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(Leandro Konder)
1
HOBSBAWM, Eric. Entrevista a Geneton Moraes Neto, gravada em Londres, em 1995. Dossiê geral: o blog
das confissões. Disponível em:<http://g1.globo.com/platb/geneton/2012/10/01/eric-hobsbawm-pecado-capital-
do-capitalismo-e-injustica-social-pecado-capital-do-socialismo-foi-a-falta-de-liberdade-mas-ainda-ha-um-vasto-
espaco-para-o-sonho/>. Acesso em: 15 nov. 2012.
2
2
MOSER, C. The asset vulnerability framework: reassessing urban poverty reduction strategies.
Washington D.C: World Bank, 1998.
3
KATZMAN, R. Vulnerabilidade, activos y exclusión social en Argentina y Uruguay. Santiago de Chile:
OIT – Ford, 1999.
4
VIGNOLI, J. R. Vulnerabilidade demográfica en América Latina: ¿Qué hay de nuevo? Seminário
Vulnerabilidade, CEPAL, Santiago de Chile, 2001.
5
BUSSO, G. La vulnerabilidade social y las políticas sociales a inicios del siglo XXV: una aproximación para
los países latinoamericanos. Santiago: CEPAL, 2001.
6
7
ABRAMOVAY, M.; CASTRO, M. G.; PINHEIRO, L. C.; LIMA, F.S. e MARTINELLI, C. C. Juventude,
Violência e Vulnerabilidade Social na América Latina: Desafios para Políticas Públicas. Brasília,
UNESCO, 2002.
8
MOSER, C. The asset vulnerability framework: reassessing urban poverty reduction strategies.
Washington D.C: World Bank, 1998.
3
9
No seminário sobre Vulnerabilidade promovido em 2001 pelo CEPAL, Vignoli sustenta o ponto de vista
segundo o qual está constitui a falta de acesso às estruturas de oportunidade oferecida pelo mercado, Estado ou
sociedade, sublinhando a carência de atributos necessários ao aproveitamento efetivo da estrutura de
oportunidades existentes.
10
Cf, ABRAMOVAY, Miriam. Segundo a autora: “Haveria, portanto, uma “vulnerabilidade positiva”, quando se
aprende pelo vivido a tecer formas de resistências, formas de lidar com os riscos e obstáculos de forma criativa.
Seria, portanto, o conceito constituinte desse plano de vulnerabilidade (a vulnerabilidade positiva) subsidiário
dos debates de Bourdieu (2001, original publicado em 1989) sobre capital cultural, social e simbólico, ou seja, o
que se adquire por “relações de comunicação”, tomando-se consciência de violências simbólicas, do que aparece
como arbitrário. É quando as vulnerabilidades vividas trazem a semente positiva de “um poder simbólico de
subversão” (Bourdieu, 2001: 15).
4
aspectos qualitativos da oferta de oportunidade (não nos restringindo aos quantitativos), bem
como uma perspectiva histórica, dinâmica e estrutural na investigação sobre a vulnerabilidade
que se intenta realizar.
Dessa forma, apesar de haver distinção entre minorias e grupos vulneráveis, estes
vocábulos são comumente utilizados como sinônimos, entretanto não o são, trata-se de
institutos diversos. Os especialista do estudo, a exemplo, Élida Séguin, preferem não se ater à
diferenciação existente, na justificativa de que ambos sofrem discriminação e são vítimas da
intolerância, merecendo o amparo estatal e, portanto, não havendo necessidade de
compreendê-los separadamente18. Entretanto, tal distinção é importante para a devida
compreensão do tema, porquanto este se revela entrelaçado em uma delicada situação de
desigualdades, devendo, portanto, ser tratado com uma extrema cautela a fim de podermos
entender as extensões de cada um dos institutos e, por conseguinte, trilharmos um caminho
que enfrente a totalidade do marco conceitual da vulnerabilidade.
1.3.1 Minorias
17
WUCHER, Gabi. Minorias proteção internacional em prol da democracia, 1ª ed. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2000. p. 44.
18
(Séguin, p. 12, 2002
6
19
Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948: dispõe que “toda pessoa tem capacidade para gozar
os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor,
sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição”, assim estabelecendo a igualdade formal e os direitos fundamentais para todas as
pessoas.
20
Embora sejam feitos esses registros, devemos esclarecer que a Convenção para a Prevenção e a Repressão do
Crime de Genocídio, de 1948 e a Convenção da UNESCO para Eliminação da Discriminação na Educação, de
1960 também chegaram a cuidar do tema. Apesar de não citarem diretamente a proteção das minorias ou
direitos a grupos minoritários, entende-se que, historicamente, foram eles os mais afetados por ações de
extermínio e genocídio. Assim, as referidas Convenções representaram um grande avanço na proteção dessas
populações. A partir daí, o grande salto foi dado em 1966 com o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos, em que se estabeleceu a proteção das minorias étnicas, lingüísticas e religiosas. A Assembleia Geral
das Nações Unidas já em 1992, inspirada nas disposições do Artigo 27 do Pacto Internacional dos Direitos
Civis adotou a Declaração sobre os Direitos de Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas,
Religiosas e Linguísticas. reafirmando que um dos seus propósitos básicos é o desenvolvimento e o estímulo ao
respeito aos direitos humanos e das liberdades fundamentais de todos. Entretanto, também pouco se explicou
nessa Declaração de 1992.
