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Estado Palestino

Perspectivas

Hugo Hortêncio de Aguiar

Sumário
1. Introdução. 2. Resumo histórico. 3. Ocu-
pação da Palestina: anomalias. 4. Uma pros-
pecção, sem o terrorismo. 5. Uma perspectiva,
com a situação atual. 6. Conclusão.

1. Introdução
Este resumo histórico, a seguir, contém
as idéias básicas já expostas em artigos an-
teriores nossos com relação à Palestina, mas
agora num enfoque mais amplo e conclusi-
vo, com a finalidade de adaptá-lo a uma
análise menos mística e mais realística da
situação política atual.
É claro que é praticamente impossível a
abstração dos enfoques bíblicos e místicos
quando relatamos episódios marcantes do
passado que tiveram como protagonistas
judeus, árabes e cristãos, representantes
autênticos das três grandes religiões mono-
teístas existentes.
À medida que o resumo vai tratando de
fatos mais atuais, o matiz político vai pre-
valecendo cada vez mais, embora certos tra-
ços básicos do misticismo desses persona-
gens da história mantenham sua posição
inabalável e, pelo contrário, sejam mais exar-
cebados no direcionamento das atividades
aparentemente ilógicas.
Queremos expressar, sem falsa modés-
tia, que todas as previsões que fizemos nos
Hugo Hortêncio de Aguiar é Coronel do artigos anteriores foram confirmadas, e so-
Exército reformado, professor e especialista bre isso faremos referências no decorrer do
em culturas eslavas e do Oriente Médio. trabalho.
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2. Resumo Histórico comerciais para as suas trocas, e nem se-
quer se cogitava da futura religião de
2.1. Períodos bíblicos
Maomé. Os cristãos, com Jesus de Nazaré,
O primeiro período trata da conquista passaram a marcar presença.
da Terra de Canaã pelos israelitas, pelas É importante ressaltar que, com a des-
armas, mas sob a inspiração monoteísta de truição do Templo e da cidade de Jerusalém
Moisés, cerca de 1250-1200 aC. Essa con- pelos romanos, que originou a segunda
quista perdurou até a tomada de Jerusalém Grande Diáspora (a primeira foi o exílio da
por David lá pelo ano 1010 aC, que a trans- Babilônia), os judeus concentraram suas
formou em capital do reino de Israel1. atividades em Iavné e muitos núcleos per-
Jerusalém, que adotara muito antes o maneceram na Palestina, estabelecendo-se
nome de Salém, depois Cidade de Jebus (ou na Galiléia pelo menos vinte e quatro gru-
dos Jebuseus), era agora a sede do Templo a pos de colonos, distribuídos pelas princi-
ser construído logo a seguir por Salomão, pais vilas e aldeias daquela região2.
no Monte Moria, que os judeus indicam Ao contrário do que seria esperado, o
como local em que Abraão iria sacrificar seu sacrifício imposto (cerca de 10.000 mortos
filho Isaac, em obediência a Javé, e como judeus, em apenas dois a três dias de resis-
prova de fé. Isso há cerca de 500 anos antes. tência) tornou-se um marco memorável na
Era o início da consagração da Esplanada história da Capital, que mais ainda fortale-
do Templo (ou Monte do Templo), que ca- ceu os vínculos dos expatriados com seu
racterizou durante longo período, e conti- Templo, e o anseio místico de retorno tor-
nua caracterizando até hoje, a base concre- nou-se ainda mais messiânico.
ta e o pilar da fé judaica, embora transferi-
da, mercê dos invasores, para o Muro das 2.2 Períodos medievais
Lamentações ou muro Ocidental, que pas- Com a divisão do Império Romano entre
sou a ser o local mais sagrado para o judaís- Ocidente (Roma) e Oriente (Bizâncio), em 395
mo. dC, a Palestina teve o grande contato com
Nesse primeiro período, dos três elemen- os cristãos, pois a transferência da tutela dos
tos cogitados neste estudo, judeus, árabes e romanos para os bizantinos foi automática.
cristãos, somente os primeiros eram habi- A colonização bizantina, apesar do gran-
tantes da região, junto com os cananeus, de impulso arquitetônico dado aos monu-
consistindo os segundos, os árabes, apenas mentos e templos sagrados do cristianismo,
em esparsos e raros descendentes de Isma- não foi muito profícua administrativamen-
el, unidos a arameus e hebreus, e vagando te, e as dissenções internas do império bi-
como nômades a leste do Jordão e mais ao zantino, assim como a guerra com a Pérsia,
sul, na Iduméia. Cristãos, só 1400 anos de- muito o enfraqueceram, de modo que não
pois, com os discípulos de Jesus. houve muita resistência à invasão árabe em
O segundo período bíblico coincide com 638 dC.
a invasão romana da Palestina, a partir de Ainda no período bizantino-cristão, con-
63 aC. Os israelitas, sob a etnia de judeus, tinuaram os judeus dispersos pela área,
galileus, samaritanos e idumeus, com pre- apesar de restrições impostas pelos cristãos
valência absoluta dos primeiros, constituí- orientais, e as populações se equilibraram
am a população real da área, embora hou- entre judeus e cristãos.
vesse contingentes vários, mas reduzidos, Na fase seguinte, de domínio árabe-mul-
deixados por outros conquistadores. Os ára- çumano, foi a primeira vez em que a popu-
bes apenas iniciavam, como caravaneiros, lação árabe prevaleceu, mas os judeus con-
as escaladas para o Norte, pelas trilhas da seguiram uma relativa paz, enquanto os cris-
atual Transjordânia, em busca de centros tãos praticamente deixaram de existir na

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área. Ressaltemos que nesse período, inici- que foram hostilizados pelos Cruzados.
ado em 638 dC, aconteceu realmente a pri- Pior ainda para os judeus, que foram perse-
meira invasão da palestina pelos árabes, que guidos por estes últimos.
mantinham boas relações e acordos com os Não podemos incluir os Cruzados no rol
judeus, ao contrário do que era relativo aos dos combatentes sob a bandeira do misti-
cristãos, cujos templos foram substituídos cismo, pois, embora o lema fosse religioso, a
por mesquitas árabes, particularmente a organização das cruzadas foi prevalente-
mesquita de Omar (Domo de La Roca) e a mente política.
Mesquita El Aqsa, na Esplanada, que pas- Após o término melancólico das Cruza-
saram a consagrar aquele patamar de Jeru- das, em 1291 dC, teve início um longo perí-
salém como o mais sagrado lugar mulçu- odo mulçumano. Em primeiro lugar, com os
mano da Palestina. mamelucos, cuja base era o Egito. Em segun-
A adoção de Jerusalém como capital do lugar, com os turco-otomanos, até o man-
mística foi tão intensa, que os árabes trans- dato britânico, depois da primeira Guerra
feriram para Ramle3 os órgãos administra- Mundial.
tivos do seu governo, para não macularem Apesar de professarem a mesma reli-
a nova Cidade Santa, que passaram a cha- gião, o islamismo, os árabes não tiraram
mar de Al Quds Al Shariff (o Venerável San- muito proveito desse ambiente favorável,
tuário). sendo o principal fator a limitação tecnoló-
As Cruzadas tiveram início em 1099 dC, gica.
e aconteceram alternâncias no domínio da Assim é que, exceto na fase árabe-mul-
Terra Santa (nome dado à Palestina) com çumana, de 638 dC-1099 dC, a população
Saladino (mulçumano) e mongóis até 1291, judaica equivalia à árabe, mesmo na fase
quando a última Cruzada, a oitava, aban- dos mamelucos e dos turcos.
donou Acre4, e teve início um longo período Quanto aos cristãos, com exceção do pe-
mulçumano. ríodo bizantino, estiveram em minoria, re-
Não devemos esquecer que a invasão presentados apenas em missões religiosas,
árabe-mulçumana de 638 dC, que antece- conventos e mosteiros e guarda de lugares
deu a primeira Cruzada, é o marco inicial santos.
da contagem de tempo para posse da Os judeus, pelo contrário, apresentaram
Palestina pelos árabes, 1900 anos depois uma evolução espantosa na Terra Santa.
dos israelitas (judeus) e 235 anos após os Com os mamelucos, o aumento de colonos
cristãos (bizantinos). judeus foi surpreendente, pois, com a expul-
A motivação dos judeus (israelitas) foi são da Espanha em 1492 dC, os “Sefaradim”
mística, em busca da Terra Prometida, e a (judeus espanhóis) imigraram todos para a
dos árabes, pela expansão, sob a bandeira Palestina, tornando-se o maior contingente
do Islã. Porém, ambas foram feitas pelas ar- de sua etnia naquela região.
mas. A primeira invasão cristã foi decorrên- Com os turco-otomanos, os judeus fize-
cia de uma mudança política, a dos bizanti- ram realizações de todo tipo5. Vamos enu-
nos, e a segunda (a primeira Cruzada) foi merar as principais: reconstrução de Tiberí-
pelas armas. ades; fundação de uma escola agrícola em
Essas considerações são essenciais para Mikvé; obras do barão de Rotschild; primei-
avaliação das atuais reivindicações por ju- ra Aliá6; colônias judaicas em Petakh Tikvá;
deus e palestinos sobre terras na Palestina, estabelecimento do idioma hebraico; segun-
uma vez que os cristãos ocidentais, compo- da Aliá; fundação do primeiro bairro da
nentes das Cruzadas, não tiveram resulta- Nova Jerusalém (a judaica); fundação de
do muito satisfatório contra os “infiéis”, Telaviv; fundação das primeiras aldeias
como eram considerados os mulçumanos, coletivas.

