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Violência doméstica contra mulheres e a

garantia de direitos de crianças e adolescentes

Eduardo Rezende Melo*

A garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes não pode ser dissociada
do contexto em que eles vivem. Isto fica muito claro em casos de violência
doméstica. Vários estudos apontam o impacto do testemunho de atos de violência
na vida das crianças e dos adolescente, por vezes até maior do que a vivência
direta da violência.

Os efeitos deste impacto emocional dão-se em vários campos, desde a


capacidade de concentração e de aprendizado, até seu sentimento de segurança
individual, de pertencimento familiar e os próprios referencias de família que
construirá em sua trajetória de vida.

Não é por outra razão que a violência doméstica é considerada uma questão de
violação de direitos humanos. Por meio da Convenção Sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher, ao considerarem a violência
doméstica a mais cabal expressão de discriminação e preconceito, vários Estados
acordaram em promover esforços para a mudança de padrões sociais e culturais
de conduta de homens e mulheres (art. 5º).

A violência doméstica afeta não apenas a dignidade das mulheres, mas todo o
bem-estar da família – especialmente dos filhos – e da própria sociedade.
Estamos falando, portanto, não apenas de direitos humanos de mulheres, mas
também de crianças e de adolescentes, cujo direito de não serem expostos a
qualquer forma de violência vem igualmente prevista na Convenção Internacional
dos Direitos da Criança. (art. 19).

É por essa razão que, ao considerar uma nova lei, como a Maria da Penha (lei
11.340, de 2006), que instaura um regime de prevenção e proteção de mulheres,
responsabilizando os agressores, devemos ter presente como os direitos das
crianças e dos adolescentes podem ser por ela igualmente garantidos. Estamos
falando, portanto, de situações em que crianças e adolescentes não são vítimas
diretas de violência, mas testemunham estes atos, padecendo de um sofrimento
de difícil mensuração.

Estabelecemos, então, um fluxo de garantia dos direitos de mulheres de acordo


com a nova lei que prevê uma série de cuidados a serem adotados na
consideração e encaminhamento de crianças e adolescentes. Um fluxo é uma
seqüência de passos e de intervenções de diversos atores, a começar pela própria
mulher e incluindo diversas instituições, sempre fundada na lei, para se chegar a
um objetivo final, que é a efetivação de um direito. Ele segue, portanto, uma linha
vertical, da violação à garantia do direito.

Este fluxo pauta-se por alguns fatos, como a violência sofrida e as ações que
serão tomadas para a proteção da mulher e da criança/adolescente, assim como
para a responsabilização do agressor, evitando-se uma nova situação de
exposição ao risco e à violação do direito.

Fatos e ações são simbolizados de modo ÍNDICE


distinto para que possamos nos localizar
nesta trajetória, assim como
desdobramentos mais detalhados das
providências que se devem tomar em
garantia desses direitos. As pessoas e
instituições responsáveis por cada ação
são indicadas no mesmo quadro de
atividade a tomar. Elaboramos um índice
que servirá de guia desses símbolos,
facilitando o controle e a garantia desses
direitos

Este caminho, no entanto, encontra, por


vezes, barreiras. A primeira é a falta de
implementação de políticas públicas e de
programas previstos em lei. Estamos,
então, diante de um curto-circuito desta
trajetória, simbolizado por um raio a indicar
um problema e que demandará normalmente mais de um tipo de intervenção.

De um lado, teremos de buscar a efetiva proteção das pessoas em situação de


risco a despeito da falta de serviço adequado. Seguiremos um caminho
alternativo, sem nunca perder de foco que não podemos consentir com a limitação
de recursos. De outro, devemos trabalhar para que a lei seja efetivada. Então, no
fluxo, indicamos os caminhos de cobrança destas ações, mostrando a quem
devemos recorrer e que ações esses atores deverão tomar para que esses
serviços sejam implementados.

Há um segundo tipo de barreira sinalizada pelo raio. É a divergência de


interpretações de um mesmo artigo de lei. É o caso, por exemplo, da exigência ou
não de uma manifestação pela vítima do desejo de prosseguimento do processo
(representação é o termo técnico) em casos de agressão física (lesão corporal).
Seguimos o entendimento de que esta manifestação é necessária, de acordo com
vários princípios do direito, mas também para se evitar o que se chamou de
“retirada estratégica”: a insatisfação da vítima com os encaminhamentos feitos
pela Justiça, a mudança de sua versão e sua revitimização pelo sistema (cf.
Hermann, Leda Maria. Violência doméstica e os juizados especiais criminais). Este
é um momento crucial do processo, seja para a verificação da existência ou não
de pressão contra a mulher, seja para a identificação das necessidades dela e de
todos os seus familiares, especialmente das crianças e dos adolescentes.

Um fluxo, ademais, não é um caminho único. Estamos diante de uma situação


complexa, que demandará a intervenção de uma série de atores e de políticas.
Por isso, o foco que escolhemos, de proteção e de defesa das mulheres, das
crianças e dos adolescentes, juntamente com o de responsabilização do agressor,
não detalha uma série de ações que políticas setoriais desenvolverão, e que
deveriam ser objeto de um fluxo complementar a este. É o caso das políticas de
emprego, habitação, saúde, educação e desenvolvimento social.
Nós indicamos estes campos como um outro fluxo, mostrando que uma ação deve
ser ali tomada e que há modos de controle e de exigência para que elas sejam
garantidas, mas que fogem de nosso foco específico neste momento.

Tomamos, contudo, o cuidado de elaborar um fluxo complementar específico,


relativo ao Conselho Tutelar, pelo seu papel fundamental na garantia de direitos
das crianças e dos adolescentes. Embora polícia, promotores de justiça,
defensores públicos e juízes tenham o dever de considerar os direitos e
necessidades de crianças e de adolescentes expostos, direta ou indiretamente, na
situação de violência doméstica, será sobretudo o Conselho Tutelar que terá um
papel primordial na garantia desses direitos num momento inicial e de
monitoramento das ações em sua defesa.

A prevalência desses direitos, no entanto, só poderá se efetivar se cada um de


nós tiver consciência dos meios de controle e cobrança de sua efetividade,
sabendo a quem e como recorrer para que esses avanços aconteçam. É para isto
que se prestará o fluxo de garantia de direitos.

* Eduardo Rezende Melo é juiz da Comarca de São Caetano do Sul e


vice-presidente da Associação dos Magistrados e
Promotores da Infância e da Juventude (ABMP)

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