21
CAPOTORTI, F. Study on the rights of persons belonging to ethnic, religious, and linguistic minorities. New
York; United Nations, 1979, E/CN4/SUB2/384/REV 1, UN Sales No E91XIV2 at 96. (CAPOTORTI, 1977, p.26
7
22
Ibidem. Nesse sentido, AKERMAN define minoria “como um grupo institucionalizado e não dominante que
compartilha uma distinta identidade cultural que deseja preservar”. (1996, p. 96).
23
WUCHER, Gabi. Minorias. Proteção Internacional em prol da democracia. São Paulo: Juarez de
Oliveira, 2000, p. 46.
24
CAPOTORTI, F. Study on the rights of persons belonging to ethnic, religious, and linguistic minorities. New
York; United Nations, 1979, E/CN4/SUB2/384/REV 1, UN Sales No E91XIV2 at 96.
25
WIRTH, 1945, p. 347).
8
[...] Outro aspecto interessante de grupos vulneráveis é com certa frequência eles
não têm sequer noção [de] que estão sendo vítimas de discriminação ou [de] que
seus direitos estão sendo desrespeitados: eles não sabem sequer que têm direitos. 28
(SÉGUIN, 2002, p. 12).
Após essa breve contextualização, podemos em apertada síntese definir que os grupos
vulneráveis, diante das suas particularidades, estão submetidos a uma situação de
subalternização e exclusão social, o que implica em maior suscetibilidade para negação e
violações dos seus direitos. Dessa forma, os grupos vulneráveis se mostram como sendo um
conjunto de seres-humanos, que são possuidores de determinados direitos civis e políticos,
porém, a sociedade de uma forma ampla, especialmente, a classe dominante limitam o
26
(Daniela Lima Barreto, 2016, p. 94).
27
(Dirceu Pereira Siqueira, Nilson Tadeu Reis Campos Silva (orgs.).
Minorias e grupos vulneráveis: reflexões para uma tutela inclusiva. São Paulo: Boreal, 2013. Minorias e grupos
vulneráveis, multiculturalismo e justiça social: compromissos da contituição federal de 1988Ana Carolina Dias
Brandi e Nilton Marcelo de Camargo. P.49,
28
9
exercício de desses direitos inerentes a essas pessoas vulneráveis. De toda essa reflexão se
infere que a vulnerabilidade social expressa uma situação na qual é possível reconhecer um
déficit de cidadania.
Para que a minoria seja protegida institucionalmente, ela prescinde de ser não dominante no
Estado em que vive. O elemento de solidariedade presente nas minorias visa a preservar suas
características imanentes e buscar a manutenção das suas peculiaridades que os diferem dos
demais grupos de minorias. Pessoas pertencentes aos grupos minoritários necessitam de um
tratamento diferenciado para poderem se enquadrar às exigências dessa sociedade capitalista.
Deve-se ser avaliado também o princípio da igualdade, da isonomia, conforme a concepção
aristotélica de que: “a igualdade consiste em tratar igualmente os iguais e desigualmente os
desiguais”.
Nesse esforço de elucidar o fenômeno da vulnerabilidade, é importante ter em vista a
distinção necessária que se fez entre minorias e grupos vulneráveis. A propósito, no que se
refere à proteção das minorias e dos grupos vulneráveis, no âmbito da Constituição Federal de
1988, o artigo 3º apresenta como fundamentos de nossa República Federativa, 30 a erradicação
das desigualdades sociais como base do Estado democrático de direito, o que implica
reconhecer, o tratamento materialmente igual a todas as pessoas no que concerne à dignidade
humana, assegurando, assim, à manutenção das características das minorias, por intermédio
do desenvolvimento da tolerância e da solidariedade. Além disso, a Constituição é permeada
de outros institutos que reforçam os objetivos gerais da República; em destaque seriam os
próprios direitos fundamentais propriamente ditos (artigos 5º e 6º). É necessário, portanto, que
o Estado promova uma efetiva proteção das minorias e dos gurpos vulneráveis, levando em
conta suas singularidades, com observância às especiais fragilidades deles de forma a
assegurar-lhes o direito à vida digna.