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2.3. Períodos modernos política nova, que seria tema para um estu-
do mais longo.
Assim, quando eclodiu a primeira Guer-
Contudo, num relance sintético, diría-
ra Mundial, antes de o Mandato Britânico
mos que, com a Alemanha derrotada e o re-
ser instalado na Palestina em 1920, com a
nomado Holocausto, houve uma pressão
expulsão dos turcos, os ingleses já encontra-
muito forte, imposta pelos países vitoriosos,
ram uma colonização judaica avançada na
para a efetivação da Declaração de Balfour
área, quando invadiram a Palestina em 1917.
de 1917, de um lar para os judeus, em que
A população crescia significativamente,
pese o fato de que muitas nações, não so-
e esse aumento foi maior ainda com a De-
mente algumas árabes, assinaram a resolu-
claração de Balfour, o término da Primeira
ção de 29 de novembro de 1947, da ONU,
Grande Guerra e as técnicas agrárias de ins-
criando um Estado de Israel, com muito pou-
piração socialista, que na ex-URSS fracas-
ca simpatia.
saram, mas que em Israel foram um sucesso
Com a efetivação da Resolução de 14-15
com os nossos conhecidos Moshavim e
de maio de 1948, pelos próprios judeus, os
Kibutzim e outros, embora Israel já tivesse
ingleses se retiraram da Palestina.
experiência desse tipo antes da Revolução
Os judeus foram forçados a montar, em
Russa. Até batalhões judaicos foram forma-
linhas gerais, a Eretz Israel (Terra de Israel)
dos e ajudaram os britânicos na luta contra
sobre uma partição de terras entre judeus e
os turcos. Esses combatentes judeus, com a
árabes que, realizada pelos ingleses no ano
derrota dos turcos, foram a base da Haga-
anterior, atendendo o aparente justo crité-
na, Força de Defesa de Israel.
rio ut possedetis, não atenderia no futuro nem
Como vimos, a Segunda grande Diáspo-
a judeus nem a árabes, pelos especiais as-
ra, se violentou o espírito místico dos judeus,
pectos da Palestina7. Nessa época, em 1948,
afastando-os dos seus lugares sagrados,
a população judaica era aproximadamente
proporcionou a assimilação de um grande
de 630.000 e a de árabes, 130.000.
número de tecnologias modernas dos vári-
Tão logo os ingleses se retiraram, o
os países em que estavam dispersos, parti-
Líbano, a Síria e o Iraque, a Jordânia e o Egi-
cularmente na Europa.
to invadiram Israel, ainda no ano de 1948.
Os árabes, na maioria campesinos, ca-
Os árabes, em esmagadora maioria nu-
rentes de uma técnica agrícola mais produ-
mérica, foram derrotados em todas as fren-
tiva, foram perdendo espaço para os colo-
nos judeus, o que motivou atritos entre ára- tes, nessa guerra que os judeus chamaram
bes e judeus, iniciados em 1921, repetidos em de “Libertação”, mas que não deu muito
1929 e intensificados em 1936-1939, nos dias lucro territorial aos judeus.
que precederam a Segunda Grande Guerra. Contudo, a libertação heróica da Nova
Mas houve muita resistência, tanto à co- Jerusalém (a judaica), da enorme pressão
operação militar dos judeus às forças ingle- árabe, que a fez se isolar do resto do país, foi
sas quanto à imigração dos judeus oriun- uma prova de resistência e sacrifício; mas a
dos da URSS (por causa dos “progroms”) e Cidade velha (intramuros) ficou nas mãos
da Alemanha. Muitos perseguidos pelos da Jordânia.
nazistas poderiam ter sido salvos se não A repartição de terras, proporcionada
houvesse restrições à imigração por parte pelo armistício do ano seguinte, 1949, con-
dos ingleses, que, num mea culpa tardio, firmando, em linhas gerais a demarcação
após a vitória dos aliados, apoiaram tudo anterior, de 1947, foi um erro de avaliação
em favor do Novo Estado de Israel. dos judeus, que só pode ser minimizado pelo
Com o aval internacional dado pela argumento da forte pressão internacional.
ONU à criação do Estado de Israel, teve iní- Assim, a Banda Ocidental (ou margem
cio um período na Palestina com feição Ocidental ou Cisjordânia) ficou sob admi-

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nistração da Jordânia, enquanto a Faixa de da Margem Ocidental (Cisjordânia) e da
Gaza ficou administrada pelo Egito. Faixa de Gaza.
A maior vitória dos judeus, mística e Com o aumento da área administrada,
política, foi ter sido reconhecido internacio- mesmo com a devolução do Sinai, a pressão
nalmente o Estado de Israel na Terra de aumentou muito na Cisjordânia contra os
Israel, o que trouxe para a relação árabe- colonos Palestinos, os assentamentos judai-
judaica um antagonismo definitivo. cos se multiplicaram e o número de palesti-
A ocupação efetiva da área que lhe foi nos desalojados chegou a centenas de mi-
destinada deu motivo a Israel para expul- lhares.
são de palestinos de cerca de 200 vilas ára-
bes situadas na área, o que deu início a um Guerra de 1973 (Iom Kipur)
ciclo de refugiados palestinos, que procura- Essa guerra pode ser considerada a últi-
ram refúgio nos países árabes periféricos. ma tentativa de árabes (Síria e Egito) enfren-
Embora esses distúrbios agrários entre tarem os judeus em operações de guerra con-
assentamentos árabes e judaicos já viessem vencional. Embora apanhados de sur-
de 1921, agora esses atritos iriam tomar uma presa, os judeus acabaram mesmo levando
forma política mais séria, pois, com a supe- a melhor mais uma vez, tendo havido muita
rioridade técnica e militar dos judeus, as divergência quanto aos resultados práticos.
expulsões de palestinos iriam se transfor- Sadat, presidente do Egito, aproveitou
mar, com o passar do tempo, num grave pro- habilmente um armistício para tirar frutos
blema futuro: os refugiados palestinos. políticos. Estabeleceu uma base sólida para
Em 1956, por ter Israel ficado ao lado da uma paz futura e permanente com Israel,
Inglaterra e da França nas pretensões des- tendo realizado poucos anos depois uma
ses dois países, traduzidas em força sobre o visita de paz a Jerusalém, que lhe valeu, jun-
canal, o Egito atacou Israel no Sinai, sendo tamente com Menahem Begin, Primeiro Mi-
repelido até as margens do canal de Suez. nistro de Israel, o Prêmio Nobel da Paz.
Forçados por pressão internacional Foi uma jogada política de mestre, com
(EEUU e URSS), os judeus se retiraram, em que os presidentes egípcios (inclusive o atu-
troca de uma Força Internacional na zona al) vêm mantendo uma linha de equilibris-
neutra, limite entre Israel e Egito. Essa Força tas virtuosos entre os dirigentes ocidentais
(Batalhão de Suez) abandonou a área, após e os interesses árabes. Quem não gostou
algum tempo, numa retirada um tanto me- nada foi o terrorista mulçumano, que, a par-
lancólica. tir de 1973, intensificou sensivelmente os
seus ataques contra Israel e ultimamente
Guerra dos Seis Dias (1967) contra o próprio Egito. Como todos sabe-
O estado de tensão, desde a oficializa- mos, o Egito, cuja etnia é árabe, é um país de
ção do Estado de Israel, vinha aumentando reconhecida tendência ocidental.
muito, traduzido em provocações mútuas
entre árabes e judeus. 3. Ocupação da Palestina: anomalias
Esse clima de hostilidade mútua termi-
nou com a Guerra de 1967 (mais conhecida Após a guerra de 1948, vencida pelos ju-
como Guerra dos Seis Dias), em que Israel, deus, e o armistício com os árabes em 1949,
numa ação vertiginosa e de surpresa, con- a Palestina assumiu praticamente a confi-
quistou o Sinai, unificou a Grande Jerusa- guração atual, distribuída entre judeus e pa-
lém, tomando a Cidade Velha da Jordânia, e lestinos.
ainda conquistou grande parte das Colinas É um painel tumultuado, anômalo e com
de Golan, na Síria, por motivo de seguran- distorções facilmente detectáveis, fruto do
ça. Paralelamente, assumiu o controle total que a terra representa: ponto de encontro do

