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- A Epifania e suas opor- - Música - Três Reis Ma- - A Natureza Missioná- - A Onipotência de
tunidades, 42 gos, 78 ria da Igreja, 4 Deus e a Universalida-
- Epifania - Sermão, - Liturgia para o Culto - A TV como veículo de de da Graça no Livro de
38 de Natal, 83 evangelização na Igreja Jonas, 69
- A Estrela - simbologia Evangélica Luterana do
cristã, 77 Brasil, 23
Apresentação da Revista
EXPEDIENTE
Publicação mensal de pastores da Igreja
Eletrônica Teologia & Prática
Evangélica Luterana do Brasil (IELB) não oficial. A revista Teologia&Prática é uma iniciativa de pastores da
Tem como propósito divulgar textos teológicos/ Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Ela não tem caráter
pastorais, inéditos ou não, produzidos por oficial. Seu objetivo básico é coletar e compartilhar bimestral-
pastores da IELB, recuperar textos teológicos
mente, de forma organizada, via Internet, textos teológicos/pas-
escritos no passado e que não estão disponíveis
na Internet, divulgar de forma mais abrangente torais, inéditos ou não, produzidos por pastores da IELB e que
a teologia evangélica luterana confessional e a regularmente circulam em listas da Igreja. Além disso, procura
reflexão teológica na IELB, e ser uma ferramenta recuperar textos teológicos escritos no passado e que não estão
prática para as atividades ministeriais em disponíveis na Internet. Um objetivo subjacente é a intenção de
suas diferentes áreas. Os conteúdos são de
divulgar de forma mais abrangente a teologia evangélica lute-
responsabilidade dos seus autores.
rana confessional e a reflexão teológica na IELB. Além de pos-
Colaboradores desta edição: sibilitar a reflexão teológica, a revista quer ser uma ferramenta
Comissão de Culto da IELB; David Karnopp; prática para as atividades ministeriais em suas diferentes áreas.
Dieter J. Jagnow; Élvio Nei Figur; Heldo
Bredow; Horst Kuchenbecker; Jarbas
Hoffimann; Marcos Schmidt; Mário Rafael Critérios
Yudi Fukue; Maximiliano W. Silva; Rony
Ricardo Marquardt; Waldyr Hoffmann. 1. A produção da revista é coordenada por voluntários. Um (ou mais) editor
é responsável para que exista um mínimo de organização na diferentes
Imagens: fases do processo.
As imagens usadas nesta publicação são de livre 2. A revista é fechada em PDF e carregada em um depósito da Internet, de
acesso na Internet. Caso contrário aparecerá, ao onde poderá ser baixada livremente.
3. A revista tem circulação bimestral. Não há um número fixo de páginas.
lado da imagem, a referência ao seu autor.
4. Um blogue serve de apoio para as edições, a fim de possibilitar a sua
Coordenadores: divulgação pelos mecanismos de busca da Internet.
Rev. Dieter Joel Jagnow (editor) 5. A revista é aberta a todos os pastores da IELB interessados em compar-
Rev. David Karnopp tilhar seus textos (meditações, estudos homiléticos, sermões, resenhas,
Rev. Jarbas Hoffimann ensaios, etc.), inéditos ou não. Cada autor é responsável pelo seu texto
Rev. Mário Rafael Yudi Fukue (doutrinária, gramática e ortograficamente). Os textos devem ser enviados
ao editor.
Rev. Waldyr Hoffmann
Nota: O editor pode recusar — ou solicitar que seja revisado — algum
Diagramador: texto, caso julgue que ele afronte a doutrina da IELB. Para tanto, se neces-
Rev. Jarbas Hoffimann sário, conta com voluntários para a avaliação. Não serão utilizados textos
de conteúdo político-partidário, que promovam o ódio ou a discriminação
diagramador.RT@gmail.com ou que firam os princípios e valores da Igreja.
6. A publicação dos textos enviados não é imediata. Existe uma tentativa de
Blogue se ter variação de conteúdos em uma edição e em edições subsequentes.
http://www.revistateologia.blogspot.com O editor informa ao autor a situação de cada texto recebido.
7. Há uma pauta mínima, no sentido de se buscar conteúdos que de alguma
Twitter forma abordem questões pontuais (exemplo: Reforma, eleições, Natal). A
@revistateologia
pauta completa é determinada de acordo com as colaborações recebidas,
conforme a ordem de chegada.
Colaborações: 8. O organograma de produção é este:
Os textos a serem publicados na revista devem
a) Lançamento: até o dia 25 do segundo mês da edição
ser enviados ao editor
b) Preparação / Diagramação: do dia 1 ao dia 20 do segundo mês da edi-
Contato/Editor: ção
revistateologia@gmail.com c) Recebimento dos textos: até o dia 20 do primeiro mês da edição
A Natureza Missionária da
Habacuque apresenta três princípios básicos: justifica- certos na medida em que compreendem que o livro
ção pela fé (2.4), o conhecimento universal da glória ocupa-se com algo que é muito mais do que o caráter
de Deus (2.14) e o culto universal ao Senhor (2.20). universal da salvação; e que, por outro lado, aqueles que
O profeta Joel anuncia que o julgamento divino virá rejeitam esta exegese missionária também estão certos,
sobre todas as nações (3.9,11) e que o seu Espírito será na medida em que entendem que não há pensamento
compartilhado por toda a carne (2.28).14 missionário no Antigo Testamento como ocorre no
O profeta Isaías mostra que todas as nações estão Novo, no sentido centrífugo, de “ida às nações”.17
sob o juízo de Deus, mas também sob a sua salvação. O livro de Jonas, por isso, é de grande importância
As nações são advertidas por Deus (10; 13-23) mas es- para uma base bíblica da missão, pois antecipa o man-
tão incluídas nas grandes promessas de bênçãos (2.1-5; dato divino da ida aos gentios, servindo assim como
11.10; 25.6-9). Os capítulos 40 a 55 do livro do pro- passo preparatório à ação da Igreja do Novo Testamen-
feta Isaías são um dos pináculos missionários do Anti- to. O livro apresenta o plano abrangente de Deus, que
go Testamento, onde Israel é apresentado como servo quer a salvação de toda a humanidade. Embora o Anti-
de Yahweh para ser sua testemunha e seu mensageiro go Testamento normalmente convide as outras nações
(43.10,12; 44.8; 42.19; 44.26). Em Isaías 55-60 são fei- a virem até Israel, Jonas, a exemplo dos discípulos do
tas promessas de ricas bênçãos para as nações, promes- Novo Testamento, recebe a ordem de ir! “O Deus de
sas que são garantidas em meio à glória de Israel (55.4- Jerusalém é também o Deus de Nínive. Diferentemen-
5; 56.3-7; 60.3,10-16; 61.5-11). Em Isaías 66.18-21 é te de Jonas, ele não tem ‘complexo gentílico’.”18
expressa a evangelização de toda a terra e afirmado que Assim, fica claro que o objetivo essencial do Antigo
as nações também participarão na responsabilidade de Testamento é missionário, pois a universalidade da sal-
ministrar perante o Senhor.15 vação pervade a todo ele. A missão constitui o propó-
Ao examinar o Antigo Testamento em busca de uma sito do chamado, da vida e do ministério de Israel. “O
teologia de missão, não se pode deixar de considerar o Antigo Testamento não contém missão; ele próprio é
livro do profeta Jonas, que é considerado por muitos ‘missão’ no mundo”.19
como um dos pináculos missionários do Antigo Testa- Deste modo, quando Jesus, na sinagoga de Nazaré,
mento. Outros, porém, acham que falta em Jonas uma abriu o livro do profeta Isaías e leu — “O Espírito do
justificativa real para a missão. Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evan-
Os exegetas, em sua maioria, são unânimes em sua gelizar aos pobres; enviou-me para proclamar liberta-
avaliação de Jonas. Aqui, na opinião destes, o ide- ção aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr
al missionário é proclamado sem ambigüidades, e em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável
neste livro Israel é orientado para sua verdadeira do Senhor” (Lc 4.16-21; Is 61.1-3) — estava mostran-
vocação no mundo. O livro é preparado contra o do que o Antigo Testamento indicava em sua direção.
exclusivismo judeu, religioso ou nacionalista, sen- A missão de Israel era proclamar a salvação que viria
do, assim, clara justificativa da missão entre os com o Messias, a sua esperança de que Deus cumpriria
gentios. a promessa feita já a Adão e Eva (Gn 3.15). Os cânticos
do Servo do Senhor de Isaías apontam para este aspec-
Outros, porém,... negam que o livro esteja preocu- to, pois destacam o que Deus faria para trazer salvação
pado com a comissão de proclamar a todas as nações a ao povo do Senhor e, através dele — pelo seu testemu-
mensagem de salvação. A oposição a um exclusivismo nho — a todas as nações.
judeu só consiste, de acordo com esta opinião, em acen- Com Cristo, o dia do Senhor havia chegado. A salva-
tuar a misericórdia infinita e ampla de Javé.16 ção estava consumada e poderia ser proclamada a todas
Johannes Blauw apontou com propriedade os dois as nações. Isto Israel já estava fazendo, na expectativa da
lados da questão e comenta que estas duas tendências vinda do Messias. Mas a sua atuação, como diz o após-
de interpretação do livro de Jonas são possíveis, pois tolo Paulo, também era uma “sombra das coisas que ha-
os que defendem uma interpretação missionária estão
17. Ibid., p. 34.
18. VERKUYL, Johannes. Contemporary Missiology - An Introduc-
14. Ibid., p. 121. tion. Dale Cooper, trad. Grand Rapids: William B. Eerdmans,
15. Ibid., p. 123-128. 1978, p. 96-97,100.
16. BLAUW, p. 33. 19. PETERS, p. 129. (Grifo do autor)
viam de vir” (Cl 2.17). A missão de Israel cumpre-se em seja pregada a todas as nações. E a vinda das nações é
Cristo, o Messias crido e do qual o povo de Israel deu o tempo do semear e do crescer. Deste modo, o “ain-
testemunho, pela fé (Hb 11, especialmente 12.1). Toda da não” do Antigo Testamento é substituído pelo “já
sua atividade como povo de Yahweh era missão — era agora” do Novo Testamento, embora este “ainda não”
envio ao mundo para proclamação da salvação. continue, em termos de plenitude.23
Deus providencia missionários e evangelistas. Esta é Nestes poucos exemplos de sermões e comentários
a afirmação missionária de Lutero, sua certeza de que a de Lutero evidencia-se com clareza seu pensamento
missão é obra do próprio Deus. Isto também é expres- missionário. Ele afirma a necessidade de levar a palavra
so por ele no segundo sermão para o dia da Ascensão, de Deus, a certeza de que a evangelização é obra contí-
quando fala sobre a Grande Comissão dada aos após- nua do próprio Deus levada a efeito pelos cristãos, que
tolos: proclamam a sua palavra, e que deve alcançar todas as
Sua pregação espalhou-se por todo o mundo, se pessoas em todo o mundo.
bem que ainda não tenha chegado em todo o mun- Nos seus escritos confessionais Lutero demonstra
do. Este ir e anunciar foi iniciado e distribuído, sua preocupação com a missão da Igreja Cristã. Nas
ainda que não tenha se realizado e cumprido, mas Confissões Luteranas não há uma teologia das missões,
ainda continuará a ser pregado até o dia do Juízo especificamente expressa, mas elas têm muito a dizer
Final. Quando esta pregação for pregada e ouvida, sobre a doutrina da Igreja, sobre a universalidade da
e proclamada em todo o mundo, então a mensa- redenção, sobre a pregação da palavra. E estas questões
gem estará cumprida e transmitida em toda parte, estão diretamente ligadas à missão em si.53
então também chegará o Juízo Final.51 Além disso, as explanações de Lutero sobre o Ter-
ceiro Artigo do Credo Apostólico e sobre a Segunda
Esta é, assim, a descrição da contínua obra da evan- Petição do Pai-Nosso demonstram sua confiança na
gelização, até que venha o último dia. Enquanto hou- obra divina e evidenciam a essência de seu pensamento
ver mundo, o evangelho será pregado e a obra da mis- missionário.54
são continuará. No Terceiro Artigo fala do Espírito Santo chaman-
No terceiro sermão para o dia da Ascensão, baseado do e reunindo a totalidade da Igreja Cristã e manten-
em Marcos 16, Lutero expôs o chamado do evangelho do-a na verdadeira fé em Cristo. No Catecismo Maior
a todos os homens: diz que a Igreja Cristã é “uma congregação peculiar no
Estas são palavras da majestade... que ordena a estes mundo, congregação esta que é a mãe que gera e carrega
pobres mendigos que saiam e anunciem esta nova a cada cristão mediante a palavra de Deus.”55
pregação, não em uma cidade ou nação, porém em Igualmente expressa sua compreensão missionária
todo o mundo, principado e reino; e abram a boca na Segunda Petição:
com confiança perante toda criatura, para que tudo Pedimos, por conseguinte, aqui, em primeiro lu-
que seja do gênero humano ouça esta pregação. gar, que isso tome efeito entre nós, e que destarte
Este mandato passa por sobre todos os reis, príncipes, seu nome seja exaltado pela santa palavra de Deus
nações e pessoas, grandes e pequenos, jovens e velhos, e por uma vida cristã, tanto para que nós, que a
eruditos, sábios, santos. Com esta única palavra fi- aceita¬mos, nisso permaneçamos e diariamente
cam sujeitos todo domínio e poder, bem como toda progridamos, como também a fim de que alcan-
sabedoria, santidade, alteza e regimento que exis- ce assentimento e adesões entre outros homens e
tam sobre a terra; tudo lhe deverá estar sujeito. marche poderosamente pelo mundo universo, a
Mas não é necessariamente um senhor mau, que fim de muitos deles, trazidos pelo Espírito Santo,
torna sujeito ao seu poder e envia missionários, não virem ao reino da graça e se tornarem partícipes
para um ou mais senhores ou reis, porém para to- da redenção, para que dessa maneira todos juntos
dos no vasto mundo; e tem sobre eles total poder e fiquemos eternamente em um só reino, agora prin-
domínio, como sobre seus súditos. cipiado.56
E lhes dá esta ordem, de modo que diante de nin-
guém tenham medo nem se espantem, seja grande Lutero expõe que, quando o cristão suplica “venha
ou poderoso; porém que vão livremente, sempre o teu reino”, está rogando que o reino venha a ele e que,
mais longe, tão grande seja o mundo, e preguem
de modo que sejam ouvidos e ninguém lhes possa 53. COATES, Thomas. “Were the Reformers Mission-Minded?”
Concordia Theological Monthly, St. Louis: n. 9, out. 1969, p. 609.
resistir.52 54. PETERS, Paul. Luther’s Practical Mission-Mindedness. Wiscon-
sin Lutheran Quarterly, Milwaukee: n. 2, abr. 1969, p. 112.
51.W 11, 951. 55. LIVRO DE CONCÓRDIA, CM II, iii, 42.
52.W 11, 963. 56. Ibid., CM III, ii, 52.
através dele, alcance o mundo inteiro. Em outras pala- Esta visão de Warneck está baseada em seu concei-
vras, o cristão coloca-se à disposição de Deus como seu to de missão, como ele próprio afirma: “como a com-
instrumento para realizar a sua missão. preendemos hoje”.61 Isto significa, para ele, o envio
O próprio catecismo foi escrito com propósitos sistemático de missionários profissionais às nações não-
missionários, pois Lutero diz na Missa e Ordem do Cul- -cristãs através de sociedades missionárias organizadas,
to Alemão: patrocinadas pela Igreja oficial. Assim, fez de um mé-
Catecismo quer dizer a instrução pela qual os todo particular de missão uma necessidade teológica
pagãos que querem ficar cristãos são ensinados e e acusou Lutero de ter uma teologia imperfeita sobre
orientados a respeito do que devem crer, fazer, evi- missão, por não ter advogado este método.62
tar e saber no cristianismo.57 Para chegar-se a uma conclusão sobre a questão de
Lutero ter tido ou não visão missionária, não se pode
Em tudo isto, vê-se a compreensão de Lutero sobre comparar seu pensamento missionário com o que hoje
a obra que Deus vem realizando no mundo. A Grande se entende por missão e nem comparar a atividade mis-
Comissão, dada por Cristo aos seus discípulos, ainda sionária da Igreja de Lutero com a da Igreja Católica
é cumprida pelos seus discípulos de hoje, e Lutero viu Romana. Pois há três fatores importantes para o pro-
esta responsabilidade e necessidade com muita clareza, gresso e a eficácia do programa missionário católico-
mostrando que esta obra continuaria até o dia do Juí- -romano que não estavam presentes na Reforma e nas
zo Final, até que “o pecado, a morte e o inferno sejam Igrejas desta:
exterminados, a fim de vivermos eternamente em plena 1. O conceito de supremacia papal a embraçar o
justiça e bem-aventurança.”58 mundo inteiro;
2. As ordens monásticas, que eram um canal efetivo
2.2. A Controvérsia sobre a para a tarefa de evangelizar os pagãos;
Consciência Missionária de Lutero 3. As forças coloniais e seus governantes eram da
Igreja Romana, concedendo seu apoio e proteção às
Ao escrever a história das missões protestantes,
missões que estavam sendo estabelecidas em seus ter-
Gustav Warneck fez a acusação de que Lutero não teve
ritórios.63
compreensão das obrigações missionárias da Igreja de
Apesar de não ter havido uma explosão missionária
pregar o evangelho às nações ainda não-cristianizadas.59
na época de Lutero por parte das Igrejas protestantes
Reconheceu as circunstâncias peculiares da época que
alemãs, vê-se que isso não ocorreu por falta de uma cla-
tornavam a missão impossível, pois a Alemanha estava
ra e pura teologia de missão. Tanto Lutero como seus
isolada das recém-descobertas terras; que o movimento
colaboradores estavam conscientes da necessidade e
da Reforma precisava ser consolidado; e também que
urgência desta missão. Thomas Coates cita oito razões
as Igrejas protestantes estavam fazendo missão dentro
para a falta dessa atividade missionária no período da
da Alemanha, neste período. Mas, considerando o fato
Reforma e seu resultado na época da ortodoxia:
de que nenhum lamento surgiu a respeito da impossibi-
1. A luta para estabelecer e fixar os princípios da Re-
lidade de realizar a missão, chegou à conclusão de que
forma em seus próprios domínios;
esta falha era teológica, e não prática.60
2. As guerras religiosas, de modo especial a Guerra
57. LUTERO, Martinho. Pelo Evangelho de Cristo. Walter O. Schlu- dos Trinta Anos (1618-1648), que interromperam a
pp, trad. Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1984,
p. 221. vida normal da Igreja;
58. LIVRO DE CONCÓRDIA, CM III, ii, 54. 3. A escatologia do período da Reforma;
59.WARNECK, p. 9: Não somente o feito missionário, mas mesmo 4. O princípio de cuius regio, eius religio;
o pensamento missionário, no sentido como o compreende-
mos hoje em dia, deixamos de sentir nos reformadores. E não 5. A ausência das ordens monásticas;
somente pelo fato de que quase todo o novo mundo pagão 6. O pouco contato dos países protestantes com
ultramarino descoberto estivesse fora do seu horizonte visual, pessoas e regiões não-cristãs no além-mar;
mas tão importante quanto isso deve ser considerado que
fundamentações teológicas principais os atrapalhavam para
7. O conceito do Landeskirche;
darem uma direção missionária ao seu campo de ação e mes-
mo aos seus pensamentos. 61.WARNECK, p. 9.
60. KOSCHADE, Alfred. Luther on Missionary Motivation. The Lu- 62. KOSCHADE, p. 224-225.
theran Quarterly, Gettysburg: n. 3, ago. 1965, p. 224. 63. COATES, p. 600-601.
8. O dogmatismo da época da ortodoxia.64 significa uma parte ou duas, mas tudo e todos, o que for
Foi apenas com o advento do pietismo, por volta de e onde houver pessoas.”68
1670, que o luteranismo recebeu seu primeiro ímpe- Lutero compara a pregação do evangelho a uma pe-
to missionário real. Mas para a Igreja de hoje é impor- dra lançada à água, produzindo ondulações em círculos
tante que, apesar de não ter havido nenhuma tentati- concêntricos, as ondas se sucedendo e estendendo uma
va missionária de âmbito internacional no período da após a outra, até atingirem a margem. Esta é a tarefa
Reforma, já estavam implícitos na teologia da Reforma missionária centrífuga da Igreja, pois cada época recebe
os princípios que guiaram e motivaram as missões pro- de Deus este imperativo missionário que está claramen-
testantes posteriores. E esta é a grande contribuição de te expresso na Grande Comissão.
