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A pandemia da corona vírus (COVID-19) afectou sobremaneira as

actividades dos empresários comerciais em todo o mundo, bem como a


sua capacidade de cumprir pontualmente com os contratos celebrados.
Em apenas alguns dias, a Organização Mundial da Saúde declarou o
COVID-19 uma pandemia. Os Governos recomendaram (em alguns casos
impuseram) medidas de alerta e prevenção, incluindo o enceramento de
algumas fronteiras e restrições de viagens e movimentos de pessoas e
bens. No caso de Moçambique, para além dos vários esforços envidados
pelo Governo, o Presidente da República lançou um apelo público sobre
as medidas de alerta e prevenção, que passam também pela suspensão
de todos os eventos em lugares fechados que envolvam mais de trezentas
pessoas, facto que ditou o cancelamento de alguns eventos desportivos,
culturais, comemorativos e outros.

A evolução acelerada da pandemia do COVID-19 tem dado causa a novos


eventos todos os dias, com implicações imediatas sobre a execução das
obrigações assumidas pelos empresários comercias perante terceiros,
sendo, ipso facto, premente e oportuno analisar em que medida
poderão as partes contratantes exonerar-se do cumprimento pontual de
tais obrigações. O enquadramento do COVID-19 como um fundamento
para o incumprimento pontual das obrigações dependerá de uma
avaliação casuística e concreta do contrato em causa, da lei aplicável, do
negócio e sua finalidade e, portanto, de uma ponderação objectiva sobre
as circunstâncias reais e efectivas da causa do incumprimento.

Como é de praxe, muitos contratos estipulam uma cláusula de Força


Maior, com o fito de exonerar uma ou qualquer das partes do
cumprimento pontual das suas obrigações. Em alguns casos, as partes
primam pela enumeração taxativa dos eventos que constituem Força
Maior, mas em outros deixam a cláusula em aberto. Entretanto, a lei
suplectiva, no caso, o Código Civil em vigor em Moçambique, não
apresenta qualquer conceito de Força Maior, sendo a definição tomada
de empréstimo da doutrina e jurisprudência existentes. Do ponto de vista
doutrinário, constitui um evento de Força Maior todo o impedimento
imprevisível, irresistível e fora do controlo humano, que tornará a
prestação absolutamente impossível de realizar. Tal evento, se tivesse
sido previsto pelas partes faria com que não tivessem celebrado o
contrato ou, querendo celebrá-lo, fá-lo-iam com um conteúdo diverso
daquele que seria celebrado sem a previsão de tal evento.

O incumprimento contratual por causa de Força Maior não opera


automaticamente, ou seja, não basta a mera eclosão do COVID-19 para
que as partes deixem de cumprir pontualmente com as suas obrigações
decorrentes dos contratos celebrados com terceiros. É importante que
sejam diligentemente observadas e ponderadas, dentre outras, as
seguintes questões:

• Ónus de prova: o ónus de prova da existência de causa de


Força Maior recai sobre a parte contratante que invocar o COVID-19
como causa do incumprimento. É premente demonstrar que existe um
nexo entre o COVID-19 e o incumprimento. A título meramente
exemplificativo, o fornecedor de determinado bem, cuja produção
depende exclusivamente de material importada da China, poderá
fundamentar o incumprimento com base na impossibilidade de produzir e
proceder à entrega nos termos acordados em virtude da (ii)
impossibilidade de importar tal material da China e de (ii) não ter outra
forma de produzir o bem.

• Dever de comunicar: caso o contrato preveja o dever de


comunicação ou informação à contraparte da ocorrência de uma causa de
Força Maior, dentro do prazo convencionado, tal comunicação ou
informação deve ser efectivada no prazo contratualmente estipulado, sob
pena de improcedência da causa invocada. Aliás, a comunicação
tempestiva da Força Maior afigura-se também como uma demonstração
da boa fé da parte contratante.  

Ora, casos há em que o contrato não estipule uma cláusula de Força


Maior, o que torna precária a defesa dos direitos e interesses da parte
impossibilitada de cumprir com o contrato em decorrência do COVID-19.
Neste casos, outra sorte não resta às partes contratantes que não seja
lançar mão ao disposto no n° 1 do Artigo 790° do Código Civil, referente
à impossibilidade objectiva, o qual estabelece que “a obrigação extingue-
se quando a prestação se torne impossível por causa não imputável ao
devedor”.

Caso a impossibilidade objectiva seja absoluta e permanente, a obrigação


extingue-se, sem lugar a qualquer obrigação de indemnização. Porém,
tratando-se de impossibilidade parcial e/ou temporária a parte
impossibilitada exonera-se do cumprimento mediante a prestação do que
for possível, devendo, neste caso ser reduzida a contraprestação a que a
outra parte estiver vinculada e/ou a parte impossibilitada não responde
pela mora no cumprimento.