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Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, do estrutural, vai se constituir num contraste
bíblico e do histórico, do religioso e do secu- insolúvel quando os contingentes popula-
lar, da tradição e da cultura (O Guia de Is- cionais de judeus e árabes atingirem um ní-
rael- Ed. 1972). E, acrescentamos nós, do vel mais alto, o que é esperado num prazo
místico e do racional. médio, com vistas à imigração.
São inúmeras as causas desse confuso – Os dois limites da área habitada são, a
conglomerado humano polifórmico; mas Oeste, a costa do Mar Mediterrâneo e, a Les-
vamos nos ater às mais expressivas, conti- te, a linha balizada pelo cume das alturas
das, explícita ou implicitamente, no nosso de Golan, pela margem Oriental Sul do lago
resumo histórico, particularmente aquelas de Genezaré, pelo Rio Jordão, o Mar Morto e
a partir da Invasão Britânica (1917), porque a baixada do Aravá. Entre essas duas linhas
são suficientes para a análise das nossas não há mais nenhuma outra de acidentes
projeções sobre o futuro das partes em con- naturais que possa definir uma fronteira
flito. entre Estados.
– Além dessas características negativas,
3.1. Causas Geográficas a área apresenta escassez de água doce, bai-
xa pluviosidade e irrisório índice higromé-
3.1.1. Físicas
trico, além de contrastes naturais notáveis.
O que chamamos de Palestina é a área Mais ainda: a pequena largura da parte cen-
de Eretz Israel (Terra de Israel), acrescida tral do território, comprimido entre as mon-
da Cisjordânia (Margem ou Banda Ociden- tanhas da Judéia e da Samaria, de um lado,
tal), da Faixa de Gaza e das Colinas de e o Mar Mediterrâneo, do outro, é de impor-
Golan, estas três últimas administradas por tância significativa para a análise do fluxo
Israel. das populações que ali se confrontam.
A Terra de Israel tem uma superfície de
20.700 km2, as outras três (Cisjordânia, Fai- 3.1.2. Humanas
xa de Gaza e Colinas de Golan) medem, res- Todas as deficiências apontadas vão
pectivamente, 5.878 km2, 363 km quadrados aumentar de valor quando referenciadas às
e 1.150 km2. No total, a superfície da Palesti- populações que habitam a área.
na é de 28.091 km2, ocupados por judeus, Os dados sobre população são aproxi-
árabes-palestinos e minorias (cristãos e ou- mados e não refletem realmente o mapa de-
tras). mográfico. Por exemplo: de acordo com as
Podemos logo concluir, à luz desses da- últimas pesquisas, o número de não-judeus
dos: está superando levemente o de judeus, em-
– A área da Palestina é mínima se com- bora possamos dizer, com a margem per-
pararmos com a dos países continentais centual de erros, que há uma razoável equi-
asiáticos; além disso, por ser um problema valência.

População hab/km2
Terra de Israel 5.000.000 (incluindo árabes assimilados, 248
cristãos e outras minorias)
Cisjordânia 2.800.000 (incluindo 250.000 judeus 474
assentados, cristãos e outras minorias)
Faixa de Gaza 1.300.000 (só árabe-palestinos, minorias 3.600
inexpressivas)
Golan 8.000 (quase todos “drusos”) 6,9

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Além desses índices demográficos cita- realização messiânica terrena com a cria-
dos, alguns preocupantes e com perspecti- ção de um reino soberano (o de Israel), na
vas de ficarem mais graves ainda, não deve- Terra de Israel, com a sua capital bíblica (Je-
mos esquecer que pela Palestina passaram, rusalém), sede do Templo, centro espiritual
como habitantes ou invasoras, mais de vin- e de comunicação com Javé.
te nações, deixando, em maior ou menor Essa tríade (Estado, Capital, Templo) é a
grau, alguma marca de seus traços cultu- base da fé dos judeus e das atitudes do seu
rais. povo e do seu governo.
Algumas dessas nações estão represen- Quanto aos árabes, queremos dizer que
tadas ainda por pequenos contingentes que, a sua motivação na ocupação da Palestina
somados aos habitantes atuais, já analisa- foi a sua expansão territorial com a bandei-
dos, formam um quebra-cabeça cultural de ra do Islã. O seu misticismo prendeu-se mais
complexa montagem. a Jerusalém, adotada como Cidade Sagra-
da, com os lugares sagrados na Esplanada,
3.2. Causas históricas símbolo místico da trajetória de Maomé.
São verificadas em todos os períodos his- Os cristãos em minoria flagrante na Ter-
tóricos, iniciando pelo nome “Palestina”. ra Santa, terão também a sua vez, como me-
Como é a “terra dos palestinos”, sabe- diadores, nas conclusões finais.
mos que é a tradução do termo grego “filis- Quando os ingleses invadiram a Pales-
teus” para o hebraico “pêlishtim” (sh=ch), tina, em 1917, encontraram uma avançada
que por sua vez é oriundo do verbo “pa- colonização judaica na área. Esse desenvol-
lasha”, que significa “invadir”. Assim, vimento foi surpreendente, com realizações
Palestina é, lexicamente, a Terra dos Inva- já citadas em parte no nosso resumo históri-
sores, mas não dos invasores israelenses e, co. Esse progresso foi tão marcante que so-
sim, dos filisteus. Os israelitas (depois, os mente o aumento da imigração, o estabele-
judeus) jamais aceitaram o nome Palestina cimento de núcleos agrícolas e o início de
para a sua Terra de Canaã ou Terra Prome- construção da Nova Jerusalém (futura Ca-
tida, transferindo o patrocínio da invasão a pital), tudo sob regime mulçumano dos tur-
um povo pagão e politeísta como o filisteu. co-otomanos, serviriam para caracterizar
Nem mesmo depois de oficializado o uma ocupação anormal, anômala. A ação
nome da região para Palestina (abreviação das organizações judaicas foi tão eficiente
de Síria-Palestina), pelo Imperador Roma- que, quando os ingleses chegaram, os judeus
no, Hadrianus, em 135 dC, foi aceito. Essa já estavam em condições de formar bata-
foi a primeira distorção, de caráter onomás- lhões combatentes, para ajudá-los na luta
tico, para a Palestina. contra os turcos. Com a expulsão dos turco-
2) Como afirmamos no início do presen- otomanos em 1918, com o fim da Primeira
te item três, embora tenha havido inúmeras Guerra Mundial, o apoio das nações à De-
causas de anomalias na ocupação da claração Balfour (um lar para os judeus) e a
Palestina em todos os períodos históricos, criação do Mandato Britânico em 1920, a
por uma questão de simplificação do estu- Palestina sofreu uma mudança radical em
do, vamos apenas considerar aquelas a par- sua vida política.
tir da invasão Britânica, em 1917, mesmo Durante o Mandato Britânico (1920-
porque são suficientes para o esclarecimen- 1948) os eventos mais influentes foram: Ter-
to das projeções futuras sobre as partes do ceira Imigração (Aliá III)-1920; fundação do
conflito. 1o Kibutz (Ein Jarod) e do 1o Moshav-1920;
Dos períodos anteriores, julgamos neces- fundação da Federação do Trabalho (His-
sário ressaltar apenas o misticismo judaico tradut) -1920; primeiros atritos árabes-judai-
com base no monoteísmo de Abraão e sua cos-1921; estabelecimento de um governo

