Precipitação do surto de Covid-19 coloca Pequim e Washington em rota de colisão
Por PEPE ESCOBAR 17 DE MARÇO DE 2020
Estariam os EUA e a China em uma guerra híbrida?
[N.T. Guerra hibrida é um termo amplo que associa táticas não convencionais de ataque, desde politica, passando por ciberterrorismo e bioterrorismo, além da guerra tradicional]
Dentre os inumeráveis (e impressionantes) efeitos geopolíticos do coronavírus, um
assumiu evidencia gráfica: a China redefiniu posições. Pela primeira vez, desde o início das reformas de Deng Xiaoping em 1978, Pequim reconhece abertamente os EUA como uma ameaça, como declarado há um mês pelo ministro das Relações Exteriores - Wang Yi na Conferência de Segurança de Munique, no auge da luta contra o coronavírus. Pequim está cuidadosamente modelando e dando substancia à narrativa de que, desde o início do ataque do coronovírus, a liderança chinesa tinha consciencia de estar sob um ataque de guerra híbrido. A terminologia de Xi é uma pista importante. Ele disse, no registro, que se tratava de uma guerra. E, como contra-ataque, uma "guerra popular" teria que ser lançada. Além disso, ele descreveu o vírus como um demônio ou diabo. Xi é confucionista, que ao contrário de outras crenças chinesas antigas, trata de maneira cética assuntos sobrenaturais. No entanto, no contexto cultural chinês, diabo significa "demônios brancos" ou "demônios estrangeiros": guailo em mandarim, gweilo em cantonês. Xi estava, pelo uso desses códigos, estabelecendo uma uma declaração poderosa. De fato, no momento em que Zao Lijian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, expressou em um explosivo tweet a possibilidade de que "a epidemia de Wuhan poderia ter sido trazida pelo exercito americano" – a manifestação oriunda de um alto funcionário parecia uma sinalização de que Pequim decidira abandonar as sutilezas diplomáticas. Zhao Lijian estabeceu uma conexão direta com os Jogos Militares em Wuhan em outubro de 2019, em que estivera presente uma delegação de 300 militares americanos. Citou ainda o diretor do CDC dos EUA, Robert Redfield, que, na última semana teria reconhecido a descoberta de diversas mortes por coronavírus descobertas postumamente nos EUA. A explosiva conclusão de Zhao é que o Covid-19 já estivesse atuando nos EUA, antes de ser identificado em Wuhan – graças à já reconhecida incapacidade americana de identifica-lo. Somando-se a isso o fato de que as variações do genoma do coronavírus no Irã e na Itália foram seqüenciadas e se demonstraram diferentes da variedade que infectou Wuhan, a mídia chinesa tem feito perguntas, em que abertamente se conecta a desativação - em agosto de 2019 - de um laboratório militar "inseguro" de armas biológicas em Fort Detrick, aos Jogos Militares e à epidemia de Wuhan. Algumas dessas perguntas foram feitas - sem resposta - dentro dos próprios EUA. Questionamento extra se associa ao acontecimento de um opaco – e estranhamente oportuno – evento intitulado 201, em 18 outubro de 2019, um mês antes da epidemia de Wuhan. Nessa espécie de “game” ocorrida em Nova York no mesmo dia em que se iniciavam os jogos militares na China, os jogadores deveriam enfrentar uma pandemia causada por um vírus mortal [cuja contenção se daria em um ano, tempo minimo previsto para o surgimento de uma vacina. A previsão de mortes girava em torno dos 65 milhões. N.T. Fonte: http://www.centerforhealthsecurity.org/event201/scenario.html ] Essa “encenação” do que meses depois se tornaria o Coronavirus foi patrocinada pela Fundação Bill & Melinda Gates, o Fórum Econômico Mundial (WEF), a CIA, a Bloomberg, a Fundação John Hopkins e a ONU. Independentemente de sua origem, para a qual não se tem pistas conclusivas além dos tweets de Trump sobre o "vírus chinês", o Covid-19 coloca questões imensamente sérias sobre biopolítica (onde está Foucault quando precisamos dele?) e bioterrorismo. A hipótese em processo sobre o coronavírus como uma poderosissima arma biológica, mas que ainda dentro de condições de controle, a evidencia como um veículo perfeito para o controle social generalizado - em escala global.