De forma conclusiva, o COVID-19 só terá efeitos sobre o cumprimento


pontual do contrato se observadas de forma casuística e diligente as
disposições contratuais que vinculam as partes, a lei aplicável, bem como
a natureza e a finalidade do negócio. Para o efeito, o apoio de advogados
ou assessores jurídicos torna-se imprecindível para a melhor tutela dos
direitos e interesses das partes.
AS MEDIDAS ANUNCIADAS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
(PR)

– Implicações jurídicas

Como é do conhecimento público, pois o assunto está na ordem do dia,


dominando as atenções e sensações do povo moçambicano, o PR
anunciou ontem o reforço das medidas de prevenção relativamente aos
efeitos da pandemia do corona vírus.

Não pretendo, nesta abordagem, discutir o mérito ou demérito de tais


medidas, pois muito do que esteve na base da tomada das decisões
anunciadas são do meu desconhecimento (pois não foi tornado público).
Entretanto, dou o benefício da dúvida, visto que tais medidas foram
anunciadas após o PR ter ouvido especialistas no ramo da saúde. Só por
este facto, temos todos de dar o benefício da dúvida.

Há dias, num programa televisivo em que fui convidado para participar


de um debate sobre a matéria, tive a oportunidade de referir, com
excessiva insistência, que as anteriores medidas (antes destas de ontem,
que constituem um reforço), eram demasiadamente genéricas e
necessitavam de ser complementadas por um diploma legal que, de
forma pormenorizada e detalhada, regrassem, tanto quanto fosse
possível, muitas das relações jurídicas que sairão afectadas (i) pela
propagação do vírus em si e (ii) pelo anúncio das medidas decorrentes
daquela propagação.

Após o reforço das medidas, essa questão torna-se ainda mais premente,
porquanto, elas – as medidas, que pelos vistos não se ficarão por aqui – já
começam a ser incisivas, e os efeitos que produzem nas esferas das
pessoas, singulares e colectivas, públicas e privadas, tornam-se mais
protuberantes.

Abro, antes de passar a análise específica do que me proponho a abordar,


um parêntesis para, me referir à eficácia jurídica – e, sobretudo, à
obrigatoriedade para os demais – do anúncio feito. É sabido que «os
actos normativos do PR assumem a forma de decreto presidencial e as
demais decisões revestem forma de despacho e são publicadas no
Boletim da República (BR)», em consonância com o disposto nos termos
conjugados entre a alínea b) do n.º 1 do artigo 143 e artigo 157 da
Constituição da República (CRM), “alterada” e republicada pela Lei n.º
1/2018.
O facto de o PR ter feito a sua comunicação verbalmente, traz (ou pode
trazer) dúvidas relativamente à eficácia jurídica e natureza obrigatória –
para os cidadãos – do conteúdo nela imerso, na medida em que, em
apologia às normas constitucionais acima referenciadas e, à elas,
acoplando-se o que referem as alíneas a) e c) do n.º 1 do artigo 157 da
CRM, «são publicados no BR sob pena de ineficácia jurídica as leis da
Assembleia da República; os decretos do PR; os decretos-lei, os decretos,
as resoluções e os demais diplomas emanados do Governo», não se
perdendo de vista que o PR é quem chefia o Governo (n.º 3 do artigo 145
da CRM).

Questiona-se, portanto: poderá algum cidadão recusar-se ao


cumprimento do anúncio feito pelo PR, na medida em que, de acordo com
as normas pré-citadas, elas [supostamente] não se revestem de eficácia
jurídica (e força obrigatória) em virtude de não estarem reflectidas no
BR?

A resposta é negativa.

Apesar de eu não apreciar o “estilo” das comunicações verbais, porque


fazem emergir as dúvidas que acima fiz menção, o anúncio do PR torna-
se obrigatório para os cidadãos em geral, ao abrigo do disposto nos
termos conjugados entre o n.º 2 do artigo 143 da CRM, alínea a) do
artigo 158 CRM e, finalmente, n.º 1 do artigo 127 da Lei n.º 14/2011.

Esquematizando o conteúdo destas três normas, e a despeito de o n.º 1


do artigo 143 da CRM determinar a publicação dos actos normativos do
PR no BR, sob pena de ineficácia jrídica, no entanto, extrai-se, como
excepção o seguinte: «a lei define os termos da publicidade a conferir a
outros actos jurídicos públicos» (n.º 2 do artigo 143 da CRM); «compete
ao Chefe do Estado no exercício da sua função dirigir-se à nação através
de mensagens e comunicações (alínea a) do artigo 158 CRM); e,
finalmente, «apenas é obrigatória a publicidade dos actos administrativos
quando determinada por lei» (n.º 1 do artigo 127 da Lei n.º 14/2011).