Por outro lado, devemos destacar o compromisso que o Brasil assumiu no plano
internacional por meio da ampla ratificação de Convenções e Tratados de Direitos Humanos,
implementando-se dessa forma o disposto no artigo 4º, II da Constituição Federal de 1988, e
no âmbito interno pela promulgação de leis específicas de proteção e pelo desenvolvimento de
políticas públicas, importando ressaltar que a dignidade humana é o principal fundamento do
Estado Brasileiro, conforme prevê o artigo 1º da CF/1988, o que implica na responsabilidade
primária do Estado na proteção e efetivação desses direitos. Daí a relevância de ações que
viabilizem o exercício de direitos a serem protegidos, revelando-se a importância da
implementação de políticas públicas como corolário e estratégia de efetivação da proteção dos
direitos humanos.31
30
31
O compromisso com a efetividade dos direitos humanos exige, cada vez mais, um sistema de garantias mais
potente e que lide com a complexidade e diversidade de tais direitos, em um cenário que assegure a
indivisibilidade, a interdependência, o inter-relacionamento e a universalidade dos direitos humanos, como
11
32
Essas normas são de caráter temporário, vigorando enquanto se verificar a situação desfavorável, devendo
deixar de vigorar logo que ultrapassada a desigualdade.
33
BAUMAN, Zygmunt. Medo Líquido. 3º ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
12
34
DONZELOT, Jacques. Face à l’exclusion: le modele français. 3ª ed. Paris: Esprit, 2006.
35
CANÇADO, Taynara Candido Lopes; SOUZA, Rayssa Silva de; CARDOSO, Cauan Braga da Silva.
Trabalhando o conceito de vulnerabilidade social. Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de
Estudos Populacionais [População, Governança e Bem-Estar], ABEP, realizado em São Paulo/SP, de 24 a 28
de novembro de 2014.
13
possibilita reconhecer zonas de vulnerabilidade, que vão desde os setores mais marginalizados
e excluídos até setores médios que buscam manter seu padrão de inserção e bem-estar, como
forma de proteção às ameaças de precarização do mercado de trabalho.
Sob uma ótica sociológica fundamentada em Beck 36 surge a concepção de
vulnerabilidade social como exposição (de indivíduos ou objetivos) a determinados riscos. No
quadro de uma modernidade avançada, advêm novos riscos de natureza imprevisível, que
podem ser qualificados como ecológicos, nucleares, químicos ou genéticos. Essa perspectiva
sociológica também contempla a noção de que existe uma desigualdade na distribuição dos
riscos, que pode ser constatada nos espaços (como é o caso de determinadas áreas urbanas
profundamente poluídas, onde a degradação ambiental se mostra irreversível, ou possíveis de
constituírem fontes de doenças infecto – contagiosas da maior gravidade, ou afetadas pela
violência, notadamente a policial.
Assim sendo, revela-se digna de nota a proposta de Soczek37 que reside em articular a
ideia de vulnerabilidade, capaz de facilitar a nossa compreensão da condição de existência em
uma sociedade de risco (individual e coletivo), e a ideia de novos direitos como construção
social que tem por finalidade amenizar a condição de vulnerabilidade e vulneração social da
totalidade da sociedade, tomando em consideração o que há de específico na vulnerabilidade
destacada de cada grupo social.
36
BECK, Ulrich. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: GIDDENS,
Anthony; BECK, Ulrich; LASH, Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna.
São Paulo: Ed. Unesp,1997. p. 11-72.
37
SOCZEK, Daniel. Vulnerabilidade social e novos direitos: reflexões e perspectivas. Espaço Jurídico,
Joaçaba, v.9, n.1, jan./jun. 2008. p. 19-30.
14
Dessa forma, como inferem Luiz Fernando de Oliveira e Mônica Regina Ferreira
Lins49, “a violência epistêmica se constrói em torno do conceito de raça, no qual novas
categorias foram criadas como branco, negro, índio, mestiço etc. e relaciona sujeitos numa
classificação social de forma vertical.” Ainda, concluem com base em outros autores, tais
como Maldonado-Torres e Dussel, respetivamente que “essa ideia de seres não europeus
como inferiores produziu formas de desumanização. Além disso, “a negação que o europeu
faz do outro colonizado, a forma como desconhece a alteridade e o modo como relega o
diferente, o converte em um não ser. Esta, portanto, foi a experiência vivida na
colonialidade.”50
45
QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, cultura e conhecimento na América Latina, In: Pensar (in) as
intercepções. Teoria e prática da crítica pós-colonial. Org. S. Castro Gomez, O. Guardiola-Rivera, C. Millan
Benavides. Santafé de Bogotá: CEJA: 1999, p. 99-109.
46
WALSH, Catherine. Introdución - (Re) pensamiento crítico y (de) colonialidad. In: WALSH, Catherine.
(Org.). Pensamiento crítico y matriz (de)colonial. Refexiones latinoamericanas. Quito: Ediciones Abya-yala,
2005. p. 24.
