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Módulo 02 – Professor Paulo Afonso Garrido de Paula1

Vídeo Aula 12
O Direito da Criança e do Adolescente

Vamos tratar do direito da criança e do adolescente. Uma primeira observação:


quando se afirma a existência do direito da criança, isso não significa que sejam
direitos absolutos, que se estabeleceu, notadamente por força do Estatuto da Criança
e do Adolescente, uma verdadeira ditadura da criança em relação ao mundo adulto. A
criança também tem deveres e eles também estão expressos no Estatuto da Criança e
do Adolescente. A criança tem o direito de ser respeitada pelos seus mestres e
professores, isso não significa que a criança possa desrespeitar os seus mestres e os
seus professores. O que o Estatuto da Criança e do Adolescente trouxe de novidade
no cenário do direito brasileiro foi uma relação de igualdade e de respeito, em que
mundo adulto e mundo infanto-juvenil podem se relacionar da maneira mais pacífica e
produtiva possível. Neste sentido é que tratamos do direito, e os professores têm uma
tarefa importantíssima, que é traduzir o que é o direito para a criança e, a partir do
direito, tentar estabelecer mudanças e transformações na vida das crianças e
adolescentes que atendem.

O que é direito?

Direito é um interesse, mas não é um interesse comum, é um interesse que


conta com a proteção do Estado. A passagem de interesse para direito não é comum,
mas é advém das lutas e das conquistas da população organizada. A passagem de
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Paulo Afonso Garrido de Paula foi um dos autores do anteprojeto que deu origem ao
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É procurador de Justiça do Ministério Público de
São Paulo e professor de Direito da Criança e do Adolescente e Direitos Humanos da PUC-SP.
Ex-presidente da Associação Brasileira de Magistrados e Promotores de Justiça da Infância e
da Juventude (ABMP), coordenou durante muitos anos o Centro de Apoio das Promotorias de
Infância e Juventude do MP-SP.
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Foram feitas apenas as adaptações necessárias à transposição do texto falado para o texto
escrito.
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interesse para direito ocorre quando as Câmaras Municipais, Estaduais ou o
Congresso Nacional transformam um interesse em lei. O direito nada mais é do que
um interesse juridicamente protegido, um interesse que conta com a proteção do
Estado, que ganhou uma evolução fantástica, importantíssima, e que pode influir na
vida e na qualidade de vida das pessoas.

A primeira regra básica que pode ser ensinada para as crianças e


adolescentes, e talvez a mais importante, é que as crianças e os adolescentes podem
influir no conteúdo dos direitos, ou seja, na transformação de um interesse em
interesse juridicamente protegido. A questão, por exemplo, do direito de brincar. Hoje
o direito de brincar está incluído no Estatuto da Criança e do Adolescente, mas ele não
foi uma construção do mundo adulto. Na época da elaboração do Estatuto da Criança
e do Adolescente, muitas crianças, quando perguntadas sobre o que gostariam que
estivesse na lei, acabavam indicando o direito de brincar, o direito ao lúdico e à
brincadeira. Esta percepção foi própria do mundo infanto-juvenil, não do mundo adulto.
Como a criança e o adolescente, todos nós podemos participar dos conteúdos das
leis, desde que se tenha uma preocupação com aquilo que o parlamento ou as
câmaras municipais estejam fazendo em benefício da população. A primeira regra
básica é a regra da participação. Todos nós, notadamente crianças e adolescentes, ao
conhecermos o que efetivamente está sendo discutido pelas câmeras legislativas,
temos a capacidade de influir no conteúdo destes direitos.

