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80
Adobe lança CS versão 4..................................................3
Epidemia Design............................................................... 4
Tipografia argentina........................................................5
Screen fonts em Loulé......................................................5
Wim Crouwel 80 20 100................................................... 6
O monge da Tipografia.................................................... 7
90
Kurt, o perspicaz..............................................................16
Zapf, o diligente................................................................18
Book Wonderful!.............................................................20
Um lifestyle magazine dos anos 20........................... 23
Manuscritos hebraicos na Península Ibérica........ 25
Prototipógrafos judeus em Espanha e Portugal... 30
Online? Scan? Qualidade? Incunábulos e
Impressos Raros em bibliotecas portuguesas...... 39
O amor de João vi aos livros antigos......................... 45
XML, dez anos depois....................................................48
Anúncios........................................................................... 52
W
im Crouwel is a designer, artist, pro- lands. Nijhof & Lee also carries a large collec-
fessor and museum director. His long tion of posters by Dutch graphic designers of the
and rich career includes establishing second half of the twentieth century.
a studio with the industrial designer Kho Liang Vivid Gallery
Ie (www.kholiangie.nl). He was responsible for William Boothlaan 17a
many posters and catalogues of the Van Abbe NL-3012 VH Rotterdam
Museum in Eindhoven and the Stedelijk Museum The Netherlands
in Amsterdam from 1956 till 1982. +31 [0] 10 4136321
Crouwel cofounded Total Design, the first Opening hours: Tuesday - Sunday, 12 - 6 pm
multi-disciplinary design studio in the Nether- www.vividvormgeving.nl
lands, which became a dominant force in Dutch
graphic design. Crouwel and his colleagues had
influence on the national and cultural identity
of the Netherlands. In 1967 Crouwel designed
the font New Alphabet; he extended the grid to
become a matrix within which letterforms were
constructed as units on a grid.
Beginning in 1972 Crouwel started teaching
part time at the Delft Technical University, and
in 1980, he left Total Design to be a full time pro-
fessor. In 1985 he became the director of the
Museum Boijmans van Beuningen, Rotterdam
and also held the Private Chair at Erasmus Uni-
versity, Rotterdam (1987-93). Nowadays Crouwel
is still working as a designer, primary designing
important art exhibitions like the Vereniging
Wim Crouwel. Foto: Xavier Encinas
abcdefghijklmnopqrstuvwxyz
new alphabet two
Wim Crouwel publicou o seu “new alphabet” em 1967.
abcdefghijklmnopqrstuvwxyz
van doesburg archi type
Letras desenvolvidas por Teo van Doesburg, 1919, digitalizadas por The Foundry, 1996.
vorm
gevers
abcdefg
hijkklmn
opqrstu
vwxyz
wim
crouwel
A fonte Stedelijk, de Wim Crouwel.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 10
Bibliografia
Kees Broos. Wim Crouwel Alphabets. Layout de
David Quay Engels, 144 p. 68 ilus. ISBN: 90-6369-
037-1. Em conversa com o historiador de arte
Kees Broos, Wim explicou o raciocínio e a meto-
dologia por detrás do seu trabalho tipográfico;
diálogo que originou um interessante livro .
Frederike Huygen, Hugues Boekraad. Wim
Crouwel Mode en module. Design editorial de
Karel Martens, Jaap van Triest. 432 pp / 230 x 175
mm / paperback / € 29.50. ISBN 90 6450 310 9.
“With over 700 colour graphic images and pho-
tographs, and more than a thousand illustra-
tions overall, this volume is a true graphic design
dictionary, not just as a reference for Crouwel’s
work, or for Dutch graphic design, but for a
whole period of development of modern graphic
design.”
Wim Crouwel, Paul Verhoeven, Derrick de
Wim Crouwel, Visuele Communicatie Nederland,
Kerckhove. Mattmo. English, paperback with 1969, Stedelijk Museum Amsterdam
’tabs’, 210 pages, 450 illustrations, 19,5 x 25,2 cm ,
ISBN 90-6369-014-2 1980-1985 Consultant Total Design, Amster-
Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, formas e dam
uso das letras. ISBN 10 972-576-396-3. Dinalivro. 1982-1985 Full Professor Technical University,
Lisboa, 2006. Delft.
1981-1985 Visiting professor Royal College of
Curriculo profissional Art, London.
1946-1949 Art Academy Minerva, Groeningen. 1985-1993 Director of the Boymans van Beu-
1949-1951 Military service. ningen Museum, Rotterdam.
1951-1952 Amsterdam Artschool IVKNO. 1987-1993 Private chair Erasmus University,
1952-1954 Designer with an exhibtion com- Rotterdam (art and cultural sciences).
pany, Amsterdam. From 1994 on: Free-lance designer and con-
1954-1956 Free-lance designer, Amsterdam. sultant, Amsterdam.
1954-1957 Teacher at the Royal Art Academy, One man exhibitions: Stedelijk Museum, Ams-
s’Hertogenbosch. terdam 1979, Museum Wiesbaden 1991, Design
1955-1963 Teacher at the Amsterdam Arts- Center, Stuttgart 1992 Took part in many group
chool IVKNO. exhibitions in the Netherlands, and abroad.
1957-1960 Designstudio together with interior Speaker at many congresses, symposia, and
designer Kho Liang le, Amsterdam. workshops.
1960-1963 Freelance designer, Amsterdam. Prémios: Werkman Prize 1958, Duwaer Prize
1963-1980 Co-founder and partner Total 1965, Piet Zwart Prize 1991, Stankowsky Prize
Design, Amsterdam. 1991. 1957 Knight of the Order of Leopold II, Bel-
1965-1972 Lecturer Technical University, Delft gium. 1980 Officer of the Order of Orange Nassau.
(industrial design). 1989 Officer of the Most Excellent Order of the
1972-1978 Professor extraordinary Technical British Empire. 1993 Knight of the Order of the
University, Delft. Dutch Lion. 1994 Doctor Honoris Causa, Techni-
1980-1982 Lecturer Technical University, Delft cal University, Delft
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 11
Logótipo desenhado por Piet Swart para o arquitecto Jan Wils, em 1921.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 12
Kurt, o perspicaz
Notas de Paulo Heitlinger Em 1940 terminou o Liceu Johanneum em
M
al tinha sido apresentado ao typeface Lübeck. De 1941 a 1945 fez o serviço militar na
designer alemão, isto por volta dos anos Rússia, de 1945 a 1950 foi prisioneiro de guerra. Só
80, já estavamos ao balcão do bar do Edi- em 1950-1952 é que Weidemann consegue fazer a
fício dos Congressos em Hamburgo, para sabo- sua aprendizagem profissional como tipógrafo-
rear uma boa cerveja. Weidemann é conheci- compositor.
do não só pela sua excelente tipografia e pelas De 1953 até 1955 frequenta a Academia das
suas considerações sobre a legibilidade, como Belas Artes em Stuttgart. De 1956-1963 é sub-edi-
também pela sua afiada (má-)língua e pela sua tor da revista profissional de artes gráficas Der
incrível «resistência» às bebidas fermentadas. Druckspiegel.