Lutero e da Reforma para o empreendimento missio- É assim que acontece com esta mensagem da pre-
nário atual.65 gação, como se a gente atirasse uma pedra na água,
a qual faz ondas e circunferências ou estrias ao seu
2.3. A Visão Missionária da Igreja redor, e as ondas empurram-se sempre e sempre,
em Lutero uma impele a outra, até que cheguem à margem.
Ainda que no meio fique calmo, as ondas não des-
Em face do exposto, evidencia-se que a teologia de cansam, mas movimentam-se por si. Assim tam-
Lutero estabeleceu os princípios básicos, orientações bém acontece com a pregação: ela foi iniciada pelos
e motivação para o empreendimento missionário da apóstolos e sempre continua, e é levada adiante
Igreja Luterana, que no decorrer do tempo realizou-se pelos pregadores, de cá para lá tocada no mundo e
efetivamente e que são encontrados principalmente na perseguida, mas é sempre tornada conhecida àque-
sua doutrina sobre a Igreja. les que anteriormente não a ouviram, é manifesta-
A Igreja, para Lutero, não é uma instituição estáti- da, mesmo que no meio do caminho seja apagada e
ca, mas uma comunhão de dimensões universais. Na e como heresia seja condenada.69
através da Igreja os homens são trazidos a Cristo, e esta
missão redentora continuará até o fim dos tempos.66 Em seu comentário sobre o livro do profeta Isaías
Onde houver cristãos, ali estarão a Igreja e o evange- mostra que esta contínua pregação do evangelho ao
lho, e este evangelho alcançará o mundo ao seu redor, mundo todo é a função da Igreja, pois ela existe e vive
buscando e salvando os perdidos. A Igreja tem uma só enquanto estiver perpetuamente ocupada em chamar
missão, independente de como ou por quem ou em as pessoas ao arrependimento e trazê-las à fé. Diz Lute-
que lugar ou por que meios essa missão é realizada. Ao ro: “Pois a Igreja permanece com isto: converter outros
chamar a Igreja de volta ao evangelho, Lutero a estava à fé e chamar ao arrependimento.”70 E a dinâmica para
chamando de volta à missão. Por isso, para andar nos esta tarefa e natureza missionárias da Igreja é o próprio
passos de Lutero, o pensamento missionário atual da evangelho, sem o qual não há Igreja.
Igreja deve ser retornar das missões para “a missão”, a Por isso, a continuidade desta obra missionária é in-
grande obra de levar o evangelho de Cristo a todas as cumbência de cada congregação. Lutero mostra que faz
nações. Esta é a obra própria da Igreja Cristã.67 parte da essência da comunhão cristã que a Igreja pro-
O caráter universal do evangelho foi muito bem curará estender-se e trazer outros ao seu meio. Fica evi-
compreendido por Lutero. Repetidas vezes mostrou dente, deste modo, que o imperativo missionário está
que Deus havia dado seu Filho ao mundo, não para um relacionado ao conceito do sacerdócio real de todos os
povo ou para uma classe de pessoas, mas para a huma- crentes. Cada cristão, em virtude de seu relacionamen-
nidade inteira. Isto é expresso enfaticamente por ele no to com Deus, tem a vocação e a responsabilidade de ser
seu sermão de Ascensão baseado em Marcos 16.14-20, uma testemunha de Cristo.71
onde diz: “Visto que ele afirma: ‘Ide por todo o mundo Sua compreensão do caráter universal do evange-
e pregai a toda criatura’, assim ele não quer que ninguém lho, sua reafirmação da natureza missionária da Igreja
seja excluído”; e mais adiante: “Pois ‘todo mundo’ não e a redescoberta do sacerdócio real dos cristãos mos-
64. Ibid., p. 609-610. 68.W 11, 966,970.
65. Ibid., p. 610. 69.W 11, 951.
66. Ibid., p. 610. 70.W 6, 782.
67. KOSCHADE, p. 238. 71. KOSCHADE, p. 232.
tram como Lutero estava consciente da missão da Igreja sim estabelece uma conexão com os homens aos quais
e como seus ensinos e princípios teológicos servem de quer salvar. Em conseqüência, do ponto de vista de
fundamento para a obra missionária que a Igreja reali- Deus, o envio sempre tem um objetivo concreto a ser
zou durante estes cinco séculos e, igualmente, nos dias atingido — a salvação dos homens. Assim, a missão é
de hoje. obra do amor de Deus pela humanidade.75
A partir do texto de Mateus 24.14, Peter Beyerhaus,
3. Missão e Igreja falando sobre o conteúdo e objetivo da missão, diz que
ela acontece por nada menos que “a nomeação do Cru-
cificado e Ressuscitado no domínio do mundo.”76
3.1. O que é Missão? Também no Congresso Internacional de Evange-
A palavra “missão” designa a atividade divina que lização Mundial, realizado em Lausanne, a missão foi
emerge da própria natureza de Deus, pois o Deus vivo definida como proclamação: “evangelizar é divulgar
da Bíblia é um Deus que “envia”. Ele enviou os profetas, as boas novas de que Jesus Cristo morreu pelos nos-
seu Filho, os apóstolos, o Espírito Santo, a Igreja. As- sos pecados e ressuscitou dentre os mortos, segundo as
sim, a primeira missão é a missão de Deus, cujo centro
evidencia-se no envio de seu Filho ao mundo.72 E a mis-
75. Ibid., p. 40-41.
são da Igreja resulta desta missão do Filho ( Jo 20.21). 76. BEYERHAUS, Peter. Allen Völkern zum Zeugnis - Biblisch-the-
A Bíblia, em sua totalidade, atribui uma só intenção ologische Besinnung zum Wesen der Mission. Wuppertal: Rolf
para a ação de Deus: salvar a humanidade. Assim, tam- Brockhaus, 1972, p. 47.
bém o seu Filho foi enviado ao mundo apenas com este
objetivo: salvar a humanidade. Por isso, missão é Deus
em atividade, é obra de Deus.
O derradeiro mistério da missão, do qual ela ema-
na e do qual vive é: Deus envia seu Filho, Pai e
Filho enviam o Espírito. ... Esse processo do envio
intradivino é de eminente importância para a
missão e o serviço da Igreja. Sua missão está pre-
figurada na missão divina, seu serviço está prees-
tabelecido pelo serviço divino, o sentido e conteúdo
do trabalho estão determinados a partir da missio
Dei.73
missão real enviando o Espírito Santo. O argu- clusiva de Deus” com um objetivo definido — “a fim de
mento supremo para a missão... é o próprio Cristo proclamar as virtudes daquele que a chamou das trevas
e o que Ele revela e significa.84 para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). “A missão surge
da constituição, caráter, chamado e desígnios próprios
É na própria essência de Deus que a base mais pro- da Igreja”.90
funda do empreendimento missionário pode ser “Não existe nenhuma outra Igreja senão a Igreja en-
achada. Não podemos pensar em Deus a não ser viada ao mundo e não há outra missão a não ser a da
em termos que tornam necessária a idéia missio- Igreja de Cristo”.91 Por isso, o trabalho da missão não
nária.85 pode ser separado da obra da Igreja. “Todo serviço da
Igreja só tem sentido se levar à missão e nisso encontrar
seu objetivo último.”92
3.2. A Igreja Missionária A missão, e com ela a Igreja, são obra do próprio
A própria Igreja é resultado da missio Dei. O envio Deus. Ambas são tão-somente instrumentos de
que Deus realizou em Jesus Cristo e que continua sua Deus, através dos quais Deus promove sua mis-
atividade da época dos apóstolos até o dia de hoje levou são. Somente se a Igreja cumpre, em obediência,
à formação da Igreja. Se Deus não tivesse enviado seu a intenção missionária dele, ela pode também fa-
Filho, não haveria Igreja nem missão. Assim, a própria lar de sua missão, porque esta então está
Igreja é a maior prova de que o evangelho deve ser pro- acolhida na missio Dei. ... Portanto,
clamado aos pagãos. A Igreja realiza a obra da missão não cabe à Igreja decidir se ela
não porque tem o evangelho, mas tem o evangelho quer fazer missão, mas ela só
para que ele seja anunciado aos pagãos. “Somos Igre- pode decidir se quer ser Igre-
ja porque Deus quis a missão gentílica.”86 ja.93
Deus compadeceu-se dos homens. Ele quer salvá-
-los da condenação eterna. Por isso ele enviou o seu A obra missionária é, assim,
Filho, que trouxe a salvação. Pela fé a congregação não somente uma das atividades
toma parte neste envio. Ela é colocada no mundo da Igreja, mas o critério de todas as
para propiciar a salvação da humanidade e estar a suas atividades, pois reflete de modo
serviço do mundo.87 singular a própria essência da Igreja e do ministério da
reconciliação que lhe foi confiado. A Igreja foi chama-
A atitude da Igreja com relação ao mundo é deter- da e enviada por Deus ao mundo para chamar e enviar
minada pelo envio. Ela é a portadora da mensagem e é outras pessoas. “É exatamente pelo sair de si mesma
colocada no mundo e enviada ao mundo para procla- que a Igreja é ela mesma e volta a si mesma”.94
mar a palavra de Deus a este mundo perdido e assim Os sinais visíveis pelos quais se pode reconhecer a
reunir aqueles que ouvem a palavra e a aceitam em uma Igreja, a palavra e os sacramentos do batismo e da san-
congregação, a comunhão dos santos, o povo de Deus ta ceia, dados por Deus para a salvação dos homens,
na terra.88 são ao mesmo tempo o conteúdo do testemunho dos
A obra missionária é como um par de sandálias salvos. Por isso, palavra e sacramentos são de grande
dado à Igreja para que esta se ponha a caminho e importância na obra missionária.
continue avançando para tornar conhecido o mis- Faz parte do mandato missionário de Cristo que os
tério do Evangelho (Ef 6.19).89 discípulos, tendo ido, fizessem discípulos batizando e
ensinando. Pelo batismo a Igreja anuncia o perdão dos
A Igreja é, como diz o apóstolo Pedro, “raça eleita, pecados e proclama o Salvador ao mundo. Também
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade ex- oferece, pelo batismo, a nova vida que é fruto da fé no
84. PETERS, George W., p. 346-347. Salvador. E, para nutrir e fortalecer esta nova vida cria-
85. SPEER, R. E. apud PETERS, George W., p. 347-348.
86.VICEDOM, p. 62. 90. PETERS, George W., p. 200.
87. _____. Die Missionarische Dimension der Gemeinde. Berlin: 91. BLAUW, p. 122. (Grifo do autor).
Lutherisches Verlaghaus, 1963, p. 14. 92.VICEDOM, A Missão como Obra de Deus, p. 15.
88. _____, A Missão como Obra de Deus, p. 75. 93. Ibid., p. 16. (Grifos do autor).
89. BLAUW, p. 126. (Grifo do autor). 94. BLAUW, p. 123.
da pelo batismo, Cristo deixou à sua Igreja a santa ceia. em trevas, sem Deus e sem misericórdia, há de durar a
Pela santa ceia a Igreja sempre de novo torna-se uma tarefa missionária da Igreja Cristã.”99
Igreja que confessa seu Salvador perante o mundo.95 Em resumo, são as seguintes as pressuposições teo-
Estes meios missionários e dons de Deus — palavra lógicas da missão, elaboradas pela Comissão de Teolo-
e sacramentos — diferenciam a Igreja no ambiente em gia e Relações Eclesiais da Igreja Luterana - Sínodo de
que ela vive. Georg Vicedom comenta, a respeito disto: Missouri:
É um mistério o fato de, através deles, a Igreja in- 1. A missão da Igreja é fazer discípulos de todas as
fluenciar de modo mais incisivo seu ambiente jus- nações.
tamente quando ela mesma nada mais quer ser do 2. A missão da Igreja pressupõe que a Bíblia é a ins-
que uma comunidade do Senhor surgida através pirada e inerrante palavra de Deus.
dos meios da missão. Quanto mais deseja ser isso 3. A missão da Igreja pressupõe a total corrupção da
e somente isso, tanto maior sua influência sobre o totalidade da raça humana.
mundo. Através de seu testemunho, os povos vão 4. A missão da Igreja pressupõe o eterno plano de
sendo cristianizados aos poucos.96 salvação de Deus pela fé em Cristo.
5. A missão da Igreja pressupõe que a Igreja tenha
O Senhor Deus reuniu os cristãos em sua Igreja e sido instituída por Deus.
os mantém em seu serviço pela palavra e pelos sacra- 6. A missão da Igreja pressupõe que conversão é ex-
mentos. Assim, a Igreja se torna portadora da revelação clusivamente obra do Espírito Santo.
divina no mundo. Ela possui algo que outros não têm. 7. A missão da Igreja pressupõe a necessidade e cen-
Ela conhece a vontade de seu Senhor, que é a salvação tralidade dos meios da graça (palavra e sacramentos).
da humanidade. Esta Igreja recebeu pelo batismo a au- 8. A missão da Igreja pressupõe a distinção entre o
torização e o privilégio de testemunhar dos feitos ma- sacerdócio dos crentes e o ofício pastoral.
ravilhosos de Deus em Cristo, para que o mundo creia 9. A missão da Igreja pressupõe que Deus dá aos
e seja salvo. E Deus inclusive lhe dá os dons para o de- cristãos a graça de servi-lo em suas variadas vocações.
sempenho desta tarefa.97 10. A missão da Igreja pressupõe que Deus motiva
E a única motivação da Igreja para o desempenho seu povo a realizá-la, não pela pressão e com ameaças da
de sua natureza missionária é o próprio amor de Cristo, lei, mas pelas promessas do evangelho.100
que “amou a Igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da 3.3. Desafios atuais à Igreja Missionária
lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mes-
mo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa Há uma série de desafios que confrontam a Igreja
semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.25-27). missionária nos dias atuais. Um destes desafios é dei-
Esta Igreja amada pelo seu Senhor e Salvador tem um xar de ser uma Igreja nos moldes vétero-testamentários,
relacionamento tridirecional: para cima, com Deus, esperando sempre que as pessoas venham até à Igreja,
em adoração e louvor; para dentro, consigo mesma, em em vez de, motivada pelo amor de Deus em Cristo, ir
edificação, purificação, educação e disciplina; e para ao seu encontro, levando-lhes o evangelho da salvação,
fora, ao mundo, em evangelização e serviço.98 onde estiverem. Sobre isto, há a famosa frase de S. Vila:
O Senhor da missão também deixou sua Igreja cons- “Satanás soube traduzir a palavra ‘Ide’ por ‘Ficai aqui e
ciente de que o mundo iria contestar seu direito de exis- discuti’.”101
tir e de fazer missão, chegando a ponto de persegui-la e Mas aquilo de que nos ressentimos é o fato de sem-
tentar destruí-la. A Igreja seria “peregrina e forasteira” pre pensarmos somente em construir, em conser-
neste mundo (1 Pe 2.11), mas teria a presença constan- var, em mostrar tudo aquilo que possuímos. Sem-
te de seu Salvador, conforme sua promessa, “todos os pre viemos apenas “de onde” e nunca vamos “para
dias, até a consumação do século” (Mt 28.20). 99. BLAUW, p. 136.
Por isso, “enquanto houver neste mundo homens 100. EVANGELISM AND CHURCH GROWTH. A Report of the
Commission on Theology and Church Relations of the Luthe-
95.VICEDOM, A Missão como Obra de Deus, p. 88-91. ran Church - Missouri Synod, set. 1987, p. 8-24.
96. Ibid., p. 91. 101. VILA, S. apud LEHENBAUER, Oscar. Um Chamado à Reno-
97. Ibid., p. 93. vação no Luteranismo. Mensageiro Luterano, Porto Alegre: n. 6,
98. PETERS, George W., p. 209. jun. 1988, p. 16.
onde”. E este “para onde” chama-se plano de Deus Esta é também a opinião de Georg F. Vicedom,
e é para todos.102 quando fala sobre a dimensão missionária da congre-
gação cristã, pois assim como ela foi escolhida para tes-
É preciso que a Igreja viva descentralizadamente, temunhar e servir, também recebeu os dons necessários
procurando o seu centro não em torno de si mesma, para este testemunho e serviço — a presença do Espí-
mas fora, voltando-se para o mundo e sendo uma Igreja rito Santo.106
para os outros. Como comenta John R. W. Stott: “So- Neste aspecto, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil
mos com freqüência a ‘Igreja da espera’, onde simples- mostrou sua compreensão desse desafio e durante anos
mente se aguarda a vinda das pessoas. Devemos subs- tem oferecido lado a lado o evangelho da salvação e o
tituir nossas ‘estruturas-de-vir’ por ‘estruturas-de-ir’.”103 auxílio às necessidades do homem. Assim, foram cria-
Deste modo, a Igreja estará efetivamente realizado a dos os Centros Integrados de Missão, o Centro Edu-
missão centrífuga, a ida às nações. cacional para Deficientes Auditivos, o Instituto Santís-
Outro desafio à Igreja atual é a mudança do concei- sima Trindade de Moreira e o Lar Ebenézer em Porto
to de missão, que é vista hoje como um instrumento Alegre, bem como diversos empreendimentos em nível
de ação social e libertação, na busca de mudanças nas congregacional, para citar apenas alguns exemplos.
estruturas sociais.104 Dessa forma, no Brasil, missão é Além disso, as Áreas de Missão e de Ação Social
libertação da opressão, reconstrução de um novo mun- têm trabalhado de forma integrada, deixando claro que
do; a conversão é vista como mudança de interesses; a faz parte da ação missionária da Igreja o atendimento
salvação como melhoria das condições do mundo; a às necessidades físicas e materiais do ser humano, que
liberação como criação de um novo homem; a Igreja missão e diaconia devem andar lado a lado.
como instrumento para criar este novo mundo. Esta Logicamente, há aqueles que chegam ao extremo,
nova conceituação esquece de reafirmar os ensinamen- achando que missão é somente assistência social, aten-
tos sobre o pecado pessoal, reconciliação com Deus, ção à situação do ser humano e auxílio aos problemas
revelação, vida eterna e fé em Jesus Cristo. que ele enfrenta na sociedade moderna. Assim age
Outra dimensão da missão da Igreja é evidencia- muitas vezes a teologia da libertação, que converte a
da em seu caráter diacônico. Sem dúvida, faz parte da missão em mero atendimento às necessidades terre-
missão da Igreja o seu caráter diacônico, de serviço à nas do homem e numa luta contra as assim cha-
humanidade. A salvação oferecida por Cristo sempre madas “estruturas do poder”. Por isso, é sempre
é total, abrangendo corpo e alma, e a missão da Igreja atual e importante o alerta de Hugh Thomson
deve acontecer sempre visando a totalidade do homem. Kerr:
Também a diaconia pode ser expressão da mis- Não somos enviados para pregar sociologia mas sal-
são, no sentido verdadeiro, quando ela apresenta vação; não economia mas evangelismo; não refor-
o amor de Deus, como ele veio a nós através de ma mas redenção; não cultura mas conversão; não
Cristo. Isto significa que, se ela indica que aquilo progresso mas perdão; não uma nova ordem social
que faz é feito de acordo com a vontade de Cristo, mas um novo nascimento; não revolução mas re-
motivado por ele, com o objetivo de tornar real sua generação; não renovação mas reavivamento; não
vontade salvífica.105 ressuscitamento mas ressurreição; não uma nova
organização mas uma nova criação; não democra-
102. FREYTAG, p. 221.
103. STOTT, John R. W. A Base Bíblica da Evangelização. In: LAU- cia mas o evangelho; não civilização mas Cristo;
SANNE, p. 38. somos embaixadores e não diplomatas.107
104. COMBLIN, José. Medellín: Vinte Anos Depois. Revista Eclesi-
ástica Brasileira, Petrópolis: n. 192, dez. 1988, p. 807. SCHE- Este é um grande desafio à Igreja missionária. Man-
RER, James A. ...that the Gospel may be sincerely preached
throughout the world. LWF Report, Stuttgart: n. 11/12, nov. ter a tensão necessária entre a proclamação do evange-
1982, p. 93. GUTIÉRREZ, Gustavo. The Hope of Liberation. lho e o auxílio às necessidades físicas das pessoas é de
ANDERSON, Gerald H. e STRANSKI, Thomas R. Third World vital importância na obra missionária. Mas a Igreja não
Theologies. In: Mission Trends. New York/Grand Rapids: Paulist
Press/Wm. B. Eerdmans, 1978, v. 3, p. 65-69. BOFF, Leonardo.