47
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Lisboa: Ulisseia limitada 1961. Tradução de Serafim Ferreira, p.
263.
48
Ibidem, p. 36-37.
49
OLIVEIRA; LINS, op. cit., p. 676
50
Ibidem, p. 677.
17
Finalmente, Luiz Fernando de Oliveira e Mônica Regina Ferreira Lins apoiados nos
estudos de Fanon e Maldonado-Torres, chamam a atenção para o fenômeno da invisibilidade
das experiências vividas pela colonialidade do ser, a ser persistentes do racismo como
enfatizada logo no título provocativo do trabalho: “Que criança feia” Por que a mãe dela está
feliz? Ela nunca vai ficar branca: Reflexões teóricas sobre crianças e relações raciais”. Cabe
transcrever aqui uma definição de racismo, acolhida e comentada por esses pesquisadores
brasileiros, bastante elucidativa que revela a profunda conexão entre racismo e violência
epistêmica:
Ao tecer considerações críticas a obra Gender Trouble : Feminism and the Subversion
of Identity sobre a redução do escopo da politica da categoria positiva e negativa de
inclusão/exclusão, uma opondo-se a outra, como fora tratado por Judith Butler 59 - um dos mais
relevantes estudos sobre a vulnerabilidade na teoria contemporânea 60 -, Fraser desenvolve em
suas reflexões sobre a teoria da justiça 61, “a paridade de participação”, porquanto, segundo
afirma, tal critério normativo acolhe uma concepção política, e abrange um conjunto maior de
injustiças sociais. Nesse sentido, ela contextualiza
58
Ibidem. p.21.
59
BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of identity. New York: Routledge, 1999.
60
A escolha de abordar o estudo de Butler deve-se ao fato de ela ser uma das mais destacadas autoras
internacionais que se dedica à discussão contemporânea sobre vulnerabilidade, além de suas relevantes
contribuições para teoria política feminista.
61
FRASER, N. Scales of Justice. New York: Columbia University, 2009, p. 16-17.
62
CYFER, Ingrid; NEVES, Rafael. Entrevista com Nancy Fraser; tradução de Maria Aparecida Abreu. In:
ABREU, Maria Aparecida. Redistribuição, Reconhecimento e Representação, Brasília: IPEA, p. 201 – 213,
2011, p. 204.
63
BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of identity. New York: Routledge, 1999.
64
FRASER, N. Scales of Justice. New York: Columbia University, 2009, p. 16-17. Ambas as autoras têm a
mesma inquietação com a morte política e as injustiças sociais que dela decorrem.
65
As concepções contemporâneas vêm apontando para a necessidade de se reconhecer a vulnerabilidade como
uma questão política que apresenta profundos desafios a fim de gerar a autonomia e ação política.
20
injustiças sociais a serem enfrentadas; assim como, os obstáculos externos e internos à sua
emancipação a fim de se estabelecer os remédios políticos para combatê-las.
A aplicação do princípio da igualdade que pretendemos adotar neste estudo deve
considerar a posição relativa dos grupos sociais entre si para incluir grupos excluídos ou
marginalizados. Igualdade essa, há muito, que não se esgota na premissa de que a lei trate a
todos como iguais, mas exige que essa isonomia seja refletida, material e concretamente, nas
relações sociais, nas oportunidades, na fruição de direitos e na dignidade de cada ser humano,
como parte constituinte dessa sociedade. Nesse sentido, Rothenburg 66 afirma:
66
ROTHENBURG, Walter Claudius. Igualdade material e discriminação positiva: o princípio da isonomia.
Novos Estudos jurídicos, Itajaí: Univali, v. 13, n. 2, jul./dez. 2008. p. 82.
67
SANTOS, Boaventura de Sousa, Colecção Reinventar a Emancipação Social: Para Novos Manifestos,
Porto: Afrontamento, 2003. p.106.
21
ser um povo miscigenado e diversos não é racista. Ao contrário, o racismo, de tão arraigado,
tornou-se natural, encoberto nas relações hierarquizadas entre brancos e negros. 68
A negação do racismo impede, sistematicamente, a instituição de políticas afirmativas
que reparem as desigualdades. Não se trata de uma reparação histórica, na acepção de algo
que ocorreu no passado e ficou para trás. Trata-se de uma reparação da desigualdade surgida
com o regime escravocrata, mas que (re)produz, cotidianamente, práticas racistas e
discriminatórias em todos os âmbitos da sociedade brasileira, de forma estrutural, institucional
e político.
jurídico, tendo em vista a amplitude e a relevância das discussões em torno deles apontadas.
Os vocábulos equidade, isonomia e igualdade que são usados como sinônimos, na língua
portuguesa, mas podem ser diferenciados dependendo das situações em que se venha a utilizar
uma ou outra expressão.
