela 7 são bastante diferentes dos presentes na Tabela 6. A influência do
ciclo do ouro está sistematicamente associada a uma pior capacidade gerencial da
administração municipal e a um acesso à justiça mais precário no nível local.
Analogamente ao caso do ciclo do açúcar, esse efeito negativo do ciclo do ouro é
mais acentuado quanto mais próximo o município está de Portugal. No caso do
acesso à justiça, a distância para Portugal tem um efeito positivo significante
independentemente de o município ter ou não sido afetado pelos ciclos.
De modo geral, os resultados referentes à especificação das causas da
variação institucional entres os municípios brasileiros pintam um quadro
marcadamente consistente com a discussão histórica do Capítulo 4. Áreas
associadas ao ciclo da cana-de-açúcar apresentam mais desigualdade na
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distribuição de terras – o que pode estar relacionado a uma alta concentração de


poder econômico historicamente persistente – e, também, mais concentração
política em termos das proporções de votos dos partidos políticos nas eleições
para vereador, o que também é consistente com a estrutura social fortemente
polarizada e com o poder local quase irrestrito de elites econômicas característico
das áreas açucareiras. Ambos os resultados podem ser interpretados como
conseqüências de longo prazo do tipo de sociedade criada pela economia colonial
do açúcar marcada pelos latifúndios monocultores onde, de um lado, estava o
senhor de engenho e, do outro, um enorme número de escravos.
Já as áreas historicamente associadas ao ciclo do ouro apresentam, hoje,
particularmente, uma estrutura de estado pior. Isto se traduz em governos
ineficientes com baixa qualidade administrativa e em um aparato jurídico menos
elaborado para atender a população. Esses efeitos negativos em termos de
capacidade gerencial e acesso à justiça podem ser entendidos como heranças de
uma estrutura burocrática extremamente opressiva e ineficiente criada pela coroa
portuguesa nas áreas mineradoras. Eram empreendidos enormes esforços por parte
do estado para controlar e extrair renda da mineração, de um lado, e um grande
esforço da população, do outro, para burlar a taxação, gerando um ciclo vicioso
que alimentava continuamente o aparato ineficiente da burocracia portuguesa.
57

Esses efeitos negativos dos ciclos coloniais no Brasil de hoje parecem ser
particularmente relevantes para municípios que estão geograficamente próximos a
Portugal. Esta acentuação do impacto dos ciclos provocada pela distância para a
metrópole do Brasil-colônia pode estar refletindo o grau de intervencionismo que
a coroa portuguesa podia exercer e a sua capacidade de extrair renda e controlar
atividades coloniais. Nesse sentido, a herança dos ciclos pode ter sido atenuada
pela distância física a Portugal.
A partir da Tabela 8 pode-se constatar que os resultados descritos nos
parágrafos anteriores não dependem da maneira específica pela qual definimos a
área de influência da atividade colonial rent-seeking ou do raio de distância
escolhido para a função de influência apresentada no Capítulo 3. Nessa tabela,
rodamos a especificação completa das Tabelas 6 e 7 para cada variável
institucional, usando três definições alternativas das variáveis dos ciclos coloniais.
Nas primeiras colunas, a função influência é definida para um raio de 300 km ao
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invés dos 200km que estamos utilizando. Na segunda parte da tabela, mostramos
os resultados de 1º estágio para a função influência definida para um raio de 100
km. Nas últimas colunas, a área de influência dos ciclos é definida simplesmente
como uma variável dummy que assume valor 1 para um raio de 50 km23. Os
resultados qualitativos são idênticos aos apresentados nas Tabelas 6 e 7.
Quantitativamente, os resultados também são similares quando usamos a mesma
função de influência só que com raios de 100 e 300 km; e são menores quando
definimos a área de influência como uma variável dummy que assume valor 1 em
um raio de 50 km.
A Tabela 9 apresenta outros aspectos da nossa análise de robustez
incluindo controles adicionais de características dos municípios que podem estar
relacionadas às instituições e aos ciclos e, conseqüentemente, gerar resultados
enviesados. Em algumas áreas mapeadas nos ciclos do ouro e do açúcar estão as
primeiras vilas coloniais do Brasil que se tornaram centros regionais importantes,
tendo reflexos no papel dessas cidades hoje. Além disso, é possível que o
tamanho do município tenha efeitos relevantes sobre a provisão de bens públicos e
complexidade do aparato do Estado e, com isso, afete os resultados.

23
A Figura 5 apresenta uma descrição intutitiva dessas medidas alternatives de função influência
dos ciclos.
58

Diante dessas questões, nas quatro primeiras colunas da Tabela 9,


incluímos duas medidas do tamanho do município como controles adicionais:
população e área. Nas colunas 5 – 8, para considerar possíveis efeitos
provenientes do ano de criação do município, já que cidades mais antigas podem
ter características próprias e há alguns booms de criação de municípios na história
do Brasil, incluímos a idade do município como controle. Percebemos que os
resultados qualitativos, praticamente, não são afetados por esses controles
adicionais e que, quantitativamente, as ordens de magnitude são semelhantes entre
as regressões.
Com o objetivo de controlar para efeitos não observados das Grandes
Regiões e Unidades da Federação, incluímos essas variáveis nas regressões da
Tabela 10. Da coluna 1 à 4, apresentamos os resultados com as dummies regionais
que, de modo geral, permanecem inalterados. Em relação às regressões
controlando para a UF, é preciso ter algum cuidado na análise dos resultados. Os
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estados brasileiros são unidades políticas e administrativas endogenamente


formadas no processo de desenvolvimento institucional do país, isto é, são
endógenos ao foco de discussão deste trabalho. Independentemente dessa questão,
a inclusão das dummies de UF pode auxiliar o entendimento das fontes de
variação institucional em relação aos diferentes aspectos discutidos anteriormente
e como as mesmas estão relacionadas com a organização administrativa e política
do país.
As colunas 5 – 8 da Tabela 10 apresentam as regressões considerando os
efeitos fixos dos Estados. Os resultados qualitativos para o Gini da terra e
capacidade gerencial permanecem bastante similares às regressões originais das
Tabelas 6 e 7. Os principais resultados referentes à concentração política e acesso
à justiça, entretanto, desaparecem em função do aumento dos erros-padrão e da
redução dos coeficientes das variáveis históricas24.
Tais alterações sugerem que uma grande parcela da variação dos
indicadores de concentração política e acesso à justiça se dá entre as Unidades da
Federação, estando, assim, alinhada com a organização política e legal do país.
Isto decorre do fato de os estados constituírem a unidade-chave na configuração e

24
Os resultados das Tabelas 6 e 7, contudo, são robustos ao clustering dos erro-padrão ao nível da
UF (i.e., a uma estrutura arbitrária de correlação entre os resíduos dos municípios de uma mesma
UF) .
59

estrutura de poder entre partidos e, também, de a maior parte dos tribunais e o


principal aparato judiciário ser competência estadual25.
Quantitativamente, os principais resultados das Tabelas 6 e 7 implicam
que, se uma cidade representativa das áreas mineradoras não tivesse sido afetada
pelo ciclo, seu índice de capacidade gerencial hoje aumentaria em 10% de um
desvio padrão, enquanto que o índice de acesso à justiça melhoraria em 16% de
um desvio padrão. De modo similar, se uma cidade representativa das zonas
açucareiras não tivesse sido afetada pelo ciclo da cana-de-açúcar, seu índice de
concentração de terras se reduziria em 50% de um desvio padrão26.
Em face aos resultados de 1º Estágio de nossa análise empírica, pode-se
concluir que os diferentes impactos de longo prazo dos ciclos históricos
observados nas dimensões institucionais locais são bastante robustos e
consistentes com aspectos relevantes – destacados no Capítulo 4 – da estrutura
política e socioeconômica delineada no passado colonial Brasileiro.
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5.2.2
Instituições de facto e Desenvolvimento de Longo Prazo

