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l,aulo Knauss, Mruize Malta. Cláudia de Oliveim. Mõnica Pimenta Vclloso et ai.. 2014

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R349
Revistas ilustradas : modos de ler e ver no Segundo Reinado I Paulo
Knauss... (et ai.). organizadores.- Rio de Janeiro: Mauad X: FAPERJ.
2014.
)
Inclui bibliografia

ISBN 978-85-7478-665-0
1. Pe�ó<licos brasileiros. Histó�a- Séa>lo XIX. 2. Perió<licos
ilustrados- Brasil- História- Sé<:ulo XIX. 3. Jornalismo Ilustrado- Brasil
- Histó�a - Séa>lo XIX. 4. Brasil - Vida intelectual - Século XIX. 5. Brasil
• História -11 Reinado. 1840·1889. 1. Knauss. Paulo. 1965-. 11. Fundaçao
C3rlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio d e Janeiro.
111. Titulo: Modos de ler e ver no Segundo Reinado.
11-2761. CDD: 079.81
CDU: 070(81)
Sumário

INTRODUÇÃO 7

Paulo Knauss

PARTE 1: AS REVISTAS ILUSTRADAS NO MUNDO DOS IMPRESSOS 15

Projero gráfico e meio editorial nas re v istas ilustradas do Segundo Reinado 17

Rafael Cardoso

A presença francesa no mundo dos impressos no Brasil 41

Tania Maria Bessone da Cruz Ferreira

A trajetória de Henrique Fleiuss, da Semana Ilustrada:


subsídios para uma biografia 53
Joaquim Marra/ Ferreira de Andrade

Um agitador cultural na Corte: a trajetória de Paula Brito 67


Mônica Pimenta Vello so

PARTE 2: AS REVISTAS ILUSTRADAS E SEUS TEMAS 79

A construção de um imaginário urbano:


hiscoriografia e imagens da cidade em Ostensor Brasileiro 81

Denise Gonçalves

Fundo, detalhe e satisfação visual: decoração doméstica em A Estafão 91

Marize Malta

A divulgação da Botânica no século XIX: o caso do jornal O Vulgarizador 105

Moema de Reunde Vergara

PARTE 3: NO TEMPO DAS REVISTAS ILUSTRADAS 121

A crítica de arte ilustrada: Angelo Agostini e o Salão de 1884 123

Ana Cavalcanti

Alegorias femininas da República:


a campanha republicana e os periódicos ilustrados no Rio de janeiro oi t ocentisra 141

Arisreu Elisandro Machado ú>pes

Mulheres de esrampa:
o folhet im e a represenração do feminino no Segundo Reinado 157

Cláudia de Oliveira

Os sentidos do humor:
Henrique Fleiuss e as possibilidades de uma sátira bem-comportada 173

Lm,ra Nery

SOBRE OS AUTORES 189


Introdução

Paulo Knauss

desafio deste livro é contribuir para renovar o olhar sobre a história da imprensa no

O Brasil a partir do estudo das revistas ilustradas no século XIX, especialmente. no


Segundo Reinado (1840-1889).

Trata-se, de um lado, de contribuir para uma história da imprensa no Brasil que não esteja
centrada apenas na imprensa diária e do jornalismo estritamente político, buscando caracteri·
zar sua inserção profunda em diversos campos das ideias e da im aginação, ao lado da história
edi10rial e dos edirores propriamente dita. De Olllro lado, trara-se d e valor izar as relações
enrre a história da imprensa e o mundo dos impressos, dando papel de destaque aos editores
e suas casas ediroriais. Além disso, procura-se a proxim ar a história da cultura letrada da
história da culrura visual, relacionando história da imprensa e hisrória da im agem. ' Afinal, a
imprensa ilustrada foi promotora, em grande medida, da drculação de imagens na sociedade
apoi ada na leitura das letras, apr oximando a narrativa escrira da narrativa visual.

Ao combinar texro escriro e i magens a imprensa ilusrrada esrabeleceu elos enrre a cultura
,

letrada e a culrura visual no Brasil da s eg und a metade do século XIX. Ler as páginas e os
rexros escritos de um exemplar de revisra ilusrrada implicava olhar imagens. Nesse sentido,
os modos de ler e os modos d e ver se entrelaçaram na fruição das r evistas ilusrradas. Assim,
este livro pretende relacionar o mundo da edição e da leitura com as práticas do olhar.