A palavra igualdade tem sua origem na palavra em latim aequalitas e se refere à
condição, ao estado e à qualidade de coisas iguais, idênticas, uniformes, equivalentes.
Igualdade se refere a circunstâncias idênticas e equivalentes aplicadas para todas as pessoas
em todos os casos. Significa ainda o princípio de que todas as pessoas são iguais perante a lei,
possuindo os mesmos direitos e deveres 69.
Isonomia pressupõe diferentes situações contextuais, entretanto, que se indica pela
aplicação igualitária das normas, desde que preenchidas as condições necessárias. O
significado de isonomia, como a morfologia do nome (“iso”, igual, e “nomia”, lei) adquire
contornes mais concretos na perspectiva jurídica. Isonomia significa a igual aplicação da lei
68
As estatísticas são gritantes e comprovam o racismo estrutural no país. Embora mais de metade da população
brasileira seja negra, dos 10% mais pobres da população, 72% são negros. O racismo de origem, a cor da pele
influencia a vida de afrodescendentes em todos os seus aspectos; seja nas condições de moradia e saúde,
educação nas relações com o Estado, especialmente no âmbito do poder judiciário. Nas favelas, 66% dos
domicílios são chefiados por mulheres negras. Também no sistema carcerário, 61% dos presos são negros; além
dos jovens que são vítimas de homicídios, 80% são negros. E as estatísticas continuam com taxas de
analfabetismo; negros percebem, em média, 55% da renda dos brancos em geral.
69
A igualdade material é atribuída todos os seres humanos que se encontrem nas mesmas condições. A
igualdade formal, por sua vez, trata da igualdade dos indivíduos frente a lei, nos moldes do art. 5º da
Constituição Federal.
22
lado, são notórios os reflexos diretos que também a precariedade dos direitos fundamentais
suscita em outras áreas, principalmente, no que diz respeito à seletividade do sistema de
justiça criminal, quando se propõe a estudar o grupo vulnerável das mulheres condenadas por
tráfico de entorpecentes.
Não é demasiado lembrar que, do ponto de vista das relações sociais, a equidade e a
igualdade substantivas, princípios fundamentais da justiça social, são alcançadas por meio da
luta de classes ou da luta entre atores sociais em seus correspondentes campos sociais. É
exatamente neste caminho que pretendemos desenvolver os fundamentos de uma teoria crítica
em nosso estudo mais adiante, porquanto adotamos a mesma percepção de Mészáros 74: “a
condição prévia essencial da verdadeira igualdade é enfrentar com uma crítica radical a
questão do modo inevitável de funcionamento do sistema estabelecido e sua correspondente
estrutura de comando, que a priori exclui quaisquer expectativas de uma verdadeira
igualdade”.
74
MÉSZÁROS, István. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. tradução Paulo Cezar Castanheira
e Sérgio Lessa. São Paulo: Boitempo, 2002.p.289.
25
75
HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Edições Loyola, 2004.p.7.
76
Ibidem.
77
Ibidem.
78
26
Todas essas perspectivas abordadas por Habermas na sua análise (por exemplo: o
direito de manter a própria vida cultural e a obrigação de aceitar o marco político de
convivência definido pelos princípios constitucionais e os direitos humanos), constituem uma
tentativa de impedir que a identidade coletiva, como no caso das minorias, se torne um
mecanismo de exclusão do diferente. Tal exclusão se dá por meio de uma vontade consciente
de homogeneidade social e provoca a marginalização interna de grupos sociais inteiros. A
proposta de Habermas contra a exclusão sistemática consiste na defesa de que a política
própria da democracia deve ser conduzida na direção da “inclusão do outro”. Uma inclusão
que promova a independência da procedência cultural de cada qual é as vias de acesso à
79
comunidade política que devem permanecer sempre abertas. A condição necessária para
sua promoção é que, no maior grau possível, as instituições públicas se dispam de conotações
morais densas e passem a adotar integralmente os procedimentos do direito moderno. Para
Habermas, somente esse tipo de reforma no Poder Judiciário torna factível o estabelecimento
de relações de respeito mútuo entre sujeitos distintos e até estranhos entre si.
Diante de qualquer tentação de exclusão, a teoria habermasiana sustenta a ideia de um
“patriotismo constitucional” pelo qual os cidadãos se identifiquem com os princípios da
própria Constituição – identificação essa que sugere para os indivíduos uma compreensão da
Constituição como uma conquista vincada dentro da história de seus pais e a concepção da
liberdade da nação de maneira universalista. 80
A visão de Habermas sobre o processo de inclusão do outro é, portanto, uma visão
cosmopolita e aberta da comunidade política como uma nação de cidadãos. Este
posicionamento pressupõe que já passou o tempo do Estado Nacional e chegada à hora de
uma integração política supranacional (como a empreendida na Europa), que refuta toda
forma de nacionalismo “fechado”, que, na atualidade, assume a feição de retorno ao culto de
totalitarismos, que se acreditava já superado, a saber, o nazismo e fascismo. Emerge, por
assim dizer, um “novo republicanismo” com vocação mundial suscetível de conjurar a dupla
escolha do novo desprendimento nacionalista e da dissolução do corpo político no mercado
mundial.