De acordo com a estratégia descrita em 5.1.2, analisaremos como as


instituições locais afetam o desenvolvimento de longo prazo utilizando os ciclos
coloniais como fonte de variação exógena. Na Tabela 11, podemos observar os
resultados das regressões de segundo estágio da renda per capita nos indicadores
institucionais instrumentados pelas variáveis históricas. As colunas 1 – 4 contem
as regressões da renda per capita em cada uma das variáveis institucionais
instrumentadas separadamente, controlando para o mesmo grupo de variáveis
geográficas de outras especificações. A coluna 5 apresenta os resultados da
regressão contra as quatro dimensões institucionais simultaneamente.
Os resultados relacionados à capacidade gerencial e ao acesso à justiça –
tanto na análise individual das variáveis, quanto no caso em que incluímos todas
no lado direito da especificação – são significantes e têm o sinal esperado. A
25
Dummies estaduais representam 22% da variação da concentração política e 15% da variação
no acesso à justiça.
26
O índice de concentração política utilizado neste trabalho apresenta alguns problemas. Uma
questão relevante é que a relação entre número de partidos políticos e competição política não é
clara em democracias de modo geral. Mantivemos essa variável com o intuito de, em algum grau,
captar uma dimensão institucional de competição política. Contudo, não daremos ênfase a alguns
resultados não esperados que ela apresenta como, por exemplo, nesse exercício quantitativo, em
que o efeito final do ciclo é positivo em termos de competição política.
60

variação na capacidade gerencial e no acesso à justiça explicada pelas variáveis


históricas é positivamente relacionada à renda per capita atualmente. Em outras
palavras, nessas duas dimensões, a redução na qualidade institucional determinada
pelos episódios coloniais rent-seeking se refletem em uma redução da renda per
capita de longo prazo.
Em relação ao Gini da terra, o coeficiente não é estatisticamente
significante em nenhuma regressão de 2º estágio. Condicional às características
geográficas, o efeito histórico na variação da concentração de terras não parece
estar fortemente relacionado com variações na renda per capita dos municípios.
O que parece particularmente estranho é o comportamento do coeficiente
de concentração política. Uma vez instrumentada pelas variáveis históricas,
concentração política tem um sinal positivo significante sobre o desenvolvimento
de longo prazo tanto na coluna 4 quanto na 5. Na verdade, é difícil conciliar esse
resultado com o que encontramos no 1º estágio e com a idéia de que competição
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política é um indicador de boas instituições.


É possível, no entanto, que as limitações dos resultados decorram de
problemas intrínsecos ao índice de concentração política, parte deles já apontada
ao longo desse capítulo. Apesar de uma extrema concentração política nas
eleições poder refletir uma concentração de poder político nas mãos de elites
locais, é possível também que uma extrema fragmentação entre os partidos
indique instituições políticas pouco desenvolvidas, pois pode denotar fraqueza dos
partidos e ausência de consenso em termos de políticas públicas. De qualquer
forma, esse resultado não é robusto, pois parece sensível à introdução de
características dos municípios como controles adicionais. A inclusão, por
exemplo, dos controles de tamanho do município fazem esse resultado
desaparecer.
Quantitativamente, os coeficientes da coluna 5 implicam que uma
melhora exógena na capacidade gerencial do município do 1º para o 3º quartil da
distribuição observada levaria, no longo prazo, a um aumento de 83% da renda
per capita. Um movimento análogo ao longo da distribuição observada do acesso
à justiça geraria um aumento de 50% da renda per capita. Para dar uma
perspectiva da relevância dessas magnitudes, a diferença de renda per capita entre
municípios do 1º e 3º quartis da distribuição observada da renda corresponde a
170%.
61

Ainda na Tabela 11, observamos que, ao incluirmos na regressão apenas as


variáveis que se mostraram mais relevantes em nossa análise – capacidade
gerencial e acesso à justiça –, os coeficientes das mesmas ficam praticamente
idênticos aos anteriores (coluna 6). Os resultados de 2º estágio indicam, portanto,
que essas duas dimensões institucionais têm um papel bastante relevante e robusto
para explicar as diferenças de desenvolvimento dentro do Brasil.

5.2.3
Análise de Críticas à Literatura e Robustez

Nesta subseção, analisaremos argumentos alternativos e algumas críticas à


literatura de instituições sob a perspectiva do nosso trabalho. Diversos artigos,
como Diamond (1997), Gallup, Sachs e Mellinger (1998), Sachs e Warner (2001)
e Sachs (2003), destacam o papel da geografia no desenvolvimento, apontando,
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muitas vezes, para uma supremacia da mesma sobre instituições. Outros artigos,
como Rodrik, Subramanian e Trebbi (2002), defendem que a geografia teria um
efeito indireto bastante importante somente através de instituições.
No caso do nosso trabalho, a inclusão dos indicadores de qualidade
institucional instrumentados como controles adicionais diminui a relevância das
variáveis geográficas da Tabela 1. Os coeficientes de algumas variáveis como
distância para o Equador são reduzidos, assim como o teste F de significância
conjunta das médias de temperatura no ano e tipos de solo27. Os resultados
parecem indicar, com isso, que parte da correlação entre geografia e
desenvolvimento apresentada no Capítulo 3 está associada a diferentes padrões de
colonização adotados no território brasileiro, o que vai de acordo com os
principais argumentos da literatura.
As variáveis institucionais consideradas, entretanto, não dão conta de
explicar todo o padrão geográfico observado28. Sendo assim, não podemos
descartar a possibilidade de existir um efeito causal direto da geografia no
desenvolvimento no Brasil. Colocando na perspectiva do debate mencionado, não
constatamos uma supremacia da geografia sobre as instituições, nem mesmo um

27
Para tornar as tabelas mais claras e sucintas, não mostramos os coeficientes das variáveis
geográficas.
28
O teste F de significância conjunta das variáveis geográficas é significante em todas as
regressões que incluem este grupo de controles.
62

efeito apenas indireto da geografia. Nota-se, na verdade, que os dois grupos de


variáveis desempenham um papel relevante no desenvolvimento de longo prazo.
Glaeser et al. (2004) questionam se instituições geram crescimento
econômico ou se é o crescimento e o capital humano acumulado que levam a uma
melhoria institucional. Nesse sentido, colocam a seguinte pergunta: a chegada do
europeu no Novo Mundo – destacada por Acemoglu, Johnson e Robinson (2001 e
2002) – teria representado uma mudança institucional ou um aumento de capital
humano? Os autores argumentam a favor da segunda opção, incorporando a
variável anos de estudo nas principais regressões cross-country da literatura.
Concluem que capital humano é um recurso mais fundamental para crescimento
do que instituições e que estas seriam, na realidade, uma conseqüência do
processo de desenvolvimento.
No nosso caso, já que migração é mais provável dentro de um país do que
entre países, o argumento de persistência de capital humano entre municípios não
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é tão adequado. De qualquer forma, com o intuito de mostrar que os nossos


coeficientes estimados estão realmente capturando efeitos históricos que se
manifestam através de canais institucionais, verificaremos a robustez dos
resultados de 2º estágio em relação a dois mecanismos alternativos: capital
humano e saúde.
A Tabela 12 apresenta os resultados para duas medidas de capital humano
(anos de estudo e taxa de analfabetismo na população acima de 25 anos de idade)
e duas medidas de saúde (mortalidade antes de completar 1 ano e expectativa de
vida ao nascer). Para cada uma dessas variáveis, adotamos duas estratégias
distintas. Primeiramente, tratando a variável como se fosse exógena à renda per
capita (colunas ímpares) e, em seguida, como se fosse endógena (colunas pares),
instrumentando-a juntamente com as variáveis institucionais29.
Todos resultados permanecem bastante similares aos apresentados na
Tabela 11. A única exceção é o coeficiente do acesso à justiça, que deixa de ser
significante quando mortalidade infantil é incluída como endógena. Essa perda de
significância, no entanto, deve-se totalmente ao aumento do erro-padrão, pois a
estimativa pontual é muito similar à das outras regressões apresentadas na tabela.

