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01/04/2020 Bolsonaro aposta no comércio

questões de mídia e política

BOLSONARO APOSTA NO COMÉRCIO


Presidente visita lojas e, nas redes, organiza movimento contra isolamento social
FELIPPE ANÍBAL
31mar2020_19h29

Fabio Pupo/Folhapress

O
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou a manhã do último
domingo (29) em um périplo por vários pontos de comércio de
Brasília e das cidades-satélites. Apesar das reiteradas orientações
de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para que os
brasileiros façam isolamento social por causa do novo coronavírus, o
presidente foi a lojas e cumprimentou pessoas. Gravou vídeos que,
rapidamente, foram disseminados em suas redes sociais e em grupos
bolsonaristas no WhatsApp e no Telegram. A ofensiva de Bolsonaro
conduziu sua claque para, nas redes, pressionar pela retomada da
atividade econômica e pelo fim da quarentena. Em um primeiro
momento, deu certo. Postagens relacionadas a “comércio” ou a termos
equivalentes se multiplicaram – corroborando que a retomada da

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01/04/2020 Bolsonaro aposta no comércio

atividade econômica estava no foco da militância virtual. Nos últimos


dois dias, no entanto, o movimento arrefeceu, e a tese da reabertura do
comércio perdeu força nas redes.

Monitoramento realizado pela consultoria Arquimedes a pedido da piauí


aponta que os conteúdos disseminados por Bolsonaro ajudaram a
reverter a queda de postagens relacionadas à expressão “comércio”. Na
semana passada, após o pronunciamento em rede nacional em que
insuflou os brasileiros a voltar ao trabalho, as postagens que citavam
“comércio” chegaram ao pico de 62,5 mil posts – conforme a amostragem
analisada pela consultoria. Com a entrevista de Mandetta no último
sábado (28), as postagens caíram. O que deu novo fôlego aos tuítes foi
justamente a visita de Bolsonaro a pontos comerciais, levando o volume
de tuítes a subir novamente, chegando perto da casa dos 38,1 mil.

Os efeitos da nova ofensiva de Bolsonaro duraram pouco. Na segunda-


feira (30), as postagens no Twitter relacionadas a “comércio” voltaram a
recuar para baixo das casa dos 25 mil. O movimento parece ter
repercutido de acordo com dois fatores principais: nova entrevista do
ministro Mandetta enfatizando a necessidade de isolamento social; e o
fato de Twitter e Facebook terem apagado vídeos postados por Bolsonaro
– justamente as gravações em que ele visitava pontos comerciais, cercado
de várias pessoas. No caso do Twitter, os conteúdos foram deletados por
violarem as regras de uso da rede social e por serem “contra informações
de saúde pública orientadas por fontes oficiais que possam colocar as
pessoas em maior risco de transmitir Covid-19”. A retirada dos vídeos do
ar teve peso, porque são os conteúdos produzidos pelo próprio Bolsonaro
que, primordialmente, alimentam sua militância virtual.

É a partir do presidente que as mensagens se disseminam. Conforme o


monitoramento da Arquimedes, um post do presidente em sua conta no
Facebook foi o que mais contribuiu para alavancar menções a “comércio”
nas redes: “38 milhões de autônomos já foram atingidos. Se as empresas
não produzirem não pagarão salários. Se a economia colapsar os
servidores públicos também não receberão. Devemos abrir o comércio e
tudo fazer para preservar a saúde dos idosos e portadores de
comorbidades. Deus abençoe o Brasil e nos livre desse mal”, escreveu
Bolsonaro numa publicação com mais de 66,1 mil compartilhamentos.

