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SIMEON EDMUNDS

PODER 
PSÍQUICO DA

Instrumento de saúde e
autoconhecimento
SIMEON EDMUNDS

PODER 
PSÍQUICO DA
HIPNOSE
Instrumento de saúde e
autoconhecimento

Supervisão da Série
MAXIM BEHAR 
NORBERTO DE PAULA LIMA

iv s é zn v /ij-
Tradução:
Lindbergh Caldas de Oliveira

Composi
posição,
ção, Revisão
Revisão e Arte:
Arte:
Estúdio Behar

Títu
Títullo orig
origina
inal:
l:
THE PSYCHIC POWER OF HYPNOSIS
© Copyright 1 982 by The Aquar
Aquarian
ian Pres
Presss
ISBN 0 85030 291 9
© Copyright 1983 by Hemus Editora
Editora Ltda
Ltda..
Mediante contrato firmado com The Aquarian Press

Todos
Todos os direi
direittos adquir
adquiriidos
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portuguesa
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Impresso no Brasil
índice

1 Os principais fenômenos do hipnotismo


Os principais fenômenos do hipnotismo 9

2 Hipnotismo e hipnose
O estado hipnótico — Técnicas de indução — Alucinações e
regressão —Auto -h ip nose............................................................... 12

3 Fenomenologja e pesquisa psíquica


A Sociedade para a Pesquisa Psíquica — Terminologia — 
Telepatia espontânea - Clarividência através de sonhos —Psi-
cometria e psicografia —Poderes mediúnicos —Pesquisa psí
quica exp erim enta l......................................................................... 19

4 Breve resumo histórico


Sir William Barrett - Exteriorização da sensibilidade ............... 28

5 Hipnose e paranormalidade
Dr. Bjorkhem - Jarl Fahler - A “senhorita B” - Prof. Vasilyev
 —Dr. Ryzl —As experiências do Dr. E isenbud.......................... 33

6 Pseudoclarividência e reencamação
Memórias psíquicas e lembranças nítidas —“Brídey Murphy” . 48

7 Hipnose e curas paranormais


Hipnose e diagnóstico —Edgar Cayce —Sugestionabilidade .. 56

8 Situação atual e perspectivas futuras


Estimulação emocional da PES —“Flashes” psíquicos —Difi
culdade de classificação dos fenômenos psíquicos .................... 62
1/ Os principais fenômenos
do hipnotismo
' r um incêndio, juro! As chamas estão queimando tudo!”
Sflo palavras quase gritadas. Então, deitada confortavelmente
Md   divã do consultório de um psicanalista —em meio à quietude
 peculiar do ambiente - um a mulher continua a descrever um incên
dio que está ocorrendo a mais de cento e cinqüenta quilômetros dali.
Um senhor idoso sai para um passeio e não mais retorna. Todas as
 buscas para encontrá-lo resultam malogradas. Um hipnólogo mostra
.1  uma jovem um cachecol que pertencera a um homem desaparecido
c esta, sem pestanejar, afirma que o mesmo está morto. Passa, a
'.rKuir, a descrever o que lhe ocorrera e o local onde seu corpo poderá
ser encontrado.
Uma jovem hipnotizada toca uma mancha de sangue num casaco
 pertencente a um homem agora morto. “Foi assassinado”, diz, e
 passa a descrever o criminoso e as cenas do crime. Um adolescente
sob hipnose relata as ações de seu próprio pai. Outro lê a manchete
que certo jornal publicará no dia seguinte.
Um homem queixa-se de uma estranha dor que deixa os médicos
aturdidos. Hipnotizado por um d e s c o n h e c id o s e m quaisquer
conhecimentos médicos, faz um diagnóstico preciso e descreve seu
 próprio tratam ento, findo o qual recupera-se totalmente.
lissas histórias não constituem — de forma alguma — obras de
imaginação fértil de escritores de novelas sensacionalistas. Muito pelo
contrário, são fatos reais e sua veracidade foi corroborada por
 pessoas de conduta ilibada após submetidas a uma análise fria e
desapaixonada.
É, por exemplo, o caso do Prof. Pierre Janet, famoso neurologista
e psicólogo francês, que disse a uma jovem hipnotizada, durante uma
sessão, estar enviando-a ao que chamava de “excursão psíquica”, na
qual ela iria introjetar-se cada vez mais “em sua mente”, e dessa
forma seria capaz de ver o que seu amigo Charles Richet fazia àquele
momento.
O laboratório de Richet ficava em Paris, a cerca de duzentos e
 poucos quilômetros do Havre, local em que o professor realizava
sua experiência. De alguma forma ainda intrigante para a ciência,
l.eonie, sua paciente, venceu mentalmente essa distância, pois após
seu grito excitado “É um incêndio”, forneceu uma descrição minu
ciosa do incêndio que causou sérios danos ao laboratório de Richet
naquele dia.
Richet confirmou a veracidade do caso, segundo seu colega Dr.
Eugene Osty, que por muitos anos foi diretor do Instituto Metafísico
Internacional de Paris.
Um homem idoso, chamado Lerasle, saiu para um passeio no
campo e não mais voltou para casa. Após duas semanas de buscas
inúteis, um cachecol que lhe pertencera foi enviado ao Dr. Osty a
fim de verificar se algum paciente sob estado hipnótico poderia
fornecer alguma pista de seu paradeiro. Osty mostrou-o a um deles,
Madame Morei, sem lhe revelar nenhum detalhe do caso. Esta, sob
hipnose, descreveu minuciosamente a aparência do hom em, a manei
ra como estava vestido, locai onde morava, e o passeio que dera no
dia em que desapareceu de casa, acrescentando que seu corpo jazia
estendido num bosque em meio aos galhos de uma árvore, num
local próximo a um riacho. Disse ainda que o velho sentiu-se mal,
deitou-se para descansar um pouco, vindo a falecer.
 Novas buscas foram levadas a efeito logo após essa descrição e o
corpo de Lerasle foi encontrado no exato local descrito por Madame
Morei. Quase todos os detalhes que fornecera em estado de transe
conferiam.
A jovem que tocou a mancha de sangue e descreveu o assassinato
foi a Senhora Reyes de Zierold, paciente do Dr. Gustav Pagenstecher,
do México. 0 Dr. Prince, um pesquisador, mostrou-lhe um casaco
que um fazendeiro usava ao ser morto. Apesar de várias tentativas
feitas, sua única impressão era a de que tinha em mãos apenas uma
 peça comum de vestuário, até que seus dedos tocaram a mancha de
sangue. Ato contínuo, começou a descrever as circunstâncias dramá
ticas que envolveram o crime.
 Nenhum dos dois pesquisadores sabia qualquer detalhe sobre o
crime, mas as investigações subseqüentes provaram a veracidade' dos
relatos da Sra. Reyes.
Um conhecido hipnotizador, Alexander Erskine, revelou as
sessões a que submeteu certa vez o filho adolescente de um famoso
diplomata, tendo este contado tudo que seu pai —ausente —fazia
naquele momento. O diplomata em questão, que realmente se envol
vera numa situação muito comprometedora, ficou tão embaraçado
ao tomar conhecimento do fato que fez Erskine prometer-lhe nunca
mais fazer qualquer experiência envolvendo-o.
0 homem leu a manchete no jornal do dia seguinte reconhecendo
haver sido colocado em estado de hipnose, sendo sua afirmação feita
na presença de vários dos mais eminentes médicos da Inglaterra. Por
razões éticas, estes não permitiram que seus nomes fossem aqui
incluídos, mas seus testemunhos foram devidamente registrados e
serio —como esperamos —eventualmente publicados.
E o homem que foi “milagrosamente” curado por um desconhe
cido e incompetente hipnotizador foi o americano Edgar Cayce,
conhecido posteriormente como “o doutor adormecido”. Nascido
cm 1876, no Kentucky, perdeu completamente a voz aos vinte e um
anos devido a uma forte crise de laringite.
A despeito de um prolongado tratamento médico a que se subme
teu, permaneceu incapacitado de falar até o dia em que um homem
que fazia exibições ambulantes de hipnotismo tentou curá-lo. Este
fê-lo realmente falar, só que em estados de transe. Todas as tenta
tivas para uma cura permanente em Cayce fracassaram.
Depois que o mágico ambulante se foi, um outro hipnotizador
amador, chamado Layne, sugeriu que, se Cayce podia falar em
estado de transe, poderia talvez descrever a natureza do problema que
o afligia e, quem sabe, receitar algum remédio para sua cura. Cayce
concordou e submeteu-se a uma sessão de hipnose. Nesta, Layne
 perguntou-lhe por que perdera a voz e de que maneira poderia curar-
se permanentemente. Ficou estupefato quando Cayce lhe respondeu:
“Sim, podemos ver o corpo. No estado físico normal seu corpo
acha-se incapacitado de falar devido a uma paralisia parcial das
cordas vocais, produzida por tensão nervosa. É uma condição psico
lógica produzindo um efeito físico. Pode-se remover a causa aumen
tando-se a circulação sangüínea na região afetada, através de  suges-
tão, enquanto o mesmo se encontra em estado inconsciente”.
Layne fez as sugestões necessárias, a garganta de Cayce mudou
de cor e, após alguns minutos, ele disse: “Tudo bem agora. A condi
ção já foi eliminada. Faça a sugestão necessária à normalização da
circulação e após isso desperte o corpo”. Layne assim fez e daí em
diante Cayce voltou a falar tão bem como antes.
Layne e Cayce concluíram então que poderiam auxiliar outras
 pessoas dessa form a, e decidiram dedicar suas vidas a esse trabalho.
Descobriu-se posteriormente que Cayce podia diagnosticar pacientes
à distância, estimando-se em cerca de trinta mil as ‘leitu ras” - como
as chamava —que deu em vida, muitas das quais a pedido de médi
cos. A maioria delas, segundo registros existentes, foi muito precisa.
Os casos aqui relatados representam apenas alguns dos inúmeros
exemplos em arquivo daquilo que conhecemos como “fenômenos
maiores” do hipnotismo — assim chamado porque parece envolver
algum fator paranormal ou “psíquico” - em oposição à fenomeno-
logia hipnótica geralmente considerada normal atualmente.
Vários tipos de fenômenos “psíquicos” - telepatia, por exemplo
 — são fenômenos que ocorrem sem que a hipnose esteja envolvida.
Tais ocorrências são em sua maioria espontâneas, imprevisíveis e
 pouco dignas de crédito. É no intuito de desvendar seus mistérios,
 bem como produzi-los sob rigoroso controle científico que centenas
de estudiosos dedicam-se cada vez mais ao assunto.
Entretanto, antes de nos aprofundarmos no estudo da fenomeno-
logia paranormal, ou no aumento da percepção extra-sensorial, anali
semos primeiramente a hipnose - o que é, do que é capaz - para
 passarmos, então, aos fenômenos psíquicos e à ciência que se encar
rega de seu estudo: a pesquisa psíquica.

l  Hipnotismo e hipnose

Velhas superstições demoram a morrer. Para muitas pessoas, o


hipnotismo ainda é algum tipo de magia negra: o hipnólogo seria
- para essas pessoas —um tipo sinistro que usaria seus poderes malé
ficos para impor sua vontade às suas pobres vítimas. E para aqueles
que já presenciaram os fenômenos notáveis produzidos pelo hipno
tismo, ou já leram relatos acerca de sua quase-miraculosa influência,
quer para o bem quer para o mal, não representa surpresa o fato de
muitas pessoas ainda acreditarem em tal tipo de crendices.
Os homens de ciência sempre se defrontaram com esse problema
e, embora ainda não se saiba qual a verdadeira natureza da hipnose — 
 pois estamos numa fase mais de descrição que de explicação —já há
atualmente um consenso geral sobre a inexistência de fatores para-
normais, psíquicos ou ocultos, no hipnotismo em si.

O estado hipnótico
A palavra hipnotismo  trata do assunto de uma forma abrangente,
 bem com o das técnicas adotadas para induzir indivíduos ao estado
de hipnose , apesar do termo ser usado indistintamente tanto para
designar a hipnose propriamente dita quanto para o hipnotismo
 propriamente dito. A palavra “hypnos” (do grego, significando, em
 português, sono) foi utilizada pela primeira vez pelo médico hipno
tizador Dr. James Braid, pioneiro experimentador, como alternativa
 para os termos “mesmerismo” e “magnetismo animal” , segundo a
crença errônea de que a hipnose seria uma forma particular de sono.
É verdade que certos estados hipnóticos apresentam semelhanças
superficiais com o sono normal e que determinadas sugestões de
sonolência são dadas freqüentemente quando da indução ao estado
hipnótico. Há, entretanto, grande diferença entre os dois estados,
lora o fato de um indivíduo adormecido não responder quando inter
rogado sobre algo, ao passo que outro sob estado hipnótico reage às
sugestões do hipnólogo, diferença esta mostrada por grande número
de testes científicos e observações.
Os reflexos, por exemplo, apresentam-se geralmente imutáveis sob
hipnose (exceto quando se dá sugestões ao contrário), mas diminuem
consideravelmente durante o sono. A resistência elétrica do corpo
também não é afetada pela hipnose, embora aumente cerca de dez
vezes durante o sono. Experiências recentes para medir as “ondas
cerebrais” por meio de encefalogramas demonstram essa diferença
de forma conclusiva.
O estado de hipnose é um tanto difícil de ser descrito. Pode variar
na forma, desde o alerta obediente até a inconsciência aparente, e
em graus de profundidade, de um estado de leve dissociação ao pro
fundo transe do sonâmbulo. Tem sido definido como ura estado no
qual a mente está peculiarmente suscetível à sugestão, mas embora
tal assertiva seja verdadeira, é apenas uma parte da história toda. É
totalmente impossível descrever a hipnose de forma breve, menos
ainda com poucas palavras.
Talvez a melhor maneira de se adquirir uma visão mais clara a
respeito da mesma seja olhar alguns fatos a ela pertinentes — sua
indução, fenomenologia, potenciais e limitações - e considerar
alguns conceitos errados sobre ela.
Inicialmente, o contato direto que a maioria das pessoas tinha
com o hipnotismo consistia provavelmente em participai de shows
teatrais ou simplesmente assisti-los. Não obstante a publicidade
c alegorias feitas em torno dos mesmos, eles eram, sem dúvida,
demonstrações reais. Os voluntários que bebiam água e embriagavam-
se, transpiravam enquanto venciam competições esportivas imagi
nárias, comiam cebolas com prazer pensando serem frutas doces,
e assim por diante, estavam realmente hipnotizados. Mesmo come
diantes utilizados para tais finalidades demonstravam ser bons
discípulos quando sob hipnose.
Pode-se acrescentar, à guisa de exemplo, que vários shows dessa
natureza foram considerados ilegais, pois neles muitos voluntários
feriram-se em conseqüência de sugestões feitas aleatoriamente.
O potencial de dano derivado do uso incorreto do hipnotismo
tornar-se-á mais claro à medida que avançarmos no texto.
Diversamente à crença popular, não é uma questão de “força de
vontade” obter-se um bom condicionamento para a hipnose. Já se
 provou que as pessoas mais inteligentes e imaginativas são as mais
fáceis de serem hipnotizadas e isso nada tem a ver com uma força
de vontade “fraca”, ou qualquer outro fator indicando apenas
normalidade. As pessoas loucas e mentalmente deficientes são as
mais difíceis de serem hipnotizadas.
A maioria das pessoas pode ser hipnotizada. Concorda-se em que
apenas cinco a dez por cento das pessoas são virtualmente não-hipno-
tizáveis. Vinte e cinco por cento entram rapidamente em leve transe,
outra porcentagem semelhante em sonambulismo profundo, e o
restante atinge graus intermediários de hipnose.
Certos indivíduos entram em transe profundo na primeira tenta
tiva; já outros exigem um aprofundamento progressivo do grau de
hipnose nas sessões subseqüentes. É errado dizer-se que um indiví
duo não pode ser hipnotizado. Há registros de um caso em que um
médico teve de tentar setecentas vezes com um paciente antes de
obter êxito.
As sensações e reações de um indivíduo hipnotizado não são
fáceis de serem descritas e as tentativas nesse sentido só podem ser
generalizadas, mas, de maneira geral, os vários graus de hipnose
 podem ser assim classificados:

 Leve: sensação de leveza e entorpecimento geral dos olhos e


membros, alto grau de relaxação e inibição de movimentos volun
tários. Sugestões simples — mantenha os olhos fechados, não se
mexa, etc. - são aceitas prontam ente. O paciente geralmente sen
te que poderia desobedecer às sugestões, mas não o faz.
 Intermediário:   sensação de leveza aumentada. Sugestões de cata
lepsia   —rigidez completa de alguns dos membros ou mesmo do
corpo todo —são aceitas. Posturas normalmente impossíveis de
serem mantidas durante longos períodos podem ser sugeridas sem
qualquer desconforto. Daí em diante, a amnésia —referente a
fatos ocorridos durante a hipnose —pode ser conseguida com
sucesso, na maioria das vezes. As sensações (dor, paladar, olfato,
etc.) podem ser inibidas. Geralmente são aceitas as sugestões pós-
hipnóticas (aplicadas ao final da hipnose).
 Profundo: observa-se o estado de sonambulismo. Ocorre amnésia
total após o término da sessão, mesmo que não tenha sido suge
rida. Sugestões altamente complicadas são aceitas e prontamente
executadas e ocorre um intercâmbio  íntimo entre hipnotizador e
 paciente. É nessa fase que o indivíduo exterioriza suas emoções
e são obtidas façanhas impossíveis de serem realizadas em estado
normal de vigília. Sensações como alucinações vividas e bizarras,
 podem ser induzidas registrando-se ainda sensível alargamento da
memória e a ocorrência —se bem que eventual —dos assim cha
mados “fenômenos maiores”, como, por exemplo, clarividência,
telecinese, etc.
Técnicas de indução
A indução à hipnose é um processo fundamentalmente subjetivo
em que o paciente exterioriza seu inconsciente, 0 hipnotizador,
 basicamente, adota o procedimento normal para o caso. Todas as
técnicas de hipnotismo são, por conseguinte, planejadas de forma a
concentrar a mente do paciente num único objetivo: ser hipnotizado.  _ t ,
À pergunta “Quem pode hipnotizar?” não se pode dar uma res
 posta simples. Já foi dito que, em princípio, qualquer pessoa pode
hipnotizar outra. É óbvio que, quanto melhor sua técnica, melhores
serão os resultados obtidos bem como o número e variedade de pes
soas que poderá influenciar. Há casos, entretanto, em que um pacien
te não reagirá positivamente às sugestões de um hipnólogo, muito
embora possa fazê-lo prontamente no caso de outro.
As qualidades básicas necessárias para um bom hipnotizador são
sem dúvida a capacidade de inspirar confiança, uma atitude simpáti
ca e modo de tratar o paciente, semelhante ao do médico quando
atende ao leito. Acima de tudo, naturalmente, estão a confiança em
si mesmo além de sólido conhecimento, não só das técnicas hipnóti
cas, mas também da psicologia humana. Há também a necessidade de
se ter uma espécie de sexto sentido, indefinível, para decidir qual o
método mais adequado para estabelecer um íntimo relacionamento,
conduzindo-se o paciente com êxito.
De maneira oposta à crença geral, o hipnotizador de palco não
6, normalmente, um bom profissional. Seu sucesso deve-se à divul
gação de seu nome associado ao fato de que, num grupo numeroso
de pessoas, todas tensas e em expectativa, pode-se encontrar um
número razoável de indivíduos que reajam satisfatoriamente aos
seus métodos.
Todas as técnicas de hipnotismo baseiam-se inicialmente em
l ixar a atenção do paciente e, a seguir, apresentar-lhe sugestões que
aumentem seu grau de suscetibilidade. São mínimas as diferenças
existentes entre os diversos métodos e sua eficácia. A escolha é mais
uma questão de empregar aquele que melhor se adapte à personali
dade do próprio paciente. Às vezes, pode acontecer que um paciente
seja contra determinada técnica, ou esta pode ser infrutífera para o
mesmo; neste caso, cabe ao hipnotizador adotar aquela que será
mais adequada em tais situações.
Antigamente os hipnotizadores acreditavam que alguma espécie
de fluido magnético era transmitido por eles a seus pacientes, e
devido a essa crença faziam passes elaborados; às vezes “de pele”,
nos quais tocavam o paciente, às vezes aproximavam-se sem entre
tanto tocar o paciente. 0 efeito dos passes é visto hoje em dia como
inteiramente psicológico.
Uma das técnicas mais comuns consiste em se fazer o hipnotizan
do olhar fixamente para um objeto que poderá ser uma lâmpada
ou pêndulo em movimento. Neste caso o objetivo é cansar a vista e
simultaneamente concentrar a atenção para que as sugestões de sono
lência sejam mais rapidamente aceitas. Um som monótono, repeti
tivo, tal como o bater de um m etrônomo, é utilizado e diz-se apresen
tar ótimos resultados principalmente se associado a “flashes” de luz.
Todos esses artifícios são simples expedientes que apenas ajudam
a obter o objetivo principal, e muitos hipnólogos experientes prefe
rem dispensá-los. O método preferido pelo autor desta obra, por
exemplo, consiste em pedir ao paciente para sentar-se e fechar os
olhos. Feito isso, o mesmo é levado gradativamente à hipnose por
meio de palavras. Essa técnica raramente requer variações.
Tirar uma pessoa do estado de hipnose não é difícil. Quando se
lida com alguém inexperiente deve-se fazê-lo progressivamente, tal
como se contando de forma decrescente de dez a zero, sugerindo
entre cada número que o indivíduo está acordando. No caso de indi
víduos já habituados à hipnose, pode-se estalar simplesmente os
dedos e dizer: “acorde”.
É possível eliminar de um paciente sob hipnose profunda todas as
sensações relativas a todo seu corpo ou parte dele por meio de suges
tões. Este fenômeno representa um teste bastante útil para medir o
grau de profundidade do transe e é, naturalmente, o motivo para o
uso cada vez mais generalizado da hipnose em odontologia. Antes
do advendo do clorofórmio, a hipnose foi muito utilizada como
anestésico geral e inúmeras operações mais complexas foram feitas
com seu auxílio.
Um paciente sob hipnose profunda pode ser levado à catalepsia
na qual seus membros permanecerão fixos em qualquer posição
sugerida. Uma prática comum dos hipnotizadores de casas de espetá
culos consistia em colocar a cabeça de um indivíduo sob estado cata-
léptico, numa cadeira, enquanto seus pés eram colocados em outra.
O demonstrador então ajoelhava ou ficava de pé sobre seu corpo.
Após a demonstração, o indivíduo não sentia dores ou quaisquer
outros efeitos.

Alucinações e regressão
O detalhe mais impressionante na hipnose é o fato do paciente
vivenciar alucinações sugestionadas. Diga-lhe que um enorme cão
 preto encontra-se no local e ele prontamente o verá. Diga-lhe que
uma cebola é uma maçã doce e ele sentirá exatamente o sabor pre
tendido. Sugira-lhe que está tocando um violino e ele fará os gestos
do violinista e dirá o nome da música que está executando. Com uma
 palavra, um pedaço de cartolina em branco torna-se um quadro, e
um vaso vazio, cheio de flores de aroma forte, inebriante.
Ainda mais impressionantes são as alucinações negativas,   aceitas
 prontamente. Uma pessoa desapareceu da sala, um móvel desma
iei ializou-se, a voz de alguém presente já não é mais ouvida, sente-se
o cheiro de uma substância forte e penetrante: tudo isso como resul-
lado de simples sugestões do hipnotizador.
Por meio de  sugestões póshipnóticas   - dadas durante a hipnose
r exteriorizadas em estado de vigília —todos os fenômenos citados
 podem ser produzidos em ocasiões futuras, talvez horas, dias, meses,
ou mesmo anos distantes. Apesar de —conforme o caso - externar
sugestões pós-hipnóticas por escrito, o paciente raramente se recor
dará de ter sido sugestionado. Esse processo tem valor extraordinário
cm terapia hipnótica.
Um paciente sob hipnose pode ser induzido a lembrar-se de expe-
tiéncias passadas que, consciente, já teria esquecido completamente.
( crtos pacientes relembram apenas as circunstâncias que envolveram
is experiências, outros, por sua vez, parecem revivê-las e mostram
Iodas as reações e sensações sentidas originalmente. Por meio deste
ultimo processo, conhecido como regressão no tempo,   um paciente
 pode ser conduzido, através de retrocesso progressivo, a um estágio
As vezes anterior à própria infância.
 Na regressão no tempo parece estar envolvido algum outro fator
além do aumento da percepção da memória. Um indivíduo levado
de volta à sua infância, por exemplo, irá escrever de maneira infantil,
icsponderá a testes de inteligência da maneira própria a uma criança
ilr idade correspondente, além de apresentar reflexos fisiológicos
l>eculiares a essa faixa etária.
O processo de regressão no tempo é de grande valia na psiquiatria,
sondo conhecido como hipnoanálise.Quando um distúrbio de ordem
emocional passado vem a ser a causa da desordem'psíquica, verifica-
so geralmente que o fato de reviver   essa experiência libera os senti
mentos reprimidos e dessa forma produz-se um grande alívio emocio
nal. Este processo, que podemos chamar de “fase de abertura”, é
geralmente muito dramático.
I)e vez em quando o hipnotizador defronta-se com um caso de
icgressão falsa no qual o paciente “revive” uma experiência imaginá-
ria ou episódio fictício. A habilidade que alguns indivíduos possuem
de “representar” as emoções próprias do sugestionamento, de forma
 bem convincente, é bem conhecida, tomando-se assim necessário
verificar cuidadosamente os dados obtidos a fim de checar sua veraci
dade e só a partir daí aceitar qualquer processo de regressão no
tempo como sendo verdadeiro.
Auto-hipnose
Um outro aspecto do hipnotismo que deve ser levado em consi
deração é aquele que abrange o processo da auto-hipnose. Conforme
 já mencionado, a técnica de indução à hipnose consiste basicamente
de um processo subjetivo no qual o hipnólogo conduz e estimula o
 paciente. É possível, entretanto , atingir estados hipnóticos sem a
ajuda do hipnólogo. Já foi observado que certas pessoas entram
espontaneamente num processo característico de ligeira auto-hipnose
enquanto outras são capazes de consegui-lo usando apenas a força
de vontade.
O estado hipnótico conhecido como “meditação profunda” é um
exemplo bem comum da leve auto-hipnose espontânea e, ao longo
dos séculos, muitos poetas famosos, escritores e músicos compuse
ram suas obras-primas quando se encontravam em condições de
transe semelhantes. Dentre outros, podemos citar Goethe, Coleridge,
Hoffman e Mozart, alguns dos gênios a quem Paul Richter referiu-se
ao escrever: “O gênio é, em muitos aspectos, um verdadeiro sonâm
 bulo. Em seu sonho lúcido vê mais longe que quando desperto e
alcança os píncaros da verdade”.
É possível, embora não tão fácil, aprender como induzir a auto-
hipnose através de auto-sugestão. Uma técnica que freqüentemente
surte efeito consiste em sentar-se e permanecer relaxado de maneira
idêntica àquela em que se fica quando se está sendo hipnotizado por
outra pessoa. Em seguida formula-se auto-sugestões apropriadas
quer mentalmente quer em voz alta, tal como um hipnólogo faria.
Com a prática pode-se alcançar um estado profundo de hipnose.
 Na maioria dos casos é melhor sentar-se confortavelmente que se
deitar: isso ajuda a evitar a sonolência natural causada pela postura,
causa freqüente de falhas na tentativa de se auto-hipnotizar.
Certamente, a maneira mais rápida e correta de auto-hipnotismo
consiste em deixar-se hipnotizar da maneira normal e durante a
sessão receber sugestões pós-hipnóticas de que a auto-hipnose poderá
ocorrer em qualquer data futura que se deseje. É comum ao hipnó
logo sugerir que para realizá-la será necessário repetir apenas uma
simples “fónnula-gatilho” para a obtenção dos resultados almejados.
Tal fórmula pode constituir-se apenas das palavras “agora entrarei
em estado de hipnose durante X minutos”. Na maioria das vezes,
 basta apenas um a sessão com um hipnólogo, mas, para que os resul
tados sejam permanentes e realmente eficazes, são necessárias várias
sessões nas quais a sugestão pós-hipnótica é repetida e reforçada.
0 hipnotism o — como o leitor já deve ter percebido —é, em si,
um vasto e complexo assunto e neste espaço resumido é possível
somente traçar-lhe os contornos gerais. Achamos, contudo, que essas
linhas gerais são suficientes para a finalidade a que nos propomos
no momento.

3/ Fenomenologia
e pesquisa psíquica
Ao longo da história persiste a crença naquilo que chamamos
comumente de sobrenatural: fantasmas e assombrações, clarividência,
magia  de feiticeiras, profecias de cartomantes, telepatia, telecinese,
cura milagrosa de enfermos, comunicação com o além, e muitos
outros fenômenos estranhos que parecem desafiar as leis naturais.
Conquanto as pessoas cultas hoje em dia tentem desmistificar tais
crendices tachando-as de tolas superstições, permanece uma incóg
nita acerca do imponderável. Referimo-nos a inumeráveis registros
de ocorrências dessa natureza, feitos por homens eminentemente
ilustres e íntegros cujo testemunho em assuntos de caráter científico
é profundamente respeitado.
 Nenhum exame sério dessas ocorrências foi tentado até meados
do século dezenove e, mesmo então, poucos homens com respaldo
científico acharam válido analisá-los e os cientistas representantes
da ciência ortodoxa da época - cuja atitude muito se assemelha à
de muitos cientistas atuais - recusaram-se a considerar qualquer coi
sa que não estivesse de acordo com suas próprias e limitadas teorias.
O interesse por fatos  sobrenaturais ou  paranormais   (o primeiro
não é usado correntemente pelos estudiosos do assunto) foi desper
tado por duas razões: (a) os primeiros hipnotizadores ou magnetiza
ilores  (segundo o jargão da época) mencionavam a ocorrência de po
deres clarividentes, demonstrados por alguns de seus pacientes sob
estado de transe, e (b) devido ao rápido crescimento do espiritismo
e aos extraordinários feitos de seus “médiuns” .
Em conseqüência disso, grande número de cientistas e estudiosos
do assunto, incluindo alguns dos mais eminentes pensadores da
época, passou a dedicar-se ao estudo do que um deles, Sir William
Itarret, descrevia como “aquela fronteira discutível existente entre
o território já conquistado pela ciência e os escuros domínios da
superstição e ignorância” . Esses fenômenos passaram a ser chamados
de psíquicos  e sua investigação de  pesquisa psíquica.

A Sociedade para a Pesquisa Psíquica


Em 1882, um grupo de pesquisadores, dentre eles o Prof. Henry
Sidgwick, de Cambridge, e os famosos médicos SirWilliam Crookes,
Sir William Barret e Lord Rayleigh, formaram a Sociedade para a
Pesquisa Psíquica com o objetivo de investigar, segundo afirmaram,
“aquele vasto conjunto de fenômenos discutíveis denominados
hipnóticos, psíquicos ou espíritas”. A finalidade da sociedade recém-
criada era “abordar esses fatos sem quaisquer preconceitos ou pré-
 julgamentos e com o mesmo espírito de pesquisa científica e
imparcial que permitiu à ciência resolver inúmeros problemas que
não eram assim tão imponderáveis nem debatidos com tamanha
ênfase”. Como era de se esperai de homens desse quilate, determina
ram metas elevadas para as provas que aceitarrm como satisfatórias
e suas atitudes foram críticas e isentas de sectarismo. Essa linha de
conduta ainda hoje norteia as pesquisas da Sociedade para a Pesquisa
Psíquica.
Desde sua criação, a SPR {Society fo r Psychical Research), como
é geralmente conhecida, tem atraído muitos pensadores ilustres;
o filósofo americano William James declarou certa feita que em
nenhum outro local poder-se-ia encontrar reunidos nomes tão ilus
tres como na SPR. A lista de pensadores que já haviam exercido
o cargo de presidente incluía nomes respeitados, como, por exemplo,
o Prof. Henry Sidgwick, o Conde de Balfour, o Prof. William James,
Sir. William Crookes, Sir Oliver Lodge, o Prof. Charles Richet, Lord
Rayleigh, o Prof. Gilbert Murray, a Sra. Alfred Lyttleton e, mais
recentemente, o Prof. H. H. Price, Prof. C. D. Broad, o Dr. Donald
West e Sir Alister Hardy.
Convenhamos que é um pouco leviano, senão apressado de nossa
 parte, afirmar que todos esses ilustres pensadores - membros dessa
sociedade —são pessoas crédulas, desonestas ou embusteiras. E mais,
em seus  Boletins e Atas,  há centenas de registros, devidamente docu
mentados, de fatos paranormais e demonstrações de poderes
 psíquicos. Devemos admitir que seria uma atitude impensada e
 parcial considerar tais documentos como meros registros de um
 passado menos crítico. O trabalho da SPR continua profícuo e agre
miações semelhantes são criadas em vários países do mundo.
Devemos afirmar, entretanto, que nem todos os casos investigados
evidenciam-se como fenômenos paranormais autênticos, é claro.
Muito pelo contrário, grande parte do trabalho desenvolvido pelo
 pesquisador consiste justam ente na desmistificação de fraudes,
apontando erros de observação e demonstrando que muitas ocorrên
cias, a princípio consideradas como psíquicas, são realmente devidas
a causas perfeitamente naturais. De forma semelhante, os resultados
de experiências laboratoriais efetuadas pelo conhecido Dr. Rhine nos
Estados Unidos e pelo Dr. Soai, na Inglaterra, tendem freqüente
mente a ser contraproducentes. Há, entretanto, um detalhe que não
 pode ser enquadrado em explicações de causas naturais e os exem
 plos mencionados mais à frente incluem-se nessa categoria.
Inicialmente, contudo, veremos a terminologia específica adotada
 para os mesmos.

