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l,aulo Knauss, Mruize Malta. Cláudia de Oliveim. Mõnica Pimenta Vclloso et ai.. 2014
em coedição com
Faperj- Fundaç.ào Carlos Chagas Filho de Amparo à l)esquísa
do Estado do Ri ode Janeiro
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R349
Revistas ilustradas : modos de ler e ver no Segundo Reinado I Paulo
Knauss... (et ai.). organizadores.- Rio de Janeiro: Mauad X: FAPERJ.
2014.
)
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7478-665-0
1. Pe�ó<licos brasileiros. Histó�a- Séa>lo XIX. 2. Perió<licos
ilustrados- Brasil- História- Sé<:ulo XIX. 3. Jornalismo Ilustrado- Brasil
- Histó�a - Séa>lo XIX. 4. Brasil - Vida intelectual - Século XIX. 5. Brasil
• História -11 Reinado. 1840·1889. 1. Knauss. Paulo. 1965-. 11. Fundaçao
C3rlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio d e Janeiro.
111. Titulo: Modos de ler e ver no Segundo Reinado.
11-2761. CDD: 079.81
CDU: 070(81)
Sumário
INTRODUÇÃO 7
Paulo Knauss
Rafael Cardoso
Denise Gonçalves
Marize Malta
Ana Cavalcanti
Mulheres de esrampa:
o folhet im e a represenração do feminino no Segundo Reinado 157
Cláudia de Oliveira
Os sentidos do humor:
Henrique Fleiuss e as possibilidades de uma sátira bem-comportada 173
Lm,ra Nery
Paulo Knauss
desafio deste livro é contribuir para renovar o olhar sobre a história da imprensa no
Trata-se, de um lado, de contribuir para uma história da imprensa no Brasil que não esteja
centrada apenas na imprensa diária e do jornalismo estritamente político, buscando caracteri·
zar sua inserção profunda em diversos campos das ideias e da im aginação, ao lado da história
edi10rial e dos edirores propriamente dita. De Olllro lado, trara-se d e valor izar as relações
enrre a história da imprensa e o mundo dos impressos, dando papel de destaque aos editores
e suas casas ediroriais. Além disso, procura-se a proxim ar a história da cultura letrada da
história da culrura visual, relacionando história da imprensa e hisrória da im agem. ' Afinal, a
imprensa ilustrada foi promotora, em grande medida, da drculação de imagens na sociedade
apoi ada na leitura das letras, apr oximando a narrativa escrira da narrativa visual.
Ao combinar texro escriro e i magens a imprensa ilusrrada esrabeleceu elos enrre a cultura
,
letrada e a culrura visual no Brasil da s eg und a metade do século XIX. Ler as páginas e os
rexros escritos de um exemplar de revisra ilusrrada implicava olhar imagens. Nesse sentido,
os modos de ler e os modos d e ver se entrelaçaram na fruição das r evistas ilusrradas. Assim,
este livro pretende relacionar o mundo da edição e da leitura com as práticas do olhar.
Todavia, o que se evidencia da leirura desre livro é que, ao relacionar culrura !errada e culmra
visual, a análise das revisras ilusrradas demanda uma abordagem intertexwal que procure
evidenciar como escrita e desenho se combinam, ou como leitura e olhar se complementam.
A arenção à parricu laridade dos códigos da escrira e das arres visuais deve ser conduzida no
sentido de aproximar a sua interação e sublinhar como a convivência dos códigos favorece a
produção de sentidos. A intertextualidade é, assim, base da construção de significados. Sua
compreensão é um pressuposto da análise das revisras ilustradas.
1 O rema da cultura letrada no Brasíl. tratada do ponto de vista da história do livro e da leitura. foi objeto de
livro especifico. Vea-se: ABREU. Márcia & SCHAPOCHNIK. Nelson (org.). Cultura letrada no BrBsil: objetos
j
e práticas. sa.o Paulo: Mercado de letrasiALB, 2005. A relaçao do mundo dos lmpre.ssos com o mundo das
imageM é explorada também e m: OUTRA. Eliana de Freitas & MOLLIER. Jean-Yves (org.). Poltica, l noç4o e
ediçao; o lugar dos impressos na construçao da vida polltica- Brasil, E urop a e Américas nos sécu)os XVIII�
xx. Sao Paulo: Mnablume. 2006. Esta re1açao no contexto da impre11sa jornallslica é explorada por. MOREL.