29
A nossa análise está sobre-identificada, pois temos cinco instrumentos e quatro variáveis
institucionais. Sendo assim, podemos instrumentar todas as institucionais e adicionar um controle
endógeno.
63

Além disso, as variáveis de capital humano e saúde são significantes e


apresentam o sinal esperado apenas quando as tratamos como exógenas. Uma vez
instrumentando pelas varáveis históricas, todas deixam de ser estatisticamente
significantes e a magnitude do coeficiente torna-se muito pequena. Em outras
palavras, nossos resultados de 1º e 2º estágios parecem estar capturando um
fenômeno de natureza realmente institucional. Sendo assim, a nossa análise
empírica não aparenta estar sujeita ao tipo de questão colocada por Glaeser et al.
(2004) no contexto de estudos cross-country.
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6
Resultados Adicionais

Neste capítulo, vamos investigar em detalhe as variáveis institucionais que


se mostraram mais relevantes para o desenvolvimento dos municípios brasileiros:
capacidade gerencial e acesso à justiça. No capítulo anterior, mostramos que essas
duas dimensões institucionais de facto, instrumentadas pelos ciclos coloniais,
apresentam um impacto bastante relevante e robusto no desempenho dos
municípios.
Na próxima seção, analisaremos o papel de cada um dos diferentes sub-
indicadores que compõem o índice de capacidade gerencial e dois índices de
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qualidade institucional municipal relacionados a ele. Em seguida, estudaremos os


efeitos dos componentes da variável de acesso à justiça. Na última seção desse
capítulo, apresentaremos resultados referentes à relação entre essas duas variáveis
institucionais e a provisão de bens públicos nos municípios.

6.1
Capacidade Gerencial

6.1.1
Componentes do Índice de Capacidade Gerencial

Conforme descrevemos no Capítulo 3, o índice de capacidade gerencial do


município é composto por quatro sub-indicadores: IPTU ano da planta, IPTU
adimplência, instrumentos de gestão e instrumentos de planejamento. Na Tabela
13, apresentamos os efeitos de longo prazo dos ciclos coloniais em cada um dos
sub-indicadores de acordo com a especificação (2). À exceção dos instrumentos
de planejamento, todos os componentes têm comportamento e magnitudes
65

similares ao índice completo: efeito negativo significante do ciclo do ouro e uma


atenuação desse efeito quanto mais distante de Portugal for o município30.
Na primeira coluna da Tabela 14, mostramos os resultados OLS da
especificação (5). Todos os sub-indicadores, exceto os instrumentos de
planejamento, são correlacionados positivamente com renda per capita da mesma
forma que o índice completo. Da coluna 2 à 6, apresentamos os resultados de
segundo estágio, utilizando, no primeiro estágio, os mesmos instrumentos do
capítulo anterior: as variáveis de ciclo, as interações com distância para Portugal e
distância para Portugal apenas. Nas colunas 2 – 5, instrumentamos cada um dos
sub-indicadores separadamente. Com exceção dos instrumentos de planejamento,
que já não tinham apresentado resultados significantes nem no OLS nem no
primeiro estágio, os componentes do índice de capacidade gerencial têm efeito
positivo significante no desenvolvimento dos municípios. Quando os quatro sub-
indicadores são instrumentados ao mesmo tempo (coluna 6), contudo, nenhum
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permanece significante. Uma possível explicação para esses resultados é que esses
indicadores, na dimensão histórica captada pelo método de variáveis
instrumentais, são muito correlacionados.
Os componentes relevantes do indicador de capacidade gerencial, portanto,
parecem ser IPTU ano da planta, IPTU adimplência e instrumentos de gestão, que
estão relacionados com eficiência de taxação e coleta de tributos do município e
capacidade administrativa do mesmo. A aparente irrelevância dos instrumentos de
planejamento pode ser esclarecida pela pouca variação entre municípios. Os
instrumentos de planejamento considerados no índice são: Plano de Governo,
Plano Estratégico e Lei Orgânica do Município. À exceção do primeiro, os outros
indicadores variam muito pouco. A Lei Orgânica do Município é obrigatória e
apenas 0,6% dos municípios não apresentam tal lei. O Plano Estratégico também é
obrigatório, mas existe em apenas 4,2% dos municípios (IBGE, 2001).

30
Os resultados se matem praticamente inalterados quando controlamos para o tamanho do
município, isto é, ao incluirmos na regressão o logarítimo natural da população e o logarítimo
natural da área.
66

6.1.2
Índices de Qualidade Institucional Municipal

Um outro indicador de interesse para a nossa análise é o Índice de


Qualidade Institucional Municipal elaborado pelo Ministério do Planejamento
brasileiro com base nos dados do IBGE. A capacidade gerencial corresponde a 1/3
do índice. Os outros componentes são: Grau de Participação (1/3) e Capacidade
Financeira (1/3). O primeiro é referente ao número de conselhos municipais
existentes e suas características: quantos existem, quantos são instalados, quantos
são paritários, quantos são deliberativos e quantos administram fundos. O segundo
indicador, capacidade financeira, é composto pelo número de consórcios
intermunicipais, pela receita corrente vs. dívida e pela poupança real per capita do
município31.
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Nas colunas de 1 a 4 da Tabela 15, apresentamos os efeitos de longo prazo


dos ciclos coloniais no Índice de Qualidade Institucional Municipal. Na coluna 4,
que contém a especificação (2) completa, verificamos o mesmo efeito qualitativo
do ciclo do ouro e da interação deste com distância para Portugal que verificamos
para o índice de capacidade gerencial32. Um problema desse índice de qualidade
institucional é que há, em sua composição, indicadores de desempenho econômico
do município que, além de não serem instituições propriamente ditas, podem ser
muito correlacionados com renda per capita.
Tendo isso em vista, nas colunas 5 – 8, retiramos do índice de qualidade
institucional parte do componente de capacidade financeira do município:
poupança per capita e receita corrente vs. dívida33. Mantivemos o indicador de
consórcios intermunicipais, pois este tem uma dimensão de capacidade
administrativa, uma vez que municípios participam desses consórcios com o
intuito de atender demandas da população em relação à provisão de bens públicos,
por exemplo. Verificamos, na regressão completa da coluna 4, nesse caso, que
ambos os ciclos coloniais afetam negativamente o índice de qualidade

31
Os detalhes da ponderação do índice estão no Apêndice
32
Os resultados se matem praticamente inalterados quando controlamos para o tamanho do
município, isto é, ao incluirmos na regressão o logarítimo natural da população e o logarítimo
natural da área.
33
Na tabela, referimo-nos a esse índice sem os componentes de renda como Índice de Qualidade
Institucional 1.
67

institucional e que este efeito negativo é atenuado quanto mais distante o


município for de Portugal.
Nas primeiras colunas da Tabela 16, verifica-se que os índices de
qualidade institucional são correlacionados com renda per capita. Nas colunas 5 –
8, vemos que, uma vez instrumentados pelas variáveis históricas, os índices têm
efeito positivo sobre o desenvolvimento dos municípios. Os resultados
qualitativos não se modificam ao controlarmos para acesso à justiça (colunas 2 e
4) nem ao instrumentarmos também essa variável (colunas 6 e 8). Vale ressaltar
que a variável acesso à justiça também é significante em todas as regressões,
mantendo uma magnitude bastante similar aos resultados descritos no capítulo
anterior.