Terminologia
Embora haja um grande número de opiniões divergentes com rela
ção ao material mvestigado através da pesquisa psíquica, existem
duas classes de fenômenos que, segundo o autor, tiveram todas as
suas dúvidas dirimidas. Esses fenômenos são a telepatia, ou trans
ferência de pensamentos, como é geralmente conhecida, e a clari
vidência, ou, como é mais popularmente conhecida, “terceira visão”.
A telepatia pode ser definida como “a comunicação de idéias de
uma mente para outra, independente dos canais de sentidos que se
conhecem”. A clarividência, segundo a definição adotada pelos
 pesquisadores psíquicos, é “a percepção extra-sensorial de eventos
objetivos de forma bem distinta das idéias originadas na mente de
uma outra pessoa”. Tanto a telepatia quanto a clarividência estão
incluídas entre os fenômenos PÉS (Percepção Extra-Sensorial), e
usa-se freqüentemente esta terminologia porque na prática é geral
mente difícil distinguir entre os dois. Por exemplo, se percebo que
um amigo está à porta do meu quarto, poderia ser perfeitamente
 possível que eu tivesse captado uma espécie de transmissão de sinal
de sua mente, o que seria telepatia, ou poderia, por outro lado,
ocorrer deste amigo ter sido “visto” diretamente, o que seria clari
vidência.
De forma semelhante, o indivíduo que em experiências de labora
tório utiliza seus poderes PES para “identificar” grande número de,
digamos, cartões manuseados pelo experimentador em sala contígua,
 pode estar “vendo” tais cartões diretamente, o que seria clarividên
cia, ou pode estar obtendo as respostas corretas da mente do experi
mentador, o que seria um caso de telepatia, ou seja, um destes fenô
menos pode estar envolvido. Se em casos excepcionais envolvendo
PES houver necessidade de excluir a possibilidade da telepatia de
forma que a ocorrência de clarividência seja testada, ou vice-versa,
então deve-se tomar medidas especiais de precaução.
Também inclui-se entre os fenômenos PES a  precognição ou
conhecimento antecipado de um fato a ocorrer no futuro que não
 poderia ter sido conseguido utilizando-se meios normais. Pode-se
citar ainda a retrocognição ou póscognição,  que é a percepção extra-
sensorial de um fato ocorrido no passado. As evidências tanto da
 precognição como da retrocognição são quase tão boas quanto as
da telepatia e clarividência.
Parece existir também alguma evidência laboratorial da  psicoci
nese, a influência direta da mente sobre objetos, como, por exemplo,
quando se usa a vontade  para fazer com que um dado caia sempre
com a face que se deseja voltada para cima. Inúmeros pesquisadores
que aceitam a ocorrência das várias formas de PES, não acreditam,
contudo, em fenômenos “físicos”, tal coino a  psicocinese.

Telepatia espontânea
Grosso modo, pode-se dividir a pesquisa psíquica em duas cate
gorias: a verificação e investigação de relatos de ocorrências espontâ
neas e a realização de experiências que visam produzir tais fenômenos
sob condições cientificamente controladas. São comuns relatos de
casos do que parece ser telepatia espontânea entre pessoas que têm
fortes laços afetivos entre si. Quem já não ouviu falar de casos de
 pessoas que souberam, de alguma forma inexplicável, da doença de
um parente ou do acidente sofrido por algum ente querido? Os regis
tros da SPR incluem muitos casos dessa natureza.
Um soldado, o general-de-divisão Richardson, foi gravemente feri
do em batalha, e pensando estar à beira da morte pediu a um ajudante-
de-ordens para tirar um anel de seu dedo e mandá-lo à esposa que
naquele momento achava-se a muitos quilômetros de distância.
Quase ao mesmo tempo sua esposa teve esta estranha experiência.
Foram estas suas palavras:
“Estava deitada em minha cama, semi-adormecida, quando vi
 perfeitamente meu marido sendo retirado do campo de batalha,
gravemente ferido, e depois dizer: ‘Tire este anel do meu dedo e
mande-o à minha mulher’. Durante todo o dia seguinte não pude
esquecer a experiência um só momento. Certo tempo depois
eu soube, é claro, que meu marido fora gravemente ferido em
 batalha. Conseguiu sobreviver, entretanto. Posteriormente o
ajudante-de-ordens contou-me pessoalmente o fato e as mesmas
 palavras que eu ouvira a muitos quilômetros de distância no exato
instante em que foram ditas por meu marido”.
Observe que a esposa do oficial afirmou estar “deitada em sua
cama num estado de semiconsciência”. Este estado, chamado de
condição hipnagógica, é muito parecido com a auto-hipnose na qual
as experiências psíquicas parecem ocorrer com certa facilidade.

Clarividência através de sonhos


As experiências psíquicas também podem assumir a forma de
sonhos que ocorrem durante o período de sono normal. A seguir 
l ilamos alguns casos notáveis de clarividência através de sonhos.
A 28 de junho de 1928, o Sr. Dudley Walker, de Guildford,
leve, em sonho, a nítida visão de um grave acidente ferroviário. Na
manhã seguinte descreveu-o em detalhes para a sua família e seu
 patrão. No sonho ele via dois trens, sendo um deles um expresso,
colidirem em uma estação; viu uma das locomotivas tombar e diver
sos vagões destruídos, o que causou muitas vítimas fatais, em sua
maioria mulheres e adolescentes. Afirmou ainda que pôde ver o
corpo de um homem inerte sobre um dos vagões. Também fez um
desenho ilustrando o acidente. Posteriormente, naquele dia, soube
que, no momento de seu sonho, havia ocorrido um acidente ferro
viário em Darlington, a mais de quatrocentos quilômetros de dis
tância. Cada detalhe do sonho conferia quase exatamente com os
detalhes reais.
“Causou”, disse o Sr. Walker, “profunda impressão em minha
mente, e apesar de nunca ter dado muita atenção ao assunto, agora
tenho plena certeza de que não foi um sonho comum. Era tão real
que pareceu-me ser mais que uma simples visão de fatos que ocorrem
normalmente em sonhos normais”. Sem perder sua fleuma, pergun
tou: “Por que logo eu, dentre todos os ingleses adormecidos àquela
hora, deveria ser escolhido para presenciar essa horrenda visão?”
Em março de 1903, um homem caiu no rio Severn, em Kidder-
minster, e foi arrastado pela correnteza antes que alguma tentativa
fosse feita para salvá-lo. Todas as buscas posteriores falharam. Muitos
dias depois, um certo Sr. Thomas Butler afirmou que vira em sonho
o corpo de um homem preso entre os juncos de uma represa, a cerca
de dez quilômetros do local onde aquele caíra no rio. Organizou-se
uma busca e o corpo foi encontrado exatamente corno o Sr. Butler
vira em sonho. As reportagens de vários jornais tratando do assunto
e a declaração de um representante da SPR —que procedeu a investi
gações minuciosas sobre o caso —atestaram que o corpo foi encon
trado em local que descarta a possibilidade de o Sr.. Butler ter feito
apenas um palpite afortunado.
Em 1947, um holandês teve sonhos recorrentes nos quais o mesmo
número, 3684, aparecia sempre de forma destacada. Acabou com
 prando um bilhete de número 3684, da loteria holandesa. O número
foi sorteado e ele ganhou um grande prêmio em dinheiro.
O uso de bolas de cristal por videntes constitui-se noutro método
que certamente funciona para algumas pessoas. O exemplo clássico
6 um caso de precognição citado pelo Prof. Charles Richet.
Em 1876, um jovem corretor chamado Maurice Berteaux consul
tou uma conhecida clarividente. Esta predisse que ele obteria fama e
sucesso e tomar-se-ia um dos comandantes do exército francês e que
no exercício deste cargo viria a falecer em virtude de acidente com
uma “carruagem voadora”.
Berteaux achou tais predições ridículas. Uma carreira militar
estava fora de suas cogitações e, é claro, naquela época, aviões de
qualquer tipo não passavam de sonho. Ingressou na política, con
tudo, e veio a desempenhar o cargo de Ministro da Guerra, função
esta que o tomou virtualmente “comandante do exército”, sob
determinado ponto de vista.
Em 1907, Berteaux, então Ministro da Guerra, durante uma exibi
ção aeronáutica, foi decapitado ao ser atingido por uma aeronave.
Estes são apenas alguns das centenas de casos registrados.

Psicometria e psicografia
Qualquer que seja o tipo de PES, se telepatia, clarividência, pre-
cognição, etc., a maneira de perceber os eventos varia de uma pessoa
 para outra e segundo as circunstâncias de cada caso em particular.
Além dos sonhos, visões hipnagógicas e leitura de bola de cristal,
como nos exemplos dados, as outras formas mais comuns são a
 psicometria,  ou leitura de objetos, e a  psicografia.
Certas pessoas, ao segurar um objeto, são capazes de descrever
eventos e pessoas ligadas ao mesmo. Algumas vezes uma fotografia
ou uma carta selada é submetida à psicometria, da mesma maneira.
Parece haver duas formas mais ou menos distintas de psicometria,
uma das quais consiste do “sensitivo” perceber fatos diretamente
associados ao objeto e outra na qual o objeto parece formar um elo
telepático entre a mente do sensitivo e a mente da pessoa ligada a
ele. Neste caso, parece que o objeto —uma vez estabelecido o enca-
deamento —perde sua utilidade.
Certas pessoas crêem que se pegarem caneta e papel e direciona
rem seus pensamentos, conscientemente, para alguma outra ativi
dade, a caneta começará a escrever sozinha, algumas vezes rabiscos
totalmente desprovidos de sentido, e outras, frases perfeitamente
inteligíveis. Isso não envolve, é claro, nenhum fator psíquico ou
 paranormal. Na verdade, a psicografia é usada freqüentem ente em
 psiquiatria como meio de se chegar a lembranças de eventos que
repousam em áreas do inconsciente.
Uma vez ou outra, entretanto, essa escrita revela conhecimentos
que não poderiam ter sido obtidos por meios normais, e há casos até
surpreendentes em que várias psicografias feitas em locais diversos
apresentavam material ininteligível separadamente, mas que, em con
 ju nto , tomavam-se perfeitamente coerentes.
As adivinhações com o copo e o tabuleiro Ouija são apenas algu
mas variações da mesma forma de automatismo.
Todas essas “técnicas” de percepção psíquica são, segundo o
autor —e talvez para a grande maioria dos pesquisadores atuais — 
 processos subjetivos, não-paranormais em si mesmos, através dos
quais o conhecimento adquirido de forma paranormal toma-se com
 preensível ao sensitivo. A matéria-prima PES aflora diretamente, a
 princípio, como se estivesse a nível inconsciente.
Alguns sensitivos chegam mesmo a dispensar tais objetos: expli
cam apenas que  sabem  e só.

Poderes mediúnicos
Os espíritas acreditam, é claro, que através de todos esses métodos
 pode-se estabelecer comunicação com os espíritos de pessoas já
falecidas. A história, contexto e psicologia do espiritismo são muito
complexos para permitirem uma abordagem sucinta neste ponto;
diríamos apenas que o tipo de evidência produzida na grande maioria
das sessões espíritas teria valor praticamente nulo para pesquisadores
 psíquicos realmente sérios e que as provas concretas da ocorrência
desses fenômenos provêm não do espiritismo em si, mas do trabalho
desenvolvido pela pesquisa psíquica.
 Não é objetivo deste livro questionar o fato de que alguns médiuns
 possuem poderes psíquicos genuínos, mas o sucesso da maioria deles
 prende-se mais freqüentem ente à grande credulidade que despertam
e à crença daqueles que os procuram. Talvez seja oportuno observar
que poucos médiuns se dispõem a submeter-se a investigação cientí
fica feita por pesquisadores sérios.
É reduzido o número de médiuns de renome que têm  colaborado
com os pesquisadores psíquicos e demonstrado evidências incontes
táveis de algum tipo de faculdade psíquica, muito embora a comuni
cação com os mortos seja, no mínim o, uma questão em aberto.
Um dos mais famosos sensitivos desse quilate na Inglaterra foi
indubitavelmente Douglas Johnson, que além de suas atividades
 profissionais normais como médium, submetia-se voluntariamente
a experiências científicas realizadas com o uso ou não da hipnose.
Muitos hão de lembrar-se de suas demonstrações convincentes de
 psicometria no programa “Linha da Vida” , da BBC de Londres.
Deve-se notar que Johnson acreditava realmente estar em contato
com pessoas já falecidas.
Referimo-nos aqui aos médiuns “mentais”, ou seja, àqueles que
fornecem informação falada ou escrita, caso estejam ou não em
estado de transe. O chamado transe mediúnico, segundo já demons
trado claramente, trata-se de um estado de auto-hipnose, e a maioria
dos pesquisadores é de opinião que as entidades que presumivel
mente baixam (guias) são simplesmente personalidades secundárias
dos próprios médiuns.
Praticamente todos os assim chamados médiuns “físicos” — 
aqueles que dizem materializar objetos, fazer levitação, sons de bati
das, fotografias de espíritos e outros efeitos psicocinéticos —foram
devidamente investigados e provou-se serem embusteiros e nenhum
deles mostrou de forma convincente haver produzido manifestações
 psíquicas verdadeiras. Na verdade, a maioria de suas atuações cons
titui uma tapeação tão descarada que o pesquisador Archie Jarman
descreveu-os certa vez como “o tipo de mediunidade fraudulenta
que concorre para espalhar a má reputação até mesmo entre os
médiuns charlatães”.

Pesquisa psíquica experimental


 Nos primeiros anos foram feitas algumas tentativas para demons
trar em condições laboratoriais —com certa porcentagem de sucesso
- a percepção psíquica, mas foi só em 1934, quando o Dr. Rhine
 publicou seus primeiros relatórios, que este campo de pesquisa
tomou-se realmente alvo de interesse. O trabalho de Rhine era dife
rente do de seus predecessores num aspecto importante. Era o pri
meiro programa em larga escala com experiências quantitativas  nas
quais podia-se chegar aos resultados matematicamente.
 Na maioria dos seus testes, Rhine utilizou maços especiais de
cartas “Zener”, cada um deles composto de cinco conjuntos de
cinco cartões apresentando um dos cinco padrões seguintes: um
círculo, uma cruz, um quadrado, uma estrela, ou três linhas ondu
ladas. O indivíduo testado tentaria acertar cada carta à medida que
estas fossem retiradas de um maço embaralhado. Se nenhum outro
fator a não ser a casualidade estivesse envolvido, poder-se-ia esperar
uma média de cinco palpites corretos para cada conjunto, de maneira
que seria fácil detectar a presença de algum outro fator além da pura
casualidade, caso o indivíduo continuasse a perfazer uma soma de
 pontos substancialmente maior (ou menor) que cinco após uma
longa série de tentativas.
Rhine observou que alguns elementos mantinham, após milhares
de palpites, uma média de pontos positivos acima do dobro do valor
 passível de ser atribuído à simples sorte ou casualidade, e com um
número menor de indivíduos pôde observar que a disparidade rela
tiva à obtenção de resultados devidos simplesmente à sorte era
literalmente astronômica.
Ê claro que muitos outros pesquisadores tentaram repetir os resul
tados obtidos por Rhine, citando-se dentre estes o famoso Dr. S. G.
Soai, matemático e destacado membro da SPR. Durante um período
de cinco anos, testou mais de cento e cinqüenta indivíduos, tendo
registrado mais de cento e vinte mil palpites —todos, infelizmente,
com resultados negativos, segundo ele.
Desde então, Soai tomou-se uma pessoa desanimada e totalmente
céptica. Arquivou todos os registros de suas experiências na SPR, e
começou a especular sobre a natureza do fator mágico que possibili
tava à PES demonstrar seus efeitos apenas na América, enquanto na
Inglaterra isso não ocorria.
Deu-se então uma reviravolta. Outro pesquisador britânico,
Whately Carington, disse a Soai que este, em suas experiências, havia
verificado apenas o que ele convenciona denominar de efeito de
deslocamento  apresentado por alguns elementos submetidos ao teste,
não sobre a pergunta feita naquele exato instante, mas acerca de
alguma questão que viria a seguir. Instou Soai a verificar novamente
seus registros quanto a esse detalhe, e quando o mesmo procedeu a
um exame mais acurado desse pormenor, observou que dois indiví
duos obtiveram uma soma de pontos bem acima da média da simples
casualidade. Um deles, Basil Shackleton, foi submetido a novos
testes e neles conseguiu acertar as cartas com uma regularidade tama
nha que, literalmente, a possibilidade de mera casualidade apresentou
uma proporção de dez milhões de milhões de milhões para uma.
A partir daí, outros pesquisadores incorporam outros refina
mentos aos testes e muitos deles, embora não todos, têm obtido
 bons resultados.
A maior dificuldade, não só com relação às experiências quantita
tivas como estas, mas também em todas as áreas da pesquisa psí
quica, deve-se ao fato de tais fenômenos ocorrerem raramente e de
forma imprevisível. Em vista disso, os estudiosos do assunto tentam
desenvolver constantemente novos métodos de estimulação dessas
faculdades, ou seja lá v   que forem, esperando dessa forma produzir
fenômenos PES sob condições cientificamente controladas e que
 permitam sua repetição.
Grande variedade de drogas foi utilizada na realização de testes,
embora sem muito sucesso. Pode-se citar apenas um caso positivo
verificado na Holanda no qual um indivíduo conseguiu melhorar
seus resultados ao ingerir brometo, e ainda obteve resultados melho
res sob o efeito do álcool. Havia grande expectativa acerca das novas
drogas alucinógenas, tais como a mescalina e o LSD-25, mas parece
que não se obtiveram resultados realmente significativos. Resultados
mais promissores foram conseguidos com o uso recente da hipnose,
que parece oferecer uma série de vantagens experimentais.
Antes, porém, de abordarmos esses modernos aperfeiçoamentos,
talvez seja oportuno fazer uma retrospectiva histórica. Nos primeiros
capítulos deste livro mencionamos as afirmações dos antigos magne-
tizadores (mesmeristas) de que alguns indivíduos em estado de transe
apresentavam notáveis poderes psíquicos. Examinemos alguns desses
casos.

