16. Filipenses 3.

1-3 – Cristianismo
Verdadeiro versus cristianismo
falsificado
1
Meus irmãos, quanto às outras coisas, alegrai-vos no Senhor. Para mim não é difícil escrever-
vos as mesmas coisas, e isso vos dá segurança. 2 Tomai cuidado com esses cães; cuidado com
os maus obreiros; cuidado com a falsa circuncisão! 3 Porque nós é que somos a circuncisão, nós,
os que servimos a Deus em espírito, e nos orgulhamos em Cristo Jesus, e não confiamos na
carne.*

Foi feita uma pesquisa há uns anos com 7.000 jovens protestantes de várias
denominações onde se perguntou se eles concordavam com as seguintes afirmações: "A
maneira de estar em paz com Deus é tentar sinceramente viver uma vida boa". Mais de
60% concordaram.

"Deus está satisfeito se uma pessoa vive a melhor vida que pode." Quase 70%
concordaram. (Reported by Paul Brand & Philip Yancey, Fearfully & Wonderfully
Made [Zondervan], p. 108.)

Muitas pessoas que frequentam a igreja, como esses jovens, estão confusas com a
questão mais importante da vida: “Como posso estar em paz com Deus?” Muitos
pensam que a sinceridade é um grande factor. Se é sincero, Deus o deixará entrar no
céu, mesmo que esteja um pouco confuso com a verdade. Mas é como dizer que um
homem que engole veneno mortal, sinceramente pensando que é remédio, vai melhorar.
Toda a sinceridade do mundo é fatal se não estiver alinhada com a verdade.

Muitos também pensam que o esforço humano desempenha um grande papel. Se tentar
o seu melhor, mesmo que não seja perfeito, Deus dirá: "Eu o deixarei entrar no céu
porque se esforçou muito". Se fosse isso que a Bíblia ensina, então tudo bem. Mas se for
contrário ao que a Bíblia ensina, tentar o seu melhor para entrar no céu é como tentar o
seu melhor para passar de uma margem do Tejo para a outra com um grande salto
através do. Não se vai conseguir!

Já apanharam uma nota falsa? Pensou que era verdadeira, mas quando a levou a algum
lugar e o ofereceu como dinheiro, o caixa ou o funcionário disse: "Sinto muito, mas isto
é dinheiro falso." A Bíblia ensina que Satanás é um imitador, tentando transmitir às
pessoas inocentes uma versão do cristianismo que parece muito boa, mas que não será
aceite pelo banco do céu. É traumático ficar preso a uma nota falsificada; seria muito
mais traumático ficar diante de Deus algum dia e ouvi-lo declarar que o seu cristianismo
é falsificado!

Em Filipenses 3: 1-3, o apóstolo Paulo contrasta o cristianismo verdadeiro e falsificado.

Para entender esta seção de Filipenses, é necessário conhecer um pouco da história.
Logo depois que o evangelho começou a se espalhar entre os gentios, alguns homens
judeus que afirmaram também crer em Cristo começaram a ensinar aos gentios
convertidos que eles não poderiam ser salvos, a menos que também fossem
circuncidados de acordo com a lei de Moisés (ver Atos 15: 1) . Eles não negaram que

1
uma pessoa deva crer no Senhor Jesus Cristo, mas acrescentaram à fé em Cristo o
cumprimento da lei judaica, especialmente a circuncisão, conforme necessário para a
salvação.

A questão foi debatida e resolvida em Jerusalém, num conselho dos líderes da igreja,
onde foi decidido que os gentios não precisam se tornar judeus ou serem circuncidados
para serem salvos; mas que toda pessoa, judia ou gentia, é salva pela graça pela fé
somente em Cristo (Atos 15: 1-29). Mas essa decisão não levou Satanás a desistir dos
seus esforços para perverter a verdade do evangelho. Ele continuou a trabalhar através
de um grupo de homens conhecidos como judaizantes que seguiram Paulo nas suas
jornadas missionárias, infiltrando-se nas novas igrejas e ensinando o seu erro subtil, de
que a fé em Cristo não seria suficiente se uma pessoa também não cumprisse a Lei,
especialmente a circuncisão. Paulo escreveu Gálatas para refutar esse erro. Ele afirma lá
que esses homens estavam a pregar um falso evangelho e convoca condenação àqueles
que pervertem o verdadeiro evangelho (Gálatas 1: 6-9). Os judaizantes são os homens
sobre os quais Paulo está a alertar a igreja filipense no nosso texto. Os três termos em 3:
2, “cães; maus obreiros; falsa circuncisão”, todos se referem a um grupo, os judaizantes,
que estavam a promover um cristianismo falsificado.