Evangelizar a partir das culturas oprimidas. Revista Eclesiásti- 106. VICEDOM, Die Missionarische Dimension der Gemeinde, p.
ca Brasileira, Petrópolis: n. 196, dez. 1989, p. 833. 32.
105. BEYERHAUS, p. 48. 107. KERR, Hugh Thomson apud PETERS, George W., p. 209.
Rádio Farroupilha, em Porto Alegre, iniciativas se deveu à Igreja como gada pelos cristãos na difusão de to-
RS, o primeiro “sermão radiofônico”. um todo, mas a determinados seg- das as gentes.” Finalmente, a nota faz
Todavia, a Igreja começou a atuar mentos dela. um prenúncio indireto para o uso da
organizadamente no rádio apenas em A década de 1990 marcou um televisão pela IELB: “Em anos não re-
1947, através da Hora Luterana, a Voz motos... poderá se tornar também em
período de declínio acentuado. To-
da Cruz.3 A organização surgiu com o nosso país... na anunciação da Palavra
davia, no final dela iniciou-se um
objetivo de produzir programas para de Deus”.4
serem reproduzidos em emissoras bra- processo de renovação de interesse, De acordo com Paulo Buss, os pri-
sileiras. especialmente pelo tema comunica- meiros registros do interesse da Igreja
A ruptura entre as organizações re- ção, cujo auge se deu em 2006. em usar os veículos aparecem em 1960.5
ligiosas e os meios de comunicação de Neste ano, a Convenção Nacional da
massa vem diminuindo, como ficou Décadas de IELB determinou que o Departamen-
evidenciado no Capítulo 2. Nos últi- 1940 a 1960
mos anos, não só a televisão, mas tam- 4 A HORA LUTERANA e a televisão.
bém a internet se tornou um meio de Ao que tudo indica, a primeira re- Mensageiro Luterano, Rio de
expressão da religiosidade das pessoas. ferência de eventual uso da televisão Janeiro, n. 6, ano 31, p. 43, 44, jun.
Rapidamente, elas vêm construindo 1948. O que se percebe através da
pela IELB é de junho de 1948. Uma publicação da nota é que mesmo antes
sites, portais e emissoras virtuais de nota da revista Mensageiro Luterano, do início das transmissões de televisão
televisão e rádio, além de chats, blogs, órgão oficial da Igreja, dava conta de no Brasil, a IELB já estava interessada
fóruns, etc. A IELB colocou a primeira que, em 1 de janeiro daquele ano, a no assunto, tendo como ponto de
versão do seu site na internet em feve- organização Hora Luterana (da Igreja referência a Igreja Luterana — Sínodo
reiro de 1997. Dezenas de organizações de Missouri, dos Estados Unidos. (A
Luterana — Sínodo de Missouri), dos mesma revista publicou outra nota do
e congregações da Igreja mantém sites. Estados Unidos, havia transmitido seu uso da televisão por luteranos nos EUA
Todavia, o investimento neste veículo primeiro programa pela televisão. Pa- em maio de 1949, p. 39.)
ainda pode ser considerado tímido. ralelamente a esta transmissão, foi rea- 5 Deve se entender a expressão de Buss
lizado em uma congregação “um culto como sendo referência ao primeiro
registro de uma ação concreta para uso
Visão histórica geral no por televisão”, considerado o “primeiro da televisão, haja vista a nota anterior.
uso da televisão culto desta espécie realizado na
América.” Quase ao final
A televisão chegou ao Brasil em da nota, é dito que
1950. Somente cerca de 25 anos de- “esta maravilho-
sa invenção
pois a IELB começou a utilizar este
deve ser
veículo de forma regular. empre-
A década de 1980 marcou o
apogeu e a decadência da Igreja uso
da TV como veículo de evangeliza-
ção. Neste período, a IELB chegou
a ter oito programas de veiculação
regular. Hoje, possui um. Dado
significativo é que nenhuma destas
to de Educação Paroquial tivesse como “Pela TV o Evangelho entra em lares vestir em televisão é revelada através
uma das suas atribuições o estudo da nunca imaginados”; “A televisão... é de uma série de indicativos situados
possibilidade de produzir programas um instrumento valioso para a missão”. no ano de 1976, especialmente.
religiosos para a TV. Outro registro, de Hilmar também diz que num país onde Para fins históricos, este ano pode
1962, indica que a Igreja esperava ini- os evangélicos são absoluta minoria, ra-
ser apontado como o início de uma
ciar, em breve, programas religiosos de dio e televisão são praticamente os úni-
nova era na Igreja no que se refere à
televisão em algumas capitais de esta- cos meios de comunicação com o povo.
dos brasileiros. Todavia, conclui Buss, Ele cita o exemplo do Japão: 30% dos comunicação e à televisão.
“o acesso à televisão continuava um so- membros de igrejas luteranas do país O primeiro indicativo é a pre-
nho não realizado no final da década.”6 tiveram seu primeiro contato com o sença do assunto “meios de comuni-
Em 1969, a Igreja fez publicar uma cristianismo através do rádio e da TV. cação de massa” na 45ª Convenção
matéria onde novamente o assunto é Em razão disto, diz, é de se estranhar Nacional, realizada nos dias 21 a 26
tratado. Com o título Vamos à T.V. [sic], a ausência marcante de programas de janeiro, em São Leopoldo, RS.
o artigo inicia dizendo que há muito a das igrejas no Brasil, particularmente Durante o evento foram realizadas
IELB vem sonhando com um progra- as igrejas protestantes. Por fim, o au- dez oficinas sobre diferentes
ma de TV, mas que até o momento tor sugere um caminho a ser trilhado: temas. Uma delas teve
nada havia sido conseguido. Novamen- “reunião de todas as forças disponíveis
como tema Os
te é citado o exemplo dos luteranos dos para ao patrocínio, a compra de espaço
meios de comu-
Estados Unidos, que mantinham diver- na TV, censura e dublagem dos filmes.
sos programas. Em seguida, o texto traz O evangelho nos deve ser tão caro que nicação social
uma informação que ainda não havia nada nos seja caro demais para a sua e a Igreja.
aparecido em registro anterior: de que transmissão aos homens.”8 O segun-
há anos a IELB tinha o interesse em do momento
se localiza
transmitir no Brasil um dos programas Década de 1970 em setembro
de maior audiência nos EUA, o Esta é
a Vida. É dito que um pastor da Igreja deste ano,
A década de 1970 marca o início
havia assumido a direção da Hora Lu- quando foi
de um processo regular no uso da te- publicada uma
terana Internacional e que ele estava levisão pela IELB. Historicamente,
“convicto de que em muito breve tere- extensa reporta-
é possível dizer que o ponto de par- gem sobre a Hora
mos este programa na TV brasileira.”7
tida foi uma reorganização adminis- Luterana Inter-
Após estas notas introdutórias, o
texto apresenta um artigo do pastor trativa da Igreja. Ela iniciou em ja- nacional,
Hilmar Kannenber, da Igreja Evangéli- neiro de 1972, em uma Convenção dos Esta-
ca de Confissão Luterana no Brasil (IE- Nacional. Todos os departamentos dos Unidos,
CLB). A transcrição do artigo no Men- e comissões até então existentes responsável
sageiro Luterano tem um claro cunho deram lugar a quatro departamen- pelo então
de incentivo e desafio para a IELB: a tos, cada qual dirigido por um se- maior pro-
importância e a necessidade de usar a grama de rá-
cretário executivo. Inicialmente, os
TV como veículo de evangelização no dio de uma
departamentos eram estes: Missão, organização
Brasil. O artigo faz afirmações como Educação Paroquial, Educação Mé-
estas: ”Ninguém deixa de ver TV, nem não governamental.9 A matéria enfoca
dia e Superior, e Finanças. Na Con- os investimentos feitos pela organiza-
mesmo os seus maiores críticos”; “A
venção Extraordinária de 1976 foi ção no rádio e na televisão.
TV atinge todas as camadas sociais”;
criado mais um departamento: Co- A comunicação pelo rádio e pela te-
6 BUSS, op.cit., p. 87. municação. Foi a partir da criação levisão também teve novamente amplo
7 VAMOS à T.V. Mensageiro
deste Departamento que o investi- destaque no Mensageiro Luterano em
Luterano, Porto Alegre, n. 11, ano 52,
p. 16, nov. 1969. Esta série estreou nos mento em comunicação na Igreja dezembro. Nesta edição foi publicada
EUA em 1952 e ficou no ar até o final — também em televisão — ganhou na revista uma extensa entrevista com
da década de 1980. Originalmente
um significativo impulso, tendo seu Oswald Hoffmann, orador em língua
era produzida pela Igreja Luterana inglesa da Hora Luterana Internacio-
— Sínodo de Missouri e distribuída auge em meados da década de 1980.
International Lutheran Laymen’s Esta tendência na IELB de in- 9 Na época, o programa era transmitido
League (Liga Internacional de Leigos por 1.800 emissoras de 125 países e
Luteranos). 8 Idem. em 50 línguas diferentes.
nal, além de conferencista em cruza- ordem missionária para os seus segui- Outra marca da segunda metade
das evangélicas ao redor do mundo. dores (cf. Capítulo 1), ele “certamente da década foi o empenho do primei-
Em março, Hoffmann havia estado no também quis referir-se ao uso dos mo- ro secretário executivo eleito para
Brasil e realizado cruzadas em várias dernos meios de comunicação, qual seja o Departamento de Comunicação,
cidades brasileiras. Entre uma série de a Imprensa, o Rádio e a Televisão.”11
pastor Leopoldo Heimann, no sen-
outros assuntos, ele comenta sobre a No anuário também foi é publica-
tido de desenvolver uma série de
diferença entre a comunicação pelo rá- da o que parece ser a primeira reflexão
dio e a pela televisão. Diz que o rádio crítica impressa na IELB sobre o que é ações em comunicação. Uma delas
é um meio de som e, por isso, a produ- denominado “mass-média”, ou seja, os foi o início de uma série de Con-
ção precisa ser “praticamente perfeita”; grandes meios de comunicação. São ci- gressos Luteranos de Comunicação.
caso contrário, as pessoas desligam. De tados: jornal, revista, livro, rádio, filme O primeiro Congresso aconteceu
outro lado, a televisão é um forte meio e televisão. O texto fala sobre a pres- nos dias 23 a 25 de maio de 1978, em
audiovisual. Daí a importância de se são que estes veículos exercem sobre a São Leopoldo, com mais de 200 parti-
utilizar imagens para acompanhar a “massa”. Por si só, os veículos são neu- cipantes. Uma justificativa para a reali-
fala. Hoffmann também diz que, en- tros, mas que podem ser utilizados para zação do evento apareceu em matéria
quanto os programas de o bem ou para o mal.. do Mensageiro Luterano da edição de
rádio custam ficar no Em seguida, o artigo avalia como abril daquele ano. É dito que a Igre-
ar por muito tempo, o cristão deve se posicionar diante dos ja deve conhecer e procurar investir
os de TV se esgotam “mass-média”. Duas atitudes básicas são nas novas formas de comunicação que
rapidamente.10 citadas. Em primeiro lugar, é necessário estão à disposição para o anúncio do
Neste mesmo escolher e controlar bem o que é lido Evangelho. Assim, o encontro tinha
ano saiu uma pu- e visto. Em segundo lugar, o cristão e como objetivo refletir sobre a “impor-
blicação (lançada a Igreja devem fazer uso correto “dos tância e necessidade de se utilizar cada
no final de 1975) maravilhosos meios de comunicação.” vez mais e melhor dos diversos veículos
que dava indícios É preciso usar o rádio e a TV para de comunicação social.”14
concretos do interes- transmitir bons programas, ou seja, que Na edição do Mensageiro Lutera-
se da Igreja em investir veiculem a Palavra de Deus. Assim, “os no em que foi publicada a reportagem
em comunicação. Trata-se meios de comunicação podem ser uma sobre o Congresso, Heimann justifi-
do anuário Lar Cristão grande bênção para a humanidade.”12 ca a realização do evento por vários
1976, que tinha como Além destas abordagens no Men- motivos. Um deles era analisar “este
título de capa Ide, sageiro Luterano e no Lar Cristão, um complexo mundo das comunicações:
comunicai... O outro indicativo é que neste ano iniciou os veículos, as mensagens, o estranho
anuário tra- o primeiro programa regular da IELB comportamento de nossa sociedade
zia cerca de na televisão: o A Hora, de Erechim, RS. massificada...” Um outro motivo era
20 textos Durante quatro ano ele permaneceu provocar o despertamento da IELB so-
abor- como o único programa da Igreja na bre a necessidade de “utilizar, cada vez
dando a TV.13 mais e melhor, estes novos púlpitos que
c o mun i c a ç ã o a ciência e a técnica colocaram à nossa
da Igreja em di- 11 WARTH, R. Pelo microfone. IN: Lar
Cristão 1976. Porto Alegre: Concórdia.
ferentes contextos (no lar, na escola, Ano XXVII, p. 59. religioso na TV —, somente algumas
na cátedra, no púlpito, etc.). Não há 12 KUCHENBECKER, H. O uso dos linhas realmente tratam do assunto em
uma referência direta ao uso da televi- meios de comunicação. IN: Lar termos de informação. É dito que “Deus
são. Todavia, onde o rádio é abordado, Cristão 1976. Porto Alegre: Concórdia. nos abriu uma grande porta e está nos
é dito que, quando Jesus Cristo deu a Ano XXVII, p. 76-78. dando uma possibilidade extraordinária
13 Este e outros programas regulares para levar a mensagem da salvação a
10 DINAMISMO e progresso na da IELB serão vistos na parte 2 deste lares, através de um programa semanal
Igreja. Mensageiro Luterano. Porto estudo (vide próxima edição da Revista na TV...” e que se tratava do primeiro
Alegre, n. 2/3, ano 59, p. 16, fev./mar. Teologia & Prática) 4. Ao que tudo na Igreja. TILP, Edgar. Erechim tem
1976; HEIMANN, Leopoldo. O maior indica, a primeira informação oficial de programa religioso na TV.
programa religioso do mundo! que havia surgido o primeiro programa Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 5,
Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 9, religioso da IELB na televisão aconteceu ano 60, p. 20, maio 1977.
ano 59, p. 13-15, set. 1976; HEIMANN, somente em maio de 1977. Embora a 14 KUCHENBECKER, Horst. 46º
Leopoldo. Cristo é o Senhor. reportagem de dois terços de página Convenção Nacional da IELB.
Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 12, do Mensageiro Luterano aponte para Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 4.
ano 59, p. 5-9, dez.. 1976. o fato — Erechim tem programa ano 61p. 9, abr. 1978.
cinema, do livro, dos jornais, das revis- tivesse bem, o da televisão estava tendo
tas, dos cartazes.” Em seguida, o autor problemas crescentes, pois estava au-
diz que “os meios eletrônicos de massa mentando cada vez mais a dificuldade
devem estar a serviço da propagação de transmitir programas religiosos por
do evangelho” e que a Igreja precisa este veículo.
usar “todos aqueles instrumentos de Conforme visto no Capítulo 2, as
comunicação que vão mais alto e mais décadas de 1970 e 1980 foram marca-
longe.”24 das pela forte presença de tele-evange-
O crescente interesse da IELB pela listas na televisão Brasileira. O assunto
televisão também pode ser notado no foi pautado pela revista Mensageiro
aumento do número de artigos publi- Luterano de janeiro/fevereiro de 1981.
cados na revista oficial da Igreja a partir A matéria é uma crítica, especialmen-
de meados da década. Havia uma certa te, ao norte-americano Rex Humbard.
preocupação sobre o conteúdo da TV e Suas pregações são consideradas espe-
o seu efeito sobre as crianças. Por exem- táculos teatrais e de autopromoção.
plo, em outubro de 1977 foi publicada Além disso, ele é acusado de usar da
uma matéria Televisão, a nova moléstia boa fé dos evangélicos brasileiros. Por
da infância. Em abril de 1979 o assunto isso, após escrever que Humbard fizesse
foi As crianças da geração televisão. seus programas onde e como quisesse, o
autor faz um apelo: “mas que faça tudo
Mensagei-
ro Luterano
Década de 1980 isto à sua própria custa e não use e abuse
de nossa gente e dos nossos recursos.”26
é publicada De outro lado, o autor também
A década de 1980 marca o apogeu
uma entrevista critica os crentes evangélicos, que se
da presença da IELB nos meios de co-
com o recém eleito deixam levar pela “genuína danças das
municação, particularmente na TV.
Presidente da IELB, Jo- cores para impressionar os olhos, di-
Um dos primeiros registros desta fase
hannes Gedrat. Em uma das vertir e deleitar o povo, seguido sempre
foi um evento que aconteceu nos dias
perguntas foi colocada a reali- do maior milagre, real milagre e único,
2 e 3 de setembro de 1980, quando a
zação do 1º Congresso de Co- o de coletar fundos financeiros como
Hora Luterana realizou um encontro
municação que aconteceria em nunca se fez entre os evangélicos do
de colaboradores, na cidade de São
breve e a “convicção de que igre- Brasil...” Por esta razão, os crentes são
Paulo. Há registro de que os programas
ja precisa anunciar a mensagem de instados a saírem do “esclerosamento
regulares de TV da IELB que existiam
Cristo através dos veículos de massa”. espiritual” e “usar a cabeça”.27
na época (A Hora, A Voz da Cruz e
Perguntado sobre sua opinião acerca Nos últimos anos da década de
Expectativa) foram alvos de considera-
do assunto, Gedrat respondeu: “A igre- 1970 e no começo da década de 1980
ções durante o evento.25
ja deve utilizar-se de todos os veículos surgiram quatro programas de televi-
O encontro da Hora Luterana tam-
para levar aos homens a mensagem da são na IELB. Em abril de 1981, a revis-
bém revela uma dupla face da realidade
salvação em Cristo.”23 ta Mensageiro Luterano publicou uma
do uso religioso da TV por luteranos
Em dezembro deste mesmo ano, extensa reportagem sobre eles.
dos Estados Unidos e do Brasil. Este-
um editorial da revista Mensageiro Lu-
ve presente no encontro um represen- 26 EGG, Carlos René. A dança das
terano insistia na necessidade da Igreja
tante da Igreja Luterana — Sínodo de cores — Rex Humbard no Brasil.
sair de si mesma e divulgar ao grande Mensageiro Luterano, Porto Alegre,
Missouri, dos EUA. Ele falou sobre o
público a mensagem de Cristo. O texto n. 1, ano 64, jan./fev. 1981, p. 16,17.
trabalho desta Igreja no rádio e na te-
dizia que, caso Cristo desafiasse a sua Este artigo havia sido originalmente
levisão. Embora o trabalho no rádio es- publicado dois anos antes no jornal
Igreja hoje para a evangelização, diria
algo como: “proclamai-o através de O Estandarte, da Igreja Presbiteriana
24 HEIMANN, Leopoldo. Proclamar Independente do Brasil.
todos os veículos de comunicação so- dos telhados. Mensageiro Luterano, 27 Idem. O assunto voltou às páginas do
cial... através do rádio, da televisão, do Porto Alegre, n. 12, ano 60, p. 3, dez. Mensageiro em novembro de 1985
1977. (p. 32), onde é citada uma matéria
23 HEIMANN, Leopoldo. “Aceito 25 SEIBERT, Erni W. A Hora Luterana publicada no jornal Folha de São Paulo
minha eleição como um continua levando Cristo para as (24/02/1985) sobre o fenômeno
chamado especial de Deus”. nações. Mensageiro Luterano, Porto da Igreja Eletrônica e as cifras
Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 5, Alegre, n. 11, ano 63, p. 11,12, nov. astronômicas envolvidas e o esquema
ano 61, p. 7, maio 1978. 1980. de marketing utilizado.
