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Cadernos de Tipografia e Design, nº

October 11th - November 23th, 2008:


An exhibition with 100 designs by Wim
Crouwel celebrating his 80th birthday and
also celebrating 20 years Nijhof & Lee, at
Vivid Gallery, Rotterdam. The exhibition
will be accompanied by an illustrated
catalogue designed by David Quay.
70
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 2

Temas

80
Adobe lança CS versão 4..................................................3
Epidemia Design............................................................... 4
Tipografia argentina........................................................5
Screen fonts em Loulé......................................................5
Wim Crouwel 80 20 100................................................... 6
O monge da Tipografia.................................................... 7

90
Kurt, o perspicaz..............................................................16
Zapf, o diligente................................................................18
Book Wonderful!.............................................................20
Um lifestyle magazine dos anos 20........................... 23
Manuscritos hebraicos na Península Ibérica........ 25
Prototipógrafos judeus em Espanha e Portugal... 30
Online? Scan? Qualidade? Incunábulos e
Impressos Raros em bibliotecas portuguesas...... 39
O amor de João vi aos livros antigos......................... 45
XML, dez anos depois....................................................48
Anúncios........................................................................... 52

Será o typeface design uma garantia de longevida-


de? Se olharmos para as biografias de Wim Crou-
wel, Hermann Zapf e Kurt Weidemann, pare-
ce bem que sim. Pois todos eles continuam de boa
saúde e ainda estão activos na sua profissão. Tam-
bém Adrian Frutiger (já festejou os oitenta) e G.G.
Lange (a caminhos dos noventa) parecem provar
que quem desenha tipos, pode viver eternamente!
Comprove-o nas páginas deste Caderno.

e Design inci­dem sobre temas relacionados com


Ficha técnica a Tipogra­fia, o typeface design, o design gráfico,
Os Cadernos de Tipografia e Design são redigidos, e a análise so­c ial e cultural dos fenó­menos rela­
paginados e publi­c ados por Paulo Heitlinger; cio­nados com a visualização, edição, publicação e
são igualmente pro­prie­­dade intelectual deste repro­dução de textos, símbolos e imagens.
editor. Qualquer comu­n ica­ç ão dirigida ao editor – Os Cadernos, publicados em português, e também
calúnias, louvores, ofertas de dinheiro ou outros em brasileiro, castelhano, galego ou catalão, diri­
valores, propos­t as de subor­no, etc. gem os seus temas a leitores em Portugal, Brasil,
– info.tipografia@gmail.com. Espanha e América Latina.
Os Cadernos estão abertos à mais ampla Os Cadernos de Tipo­g ra­fia não professam qualquer
participação de colaboradores, quer regulares, orien­­tação nacionalista, chauvinista, partidária,
quer episó­d icos, que queiram ver os seus artigos e religiosa, misticista ou obscurantista. Também não
as suas opiniões difundidos por este meio. discutimos temas pseudo-científicos, como a Semió­
Os artigos assinalados com o nome do(s) seu(s) tica, por exemplo.
autor(es) são da responsabilidade desse(s) Em 2008, a distribuição é feita grátis, por
mes­mo(s) autor(es) – e também sua divulgação do PDF posto à disposição do público
propriedade intelec­t ual. interessado em www.tipografos.net/cadernos
Conforme o nome indica, os Cadernos de Tipografia © 2007,8 by Paulo Heitlinger. All rights reserved.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 3

Adobe lança CS versão 4


A Adobe apresentou a sua nova suite 4, com • Nova ferramenta “Live Preflight” para
nova cara. A empresa californiana identificação de erros de produção em design.
presenteou-nos com muitas novidades: • Painel de “Links” personalizavel.
• Exportação de arquivos XFL e integração
Adobe Photoshop CS 4 (edição de com o Flash CS4
bitmaps) • Professional para a adição de interatividade,
• Aceleração gráfica via GPU, zoom mais suave. animações e navegação.
• Ferramenta “Content-Aware Scaling”: • Nova opção “Conditional Text” possibilita a
recompõe imagens em tempo real enquanto criação de múltiplas edições de um mesmo
são redimensionadas, mantendo elementos documento, óptimo para a geração de versões
vitais da composição. em outros idiomas.
• Novo painel de ajustes não-destrutivos. • Recurso “Cross-References” facilita a gestão
• Pinturas e composições em modelos 3D, de documentos com formulários longos.
inclusivé com aplicação de texturas 2D.
• Canvas rotativo. Dreamweaver CS4 (edição html, web)
• Recurso de auto-alinhamento e auto- • Pré-visualização (Live View) mais precisa,
mesclagem de layers para panoramas em inclusivé com testes de interacções.
360º. • O sistema de renderização WebKit, do Safari.
• Correcção de cores melhorada. Melhor • Novos recursos “Related Files” e “Code
integração com o Photoshop Lightroom. Nova Navigator” aprimoram o processo de
interface com abas e janela que ocupa 100% da trabalhar com sites e códigos de documentos
área de trabalho. que incluam arquivos CSS externos,
bibliotecas JavaScript, ficheiros conectados e/
Bridge CS4 (para que serve?) ou códigos server-side.
Com uma performance melhor e agilidade na • Trabalho com estilos CSS aprimorado,
transferência de imagens para o Photoshop. redirecionamento automático para as regras
e parâmetros relacionados. Integração com o
Illustrator CS4 (edição de vectores) Photoshop via Smart Objects.
• Nova ferramenta “Blob”, para desenhos mais
«naturais». Flash CS4 Professional (animações)
• Suporte a projectos com múltiplas páginas via • Novo modelo de animações elimina
crop de Artboards. necessidade de inserção manual de keyframes
• Habilidade de criar gradientes elípticos e com e ajustes de tweens.
transparência. • Novas capacidades de transformação de
• Melhorias nas Smart Guides. objectos 3D.
• Integração do Kuler na funcionalidade Live • Interface unificada com outros programas
Color. CS4 e novas opções de exportação.
• Modo de isolamento de objectos aprimorado. • Suporte ao XFL para abertura de documentos
do After Effects e InDesign directamente no
InDesign CS4 (paginação e tipografia) Flash.
• Chegada do IDML (InDesign Markup
Language), representação XML de Premiere Pro CS4 (edição de video)
documentos do InDesign. • Várias melhorias no fluxo de trabalho.
Suporte a novas câmaras e formatos de vídeo.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 4

• Codificação e exportação de projectos em


massa via Adobe Media Encoder.
• Recurso “Speech Search”, para pesquisas em
vídeos via identificação de áudio.

After Effects CS4 (special effects)


• Habilidade de realizar buscas em linhas do
tempo e projectos.
• Importação e animação de Layers 3D do
Photoshop.
• Integração mais profunda com o Flash CS4
Professional. Epidemia Design
«É com enorme prazer que convidamos você para
Soundbooth CS4 (edição de audio) fazer parte dessa febre que está tomando conta de
todos. Uma epidemia que irá contaminar todos com
• Suporte de múltiplas faixas.
o Design. Essa disseminação está contagiando cada
• Recurso para nivelamento automático de vez mais pessoas, que hoje focam seus olhares no
volume através de múltiplas entradas e Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura -
altifalantes. Fortaleza/Ceará, nos dias 05, 06, 07 e 08 de
• Teste de codificação MP3 em tempo real para Novembro.»
saída. Datas em que acontecerá o Epidemia Design -
evento para disseminar a Cultura do Design e
• “Speech Search”, para busca de textos em
incentivo à novas ideias, conceitos e estímulos para
áudios.
os profissionais da área ou áreas afins, empresários e
estudantes de design e áreas afins.
Device Central CS4 (bibliotecas) O Epidemia Design é um evento organizado por
• Mais de 450 novos aparelhos incluídos. estudantes de design da FANOR- Faculdades
• Acesso a bibliotecas virtuais com Nordeste e apoiado por alguns professores. Porém
informações de fabricantes de aparelhos. busca agregar pessoas de qualquer outra faculdade,
cidade, estado, enfim, qualquer um que sinta a
• Processo de testes automatizado via scripts.
vontade de ser contaminado.
• Possibilitade de exportar processos em Se você possui uma marca ou um produto que tem o
screen-shots ou videos H.264. design como diferencial, então você poderá fazer
parte do bazar. O bazar é uma feira onde os
participantes terão um espaço cedido pelo evento
para expor e comercializar seus produtos.

O bazar acontecerá nos dias 5, 6 e 7 de novembro (à


noite), e estará localizado no Espaço Mix do Dragão
do Mar, local onde acontecerá o evento durante a
semana (bazar, exposição e palestras serão lá).
Portanto tudo estará concentrado lá e qualquer
pessoa, seja ela participante do evento ou não,
poderá circular pelo local e adquirir os produtos lá
expostos. Para mais informações acesse o blog do
evento e acompanhe os detalhes:
www.epidemiadesign.blogspot.com
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 5

Tipografia argentina Screen fonts em Loulé


De Jose Scaglione recebemos a seguinte mensagem: No INUAF, em Loulé, Algarve, Paulo Heitlinger fará no
dia 24 do corrente mês, às 19:30, uma apresentação com
Griselda Flesler y Rubén Fontana están trabajando en o titulo «Dos screen fonts à Gótica Rotunda».
forma conjunta con un grupo de colaboradores en la
edición de un libro que pretende explorar la historia Começando com uma discussão das particularidades
tipográfica Argentina en su complejidad, y dar cuenta de específicas dos screen fonts – legibilidade, hinting, font
las formas que adoptó la práctica tipográfica, de sus smooting, bitmap fonts, etc, a retrospectica que se
múltiples cruces con otros campos profesionales y de segue a esta temática relata as perdas de qualidade
las condiciones contextuales que incidieron en ella. tipográfica verificadas quando da transição de uma
Asimismo intenta establecer un puente entre las tecnologia tipográfica para a próxima.
generaciones precedentes que actuaron hasta
comienzos de los años ‘50 del siglo xx y el momento Seguindo o trajecto histórico da Escrita manual,
actual, que desde los ‘80 es regido por la educación Fundição de Tipos e composição manual de caractéres
sistemática y universitaria de la disciplina. de chumbo, Linotipia, Fotocomposição, e, finalmente, o
Digital Typefacing, Paulo Heitlinger aborda os déficits
Para uno de los capítulos de éste trabajo estoy registados quando da introdução de «novas
realizando un trabajo de compilación de tipografías tecnologias» e a forma como esses problemas foram
realizadas por profesionales argentinos. Las fuentes que superados. As tecnologias do Kerning e Hinting, os
se seleccionen serán publicadas en el libro con mención Bitmap fonts, as fontes vectoriais e os potenciais do
de su autor y una breve memoria del proyecto. formato OpenType serão analizados e demonstrados.

Es por este motivo que me gustaría convocar a aquellos


diseñadores argentinos que hayan diseñado tipografías,
aun si estas no fueron publicadas, a que se pongan en
1ª Feira do Livro de
Jaguariúna
contacto conmigo para coordinar una posible
publicación de dichos trabajos en este libro.

Por favor contactarme en forma directa a estas 22 a 26 de Outubro de 2008


direcciones de correo para obtener mas información Parque Santa Maria, Jaguariúna - SP
sobre el proyecto. 10:00 às 22:00 h
jose@type-together.com
info@josescaglione.com A 1ª Feira Nacional do Livro de Jaguariúna nasce como
uma das maiores feiras a céu aberto do Brasil, num
espaço de 24 mil m², sendo 5 mil m² de área coberta.
Programado para acontecer entre os dias 22 e 26 de
outubro (quarta-feira a domingo), sempre das
10h00 às 22h00, no Parque Santa Maria, em Jaguariúna.
O evento tem como grande objectivo social actuar
como disseminador e incentivador da cultura e
educação por meio da literatura em toda a região.

Pensando na valorização da cultura brasileira, a


organização promove o evento com entrada franca.
A Feira reunirá diversas actividades culturais
para crianças, jovens e adultos dos mais diversos
segmentos, promovendo a venda de livros, exposições,
workshops, palestras, oficinas, concurso cultural,
apresentações artístico-culturais com artistas de
renome nacional, além de artistas regionais.
http://www.feiradolivrodejaguariuna.com.br
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 6

Wim Crouwel 80 20 100


To celebrate the 80th birthday of Wim Crouwel Rembrandt exhibition in the van Gogh Museum
and the 20 years of Nijhof & Lee, Vivid in Amsterdam also opening in October this year.
Gallery in Rotterdam organises the exhibition Nijhof & Lee, a business for new and anti-
80 | 20 | 100 quarian books, was founded by Frank Nijhof
One hundred works by Crouwel will be on and Warren Lee in 1988. The shop is situated in
display. For this, Vivid Gallery made a the Staalstraat in the historical centre of Ams-
selection out of the superb Crouwel collection terdam, near the Waterlooplein market and
of Frank Nijhof and Warren Lee. The City Hall/Opera house. Specialised in books on
exhibition will be accompanied by a fully fine art, photography and design the shop has
illustrated catalogue designed by David Quay. become the specialist in the fields of graphic
design and typography, with a collection of new
and antiquarian books unique for the Nether-

W
im Crouwel is a designer, artist, pro- lands. Nijhof & Lee also carries a large collec-
fessor and museum director. His long tion of posters by Dutch graphic designers of the
and rich career includes establishing second half of the twentieth century.
a studio with the industrial designer Kho Liang Vivid Gallery
Ie (www.kholiangie.nl). He was responsible for William Boothlaan 17a
many posters and catalogues of the Van Abbe NL-3012 VH Rotterdam
Museum in Eindhoven and the Stedelijk Museum The Netherlands
in Amsterdam from 1956 till 1982. +31 [0] 10 4136321
Crouwel cofounded Total Design, the first Opening hours: Tuesday - Sunday, 12 - 6 pm
multi-disciplinary design studio in the Nether- www.vividvormgeving.nl
lands, which became a dominant force in Dutch
graphic design. Crouwel and his colleagues had
influence on the national and cultural identity
of the Netherlands. In 1967 Crouwel designed
the font New Alphabet; he extended the grid to
become a matrix within which letterforms were
constructed as units on a grid.
Beginning in 1972 Crouwel started teaching
part time at the Delft Technical University, and
in 1980, he left Total Design to be a full time pro-
fessor. In 1985 he became the director of the
Museum Boijmans van Beuningen, Rotterdam
and also held the Private Chair at Erasmus Uni-
versity, Rotterdam (1987-93). Nowadays Crouwel
is still working as a designer, primary designing
important art exhibitions like the Vereniging
Wim Crouwel. Foto: Xavier Encinas

grafia Moderna. Estas honras são tanto mais


O monge da impressionantes quanto ao facto que o typeface

Tipografia design do famoso holandês é puramente concei-


tual, asquético e formal, negando qualquer preo­
É graphic designer, typeface designer, formador cupação pela legibilidade e usabilidade – crité-
e curador de exposições. Foi director do reputa- rios que nos acostumámos a exigir a uma «boa
do Museum Boymans-van Beuningen em Roter- tipografia».
dão. Quem viu o filme «Helvetica» apreciou (ou Comparando o seu design de letras experi-
não) o seu depoiamento a favor da famosa letra mentais com o da fina-flor do typeface design
suíça. Fundou o famoso atelier Total Design. holandês contemporâneo – citando nomes
Hoje, o holandês Wilm Hendrik Crouwel (nasci- badalados como Frank E. Blokland, Erik van
do em Groningen, 1928), volta a ser alvo de home- Blokland, Petr van Blokland, Jelle Bosma, Jos
nagens, como é o caso da importante exposição Buivenga, Bram de Does, Lucas de Groot, Jan
montada na Galeria Vivid, em Roterdão (página van Krimpen, Martin Majoor, Christoph Noor-
anterior). dzij, Gerrit Noordzij, Peter Matthias Noordzij,
Para alguns, Wim Crouwel, também conhe- Albert-Jan Pool, Just van Rossum, Fred Smeijers,
cido por «Mr. Gridnik», tem estatuto de culto; é Gerard Unger – verificamos rapidamente que as
moda dar-lhe já piropos como o de Papa da Tipo- afinidades são praticamente ...nulas.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 8

abcdefghijklmnopqrstuvwxyz
new alphabet two
Wim Crouwel publicou o seu “new alphabet” em 1967.