Marco & BARROS. Mariana Monteiro de. Pafavta, m i agem e poder, o surgimento da imprensa no Brasil dO
seculo XIX. Rio de Janeiro: DP&A. 2003.
7
De resto, valorizar as revistas ilustradas no tempo do Segundo Reinado permite também ir ao
encontro da sociedade da época. Acompanha-se, assim, uma tendência da historiografia re
c ente, que procura reconhecer que a imprensa é mais do que um regi srro de acontecimentos
de época. Suas informações não devem ser tratadas como verdades, mas como representações
acerca das questões do seu tempo. A partir d o seu uso como fome, é po ssível "verificar como
os me ios de comunicação impres s os imeragem n a complexidade de um comexto".1 Assim,
este livro pretende apresentar as revistas ilustradas não apenas como fonte, mas, sobretudo,
como objetO de interrogação, buscando demonstrar como a imprensa se conformou como u m
s uj eito da sociedade e d o proce sso histórico.
Especificamente, no que se refere ao Brasil d o Segundo Reinado, nunca é demais lembrar que
se trata do contexto de afirmação e crise do regime da monarquia imperial e d e extinção da
esc ravidão que marcava o quadro das relações sociais e dos valores d a soci edad e senhorial. O
reinado de O. Pedro U demarca o fim do período regencial e anuncia uma nova fase da história
política nacional. O primeiro imperador do Brasil, O. Pedro I, ao abdicar do trono em favor
de seu filho, em 1831 , encerrava o p erío do do Primeiro Reinado e l egava a um menino de 5
anos os destinos do país, que se manteve sob o comando da Regência, uma vez que a condi
ção d e criança do imperador não permit ia que ele exerce sse as funções de chefe de Estado.
Após alguns anos de governos re genciai s, a parti r de 1840, com o fato político conhecido
como Golpe da Maioridade, O. Pedro 11 assumiu de fato, aos 14 anos, a condição de chefe de
Estado antes do previsto. Iniciava-se, então, propriamente, o Segundo Reinado. Ape sar de
muitas c onjunt ura s conturbadas politicamente e de acontecimentos de largo impacto social,
como a p roi biç ão defin itiva do tráfico n e grei ro, em 1850, que era o s uste ntáculo da sociedade
escravista no Brasil, e dos anos da Guerra do Paraguai (1865-1870), o imperador O. Pedro
11 represen t o u
a estabilidade institucional monárq ui c a. Sua personalidade de homem de sa
ber o aproximou das le tr as, das artes e da ciência, tOrnando·se um promotor imp or tante da
criação cultural no Brasil.' Não se pode deixar de lembrar que o café, como produto principal
da pauta de exportação e muito valorz
i ado na época, também, permitiu lançar bases para a
prosperidade econômica da segunda metade do século XIX no Brasil.
A imprensa do Segundo Reinado foi marcada, antes de tudo, pela liberdade de expressão. Tor
nou-se um espaço fundamental da manifestação de ideias, opiniões e gostos. Assim, ultrapas
sou o tempo da guerra dos jornalistas, exp ressão cunhada por Isabel Lustosa para caracterizar
o predomínio do jornalismo de si tuação que caracterizou a imprensa no Primeiro Reinado,
dominada pelos panfletos de tom agres sivo de insultos e denúncias.• Não que o periodismo de
opin ião tenha deixado de exis t ir no Segundo Reinado. mas cabe destacar que a afirmação da Ji.
• Para uma biografl<l de O. Pedro 11, veja-se: CARVALHO. José M rilo de. D. Pedro 11. Sêo Pa
u uto: Companhia
das Letras. 2007.
• lUSTOSA. Isabel. Insultos impressos: a guerra dos jomatistas na Independência, 1821·1823. sao Pauto:
Companhia das Letras. 2000. As relações entre impre nsa e polltica no contexto da Independência do Brasil e <k>
Primeiro Reinado também roram a.nalisa<fas em: NEVES. lucia Maria 8. Pereira das. Corcundas. constitvcionals
e pts-de-chvm/>0; a cultura polltica da Independência, 1820-1822. Rto de Janeiro: Revan , 2003.: MOREL.