Na abertura da matéria são mos- programa de televisão, pois a seara está O pastor Nikolai Neumann fa-
trados rapidamente os investimentos madura e não há tempo a perder.” 29 lou sobre a manutenção de progra-
feitos pela Igreja nos meios de comu- Ainda em 1981, foi publicada no mas religiosos, particularmente no
nicação, como a imprensa e o rádio. Mensageiro Luterano uma reportagem rádio e na televisão. Para ele, este
Também são citados eventos abordan- sobre o 3º Congresso Luterano de Co- era o “calcanhar de Aquiles”. Suge-
do a Igreja e os meios de comunicação. municação, realizado em São Leopol- riu que cada congregação da Igreja
Referindo-se ao uso da TV, é dito que do, com a participação de 198 inscri-
“mesmo conhecendo, há tempo, a im- criasse uma equipe de pessoas inte-
tos. O tema geral foi É tempo de falar.
portância e a penetração da TV e a ne- ressadas nos meios de comunicação
Esse congresso, como os anteriores, foi
cessidade de utilizar este maravilhoso uma promoção do Departamento de
e que previsse em seu orçamento in-
instrumento de comunicação, faz pou- Comunicação da Igreja.30 vestimentos nestes meios.
cos anos que a igreja mantêm progra- Neste encontro, o uso da televisão O jornalista Roberto Thomé pales-
mas regulares.”28 como veículo de evangelização recebeu trou sobre os equipamentos utilizados
A reportagem também explica que destaque sob diferentes ângulos. O jor- para se fazer TV. Em sua avaliação, por
as principais dificuldades para mul- nalista Carlos Henrique Weber pales- causa dos altos custos destes equipa-
tiplicar o número de programas são o trou sobre as características de um pro- mentos, a solução mais adequada era
alto custo de veiculação, poucos profis- grama religioso na TV. Ele afirmou que usar os que as emissoras locais possuí-
sionais qualificados e carência de equi- a TV é um grande desafio missionário am.
pamento. Em seguida, são apresenta- que requer uma equipe capaz de O convidado especial do evento for
dos os quatro programas regulares atuar o jornalista Ruy Carlos Ostermann.
que existiam na época: A Hora Ele falou sobre a sua experiência da te-
(Erechim, RS), A Voz da Cruz levisão sob vários aspectos e
(Cruz Alta. RS), Expectati- repassou orientações
va (Vitória, ES) e Expec- sobre o seu uso
tativa (Cascavel, PR). adequado.
Além de historiar Ta m b é m
os programas com houve um painel
informações de pes- para que os pro-
soas ligadas a eles, gramas de TV
a matéria também então existentes
traz opiniões de- pudessem rela-
las sobre o uso da tar suas experi-
TV. Em uma delas ências.
é dito que a Igreja É significa-
está atrasada “no tivo notar que
tempo e no espaço. durante o Con-
Se Deus deu sabe- gresso foi utili-
doria ao homem para zado considerável
aperfeiçoar a técnica, por tempo para discutir
que não colocar Cristo como a criação de uma “central de
estandarte vivo na frente desta técni- produção e informação” da IELB. Um
ca? A TV não pode ser esquecida.” levantamento feito indicava que, em
Em seguida, é afirmado que, embora média, os programas exigiam doze ho-
a TV seja um investimento caro, mais ras semanais de produção. A idéia era
caro é o Evangelho de Jesus Cristo e a criar um núcleo que alimentasse os
salvação das pessoas. Por esta razão, é programas regionais com material re-
dito que “se o apóstolo Paulo estives- nas mais diferentes áreas, desde a pro- colhido entre as pessoas que atuavam
se aqui hoje, por certo estaria voando dução até a execução. na área. Com isso, se evitaria desperdí-
em supersônico, falando pelo rádio, cio de talentos, de tempo, de energia e
29 Ibidem, p. 11. de dinheiro.31
28 HEIMANN, Leopoldo. Proclamando 30 GRASEL, Gerhard e JUNG, Paulo Kerte.
Cristo do alto dos telhados. É tempo de falar. Mensageiro
Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 4, Luterano, n. 10, ano 64, p 4-8, out. 31 Na reportagem citada é dito que “a
ano 64, p 6, abr. 1981. 1981. idéia da central está germinando”.
Uma iniciativa da Redação do Men- Na época, o presidente da LLLB, estavam “em fase de preparação para
sageiro demonstra a importância que Alcion Sponholz, apresentou o projeto dublagem” e que os filmes “possivel-
a atuação da IELB no rádio e na TV através da revista Mensageiro Lutera- mente ainda neste ano serão apresenta-
estava tendo no início da década. Na no. Segundo ele, os programas tinham dos no Brasil.”38
edição de janeiro de 1982 estreou uma o propósito de despertar no telespecta- Nos dias 25 a 32 de maio de 1983,
nova coluna, como o nome de Rádio e dor o interesse para que se aprofundas- a IELB realizou o primeiro Concílio
TV. Na justificativa da Redação consta se no tema e buscasse a igreja.35 Nacional de Obreiros, em Florianópo-
que o espaço estava sendo aberto para Foram produzidos dez progra- lis, SC. Um dos estudos tratou sobre O
que programas regionais, mantidos por mas com a duração de dois minutos, obreiro e sua Igreja, onde foi destacado
indivíduos, congregações e distritos, apresentados pelo pastor Nilo Figur. a atenção especial que deve ser dada ao
pudessem divulgar suas atividades mis- Os temas eram variados e tratavam de conteúdo das pregações, tanto no púl-
sionárias pelo rádio ou TV. A coluna questões como o sentido da vida, a es- pito tradicional ou em “outros púlpi-
iniciou com uma matéria de página in- perança, medo da morte, ansiedade, fé tos”, como a televisão.39
teira sobre o programa Expectativa, de e ciência.36 O primeiro programa foi Ainda em 1983 foi publicada uma
Vitória.32 oficialmente apresentado — e avaliado nota no Mensageiro Luterano concla-
Como havia acontecido com a edi- — durante o VI Congresso Nacional mando os leitores a colaborarem na re-
ção de 1976 do anuário Lar Cristão, a da LLLB, realizado nos dias 18 a 21 de posição do acervo da TVE — Funda-
edição de 1982 enfocou a comunicação agosto de 1983, em Caiobá, PR.37 ção Televisão Educativa do Rio Grande
da Palavra de Deus de diversas formas. Em junho de 1983, uma matéria do Sul — que havia sido destruído por
Também foram apresentados os quatro publicada no Mensageiro Luterano um incêndio. Os leitores foram convi-
programas de TV que existiam então: dava conta que o projeto de veicular a dados a enviar para a emissora “tudo o
A Hora, A Voz da Cruz, Expectativa série Esta é a vida ainda estava em an- que for útil à preservação da memória
(Vitória, ES) e Expectativa (Cascavel, damento. É dito que 100 filmes “ad- do RS, como fitas, cassete, livros, revis-
PR).33 quiridos pela rede de Televisão SBT” tas, áudios, discos, etc.”40
Nesta década surgiu uma outra ini- uma aconteceu no Distrito Paraná- O ano de 1984 marcou o apogeu da
ciativa que procurou usar a televisão Leste, tendo como base a cidade de IELB no uso da televisão como veículo
como instrumento de evangelismo: o Curitiba, PR. Espaços foram comprados evangelizador. Igreja tinha programas
Projeto Um Momento. A Liga de Lei- em uma emissora de TV. Durante em oito canais de TV, nos estados do
gos Luteranos do Brasil (LLLB) resol- vários dias, programas Um Momento Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pa-
foram veiculados em diferentes
veu, em um congresso nacional extraor- horários. Ao final de cada programa, raná e Espírito Santo, além do alcance
dinário, realizado em janeiro de 1982, era fornecido um número telefônico, das áreas vizinhas a estes estados. Estes
que destinaria 80% das ofertas recebi- através do qual era possível obter mais programas tinham uma duração total
das para investimento evangelísticos informações sobre o assunto, além de 93 minutos, utilizados semanalmen-
no rádio e na televisão. Segundo Paulo de outros materiais evangelísticos. Foi te. Na avaliação de Hugo Assmann, os
montada uma equipe de atendimento
Buss, a Liga, auxiliada pelo Departa- na Comunidade São Paulo, do bairro luteranos da IELB faziam “um esforço
mento de Comunicação da IELB e Portão. de programação evangélica de nível
pela Hora Luterana, criou a Comissão 35 SPONHOLZ, Alcion. Projeto Rádio técnico e conteúdo responsável.”41
Rádio e TV. A Comissão liderou a pro- e TV. Mensageiro Luterano, n. 8, ano Neste sentido, é emblemática uma
dução do programa Um Momento, cujo 66, p. 20, ago. 1984. edição da revista Mensageiro Luterano
36 Idem.
objetivo era auxiliar as congregações da 37 KUCHENBECKER, Horst. O desafio 38 JUNG, Paulo K. Hora Luterana.
Igreja em campanhas evangelísticas.34 dos leigos: missão pela TV. Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 6,
Mensageiro Luterano, Porto Alegre, ano 66, p. 26, jun. 1983.
O assunto voltaria à pauta de um n. 6, ano 66, p. 8-10, out. 1983. O 39 SEIBERT, Erni Walter. O Concílio
Congresso de Comunicação em 1984. projeto ainda estava em andamento Nacional de Obreiros. Mensageiro
32 UM ANO de Expectativa. Mensageiro em 1985. Em matéria no Mensageiro Luterano, Porto Alegre, n. 6, ano 66, p. 4,
Luterano, Porto Alegre, n. 1, ano 65, Luterano, o então presidente da LLLB, ago. 1983.
p. 37, jan. 1982. Alcion Sponholz, escreve sobre o 40 TVE começa de novo. Mensageiro
33 O programa Expectativa de Projeto Participação. Uma das ações Luterano. Porto Alegre, n. 9, ano 66,
Cascavel estava fora do ar quando do Projeto era a arrecadação de p. 32, set. 1983.
do fechamento desta edição do Lar fundos e o investimento no programa 41 ASSMANN, Hugo. A Igreja
Cristão. Veja na próxima edição desta Um Momento. SPONHOLZ, Alcion. O Eletrônica e seu impacto na
revista. presidente da LLLB fala sobre o América Latina. Petrópolis: Vozes,
34 Não foi localizado registro oficial de Projeto Participação. Mensageiro 1986, p. 123. Assmann informa que a
campanhas evangelísticas com base Luterano, Porto Alegre, n. 3, ano 68, p. duração total dos programas da IELB
nos programas. Todavia, ao menos 10,11, mar. 1983. era de “cerca de 100 minutos”.
também diz que não adianta a Igreja uso da televisão. Figur estava voltando
ter uma assessoria de imprensa, se não à Secretaria Executiva de Comunicação
possui uma estrutura de comunicação. da IELB após um período de quatro
Para ele, apenas levar sugestões de anos em que a função deixou de exis-
pauta aos veículos da Capital [Por- tir.70
to Alegre] “equivale à comunicação Após afirmar que existe uma rela-
com tambor em aldeia, quando os ção importante entre a comunicação e
meios eletrônicos levam mensagens aos a Igreja, Figur diz que é “difícil enten-
confins do universo.”68 der” como uma Igreja que historica-
A crescente presença da Igreja Uni- mente tinha uma íntima relação com a
versal do Reino de Deus (leia-se Edir comunicação resolveu, em 1987, privar
Macedo) na mídia, especialmente na a Área de Comunicação de ter uma pes-
televisão, foi motivo de nota e comen- soa para coordená-la. Em seguida, ele
tário no Mensageiro Luterano de maio demonstra satisfação porque a função
relação à comunicação de uma forma de 1991. Na nota, é informado que foi restabelecida através de decisão da
geral foi publicada no editorial do milhares de fiéis estavam levando, aos Convenção Nacional.
Mensageiro Luterano de novembro de templos da Universal, envelopes com No restante do artigo, Figur tam-
1990. Assinado por Astomiro Romais, dinheiro como resposta à Operação bém não cita especificamente a tele-
a reflexão diz que, ao contrário do que Salmo 91. A Operação tinha o objetivo visão, mas argumenta que “este é um
tradicionalmente aconteceu durante a de arrecadar dinheiro para pagar dívi- tempo precioso e trepidante no qual
história do Cristianismo, hoje existe das trabalhistas que Macedo havia con- precisamos comunicar e comunicar
um afastamento entre teologia e comu- traído com a compra da Rede Record. bem os nossos valores, nossa ética,
nicação. Romais diz que é fácil explicar Além disso, a arrecadação também ser- nossa fé e esperança em Cristo” e que
a ausência nos meios de comunicação viria para retomar obras da Igreja, que “fazendo uso dos recursos da comuni-
argumentando falta de recursos. Mas a estavam paradas por causa da redução cação que Deus está oferecendo à Igreja
questão vai muito além, afirma. A Igre- do volume de contribuições, em fun- através da ciência e tecnologia...”71
ja precisa entender que “a educação e ção da crise econômica do Brasil. Durante esta década a IELB conti-
ocupação com a comunicação são fato- Após a nota, segue-se um comentá- nuou ativa como parceira de Luteranos
res fundamentais de quem quer procla- rio. É dito que o Macedo, já apresen- Unidos em Comunicação (LUC), um
mar o evangelho...” Por isso, ela precisa tado ao país pela televisão carregando fórum de comunicadores luteranos da
se preocupar como uma série de ques- sacos de dinheiro, após uma concen- América Latina. LUC realizou encon-
tões, como estas: a Igreja está se preo- tração evangelística da cidade do Rio tros periódicos. Um deles aconteceu
cupando com a nova sociedade, ori- de Janeiro, “especializa-se na ‘arte’ de em Viamão, RS, em abril de 1993: o
ginária dos meios de comunicação? A arrecadar dinheiro. É um ministro 2º Congresso Latino-americano de
Igreja está se preocupando com a nova não do evangelho, mas da economia. Comunicação e a VI Assembleia Geral
linguagem do mundo, a fim de poder Das economias dos pobres, entenda-se de LUC, que teve como tema central
se comunicar com ele? A Igreja está bem. Para o descrédito cada vez maior Comunicação para a vida. Um dos or-
consciente de que é preciso se aproxi- do nome ‘evangélico’ junto à opinião ganizadores do evento foi o pastor Nilo
mar, entender, estudar os novos meios, pública.”69 Figur, que na época ainda coordenava
além de preparar pessoas para utilizá- Ainda neste ano, a comunicação o Departamento de Comunicação da
-los adequadamente? A Igreja está foi novamente pautada em editorial do
ciente da necessidade de comunicar-se Mensageiro Luterano, assinado pelo 70 FIGUR, Nilo. Comunicar é
melhor e de maneira mais eficiente?67 então secretário da Área de Comuni- fundamental. Mensageiro Luterano,
O editorial foi repercutido na seção cação da IELB, o pastor Nilo Lutero Porto Alegre, p 4, set. 1991.A decisão do
fim da Secretaria Executiva havia sido
de cartas de dezembro do mesmo ano. Figur. O artigo é importante porque tomada pelo Conselho Diretor da IELB
O jornalista Décio Dalke escreveu que reflete uma reação a um estado de coi- em 1987. Ou seja, a Igreja permaneceu
a visão da IELB é de gabinete, enquan- sas criado na Igreja nos anos anteriores, sem Secretário Executivo por cerca de
to deveria de ser de mercado, a partir o que também contribuiu para o fim do quatro anos. Todavia, mesmo com o
de fundamentos de marketing. Dalke retorno do Secretário Executivo não
68 CARTAS. Mensageiro Luterano, mais seria possível retornar ao período
67 ROMAIS, Astomiro. Igreja e novos Porto Alegre, p. 2, dez. 1990. áureo da década anterior no uso da
desafios de comunicação. 69 ROMAIS, Astomiro. Para a tele televisão. Figur concorreu à eleição ao
Mensageiro Luterano, Porto Alegre, p. 4, crente. Mensageiro Luterano. Porto cargo com mais dois candidatos.
nov. 1990. Alegre, p. 32, maio 1991. 71 Idem.
Brasil. O programa ainda está no ar, na de teoria da comunicação em Marti- Em dezembro de 2006, CPTN
Ulbra TV. nho Lutero. O assunto também esteve veiculou cinco desenhos animados re-
Em 2005, a preocupação pelo tema presente em oficinas sobre comunica- ligiosos na Rede Canção Nova de Te-
ficou demonstrada através de uma de- ção escrita, comunicação a serviço da levisão.88
cisão do Conselho Diretor da Igreja, missão, comunicação visual no culto, Em 2007, o Departamento de Co-
realizado em novembro em Campo comunicação pelas mídias contempo- municação (hoje Área de Comunica-
Grande, MS: “Que o Seminário Con- râneas, comunicação e responsabilida- ção) continua existindo dentro da es-
córdia promova seminários na área de de social e comunicação pessoal e em trutura administrativa da IELB. A sua
comunicação, visando à preparação dos grupos.85 coordenação é da responsabilidade do
candidatos ao ministério na produ- Mas em termos concretos, no que Secretário da Igreja. O uso da televisão
ção de textos e de apresentações para se refere à televisão, durante esta déca- como veículo de evangelização não tem
jornal, rádio e televisão, com acompa- da praticamente nada aconteceu. Além sido prioridade da Área. O foco está na
nhamento de profissionais da área de do início do programa Toque de Vida, comunicação impressa, seguida da co-
comunicação.”82 as únicas iniciativas ficaram com Cristo municação via internet.
Pode-se dizer que o ápice desta Para Todas as Nações. Em 6 de julho de Além destas iniciativas ao longo das
nova tendência aconteceu durante a 2003, entrou no ar na rede Bandeirante décadas, convém ressaltar ações isola-
59ª Convenção Nacional da IELB, re- Vale do Paraíba, SP o programa "Tudo das de pastores no sentido de abrirem
alizada entre os dias 19 e 23 de abril para todos". O programa abria uma ja- espaços na mídia local e regional como
de 2006, em Guarapari, ES. Antes do nela de três minutos para o "Momento fontes. É o caso do pastor Vilson Regi-
evento, o então presidente da IELB, Espiritual", que trazia mensagens pre- na, enquanto trabalhou em Uruguaia-
Carlos W. Winterle enviou mensagem paradas por Cristo para Todas as Na- na, RS entre 1979 e 1983. Regina era
para a Igreja acerca da Convenção e ções. O programa alcançava 36 cidades regularmente entrevistado pela TV
do tema. Após comentar sobre o cres- do Vale do Paraíba, litorais Sul e Norte Uruguaiana (RBS) para opinar sobre
cimento da comunicação (imprensa, de São Paulo, Serra da Mantiqueira e temas com algum nível de apelo reli-
rádio, televisão e internet) nos últimos Campos do Jorão. O "Momento Es- gioso, como Páscoa, Natal, atentado
tempos, afirmou que “muitas vezes piritual" era apresentado pelo pastor sofrido pelo papa, autoflagelação pra-
ficamos parados no tempo, usando a Waldemar Garcia Jr86. ticada por uma determinada seita do
comunicação apenas verbal, no púlpito Em 2006, CPTN anunciou o livro nordeste brasileiro, o crescimento dos
ou, timidamente, através de literatura e A Verdade Sobre os Anjos em televisão cultos sectários e a estagnação das igre-
dos outros meios citados.”83 aberta, no programa Pra Você da rede jas históricas.89
O tema geral da Convenção foi A Gazeta, nos dias 11 e 12 de maio, no
comunicação a serviço do Evangelho — programa “Mulheres”, da mesma emis- Rev. Dieter Joel Jagnow é jornalista e pastor da
Aquecendo corações. A temática foi pau- sora, no dia 14 de maio. Os anúncios Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Ribeirão
tada em palestras sobre planejamento foram do tipo “testemunhal”. Segundo Preto-SP, além de participar da equipe editorial da
Revista.Teologia.
de comunicação para a congregação, nota de CPTN, a organização acredi-
Teologia e Comunicação,84 e elementos tava que essa era uma grande oportu-
nidade de evangelismo, pois o assunto
82 SCHMIDT, Gustavo. IELB reúne “anjos” estava sendo muito explorado
Conselho Diretor em Campo e vinha despertando um interesse cada
Grande. Mensageiro Luterano, Porto
Alegre, n. 1/2, ano 90, p. 26, 27, jan./fev. vez maior nas pessoas.
87
2006,
83 WINTERLE, Carlos W. A mesmo sabem da existência da IELB”.
comunicação a serviço do SCHMIDT, Gustavo. IELB realiza TV. Disponível em <http://www.