Contudo, se formos pesquisar um pouco os protótipos realizados na Bauhaus por Herbert


mais atrás, percebemos que Wim Crouwel mos- Bayer, Joost Schmidt e Albers.
tra uma relação intensa com o trabalho expe- Em 1968, trabalhando para o director do
rimental desenvolvido pelo campeão do movi- Museu Stedelijk de Arte Contemporânea, Wim
mento vanguardista De Stijl, Theo van Doesburg Crouwel não resistiu ao prazer de fazer uma
(1883-1931). E percebemos também que Crou- experiência no estilo dos alfabetos elementa-
wel continuou a experimentação conduzida na res. O resultado foi um invulgar poster para uma
Bauhaus no campo dos alfabetos elementares, mostra de Designers – «Vormgevers».
amplamente discutidos nos Cadernos de Tipo- Semelhante tentativa foi o seu new alphabet,
grafia Nr. 4. Será pois essa a razão da devoção um projecto de 1967, com uma versão digitali-
mostrada por tantos entusiastas da obra deste zada pela fundição londrina The Foundry.
experimentalista, considerado um dos ícones Wim Crouwel começou a sua actividade grá-
do design holandês contemporâneo, conhecido fica em 1952, e em 1963 foi sócio-fundador da
pela sua sistemática abordagem do desenho das Total Design – uma agência de comunicação que
formas das letras, que, se quisermos ser simpáti- realizou, entre muito outros grandes projectos,
cos, nunca deixou de ser humorística e lúdica. a sinalética do Aeroporto Schiphol, em Amster-
Num interessante e elucidativa entrevista dão. A Total Design atingiu grande reputação
patente no YouTube.com, Crouwel salienta a sua pelo seu intransigente empenho pelo Funciona-
abordagem construtivista ao desenho de letras, lismo e pelo Estilo Internacional, o que se tradu-
ignorando a evolução histórica e concentrado- zia, muitas vezes, por optar pelo facilismo cha-
se em exercícios metódicos e formais. mado «Helvetica».
O fascínio exercido pelos alfabetos elemen- As criações tipográficas de Crouwel foram
tares, por caractéres «universais», compostos a publicadas em formato digital: o New Alphabet,
partir dos mais simples elementos – no seu caso, a fonte Fodor e o Stedelijk Museum Alphabet, e
blocos rectangulares, levou Crouwel a continuar ainda a família de fontes Gridnik •

abcdefghijklmnopqrstuvwxyz
van doesburg archi type
Letras desenvolvidas por Teo van Doesburg, 1919, digitalizadas por The Foundry, 1996.

abcdefg h ij k l m nopq rstu v wxy z


stu rm b l ond herber t ba y er
Alfabeto sturmblond, desenvolvido por Herbet Bayer em 1925, digitalizado
por Paulo Heitlinger, www.tipografos.net/fontes
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 9

Obra-mestra da arte reducionista – ou simplesmente o cúmulo da


simplificação, monótona e aborrecida? Desenho de selos de
correio de Wim Crouwel.

vorm
gevers
abcdefg
hijkklmn
opqrstu
vwxyz
wim
crouwel
A fonte Stedelijk, de Wim Crouwel.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 10

Bibliografia
Kees Broos. Wim Crouwel Alphabets. Layout de
David Quay Engels, 144 p. 68 ilus. ISBN: 90-6369-
037-1. Em conversa com o historiador de arte
Kees Broos, Wim explicou o raciocínio e a meto-
dologia por detrás do seu trabalho tipográfico;
diálogo que originou um interessante livro .
Frederike Huygen, Hugues Boekraad. Wim
Crouwel Mode en module. Design editorial de
Karel Martens, Jaap van Triest. 432 pp / 230 x 175
mm / paperback / € 29.50. ISBN 90 6450 310 9.
“With over 700 colour graphic images and pho-
tographs, and more than a thousand illustra-
tions overall, this volume is a true graphic design
dictionary, not just as a reference for Crouwel’s
work, or for Dutch graphic design, but for a
whole period of development of modern graphic
design.”
Wim Crouwel, Paul Verhoeven, Derrick de
Wim Crouwel, Visuele Communicatie Nederland,
Kerckhove. Mattmo. English, paperback with 1969, Stedelijk Museum Amsterdam
’tabs’, 210 pages, 450 illustrations, 19,5 x 25,2 cm ,
ISBN 90-6369-014-2 1980-1985 Consultant Total Design, Amster-
Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, formas e dam
uso das letras. ISBN 10 972-576-396-3. Dinalivro. 1982-1985 Full Professor Technical University,
Lisboa, 2006. Delft.
1981-1985 Visiting professor Royal College of
Curriculo profissional Art, London.
1946-1949 Art Academy Minerva, Groeningen. 1985-1993 Director of the Boymans van Beu-
1949-1951 Military service. ningen Museum, Rotterdam.
1951-1952 Amsterdam Artschool IVKNO. 1987-1993 Private chair Erasmus University,
1952-1954 Designer with an exhibtion com- Rotterdam (art and cultural sciences).
pany, Amsterdam. From 1994 on: Free-lance designer and con-
1954-1956 Free-lance designer, Amsterdam. sultant, Amsterdam.
1954-1957 Teacher at the Royal Art Academy, One man exhibitions: Stedelijk Museum, Ams-
s’Hertogenbosch. terdam 1979, Museum Wiesbaden 1991, Design
1955-1963 Teacher at the Amsterdam Arts- Center, Stuttgart 1992 Took part in many group
chool IVKNO. exhibitions in the Netherlands, and abroad.
1957-1960 Designstudio together with interior Speaker at many congresses, symposia, and
designer Kho Liang le, Amsterdam. workshops.
1960-1963 Freelance designer, Amsterdam. Prémios: Werkman Prize 1958, Duwaer Prize
1963-1980 Co-founder and partner Total 1965, Piet Zwart Prize 1991, Stankowsky Prize
Design, Amsterdam. 1991. 1957 Knight of the Order of Leopold II, Bel-
1965-1972 Lecturer Technical University, Delft gium. 1980 Officer of the Order of Orange Nassau.
(industrial design). 1989 Officer of the Most Excellent Order of the
1972-1978 Professor extraordinary Technical British Empire. 1993 Knight of the Order of the
University, Delft. Dutch Lion. 1994 Doctor Honoris Causa, Techni-
1980-1982 Lecturer Technical University, Delft cal University, Delft
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 11

Logótipo desenhado por Piet Swart para o arquitecto Jan Wils, em 1921.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 12

a Letra «a», fonte new alphabet, desenhada por Wim Crouwel.


Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 13

a Letra «a», fonte Stedelijk, desenhada por Wim Crouwel.


Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 14

a Letra «a», fonte Fodor, desenhada por Wim Crouwel.


a
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 15

Letra «a», fonte Gridnik, desenhada por Wim Crouwel.


Kurt Weidemann. Foto: nike, 2006

Kurt, o perspicaz
Notas de Paulo Heitlinger Em 1940 terminou o Liceu Johanneum em

M
al tinha sido apresentado ao typeface Lübeck. De 1941 a 1945 fez o serviço militar na
designer alemão, isto por volta dos anos Rússia, de 1945 a 1950 foi prisioneiro de guerra. Só
80, já estavamos ao balcão do bar do Edi- em 1950-1952 é que Weidemann consegue fazer a
fício dos Congressos em Hamburgo, para sabo- sua aprendizagem profissional como tipógrafo-
rear uma boa cerveja. Weidemann é conheci- compositor.
do não só pela sua excelente tipografia e pelas De 1953 até 1955 frequenta a Academia das
suas considerações sobre a legibilidade, como Belas Artes em Stuttgart. De 1956-1963 é sub-edi-
também pela sua afiada (má-)língua e pela sua tor da revista profissional de artes gráficas Der
incrível «resistência» às bebidas fermentadas. Druckspiegel.
Kurt Weidemann nasceu na Masúria (Prússia) De 1963 até 1983 lecciona na Academia das
em 1922; já ultrapassou, portanto a bíblica idade Belas Artes em Stuttgart. Freelance designer,
de 80 anos. Bom bebedor, apreciador de tudo o copywriter, counsellor, CI designer. Desde 1983
que é belo, desenhador gráfico, typeface desig- dá aulas na Escola de Gestão Empresarial em
ner e tipógrafo, docente e autor contemporâneo. Koblenz, um estabelecimento privado, de carác-
Autor do clã de fontes Corporate ASE. ter universitário. Desde 1983, foi consultor da
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 17

Digitalização de uma letra para o


jogo de fontes ASE

Daimler Benz, desde 1991, foi docente na Acade- sem-serifada é a que menos impacto visual
mia de Design Karlsruhe. Em 1995, Weidemann tem; contudo contrasta bem com a versão A
ganhou o Lucky Strike Design Award. • a versão E (Egyptienne), de serifa grossa, serve
A Corporate ASE é um «clã de caractéres», para a documentação técnica: manuais,
uma trilogia de fontes que Weidemann dese- brochuras, etc. Esta serifa grossa tem
nhou para servir como Corporate Tipography da inspiração na Claredon.
multinacional Mercedes-Benz (hoje: Daimler- Todas as três versões tem o mesmo esqueleto,
Chrysler). A ASE foi adoptada por esta multina- a mesma estructura interna, e os mesmos pesos
cional a partir de 1989. Weidemann desenhou 3 e itálicas, pelo que harmonizam bem entre si — e
estilos de letra. Esta triologia inclui: até são intercambiáveis, quando seja necessário
• A versão A (Antiqua), serifada, para uso em fazer substituições. Hoje, a Corporate ASE está
todos os displays, anúncios publicitários, disponivel através da Fundição Berthold. www.
revistas de Marketing e outros campos de bertholdtypes.com.
representação da marca com a estrela de três Outras fontes de Kurt Weidemann são a ITC
pontas. Weidemann, versão comercial (e alargada) da
• a versão S (Seriflose), sem-serifada, reservada fonte Biblica. A Biblica foi pela primeira vez
para temas mais informativos, sem tendência usada em 1982.
representativa. Dentro da trilogia ASE, esta
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 18

Parabéns,
Hermann Zapf,
por ocasião do seu
90º aniversário!
Zapf, o diligente
Notas de Paulo Heitlinger

P
or ocasião do seu 90º aniversãrio, a empresa ded for setting mathematics texts, which means
Linotype rende homenagem à obra de Her- that its basic roman character set is complemen-
mann Zapf, e à da sua esposa Gudrun Zapf. ted by Greek, script and fraktur characters. AMS
Excelente calígrafo e empenhado tipógrafo ale- Euler was designed using METAFONT, a font
mão, que deixou vasta obra. A carreira de Her- manipulation program developed by Knuth, a
mann Zapf começou quando comprou o livro de Stanford computer scientist, in 1977.»
Rudolf Koch Das Schreiben als Kunstfertigkeit, e Depois vieram as fontes Michelangelo, Sistina,
em breve estava a aprender autodidactimamen- Hunt Roman e Marconi. Contudo, as suas letras
te. não tiveram o charme e a elegância de outras
Com vinte anos, sentiu-se seguro para dese- soluções contemporâneas, estéticamente mais
nhar a sua primeira typeface: a Gilgengart apelativas e convincen­tes.
Fraktur, uma gótica. Mais tarde aperecem a Durante a sua longa carreira, Zapf também
Palatino, a Melior, a Optima, a Comenius-Anti- foi consultor da Hallmark, produtora de greeting
qua. A AMS Euler foi desenvolvida na Stanford cards a nível mundial. Das fontes script de Zapf,
University para compor expressões matemáticas salienta-se a Jeanette e as de tipo chanceleresco
e científicas. AMS Euler foi desenhada por Her- – especialmente a ITC Zapf Chancery,
mann Zapf, com a ajuda de Donald Knuth, para Fontes: Aldus (1954), Aurelia (1983), Edison
a American Mathematical Society. «It is inten- (1978), Kompakt (1954), Marconi (1973-5, a pri-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 19

A Marconi, produzida por Zapf para a Hell


em 1973-5, foi uma das primeirissimas
fontes digitais. Marconi «was the first
original typeface to be produced with the
Ikarus computer design and digitization
system. Ikarus, developed in 1973 by Peter
Karow of URW, was the dominant type
design and production tool well into the
1990s.» A Marconi foi criada para o Digiset,
um digital typesetting system produzido
pela empresa alemã Dr.Ing. Rudolf Hell
GmbH. Uma fonte para texto corrido, para
aplicação em livros e magazines. As formas
arredondadas da Marconi seguem o
principio da «superellipse». Em 1990, a
Linotype AG fusionou com Dr.Ing. Rudolf
Hell GmbH, formando a Linotype-Hell AG
(hoje: Linotype GmbH).

meira fonte totalmente digital), Medici Script tes condensadas, e a Optima Nova Titling com
(1971), Melior (1952), Noris Script (1976), Optima ligaduras. Esta fonte é comercializada com
(1958), Optima Nova (2002), Orion (1974), Palatino outros nomes por outras empresas. A Bitstream
(1950), Saphir (1953), Sistina (1950), Vario (1982), comercializa-a com o nome de Zapf Humanist;
Venture (1969), Linotype Zapf Essentials (2002), a WSI Fonts com o nome de Optane; a Rubicon
Zapfino (1998), Zapfino Extra (2003), ITC Zapf com o nome de Opulent; CG Omega; Eterna.
Chancery (1979) ITC Zapf International (1976),
ITC Zapf Book (1976), Zapf Renaissance Antiqua O Manuale Typographycum
(1984-1987), ITC Zapf Dingbats (1978). Pequena obra de Zapf, publicada em 1954, o
Segundo o autor, as suas criações favoritas Manuale Typographicum é um exercício e, claro,
são a Palatino, a Optima e a Melior. um manual de utilização de tipos e layouts. Com
Zapf foi o criador de fontes conhecidas mun- as três cores nobres da tipografia e o mero uso de
dialmente, como a Optima, Palatino, Michelan- caixas, formas e tamanhos, apresenta a histó-
gelo e Sistina. Contudo, a criatividade de Zapf ria e as inúmeras possibilidades e sentidos que
não foi brilhante; muitas das suas fontes têm a arte tipográfica permite. Não é propriamente
um aspecto algo tosco e torpe. As suas melhores um livro para ser lido, mas sim um recurso, uma
criações são as letras de inspiração caligráfica ferramenta visual para todos que trabalham ou
— como a Zapfino, por exemplo. que se interessam pela tipografia. O Manuale é
Algumas fontes começam a ser redesenha- uma homenagem à cultura ocidental, na medida
das. Por exemplo, a Optima, uma família de fon- em que recorre a inúmeras línguas e tradições
tes sem-serifa desenhadas por Zapf entre 1952 para tentar definir o que é a Tipografia.
e 1955. Em 2002, Hermann Zapf, em colabora- Autobiografia, PDF
ção com Akira Kobayashi, director de arte na download.linoty pe.com/free/how touse/
Linotype GmbH, redesenhou e criou a variante ZapfBiography.pdf
Optima Nova. Esta nova família de fontes apre- The Art of Hermann Zapf
senta a fonte no estilo itálico, autêntico (ao con- http://www.linotype.com/en/5667/thearto-
trário da original); assim como uma série de fon- fhermannzapf.html
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 20