6.2
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Acesso à Justiça

O índice de acesso à justiça, conforme descrevemos no Capítulo 3,


consiste na soma de três dummies que indicam a existência de Tribunais de
Pequenas Causas, Comissão de Defesa do Consumidor e Conselho Tutelar. Nesta
seção, analisaremos cada um desses componentes separadamente.
Na Tabela 17, apresentamos os efeitos de longo prazo dos ciclos coloniais
sobre a existência das diferentes instituições de acesso à justiça. Verificamos que
os resultados qualitativos são idênticos ao observado para o índice completo: o
ciclo do ouro tem um efeito negativo sobre cada uma das instituições e esse efeito
é atenuado pela distância a Portugal. Além disso, assim como observamos no
caso do índice todo no capítulo anterior, a variável distância para Portugal
apresenta um efeito positivo sobre os componentes do acesso à justiça, à exceção
do Tribunal de Pequenas Causas, independentemente de o município ter ou não
sido afetado pelos ciclos34.
Na coluna 1 da Tabela 18, observamos que os três componentes são
correlacionados com renda per capita. Ao instrumentarmos cada um deles
separadamente (colunas 2, 3 e 4), constatamos um efeito positivo significante das

34
Os resultados se matem praticamente inalterados quando controlamos para o tamanho do
município, isto é, ao incluirmos na regressão o logarítimo natural da população e o logarítimo
natural da área.
68

três instituições de acesso à justiça sobre o desenvolvimento municipal. Ao


instrumentarmos as três ao mesmo tempo (coluna 5), apenas a existência do
Tribunal de Pequenas Causas aparece com sinal positivo significante.
Possivelmente a existência das três instituições é muito correlacionada. De
qualquer forma, este resultado parece interessante, já que o Tribunal de Pequenas
Causas, dentre as instituições de acesso à justiça consideradas, é a que mais se
aproxima da idéia de rule of law e da função de proteger direitos de propriedade e
garantir cumprimento de contratos.

6.3
Provisão de Bens Públicos

Diante da relevância que as instituições de capacidade gerencial e acesso à


justiça têm para o desenvolvimento local no Brasil e a característica comum às
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duas de estarem associadas a atributos institucionais do Estado, seria interessante


verificar se tais instituições se refletem em uma melhoria da provisão de bens
públicos. De modo a estudar essa questão, utilizamos duas variáveis do Censo de
2000: % da população com água encanada e % da população com energia elétrica
nos domicílios35.
Na Tabela 19, vemos que a capacidade gerencial e o acesso à justiça estão
correlacionados positivamente com a provisão de água encanada e energia
elétrica. Instrumentando cada uma das variáveis institucionais com os ciclos do
Brasil-colônia, ambas têm efeito positivo significante nas duas variáveis de bens
públicos (colunas 2, 3, 6 e 7). Ao instrumentarmos as duas simultaneamente, a
variável de acesso à justiça deixa de ter efeito, ao passo que a capacidade
gerencial tem um efeito positivo significante nas duas características de bens
públicos analisadas.
Assim, esses resultados demonstram que a capacidade gerencial tem um
papel relevante tanto no nível de desenvolvimento local quanto na provisão de
bens essenciais à população, tais como água encanada e energia elétrica. É
possível que os resultados revelem, ainda, que o efeito da capacidade gerencial
sobre o nível de desenvolvimento local se dê, justamente, via provisão de bens
públicos.

35
Para descrição completa das variáveis e fontes, ver Apêndice.
69

É interessante destacar que o estudo detalhado dos índices de capacidade


gerencial e acesso à justiça demonstrou bastante robustez da análise empírica em
relação a diferentes indicadores e apontou resultados muito semelhantes e
consistentes com os resultados anteriores.
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7
Conclusão

Neste trabalho, investigamos os determinantes de longo prazo de


instituições locais e seus efeitos sobre o desenvolvimento econômico no Brasil.
Mesmo em um contexto macro-institucional constante e controlando para um
amplo conjunto de variáveis geográficas, as instituições analisadas parecem estar
relacionadas a diferentes heranças coloniais bem como algumas de suas
dimensões apresentam efeitos significativos sobre o desenvolvimento econômico
local.
Nossa abordagem se beneficia de duas características peculiares do
contexto empírico analisado. Primeiramente, restringir a análise para um único
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país permite investigar dimensões específicas de instituições locais. O caso


brasileiro, em particular, permite que tais instituições captem efeitos do ambiente
institucional de facto, uma vez que as instituições de jure são centralizadas e
determinadas a nível nacional. Em segundo lugar, estudamos os dois principais
ciclos econômicos coloniais: cana-de-açúcar e ouro. Ambos os ciclos são
relativamente bem definidos em termos cronológicos e geográficos e não foram
condicionados por características socioeconômicas preexistentes das áreas
afetadas. De tal modo, esses eventos históricos são utilizados como fonte de
variação exógena para analisar efeitos de longo-prazo do passado colonial nas
instituições locais de hoje e identificar os efeitos destas sobre o desenvolvimento
dos municípios.
De acordo com os nossos resultados, áreas afetadas pelos ciclos no período
colonial têm instituições piores hoje. A maneira específica pela qual cada legado
histórico atua nas instituições atuais é consistente com as características
socioeconômicas e políticas desses episódios. Especificamente, municípios cujas
origens estão ligadas à sociedade polarizada e oligárquica do ciclo do açúcar são
caracterizados, atualmente, por uma desigualdade de distribuição de terra mais
acentuada e por uma alta concentração política. Municípios associados ao ciclo do
ouro, marcado por um Estado extremamente intervencionista e controlador, têm,
atualmente, uma capacidade gerencial pior e menos acesso à justiça. Em ambos os
71

episódios históricos estudados, as conseqüências negativas da herança colonial


são significativamente acentuadas pela proximidade a Portugal, o que chama
atenção para a influência negativa da interferência da metrópole na vida da
colônia quando associada a atividades rent-seeking.
Mostramos, ainda, que, uma vez instrumentadas pelas variáveis históricas,
a capacidade gerencial do município e o acesso à justiça têm efeitos positivos
significantes sobre o desenvolvimento municipal. Cabe ressaltar que estes efeitos
institucionais, de acordo com a nossa análise de robustez, não parecem estar
associados a outros canais possíveis como capital humano e saúde.
Além dos resultados descritos, uma contribuição a ser destacada deste
trabalho é tornar mais concreta a discussão do papel econômico das instituições,
possibilitando identificar o efeito que melhorias institucionais específicas, a
princípio, poderiam ter no desenvolvimento local.
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8
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9
Apêndice

Figura 1
Renda per Capita vs. Distância para o Equador – cross-country (2000)
11
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0510685/CA

10
ln Income pe r capita
9

R-squared = 0.32 Coef.= 0.038


8 7
6

0 20 40 60
Distance to the Equa tor
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0510685/CA
77

Figura 2
Mapa da Renda per Capita no Mundo
78

Figura 3
Renda per Capita vs. Distância para o Equador – Municípios Brasileiros
(2000)
7
6
ln Income per capita
5