Todavia, o que se evidencia da leirura desre livro é que, ao relacionar culrura !errada e culmra
visual, a análise das revisras ilusrradas demanda uma abordagem intertexwal que procure
evidenciar como escrita e desenho se combinam, ou como leitura e olhar se complementam.
A arenção à parricu laridade dos códigos da escrira e das arres visuais deve ser conduzida no
sentido de aproximar a sua interação e sublinhar como a convivência dos códigos favorece a
produção de sentidos. A intertextualidade é, assim, base da construção de significados. Sua
compreensão é um pressuposto da análise das revisras ilustradas.

1 O rema da cultura letrada no Brasíl. tratada do ponto de vista da história do livro e da leitura. foi objeto de
livro especifico. Vea-se: ABREU. Márcia & SCHAPOCHNIK. Nelson (org.). Cultura letrada no BrBsil: objetos
j

e práticas. sa.o Paulo: Mercado de letrasiALB, 2005. A relaçao do mundo dos lmpre.ssos com o mundo das
imageM é explorada também e m: OUTRA. Eliana de Freitas & MOLLIER. Jean-Yves (org.). Poltica, l noç4o e
ediçao; o lugar dos impressos na construçao da vida polltica- Brasil, E urop a e Américas nos sécu)os XVIII�
xx. Sao Paulo: Mnablume. 2006. Esta re1açao no contexto da impre11sa jornallslica é explorada por. MOREL.
Marco & BARROS. Mariana Monteiro de. Pafavta, m i agem e poder, o surgimento da imprensa no Brasil dO
seculo XIX. Rio de Janeiro: DP&A. 2003.

7
De resto, valorizar as revistas ilustradas no tempo do Segundo Reinado permite também ir ao
encontro da sociedade da época. Acompanha-se, assim, uma tendência da historiografia re­
c ente, que procura reconhecer que a imprensa é mais do que um regi srro de acontecimentos
de época. Suas informações não devem ser tratadas como verdades, mas como representações
acerca das questões do seu tempo. A partir d o seu uso como fome, é po ssível "verificar como
os me ios de comunicação impres s os imeragem n a complexidade de um comexto".1 Assim,

este livro pretende apresentar as revistas ilustradas não apenas como fonte, mas, sobretudo,
como objetO de interrogação, buscando demonstrar como a imprensa se conformou como u m
s uj eito da sociedade e d o proce sso histórico.

Especificamente, no que se refere ao Brasil d o Segundo Reinado, nunca é demais lembrar que
se trata do contexto de afirmação e crise do regime da monarquia imperial e d e extinção da
esc ravidão que marcava o quadro das relações sociais e dos valores d a soci edad e senhorial. O
reinado de O. Pedro U demarca o fim do período regencial e anuncia uma nova fase da história
política nacional. O primeiro imperador do Brasil, O. Pedro I, ao abdicar do trono em favor
de seu filho, em 1831 , encerrava o p erío do do Primeiro Reinado e l egava a um menino de 5
anos os destinos do país, que se manteve sob o comando da Regência, uma vez que a condi­
ção d e criança do imperador não permit ia que ele exerce sse as funções de chefe de Estado.
Após alguns anos de governos re genciai s, a parti r de 1840, com o fato político conhecido
como Golpe da Maioridade, O. Pedro 11 assumiu de fato, aos 14 anos, a condição de chefe de
Estado antes do previsto. Iniciava-se, então, propriamente, o Segundo Reinado. Ape sar de
muitas c onjunt ura s conturbadas politicamente e de acontecimentos de largo impacto social,
como a p roi biç ão defin itiva do tráfico n e grei ro, em 1850, que era o s uste ntáculo da sociedade
escravista no Brasil, e dos anos da Guerra do Paraguai (1865-1870), o imperador O. Pedro
11 represen t o u
a estabilidade institucional monárq ui c a. Sua personalidade de homem de sa­
ber o aproximou das le tr as, das artes e da ciência, tOrnando·se um promotor imp or tante da
criação cultural no Brasil.' Não se pode deixar de lembrar que o café, como produto principal
da pauta de exportação e muito valorz
i ado na época, também, permitiu lançar bases para a
prosperidade econômica da segunda metade do século XIX no Brasil.
A imprensa do Segundo Reinado foi marcada, antes de tudo, pela liberdade de expressão. Tor­
nou-se um espaço fundamental da manifestação de ideias, opiniões e gostos. Assim, ultrapas­
sou o tempo da guerra dos jornalistas, exp ressão cunhada por Isabel Lustosa para caracterizar
o predomínio do jornalismo de si tuação que caracterizou a imprensa no Primeiro Reinado,
dominada pelos panfletos de tom agres sivo de insultos e denúncias.• Não que o periodismo de
opin ião tenha deixado de exis t ir no Segundo Reinado. mas cabe destacar que a afirmação da Ji.