Marco. As transfom>aç6es dOS espaços p(ll>/icos: mp<
i en sa. atO<es potlticos e sociabili<la<fe na Cidade imperial
{1820-1840). Silo Pauto: HuOite<:, 2005.
8
herdade de expressão naquela época se combinou com uma pronrsão de periódicos de diversos
tipos e fonnatos, que, ao lado da política, tratavam de diferentes temas e que, em vários casos,
tendjam a buscar um público mais abrangente. com interesses diversificados. Assim, o foco po
lí<ico dos primeiros tempos foi-se combinando a diversos ourros enfoques que correspondiam
aos coslUmes e interesses da sociedade de corre que caracterizar am o B rasil imperial.
Entretanto, é comum o argumento de que a censura e o oficialismo da época colonial e do
Antigo Regime foram responsáveis pela ausência do impresso na cena social das terras da
América portuguesa, contrastando com os períodos posteriores da sociedade nacio nal. Como
apont a Marco Morei, esse argumento é carregado, em grande medida, de nacionalismo an
tilu si ta no e deixa de reconhecer que a difusão da imprensa requer cerro ambiente social e
de debate de ideias.' Nesse sentido, é preciso lembrar que havia publicações periódicas em
Portugal e que também circulavam do outro lado do oceano Atlântico, assim como outros
gêneros de impressos. Além disso, usualmente se considera que a imprensa no Brasil se ini
cia em 1808, com a publicação do jornal Correio Brazilie11se, que tinha Hipólito José da Costa
como seu redator e que era publicado em Londres, na Inglaterra.• Deixa-se de lembrar que,
no mesmo ano, depois da chegada da cone portuguesa, sob a regência de D. João a Imprensa
Régia se instalou no Br asil, no mesmo ano d e 1808, e começou a publicar a Cauta do Rio de
janeiro. Nesse período joanino , vai ser importante também o estabelecimento de uma tipogra
fia na Bahia, que publicou, a partir de 1811, a gazeta Jdaded'Ouro do Brasil! Esses títulos eram
i ns pirados no modelo dos periódicos da sociedade europeia do Ami go Regime, espécie de al
manaques que tratavam da divulgação cultural com notícias lite.rárias, científicas e históricas.
É no contexto da Independência, entre 1820 e 1821. que os jornais do Brasil começam a se afir
mar como veículos de opinião e mobilização social, acompanhando os rumos da polirica. Não sem
razão, a leitura em grupo era uma das formas de difusão dos textos impressos, o que, mais do
que um esforço para superar o ilerrism01 pode ser caracterizado mmbém como um modo de pro·
mover o debate, que tinha, na impren sa, uma de suas e.xpressões de destaque. Assim, a leitura se
afirmava também como território de sociabilidade. Ao lado dos jornais de opinião, outro tipo de
per iódico era o que tinha como missão registrar informações mercantis e publ icar anúncios, como
o jornal do Comércio, do Rio dejaneiro, e o Diário de Pernambuco, de Recife, que eram necessários ao
comércio geral, desde a abertura dos portos e o fim do exclusivo colonial. Observa-se, portanto,
que não há uma gestação espontânea da imprensa, uma vez que sua afirmação depende de uma
experiência social particular que a impulsione.•
• MOREl, Marco. Os primeiros passos da pa lavra Imp ressa. In: MARTINS, Ana lulza & DE LUCA, Tania Regina.
'Para um estudo da imprensa a partir do estabelecimento da corte pottuguesa no Rto de Janeii'O, no iniciO dO
�ulo XIX, antes d a IMepe�ncia do BraSil, veja-se: SILVA, Maria Beatriz Niua da. A imprensa periódica
na época joa nlna. In: NEVES, Lucfa Maria Bastos P. das. Uv10s e lmprsssos: retratos do Setecentos e do
Oitocentos. Rio de Janeiro: Edue�. 2009.
• MOREL.Marco. Os primeiros passos da palavra impressa. In: MARTINS, Ana Luiza &DE LUCA, Tania Regina.
História da lmpransa no Brasil. Sào Paulo: Contexto. 2008.