Significa isto dizer que as mensagens e comunicações efectuadas ao


abrigo da alínea a) do artigo 158 CRM não carecem de publicação no BR
para que sejam dotadas de eficácia jurídica, pois em nenhum momento a
lei assim obriga (visto não constarem do rol dos actos normativos sujeitos
à publicação nos termos do n.º 1 do artigo 143 da CRM), sendo que é a
própria CRM que afirma expressamente que a lei é que trata de definir os
termos da publicidade a conferir a outros actos jurídicos públicos (o que
nos faz regressar ao preceituado no n.º 1 do artigo 127 da Lei n.º
14/2011, que salienta que apenas é obrigatória a publicidade dos actos
administrativos quando determinada por lei, facto que não acontece
quando se trata de comunicações e mensagens do PR nos termos
regrados pela alínea a) do artigo 158 CRM).

Assim sendo, todo aquele que eventualmente se recusar no cumprimento


da comunicação feita comete o crime de desobediência, nos termos
previstos e punidos pelo n.º 1 do artigo 412 do Código Penal.

Contudo, esta lucubração jurídica seria desnecessária se tivéssemos o


bom hábito de fazer reflectir em diploma legal os actos administrativos
desta natureza, como forma de dissipar dúvidas no seio dos cidadãos,
criando-se, assim as tão almejadas certeza e segurança jurídicas
(atributos das normas jurídicas).

Ultrapassado esse parêntesis, analisemos, agora, as implicações das


medidas anunciadas.

Recuperando o raciocínio vertido no início deste texto – que já vai longo –


na parte em que me refiro aos efeitos, na esfera jurídica dos cidadãos,
das medidas anunciadas, e na [minha] teimosa insistência quanto a
necessidade de aprovação de um diploma legal que configure, com
exactidão, como ficam os direitos e deveres das pessoas, singulares e
colectivas, públicas e privadas, em decorrência daquelas medidas, abaixo
deixo ficar alguns exemplos, apenas para permitir uma maior
compreensão do que defendo:

Com efeito, o PR determinou o encerramento, por 30 dias, de todos os


estabelecimentos de ensino. O diploma legal de que faço referência iria
estabelecer como ficam os direitos dos professores durante esse
interregno. É que, não prestando a sua actividade laboral, fica a dúvida
sobre o critério a ser usado na remuneração mensal dos professores (já
vamos a isso). O tal diploma legal não só estabeleceria, para dissipar
dúvidas, a intocabilidade (?) do direito a remuneração, como também
definiria à quem cabe proceder esse pagamento, ou seja, se caberia aos
estabelecimentos de ensino ou ao Instituto Nacional da Segurança Social
(INSS), ou, porventura, se caberia aos dois e, caso fosse está a solução,
definir-se ia qual seria a comparticipação de casa um. Mais ainda, tal
diploma estabeleceria se o salário seria, ou não pago na totalidade.

Poder-se-ia pensar que este aspecto já está salvaguardado no regime


jurídico da segurança social obrigatória, à luz do Regulamento aprovado
pelo Decreto n.° 51/2017, mas tal pensamento não se me afigura, de
todo, meritório, visto que, os princípios nele estabelecidos devem sofrer
imperioso desvio em face de uma situação de pandemia. Imagine-se que
o período de 30 dias seja prorrogado (tudo indica que será prorrogado) e
imagine-se que haja casos de contágio, princípios como o do “tempo de
espera” deixam de fazer sentido, pois, a excepcionalíssima situação de
pandemia obriga com que os direitos dos contribuintes sejam
manuseados de um modo também excepcionalíssimo.

Deixando-se esta situação órfã de normatividade, dá azo com que os


estabelecimentos de ensino fixem, ao seu bel-prazer, como tratarão esta
matéria, o que, tendo em conta à natureza assimétrica das relações
laborais (reflectida na dependência económica do trabalhador
relativamente à entidade empregadora e no poder desta em fixar
directrizes), tal factologia pode propiciar o surgimento de situações
injustas para os trabalhadores.

Acima, referi-me somente aos professores, no entanto, não são apenas


estes que ficam afectados, pois, interrompendo-se as aulas, os “serviços
de apoio” também deixam de funcionar e, novamente, questiona-se: como
fica a situação laboral destes, durante esse período que, ao que tudo
indica pode ser prorrogado se os efeitos do corona vírus assim o
determinarem (e a possibilidade da prorrogação é mais do que iminente).