'MOREL. M, & SARROS, M . M. de. Op. cfl. . p. 9.

• Para uma biografl<l de O. Pedro 11, veja-se: CARVALHO. José M rilo de. D. Pedro 11. Sêo Pa
u uto: Companhia
das Letras. 2007.

• lUSTOSA. Isabel. Insultos impressos: a guerra dos jomatistas na Independência, 1821·1823. sao Pauto:
Companhia das Letras. 2000. As relações entre impre nsa e polltica no contexto da Independência do Brasil e <k>
Primeiro Reinado também roram a.nalisa<fas em: NEVES. lucia Maria 8. Pereira das. Corcundas. constitvcionals
e pts-de-chvm/>0; a cultura polltica da Independência, 1820-1822. Rto de Janeiro: Revan , 2003.: MOREL.
Marco. As transfom>aç6es dOS espaços p(ll>/icos: mp<
i en sa. atO<es potlticos e sociabili<la<fe na Cidade imperial
{1820-1840). Silo Pauto: HuOite<:, 2005.

8
herdade de expressão naquela época se combinou com uma pronrsão de periódicos de diversos
tipos e fonnatos, que, ao lado da política, tratavam de diferentes temas e que, em vários casos,
tendjam a buscar um público mais abrangente. com interesses diversificados. Assim, o foco po­
lí<ico dos primeiros tempos foi-se combinando a diversos ourros enfoques que correspondiam
aos coslUmes e interesses da sociedade de corre que caracterizar am o B rasil imperial.
Entretanto, é comum o argumento de que a censura e o oficialismo da época colonial e do
Antigo Regime foram responsáveis pela ausência do impresso na cena social das terras da
América portuguesa, contrastando com os períodos posteriores da sociedade nacio nal. Como
apont a Marco Morei, esse argumento é carregado, em grande medida, de nacionalismo an­
tilu si ta no e deixa de reconhecer que a difusão da imprensa requer cerro ambiente social e
de debate de ideias.' Nesse sentido, é preciso lembrar que havia publicações periódicas em
Portugal e que também circulavam do outro lado do oceano Atlântico, assim como outros

gêneros de impressos. Além disso, usualmente se considera que a imprensa no Brasil se ini­
cia em 1808, com a publicação do jornal Correio Brazilie11se, que tinha Hipólito José da Costa
como seu redator e que era publicado em Londres, na Inglaterra.• Deixa-se de lembrar que,
no mesmo ano, depois da chegada da cone portuguesa, sob a regência de D. João a Imprensa
Régia se instalou no Br asil, no mesmo ano d e 1808, e começou a publicar a Cauta do Rio de
janeiro. Nesse período joanino , vai ser importante também o estabelecimento de uma tipogra­

fia na Bahia, que publicou, a partir de 1811, a gazeta Jdaded'Ouro do Brasil! Esses títulos eram
i ns pirados no modelo dos periódicos da sociedade europeia do Ami go Regime, espécie de al­
manaques que tratavam da divulgação cultural com notícias lite.rárias, científicas e históricas.

É no contexto da Independência, entre 1820 e 1821. que os jornais do Brasil começam a se afir­
mar como veículos de opinião e mobilização social, acompanhando os rumos da polirica. Não sem
razão, a leitura em grupo era uma das formas de difusão dos textos impressos, o que, mais do

que um esforço para superar o ilerrism01 pode ser caracterizado mmbém como um modo de pro·
mover o debate, que tinha, na impren sa, uma de suas e.xpressões de destaque. Assim, a leitura se
afirmava também como território de sociabilidade. Ao lado dos jornais de opinião, outro tipo de

per iódico era o que tinha como missão registrar informações mercantis e publ icar anúncios, como
o jornal do Comércio, do Rio dejaneiro, e o Diário de Pernambuco, de Recife, que eram necessários ao
comércio geral, desde a abertura dos portos e o fim do exclusivo colonial. Observa-se, portanto,
que não há uma gestação espontânea da imprensa, uma vez que sua afirmação depende de uma
experiência social particular que a impulsione.•

• MOREl, Marco. Os primeiros passos da pa lavra Imp ressa. In: MARTINS, Ana lulza & DE LUCA, Tania Regina.