Evangelho — Aquecendo Convenção Nacional e elege cptln.org/hora.luterana/lerdestaque.
corações com o amor de Cristo. nova Diretoria. Mensageiro Lutera- asp?xid=1352004131740>. Acessado
Mensageiro Luterano, n. 4, ano 89, p. 5, no, Porto Alegre, n. 6, ano 89, p. 22-24, em: 7 fev. 2007.
abr. 2006. jun. 2006, 88 DESENHOS de CPTN na TV Canção
84 Nesta palestra, foi dito que as congre- 85 Idem. Nova. Disponível em: <http://www.
gações da IELB deveriam investir recur- 86 LUTERANOS ampliam evangelismo cptln.org/hora.luterana/lerdestaque.
sos e esforços na divulgação e no uso em meios de comunicação. Disponível asp?xid=15122006111824>.
dos meios de comunicação de massa, em: <http://www.alc-noticias.org/arti- Acessado em: 7 fev. 2007.
especialmente a televisão. “A IELB culo.asp?artCode=1319&lanCode=3>. 89 REGINA, Vilson. Informações
precisa posicionar-se, ocupar espaço Acessado em: 7 fev 2007. O progra- [mensagem pessoal]. Mensagem
na mídia, mostrando-se para aqueles mete durou poucas edições. recebida por editor@editoraconcordia.
que buscam uma igreja cristã e nem 87 A VERDADE Sobre os Anjos na com.br em 26 jan. 2007.
nosso próprio corpo ser uma verdadeira maravilha divi- “estrela” por meio da qual o Senhor nos quer guiar a ele.
na, criada por um Deus sábio e poderoso. A segunda estrela, com a qual Deus nos quer cha-
Muitas vezes, no entanto, Deus faz brilhar em nos- mar ao seu encontro, é a sua Palavra. Lemos: “Quando
sas vidas estrelas especiais da própria natureza para nos o rei Herodes...... (ler de 3 a 6). A estrela que os sábios
conduzir a ele. Os sinais da natureza: calamidades, do- tinham visto no oriente não continuou a lhes brilhar ao
enças e morte são dedos que apontam para Deus, prin- chegarem a Jerusalém. Lá ela sumiu, se apagou. Eles ti-
cipalmente quando andamos por caminhos errantes. É nham certeza de que era a estrela do Messias. Sua certe-
então que Deus usa os seus “dedos” para conduzir as za os levou a Jerusalém, mas, em chegando lá, ninguém
pessoas a si mesmo, mesmo que isto seja feito por meio sabia lhes dizer nada sobre o Messias. Que decepção
de sofrimentos. Ele então nos corrige e procura levar para eles! Deve ter sido um grande choque para eles.
ao arrependimento, para que não sejamos condenados Vieram de tão longe para adorarem o Messias, e o pró-
junto com os nossos pecados. prio povo, em cujo meio o Salvador nasceu, nada sabia
Por outro lado, quando Deus nos concede alegrias do seu nascimento.
na vida, quando ele nos liberta de perigos e da morte, Quando os sábios já estavam quase ao ponto de de-
que sinais são estes, a não ser “estrelas” pelas quais nos sistirem de tudo e darem meia volta para casa, eis que a
quer achegar a ele? A natureza, portanto, é a primeira segunda estrela começa a brilhar. Deus lhes acendeu a
luz de sua Palavra. A bíblia, diga-se aqui AT, lhes mos-
trou que eles não estavam enganados. É que eles espera- prios pensamentos e idéias. Por isso, a religião natural
vam encontrar o novo rei em berço de ouro, no palácio nunca salvou e nunca salvará ninguém! Quem segue as
real. Só que a bíblia os levou a Belém, uma pequena vila suas idéias próprias em questões espirituais é como um
alguns quilômetros distante da capital. A bíblia lhes navegador em alto mar sem bússola. Ele não chegará ao
mostrou o caminho certo, o endereço onde poderiam destino.
encontrar Jesus. E Deus nos deu este guia, esta bússola, esta estrela.
A Palavra de Deus, a bíblia, escrita por homens ins- Mas precisamos usá-la, como um navegador usa a sua
pirados pelo Espírito Santo, é a mais brilhante estrela bússola. Precisamos ouvir a sua Palavra e nela procu-
que conduz peregrinos pecadores deste mundo a Deus. rar Deus e a vida eterna. A Palavra de Deus é a única
A natureza, a 1ª estrela, conforme dissemos, nos diz lâmpada, não interessa se o mundo pagão e até pesso-
que existe um Deus, mas ela não nos diz QUEM é este as dentro da igreja cristã ou mesmo dentro de famílias
Deus. A luz da natureza nos conduz aos nossos pró- cristãs a consideram ultrapassada. Sem a sua luz, as pes-
soas acabam na desilusão, como desiludidos estiveram tinha acabado de nascer há poucos dias. O único que
os sábios do oriente antes de procurarem nas promessas se preocupou foi o traiçoeiro Herodes. Despertado em
do AT o caminho certo. seu ciúme e em sua inveja, ele procurou logo matar a
Quanto você leu e pesquisou e ouviu a sua bíblia criança de Belém, porque achava que era uma amea-
no ano de 2006? Se você comparar o tempo que gas- ça ao seu reinado. Mas toda a apatia e o desinteresse
tou diante da telinha, vendo “abobrinhas”, com o tem- dos judeus para com Jesus não desanimou os sábios do
po que a sua bíblia pousou em suas mãos, você pode oriente. Eles o adoraram, se ajoelhando diante dele, tão
dizer “Graças a Deus”, que você teve e usou o tempo logo o encontraram, entregando a José e Maria os seus
para crescer no conhecimento da vontade Deus, para tesouros trazidos de longe, se alegrando com “grande
assim você poder dar um melhor testemunho de sua fé e intenso júbilo”. Tinham estudado e visto muitas es-
no Messias Salvador? Ou você foi um desses a quem trelas, mas nenhuma se podia comparar com a Estrela
certo autor num livro chama de “cristãos que envelhe- de Belém. E aí foram de volta para a sua terra, para as
cem mas nunca crescem..... porque suas casas, na certeza de terem encontrado o seu Salva-
decidem não crescer”? Andam ain- dor. Desta forma, através dos sábios do oriente Deus
da, depois de adultos, em sapatinhos levou a notícia da vinda do Salvador ao mundo gentio,
de crochê e quando precisam dar um ao mundo não judeu. E assim este Salvador hoje é co-
testemunho de sua fé, engasgam por- nhecido por nós gentios também.
que não lêem a bíblia. A verdadeira Estrela de Belém é Jesus Cristo. É
A Palavra de Deus traz perdão ele que traz a graça e a felicidade de nos sentirmos ama-
em Cristo, e é só a Palavra de Deus dos por Deus. Como é estimulante e confortador ou-
que trata e que fala do perdão. A Pa- virmos sempre de novo, entra ano, sai ano, que o Deus
lavra de Deus responde perguntas que se revelou em Cristo é o Senhor dos senhores, que
de ordem espiritual. E as que ela não se compadece de nossas fraquezas.
responde, por serem mistérios da fé, Todas as estrelas especiais que Deus possa fa-
estas perguntas Deus nos responderá zer brilhar em nossas vidas: Os dedos da natureza que
na eternidade, pessoalmente. A Pa- apontam para ele, as alegrias e tristezas que ele venha
lavra de Deus nos fortalece a prosse- a nos proporcionar, não levarão a anda, enquanto não
guirmos adiante, não interessa se so- formos levados a imitar os sábios do oriente, enquan-
fremos decepções na vida ou não. A to não dobrarmos os nossos joelhos e nos rendermos
Palavra de Deus nos anima, estimula a ele em fé verdadeira. Não terá sentido conhecermos,
e conforta nas dúvidas e turbulências como falamos acima, a Palavra de Deus pelo uso diário
da vida presente. Esta é a 2ª estrela de e constante da mesma por meio da leitura aplicada, en-
Deus para nós. E esta brilha e ilumi- quanto não acompanharmos em humildade e confian-
na a todo aquele que se aproximar ça os sábios do oriente e nos dobrarmos diante daquele
de sua luz. Ela não falha para quem que é o Caminho, a Verdade e a Vida. “Não existe sal-
nela buscar a luz real e verdadeira em vação em nenhum outro, porque abaixo do céu não foi
Cristo. dado, entre os homens, nenhum outro nome, por meio
Mas existe uma 3ª estrela, a Es- do qual podemos ser salvos”, At 4.12.
trela com letra maiúscula, a grande EPIFANIA, dia da manifestação oficial da gra-
Estrela-Guia, que é o próprio Jesus ça de Deus também aos gentios, é uma festa quase es-
Cristo, o Filho de Deus, verdadeiro quecida dentro da própria igreja luterana.
Deus e verdadeiro homem. Olhemos para a natureza: Nela estão registra-
“Então Herodes chamou...... (ler das as marcas de Deus e de sua existência. Mas em Cris-
de 7 a 12). Nenhuma pessoa, ne- to ele revela o seu amor, pelo qual ele nos salva para a
nhum judeu, nenhum sacerdote foi vida eterna. Amém.
com os sábios quando estes saíram Curitiba-PR, 7/jan/2007
de Jerusalém. Ninguém em Jerusa-
lém se preocupou com Cristo, que Rev. Heldo Bredow, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Curitiba-PR
A Epifania e suas
Oportun
O dia 6 de Janeiro é o dia Epi-
fania, onde é lembrada a vi-
sita dos magos, por isso também
nomes deles são: Gaspar, Melquior
e Baltazar. Mas da veracidade disso
também não há certeza.
da primeira manifestação de Cristo
a um povo que não era de entre os
judeus e da primeira demonstração
chamado de “Natal dos gentios”, ou Diz o Evangelista Mateus (Mt de que Cristo é para todos. É o Fi-
seja, Natal dos não judeus (Mt 2.1- 2.1) que eles vieram do Oriente, lho de Deus dando-se a conhecer
12). Pois as primeiras manifestações mas não diz o lugar exato. É possível ao mundo. É um dia para celebrar
se deram por judeus para judeus. que tenha sido da antiga Babilônia, a alegria por Deus nos ter condu-
O termo Epifania vem do grego: onde hoje fica o Irã e o Iraque. Eles zido ao conhecimento do Salvador.
Ἐπιφάνεια: “manifestação, aparição”. viram uma estrela diferente e a se- E, enquanto aguardamos a manifes-
guiram. Sabiam que ela indicava o tação da sua glória, no juízo final,
O dia da Epifania lugar do nascimento de um grande importa continuar adorando e tes-
rei e de ser ele o Messias prometido. temunhando.
O dia da Epifania marca a visita Mas como sabiam disso? Acontece Um agravante é que o dia da Epi-
dos magos ao menino Jesus. Mas que, 500 anos antes, o povo de Isra- fania, 6 de Janeiro, cai num domin-
quem eram eles? De onde e quando el viveu 70 anos no cativeiro babi- go somente a cada sete anos. E como
vieram? Para que vieram? Nos pro- lônico. Ali construíram sinagogas este dia não é feriado nacional, a
gramas de natal apresentam-se os e cultivaram sua religião. Entre eles tendência é que ele passe desperce-
magos como se eles tivessem vindo estava o profeta Daniel e outros pro- bido e a mensagem dele cause pou-
logo após o nascimento de Jesus. fetas. Daniel era um homem extre- co impacto. Tende a ficar apenas a
Mas certamente vieram alguns me- mamente sábio. Ele até foi nome- lembrança do costume, de neste dia,
ses depois. Pois Maria e José já não ado chefe dos sábios da Babilônia. desmontar o pinheirinho de Natal.
estavam mais numa estrebaria, mas Foi conselheiro de sete reis na Babi-
já moravam numa casa. É também lônia. Foi testemunha fiel do Deus A Época da Epifania
provável que eles não eram reis, verdadeiro no palácio destes reis
como diz a tradição, pois a Bíblia que dominaram o mundo na épo- Além do dia próprio, comemo-
não diz isso. Sabemos que eram ma- ca. É possível que ele tenha falado ra-se também a Época de Epifania.
gos. E magos eram homens sábios de uma estrela que indicaria o nas- É o período que liga o nascimento e
que estudavam as estrelas e eram cimento de um novo Rei. Ou seja, a Paixão de Jesus Cristo. O ponto de
pesquisadores de outras ciências. A os sábios da Babilônia conheciam as partida é a visita dos magos ao me-
tradição também diz que eles eram profecias de Daniel não só a respei- nino Jesus.
em número de três, porque foram to do futuro dos reis e da história do Dentro do espírito de manifes-
entregues três presentes. Mas não se universo, mas também do fato de o tação, no domingo seguinte ao dia
tem certeza, podem ter sido mais. Messias ser o Salvador da humani- da Epifania é lembrado o Batismo
Em se tratando de estudiosos, a co- dade. A estrela especial lhes deu a de Jesus. Ele é considerado tão im-
mitiva não dever ter sida pequena. É convicção de que o tempo tinha se portante que os quatro evangelhos
possível que tenham tido um escolta cumprido. Mateus, Marcos, Lucas e João dão
de segurança. Tradicionalmente os O dia da Epifania é a lembrança destaque para ele. E, para acentu-
nidades
ar esta importância, os evangelhos
mostram que o céu se abriu e o Es-
pírito de Deus desceu em forma de
o ministério dos apóstolos. A Epi-
fania culmina com a Transfiguração
de Jesus, dia que nos dá uma visão
Deus ao mundo.
No Brasil esta é uma época de
férias escolares e trabalhistas. Mui-
pomba e se ouviu a voz do Pai falan- antecipada da glória no céu. Assim, tos fazem passeios com a família,
do do céu. Jesus sendo batizado, o a ênfase desta época é a manifesta- o que gera um certo esvaziamento
Espírito Santo descendo em forma ção de Jesus Cristo como verdadeiro dos cultos. É também a época onde
de pomba e o Pai falando. É a San-
ta Trindade unida no batismo. Este
grande destaque, dado ao batismo
de Jesus, nos convida a refletirmos
sobre o valor do batismo para nossa
vida. É uma brilhante oportunidade
para falar da importância do batis-
mo.
Na Epifania também é lembrado
o início do ministério de Jesus. As
leituras do evangelho para a época
falam do seu ministério. Uvm desta-
que é o milagre da agua para o vinho
no casamento de Caná. Com este
milagre “ele revelou a sua natureza
divina, e os seus discípulos creram
nele” ( Jo.2.11). Este relato não tem
a intenção de falar do casamento em
si, mas mostrar que obra salvadora
de Jesus estava iniciando.
Na Epifania também é destacado
o trabalho de João batista, o precur-
sor, que apontou para Jesus como
“Cordeiro de Deus que tira o peca-
do do Mundo”( Jo 1.29). As leituras
do Antigo testamento para a época
enfatizam o chamado dos profetas.
Também neles se vê um destaque
na promessa da vinda do Filho de
Deus ao mundo. A epístola e os
evangelhos enfatizam o chamado e
a maioria dos pastores tira férias. E Quais as de homens. É uma grande oportu-
como muitas congregações não têm nidade para enfatizar a vocação ao
um programa de culto para a ausên-
oportunidades que a pastorado e para falar do chamado
cia do seu pastor, acaba-se perdendo Epifania nos fornece? e ministério pastoral.
a rica ênfase da Epifania. As ativida- 2. Tendo ênfase na manifestação,
Ou perguntando de outra forma,
des nas congregações costumam ser a Epifania é uma boa oportunida-
como aproveitar melhor a riqueza
retomadas de forma mais intensa na de para destacar a missão de Deus
da Epifania? E mais, que papel a
Quaresma. E nela tende a ser enfa- no mundo. O espírito missionário
igreja tem na epifania do Senhor?
tizada a piedade pessoal e nem sem- está muito forte nos relatos das di-
O contexto das leituras bíblicas do
pre a obra do Cordeiro de Deus. As- ferentes pessoas que Jesus se deu a
Lecionário Trienal para a Epifania é
sim, geralmente saltamos do Natal conhecer a começar pelos magos
extremamente rico. São estas leitu-
para a Quaresma sem apreciar com do oriente. Entre as muitas abor-
ras a melhor resposta e nos dão vá-
profundidade a riqueza da Epifania. dagens pode-se dizer que a mani-
rias orientações.
A Epifania deveria iluminar o cami- festação de Cristo é a única possi-
1. As leituras do Antigo Testa-
nho da Quaresma para que a peni- bilidade de o ser humano ter acesso
mento e da epístola destacam o cha-
tência da igreja tivesse como base o a Deus e a vida eterna. E a salvação
mado e o ministério dos profetas e
sofrimento de Cristo e seu amor por do pecador só acontece por causa
apóstolos. As leituras dos evange-
nós. da Epifania do Senhor. Epifania é
lhos mostram Jesus chamando seus
a manifestação do amor de Deus
discípulos para serem pescadores
em Cristo Jesus. Cristo continua se
manifestando através da sua Palavra
a s e u s d iscípulos
ham s.
- Jesus c pescadores de homen ito
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para serem o missionário está m
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- Cristo sua Palavra.
e
por meio d
Bibliografia
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1992 p. 23 Porto Alegre Concórdia Editora LTDA
João, não podemos colocar que — se assim o podemos dizer — o Verbo já existia.
nela simplesmente o conte- O Verbo é o Deus que fala no princípio: “Disse Deus”
údo da filosofia grega, mas é (Gn 1.3). “Façamos (plural) o homem (Gn 1.26). “Pela
preciso ver o significado que fé entendemos que o universo foi formado pela palavra
o evangelista João dá a esta de Deus”(Hb 11.3). “Os céus por sua palavra se fize-
palavra no seu evangelho. A ram ... Pois ele falou, e tudo se fez”(Sl 33.6,9). Jesus,
palavra “Logos” deve ser com- o Verbo, estava com o Pai e o Espírito Santo quando a
preendida na luz da pessoa de boa notícia da salvação foi anunciada a Adão e Eva (Gn
Cristo. Com Jesus de Naza- 3.15). O apóstolo Paulo escreveu: “Ele é antes de todas
ré começou uma nova vida, as cousas”(Cl 1.17). Em Hebreus lemos: “Ele, que é o
uma nova razão e esperança resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser”(Hb
de vida, que o mundo pagão 1.3).
não conhecia. Aqui cabe uma “O Verbo estava com Deus.” Jesus Cristo não é um
observação: Muitos gostam princípio impessoal, não é um atributo de Deus. A pala-
de falar numa nova filosofia vra “com” relaciona duas pessoas. Jesus é uma persona-
de vida. De certa forma pode- lidade viva, inteligente, ativa, que se relaciona, que fala.
mos falar em filosofia de vida. No grego, a palavra Deus neste versículo é usada aqui
Mas como a filosofia é algo a primeira vez sem artigo, isso enfatiza a qualidade do
que o homem desenvolve, não ser Deus; e na segunda vez com artigo, para enfatizar o
gostamos de usar a palavra fi- indivíduo: Jesus, como pessoa divina. Jesus, o agente na
losofia. Realmente Cristo não criação, como pessoa própria, estava com Deus.
nos trouxe uma nova filosofia “O Verbo era Deus.” João dá mais um passo. Ele
de vida, mas vida nova. afirma: “Jesus, o Verbo era Deus.” Não era algo dife-
A grande pergunta, ainda rente ou inferior a Deus, mas ele próprio era Deus. E
hoje muito atual, com a qual o evangelista João se de- ele é Deus não somente para os homens, mas para toda
fronta, é: Quem é Jesus Cristo? É ele o melhor dos ho- a criação. Ele não é simplesmente o começo, ele está
mens, um espírito evoluído (espiritismo), que deve ser no começo. Ele não estava somente com Deus, ele era
admirado e seu exemplo seguido ou é ele o verdadeiro Deus. Por isso confessamos na explicação do Segundo
Deus que deve ser adorado? É ele o maior de todos os Artigo do Credo Apostólico: “Jesus Cristo é verda-
profetas (Islã e Testemunhas de Jeová) ou o Salvador deiro Deus, gerado do Pai desde a eternidade (Sl 2.7;
da humanidade? É nossa atitude para com ele, nosso At 13.33; Hb 1.5; 5.5) e também verdadeiro homem,
caráter ou nossa fé em Cristo que determinará o nosso nascido da virgem Maria, é meu Senhor.” Alguns que-
destino eterno? rem relacionar o salmo 2.7 ao versículo 6, dizendo que
Estas perguntas João responde no evangelho como “gerar” é sinônimo de empossar como rei. Tal exegese é
um todo e no prólogo de forma sucinta, clara e objeti- impossível. Nenhuma artimanha exegética pode tirar a
va ( Jo 1.1-18). Vamos, pois, analisar esta maravilhosa força e a clareza dessas palavras.
exposição, dentro do contexto do evangelho e de toda Que maravilha! Jesus Cristo, nosso Salvador, é ver-
a Escritura. dadeiro Deus. A ele seja toda a honra e todo o louvor,
agora e sempre. Amém.