Em verdade, Habermas elabora uma construção teórica de inclusão que não pode ser
aplicada em países periféricos, como no Brasil, cuja realidade vivenciada exibe uma extrema
desigualdade social, que vem sendo ampliada e naturalizada por um capitalismo tipicamente
moderno e ocidental, constitutivo de relações políticas e culturais excludentes mantidas no
79
80
27
sistema contemporâneo. Nesse contexto, podemos ressaltar que existem outras formas de
exclusão como a econômica que polarizam a lei na direção do favorecimento daqueles que
detêm o poder.
Por outro lado, cabe destacar, quanto à temática da justiça social, o argumento de
Habermas81 exposto quando ele salienta que a existência das minorias inatas, a exemplo dos
bastos na Espanha, é invisibilizada pelo ideal liberal da autodeterminação (da defesa da
identidade):
83
84
“O modo de produção da vida material condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em
geral. Não é a consciência dos homens que determina seu ser, é o seu ser social, inversamente, determina sua
consciência.” Marx, K. Líneas fundamentales de la crítica de la economía política. Barcelona:
Crítica,1997.p.23.
29
próprio destruidor, que será o proletariado por conta da luta de classes, que segundo Marx, é o
que transformará a história da humanidade.
Muitos fatores concebem o capitalismo como um sistema negativo, juntamente com a
desigualdade e a diferença, a exploração do homem pelo homem, o que levou Marx a também
a desenvolver categorias relevantes para melhor compreensão desses fenômenos, tais como a
chamada “fetichização” de mercadoria, alienação, mais valia, a super-valorização da
propriedade, dentre outros. O principal fundador disso tudo é a força econômica desse sistema
que destrói todo o restante das atividades sociais. Por estas razões, quando Marx direciona os
seus estudos para a história com fundamentos na economia, sua visão é abordar as razões
originais da exploração, de modo que se possam apontar as raízes das desigualdades de sua
época. (BITTAR, Eduardo; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia do Direito. 2.
ed. São Paulo: Altas, 2002). A teoria marxista se consolida na discussão da sociedade de
classes e na crítica às contradições do modo de produção capitalista.
Marx argumenta que o capitalismo destrói a essência do trabalho, fazendo com que
este não seja uma atividade humana construtiva e plena, como deveria ser. Nesse sistema as
relações de produção trazem consigo dois pontos opostos: os detentores dos meios de
produção; e aqueles que vendem sua força de trabalho, são explorados ao extremo, tais como
os operários que trabalhavam por muitas horas e na maioria das vezes em situações precárias.
Dessa forma, uma pequena parcela da população, a burguesia, é dona dos meios de produção,
enquanto o proletariado, a fim de garantir a sua sobrevivência, é obrigado a vender a sua força
de trabalho em troca de um salário. Logo, a força de trabalho do proletariado é vendida e
comprada como qualquer mercadoria. O proletariado não vende sua força de trabalho apenas
porque assim o quer, como uma escolha feita, de forma livre e espontânea. Ele o faz por
necessidade, pois além de não possuir os meios de produção, não domina completamente o
processo de produção, visto que a burguesia toma esse conhecimento para si com o objetivo
de manutenção desse estado. O proletariado não está produzindo em seu próprio benefício e,
alienado de sua capacidade plena de sua produção, encontra-se também alienado de si
(MASCARO 2012, p.280).
O lugar de fala da teoria marxista é o trabalho humano digno voltado à igualdade e aos
direitos humanos fundamentais. Uma das grandes preocupações conferidas ao debate do
pensamento marxista foi o princípio da igualdade entre todos os indivíduos. Com a
implantação do capitalismo, esse princípio se tornou ainda mais difícil em se concretizar. Por
isso, Marx afirma que para ser materializada a igualdade seria necessário que houvesse uma
ditadura organizada provisoriamente pela classe do proletariado, para aí, posteriormente, o
30
sistema socialista ser utilizado na construção de uma sociedade com ideias e fins iguais. Para
Marx, o princípio da igualdade deve ocorrer através de uma construção jurídico-formal com
força normativa, genérica e abstrata, buscando estabelecer que todos sejam iguais perante
todos, sem qualquer distinção ou privilégio para alguns.