Kurt Weidemann nasceu na Masúria (Prússia) De 1963 até 1983 lecciona na Academia das
em 1922; já ultrapassou, portanto a bíblica idade Belas Artes em Stuttgart. Freelance designer,
de 80 anos. Bom bebedor, apreciador de tudo o copywriter, counsellor, CI designer. Desde 1983
que é belo, desenhador gráfico, typeface desig- dá aulas na Escola de Gestão Empresarial em
ner e tipógrafo, docente e autor contemporâneo. Koblenz, um estabelecimento privado, de carác-
Autor do clã de fontes Corporate ASE. ter universitário. Desde 1983, foi consultor da
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 17
Daimler Benz, desde 1991, foi docente na Acade- sem-serifada é a que menos impacto visual
mia de Design Karlsruhe. Em 1995, Weidemann tem; contudo contrasta bem com a versão A
ganhou o Lucky Strike Design Award. • a versão E (Egyptienne), de serifa grossa, serve
A Corporate ASE é um «clã de caractéres», para a documentação técnica: manuais,
uma trilogia de fontes que Weidemann dese- brochuras, etc. Esta serifa grossa tem
nhou para servir como Corporate Tipography da inspiração na Claredon.
multinacional Mercedes-Benz (hoje: Daimler- Todas as três versões tem o mesmo esqueleto,
Chrysler). A ASE foi adoptada por esta multina- a mesma estructura interna, e os mesmos pesos
cional a partir de 1989. Weidemann desenhou 3 e itálicas, pelo que harmonizam bem entre si — e
estilos de letra. Esta triologia inclui: até são intercambiáveis, quando seja necessário
• A versão A (Antiqua), serifada, para uso em fazer substituições. Hoje, a Corporate ASE está
todos os displays, anúncios publicitários, disponivel através da Fundição Berthold. www.
revistas de Marketing e outros campos de bertholdtypes.com.
representação da marca com a estrela de três Outras fontes de Kurt Weidemann são a ITC
pontas. Weidemann, versão comercial (e alargada) da
• a versão S (Seriflose), sem-serifada, reservada fonte Biblica. A Biblica foi pela primeira vez
para temas mais informativos, sem tendência usada em 1982.
representativa. Dentro da trilogia ASE, esta
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 18
Parabéns,
Hermann Zapf,
por ocasião do seu
90º aniversário!
Zapf, o diligente
Notas de Paulo Heitlinger
P
or ocasião do seu 90º aniversãrio, a empresa ded for setting mathematics texts, which means
Linotype rende homenagem à obra de Her- that its basic roman character set is complemen-
mann Zapf, e à da sua esposa Gudrun Zapf. ted by Greek, script and fraktur characters. AMS
Excelente calígrafo e empenhado tipógrafo ale- Euler was designed using METAFONT, a font
mão, que deixou vasta obra. A carreira de Her- manipulation program developed by Knuth, a
mann Zapf começou quando comprou o livro de Stanford computer scientist, in 1977.»
Rudolf Koch Das Schreiben als Kunstfertigkeit, e Depois vieram as fontes Michelangelo, Sistina,
em breve estava a aprender autodidactimamen- Hunt Roman e Marconi. Contudo, as suas letras
te. não tiveram o charme e a elegância de outras
Com vinte anos, sentiu-se seguro para dese- soluções contemporâneas, estéticamente mais
nhar a sua primeira typeface: a Gilgengart apelativas e convincentes.
Fraktur, uma gótica. Mais tarde aperecem a Durante a sua longa carreira, Zapf também
Palatino, a Melior, a Optima, a Comenius-Anti- foi consultor da Hallmark, produtora de greeting
qua. A AMS Euler foi desenvolvida na Stanford cards a nível mundial. Das fontes script de Zapf,
University para compor expressões matemáticas salienta-se a Jeanette e as de tipo chanceleresco
e científicas. AMS Euler foi desenhada por Her- – especialmente a ITC Zapf Chancery,
mann Zapf, com a ajuda de Donald Knuth, para Fontes: Aldus (1954), Aurelia (1983), Edison
a American Mathematical Society. «It is inten- (1978), Kompakt (1954), Marconi (1973-5, a pri-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 19
meira fonte totalmente digital), Medici Script tes condensadas, e a Optima Nova Titling com
(1971), Melior (1952), Noris Script (1976), Optima ligaduras. Esta fonte é comercializada com
(1958), Optima Nova (2002), Orion (1974), Palatino outros nomes por outras empresas. A Bitstream
(1950), Saphir (1953), Sistina (1950), Vario (1982), comercializa-a com o nome de Zapf Humanist;
Venture (1969), Linotype Zapf Essentials (2002), a WSI Fonts com o nome de Optane; a Rubicon
Zapfino (1998), Zapfino Extra (2003), ITC Zapf com o nome de Opulent; CG Omega; Eterna.
Chancery (1979) ITC Zapf International (1976),
ITC Zapf Book (1976), Zapf Renaissance Antiqua O Manuale Typographycum
(1984-1987), ITC Zapf Dingbats (1978). Pequena obra de Zapf, publicada em 1954, o
Segundo o autor, as suas criações favoritas Manuale Typographicum é um exercício e, claro,
são a Palatino, a Optima e a Melior. um manual de utilização de tipos e layouts. Com
Zapf foi o criador de fontes conhecidas mun- as três cores nobres da tipografia e o mero uso de
dialmente, como a Optima, Palatino, Michelan- caixas, formas e tamanhos, apresenta a histó-
gelo e Sistina. Contudo, a criatividade de Zapf ria e as inúmeras possibilidades e sentidos que
não foi brilhante; muitas das suas fontes têm a arte tipográfica permite. Não é propriamente
um aspecto algo tosco e torpe. As suas melhores um livro para ser lido, mas sim um recurso, uma
criações são as letras de inspiração caligráfica ferramenta visual para todos que trabalham ou
— como a Zapfino, por exemplo. que se interessam pela tipografia. O Manuale é
Algumas fontes começam a ser redesenha- uma homenagem à cultura ocidental, na medida
das. Por exemplo, a Optima, uma família de fon- em que recorre a inúmeras línguas e tradições
tes sem-serifa desenhadas por Zapf entre 1952 para tentar definir o que é a Tipografia.
e 1955. Em 2002, Hermann Zapf, em colabora- Autobiografia, PDF
ção com Akira Kobayashi, director de arte na download.linoty pe.com/free/how touse/
Linotype GmbH, redesenhou e criou a variante ZapfBiography.pdf
Optima Nova. Esta nova família de fontes apre- The Art of Hermann Zapf
senta a fonte no estilo itálico, autêntico (ao con- http://www.linotype.com/en/5667/thearto-
trário da original); assim como uma série de fon- fhermannzapf.html
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 20
Marilena Ferrari
Book Wonderful!
Na Renascença, quando já floria em esplendor a nobre arte da Impressão, algumas
oficinas no Norte da Itália continuavam a produzir preciosíssimos livros caligrafa-
dos e iluminados à mão, feitos por encomenda, em exemplares únicos. O recipiente
de um desses caríssimos exemplares foi o nosso venturoso rei Manuel I, que recebeu
a prenda das mão de mercadores italianos com interesses no comércio das especia-
rias orientais, monopólio europeu praticado por Manuel I. Diga-se que hoje é impos-
sível equacionar o valor destes livros, que praticamente já não mudam de proprietá-
rio. Se fossem postos à venda, atingiriam preços de milhões de dólares, sem dúvida.
A signora Marilena Ferrari aca-
bou de lançar, valha a comparação
com qualquer outro artigo de luxo,
o Ferrari Testarossa das edições de
livros de luxo. O livro que é supos-
tamente o mais caro do mundo,
Michelangelo – La Dotta Mano custa
ridículos 100.000 Euros. A primeira
tiragem deste livro esgotou-se cerca
de um mês após seu lançamento.
Os 33 exemplares foram vendidos
a bibliófi los e colecionadores euro-
peus e americanos, que não precisa-
ram de ir pedir um crédito à Cofidis
para comprar o livro.
Outros 33 livros da edição - limi-
tada a 99 exemplares - já estão a ser Um preciosíssimo manuscrito do século xvi.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 21
Revista Contemporânea,
Nr.2. Capa, da autoria de
Almada Negreiros. Junho
1922. Digitalização da
Hermoteca Nacional.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 25
A Lisbon Bible
(imagem da
Biblioteca Britânica)
é um dos mais
refinados códices da
Escola portuguesa de
iluminura hebraica,
com oficina em
Lisboa.
Finissimamente
caligrafada e ornada,
terminada em 1482,
ao fim de três anos
de labor, a Lisbon
Bible é um
testemunho da
riqueza da vida
cultural que os
Judeus portugueses
tinham desenvolvido
antes da sua expulsão
e conversão forçada
em Dezembro de
1496.