Marilena Ferrari

Book Wonderful!
Na Renascença, quando já floria em esplendor a nobre arte da Impressão, algumas
oficinas no Norte da Itália continuavam a produzir preciosíssimos livros caligrafa-
dos e iluminados à mão, feitos por encomenda, em exemplares únicos. O recipiente
de um desses caríssimos exemplares foi o nosso venturoso rei Manuel I, que recebeu
a prenda das mão de mercadores italianos com interesses no comércio das especia-
rias orientais, monopólio europeu praticado por Manuel I. Diga-se que hoje é impos-
sível equacionar o valor destes livros, que praticamente já não mudam de proprietá-
rio. Se fossem postos à venda, atingiriam preços de milhões de dólares, sem dúvida.
A signora Marilena Ferrari aca-
bou de lançar, valha a comparação
com qualquer outro artigo de luxo,
o Ferrari Testarossa das edições de
livros de luxo. O livro que é supos-
tamente o mais caro do mundo,
Michelangelo – La Dotta Mano custa
ridículos 100.000 Euros. A primeira
tiragem deste livro esgotou-se cerca
de um mês após seu lançamento.
Os 33 exemplares foram vendidos
a biblió­fi los e colecionadores euro-
peus e americanos, que não precisa-
ram de ir pedir um crédito à Cofidis
para comprar o livro.
Outros 33 livros da edição - limi-
tada a 99 exemplares - já estão a ser Um preciosíssimo manuscrito do século xvi.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 21

fabricados. Cada unidade leva entre três e seis


meses a ser produzida, em virtude do processo
manual artesanal com técnicas utilizadas na
época do Renascimento italiano.
Publicado pelo grupo editorial FMR (www.
gruppofmr.com), por ocasião dos 500 anos do
início do trabalho de Michelangelo nos céle-
bres frescos da Capela Sistina, no Vaticano. O
esplendoroso livro sobre a vida e obra do artista
pesa ...24 quilos. A edição pretende posicionar o
FMR Group «as a key player on the world top end
luxury products market, as a standard bearer for
Italian production».
A capa do livro contém uma réplica em már-
more da escultura Madonna della Scala, uma
das primeiras obras de Michelangelo, realizada
quando era adolescente. A reprodução da escul-
tura foi realizada com mármore de Carrara,
onde Michelangelo costumava adquirir a pedra caligrafos e miniaturistas. O primeiro exemplar
para esculpir as suas estátuas. dessa obra deve ficar pronto no final deste ano e
O veludo de seda que cobre a capa foi confec- servirá como uma amostra do trabalho de res-
cionado em teares antigos. O papel, elaborado de gate das técnicas renascentistas desenvolvido
algodão, foi produzido à mão. A encadernação pela editora de livros e revistas de luxo.
também foi toda feita artesanalmente. A presi- A presidente da FMR afirma que irá percorrer
dente da FMR, Marilena Ferrari, afirma que os o mundo para mostrar essa obra. Segundo ela, a
livros da colecção Book Wonderful representam iniciativa tem o objectivo de «mostrar e preser-
uma maneira de reagir à ameaça de desapareci- var as origens da produção italiana». A Chai-
mento do livro impresso, causada pela Internet rwoman do grupo FMR, Marilena Ferrari, expli-
(Bla, bla). cou que «the objectives of Officina dello Splen-
O texto é da autoria de um amigo de Miche- dore are far from being a mere learned and nos-
langelo Buonarotti: o pintor e arquitecto Giorgio talgic celebration of a Renaissance understood
Vasari, conhecido pleas suas biografias de artis- as the golden age set in time. The Renaissance is
tas italianos. Outros 33 exemplares estão desti- not just history, but also present: it is the matrix
nados a museus do mundo todo, como o Prado of the modern economy of creativity and osten-
em Madrid, que já recebeu um exemplat da obra, tation, it is the raison d’être of Italian produc-
grátis. Vários artesãos da recém-criada Officina tion, that is to say the greatest expression of the
dello Splendore trabalharam na realização do creativity and excellence of fine workmanship.
livro: encadernadores, impressão gráfica, cali- However, even more so, the Renaissance was
grafia, entre outros. and could once again be a way of seeing art and
Michelangelo – La Dotta Mano é o primeiro beauty as virtues put into practice, an ethical
livro da colecção Book Wonderful, da FMR. O and aesthetic way of seeing things able to rege-
segundo, sobre o escultor italiano Canova, será nerate a coexistence worthy of this name in con-
lançado em Janeiro próximo. Um outro, sobre temporary society.»
a rainha Catarina de Médicis, será totalmente O que a signora Ferrari se esquece de salien-
caligrafado à mão e terá apenas cinco exem- tar é que foi precisamente na Itália renanscen-
plares, que não serão vendidos. Para o projecto tista que Aldus Manutius inventou o livro de
Catarina de Médicis, a FMR criou escolas de bolso, edições compactas, a bom preço. Um pro-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 22

jecto democrático, bem longe dos ideais invo-


cados pela distinta signora, que, obviamente,
quer potenciar os seus investimentos no FMR,
atraindo ainda mais milionários bibliófilos e
coleccionadores de arte.
Além da sede em Bolonha, na Itália, a editora
FMR mantem escritórios em Paris, Madrid e
Nova Iorque, onde a obra pode ser vista. A única
livraria da FMR está em Paris, na Galérie Véro-
Dodat. Os livros da coleção terão garantia de
500 anos. «A composição do papel e dos demais
materiais foi pensada pelos artesãos para resistir
ao tempo», diz Ferrari. O luxuoso papel não con-
tém ácidos nem derivados de clorina, que cau-
sam a deterioração do material com o tempo.
Vão acabar por me chamar cretino, mas, tenho
que confessar: se tivesse dinheiro para gastar em
bens de luxo e ostentação, comprava um Ferrari
Testarossa, não comprava o livro da signora Fer-
rari. Desculpem o meu mau gosto. ph.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 23

Revista Contemporânea. Capa da


autoria de José Pacheco. Julho 1922.
Digitalização da Hemeroteca
Nacional.

Um lifestyle magazine dos anos 20


Impressa em Lisboa entre 1915 e 1926 pela Imprensa Libânio da Silva, a
revista Contemporânea teve como colaboradores Alfredo Pimenta, Almada
Negreiros, Álvaro de Campos, Amadeu Sousa-Cardoso, Antero de
Quental, António Botto, António Ferro, António Sardinha, Aquilino
Ribeiro, Artur Portela, Bernardo Marques, Camilo Pessanha, Carlos
Malheiro Dias, Columbano Bordalo Pinheiro, Dórdio Gomes, Eduardo
Viana, Eugénio de Castro, Fernanda de Castro, Hipólito Raposo, Homem
Cristo, João Ameal, Jorge Barradas, Leitão de Barros, Maria Amália Vaz de
Carvalho, Mário de Sá-Carneiro, Ramalho Ortigão, Reinaldo dos Santos,
Ramón Gómez de la Serna, Stuart Carvalhaes, Teixeira de Pascoaes,
Teófilo Braga, Virgílio Correia, entre outros. Um projecto de grande
qualidade, se atendermos ao âmbito sócio-cultural da época. O
conhecimento desta interessante publicação portuguesa é possível no
site da Hemeroteca Nacional: http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 24

Revista Contemporânea,
Nr.2. Capa, da autoria de
Almada Negreiros. Junho
1922. Digitalização da
Hermoteca Nacional.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 25

A Lisbon Bible
(imagem da
Biblioteca Britânica)
é um dos mais
refinados códices da
Escola portuguesa de
iluminura hebraica,
com oficina em
Lisboa.
Finissimamente
caligrafada e ornada,
terminada em 1482,
ao fim de três anos
de labor, a Lisbon
Bible é um
testemunho da
riqueza da vida
cultural que os
Judeus portugueses
tinham desenvolvido
antes da sua expulsão
e conversão forçada
em Dezembro de
1496.

Manuscritos hebraicos na
Península Ibérica

À
A produção dos scriptoria judaicos, semelhança do que acontecera no meio
especialmente a «oficina de Lisboa», cristão (mosteiros, chancelarias, mais
lançou as bases estéticas e tecnológicas tarde nas cidades), desenvolveram-se
para o rápido desenvolvimento de uma nas comunidades sefarditas scriptoria, ofici-
tipografia hebraica de grande qualidade, na nas dedicada à cópia e à iluminura de livros
época manuelina. Apontamentos de P.H. religiosos e filosóficos. Foi notório o aperfei-
çoamento da iluminura hebraica; algumas
escolas de copistas instaladas em Lisboa e
nas principais cidades da Peninsula Ibérica
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 26

A Jewish National e a
University Library em
Jerusalem têm um site
devotado ao Mahzor
Worms, um «two-
volume parchment
festival prayerbook
from the 13th century,
featuring Ashkenazi
calligraphy, with
illumination and
decoration in ink and
color.» The Mahzor
was in use in the
community of Worms
until the synagogue’s
destruction on
Kristallnacht,
November 1938. It was
rescued by the city’s
archivist, who hid it in
the cathedral. In 1957,
following legal
proceedings in
Germany, the
manuscript was
transferred to the
Jewish National and
University Library in
Jerusalem.
http://jnul.huji.ac.il/
dl/mss/worms

formaram grandes artistas que ilustraram obras micrográfica, de gosto mudéjar, a tinta castanha
de temática judaica e outros manuscritos impor- e ouro, semelhante a exemplares assinados pelo
tantes da época. Entre os copistas mais impor- calígrafo Samuel Isaac de Medina, datados entre
tantes encontramos Samuel Isaac de Medina, 1469 e 1490, e que se conservam na Palatina de
Eleazar Gagosh e Samuel Musa Filho. Parma, em Cincinnati e em Oxford. Mas faltam-
Um exemplo deste trabalho é a Bíblia de Abra- lhe algumas características decorativas típi-
vanel guardada na Bibioteca da Universidade cas da escola lisboeta (tarjas e iluminuras de cor
de Coimbra; um manuscrito em pergaminho malva). Tem anotações e pertences que a rela-
atribuível à escola de calígrafos de Lisboa, da cionam com a família Abravanel, de Lisboa e de
segunda metade do século xv, raríssimo, porque Sevilha. É, por isso, conhecida como a Bíblia de
a maioria destas «Bíblias», na Península Ibérica, Abravanel.
foram queimadas pela Inquisição. Não tem colo- Na colecção da Biblioteca Nacional em Lisboa
fão (folha onde se inscrevem o local e data) que destaca-se a Bíblia hebraica do séc. XIII, precioso
nos informe da sua data e do nome do seu autor. exemplo da qualidade de execução e da decora-
Este manuscrito tem as páginas iniciais intei- ção, conhecida por Bíblia de Cervera, iluminada
ramente preenchidas com escrita messórica por Joseph Asarfati, entre 1299 e 1300.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 27

Spanish Hebrew Bible, Solsona, Catalunha, 1384. Tetragrammaton. Este


manuscrito pertence a um grupo de Bíblias hebraicas espanholas designadas
Mikdashyot (Templos do Senhor). A Bíblia hebraica era considerada um
substituto do Templo de Jerusalém destruído, e estes códices eram geralmente
prefaciados com ilustrações dos utensílios do Templo. Esta Bíblia pertenceu a
uma sinagóga em Jerusalem e foi, mais tarde, transferida para Alepo, na Síria. BL
King’s MS I, f. 2r © The British Library Board.

A
chamada Lisbon Bible é um dos mais Judeus portugueses tinham desenvolvido
refinados códices da Escola portu- antes da sua expulsão e conversão forçada
guesa de iluminura hebraica, com em Dezembro de 1496.
oficina em Lisboa. Finissimamente caligra- Samuel ben Samuel Ibn Musa, conhe-
fada e ornada, terminada em 1482, ao fim de cido como Samuel, o Escriba, copiou o
três anos de lavor, a Lisbon Bible é um tes- texto bíblico num elegante estilo caligrá-
temunho da riqueza da vida cultural que os fico com letras quadradas, por encomenda
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 28

de Yosef ben Yehudah al-Hakim. As sump- No colofão, Samuel identifica-se como


tuosas decorações, nas quais se misturam sendo o escriba, e relata que finalizou a obra
influên­cias italianas, espanholas e flamen- em Kislev 5243, o que corresponde a Novem-
gas, foram aplicadas por um grupo de arte- bro/Dezembro de 1482.
sãos especializados neste ofício.
Samuel escreveu o texto em duas colunas Lisbon Bible, Lisbon, Portugal, 1482 / BL Or. MS
2626, Vol. 1, f. 23v / © The British Library Board.
a 26 linhas com um stylus de cana, no carac-
terístico estilo sefardita, posicionando as
vogais debaixo das letras hebraicas. A pri-
meira palavra, capitular, foi executada em
letras de ouro, dentro de um painel filigrano
integrando folhagens multicoloridas.
Um segundo escriba terá completado as
páginas com o minúsculo texto inserido nas
margens superiores e inferiores, e também
entre as colunas; são as notas masoréticas.
Empregando uma técnica designada por
micrografia, o escriba escreveu ao longo de
linhas curvas.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 29

Rabi Elieser Toledano, Lisboa, 1489.

Prototipografia sefardita
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 30

Perush Ha-Berakoth Ve-Ha-


Tefillot, um incunábulo hebraico
impresso em Portugal. Oficina
de David Abudrahan em Lisboa,
1489. Note a excelente
qualidade e regularidade dos
tipos e a consistência do
desenho gráfico.
Este livro hebraico saiu do
prelo no mesmo ano que o
Tratado de Confissom (Chaves,
Agosto de 1489, o segundo livro
impresso em língua
portuguesa).
A Vita Christi, o mais
esplendoroso incunábulo
realizado em Portugal, será
impresso em Lisboa sete anos
mais tarde – por Valentim
Fernandes, em 1495.
O primeiro incunábulo
hebraico – Perush ha-Torah –,
foi publicado em 17 de
Fevereiro de 1475 por Abraham
ben Garton.