9
No que se refere à história da imprensa na época do Segundo Reinado, ao lado dos periódicos de
ocasião e de estilo panOetário (que não deixaram de existir), pode-se dizer, em termos de infor
mação, que o periodismo foi dominado, igualmeme, pelo jornal de comunicação oficial de aros do
governo e an(mcios mercantis. Nesse sentido, a imprensa recebeu grande estímulo nos centros
urbanos que eram sede da administração governamental ao t.er como alvo os quadros da burocra
cia a ela vinculados. Além disso, com o passar dos anos. o jornal assumiu, cada vez mais, o papel
de veículo de an(mcios públicos, indicand o o fortalecimento das praças comerciais, acompanhan
do o desenvolvimento da oferta e da procura de serviços diversos na sociedade brasileira. Essas
características influenciaram o modelo de jornalismo no Segundo Reinado. É nesse contexto que
se firmou o jornal do Comércio como p rincipal órgão de imprensa. definindo um m odelo apartidã
rio e não polemista. Assim, esse diário se consagrou ao co nsegui r reunir p ublicistas conhecidos
como Justiniano José da Rocha e José de Alencar, entre outros, acompanhando diariamente as
polêmicas sociais daquele tempo sem deixar d e se man ter isento em maté ria de opiniã o.
No entanto, cabe apontar também que esse modelo de periodismo conjugou notícias polfticas
e comerciais com notícias diversas sobre fatos mundanos e cotidianos, diversificando sua pauta
por vezes, foi acompanhada também pela segmentação de público, como no caso da imprensa
feminina. É assim que o jornal das SerJ1oras, criado em 1852, marcou época, ao lado de vários ou
tros títulosAlém disso, manifestações literárias ganharam espaço nas páginas dos periódicos da
.
uma distribuição maior dos periódicos. Além disso, ao longo do século XIX, o número de
tipografias se ampliou bastante, instalando-se em todas as províncias do pais. Esse quadro
' Para o estudo da imporUin<:ia dos folhetins, veja-se: MEYER, Martyse. Folhetim: uma história. Sao Paulo:
Companhia das letras. 1996.
"MARTINS. Ana Luiza. Imprensa em tempos de tmpêrio. In: MARTINS. Ana Luiza & OE LUCA. Tania Regina .
10 PA4.AO KHAuss
de expansão de mercado foi acompanhado ainda pela profissionalização, permitindo que, na
segunda metade do século XIX. surgissem. no Brasil, os primeiros profissionais dedicados
exclusi vamen te à imprensa. como jornalistas. editores e tipógrafos.11
finiram um gênero muito particular de periódicos. Sua novidade mais importante foi afirmar
o papel da imagem na construção da narrativa jornalística.
O primeiro periódico ilustrado humorístico a se afirmar no mercado editorial no Brasil foi a Senut
na Ilustrada. A revista foi fundada em 1860, por Henrique Fleiuss, desenhista e litógrafo alemão
radicado na cidade do Rio de janeiro. A Semana Ilustrada teve grande sucesso de público e existiu
por dezesseis anos, mas muitos outros títulos surgiram, ainda. na cena editorial do Brasil do Se
gundo Reinado, não só na corte, mas por várias províncias em que a imprensa foi se diversifican
do." Desse modo, a caricarura ganhou expressão na criação artística brasileira. Nesse ambiente,
firmou-se também o nome de Ângelo Agostini, italiano de origem. que fundou a Revisra 1/usrrada,
em 1876, e se consagrou como autOr de ilustrações e caricaturas que marcaram época.
O fato é que as experiências da imprensa ilustrada no século XIX terminaram sendo apro
priadas no século XX pela grande imprensa diária que combina texto escrito com imagens
11
Idem.
'1Para o estudo da história da caricatura no Btastl, a obra de referênCia continua sendo o livrode LIMA. Hetman.
História da caricarura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio. t 963.
" Para o estu<Jo da relaÇ3o de Pono-Alegre e Oaumier. veja-se: SALGUEIRO, Hellana Angotti. A comédia
urt>ana: de Oaumie< a Porto-Alegre. Sllo Paulo: Faap. 2003.
... Em tomo da presença da imprensa ilustrada nas provfncias. destaca-se a produçao na regiao da cidade de
Pelotas. no Rio Grande do Sul. Para um estudo dessa prOduÇ3o. veja-se: LOPES. Atisteu Elisanoro MachaCIO .