Manuscritos hebraicos na
Península Ibérica
À
A produção dos scriptoria judaicos, semelhança do que acontecera no meio
especialmente a «oficina de Lisboa», cristão (mosteiros, chancelarias, mais
lançou as bases estéticas e tecnológicas tarde nas cidades), desenvolveram-se
para o rápido desenvolvimento de uma nas comunidades sefarditas scriptoria, ofici-
tipografia hebraica de grande qualidade, na nas dedicada à cópia e à iluminura de livros
época manuelina. Apontamentos de P.H. religiosos e filosóficos. Foi notório o aperfei-
çoamento da iluminura hebraica; algumas
escolas de copistas instaladas em Lisboa e
nas principais cidades da Peninsula Ibérica
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 26
A Jewish National e a
University Library em
Jerusalem têm um site
devotado ao Mahzor
Worms, um «two-
volume parchment
festival prayerbook
from the 13th century,
featuring Ashkenazi
calligraphy, with
illumination and
decoration in ink and
color.» The Mahzor
was in use in the
community of Worms
until the synagogue’s
destruction on
Kristallnacht,
November 1938. It was
rescued by the city’s
archivist, who hid it in
the cathedral. In 1957,
following legal
proceedings in
Germany, the
manuscript was
transferred to the
Jewish National and
University Library in
Jerusalem.
http://jnul.huji.ac.il/
dl/mss/worms
formaram grandes artistas que ilustraram obras micrográfica, de gosto mudéjar, a tinta castanha
de temática judaica e outros manuscritos impor- e ouro, semelhante a exemplares assinados pelo
tantes da época. Entre os copistas mais impor- calígrafo Samuel Isaac de Medina, datados entre
tantes encontramos Samuel Isaac de Medina, 1469 e 1490, e que se conservam na Palatina de
Eleazar Gagosh e Samuel Musa Filho. Parma, em Cincinnati e em Oxford. Mas faltam-
Um exemplo deste trabalho é a Bíblia de Abra- lhe algumas características decorativas típi-
vanel guardada na Bibioteca da Universidade cas da escola lisboeta (tarjas e iluminuras de cor
de Coimbra; um manuscrito em pergaminho malva). Tem anotações e pertences que a rela-
atribuível à escola de calígrafos de Lisboa, da cionam com a família Abravanel, de Lisboa e de
segunda metade do século xv, raríssimo, porque Sevilha. É, por isso, conhecida como a Bíblia de
a maioria destas «Bíblias», na Península Ibérica, Abravanel.
foram queimadas pela Inquisição. Não tem colo- Na colecção da Biblioteca Nacional em Lisboa
fão (folha onde se inscrevem o local e data) que destaca-se a Bíblia hebraica do séc. XIII, precioso
nos informe da sua data e do nome do seu autor. exemplo da qualidade de execução e da decora-
Este manuscrito tem as páginas iniciais intei- ção, conhecida por Bíblia de Cervera, iluminada
ramente preenchidas com escrita messórica por Joseph Asarfati, entre 1299 e 1300.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 27
A
chamada Lisbon Bible é um dos mais Judeus portugueses tinham desenvolvido
refinados códices da Escola portu- antes da sua expulsão e conversão forçada
guesa de iluminura hebraica, com em Dezembro de 1496.
oficina em Lisboa. Finissimamente caligra- Samuel ben Samuel Ibn Musa, conhe-
fada e ornada, terminada em 1482, ao fim de cido como Samuel, o Escriba, copiou o
três anos de lavor, a Lisbon Bible é um tes- texto bíblico num elegante estilo caligrá-
temunho da riqueza da vida cultural que os fico com letras quadradas, por encomenda
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 28
Prototipografia sefardita
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 30
Prototipógrafos judeus
em Espanha e Portugal
E
A implementação da Imprensa chegou a m 1400, existiam em Portugal cerca de 30
Portugal 30 anos depois das invenções de comunidades e alguns milhares de famílias
Johanes Gutenberg (cerca de 1455). judias, na data da chegada de Colombo à
O primeiro incunábulo hebraico – Perush América – 1492 – haveria mais de 100 judiarias e
ha-Torah –, foi impresso em Itália, em 17 de dezenas de milhar de habitantes judeus em solo
Fevereiro de 1475 por Abraham ben Garton. português. Estimando a população num total de
Ao judeu Samuel Gacon devemos a edição do um milhão, cerca de 10% dos Portugueses era de
primeiro incunábulo português, em 1487, na cultura judaica. Considerando que, além desta
cidade de Faro. Apontamentos de Paulo significativa parte da população ser judaica,
Heitlinger. também existia uma população «moura», com
afinidades à lingua e cultura árabe e à religião
do Islão, Portugal era nessa época, sem qualquer
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 31
de Híjar. Nesta oficina judaica espanhola impri- rio de tipografia e editor. Segundo Konrad Hae-
miram-se livros hebraicos e cristãos. bler, o investigador alemão que mais intensa-
É a esta oficina que se atribue o Pentateuco mente estudou a produção de incunábulos, Rabi
sem dados de identificação tipográfica, publi- Eliser provavelmente nunca foi impressor, mas
cado em 1487 ou 1488. Conhecemos uma segunda dava a silo na sua casa aos tipógrafos emigran-
edição datada nesta oficina para o ano de 1490, tes e encarregava-se dos gastos que a impressão
impressa por Alantansi e editada por Salomón dos livros exigia Na sua oficina gráfica trabalha-
ben Maimon Zalmati. Nesta edição emprega-se a ram Judah Gedaliah, Zaqueu, seu filho, e Moi-
mesma cercadura com motivos florais e animais sés, filho de Semtob. Como revisor de algumas
que utilizou o protipógrafo castelhano Alonso obras impressas na tipografia de Eliezer aparece
Fernández de Córdoba num Manuale Cesarau- o nome de Joseph Calphon.
gustano, em 1487. Elieser Toledano teve que abandonar nova-
A actividade da oficina cessou com a morte do mente a actividade tipográfica, quando os judeus
Duque de Híjar, em 1491. Eliezer teve que aban- foram expulsos de Portugal. É possível que tenha
donar a actividade tipográfica em Espanha em partido para Fez, e aí tenha prosseguido a sua
1492, quando os Judeus foram expulsos deste actividade de impressor ou editor.
país; ficou em Lisboa, onde passou a ser conhe- O já mencionado Judah Gedaliah foi um tipó-
cido como Eliezer Toledano. grafo judeu nascido em Lisboa; trabalhou na
E
liezer foi 0 prototipógrafo que imprimiu o oficina de Eliezer Toledano até à expulsão dos
primeiro livro em Lisboa. A sua oficina lis- judeus de Portugal em 1497. Depois foi para Saló-
boeta produziu entre 1489 e 1492 várias nica (?), onde fundou a primeira tipografia na
obras em Hebraico. O material da sua oficina em cidade com o material trazido de Lisboa. Depois
Lisboa era proveniente de Híjar. da sua morte, a oficina foi continuada pelos
Em Lisboa, Rabi Eliezer Toledano acabou de filhos.
imprimir em 16 de Julho de 1489 Hiddushe ha-
Torah (as Novas da Lei ou Comentários ao Penta- As tabelas astronómicas de Zacuto,
teuco), obra do sábio Moses ben Nahman (1194— auxiliar essencial da navegaçã0 náutica
1270?), um rabi catalão, também conhecido pelo manuelina
E
nome latino Namánides. Estes Comentários m Leiria, a oficina familiar de Samuel e
ao Pentateuco de Mose ben Nachmann foram o Abraão d’Ortas executava trabalhos de
segundo incunábulo hebraico impresso em Por- impressão. Foi desse prelo que saiu a pri-
tugal. meira edição impressa do Almanach Perpetuum
Conhecemos seis incunábulos impressos de Zacuto, em 1496. Este Almanach foi um dos
por Eliezer Toledano. Imprimiu o Comentário à quatro primeiros livros impressos em Portugal
Ordem das Orações, de David Abudarham. Em e o primeiro de cariz científico, referente não a
1490 imprimiu em Lisboa o Livro de Orações e temas literários ou religiosos, mas à Matemática
Caminhos do Mundo, de Josué Levi, o Livro do e Astronomia. Qual é o conteúdo deste singular
Temor, de Jonah Gerondi, os Segredos da Penitên- livro, tão diferente dos outros lançados no mer-
cia, de Ionm Tovb, todos formando um volume. cado livreiro pelos prototipógrafos?