Hfstótia da Imprensa no Brasil. sao Paulo: Contexto. 2008.

• Para o estudo do Correio Braziliense. veja-se: LUSTOSA.Isabel. Correio Brazíliense(1808-1822): a imprensa


brasileira nasOOtJ inglesa e liberal. In: DUTRA, E. de F. & M Olli ER, J-Y. (org.). Op. ch.

'Para um estudo da imprensa a partir do estabelecimento da corte pottuguesa no Rto de Janeii'O, no iniciO dO
�ulo XIX, antes d a IMepe�ncia do BraSil, veja-se: SILVA, Maria Beatriz Niua da. A imprensa periódica
na época joa nlna. In: NEVES, Lucfa Maria Bastos P. das. Uv10s e lmprsssos: retratos do Setecentos e do
Oitocentos. Rio de Janeiro: Edue�. 2009.

• MOREL.Marco. Os primeiros passos da palavra impressa. In: MARTINS, Ana Luiza &DE LUCA, Tania Regina.
História da lmpransa no Brasil. Sào Paulo: Contexto. 2008.

9
No que se refere à história da imprensa na época do Segundo Reinado, ao lado dos periódicos de
ocasião e de estilo panOetário (que não deixaram de existir), pode-se dizer, em termos de infor­

mação, que o periodismo foi dominado, igualmeme, pelo jornal de comunicação oficial de aros do
governo e an(mcios mercantis. Nesse sentido, a imprensa recebeu grande estímulo nos centros
urbanos que eram sede da administração governamental ao t.er como alvo os quadros da burocra­
cia a ela vinculados. Além disso, com o passar dos anos. o jornal assumiu, cada vez mais, o papel
de veículo de an(mcios públicos, indicand o o fortalecimento das praças comerciais, acompanhan­
do o desenvolvimento da oferta e da procura de serviços diversos na sociedade brasileira. Essas
características influenciaram o modelo de jornalismo no Segundo Reinado. É nesse contexto que

se firmou o jornal do Comércio como p rincipal órgão de imprensa. definindo um m odelo apartidã­
rio e não polemista. Assim, esse diário se consagrou ao co nsegui r reunir p ublicistas conhecidos
como Justiniano José da Rocha e José de Alencar, entre outros, acompanhando diariamente as
polêmicas sociais daquele tempo sem deixar d e se man ter isento em maté ria de opiniã o.
No entanto, cabe apontar também que esse modelo de periodismo conjugou notícias polfticas
e comerciais com notícias diversas sobre fatos mundanos e cotidianos, diversificando sua pauta

de conteúdos e retratando. de modo mais amplo a vida em sociedade. A diversidade temática,


,

por vezes, foi acompanhada também pela segmentação de público, como no caso da imprensa
feminina. É assim que o jornal das SerJ1oras, criado em 1852, marcou época, ao lado de vários ou­

tros títulosAlém disso, manifestações literárias ganharam espaço nas páginas dos periódicos da
.

época e p romoveram o gênero literário da crônica, do como e do folhetim, reunindo, no campo


do periodi smo, além de autores estrangeiros de destaque como Alexandre Dumas, nomes que se
tornaram importantes na história da literatura brasile.ira. A popularidade alcançada pelo gênero
literário fez despomar nas páginas dos periódicos da época obras marcantes. como, por exemplo,
Menulrias de um Sa�enro de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida (publicado no Ccrreio Merc<VI·
til, na passagem de 1852 e 1853), O Guarm1i, de José de Alencar (publicado em 1857, no Diário
do Rio de ja11eiro) e A mão e a luva, de Machado de Assis (publicado em O Globo. no ano de 1874),
entre outros.• Portanto, é próprio da imprensa do período do Segundo Reinado a diversificação de
público-alvo, de funções informativas e gêneros narrativos acompanhando as transformações his­
tóricas da sociedade. Esse modelo diversificado permitiu que os pe riódi cos se tivessem mantido
como supone de maior importância n o mundo dos impressos ao longo do século XIX.'0