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árabe na Transjordânia-1922; organização dos ingleses, foi anormal, irregular, anôma-
da Haganá (Força de Defesa de Israel)-1922; la e infeliz politicamente, como veremos a
novos atritos entre árabes e judeus – 1924 e seguir, apesar de ter sido, com algumas al-
1936–1939; início da Segunda Guerra Mun- terações, a base de todos os acordos futuros.
dial e do Holocausto-1939; desde 1935, li- Reconhecemos que da partilha de área,
mitação da imigração judaica e venda de quanto à população em 1947-1948 (625.000
terras; com a derrota da Alemanha-1945, judeus e 150.000 não judeus), até que foi fa-
pressão internacional para a efetivação da vorável aos não-judeus, mas a infiltração de
Declaração Balfour de 1917; divisão da Pa- assentamentos judaicos na área palestina
lestina entre Estados judeus e árabes-1947; já era um fato. Quando dissemos que a par-
fim do Mandato Britânico e Proclamação do tilha foi infeliz politicamente, queremos ex-
Estado de Israel-1948. pressar a idéia apenas de uma impossibili-
4) Pela simples leitura dos fatos aconte- dade de composição administrativa, pois na
cidos durante o Mandato Britânico, obser- Palestina nada pode dar muito certo, ao
vamos que quase todos os eventos favorece- contrário de outras partes do globo.
ram a intensificação da imigração judaica Na verdade, nem os Mandatários Britâ-
na Palestina, com exceção da legislação res- nicos podem ser responsabilizados, porque
tritiva para a entrada de judeus, e da venda o problema na Palestina é complexo e tal-
de terras, em função da pressão árabe. vez indecifrável, pois é conseqüência de
Essas restrições impediram que milhões eventos bíblicos e históricos, de fatores mís-
de judeus, fugindo do Holocausto, fossem ticos e racionais, que às vezes não se har-
salvos. monizam.
Os Mandatários Britânicos, com a der- 5) Era nossa intenção fazer uma descri-
rota da Alemanha e a pressão internacio- ção pormenorizada das linhas que definem
nal, num mea culpa tardio, procuraram se os territórios repartidos entre árabes e ju-
redimir desse erro. deus, porém teríamos que fazer referências
Já em 1947, propuseram à recém-criada a muitas localidades, com nomes árabes e
ONU a divisão da Palestina em dois Esta- hebraicos, de difícil localização.
dos: judeu e árabe, que motivou a resolução Ao invés disso, preferimos dar uma vi-
da ONU de 29 de novembro de 1947, autori- são de conjunto, fácil de acompanhar em
zando os judeus a tomarem, eles próprios, qualquer carta da região, ressaltando as prin-
as medidas para criação do Estado de Israel. cipais distorções na distribuição das áreas.
Reclamaram os árabes que os Mandatá- – A Cisjordânia (Banda ou Margem Oci-
rios Britânicos não teriam se definido muito dental) não é um conjunto geográfico único.
bem quanto à criação do estado árabe. Os Embora na parte Leste das alturas de
ingleses argumentaram que os árabes não Jerusalém a Belém, que são o centro do de-
queriam a criação de dois Estados: árabes e serto da Judéia e que descem abruptamente
judeu, pois isso significava o reconhecimen- para o Mar Morto, haja continuidade de área,
to tácito do Estado de Israel pelos próprios a Oeste dessa cordilheira, que é a parte mais
árabes – o que seria o maior desastre políti- desenvolvida, os dois conjuntos territoriais,
co para eles. Nisso estavam certos os Man- o do Norte e o do Sul, estão separados pela
datários, que, com uma partilha de terras Nova Jerusalém (a judaica), que é a ponta
aparentemente justa, com o critério de ut de uma verdadeira cunha da Terra de Isra-
possedetis, procuraram reparar os desacer- el, mas que, por sua vez, é asfixiada pelas
tos com os árabes. Essa distribuição de ter- bordas centrais dos dois conjuntos territori-
ras na Palestina, entre judeus e árabes, so- ais palestinos, o do Norte e o do Sul.
bre a qual vamos discorrer com mais por- Não citamos a Velha Cidade de Jerusa-
menores, embora aceitemos a boa intenção lém (a intramuros, a bíblica) porque, ao tem-

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po da realização da partilha, ela estava nas ambas as partes em conflito, com uma den-
mãos dos jordanianos. sidade demográfica simplesmente traumá-
Mas há uma contrapartida. Os dois con- tica que, por seu índice de pobreza, pode
juntos da Cisjordânia também se projetam explodir a qualquer momento.
para Oeste, comprimindo o território de – Quanto ao deserto do Sinai, pela relati-
Israel, na sua parte central, a mais estreita e va importância no objetivo do nosso tema, e
a mais desenvolvida, contra a costa do Me- as Colinas de Golan, serão citados apenas
diterrâneo, particularmente o conjunto Nor- quando for necessário.
te. Nas saliências do perímetro demarcató- 6) Em traços gerais, era essa a demarca-
rio, as distâncias são aproximadamente: em ção de 1947, antes que os ingleses se retiras-
Tulkarem (Tul Karm), 18 km de Netanya; sem em 1948, julgando a missão cumprida.
em Kalkilia (Qalqilyah), 15 km de Herzliyya Logo que esses deixaram o porto de Hai-
e 25 km do centro de Tel Aviv; em Kadhafa fa (Heifá, em hebraico), os países árabes (Lí-
(em frente a Modai’in), também cerca de 15 bano, Síria, Iraque, Jordânia e Egito) ataca-
km do Aeroporto Internacional de Lidda ram o recém-criado Estado de Israel, para
(Lod); em Emaús (Emwas), praticamente se destruí-lo. Era a guerra de 1948, que os ju-
confrontando com Latrun; e finalmente fa- deus chamaram de “Libertação”.
zendo limite entre a velha e a nova cidade A Guerra de 1948 não trouxe muitas van-
de Jerusalém, a rua dos Pára-quedistas, em tagens territoriais para os judeus.
frente ao Mosteiro de Notre Dame. Esse últi- Mas a grande vitória foi a liberação da
mo lance (abreviado para simplificação) é Nova Jerusalém (a judaica), que os comba-
um verdadeiro atentado à inteligência hu- tentes judeus conseguiram com imensos
mana, pelas implicações de todo tipo e pelo sacrifícios eliminando as resistências que
artificialismo da fronteira escolhida, tanto dominavam, das alturas as duas mais im-
para judeus quanto para árabes. portantes ligações terrestres entre a cidade
O conjunto Sul, que começa com a Cida- sitiada e a Terra de Israel – a autopista nú-
de velha (jordaniana), engloba a região de mero 1 e a ferrovia, as duas que permitiriam
Belém (Beit-Lehem - Bayt Lahm) e apresenta o recompletamento de pessoal e o ressupri-
logo de início nas alturas de Talpiot, Beit mento aos defensores da cidade.
Safafa e Beit Jala uma pressão direta sobre a Mesmo com a derrota das Forças inva-
ferrovia de Jerusalém (a judaica) para Tel soras em todas as frentes, a linha demar-
Aviv. catória pouca alteração sofreu, apesar das
Por ser mais distante da Costa Maríti- oscilações em conseqüência das inúme-
ma, o conjunto Sul só vai constituir ameaça ras incursões armadas. No entanto, a pior
a Beersheva, capital do deserto de Neguev, anomalia não foi eliminada – a Cidade
e como possível região de ligação com Gaza velha continuou separada da nova Jeru-
e também como acesso das incursões da fron- salém, e ficou com a Jordânia. Se no as-
teira Oeste a Jerusalém. Da saliência de Al pecto territorial não houve muita altera-
Dâhirya (mais ou menos 13 km da ponta), a ção, alguns eventos históricos seriam de-
demarcação inflete para Nordeste, passa cisivos para as atitudes futuras de ambas
entre Kamel e Arad e termina no Mar Morto, as partes em conflito.
a uns 6 km ao Norte de En-Gedi. Não conseguindo o objetivo maior de
– A Faixa de Gaza tem uma história lon- destruição de Israel (o Estado), os árabes fi-
ga para ser contada e sofreu influência con- zeram uma investida violenta contra a nova
siderável das lutas pelo Sinai, mas apresen- Jerusalém (a Capital dos judeus), que tam-
ta como características negativas principais: bém fracassou. Mas quanto ao Templo, ou o
ser excêntrica em relação à Cisjordânia e um que o simbolizava, os jordanianos fizeram
verdadeiro apêndice de difícil controle para a sua parte. Arrasaram o bairro judaico, des-