Em 1491 deu à estampa um Pentateuco, na ver- O Almanach reproduz o movimento dos
são de Onkelos e com comentário de Rashi e, em astros por referência a coordenadas astronómi-
1492, os Provérbios de Salomão. Neste ano impri- cas. Prevê os momentos e coordenadas de acon-
miu também Isaías e Jeremías, comentário de tecimentos celestes, as chamadas efemérides.
David Kimji e as Leis da Matança de Moisés ben As tabelas permitiam determinar a posição dos
Maimon. astros, determinar o momento dos eclipses e
Alguns autores defenderam que Elieser Tole- fazer diversos cálculos astronómicos e astroló-
dano não foi impressor, mas sim proprietá- gicos.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 34
O Almanach é o primeiro livro que sai da função do tempo não era meramente científica.
comunidade judaica, mas que não se destina ao Servia essencialmente fins astrológicos, utili-
público de religião judaica. Impresso em Latim, zando a palavra no sentido da previsão de acon-
a lingua-franca da Europa de então, este livro de tecimentos e dos comportamentos das pessoas
cariz científico, matemático e astronómico, des- em função dos astros. Servia ainda propósitos
tina-se a um mercado vasto, transpondo os hori- de medicina, agronómicos, meteorológicos, reli-
zontes da comunidade religiosa dos Judeus. giosos e outros, sendo a organização das tabelas
A versão original do Almanach Perpetuum foi destinada, em muitos casos, a satisfazer esses
escrita entre 1473 e 1478, data que é referida pelo fins.»
seu autor na sua introdução. O livro, ou seja a ver- Mas o Almanach Perpetuum não discute esses
são tipográfica, foi impresso em Leiria em 1496, assuntos, fornece apenas os dados astronómicos
tendo sido o conteúdo traduzido do Hebraico a partir dos quais se faziam as especulações rela-
para o Latim e do Latim para o Castelhano por tivas às referidas ciências. Comprova Fernando
Mestre José Vizinho, médico da corte de João II, Reis: «Redigido em hebraico, sob o título Haji-
astrónomo e discípulo do autor. bur Hagadol, o Almanach Perpetuum Celestium
Victor Crespo: «A curiosidade pela determi- Motuum é um conjunto de tábuas astronómicas
nação da posição dos astros na esfera celeste em de diversos tipos e para diversos fins, precedidas
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 35
A
braham bar Samuel Abraham
Zacut (1450-1522) foi um judeu
sefárdico, rabino, astrónomo,
matemático e historiador que serviu na
Página das tabelas do Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto,
corte de João II. Nasceu em Salamanca. exemplar existente na Biblioteca Nacional. As tabelas têm mais
Estudou Astrologia e Astronomia e tor- de 300 páginas. Escrito entre 1473 e 1478, foi impresso em Leiria
nou-se docente destas disciplinas na Uni- em 1496. Trata-se de um dos primeiros livros impressos em
versidade de Salamanca, e mais tarde nas Portugal e o segundo em Latim.
de Saragoça e Cartagena. Também se for- O facto de ter sido impresso pouco após a introdução da
Imprensa em Portugal, ilustra a importância posta na divulgação
mou em lei judaica e tornou-se rabino.
da informação neles contida. Os textos traduzidos por Mestre
Quando da expulsão dos judeus de José Vizinho foram os únicos textos não hebraicos saídos da
Espanha em 1492, Zacuto refugiou-se em oficina do impressor, também ele judeu: Abraão Samuel d'Ortas.
Lisboa, em consequência da promulgação A impressão foi co-financiada por Manuel I.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 36
O
historiador David Landes viu na expulsão rância. Cerca de 70.000 judeus foram forçados a
das comunidades sefarditas da Península um baptismo formal. Em 1506, Lisboa viu o seu
Ibérica no século xvi um factor prejudicial primeiro pogroma, que matou dois mil judeus
para as sociedades e economias ibéricas, anun- «convertidos»; a Espanha já vinha fazendo o
ciando o declínio de Portugal e Espanha no con- mesmo desde há duzentos anos.
certo da nações, então no auge da sua influência. A partir dessa data, a vida intelectual, cientí-
Na (controversa) obra A riqueza e pobreza das fica e comercial de Portugal desceu a um abismo
nações, Landes relata: «Quando os portugueses de intolerância, fanatismo e «pureza de san-
conquistaram o Atlântico Sul, estavam na linha gue». O declínio foi contínuo. A Inquisição por-
da frente das técnicas de navegação. A abertu- tuguesa foi instalada na década de 1540 e quei-
ra para a aprendizagem com sábios estrangei- mou o seu primeiro herético em 1543; tornou-se
ros, muitos deles judeus, tinha trazido conheci-
mento que se traduzia directamente na aplica-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 37
Almanach perpetuum
sive tacuinus,
Ephemerides z diarium
Abrami zacutti hebrei.
Theoremata autem
Joannis Michaelis
germani ... (1525).
Várias reimpressões das
tabelas de Zacuto
demonstram o interesse
que continuou a
merecer. Nesta imagem,
uma impressão de 1525,
um exclente scan do
Fundo Antigo da
Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto,
online em
www.fc.up.pt/fa
Bibliografia
Albuquerque, Luís de. Zacuto, Abraão. In: Dicionário de História de Portugal, Porto,
Figueirinhas, 1981, Vol. VI.
David Landes nasceu em
— Zacuto, Abraão, in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa,
1924 em Nova Iorque.
Círculo de Leitores, 1994, Vol. II.
É um dos historiadores
— Ciência e Experiência nos Descobrimentos. Lisboa, Livros Horizonte, 1983.
— A Náutica e a Ciência em Portugal. Lisboa, Livros Horizonte, 1985. da Economia mais
Amzalak, Moses Bensabat. A tipografia hebraica em Portugal no século xv. Coimbra. Impr. aplaudidos – e
da Universidade, 1922. criticados – da
Baião, A. História da Expansão Portuguesa no Mundo. Lisboa, Editora Ática, 1937. actualidade.
Cantera Burgos, Francisco, Abraham Zacut, Madrid, M. Agilar, s. d. [1935]. Doutorou-se em 1953
Cantera Burgos, Francisco, El Judio Salmantino Abraham Zacut, Madrid, C. Bermejo, [1931]. pela Universidade de
Crespo, Victor, Abraão Zacuto e a Ciência Náutica dos Descobrimentos Portugueses. Revista Harvard, onde se tornou
Oceanos, 29, Jan-Mar. 1997, 119-128. professor em 1964.
Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, formas e uso das letras. Lisboa, Dinalivro, 2006. Ensinou em Harvard até
Rodrigues, Manuel Augusto [editor]. Pentateuco. reprodução fac-similada do mais antigo
se reformar, sendo hoje
livro impresso em Portugal (com impressão concluída, no prelo de Samuel Gacon, em
professor emeritus de
Faro em 30 de Junho de 1487) - “Reedição” do exemplar depositado na British Library,
Economia da
London. Faro: Ed. do Governo Civil, 1991. Uma miserável colecção de fotocópias, que de
nehuma maneira dignifica o original a que faz referência. Universidade de Harvard
Landes, David S. The Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and Some So (Coolidge Professor of
Poor. 1998. ISBN 0-393-04017-8. History and Professor of
Monvmenta ivdaica Portvcalensia. (hebr.). Estudos introd. por Manuel Augusto Rodrigues. Economics).