Mas e os direitos que já existem? Aqueles que estão nas leis, que já são
claros, como os que constam no Estatuto da Criança e do Adolescente, mas que,
infelizmente, nós sabemos que não são cumpridos ou respeitados? O direito se
transforma em realidade, quando aquele bem jurídico, ou o objeto que a lei protege, se
insere no cotidiano das pessoas. Quando a pessoa se apropria daquele ‘bem da vida’,
como o direito à saúde, por exemplo. Quando a pessoa, no seu cotidiano, tem acesso
às condições de saúde, ao posto de saúde, aos hospitais, remédios e àqueles
instrumentos necessários para a manutenção e reabilitação da saúde, nós dizemos
que ela tem direito à saúde, ou que o direito à saúde está sendo respeitado. Isso não
significa obrigatoriamente, que ela terá saúde, porque, infelizmente, existem situações
onde todas estas condições são insuficientes para garantir a saúde de uma pessoa,
porém, a lei tenta garantir estas condições. Os direitos se efetivam quando estas
condições estão presentes.

A pergunta que nós fazemos no dia a dia, seja no trabalho, quem trabalha com
direitos, por exemplo, o cotidiano é formado por esta indagação: Porque que os
direitos não se realizam? Porque que os direitos não se efetivam. E nós sempre

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apontamos duas ordens de razões para que os direitos não se realizem e não se
insiram no cotidiano das pessoas.

A primeira razão, infelizmente, é a negativa do direito. Ainda existem muitas


pessoas que negam a própria existência do direito. Desde os mais básicos, como vida,
saúde, educação, até outros direitos, menores, mas, nem por isso, menos importantes.
Os direitos não se realizam, em primeiro lugar, pela negativa, pela recusa da própria
existência dos direitos.

Em segundo lugar, às vezes o direito não se realiza porque, ainda que se


verifique o reconhecimento de sua existência, não se age, não se enceta nenhuma
iniciativa ou ação para que o direito se concretize. Como aquele que diz: “eu
reconheço que a criança tem direito a educação”, mas, tendo ele a obrigação da
criação de escolas, da manutenção de professores, acaba não estabelecendo
nenhuma ação concreta para que isto se transforme em realidade. Ele diz: “Eu sei que
o direito existe, mas infelizmente eu não posso fazer nada para a realização dele.
Assim, é necessária uma verdadeira luta pela concretude dos direitos. A lei representa
muito pouco, ela é apenas uma garantia de possibilidades. O que transforma a
realidade é a prática, é o cotidiano. O aluno, a criança e o adolescente, quando
tiverem conhecimento desse mundo do direito, devem ter presentes que o seu direito
somente se realiza se ele for em busca desse direito, e se organizar para a sua
concretização, reclamando a existência do direito muitas vezes não observado. Falar
de direito da criança e do adolescente é falar, principalmente, de uma postura ativa, de
uma busca, de uma luta para que este direito se concretize.

Criança deve conhecer, em primeiro lugar, quais são os seus direitos, mas
também deve ter presente que uma conduta estanque, de paralisação ou preguiça em
relação a eles, não vai levar à sua concretude ou realização. Direito é essencialmente
luta. A melhoria das condições da sua escola, em primeiro lugar, passa pela
mobilização de todos. Pela capacidade de indignação de todos. O direito existe,
ninguém duvida de sua existência, mas a partir da luta, a partir desse caminho é
possível chegar a sua realização.

Outro ponto importantíssimo é estabelecer uma sequência de cobranças


destes direitos. Se o direito existe, mas não é observado ou cumprido, como eu devo
proceder para a sua realização ou efetivação? É necessário apontar quatro pontos
básicos:

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1 - É necessário exigir o respeito ao direito de quem está obrigado. Se a
pessoa tem uma obrigação que corresponde ao direito, esta obrigação deve ser
cobrada, em primeiro lugar, do obrigado.

2 - Organização. Se eu sozinho não tenho força suficiente para cobrar, daquele


que é obrigado, o respeito ao meu direito, posso fazê-lo através da organização.
Mecanismos da sociedade civil, como organizações de bairros ou clubes de serviços,
podem ser buscados para reivindicar a existência desse meu direito.

3 - Procurar a ajuda de terceiros. Na área dos direitos da criança e do


adolescente, se cria uma verdadeira rede de proteção. Deve-se buscar auxílio dessa
rede.

4 - Se isso tudo não for possível, se procurado o obrigado ele não responde
aquele meu pedido, se não existe uma organização da sociedade civil capaz de lutar
pelo meu direito, se esta rede de proteção também não ‘dá conta do recado’, em
último lugar eu tenho o direito de acesso à justiça, ou seja, de buscar a justiça do meu
país para que ele valide o direito que ele próprio criou.

