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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DE SÃO JOÃO DO IVAÍ, ESTADO DO PARANÁ.

PROCESSO Nº.: 0002397-04.2018.8.16.0156

PAULO CESAR GALVAO BUENO, devidamente qualificado nos autos do


processo em epígrafe, vem com humildade perante Vossa Excelência, por
intermédio de seu advogado dativo, com fundamento no art. 403, § 3º, do Código
de Processo Penal, apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

I – DA SÍNTESE FÁTICO-PROCESSUAL

Narra a exordial acusatória a seguinte conduta delitiva:

No dia 17 de dezembro de 2018, por volta das 23h04min, na Rua


Bruno Kurutz, n° 260, Centro, no Município de Lunardeli/PR, nesta
Comarca de São João do Ivaí/PR, o denunciado PAULO CÉSAR
GALVÃO BUENO, com consciência e vontade, ciente da ilicitude e
reprovabilidade de sua conduta, em desacordo com disposição legal
ou regulamentar, trazia consigo 01 (uma) porção da substância
conhecida vulgarmente como “crack”, pesando aproximadamente 0,1
gramas (um decigrama), além de manter em depósito em sua
residência outras 17 (dezessete) porções de substância entorpecente
vulgarmente conhecida como “cocaína”, que juntas pesaram 4,1 g
(quatro gramas e um decigrama), bem como 09 (nove) porções de
substância entorpecente conhecida como “maconha” fracionadas e
embaladas e 01 (um) tablete também da mesma substância, pesando
em sua totalidade 91,4 g (noventa e um gramas e quatro decigramas),
substâncias estas que contém em sua composição substâncias
entorpecentes capazes de causar dependência física e psíquica e tem
seu uso proscrito no Brasil, conforme Portaria SVS/MS nº 344/98 (cf.
Termo de depoimento dos policiais militares – fls. 05/10 e 36/38; termo
de depoimento da testemunha – fls. 47/48 e 51/54 e auto de
constatação provisória da droga - fls. 25/28 e auto de exibição e
apreensão - fls. 58/59).

O acusado foi preso em flagrante (evento 1.15), o Ministério Público


manifestou-se pela conversão da prisão em flagrante em prisão preventiva (evento
14.1).
A prisão em flagrante foi homologada e em seguida decretada a prisão
preventiva (eventos 11.1 e 17.1).
Na audiência de custódia, foi mantida a decisão de prisão preventiva (evento
46.1).
O Ministério Público ofereceu denúncia em face do acusado (evento 29.1),
que foi recebida em 24/01/2019 (evento 39.1).
Procedeu-se à notificação acusado (evento 44.1).
Este apresentou defesa preliminar (evento 55.1).
O Juízo, por entender estarem ausentes as situações descritas no art. 397 do
Código de Processo Penal, designou audiência de instrução (evento 62.1).
Em referida audiência, foram ouvidas as testemunhas de defesa (evento
106.1) e testemunhas arroladas na denúncia (evento 88.2, 106.1 e 165.2), bem como
se interrogou o acusado (evento 123.2).
Os autos foram com vista ao Ministério Público para alegações finais, por meio
de memoriais (CPP, art. 403, § 3º).
E após, este causídico foi intimado para apresentar alegações finais de
defesa.
Em síntese, são os fatos.
II - DO DIREITO