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truíram as sinagogas e impediram o acesso Reunificou a Grande Jerusalém, toman-
de judeus ao Muro das lamentações, o local do a Velha Cidade das mãos de jordania-
mais sagrado do judaísmo. nos, conquistou parte das alturas de Golan,
O tripé da fé judaica e de seu monolitis- na Síria (uma operação para segurança da
mo nacional (o Estado, a Capital e o Tem- fronteira Nordeste com aquele país) e assu-
plo) estava agora oscilando. Apesar de to- miu o controle total da Cisjordânia e da Fai-
dos esses percalços, o Estado de Israel assi- xa de Gaza.
nou, em 1949, um armistício com os países Não falamos do Sinai porque por três
árabes (exceto o Iraque), praticamente resta- vezes foi tomado do Egito e logo devolvido,
belecendo a situação anterior, com a dife- por pressões internacionais.
rença do desafogo da Nova Jerusalém. É claro que houve mudanças na linha
Parecia que Israel tinha cometido um erro demarcatória, principalmente em torno da
de avaliação, naturalmente minimizado Grande Jerusalém, com o controle das ele-
pela forte pressão internacional, agora mais vações a Oeste de Kiryat Hadassá, Beit Zayit,
interessada no petróleo. Motza e Mevasseret Zion; ao Norte, garan-
Porém, essas desvantagens judaicas fo- tindo o aeroporto de Jerusalém; a Leste
ram temporárias, embora a Cisjordânia fi- controlando Arata e El Azarye (Betânia), que
casse sob controle da Jordânia e a Faixa de estão fora do município; e ao Sul, englobando
Gaza, sob administração do Egito, indican- Sur Bahir, Umm Tuba e Ramat Rachel e ex-
do prazo não tão curto assim. cluindo Beit Jala. As ligações terrestres com
Contudo, os judeus tinham vencido em Tel Aviv foram completamente desafogadas.
todas as frentes e o moral da nação estava A esse tempo, a população da palestina
alto. era, aproximadamente, de 2.300.000 judeus,
Com a criação do Estado de Israel, e a 300.000 mulçumanos, 70.000 cristãos e
abolição das leis restritivas de imigração e 30.000 outras minorias.
de venda de terras, houve um grave proble- Com o sucesso operacional militar de
ma de espaço físico, com a imensa entrada 1967, os assentamentos judaicos na Cisjor-
de judeus de todos os cantos e o fácil acesso dânia multiplicaram-se, enquanto, na Fai-
para o árabe através da fronteira de 480 km xa de Gaza, foi moderada a expansão. Com
com a Jordânia. a Guerra de 1973 (Íon Kpur), ocorreu a últi-
Nem a Guerra do Sinai, em 1956, contra ma tentativa árabe (Egito e Síria) de guerra
o Egito, conseguiu deter a pressão demográ- convencional, resultando, para Síria, em
fica na Cisjordânia, com o conseqüente au- mais uma derrota em Golan e, para o Egito,
mento do número de atritos agrários e con- num armistício com Israel, com a pacifica-
flitos localizados. ção de suas fronteiras e efeitos políticos pro-
Na Terra de Israel, mais de duzentos as- mocionais para os dois Chefes de estado.
sentamentos palestinos foram evacuados à Essa paz com o Egito foi um fator mar-
força, o que, juntamente com a invasão de cante na decisão unilateral de Israel em eva-
assentamentos judaicos na Cisjordânia, deu cuar os assentamentos judaicos da Faixa de
início a um grave problema social que se gaza, ficando, porém, com o controle do es-
tornaria um pesadelo para ambas as partes paço aéreo, da costa marítima e da fronteira
em conflito e também para os países árabes terrestre.
periféricos: o dos refugiados palestinos. A Na atual conjuntura, o número de assen-
tensão chegou a tal ponto, com os atritos e tamentos judaicos na Cisjordânia ultrapas-
as provocações mútuas, que, em junho de sa uma centena, contando os organizados e
1967, Israel atacou de surpresa em todas as os em acabamento, atendendo naturalmen-
frentes, na chamada Guerra dos Seis Dias, te a interesses econômico-sociais e também,
num ataque fulminante: acima de tudo, a problemas de segurança.

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A opção pelo terrorismo, que na verdade ticos que atende, e pela antevisão de uma
já fora decidida muito antes após a Guerra paz duradoura numa região conflitada;
de Íon Kipur (1973), deu alerta aos extre- 2) Indicação de um razoável grau de
mistas palestinos para a intensificação do maturidade política da maioria de parla-
terrorismo, que passou a incluir como alvos mentares judeus, aceitando um Estado não-
até países árabes discordantes desse tipo de judeu na Terra prometida e, com mais des-
luta, como o Egito e a Arábia Saudita. taque ainda, de uma expressiva parcela da
Somente mais uma informação impor- comunidade árabe, reconhecendo, em con-
tante, antes de passarmos ao item número 4 seqüência lógica, a existência do estado de
– Uma projeção para o Estado palestino sem Israel, cuja destruição fora sempre o objeti-
o terrorismo: vo primeiro das incursões armadas dos pa-
O muro construído por Israel (que mui- íses árabes periféricos;
tas pessoas comparam emocionalmente com 3) O desejo sincero de setores expressi-
o antigo muro de Berlim) tem funções espe- vos das populações árabe e judaica alme-
cíficas: jando o fim de tantas mortes de inocentes,
– suprir a inexistência de uma fronteira especialmente crianças e mulheres;
natural; 4) O apoio moral e material dos países
– facilitar o controle por Postos de Con- industrializados, particularmente das demo-
trole na estrutura; cracias ocidentais, que se empenham na
– regular a circulação de trabalhadores busca de uma paz duradoura na região,
pelos portões de Controle; mesmo que, prioritariamente por seus pró-
– reforçar a segurança nas áreas de fácil prios interesses econômico-políticos.
acesso a incursões terroristas, em combina- 5) A defesa de uma idéia irrefutável, que
ção com a localização de assentamentos. é neutralização do terrorismo, se não a sua
As cartas não mostram essa calculada eliminação, pelo menos na área de respon-
distribuição de assentamentos, mas não é sabilidade de judeus e palestinos;
necessária muita perspicácia para imaginá- 6) A evacuação dos assentamentos ju-
los mais concentrados nas saliências, antes daicos da Faixa de Gaza pela decisão uni-
citadas no item 3 deste artigo, e principal- lateral do governo de Israel que, “aparente-
mente em torno da grande Jerusalém, como mente”, dá um grande passo pela paz, ape-
presença básica contra incursões terroris- sar de dolorosos sacrifícios dos assentados
tas e também contra assentamentos, sensí- e forte oposição, embora minoritária, de se-
veis para quem vive na Palestina, entende tores da sociedade judaica.
de segurança e avalia estatisticamente qual 7) A possibilidade de concessões mútu-
o saldo compensador entre acertos e erros as para a formação de um Estado Palestino,
cometidos, para medidas tão contundentes alterando assentamentos da Cisjordânia,
e de impacto psicossocial negativo. contanto que sejam evitados deslocamentos
Eis aí, em linhas gerais, a situação da radicais e, acima de tudo, que seja preserva-
palestina hoje. da a segurança em toda a área, mesmo na
Os enfoques foram objetivos e suficien- previsão de mudança na liderança política
tes para uma análise das propostas de cria- palestina.
ção de um Estado Palestino.
b. Fatores contrários a essa proposta:
4. Uma projeção sem o terrorismo Antes de enumerarmos os principais fa-
tores, queremos esclarecer que a expressão
a. Fatores que favorecem:
“sem terrorismo” não significa exatamente
1) É uma projeção aceita pela opinião a sua eliminação ou a destruição total de
pública mundial, pelos aspectos humanís- seus seguidores. Visa a prever um controle