A) A divindade do Verbo (v.1)
A primeira afirmação a respeito do Verbo é que ele B) O Verbo, o Criador (v.3)
é Deus eterno. João diz: “No princípio era o Verbo.” “Tudo foi feito por intermédio dele, e sem ele nada
Isso lembra o que está escrito no início da Bíblia: “No do que foi feito se fez”(v.3). Jesus é o criador do mundo,
princípio.” A pergunta que João enfoca não é: O que do universo. O apóstolo Paulo reafirma isso ao escre-
era no princípio, mas: Desde quando existe o Logos, o ver: “O mistério que estivera oculto dos séculos e das
Verbo? E a resposta é: No princípio, quando o tempo gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos;
começou, quando o relógio começou a fazer tique-ta- aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza
da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo C) A vida que está no Verbo (v.4)
em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos,
advertindo a todo homem e ensinando a todo homem “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens.”
em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo O que é vida? Pensamos nos seres animados, na vida
homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também vegetal e animal, mas a palavra “vida”, usada pelo evan-
me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo gelista João 54 vezes no seu evangelho, refere-se à ver-
a sua eficácia que opera eficientemente em mim.”(Cl dadeira vida no seu sentido pleno. É a vida que Adão e
1.26-29). “E pôs todas as cousas debaixo dos seus pés Eva possuíram antes da queda em pecado. Eles foram
e, para ser o cabeça de todas as cousas, o deu à igre- criados com a Imagem Divina, que consistiu “no bem-
ja” (Ef 1.22). O salmista declara: “Ele falou, e tudo se -aventurado conhecimento de Deus, perfeita justiça e
fez.”(Sl 33.9). A palavra “tudo” está relacionada ao uni- santidade.” Isto era vida. Verdadeira vida é vida em co-
verso, e inclui todos os elementos e sistemas de leis, a munhão com Deus. E a verdadeira vida estava no Ver-
ordem que rege o universo. As palavras “foram feitas”, bo. O imperfeito da forma verbal não caracteriza um
podemos traduzir também por “vieram a ser,” que é fato histórico passado, mas que Jesus é a fonte eterna da
uma tradução mais exata. O verbo grego (aoristo) ex- verdadeira vida. Verdadeira vida só existe em Deus, em
pressa uma ocorrência, um evento, não um processo. O Jesus Cristo. Fora da comunhão com
evangelista João não está interessado em falar sobre o Deus, não há verdadeira vida.
método usado na criação, mas sobre o fato da criação. “E a vida era a luz dos homens.” Esta
O verbo “era”, no imperfeito, mostra a duração em con- luz não é uma capacidade racional,
traste com o verbo existir. O Verbo, o Criador é eterno; mas “a que ilumina a todo o homem.”
a matéria, o universo é temporal. Em que sentido? O termo “trevas” no
A obra da criação é obra da Trindade. Lemos na car- versículo 5 aponta para o conflito en-
ta aos hebreus: “Havendo Deus, outrora, falado muitas tre a luz e as trevas. Trevas lembram o
vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, mundo caído em pecado. Deus criou
nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem consti- tudo perfeito. Mas um grupo de anjos
tuiu herdeiro de todas as cousas, pelo qual também fez se rebelou contra Deus e Deus os con-
o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expres- denou ao inferno. A Escritura afirma:
são exata do seu Ser, sustentando todas as cousas pela “Aos anjos, os que não guardaram o
palavra do seu poder.”(Hb 1.1-3). seu estado original, mas abandona-
Verbo não criou somente o universo, ele também ram o seu próprio domicílio, ele tem
o sustenta. Em sua grande passagem cristológica, o guardado sob trevas, em algemas eter-
apóstolo Paulo afirma: “Pois nele foram criadas todas nas, para o juízo do grande dia”( Jd 6).
as cousas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisí- Esses anjos aproveitaram sua liberdade
veis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, condicional e tentaram os primeiros
quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para homens. E Adão e Eva, de livre e es-
ele”(Cl 1.16). pontânea vontade, deixaram-se sedu-
Muitos estudiosos da Bíblia vêem na afirmação do zir e desobedeceram a Deus. Caíram
rei Salomão, que “personifica a sabedoria,” uma refe- em pecado e nas trevas. O homem,
rência à pessoa de Cristo: “O Senhor me possuía no despido da imagem divina, está des-
início de sua obra, antes de suas obras mais antigas. qualificado para viver em comunhão
Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, com Deus. Após a queda em pecado,
antes do começo da terra ...” (Pv 8.22-31). Aqui é des- os homens foram expulsos da presen-
crita uma pessoa, a sabedoria, que está com Deus desde ça de Deus, do paraíso. Desde lá nas-
o começo e participa com Deus Pai na criação. Lutero e cemos com o pecado original. “O pe-
outros acreditam que esta pessoa, a sabedoria, é Cristo. cado original é a completa corrupção
Que maravilha! Jesus Cristo, nosso Salvador, é o de toda a natureza humana, privada
criador e mantenedor do universo. A ele seja toda a da justiça original, inclinada para todo
honra e todo o louvor, agora e sempre. Amém. o mal, sujeita à condenação.” Somos
incapazes de nos regenerarmos por esforço próprio. nhor são a causa de não sermos consumidos, porque as
Mesmo que alguém se esforce e adquira honrosa justiça suas misericórdias não têm fim” (Lm 3.22). Deus amou
diante dos homens, a ponto de ser considerado homem o mundo e enviou o seu Filho unigênito para remover
bom e reto, diante dos olhos de Deus o homem per- as trevas. A vida do Verbo trouxe luz e esperança. Esta
manece pecador, “morto em seus delitos e pecados”(Ef vida é a luz dos homens. Não luz natural, mas a graça
2.1,5). Precisamos de um salvador, de uma força sobre- de Cristo, o perdão dos pecados que reestabeleceu a
natural para sermos salvos da ruína eterna. O relato verdadeira vida em comunhão com Deus e a esperança
de Gênesis 1.1-3, mostra que as trevas cósmicas foram da vida eterna a todo o que crê. Maravilhado, João es-
substituídas por ordem divina pela luz, ao Deus dizer: creve: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
“Haja luz!” Isto é o pano de fundo para a encarnação do deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê
Verbo. João mostra que este mundo precisava do Verbo não pereça, mas tenha a vida eterna. Porquanto Deus
para remover as trevas do pecado. O mundo é incapaz enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse
de salvar-se a si próprio. Em seu grande amor para com o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
a humanidade, Deus veio a Adão e Eva e lhes prometeu Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está jul-
salvação. O profeta afirma: “As misericórdias do Se- gado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho
de Deus.”( Jo 3.16-18).
A palavra “verdade” refere-se à verdade em contraste
ao erro. A mesma palavra “verdade” é usada a respeito
de Deus em Jo 17.3: “E a vida eterna é esta: que te co-
nheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo,
a quem enviaste”. Por isso a oração de Jesus: “Santifica-
-os na verdade; a tua palavra é a verdade”( Jo 17.17).Te-
mos a capacidade de ler a Bíblia e até considerá-la como
uma verdade. Mas aceitar como a verdade e confiar nela
plenamente, só pela iluminação do Espírito Santo, que
atua pela palavra. Daí a oração: “Santifica-nos na verda-
de.” A ênfase está no caráter último do ser Deus, que é
a verdade. Do Verbo provém a verdadeira iluminação
espiritual, o verdadeiro conhecimento de Deus, de sua
graça e do seu amor. A verdadeira sabedoria é conhe-
cer a Cristo e confiar nele. Este tem a verdadeira vida, a
vida eterna. O apóstolo Paulo afirma: “Cristo Jesus, o
qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justi-
ça, e santificação, e redenção”(1 Co 1.30).
Que maravilha! Jesus Cristo, verdadeiro Deus e
verdadeiro homem, nosso Salvador, trouxe de volta a
verdadeira vida, o perdão dos pecados, pelo qual temos
paz com Deus e a esperança da vida eterna. A ele seja
toda a honra e o todo o louvor, agora e sempre. Amém.
nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, para os judeus, loucura para os gen-
a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, por- tios”(1 Co 1.23).E conclui: “Mas,
que vós sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o a todos quantos o receberam,
Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.”(Gl 4.4,5). deu-lhes o poder de serem fei-
João relaciona a missão de João Batista com a vinda do tos filhos de Deus; a saber: aos
Verbo. João Batista foi enviado para preparar o cami- que crêem no seu nome (v.12).”
nho para Cristo, a perfeita “luz do mundo.” A palavra Isto é um ato da misericórdia de
mundo é usada 72 vezes no evangelho de João. Aqui o Deus. Crer na graça de Cristo
termo mundo é aplicado ao envolvimento espiritual e é a chave para ser recebido
material, no qual vive a humanidade. O Verbo entrou pelo Verbo que veio ao mun-
na estrutura da vida do mundo e tomou parte dela. do.
Cristo veio ao mundo durante o reinado de Cesar Que maravilha! Todo aquele
Augusto. Jesus viveu 30 anos com seus pais, nos deve- que nele crê tem perdão dos peca-
res domésticos. Aos trinta anos começou o seu minis- dos. E onde há perdão dos pecados,
tério profético e sacerdotal propriamente dito. Atuou há também vida e eterna salvação. A ele
três anos na Palestina, locomovendo-se entre Jerusalém seja toda a honra e todo o louvor, agora e
e a Galiléia, ensinando, curando e revelando-se como sempre. Amém.
o Messias prometido, o Filho de Deus. Mas o mun-
do, tanto judaico como gentílico, conforme relatam F) O Verbo que se tornou
os evangelhos, só tomou conhecimento superficial de carne (v.14)
Cristo. Mesmo seus discípulos custaram a compreen-
der a pessoa e obra de Cristo. Só a compreenderam a Nos versículos 14 a 18, o evangelista
partir de Pentecostes (At l.7). João fala especificamente da encarnação
Que maravilha! Jesus Cristo, verdadeiro Deus e ho- do Verbo. O versículo 14, mesmo curto,
mem, trouxe luz para o meio das trevas. “Agora temos é rico em conteúdo e contém assunto sufi-
salvação de graça e por bondade.” A ele seja toda a hon- ciente para um livro. O eterno Filho de Deus,
ra e todo o louvor, agora e sempre. Amém. nosso Salvador, aceitou a natureza humana
para salvar os pecadores. Isso não foi uma meta-
E) O Verbo veio para o que morfose, como de uma lagarta que se transforma
em borboleta. O divino uniu-se à natureza humana,
era seu (v.11-13) o infinito ao finito. Esse é o grande mistério da huma-
Os versículos 11 a 13, ampliam ainda mais o termo nação de Cristo.
“mundo,” como sinônimo da humanidade, e ao mesmo O versículo 14 é chave do prólogo. A palavra Verbo,
tempo o individualiza. “Veio para o que era seu, e os neste versículo, é conectada com a palavra Verbo dos
seus não o receberam”(v.11). Os indivíduos que com- versículos 1 e 2. O primeiro versículo fala da natureza
põem o mundo, que são suas criaturas necessitadas, às eterna do Verbo e de seu relacionamento com Deus; o
quais Jesus veio salvar, não lhe deram as boas vindas. v.14 fala do relacionamento do Verbo com o mundo
Sendo Jesus o Criador do mundo, quando ele nasceu, dos homens. Jesus, o eterno e majestoso Filho de Deus,
veio para o que lhe pertencia (Cf.: Jo 16.32; 19.27). Ele assume a natureza humana visível, audível e tangível.
“veio para o seu próprio lar.” Mas mesmo seu próprio Lemos em Hebreus: “Visto, pois, que os filhos tem
povo, os judeus, povo formado e escolhido por Deus, participação comum de carne e sangue, destes também
não o recebeu. A idéia de “vir ao que era seu” é a ex- ele, igualmente participou, para que, por sua morte,
pressão que Jesus usou nas parábolas do administrador destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o
infiel (Mt 21.33-46; Mc 12.1-12; Lc 20.9-16). Cristo diabo, e livrasse a todos que, pelo pavor da morte, esta-
foi aceito pelos samaritanos ( Jo 4), foi procurado pelos vam sujeitos à escravidão por toda a vida”(Hb 2.14,15).
gentios gregos ( Jo 12.20), mas foi rejeitado pelos repre- Jesus tornou-se homem como nós em todas as cousas,
sentantes oficiais do seu povo. Bem atesta o apóstolo exceto o pecado. Como nós, ele nasceu de mulher, da
Paulo: “Nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo virgem, conforme o anjo anunciara a Maria: “Descerá
sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te Cristo. “A humilhação de Cristo, que iniciou com sua
envolverá com a sua sombra; por isso também concepção e foi até o seu sepultamento, consistiu em
o ente santo que há de nascer, será chamado Jesus não ter usado sempre e inteiramente a majestade
Filho de Deus.”(Lc 1.35; Is 7.14). O Es- divina, comunicada à sua natureza humana.” A Escri-
pírito Santo, “que com sua sombra tura afirma: “Tende em vós o mesmo sentimento que
envolve Maria”, não gera o Filho, houve também em Jesus Cristo, pois ele, subsistindo
não é o Pai de Jesus, mas o espí- em forma de Deus não julgou como usurpação o ser
rito criador que atua em Maria. Lucas relata que, tal igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou assumindo
como nós, ele cresceu corporalmente “em estatura e a forma de servo”(Fp 2.5-8). “E a exaltação de Cristo,
sabedoria” (Lc 2.52). Tal como nós, ele passou fome, que iniciou com sua descida ao inferno, para proclamar
sede, comeu, bebeu, dormiu, estava cansado, sentiu sua vitória, e consiste em ele usar sempre e inteiramen-
dor, alegria, maravilhava-se e tinha compaixão. Ele te a majestade divina comunicada à sua natureza hu-
brincou, leu a Escritura, sofreu, foi tentado, der- mana.” A Escritura afirma: “Pelo que também Deus o
ramou seu sangue, morreu e foi sepultado, ressuscitou exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima
e subiu ao céu. de todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre
“O Verbo habitou entre nós.” A palavra “habi- todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e
tar”, no original, lembra o “tabernáculo,” no qual toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a
Deus habitou no meio do seu povo Israel, glória de Deus Pai”(Fp 2.9-11). (Definições do Cate-
no Antigo Testamento. O evangelista cismo Menor). Esta união das duas pessoas, a divina e a
João, no seu livro de Apocalipse, aponta humana numa só pessoa, e a comunicação de suas qua-
para Jesus e o chama de “o tabernáculo lidades uma à outra é um dos grandes mistérios da reli-
de Deus entre os homens”(Ap 21.3). Ta- gião cristã. Esse mistério não pode ser desvendado pela
bernáculo é uma tenda. A palavra taber- razão humana, nem serve para especulações, só pode
náculo é usada somente 5 ser aceito por fé.
vezes no Novo Essa habitação de Cristo no mundo entre os ho-
Testamen- mens foi reconhecida pelos discípulos. João escreve:
to: Jo 1.14 “E vimos a sua glória, glória como do unigênito do
(habitação); Pai”(v.14). “Vimos,” quer dizer observamos. Isso é mais
Ap 2.13; 12.12; do que um simples golpe de vista. A vida de Jesus foi
13.6; 21.3; duas vezes observada e examinada nas mais diferentes situações.
se refere a Deus. Assim como Todas as observações possíveis foram dadas por Cristo
no Antigo Testamento, Deus estava a seus contemporâneos.
presente entre o seu povo, no tabernácu- E João dá o seu testemunho bem pessoal: “Porque
lo, de dia na nuvem e de noite na coluna de fogo todos nós temos recebido da sua plenitude, e graça so-
(Nm 14.14), para o guiar. Jesus veio ao mundo para es- bre graça.” ( Jo 1.16). E Pedro confessou: “Tu és o Cris-
tar no meio da humanidade, como nosso irmão na car- to, o Filho do Deus vivo”(Mt 16.16). Em sua carta João
ne, para a salvar e guiar ao lar celestial. testemunha: “O que era desde o princípio, o que temos
O Verbo se tornou carne. Essa união é definitiva para ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos,
toda a eternidade. A partir da concepção, em nenhum o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com
momento estas duas naturezas, a divina e a humana respeito ao Verbo da vida e a vida se manifestou, e nós
unidas na pessoa de Cristo, se separaram. Jesus sempre a temos visto, e dela damos testemunho e vo-la anun-
foi, em todos os momentos, mesmo nos momentos da ciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi
mais profunda humilhação, como na sua concepção manifestada, o que temos visto e ouvido anunciamos
ou crucificação, verdadeiro Deus. Como também o é também a vós outros, para que vós igualmente man-
agora, no seu estado de exaltação, sempre verdadeiro tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é
homem. Para compreendermos isto — até onde nos é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo”(1 Jo 1.1-3).
possível captar esse mistério com a razão — precisamos Aqui precisamos levantar mais uma pergunta: Por
lembrar em que consistiu a humilhação e a exaltação de que o nosso Salvador tinha que ser verdadeiro Deus e
G) O Verbo, que revela a Deus (v.18) Por isso o apóstolo afirma: “Certamente a palavra da
O clímax do prólogo está no versículo 18. “Nin- cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que
guém jamais viu a Deus: o Deus unigênito, que está somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: “Des-
no seio do Pai, é quem o revelou.” Deus é invisível. A truirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligên-
essência da divindade nunca poderá ser vista por um cia dos entendidos.” Onde está o sábio? onde o escriba?
ser humano. Como Deus havia dito a Moisés: “Não me onde o inquiridor deste século? Porventura não tor-
poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a nou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como,
minha face, e viverá” (Êx 33.20). Mas o caráter de Deus na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por
pode ser visto no Filho, é a plena expressão da vida e sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar aos que
do amor do Pai. A expressão “no seio do Pai,” revela a crêem, pela loucura da pregação. Porque tanto os ju-
união e o amor entre o Pai e o Filho. A natureza invi- deus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria;
sível e misteriosa de Deus é revelada é trazida à luz por mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para
um que é qualificado para fazê-lo, o Filho de Deus. os judeus, loucura para os gentios; mas para os que fo-
Ao Deus revelar-se em seu unigênito Filho, Jesus ram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a
Cristo, ele o fez “ao contrário”, isto é, de uma forma não Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Porque a
esperada. Ele veio pobre, fraco, e morreu numa cruz. loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a
do, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado. O ceu pela nossa salvação, desceu ao inferno, no terceiro
Pai é incomensurável, o Filho é incomensurável, o Es- dia ressuscitou dos mortos. Subiu ao céu, está sentado
pírito Santo é incomensurável. O pai é eterno, o Filho à direita de Deus Pai todo poderoso, donde há de vir a
é eterno, o Espírito Santo é eterno. Contudo não são julgar os vivos e os mortos. E quando vier, todos os ho-
três Eternos, mas um único Eterno. Do mesmo modo mens hão de ressuscitar com os seus corpos e dar
não são três Incriados, nem três Incomensuráveis, mas contas de seus próprios atos, e aqueles que fize-
um único Incriado e um único Incomensurável. Da ram o bem irão para a vida eterna, mas aqueles
mesma maneira, o Pai é todo-poderoso, o Filho é to- que fizeram o mal, para o fogo eterno. Esta é a
do-poderoso, o Espírito Santo é todo-poderoso; con- verdadeira fé cristã. Aquele que não crer com
tudo, não são três Todo Poderosos, mas um único firmeza e fidelidade, não poderá ser salvo.”