As mudanças de formato também caracterizaram o período. Depois de 1850, os jornais pe­


quenos de quatro folhas in-8" passaram a dar lugar aos jornais de páginas de grande formato,
como O Constitucional, Diário do Rio dejaneiro e Correio Mercantil. Em 1 877, o jornal do Comércio
inovou também. ao publicar os primeiros telegramas distribuídos por agência de noticias,
aumentando a agilidade d a inform açã o O surgimento e a expansão das ferrovias per mitiram
.

uma distribuição maior dos periódicos. Além disso, ao longo do século XIX, o número de
tipografias se ampliou bastante, instalando-se em todas as províncias do pais. Esse quadro

' Para o estudo da imporUin<:ia dos folhetins, veja-se: MEYER, Martyse. Folhetim: uma história. Sao Paulo:
Companhia das letras. 1996.

"MARTINS. Ana Luiza. Imprensa em tempos de tmpêrio. In: MARTINS. Ana Luiza & OE LUCA. Tania Regina .

História da imprensa no Brasil. sao Paulo: Contexto, 2008.

10 PA4.AO KHAuss
de expansão de mercado foi acompanhado ainda pela profissionalização, permitindo que, na
segunda metade do século XIX. surgissem. no Brasil, os primeiros profissionais dedicados
exclusi vamen te à imprensa. como jornalistas. editores e tipógrafos.11

Nesse ambiente da imprensa do Segundo Reinado, destacaram-se a s revistas ilustradas, que,


ao lado dos jornais diários, foram ganhando, a o longo dos anos, lugar de destaque como
veículo de ideias e espaço de expressão da imaginação social. São a s revistas ilustradas que
evidenciam mais claramente a diversificação temática da produção e o direcionamento para
públicos específicos d a imprensa periódica na segunda metade do século XIX. Como os jor­
nais raramente e d e modo muito episódico fizeram uso da imagem, a s revistas ilustradas de­

finiram um gênero muito particular de periódicos. Sua novidade mais importante foi afirmar
o papel da imagem na construção da narrativa jornalística.

A ilustração teve diversos usos na imprensa ilustrada do Segun do Reinado, caracterizando


seu universo também por uma diversidade considerável. Os diferentes trabalhos editoriais
afirmaram temas que conferiam verremes diferentes para o tratamento da imagem n a im­
prensa. A imagem serviu, assim, para ilustrar todo tipo de a.ssunto e até a publicidade.

Entretanto, no universo da imprensa ilustrada. o humor ganhou um destaque especial e tradu­


z.iu a originalidade das revistas ilustradas do Segundo Reinado ao afirmar o gênero do periodis­
mo ilustrado e humorístico. 12 As caricaturas se tomaram a marca desse gênero, que se carac·
teriza como intertexto que se reporta aos fatos de ocasião tratados pela imprensa, dialogando
com as noúcias escritas do momento. Como crônica visual, a caricatura tarn�m faz uso de
imagens correntes na cultura visual estabelecida, colocando imagens conhecidas em diálogo. O
gênero estreou no Brasil com a publicação enrre 1844-45 de Laterna Mágica, criada por Manuel
Araújo Porto-Alegre, inspirado na criação dos anos d e 1830 do francês Honoré Daumier."

O primeiro periódico ilustrado humorístico a se afirmar no mercado editorial no Brasil foi a Senut­
na Ilustrada. A revista foi fundada em 1860, por Henrique Fleiuss, desenhista e litógrafo alemão
radicado na cidade do Rio de janeiro. A Semana Ilustrada teve grande sucesso de público e existiu

por dezesseis anos, mas muitos outros títulos surgiram, ainda. na cena editorial do Brasil do Se­
gundo Reinado, não só na corte, mas por várias províncias em que a imprensa foi se diversifican­
do." Desse modo, a caricarura ganhou expressão na criação artística brasileira. Nesse ambiente,
firmou-se também o nome de Ângelo Agostini, italiano de origem. que fundou a Revisra 1/usrrada,
em 1876, e se consagrou como autOr de ilustrações e caricaturas que marcaram época.
O fato é que as experiências da imprensa ilustrada no século XIX terminaram sendo apro­
priadas no século XX pela grande imprensa diária que combina texto escrito com imagens

11
Idem.

'1Para o estudo da história da caricatura no Btastl, a obra de referênCia continua sendo o livrode LIMA. Hetman.
História da caricarura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio. t 963.