Prototipógrafos judeus
em Espanha e Portugal

E
A implementação da Imprensa chegou a m 1400, existiam em Portugal cerca de 30
Portugal 30 anos depois das invenções de comunidades e alguns milhares de famílias
Johanes Gutenberg (cerca de 1455). judias, na data da chegada de Colombo à
O primeiro incunábulo hebraico – Perush América – 1492 – haveria mais de 100 judiarias e
ha-Torah –, foi impresso em Itália, em 17 de dezenas de milhar de habitantes judeus em solo
Fevereiro de 1475 por Abraham ben Garton. português. Estimando a população num total de
Ao judeu Samuel Gacon devemos a edição do um milhão, cerca de 10% dos Portugueses era de
primeiro incunábulo português, em 1487, na cultura judaica. Considerando que, além desta
cidade de Faro. Apontamentos de Paulo significativa parte da população ser judaica,
Heitlinger. também existia uma população «moura», com
afinidades à lingua e cultura árabe e à religião
do Islão, Portugal era nessa época, sem qualquer
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 31

dúvida, um país multi-cultural e multi-étnico,


onde se falava (e alguns escreviam) Português,
Mirandês, Castelhano (no âmbito cortesão),
Latim, Árabe, Hebraico e Ladino.
No século xv, Portugal tinha-se tornado o
mais importante centro da cultura sefardita.
Acolheu temporariamente os sábios judeus da
época, entre os quais Isaac Aboab, o líder espi-
ritual da comunidade judaica da Península Ibé-
rica, Salomão Ibn Verga, autor de Schébet Yehu-
dah (Vara de Judá, crónica que narra a vida dos
Judeus na Península), e Abraão Saba, exegeta,
pregador e cabalista.
Se bem que as oficinas tipográficas judias se
tivessem concentrado na produção «interna»,
Do Pentateuco de Faro, o único exemplar conhecido
dirigida aos fieis, sabemos que algumas ofici- está guardado na British Library em Londres. Foi
nas em Espanha também imprimiram para o roubado em Portugal, aquando do saque à cidade de
público cristão, em latim ou em linguagem ver- Faro, pelos ingleses, em 1596. (De recordar que, nessa
nacular. É o caso de impressores hebreus em data, Portugal fazia parte de Espanha). 3.000 livros
Espanha que imprimiam – ouça e pasme! – Cer- foram roubados em Faro, em 1596 por Robert Devereux,
II. Earl of Essex (mais conhecido como playboy da rainha
tificado de Indulgência emitidos pelo santo Papa
Elisabeth I). De volta a casa, Robert, conde de Essex,
de Roma. ofereceu o saque ao seu amigo Thomas Bodley. Estes
livros integraram uma das cinco grandes bibliotecas
O Pentateuco de Faro históricas do Reino Unido, a chamada Biblioteca
A Protipografia judaica em Portugal, mais que Bodleiana de Oxford - produto da pilhagem do incursor
um mero episódio de importância secundária, inglês. O Pentateuco de Faro foi o primeiro livro
impresso em Portugal.
foi uma contribuição essencial para o avanço
do país multicultural que Portugal era na época
manuelina – pelo menos, até à criminosa expul- des, a qualidade tipográfica praticada dentro da
são dos Judeus por Manuel I. comunidade judaica em Portugal era excelente.
As mais importantes comunidades judaicas Vários vectores apontam que a tipografia
localizavam-se em Lisboa, Leiria e Faro. Foi pre- hebraica portuguesa (e também a espanhola)
cisamente em Faro, capital do Algarve, que saiu teve as suas origens na Itália. António Ribeiro
do prelo o primeiro incunábulo impresso em dos Santos escreveu na sua Memória sobre as
Portugal, um Pentateuco. Segundo o colófone, Origens da Tipografia em Portugal no Século xv:
este livro religioso foi concluído em 30 de Junho «Os primeiros Impressores que apparecêrão
de 1487, na oficina de Samuel Gacon. Esta pro- entre nós ... forão Judeos Estrangeiros, que vie-
dução tinha obviamente como público-alvo a rão a Portugal de diversas partes de Itália. A pra-
comunidade judaica em Portugal. tica em que estavão os Judeus de multiplicarem
Gacon serviu-se da mesma lógica comercial os exemplares da Lei para uso de suas Synago-
que Gutenberg: imprimiu o livro religioso que gas, e dos mesmos particulares, fazia com que
mais procura tinha na sua respectiva comuni- tambem se multiplicassem os impressores da
dade religiosa. E de certeza que o vendeu com Nação.»
sucesso, porque pouco tempo depois apare- O Doutor Adri Offenberg (curador da Biblio-
cem em Portugal outros livros impressos em theca Rosenthaliana, Universiteitsbibliotheek
Hebraico. Comparando estes incunábulos com Amsterdam) descreve a evolução: «Hebrew pres-
as relativamente fracas composições tipográfi- ses generally pursued a development separate
cas, mesmo de mestres como Valentim Fernan- from that of the Christian workshops, but the
very earliest books in Hebrew can be connected
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 32

to the early Latin books printed in Rome by their


materials and techniques.
Analysis of a series of six editions shows that
they were most likely printed in Rome in the
period between 1469 and 1473. Only the last con-
tains the names of the printers, Obadiah, Manas-
seh and Benjamin of Rome.
Printing in Hebrew then spread south to Reg-
gio in Calabria, in the Spanish dominions, where
the first dated Hebrew incunable, Rashi’s Perush
ha-Torah, was published on 17 February 1475
by Abraham ben Garton; and north to Piove di
Sacco near Venice, where two editions were prin-
Os Comentários ao Pentateuco, do sábio Mose ben
ted later in the same year by Meshullam Cusì. Nachmann, foi o segundo incunábulo hebraico impresso
The press of Abraham Conat, which began em Portugal - desta vez em Lisboa - e publicado por
work at nearby Mantua about 1474, has seve- Rabi Eliezer Toledano. Comentários ao Pentateuco foi o
ral notable features: he printed works of living primeiro livro impresso em Lisboa. Um exemplar está
authors, and his production reveals something exposto em Paris, no Museu da Arte e História do
Judaísmo daquela cidade.
of the Italian Renaissance taste in book decora-
tion.
His wife, Estellina, was the first woman to
be involved in the operations of the printing tateuch printed by Samuel Gacon at Faro in 1487.
press, as one of several informative colophons Later work of the press survives only in frag-
tell us. Later Italian Hebrew printing, from 1484 ments. Hebrew printing also took place at Leiria
onwards, was dominated by members of the Son- and Lisbon, the press of Eliezer Toledano at the
cino family, initially at the small Lombard town latter issuing particularly fine decorated books.
of Soncino. The various members of the family It was probably as refugees from Spain that
then printed at Naples, Brescia, Barco and other the brothers Nahmias produced in Constantino-
towns in eastern Italy, ending up finally at Salo- ple the first book printed in the Ottoman empire,
nica and Constantinople in the 16th century. Jacob ben Asher’s Arba’ah Turim of 1493.»
Like most other Jewish printers, the Soncinos Destacaram-se Eliezar Toledano, Samuel
chiefly produced biblical and rabbinical texts Gacon, Samuel d’Ortas e Abraão d’Ortas, os três
and commentaries as well as liturgical works, nomes que definem os primórdios da Imprensa
some of them illustrated with attractive decora- em Portugal. Conhecemos treze títulos, saidos
tive initials, borders and woodcuts. de prelos hebraicos entre 1495 e 1497, que atestam
The beginning of Hebrew printing in the Ibe- a vitalidade cultural desta comunidade portu-
rian Península is obscured by the destruction guesa. Mais de metade dos incunábulos impres-
of much historical evidence. One of the earliest sos em Portugal foram compostos em Hebraico!
presses has six books attributed to it which sur-
vive in a few fragments only. The earliest survi- Eliezer ben Alantansi
ving books come from the press of Solomon ben Sob a proteção de Juan Fernández de Híjar y
Moses Alkabiz at Guadalajara in Old Castile, Cabrera, estabeleceu-se durante curto espaço
dating from 1476 onwards. Hebrew printing then de tempo uma colónia sefardita em Híjar, dio-
spread to Hijar in Aragón and to Zamora. cese de Saragoça, entre 1485 e 1490. O tipógra-
The products of some anonymous presses can- fo Eliezer ben Alantansi, escolástico sefardita
not be securely localized, but it is certain that oriundo de Toledo, trabalhou na oficina tipográ-
printing in Portugal began with the Hebrew Pen- fica que se instalou no castelo do primeiro duque
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 33

de Híjar. Nesta oficina judaica espanhola impri- rio de tipografia e editor. Segundo Konrad Hae-
miram-se livros hebraicos e cristãos. bler, o investigador alemão que mais intensa-
É a esta oficina que se atribue o Pentateuco mente estudou a produção de incunábulos, Rabi
sem dados de identificação tipográfica, publi- Eliser provavelmente nunca foi impressor, mas
cado em 1487 ou 1488. Conhecemos uma segunda dava a silo na sua casa aos tipógrafos emigran-
edição datada nesta oficina para o ano de 1490, tes e encarregava-se dos gastos que a impressão
impressa por Alantansi e editada por Salomón dos livros exigia Na sua oficina gráfica trabalha-
ben Maimon Zalmati. Nesta edição emprega-se a ram Judah Gedaliah, Zaqueu, seu filho, e Moi-
mesma cercadura com motivos florais e animais sés, filho de Semtob. Como revisor de algumas
que utilizou o protipógrafo castelhano Alonso obras impressas na tipografia de Eliezer aparece
Fernández de Córdoba num Manuale Cesarau- o nome de Joseph Calphon.
gustano, em 1487. Elieser Toledano teve que abandonar nova-
A actividade da oficina cessou com a morte do mente a actividade tipográfica, quando os judeus
Duque de Híjar, em 1491. Eliezer teve que aban- foram expulsos de Portugal. É possível que tenha
donar a actividade tipográfica em Espanha em partido para Fez, e aí tenha prosseguido a sua
1492, quando os Judeus foram expulsos deste actividade de impressor ou editor.
país; ficou em Lisboa, onde passou a ser conhe- O já mencionado Judah Gedaliah foi um tipó-
cido como Eliezer Toledano. grafo judeu nascido em Lisboa; trabalhou na

E
liezer foi 0 prototipógrafo que imprimiu o oficina de Eliezer Toledano até à expulsão dos
primeiro livro em Lisboa. A sua oficina lis- judeus de Portugal em 1497. Depois foi para Saló-
boeta produ­ziu entre 1489 e 1492 várias nica (?), onde fundou a primeira tipografia na
obras em Hebraico. O material da sua oficina em cidade com o material trazido de Lisboa. Depois
Lisboa era proveniente de Híjar. da sua morte, a oficina foi continuada pelos
Em Lisboa, Rabi Eliezer Toledano acabou de filhos.
imprimir em 16 de Julho de 1489 Hiddushe ha-
Torah (as Novas da Lei ou Comentários ao Penta- As tabelas astronómicas de Zacuto,
teuco), obra do sábio Moses ben Nahman (1194— auxiliar essencial da navegaçã0 náutica
1270?), um rabi catalão, também conhecido pelo manuelina

E
nome latino Namánides. Estes Comentários m Leiria, a oficina familiar de Samuel e
ao Pentateuco de Mose ben Nachmann foram o Abraão d’Ortas executava trabalhos de
segundo incunábulo hebraico impresso em Por- impressão. Foi desse prelo que saiu a pri-
tugal. meira edição impressa do Almanach Perpetuum
Conhecemos seis incunábulos impressos de Zacuto, em 1496. Este Almanach foi um dos
por Eliezer Toledano. Imprimiu o Comentário à quatro primeiros livros impressos em Portugal
Ordem das Orações, de David Abudarham. Em e o primeiro de cariz científico, referente não a
1490 imprimiu em Lisboa o Livro de Orações e temas literários ou religiosos, mas à Matemática
Caminhos do Mundo, de Josué Levi, o Livro do e Astronomia. Qual é o conteúdo deste singular
Temor, de Jonah Gerondi, os Segredos da Penitên- livro, tão diferente dos outros lançados no mer-
cia, de Ionm Tovb, todos formando um volume. cado livreiro pelos prototipógrafos?
Em 1491 deu à estampa um Pentateuco, na ver- O Almanach reproduz o movimento dos
são de Onkelos e com comentário de Rashi e, em astros por referência a coordenadas astronómi-
1492, os Provérbios de Salomão. Neste ano impri- cas. Prevê os momentos e coordenadas de acon-
miu também Isaías e Jere­mías, comentário de tecimentos celestes, as chamadas efemérides.
David Kimji e as Leis da Matança de Moisés ben As tabelas permitiam determinar a posição dos
Maimon. astros, determinar o momento dos eclipses e
Alguns autores defenderam que Elieser Tole- fazer diversos cálculos astronómicos e astroló-
dano não foi impressor, mas sim proprietá- gicos.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 34

Moses ben Nahman.


Hiddushe ha-Torah. Impresso
na oficina de Lisboa de Eliezer
Toledano, em 16 de Julho de
1489.
GW M25521. Typ.1:230 Heb,
Typ.4:117/118Heb. Imagem:
National Diet Library, Japão.

O Almanach é o primeiro livro que sai da função do tempo não era meramente científica.
comunidade judaica, mas que não se destina ao Servia essencialmente fins astrológicos, utili-
público de religião judaica. Impresso em Latim, zando a palavra no sentido da previsão de acon-
a lingua-franca da Europa de então, este livro de tecimentos e dos comportamentos das pessoas
cariz científico, matemático e astronómico, des- em função dos astros. Servia ainda propósitos
tina-se a um mercado vasto, transpondo os hori- de medicina, agronómicos, meteorológicos, reli-
zontes da comunidade religiosa dos Judeus. giosos e outros, sendo a organização das tabelas
A versão original do Almanach Perpetuum foi destinada, em muitos casos, a satisfazer esses
escrita entre 1473 e 1478, data que é referida pelo fins.»
seu autor na sua introdução. O livro, ou seja a ver- Mas o Almanach Perpetuum não discute esses
são tipográfica, foi impresso em Leiria em 1496, assuntos, fornece apenas os dados astronómicos
tendo sido o conteúdo traduzido do Hebraico a partir dos quais se faziam as especulações rela-
para o Latim e do Latim para o Castelhano por tivas às referidas ciências. Comprova Fernando
Mestre José Vizinho, médico da corte de João II, Reis: «Redigido em hebraico, sob o título Haji-
astrónomo e discípulo do autor. bur Hagadol, o Almanach Perpetuum Celestium
Victor Crespo: «A curiosidade pela determi- Motuum é um conjunto de tábuas astronómicas
nação da posição dos astros na esfera celeste em de diversos tipos e para diversos fins, precedidas
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 35

de explicações ou cânones sobre o seu uso.


O Almanach foi preparado para o ano raiz
de 1473 (é essa a sua época, como se diz),
o que significa que os números inscritos
nas suas tabelas estão calculados para
esse ano, ou para determinados períodos
de vários anos que nele se iniciam, sendo
necessário fazer correcções quando se
pretendesse conhecer os valores dos ele-
mentos tabelados para qualquer ano pos-
terior aos períodos fixados nas tabelas.»
Com as primeiras quatro tabelas sola-
res do Almanach era possível determi-
nar com rigor o lugar do sol na eclíptica.
Com este valor, recorrendo a uma quinta
tabela, era possível obter o valor da decli-
nação do Sol, parâmetro necessário ao
cálculo da latitude do lugar de observa-
ção quando utilizada a medida da altura
meridiana desse astro.
As tabelas eram utilizáveis directa-
mente para os anos 1473 a 1476. Para os
anos posteriores, era necessário fazer
alguns cálculos, facilitados por uma
outra que Zacuto incluiu na obra. O grau
de precisão era tal que elas foram utiliza-
das como base de diversas outras tabelas
destinadas aos navegantes, onde se indi-
cavam os resultados dos cálculos requeri-
dos pelas tábuas de Zacuto. As tabelas de
Zacuto foram um auxiliar essencial para
o bom sucesso das navagações portugue-
sas.