R-squared = 0.56 Coef.= 0.053


4
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0 10 20 30 40
Distance to the Equator
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79

Figura 4
Mapa da Renda per Capita do Brasil

Renda per capita


28.4 - 79.2
79.2 - 123.2
123.2 - 187.7
187.7 - 248.2
248.2 - 954.6

W E

2000 0 2000 4000 Kilometers S


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80

Tabela 1
Geografia e Desenvolvimento nos Municípios Brasileiros

ln Renda per capita Anos de Estudo Mortalidade Infantil


distância para o Equador 0.064*** 0.122*** -1.884***
(0.003) (0.007) (0.075)

distância para a costa -0.011*** -0.052*** 0.211***


(0.002) (0.005) (0.056)

chuva 0.034*** 0.085*** -1.158***


(0.002) (0.005) (0.059)

incidência do sol -0.018*** -0.023*** 0.354***


(0.002) (0.007) (0.069)

altitude 0.007*** -0.011 -0.046


(0.002) (0.007) (0.069)

temperaturas sim sim sim


(12 médias mensais) F(12, 4941) = 39.26 F(12, 4941) = 24.73 F(12, 4941) = 50.97
prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000

solos sim sim sim


(12 tipos) F(12, 4941) = 13.46 F(12, 4941) = 7.74 F(12, 4941) = 3.25
prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000

Constante 3.529*** 0.924*** 83.710***


(0.097) (0.275) (2,813)
Observações 4941 4941 4,941
2
R 0.65 0.49 0.67
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%
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81

Tabela 2
Descrição das Variáveis
Variável Descrição
índice de proximidade ao ciclo da cana-de-açúcar, variando de 0 (municípios a mais de 200 quilometros das
açúcar
áreas diretamente afetadas pelo ciclo de açúcar) a 1, de acordo com a equação (1) no texto
açúcar x dist para
interação entre a distância para Portugal e a variável do ciclo da cana-de-açúcar.
Portugal
índice de proximidade ao ciclo do ouro, variando de 0 (municípios a mais de 200 quilometros das áreas
ouro
diretamente afetadas pelo ciclo de ouro) a 1, de acordo com a equação (1) no texto
ouro x dist para
interação entre a distância para Portugal e a variável do ciclo do ouro.
Portugal
distância Euclidiana calculada a partir das coordenadas de cada município brasileiro ao centro de Lisboa (lat
distância para Portugal
38º42’N long 9ºL).
Índice de Gini de distribuição de terras calculado para cada município com base no Censo Agropecuário de
Gini da terra
1996 (IBGE).
Índice Herfindahl calculado a partir da soma do quadrado das parcelas de votos de cada partido nas eleições
concentração política
para vereador de 2000. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (IPEADATA).
média simples entre quatro indicadores qualitativos, normalizados de 1 a 6: IPTU ano da planta, IPTU
capacidade gerencial adimplência em 1999, número de instrumentos administrativos, número de instrumentos de planejamento. O
índice é calculado usando dados de 1997 e 2000 da MUNIC2001 (IGBE)
Índice criado a partir da definição de acesso à justiça do IBGE: existência de Tribunal ou Juizado de Pequenas
acesso à justiça
Causas, Conselho Tutelar e Comissão de Defesa do Consumidor (somados com pesos iguais) em 2001 (BIM).
distância ao equador Valor absoluto da latitude calculada a partir do centróide do município (INGEO).
distância (km) do centróide do município à costa brasileira. Dados da Universidade Federal do Rio de Janeiro
distância para a costa
(UFRJ).
chuva Valor da precipitação anual média 100 mm/ano 1931-1990 (INGEO).
incidência de sol Valor da insolação anual média 100 horas/ano 1931-1990 (INGEO).
Altitude para os municípios da divisão político administrativa vigente em 2000. Os dados foram obtidos do
altitude
cadastro de cidades e vilas do IBGE de 1998 (IPEADATA).
temperaturas
conjunto de 12 variáveis indicando a temperatura mensal mádia em cada município (EMBRAPA).
(12 médias mensais)
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82

solos conjunto de 12 variáveis binárias indicando os tipos de solo presentes em um raio de 0,1 grau de latitude e
(12 tipos) longitude em torno da sede do município (EMBRAPA).
Razão entre o somatório da renda per capita de todos os indivíduos e o número total desses indivíduos. A
renda per capita renda per capita de cada indivíduo é definida como a razão entre a soma da renda de todos os membros da
família e o número de membros da mesma. Valores expressos em reais de 1º de agosto de 2000 (IPEADATA).
Razão entre o somatório do número de anos de estudo completados pelas pessoas que tem 25 ou mais anos
anos de estudo
de idade e o numero de pessoas nessa faixa etária. Censo 2000 (IPEADATA)
Percentual de pessoas de 25 ou mais anos de idade que não sabem ler nem escrever um bilhete simples.
taxa de analfabetismo
Censo de 2000 (IPEADATA)
taxa de mortalidade Número de crianças que não irão sobreviver ao primeiro ano de vida em cada mil crianças nascidas vivas 2000
infantil (IPEADATA).
Número de anos de vida que uma pessoa nascida hoje esperaria viver, se todas as taxas de mortalidade por
expectativa de vida
idade se mantivessem idênticas ao que são hoje. Dados de 2000 (IPEADATA)
ln(população) logaritmo da população total em cada município de acordo com o Censo Demográfico de 2000 (IPEADATA)
ln(área) logaritmo da área municipal expressa em 1000 quilometros (IPEADATA)
idade do município Variável criada a partir do ano de fundação do município, tendo como referência o ano 2000 (BIM).
dummies para conjunto de 5 variáveis dummy indicando as Grandes Regiões Brasileiras: Norte, Nordeste, Centro-Oeste,
Grandes Regiões Sudeste e Sul.
dummies para UF conjunto de 27 variáveis dummy indicando a Unidade da Federação
Composto de três Sub-indicadores com pesos idênticos: Grau de participação: Existência de conselhos (4%);
Conselhos instalados (4%); Conselhos Paritários (7%); Conselhos deliberativos (7%); Conselhos que
Índice de Qualidade administram fundos (11%). Capacidade financeira: Existência de Consórcios (11%); Receita corrente vs. Dívida
Institucional Municipal (11%); Poupança real per capita (11%). Capacidade Gerencial: IPTU Ano da Planta (8%); IPTU Adimplência
(8%); Instrumentos de Gestão (8%); Instrumentos de Planejamento (8%). Dados da MUNIC 2001 do IBGE
(INGEO).
Percentual de pessoas que vivem em domicílios com água canalizada para um ou mais cômodos, proveniente
Água encanada de rede geral, de poço, de nascente ou de reservatório abastecido por água das chuvas ou carro-pipa em 2000
(IPEADATA).
Percentual de pessoas que vivem em domicílios com iluminação elétrica, proveniente ou não de uma rede
Energia Elétrica
geral, com ou sem medidor em 2000 (IPEADATA).
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83