Breve resumo histórico

 Nos
 No s prim
pr imei
eiro
ross an
anosos do h ipn ip n o tism
ti sm o , o u m esm es m eris
er ismm o, cocom m o era
então chamado, o tema era considerado geralmente como algo para-
normal. Os transes, alucinações, estados de catalepsia, e assim suces
sivamente, eram considerados como coisas induzidas por alguma
espé
espécie
cie de estranho fluido fluido magnético, enq uan to o próprio m agn agneti
etiza-
za-
dor acreditava-se dotado de poderes que os simples mortais não
 poss
 po ssuíuíam
am..
Atualmente, poucas pessoas sustentam esse ponto de vista, muito
embora a verdadeira natureza da hipnose ainda seja algo não com
 pre
 p reee nd
ndid
idoo em sua tota to tali
lidd ad
adee . Desde
Des de o tem te m p o de Mesmer,
Mesm er, c o n tud tu d o ,
afirmaram-se vezes sem conta que alguns indivíduos sob estado
hipnótico possuíam realmente poderes psíquicos tais como clarivi
dência, telepatia, precognição, etc. Já dissemos que o interesse pela
 pesq
 pe squis
uisaa psíq
ps íquu ica
ic a foi esti
es timm u lado
la do inic
in icia
ialm
lmen ente
te p o r afir
af irmm açõe
aç õess de
dest
staa
natureza e também pela difusão crescente do espiritismo. É interes
sante notar que muitos dos mais conhecidos médiuns do século
 passa
 pa ssadodo cocomm eçar
eç aram
am suas carreicar reira
rass cocomm o indi
in diví
vídu
duos os m esmes m éric
ér icos
os da
escola Mesmer.
F. A. Mesme
Mesmerr (1733-1815
(1733 -1815)) parece ter travado con conhecim
hecim ento com
 pessoa
 pe ssoass do dota
tada
dass de po podedereress psíq
ps íqui
uicocos.
s. E m bo borara n ã o ten te n h a de
deix
ixad
adoo
documentos que corroborem tais afirmativas, pode-se deduzir isso — 
de maneira
mane ira bem clara — de seu seuss escritos.
escritos. Num deles, refere-se, refere-se, por
exemplo, à humanidade como seres “dotados de uma sensibilidade
que os capacita a estar em sintonia mental   com aqueles que estão
em volta, e mesmo a distâncias maiores”, e acrescenta que “às vezes,
uma pessoa em estado sonambúlico pode perceber fatos passados e
futuros através da percepção interior”.
O mais antigo relato confiável sobre a intensificação de poderes
 psíq
 ps íqui
uico
coss atravé
atr avéss da hipn
hi pnososee papare
rece
ce ter
te r sido
sid o feit
fe itoo pe
pelolo Marquê
Mar quêss de
Puysegur, discípulo de Mesmer que em 1807 publicou o livro  Do
magnetismo animal,   contendo muitos exemplos. Um destes casos
é sobre um indivíduo, jovem agricultor ignorante, que sob mesme-
rização demonstrou não só aumento de sua inteligência mas também
notáveis poderes de clarividência. De Puysegur observou que diversos
indivíduos sem qualquer conhecimento médico eram capazes de
lazer diagnósticos exatos de doenças. Notou, outrossim, que ocasio
nalmente uma outra personalidade parecia vir à tona, demonstrando
mais faculdades e visão visão mais clara das coisas que a origina original.l.
Afirmações semelhantes foram feitas por Alexandre Bertrand,
notável médico francês, em sua obra Tratado sobre o sonambulismo,
 publ
 pu blic
icad
adoo em 18 182323.. B ertr
er tran
andd ve
veri
rifi
fico
couu tamta m b ém que alguns
alg uns indi
in diví
ví
duos podiam obedecer a comandos ordenados “mentalmente”, ao
 passo qu quee o u tro
tr o s teri
te riam
am e x p e rimri m e n tad
ta d o algo co com
m o um a espéci
esp éciee de
“comunidade de sensação” com ele. Quase ao mesmo tempo, o Barão
Du Potet, um dos primeiros a reconhecer o valor da hipnose como
anestésico, demonstrou o “mesmerismo à distância” para os mem
 bros da A cade
ca demm ia de M ed edici
icina
na da Fran
Fr ançaça..
Em 1840, o Rev. C. H. Townsend registrou a mesmerização
de uma adolescente numa residência distante do local em que se
encontrava. AfirmAfir m ou aindaa inda que caso sentisse sentisse alguma dor, a jovem, jovem ,
enquanto mesmerizada, sentiria também a mesma coisa e na mes
ma parte do corpo. Ao provar várias substâncias, ela era capaz de
identificá-las.
O Dr. James Esdaile, pioneiro no uso da hipnose em cirurgias
antes do advento dos anestésicos, menciona, em 1846, que um jovem
indiano, mesmerizado, era capaz de dizer a ordem correta em que
um seu assistente colocava sal, gomo de lima, uma folha de gen-
ciana e um pouco de conhaque na boca de Esdaile. Também afir
mava haver hipnotizado um cego, diversas vezes, fitando-o fixa
mente de uma distância de aproximadamente vinte metros. Para
certificar-se de não estar transmitindo impressões sensoriais ao
homem, Esdaile colocou-se algumas vezes sobre um muro, segundo
ele “em horas incertas, para que o mesmo não suspeitasse de minha
 prese
 pre senç
nçaa e sempre
sem pre co com m bobonsns resu
re sult
ltad
adosos”” .
Em 1850, o Dr. Herbert Mayo, F. R. S., Prof. de Fisiologia do
Real Colégio de Cirurgiões, registrou também ter obtido êxito nesse
tipo de com unidade de sensação, sensação, afirmando:
A pessoa em transe, não possuindo nessa condição qualquer
sensação de gosto ou cheiro por si mesma, prova e cheira tudo
aquilo que o condutor da experiência experimenta. Caso uma
 pessoa
 pes soa em tal ta l esta
es tado
do prove
pro ve poporr ex exem
empl ploo m osta
os tard
rdaa ou açúc
aç úcar,
ar,
dará a impressão de desconhecer tais substâncias: se entretanto
a mostarda for colocada na língua do experimentador, o ele
mento em transe demonstrará grande repugnância e tentará cus
 pi-la. Oc
Ocorr
orree o mesmme smoo co com m qu qualalqu
quer er do
dorr qu
quee o pepesqsqui
uisad
sador
or
venha a sentir. Por exemplo, se se puxasse o cabelo do pesqui
sador, o paciente em transe sentiria o mesmo desconforto físico
causado por tal gesto, como se fosse nele próprio.
Dentre outros pioneiros do hipnotismo, autores de depoimentos
que comprovaram de fato a comunidade de sensação, podem-se
incluir John Elliotson, médico-chefe do University-College Hospital
de Londres; James Braid que, conforme já vimos, criou os termos
hipnose e hipnotismo, e William Gregory, professor de química na
Universidade de Edinburgo. Relatos semelhantes foram apresentados
subseqüentemente por Sir William Barrett e Edmund Gurney e
foram fator relevante para a fundação da Sociedade para a Pesquisa
Psíquica, sendo grande parte do trabalho inicial da SPR devotado ao
estudo da conexão entre a hipnose e a telepatia e outras formas de
fenômenos psíquicos.
O Prof. Gregory —que escreveu: “Tenho visto e comprovado ser a
comunidade de sensação algo firmemente estabelecido em grande
número de casos” —registrou também um dos mais convincentes
exemplos de viagem astral e clarividência.
Em 1851, Gregory, que morava em Edinburgo, visitou um amigo
mesmerista residente a cerca de 50 quilômetros de distância de sua
casa. Este amigo fazia-se acompanhar de uma jovem conhecida por
seus poderes psíquicos. Esta acedeu em submeter-se a um teste, e,
mesmerizada, começou a descrever detalhadamente a casa de
Gregory e a de seu irmão. Gregory continua seu relato:
Então pedi-lhe que fosse a Greenock, distante cerca de 70
quilômetros de onde nos encontrávamos, para visitar meu filho
que lá reside com um amigo. Encontrou-o logo e passou a descre
vê-l
vê -loo porm
po rmenoriza
enorizadam
damente,
ente, interessando-se
interessando-se sobremodo
sobremo do pelo rapaz,
a quem nunca vira nem ouvira falar. Ela o viu —disse —brincando
num campo ao lado de um pequeno jardim onde há um chaié,
a certa distância da cidade num terreno elevado. Ele estava brin
cando com um cão. Eu sabia que meu irmão tinha um cão, mas
não tinha a mínima idéia de como ele era, por isso pedi-lhe para
descrevê-lo. Ela falou que era um cão enorme da raça Terra-nova,
 pre
 p reto
to,, co
comm um a ou duas manc
ma ncha
hass branca
bra ncas.
s. E ra m uito
ui to apega
ape gado
do ao
rapaz e os dois brincavam
brincavam naquele m omento.
om ento. “Oh! — gritou
subitamente —o cão saltou e tirou o gorro dele”. Nesse momento
viu no jardim um senhor de idade que antes lia um livro e agora
 proc
 pr ocura
urava
va algo em to rn o de si. Nã Nãoo era m u ito
it o velho
vel ho mas
ma s seus
cabelos eram grisalhos e tinha suíças e sobrancelhas pretas. Achou
que fosse um pastor, salientando entretanto não ser o mesmo
 per
 p erte
tencncen
ente
te à Igreja
Igre ja Católi
Cat ólica
ca ou Episc
Ep iscopa
opal,l, mas
ma s um disside
diss idente
nte
(na verdade era um pastor de uma seita adjunta à igreja presbi
teriana). Convidada a entrar na casa, ela o fez e passou então a
descrever a sala de estar. Na cozinha —prosseguiu —havia uma
criada preparando o jantar que consistia de pernil, o qual estava
assando na brasa e podia ver claramente que este ainda não estava
no ponto. Viu também uma senhora de idade. Procurando nova
mente pelo rapaz, viu-o brincando com o cachorro à frente da
 porta enquanto o cavalheiro permanecia de pé no alpendre. Viu
então quando o rapaz correu escada acima   para a cozinha que
ficava no andar superior do chalé (e é de fato) e a cozinheira deu-
lhe algo para comer, o que julgou ser uma batata.
Anotei imediatamente todos os pormenores e os transmiti ao
senhor, o qual respondeu-me serem todos eles exatos, exceto pelo
alimento que a cozinheira dera ao rapaz, que era na verdade um
 pequeno biscoito. O cão correspondia perfeitamente à descrição
feita; também conferia o detalhe do gorro que o cão tirou do
rapaz quanto à hora e local em que ocorreu; ele mesmo encon
trava-se no jardim lendo um livro; havia um pernil assando na
 brasa e não estava pronto ainda; também se achava presente
naquele momento, na cozinha, uma senhora de idade que não
 pertencia ao senhorio. Todos estes fatos eram totalm ente desco
nhecidos para mim e não poderia ter havido nenhuma espécie de
leitura mental, apesar de que, se tivesse ocorrido algo desse tipo,
como já afirmei anteriormente, não seria menos extraordinário,
mas apenas um fenômeno diferente.

Sir William Barrett


A partir de 1870, Sir William Barrett realizou uma série de expe
riências com indivíduos hipnotizados acerca da comunidade de sen
sação, clarividência, viagem astral e transmissão de pensamento. Consi
derou a evidência de todos esses fenômenos tão conclusivamente que
em 1876 apresentou um documento à Sociedade Britânica para o De
senvolvimento da Ciência, sugerindo a formação de um comitê a fim
de investigar e preparar relatórios sobre o assunto. Sir William ficou
desapontado. Seu pedido foi, como disse, “recebido com escárnio” .
Sir William Barrett também tomou parte de algumas das impressi-
vas experiências feitas em 1883, um ano após a criação da Sociedade
 para a Pesquisa Psíquica, por Edm und Gurney uma autoridade em
hipnotismo e destacado membro fundador da SPR.
Tais experiências envolviam a transferência de várias sensações,
incluindo dor do hipnólogo ao paciente. Um hipnotizador famoso,
G. A. Smith, tomou parte nas mesmas, e rígidas precauções foram
tomadas para evitar comunicações através dos sentidos normais.
O indivíduo em estado de transe permanecia de olhos vendados
e o hipnotizador de pé atrás dele. Um dos experimentadores belis
cava ou batia em várias partes do corpo do hipnotizador, sendo as
únicas palavras pronunciadas perguntas sobre o que sentia o paciente
naquele exato momento. Em vinte e quatro testes o indivíduo acer
tava vinte vezes o local exato em que o hipnotizador fora atingido.
Os testes relativos à transferência de sabor também tiveram êxito,
com os indivíduos testados descrevendo corretamente, na maioria
dos testes, as substâncias colocadas na boca do hipnólogo.
Logo depois disso, Rerre Janet, psicólogo francês, realizou pes
quisas quase idênticas obtendo sucesso semelhante. O principal
 paciente de Janet foi a extraordinária “ Léonie” , cuja notável “excur
são psíquica” do Havre a Paris foi descrita no Capítulo 1.
Em 1885, Léonie participou de uma série clássica de experiências
nas quais um colega de Janet, Dr. Gilbert, hipnotizou-a telepatica
mente quando se encontrava numa residência a certa distância dali,
e a fez caminhar em transe profundo pelas ruas do Havre até sua
casa. Estas experiências que, num total de vinte e cinco, dezenove
apresentavam pleno êxito, foram presenciadas não só pelo Prof.
Janet, mas também pelos famosos pesquisadores psíquicos, F. W. H.
Myers, A. T. Myers e pelo Prof. Julian Ochorowicz.

Exteriorização da sensibilidade
Outro fenômeno que de tão freqüente não pode ser ignorado é a
exteriorização da sensibilidade,  na qual todos os sentidos do paciente
são transferidos para objetos inanimados. Em 1892, Albert de
Rochas relatou haver feito uma paciente sentir calor e frio conforme
as mudanças de temperaturas ocorridas num copo de vidro que ela
mesma tocava com as mãos; essa paciente também sentiu dor quando
uma boneca que trazia ao colo foi-lhe retirada e picada com uma
agulha. Outros mesmeristas contemporâneos, notadamente Dupony
e de Luys, afirmaram ter obtido resultados semelhantes com o uso
de fotografias.
Alguns pacientes conseguiram ótimos resultados em psicometria,
ou leitura de objetos, da qual dois exemplos de fenômenos foram
incluídos no Capítulo 1. O Dr. Herbert Mayo —que mencionei ante
riormente como tendo experimentado a comunidade de sensação —en
viou certa feita um cacho de cabelos de uma paciente para um amigo
americano residente em Paris. Este deu-o a um paciente hipnotizado,
tendo o mesmo afirmado que a pessoa de quem haviam retirado
aquele cacho de cabelos sofria de paralisia dos membros inferiores,
além de outro mal, e também usava um aparelho ortopédico. Suas
afirmações foram comprovadas na íntegra.
 Nossa pesquisa cobriu principalmente os anos pioneiros do século
 passado. Não é de se estranhar que fenômenos tais como “magne
tismo animal”, “fluidos etéricos”, etc., fossem aceitos quase sem
críticas àquela época, já que mesmo atualmente os mesmos ainda são
amplamente aceitos.
Verifiquemos agora de que maneira esses relatórios, juntamente
com outros mais recentes, são encarados à luz da análise crítica e
científica do presente século.

