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Curso:
América Central: una historia del tiempo presente desde una perspectiva trans-nacionalista.
Entre la “década perdida” y el reformismo neoliberal. 1980-2017.
O fim da Segunda Guerra Mundial deixou um cenário totalmente novo no mundo que se
definia: uma Europa destruída e arrasada como o terreno do conflito; a União Soviética em controle
de quase toda a Europa Oriental, consagrando um vasto domínio que partia da Alemanha Oriental
até o Estreito de Bering; países africanos e asiáticos aproveitando o enfraquecimento europeu e
tornando-se independentes; o Japão destruído e fadado ao controle da ilha nacional e a China com a
emergência de conflitos internos deram cara à Ásia; a Indochina em ebulição; o Oriente Médio, o
Irã e o acesso ao petróleo eram questões basilares de abastecimento; a diplomacia independente de
Péron e da Argentina incomodavam o gigante do norte; e os Estados Unidos da América tornando-
se a grande potência do ocidente. Todo essa nova configuração mundial trouxe desafios e
problemáticas para os tempos que estariam por vir.
É nesse contexto que surgem as grandes estruturas econômicas globais pautadas na
ingerência estadunidense sobre o mundo ao mesmo tempo que produziam as dissidências que
acabaram por gerar a Guerra Fria, isto é, justamente na construção do poder geopolítico
hegemônico, em escala global, que o conflito se forma e a distensão de quase 40 anos tem origem.
Pautando-se na análise de Flavio Alves Combat (2012), são quatro os pilares de ação da diplomacia
estadunidense dados como resposta aos problemas que se punham em evidência: o Acordo de
Bretton Woods, a Doutrina Truman, o Plano Marshall e o NSC-68.
O Acordo de Bretton Woods, assinado em Julho de 1944 na cidade homônima, estado de
New Hampshire, EUA, por 44 países e 730 delegados, era um conjunto de ações diplomáticas e de
relações internacionais que tinha como intenção reorganizar, aos moldes estadunidenses, o sistema
monetário e financeiro mundial. Dentre os interesses que pautavam o acordo, realizado no âmbito
da Organização das Nações Unidas, estava a restauração das economias europeias, a expansão do
emprego e do comércio mundial, bem como o fortalecimento político dos países arrasados. Nesse
acordo ficou definido a estruturação comercial através do padrão dólar-ouro em supressão da
circulação pelo padrão ouro baseado na Libra Esterlina. Essa ingerência do dólar deu vantagens
econômicas exorbitantes aos Estados Unidos e foi capaz de assegurar um conjunto de ações de
recuperação na Europa Ocidental pautada em interesses políticos. Além disso, foi o momento de
organização do Fundo Monetário Internacional (1944), do Banco Mundial (1944) e do Acordo
Geral de Tarifas e Comércio (1947), estruturas financeiras internacionais que, a partir da gerência
estadunidense, objetivavam estimular o comércio por meio de empréstimos e financiamentos em
dólar e com a incidência de interesses econômicos liberais dos EUA.
Tal internacionalização do comércio acabou tanto por gerar descontentamento por parte dos
soviéticos quanto dar poderio econômico para as ações políticas na Europa Ocidental pautadas na
doutrina da contenção do comunismo expressadas pela Doutrina Truman, o Plano Marshall e o
NSC-68. Pautadas em uma configuração diplomática agressiva, os EUA partiram para o
desenvolvimento das indústrias europeias através do massivo investimento externo, em especial na
Alemanha Ocidental, como também na consolidação de um bloco capitalista ocidental por meio da
Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN) em 1949, o que levou à criação do Pacto de
Varsóvia, como resposta, pela URSS em 1955. Essa dispendiosa quantia de dinheiro injetada na
máquina produtiva europeia tinha como pano de fundo reestabelecer as forças políticas dos países
Europeus para fazer frente ao perigoso avanço do comunismo, isto é, pautando-se na apresentação
de uma saída liberal, os investimentos estadunidenses objetivavam quebrar o encanto que o regime
soviético fazia nos movimentos sociais ocidentais, como no levante comunista Grego e nas
sublevações da Turquia. Essa contenção, base da diplomacia em George Kennan, foi essencial para
dar corpus ao domínio estadunidense e à transnacionalização do capitalismo, gerido por uma
estrutura financeira e não industrial, pautada por estímulos especulativos que levaram a uma
decadência do modelo produtivo industrializado e gerando problemas como concentração de renda,
desigualdade social e instabilidade econômico-produtiva, como na escassez de empregos, nas altas
taxas de lucros, juros e financiamentos, com mecanismos de vigilância e perpetuação da divisão
internacional do trabalho, como a dívida externa, e a implementação de políticas neoliberais já em
um momento de crise da “era de ouro” por volta de finais da década de 1960 até 1980.