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Em seguida, estão outras duas publicações no Facebook de Bolsonaro:


um vídeo sobre a mesma temática compartilhada pelo presidente (com 44
mil compartilhamentos) e a gravação feita após o presidente ter dado
uma volta no comércio de Brasília (29 mil compartilhamentos). Na última
segunda-feira (30), o presidente voltou a dar destaque ao tema: postou
em suas redes um vídeo em que a ex-apresentadora do SBT Liliane
Ventura defende o fim da quarentena. No Facebook, o conteúdo já havia
atingido 51 mil compartilhamentos até o início da noite desta terça-feira
(31).

Menções ao termo "comércio" no Twitter

Fonte: Arquimedes

Infografia: Emily Almeida

Pesquisa realizada pelo instituto Ideia Big Data, que ouviu 1.555 pessoas
de todas as regiões, entre 24 e 25 de março, revelou o nível de desespero
do brasileiro com a crise associada à epidemia: 47% dos entrevistados
revelaram não ter reserva financeira emergencial para se manter ao longo
dos dias parados. Nesta terça-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e
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Estatística (IBGE) mostrou que o desemprego no país aumentou para


11,6% da população entre dezembro de 2019 e fevereiro deste ano – antes,
portanto, da pandemia. Na semana passada, o governo federal chegou a
publicar uma Medida Provisória (MP) autorizando a suspensão dos
contratos de trabalho por quatro meses e o pagamento de salários neste
período, mas recuou. Nesta semana, por causa da pandemia, o Senado
aprovou a concessão de um auxílio emergencial de R$ 600 para
trabalhadores informais, pelo período de três meses. Para tirar o benefício
do papel, o projeto de lei precisa ser sancionado por Bolsonaro.

D
esde o último domingo, as entrelinhas dos vídeos publicados pelo
presidente durante e após a saída do comércio foram assimiladas
pelos apoiadores bolsonaristas. Por um lado, começaram a se
alastrar postagens incentivando a realização de novas carreatas, que os
membros dos grupos voltassem ao trabalho e em apoio à reabertura da
atividade econômica, colocando fim ao isolamento social, além de
mensagens inflamadas. “Sem o comércio e a indústria funcionando, o
Brasil entrará em colapso econômico em pouco tempo. A velha política e
a mídia sabem disso. Querem ver a desgraça e não estão preocupados
com os milhões de pais e mães de família que vão morrer com isso”, diz
uma postagem atribuída a Erick Harrison. “O afastamento social quer te
prejudicar. O comunismo tenta destruir o capitalismo e isso já é um fato
conhecido”, escreveu Silas, no grupo de WhatsApp “Vem Pra Rua Brasil”.
No mesmo canal, Eroneide assinalou que a pandemia e o confinamento
“é tudo conspiração contra o Presidente e nós Brasileiros” [sic].

Outro conteúdo que viralizou nos grupos bolsonaristas foi um vídeo


gravado pelo empresário Luiz Galebe, que se tornou relativamente
conhecido por ter sido o fundador e apresentador da TV Shop Tour –
especializada em vendas pela tevê. Em uma gravação de cinco minutos e
meio, ele menciona teorias da conspiração – como a que a Rede Globo
teria sido vendida ao Partido Comunista da China – e, principalmente,
defende a retomada das atividades econômicas. “O povo está indo pras
ruas e não tá fazendo mal. Estão escondendo os números da realidade.
Tem um hospital no Rio [de Janeiro] preparado para receber trezentos
pacientes de uma vez. Estão com doze: quatro na UTI e oito na [unidade]
semi [intensiva]”, disse. “O que eu quero é que vocês sustentem o

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Bolsonaro. Quem votou no Bolsonaro tem que segurar as pontas e quem


não votou e tá vendo que ele tá fazendo um bom serviço não deixa essa
cachorrada nova entrar, porque o que eles querem é voltar a ser o que
era” [sic], disse. Só na conta de Galebe no Facebook, o vídeo teve mais de
3,4 mil reações e 4 mil compartilhamentos.