Hipnose e paranormalidade
Até o final do século passado a hipnose era geralmente vista com
reservas pela classe médica —o que não é de todo surpreendente em
virtude dos inúmeros charlatães e profissionais de fama duvidosa
que afirmavam curar toda e qualquer doença imaginável com seu
recurso e devido às duvidosas práticas dos hipnotizadores de salão.
Em 1892, entretanto, uma comissão criada pela Associação Médi
ca Britânica aceitou unanimente a hipnose como valioso e real méto
do terapêutico, e no ano de 1900 em Paris um Congresso Internacio
nal de Hipnotismo endossou estes pareceres.
Como resultado, a pesquisa no começo deste século concentrou-se
 principalmente na área da hipnose médica, particularmente durante
a Primeira Guerra Mundial, quando foi amplamente utilizada no
tratamento da neurose de guerra. Os progressos atingidos paralela
mente pela psicologia demonstraram que muitos dos fenômenos
hipnóticos tidos como paranormais poderiam ser perfeitamente
explicados em termos normais e a tendência conseqüente foi explicar
todos os “fenômenos superiores” desta forma.
 Nem todos os cientistas tinham a mente tã o estreita assim. Na
França, por exemplo, Richet, Osty e Janet continuaram a utilizar
a hipnose em pesquisas psíquicas e foram imitados por outros reno-
mados expoentes do conhecimento científico. Embora os relatórios
indicando experiências bem-sucedidas fossem raros, a evidência por
eles apresentada era irrefutável.
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Dr. William Brown, famoso
 psicólogo, foi um pioneiro na utilização da hipnose para o trata
mento das desordens psicopatológicas, descobrindo que muitos de
seus pacientes adquiriam poderes telepáticos sob hipnose enquanto
outros experimentavam notáveis feitos de viagem astral e clarividência.
 Nessa mesma época, o Dr. Gustav Pagenstecher realizava experiên
cias extraordinárias com a Sra. Reyes de Zierold, no México. Esta,
como já dissemos no Capítulo 1, era dotada de notáveis poderes de
 psicometria, ou leitura de objetos. Um pedaço de mármore romano,
 por exemplo, foi tudo o que precisou para descrever minuciosa e
exatamente o Fórum Romano e templos circunvizinhos. Com um
 bloco de papel de cartas descrevia o local e os processos de fabrica
ção utilizados. Uma carta escrita no mesmo papel permitiu-lhe
afirmar que o indivíduo que a havia escrito sofria de apoplexia e
descreveu seu estado. Através do cinto de um soldado morto descre
veu sua aparência e a maneira com o ocorreu sua morte.

Dr. Bjorkhem
 No intervalo entre as duas grandes guerras o psicólogo sueco Dr.
John Bjorkhem realizou grande número de experiências nas quais
foram testados mais de três mil indivíduos. Chegou então à conclu
são de que a maioria deles desenvolvia poderes extra-sensoriais
quando hipnotizados. Uma paciente exepcional, adolescente nativa
da Lapônia, descreveu certa vez o que se passava em sua residência
que ficava a centenas de quilômetros de distância. Disse tudo que
seus familiares faziam àquele momento e forneceu detalhes do
artigo de um jornal que seu pai estava lendo naquele exato ínterim.
Logo depois seus pais lhe telefonaram. Ficaram preocupados quan
do, segundo eles, sua “aparição” materializou-se à frente deles, e
temeram que lhe tivesse acontecido algo de grave.
Em outra experiência, o Dr. Bjorkhem hipnotizou uma jovem
e disse-lhe para “ir mentalmente” do apartamento onde estava
até outro no mesmo prédio cujo interior jamais vira. Após alguns
minutos, ela afirmou encontrar-se no referido apartamento, passando
então a descrevê-lo. Entre outras coisas, descreveu minuciosamente
a configuração dos aposentos e muitos objetos existentes no interior
dos mesmos, as medidas de um espelho afixado à porta de um deles,
o forro diferente de um sofá e a cor de alguns tapetes e capachos.
Disse ainda haver um grosso álbum de fotografias de capa de couro
escuro sobre a mesa (na verdade tratava-se de uma bíblia da família
contendo uma seção para fotografias), descreveu algumas das foto
grafias nele existentes e o nome de algumas das pessoas fotografadas.

Jarl Fahler 
Êxitos mais recentes com experiências de clarividência com indi
víduos submetidos à hipnose foram registrados por outro psicólogo,
Jarl Fahler, ex-presidente da Sociedade para a Pesquisa Psíquica
da Finlândia. À maior parte do trabalho de Fahler baseou-se em
experiências com uma paciente extraordinária, chamada simples
mente de “Sra. S”.
Em certa oportunidade, perguntou-lhe se um certo “Sr. X”, a
quem ela conhecia apenas de vista e cujas atividades pessoais e
comerciais ignorava completamente, viajaria para o exterior, e a
“Sra. S” respondeu que pessoas em várias partes do mundo aguar
davam uma oportunidade para vê-lo. Prosseguiu descrevendo um
italiano que o estava aguardando num hotel de Londres, afirmando
ainda ser Piovene o nome do homem e que podia ver esse nome
impresso num dos cantos do bloco de papel em que estava escre
vendo. Embora o italiano estivesse usando uma caneta-tinteiro naquele
instante, estava escrevendo com letras de fôrma. Falou ainda sobre
suas maneiras irrequietas e de tê-lo visto brincando com um pino e
tamborilando os dedos à mesa. Descrevendo sua aparência, disse que,
embora parecesse uma “boa pessoa”, o “Sr. X” deveria ter muita
cautela ao manter qualquer tipo de transação com ele.
Quando foi verificar os dados obtidos, Fahler descobriu que o
“Sr. X” conhecia realmente um italiano de nome Piovene e que sua
aparência e hábitos nervosos, bem como a maneira de escrever,
correspondiam exatamente àquelas descritas pela “Sra. S”. Este
homem estivera aguardando o “Sr. X” na data mencionada, hospeda
do no Savoy Hotel em Londres. Posteriormente o “Sr. X” queixou-se
com Fahler de não ter tomado as devidas precauções, já que agora ti
nha motivos de sobra para evitar qualquer negócio com Piovene.
Á “Sra. S” também foi submetida com sucesso a testes de “exte
riorização da sensibilidade” conduzidos por Fahler. Este colocou
um copo de vidro em suas mãos e sugeriu-lhe sob hipnose que “todas
as suas sensações” estavam sendo transferidas para a água do copo
que estava segurando. Verificou-se então que, quando seus braços
ou mãos eram picados com uma agulha, não havia qualquer reação,
mas quando se mergulhava a agulha na água do copo ela reagia
imediatamente. O mesmo resultado foi obtido colocando-se o copo
d’água em outro recinto. Fahler perfurou a água dez vezes, a garota
deu dez saltos. Apresentou reações idênticas quando outro experi-
mentador realizou um teste colocando-se atrás de uma porta herme-
ticamente fechada.
Fahler também realizou testes quantitativos com as cartas Zener,
e descobriu que os resultados melhoravam significativamente quando
os indivíduos sumetidos ao teste eram hipnotizados. Alguns dos
testes foram realizados na Finlândia e os demais no laboratório
de parapsicologia do Dr. Rhine na Universidade de Duke, EUA*.

* Certa vez, ao final de uma palestra em que descrevi o teste, uma amável
senhora procurou-me e perguntou: “Sr. Edmunds, eu não quis falar nada na
quele momento, pareceu-me bobagem, mas o que acha que aconteceria se ao
invés de ser picada com a agulha ela tivesse bebido a água?” Realmente não me
parecia uma tolice. Quisera saber a resposta também.
A “senhorita B”
É digno de nota que o “Sr. X” de Fahler, assim como outros
mencionados anteriormente, experimentaram a perfeita sensação
de estarem presentes no local em que ocorreram todos os fatos
descritos em suas “excursões psíquicas” e tiveram, além disso, a
 perfeita sensação de “voltarem ao corpo” ao final das mesmas. Os
indivíduos que participaram das experiências mais bem-sucedidas,
realizadas pelo autor desta obra, também disseram haver experi
mentado essa sensação de retomo ao corpo. Um deles, a “Srta. B”,
 poderia fazer comentários completos sobre seus “movimentos”
não só nos locais da excursão propriamente dita, mas também sobre
aqueles experimentados durante seu “deslocamento” de e para
esses locais.
A “Srta. B” é uma pessoa extremamente dócil e é capaz de per
manecer sob hipnose profunda durante longos períodos, nos quais
 pode realmente executar as mais diversas tarefas, tais como preparar
um café ou drinque, ligar um gravador. Apresenta amnésia total após
cumprir todas as ordens recebidas, a não ser que lhe seja ordenado,
durante a hipnose, para recordar certas ocorrências específicas.
Submeteu-se voluntariamente a alguns testes de PES, com a finali
dade de verificar a diferença existente entre os pontos obtidos nas
cartas Zener, sob hipnose e em vigília. O resultado final foi negativo.
Para quebrar a monotonia dos palpites sobre as cartas Zener, foi
sugerido à Srta. B durante a hipnose que ela era uma médium e
estava prestes a dirigir urna sessão (A Srta. B era espírita e já havia
comparecido a muitas sessões). Sentamo-nos todos com as mãos
devidamente entrelaçadas à maneira tradicional (três pesquisadores
e a paciente) e a Srta. B entrou em transe dentro do transe mediú-
nico. Transmitiu diversas mensagens de pretensas “entidades”, algu
mas delas de caráter geral que poderiam destinar-se a qualquer
 pessoa, outras mais específicas, incluindo nomes e datas, jamais
verificados.
Como a paciente parecia reagir mais satisfatoriamente a este teste
do que ao teste com as cartas Zener, tentou-se uma variação numa
sessão realizada uma semana depois. Antes de hipnotizar a Srta. B,
o autor repetiu-lhe a estória da paciente do Prof. Janet e o fogo
no laboratório de Richet. Foi hipnotizada, e então foi-lhe dito que
 poderia sair em “excursões psíquicas” exatam ente como a paciente
de Janet havia feito e que iria “sair de sua mente”, descobrir onde
o Sr. C, um dos pesquisadores, morava, e descrever sua casa para os
 presentes. Tínhamos quase absoluta certeza de que a Srta. B não
tinha a menor idéia de onde o Sr. C vivia e muito menos como era
sua casa.
Após dizer que estava atravessando um rio, a Srta. B afirmou
estar em frente à casa, passando então a descrever certas “curvas ou
arcos” que segundo ela existiam acima das janelas. Ao ser-lhe orde
nado para “entrar” na residência, “dirigiu-se” aos fundos da mesma
afirmando ser a única maneira possível de fazê-lo. Passou então a
descrever o interior da casa, de maneira geral; parte do seu relato
estava errada e o resto poderia corresponder a quase qualquer casa.
Comentou entretanto sobre um quadro enorme onde se viam homens
a cavalo combatendo com armas que lhe pareciam ser hastes de ferro.
“Não, não são exatamente isso.” Sugeri serem lanças, e ela replicou:
“Sim, é essa a palavra certa”, e prosseguiu descrevendo alguns livros
arrumados em estantes, fazendo o seguinte comentário: “Ali (apon
tado), mas não quero vê-los” . Ao referir-se a eles, deu a exata impres
são de que sentira repulsão. Não foi capaz de dar maiores detalhes e
 por isso foi-lhe ordenado que “voltasse novamente ao seu corpo aqui
 presente”. Feito isso, despertou.
O Sr. C confirmou que sua casa localizava-se depois do rio e que
a descrição da fachada fora notavelmente precisa, com relação às
 janelas arqueadas, num estilo bem incomum. Na verdade não era
necessário entrar pelos fundos da casa, mas poder-se-ia entrar
daquela maneira. Mais interessante, entretanto, foi sua descrição
do interior da casa. 0 Sr. C possuía realmente um quadro grande
representando a batalha de Waterloo, no qual homens a cavalo
lutavam exatamente como a Srta. B descrevera. Também confirmou
 possuir uma coleção de livros um tanto mórbidos sobre a história
da pena de morte, e a Srta. B apresentou a reação típica que se
 poderia esperar de uma mulher sensível. Eu deveria supor que
haveria chances mínimas para alguém hipnotizado descobrir através
de palpites tal combinação de coisas tão incomuns.
O fato de o Sr. C encontrar-se presente nos fez suspeitar da exis
tência de alguma espécie de envolvimento telepático durante o
transcurso da experiência. Para eliminar essa possibilidade, outra
sessão foi marcada sem sua presença.
A hora marcada, apanhei a Srta. B, conforme o combinado, e
a levei à casa de uma amiga, a Srta. F, local onde outro pesquisador,
o Sr. N, já nos aguardava. A Srta. B nunca tinha visto antes nem a
Srta. F nem tampouco o Sr. N, e nunca estivera antes naquela resi
dência. Quando lá chegamos, ela foi conduzida por minha amiga,
a Srta. F, a um dos aposentos da casa, enquanto eu, o autor deste
livro, e o Sr. N fomos para outro, no qual seria realizada a experiên
cia, a fim de verificar se todos os detalhes estavam em ordem.
Pouco antes de minha chegada e da Srta. B, o Sr. N foi até os
 fu ndos   da casa na direção de uma estante de livros existente na sala
que seria usada para a experiência e, às apalpadelas, retirou um livro
ao acaso. Levou-o sem olhar sua capa para um dormitório vizinho
que se encontrava às escuras e colocou-o debaixo de uma almofada
em uma poltrona. Saiu então do aposento e fechou a porta, manten-
do-a sob observação. Ninguém entrou no aposento novamente antes
do início da experiência. Durante todo o transcorrer dessa operação
o Sr. N não chegou a ver o livro.
A Srta. F levou então a paciente para a sala de experiências (não
havia mais ninguém na casa) e o teste foi iniciado. Hipnotizei a
Srta. B e após certificar-me de que estava em estado de transe pro
fundo, contei-lhe detalhadamente o que o Sr. N fizera. Pedi-lhe
então para ir “mentalmente” até o local onde o livro estava escon
dido e dizer-nos tudo o que pudesse acerca dele.
Após alguns minutos de silêncio, disse que podia ver o livro. Era
grande, porém “fino para seu tamanho; era marrom e tinha algumas
faixas ou linhas vermelhas”. Na primeira capa viam-se as letras L e G
que representavam segundo ela os nomes “Leveson Gower”. Não
 pôde dar nenhuma outra informação e achamos conveniente encerrar
a experiência.
O Sr. N foi buscar o livro. Era, como a Srta. B dissera, um volume
grande, porém de pouca espessura e a encadernação era de fato
marrom, embora essa cor não pudesse ser vista a não ser que se remo
vesse primeiro a sobrecapa cinzenta. Na primeira página em branco
do livro havia algumas palavras escritas à mão, dentre as quais desta
cavam-se as letras maiúsculas Le G. Entretanto, nada havia que lem
 brasse o nome Leveson Gower. Não havia grifos ou linhas vermelhas
nem no livro nem na sobrecapa e eu já estava a ponto de guardá-lo
novamente na estante quando, folheando a esmo suas páginas,
descobri várias seções grifadas com tinta vermelha e podia-se ver
 perfeitamente tais observações.
Infelizmente, as circunstâncias impediram a realização de novos
testes e, conseqüentemente, o valor evidente dos resultados obtidos
não é muito importante. Entrementes, dois pontos são dignos de
nota. O primeiro deles consiste no fato de que o indivíduo hipno
tizado nem sempre parece “ver” as coisas que descreve, mas de algu
ma maneira toma conhecimento delas, como por exemplo no caso
dos grifos existentes no livro fechado. O segundo trata-se de ter
acrescentado não só nomes aparentemente fictícios às iniciais, mas
 pronunciar e,ssas palavras enfatizando sua fonética. Uma mulher
inglesa culta, a Srta. B, em circunstâncias normais, pronunciaria os
nomes sentidos telepaticamente da forma correntemente adotada
em seu país, ou seja, “Leweson Gaw”.
Prof. Vasilyev
Durante muitos anos, até a sua morte em 1966, o Prof. Leonid
Vasilyev, Chefe do Departamento de Fisiologia da Universidade
de Leningrado, realizou experiências utilizando a hipnose na pro
dução de fenômenos de telepatia e clarividência. Apesar de seu
trabalho ter sido divulgado só recentemente fora dos países da cor
tina de ferro, sabe-se pelos relatórios agora disponíveis que obteve
 pleno êxito.
Uma característica do trabalho desenvolvido pelo Prof. Vasilyev,
era o cuidado meticuloso que tomava em cada fase de suas expe
riências a fim de evitar qualquer possibilidade de erros, distorção
dos fatos ou fraudes. Em muitas de suas experiências foi assistido
 por dois membros do famoso Instituto do Cérebro Bekhterev, os
Drs. I. F. Tomashevsky e A. V. Dubrovsky.
A grande maioria das experiências de Vasilyev abordou a  suges-
tão à distância,   particularmente a indução e supressão de estados
hipnóticos por meio da telepatia. Em uma de suas séries composta
de duzentas e sessenta tentativas de hipnose à distância obteve cerca
de noventa por cento de êxito.
Em alguns dos ensaios feitos para testar a teoria, de que esta seria
uma forma de “rádio mental”, Vasilyev alojou seus pupilos em
gabinetes hermeticamente fechados (gabinetes metálicos Faraday)
a fim dt evitar a ação de ondas eletromagnéticas e manteve-se tam
 bém em gabinetes semelhantes em recinto anexo. A blindagem
utilizada não alterou em nada o total de resultados positivos obtidos.
Vasilyev também confirmou o que muitos outros já haviam obser
vado: a distância apresenta efeito desprezível ou nulo em telepatia.
Era capaz de hipnotizar sensitivos a distâncias que iam desde 20, 50,
500, 4.500, até 7.700 metros, e até mesmo de Leningrado a Sebas-
topol, cidades que distam entre si cerca de 1.700 quilômetros. Isso
demonstra mais uma vez que a telepatia não se realiza através de
qualquer forma de onda hertziana ou eletromagnética que se
conheça, já que devido à distância forçosamente teria sua intensi
dade reduzida.
Segundo os pesquisadores russos, as sugestões hipnóticas jamais
devem ser dadas através de palavras. Um colega de Vasilyev, o Prof.
K. I. Platinov, afirmou:
É importante notar que em todas as ocasiões que tentei hipno
tizar sensitivos através de ordens mentais do tipo ‘durma, durma’,
o resultado foi nulo. Mas quando criei mentalmente o rosto e a
figura de uma paciente adormecida (ou despertada), sempre
obtive o resultado desejado.
A partir disso, Vasilyev concluiu que o termo “transmissão de
 pensamento” não sintetiza perfeitamente o processo envolvido.
Escreveu: “Para aquilo que é transmitido telepaticamente não há
conceitos, opiniões ou deduções; resumindo, nada que no sentido
 preciso e estrito da palavra possa ser definido como ‘pensam ento’.
Podemos afirmar, portanto, serem transmitidas, sempre, apenas
sensações, imagens, emoções e estímulos à ação. .
Embora tenha usado de extrema cautela em suas declarações,
afirmando serem suas descobertas “consistentes ideologicamente”
com o “materialismo científico” marxista, concluiu entretanto que
a “sugestão à distância irá assumir uma importância imprevista,
talvez até imprevisível, caso seja provado — e nossas experiências
levam a crer nessa possibilidade —que a telepatia envolve algum tipo
de energia ou fator ainda desconhecido para nós, presente apenas
na expressão mais elevada da matéria, elemento este desenvolvido
no processo evolucionista — a substância e a estrutura do cérebro.
A descoberta dessa energia ou fator eqüivaleria à descoberta da
energia nuclear”.