Todo-Poderoso. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, Este é o poderoso testemunho do evange-
o Espírito Santo é Deus; todavia, não são três Deuses, lista João no prólogo do seu evangelho. Jesus
mas um único Deus. Deste modo o Pai é Senhor, o Cristo é o verda-
Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor; entretanto, deiro Filho de
não são três Senhores, mas um único Senhor. Visto Deus, igual
que, segundo a verdade cristã, nos importa confessar ao Pai
cada pessoa por sua vez como sendo Deus e Senhor, e ao Es-
é-nos proibido pela fé cristã dizer que há três Deuses e pírito
três Senhores. O Pai por ninguém foi feito, nem cria- Santo
do, nem gerado. O Filho provém apenas do Pai, não em poder e
foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não majestade, que
foi feito, nem criado, nem gerado pelo Pai e pelo Filho, veio ao mundo e se
mas deles procede. encarnou na virgem Maria. Desde a concepção é,
Logo, é um único Pai, não são três Pais; um único agora, verdadeiro Deus e verdadeiro homem uma
Filho, não três Filhos; um único Espírito Santo, não só pessoa. E hoje, glorificado, enche como homem
três Espíritos Santos. E nesta Trindade nenhuma pes- céus e terra. O Pai deu-lhe todo o poder sobre céu
soa é anterior ou posterior, nenhuma maior ou menor; e terra. Ele virá um dia em glória para julgar vivos
mas todas as três pessoas são coeternas e iguais entre e mortos. “Bem-aventurados aqueles que lavam as
si; de modo que, como foi dito, em tudo seja honra- suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que
da a Trindade na Unidade e a Unidade na Trindade. lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na
Portanto, quem quiser ser salvo, deverá pensar assim cidade pelas portas”(Ap 22.14).
da Trindade. Entretanto, é necessário para a salvação Por isso, escreve João no evangelho: “E a vida
eterna crer também fielmente na humanação de nosso eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus
Senhor Jesus Cristo. Esta é, portanto, a fé verdadeira: verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”( Jo
crermos e confessarmos que nosso Senhor Jesus Cristo, 17.3). E Jesus diz: “Bem-aventurado é aquele que
o Filho de Deus, é Deus e Homem. É Deus da substân- não achar em mim motivo de tropeço”(Mt 11.6).
cia do Pai, gerado antes dos tempos, e Homem da subs- E: “Bem-aventurado são os que ouvem a palavra
tância de sua mãe, nascido no tempo; Deus perfeito e de Deus e a guarda!”(Lc 11.28).”
Homem perfeito, subsistindo em alma racional e car- Que maravilha! Que Deus em sua graça nos
ne humana. Igual ao Pai segundo a divindade e menor fortaleça a fé no Salvador Jesus. A ele seja toda a
do que o Pai segundo a sua humanidade. Ainda que é honra e todo o louvor, agora e sempre. Amém.
Deus e Homem, nem por isso são dois, mas um único
Cristo, um só, não pela transformação da divindade em Conclusão
humanidade, mas mediante a recepção da humanidade
na divindade. É, de fato, um só, não pela fusão das duas Você crê isso? Talvez você dirá: Quem me
substâncias, mas por unidade de pessoa. Pois, assim dera, pudesse? Mas isso tudo vai contra minha
como corpo e alma racional constituem um único ho- razão. É verdade. Por isso, o apóstolo João afir-
mem, Deus e Homem é um único Cristo, o qual pade- ma: “Veio para o que era seu, e os seus não o re-
ceberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o nhecer a Jesus, o Filho de Deus, como nosso único e
poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que suficiente Salvador e confiar nele plenamente. E ele
crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, opera esta fé nos que não lhe resistem obstinadamen-
nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, te. Esta fé se apega à palavra escrita, quer o compre-
mas de Deus”( Jo 1.11,12). Confessamos na exposi- endamos ou não, quer o sintamos ou não. O Espírito
ção do terceiro Artigo do Credo Apostólico: “Creio Santo nos mostra que a palavra é confiável. Haverá
que por minha própria razão ou força não posso crer tentações, lutas, dúvidas, mas o Espírito Santo nos
em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele. Mas o ampara, para voltarmos sempre à palavra e deposi-
Espírito Santo me chamou pelo evangelho, ilumi- tar nela nossa confiança. Com ela podemos apagar
nou com seus dons, santificou e conservou na verda- as setas inflamadas do maligno (Ef 6.16). Quando
deira fé.” Por sermos espiritualmente cegos, mortos alguém chega a esta convicção, ele sabe, “não foi por
e inimigos de Deus, não minha inteligência que cheguei a este conhecimento
aceitamos essa palavra e convicção, mas foi a graça de Deus Espírito Santo
de Deus nem con- que me regenerou.” E quando alguém se perde pre-
fiamos nela. É cisará confessar: Eu não quis. Confessamos no Cre-
preciso que do Apostólico: “Nesta cristandade perdoa a mim e
Deus Espí- a todos os crentes diária e abundantemente todos os
rito Santo pecados, e no dia derradeiro me ressuscitará a mim e
nos ilumine, a todos os mortos, e me dará a mim e a todos os cren-
nos convença de tes em Cristo a vida eterna. Isto é certamente verdade.
nossa pecaminosi- Amém.
dade e nos faça reco-
Rev. Horst Reinhold Kuchenbecker, Igreja Evangélica Luterana do Brasil
biblicamente falando
Não tenho a pretensão de
esgotar o assunto pro-
posto pelo título. Reparto contigo
ensina isto.
A Concordância Bíblica edita-
da pela Sociedade Bíblica do Brasil
rael, Moisés, foi “tirado das águas”
(Êxodo 2.10). No Salmo 23, um
dos textos bíblicos mais popu-
alguns pensamentos, na esperança apresenta 662 referências à palavra lares do mundo, pedimos que
que sejam sementes. Eis o que quero “água” na Tradução Revista e Atua- nosso Bom Pastor nos leve às
partilhar: lizada de João Ferreira de Almeida. “águas de descanso” (Salmo
Inimigas declaradas na percep- Isto não é pouca coisa. Do Gênesis 23.2). Apocalipse, último li-
ção de muitos teólogos e cientistas, ao Apocalipse ela está presente. Na vro da Bíblia, diz, próximo à
a Teoria Evolucionista e a Proposta verdade, já estava aqui antes de nós. sua conclusão: “Aquele que
Criacionista se tocam em alguns Os dois primeiros versículos da Bí- tem sede venha, e quem quiser
pontos. Um deles refere-se ao lo- blia nos dizem: “No princípio criou receba de graça a água da vida”
cal onde a vida animal começou: a Deus os céus e a terra... e o Espírito (Apocalipse 22.17b).
água. Portanto, existe, desde o iní- de Deus pairava sobre as águas”. A Obviamente, a Bíblia não atribui
cio, um marcante elo entre a água e água também foi usada como juízo nenhum poder mágico à água. Ela,
a vida. De certa maneira a mente do de Deus quando “vieram sobre a em si, é parte da criação de Deus,
homem carrega esta marca: água é terra as águas do dilúvio” (Gênesis sendo, portanto, um meio para os
vida. 7.10). Um juízo que renovou a ter- seus propósitos. No entanto, a água
Infelizmente, nem todas as mar- ra dominada pela maldade humana. é frequentemente usada em cone-
cas na mente do homem o impelem O grande libertador do povo de Is-
a fazer a coisa certa. Até porque es-
tas marcas são diversas, e o homem
parece ter uma tendência a escolher
aquilo que lhe provoca o mal. Deve
ser a tal pulsão de morte da qual nos
falava Freud. Mas bem, voltemos
àquilo sobre o que eu quero falar:
água é vida, e também a Bíblia nos
xão com as promessas e bênçãos de do que é palpável e visível podemos mente, angustiante. Jesus apresen-
Deus. Isto acontece nas figuras de entender melhor aquilo que é espi- ta-se como a “água viva” ( João 4).
linguagem ou no uso da água en- ritual e invisível. Sua escolha fala de Bebemos dele, e através dele temos
quanto elemento sacramental visí- suas qualidades e características. vida. Não uma vida qualquer, mas
vel. O poder não está na água, mas Pensar em água nos remete ao uma vida plena. Se dele bebermos,
na Palavra à qual ela está ligada. De limpar, lavar, purificar. Perceba que jamais teremos sede novamente.
uma maneira ou de outra, o impor- poluir água é destruir parte de seu Imagine o poder desta analogia
tante é notarmos que a água é es- propósito que, em última análise, é numa região árida, rodeada por de-
colhida. Isto ocorre porque através o propósito de Deus. Esta água, usa- sertos. Mais valorizamos aquilo que
da por judeus em suas cerimônias menos temos.
de purificação, torna-se o elemen- A água que limpa e hidrata tor-
to externo do Santo Batismo na-se parte atuante do maior pro-
Cristão. Sua imagem nos pósito de Deus: promover a vida.
fala sobre aquilo que Deus Através da água ele nos mantém fi-
faz no sacramento: lim- sicamente, também através dela ele
pa, lava, purifica, perdoa nos ensina sobre as bênçãos espiri-
pecados. Perdão é vida, tuais que quer nos conceder. Nada
nova vida em Cristo. mais justo do que honrarmos aquele
Dependemos de água que nos presenteia honrando o pre-
para viver. Sem ela não sente que nos concede ( João 3.5,
duramos mais que poucos João 7.38, 1 Pe 3.20,21, Apocalipse
dias. 7.17).
Estar sem ela é, extrema- Rev. Maximiliano Wolfgramm Silva é pastor da Igreja
Evangélica Luterana do Brasil e capelão da Universi-
dade Luterana do Brasil em Santarém
a sua
Uma das atividades mais exercidas por Martinho Lutero foi escrever correspondências. Por meio delas, Lutero
procurava esclarecer as diversas dúvidas levantadas por cristãos de diversas partes da Europa. Abaixo um pequeno
exercício que simula uma suposta correspondência eletrônica de Lutero enviada às igrejas.
Em 2008, quando a elaborei, dividi em duas partes para dois cultos sempre esclarecendo os pontos com in-
formações adicionais. Julgo importante esclarecer a congregação de que pessoas falecidas não podem escrever ou
se comunicar com os vivos. Portanto, esta é apenas uma maneira de ilustrar e fazer referência ao pensamento do
Reformador Martinho Lutero.
From: lutero@docéu.com
To: Igrejas Luteranas em todo o Brasil
Subject: A Reforma da Igreja Cristã
Date: 31 de outubro de 2010
ma da
‘Eles sempre quiseram meu bem estar; suas intenções a meu respeito foram
sempre boas; vinham do fundo de seus corações’. Cursei boas escolas, apesar
de a disciplina nelas ser muito rígida e agressiva, como daquela na qual fui
espancado, me lembro muito bem, quinze vezes numa mesma manhã... Não gosto
nem de lembrar...
Mas isso me fez recordar a disciplina e a exigência feita pela Igreja
Romana, a qual eu e meus pais freqüentávamos por ser a única existente. Os
Padres e o Papa ensinavam que precisávamos nos bater muito e sofrer castigos
por causa de nossos pecados para que Deus nos perdoasse. Sempre achei isso
um absurdo e um abuso.
‘Terrível. Implacável. Assim eu via o Senhor.
Ele nos punia em vida e nos enviava ao purgatório
após a morte ou nos enviava para as chamas do in-
ferno antes do descanso eterno. Mas estava errado.
Quem vê um Deus enfurecido... não o vê com clare-
za... mas o vê através de um véu... como se uma
tempestade escura escondesse a Sua face...’.
Meu pai sempre quis que eu estudasse direito e
fosse um grande homem público. Foi o que fiz, estu-
dei artes e me tornei mestre na área e comecei a
dar aulas de Filosofia. Podia, assim, iniciar meus
estudos em Direito. Nessa época, quando tinha vinte
anos de idade, vi, pela primeira vez, uma Bíblia,
só que estava em Latim e poucos a podiam ler.
Em todos estes anos de estudo, uma coisa me in-
quietava sempre: O que devo fazer para que eu seja
salvo?
Eu não conseguia encontrar paz para minha alma.
Constantemente ficava com medo quando me lembrava
da ira de Deus e dos exemplos de castigo divino.
Esses temores se tornaram mais fortes quando, de
tão doente, caí por cima do suporte onde coloca-
va os livros para lecionar em sala de aula. Depois
perdi um colega de estudos, vítima de acidente. O
Medo da morte me assombrava, pois nunca sabia se
tinha feito o suficiente e se estava preparado para
ser salvo. E em 2 de julho de 1505, quando eu vol-
tava da casa de meus pais, uma tremenda tempestade
sobreveio e um raio caiu numa árvore bem perto de
onde eu estava. Pensei que morreria naquele dia, por isso fiz uma promessa
para Santa Ana de que, ‘se eu saísse com vida dali, eu ingressaria num con-
vento dos monges agostinianos’ na cidade de Erfurt.
Quinze dias depois cumpri minha promessa. Eu esperava sinceramente en-
contrar ali a resposta pra a minha questão sobre o que devo fazer para ser
salvo? E esperava também ali, finalmente encontrar ‘um Deus misericordioso’,
pois eu estava ‘enfeitiçado’ pela idéia de que fazendo boas obras e me cas-
tigando eu ganharia o perdão de Deus. Por isso, dia e noite eu me afligia
com jejuns, orações e vigílias. Esperava que assim conquistaria o céu ‘à
força’. Bem mais tarde percebi que estava errado. ‘Se alguma vez um monge
ganhou o céu através da vida mo-
nástica, então eu também entraria
nele...’.
Depois de muito estudar e buscar
na Escritura a resposta para as
minhas angústias, finalmente encon-
trei a verdade e o consolo, que
tanto procurara. Quando lia o Novo
Testamento, me deparei com um tre-
cho da carta do apóstolo Paulo aos
Romanos (3.28) onde diz: ‘o ho-
mem é justificado pela fé, indepen-
dentemente das obras da lei’, ou
seja, a pessoas é aceita por Deus
pela fé, e não pelo fato de fazer
o que a lei manda.
A partir desse dia mergulhei
com tudo na Bíblia, e pude perce-
ber que o que estava sendo ensina-
do e praticado pela Igreja Romana
não estava de acordo com o que a
Palavra de Deus diz. E o irôni-
co é que, justamente os Romanos
para quem Paulo escreveu esta car-
ta, não estavam levando a sério o
que Deus disse a eles por meio do
Apóstolo Paulo.
Percebi que a minha pergunta
sobre o que fazer para ser sal-
vo estava sendo respondida aos poucos. Percebi também que na época de Jesus
Cristo o povo também fazia a mesma pergunta e acredito que entre vocês aí em
São Luís, no Brasil, e em todo o mundo, muitos fazem essa mesma pergunta.
Alguns acham que precisam fazer penitências, ou fazer e pagar promessas
como eu fazia no tempo em que era frade virtuoso. Eu estava tão empregado em
preces, jejuns, vigílias, frio, auto-flagelação e trabalho que, se tivesse
continuado por muito tempo, provavelmente morreria.
Outras pessoas achavam e ainda acham que, para serem salvas, precisam
cumprir toda a lei. Mas não sabem que isso é impossível ao ser humano, pois
o apóstolo Paulo escreve com muita clareza em Gálatas (5.4): ‘Os que querem
que Deus os aceite porque obedecem à Lei estão separados de Cristo e não tem
a graça de Deus’.
Outros ainda, acham que devem pertencer a uma determinada Igreja para se-
rem salvos e existem outros que pensam que não podem vestir algum tipo de
roupa, ou que devem deixar de comer algum tipo de alimento para se salvarem.
Mas tudo isso de nada contribui para a salvação.
Enquanto eu me aprofundava nos ensinos da Bíblia, percebi que, na verda-
de a pergunta não deveria ser: O que devo fazer para ser salvo? Mas deve-
ria ser: QUEM é a salvação? Ou: QUEM poderá me salvar? Pois a Bíblia é cla-
ra neste ponto onde afirma que, a salvação acontece somente pela fé em JESUS
CRISTO.
Aos poucos pude compreender o que meu grande amigo e conselheiro João
Staupitz me dizia: ‘Habitue-se ao fato de que Cristo é o Salvador verdadei-
ro e você, pecador real. Deus não brincou ao entregar seu Filho por nós’. Ou
seja, meu amigo já me dizia a grande verdade do Evangelho de que o ser huma-
no, como eu e como vocês, é pecador e precisa da salvação que vem de Cristo,
pois, como diz Paulo (Gl 2.21); “... se é por meio da lei que as pessoas são
aceitas por Deus, então a morte de Cristo não adiantou nada!”, e nós ainda
estaríamos perdidos para sempre.
Encontrei muitas outras passagens que me ajudaram a confirmar essa minha
constatação: Rm 1.17; ‘O justo viverá por fé’. Rm 4.28; ‘Assim vemos que a
pessoa é aceita por Deus pela fé e não por fazer o que a Lei manda’. O mes-
mo apóstolo Paulo citando Davi: Rm.4.6b-8 (Sl.32) diz: ‘...bem-aventurado o
homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras: Bem aventu-
rados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos.
Bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado’...
Como assim? Eu havia aprendido que Cristo era um juiz rigoroso e só apre-
ciava as boas obras?
Graças a Deus, pude ver, pela Bíblia, que a justiça de Deus e a salvação
dos homens se faz SOMENTE PELA FÉ no Cristo Salvador. Que grande amor de
Deus para conosco, miseráveis seres humanos!! (Sola fide)
Finalmente compreendi e desejo que todos vocês também compreendam a ver-
dade do EVANGELHO e as suas conseqüências para a vida do cristão. Jesus diz
em João 8. 32: ‘e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará’. Eu co-
nheci esta verdade e por isso não desisti de levar adiante essa verdade
para que vocês e tantas pessoas que ainda virão depois de vocês, conheçam a
verdade que Liberta.
Em 1511, recebi a ordem de ir para Roma. Este era m antigo sonho meu. Só
que ali me decepcionei completamente. Chamavam Roma de ‘Cidade Eterna’...
‘Se existe inferno, Roma foi construída sobre ele’ pois lá vi tanta rouba-
lheira pois a Igreja Romana vendia indulgências. Estas eram cartas trocadas
por dinheiro para que a pessoa que comprasse tal ‘passe’, tivesse lugar ga-
rantido no céu. Sempre achei que isso não era correto.
Também em Roma, vi prostitutas que faziam ‘promoções’ para os padres.
A igreja já não era mais Igreja, havia se transformado em um go-
verno de homens sem interesse com o Evangelho. Ela estava cada vez
mais se afastando da verdade escriturística de que Jesus é o sal-
vador de todo homem que nele crer. E tudo isso debaixo do nariz
do Papa, e ele não fazia nada.
Com a intenção de debater sobre o valor das Indulgências e o
distanciamento cada vez maior da verdade de Deus, escrevi 95 te-
ses ou pontos do ensino da Igreja Romana que estavam sendo dis-
torcidos da palavra Bíblica e, no dia 31 de outubro de 1517, as
prendi na porta da Igreja de Wittemberg. Elas logo foram tra-
duzidas para várias línguas e logo chegaram aos ouvidos do papa
Leão X.
Eu, Martinho Lutero, não sabia que aquelas afirmações teriam essa
repercussão. Eu havia escrito apenas para que os professores e alunos
da Universidade de Wittemberg lessem e pensassem nelas. Mas, eu tinha a
certeza que tudo que escrevi estava correto, pois escrevi baseado na Es-
critura Sagrada. Também sabia que Deus está sempre do lado da verdade e que
Deus estava agindo ali naquele momento através daquelas palavras. Deus que-
ria e quer mostrar a verdade a todas as pessoas de todas as épocas, a mim e
a vocês, pois ‘a verdade nos libertará’.
Jesus também diz: ‘se vocês permanecerem na minha palavra, vocês serão
verdadeiramente meus discípulos’ (Jo. 8. 31) Mas, se a verdadeira Palavra
de Deus não estava sendo proclamada e ensinada, como as pessoas iriam co-
nhecer a verdade?
A Onipotência de Deus e a
Universalidade da Graça no
1. Jonas: personagem
ou profeta?
Não há razão alguma para sustentar a tese de que 3 WATTS, 1975, p. 82. O autor lembra também que há alguns
possuir estrutura simétrica mostra a inexatidão histó- mitos que reconheciam “três dias e três noites” como o perío-
do de tempo da fase escura da lua.
a. A missão de Jonas corresponde historicamente (LASOR, 1999, p. 419).” Por outro lado, o autor tam-
com a situação de Nínive na época; bém lembra que “um firme princípio no estudo bíblico
b. Corrupção moral da cidade pode ser vista em é que, mesmo numa passagem claramente histórica, a
Naum 3.1.; e mensagem teológica é mais importante que os detalhes
c. A descrição da grandeza de Nínive está em har- históricos (id. ibid, p.419).”
monia com os apontamentos feitos pelos escritores Entretanto, em nossa opinião, se tomássemos o li-
clássicos. vro do profeta Jonas como parábola, o máximo que
conseguiríamos extrair de sua mensagem seria a uni-
Concordamos que os eventos milagrosos relatos versalidade da graça de Deus revelada no ministério do
em Jonas são extraordinários. Tão extraordinários que personagem Jonas entre os gentios de Nínive.