" Para o estu<Jo da relaÇ3o de Pono-Alegre e Oaumier. veja-se: SALGUEIRO, Hellana Angotti. A comédia
urt>ana: de Oaumie< a Porto-Alegre. Sllo Paulo: Faap. 2003.

... Em tomo da presença da imprensa ilustrada nas provfncias. destaca-se a produçao na regiao da cidade de
Pelotas. no Rio Grande do Sul. Para um estudo dessa prOduÇ3o. veja-se: LOPES. Atisteu Elisanoro MachaCIO .
Trl>Ços da polilica: representaçOes do munoo poiiUoo na imptensa itustra<la humortsUca pelotense do séC<Jio
XIX. OlssertaÇ3o de MesttaCIO. PortoAlegre: PPGH-UFRGS. 2006.

11
de diferentes tipos, como fotografias, desenhos e cha rges. Se a imagem renovou a imprensa
escrita a diluição das fronteiras entre os gêneros do periodismo obrigou a imprens a ilustrada
,

a se renovar comple tamente no século XX.1s

Mas, ao lado da consagração do craço dos artistas d e caricatura e do estilo de informação a parrir
da visão, a imprensa ilustrada foi importante para a evolução gráfica no Brasil. Enquanto, desde
o fim do século XVIII, os aperfeiçoamentos técnicos fizeram a tipografia ultrapassar o plano do
artesanato e aumentar sua capacidade de produção do texto escrito impresso, o tratamento da
imagem não conseguiu acompanhar o mesmo ritmo de evolução. A passagem da xilogravura
para a reprodução mecânica demorou. Se esse movimento é geral, no Brasil houve ainda algu·
ma defasagem, que precisa ser levada em coma na sua análise. No Segundo Reinado, porém, a
introdução da técnica litográfica como processo de reprodução permitiu a atualização técnica,
aumentando a escala de reprodução da página impressa, mas, sobretudo, facilitando a integra­

ção emre texto e imagem na composição gráfica, o que constituía um dos maiores desafios para
a empresa gráfica da época.•• Além disso, a imprensa ilustrada também começou a publicar

imagens baseadas em fotOgrafias, lançando as bases documentais da informação, próprias do


fotojorna lismo ." De todo modo, a história gráfica é um capítulo especial da história da impren­
sa c relaciona-se diretamente com a trajetória da imprensa ilustrada. 18 Nesse universo, o papel

dos editores ganhou destaque c onsiderando sua liderança e seu comprometimento pessoal no
,

tom editorial e na consaução de estratégias de afirn1ação no mercado de impressos.

Não se pode deixar de lembrar que as revistas ilustradas emergem num contexto de reno­
vação d a cultura visual no Brasil. Ao lado da imaginária re.ligiosa, a construçãodo Estado
nacional e a afirm ação do regime monárquico imperi al a partir d a Independência conduziram
a elaboração de uma imaginária cívica que serviu ao debate sobre a política e a sociedade. A

liberdade de expressão que caracterizou o Segundo Reinado permitiu a criação d e imagens de


diversos sentidos, indo além de emblemas ofidais. O sistema de artes no Brasil, nessa altura,
permitiu que a c ria ção artística, em instituições como a Academia Imp erial das Belas Artes e
o Liceu de Artes e Oficios, convivesse com a produção de mercado de empresas de gravura,
que fizeram da arre um negócio. Assim� as ima gens que circulavam nas revistas ilustradas
dialogaram fortemente com diversos tipos d e imagens que renovaram o mundo das imagens
no Brasil do século XIX. Não sem razão, os editores das revistas ilustradas eram produ tores

lJ Para um estudo dessa renovaçao nas primeiras décadas do século XX, veja·se: MARTINS. Ana Luiza.

Revistasem revista; Imprensa e pl'<lUcas C<Jiturais em tempos de Republica. Sao Paulo (1890·1 920). S3o Paulo:
Edusptlmprensa Oficial do Estado de Sao Paulo, 2001. Em termos tem<!tioos. veja-se: OLIVEIRA, Claudia.
VELLOSO. MO<ilca Pimenta & LINS, Vera. O moderno em revistas; representações do Rio de Janeiro de 1890
a 1930. Rio de Janeiro: Garamond. 2010.
"Para o estudo <ta gravura no SéCulo XIX no Brasil, veja·se: IPANEMA. Rogéria Moreira <te. A idade da pedra
iiCJSlrada: litografia, um monólito na imagem gráfica e no humor d o jotnalismo do século XIX no Rio de Janeiro.
Oissertaçao de Mestrado. Rio de Janeiro: EB AIIJFRJ, 1995.