Dr. Ryzl
Os ensaios do Dr. Milan Ryzl envolveram um total de 226 sensi
tivos dos quais 73 eram do sexo masculino enquanto 153 do sexo
feminino e suas idades oscilavam entre dezesseis e trinta e cinco
anos. Nenhum deles, ao que sabe com certeza, demonstrou previa
mente qualquer sinal de faculdade psíquica, e não se utilizou
nenhum método especial de seleção para os ensaios. Deste total,
registrou-se certo grau de clarividência em cinqüenta e seis indiví
duos (25%) e destes, três homens e vinte e quatro mulheres obtive
ram “clarividência em nível relativamente bom”. Trinta mulheres
conseguiram resultados surpreendentes comparáveis àqueles obtidos
 pela principal sensitiva do Dr. Ryzl, a Srta. “J. K.” , a quem me
referirei mais tarde.
 Não obstante alguns indivíduos terem conseguido apresentar
faculdades de clarividência na primeira sessão de hipnose a que
foram submetidos, o Dr. Ryzl deixa bem claro que este método não
é de forma alguma o mais fácil e rápido. Geralmente requer repetidas
sessões de hipnose durante um período considerável. 0 primeiro
 passo, é claro, consiste no aprofundamento do transe e intensificação
da sugestionabilidade, após o que vem o “aproveitamento dessa su-
gestionabilidade intensificada para obter a necessária inibição da ati
vidade cerebral e persuadir o indivíduo sobre a possibilidade de
adquirir PES, e de que vai realmente  obtê-la”.
O paciente recebe então sugestões de alucinações progressiva
mente mais complexas, a princípio sobre coisas bem familiares e
subseqüentemente de pessoas, objetos ou cenas fictícios. Esta técni
ca é mantida até que as “imagens” vistas pela pessoa em experiência
sejam tão claras e nítidas quanto aquelas vistas através da percepção
visual comum e possam ser conservadas pelo tempo que o hipnólogo
achar necessário. Só quando se atinge essa fase é que começa o
treinamento da PES propriamente dito.
 Neste ponto, às vezes basta controlar o paciente para detectar a
 presença de clarividência no sentido de obter resultados simples.
 Nenhum controle é acrescentado nesta fase sendo o indivíduo
instruído para fechar os olhos e distinguir objetos colocados numa
 bandeja à sua frente apenas. É útil, na maioria das vezes, a sugestão
dada pelo hipnólogo de que a “imagem” do objeto está-se tomando
gradualmente mais nítida. Outro método consiste em fazer com que
o hipnotizado “veja”, por meio da clarividência, os detalhes de um
“sonho” sugerido pelo hipnotizador.
Uma vez detectada a presença de PES em estado rudimentar,
 pode-se adotar três caminhos para realizar um treinamento mais
avançado. Segundo o Dr. Ryzl, são os seguintes:
1. Desenvolvimento de novas habilidades através de sugestão
de tarefas cada vez mais difíceis e complicadas. Primeiro trans
fere-se algo para algum ponto no espaço. Talvez atrás do paciente;
 para outro aposento, e assim por diante. Caso se obtenha êxito,
 passa-se então à clarividência em épocas diferentes; primeiro vai-se
ao passado, daí ao futuro. Devem ser tomadas precauções ainda
mais rígidas. Tenta-se descobrir se o indivíduo hipnotizado é
capaz de perceber tanto impressões auditivas quanto visuais.
Deve-se também verificar se é capaz de captar pensamentos de
outras pessoas (telepatia), e também desenvolver outras formas
de PES, tais como formas táteis: apalpadelas à distância. Deve-se
habituar o indivíduo a mudar seu ponto de observação conforme
necessário.
2. Procura-se eliminar as causas dos erros de cognição clari-
vidente. A princípio, a recém-desenvolvida faculdade de clarivi
dência é bastante imperfeita, sujeita a grande número de erros.
 Nosso paciente precisa aprender agora a evitá-los. Certos erros
originam-se de sugestões erradas dadas pelo próprio hipnotizador.
Quanto mais sugestionável o indivíduo, maior o número de erros
que poderá cometer. É necessário infundir-lhe uma boa dose de
autoconfiança, ensinando-o a controlar de forma crítica tanto
suas percepções como as palavras do experimentador. Outra causa
de erros é a influência da auto-sugestão e as suposições do próprio
hipnotizado. Experiências passadas, desejos, apreensões, pres-
suposiçoes, bem como pensamentos surgidos aleatoriamente em
sua mente, influenciam-no.
Em princípio, a tarefa mais importante consiste em ensaiar o
indivíduo a estabelecer de forma confiável a diferença entre
alucinações verdadeiras e falsas. Ele deve aprender a fazer isso
 por si mesmo. As vezes as visões verdadeiras caracterizam-se pela
nitidez e luminosidade que apresentam. Com mais freqüência, o
indivíduo deve tentar descobrir por si mesmo critérios subjetivos
que o ajudarão a reconhecer, por experiência própria, as visões
verdadeiras. Pode-se conseguir isso submetendo-o a muitas expe-
rências de clarividência preliminares nas quais tudo aquilo que
expressar poderá ser confrontado com a realidade informando-se-
-o imediatamente sobre seus erres e acertos.
3. Treina-se o indivíduo a usar suas habilidades clarividentes
 por si mesmo. Enquanto nas fases iniciais do treinamento o men
tor esforça-se para intensificar a sugestionabilidade às suas pala
vras, agora deve concentrar seus esforços   sentido de reduzi-la
1 1 0

e ensinar-lhe a entrar em estado de transe hipnótico, além de


saber controlá-lo a fim de evitar erros na interpretação de suas
 próprias impressões clarividentes.
Este parece ser   método mais adequado ao desenvolvimento
0

da PES. É melhor que a técnica de realizar experiências estando


o paciente no mais profundo estado sonambúlico possível, no
qual, é verdade, o hipnotizado é mais submisso à vontade do
experimentador, mas onde sua própria atividade é bastante redu
zida, sendo este fator de fundamental importância na eliminação
de erros. Este procedimento, entretanto, acarreta certos perigos
 para a verdadeira natureza do estado hipnótico, já que o atenua
sobremaneira. Caso se dê prematuramente uma excessiva liber
dade ao hipnotizado, seu sono hipnótico tomar-se-á demasiada
mente superficial e as faculdades de PES podem desvanecer-se à
medida que o mesmo vai despertando. Corre-se, além disso, 0

risco de fracassar ao tentar hipnotizá-lo na tentativa seguinte.


Por esses motivos, torna-se necessário aqui um cuidadoso pro
cesso gradual até que se consiga educar o indivíduo no sentido
de fazê-lo controlar a profundidade do seu sono por si mesmo.
É absolutamente imprescindível treiná-lo a fim de que o mesmo
adquira a necessária experiência no uso de suas faculdades para-
normais, encarando-o como um sentido adicional análogo aos
outros sentidos funcionando em estreito relacionamento com
estes.
O Dr. Ryzl observou que certos indivíduos podem ser treinados a
reconhecerem a diferença entre impressões verdadeiras e não-verda-
deiras, consistindo o seu método em sugerir ao paciente que as
alucinações não-verdadeiras ser2o “geralmente indistintas, fugazes e
mais resplandecentes”.
Alguns desses indivíduos haviam perdido sua PES, às vezes de
forma definitiva, após períodos de tempo diversos. 0 Dr. Ryzl
atribui isso a várias influências incidentais e fatores especialmente
de fundo psicológico e não considera tais perdas como inerentes a
essas faculdades em si mesmas, desde que desenvolvidas por estes
métodos.
A Srta. J. K., com quem o Dr. Ryzl realizou suas mais bem-suce-
didas experiências, era uma jovem inteligente em pleno esplendor
dos seus vinte anos. Ele a descrevia como uma pessoa honesta, segura
de si e cheia de energia, ao mesmo tempo gentil e sensível, com
enorme força de vontade. Não fumava nem era dada a vícios de qual
quer natureza. Ninguém diria, ao vê-la, que se tratava de alguém que
 já vivenciara experiências paranormais. Foi hipnotizada pela primeira
vez em 1958 e após certa dificuldade inicial demonstrou ser extrema
mente útil.
Após os métodos de treinamento delineados acima, a Srta. J. K.
logo demonstrou evidências de uma extraordinária faculdade de
clarividência. No espaço de um mês, foi capaz de descrever com
sucesso cenas ocorridas a muitos quilômetros de distância, localizar
objetos perdidos, predizer atos de desconhecidos, ler pensamentos
de outras pessoas. 0 Dr. Ryzl realizou então um a série de experiên
cias quantitativas com as cartas Zener, obtendo resultados também
igualmente impressivos.
Após considerável dificuldade, a Srta. J. K. aprendeu finalmente
a se auto-hipnotizar e cerca de nove meses depois seu treinamento
atingiu uma fase em que podia aplicar sua faculdade mais ou menos
à vontade e com razoável independência do Dr. Ryzl. Transcrevemos
a seguir o relato de um caso em que usou sua faculdade:
Em junho de 1959, em seu escritório de trabalho, vários de
seus documentos importantes foram extraviados. Sem nenhuma
ajuda do autor, encontrou — fazendo uso de seus poderes para
normais - todos os documentos que havia perdido num local até
então desconhecido para ela. Estavam numa escrivaninha em um
escritório que visitara pela última vez muitos meses antes. Deve-se
salientar que neste ínterim tanto a disposição dos móveis foi
alterada como o próprio prédio passou por várias reformas. Este
escritório ficava a muitos quilômetros do local onde fez sua auto-
experiência.
0 Dr. Ryzl relaciona a seguir as causas principais de erros em PES
desenvolvidas por seus métodos:
1. Sugestão do experimentador. Esta é uma causa freqüente
de erros, já que a sugestionabilidade do paciente é grandeme.ite
intensificada no estado hipnótico.
2. Auto-sugestão do próprio indivíduo, pela influência de suas
 pressuposições, temores ou pensamentos esporádicos.
3. Ilusões e alucinações análogas às ilusões experimentadas em
 percepção sen .tiva normal.
4. As impressões causadas pela percepção de objetos são indis
tintas.
5. Influência da falta de atenção do paciente, caso sinta-se
cansado ou temporariamente indisposto.
6. Erros de interpretação quando o paciente vê corretamente
a realidade extra-sensorial percebida, mas interpreta erradamente
o sentido da mesma.
7. Erros de exteriorização em que o indivíduo hipnotizado
fala quase ininteligivelmente das impressões sentidas, fazendo
com que o experimentador não as compreenda perfeitamente.
8. Influência telepática sobre o indivíduo sob hipnose, exer
cida por pessoas presentes no recinto da experiência.
9. Coalescência de percepções, quando duas ou mais percep
ções corretas referentes a eventos algo semelhantes entre si,
situados próximos um do outro no tempo e no espaço, fundem-se
numa única impressão constituída de percepções que, embora
corretas parcialmente, são erradas em seu todo.
Além das dificuldades já mencionadas, o Dr. Ryzl tem observado
retrocessos causados pelo que chama de fatores sociológicos. O pri
meiro deles, é claro, consiste na apreensão demonstrada por muitas
 pessoas ante a idéia de serem submetidaS à hipnose, mas um obstá
culo ainda maior apresenta-se mais tarde quando a PES começa a
ser desenvolvida. Contrariamente ao que se poderia esperar, muitas
 pessoas, longe de sentirem prazer ao ganharem novos poderes que,
digamos assim, as coloca acima da média das pessoas normais, pare
cem sentir medo de algo que as torna diferentes das demais. Todos
os pacientes do Dr. Ryzl opuseram-se terminantemente a toda e
qualquer divulgação que viesse a tomá-los conhecidos por seus
 poderes extra-sensoriais. Alguns ficaram preocupados pelo temor de
que suas faculdades viessem a lhes causar problemas e, nos casos de
 precognição, mostravam-se receosos ante a possibilidade de recebe
rem avisos nada agradáveis sobre si mesmos.
 Não obstante todas essas dificuldades, o Dr. Ryzl acha que seus
métodos, “caso sejam aperfeiçoados e eliminados os erros, seriam de
grande utilidade no treinamento da PES, e para seu desenvolvimento
em grau menor ou maior talvez para a maioria absoluta das pessoas”.
O Prof. C. J. Ducasse, filósofo e parapsicólogo americano, defen
de métodos semelhantes aos do Dr. Ryzl afirmando ser o hipnotismo
apenas uma forma especial e conhecida de fenômeno psicológico e
o estado hipnótico, por seu tumo, simplesmente a experimentação
de um grau temporário porém excepcionalmente elevado da con
dição psicológica normal, sendo essa percepção alterada algo per
feitamente normal. O processo de indução da hipnose consiste da
 sugestão da  sugestionabilidade,   e conseqüente produção de hiper
 sugestionabilidade.   A sugestão, diferentemente da  persuasão,   con
siste na “apresentação de uma idéia à mente, de maneira tal que
esse procedimento anula seu julgamento crítico”.
Com relação à natureza do transe hipnótico, o Prof. Ducasse
deixa bem claro a diferença existente entre o sono hipnótico e o
natural e toma em consideração seu relacionamento com o sonam-
 bulismo espontâneo. Também discorre longamente sobre a aludida
impossibilidade de se fazer uma pessoa hipnotizada praticar atos
imorais ou ilegais que normalmente não faria. Após concordar que
alguém sob hipnose normalmente   não aceita sugestões que entrem
em conflito  flagrante com profundas convicções morais ou religiosas
que tenha, acrescenta:
W. R. Wells, entretanto, não só sustenta como também
demonstrou experimentalmente que é possível ordenar a um
indivíduo hipnotizado que cometa crimes, desde que se dissi
mule a verdadeira natureza dos atos que deverão ser praticados.
Isso é contestado por Erikson e também por Schilder e Kauders.
E L. W. Rowland provou também experimentalmente que pessoas
hipnotizadas podem ser levadas a ferir a si próprias ou a outros.
Uma excelente revisão e resumo de toda a controvérsia é feita por
Paul C.Youngque, à luz dos argumentos e evidências apresentados
 por ambas as partes, concluiu que “há fortes evidências de que
um hipnotizador realmente experiente pode induzir alguém a ter
um comportamento anti-social por meio da hipnose”.
O Prof. Ducasse passa então a fazer uma consideração sobre o
hipnotismo e as faculdades paranormais e faz um breve resumo dos
 procedimentos adotados usuám ente ao lidar com um elemento
hipnotizado.
Por exemplo, ao tentar produzir faculdades paranormais num
indivíduo, clarividência, por exemplo, deve-se dizer a ele que
todos os seres humanos possuem um órgão que, embora desco
nhecido, é parte integrante da nossa psique, que tal órgão acha-se
adonnecido, que pode ser estimulado e, utilizando o grande poder
 proporcionado por um ritual, que esse órgão receberá o estím ulo
necessário a seu funcionamento quando certo ponto de sua
cabeça —digamos, entre as sobrancelhas —for pressionado pelo
hipnotizador durante algum tempo. Após efetuar todo esse proce
dimento, deve-se então pedir ao elemento para executar uma
tarefa simples de clarividência —por exemplo, dizer qual o naipe
a que pertence uma carta de baralho colocada numa mesa com
sua face voltada para baixo. Caso acerte esse primeiro palpite,
 pode-se pedir a ele para identificar a carta; caso acerte novamente,
deve-se tentar então tarefas de clarividência mais complexas,
tomando-se rígidas precauções a fim de evitar o uso de estrata
gemas de qualquer natureza.
Se, por outro lado, o indivíduo não foi bem-sucedido apesar
das tentativas feitas, deve-se repetir o procedimento usado para
a estimulação, devendo ser-lhe ministrada uma sugestão pós-
hipnótica na qual procura-se infundir no mesmo a certeza de que
após a estimulação o órgão permanecerá desperto e se manifestará
no momento oportuno, e que na próxima vez que fizer o teste
obterá sucesso.
Procedimentos desse tipo para o desenvolvimento de faculdades
tais como a clarividência, psicometria, telepatia ou outras formas de
PES são, segundo o Prof. Ducasse, os que apresentam maiores pers
 pectivas de êxito.
As expeiiências do Dr. Eisenbud
Tentativas bem-sucedidas de sugestão à distância foram registra
das em 1962 por um psiquiatra americano, o Dr. Jule Eisenbud. v