PRELIMINAR (do flagrante forjado – ilegalidade na obtenção da prova –


violação do domicilio).
Inicialmente, cabe lembrar que trata-se de ação criminal oriunda de flagrante
forjado, vez que o réu nega todos os fatos a ele imputado, narrando que a droga não
é dele, que foi colocada em sua residência pelo Policial Militar, não existindo outra
testemunha ocular de acusação, há não ser os Policiais Militares.
Todas as provas decorrentes, por conseguinte, foram contaminadas, eis que
advindas do mesmo centro de ilegalidade, qual seja: o flagrante forjado.
Os policiais militares alegaram terem agido em estado de flagrância, em
razão de avistarem de longe Paulo Cesar passando droga para outra pessoa, ocorre
Excelência, que sequer autuaram esta pessoa no momento da abordagem, pessoa
esta que seria testemunha chave de todo o ocorrido, deixando-a fugir.
O alegado estado de flagrância pelos Policiais Militares, restou prejudicado,
vez que violaram o domicilio do acusado, sem estarem munidos do devido mandado,
além de, não terem testemunhas aptas a atestarem que referido estado de flagrância
realmente existiu, ficando tão somente a palavra dos policiais contra as do acusado.
Nesse diapasão, todas as provas desta ação penal foram originadas
(‘derivadas’) do flagrante forjado citado, sendo por tanto inadmissíveis no processo,
nos termos do artigo 5º, LVI, da Constituição da República Federativa do Brasil.
Se a verdade processual há de ser obtida, esta não pode, contudo, ser obtida
em atropelo ao Estado Democrático de Direito, e em atropelo aos direitos e garantias
fundamentais dos cidadãos.
Assim, é de se observar que não apenas as provas obtidas ilicitamente são
vedadas pelo ordenamento jurídico brasileiro (interceptação telefônica sem
autorização judicial, por exemplo), como também as denominadas “provas ilícitas
por derivação”.
Destarte, impõe-se a questão: “valem as provas legalmente obtidas
seguindo-se as indicações dadas pelas ilegalmente conseguidas?” Em razão dessa
preparação previa, cada um desses pormenores é averiguado de maneira lícita
(como buscas, apreensões, inquirições, perícias etc.).
Se em virtude de uma interceptação telefônica sem autorização judicial, por
exemplo, forem levantados elementos que venham a permitir a realização de uma
prisão em flagrante, não há dúvidas: esta será ilegal.
Observe-se, outrossim, que se a prisão é manifestadamente ilegal, as provas
colhidas em confissão também são ilegais ou ilícitas, porquanto contaminadas pela
ilicitude do aprisionamento. Nesse sentido, Ada Pellegrini Grinover, em consonância
com a tese ora defendida, assim assentou em sua obra “A eficácia dos atos
processuais à luz da Constituição Federal” (RPGESP, 1992, n. 37, págs. 46/47):
“A Constituição brasileira toma posição firme, aparentemente
absoluta, no sentido da proibição de admissibilidade das provas
ilícitas. Mas, nesse ponto, é necessário levantar alguns aspectos:
quase todos os ordenamentos afastam a admissibilidade processual
das provas ilícitas. Mas ainda existem dois pontos de grande
divergência: o primeiro deles é o de se saber se inadmissível no
processo é somente a prova, obtida por meios ilícitos, ou se é
também inadmissível a prova, licitamente colhida, mas a cujo
conhecimento se chegou por intermédio da prova ilícita.
Imagine-se uma confissão extorquida sob tortura, na qual o acusado
ou indiciado indica o nome do comparsa ou da testemunha que,
ouvidos sem nenhuma coação, venham a corroborar aquele
depoimento.
Imagine-se uma interceptação telefônica clandestina, portanto ilícita,
pela qual se venham a conhecer circunstâncias que, licitamente
colhidas, levem à apuração dos fatos. Essas provas são ‘ilícitas por
derivação’, porque, em si mesmas lícitas, são oriundas e obtidas por
intermédio da ilícita. A jurisprudência norte-americana utilizou a
imagem dos frutos da árvore envenenada, que comunica o seu
veneno a todos os frutos (...)”.
A doutrina mais abalizada é também a posição do Supremo Tribunal Federal
que, antes mesmo do advento da Constituição Federal de 1988, já não admitia a
produção de provas ilícitas. Na vigência da atual Carta Política o Supremo Tribunal
Federal reafirmou a sua posição pela inadmissibilidade processual dos meios
probatórios ilícitos, com aplicação da teoria dos frutos da árvore venenosa, ou
envenenada, o que vem sendo seguido por toda a Doutrina e Jurisprudência pátrias,
como bem concretiza recente caso julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, a se
revelar como paradigma no cenário nacional, senão vejamos:
“RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.
ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. RECEPTAÇÃO. CRIME
PERMANENTE. FLAGRANTE. BUSCA E APREENSÃO EM
DOMICÍLIO. AUSÊNCIA DE MANDADO. EMBASAMENTO EM
DENÚNCIA ANÔNIMA. NECESSIDADE DE FUNDADAS RAZÕES.
ILICITUDE DAS PROVAS. NULIDADE DA AUDIÊNCIA DE
CUSTÓDIA REALIZADA POR MEIO DE VIDEOCONFERÊNCIA.
LAUDO PROVISÓRIO DE CONSTATAÇÃO DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE. NULIDADE. ALEGAÇÃO DE INIDONEIDADE
DOS POLICIAIS CIVIS QUE ELABORARAM O LAUDO.
REQUISITOS DA PRISÃO PREVENTIVA. QUESTÕES
SUPERADAS. PROVAS DECORRENTES DAQUELA OBTIDA POR
MEIO ILÍCITO. RECURSO PROVIDO. 1. É assente a jurisprudência
desta Corte Superior no sentido de que o tráfico ilícito de drogas é
delito permanente, protraindo-se no tempo o estado de flagrância. 2.
O ingresso da autoridade policial no domicílio para a realização de
busca e apreensão sem mandado, contudo, pressupõe a presença
de elementos seguros que evidenciem a prática ilícita. 3. Não se
admite que a autoridade policial apenas com base em delação
anônima, sem a produção de elementos capazes de evidenciar
fundadas suspeitas da prática delitiva, viole o direito constitucional à
inviolabilidade do domicílio, conduzindo à ilicitude da prova colhida,
bem como dela derivadas, nos termos do art. 157 do Código de
Processo Penal. 4. Considerando o nexo causal entre a prova
obtida por meio ilícito, que culminou na apreensão da droga
após a entrada desautorizada no domicílio do recorrente, e a
decretação da prisão preventiva, ficam superadas as discussões
quanto à ilegalidade da audiência de custódia realizada por
videoconferência, bem como a nulidade do laudo de
constatação preliminar e a decisão de prisão preventiva, pois
decorrentes da prova ilícita. 5. Recurso em habeas corpus
provido, a fim de anular as provas obtidas mediante busca e
apreensão domiciliar, bem como dela decorrentes,
determinando o seu desentranhamento dos autos, e a
revogação da prisão preventiva. (STJ - RHC: 105138 MS
2018/0296172-4, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de
Julgamento: 26/03/2019, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 10/04/2019).” (grifei)