As coisas funcionam desta forma.

Vídeo-aula 2

Princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente

Quais são os principais direitos da criança e do adolescente? A resposta a esta


pergunta, necessariamente reclama o conhecimento do direito da criança e do
adolescente: Qual seu conteúdo, o que o direito da criança e do adolescente almeja,
qual seu objetivo, por que este ramo do direito foi construído no Brasil, principalmente
depois da Constituição de 1988?

O objetivo declarado do direito da criança e do adolescente é a chamada


proteção integral, que significa basicamente duas coisas. Primeiro: Desenvolvimento
saudável. Segundo: Garantia da integridade. Proteger integralmente uma criança ou
um adolescente importa fornecer ou conquistar os meios adequados para um
desenvolvimento sadio e harmonioso e garantir uma vida livre de situações que
possam levar a exploração à crueldade, à opressão e à violência. Por isso pensar em
proteção integral é pensar basicamente nestes dois aspectos: desenvolvimento
saudável e garantia de integridade. Uma coisa está relacionada à outra. É impossível
pensar no desenvolvimento saudável em situação de violência, e a situação de
violência jamais vai levar a um desenvolvimento saudável.

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Do ponto de vista da construção normativa, o direito da criança e do
adolescente se assenta num principio basilar do direito brasileiro, que está na
constituição de 1988, e que está também em várias cartas políticas de declaração de
direitos que é o principio da dignidade da pessoa humana. Pensar direito da criança e
do adolescente é ter presente o princípio da dignidade da pessoa humana, e ela é
inerente a toda e qualquer pessoa. Nós não podemos distinguir uma pessoa que tenha
mais dignidade do que a outra. Todas são dotadas da mesma dignidade, e assim é
que foi construído o Estatuto da Criança e do Adolescente, em uma tentativa de
estabelecimento de uma igualdade substancial. Que toda criança e adolescente
tivesse acesso aos mecanismos de atualização de suas potencialidades humanas.

Para atingir este objetivo, que é a garantia da dignidade da pessoa humana, o


direito da criança e do adolescente se funde em dois princípios fundamentais, a
proteção integral e a condição de pessoa em processo peculiar de desenvolvimento.
Não é possível pensar o direito da criança e do adolescente perdendo de vista o
destinatário desse direito, que é alguém que atravessa modificações na sua existência
que jamais vão ocorrer novamente. Esta condição peculiar de pessoa em processo de
desenvolvimento importa experiências que são urgentes e únicas na vida de uma
pessoa. A infância e a adolescência atravessam a vida humana em velocidade
estonteante, e é por isso que o direito da criança e do adolescente, se expressa na
garantia da prioridade absoluta. Se nós não atendermos rapidamente aos direitos da
criança e do adolescente, quando eles forem atendidos, talvez não se encontre mais
uma criança, mas um adolescente, e talvez não mais um adolescente e, sim, um
adulto. Criança tem pressa na efetivação dos seus direitos.

À luz destas definições o legislador construiu, notadamente no Estatuto da


Criança e do Adolescente, um rol de direitos que são fundamentais. São aqueles
direitos que, se não forem observados, os outros perdem importância. São os direitos
fundamentais da criança que nós devemos atentar:

1 – Direito à vida. Não há de se tratar da dignidade da pessoa humana, sem


tratar do direito à vida. A forma mais perversa, mais violenta de agredir a dignidade da
pessoa humana é a abreviação da vida. Quando nós estamos diante de um homicídio,
da morte provocada de alguém, isto nos agride a todos porque a vida de alguém foi
abreviada. A possibilidade da sua existência foi ceifada. É necessário, dentro de uma
cultura de paz, de uma cultura humanista, levar que o valor à vida do outro talvez seja
o dom mais importante, a questão de conteúdo mais significativo da dignidade da
pessoa humana. A criança tem direito à vida e no Estatuto da Criança e do
Adolescente há uma série de regras que procuram proteger até a vida ainda na barriga
da mãe, por isso a atenção pré e perinatal, da área de saúde, é disciplinada no

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Estatuto da Criança e do Adolescente de uma forma bastante ampla.