Tabela 3
Geografia e Desenvolvimento Institucional nos Municípios Brasileiros

Gini da Terra Concentração Política Capacidade Gerencial Acesso à Justiça


distância para o Equator -0.001** 0.001** 0.041*** 0.038***
(0.001) (0.001) (0.005) (0.005)

distância para a costa 0.00009 0.003*** -0.001 -0.013***


(0.0004) (0.000) (0.004) (0.004)

chuva -0.004*** -0.004*** 0.027*** 0.022***


(0.000) (0.000) (0.004) (0.004)

incidência do sol 0.002*** 0.005*** -0.002 -0.022***


(0.001) (0.001) (0.005) (0.006)

altitude -0.0002 0.001 0.002 -0.005


(0.001) (0.001) (0.005) (0.006)

temperaturas sim sim sim sim


(12 médias mensais) F(12, 4940) = 15.07 F(12, 4940) = 19.55 F(12, 4940) = 3.11 F(12, 4940) = 5.83
prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0002 prob > F = 0.0000

solos sim sim sim sim


(12 tipos) F(12, 4940) = 9.08 F(12, 4940) = 9.47 F(12, 4940) = 36.23 F(12, 4940) = 2.45
prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0035

Constante 0.884*** 0.130*** 2.275*** -0.064


(0.022) (0.024) (0.194) (0.220)
Observações 4971 4970 4970 4971
2
R 0.20 0.15 0.30 0.09
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%
84

Tabela 4
Instituições e Desenvolvimento nos Municípios Brasileiros

ln Renda per capita Anos de Estudo Mortalidade Infantil


Capacidade Gerencial 0.116*** 0.260*** -1.808***
(0.006) (0.016) (0.210)

Acesso à Justiça 0.129*** 0.424*** -1.724***


(0.006) (0.016) (0.174)

Gini da Terra -0.293*** -0.487** 7.620***


(0.072) (0.193) (1,676)

Concentração Política -0.368*** -1.616*** 2,394


(0.047) (0.132) (1,767)

distância para o Equator 0.054*** 0.097*** -1.737***


(0.002) (0.006) (0.074)

distância para a costa -0.008*** -0.042*** 0.183***


(0.002) (0.004) (0.056)

chuva 0.025*** 0.061*** -1.032***


(0.002) (0.004) (0.059)
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incidência do sol -0.012*** -0.005 0.292***


(0.002) (0.005) (0.068)

altitude 0.008*** -0.007 -0.059


(0.002) (0.006) (0.066)

temperaturas sim sim sim


(12 médias mensais) F(12, 4935) = 41.22 F(12, 4935) = 23.97 F(12, 4935) = 48.38
prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000

solos sim sim sim


(12 tipos) F(12, 4935) = 16.15 F(12, 4904) = 6.86 F(12, 4935) = 8.34
prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000 prob > F = 0.0000

Constante 3.582*** 1.002*** 80.678***


(0.107) (0.288) (3,189)
Observações 4969 4969 4969
2
R 0.74 0.65 0.69
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%;
***significante a 1%
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85

Figura 5
Função influência dos Ciclos e Definições Alternativas

1.00

0.75
pesos

0.50

0.25

0.00
0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

220

240

260

280

300
distância (km)

pesos quadráticos (raio de 200km) pesos quadráticos (raio de 100km)


pesos quadráticos (raio de 300km) pesos binários (raio de 50km)
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86

Figura 6
Mapa do Ciclo do Açúcar

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W E

2000 0 2000 4000 Kilometers S


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87

Figura 7
Mapa do Ciclo do Ouro

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W E

2000 0 2000 4000 Kilometers S


88

Tabela 5
Estatísticas Descritivas

Dentro da Área de Influência do Fora da Área de Influência do


Ciclo do Açúcar (1060 obs) Ciclo do Açúcar (4447 obs)
Capacidade Gerencial 2.88 3.23
(0.83) (0.91)
Acesso à Justiça 0.71 0.94
(0.79) (0.84)
Gini da Terra 0.83 0.80
(0.06) (0.08)
Concentração Política 0.23 0.23
(0.11) (0.10)
ln(renda p.c.) 4.65 5.06
(0.46) (0.58)
anos de estudo 3.37 4.20
(1.14) (1.27)
mortalidade infantil 48.02 30.76
(16.82) (17.26)
Dentro da Área de Influência do Fora da Área de Influência do
Ciclo do Ouro (1511 obs) Ciclo do Ouro (3996 obs)
Capacidade Gerencial
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3.14 3.18
(0.80) (0.94)
Acesso à Justiça 0.73 0.96
(0.83) (0.83)
Gini da Terra 0.81 0.80
(0.05) (0.10)
Concentração Política 0.22 0.24
(0.09) (0.11)
ln(renda p.c.) 4.99 4.98
(0.47) (0.61)
anos de estudo 3.95 4.07
(1.13) (1.34)
mortalidade infantil 34.30 34.00
(14.44) (19.78)
Notas: Erros padrão entre parênteses.
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Tabela 6
Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no Desenvolvimento Institucional - Gini da Terra e Concentração Política

Gini da Terra Concentração Política


(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
açúcar 0.059*** 0.219** 0.690*** -0.032*** 0.566*** 0.443***
(0.005) (0.098) (0.111) (0.006) (0.089) (0.101)

açúcar x dist Portugal -0.003** -0.009*** -0.009*** -0.007***


(0.001) (0.002) (0.001) (0.001)

ouro 0.025*** -0.159*** -0.092 -0.021*** 0.120 0.041


(0.003) (0.045) (0.058) (0.004) (0.079) (0.093)

ouro x dist Portugal 0.002*** 0.001* -0.002* -0.001


(0.001) (0.001) (0.001) (0.001)

distância para Portugal -0.003*** -0.003*** 0.001 -0.001*** -0.002*** -0.005***


(0.000) (0.000) (0.001) (0.000) (0.000) (0.001)

Controles Geográficos não não não sim não não não sim
Observações 4973 4973 4973 4971 5504 5504 5504 4970
2
R 0.03 0.11 0.12 0.21 0.01 0.01 0.03 0.17
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%. Todas incluem
constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura
(12 meses) e solos (12 tipos).
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90

Tabela 7
Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no Desenvolvimento Institucional - Capacidade Gerencial e Acesso à Justiça

Capacidade Gerencial Acesso à Justiça


(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
açúcar -0.538*** 1.656** -0.613 -0.215*** -1,351 0.251
(0.061) (0.819) (0.975) (0.056) (0.959) (1,171)

açúcar x dist Portugal -0.017 0.010 0.024* -0.002


(0.012) (0.014) (0.014) (0.017)

ouro -0.103** -1.445** -3.119*** -0.279*** -3.700*** -4.215***


(0.040) (0.737) (0.783) (0.039) (0.578) (0.712)

ouro x dist Portugal 0.019* 0.039*** 0.045*** 0.052***


(0.009) (0.010) (0.007) (0.009)

distância para Portugal 0.050*** 0.055*** -0.011 0.025*** 0.026*** 0.028***


(0.001) (0.001) (0.008) (0.001) (0.001) (0.009)

Controles Geográficos não não não sim não não não sim
Observações 5505 5505 5505 4970 5506 5506 5506 4971
2
R 0.01 0.24 0.25 0.30 0.01 0.07 0.09 0.10
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%. Todas incluem
constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura (12
meses) e solos (12 tipos).
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91