Também ganhou corpo nos grupos bolsonaristas o compartilhamento de


mensagens e teorias pondo em dúvida a gravidade da pandemia. Uma
das mais compartilhadas – uma notícia falsa –, diz que a “OMS
[Organização Mundial de Saúde] muda o seu discurso sobre isolamento
social e vai de acordo com o que o presidente do Brasil tem dito”. Outro
vídeo com adesão entre defensores virtuais de Bolsonaro afirma que
“estão falsificando óbitos de Covid-19”, como forma de inflar estatísticas
e “prejudicar o presidente”. Também têm viralizado postagens afirmando
que o coronavírus foi desenvolvido em laboratório pela China para
atingir os Estados Unidos, além vídeos, textos e memes que mencionam a
hidroxicloroquina, remédio usado contra a malária, como forma de
combate ao coronavírus – hipótese não comprovada cientificamente.

O isolamento social vem sendo recomendado pelo Ministério da Saúde


desde a confirmação dos primeiros casos no Brasil. A Covid-19 acometeu
pessoas próximas do presidente, como o chefe da Secretaria de
Comunicação (Secom), Fabio Wajngarten, e o ministro do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência, general Augusto Heleno. No
total, 23 pessoas que acompanharam Bolsonaro em uma viagem oficial
aos Estados Unidos foram infectados pelo coronavírus. Apesar de ter
mantido sua rotina – e a proximidade com autoridades e cidadãos –, o
presidente sempre se negou a mostrar o resultado de seu segundo exame.
O Hospital das Forças Armadas – onde Bolsonaro foi submetido ao teste
– chegou a divulgar uma lista com dezessete infectados, mas o rol omitia
o nome de dois deles. Nesta terça-feira, Heleno postou no Twitter seu
novo teste, que deu negativo. “Agradeço o apoio e as orações de todos os
amigos e amigas. Seguimos juntos na batalha por um Brasil melhor!”,
escreveu o general.

Na manhã desta terça-feira, em entrevista coletiva na portaria do Palácio


da Alvorada, Bolsonaro distorceu a fala do diretor-presidente da
Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, na tentativa

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de referendar o fim da quarentena. Na segunda-feira, Ghebreyesus havia


afirmado que os governos dos países deveriam garantir o bem-estar das
pessoas que perderam suas respectivas rendas em razão da pandemia.
Na mesma entrevista, ressaltou a importância do isolamento social,
apontando que esta é “a única chance de derrotar este vírus”. “A última
coisa que os países precisam é reabrir as escolas e os negócios apenas
para ter que fechá-los outra vez devido ao ressurgimento de casos.
Medidas agressivas para isolar, testar, tratar e monitorar os casos são não
somente a melhor e mais rápida saída de uma contenção econômica e
social extrema, mas também a melhor maneira de evitá-las”, afirmou o
diretor-presidente da OMS.

Bolsonaro, no entanto, suprimiu as menções relacionadas à importância


da quarenta. “O que o diretor-presidente da OMS falou? Esse povo
humilde fica o dia todo na rua para levar um prato de comida à noite em
casa. Ele falou que ele era africano sabe o que é passar dificuldade. A
fome mata mais do que vírus”, disse Bolsonaro.

Enquanto Bolsonaro era questionado por jornalistas sobre o fato de o


ministro Mandetta ter voltado a defender o isolamento horizontal,
apoiadores do presidente que acompanhavam a coletiva reagiram. Um
dos seguidores gritou que a imprensa “fica o tempo todo jogando os
ministros contra o presidente”. Quando os repórteres tentaram retomar
as perguntas, Bolsonaro interveio, de forma ríspida, dando a palavra a
seu apoiador. “É ele que vai falar! Não é você, não!”, gritou. Com a
anuência do presidente, as pessoas aglomeradas à entrada do palácio
passaram a xingar a imprensa. Os jornalistas viraram as costas e
abandonaram a coletiva. “Vai embora? Vai abandonar o povo?”,
questionou Bolsonaro, aparentemente surpreso. E, como no ambiente
virtual, continuou falando com a sua claque.

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