As circunstâncias dos autos evidenciam a ocorrência de violação de


domicílio. Ingresso em residência alheia, sem mandado judicial, em período
noturno, e com base tão somente em informação anônima recebida pela
polícia, assim como, o suposto flagrante, que não teve seu precursor autuado,
para testemunhar acerca da veracidade dos fatos. A subsequente (e sempre
eventual) apreensão efetiva de drogas não é capaz de suprimir a ilicitude que
lhe antecedeu. A norma prevista no inciso XI do art. 5º da Constituição não
admite interpretação ampliativa de modo a viabilizar violações do domicílio, do
asilo, sem base constitucional. Deste modo, corolário lógico é a ilicitude da
prova, e, com sua inutilização, impõe-se a absolvição do acusado por ausência
de provas da existência do fato.
Em conclusão, não existe prova acusatória (documental ou testemunhal) do
flagrante que em tese permitiria aos Policiais Militares adentrarem a residência do
acusado no período noturno sem mandado judicial, assim como, somente resta a
palavra dos Policiais contra as do acusado, devendo prevalecer o “in dubio pro reo”.
Destarte, não há como negar que todas estas demais provas derivadas são
ilícitas por derivação. Ora, se tudo derivou, da árvore envenenada, não se impõe
outra solução que não a anulação de todos os atos processuais probatórios, com
desmembramento de todas as provas ilícitas colhidas, posto que todas as provas
vinculam-se a árvore envenenada da ilegalidade. Tudo o mais não passa de ‘fruto’,
também envenenado, devendo em virtude disso, todo o processo ser anulado. É o
que a defesa, preliminarmente, requer.