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efetivo de suas atividades ou mesmo uma 7) Ressaltamos o grave problema de as-
cessação de hostilidades contra os judeus sentamentos judaicos na Cisjordânia, do
por um prazo bastante longo, que permita muro construído e a ser construído, esses
aos dirigentes do atual governo provisório dois problemas interligados por questões de
palestino estruturar os elementos necessá- segurança; e como agir com a ameaça futu-
rios ao suporte de suas decisões. ra do “apêndice” Faixa de Gaza, que já atin-
Enumeração dos fatores contrários a essa giu um índice demográfico traumático
projeção (3.600 h/km2), ideal para o treinamento do
1) O terrorismo na Palestina, como em terrorismo.
todas as partes do mundo, não é uma ativi-
dade isolada com limites demarcados de atu- 5. Um Estado palestino
ação territorial. Ele pertence a um movimento com a situação atual
de grande amplitude internacional. Em pou-
a. Fatores favoráveis
cas palavras, o terrorismo está globalizado.
2) Ele defende a sua atitude extremada 1) Francamente falando, não detectamos
por um objetivo político bem definido, a des- nenhum fator favorável à instalação de um
truição do estado de Israel – símbolo da luta Estado palestino na situação atual. Somos
tradicional das lideranças árabes-mulçuma- da opinião que Israel não concordará com a
nas, que transitoriamente toleram a convi- proposta enquanto o terrorismo não estiver
vência com o vizinho judeu, por força das sob controle, qualquer que seja a pressão
derrotas militares, da pressão internacional internacional.
e de conveniências políticas imediatas. 2) Talvez a ocorrência de um grave even-
3) Esse objetivo da luta armada terroris- to político internacional não previsto, parti-
ta, atingido, abre caminho para o verdadei- cularmente no Oriente Médio, possa alterar
ro ideal de um Estado Islâmico na Palestina a situação interna na Palestina. Juntamos a
integrado ao pan-islamismo asiático. Já nes- isso a preparação militar da milícia palesti-
se segundo lance, convém detectar as pri- na, realizada com o apoio material do Oci-
meiras dissensões na comunidade árabe dente, que pode dar a Mahmoud Abbas o
internacional. reforço de liderança necessário. Lembramos
4) A fragilidade da liderança política ci- que a vinda de “especialistas” nessa tarefa
vil (ou secular) palestina8, herdada dos dias pode caracterizar a força palestina como
de Arafat, que já caracterizamos em artigo “estrangeira”, e as conseqüências nós já
anterior como um dos mais fortes antago- conhecemos.
nismos, visando à solução do conflito. 3) Quanto à evacuação dos assentamen-
5) O recrutamento para as hostes terro- tos judaicos da Faixa de Gaza, que a im-
ristas facilitado pelas condições de vida dos prensa internacional julgou uma iniciativa
palestinos desocupados e “urbanizados” do governo de Israel para a paz, somos de
(50% de desemprego em Gaza), e cuja ten- opinião contrária. Foi uma jogada de mes-
dência é o aumento da pressão demográfi- tre de Ariel Sharon. Sabendo que, superfici-
ca, com a entrada de imigrantes, livre com a almente, iria colher os efeitos promocionais
instalação do Estado palestino. de sua decisão, o Primeiro Ministro de Isra-
6) As dificuldades de acordos nas fron- el, com uma cirurgia rápida, porém doloro-
teiras, de controle do espaço aéreo, de circu- sa, realizou o transplante de um apêndice
lação terrestre, de fiscalização da costa ma- prestes a “supurar” para o organismo polí-
rítima, de entrada de imigrantes judeus (olim tico e operacional de Mahmoud Abbas, que
hadashim) e de refugiados palestinos (deve passou a ter uma responsabilidade enorme
haver uma limitação, com oposição genera- em suas mãos; além desse efeito, Israel vê-se
lizada no mundo e na periferia árabe). livre de problemas de segurança a distân-

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cia, como também de gastos enormes, além to Norte da Cisjordânia em Emwas (Emaús),
da desvinculação de Israel com 1.300.000 confrontando Latrun, fica debruçada sobre
palestinos. Os técnicos militares devem a autopista numero 1, de Jerusalém a Tel
acrescentar mais uma previsão: com as pro- Aviv, que pode ser danificada a qualquer
váveis ações terroristas em prazo não muito momento se o muro retificador não for con-
longo, as retaliações de Israel serão mais cluído logo; o mesmo poderíamos dizer com
ousadas e diversificadas, pois que não há relação a Beit Jala e à via férrea de Battir,
mais judeus na área. mas ali as medidas todas já foram tomadas;
e assim por diante;
b. Fatores contrários 4) Um evento muito curioso foi a decla-
Podemos afirmar que todos os fatores ração de Mahmoud Abbas, expressando
citados (subitem 4.b) contrários à hipótese que ele não poderia imaginar um Estado
de um Estado Palestino sem terrorismo po- Palestino sem Jerusalém (A Velha Cidade)
dem ser válidos para a situação atual, em como capital. Em parte ele tem razão, por-
que o terrorismo atua segundo as suas ava- que qualquer Estado Palestino precisa de
liações políticas e não de acordo com o Go- um símbolo místico como capital. Por outro
verno Provisório Palestino. lado, essa declaração foi um descrédito
O que podemos fazer é acrescentar algu- muito grande num Estado Palestino, pois é
mas situações e eventos que vão agravar uma hipótese que está fora de cogitação
ainda mais a relação judaico-palestina. para o povo e o governo judaicos.
1) Além das preocupações constantes do 5) Deixamos para o final o maior fator
subitem 4.b.6, na presente perspectiva de um contrário à criação do Estado Palestino na
Estado Palestino na situação atual, tudo situação atual, isto é, com o terrorismo sem
aumenta de gravidade, pois há pontos críti- controle. Com os dois Estados, Israel e
cos9 que vão exigir medidas imediatas e con- Palestina, separados pela atual fronteira,
juntos de assentamentos não cercados por murada ou não, é uma fronteira política se-
muros e assentamentos isolados, que, pela parando dois Estados soberanos.
insegurança vão se tornar insustentáveis. 6) Na hipótese de ocorrência de qualquer
2) O controle do espaço aéreo torna-se atentado terrorista em território israelense,
muito difícil para Israel, devido à situação os terroristas só poderão ser perseguidos até
da Grande Jerusalém, que pode ser facilmen- a fronteira. A entrada de força de Israel no
te atingida por qualquer avião de pequeno território Palestino é um ato de guerra. Bas-
porte ou mesmo helicóptero partindo de ta essa hipótese para a não aceitação de um
dentro da Cisjordânia. Como a aeronave vai Estado Palestino, sem controle do terror. Esse
percorrer a maior parte (quase a totalidade) argumento pode ser estendido para o espaço
do espaço aéreo dentro de suas próprias aéreo. Infelizmente, não há possibilidade para
fronteiras, vai surgir de repente em frente ao esse acordo nas atuais circunstâncias.
Centro Governamental, por exemplo, se en-
trar pelo corredor aéreo de Bait Zaiyt ou 6. Conclusão
Mozza, o que será de problemática interdi-
ção. Quando os pequenos mísseis “ar-ter- Tudo teve início, realmente, com a con-
ra” estiverem à disposição dos terroristas quista da Terra de Canaã, pelos israelitas,
palestinos, tanto essa hipótese como cente- cerca de 1200-1250 aC, sob a liderança de
nas delas semelhantes vão dar dor de cabe- Josué (Moisés tinha morrido) e sob a inspi-
ça à segurança de Israel. ração monoteísta de Abraão, que recebera
3) Não vamos citar os problemas em to- do Senhor a promessa de uma Terra para
dos os pontos críticos, pois não caberiam seu povo, sendo chamada então de Terra
nesse artigo; mas a saliência de um conjun- Prometida.

