Referência: HACKLER, Cory et al. Building a Lean Culture. In: ANNUAL
CONFERENCE ON THE INTERNATIONAL GROUP OF LEAN CONSTRUCTION, 25th, Heraklion, Greece. 2017. Proceedings... Greece, 2017, 08p.
O artigo em questão relata a experiência de uma empresa genérica no processo de
compreensão e implementação da mentalidade Lean, através da modificação do treinamento de seus colaboradores. A empresa objetivava habilitar suas equipes de projetos para que estas pudessem fornecer ao cliente um produto final com maior valor agregado. A experiência adquirida pela empresa nesse procedimento, o feedback dos colaboradores que participaram do treinamento e os planos de expansão desse programa para todas as unidades de negócios da companhia, são os principais pontos abordados ao longo do texto. Alguns estudos anteriores a este foram realizados com o objetivo de implementar o pensamento enxuto nas empresas de construção. Ballard et al. (2007, p. xi-xii) listou determinadas ações que poderiam ser tomadas pelas organizações que objetivam implementar o sistema Lean como por exemplo, a busca por parceiros que entregam projetos Lean. Izquierdo et al. (2011), a fim de orientar os colaboradores de uma empresa em direção a uma forma de fazer negócios utilizando os princípios enxutos, sugeriram o desenvolvimento e a implementação de um “Workshop de Funções Básicas do Gerenciamento”. Dentro dessa mentalidade de implementação da cultura Lean nas organizações, uma linha de pensamento comumente encontrada na literatura apresenta a importância de fazer com que os colaboradores de uma empresa, bem como sua rede de parceiros, estejam trabalhando com pensamentos alinhados, buscando alcançar objetivos comuns e atender a propósitos que interessem aos seus clientes. Dessa maneira, será possível criar grupos de pessoas interessadas que compreendam os princípios Lean e os apliquem de modo crítico. A equipe de projetos da empresa em questão vinha utilizando bem os princípios Lean ao longo dos anos em projetos grandes e complexos. A pesquisa de Britt et al. (2014) por exemplo, ilustra a criação de uma equipe de alta performance baseada na colaboração e no alinhamento das ideias, permitindo a solução rápida de problemas. O foco dessa empresa está no desenvolvimento de pessoas acima do desenvolvimento de processos e procedimentos, o que tem feito muitos líderes desconfiarem da pesada ênfase dos princípios da construção enxuta em processos e ferramentas. A companhia possui uma cultura de abertura e acessibilidade, em oposição à autoridade e hierarquia, por isso, trabalha sem Diretores Executivos e possui um Comitê de Gerenciamento para auxiliar líderes de negócios de diferentes escritórios a tomar decisões. Nesse contexto, o grupo informal de liderança Lean começou um novo programa de treinamento, buscando voltar o foco para as ferramentas do pensamento enxuto, liderança e solução de problemas. O programa foi dividido em quatro fases: a primeira destas fases buscava testar uma aproximação diferente com os princípios Lean; a segunda consistiu na organização do curso de treinamento Lean; a terceira ficou caracterizada pelo aprendizado e criação de novas oportunidades e a quarta, pela expansão das ofertas. Durante a primeira fase, os defensores dos princípios Lean precisaram reconhecer que o foco nos processos e ferramentas não era suficiente. Decidiram então voltar sua atenção para o ensinamento das ideias fundamentais do Lean, como o respeito às pessoas, a melhoria contínua, a solução de problemas, a liderança, entre outros. Dois participantes do grupo de liderança Lean matricularam-se em um curso online de liderança Lean de oito semanas. Nesse curso, eles puderam pensar sobre os conceitos, coloca-los em prática e compartilhar experiências durante uma conferência semanal realizada por meio de chamada. Este curso combina sessões de treinamento e tutoria e utiliza como base o livro: Pessoas: o guia do dia a dia de um líder para construir, gerenciar e sustentar organizações Lean, e é também conhecido como o “Livro das pessoas”. O grupo Lean decidiu patrocinar um curso privado para a própria empresa e para outros gerentes de organizações com ideias semelhantes, como uma forma de adquirir experiência. O workshop foi conduzido por um facilitador experiente, membro da empresa que tinha desenvolvido o material. Na segunda etapa, o curso de 8 semanas foi (e ainda tem sido) oferecido para os colaboradores dos escritórios através da empresa. Muitos dos tópicos abordados estão no “Livro das Pessoas” como: “As características de um Líder Lean”, “Liderando com Propósitos e Princípios”, “Construindo Equipes”, entre outros. Os conteúdos são trabalhados semanalmente pelos participantes por meio de estudos dirigidos e questões. Às sextas-feiras, eles realizam uma conferência através de chamada com seu facilitador, para mostrar o que aprenderam e como eles possivelmente aplicarão isso nos projetos atuais ou futuros. Inicialmente, os facilitadores utilizaram o método PDSA (Plan-Do-Study-Act) para melhorar a forma com que o curso era ministrado. Algumas medidas adotadas para permitir a melhoria foram: fazer com que os alunos enviassem os deveres de casa para que os outros participantes pudessem ver; elaborar um guia dos professores; utilizar questões para provocar discussões de como os alunos poderiam aplicar os conceitos de cada capítulo na prática e postar as melhores respostas como exemplos para colegas e estudantes futuros. Na terceira fase da implementação, pode-se perceber que o maior desafio do curso foi ensinar a pessoas de diversas áreas do país, que executavam diferentes funções. Os facilitadores deram início à coleta de feedback dos participantes e à criação de uma lista de ações que poderiam ser executadas para melhorar as ofertas futuras do curso. Uma dessas ações foi trabalhar exemplos práticos de aplicação dos princípios, verificando como os líderes Lean encararam os problemas encontrados. Além de se voluntariar para oferecer feedback, os participantes responderam a uma autoavaliação do seu desempenho, comparando suas capacidades às qualidades de um líder Lean. Com base nesses resultados, os facilitadores puderam criar um gráfico radar e identificar em quais áreas os participantes precisam melhorar. Como o curso não é oferecido para um único grupo ou para o nível gerencial, os participantes fazem parte de um grupo com diferentes bagagens e ideias, o que facilita a difusão do conhecimento na empresa. A quarta etapa nada mais é do que o licenciamento e a implementação do curso de liderança online em toda a empresa, depois do sucesso das duas primeiras ofertas. Esforços foram realizados para que os colaboradores interessados fossem facilmente alcançados e para que o processo de inscrição fosse simplificado. No final de 2016, mais de setenta pessoas participaram do curso e outras duzentas e trinta estavam escritas para as próximas três ofertas. Com o aumento da demanda, houve a necessidade de treinar mais instrutores, o que tem sido um gargalo, por conta da falta de pessoal experiente, com tempo e habilidade para ensinar. A principal meta para 2017 é alavancar o conteúdo online agora disponível. Alguns dos outros objetivos que a equipe espera alcançar são: criar uma forma de alcançar os graduados e medir seu desempenho; ajudar os graduados a definir metas Lean e checá-las mensalmente para rever seu progresso no sentido de atingir esses objetivos; identificar campeões Lean em cada região, que liderem pelo exemplo, educando, treinando e sendo mentores de outras pessoas; entre outros. Das experiências obtidas com os cursos até então realizados, os facilitadores puderam extrair diversas lições. Foi possível perceber que, os colaboradores, independentemente dos seus níveis e grupos funcionais estão interessados em aprender sobre Lean. Além disso, é importante saber que, apesar de o treinamento em ferramentas Lean ser necessário, o treinamento que abrange os conceitos, princípios e metas Lean é essencial. Realizar treinamento interativo e permitir que as pessoas sejam ouvidas, reflete o respeito por estas, e é uma grande maneira de acelerar o aprendizado. Entretanto, é importante lembrar que, para apresentar as ideias Lean para muitas pessoas, consistência e suporte são requeridos. Somado a isso, as pessoas necessitam de um vocabulário comum para compartilhar conhecimento e ganhar confiança suficiente para colocá-lo em prática. Algumas maneiras identificadas para promover a melhoria da compreensão pelos participantes são: oferecer cursos em diferentes níveis , já que nem toda pessoa tem tempo para se engajar em sessões de treinamento multi-semanais; utilizar o ciclo PDSA para melhorar continuamente a educação e o treinamento Lean e educar os colaboradores sobre os princípios Lean e liderança, agindo como uma ponte, para incorporar o pensamento Lean na cultura de colaboração, iniciativa individual e prestação de contas da empresa. Essas mudanças ainda estão sendo implementadas e, portanto, estudos futuros poderão relatar novos avanços e descobertas.