"Para o estudo dos primórdios do foto;omalismo no Brasil. veja·se: ANDRADE. Joaquim Marçat Ferreira <te.
História da fotorreportagem no Brasít. a fotografia na imptensa do Rio de Janeiro de 1839 a 1900. Rio de
Janeiro: Elsevier/Biblioteca NacionaJ. 2004.

" A histótla gráfica da Imprensa no Brasil recebeu tratamento espeCial no livro: CARDOSO. Rafael (org.).
Impresso no Brasil. 1808·1930: destaques da história gl'<lf1C3 no acervo da Biblioteca Nacional. RiO de Janeiro:
Verso Brasil. 2009.

12
de um sem-número de impressos que circulavam na sociedade, além de livros e periódicos.

Especialmente com o desenvolvimento das técnicas de gravura, os impressos serviram a vá­


rios produtos visuais." Estampas avulsas e álbuns tiveram lugar de destaque na produção

edi10rial de época, constituindo produto d e acabamento especial e com grande aceitação de


p(tblico. Estampas d e moda foram muito populares, mas os álbuns de vistas foram os mais
admirados pela sua beleza (como ainda hoje).20 Ao lado disso os impressos comerciais e
,

efêmeros, como os rótulos de marcas. se impuseram como pane da identidade dos produ­
lOS consumidos.21 Além disso, as revistas ilustradas são contemporâneas do surgimento da
fotografia. Naquele tempo, se a imprensa apenas ensaiou formas de se apropriar desse tipo

de imagens, a fotografia ganhou ampla circulação na sociedade, especialmente entre as elites


intelectuais, políticas e econômicas. Mas foi também no Segundo Reinado que a produção
dos artistas vinculados à Academia Imperial das Belas Artes mobilizou a opinião pública, em
especial, a partir da promoção das Exposições Gerais de Belas Artes e a exibição dos quadros
de pintura histórica, cuja monumentalidade era resultado da combinação de grandes dimen­
sões e da dramaticidade plástica das telas de fino acabamento.

Assim, os grandes fatos da sociedade do Segundo Reinado foram acompanhados por uma
profusão de tipos de imagens produzidas e em circulação. Segundo André Toral, o contexto
do debate da Guerra do Paraguai pode ser caracterizado por uma "febre de imagens". A pin­
tura, a gravura, a fotografia e as caricaturas constituíram referências visuais fundamemais da
percepção d a Guerra, e não apenas imagens oficiais ou de apoio ao governo circularam, mas,
igualmente, imagens d e tom crítico e de oposição política marcaram o universo visual da

Guerra."' De modo geral, pode-se dizer que o jornalismo ilustrado acompanhou e favoreceu
a popularização e a laicização do mundo das imagens.

Este livro reúne 11 estudos que estão organizados em três panes. Na primei ra parte, estão reu·
nidos textos que tratam a história da produção das revistas ilustradas no contexto do mundo
dos impressos. dando destaque também à história edi10rial, valorizando edi10res e impressores
como atores sociais. A partir da análise do projeto gráfico das revistas ilustradas, o trabalho
de Rafael Cardoso apresenta um panorama das tendências e vertentes plásticas da produção
ed.i10rial do Segundo Reinado. O artigo de Tânia Maria Bessone da Cruz Ferreira trata das
caraccerísticas do mercado edirorial a partir da in/luênci.a francesa no Brasil. Em seguida, dois
texros investigam a trajetória de dois edirores importantes no Brasil do Segundo Reinado. Joa­
quim Marçal Ferreira de Andrade caracteriza a trajetória e a memória de Henrique Fleiuss, cuja

"Um panora ma da gravura no Brasil encontra-se em: SANTOS. Renata. A Imagem gravada: a gravura no Rio
de Janeiro entre 1808 e 1853. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2008.

»Para um estudo SObte álbuns e estampas no mulldO dos impressos no 8fasll do século XIX, veja-se: ZENHA,
Celeste. O negócio das "vistas do Rio d e Janeiro": Imagens da cidade Imperial e da escravidao. EstudO.s
Históricos. n. 34, p. 23-50. 2004.