Trl>Ços da polilica: representaçOes do munoo poiiUoo na imptensa itustra<la humortsUca pelotense do séC<Jio
XIX. OlssertaÇ3o de MesttaCIO. PortoAlegre: PPGH-UFRGS. 2006.
11
de diferentes tipos, como fotografias, desenhos e cha rges. Se a imagem renovou a imprensa
escrita a diluição das fronteiras entre os gêneros do periodismo obrigou a imprens a ilustrada
,
Mas, ao lado da consagração do craço dos artistas d e caricatura e do estilo de informação a parrir
da visão, a imprensa ilustrada foi importante para a evolução gráfica no Brasil. Enquanto, desde
o fim do século XVIII, os aperfeiçoamentos técnicos fizeram a tipografia ultrapassar o plano do
artesanato e aumentar sua capacidade de produção do texto escrito impresso, o tratamento da
imagem não conseguiu acompanhar o mesmo ritmo de evolução. A passagem da xilogravura
para a reprodução mecânica demorou. Se esse movimento é geral, no Brasil houve ainda algu·
ma defasagem, que precisa ser levada em coma na sua análise. No Segundo Reinado, porém, a
introdução da técnica litográfica como processo de reprodução permitiu a atualização técnica,
aumentando a escala de reprodução da página impressa, mas, sobretudo, facilitando a integra
ção emre texto e imagem na composição gráfica, o que constituía um dos maiores desafios para
a empresa gráfica da época.•• Além disso, a imprensa ilustrada também começou a publicar
dos editores ganhou destaque c onsiderando sua liderança e seu comprometimento pessoal no
,
Não se pode deixar de lembrar que as revistas ilustradas emergem num contexto de reno
vação d a cultura visual no Brasil. Ao lado da imaginária re.ligiosa, a construçãodo Estado
nacional e a afirm ação do regime monárquico imperi al a partir d a Independência conduziram
a elaboração de uma imaginária cívica que serviu ao debate sobre a política e a sociedade. A
lJ Para um estudo dessa renovaçao nas primeiras décadas do século XX, veja·se: MARTINS. Ana Luiza.
Revistasem revista; Imprensa e pl'<lUcas C<Jiturais em tempos de Republica. Sao Paulo (1890·1 920). S3o Paulo:
Edusptlmprensa Oficial do Estado de Sao Paulo, 2001. Em termos tem<!tioos. veja-se: OLIVEIRA, Claudia.
VELLOSO. MO<ilca Pimenta & LINS, Vera. O moderno em revistas; representações do Rio de Janeiro de 1890
a 1930. Rio de Janeiro: Garamond. 2010.
"Para o estudo <ta gravura no SéCulo XIX no Brasil, veja·se: IPANEMA. Rogéria Moreira <te. A idade da pedra
iiCJSlrada: litografia, um monólito na imagem gráfica e no humor d o jotnalismo do século XIX no Rio de Janeiro.
Oissertaçao de Mestrado. Rio de Janeiro: EB AIIJFRJ, 1995.
"Para o estudo dos primórdios do foto;omalismo no Brasil. veja·se: ANDRADE. Joaquim Marçat Ferreira <te.
História da fotorreportagem no Brasít. a fotografia na imptensa do Rio de Janeiro de 1839 a 1900. Rio de
Janeiro: Elsevier/Biblioteca NacionaJ. 2004.
" A histótla gráfica da Imprensa no Brasil recebeu tratamento espeCial no livro: CARDOSO. Rafael (org.).
Impresso no Brasil. 1808·1930: destaques da história gl'<lf1C3 no acervo da Biblioteca Nacional. RiO de Janeiro:
Verso Brasil. 2009.
12
de um sem-número de impressos que circulavam na sociedade, além de livros e periódicos.
efêmeros, como os rótulos de marcas. se impuseram como pane da identidade dos produ
lOS consumidos.21 Além disso, as revistas ilustradas são contemporâneas do surgimento da
fotografia. Naquele tempo, se a imprensa apenas ensaiou formas de se apropriar desse tipo
Assim, os grandes fatos da sociedade do Segundo Reinado foram acompanhados por uma
profusão de tipos de imagens produzidas e em circulação. Segundo André Toral, o contexto
do debate da Guerra do Paraguai pode ser caracterizado por uma "febre de imagens". A pin
tura, a gravura, a fotografia e as caricaturas constituíram referências visuais fundamemais da
percepção d a Guerra, e não apenas imagens oficiais ou de apoio ao governo circularam, mas,
igualmente, imagens d e tom crítico e de oposição política marcaram o universo visual da
Guerra."' De modo geral, pode-se dizer que o jornalismo ilustrado acompanhou e favoreceu
a popularização e a laicização do mundo das imagens.