Cuba emerge como potencia biotecnológica
Assim como a visão do ministro Xi mascarado, em visita à linha de frente de Wuhan na semana passada foi uma demonstração icônica para todo o planeta de que a China, com imenso sacrificio está vencendo a “guerra do povo” contra o Covid 19, na Rússia em um movimento de Sun Tzu em Riad, cujo resultado final foi uma grande queda no preço do petróleo, ajudando para efeitos práticos, a iniciar a recuperação da economia chinesa. E ´assim que uma parceria estratégica funciona. O tabuleiro de xadrez está mudando a uma velocidade vertiginosa. Depois que Pequim identificou o coronavírus como um ataque de armas biológicas, a "guerra do povo" foi lançada com toda a força do Estado. Metodicamente: sob a diretriz do “a qualquer preço”. Agora estamos entrando em um novo estágio, que será usado por Pequim para recalibrar substancialmente a interação com o Ocidente, e sob padrões muito diferentes quando se trata dos EUA e da UE. O poder brando é fundamental. Pequim enviou um voo da Air China para a Itália carregando 2.300 grandes caixas cheias de máscaras com os dizeres: "Somos ondas do mesmo mar, folhas da mesma árvore, flores do mesmo jardim". A China também enviou um volumoso pacote humanitário ao Irã, a bordo de oito vôos da Mahan Air - uma companhia aérea que vem sofrendo sanções ilegais e unilaterais do governo Trump. O presidente sérvio Aleksandar Vucic não poderia ter sido mais explicito: “O único país que pode nos ajudar é a China. Nesse momento todos estão entenderando que a solidariedade europeia não existe; isso foi um conto de fadas que não saiu do papel. Vitima de duras sanções e demonizada desde sempre, Cuba ainda é capaz de realizar avanços - inclusive em biotecnologia. O anti-viral Heberon - ou interferão alfa 2b - uma terapêutica, não uma vacina, tem sido utilizado com grande sucesso no tratamento do coronavírus. Uma joint venture na China está produzindo uma versão inalável, e pelo menos 15 nações já estão interessadas em importar o produto. Compare isso à iniciativa do governo Trump, que ofereceu um bilhão de dolares a cientistas alemães trabalhando na Turingia em uma empresa de biotecnologia a Curevac, para te-la como uma vacina exclusiva dos americanos. Psy-op de engenharia social? Sandro Mezzadra, coautor com Brett Neilson, da obra seminal The Politics of Operations: Excavating Contemporary Capitalism, vem tentando conceituar como nos posicionarmos agora, em termos de combate ao Covid-19. Estamos diante da escolha entre uma vertente malthusiana - inspirada no darwinismo social - “liderada pelo eixo Johnson-Trump-Bolsonaro” e, por outro lado, uma vertente ressaltando a necessidade de “requalificação da saúde pública como ferramenta fundamental”, exemplificada pela China, Coréia do Sul e Itália. Existem lições importantes a serem aprendidas com a Coréia do Sul, Taiwan e Cingapura. As opções, observa Mezzadra, encontram-se entre uma "seleção natural da população", com milhares de mortos, e "defender a sociedade", empregando "graus variáveis de autoritarismo e controle social". É fácil imaginar quem pode se beneficiar dessa reengenharia social, um remix do século XXI de The Masque of the Red Death, de Poe. Em meio a tanta desgraça e tristeza, contemos com a Itália para nos oferecer tons de luz no estilo Tiepolo. A Itália escolheu a opção Wuhan, com consequências imensamente graves para sua economia já frágil. Italianos em quarentena reagiran de forma supreendente, cantando em suas varandas: um verdadeiro ato de revolta metafísica. Sem mencionar a justiça poética da verdadeira Santa Corona (“coroa” em latim) estar enterrada na cidade de Anzu desde o século IX. A santa foi martirizada pelo imperador Marcus Aurelius em 165 DC, e tem sido por séculos reconhecida como uma das santas protetoras contra as pandemias. Nem mesmo trilhões de dólares chovendo do céu por um ato de misericórdia divina do Fed foram capazes de curar o Covid-19. Os "líderes" do G-7 tiveram que recorrer a uma videoconferência para perceber como eles sem encontram despreparados – principalmente quando a luta da China contra o coronavírus ofereceu ao Ocidente um avanço preciente de várias semanas. Desde Xangai, o Dr. Zhang Wenhong, um dos maiores especialistas em doenças infecciosas da China, cujas análises têm sido bastante exatas, a diz que a China está deixando para trás o momento mais sombrio da "guerra do povo" contra o Covid-19. Mesmo assim, não acredita que isso vai acabar nem mesmo no verão. Agora transfira o que ele está dizendo para o mundo ocidental. A primavera ainda nem chegou; e sabemos também que é preciso um virus para derrubar a deusa do Mercado. Sexta passada o Goldman Sachs garantiu a nada menos que 1500 corporações que não havia risco sistemico. Era mentira. As fontes bancárias de Nova York me disseram a verdade: a risco sistêmico se tornou muito mais grave em 2020 do que em 1979, 1987, ou 2008, devido ao enorme risco de que o mercado de derivativos de 1,5 quatrilhão de dolares entre em colapso. Como disseram estas fontes, a história nunca havia visto algo parecido com a intervenção do Fed nessa incompreensivel eliminação das exigências de reservas bancárias comerciais, desencadeando uma potencial expansão ilimitada de crédito para evitar uma implosão derivada - decorrente de um colapso total de mercadorias e bolsas de valores e ações em todo o mundo. Aqueles banqueiros pensaram que funcionaria, mas como sabemos agora, todo o som e fúria não significavam nada. O fantasma de uma implosão derivada - neste caso não causado pela possibilidade anterior, o fechamento do Estreito de Ormuz – permanece. Nós mal começamos a entender as consequências do Covid-19 para o futuro do turbo- capitalismo neoliberal. O certo é que toda a economia global foi atingida por um insidioso disjuntor, literalmente invisível. Isso pode ser apenas uma "coincidência". Ou pode ser, como alguns vem argumentando corajosamente, parte de um possível massivo psy-op, criando o ambiente geopolítico e de engenharia social perfeito para um domínio de amplo- espectro. Além disso, ao longo do árduo caminho, com imenso sacrifício humano e econômico, com ou sem a reinicialização do sistema mundial, permanece uma pergunta mais premente: as elites imperiais ainda escolherão continuar empregando uma guerra híbrida de domínio de amplo espectro contra a China?
Tradução informal para divulgação de informações consideradas relevantes, sem fins
lucrativos – Maria Edith Maroca
Fonte original https://asiatimes.com/2020/03/china-locked-in-hybrid-war-with-us/?
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