2 – Direito à saúde. A pessoa deve existir em condições adequadas de saúde,


para que possa desenvolver as suas potencialidades, trabalhar, produzir, sorrir,
brincar. Nos antigos tratados de direitos humanos aparece uma coisa muito importante
que diz respeito à busca de um bem que seria maior do que tudo: Este bem é a
felicidade. O ser humano existe, de certa forma, na busca da felicidade e esta somente
é possível quando os direitos fundamentais estão presentes.

3 – Direito à alimentação. Está na Constituição da República e é próprio da


criança e do adolescente. Ninguém vai se desenvolver sadiamente sem alimentação.
Algumas coisas, apesar de se inserirem no nosso cotidiano, são importantes, pois
dizem respeito à própria existência e à qualidade de vida, como a merenda escolar,
por exemplo, que se insere dentro da escola, mas tem esta conotação de propiciar
condições adequadas ao aprendizado, à vida e à existência digna.

4 – Direito à educação. Muito tratado neste curso. Vocês professores


conhecem isto melhor do que eu.

5 – Direito ao lazer. Crianças são detentoras do direito ao lazer, que engloba o


direito de brincar. Quem brinca hoje certamente vai ser um adulto mais feliz no futuro.
Nós, adultos, não temos o direito de brincar, somente as crianças têm. Nós temos
esse interesse, mas não o interesse juridicamente protegido. Porque o lúdico no
desenvolvimento infantil representa algo importantíssimo para a vida da criança.

6 – Direito a profissionalização. A nossa constituição permite o trabalho


somente a partir dos 16 anos de idade. Mas é necessário olhar para frente, para o
futuro. Uma criança não pode sair da escola sem habilidades que lhe permitam
enfrentar os desafios do convívio social com honestidade, com civilidade. É um direito
da criança, obter estes saberes e conhecimentos de modo que possa enfrentar, sem
os recursos da violência, os desafios do cotidiano.

7 – O direito à cultura. No seu sentido mais genérico possível. Desde


aprender a ouvir e a contar histórias, saber o que ocorreu no passado, para assim,
propiciar os caminhos adequados no presente.

8 – Direito à dignidade. A criança tem direito ao respeito, e ele é definido no


Estatuto da Criança e do Adolescente de uma forma absolutamente fantástica e
interessante: A preservação da imagem, da identidade, dos valores e crenças; a
preservação dos objetos pessoais, da integridade física, mental e moral são conteúdos
do direito ao respeito. O que significa respeitar uma criança e um adolescente?
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Significa observar estes conteúdos, até porque se não, nós descambamos, às vezes,
até para alguns crimes. Submeter crianças ou adolescentes a vexame ou
constrangimento é algo errado. Na lei, é um crime.

9 – Direito à liberdade. Dentro dos limites de que a todo direito corresponde


uma obrigação. Nos tratados antigos de direitos humanos, as primeiras noções de
liberdade foram exatamente as noções que sempre levam em conta o direito do outro.
A minha liberdade termina quando começa, evidentemente, o direito do outro à
liberdade. Não é pedagógico ensinar que a liberdade é poder fazer tudo. A liberdade
significa poder andar pela autonomia da vontade, do conhecimento e das realizações.

10 – Direito à convivência familiar e comunitária. A criança tem direito à


família. Se não for possível, tem direito à família substituta. Mas a família, que deve
ser promovida, representa ainda um bem importante na busca da dignidade humana.

Estes são, em síntese muito rápida, os direitos da criança e do adolescente. E


nós devemos estudar e compreender o conteúdo destes direitos para passar para as
nossas crianças. Passar aos nossos alunos esta idéia de valores que podem levar ao
progresso de toda a nossa nação.