Tabela 8
Robustez dos Efeitos dos Ciclos Coloniais no Desenvolvimento Institucional - Definições Alternativas das Variáveis de Ciclo
Influência do Ciclo: raio de 300km Influência do Ciclo: raio de 100km Influência do Ciclo: Dummy de 50km
Gini da Concent. Capacid. Acesso à Gini da Concent. Capacid. Acesso à Gini da Concent. Capacid. Acesso à
Terra Politica Gerenc. Justiça Terra Politica Gerenc. Justiça Terra Politica Gerenc. Justiça
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (12)
açúcar 0.619*** 0.381*** -0.508 -0.389 0.702*** 0.243** 0.343 1.910 0.481*** 0.249*** 0.122 0.696
(0.086) (0.090) (0.786) (0.932) (0.151) (0.122) (1,386) (1,761) (0.116) (0.084) (0.795) (0.910)

açúcar x dist Portugal -0.008*** -0.006*** 0.008 0.005 -0.009*** -0.005*** -0.001 -0.023 -0.007*** -0.004*** 0.002 -0.008
(0.001) (0.001) (0.011) (0.013) (0.002) (0.002) (0.020) (0.026) (0.002) (0.001) (0.012) (0.013)

ouro -0.105* 0.112 -3.121*** -5.192*** -0.158** -0.017 -2.551*** -3.070*** -0.125** 0.014 -2.128*** -2.731***
(0.058) (0.087) (0.736) (0.695) (0.061) (0.093) (0.829) (0.725) (0.051) (0.095) (0.722) (0.626)

ouro x dist Portugal 0.001** -0.002 0.039*** 0.063*** 0.002*** 0.000 0.032*** 0.038*** 0.002*** -0.0001 0.027*** 0.034***
(0.001) (0.001) (0.010) (0.009) (0.001) (0.001) (0.011) (0.009) (0.001) (0.001) (0.009) (0.008)

distância para Portugal 0.001 -0.006*** -0.012 0.021** 0.000 -0.005*** -0.007 0.033*** 0.00002 -0.005*** -0.011 0.029***
(0.001) (0.001) (0.009) (0.009) (0.001) (0.001) (0.008) (0.008) (0.001) (0.001) (0.008) (0.008)
Observações 4971 4970 4970 4971 4971 4970 4970 4971 4941 4970 4970 4971
2
R 0.21 0.16 0.30 0.10 0.21 0.17 0.30 0.10 0.21 0.16 0.30 0.10
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%. Todas incluem constante. Controles geográficos: distância
para o Equador, distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura (12 meses) e solos (12 tipos).
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92

Tabela 9
Robustez dos Efeitos dos Ciclos Coloniais no Desenvolvimento Institucional - Características dos Municípios

Tamanho do Município Ano de Fundação


Gini da Concent. Capacid. Acesso à Gini da Concent. Capacid. Acesso à
Terra Politica Gerenc. Justiça Terra Politica Gerenc. Justiça
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
açúcar 0.948*** 0.303*** -0.239 0.886 0.708*** 0.411*** -0.379 0.691
(0.110) (0.087) (0.846) (0.900) (0.113) (0.103) (0.918) (1,037)

açúcar x dist Portugal -0.013*** -0.005*** 0.003 -0.015 -0.010*** -0.006*** 0.004 -0.014
(0.002) (0.001) (0.012) (0.013) (0.002) (0.001) (0.013) (0.015)

ouro -0.191*** 0.051 -2.980*** -3.994*** -0.064 -0.034 -2.595*** -3.307***


(0.059) (0.084) (0.727) (0.626) (0.057) (0.090) (0.753) (0.675)

ouro x dist Portugal 0.003*** -0.001 0.037*** 0.049*** 0.001 0.000 0.032*** 0.040***
(0.001) (0.001) (0.009) (0.008) (0.001) (0.001) (0.010) (0.009)

distância para Portugal -0.003*** -0.002** -0.024*** 0.006 0.001 -0.004*** -0.019** 0.014
(0.001) (0.001) (0.008) (0.008) (0.001) (0.001) (0.008) (0.008)

ln (população) -0.008*** -0.038*** 0.275*** 0.461***


(0.002) (0.001) (0.010) (0.012)

ln (área) 0.027*** -0.006*** -0.021* -0.033***


(0.002) (0.001) (0.012) (0.012)

idade do Município 0.0001*** -0.0005*** 0.003*** 0.005***


(0.000) (0.000) (0.000) (0.000)
Observações 4968 4967 4967 4968 4965 4964 4964 4965
2
R 0.28 0.36 0.40 0.41 0.22 0.23 0.34 0.22
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%. Todas
incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa, chuva, incidência do sol,
altitude, temperatura (12 meses) e solos (12 tipos).
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93

Tabela 10
Robustez dos Efeitos dos Ciclos Coloniais no Desenvolvimento Institucional - Efeitos não observados de Regiões e Estados

Grandes Regiões UF
Gini da Concent. Capacid. Acesso à Gini da Concent. Capacid. Acesso à
Terra Politica Gerenc. Justiça Terra Politica Gerenc. Justiça
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
açúcar 0.674*** 0.280*** -0.564 0.153 0.576*** 0.027 1,938 1,096
(0.110) (0.100) (0.978) (1,159) (0.117) (0.134) (1,191) (1,546)

açúcar x dist Portugal -0.009*** -0.005*** 0.010 0.000 -0.007*** -0.001 -0.024 -0.013
(0.002) (0.001) (0.014) (0.017) (0.002) (0.002) (0.017) (0.023)

ouro 0.018 -0.041 -2.323*** -2.732*** 0.005 0.119 -1.860* 0.973


(0.059) (0.092) (0.818) (0.733) (0.069) (0.107) (0.960) (0.848)

ouro x dist Portugal 0.0001 0.001 0.029*** 0.032*** -0.000 -0.002 0.023* -0.011
(0.001) (0.001) (0.011) (0.010) (0.001) (0.001) (0.012) (0.011)

distância para Portugal 0.002** -0.008*** 0.001 0.042*** 0.003* 0.001 0.013 0.062***
(0.001) (0.001) (0.009) (0.009) (0.001) (0.002) (0.015) (0.017)
Dummies para Grandes
sim sim sim sim não não não não
Regiões
Dummies para UF não não não não sim sim sim sim
Observações 4971 4970 4970 4971 4971 4970 4970 4971
2
R 0.22 0.19 0.31 0.11 0.24 0.25 0.34 0.15
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%. Todas incluem
constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude,
temperatura (12 meses) e solos (12 tipos).
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94

Tabela 11
Efeitos Causais das Instituições De Facto no Desenvolvimento de Longo Prazo

ln Renda per capita


(1) (2) (3) (4) (5) (6)
Capacidade Gerencial 0.690*** 0.382** 0.333***
(0.126) (0.164) (0.099)

Acesso à Justiça 0.507*** 0.451*** 0.427***


(0.067) (0.113) (0.141)

Gini da Terra 0.816 -0.419


(0.574) (0.692)

Concentração Política 1.381*** 2.311***


(0.485) (0.627)
Observações 4940 4941 4941 4939 4938 4970
2
R 0.22 0.48 0.64 0.55 0.30 0.44
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; ***
significante a 1%. Todas incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador,
distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura (12 meses) e solos (12
tipos).
95

Tabela 12
Robustez dos Efeitos de Instituições De Facto no Desenvolvimento de
Longo Prazo - Hipóteses Alternativas
ln Renda per Capita
Educação Saúde
Anos de Estudo Analfabetismo Mortalidade Infantil Expectativa de Vida
Exog Endog Exog Endog Exog Endog Exog Endog
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
Capacidade Gerencial 0.388*** 0.381** 0.541*** 0.386** 0.503*** 0.388* 0.473*** 0.385**
(0.150) (0.165) (0.151) (0.180) (0.135) (0.213) (0.135) (0.174)

Acesso à Justiça 0.367*** 0.444** 0.389*** 0.448*** 0.235* 0.438 0.288** 0.443**
(0.129) (0.176) (0.126) (0.124) (0.127) (0.314) (0.117) (0.213)

Gini da Terra -0.707 -0.434 -0.281 -0.409 -0.439 -0.418 -0.570 -0.422
(0.588) (0.763) (0.792) (0.730) (0.647) (0.686) (0.613) (0.689)

Concentração Política 1.934*** 2.289*** 2.300*** 2.313*** 2.154*** 2.302*** 1.872*** 2.289***
(0.556) (0.813) (0.676) (0.627) (0.569) (0.659) (0.592) (0.809)

Anos de Estudo 0.093* 0.006


(0.054) (0.139)

Analfabetismo -0.010*** -0.0003


(0.004) (0.008)

Mortalidade Infantil -0.008*** -0.0004


(0.002) (0.011)

Expectativa de Vida 0.021*** 0.001


(0.007) (0.024)
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Observações 4938 4938 4938 4938 4938 4938 4938 4938


2
R 0.43 0.31 0.19 0.30 0.38 0.31 0.40 0.31
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%. Todas
incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa, chuva, incidência do sol,
altitude, temperatura (12 meses) e solos (12 tipos).