Perush Ha-Tora, impresso por Ben Nahman, Moisés, 1194-1270; Elieser Toledano, impr.
Lisboa: Elieser Toledano, 16 Julho 1489 .
Tavares, Maria José Pimenta Ferro. Judaísmo e Inquisição. Estudos, 1987.
Diaz-Mas, Paloma. Sephardim: The Jews from Spain. Chicago, IL: University of Chicago
Press, 1992.
Watt, Montgomery. A History of Islamic Spain. Edinburgh: University Press, 1967.
Zacuto, Abraão. Almanach Perpetuum. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986.
[introdução de L. de Albuquerque].
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 38
N
a colecção de incunábulos da BN, consti- critos e impressos, da sua Biblioteca Real.
tuída por cerca de 1.500 exemplares prove- Mais informação: www.bn.pt/sobre-a-bn/cro-
nientes das Livrarias dos Conventos – com nica-200-anos.html
destaque para S. Francisco de Xabregas e de par- O objectivo da Biblioteca Nacional é dispo-
ticulares (por exemplo de D. Francisco Manuel nibilizar aos pesquisadores e cientistas do país,
da Camâra) existem exemplares de grande rari- a memória cultural que compõe o seu acervo,
dade, alguns únicos no mundo. Sob esta desig- desempenhando com desta forma o seu papel
nação encontram-se reunidas obras impressas e como disseminadora de conhecimento. A sua
publicadas durante o século xv. Catálogo edita- função actual é o resultado de uma evolução e
do em 1988. da consequente adaptação às características de
A Biblioteca Nacional de Portugal está loca- comunicação e informação da sociedade con-
lizada em Lisboa, com acervo de âmbito nacio- temporânea. O atendidamento ao público é mui-
tas vezes deficitário; as instalações e os funcio- A Biblioteca é muito procurada pelos seus
nários deviam de ser urgentemente rejuvenesci- fundos especiais entre os quais se destaca, pelo
dos! seu carácter único, o de manuscritos, desde a
Tipografia Portuguesa Século xvi é uma colec- Idade Média até aos nossos dias. Serviços dis-
ção incluída na secção de Reservados; foi indivi- ponibilizados: leitura presencial de periódicos
dualizada em 1990, quando da publicação do res- e monografias, leitura em livre acesso, consulta
pectivo Catálogo. É constituída por cerca de 930 de Reservados, pesquisas bibliográficas (pre-
edições, de autores portugueses e estrangeiros, senciais ou à distância), empréstimo domiciliá-
impressos em Portugal. Inclui obras de diversas rio, empréstimo interbibliotecas, reprodução de
proveniências, sendo de destacar a Livraria da documento.
Real Mesa Censória dos conventos extintos em Localização: Biblioteca Pública Municipal do
1834 e a Livraria de Francisco de Melo Manoel da Porto, Rua D. João IV (ao Jardim de S. Lázaro),
Câmara (Cabrinha). Para completar esta colec- 4049-017 Porto
ção, têm sido adquiridas obras em Portugal e no Tel. 225 193 480,
estrangeiro, por se tratar de um fundo prioritá- Fax 225 193 488,
rio. e-mail: bpmp@cm-porto.pt
Localização: Campo Grande, Lisboa, Portu-
gal. BN Digital é uma colecção de scans de pés- Fundo Antigo da Faculdade de Ciências da
sima qualidade, feitos sem a devida atenção e Universidade do Porto (FCUP)
O
responsabilidade, uma vergonha da Internet Fundo Antigo é um acervo de obras maio-
portuguesa. Online em: purl.pt/index/geral/PT/ ritariamente publicadas anteriormen-
index.html te a 1945. O fundo está ligado à história da
FCUP, tendo a sua origem nas bibliotecas das
Biblioteca Pública Municipal escolas que a antecederam, designadamen-
do Porto te: a Aula de Náutica (1762), a Aula de Debuxo e
F
undada em 1833, a Biblioteca ocupou as Desenho (1779), a Academia Real da Marinha e
actuais instalações em 1842. A Biblioteca Comércio (1803), a Academia Politécnica (1837) e,
está instalada na casa que servia de Hospí- finalmente, a Universidade do Porto, instituída
cio dos Religiosos de Santo António de Val-da- em 1911, com as Faculdades de Ciências, Medici-
Piedade – Convento de Santo António da Cidade na, Farmácia e Engenharia e que, registe-se, teve
–, situada na Praça da Cordoaria. É, desde 1876, como primeiro reitor o Gomes Teixeira, insigne
estabelecimento municipal. O seu acervo inicial matemático e docente desta Faculdade.
reunia fundos bibliográficos provenientes de A aplicação do decreto que instituiu a Real
bibliotecas de ordens religiosas e de particula- Biblioteca Pública do Porto (1833), permitiu a
res. É uma Biblioteca considerada, por nacionais valorização deste espólio ao determinar que «os
e estrangeiros, com a mais numerosa e rica livra- exemplares duplicados das obras sobre ciências
ria particular que existia em Portugal.Segun- matemáticas, navegação, comércio, agricultura,
do Alexandre Herculano, ela constava de 36.000 indústria e artes, geografia, cronologia e histó-
volumes, além de 300 códices manuscritos. ria fossem doados à Academia Real da Marinha
O decreto que determinou a sua criação man- e Comércio».
dava também que lhe fosse entregue um exem- O Fundo é constituído por obras das Ciências
plar de toda e qualquer obra impressa em Por- Exactas, embora tenha também obras de outra
tugal. Integrando essencialmente bibliografia natureza, por exemplo, artística. Estas obras
nacional, a BPMP continua a receber, por Depó- representam marcos na história da ciência e tes-
sito Legal, todas as publicações correntemente temunham alguns dos momentos altos da histó-
editadas no país. ria do pensamento humano e também do desen-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 41
O
Gomes Teixeira, no Porto. Os utilizadores devem vasto fundo antigo da Biblioteca da Facul-
dirigir-se à sala 133, no 1º piso, durante o horário dade de Letras da Universidade de Lisboa
de atendimento. é constituído por livros do século xv até
Na sala de leitura encontram-se localizadas ao século xix. Todavia, o trabalho que agora se
as obras de referência como enciclopédias, dicio- publica online refere-se a edições dos séculos xv
nários, atlas e ciências documentais assim como e xvi. O material digitalizado, online em http://
todas as obras posteriores a 1820 de carácter não www.fl.ul.pt/Biblioteca
científico e ainda obras de professores da FCUP. Não sabemos como foram reunidos estes
No 2º piso está concentrada a grande maioria da livros e como e quando entraram na Biblioteca
colecção de periódicos. No 3º piso encontram-se da Faculdade. Do legado de Leite de Vasconce-
obras de natureza científica (matemática, física, los apenas estão descritas algumas das obras
química e ciências naturais) posteriores a 1820 e que estavam depositadas na biblioteca, mas não
anteriores a 1945. A sala do 3º piso – antiga sala foi considerado o resto da colecção. Dos muitos
de leitura onde foi reintroduzido o mobiliário livros impressos em Portugal o mais precioso é a
original – destina-se a ser espaço cultural. No 4º Vita Chisti, do prelo de Valentim Fernandes (ver-
piso está o espaço de reservados. são digital online!) Há obras de místicos como
Online: www.fc.up.pt/fa Luís de Granada e Santa Teresa de Jesus e outros
de autores portugueses do século xvi como Gas-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 42
C
Portugal como as Ordenações Manuelinas ou os onstruída de raiz para albergar a bibliote-
Estatutos da Universidade de Coimbra, promul- ca universitária, durou a sua construção
gados por Filipe II. de 1717 a 1725. Apresenta grande unidade
Das obras impressas em cidades europeias, de estilo (edifício, decoração e mobiliário), ao
fazem parte textos originais e traduções de gosto barroco. O mobiliário, em madeiras exó-
autores clássicos; Catão, Cícero, Píndaro, Eucli-
ticas, brasileiras e orientais, foi executado pelo
des, Plínio, Aristóteles, Platão e Santo Agostinho,
entalhador Francesco Gualdini. Monumento
escritores italianos como Ariosto, Boccaccio e nacional, as três salas do piso nobre fazem parte
Petrarca. Outros exemplares são de autores qui- do roteiro habitual de visitantes e turistas. Além
nhentistas que se notabilizaram pela sua activida utilização protocolar em cerimónias da Uni-
dade em universidades europeias. Entre estes versidade, o espaço é cedido com frequência
estão portugueses como Aires Pinhel, Pedro para concertos, exposições e outras manifesta-
Nunes, Jerónimo Osório e Diogo de Teive. ções culturais. Conserva-se nestas salas e nos
A Biblioteca Digital da Faculdade de Letras dois pisos inferiores, reformados nos anos 70
da Universidade de Lisboa tem a sua génese no do século xx para depósitos e sala de trabalho,
projecto Património bibliográfico e documental um precioso acervo bibliográfico constituído
da Faculdade de Letras da Universidade de Lis- por cerca de 60.000 volumes encadernados de
boa, um projecto de conservação, digitalização obras impressas nos séculos xvi, xvii e xviii que
e difusão, que em 2005 foi objecto de candida- podem ser requisitadas e consultadas no edifí-
tura ao Programa Operacional de Cultura, e cuja cio novo da Biblioteca Geral.