Embora os judaizantes não existam mais sob esse nome, o núcleo central dos seus
ensinos ainda é bastante prevalente. Assim, o nosso texto é extremamente importante
para nos ajudar a discernir o que é o verdadeiro cristianismo e a rejeitar qualquer versão
falsificada. Paulo ensina que...

Só Cristo Salva

O verdadeiro cristianismo depende totalmente da pessoa e obra de Cristo; o cristianismo

falsificado aumenta essa confiança no valor ou nas obras humanas. Em relação ao
cristianismo falsificado, Paulo adverte:

1. Cuidado com o cristianismo falsificado, que acrescenta mérito

humano à pessoa e obra de Cristo!

A severidade do aviso de Paulo é sublinhada por sua tríplice repetição no versículo 2:

"Cuidado ... cuidado ... cuidado ... cuidado ...!" O cristianismo falsificado é um forte
perigo para todos nós, porque temos tendência para cair no orgulho e na autoconfiança.
Todos nós queremos levar para nós pelo menos parte do crédito da nossa salvação.
Seremos generosos e concederemos que a maior parte do crédito seja para o Senhor,
mas ainda queremos reservar um pouco da honra para nós mesmos.

O cristianismo falsificado gloria-se na carne, o que significa valor ou mérito humano.

Os nomes que Paulo chama esses falsos mestres revelam três formas comuns que esse
mérito humano assume:

A. O cristianismo falsificado orgulha-se do status racial ou étnico, como se

nos colocasse em paz com Deus.

Paulo sarcasticamente chama esses judaizantes de "cães". Ele está tomando uma ofensa
que os judeus usaram contra os gentios e se voltando contra esses falsos mestres.
Referia-se às matilhas de cães selvagens que costumavam invadir o lixo e comer

2
qualquer coisa que encontrassem. Como os gentios não estavam preocupados com
alimentos limpos e impuros, ou com a purificação de acordo com os rituais judaicos, os
judeus viam-nos como cães impuros. Logo abaixo da superfície havia o orgulho étnico,
como se ser judeu de nascimento fizesse justiça a Deus.

Grande parte da disputa no mundo de hoje decorre de orgulho racial ou religioso. A

violência na Irlanda do Norte, a limpeza étnica na Bósnia, os conflitos árabe-judaicos na
Terra Santa, a perseguição aos curdos, a guerra civil em Ruanda, a tensão racial na
África do Sul e muitos outros conflitos são consequência das pessoas que pensam
erroneamente que o seu status racial as coloca em paz com Deus. Muitos dos grupos de
supremacia branca justificam seu orgulho étnico e ódio por negros e judeus por uma
compreensão equivocada da Bíblia.

As escrituras são claras: embora Deus tenha escolhido a nação Israel como Seu povo e
ainda tenha um propósito especial para os judeus, Ele não faz aceção de pessoas quando
se trata de conceder a salvação por Jesus Cristo (Atos 10: 34-47). Como Paulo escreve
em Romanos 10:12, 13, “12 Pois não há distinção entre judeu e grego; porque o mesmo
13
Senhor é o Senhor de todos, rico para com todos que o invocam. Porque: Todo aquele que
invocar o nome do Senhor será salvo.”

B. O cristianismo falsificado orgulha-se das obras humanas como se elas

nos colocassem em paz com Deus.

Paulo chama esses homens, que se orgulhavam de suas boas obras, de "maus obreiros".
Eles pensaram que estavam a obedecer à lei de Deus. Externamente, eram pessoas boas
e morais, zelosas por atividades religiosas. Mas as suas obras religiosas eram más aos
olhos de Deus, porque se orgulhavam das suas próprias realizações e confiavam nas
suas boas ações como meio de se tornarem justos diante de Deus. Essa confiança nas
obras humanas traz glória ao homem e anula o que Cristo fez por nós na cruz.

A Bíblia é clara: enquanto somos salvos pela graça, pela fé, sem qualquer obra, a fé
salvadora genuína sempre resulta numa vida de boas obras (Ef 2: 8-10; Tito 2: 11-14; 3:
4-8 ; Tiago 2: 14-26). Mas a ordem da fé e das obras é essencial! Nenhum esforço
humano pode nos justificar perante Deus. A glória é somente em Cristo, como veremos.

C. O cristianismo falsificado orgulha-se de rituais religiosos como se eles

nos colocassem em paz com Deus.