Este livro reúne 11 estudos que estão organizados em três panes. Na primei ra parte, estão reu·
nidos textos que tratam a história da produção das revistas ilustradas no contexto do mundo
dos impressos. dando destaque também à história edi10rial, valorizando edi10res e impressores
como atores sociais. A partir da análise do projeto gráfico das revistas ilustradas, o trabalho
de Rafael Cardoso apresenta um panorama das tendências e vertentes plásticas da produção
ed.i10rial do Segundo Reinado. O artigo de Tânia Maria Bessone da Cruz Ferreira trata das
caraccerísticas do mercado edirorial a partir da in/luênci.a francesa no Brasil. Em seguida, dois
texros investigam a trajetória de dois edirores importantes no Brasil do Segundo Reinado. Joa
quim Marçal Ferreira de Andrade caracteriza a trajetória e a memória de Henrique Fleiuss, cuja
"Um panora ma da gravura no Brasil encontra-se em: SANTOS. Renata. A Imagem gravada: a gravura no Rio
de Janeiro entre 1808 e 1853. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008.
»Para um estudo SObte álbuns e estampas no mulldO dos impressos no 8fasll do século XIX, veja-se: ZENHA,
Celeste. O negócio das "vistas do Rio d e Janeiro": Imagens da cidade Imperial e da escravidao. EstudO.s
Históricos. n. 34, p. 23-50. 2004.
"Para uma análise oa prodUÇ30 de impressos efêmeros. vea-se: HEYNEMANN, Claudia & RAINHO. Maria do
j
Carmo Teixeira (org.). Marcas ckJprogresso: consumo e deslgn no BrasH do século XIX. Río de Janeiro: Mauad X1
Arquvo
i Nacional. 2009.
"TORAL. André. Imagens em deS<>«Jem: a iconografia da Guerra do Paraguai (1864-1870). S3o PaulO:
Humanitas. 2001.
13
história empresarial não foi das mais bem-sucedidas, ainda que seu trabalho tenha tido grande
projeção social por ter sido u m importante difusor da litografia no Brasil e por ter fundado a
Semana Ilustrada, o primeiro grande veículo da imprensa ilustrada brasileira. Mônica Pimenta
Velloso, a partir do caso de Paula Brito caracteriza como o mundo editorial constituiu espaço de
sociabilidade intelectual e ardsrica. indo além do universo da gráfica e do jornalismo.
Os trabalhos reunidos na segunda parte do livro abordam diversa.s revistas que evidenciaram
a segmentação do público e a diversidade temática que caracterizaram o mercado editorial
da época. Assim, cada um dos ensaios toma um título como objeto de estudo e, a partir dele,
interroga determinado rema da sociedade do século XIX. Denise Gonçalves abre esta parte,
Na terceira pa.rte, encontram-se os estudos que usam as revistas ilustradas como fontes para
caracterizar como a sociedade tratou temas do seu tempo. Nessa parte, as revistas ilustradas
são apresentadas como veículos de opinião, o que faz os autores de seus textos e imagens
ganharem destaque na análise desenvolvida. Dois artigos tratam-nas como espaço d e polê
micas d a sociedade. Ana Cavalcanti aborda a história das exposições de arte ao apresentar
a imprensa ilustrada como veículo fundamental para se reconhecer a recepção da crítica da
arte n o Brasi I do século XIX. O trabalho de Aristeu EIisandro Machado Lopes, por sua vez,
demonstra como a caricatura participou do debate político ao tratar um conjunto variado de
represenrações da República em pleno conrexro monárquico. Finalmente, dois ourros ensaios
enfocam a imprensa ilustrada a partir de sua construção literária para ir ao encontro de remas
da sociedade d a época. Claudia Oliveira parte do surgimento do gênero literário do folhetim
na imprensa e caracteriza o reconhecimento das mulheres como segmento do público consu·
midor das revistas ilustradas. Ao lado disso, o estudo demonstra como o folhetim se afirma
como um gênero privilegiado para a construção de representações do feminino. Por fim, o
trabalho de Laura Nery percorre as páginas da Semana Ilus t rada para apresentar como o gênero
da sátira serviu para interrogar a questão da civilização no Brasil do século XJX.
14