A
braham bar Samuel Abraham
Zacut (1450-1522) foi um judeu
sefárdico, rabino, astrónomo,
matemático e historiador que serviu na
Página das tabelas do Almanach Perpetuum de Abraão Zacuto,
corte de João II. Nasceu em Salamanca. exemplar existente na Biblioteca Nacional. As tabelas têm mais
Estudou Astrologia e Astronomia e tor- de 300 páginas. Escrito entre 1473 e 1478, foi impresso em Leiria
nou-se docente destas disciplinas na Uni- em 1496. Trata-se de um dos primeiros livros impressos em
versidade de Salamanca, e mais tarde nas Portugal e o segundo em Latim.
de Saragoça e Cartagena. Também se for- O facto de ter sido impresso pouco após a introdução da
Imprensa em Portugal, ilustra a importância posta na divulgação
mou em lei judaica e tornou-se rabino.
da informação neles contida. Os textos traduzidos por Mestre
Quando da expulsão dos judeus de José Vizinho foram os únicos textos não hebraicos saídos da
Espanha em 1492, Zacuto refugiou-se em oficina do impressor, também ele judeu: Abraão Samuel d'Ortas.
Lisboa, em consequência da promulgação A impressão foi co-financiada por Manuel I.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 36

do decreto dos reis católicos Isabel e Fernando,


que obrigava os Judeus à conversão ao Cristia-
nismo – ou ao exílio. Há notícias de que já esta-
ria em Portugal em Junho de 1493. Foi chamado
à corte e nomeado Astrónomo e Historiador Real
por João II, cargo que exerceu até ao reinado de
Manuel I.
Foi consultado por este monarca acerca da
possibilidade de se viajar por mar até à Índia,
projecto que apoiou e encorajou. Segundo Gas-
par Correia, um dos cronistas do reino, Zacuto
teria influenciado também na escolha de Vasco
da Gama para chefiar a expedição que acabou
por descobrir o caminho marítimo para a Índia.
Viveu em Portugal apenas seis anos, uma vez
O astrolábio é um instrumento nautico, inventado por
que em 1496 Manuel I seguia o exemplo dos Reis
Hiparco e usado para medir a altura dos astros acima
Católicos e decretou a expulsão do país de todos do horizonte. Foi utilizado para a navegação marítima
os Judeus que recusassem a conversão imediata com base na determinação da posição das estrelas.
ao Catolicismo. Zacuto refugiou-se em Tunes, Mais tarde foi simplificado e substituído pelo
no Norte de África, tendo depois passado para sextante. Era formado por um disco de latão graduado
a Túrquia, vindo a morrer em Damasco em ano na sua borda, num anel de suspensão e numa
mediclina (espécie de ponteiro). O astrolábio náutico
posterior a 1522.
era uma versão simplificada do tradicional e tinha a
Zacuto publicou ainda a crónica Livro das possibilidade apenas de medir a altura dos astros para
Genealogias, que inclui dados autobiográficos, ajudar na localização em alto mar. O astrolábio
e dois tratados astrológicos, Juízos astrológicos e moderno de metal foi inventado por Abraão Zacuto
Tratado de las Ynfluencias del cielo, ao qual está em Lisboa, ao serviço da coroa portuguesa, mediante
anexo o texto De los eclipses del Sol y de la Luna. melhoria de versões árabes.
O Almanach Perpetuum é um livro raro, e por
isso Joaquim Bensaúde fêz reproduzir em 1915 ção prática, e quando em 1492 os espanhóis deci-
um exemplar que existe na Biblioteca de Augs- diram obrigar os seus Judeus a adoptar o Cristia-
burg0, na Alemanha, e a tradução em Caste- nismo ou a sair, muitos encontraram refúgio em
lhano dos Cânones (Regras para o seu uso), que Portugal, então com uma política mais relaxada
existe na Biblioteca Pública de Évora. face ao Judaísmo.»
Mas em 1497, a pressão da Igreja e de Espanha
Expulsão e pogromas levou a coroa portuguesa a abandonar esta tole-

O
historiador David Landes viu na expulsão rância. Cerca de 70.000 judeus foram forçados a
das comunidades sefarditas da Península um baptismo formal. Em 1506, Lisboa viu o seu
Ibérica no século xvi um factor prejudicial primeiro pogroma, que matou dois mil judeus
para as sociedades e economias ibéricas, anun- «convertidos»; a Espanha já vinha fazendo o
ciando o declínio de Portugal e Espanha no con- mesmo desde há duzentos anos.
certo da nações, então no auge da sua influência. A partir dessa data, a vida intelectual, cientí-
Na (controversa) obra A riqueza e pobreza das fica e comercial de Portugal desceu a um abismo
nações, Landes relata: «Quando os portugueses de intolerância, fanatismo e «pureza de san-
conquistaram o Atlântico Sul, estavam na linha gue». O declínio foi contínuo. A Inquisição por-
da frente das técnicas de navegação. A abertu- tuguesa foi instalada na década de 1540 e quei-
ra para a aprendizagem com sábios estrangei- mou o seu primeiro herético em 1543; tornou-se
ros, muitos deles judeus, tinha trazido conheci-
mento que se traduzia directamente na aplica-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 37

Almanach perpetuum
sive tacuinus,
Ephemerides z diarium
Abrami zacutti hebrei.
Theoremata autem
Joannis Michaelis
germani ... (1525).
Várias reimpressões das
tabelas de Zacuto
demonstram o interesse
que continuou a
merecer. Nesta imagem,
uma impressão de 1525,
um exclente scan do
Fundo Antigo da
Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto,
online em
www.fc.up.pt/fa

cruelmente eficaz a partir de 1580, após a união das coroas portuguesa e


espanhola sob a pessoa de Filipe II de Espanha.

Bibliografia
Albuquerque, Luís de. Zacuto, Abraão. In: Dicionário de História de Portugal, Porto,
Figueirinhas, 1981, Vol. VI.
David Landes nasceu em
— Zacuto, Abraão, in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa,
1924 em Nova Iorque.
Círculo de Leitores, 1994, Vol. II.
É um dos historiadores
— Ciência e Experiência nos Descobrimentos. Lisboa, Livros Horizonte, 1983.
— A Náutica e a Ciência em Portugal. Lisboa, Livros Horizonte, 1985. da Economia mais
Amzalak, Moses Bensabat. A tipografia hebraica em Portugal no século xv. Coimbra. Impr. aplaudidos – e
da Universidade, 1922. criticados – da
Baião, A. História da Expansão Portuguesa no Mundo. Lisboa, Editora Ática, 1937. actualidade.
Cantera Burgos, Francisco, Abraham Zacut, Madrid, M. Agilar, s. d. [1935]. Doutorou-se em 1953
Cantera Burgos, Francisco, El Judio Salmantino Abraham Zacut, Madrid, C. Bermejo, [1931]. pela Universidade de
Crespo, Victor, Abraão Zacuto e a Ciência Náutica dos Descobrimentos Portugueses. Revista Harvard, onde se tornou
Oceanos, 29, Jan-Mar. 1997, 119-128. professor em 1964.
Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, formas e uso das letras. Lisboa, Dinalivro, 2006. Ensinou em Harvard até
Rodrigues, Manuel Augusto [editor]. Pentateuco. reprodução fac-similada do mais antigo
se reformar, sendo hoje
livro impresso em Portugal (com impressão concluída, no prelo de Samuel Gacon, em
professor emeritus de
Faro em 30 de Junho de 1487) - “Reedição” do exemplar depositado na British Library,
Economia da
London. Faro: Ed. do Governo Civil, 1991. Uma miserável colecção de fotocópias, que de
nehuma maneira dignifica o original a que faz referência. Universidade de Harvard
Landes, David S. The Wealth and Poverty of Nations: Why Some Are So Rich and Some So (Coolidge Professor of
Poor. 1998. ISBN 0-393-04017-8. History and Professor of
Monvmenta ivdaica Portvcalensia. (hebr.). Estudos introd. por Manuel Augusto Rodrigues. Economics).
Perush Ha-Tora, impresso por Ben Nahman, Moisés, 1194-1270; Elieser Toledano, impr.
Lisboa: Elieser Toledano, 16 Julho 1489 .
Tavares, Maria José Pimenta Ferro. Judaísmo e Inquisição. Estudos, 1987.
Diaz-Mas, Paloma. Sephardim: The Jews from Spain. Chicago, IL: University of Chicago
Press, 1992.
Watt, Montgomery. A History of Islamic Spain. Edinburgh: University Press, 1967.
Zacuto, Abraão. Almanach Perpetuum. Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986.
[introdução de L. de Albuquerque].
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 38

A água da fonte era utilizada para consumo


doméstico e para tinturaria, pois a jusante da
fonte existem tanques onde os tecidos eram
tingidos; naquela época o fabrico de fardas e
tecidos era uma importante actividade dos
judeus de Castelo de Vide.
Nesta cidade existiu uma das mais importantes
Judiarias de Portugal, cujas ruas ainda existem.
A Judiaria desenvolveu-se na encosta da vila
virada a nascente. Da presença judaica restam
alguns testemunhos em que assume especial
relevância o edifício onde se julga ter
funcionado a Sinagoga.
Outros edifícios da Rua da Judiaria, da Rua da
Fonte ou da Ruinha da Judiaria mostram a
tradição judaica de marcar simbolos da sua fé
nas ombreiras das portas.
O estabelecimento da Inquisição e a publicação
do Édito de Expulsão dos judeus de Espanha
por Fernando e Isabel, reis católicos,
contribuíram para o crescimento da Judiaria
que mantém o testemunho da presença
judaica, mas também o da perseguição do
Santo Ofício aos Cristão-novos.
Muito próximo da fronteira com Castela, esta
vila alentejana foi um dos locais de acolhimento
das várias migrações de judeus. Estes entraram
pelo porto seco de Marvão durante os séculos
xiv e xv. Depois de 1496, permaneceram em
Castelo de Vide muitas famílias de judeus
«convertidos».
Aqui nasceu Garcia de Orta, filho de cristãos-
novos e autor de Colóquio dos Simples e
Drogas da Índia, uma das mais importantes
Castelo de Vide, pólo da vida judaica em
obras da ciência médica e Botânica do século
Portugal xvi. Garcia de Orta (Castelo de Vide, 1501 —
Goa, 1568 viveu na Índia no século XVI. Autor
Na imagem, uma fonte de estilo renanscentista no centro
pioneiro sobre Botânica e Medicina tropical,
histórico de Castelo de Vide. Construída por volta de 1500 pela
descreveu a Cólera asiática pela primeira vez.
comunidade judaica, logo após o édito de expulsão dos Judeus,
Filho do mercador Fernando (Isaac) de Orta e
altura em que haveria várias famílias convertidas em Castelo de
de Leonor Gomes. Os pais eram judeus
Vide.
expulsos de Espanha em 1492. Estudou nas
Situada entre a zona da Judiaria e a nova zona dos cristãos-novos,
Universidades de Salamanca e Alcalá de
está carregada de símbolos. A cúpula foi construída sobre 6
Henares, diplomando-se em Artes, Filosofia
colunas que jogam com as 4 bicas da fonte.
natural e Medicina, por volta de 1523.
No cimo tem uma túlipa, flor que os Judeus levaram do Paquistão
Regressou então a Castelo de Vide e ali exerceu
para a Holanda onde as tornaram num negócio muito rentável. A
medicina. Em 1525 instalou-se em Lisboa, onde
túlipa é suportada por duas crianças e na sua base tem uma
se tornou médico de João III e onde conheceu o
caldeira para levar água, onde, até meados do século passado, as
matemático Pedro Nunes. Em 1530 tornou-se
pessoas mais idosas da terra deitavam água e diziam que era para
professor da cadeira de Filosofia Natural nos
não deixar a túlipa secar. Nas colunas estão gravadas cruzes que
Estudos Gerais em Lisboa.
representam os baptismos forçados a que os Judeus foram
submetidos.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 39

Online? Scan? Qualidade? Incunábulos


e Impressos Raros em bibliotecas
portuguesas
nal. Foi criada por alvará de 29 de Fevereiro de
Curtas notas sobre o espólio e o grau de
1796, com o nome de Real Biblioteca Pública da
digitalização da Biblioteca Nacional em
Lisboa, a Municipal do Porto, a da Faculdade
Corte, com o objectivo de disponibilizar o acesso
de Letras da Universidade de Lisboa e outras. a todos ao seu acervo, na sua grande maioria já
Compiladas por Paulo Heitlinger. existente a todos os utentes, contrariando a ten-
dência da época europeia de disponibilizar ape-
Biblioteca Nacional, Lisboa nas para sábios e eruditos, os tesouros manus-

N
a colecção de incunábulos da BN, consti- critos e impressos, da sua Biblioteca Real.
tuída por cerca de 1.500 exemplares prove- Mais informação: www.bn.pt/sobre-a-bn/cro-
nientes das Livrarias dos Conventos – com nica-200-anos.html
destaque para S. Francisco de Xabregas e de par- O objectivo da Biblioteca Nacional é dispo-
ticulares (por exemplo de D. Francisco Manuel nibilizar aos pesquisadores e cientistas do país,
da Camâra) existem exemplares de grande rari- a memória cultural que compõe o seu acervo,
dade, alguns únicos no mundo. Sob esta desig- desempenhando com desta forma o seu papel
nação encontram-se reunidas obras impressas e como disseminadora de conhecimento. A sua
publicadas durante o século xv. Catálogo edita- função actual é o resultado de uma evolução e
do em 1988. da consequente adaptação às características de
A Biblioteca Nacional de Portugal está loca- comunicação e informação da sociedade con-
lizada em Lisboa, com acervo de âmbito nacio- temporânea. O atendidamento ao público é mui-

Esta mapa amarelado


caracteriza de forma
perfeita o actual estado das
coisas na BN: tudo
antiquado e amarelado.
Sem dinâmica. Sem atenção
às modernas tecnologias de
informação.
Planta da Bibliotheca
Nacional de Lisbôa, Des. pelo
primeiro conservador Eduardo
de Castro e Almeida. A data
de elaboração é anterior a
1907, uma vez que foi
parcialmente reproduzido
(folha do 2º pavimento) no
1º volume do Inventário do
Arquivo de Marinha e
Ultramar, publicado pela
Biblioteca Nacional de
Lisboa, em 1907.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 40

tas vezes deficitário; as instalações e os funcio- A Biblioteca é muito procurada pelos seus
nários deviam de ser urgentemente rejuvenesci- fundos especiais entre os quais se destaca, pelo
dos! seu carácter único, o de manuscritos, desde a
Tipografia Portuguesa Século xvi é uma colec- Idade Média até aos nossos dias. Serviços dis-
ção incluída na secção de Reservados; foi indivi- ponibilizados: leitura presencial de periódicos
dualizada em 1990, quando da publicação do res- e monografias, leitura em livre acesso, consulta
pectivo Catálogo. É constituída por cerca de 930 de Reservados, pesquisas bibliográficas (pre-
edições, de autores portugueses e estrangeiros, senciais ou à distância), empréstimo domiciliá-
impressos em Portugal. Inclui obras de diversas rio, empréstimo interbibliotecas, reprodução de
proveniências, sendo de destacar a Livraria da documento.
Real Mesa Censória dos conventos extintos em Localização: Biblioteca Pública Municipal do
1834 e a Livraria de Francisco de Melo Manoel da Porto, Rua D. João IV (ao Jardim de S. Lázaro),
Câmara (Cabrinha). Para completar esta colec- 4049-017 Porto
ção, têm sido adquiridas obras em Portugal e no Tel. 225 193 480,
estrangeiro, por se tratar de um fundo prioritá- Fax 225 193 488,
rio. e-mail: bpmp@cm-porto.pt
Localização: Campo Grande, Lisboa, Portu-
gal. BN Digital é uma colecção de scans de pés- Fundo Antigo da Faculdade de Ciências da
sima qualidade, feitos sem a devida atenção e Universidade do Porto (FCUP)