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A discussão sobre essa conquista, que çumano, como aconteceu no governo turco-
foi feita pelas armas, mas com uma conota- otomano, de 1516-1917.
ção mística, tem proporcionado respostas A união desses três fatores – a resistên-
controversas, por observadores diferentes, cia heróica dos que ficaram, a esperança
com a conclusão de que é impossível a men- messiânica de retorno dos exilados e a ca-
suração de realizações histórico-bíblicas, pacidade de liderança das Organizações Sio-
impregnadas de misticismo, com instrumen- nistas – deu em conseqüência uma Força de
tal puramente material e racional. Defesa de Israel (a Haganá, depois, Tzahal)
Para os judeus, é uma verdade histórica que venceu todas as guerras contra os vizi-
sob inspiração divina e fora de discussão. nhos árabes, muito superiores em número.
Foi com essa motivação que David, mais Além disso, vamos ressaltar um aspecto
ou menos em 1010 aC, tomou dos Jebuseus que pouco tem sido comentado pelos ana-
sua capital (antiga Salém, de Melquizedec) listas.
e a chamou de Jerusalém, fundando logo Os judeus, quando retornavam à Pales-
após o reino de Israel. O Templo foi constru- tina dos países da dispersão, traziam, além
ído por Salomão, por ordem de seu pai dos conhecimentos adquiridos (especial-
David, logo em seguida. mente da Europa), contribuição financeira
Essa tríade – Reino de Israel, com Jeru- dos Fundos Judaicos, dos exilados que não
salém como Capital sede do Templo, centro podiam voltar, em um movimento imigrató-
espiritual – é, com base no monoteísmo, o rio (Aliá) da periferia (forçando a palavra)
sustentáculo da fé judaica bem como da para um ponto único, em que concentravam
unidade nacional do povo judeu. os esforços: era um movimento “centrípe-
O caro leitor não pode, a partir de agora, to”, para a Terra prometida (a Palestina),
perder de vista esse trio místico-político (Es- que dava à nação judaica uma capacidade
tado–Capital–Templo), que preside todas as de luta fora do comum.
atitudes do povo e do governo de Israel. 2) Os cristãos foram conhecidos, histori-
1) Sofrendo tudo o que um povo pode camente, em três fases. Primeira – o ministé-
sofrer durante milênios, para manter a es- rio e a morte de Jesus de Nazaré. Eram qua-
perança de uma Terra Prometida, da qual se todos judeus; foram perseguidos e expul-
várias vezes foi afastado à força, o povo ju- sos da palestina pelos próprios judeus fari-
deu soube manter no exílio a visão messiâ- seus. Segunda – sob a etnia mista de “bi-
nica do retorno e, quando isso aconteceu zantinos”, recebendo a Palestina como he-
para a Terra de Israel, com a criação do Es- rança política dos romanos, tendo reforma-
tado de Israel em 1948, lá encontrou uma do Jerusalém, substituído templos e monu-
colonização de seus compatriotas bem es- mentos romanos por igrejas e símbolos cris-
truturada, composta de comunidades e as- tãos. E terceira – durante as Cruzadas, como
sentamentos, que só se desenvolveu vencen- representações religiosas, mas nunca como
do todo tipo de obstáculo. nação em busca de uma pátria, pois eram
Os judeus da dispersão jamais esquece- uma congregação de várias etnias.
ram sua pátria, tendo trazido dos países 3) Os árabes e mulçumanos, na sua ex-
onde estavam dispersos uma enorme varie- pansão, fizeram um movimento contrário ao
dade de tecnologias, tanto das ciências em dos judeus – centrífugo, da Península Ará-
geral como da indústria agrária. bica para regiões distantes do globo –, não
Juntemos a isso a capacidade de organi- levando um sentimento de procura de pá-
zação das Entidades de direção política, tra- tria prometida, mas o misticismo da difu-
balhista e de apoio social e compreendere- são do Islam.
mos o sucesso de toda colonização judaica, Sofreram uma dispersão com as terras
mesmo durante períodos de domínio mul- conquistadas e não tinham idéia de retorno

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para a sua região de origem, onde ficaram mou a superioridade militar de Israel sobre
na lembrança as cidades sagradas de Meca os árabes e produziu logo a seguir, em 1949,
e Medina. mediante acordo, a distribuição oficial da
Não podendo competir com as falanges Palestina entre as etnias árabes e judaica,
árabes poderosas que conquistaram a Síria, que tanta perturbação tem causado até hoje.
o Iraque e o Egito, o reduzido contingente Com a Guerra dos Seis Dias (junho de
que se apossou de Jerusalém e de toda a 1967), Israel assumiu o controle de tudo
Palestina, procurou pelo menos, não ficar (Cisjordânia, Gaza, Golan – segurança – e o
ofuscado com a projeção política e cultural êxodo palestino chegou ao máximo). Com a
das três capitais sedes das dinastias: Da- última tentativa em 1973 (Guerra do Iom
masco, Bagdá e Cairo. Kipur), os palestinos intensificaram o terro-
Esse contingente árabe-mulçumano, no- rismo, que já havia sido escolhido como for-
tando que era preciso um valor mais alto, ma de combate alguns anos antes.
um símbolo místico, que simbolizasse a co- A configuração geral da fronteira entre
munidade árabe periférica, transformou as duas facções em luta permanente e a pre-
Jerusalém em cidade sagrada (Al Quds, Al cariedade de seu traçado já foram com bas-
Shariff), o Venerável Santuário. A inspira- tantes pormenores esboçados no nosso item
ção foi fácil de achar, pois uma tradição 3, e as perspectivas de criação de um Estado
paralela propagava a ascensão de Maomé Palestino, nos itens 4 e 5.
ao céu, partindo de um local na antiga Es- Podemos resumir toda a conclusão ana-
planada. Destruídos os Templos cristãos, lítica do tema tratado no seguinte:
bizantinos, foram construídas as mesquitas 4) A criação do Estado de Israel, reco-
de Omar e Al Aqsa e, sob a primeira, o Domo nhecido pela ONU, é irrevogável, segundo
de La Roca. o pensamento judaico;
Para não macularem o misticismo da – A capital em Jerusalém é o segundo
nova capital, transferiram os órgãos da ad- elemento fundamental, final de todo o ideá-
ministração para Ramle. rio bíblico que tem início com a antiga Salém.
Os árabes não demonstraram muita ca- Sua divisão em Nova Jerusalém (a Judaica) e
pacidade administrativa, não somente no a Cidade Velha (intramuros, a Sagrada) é in-
período de seu domínio como nos governos conciliável, pela recordação contundente da
muçulmanos que se seguiram depois da al- destruição do bairro judaico e de suas sina-
ternada troca de poderes durante as Cruza- gogas e do impedimento aos judeus de aces-
das. so ao Muro das Lamentações (ou Ocidental).
Sua cultura era reconhecidamente orna- – A concepção mística e a aceitação men-
mental (artes, filosofias, literatura), em que tal do Muro das Lamentações como “3o Tem-
realmente brilharam em todo o Oriente Mé- plo”, que alguns analistas não-judeus discu-
dio. Mas nas tecnologias, principalmente no tem, é assunto para um artigo completo, que
desenvolvimento agrário, eram limitados. E não caberia nesta conclusão. No entanto, ali-
isso foi fundamental para os futuros atritos nharemos as seguintes causas que justificam:
com os judeus. Quando eclodiu a guerra de – históricas: não foram os árabes que
1948, vencida por Israel, não somente o su- destruíram o 2o Templo, e, sim, os romanos;
porte operacional militar, mas a flagrante – políticas: qualquer mudança arquite-
superioridade judaica numa política de pro- tônica na Esplanada seria, para a comuni-
dução agrária foram decisivos para a fuga dade árabe, uma agressão mística com efei-
de palestinos. O número aproximado de ju- tos irreversíveis;
deus era de 630.000 e de muçulmanos, – além dos benefícios turísticos, o mo-
130.000 nessa “Guerra de Libertação”, que mento é de conciliação em determinados
teve dois efeitos essenciais na Palestina: afir- aspectos.

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5) Há certos aspectos essenciais nessa do apoio material e diplomático das demo-
análise, que têm que ser ressaltados: cracias ocidentais, que se empenhariam jun-
– a situação dos 250.000 assentados na to com países árabes moderados para o con-
Cisjordânia, que ficarão sem segurança quan- vencimento da comunidade árabe, em ge-
do Israel perder o controle político da área; ral, da inutilidade da continuação do terro-
– a construção de um muro para defini- rismo na Palestina, tirando qualquer pers-
ção de uma fronteira, com todas as implica- pectiva de paz naquela região;
ções de efeito internacional, de retificação – uma firme decisão da liderança religi-
obrigatória de pontos críticos, da defesa pro- osa islâmica, fundamentalista (tanto sunita
blemática da Grande Jerusalém; quanto xiita), nos meios de comunicação e
– a possível reação de Israel a incursões nas mesquitas, convencendo a grande e fiel
terroristas partindo da Faixa de Gaza, que comunidade árabe – muçulmana, ainda em
será provavelmente uma base segura para maioria – que a doutrina de Maomé não
essas ações, sem o controle judaico do espa- admite e condena essas ações de violência
ço aéreo, da costa marítima e das fronteiras que estão matando preferentemente inocen-
terrestres. Há previsão de pressão demográ- tes árabes-muçulmanos.
fica pelo aumento de refugiados; facilidade Mas para isso, como já dissemos em arti-
de recrutamento para o terrorismo, pelo de- go anterior, é necessário que os líderes reli-
semprego e pela pobreza da área; giosos, os guardadores fiéis dos ensinamen-
– com a criação de um Estado Palestino, tos da mais pura essência moral, não dei-
a fronteira terrestre (com muro ou sem muro) xem que sejam adulterados os textos do Co-
é uma fronteira “política” entre dois Esta- rão.
dos soberanos. A perseguição e a retaliação Urge, com personalidade, enfrentarem os
da tropa israelense terminam na fronteira, mandantes terroristas, que estão utilizando
porque a sua transposição por tropa de Is- o Islã para a criação de uma imagem de “Guer-
rael será um ato de guerra, e as conseqüên- ra Santa” ou de “civilizações”, cujo desfecho
cias, imprevisíveis. pode ser uma ameaça maior à humanidade.
6) Por isso, as hipóteses de criação de Julgamos que o papel da liderança islâ-
um Estado Palestino, poderiam ser resumi- mica conservadora é fundamental no com-
das nas seguintes: 1a) com o terrorismo, na bate ao terrorismo, papel que só pode ser
situação atual; 2a) sem o terrorismo. assumido com mudanças de atitudes, que
Para a primeira hipótese, a nossa pers- só serão efetivas se reformuladas com a von-
pectiva é de possibilidade zero. Não acredi- tade firme e o desejo sincero de melhorar o
tamos que Israel concorde, mesmo sob forte tumultuado ambiente global.
pressão internacional. Os judeus “aparentemente” deram um
Para a segunda hipótese, que podemos passo a frente, com a iniciativa unilateral
prever também com a nuance de “terrorismo de abandonar a Faixa de Gaza. Também
sob controle”, admitimos uma tênue possi- sabemos que há um contingente expressivo
bilidade, que poderia adquirir consistência da “nova geração” com pensamento menos
com a conjunção dos seguintes fatores: radical e até mais flexível para solução dos
– um evento inesperado aleatório, nos problemas, o que já é considerado um obs-
campos militar, político, ou em outro cam- táculo para o pessoal da linha dura.
po qualquer, que enfraquecesse decisiva- Os cristãos, finalmente, estão tomando o
mente o terrorismo na Palestina. Aconteci- devido lugar de mediadores, função que
mentos desse tipo têm mudado o rumo da sempre foi postergada pela acomodação aos
História; desígnios escatológicos.
– uma substancial preparação das For- Já no nosso artigo “Palestina II”, sugeri-
ças de Segurança Palestinas, com o decidi- mos algumas reformulações de atitudes de