Paulo chama esses homens de "da falsa circuncisão", que é um jogo de palavras. Em
grego, a circuncisão é perítome; Paulo chama esses homens de katatome, que significa
"mutiladores". Assim como os padres pagãos de Baal nos dias de Elias se dividiram
num frenesim religioso, esses falsos mestres estavam a mutilar as pessoas através da sua
ênfase na circuncisão. Eles pensavam que este ritual de remover o prepúcio masculino
de alguma forma os favorecia perante a Deus. Mas, como Paulo argumenta em
Romanos 4, mesmo Abraão, a quem Deus primeiro deu o rito da circuncisão, não foi
justificado pela circuncisão, mas pela fé.

Hoje, existem muitos cristãos professos que pensam erroneamente que rituais religiosos
como o baptismo ou a ceia, passarem por liturgias prescritas os levará ao céu. Mas,

3
como Jesus disse ao religioso Nicodemos, "... ninguém pode ver o reino de Deus se não
nascer de novo.* " (João 3: 3).

Assim, Paulo está a nos advertir fortemente de que devemos ter cuidado com a
confiança em qualquer forma de bondade humana, valor humano, mérito humano ou
boas obras como base da nossa paz diante de Deus. A salvação é claramente mostrada
nas Escrituras como devida à escolha de Deus, e não pelo facto de termos feito algo
para nos salvar "que ninguém se glorie diante de Deus" (ver 1 Cor. 1: 27-31).

Esses versículos também nos mostram que é dever dos pastores fiéis advertir o rebanho
de ensinamentos tão perigosos. Vivemos em dias marcado por tolerância e pensamento
positivo. Muitos cristãos dizem: “Por que atacar aqueles que ensinam erros? Apenas
pregue os aspetos positivos.” Há também um forte movimento em direção à unidade,
onde a doutrina é vista como divisiva e contra o amor. Quem aponta o erro doutrinário é
rotulado de “caçador de heresia” que é contra a unidade. Mas observem que, apesar de
Paulo exortar a igreja filipense à unidade, ela não é uma unidade desprovida de verdade
doutrinária. Se não precisasse de pastores para avisá-lo de erros tão sutis, versículos
como esses não estariam na Bíblia.

2. Abrace o verdadeiro cristianismo, que depende totalmente da

pessoa e obra de Jesus Cristo para a salvação.

Embora os estudiosos sejam diferentes, acredito que, “quanto às outras coisas”, Paulo
está se referindo à sua ênfase em regozijar-se. Ele mencionou “regozijo” (1:18 [2x],
2:17 [2x], 18 [2x], 28) e “alegria” (1: 4, 25; 2: 2, 29) onze vezes já nos capítulos um e
dois! Mas ele vai lembrá-los novamente, porque é uma parte importante e central da
verdadeira vida cristã. Ele dirá novamente em 4: 4. Para ele, não é um problema, e é
uma salvaguarda contra o subtil perigo de confiar no mérito humano. Regozijar-se no
Senhor é o grande antídoto de regozijar-se na auto-confiança ou conquista. Isso tira
nosso foco de nós mesmos, humilha nosso orgulho e nos enche de grande esperança de
nos alegrarmos no Senhor.

A. O verdadeiro cristianismo é resumido por: "Alegrai-vos no Senhor".

“Alegrai-vos no Senhor” (3: 1) é um bom resumo do verdadeiro cristianismo, enquanto

as três frases em 3: 3: “servimos a Deus em espírito”, “nos orgulhamos em Cristo
Jesus”, e “não confiamos na carne”, são simplesmente outras maneiras de dizer a
mesma coisa. Teste-se a si mesmo com esta medida: alegria no Senhor.

O que isto significa? Isso significa que o Senhor Jesus Cristo é tudo para um cristão.
Cristo, e somente Cristo, é a nossa salvação. Sem Ele, estaríamos perdidos e sem
esperança. Nele somos salvos e temos esperança! Como Paulo coloca (1 Cor. 1: 30-31):
“30 Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual, da parte de Deus, se tornou para nós sabedoria,
31
justiça, santificação e redenção, a fim de que, como está escrito: Quem se gloriar, glorie-se
no Senhor.' ”

Ele também escreveu (Col. 2: 10-11): “ 10 e nele, a cabeça de todo principado e poder,
tendes a vossa plenitude. 11 Nele também fostes circuncidados com a circuncisão que não é
feita por mãos humanas, o despojar da carne pecaminosa, isto é, a circuncisão de Cristo, ” É a
isso que Paulo está a se referir quando chama os cristãos verdadeiros de "a circuncisão"

4
(Filipenses 3: 3). É uma obra espiritual, interior, realizada em nós por Cristo. Então,
quando Paulo nos diz para nos alegrarmos no Senhor, ele quer dizer que o Senhor é tudo
para nós e nós estamos Nele. O foco é nele e no que Ele graciosamente fez por nós na
cruz. Estaremos cheios de alegria no Espírito Santo, quando diariamente caminharmos
com os olhos no Senhor Jesus e no que Ele é para nós.