Vídeo-aula 3

O Sistema de Garantia de Direitos (rede de proteção à criança e ao


adolescente)

Qual a resposta que nós devemos dar àquela criança ou adolescente que
pergunta: o que eu devo fazer para que o meu direito seja respeitado? Se ele diz: O
direito existe, mas ele não é observado, ou reconhecido, o que eu devo fazer?

Em primeiro lugar é necessário ter sempre presente uma ordem de procura.


Esta ordem esta relacionada, em primeiro lugar, ao próprio obrigado. A primeira
questão básica é lembrar ao obrigado a obrigação que ele tem. Se o meu direito não é
observado eu devo lembrar àquele que tem o dever que corresponde ao meu direito,
pois a todo direito corresponde uma obrigação. Se eu tenho um direito alguém terá
uma obrigação relacionada a ele, e eu devo lembrá-lo necessariamente dessa
obrigação, desse dever. Em segundo lugar eu tenho que me organizar para que este
desejo seja observado, através de associações da sociedade civil. Em terceiro lugar
eu devo procurar uma rede de proteção e em quarto lugar eu devo procurar a justiça.
Vamos tratar um pouco desta rede de proteção, e da importância da escola dentro
dela.

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1 – Família - A primeira entidade que eu devo procurar, ou uma criança deve
procurar quando um direito estiver violado ou ameaçado de violação (na ameaça de
violação já é necessário prevenir a ocorrência do dano), é a família. Nós devemos
ensinar às nossas crianças que a primeira proteção vem da família. Às vezes contar
para o pai ou para a mãe sobre agressões aos direitos nos leva a possibilidades de
encontrar soluções, ou caminhos de solução, do problema. Em casos como abusos
sexuais, prostituição infantil ou pedofilia, entre outros, muitas vezes é necessário um
primeiro contato, ou seja, que a criança conte para alguém, para o seu pai ou a sua
mãe. É importante ensinar às crianças desta forma, porque, em regra, eles é que mais
vão dispor de proteção em relação à criança.

É evidente que, infelizmente, em algumas situações, ou muitas situações, a


família é quem viola o direito da criança ou do adolescente. O próprio pai, o padrasto,
vizinho, ou tio, por exemplo. Nestes casos, evidentemente, nós vamos excluir a
família. Por isso que nós estamos diante de uma rede. Mas em regra, ainda é um bom
ensinamento dizer para a criança que ela converse com seu pai ou com sua mãe,
dizendo sobre o direito que não está sendo observado. Nós não podemos excluir a
família dessa rede de proteção.

2 – Escola - A escola, onde o professor trabalha honestamente, no seu dia-a-


dia, tem um papel muito grande, que vai além dos limites de fornecer conhecimentos e
habilidades. Não raras vezes é o professor que toma conhecimento das tragédias que
se abatem sobre crianças e adolescentes na própria casa ou fora dela. Por isso, nessa
rede de proteção, a escola tem uma importância extraordinária. A escola tem que ser
capaz de ouvir a criança, de não tratá-la única e exclusivamente como aluno, mas
como ser humano, ouvindo as suas preocupações. Na área médica se fala em
atenção integral à saúde, isso significa que o médico não deve somente olhar para a
doença, mas para toda a pessoa. A escola, da mesma forma, não deve olhar somente
para o aluno, mas para a criança e o adolescente que está ali e, consequentemente se
preparar para esta demanda. A segunda entidade de reclamação é a escola.

3 - As associações e entidades de defesa da criança - Em vários municípios


brasileiros nós temos estas associações organizadas: centros de defesa, comunidades
de bairro. Muitas vezes estão ali exatamente pessoas dispostas a ajudar crianças e
adolescentes. Muitas destas organizações são instrumentos para encaminhar as
reivindicações de crianças e adolescentes.

4 - Órgãos Governamentais - Muitas vezes criados exatamente com esta


finalidade. Se a questão é de saúde, os órgãos de saúde; se é de educação, os
órgãos de educação. Os conselhos comunitários de saúde, educação, segurança etc.
Ou seja, eu devo procurar os órgãos governamentais existentes no meu município
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para que eu possa levar as minhas reivindicações ou encaminhar a criança e o
adolescente.