Lutero chegou a dizer que “também não teria crido na A universalidade da graça de Deus é atestada no
veracidade da história, se não fosse parte das Escrituras trabalho de Jonas entre os ninivitas. Yahweh não é um
Sagradas (KUNSTMANN, 1983, p.83)”. Deus tribal que deseja somente a salvação de Israel.
Em 2Reis, Jonas é visto como personagem históri- Yahweh é Aquele que quer “abençoar todas as famí-
co. Caso o livro de Jonas fosse uma parábola, o autor lias da terra”. Ele trabalha para isso desde o princípio,
não intentaria fazê-la parecer real utilizando formas quando criou o mundo ex nihilo por meio do Verbo.
literárias profético-narrativas e usando a figura de um Ele prometeu enviar seu amor encarnado à Eva, mãe
profeta histórico como personagem da parábola. Usar- de todos os seres humanos (Gn 3.15). E consolida a
-se-ia profetas fictícios e formar literárias próprias ás promessa no envio de Cristo ao mundo. Tudo isso não
parábolas. Decididamente, o fator que pesa e autentica para ‘julgar o mundo, mas para salvá-lo’.
a historicidade de Jonas é o testemunho de Cristo acer- Não queremos desprezar a universalidade da graça,
ca do sinal de Jonas e do arrependimento dos ninivitas. mas a mensagem do livro de Jonas é maior. Há de se
Além disso, devemos acrescentar que Jesus se compara sublinhar a onipotência de Deus, a partir de uma inter-
diretamente a Jonas. Nenhum outro profeta recebe tal pretação histórica do livro.
tratamento. A onipotência de Deus em Jonas só se ‘encarna’
Em vista dos argumentos analisados, o livro de Jo- quando tomamos o livro como relato histórico. Assim,
nas parece retratar a história real do filho de Amitai en- numa interpretação histórica do livro, vemos Yahweh
viado por Deus para anunciar os desígnios de Deus aos agindo na história, provocando acontecimentos4 em
habitantes da cidade de Nínive, em alguma época do favor de Seu povo. Ele faz maravilhas e proezas inexpli-
VIII século antes de Cristo. cáveis a fim de levar sua mensagem aos ninivitas. Epi-
sódios como o grande peixe sublinham a onipotência
3. Perspectivas Pastorais e de Deus. E, isso é crucial para a pregação cristã. Anun-
Missionárias ciamos um Deus que age milagrosamente em favor de
todos. Dessa forma, há uma relação intrínseca entre o
Lasor escreve que “caso se decida pela interpretação poder de Deus e o anúncio de salvação e libertação a
parabólica ou simbólica porque o elemento miraculoso todos. Deus age na história. Deus salva a todos. Deus
é problemático, a decisão será baseada numa conclusão liberta os excluídos.
moderna preconcebida que, contrária à posição bíblica, De igual modo, nosso discurso não pode ficar so-
rejeita a intervenção sobrenatural de Deus na história mente no campo das palavras. Precisamos agir histo-
ricamente. Necessitamos encarnar o evangelho através
de nossa ação em amor a Deus e ao próximo. Nesse sen-
tido, o anúncio profético da Igreja será revestido pelo
poder e graça de Deus. Declaramos o ‘não’ de Deus,
denunciado os sistemas de exclusão que deixam à mar-
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LASOR, W. S. HUBBARD, D.V. BUSH, F. W. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo:Vida Nova, 1999.
LEMANSKY, J. The Jonah’s Nineveh. Concordia Journal. v. 18 nº1 p. 40-48. Jan. 1992.
SHÖKEL, L. A. DIAZ, J. L. Profetas II: Ezequiel, Profetas menores, Daniel, Baruque, Carta de Jeremias. (Grande Comentário
Bíblico). São Paulo: Paulinas, 1991.
SPAUDE, C. W. Obadiah, Jonah, Micah (The people’s bible). Milwaukee: North Wester, 1987.
UNGER, M. F. Introductory Guide to the Old Testament. Grand Rapids: Zondervan, 1951.
WATTS, J. D.W.The books of Joel, Obadiah, Jonah, Nahum, Habakuk and Zechariah. London, New York, Melbourne: Cambridge,
1975
Demais Referências
ALLEN, L. C. The books of Joel, Obadiah, Jonah and Micah. s.l. W. B. Eerdmans, 1976.
ROOS, Deomar. Apostila de Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: ICSP-EST, 2000.
A Estrela
As Estrelas eram símbolos
bastante comuns na vida
dos antigos. Os astrólogos desenvol-
Estrelas — as reais no céu e suas
representações que nós podemos fa-
zer — são muito significativas para
anjo para anunciar essas coisas a vo-
cês nas igrejas. Eu sou o famoso des-
cendente do rei Davi. Sou a brilhan-
veram uma pseudociência, combi- os cristãos. Elas nos lembram do te estrela da manhã.” (Ap 22.16)
nada com crenças religiosas, a qual Criador e sua maravilhosa criação.
acreditava na influência das estrelas O Salmista chama lua
sobre os sentimentos humanos e e estrelas de trabalho
que sua posição no céu indicava algo das mãos de Deus.
sobre eventos na terra. Até hoje as Ainda mais, a es-
estrelas são usadas como símbolos. trela no período
Policiais as usam como escudos que de Epifania apon-
simbolizam sua autoridade. Pessoas ta para a salvação
de qualidades brilhantes para as ar- que nos trouxe nosso
tes cênicas ou esportes são chama- abençoado Salvador, que
das de estrelas (astros). por meio de João nos diz:
Estrelas aparecem evidenciadas “ Eu, Jesus, enviei o meu
em nossas igrejas e casas — Estre-
las de cinco pontas — durante o
período de Advento e Epifania. O
significado que nós encontramos
para isto vem da Bíblia. No Antigo
Testamento a vinda do Salvador é
mostrada sob a figura de uma estre-
la. Apontando, é claro, para a crian-
ça de Israel, Balaão a abençoou com
a seguinte profecia: “Olho para o
futuro e vejo o povo de Israel. Um
rei, como uma estrela brilhante, vai
aparecer naquela nação; como um
cometa ele virá de Israel. Ele derro-
tará os chefes dos moabitas e acaba-
rá com esse povo orgulhoso.” (Nm
24.17).
A Festa de Epifania marca o
Natal dos Gentios. No Novo Tes-
tamento está registrada a história
dos sábios que vieram adorer Jesus
Cristo e que a estrela apontava o lu-
gar onde o menino deveria nascer.
A estrela é parte importante desta
história, pois ela guiou os Magos até
Belém.
Baixo
Violão
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pastorjarbas@gmail.com; www.pastorjarbas.blogspot.com
2 Três reis magos
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Três reis magos 3
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Três reis magos 5
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Os Reis Magos
Os Magos são figuras que representam bem a Epifania.
Eles não foram personagens criados pela tradição. Estão muito bem testemunhados no Evangelho.
Eles seguiram uma estrela e chegaram até onde Jesus estava. Era o Filho de Deus, o Messias, dos judeus, que não
ficaria apenas para os judeus. Jesus foi enviado para todo o povo. Até mesmo os gentios, como os Reis Magos, são
objeto de Salvação, pois Deus quer salvar a todos.
Comissão de Culto da IELB Litúrgica: Culto de Natal
P.: Peço em nome e por amor de Jesus, aceitos por Deus e recebamos a vida eterna que
T.: Nosso único e suficiente Salvador, Amém. esperamos.
P.: O Deus de toda graça teve compaixão de nós, e
a todos os arrependidos que confiam nesta gra- Evangelho de Lucas 2.1-20
ça salvadora, ele perdoa, restaura a esperança e P.: Naquele tempo o imperador Augusto mandou
dá poder para se tornarem seus filhos. Vai em uma ordem para todos os povos do Império.
paz! Perdoados estão os teus pecados em nome Todas as pessoas deviam se registrar a fim de ser
do PAI e do FILHO e do ESPÍRITO SAN- feita uma contagem da população.
TO. Amém. Quando foi feito esse primeiro recenseamento,
Cirênio era governador da Síria.
6. Salmo Então todos foram se registrar, cada um na sua
própria cidade.
7. Glória Por isso José foi de Nazaré, na Galiléia, para a
T.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Santo Espírito. região da Judéia, a uma cidade chamada Belém,
Como era no princípio, agora é e por todo o onde tinha nascido o rei Davi. José foi registrar-
sempre há de ser! Amém. -se lá porque era descendente de Davi.
Levou consigo Maria, com quem tinha casa-
8. Oração mento contratado. Ela estava grávida, e aconte-
P.: Pai Celestial, que nos deste o teu Filho, Rei ceu que, enquanto se achavam em Belém, che-
nascido em Belém, para que nos fosse sacrifício gou o tempo de a criança nascer. Então Maria
pelo pecado, bem como exemplo de vida san- deu à luz o seu primeiro filho. Enrolou o meni-
ta, dá-nos a tua graça para que recebamos com no em panos e o deitou numa manjedoura, pois
agradecimento este enorme benefício, e dá-nos não havia lugar para eles na pensão.
a capacidade de seguir os passos de sua vida Naquela região havia pastores que estavam pas-
santa. Pelo mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor sando a noite nos campos, tomando conta dos
e Salvador, nascido em humildade em Belém. rebanhos de ovelhas.
Aleluia. Amém. Então um anjo do Senhor apareceu, e a luz glo-
riosa do Senhor brilhou por cima dos pastores.
9. Canto Congregacional (HL 549) Eles ficaram com muito medo, mas o anjo dis-
Ó tempo santo de Natal, se:
Tu tens mensagens lindas! MULHERES.: Não tenham medo! Estou aqui a
O mundo não tem luz nem paz, fim de trazer uma boa notícia para vocês, e ela
Mas isto meu Jesus me traz. será motivo de grande alegria também para
Ó tempo santo de Natal, todo o povo! Hoje mesmo, na cidade de Davi,
Tu tens mensagens lindas! nasceu o Salvador de vocês - o Messias, o Se-
nhor! Esta será a prova: vocês encontrarão uma
Ó tempo santo de Natal, criancinha enrolada em panos e deitada numa
Alegras toda a gente! manjedoura.
Jesus a cada coração P.: No mesmo instante apareceu junto com o anjo
Traz vida, paz, consolação. uma multidão de outros anjos, como se fosse
Ó tempo santo de Natal, um exército celestial. Eles cantavam hinos de
Alegras toda a gente! louvor a Deus, dizendo:
T.: Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E
10. Leituras paz na terra para as pessoas a quem ele quer
bem!
Tito 3.4-7 P.: Quando os anjos voltaram para o céu, os pasto-
P.: Porém, quando Deus, o nosso Salvador, mos- res disseram uns aos outros:
trou a sua bondade e o seu amor por todos, ele HOMENS.: Vamos até Belém para ver o que
nos salvou porque teve compaixão de nós, e não aconteceu; vamos ver aquilo que o Senhor nos
porque nós tivéssemos feito alguma coisa boa. contou.
Ele nos salvou por meio do Espírito Santo, que P.: Eles foram depressa, e encontraram Maria e José, e
nos lavou, fazendo com que nascêssemos de viram o menino deitado na manjedoura. Então con-
novo e dando-nos uma nova vida. taram o que os anjos tinham dito a respeito dele.
Deus derramou com generosidade o seu Espíri- Todos os que ouviram o que os pastores disse-
to Santo sobre nós, por meio de Jesus Cristo, o ram ficaram muito admirados.
nosso Salvador. Maria guardava todas essas coisas no seu cora-
E fez isso para que, pela sua graça, nós sejamos ção e pensava muito nelas.
Então os pastores voltaram para os campos, 15. Oração Geral + Oração Natalina
cantando hinos de louvor a Deus pelo que ti- P.: (Concluindo) — Ó Senhor Deus, nosso Pai,
nham ouvido e visto. E tudo tinha acontecido nossos corações estão cheios de alegria porque
como o anjo havia falado. iluminaste a primeira noite de Natal com o res-
T.: Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E plendor do teu Filho, o pequeno Jesus, a Luz
paz na terra para as pessoas a quem ele quer do mundo. Concede, ó Pai, que assim como
bem! esta luz nos conduziu aqui à tua casa, ela tam-
11. Confissão da fé bém ilumine e conduza os nossos corações sem-
pre no caminha da luz divina.
P.: Creio em Deus Pai todo poderoso, criador do Concede que a mensagem do Natal nasça, re-
céu e da terra. nasça e viva nos corações de todas as pessoas na
C.: Creio que este mundo não surgiu por acaso, face da terra.
ou por uma simples explosão, mas creio que foi Por Jesus, o menino de Belém, o nosso Salva-
Deus quem o criou. dor. Amém.
P.: Creio em Jesus Cristo, filho único de Deus,
nascido da virgem Maria pela ação do Espírito 16. Canto Congregacional (HL 555)
Santo. 1. Oh! Vinde, meninos, Não falte ninguém!
C.: Creio que Jesus morreu na cruz para perdoar Correi ao presépio da gruta em Belém,
todos os meus pecados, que ele ressuscitou no E vede o presente sublime que Deus
domingo de Páscoa e que 40 dias após, subiu Na noite feliz nos envia dos céus.
ao céus para preparar um lugar para todos os
que nele creem. Creio também que ele voltará, 2. Oh! Vede deitado do mundo áurea luz,
visivelmente e em glória, para julgar os vivos e Criança divina, que é Cristo Jesus;
os mortos. Em faixas envolto, eis o Filho de Deus,
P.: Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Cristã Mais meigo e formoso que os anjos dos céus.
- a comunhão dos santos, na remissão dos peca-
dos, na ressurreição da carne e na vida eterna. 3. Maria e José enlevados estão,
C.: Eu creio que jamais poderia ser filho de Deus, Pastores humildes, em grata oração;
se não fosse o Espírito Santo. Ele entrou em E os anjos alegres entoam louvor
meu coração e me deu a fé. Creio também que Com voz jubilosa a Jesus Salvador.
existe vida após a morte. Creio em Ressurrei-
ção, e não em Reencarnação, porque a Bíblia 4. De joelhos, meninos, de joelhos orai,
diz: “Aos homens está ordenado morrer uma só As mãos para prece sincera elevai;
vez e depois disto, o juízo”. Amém. (Hb 9.27). Uni vossas vozes com santo fervor
12. Canto Congregacional (HL 549) Ao coro dos anjos, louvando ao Senhor!
Ó tempo santo de Natal, 17. Pai Nosso
Tu tens mensagens lindas! T.: Pai nosso, que estás nos céus. Santificado seja
O mundo não tem luz nem paz, o teu nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua
Mas isto meu Jesus me traz. vontade, assim na terra como no céu. O pão
Ó tempo santo de Natal, nosso de cada dia nos dá hoje. E perdoa-nos as
Tu tens mensagens lindas! nossas dívidas, assim como nós também per-
doamos aos nossos devedores. E não nos deixes
Ó tempo santo de Natal, cair em tentação. Mas livra-nos do mal. Pois
Eternamente lindo! teu é o reino, o poder, e a glória, para sempre.
Reina alegria em terra e céu: Amém.
O amor do Pai, Jesus nos deu.
Ó tempo santo de Natal, 18. Palavras da Instituição
Eternamente lindo! P.: Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite em que foi
13. Mensagem traído, tomou o pão
C.: e, tendo dado graças, o partiu e o deu a seus dis-
14. Ofertório e Recolhimento das cípulos dizendo:
P.: “Tomai, comei, isto é o meu corpo, que é dado
ofertas de gratidão por vós. Fazei isto, em memória minha”.
“Que cada um dê conforme resolveu no coração, C.: E, semelhantemente também, depois da ceia,
não com tristeza nem por obrigação, pois Deus ama tomou o cálice e, tendo dado graças, o entre-
quem dá com alegria”. (2Co 9.7). gou, dizendo:
P.: “Bebei todos deste. Este cálice é o Novo Testa- 23. Canto Final - HL 560
mento no meu sangue, que é derramado por vós 1. Noite Feliz! Noite Feliz!
para a remissão dos pecados. Fazei isto quantas Ó Senhor, Deus de amor,
vezes o beberdes, em memória minha”. Pobrezinho nasceu em Belém.
P.: A paz do Senhor seja convosco para sempre Eis na lapa Jesus, nosso Bem!
C.: Amém. Dorme em paz, ó Jesus!
19. Agnus Dei Dorme em paz, ó Jesus!
|: Cordeiro Divino, morto pelo pecador, 2. Noite Feliz! Noite Feliz!
sê compassivo! :| Eis que no ar vêm cantar.
Cordeiro Divino, morto pelo pecador, Aos pastores os anjos dos céus,
a paz concede! Amém! Anunciando a chegada de Deus,
20. Distribuição (Hinos Natalinos) De Jesus Salvador!
De Jesus Salvador!
21. Ação de Graças
3. Noite Feliz! Noite Feliz!
T.: Te agradecemos, o Pai, por este presente que Oh! Jesus, Deus da luz,
salva. Pedimos que esta Santa Ceia nos fortale- Quão afável é teu coração
ça a fé em ti e nos dê mais motivação para servir Que quiseste nascer nosso irmão
o nosso semelhante em amor. Mediante Jesus, Para a todos salvar!
nosso Salvador e Senhor. Amém. Para a todos salvar!
22. Bênção 24. Poslúdio e Recessional
e Avisos
Liturgia completa e em diversos formatos no blogue Liturgia Luterana. Inclusive as melodias para as partes
cantadas, sugeridas nesta liturgia. www.liturgialuterana.blogspot.com
Toque de Natal!
Se a nossa maior necessidade fosse educação, Deus teria
mandado um pedagogo; se fosse tecnologia, teria mandado
um cientista; se fosse dinheiro, um economista;
mas como nossa maior necessidade era perdão, amor e vida,
Deus nos mandou o Salvador — Jesus.
O “wikileaks” de cada um
O assunto é Wikileaks — um site na inter-
net que publica documentos, fotos e in-
formações confidenciais, vazadas de governos
fechado, será anunciado abertamente” (Lucas
12.2-3).
O teólogo Dietrich Bonhoeffer, que morreu
ou empresas, sobre assuntos sensíveis. No último torturado nos campos nazistas, escreveu que
dia 28 de novembro, esta organização divulgou nos acostumamos a viver com um duplo enga-
mais de 250 mil documentos secretos enviados no que permite até viver despreocupadamente.
de embaixadas americanas ao redor do mun- Acreditamos que os nossos erros ficarão para
do a Washington. A maior parte dos sempre no abismo do esquecimento,
dados trata de assuntos diplo- e que o oculto nunca será revelado.
máticos — que provocou “Vivemos duas vidas, uma pública
reação negativa de e uma escondida”, disse o mártir
diversos países e alemão. No tempo dele não tinha
deixou o governo Internet, mas se referia ao enga-
dos Estados Unidos no humano diante do wikileaks
muito envergonha- divino.
do. Conta-se que uma viúva teve
O logotipo do problemas com o testamento, e foi
Wikileaks — o planeta Terra vazando — procurada por um advogado ami-
mostra bem que nestes tempos da Inter- go que se ofereceu para cuidar da
net, nada fica em segredo por muito questão. No entanto, a viúva demo-
tempo. Tudo vaza. Bom e ruim ao rou em buscar auxílio jurídico.
mesmo tempo. Bom porque a Percebendo a gravidade, foi ao
gente fica sabendo de coisas que encontro do advogado, mas
nunca deveriam ficar em segre- este a recebeu com as seguintes
do. Ruim porque, cedo ou tarde, palavras: — Sinto muito, mas
os nossos próprios segredos e agora fui escolhido para ser o
confidências estarão às vistas juiz desta questão.
de todos. Quem sabe Escreve a Bíblia:
um cumprimento “Se alguém pecar,
profético daqui- temos Jesus Cris-
lo que disse Jesus to...; ele nos defende
sobre a falsidade: diante do Pai” (1º João
“Tudo o que está coberto 2.1). É Advento, tempo para
vai ser descoberto, e o que está escondido será fugir dos nossos enganos e crer na reveladora
conhecido. Assim tudo o que vocês disserem na história do Natal.
escuridão será ouvido na luz do dia. E tudo o Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo
Hamburgo-RS
que disserem em segredo, dentro de um quarto