O
responsabilidade, uma vergonha da Internet Fundo Antigo é um acervo de obras maio-
portuguesa. Online em: purl.pt/index/geral/PT/ ritariamente publicadas anteriormen-
index.html te a 1945. O fundo está ligado à história da
FCUP, tendo a sua origem nas bibliotecas das
Biblioteca Pública Municipal escolas que a antecederam, designadamen-
do Porto te: a Aula de Náutica (1762), a Aula de Debuxo e

F
undada em 1833, a Biblioteca ocupou as Desenho (1779), a Academia Real da Marinha e
actuais instalações em 1842. A Biblioteca Comércio (1803), a Academia Politécnica (1837) e,
está instalada na casa que servia de Hospí- finalmente, a Universidade do Porto, instituída
cio dos Religiosos de Santo António de Val-da- em 1911, com as Faculdades de Ciências, Medici-
Piedade – Convento de Santo António da Cidade na, Farmácia e Engenharia e que, registe-se, teve
–, situada na Praça da Cordoaria. É, desde 1876, como primeiro reitor o Gomes Teixeira, insigne
estabelecimento municipal. O seu acervo inicial matemático e docente desta Faculdade.
reunia fundos bibliográficos provenientes de A aplicação do decreto que instituiu a Real
bibliotecas de ordens religiosas e de particula- Biblioteca Pública do Porto (1833), permitiu a
res. É uma Biblioteca considerada, por nacionais valorização deste espólio ao determinar que «os
e estrangeiros, com a mais numerosa e rica livra- exemplares duplicados das obras sobre ciências
ria particular que existia em Portugal.Segun- matemáticas, navegação, comércio, agricultura,
do Alexandre Herculano, ela constava de 36.000 indústria e artes, geografia, cronologia e histó-
volumes, além de 300 códices manuscritos. ria fossem doados à Academia Real da Marinha
O decreto que determinou a sua criação man- e Comércio».
dava também que lhe fosse entregue um exem- O Fundo é constituído por obras das Ciências
plar de toda e qualquer obra impressa em Por- Exactas, embora tenha também obras de outra
tugal. Integrando essencialmente bibliografia natureza, por exemplo, artística. Estas obras
nacional, a BPMP continua a receber, por Depó- representam marcos na história da ciência e tes-
sito Legal, todas as publicações correntemente temunham alguns dos momentos altos da histó-
editadas no país. ria do pensamento humano e também do desen-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 41

volvimento da Tipografia. Veja, por exemplo, as


Tabelas de Zacuto reproduzidas neste Caderno.
O Fundo também é possuidor de elementos
vários pertencentes ao arquivo da Academia
Politécnica.
A FCUP foi transferida do seu berço na Praça
Gomes Teixeira para o Pólo do Campo Alegre da
Universidade do Porto, em 2006, quando a Reito-
ria da UP passou a ocupar o edifício mais emble-
mático da universidade. No processo faseado
de transferência da FCUP, a grande maioria de
obras mais recentes da Biblioteca Geral transi-
tou em 2004 para as bibliotecas departamentais
num total de cerca de 11. 000 volumes.
Em 2005, deu-se início ao Projecto de Informa-
tização, Digitalização e Divulgação do Fundo
Bibliográfico Antigo que recebeu o patrocínio
da Caixa Geral de Depósitos e com uma duração
compreendida entre 2005 e 2007..
Capitulo primeiro da conceiçam de nossa senhora.
Os objectivos do Fundo Antigo da FCUP são: Este liuro he do começo da historea de nossa rede[n]çam
• Disponibilização do acervo ao público que se fez pera consolaçao dos que nam sabe[m] latim,
• Digitalização de obras do acervo e [12 Abril 1552 - 8 Agosto 1554]. Digitalização de boa
disponibilização na net, qualidade da Biblioteca Digital da Faculdade de Letras
• Realização de conferências, acções de da Universidade de Lisboa.

formação, e exposições em torno na História e


Filosofia da Ciência e do Livro Antigo
• Conservação do acervo Biblioteca da Faculdade de Letras da
O Fundo Antigo da FCUP localiza-se na Praça Universidade de Lisboa

O
Gomes Teixeira, no Porto. Os utilizadores devem vasto fundo antigo da Biblioteca da Facul-
dirigir-se à sala 133, no 1º piso, durante o horário dade de Letras da Universidade de Lisboa
de atendimento. é constituído por livros do século xv até
Na sala de leitura encontram-se localizadas ao século xix. Todavia, o trabalho que agora se
as obras de referência como enciclopédias, dicio- publica online refere-se a edições dos séculos xv
nários, atlas e ciências documentais assim como e xvi. O material digitalizado, online em http://
todas as obras posteriores a 1820 de carácter não www.fl.ul.pt/Biblioteca
científico e ainda obras de professores da FCUP. Não sabemos como foram reunidos estes
No 2º piso está concentrada a grande maioria da livros e como e quando entraram na Biblioteca
colecção de periódicos. No 3º piso encontram-se da Faculdade. Do legado de Leite de Vasconce-
obras de natureza científica (matemática, física, los apenas estão descritas algumas das obras
química e ciências naturais) posteriores a 1820 e que estavam depositadas na biblioteca, mas não
anteriores a 1945. A sala do 3º piso – antiga sala foi considerado o resto da colecção. Dos muitos
de leitura onde foi reintroduzido o mobiliário livros impressos em Portugal o mais precioso é a
original – destina-se a ser espaço cultural. No 4º Vita Chisti, do prelo de Valentim Fernandes (ver-
piso está o espaço de reservados. são digital online!) Há obras de místicos como
Online: www.fc.up.pt/fa Luís de Granada e Santa Teresa de Jesus e outros
de autores portugueses do século xvi como Gas-
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 42

par Barreiros, Jerónimo Cardoso e Duarte Nunes Biblioteca Joanina da Universidade de


de Leão. Há obras importantes para a história de Coimbra

C
Portugal como as Ordenações Manuelinas ou os onstruída de raiz para albergar a bibliote-
Estatutos da Universidade de Coimbra, promul- ca universitária, durou a sua construção
gados por Filipe II. de 1717 a 1725. Apresenta grande unidade
Das obras impressas em cidades europeias, de estilo (edifício, decoração e mobiliário), ao
fazem parte textos originais e traduções de gosto barroco. O mobiliário, em madeiras exó-
autores clássicos; Catão, Cícero, Píndaro, Eucli-
ticas, brasileiras e orientais, foi executado pelo
des, Plínio, Aristóteles, Platão e Santo Agostinho,
entalhador Francesco Gualdini. Monumento
escritores italianos como Ariosto, Boccaccio e nacional, as três salas do piso nobre fazem parte
Petrarca. Outros exemplares são de autores qui- do roteiro habitual de visitantes e turistas. Além
nhentistas que se notabilizaram pela sua activi­da utilização protocolar em cerimónias da Uni-
dade em universidades europeias. Entre estes versidade, o espaço é cedido com frequência
estão portugueses como Aires Pinhel, Pedro para concertos, exposições e outras manifesta-
Nunes, Jerónimo Osório e Diogo de Teive. ções culturais. Conserva-se nestas salas e nos
A Biblioteca Digital da Faculdade de Letras dois pisos inferiores, reformados nos anos 70
da Universidade de Lisboa tem a sua génese no do século xx para depósitos e sala de trabalho,
projecto Património bibliográfico e documental um precioso acervo bibliográfico constituído
da Faculdade de Letras da Universidade de Lis- por cerca de 60.000 volumes encadernados de
boa, um projecto de conservação, digitalização obras impressas nos séculos xvi, xvii e xviii que
e difusão, que em 2005 foi objecto de candida- podem ser requisitadas e consultadas no edifí-
tura ao Programa Operacional de Cultura, e cuja cio novo da Biblioteca Geral.
aprovação, em Agosto do mesmo ano, garantiu Teoricamente, o objectivo do projecto BGDi-
os meios financeiros essenciais à sua concretiza-
gital é facultar pela Internet, cópias digitais de
ção. documentos da Biblioteca Geral, impressos
Integrada na estratégia de desenvolvimento e manuscritos. Em prática, temos aqui outro
e modernização da Biblioteca da FLUL, a Biblio- exemplo da horripilante qualidade de digitali-
teca Digital, constituída em torno da digitali- zação praticada por algumas das mais impor-
zação da colecção de incunábulos e impressos tantes bibliotecas portuguesas!
raros (séculos xv e xvi) cumpre, apoiando-se nas Exceptuando as digitalizações de exempla-
modernas tecnologias de comunicação, a mis- res da tipografia portuguesa do século XVI, rea-
são de tornar acessíveis estes recursos a todos lizadas no âmbito do Projecto DEBORA (Digi-
quantos deles queiram usufruir, nomeada­mente tal Access to Books of RennAissance – UE Tele-
aos investigadores, garantindo-lhes um acesso e matics for Libraries Programm – Project 5608),
visibilidade universais. www.fl.ul.pt/biblioteca/
e dos manuscritos e impressos que integrarão
biblioteca_digital/index.htm projectos da Biblioteca Geral resultantes de can-
didatura ao Plano Operacional de Cultura, cuja
Biblioteca da Ajuda escolha obedeceu a um plano estabelecido pre-

A
Biblioteca da Ajuda, em Lisboa, possui no viamente, as outras cópias resultaram de pedi-
conjunto das várias secções de documen- dos avulsos, não obedecendo, portanto, a um
tação de arquivo e biblioteca um total de critério preciso de selecção.
cerca de 95.000 unidades instaladas em 220 O acesso directo à BGDigital poderá ser feito
estantes, compreendendo 2800 prateleiras, num no subcatálogo reservado a estes conteúdos e,
total de 3700 metros. desde já, na Base SIIB/UC, cujos registos biblio-
gráficos correspondentes às obras digitalizadas
terão o endereço para acesso aos conteúdos elec-
trónicos.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 43

Biblioteca Pública de Évora Biblioteca Gulbenkian

E A
sta importante biblioteca foi fundada em Biblioteca de Arte, de início denominada
1805 por Frei Manuel do Cenáculo Villas Biblioteca Geral e posteriormente Biblio-
Boas. A Biblioteca Pública e Arquivo Dis- teca Geral de Arte, constituiu-se em 1968
trital de Évora foi dividida em duas institui- para centralizar os fundos documentais exis-
ções autónomas: a Biblioteca Pública de Évora tentes na Fundação Gulbenkian, com especial
e o Arquivo Distrital de Évora, permanecendo relevância para aqueles destinados a apoiar o
ambos na dependência do Instituto de Arquivos Museu Gulbenkian, e a colecção particular de
Nacionais/Torre do Tombo. Calouste Gulbenkian constituída por cerca de
3.000 títulos. Encontra-se instalada no edifício-
Fundação Casa de Bragança: Biblioteca de sede da instituição.
Manuel II Na década de 90 a Biblioteca de Arte atraves-

E
m Vila Viçosa está o Palácio Ducal, residên- sou um período de remodelação e moderniza-
cia dos Duques de Bragança desde o século ção dos seus serviços. Em 1993 definiu-se a sua
xvi. O enorme edifício inspira-se na arqui- especialização nas áreas das artes visuais e da
tectura renascentista e tem três andares. No arquitectura e, simultaneamente, deu-se iní-
interior das cinquenta salas podem ver-se peças cio ao processo de informatização do catálogo
de colecções de arte e espécies bibliográficas bibliográfico. Em 2000 a Biblioteca de Arte pas-
pertencentes a Manuel II, último rei de Portugal. sou a integrar o fundo documental do extinto
Este palácio pertence à Fundação Casa de Bra- Departamento de Documentação e Pesquisa do
gança e está transformado em museu de artes Centro de Arte Moderna, de que se destaca um
decorativas. É um sintoma da nossa debilidade importante núcleo de catálogos de exposições
republicana e democrática o facto da Biblio- que documentam a evolução das artes plásticas
teca deste palácio ainda estar na posse de esfe- e da arquitectura em Portugal, desde 1911, assim
ras monárquicas, tendo o Estado «esquecido» a como os espólios de alguns artistas e arquitec-
necessidade de espropriar os proprietários reais tos portugueses contemporâneos.
e de integrá-la no Património Público, passando Em Outubro 2001 deu-se a integração das
a pertencer a todos os Portugueses. colecções do até então denominado Arquivo de
Nesta biblioteca encontram-se mais de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian. A arte
50.000 volumes! Embora disponha de uma sala em Portugal é o tema principal deste acervo,
de leitura aberta ao público, há livros guarda- criado através de proveniências diversas e cons-
dos como reservados, que constituem a maior e tituído por um conjunto de 317.243 espécies foto-
melhor colecção de livros antigos da Tipografia gráficas, representando objectos e aconteci-
portuguesa dos séculos xv e xvi, entre os quais mentos artísticos, assim como monumentos.
se contam edições princeps de Os Lusíadas, Está distribuído por 166 colecções, de que fazem
Comentários ao Pentateuco, Vita Christi, Tratado parte, entre outras a que reúne toda a informa-
da Esfera, Livro de Marco Polo, entre outros. ção resultante do trabalho de pesquisa reali-
É difícil ter acesso a estes livros, exigindo a zado com o levantamento da talha em Portugal,
direcção um pedido por escrito (!) para que um o inventário da azulejaria portuguesa e a inves-
estudioso possa aceder aos Reservados. A Biblio- tigação da arquitectura gótica nacional. Parte
teca de Manuel II está aberta ao público nos dias das colecções da Biblioteca Gulbenkian foi digi-
úteis, das 10 às 13 e das 15 às 18 horas. Os livros talizada no âmbito do Projecto ADAP - Arquivo
reservados e os arquivos musical e fotográfico Digital de Arte Portuguesa. Biblioteca de Arte -
da Casa de Bragança podem ser consultados no Colecções Digitalizadas: www1.gulbenkian.pt/
mesmo horário – mas só mediante marcação Coleccoes/ColecDigitalizadas.asp
prévia.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 44

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro obras de autores portugueses fora de Portugal.