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dirigentes de todos os continentes para que pregam, mas cuja bandeira foi desfraldada,
o pior seja evitado. Mas é preciso mais do em primeiro lugar, pelo Cristianismo.
que isso. Quando o objetivo primordial for atingi-
O mundo está precisando é de uma reci- do – “a globalização da fraternidade huma-
clagem de base espiritual, que presida a fu- na” –, então, sim, os cristãos particularmen-
são das filosofias no sentido do humanis- te, pela missão cumprida, e como apóstolos
mo e da concórdia global. do Novo Mandamento, devem estar prepa-
Não acreditamos que essa enxurrada de rados, com tranqüilidade, para uma mani-
Tsunamis, terremotos, furacões, vulcões em festação verdadeira de proximidade do fi-
erupção, tempestades, juntamente com as nal dos tempos, que julgamos não ocorrerá
guerras e os conflitos localizados sejam, nos nossos dias.
como alguns pensam, prenúncios apocalíp- A não ser que dirigentes dos países cha-
ticos. Na verdade, esses fenômenos naturais mados de “Eixo do Mal” e daqueles que,
são avisos aos poderosos do mundo que com atitudes dúbias, os favorecem, queiram
basta uma Tsunami isolada para acabar, abreviar o processo; convencidos de que os
num instante, com qualquer instalação arti- atuais conflitos no Oriente Médio façam
ficial por mais sólida que pareça. Também parte de um contexto de “guerra santa” ou
aos donos da inteligência científica estão as “de civilizações”, possam transferir os co-
novas doenças alertando para que, em vez nhecimentos da Tecnologia Nuclear, pela
de se desgastarem tanto com os problemas qual tanto batalham na mesa de negocia-
da engenharia genética, que tem seus aspec- ções, aos grupos terroristas.
tos positivos, mas também seus efeitos hi- De posse de artefatos obtidos dessa fon-
potéticos, dêem a sua colaboração preciosa te poderosa de energia, os terroristas podem
à produção de vacinas eficientes contra a empregá-los em ações devastadoras, espe-
Ebola, a SARS (Severe Acute Respiratory cialmente contra países que fazem campa-
Syndrome) e a Gripe do Frango, que desafi- nha contra o terrorismo.
am a medicina moderna e ameaçam tornar- A resposta dos países atingidos, prova-
se, especialmente a última, uma pandemia velmente tradicionais democracias ociden-
em vários continentes, já iniciada. tais, que possuem um arsenal atômico mui-
A preservação da pessoa humana com to mais poderoso e eficaz, será implacável e
seus defeitos e seus direitos, em todos os catastrófica, porque os potenciais objetivos
quadrantes do mundo, e, qualquer que seja não são mais ninhos de terroristas ou depó-
a sua filosofia de pensamento, é o que urge sitos clandestinos de armas e munição, mas,
alcançarmos. sim, áreas, regiões, países inteiros que já es-
As igrejas cristãs estão marchando ou- tão catalogados desde já, por darem abrigo
sadamente para esse idealismo humanitá- e apoio material ao terrorismo. Não tenha-
rio, com a busca do ecumenismo religioso, mos dúvida a respeito.
apesar das dificuldades nas mútuas con- Quando os eventos dramáticos começa-
cessões dogmáticas. A igreja Católica, pela rem a ocorrer, para infelicidade geral, não
ação de João Paulo II, tomou atitudes edifi- somente a cristandade, mas toda a humani-
cantes com relação à superação de obstácu- dade deve estar preparada, porque tais even-
los entre as três grandes filosofias monote- tos não mais constituirão sinais precurso-
ístas – o Judaísmo, o Cristianismo e o Isla- res de um final que se aproxima, mas serão,
mismo –, tendo deixado um verdadeiro tes- eles próprios, o fim da civilização que já es-
tamento de moral cristã para o seu seguidor tará em andamento.
o Papa Bento XVI.
Não há dúvida, é o caminho para a com-
preensão universal, que todas as religiões

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Notas com a situação atual, com essa fronteira artificial
(com muro ou sem muro) e o terrorismo fora de
1
Reino de Israel: era a concretização da tríade controle, é inconcebível a criação de um Estado
mística em que está baseada a Lei, a unidade do Palestino. Seria um perfeito desastre político.
povo judeu (O Estado soberano – Israel; a capital
mística: Jerusalém; e o templo – centro espiritual).
2
Nazaré: ignorada até nos relatos de Flavius
Josephus, já existem duas provas substanciais de Referências
sua existência, no tempo de Jesus. A 1a um achado
arqueológico romano bastante recente, citando a AGUIAR, Hugo Hortêncio. Globalização e nacio-
cidade da baixa Galiléia . A 2a Dar Bahat, eminente nalismo. Revista de informação legislativa, Brasília, a.
arqüeologista judaico, mostra que Nazaré acolheu 42, n. 167, p. 255-269, jul./set. 2005.
um grupo de judeus fugidos de Jerusalém logo
com a destruição do templo, 30 anos após a morte ______ . Islamismo e estado. Revista de informação
de Jesus, o que confirma já ter sido importante há legislativa, Brasília, a. 38, n. 152, p. 269-299, out./
algum tempo (Veinte Siglos da Vida Judia, pág. 8) dez. 2001.
3
Ramlé: de significado “areia”, está próxima ______ . Israel: Estado e religião. Revista de informa-
de Lida, quase no litoral. Não confundir com Ra- ção legislativa, Brasília, a. 38, n. 153, p. 277-301,
malah, na Cisjordânia. jan./mar. 2002.
4
Cruzados: quando perderam Acre, sua capi-
tal na Palestina, terminou o domínio cristão, em ______ . Palestina: parte I. Revista de informação le-
1291 dC. gislativa, Brasília, a. 41, n. 163, p. 347-359, jul./set.
5
Período Turco-Otomano: foi extraordinário o 2004.
progresso dos feitos judaicos nesse período, embo-
______. Palestina: antes e depois de Cristo: parte
ra o regime dominante fosse mulçumano.
II. Revista de informação legislativa, Brasília, a. 41, n.
6
Aliá: palavra de raiz hebraica que significa
164, p. 317-330, out./dez. 2004.
“subida”; como Jerusalém está a 830m de altitude,
o imigrante judeu que chegava subia à Capital. Em GIORDANI, Mário Curtis. História do mundo me-
massa, é o contrário de “diáspora”. (A RIL no 164 dieval. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
explica melhor. Página 330).
Lands of the Bible Today. Edição 1956 – The
7
Palestina: a área é muito reduzida e não há
National Geographic Magazine
espaço físico para os dois povos. É um aspecto
especial. Israel and Adjoining Countries – Edição 1975 –
8
Liderança: os palestinos não têm liderança ci- Kimerly & Frey
vil e os judeus, que a possuem de sobra, vão en-
frentar agora a ausência de Ariel Sharon. Jerusalém – Edição 1969 – E. Pikovsky Ltda
9
Pontos críticos: (além dos ressaltados no item
3.2.5); há pelo menos uma dezena a mais. Assim

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