“Alegrai-vos no Senhor” também significa que o verdadeiro cristianismo não é apenas

uma questão mental, mas também de coração. Envolve e baseia-se na sã doutrina que é
apreendida pelo intelecto. A nossa mente apropria-se das grandes verdades de quem é
Cristo e o que Ele fez por nós na cruz e o que Ele prometeu àqueles que n’Ele crêem.
Mas, se ficarmos pela mente, falta algo. Há outra marca, Jonathan Edwards diz que as
nossas emoções ou coração são afetados, de modo que nos alegramos no nosso interior
ao pensar-mos na bênção do que Jesus é para nós.

É uma questão de Deus mudar nossos corações, para nos alegrarmos no Senhor. Isso
resume o verdadeiro cristianismo. Mas também,

B. O verdadeiro cristianismo é marcado pelo " serviço a Deus em espírito ".

Jesus disse: " Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem no Espírito e em
verdade." (João 4:24). A verdadeira adoração é o sentimento interno de reverência,
gratidão e amor a Deus que deriva de uma compreensão de quem Deus é e quem somos
na Sua presença. Os falsos mestres estavam fazendo da adoração uma questão de ritual
externo. Paulo diz que os cristãos são marcados pela adoração interior solicitada pelo
Espírito Santo que habita em nós. O Espírito trabalha a submissão dos nossos corações,
para que nos curvemos diante de Deus, apanhados em amor e louvor, dando toda a
glória a Ele pela Sua grande salvação!

C. O verdadeiro cristianismo é marcado pela "orgulho em Cristo Jesus".

Paulo baseia isso em Jeremias 9: 23-24: “23 Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na
sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico nas suas riquezas. 24 Mas quem se gloriar,
glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, pois eu sou o SENHOR, que pratico a
fidelidade, o direito e a justiça na terra, porque me agrado dessas coisas, diz o SENHOR . "

Os irmãos estão a ver um tagarelas? Diz a sete ventos o quão maravilhoso ele é, o quão
inteligente ele é, o quanto ele sabe. Os cristãos dizem às pessoas o quão maravilhoso é
Cristo, quão grande Ele é, quão amoroso, quão misericordioso, quão gentil, quão
poderoso, quão maravilhoso, quão justo, etc. orgulhar-se do Senhor esvazia o nosso
orgulho e lhe dá toda a glória. Os cristãos confessam: “Cristo Jesus é O grande
Salvador!”

D. O verdadeiro cristianismo é marcado por "nenhuma confiança na carne".

O cristianismo falsificado aumenta auto-estima numa pessoa: " És óptimo, és digno, és

alguém!" O verdadeiro cristianismo coloca de lado todo orgulho e confiança em si
mesmo. Como Jeremias 17: 5, 7, 8 coloca: “Maldito o homem que confia na
humanidade e faz da carne a sua força, e cujo coração se afasta do Senhor. ... Bem-
aventurado o homem que confia no Senhor e de quem a confiança está no Senhor. Pois
ele será como uma árvore plantada pela água, que estende suas raízes por uma corrente

5
e não temerá quando o calor chegar; mas suas folhas serão verdes e não ficarão ansiosas
em um ano de seca nem cessarão de dar frutos.”

Conclusão

Por que as pessoas ignoram avisos? Eu acho que eles acham que de alguma forma isso
não se lhes aplica ou que não deve ser levado a sério. Quantos avisos há nas falésias das
praias a avisar da possível derrocada e as pessoas continuam a se deitarem lá debaixo?

Paulo adverte-nos: "Cuidado com o cristianismo falsificado!" Pode ter problemas se

ignorar o aviso! Assim como se examinaria uma nota suspeita para ver se é verdadeira
ou falsa, também há a necessidade de examinar o coração: Os cristãos perdem toda a
confiança no mérito humano e confiam completamente em Cristo Jesus para a salvação.
Eles se alegram Nele e tudo o que Ele é para eles. Cuidado com quaisquer substitutos
falsos!