D
epositária do património bibliográfico e O seu acervo, inteiramente informatizado, é da
documental do Brasil, e também de Portu- ordem de 350 mil volumes. Através do estatuto
gal, é a maior biblioteca da América Lati- do «depósito legal», a biblioteca recebe de Por-
na. Preserva, actualiza e divulga uma coleção tugal um exemplar das obras publicadas no país.
com mais de oito milhões de peças, que teve iní- A biblioteca foi fundada em 1837 (15 anos após
cio com a chegada da Real Biblioteca de Portugal a independência do Brasil), por 43 emigrantes
ao Brasil e que cresce constantemente, a partir portugueses no Rio de Janeiro, que se reuniram
de doações, aquisições e com o Depósito legal. na casa de António José Coelho Lousada com o
A biblioteca foi Real Biblioteca, depois Biblio- objectivo de «ampliar os conhecimentos dos seus
teca Imperial e Pública da Corte e, desde 1876, sócios e dar oportunidade aos portugueses resi-
chama-se Biblioteca Nacional. A sua história ini- dentes na então capital do Império de ilustrar o
cia-se em 1755, quando Lisboa sofreu o violento seu espírito». Em 1900 o Gabinete Português de
terramoto, que deu origem a um grande incên- Leitura transformou-se em biblioteca pública,
dio que, entre outros edifícios, consumiu o da permitindo a todos o acesso aos livros da sua
Real Biblioteca, também conhecida como Real biblioteca.
Livraria, considerada uma das mais importan- Entre as obras raras está a edição prínceps
tes bibliotecas da Europa, àquela época. d’Os Lusíadas, de 1572, as Ordenações manueli-
A esta perda quase irreparável seguiu-se um nas impressas por Jacob Cromberger em 1521, os
movimento para sua recomposição, que foi pre- Capitolos de Cortes e Leys que sobre alguns delles
vista entre as tarefas emergenciais para recons- fizeram, editados em 1539, e ainda manuscritos
truir Lisboa após o incidente de 1755. A fim de autógrafos de Camilo Castelo Branco e o Dicio-
levar a cabo essa missão, o Marquês de Pombal nário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias. Algu-
empenhou-se em juntar o pouco que sobrara da mas das obras raras e manuscritos podem ser
Real Livraria e a organizar, no Palácio da Ajuda, consultados por investigadores e especialistas
uma nova biblioteca, que em 1807 reunia cerca com autorização especial.
de sessenta mil peças, entre livros, manuscritos,
incunábulos, gravuras, mapas, moedas e meda- Bibliografia
lhas. Este acervo foi trazido ao Brasil após a Mendes, Maria Valentina Sul (coord.) Os incunábulos
das bibliotecas portuguesas, 2 vols., Lisboa, Biblioteca
vinda da família real em 1808, em consequência
Nacional, 1995.
da invasão de Portugal pelas tropas francesas. Biblioteca Nacional. Catálogo de incunábulos / introd.,
org. e ind. Maria Valentina C. A. Sul Mendes. Lisboa.
Biblioteca do Real Gabinete Português Biblioteca Nacional, 1988

A
Anselmo, Artur (1926), Bibliografia das obras impressas
Biblioteca do Real Gabinete Português de
em Portugal no século xvi.
Leitura do Rio de Janeiro, foi recentemente Castilho (1844-45), Relatório acerca da Biblioteca
considerada uma das mais belas em todo Nacional de Lisboa e mais estabelecimentos annexos.
o mundo. A mais valiosa biblioteca de obras de Cepeda et al., eds. (1991), Literatura hispânica da Idade
Média na Biblioteca Nacional. Catálogo da Exposição
autores portugueses fora de Portugal foi retrata-
realizada por ocasião do IV Congresso da Associação
da numa publicação de luxo que reúne vinte das Hispânica de Literatura Medieval.
mais belas bibliotecas. Coimbra. Biblioteca. (1970), Catálogo dos Reservados da
Guillaume de Laubier, fotógrafo, o jornalista Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra
Matos (1878). Manual Bibliographico Portuguez de Livros
Jacques Bosser e James Billington, bibliotecário
Raros, Classicos e Curiosos.
da Biblioteca do Congresso dos EUA, juntaram- Santos (1812). Memória para a historia da typographia
se para publicar o livro Most Beautiful Libraries portugueza de seculo xvi
in the World. A Biblioteca do Real Gabinete Por- Silva et al. (1858-1923), Diccionario Bibliographico
Portuguez.
tuguês de Leitura, aberta há mais de século e
Viterbo (1924). O Movimento Tipográfico em Portugal no
meio, possui a maior e a mais valiosa relação de Século xvi
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 45

Biblioteca Nacional do Brasil, também chamada Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, é a depositária
do património bibliográfico e documental do Brasil. Também é a maior da América Latina. Entre
suas responsabilidades: preservar uma colecção com mais de oito milhões de peças, um acervo
que teve início com a chegada da Real Biblioteca de Portugal ao Brasil e que cresce
constantemente, com doações, aquisições e com o depósito legal. Foto: Zeca Rodrigues.

O amor de João VI aos livros antigos


Falecido João V em 1750, a Biblioteca Real do tugal, crónicas ou genealogias, além das colec-
Paço da Ribeira desparece pouco tempo ções de folhetos e de livros impressos.
depois, com o terramoto de 1755, indo os seus
Este acervo foi trazido para o Brasil após a
salvados formar nova biblioteca, em casas
fuga da família real em 1808, em consequência
próprias, junto à «Real Barraca» ou paço de
da invasão de Portugal pelas tropas napoleó-
madeira no sítio da Ajuda.
nicas. Mas não viajou junto com o rei (o rei que

E
m 1755 Lisboa sofreu o violentíssimo ter- foi diversas vezes louvado pelo seu «amor aos
ramoto que causou o grande incêndio que livros»). Ao evadir-se cobardemente de Portugal,
consumiu, entre outros edifícios, o da Real João vi «esqueceu-se» dos livros, que não viaja-
Biblioteca (Real Livraria). A esta perda seguiu- ram com a família real. Ficaram 400 caixotes
se a iniciativa da sua recomposição. O Marquês abandonados no cais, ao relento, permanecendo
de Pombal juntou o que sobrara da Real Livra- em Belém ao sol e à chuva, até que retornaram
ria e organizou uma nova biblioteca, que em 1807 ao Palácio da Ajuda.
reunia 60.000 peças, entre livros, manuscritos, João vi, na balbúrdia da fuga apressada, só no
incunábulos, gravuras e mapas. Rio de Janeiro se daria conta de que chegara sem
A Biblioteca Real reconstituiu-se a partir de as suas preciosidades. Já mais seguro em solo
diversas proveniências, como as compras das brasileiro, em 1809 deu ordens para «irem encai-
bibliotecas de Nicolau Xavier da Silva, da Casa xotando e embarcando a Livraria, papéis impor-
de Redondo, de José Freire Monterroio Masca- tantes do Paço» e da Torre do Tombo. E, em prin-
renhas e a de Barbosa Machado, repletas de pre- cípios de 1810, antes que uma nova invasão che-
ciosidades, de códices iluminados, miscelâneas gasse a Portugal, começavam a ser transferidos
literárias, documentação dos Governos de Por- para o Rio de Janeiro os Manuscritos da Coroa e
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 46

O embarque da Família Real


para o Brasil em 1809.
A Biblioteca Real, ainda que
tenha sido toda encaixotada,
esvaziando a Biblioteca da
Ajuda, só seguiu para o Rio
de Janeiro em 1811, após as
invasões napoleónicas.

uma coleção de 6.000 códices (!) que se achavam do acervo de 60.000 volumes, entre livros, docu-
no Paço das Necessidades. mentos, incunábulos, gravuras, desenhos, códi-
O acervo foi transferido em três etapas, a ces e partituras. Introduzidas por um texto em
primeira em 1810, e as outras duas em 1811. A que os autores resumem essa longa história, com
segunda remessa deixou Lisboa em 1811, acom- cerca de 600 imagens, acompanhadas de legen-
panhada pelo ajudante de bibliotecário Luís Joa- das que as explicam e contextualizam e dividi-
quim dos Santos Marrocos. A transferência da das em cinco secções – iconografia, cartografia,
Biblioteca completou-se em Setembro daquele música, manuscritos e obras raras –, apresen-
ano, com a remessa dos últimos 87 caixotes de tam a colecção que era o orgulho dos reis portu-
livros. gueses.
A Biblioteca encaixotada e transferida para No Brasil, a biblioteca foi acomodada no Hos-
o Brasil (no que se estima, 60.000 volumes), for- pital da Ordem Terceira do Carmo (Alvará de 27
maria a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Do de Julho de 1810). As instalações foram conside-
acervo transportado para o Brasil, vale destacar radas inadequadas e poderiam por em risco tão
uma Bíblia de Mainz de 1462, cerca de 200 gravu- valioso acervo, de modo que em 29 de Outubro
ras de Dürer, inúmeros manuscritos medievais e de 1810 – data que ficou atribuída à fundação ofi-
incunábulos, a primeira edição d’Os Lusíadas e cial da Biblioteca Nacional do Brasil –, o príncipe
um precioso Livro de Horas do século xv. regente editou o decreto que determinava que,
Todos estes detalhes só vieram a lume recen- no lugar que havia servido de catacumbas aos
temente, graças a uma publicação que nos che- religiosos do Carmo, se erigisse e acomodasse a
gou do Brasil. Editado em parceria com a Biblio- «minha Real Biblioteca e instrumentos de física e
teca Nacional, O Livro dos Livros da Real Biblio- matemática, fazendo-se à custa da Real Fazenda
teca identifica o acervo bibliográfico trazido por toda a despesa conducente ao arranjamento e
João vi ao Brasil. manutenção do referido estabelecimento».
Produto do esforço de uma equipe coorde- As obras concretizaram-se em 1813 e em 1814,
nada pelos autores Lilia Schwarcz e Paulo César organizado o acervo, a consulta foi franqueada
Azevedo, O Livro dos Livros recupera a «lógica» ao público. Oficialmente estabelecida, a Biblio-
da Biblioteca Real e apresenta agora ao público, teca continuou a ver o seu acervo ampliado atra-
em edição de 2003, uma amostra significativa vés de compras, doações, e de «propinas»: pela
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 47

Portugal convalescido pelo prazer


que prezentemente disfruta na
dezejada e feliz vinda do seu
amabilissimo monarcha o Sr. D.
João VI e da sua augusta familia.
Costa, José Daniel Rodrigues da,
1757-1832. Lisboa. Typografia
Lacerdina, 1821. Este documento
é uma reprodução do original
pertencente à colecção particular
da Livraria Artes e Letras.

entrega obrigatória de um exemplar de todo Após a independência do Brasil em 1822, a


material impresso nas oficinas tipográficas de Biblioteca foi novamente abandonada, desta
Portugal (Alvará de 12 de Setembro de 1805) e vez no Brasil, onde passou a ser propriedade do
na Impressão Régia, instalada no Rio de Janeiro. recém-fundado Império do Brasil.
Essa legislação relativa às propinas deu origem A sua compra consta da Convenção Adicional
ao Decreto de Depósito Legal, ainda em vigor. ao Tratado de Amizade e Aliança firmado entre
Após a morte de Dona Maria I em 1816, teve iní- Brasil e Portugal, em Agosto de 1825. Pelos bens
cio o reinado de Dom João vi, que permaneceu deixados no Brasil, a Família Real foi paga dois
no Brasil até 1821, quando circunstâncias polí- milhões de libras esterlinas. Desse valor, oito-
ticas o fizeram retornar a Lisboa com a Família centos contos de réis destinavam-se ao paga-
Real, à excepção do seu filho primogénito e tam- mento da Real Biblioteca abandonada no Bra-
bém a Real Biblioteca. sil, que passou a chamar-se Biblioteca Imperial e
Pública da Corte.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 48

XML, dez anos depois


O potencial da XML começa a penetrar nos e outras) é definida e gerida pelo W3C, um orga-
campos do typeface design e da paginação. nismo não-comercial. Usando texto Unicode,
Notas de Paulo Heitlinger. os documentos XML podem incluir todas as
línguas usadas no mundo. A XML é uma ferra-

P
arto do princípio que muitos leitores que menta informática universal.
vão abordar este artigo estão mais ou A XML não é propriedade de empresas comer-
menos familiarizados com a HTML, usan- ciais informáticas, mas está a ser adoptada por
do-a para criar páginas Web. Foi precisamen- muitas empresas de software. A XML deu um
te no âmbito da evolução da HTML que surgiu enorme impulso ao intercâmbio de dados entre
a XML. Estimulado pela insatisfação com os indivíduos, empresas, laboratórios, bibliotecas,
formatos existentes (padronizados ou não), o e inúmeras outras organisações sociais.
World Wide Web Consortium W3C começou em Com a tecnologia XML podemos não só arma-
meados da década de 1990 a elaborar uma «lin- zenar e transportar um conteúdo, como tam-
guagem de marcação» que combinasse a flexibi- bém fixar o carácter desse conteúdo e a lógica
lidade da SGML com a simplicidade da HTML: a que descreve e estrutura esse mesmo conteúdo.
XML. A flexibilidade da XML provem da faculdade
A meta do projecto era criar uma linguagem de transportar os mais variados tipos de dados
que pudesse ser lida por programas informáti- e de mantê-los estruturalmente coesos. A XML
cos (software), e integrar-se com as demais lin- serve magnificamente para
guagens já existentes. Vários princípios e con- • estruturar qualquer tipo de conteúdo e
ceitos importantes e essenciais estiveram na ori- informação, qualquer género de dados...
gem da XML: • ...e para descrevê-los sem ambiguidades em
• Separação do conteúdo da sua apresentação formato de texto.
• Simplicidade e legibilidade, tanto para Visto dados em formato XML serem um texto,
humanos como para computadores falamos de «documentos XML». A utilidade prá-
• Possibilidade de criação de tags sem limites tica da XML revela-se quando é adaptada às
• Criação de ficheiros que permitem a necessidades específicas de um sector da Ciên-
validação de estruturas (DTDs) cia, do Comércio, da Administração ou de qual-
• Permuta de dados entre bases de dados quer outro âmbito.
distintas. Isto porque a XML permite definir «dialectos»
• Foco na estrutura e hierarquia da informação, (tambem designados «vocabulários») para ade-
e não na sua aparência. quar o conceito XML a um dado tipo de docu-
A crescente popularidade da eXtended mentos. Um dialecto XML define sempre um
Markup Language – XML – advem das qualida- determinado tipo de documento.
des desta tecnologia para organisar e melhorar A XML é adequada para a criação de docu-
a partilha de informações entre sistemas infor- mentos com dados organizados de forma hierár­
máticos heterogéneos. A mais fácil e menos cus- quica, como é o caso de texto formatados, ima-
tosa permuta de dados nos mais diferentes sec- gens vectoriais ou bases de dados. Várias bases
tores é, sem dúvida, um dos grandes benefícios de dados já «sabem» exportar conteúdos em
da XML. forma de ficheiro XML, para uma outra base de
A tecnologia XML (e também as suas «tecno- dados poder ler esses dados. Desde a sua pri-
logias satélites» XSL, XSLT, XPath, XLink, XQL meira especificação há precisamente 1o anos, em
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 49