5 - Conselho Tutelar – Podendo, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente


abranger apenas um bairro ou um município, os conselhos tutelares em regra estão
próximos das pessoas. A maior parte das denúncias relacionadas a abuso sexual
contra crianças tem partido dos conselhos tutelares, que têm cumprido este papel
social pela sua aproximação com a comunidade. É muito mais fácil falar com o
conselheiro tutelar do que falar com o promotor ou com o juiz. Esta proximidade auxilia
a possibilidade de comunicação quando é necessário levar uma reivindicação.

6 – Conselho de Direitos – Não havendo acesso ao conselho tutelar, pode-se


procurar pelo conselho dos direitos da criança e do adolescente que, pela lei, os
municípios também devem ter.

7 – Defensoria Pública - Existe advogado de criança e adolescente aqui no


meu município? A defensoria está aqui? Se está, quem é? A quem eu devo procurar?

8 – Ministério Público - O promotor de justiça da comarca, que tem por


obrigação atender a população e atender também os direitos da criança e do
adolescente. Tem a obrigação de atendimento ao público. Vá ao fórum e peça para
falar como promotor de justiça. Vá levar a sua reivindicação, a notícia de violação dos
direitos de crianças e adolescentes.

9 – Poder Judiciário - Se isto tudo não for possível, é possível ingressar com
uma ação judicial.

Como citado anteriormente, a luta pelo direito é dura, é difícil, passa, às vezes,
por este caminho, mas é necessário que se percorra este caminho para se estabelecer
condições adequadas de cidadania.

A escola faz parte da rede, mas não está sozinha, é bom que se diga isto, que
se pontue, que a escola não vai solucionar evidentemente todos os problemas, mas
tem uma colaboração importantíssima a ser dada na efetivação e na garantia dos
direitos da criança e do adolescente.

O primeiro dever básico principal da cada integrante da rede, inclusive de cada


escola, é do conhecimento dos recursos locais. Se eu sou professor em uma escola,
em um bairro, eu devo conhecer os recursos da minha comunidade. Se existe um
serviço de assistência social, se existe promotoria, defensoria, um juiz, que vai
atender, ou órgãos da sociedade civil. A criança não vai ter este conhecimento, mas o
professor pode tê-lo, não é tão difícil. Isto está relacionado ao conhecimento das
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condições de onde eu moro, do meu município. A primeira regra básica diz respeito ao
conhecimento dos recursos.

A segunda regra, também relacionada à escola, é que os professores discutam


entre si e com os diretores das respectivas escolas, quais são os protocolos de
atuação, ou seja, se aparece dentro da minha escola um menino com notícia de abuso
sexual, como eu devo proceder, a quem encaminhar, quem acionar, como atender
este menino ou menina. Não é uma regra que o Governo Federal deva baixar em
relação a isso. É algo que deve ser construído na própria escola, na conversa entre os
professores, diretores, o conselho escolar. Quais são os protocolos de atuação:
“chegando uma notícia desta natureza o meu procedimento é este”.

Em terceiro lugar a articulação desse sistema. Este sistema ou rede esta, na


maior parte dos lugares, desarticulada, e a lei não estabelece quem deva organizar
este sistema. As iniciativas podem partir de qualquer um dos integrantes da rede.
Procure se reunir com estes outros organismos, com o Ministério Público, com o
Judiciário, a defensoria, as ONGs. Procure trazer para a escola este atores do
sistema, para discutir as questões da comunidade. A partir daí esta rede começa a se
articular.

Por último, em quarto lugar, a partir destas ações, é possível medir resultados.
Além do ENEM e das formas de verificação de conteúdo escolar, é possível verificar
na minha comunidade, se a escola de fato tem se prestado a ser um instrumento de
transposição dessa maioria miserável, da marginalidade para a cidadania. A função da
educação básica hoje, num país como o nosso é esta: Transpor ou ajudar na
transposição dessa maioria miserável, da marginalidade para a cidadania. Nós
podemos, além de ser o nosso ganha-pão, enquanto profissionais da área da
educação, fazer também uma militância cidadã.

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