MÉRITO
Conforme informações dos autos percebe-se a ausência de qualquer prova
que o denunciado tinha a intenção de vender a droga apreendida no local do crime.
Em seu interrogatório, o denunciado é categórico ao afirmar que a droga não
era sua e que referido entorpecente foi “plantado” em sua residência pela Polícia.
Diante da insuficiência das provas, não há como imputar ao denunciado a
autoria pela prática de tráfico de drogas, de forma que, nos termos do art. 386, V e
VII do CPP, o juiz deverá absolve-lo.
Caso não seja este o entendimento do MM. Juízo, torna-se incontestável
então a necessidade de aplicação do princípio do “in dubio pro reo”, uma vez que
certa é a dúvida acerca da culpa a ele atribuída com relação à acusação de Tráfico
de Drogas.
Destarte, diante da insuficiência probatória, posto que a acusação não
conseguiu demonstrar que os fatos efetivamente ocorreram para que pudessem
imputar a prática delituosa ao denunciado, não conseguindo, consequentemente,
demonstrar que fora a conduta do denunciado que causou a lesão ao bem
juridicamente protegido, que ressai dos autos, a pretensão punitiva merece ser
julgada improcedente.
III - DA DOSIMETRIA DA PENA
De acordo com o art. 68, do Código Penal, a dosimetria da pena deve
respeitar o procedimento trifásico. Da análise das circunstâncias judiciais do
artigo 59, do Código Penal, verifica-se que todas são favoráveis ao acusado, não
havendo elementos nos autos para que se possa fazer um juízo valorativo objetivo
sobre a personalidade do acusado, razão pela qual a defesa pugna pela aplicação
da pena-base no mínimo legal.
O acusado não é reincidente especifico, vez que foi absolvido da acusação
de tráfico de drogas em outro processo, sendo condenado naqueles autos pelo crime
de receptação apenas, conforme vislumbra-se da certidão de antecedentes
acostada ao evento 166.1.
Não há óbice, portanto, de fixação da pena no mínimo legal, a qual poderá
ser cumprida em regime inicialmente semiaberto (art. 33, § 2º, alínea “b”, do CP),
permitindo, assim, caso necessário recurso, o acusado o faça em liberdade.
Por fim, pleiteia-se, ainda, a dispensa de dias-multa e custas, em razão da
hipossuficiência do acusado.
IV – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, a defesa técnica requer à Vossa Excelência:


1- O recebimento da presente peça de Alegações Finais, para que declare a
nulidade da presente ação penal, face aos elementos presentes nos autos de
flagrante, vez que a prova foi colhida de forma ilícita, sem o devido preparo judicial;
2- Absolver o denunciado, pela ausência de provas de que este concorreu
para a prática do crime, nos termos do art. 386, V do CPP;
3- Caso não seja este o entendimento, que seja absolvido por não existir
prova suficiente para a condenação, com base no art. 386, VII, do CPP;
4- Em atenção ao princípio da Ampla Defesa, em caso de condenação nas
penas dos artigos art. 33 da 11.343/2006, a fixação da pena no mínimo legal, por
ser o acusado não reincidente, afastando, ainda, o regime integralmente fechado
para cumprimento da pena;
5- Caso o Réu venha a ser condenado a pena não superior a 04 anos, requer
que seja convertida de privativa de liberdade para restritiva de direitos, pois todos os
outros requisitos do artigo 44 do Código Penal estão presentes a seu favor.
6- Por necessário, “ad argumentum”, caso Vossa Excelência entenda
pela condenação, requer que a pena seja fixada no mínimo legal e que o
denunciado possa apelar em liberdade nos termos do art. 283 do CPP, por
preencher os requisitos objetivos para tal benefício;
7- Pela gratuidade de justiça, com isenção de dias-multa e custas
processuais, por se tratar de hipossuficiente nos termos da lei.
Nestes termos, pede e aguarda deferimento.
Lunardelli-PR, 18 de novembro de 2019.

Oziel Maciel Moraes


OAB/PR – 93.786

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