"Para uma análise oa prodUÇ30 de impressos efêmeros. vea-se: HEYNEMANN, Claudia & RAINHO. Maria do
j

Carmo Teixeira (org.). Marcas ckJprogresso: consumo e deslgn no BrasH do século XIX. Río de Janeiro: Mauad X1
Arquvo
i Nacional. 2009.

"TORAL. André. Imagens em deS<>«Jem: a iconografia da Guerra do Paraguai (1864-1870). S3o PaulO:
Humanitas. 2001.

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história empresarial não foi das mais bem-sucedidas, ainda que seu trabalho tenha tido grande
projeção social por ter sido u m importante difusor da litografia no Brasil e por ter fundado a
Semana Ilustrada, o primeiro grande veículo da imprensa ilustrada brasileira. Mônica Pimenta
Velloso, a partir do caso de Paula Brito caracteriza como o mundo editorial constituiu espaço de
sociabilidade intelectual e ardsrica. indo além do universo da gráfica e do jornalismo.

Os trabalhos reunidos na segunda parte do livro abordam diversa.s revistas que evidenciaram
a segmentação do público e a diversidade temática que caracterizaram o mercado editorial
da época. Assim, cada um dos ensaios toma um título como objeto de estudo e, a partir dele,
interroga determinado rema da sociedade do século XIX. Denise Gonçalves abre esta parte,

apresentando como as cidades e a arquitetura foram temarizadas em Ostensor BrllSileiro de


modo a tratar a cultura nacional. Em seguida, Marize Malta entra no universo doméstico a
partir do estudo d o que se dizia nas páginas da revista A Estação sobre como os interiores de

residências deveriam ser organizados e preparados, revelando aspecros do olhar decorativo.


O texto de Moema d e Rezende Vergara também investiga um periódico em particular: O
Vulgarizador, revista especializada na divulgação científica. O texto e as imagens da revista
apresentam a concepção de ciência que existiu no Brasil do século XIX.

Na terceira pa.rte, encontram-se os estudos que usam as revistas ilustradas como fontes para
caracterizar como a sociedade tratou temas do seu tempo. Nessa parte, as revistas ilustradas

são apresentadas como veículos de opinião, o que faz os autores de seus textos e imagens
ganharem destaque na análise desenvolvida. Dois artigos tratam-nas como espaço d e polê­
micas d a sociedade. Ana Cavalcanti aborda a história das exposições de arte ao apresentar
a imprensa ilustrada como veículo fundamental para se reconhecer a recepção da crítica da
arte n o Brasi I do século XIX. O trabalho de Aristeu EIisandro Machado Lopes, por sua vez,
demonstra como a caricatura participou do debate político ao tratar um conjunto variado de
represenrações da República em pleno conrexro monárquico. Finalmente, dois ourros ensaios
enfocam a imprensa ilustrada a partir de sua construção literária para ir ao encontro de remas
da sociedade d a época. Claudia Oliveira parte do surgimento do gênero literário do folhetim
na imprensa e caracteriza o reconhecimento das mulheres como segmento do público consu·
midor das revistas ilustradas. Ao lado disso, o estudo demonstra como o folhetim se afirma
como um gênero privilegiado para a construção de representações do feminino. Por fim, o
trabalho de Laura Nery percorre as páginas da Semana Ilus t rada para apresentar como o gênero
da sátira serviu para interrogar a questão da civilização no Brasil do século XJX.

O resultado final da leitura é a apresentação de um amplo painel da imprensa ilustrada no Brasil


do século XlX, ao mesmo tempo que caracteriza aspectos da sociedade no tempo do Segundo
Reinado. As abordagens variam entre a valorização do mundo da produção, dos produtores de
impressos e o encontro do mundo da auroria e da opinião. A ênfase no tratamento de um tírulo
especfi
í co, ou ainda, na relação de diferentes títulos a partir de um tema, revela estratégias de
abordagem da fonte. Assim também, em termos de abordagem, os estudos evidenciam diversos
modos de entrelaçar a palavra e a imagem, ora enfatizando mais o olhar, ora a escrita. De todo
modo, o conjunto destaca como a imaginação social no Brasil do tempo do Segundo Reinado tem
como referência a relação entre texto escrito e imagem que se estabeleceu na imprensa ilustrada.

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