GIMP Inkscape
1998, a eXtended Markup Language (XML) adqui-
riu substancial popularidade entre os peritos
informáticos. Embora o World Wide Web Con-
sortium (W3C) tenha fixado a versão 1.0 da XML
há poucos anos, vemos hoje este conceito inte-
grado no Comércio Electrónico. E não só no Elec-
Bitmap Vector, Outline
tronic Business; vemos dialectos XML avançar .jpg .gif .png .svg

na Medicina, Química, Biologia, Matemática,


Este gráfico vectorial foi baixado da Internet em
Ensino e Formação, Publicidade, Comunica- formato SVG, depois importado no Illustrator CS,
ção Social, Artes Gráficas, Desktop Publishing, ligeiramente modificado e exportado em formato
Bibliotecas e Arquivos, etc. nativo do Illustrator (.AI). Depois de integrado num
Ao que se deve este sucesso tão rápido? Um documento InDesign, foi exportado no documento
factor determinante para o rápido avanço da PDF que você está a ler.
SVG (Scalable Vectorial Graphics) é um formato para
XML é o suporte garantido por empresas líde-
gravar gráficos vectoriais escaláveis. Trata-se de
res do mercado da software — empresas como dialecto XML para descrever gráficos bidimensionais,
a Microsoft, Adobe, Oracle, SAP, Software AG, quer de forma estática, quer dinâmica ou animada.
IBM, SUN — entre outras de menor importância. Como o leitor sabe, umas das principais características
A XML também já penetrou o universo do dos gráficos vectoriais, é que não perdem qualidade ao
typeface design. Just van Rossum, typeface serem ampliados. A grande diferença entre o SVG e
outros formatos vectoriais, é o facto de ser um
designer holandês, é um key developer do pro-
formato aberto, não sendo propriedade de nenhuma
jecto Robofog, dinamizado por Erik e Petr van
empresa. Foi criado pela World Wide Web
Blokland. Van Rossum tem-se empenhado no Consortium, responsável pela definição de outros
sentido que a comunidade dos font tool deve- padrões, mais divulgados, como o HTML e o XHTML.
lopers use um dialecto XML como«font inter-
change format»; o seu TTX é um avanço neste
sentido. TTX é uma ferramenta para converter tivos, capturar dados directamente de formulá-
fontes em formato OpenType e TrueType para rios preenchidos e integrar os dados do formulá-
XML. FontTools é uma library para a manipula- rio nos principais sistemas comerciais.
ção de fontes, programada em Python. Suporta A XML é uma tecnologia da plataforma .NET
TrueType, OpenType, AFM e, em parte, também da Microsoft, que permite «a criação de serviços
Type 1 e alguns formatos específicos do Mac. Web distribuídos que possam interoperar em
«TTX decompiles TrueType and OpenType ambientes heterogéneos».
fonts to an XML-based text format (also called Para a PeopleSoft, a implementação da XML
TTX) and back, enabling you to edit fonts with como tecnologia de partilha de dados serve para
a plain text editor. Currently, TTX supports all a extensão da sua solução ERP para contemplar
of the core TrueType tables, the CFF table, the aplicações orientadas para o Comércio Elec-
OpenType Layout tables, a few Windows-speci- trónico. A Software AG foi a primeira grande
fic tables, and additionally the VTT (Visual True- empresa de software europeia a apostar com-
Type) private tables, which contain the source pleta e totalmente no conceito XML.
code of the instructions.» Mais detalhes estão
acessiveis em www.letterror.com/code/ttx. Formato para partilha de dados
A arquitectura Adobe XML é comum a todas as Uma outra determinante do êxito da XML está
aplicações da Adobe; permite a programadores fundamentada na sua própria natureza: o for-
alargar os processos de transacções comerciais mato XML é um formato universal para a parti-
dentro e fora dos firewalls corporativos. Através lha de dados entre aplicações. O conceito e a filo-
do suporte para XML na plataforma Intelligent sofia da XML são simples, os seus derivados e as
Documents, podemos gerar formulários interac- possíveis aplicações são inúmeras.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 50

Documentos de formato XML podem conter, Para efectivar layouts e realizar um bom
por exemplo: Screen Design de páginas Web, a HTML con-
• Transacções Comerciais, tinuará a ser a ferramenta de eleição. Em con-
• Catálogos de Produtos, junto com os Cascading Style Sheets, a HTML
• Relatórios Financeiros ou Estatísticos tem — em termos de Desenho Gráfico — níti-
• Gráficos Vectoriais, das vantagens sobre a XML. Para os amadores é
• Equações Matemáticas, fácil de aprender, e nas mãos de um profissional
• Anúncios publicitários, é funcional e efectiva. A XML terá sim um forte
• Todos os dados que necessitem de uma impacto na futura evolução do World Wide Web
representação estruturada. e na HTML, mas não será a substituta da HTML.

Standard internacional. «Língua-mãe» de novas linguagens de


Onde existiam bastiões proprietários, a nova marcação
língua franca trouxe uma simplificação para a A XML demonstrou já um potencial muito fru-
transferência e para a partilha de dados. Com a tífero, pois serviu para gerir um sem número de
meta-linguagem XML facilmente se definem lin- linguagens de marcação. Entre os mais conhe-
guagens de marcação para a partilha de infor- cidos dialectos (também chamados vocabulá-
mação entre aplicações baseadas em sistemas rios) derivados da XML figuram MathML, SVG,
incompatíveis. Incompatíveis, por trabalharem AdXML, ICE, SMIL, SOAP, BML, BizTalk, UDDI,
com formatos proprietários. WML, e muitos mais.
A partilha de dados muito estruturados entre A XML fomenta o surgimento de uma nova
computadores/softwares heterogéneos figura geração de aplicações de manipulação e visua-
entre as aplicações principais da XML. A sua lização de dados. Hoje existem poucos Browsers
aplicação mais importante é a comunicação de capazes de visualizar documentos criados com
computador a computador, ou seja, a partilha de dialectos XML.
dados — e não o diálogo entre o homem e o com- Entre os mais conhecidos dialectos XML figu-
putador. A integração e a partilha de dados entre ram os «vocabulários sectoriais». Todos eles
aplicações de uma empresa — ou de empresas (cerca de 80) estão vocacionados a um determi-
diferentes — está entre as grandes potencialida- nado sector do conhecimento e/ou da ciência.
des da XML. Os seguintes exemplos demonstram algumas
caracteristicas deste tipo de DTDs:
Para o que a XML não serve... • A Chemical Markup Language (CML) é
Se bem que persista a tendência de associar e de grande utilidade para a inventarização da
de comparar a XML com a função delegada à nomenclatura, das componentes e da estrutura
HTML, tratam-se de dois conceitos com fins e das inúmeras ligações químicas que represen-
propósitos diferentes. É por isso que a XML não tam o vasto universo das moléculas orgânicas e
será a «herdeira» ou a «continuação» da HTML. não-orgânicas. A CML separa o conteúdo estru-
A HTML é a linguagem de formatação utili- turado da sua apresentação visual, permitindo
zada para definir e integrar os elementos de um assim aos receptores de dados CML optarem
documento e para fornecer um layout especí- pela forma mais adequada de visualizar as molé-
fico a páginas Web com texto, imagens e elemen- culas e fórmulas
tos multimédia. Para esse tipo de formatação, químicas descritas em formato CML.
a XML precisa sempre da assistência da XSL — • A MathML serve para a codificação e
uma Style Sheet Language bastante mais com- definição de fórmulas e equações
plexa e difícil de dominar que a CSS da HTML. matemáticas. Utilizando transformações
Não creio pois que a XML vá definir o futuro definidas pelo receptor dos dados, as fórmulas
do WWW. Nem tão pouco creio que «a XML vai são visualisadas em Browsers ou impressas
pôr a HTML de lado». em livros, revistas, etc.
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 51

• AIML – Astronomical Instrument ML é uma conteúdos em teamwork, elaborados por


linguagem de marcação criada para o equipas de autores.
controle remoto de instrumentos • ICE — Information and Content Exchange
astronómicos. define um protocolo para a permuta (content
• A SVG, sigla para Scalable Vector Graphics, sindication) de qualquer tipo de conteúdos
permite definir grafismos simples ou Web. Este protocolo, desenvolvido pela
comlexos. A cartografia e o desenho de mapas Information and Content Exchange Working
são sectores clássicos de aplicação de gráficos Group (entre outros: Adobe Systems e SUN),
vectoriais; com SVG, até é possível localizar foi canalizado ao W3C para standardização.
texto em gráficos (p.ex. as legendas dos Mais detalhes no site: www.icestandard.net.
mapas). Existem já web-sites que usam o O aspecto mais positivo do universo XML
formato SVG para apresentar mapas. é a profusão de dialectos e vocabulários. Uns
• A BSML – Biosequence ML – é um dialecto são versões prévias, outros mostram já elevado
XML utilizado no sector da Bioquímica e na grau de aperfeiçoamento. Toda esta evolução
Genética. demonstra a versatilidade e o universalismo da
• LCF – Learning Content Format. No âmbito XML. Mas no leque hoje aberto, nem todas as
do Electronic Learning, o formato LCF opções serão igualmente úteis.
permite a inclusão de questionários com Hoje contamos mais de 100 dialectos XML;
diferentes objectivos (incluindo avaliação do mas quais deles serão verdadeiros padrões,
desempenho do formando) mas apenas com quais os standards? Quais ficarão a ser modelos
perguntas de resposta booleana ou de puramente teóricos, quais terão utilidade real a
múltipla escolha. médio e a longo curso?
• RDF – Resource Description Framework é Cremos que alguns standards com já provada
uma aplicação da XML que permite a criação utilidade para determinados sectores — será
de uma estrutura semântica bem definida este o caso da CML, que serve para definir com-
para descrição de web pages na Internet. plexas moléculas químicas — estão para ficar.
• ULF – Universal Learning Format – é um set Contudo, visto a XML integrar a extensibili-
de formatos baseados em XML para dade, irão poder evolucionar e melhorar; prova-
armazenar e intercambiar conteúdos de velmente darão origem a subdialectos e a outros
Electronic Learning. Foi desenvolvido para derivados.
ensino remoto via Internet e permite definir Em muitos sectores vemos dialectos XML
conteúdos para Online Learning, Catálogos em competência. Qual standard sobreviverá,
de Fontes Didácticas, Directórios de qual não? Só na prática se apurará a utilidade e
Certificação, Directórios de Competência, e o rendimento dos dialectos XML propostos. Só a
informação estruturada sobre formandos. prova empirica é que vai poder esclarecer quais
• A AuthXML é um dialecto XML para são dialectos que realmente servem para dados
processos de autenticação e autorização no sectores, quais os que ainda devem ser melhora-
âmbito de partilhas de dados XML. A dos, e quais os que são desprovidos de utilidade.
evolução da AuthXML é gestionada por um Esta evolução exige uma participação activa
colectivo de empresas, sendo project leader a no processo de elaboração, aplicação, teste,
Outlook Technologies (www.outlook.net). discussão e aprovação final de um (ou vários)
Mais detalhes sobre esta especificação em: dialecto(s) XML.
www.authxml.org. Bibliografia
• A Web-DAV – WWW Distributed Authoring Heitlinger, Paulo. Guia Prático do XML. 2001.
and Versioning – situa-se no campo do Editora Centro Atlântico.
trabalho de equipas; é uma aplicação XML
para facilitar a elaboração e a gestão de
Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 52

tipografos.net/workshops anúncio
Paginação profissional com InDesign
Workshops: Out., Nov. + Dez. de 2008
Das noções elementares até ao layout Quais são as diferenças entre o desenho editorial
profissional: este workshop integra para impressos e o chamado on-screen design?
todas as componentes para Dos milhares de typefaces digitais hoje
desempenhar profissionalmente disponíveis, quais são os mais adequados para
as tarefas do design editorial dada tarefa? Que importância se deve dar à
contemporâneo, oferecendo os legibilidade, à hierarquia visual, aos trends e
seguintes blocos: modas actuais? Como usar racionalmente
grelhas, com defini-las? Como obter do
— Tipografia digital: fontes, formatos, cortes, InDesign a sua melhor performance?
estilos. Selecção de tipos adequados. Porquê preferir uma fonte OTF a uma TTF? Para
— Espaçamentos e justificações. Grelhas. que servem os SC, Swash, ligaduras, OSF e
Domínio do InDesign e Illustrator. Titlings?
— Layouts para cartazes, prospectos, rótulos, O curso é leccionado pelo Dr. Paulo João Nunes
brochuras e livros. Newsletters e periódicos Heitlinger, profissional com vasta experiência
(jornais, revistas). internacional no campo do Design editorial
— Os passos para um Branding e/ou Corporate profissional, da Tipografia e do Typeface
Design coerentes. Design. É o autor da obra de referência
— Boas Práticas Tipográficas: onde observar as «Tipografia, Formas e Uso das Letras».
regras, onde ultrapassá-las. Como visualizar Todos os pormenores apresentados no curso são
hierarquias de conteúdos. sempre postos em prática através de
— Digitalização, preparação e posicionamento exercícios feitos no PC.
de imagens e gráficos vectoriais. Duração: 3 dias x 6 horas = 18 horas
— Colour management desde a imagem até ao ou: 2 dias x 8 horas = 16 horas
documento final. Separação de cores Computadores: Mac ou PC-Windows
correcta. CMYK e Pantones. Software: Adobe InDesign
— Pré-impressão e arte final: os segredos do Mínimo: 4. Máximo: 8.
“bom acabamento”. Fotólitos e CPT. Custo: 200 Euros/participante.
— As virtudes do novo formato PDF/X. Sítio: Alfontes, Boliqueime, Algarve.
Fácil acesso pela A22.

Mais informações, sobre datas e inscrições:

Paulo Heitlinger, 91 899 11 05, 289 366 106, pheitlinger@gmail.com

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Cadernos de Tipografia e Design / Nr. 12 / Outubro de 2008 / Página 53

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Typeface Design, 1: Iniciação ao desenho de tipos


Workshops Out./Nov. + Dez 2008

Das noções elementares sobre a forma Dirigido a estudantes e profissionais de Design de


das letras até ao desenho de tipos Comunicação, este curso introdutório mostra
digitais: este workshop integra todas a importância da tipografia através da
as componentes para iniciar os estrutura dos tipos, a comparação de fontes
participantes ao typeface design, clássicas e contemporâneas, assim como
oferecendo os seguintes módulos: introduz os participantes ao desenho de letras.
São realizados esboços com técnicas
— Classificação de tipos sob aspectos funcionais. tradicionais, logo transferidos para a produção
— Estrutura das letras. Proporções e relações de fontes com software state of the art.
mútuas. Semelhanças e diferenças. Os participantes estudam as bases, Caligrafia e
— Dos tipos de metal às fontes digitais: evolução Geometria, levando os dois aspectos à síntese
tecnológica. de uma fonte original, apta a ser usada em
— Caligrafia e geometria. programas de texto e de paginação.
— Como alcançar legibilidade? Os conteúdos do curso foram desenvolvidos como
— As particularidades do OpenType: versaletes, complemento à formação académica e à
algarismos antigos, Swash, ligaduras, etc. auto-aprendizagem, contemplando os temas e
— Desenhando letras com papel e lápis. as necessidades da prática profissional.
— Exercícios práticos. As didácticas aplicadas são compostas por
— Tipografia digital: fontes, formatos, pesos, abordagens teóricas e muitas actividades
cortes, estilos (compressed, extended). práticas, hands on no computador.
— Primeiros exercícios com pixel fonts digitais, Este workshop realiza-se nas instalações do
realizados com o software online FontStruct. docente ou, alternativamente, em espaço de
— Domínio da ferramenta de typeface design trabalho adequado.
FontLab da FontStudio. Desenho vectorial. Número de participantes: Mínimo: 4. Máximo: 8.
— O Tracing de scans. Depois da digitalização, Custo: 200 Euros/participante.
preparação e posicionamento de gráficos Desconto a grupos.
vectoriais. Domínio das curvas Bézier. Docente: Dr. Paulo Heitlinger
— Teste de fontes. Sítio: Alfontes, Boliqueime, Algarve.
— Tracking, Hinting, Métrica e Kerning. Fácil acesso pela A22.
— Do esboço ao produto final: Produção de uma Duração: 14 horas ( 2 x 7 horas)
fonte digital simples (1 peso, 1 corte). Computadores: Mac ou PC-Windows

Mais informações, sobre datas e inscrições:

Paulo Heitlinger, 91 899 11 05, 289 366 106, pheitlinger@gmail.com

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