aprovação, em Agosto do mesmo ano, garantiu Teoricamente, o objectivo do projecto BGDi-
os meios financeiros essenciais à sua concretiza-
gital é facultar pela Internet, cópias digitais de
ção. documentos da Biblioteca Geral, impressos
Integrada na estratégia de desenvolvimento e manuscritos. Em prática, temos aqui outro
e modernização da Biblioteca da FLUL, a Biblio- exemplo da horripilante qualidade de digitali-
teca Digital, constituída em torno da digitali- zação praticada por algumas das mais impor-
zação da colecção de incunábulos e impressos tantes bibliotecas portuguesas!
raros (séculos xv e xvi) cumpre, apoiando-se nas Exceptuando as digitalizações de exempla-
modernas tecnologias de comunicação, a mis- res da tipografia portuguesa do século XVI, rea-
são de tornar acessíveis estes recursos a todos lizadas no âmbito do Projecto DEBORA (Digi-
quantos deles queiram usufruir, nomeadamente tal Access to Books of RennAissance – UE Tele-
aos investigadores, garantindo-lhes um acesso e matics for Libraries Programm – Project 5608),
visibilidade universais. www.fl.ul.pt/biblioteca/
e dos manuscritos e impressos que integrarão
biblioteca_digital/index.htm projectos da Biblioteca Geral resultantes de can-
didatura ao Plano Operacional de Cultura, cuja
Biblioteca da Ajuda escolha obedeceu a um plano estabelecido pre-
A
Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, possui no viamente, as outras cópias resultaram de pedi-
conjunto das várias secções de documen- dos avulsos, não obedecendo, portanto, a um
tação de arquivo e biblioteca um total de critério preciso de selecção.
cerca de 95.000 unidades instaladas em 220 O acesso directo à BGDigital poderá ser feito
estantes, compreendendo 2800 prateleiras, num no subcatálogo reservado a estes conteúdos e,
total de 3700 metros. desde já, na Base SIIB/UC, cujos registos biblio-
gráficos correspondentes às obras digitalizadas
terão o endereço para acesso aos conteúdos elec-
trónicos.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 43
E A
sta importante biblioteca foi fundada em Biblioteca de Arte, de início denominada
1805 por Frei Manuel do Cenáculo Villas Biblioteca Geral e posteriormente Biblio-
Boas. A Biblioteca Pública e Arquivo Dis- teca Geral de Arte, constituiu-se em 1968
trital de Évora foi dividida em duas institui- para centralizar os fundos documentais exis-
ções autónomas: a Biblioteca Pública de Évora tentes na Fundação Gulbenkian, com especial
e o Arquivo Distrital de Évora, permanecendo relevância para aqueles destinados a apoiar o
ambos na dependência do Instituto de Arquivos Museu Gulbenkian, e a colecção particular de
Nacionais/Torre do Tombo. Calouste Gulbenkian constituída por cerca de
3.000 títulos. Encontra-se instalada no edifício-
Fundação Casa de Bragança: Biblioteca de sede da instituição.
Manuel II Na década de 90 a Biblioteca de Arte atraves-
E
m Vila Viçosa está o Palácio Ducal, residên- sou um período de remodelação e moderniza-
cia dos Duques de Bragança desde o século ção dos seus serviços. Em 1993 definiu-se a sua
xvi. O enorme edifício inspira-se na arqui- especialização nas áreas das artes visuais e da
tectura renascentista e tem três andares. No arquitectura e, simultaneamente, deu-se iní-
interior das cinquenta salas podem ver-se peças cio ao processo de informatização do catálogo
de colecções de arte e espécies bibliográficas bibliográfico. Em 2000 a Biblioteca de Arte pas-
pertencentes a Manuel II, último rei de Portugal. sou a integrar o fundo documental do extinto
Este palácio pertence à Fundação Casa de Bra- Departamento de Documentação e Pesquisa do
gança e está transformado em museu de artes Centro de Arte Moderna, de que se destaca um
decorativas. É um sintoma da nossa debilidade importante núcleo de catálogos de exposições
republicana e democrática o facto da Biblio- que documentam a evolução das artes plásticas
teca deste palácio ainda estar na posse de esfe- e da arquitectura em Portugal, desde 1911, assim
ras monárquicas, tendo o Estado «esquecido» a como os espólios de alguns artistas e arquitec-
necessidade de espropriar os proprietários reais tos portugueses contemporâneos.
e de integrá-la no Património Público, passando Em Outubro 2001 deu-se a integração das
a pertencer a todos os Portugueses. colecções do até então denominado Arquivo de
Nesta biblioteca encontram-se mais de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian. A arte
50.000 volumes! Embora disponha de uma sala em Portugal é o tema principal deste acervo,
de leitura aberta ao público, há livros guarda- criado através de proveniências diversas e cons-
dos como reservados, que constituem a maior e tituído por um conjunto de 317.243 espécies foto-
melhor colecção de livros antigos da Tipografia gráficas, representando objectos e aconteci-
portuguesa dos séculos xv e xvi, entre os quais mentos artísticos, assim como monumentos.
se contam edições princeps de Os Lusíadas, Está distribuído por 166 colecções, de que fazem
Comentários ao Pentateuco, Vita Christi, Tratado parte, entre outras a que reúne toda a informa-
da Esfera, Livro de Marco Polo, entre outros. ção resultante do trabalho de pesquisa reali-
É difícil ter acesso a estes livros, exigindo a zado com o levantamento da talha em Portugal,
direcção um pedido por escrito (!) para que um o inventário da azulejaria portuguesa e a inves-
estudioso possa aceder aos Reservados. A Biblio- tigação da arquitectura gótica nacional. Parte
teca de Manuel II está aberta ao público nos dias das colecções da Biblioteca Gulbenkian foi digi-
úteis, das 10 às 13 e das 15 às 18 horas. Os livros talizada no âmbito do Projecto ADAP - Arquivo
reservados e os arquivos musical e fotográfico Digital de Arte Portuguesa. Biblioteca de Arte -
da Casa de Bragança podem ser consultados no Colecções Digitalizadas: www1.gulbenkian.pt/
mesmo horário – mas só mediante marcação Coleccoes/ColecDigitalizadas.asp
prévia.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 44
D
epositária do património bibliográfico e O seu acervo, inteiramente informatizado, é da
documental do Brasil, e também de Portu- ordem de 350 mil volumes. Através do estatuto
gal, é a maior biblioteca da América Lati- do «depósito legal», a biblioteca recebe de Por-
na. Preserva, actualiza e divulga uma coleção tugal um exemplar das obras publicadas no país.
com mais de oito milhões de peças, que teve iní- A biblioteca foi fundada em 1837 (15 anos após
cio com a chegada da Real Biblioteca de Portugal a independência do Brasil), por 43 emigrantes
ao Brasil e que cresce constantemente, a partir portugueses no Rio de Janeiro, que se reuniram
de doações, aquisições e com o Depósito legal. na casa de António José Coelho Lousada com o
A biblioteca foi Real Biblioteca, depois Biblio- objectivo de «ampliar os conhecimentos dos seus
teca Imperial e Pública da Corte e, desde 1876, sócios e dar oportunidade aos portugueses resi-
chama-se Biblioteca Nacional. A sua história ini- dentes na então capital do Império de ilustrar o
cia-se em 1755, quando Lisboa sofreu o violento seu espírito». Em 1900 o Gabinete Português de
terramoto, que deu origem a um grande incên- Leitura transformou-se em biblioteca pública,
dio que, entre outros edifícios, consumiu o da permitindo a todos o acesso aos livros da sua
Real Biblioteca, também conhecida como Real biblioteca.