Tabela 13
Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no Desenvolvimento
Institucional - Capacidade Gerencial
IPTU ano da planta IPTU adimplência Instrumentos de GestãoInstrumentos de Planejamento
(1) (2) (3) (4)
açúcar -1,488 3.257** -2,414 -1,809
(1,997) (1,443) (1,641) (1,334)
açúcar x dist
Portugal 0.022 -0.044** 0.036 0.027
(0.029) (0.021) (0.023) (0.019)
ouro -4.906*** -3.470*** -3.701*** -0.400
(1,783) (1,282) (1,048) (0.991)

ouro x dist Portugal 0.061*** 0.041** 0.047*** 0.008


(0.023) (0.017) (0.014) (0.013)
distância para Portuga -0.038** 0.007 0.005 -0.018
(0.019) (0.014) (0.012) (0.011)
Observações 4970 4970 4970 4970
2
R 0.09 0.31 0.21 0.04
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%.
Todas incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa, chuva,
incidência do sol, altitude, temperatura (12 meses) e solos (12 tipos).
96

Tabela 14
Instituições De Facto e Desenvolvimento de Longo Prazo - Capacidade
Gerencial
ln Renda per Capita
OLS IV
(1) (2) (3) (4) (5) (6)
IPTU ano da planta 0.014*** 0.381*** 0.313
(0.003) (0.098) (0.247)
IPTU adimplência 0.041*** 0.427*** 0.044
(0.004) (0.080) (0.266)
Instrumentos de Gestão 0.114*** 0.569*** 0.188
(0.004) (0.130) (0.247)
Instrumentos de Planejamento 0.003 -0.311*** -0.366
(0.004) (0.108) (0.324)
Observações 4970 4970 4970 4970 4970 4970
2
R 0.72 0.29
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; ***
significante a 1%. Todas incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador,
distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura (12 meses) e solos (12 tipos).
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97

Tabela 15
Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no Desenvolvimento Institucional - Índice de Qualidade Institucional
Municipal

Índice de Qualidade Institucional Índice de Qualidade Institucional 1


(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
açúcar -0.430*** 0.614 -0.696 -0.355*** -0.139 -1.569**
(0.036) (0.508) (0.614) (0.041) (0.551) (0.688)

açúcar x dist Portugal -0.005 0.009 0.007 0.023**


(0.007) (0.009) (0.008) (0.010)
ouro -0.102*** -0.599 -1.644*** -0.082*** -0.228 -1.840***
(0.023) (0.430) (0.463) (0.027) (0.488) (0.524)
ouro x dist Portugal 0.007 0.020*** 0.003 0.023***
(0.006) (0.006) (0.006) (0.007)
distância para Portugal 0.034*** 0.036*** -0.016*** 0.035*** 0.038*** -0.009
(0.001) (0.001) (0.005) (0.001) (0.001) (0.006)

Controles Geográficos não não não sim não não não sim
Observações 5506 5506 5506 4971 5505 5505 5505 4970
2
R 0.03 0.30 0.31 0.37 0.01 0.25 0.26 0.32
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%. Todas incluem
constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura (12
meses) e solos (12 tipos). Índice de Qualidade Institucional 1 = índice sem poupança e sem receita corrente vs. dívida.
98

Tabela 16
Instituições De Facto e Desenvolvimento de Longo Prazo - Índice de
Qualidade Institucional Municipal
ln Renda per capita
OLS IV
(1) (2) (3) (4) (5) (6)
Índice de Qualidade Institucional 0.192*** 1.257*** 0.914***
(0.011) (0.228) (0.232)
Índice de Qualidade Institucional 1 0.159*** 0.860*** 0.416**
(0.009) (0.177) (0.202)
Acesso à Justiça 0.142*** 0.133*** 0.341*** 0.435***
(0.006) (0.006) (0.097) (0.084)
Observações 4971 4970 4971 4971 4970 4970
2
R 0.73 0.73 0.11 0.28 0.38 0.42
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante
a 1%. Todas incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa,
chuva, incidência do sol, altitude, temperatura (12 meses) e solos (12 tipos). Índice de Qualidade
Institucional 1 = índice sem poupança e sem receita corrente vs. dívida.

Tabela 17
Efeitos de Longo Prazo dos Ciclos Coloniais no Desenvolvimento
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0510685/CA

Institucional - Acesso à Justiça


Pequenas Causas Defesa do Consumidor Conselho Tutelar
açúcar -0.338 -0.477 0.770
(0.647) (0.504) (0.493)
açúcar x dist Portugal 0.003 0.007 -0.009
(0.009) (0.007) (0.007)
ouro -2.949*** -0.989*** -2.328***
(0.407) (0.260) (0.479)
ouro x dist Portugal 0.037*** 0.012*** 0.029***
(0.005) (0.003) (0.006)
distância para Portugal 0.007 0.006* 0.018***
(0.005) (0.004) (0.005)
Observações 4971 4971 4971
2
R 0.08 0.04 0.12
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; ***
significante a 1%. Todas incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador,
distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura (12 meses) e solos (12 tipos).
99

Tabela 18
Instituições De Facto e Desenvolvimento de Longo Prazo - Acesso à
Justiça

ln Renda per capita


OLS IV
(1) (2) (3) (4) (5)
Pequenas Causas 0.196*** 0.958*** 0.948**
(0.010) (0.122) (0.370)
Defesa do Consumidor 0.201*** 1.845*** -1,528
(0.015) (0.381) (1,421)
Conselho Tutelar 0.124*** 0.813*** 0.724
(0.011) (0.126) (0.444)
Observações 4971 4971 4971 4971 4971
2
R 0.73 0.40 0.48
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; ***
significante a 1%. Todas incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador,
distância para a costa, chuva, incidência do sol, altitude, temperatura (12 meses) e solos (12
tipos).
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100

Tabela 19
Provisão de Bens Públicos

Água Encanada Energia Elétrica


OLS IV OLS IV
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)
Capacidade Gerencial 3.882*** 61.823*** 74.204*** 2.226*** 53.491*** 61.252***
(0.298) (11,727) (16,954) (0.259) (10,174) (14,263)
Acesso à Justiça 3.584*** 17.134*** -14,091 2.665*** 16.938*** -8,833
(0.234) (3,121) (11,616) (0.181) (2,901) (9,840)
Observações 4970 4970 4971 4970 4970 4970 4971 4970
2
R 0.76 0.62 0.45
Notas: Erros padrão robustos entre parênteses. * significante a 10%; ** significante a 5%; *** significante a 1%.
Todas incluem constante. Controles geográficos: distância para o Equador, distância para a costa, chuva,
incidência do sol, altitude, temperatura (12 meses) e solos (12 tipos).

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