Tal crise precisa ser avaliada por um conjunto de configurações internacionais: o fim da
rigidez dos Acordos de Bretton Woods e a flexibilidade cambial com hegemonia do dólar; a
reestruturação econômica e política da Europa que passa a fazer frente aos interesses ianques, em
especial a quebra do suporte superavitário estadunidense em 1971; o conflito com o Vietnã e o
levante contracultural; as eleições de Margaret Thatcher e Ronald Reagan nos finais da década de
1970 e o retorno da corrida armamentista, o fim do período da détente, e a aplicação de políticas
econômicas neoliberais; a crise de abastecimento/petróleo. Pautando-se na Sociedade de Mont
Pélerin formada na década de 1940 na Suíça pelos ideólogos do neoliberalismo como Friedman,
Hayek e Popper, a autorregulamentação da economia pelo mercado era um “remédio amargo” para
o desenvolvimento produtivo. Algumas medidas tomadas para a implementação de tal política
advinham da estabilização de preços e das contas nacionais, privatização dos meios de produção e
empresas estatais, liberalização do comércio e do fluxo de capitais, desregulamentação da atividade
privada e dos direitos trabalhistas e austeridade fiscal, isto é, restrição dos gastos públicos.
Toda essa configuração internacional e políticas econômicas acabou por afetar diretamente
as economias e políticas para a América Latina. Primeiramente vale destacar que essa região do
continente americano, por suas características agroexportadoras na divisão internacional do
trabalho, poucas vezes foram resguardadas como locais de suntuosos investimentos industriais,
mesmo em momentos de conflito em que foi necessária a aplicação da política de “Substituição de
Importações”, sem falar da crise do desenvolvimentismo. A criação da Organização dos Estados
Americanos em 1948 com a liderança estadunidense foi basilar para a alçada de líder do gigante do
norte e a contenção das políticas dos vizinhos continentais. Essa estruturação consolidou um amplo
apoio e controle dos países latinos pelo anglo-saxão em uma estrutura imperialista de comando, aos
moldes do que se dava nos países do Leste Europeu. Essa liderança ianque, bem como o contexto
da disputa das zonas de controle na Guerra Fria, gerou consequências econômicas e políticas ao
continente.
A primeira questão que se põe em evidência é a gerência dos assuntos políticos através da
canalização do apoio aos passos estadunidenses. Essa configuração imperialista foi forjada através
de ligações históricas, envolvimento direto por meio de invasões, ou ainda pressões políticas. Nota-
se tal fato, por exemplo, no pós-guerra e nas diplomacias dependentes que logo colocaram o Partido
Comunista na ilegalidade. Ao mesmo tempo, a doutrina de contenção do comunismo foi exportada
para os demais países que acabaram por consolidar uma linha diplomática de dependência,
principalmente após a Revolução Cubana de 1959, na formulação da Aliança para o Progresso e no
apoio a controles ditatoriais por todo o continente, seja no PBSUCESS na Guatemala em 1954, em
defesa dos interesses comerciais estadunidenses, ou no golpe civil-militar no Brasil em 1964.
Todavia, a estrutura de dominação econômica, ao momento em que a “era de ouro” via seus
limites, acabava por enfraquecer as capacidades econômicas da periferia. As transformações no
capitalismo advindos de sua transnacionalização deixaram a impossibilidade de se controlar as
dificuldades econômicas. No caso da América Latina, percebe-se um limite aos modelos
desenvolvimentistas de economia, na qual a gerência do capital financeiro especulativo e o aumento
dos preços do petróleo por meio dos países da OPEP geraram um aumento exponencial da dívida
externa, a incapacidade do estabelecimento de novos investimentos bem como do pagamento das
taxas sobre os empréstimos e a incapacidade de superação do modelo agroexportador. Para a
América Central em específico, não muito diferente da América Latina como um todo, como
demonstram Jorge Rovira Mas (2005) e Victor Bulmer-Thomas (1999), mesmo que todo o
crescimento advindo do boom econômico do pós-guerra tenha configurado uma expansão
econômica, a mesma não foi capaz de melhorar substancialmente a vida dos habitantes da região
devido à concentração de renda e à desigualdade social por uma determinante política de força
estadunidense, a manutenção ou quebra do ciclo democrático ou ainda no favorecimento das elites
agrárias, nos limites do desenvolvimentismo e nas problemáticas que envolveram o Mercado
Comum de Centro América (MCCA), inserido ao contexto do boom, mas incapazes de assegurar
uma integração regional forte e dinâmica.