Poderia trazer outra situação que se prende com a prestação das


actividades laborais durante o interregno: por um lado, os
estabelecimentos de ensino ficam encerrados, mas, por outro, pode-se de
dar o caso de os professores terem de dar seguimento a actividades
decorrentes das suas tarefas (correcção de testes, por exemplo), o que
levanta dúvidas quanto ao tratamento que se dará à situação, visto que,
se encerram os estabelecimentos, mas não cessam os trabalhos, que
podem ter a sua continuidade nos domicílios dos respectivos professores,
pois é sobejamente sabido que estes aportam os testes para os seus
domicílios para lá procederem com o trabalho da respectiva correcção.
Teríamos situações em que uns professores estariam a trabalhar e outros
não. Logo, não podem ser sujeitos ao mesmo tratamento.

Deixar com que estas situações sejam decididas num sentido, nesta
instituição, e noutro sentido, naquela instituição, não se afigura o cenário
ideal. O diploma legal de que falo trataria de dissipar estas e demais
dúvidas que a medida anunciada acarreta.

Outro aspecto – este bem mais sensível – prende-se com a proibição da


aglomeração de um número superior a 50 pessoas em locais destinados à
realização de eventos públicos. A medida é boa, mas, novamente, traz
outras questões que reclamam por clarificação (que só o tal diploma legal
de que faço referência o clarificaria).

É que, se se parte do princípio que uma concentração de um número que


roça a 50 pessoas revela-se crítico no que concerne ao contágio e
propagação do vírus, então questiona-se: o que fazer nas empresas com
mais de 50 trabalhadores? O que fazer nos transportes públicos e semi-
colectivos que albergam mais de 50 passageiros? O que fazer nos
mercados informais que, outrossim, concentram um número que
ultrapassa o desaconselhável número 50 que se tornou proibido desde
ontem?

Sei, de ciência certa, que algumas instituições privadas que albergam


nas suas instalações, mais de 50 trabalhadores, decidiram, por iniciativa
própria, criar um regime de trabalho com feições similares ao trabalho
por turnos. À princípio, e visto numa perspectiva de prevenção ao
contágio e propagação do vírus, a medida é soberba (e é mesmo),
todavia, imagine-se que, essas mesmas entidades empregadoras decidam
realizar cortes ablativos nos direitos dos trabalhadores (mormente, no
salário) em virtude dessa determinação? Não nos esqueçamos que o PR
não determinou esta medida; logo, se as instituições a determinam, no
seguimento do anúncio do PR (que não as determinou), torna-se injusto
que os trabalhadores passem a auferir salários sujeitos ao “novo período
de trabalho”, fixado pela entidade empregadora, sem um beneplácito
expresso no anúncio do PR.

Novamente, chama-se a atenção que estas matérias, porque resultantes


de uma medida anunciada pelo PR, decorrentes da “calamidade
pandémica” do coronavírus, não fique sob o pecúlio das instituições
privadas, pois a possibilidade de cada uma fixar, no seu seio, as
directrizes que bem entender, pode propiciar consequências funestas e
nefastas nos direitos dos seus colaboradores. Mais do que isso: teríamos
a empresa X a fixar um regime e a empresa Y a fixar outro, emergindo
uma “anarquia jurídica nacional” que se é de evitar.

Creio que, chegados até aqui, dúvidas não existem da premência da


aprovação do diploma legal de que tanto reclamo.

Outras situações como o tratamento da situação dos indivíduos em


situação reclusória nos vários estabelecimentos penitenciários
espalhados pelo país, seriam também convocadas para o tal diploma
legal. Restringe-se o regime de visitas ou proíbe-se? Não se sabe. É
preciso que fique claro.

A situação dos transportes, por ser ultra-sensível, merece acarinhamento.


Se se proíbe a concentração de 50 pessoas em locais destinados a
espectaculos, cultos religiosos, etc., faz todo sentido que tal proibição
seja extensível ao sector dos transportes ou não?
Mas lá está: como decorreria a vida dos cidadãos se tal proibição vier a
ser decretada? Se calhar, o Estado deveria aprovisionar autocarros
acreditados às suas instituições para revezarem os famigerados “my
love” e “chapas”, na medida em que, situações excepcionais reclamam
por soluções excepcionais.

Não ignoro que a Comissão multidisciplinar que o PR anunciou que será


criada para “pensar o assunto” tratará de responder estes e outros
problemas e trazer as respectivas soluções. Entretanto, antes mesmo que
essa Comissão realize um trabalho microscópico com vista ao
apuramento das respostas que se mostram obrigatórias emitir em face
das “perguntas” efectuadas pelo coronavírus, só as medidas provisórias
já anunciadas reclamam por regulamentação.

É este, quanto à mim, o próximo [e urgentíssimo] grande desafio


colocado nas mãos do Governo moçambicano, um desafio que, se frise,
deve ser concomitantemente enfrentado pelos cidadãos através de uma
postura colaborativa e responsável, ajudando o próprio Estado e à si
próprios, quer na emissão de ideias e propostas quer no cumprimento
escrupuloso das determinações do PR (as actuais e, seguramente, as que
ainda estão por vir).

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