A concepção marxista dialoga com o Direito. 85 Nesse sentido, os fatores sociais e
econômicos influenciam inteiramente no âmbito do Direito para construção de uma teoria
jurídica da igualdade. Conforme, ainda, assevera: o Estado e o Direito são determinantes para
que perdure a divisão de classe na sociedade, e são definidos como superestruturas. A
infraestrutura compreende a área da religião, moral, educação, cultura, responsáveis pela
proteção e existência saudável do sistema econômico. Entretanto, essas superestruturas na
realidade não cumprem seu objetivo e são usadas como uma forma de dominação, alienando o
ser-humano, afastando a capacidade crítica; servindo apenas para acolher os interesses
daqueles que detêm o poder, os donos dos meios de produção e as necessidades da classe
dominante86.
A classe dominante, por meio do Estado, é quem legitima a relação de exploração e
dominação da classe proletariada, a partir da perspectiva da dominação/liberdade e igualdade,
Podemos afirmar que essa exploração é viabilizada pela aceitação de dominação do
proletariado e da sua condição de ser explorado. Essa ideologia é garantida pela restrição dos
direitos sociais como forma de forçar o indivíduo a aceitar as condições de trabalho que lhe
são oferecidas.
No que diz respeito à propriedade, que ajuda mais ainda a criar a desigualdade dentro
da sociedade, ela é uma grande forma de selecionar as pessoas. Pois não são todos os
85
Marx investiga profundamente a influência do Direito nesse sistema, em que apenas quem possui os meios de
produção são privilegiados, discutindo até o que é o próprio conceito de Direito: “O primeiro grande debate
reside em torno da própria noção do que é o direito para Marx e o marxismo, e sua intimidade ou distância com o
fenômeno estatal e, ao mesmo tempo, a intimidade ou distância de ambos com o próprio sistema capitalista.
Nesse sentido, levanta-se a grande corrente do debate soviético, que pioneiramente, a partir da Revolução Russa,
teve que tratar do fenômeno do direito estatal numa sociedade que buscava romper com o capitalismo.”
(MASCARO, Filosofia do Direito, p. 448).
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O Estado seria também uma instituição a serviço da classe dominante, pois além de se estruturar por modelo
jurídico é fonte criadora do Direito. A extinção das classes provocará, igualmente, a extinção do Estado.”
(NADER, Filosofia do Direito, 7. ed., p. 229). Marx acreditava que com a implantação da ditadura do
proletariado essas superestruturas poderiam ser excluídas, até mesmo o Direito, já que aqui ele não funcionada
de forma coerente, visando a atender a todos, ele não é um instrumento para se realizar a justiça. Marx investiga
profundamente a influência do Direito nesse sistema, em que apenas quem possui os meios de produção são
privilegiados, discutindo até o que é o próprio conceito de Direito: “O primeiro grande debate reside em torno da
própria noção do que é o direito para Marx e o marxismo, e sua intimidade ou distância com o fenômeno estatal
e, ao mesmo tempo, a intimidade ou distância de ambos com o próprio sistema capitalista. Nesse sentido,
levanta-se a grande corrente do debate soviético, que pioneiramente, a partir da Revolução Russa, teve que tratar
do fenômeno do direito estatal numa sociedade que buscava romper com o capitalismo. (MASCARO, Filosofia
do Direito, p. 448).
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indivíduos nesse sistema que podem usufruir desse bem, outra questão a ser discutida também
é o trabalho que se torna apenas mais uma mercadoria nesse meio; as massas populares
apenas vendem sua força de trabalho e, diante disso, geralmente aliena sua liberdade, seu
tempo de vida e, principalmente, sua dignidade, que atualmente é um dos fundamentais
princípios que deve ser defendido pelo Direito.
O antagonismo entre a propriedade privada e o princípio da igualdade se encontra na
lógica da dominação estatal do sistema capitalista. O Estado é composto por uma classe
burguesa e dominante que, para alcançar os seus interesses, utiliza o direito como instrumento
de manutenção do status quo na medida em que deixa de garantir os direitos sociais básicos
de todo cidadão e passa a defender os interesses particulares da classe dominante.
Por outro lado, Marx aponta a definição da Justiça como um conceito de conteúdo
fechado. Justo é aquilo que concorda com modo de produção e injusto é o que lhe contraria,
sendo o capitalismo um sistema em que a escravatura tão injusta quanto uma fraude na
qualidade da mercadoria. (MARX apud MASCARO, 2012, p.300). Como afirma Marx (2010,
p. 49) “O homem não existe em razão da lei, mas a lei existe em razão do homem, é a
existência humana, enquanto nas outras formas de estado o homem é a existência legal. Tal é
a diferença fundamental da democracia”.
Em suma, tem-se então, duas principais categorias fundamentais trabalhadas pela
teoria marxista: a luta de classes antagônicas e o materialismo dialético. Ressalte-se que este
seria, para Marx, o motor que move a sociedade tanto em seu constante processo de formação
como também de transformação e não um contrato social que separa o homem em seu estado
de natureza do estado civil. Segundo Marx, o Direito não é, portanto, fruto de um contrato
social como defendia John Locke ou a positivação dos direitos naturais, como apregoava a
filosofia moderna. Ele é fruto de um processo histórico gerado pelas relações sociais
provenientes das relações econômicas.