Essa crise econômica, seja por determinantes políticos ou não, foi fundamental para o
estabelecimento de movimentos democráticos por todo o continente americano e que estão pautados
em formas de disputa específicas para cada região, mas com certas proximidades que podem ser
exploradas. Primeiramente, vale apontar o contexto político dos movimentos sociais americanos e
na região da América Central e do México nas décadas de 1960-1980.
A inflexão mais paradigmática dos movimentos sociais na América Latina do pós-guerra é a
Revolução Cubana de 1959. Movimento guerrilheiro de luta intensa e que se deu pelo uso da tática
guerrilheira nas montanhas da Sierra Mestra, a revolução liderada principalmente por Fidel Castro e
Ernesto “Che” Guevara foi a verdadeira independência da Ilha, colonizada pelos espanhóis e
controlada, desde o final do século XIX, pelo imperialismo estadunidense, assim como o fora o
processo revolucionário vietnamita com os franceses e os ianques (MISKULIN, 2016; VISENTINI,
2008). O controle da pequena ilha a alguns quilômetros da costa do Estado de Flórida por um
movimento revolucionário em um contexto de Guerra Fria foi um balanço no poderio político dos
EUA na região. A destituição de Fulgência Batista no início de 1959 exaltou as revoltas por todo o
continente.
A capacidade de alimentar movimentos revolucionários pelo exemplo foi uma proeminente
força do movimento após o controle territorial, político e econômico da ilha. As contravenções
estadunidenses, o financiamento de tropas e o desembarque em busca do reestabelecimento do
controle foram ineficazes e demonstraram, junto da posterior derrota no Vietnã, o calcanhar de
Aquiles do gigante do norte. A posterior aproximação com a União Soviética e a crise dos mísseis
de 1962 deram o alerta vermelho à destruição mundial. Foi justamente neste contexto de
internacionalização da revolução experienciada na figura de Che e sua viagem ao Congo e à Bolívia
que os movimentos latinos se expandiram e foram perseguidos na aplicação da Aliança para o
Progresso e no apoio de regimes ditatoriais pela América por parte dos Estados Unidos. Neste
mesmo período, por exemplo, guerrilhas como o Sandinismo na Nicarágua passam a questionar a
visão oficial de Sandino por parte do governo de Somoza. Na Guatemala, os movimentos sociais
organizados na área urbana, em especial com a força do Partido Guatemalteco del Trabajo (PGT),
partido comunista, no âmbito institucional, bem como as organizações estudantis da Universidade
de São Carlos pela Asociación de Estudiantes Universitarios (AEU), existente desde 1920, com os
secundaristas pela Frente Unido Estudiantil Guatemalteco Organizado (FUEGO) formado em 1958,
ou com as guerrilhas como as Fuerzas Armadas Rebeldes (FAR), o Ejército Guerrillero de los
Pobres (EGP) e a Organización del Pueblo in Armas (ORPA) demonstravam táticas da luta armada.
No México, as organizações guerrilheiras como o Movimento Armado Socialista (MAS) e Los
Lancadones, mais pautados na luta insurgente e guerrilheira, contrapondo-se à Organização
Camponesa Emiliano Zapata (OCEZ), estes a partir do âmbito institucional, demonstravam a
insatisfação com a submissão aos interesses estadunidenses e procuravam, por meio de estratégias
castristas, chegar ao poder (HARVEY, 1998; BORBOLLA, 2012; BROCKET, 2005).
Todos essas organizações, cercadas por ditaduras, repressão e violência política, passaram a
minar as forças estatais em defesa das liberdades. As curtas experiências democráticas do período
do pós-guerra, marcadas pelas abruptas rupturas militares em quase todas as nações da América
Latina (exemplos em que não existiram rupturas drásticas encontram-se na Venezuela e no México,
curiosamente, apesar de não serem, todavia, democracias plenas), logo formaram as resistências e
os levantes contrários aos regimes. Quando da chegada da crise financeira do final da década de
1970 e durante 1980, esta conhecida como década perdida para o campo econômico, no
exponencial aumento das dívidas externas e na incapacidade de quitá-las, nas quedas dos Produtos
Internos Brutos, ao mesmo tempo que influenciados pelo movimento cultural de questionamento do
controle estadunidense sobre o ocidente, conhecido como contracultura, em especial na exposição
da noção (paradoxa) imperialista de exportação da liberdade e da democracia enquanto apoiando
regimes autoritários, reergueram as forças subversivas com espaço para atuação direta. Assim,
pretende-se entender tais movimentos, nesse contexto e no uso da violência política, na Guatemala e
no México.
Referências bibliográficas
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