Certa vez estava ele de férias num local distante cerca de cem quilô
metros de sua clínica de Nova Iorque quando resolveu concentrar-se
 para “sugestionar” um de seus pacientes à distância, ordenando-lhe
que lhe fizesse uma ligação telefônica interurbana. Ao terminar sua
concentração, deu-se conta de que não havia telefone algum na casa
em que se hospedara.
Regressando a Nova Iorque, encontrou-se novamente com seu
cliente mas não mencionou sua tentativa. Durante a sessão hipnótica
daquele dia, deu-lhe um comando mental para que lhe telefonasse
impreterivelmente naquela mesma tarde. Tal sugestão entretanto não
surtiu nenhum efeito. Mais ou menos na metade da semana seguinte,
contudo, enviou a Eisenbud três cartões-postais — algo sem prece
dentes — enquanto estava ausente de Nova Iorque, e fez ainda um
telefonema interurbano sob um pretexto aparentemente fútil. Algum
tempo depois contou a Eisenbud ter ficado “obcecado” com uma
idéia relativa a ele durante várias semanas. Eisenbud hipnotizou-o
explicando-lhe a seguir sua tentativa banal, a “sugestão telepática”
feita para que telefonasse, e após isso sua obsessão desapareceu.
O Dr. Eisenbud aventa a seguinte explicação psicoanalítica:
Lembrei-me do cartão-postal que me enviara. Tudo que escre
vera foi: “Alô, doutor. Acabei de encontrar uma gatinha tão
devagar que o tempo que perdeu pra falar: Acho que não sou
aquele tipo de garota, ela já era”. Isso fez-me cogitar na possibili
dade de Harry ter estado todo o tempo debatendo-se contra a
compulsão importuna de telefonar-me e, por fim, antes que pu
desse explicar que não era um certo tipo de paciente sob hipnose,
que ele inconscientemente deveria ter relacionado à natureza
feminina, ele, de fato, era. Procurei me lembrar da “ordem” dada
originalmente quando havia total impossibilidade de resposta e
verificar se alguma ordem subseqüente teria de aguardar até que a
 primeira fosse cumprida. A verdade é que apenas a muitos quilô
metros de distância de mim Harry foi capaz de executar a ordem
que recebera inicialmente, e o cartão-postal que provavelmente
fora enviado para substituir a ligação interurbana não realizada
(para não dizer muita coisa de um total de três cartões enviados
em apenas uma semana) pode perfeitamente significar a luta
íntima travada por Harry para não dar vazão a uma atitude total
mente contrária ao seu comportamento normal. Pareceu-me ser
o tipo de coisa que gera confusões quando se trata de comandos
 pós-hipnóticos dados verbalmente. O indivíduo tenta realmente
uma fusão, uma concessão às suas convicções pessoais, só que tal
tentativa é feita em local que lhe pareça totalmente exeqüível.
Ambas as minhas ordens, tanto a primeira quanto a segunda,
foram dadas à hora do almoço. A chamada interurbana de Harry
ocorreu às 12:45, num dia de semana. Havia uma dúvida em
minha mente: Será que havia protelado a execução dos comandos
dados mentalmente?
Para verificar se teria sucesso com sugestões à distância, Eisenbud
começou a concentrar-se em um de seus pacientes. Interrompeu,
entretanto, sua concentração, julgando ser sua atitude um pouco
deselegante, já que se tratava de paciente que começara suas expe
riências há pouco tempo. Não obstante, no espaço de uma hora
este lhe telefonou perguntando-lhe sobre a possibilidade de alterar
a data da próxima sessão.
 No dia seguinte Eisenbud concentrou-se alguns minutos para
receber uma chamada de uma amiga que morava no Connecticut,
e de quem não recebia notícias há um ano e meio. Dentro de uma
hora a jovem lhe telefonou dizendo que sentira uma vontade simples
mente irresistível de falar com ele.
Em suas crônicas fascinantes descrevendo estas experiências
(Jornal Hindu de Parapsicologia,   vol. IV, n? 3, 1962-3), o Dr.
Eisenbud enumera de forma convincente as razões que o levam a
crer ser a sugestão à distância um dos mais antigos “fatos da nature
za” conhecidos pelo homem, algo ainda não estudado de forma
 plena. Salienta, outrossim, o detalhe de que nenhum dos primeiros
 pesquisadores continuou ou aprofundou suas experiências, embo
ra algumas delas merecessem maior atenção e, na verdade, pesqui
sas posteriores. Confessando haver falhado quanto à persistência
no prosseguimento de suas experiências bem-sucedidas, o Dr. Eisen
 bud observa que, de forma oposta à crença popular, ninguém é
capaz de «manter perm anentemente e m uito menos achar agradá
vel o conhecimento e exercício proporcionados por tal poder.
Suspeita ainda que “a perturbadora estimulação de uma das mais
 profundas e narcisistas inclinações mágicas” , representada pela prá
tica da sugestão à distância, “parece ser a raiz do problema causado
 pela inibição generalizada, característica aparente da atitude atual
com relação ao indivíduo”. O Dr. Eisenbud concorda, é claro, com a
necessidade de mais pesquisas nesse campo.

/ Pseudoclarividência e

6 / reencarnação
Pode parecer, pelo que se viu até aqui, que tudo que se precisa
 para despertar a clarividência ou outros poderes psíquicos seja hipno
tizar alguém e ordenar que descreva fatos que ocorreram em local
distante ou relacionados ao passado de algum objeto. Infelizmente
não é assim tão simples.
É verdadeiro: diga a uma pessoa que ela possui faculdades clarivi-
dentes e ela descreverá algo  —e o fará de maneira tão convincente
que será quase impossível duvidar de sua boa fé. Entretanto, quando
se realiza uma investigação minuciosa dos fatos, verifica-se a ocor
rência freqüente de desapontamentos.
O indivíduo não está agindo de má-fé. Se as sugestões são dadas
da forma apropriada, ele acredita piamente estar realmente vendo
tudo que vê naquele momento através de sua clarividência, ou rece
 bendo mensagens telepáticas, ou qualquer coisa que lhe tenha sido
ordenado. Entretanto, apesar da consideração que temos para com
sua integridade, apesar de acharmos convincente aquilo que diz e
também o assunto tratado, é imprescindível que se faça duas per
guntas fundamentais a toda e qualquer pesquisa psíquica. Primeira,
 precisamos questionar se estes fenômenos podem ser englobados
na classificação dos fenômenos perfeitamente normais sem recorrer
a justificativas paranormais, e segunda, se achamos realmente que só
algo paranormal explicaria os fenômenos. Resumindo, é preciso
comprovar-se a existência ou não de evidências confiáveis para a
explicação paranormal dada pelo indivíduo.

Memórias psíquicas e lembranças nítidas


Muitos dos fenômenos que se julgam paranormais perdem essa co
notação à primeira daquelas perguntas. Cito a seguir um exemplo de
experiência própria. Uma jovem paciente que eu já havia hipnotizado
muitas vezes demonstrava em certas ocasiões notável faculdade de
clarividência e viagem astral. Em determinada sessão, sob hipnose,
manifestou ter “memórias psíquicas” de uma existência anterior.
Disse lembrar-se de ter vivido em Sevilha no século XVII como
uma “princesinha” chamada Inêz. Eu também teria supostamente
encarnado àquela mesma época; ela me conhecera sendo eu um bispo
de Sevilha, chamado Rodriguez. Aparentemente eu teria sido um
opressor implacável, daqueles que se opunham aos caprichos da
Igreja, mas um dia mudei de comportamento, passando a aconselhar
a princesa Inêz a dar liberdade de expressão às pessoas para que estas
agissem como desejassem. Ela, completamente inocente, relatou à
Corte o que eu dissera. Fui traído, preso numa armadilha e morto
 por afogamento.
Era uma história bonita, mas quando verifiquei sua autenticidade
histórica, descobri que Sevilha nunca tivera um bispo e sim arce
 bispo, e não houve nenhum arcebispo cham ado Rodriguez no século
XVII e não se tem notícia de qualquer arcebispo morto por afoga
mento em Sevilha.
A despeito da aparentemente autêntica “cor local”, estava mais
do que cláro que minha paciente inventara toda a estória tomando
 por base fatos curiosos de detalhes históricos gravados em sua mente,
e não havia nenhum elemento psíquico envolvido. A riqueza e
clareza de detalhes que forneceu poderia ser classificada na mesma
categoria da “exteriorização” extraordinariamente convincente
apresentada pelas pessoas submetidas à hipnose em locais públicos,
nos quais entre outras çoisas remam barcos imaginários, embriagam-
se com água, e acreditam serem Napoleão ou qualquer um que lhes
seja sugerido.
Outro atributo apresentado por indivíduos hipnotizados sem
envolvimento de nenhum elemento psíquico é a fantástica “lem
 brança to tal” de eventos de há m uito esquecidos completamente
da memória consciente; e isso pode explicar também alguns fenô
menos que à primeira vista parecem paranormais. Experiências
triviais da primeira infância, detalhes de experiências significativas
guardadas a nível subconsciente, ou de cenas e fatos jamais obser
vados a nível consciente podem ser evocados perfeitamente através
de sugestões do hipnotizador.
Um extraordinário exemplo recente de recuperação de memó
ria através da hipnose é-nos dado pelo escritor de contos alemão
Heinrich Gerlach, autor de O exército desamparado.   Gerlach escre
veu o livro originariamente enquanto era prisioneiro de guerra na
Rússia, mas teve seus manuscritos confiscados e jamais devolvidos.
Quando voltou à Alemanha após a guerra, Gerlach tentou reescrever
o livro de memória, porém não o conseguiu.
Em 1951, Gerlach recorreu à ajuda do Dr. Karl Schmitz,psicotera-
 peuta especializado em hipnose. Este acedeu em ajudá-lo e ao cabo de
vinte e três sessões de hipnose fê-lo lembrar-se o suficiente para
 permitir-lhe refazer totalm ente seu trabalho original. Este caso foi
devidamente documentado em vista do não-acordo que ocorreu
sobre os honorários do hipnólogo resultando em litígio na justiça.
A Corte do Distrito de Oldenburg examinou todos os detalhes do
caso e pronunciou-se a favor do Dr. Schmitz, que recebeu 9.500
marcos.
Gerlach, é claro, lembrou-se de detalhes que lhe eram completa
mente esquecidos. Eis aqui um exemplo de recordação de coisas
nunca vivenciadas a nível consciente. Um paciente hipnotizado na
Escola Hopkins de Medicina, em Toronto, começou a falar numa
estranha língua desconhecida por todos os presentes. Quando soli
citado a anotar suas palavras, escreveu-as com muito cuidado.
Descobriu-se que as palavras eram uma série de imprecações mágicas
em Oscan, uma linguagem corrente na Itália durante o século III a.C.
O paciente não tinha sequer noções de latim e jamais ouvira falar
de Oscan. Ao ser acordado não recordou nada do que havia dito ou
escrito. O Dr. Harold Rosen, que registrou o caso, tentou dar esta
explicação para o fenômeno. São suas palavras:
Descobrimos que certa tarde ele havia estado na biblioteca da
Universidade da Pensilvânia fazendo pesquisas preparando-se para
uma prova de economia marcada para o dia seguinte. Começou a
devanear sobre sua namorada e ao invés de prestar atenção ao
texto diante de si, olhava para outro livro também à mesa, aberto
na página 243... No meio da página, em inglês, lia-se a frase “As
maldições de Víbia”. Víbia era um nome semelhante ao apelido
de sua garota. Sem se dar conta de que olhara este livro, imprimiu
fotograficamente na memória a maldição Oscana impressa logo

9 2 4 
7 IJ 
abaixo do título inglês. Pacientes fazem isso com certa freqüên
cia, embora em sua honestidade, quando não-hipnotizados,
 possam jurar que não sabem absolutamente nada sobre os fatos
ou a linguagem em questão.
Há registros de muitos casos semelhantes. O Dr. Lewis Wolberg
menciona o caso de uma mulher hipnotizada que subitamente come
çou a recitar poemas em grego. Jamais estudara essa língua antes,
e pelo que sabia, nunca tivera qualquer contato com a mesma. A
investigação revelou, entretanto, que quando tinha cerca de dois
anos de idade sua mãe trabalhara como governanta para um profes
sor de grego que costumava caminhar em volta da casa recitando
 poesias gregas ou treinando suas conferências. Nessas ocasiões
a criança poderia estar brincando pela casa enquanto sua mãe tra
 balhava.
Há outro caso também sobre uma senhora de pouca instrução que
não-hipnotizada começou a falar alemão fluentemente, embora por
mais que se esforçasse não recordava haver tido qualquer contato
com essa língua. A hipnose revelou que alguns anos antes ela fora
faxineira do consulado alemão e de vez em quando ouvia conversas
em alemão. Conscientemente não se recordava de ter ouvido nenhu
ma palavra nesse idioma.
As lembranças inconscientes de algo que tenham lido ou ouvido,
ou simplesmente uma imaginação muito fértil, são seguramente a
origem de muitos fatos aparentemente paranormais ocorridos com
 pessoas hipnotizadas, como o caso da minha paciente, que criou a
história do “Bispo de Sevilha”. Isto é particularmente verdadeiro na
maioria dos casos citados como evidências de reencarnações. O
exemplo clássico, analisado por Theodore Flournoy, psicólogo suíço,
é descrito em seu famoso livro,  Da índia ao Planeta Marte.
O Prof. Flournoy passou vários anos estudando a “mediunidade”
de uma jovem a quem deu o pseudônimo de “Hélène Smith”. Espí
rita, Hélène acreditava serem seus transes controlados pelos “guias”
e não aceitava o fato de estar sendo hipnotizada apesar de, como
Flournoy dizia, “não perceber que mesmo evitando essa palavra está
aceitando a realidade, pois seus exercícios espíritas consistem real
mente de auto-hipnose, já que se originam da influência especial de
determinadas entidades”.
Além das ilustres figuras do passado, tais como Maria Antonieta
(cuja “assinatura” feita pelo seu espírito era bastante diferente da
verdadeira), Hélène afirmava também m anter contato com um jovem
recentemente falecido e que reencamara em Marte. Costumava tam
 bém “abandonar o corp o” flutuando através de nuvens densas e
 profusamente coloridas em direção a Marte.
Hélène descrevia a vida no planeta vermelho reforçando sua
descrição com esboços feitos de memória após as sessões, incluindo
“carruagens sem cavalos ou rodas, emitindo centelhas à medida que
 passavam; casas com fontes nos telhados” e “uma espécie de arma
ção tendo por cortinas um anjo feito de ferro com suas asas abertas”.
Os marcianos teriam aparência exatamente igual à dos habitantes da
Terra, exceto que ambos os sexos trajavam-se de forma bem seme
lhante, com calças e longas blusas.
Hélène escreveu também longas mensagens em uma estranha
língua que dizia ser marciana. Isso impressionou grande número de
 pessoas, nem tanto pelo conteúdo apresentado, antes porém pela
forma da linguagem e uso consistente de vários termos. Flournoy
 provou, porém, ser a referida língua baseada estruturalmente no
francês e concluiu que Hélène a teria inventado subconscientemente,
embora isso fosse uma façanha notável para uma mulher pratica
mente ignorante.
Em sua análise, Flournoy demonstrou que embora Hélène não
tivesse apresentado evidências de poderes psíquicos verdadeiros,
não havia dúvidas a respeito de qualquer imaginação consciente ou
simulação. Era tudo conseqüência de processos mentais inconscien
tes, baseados em suas próprias inclinações latentes, experiências,
temperamentos e padrões comportamentais.