1.6 Ocupando espaços invisíveis: o grupo vulnerável das mulheres condenadas por
tráfico de drogas
Como verificamos a expressão cunhada por vulnerabilidade alcançou o debate
internacional não só em relação aos direitos humanos, bem como no que diz respeito ao
processo de efetivação/universalização e de reconhecimento dos direitos a determinados
indivíduos em situação de fragilidade, especialmente no que tange à dignidade humana. De
todo o estudo feito até aqui, podemos destacar que a condição de vulnerabilidade está atrelada
à identificação de práticas discriminadoras, desiguladades e exclusão social em relação a
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minorias ou grupos vulneráveis87. (Falar com o Luiz Otavio se é o caso de trazer 1 parágrafo,
p. 10.
As mulheres de um modo amplo sofrem discriminação, especiamente às que pertençam
a grupos minoritarios ou vulneráveis, podendo em muitas situações ser consideradas
particularmente marginalizadas. Em outros casos, além de terem acesso restrito ou negado aos
direitos e serviços, enfrentam outras limitações. A elas, muitas vezes, são negado ou limitado
o direito de cidadania independentemente da sua inclusão social, raça ou crença, entre outros.
Ainda mesmo aquelas não enquadradas a grupos estigmatizados, podem ser diferenciadas
negativamente, com represálias motivadas por questões culturais. A simples hipótese de lhes
ser facultada o direito de optar ou não pelo uso do sobrenome do marido é uma demonstração
de que, no mínimo, ainda remanesce uma discriminação sociocultural.
Em sua relevante obra Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity, Judith
Butler apresenta uma discussão sobre o sujeito do feminismo que viria a pautar a agenda da
teoria feminista a partir de então. O encontro entre política e vulnerabilidade é reconhecido
pela maior parte das concepções políticas contemporânea como um encontro não apenas pos-
sível, mas também necessário, especialmente pela teoria feminista. Nesse livro, o principal
ponto de Butler é o de formular uma crítica ao que chama de categoria da mulher universal,
uma identidade política que unificaria todas as mulheres em um agente coletivo. Ainda que
reconheça que essa categoria tenha cumprido um papel político importante na organização do
movimento feminista ao longo da história, Butler observa que a ficção da mulher universal
produz e silencia exclusões no interior do próprio movimento feminista, tais como
87
(CAYRES; CIDADE, 2015, p. 174).
88
Ao exercer concretamente a punibilidade, o Estado tem cerceado não somente a liberdade do cidadão/cidadã
das mulheres condenadas por tráfico de entorécentes, mas também outros direitos fundamentais não abrangidos
pela decisão condenatéora, tais como a: honra; privacidade; intimidade; liberdade sexual; saúde; educação;
assistência jurídica; alimentação; higiene pessoal. Estes são elementos que parecem invisíveis ao Estado, pois o
que se vivencia é um sistema longe de servir de instrumento que vise a ressocialização dos presos (ÁVILA;
SANTOS, 2017, p. 269). O total desrespeito dos direitos fundamentais é revelado de forma inequívoca no retrato
brasileiro do cárcere, e esta realidade é consideravelmente intensificada nas prisões de mulheres
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mulheres que acabam sendo encarceradas. A situação nacional de nosso sistema penal
brasileiro revela muito bem as fragilidades das políticas criminais e sociais no que concerne à
redução das desigualdades e ao fortalecimento da cidadania dessas mulheres.89
A problematização abordada no presente estudo visa a dar visibilidade a grande parcela
da sociedade muito estigmatizada, esquecida e em situação de extrema vulnerabilidade que
são as mulheres condenadas e pelo sistema de justiça brasileira. Nesse sentido, para melhor
compreensão do tema, seria preciso ir além das muralhas penitenciárias para se compreender
além do aprisionamento feminino, tendo em vista que a grande parte dessas mulheres
encontra-se submetida a um cenário de invisibilidade e descaso.
Assim, afigura-se muito importante a discussão sobre a indispensabilidade de análise
epistemológica feminista para uma verdadeira compreensão do cenário de vulnerabilidade
feminino vivenciado na atualidade. Embora não tenha sido abordado num primeiro momento
neste estudo, é certo que o fenômeno da vulnerabildade também adentrou aos muros da
criminologia por meio da sua vertente crítica, comprometida com a situação de
vulnerabilidade das mulheres, quando se busca compreender os processos sociais e históricos
que, em verdade, contribuem para a criminalização de determinada parcela das mulheres e os
critérios imprescindíveis da seletividade e do controle sociais, os quais caracterizam o sistema
de justiça criminal; sob tal matéria de extrema relvância nos ocuparemos mais adiante.
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