Вы находитесь на странице: 1из 4

SINTOMA E DIAGNÓSTICO EM PSICANÁLISE E PSIQUIATRIA: ALGUMAS

CONTRIBUIÇÕES

Oliver Schmidt Silva (publicado em 2003)

Objetivos: Meu objetivo com este trabalho foi de apresentar algumas contribuições de diversos
autores acerca da concepção de sintoma e diagnóstico, tanto em psicanálise como em psiquiatria,
discutindo as implicações de cada perspectiva. Apresentei algumas definições de sintoma em medicina e
psicanálise, retomando o caminho percorrido pela psiquiatria até ser tragada pelo ideal científico da
sociedade moderna, e discutindo suas implicações no campo da subjetividade.

Podemos notar uma grande diferença em ser atendido por um psicanalista em um consultório, e ser
atendido por um psiquiatra. Tal diferença está subordinada às implicações de diferentes concepções de
sujeito e de sintoma entre as duas perspectivas. Para começarmos o presente trabalho, iremos nos deter
um momento em algumas definições de sintoma e diagnóstico, para analisarmos as consequências de tais
concepções, e discuti-las posteriormente.

Podemos considerar que, na medicina, o sintoma é dotado de sentido, como na psicanálise. A


diferença é que compete ao médico dar a sua significação. Assim, o sintoma pode ser referido a algo
detectável no organismo, permitindo que o médico o decifre com seu suposto saber e represente ou não o
sujeito com a doença em questão. Na medicina, portanto, o sintoma diz que algo não vai bem, diz que há
uma alteração de função ou índice de uma doença, e compete ao médico decifrar se o sintoma indica a
presença de uma doença, se o sintoma é objetivo ou se é uma fantasia, e em qual diagnóstico ele pode se
encaixar (Pimenta e Ferreira, 2003).

Na psiquiatria moderna, portanto, o diagnóstico não é nada mais que uma “agregação de sintomas”
que representa o sujeito diagnosticado; é uma clínica do olhar, mais do que da escuta. Sua prática
diagnóstica visa apreender o sintoma numa objetividade fenomenológica, puramente descritiva, isolando-
o em categorias prévias que visam eliminar a implicação do sujeito em seu próprio sintoma. Por mais que
se busque preservar a singularidade, atenta-nos Vieira (2001), o diagnóstico é necessariamente a
atribuição de um juízo de valor, que incorpora o sujeito a uma classe, fixando-o sob um nome e o
esvaziando de seu caráter evanescente e fugidio. É interessante notar que o diagnóstico não é a
representação de uma categorização natural, fundada na descrição de eventos naturais que podem ser
repetidamente observados. O diagnóstico é, ele próprio, a nomeação que faz existir realidades,
comportando efeitos subjetivos incontornáveis (Vieira, 2001). Isso significa que o diagnóstico realiza a
doença que ele supostamente representa, encaixando o sujeito em uma verdade que lhe é exterior.

Já na psicanálise, o sintoma não é entendido necessariamente como sinal de doença, mas como a
marca do sujeito do inconsciente, podendo ser apreendido apenas dentro da história de cada indivíduo.
Assim, o sintoma não nos remete a uma classificação de diagnósticos, mas ao próprio sujeito.

O sintoma, para a psicanálise, não é o simples elemento de uma categoria que representa um
transtorno no DSM-IV, não é o simples índice de uma doença, nem um signo cujo médico veio para
traduzir. O sintoma, para psicanálise, é gozo, é um modo de gozar pelo sofrimento, é aquilo que se
satisfaz e do qual não se sabe (Gomes e Neme, 2010). O sintoma, assim, deve ser compreendido como o
lugar de um sofrimento que proporciona satisfação sexual para o indivíduo sem que ele o saiba. Assim, a
tarefa de uma análise não consiste em eliminar o sintoma, em calar o grito do sujeito, mas fazer com que
o sujeito conheça os significantes que o determinaram em sua história para que, destes, ele possa se
desalienar, escapando de seu poder de comando (Quinet, 2003).

Podemos observar, portanto, como a contribuição freudiana acerca da importância da escuta do


sujeito vem sendo descartada e reduzida aos ditos do sujeito passíveis de serem inscritos em manuais
(Bursztyn, 2008).

Foucault nos mostra em “O nascimento da Clínica” como a medicina anatomoclínica, que se


afirmou no século XIX, introduziu a medicina no campo da ciência e da racionalidade moderna. Esta
racionalidade permite a reificação do homem, tornando seu próprio corpo um objeto de investigação e
conhecimento científico.