Livraria, considerada uma das mais importan- Entre as obras raras está a edição prínceps
tes bibliotecas da Europa, àquela época. d’Os Lusíadas, de 1572, as Ordenações manueli-
A esta perda quase irreparável seguiu-se um nas impressas por Jacob Cromberger em 1521, os
movimento para sua recomposição, que foi pre- Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns delles
vista entre as tarefas emergenciais para recons- fizeram, editados em 1539, e ainda manuscritos
truir Lisboa após o incidente de 1755. A fim de autógrafos de Camilo Castelo Branco e o Dicio-
levar a cabo essa missão, o Marquês de Pombal nário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias. Algu-
empenhou-se em juntar o pouco que sobrara da mas das obras raras e manuscritos podem ser
Real Livraria e a organizar, no Palácio da Ajuda, consultados por investigadores e especialistas
uma nova biblioteca, que em 1807 reunia cerca com autorização especial.
de sessenta mil peças, entre livros, manuscritos,
incunábulos, gravuras, mapas, moedas e meda- Bibliografia
lhas. Este acervo foi trazido ao Brasil após a Mendes, Maria Valentina Sul (coord.) Os incunábulos
das bibliotecas portuguesas, 2 vols., Lisboa, Biblioteca
vinda da família real em 1808, em consequência
Nacional, 1995.
da invasão de Portugal pelas tropas francesas. Biblioteca Nacional. Catálogo de incunábulos / introd.,
org. e ind. Maria Valentina C. A. Sul Mendes. Lisboa.
Biblioteca do Real Gabinete Português Biblioteca Nacional, 1988
A
Anselmo, Artur (1926), Bibliografia das obras impressas
Biblioteca do Real Gabinete Português de
em Portugal no século xvi.
Leitura do Rio de Janeiro, foi recentemente Castilho (1844-45), Relatório acerca da Biblioteca
considerada uma das mais belas em todo Nacional de Lisboa e mais estabelecimentos annexos.
o mundo. A mais valiosa biblioteca de obras de Cepeda et al., eds. (1991), Literatura hispânica da Idade
Média na Biblioteca Nacional. Catálogo da Exposição
autores portugueses fora de Portugal foi retrata-
realizada por ocasião do IV Congresso da Associação
da numa publicação de luxo que reúne vinte das Hispânica de Literatura Medieval.
mais belas bibliotecas. Coimbra. Biblioteca. (1970), Catálogo dos Reservados da
Guillaume de Laubier, fotógrafo, o jornalista Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
Matos (1878). Manual Bibliographico Portuguez de Livros
Jacques Bosser e James Billington, bibliotecário
Raros, Classicos e Curiosos.
da Biblioteca do Congresso dos EUA, juntaram- Santos (1812). Memória para a historia da typographia
se para publicar o livro Most Beautiful Libraries portugueza de seculo xvi
in the World. A Biblioteca do Real Gabinete Por- Silva et al. (1858-1923), Diccionario Bibliographico
Portuguez.
tuguês de Leitura, aberta há mais de século e
Viterbo (1924). O Movimento Tipográfico em Portugal no
meio, possui a maior e a mais valiosa relação de Século xvi
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 45
Biblioteca Nacional do Brasil, também chamada Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, é a depositária
do património bibliográfico e documental do Brasil. Também é a maior da América Latina. Entre
suas responsabilidades: preservar uma colecção com mais de oito milhões de peças, um acervo
que teve início com a chegada da Real Biblioteca de Portugal ao Brasil e que cresce
constantemente, com doações, aquisições e com o depósito legal. Foto: Zeca Rodrigues.
E
m 1755 Lisboa sofreu o violentíssimo ter- foi diversas vezes louvado pelo seu «amor aos
ramoto que causou o grande incêndio que livros»). Ao evadir-se cobardemente de Portugal,
consumiu, entre outros edifícios, o da Real João vi «esqueceu-se» dos livros, que não viaja-
Biblioteca (Real Livraria). A esta perda seguiu- ram com a família real. Ficaram 400 caixotes
se a iniciativa da sua recomposição. O Marquês abandonados no cais, ao relento, permanecendo
de Pombal juntou o que sobrara da Real Livra- em Belém ao sol e à chuva, até que retornaram
ria e organizou uma nova biblioteca, que em 1807 ao Palácio da Ajuda.
reunia 60.000 peças, entre livros, manuscritos, João vi, na balbúrdia da fuga apressada, só no
incunábulos, gravuras e mapas. Rio de Janeiro se daria conta de que chegara sem
A Biblioteca Real reconstituiu-se a partir de as suas preciosidades. Já mais seguro em solo
diversas proveniências, como as compras das brasileiro, em 1809 deu ordens para «irem encai-
bibliotecas de Nicolau Xavier da Silva, da Casa xotando e embarcando a Livraria, papéis impor-
de Redondo, de José Freire Monterroio Masca- tantes do Paço» e da Torre do Tombo. E, em prin-
renhas e a de Barbosa Machado, repletas de pre- cípios de 1810, antes que uma nova invasão che-
ciosidades, de códices iluminados, miscelâneas gasse a Portugal, começavam a ser transferidos
literárias, documentação dos Governos de Por- para o Rio de Janeiro os Manuscritos da Coroa e
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 46
uma coleção de 6.000 códices (!) que se achavam do acervo de 60.000 volumes, entre livros, docu-
no Paço das Necessidades. mentos, incunábulos, gravuras, desenhos, códi-
O acervo foi transferido em três etapas, a ces e partituras. Introduzidas por um texto em
primeira em 1810, e as outras duas em 1811. A que os autores resumem essa longa história, com
segunda remessa deixou Lisboa em 1811, acom- cerca de 600 imagens, acompanhadas de legen-
panhada pelo ajudante de bibliotecário Luís Joa- das que as explicam e contextualizam e dividi-
quim dos Santos Marrocos. A transferência da das em cinco secções – iconografia, cartografia,
Biblioteca completou-se em Setembro daquele música, manuscritos e obras raras –, apresen-
ano, com a remessa dos últimos 87 caixotes de tam a colecção que era o orgulho dos reis portu-
livros. gueses.