Na medicina que precedeu o modelo anatomoclínico, chamada de pré-científica, o sintoma era


considerado a própria expressão da doença, a própria forma como a doença se apresentava, definindo sua
essência (Pimenta e Ferreira, 2003). Com isso, os quadros nosológicos eram construídos com base no
modelo classificatório da botânica, tendo os sintomas como elementos primordiais. A partir de Bichat
(1771-1802), no momento em que a medicina se afirmou como ciência, o seu elemento ordenador passou
a ser a lesão tecidual. Assim, a doença se deslocou do quadro para o corpo, sendo neste que ela deverá ser
investigada (Pimenta e Ferreira, 2003). A partir de então, o sintoma é visto como signo, como significante
para o médico, passando a existir uma grande apreciação por demonstrações estatísticas de índices
sintomáticos. Além disso, o sintoma deixa de se caracterizar como a essência de uma doença, e passa a
precedê-la como seu índice. À medida que a medicina vai absorvendo técnicas laboratoriais e
instrumentais, permite ter acesso precoce aos processos orgânicos, antecipando-se aos fenômenos clínicos
e à manifestação dos sintomas. Com isso, a função do médico passa a ser a de um técnico; técnico que
observa o sintoma, encaixa-o em determinadas categorias diagnósticas, e identifica a doença a ser
eliminada.

Com o avanço no desenvolvimento dos psicofármacos, o sintoma psíquico é tido como equivalente
ao sintoma médico comum. A psiquiatria, subordinada agora ao discurso capitalista, toma o tratamento
medicamentoso como ponto de referência para a conceituação de transtornos. Ao mesmo tempo em que
promove o mal-estar, oferece a resposta a ele com diversos medicamentos. Vemos, assim, as
neurociências não só produzindo novas drogas, mas produzindo também novas categorias diagnósticas
que justificariam, assim, a utilização de psicofármacos. Poderíamos nos interrogar nesse ponto: será que
não está havendo um problema de ordem ética, em que os medicamentos estão determinando os
diagnósticos? A psiquiatria, vendendo sua alma ao diabo da ciência, como diria Göethe, se prestou ao
discurso capitalista, suprimindo toda e qualquer manifestação do sujeito. E é a essa psiquiatria,
subordinada ao discurso capitalista, que a psicanálise se contrapõe (Quinet, s/d).

A genialidade freudiana, que virá para subverter toda a relação tecnicista de médico e paciente, está
em perceber a natureza radicalmente diversa do sintoma neurótico (Pimenta e Ferreira, 2003). Em suas
investigações sobre a histeria, Freud se deparou com sintomas que ficavam à margem do discurso
científico por não se enquadrarem em modelos e categorias pré-estabelecidas. Neste cenário, Freud passa
a perseguir, como um cientista moderno, as pistas indicativas da causalidade inerente aos sintomas
histéricos. Não encontrando tal visibilidade, Freud oferece sua escuta, passando a conferir o estatuto de
verdade às falas das pacientes (Canavêz e Herzog, 2007). Vale ressaltar que a busca pela causalidade dos
sintomas, por Freud, não visava demonstrar que os fatores etiológicos tinham na hereditariedade sua
sustentação teórica. Após a postulação da pulsão de morte, por exemplo, todo o pensamento freudiano
contaminado pelo projeto de uma terapêutica baseada na episteme determinista da ciência moderna se
torna um obstáculo. Ao sujeito não é mais prometido algo da ordem de uma cura, mas da ordem de uma
mudança no modo de existência, uma vez que o conceito de sintoma engloba, agora, a verdade do próprio
sujeito, aquilo do qual não se pode escapar e que está atrelado ao próprio estilo de existência. Há algo não
mais da ordem da causalidade orgânica, como na psiquiatria, mas algo da ordem de um sentido inerente
ao sintoma, que diz respeito à história e à originalidade deste.

Assim, o sintoma passa a ser visto em outra dimensão, em outra cena, em que não há determinações
orgânicas a serem localizadas, mas tido como o que há de mais singular no sujeito, como aquilo que deve
ser acolhido e compreendido, e não eliminado. A histérica, com seus sintomas, produziu um discurso
capaz de protestar um novo saber, um novo significado que venha fazer de seu caso uma exceção,
revelando a importância de uma escuta não remetida apenas às categorias diagnósticas previamente
construídas (Brusztyn, 2008). Diante do quadro da psiquiatria moderna, em que o médico se tornou um
técnico, e em que a subjetividade e a causalidade psíquica foram subordinadas aos novos tratamentos
medicamentosos, cabe à psicanálise marcar a especificidade da historicidade e da singularidade do
sujeito.

Permitindo que o sujeito se aproprie do saber produzido no dizer dos sintomas, Freud se retirou da
posição de mestre, deslocando-a para o lado do saber inconsciente, subvertendo, assim, o modo como o
saber era produzido no cenário científico de sua época (Bursztyn, 2008). Assim, o analista não deveria
encarnar a figura do mestre, mas apontar para o saber que não se sabe, enunciado pelo próprio sujeito.

Depois da teoria freudiana sobre o sintoma histérico, podemos conceber o sintoma como um tecido
de linguagem, considerando o corpo como submetido ao universo simbólico. Todo sintoma, portanto, está
sujeito ao campo da linguagem, deixando de lado a concepção positivista de determinação orgânica.
Assim, quando algo “não anda” ao nível do inconsciente, o sujeito não consegue mais dar um passo com
suas pernas (Bursztyn, 2008).

No pensamento lacaniano, o conceito de sujeito e de verdade aparecem intimamente ligados (Dews,


2003). A verdade do sujeito, neste sentido, aparece em momentos de lapso, de branco, de equivocação, e
no sintoma. Na realidade, o sintoma não enuncia a verdade do sujeito, mas consiste num “semi-dizê-la”,
uma vez que participa do enigma da verdade, mas mesmo quando supostamente desvelado contém ainda
algo cifrado ao sujeito (Gomes e Neme, 2010). Podemos concordar, então, com Lacan (1998a), quando
este diz que a linguagem é um instrumento da mentira humana atravessada inteiramente pelo problema de
sua verdade.

Na psicanálise, portanto, o sintoma constitui o sujeito, ou melhor, é a origem do sujeito (Canavêz e


Herzog, 2007). Eliminar o sintoma significaria eliminar aquilo que há de mais singular e original no
indivíduo, eliminar sua própria verdade. O que a psicanálise propõe, portanto, é a passagem de um semi-
dizer o sintoma para um bem-dizer, para um consentimento da castração. Isso, por sua vez, implica em
um efeito na enunciação do sujeito, implica em uma mudança no estilo de pensamento, em uma mudança
na economia do gozo. A psicanálise, portanto, convida os analisandos a um trabalho que os coloca numa
posição contrária à posição habitual, contrária ao processo de normalização da individualidade (Birman,
1989). Espera-se, com isso, positivar o que há de mais singular em cada discurso, em cada subjetividade,
promovendo a manifestação da originalidade de cada sintoma, extravasando as categorias diagnósticas e
mesmo todo o conhecimento prévio que um analista poderia supor possuir (Canavêz e Herzog, 2007).

Não compete ao analista silenciar o sintoma, eliminando-o como um corpo estranho que invade o
psiquismo, mas dar-lhe voz para sua manifestação. Por isso, à psicanálise não cabe buscar a origem do
sintoma, característica da ciência moderna que se preocupava com relações causais e lesões visíveis ao
olhar científico, mas passar à dimensão inventiva do sintoma, ao que se revela como um vazio original no
sujeito, atribuindo ao sintoma uma função que ordena a vida e contribui para estruturar também as
relações humanas (Canavêz e Herzog, 2007).

Sobre o Autor:

Referências:

Birman, J. (1989). Freud e a experiência psicanalítica. Rio de Janeiro: Taurus-Timbre.

Bursztyn, D. C. (2008). O tratamento da histeria nas instituições psiquiátricas: um desafio para a


psicanálise. Estudos e pesquisas em psicologia, 8(1), 126-135.

Canavêz, F. & Herzog, R. (2007). A singularidade do sintoma: por uma crítica psicanalítica à ideia
de origem. Psic. Clin., 19(1), 109-124.

Dews, P. (2003). O psicanalista aplicado. In: Matet, J. D. & Miller, J. (Eds.), Pertinências da


psicanálise aplicada: trabalhos da Escola da Causa Freudiana reunidos pela Associação do Campo
Freudiano. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 27-31.

Figueiredo, A. C. & Tenório, F. (2002). O diagnóstico em psiquiatria e psicanálise. Rev. Latinoam.


Psicopat. Fund., 1, 29-43.

Gomes, A. de A. & Neme, C. M. B. (2010). A psicanálise aplicada ao sintoma: considerações sobre


as duas clínicas de Jacques Lacan. Psicologia.com.pt, 1-11.

Pimenta, A. C. & Ferreira, R. A. (2003). O sintoma na medicina e na psicanálise – notas


preliminares. Rev. Med. Minas Gerais, 13(3), 221-228.

Quinet, A. (s/d). A ciência psiquiátrica nos discursos da contemporaneidade. In: Estados gerais da


psicanálise [online]. Recuperado em 17 de junho de
2011, http://www.oocities.org/hotsprings/villa/3170/AntonioQuinet3.htm

Quinet, A. (2003). A descoberta do inconsciente: do desejo ao sintoma. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor.

Vieira, M. A. (2001). Dando nomes aos bois: sobre o diagnóstico na psicanálise. In: Figueiredo, A.
C. (Org.). Psicanálise: Pesquisa e Clínica. Rio de Janeiro: IPUB/CUCA.

Вам также может понравиться