A Biblioteca encaixotada e transferida para No Brasil, a biblioteca foi acomodada no Hos-
o Brasil (no que se estima, 60.000 volumes), for- pital da Ordem Terceira do Carmo (Alvará de 27
maria a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Do de Julho de 1810). As instalações foram conside-
acervo transportado para o Brasil, vale destacar radas inadequadas e poderiam por em risco tão
uma Bíblia de Mainz de 1462, cerca de 200 gravu- valioso acervo, de modo que em 29 de Outubro
ras de Dürer, inúmeros manuscritos medievais e de 1810 – data que ficou atribuída à fundação ofi-
incunábulos, a primeira edição d’Os Lusíadas e cial da Biblioteca Nacional do Brasil –, o príncipe
um precioso Livro de Horas do século xv. regente editou o decreto que determinava que,
Todos estes detalhes só vieram a lume recen- no lugar que havia servido de catacumbas aos
temente, graças a uma publicação que nos che- religiosos do Carmo, se erigisse e acomodasse a
gou do Brasil. Editado em parceria com a Biblio- «minha Real Biblioteca e instrumentos de física e
teca Nacional, O Livro dos Livros da Real Biblio- matemática, fazendo-se à custa da Real Fazenda
teca identifica o acervo bibliográfico trazido por toda a despesa conducente ao arranjamento e
João vi ao Brasil. manutenção do referido estabelecimento».
Produto do esforço de uma equipe coorde- As obras concretizaram-se em 1813 e em 1814,
nada pelos autores Lilia Schwarcz e Paulo César organizado o acervo, a consulta foi franqueada
Azevedo, O Livro dos Livros recupera a «lógica» ao público. Oficialmente estabelecida, a Biblio-
da Biblioteca Real e apresenta agora ao público, teca continuou a ver o seu acervo ampliado atra-
em edição de 2003, uma amostra significativa vés de compras, doações, e de «propinas»: pela
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 47
P
arto do princípio que muitos leitores que menta informática universal.
vão abordar este artigo estão mais ou A XML não é propriedade de empresas comer-
menos familiarizados com a HTML, usan- ciais informáticas, mas está a ser adoptada por
do-a para criar páginas Web. Foi precisamen- muitas empresas de software. A XML deu um
te no âmbito da evolução da HTML que surgiu enorme impulso ao intercâmbio de dados entre
a XML. Estimulado pela insatisfação com os indivíduos, empresas, laboratórios, bibliotecas,
formatos existentes (padronizados ou não), o e inúmeras outras organisações sociais.
World Wide Web Consortium W3C começou em Com a tecnologia XML podemos não só arma-
meados da década de 1990 a elaborar uma «lin- zenar e transportar um conteúdo, como tam-
guagem de marcação» que combinasse a flexibi- bém fixar o carácter desse conteúdo e a lógica
lidade da SGML com a simplicidade da HTML: a que descreve e estrutura esse mesmo conteúdo.
XML. A flexibilidade da XML provem da faculdade
A meta do projecto era criar uma linguagem de transportar os mais variados tipos de dados
que pudesse ser lida por programas informáti- e de mantê-los estruturalmente coesos. A XML
cos (software), e integrar-se com as demais lin- serve magnificamente para
guagens já existentes. Vários princípios e con- • estruturar qualquer tipo de conteúdo e
ceitos importantes e essenciais estiveram na ori- informação, qualquer género de dados...
gem da XML: • ...e para descrevê-los sem ambiguidades em
• Separação do conteúdo da sua apresentação formato de texto.
• Simplicidade e legibilidade, tanto para Visto dados em formato XML serem um texto,
humanos como para computadores falamos de «documentos XML». A utilidade prá-
• Possibilidade de criação de tags sem limites tica da XML revela-se quando é adaptada às
• Criação de ficheiros que permitem a necessidades específicas de um sector da Ciên-
validação de estruturas (DTDs) cia, do Comércio, da Administração ou de qual-
• Permuta de dados entre bases de dados quer outro âmbito.
distintas. Isto porque a XML permite definir «dialectos»
• Foco na estrutura e hierarquia da informação, (tambem designados «vocabulários») para ade-
e não na sua aparência. quar o conceito XML a um dado tipo de docu-
A crescente popularidade da eXtended mentos. Um dialecto XML define sempre um
Markup Language – XML – advem das qualida- determinado tipo de documento.
des desta tecnologia para organisar e melhorar A XML é adequada para a criação de docu-
a partilha de informações entre sistemas infor- mentos com dados organizados de forma hierár
máticos heterogéneos. A mais fácil e menos cus- quica, como é o caso de texto formatados, ima-
tosa permuta de dados nos mais diferentes sec- gens vectoriais ou bases de dados. Várias bases
tores é, sem dúvida, um dos grandes benefícios de dados já «sabem» exportar conteúdos em
da XML. forma de ficheiro XML, para uma outra base de
A tecnologia XML (e também as suas «tecno- dados poder ler esses dados. Desde a sua pri-
logias satélites» XSL, XSLT, XPath, XLink, XQL meira especificação há precisamente 1o anos, em
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 49
GIMP Inkscape
1998, a eXtended Markup Language (XML) adqui-
riu substancial popularidade entre os peritos
informáticos. Embora o World Wide Web Con-
sortium (W3C) tenha fixado a versão 1.0 da XML
há poucos anos, vemos hoje este conceito inte-
grado no Comércio Electrónico. E não só no Elec-
Bitmap Vector, Outline
tronic Business; vemos dialectos XML avançar .jpg .gif .png .svg
Documentos de formato XML podem conter, Para efectivar layouts e realizar um bom
por exemplo: Screen Design de páginas Web, a HTML con-
• Transacções Comerciais, tinuará a ser a ferramenta de eleição. Em con-
• Catálogos de Produtos, junto com os Cascading Style Sheets, a HTML
• Relatórios Financeiros ou Estatísticos tem — em termos de Desenho Gráfico — níti-
• Gráficos Vectoriais, das vantagens sobre a XML. Para os amadores é
• Equações Matemáticas, fácil de aprender, e nas mãos de um profissional
• Anúncios publicitários, é funcional e efectiva. A XML terá sim um forte
• Todos os dados que necessitem de uma impacto na futura evolução do World Wide Web
representação estruturada. e na HTML, mas não será a substituta da HTML.
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Paginação profissional com InDesign
Workshops: Out., Nov. + Dez. de 2008
Das noções elementares até ao layout Quais são as diferenças entre o desenho editorial
profissional: este workshop integra para impressos e o chamado on-screen design?
todas as componentes para Dos milhares de typefaces digitais hoje
desempenhar profissionalmente disponíveis, quais são os mais adequados para
as tarefas do design editorial dada tarefa? Que importância se deve dar à
contemporâneo, oferecendo os legibilidade, à hierarquia visual, aos trends e
seguintes blocos: modas actuais? Como usar racionalmente
grelhas, com defini-las? Como obter do
— Tipografia digital: fontes, formatos, cortes, InDesign a sua melhor performance?
estilos. Selecção de tipos adequados. Porquê preferir uma fonte OTF a uma TTF? Para
— Espaçamentos e justificações. Grelhas. que servem os SC, Swash, ligaduras, OSF e
Domínio do InDesign e Illustrator. Titlings?
— Layouts para cartazes, prospectos, rótulos, O curso é leccionado pelo Dr. Paulo João Nunes
brochuras e livros. Newsletters e periódicos Heitlinger, profissional com vasta experiência
(jornais, revistas). internacional no campo do Design editorial
— Os passos para um Branding e/ou Corporate profissional, da Tipografia e do Typeface
Design coerentes. Design. É o autor da obra de referência
— Boas Práticas Tipográficas: onde observar as «Tipografia, Formas e Uso das Letras».
regras, onde ultrapassá-las. Como visualizar Todos os pormenores apresentados no curso são
hierarquias de conteúdos. sempre postos em prática através de
— Digitalização, preparação e posicionamento exercícios feitos no PC.
de imagens e gráficos vectoriais. Duração: 3 dias x 6 horas = 18 horas
— Colour management desde a imagem até ao ou: 2 dias x 8 horas = 16 horas
documento final. Separação de cores Computadores: Mac ou PC-Windows
correcta. CMYK e Pantones. Software: Adobe InDesign
— Pré-impressão e arte final: os segredos do Mínimo: 4. Máximo: 8.
“bom acabamento”. Fotólitos e CPT. Custo: 200 Euros/participante.
— As virtudes do novo formato PDF/X. Sítio: Alfontes, Boliqueime, Algarve.
Fácil acesso pela A22.
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