“Bridey Murphy”
O famoso caso “Bridey Murphy”, que há alguns anos causou sen
sação internacionalmente, parece ter explicação semelhante. Morey
Bemstein, hipnotizador amador do Colorado, Estados Unidos,
interessou-se pela reencamação. Lera sobre tentativas de demonstra
ção de reencamação feitas através de regressão hipnótica até que
o paciente hipnotizado “revivesse” vidas anteriores e decidiu ele
 próprio fazer tentativas semelhantes. Sua paciente era Virginia
Tighe (“Ruth Simmons”, no livro de Bemstein), jovem casada e
 já hipnotizada várias vezes, capaz de entrar rapidamente em transe
 profundo. A experiência constava de seis sessões, nas quais Virginia
regressou hipnoticamente à sua primeira infância e foi-lhe ordenado
então retroceder mais ainda até uma vida anterior.
O caso, principalmente na forma de respostas às perguntas de
Bemstein, apresentava Virginia como tendo sido em outra vida
Bridget Kathleen Murphy, nascida em 1798, em Cork. O pai chama
va-se Duncan Murphy, era advogado e ela tinha um irmão chamado
Duncan Blaine Murphy; outro irmão seu morrera ao nascer. Ela
afirmava ter morado num lugar chamado “The Meadows” (os
 prados) e a diretora da escola em que estudara chamava-se Sra.
Strayne, cuja filha desposara o irmão de Bridey* . O fato mais antigo
recordado foi a surra que levou ao arranhar a tinta da armação de
sua cama. Aos vinte anos casou-se com Sean Joseph McCarthy,
 professor de direito da Universidade de Queen, em Belfast. 0 casa
mento realizou-se numa igreja protestante. Mudaram-se para Belfast
em 1828, onde casou-se pela segunda vez, cerimônia esta presidida
 por um padre católico, John Joseph Gorman e realizada na Igreja de
Santa Teresa, afastada da estrada de Dooley. Morreu sem filhos em
1864, sendo enterrada em Belfast.
“Bridey” citou o nome de suas amigas e pessoas de sua relação,
suas preferências acerca de trajes, comidas, livros, música, e descre
veu lugares, casas, ruas e navios. Falava num dialeto nativo usando
expressões raramente ouvidas fora da Irlanda. Nem Virginia nem
Morey conheciam esse país. Bernstein publicou um relatório textual
dos fatos obtidos juntamente com suas sindicâncias e observações
subseqüentes, em seu livro Em busca de Bridey M urphy.  Foi também
editado um disco a partir do material gravado em fita durante as
sessões.
Seguiu-se muita controvérsia à publicação do livro, e muitos
 pretensos expertos no assunto criticaram-se entre si através de
 publicações. Dos comentários consistentes e sérios, os mais impor
tantes são os do Dr. E. J. Dingwall, um dos mais capazes e expe
rientes pesquisadores britânicos, e do Prof. C. J. Ducasse, filósofo
e parapsicólogo americano.
O Dr. Dingwall realizou uma meticulosa pesquisa de campo —e
seu relatório foi devastador. Não conseguiu localizar nenhuma   das
 pessoas citadas por “Bridey” . Não encontrou em documentos histó
ricos nenhum advogado chamado Duncan Murphy, nenhum profes
sor da Universidade Queen chamado Sean McCarthy, nem reverendo
John Gorman, ou qualquer Sra. Strayne. Jamais alguém ouvira falar
da estrada de Dooley em Belfast e não existiu nenhuma Igreja de
Santa Teresa lá até o ano de 1910, cerca de cinqüenta anos após a
data em que “ Bridey” afirmou ter morrido.
A primeira comprovação histórica da venda de camas de ferro
detectada pelo Dr. Dingwall na Irlanda datava do ano de 1830, e
é extremamente improvável que algumas delas estivessem sendo
normalmente usadas já no ano de 1802. Não foi encontrado nada
que indicasse a existência de algum lugar chamado “The Meadows”.
Um mapa de Cork, do ano de 1801, apresenta uma parte da cidade
denominada Mardike Meadows, um distrito conhecido por suas
desordens aos domingos de manhã, e como afirma Dingwall, “tivesse

* Apelido inglês de Bridget. (NT)


Bridey dado o nome Mardike, sua afirmação seria considerada seria
mente. Mas não o fez”.
 Não há citação em qualquer registro sobre uma escola com o
nome de Escola Diurna Sra. Strayne ou qualquer escola com nome
remotamente parecido. O Dr. Dingwall considera esse fator de espe
cial importância, uma vez que as relações de escolas eram incluídas
nas primeiras publicações de catálogos e a imprensa freqüentemente
fazia publicidade de seus nomes. Todos os esforços para encontrar
 pistas de outros mestres da Universidade de Queen, mencionados
 por “Bridey” , incluindo William McGlone, Fitzhugh e Fitzmaurice,
foram inúteis.
Comprovou-se que grande número de palavras era do dialeto
gaélico e algumas expressões que afirmava serem de uso comum na
Irlanda eram, na verdade, erradas ou nunca se ouvira falar delas.
O nome  Baia Verde   fora mencionado por “Bridey”, e a respeito
dele Bemstein afirmava terem sido publicados vários livros com esse
título na Irlanda durante o século XIX. Dingwall nota que todas as
tentativas feitas para se encontrar ao menos uma obra com tal título
na Irlanda e Inglaterra foram infrutíferas.
Resumindo, o Dr. Dingwall diz que “o caso não deixa de apresen
tar interesse ao lado de outros semelhantes em que se pode verificar
o processo de elaboração de novas personalidades sob ação de
hipnose”. Concluiu seu relatório, adequadamente intitulado “A
mulher que jamais existiu” ( Tomorrow , verão de 1956), com o
seguinte comentário: “É possível que, sob hipnose, caso a Sra.
Simmons fosse solicitada a fornecer onde obteve a história de Bridey
Murphy, poder-se-ia talvez descobrir a fonte de todo o caso. E
curioso que isso não tenha sido tentado na oportunidade”.
O Prof. Ducasse analisou as declarações de muitos expertos que
expressavam suas opiniões sobre o caso — em particular certos
 psiquiatras e outros sem qualquer conhecimento de pesquisa psíqui
ca que se arvoraram a escrever “relatórios científicos”. O grande
valor deste trabalho é a constatação de que as opiniões de homens
que são autoridades em seu campo de atividade podem tomar-se
quase inúteis em um outro, e em seu afã de demonstrar algo que
“pontifica em nome da Ciência” ignoram ou distorcem fatos que
lhes parecem não estar de acordo com suas próprias teorias. O Prof.
Ducasse também destaca que mesmo não tendo sido estabelecida
a veracidade da reencamação, isso não descarta a possibilidade de
Virginia Tighe ter obtido suas informações por meios paranormais.
O caso Bridey Murphy originou muitos imitadores, principal
mente nos Estados Unidos, onde registravam-se relatórios sobre
regressões bem-sucedidas, de costa a costa. Um indivíduo afirmava
ter sido uma jovem que em outra vida fora queimada numa estaca
“por um grupo de desordeiros com turbantes à cabeça”. Outro dizia
lembrar-se de ter sido uma raposa vermelha, outro ainda um cavalo.
Um jornaleiro de Shawnee, Oklahoma, não se satisfez apenas com a
regressão a que fora submetido. Matou-se com um tiro, deixando um
 bilhete: “Dizem que a curiosidade matou o gato. Bem, eu não sou
um gato, mas sou muito curioso. Estou muito curioso sobre essa tal
história de Bridey Murphy e por isso vou investigar a teoria pessoal
mente”.
Àquele que pesquisa o paranormal, senão ao estudante de psico-
 patologia, tais casos podem parecer uma leitura deprimente. Mas se
 procuramos realmente a verdade, e não apenas fundamentos para
crenças cegas, precisamos ter alguma idéia do que existe no reverso
da medalha. A suposição de que, pelo fato de eventualmente   ocor
rerem fenômenos psíquicos, todos   os fenômenos que parecem
 psíquicos são necessariamente psíquicos, é uma armadilha fatal
 para muitos.
Em nenhum outro campo de atividade tanto quanto no da
investigação de fatos psíquicos é tão importante lembrar a “lei
científica da parcimônia” —em que se aceita a explicação para todos
os fatos. Nos casos em que se alega regressão hipnótica a uma vida
anterior - supondo-se total ausência de fraude —só se deve utilizar
uma explicação paranormal quando se está plenamente convicto de
que nenhuma outra explicação, como por exemplo dramatização de
lembranças inconscientes, é mais adequada. Caso julguemos neces
sária uma explicação paranormal, deve-se então verificar se não há
 possibilidade de explicar os fatos através de alguma forma conhecida
de experiência psíquica, tal como a clarividência, ou se há alguma
evidência que apóie a afirmação do indivíduo que diz estar revivendo
uma encarnação anterior. Em alguns dos exemplos que encontrei
ou dos que li a respeito, parece-me necessário aceitar a ocorrência de
algo paranormal; mas em todos esses exemplos, a reencarnação
exigiria mais hipóteses não verificadas que uma das outras explica
ções (ou combinação delas). Adotando-se a ‘lei da parcimônia”,
esta explicação, por conseguinte, deve ser rejeitada.
Tudo isso não representa que a reencarnação não possa  ser um
fato; na verdade muitos intelectuais são adeptos convictos dessa
teoria. O objetivo deste livro não é abordar o mérito da questão.
Eu creio porém - e é isso que tenho tentado demonstrar - ser a
reencarnação algo ainda não demonstrado nem pela regressão hipnó
tica nem por qualquer outro processo associado ao hipnotismo.
Hipnose e curas paranormais

Relatos de curas aparentemente milagrosas são tão velhos quanto


a própria história. Tais curas assumem muitas formas, sendo atribuí
das a um sem-número de causas que variam do vodu de feiticeiros
aos milagres atribuídos a Cristo. A Igreja Católica Apostólica Roma
na e outras derivadas dela, a Igreja da Ciência Cristã, espíritas, e
muitos outros credos afirmam serem estes casos de cura paranormal
verdadeiros, e muitos deles através de processos semelhantes, apesar
da divergência apresentada no relato dos mesmos. Tais explicações
são na verdade tão divergentes entre si que, embora admitindo a
ocorrência desses fatos, caso qualquer deles seja verdadeiro, os
outros devem quase com certeza ser inverídicos —embora possamos
aventar a hipótese da não-autenticidade de todos eles e o fato de
que até hoje não se encontrou uma explicação satisfatória para tais
fenômenos.
Eu tenho motivos particulares para acreditar na possibilidade da
cura paranormal, já que através do uso da hipnose realizei várias
curas que certamente não teriam explicação médica. É importante
enfatizar, entretanto, que a aceitação da hipótese da cura paranormal
não implica de maneira alguma a aceitação das explicações geral
mente aventadas para as ocorrências dessa natureza. Muitas pessoas
são incapazes de aceitar qualquer uma delas, e tal incapacidade
associada às afirmações extravagantes feitas por certos “curandeiros”
 parece-me ser a causa de um dos dois erros principais com relação
ao assunto, ou seja, “jogar fora o bebê juntamente com a água do
 banho” e rejeitar todos  os casos paranormais só porque alguns de
seus ângulos são questionáveis. Pode-se estabelecer aqui um paralelo
lembrando a atitude de desprezo assumida por muitos médicos que
rejeitam o hipnotismo ao longo dos anos, embora seja irrefutável o
seu valor terapêutico. Não é de estranhar, portanto, que a cura para
normal, muito mais difícil de ser demonstrada, sofra rejeição seme
lhante. Felizmente, entretanto, há indícios recentes de que os pro
fissionais médicos detêm-se muito mais a considerar os méritos de
cada caso e dedicam-se a investigá-los com mais atenção.
A atitude oposta e que ocasiona um comportamento errôneo na
consideração das curas paranormais consiste em sua aceitação sem
as críticas necessárias. Muitos “curandeiros” são, é claro, completa
mente honestos e sinceros, e fazem seu trabalho com o único escopo
de prestarem um serviço à humanidade. Mesmo os mais sensaciona
listas — que se dizem capazes de realizar “operações psíquicas”
durante o transe ou sono, por exemplo - acreditam freqüentemente
na verdade implícita de suas ilusões.
É oportuno considerar aqui três qualidades inerentes a um bom
curandeiro paranormal:
1. Crença verdadeira em sua capacidade de curar.
2. Condições efetivas para fazê-lo.
3. Compreensão exata dos métodos através dos quais realiza
tais curas.
Um curador paranormal pode não ter nenhuma dessas qualidades;
 pode ter apenas um a delas; pode ter duas delas (que na prática são
usualmente a primeira e a segunda); ou pode presumivelmente
 possuir todas as três.  Nen hu ma destas qualidades implica a existência
de outras.  Não se pode deduzir a capacidade da sinceridade, nem
tampouco a qualidade indica compreensão do processo envolvido.
Alguns “médicos paranormais” demonstram certa irritabilidade com
relação à atitude de investigadores que suspeitam de sua integridade
colocando em dúvida sua boa fé. Há uma lamentável dose de inse
gurança em indivíduos desse tipo. Aqueles realmente dotados só
teriam a ganhar com uma análise mais crítica de suas atuações,
enquanto os charlatães seriam talvez levados a mudar de ramo em
suas tentativas de vida fácil.
 Nada pode depreciar os esforços de inúmeras pessoas honestas
que acreditam verdadeiramente ter o poder de curar, algumas das
quais conheço pessoalmente, e admito que possam realmente fazer
curas paranormais, embora não se possa dizer que preencham total
mente os itens delineados há pouco. É oportuno lembrar que há
risco real de uma pessoa doente sofrer graves danos em conseqüên
cia do tratamento feito por um “curador paranormal” ao invés dè
 procurar cuidados médicos adequados, tendo já ocorrido muitos
casos dessa natureza.

Hipnose e diagnóstico
Diz-se ser a hipnose utilizada não apenas no tratamento de
doenças, mas também em seu diagnóstico. Certos indivíduos hipno
tizados são capazes de adquirir uma faculdade de clarividência que
lhes permite determinar a doença de certo paciente. O primeiro a
fazer tal coisa parece ter sido o Marquês de Puysegur, aluno de Mes-
mer, que citou a experiência realizada com um jovem agricultor
ignorante que em estado de transe profundo apresentava nítidos
 poderes de clarividência, através dos quais era capaz de diagnosticar 
doenças de pessoas enfermas. O Prof. Charles Richet e o Dr. Herbert
Mayo, F. R. S., ambos eminentes fisiologistas, incluem-se entre
aqueles que realizaram tal tipo de experiências. O segundo deles
enviou certa vez um cacho de cabelos retirado de um de seus pacien
tes para um amigo seu em Paris. Este entregou-o a um indivíduo
hipnotizado, tendo o mesmo afirmado que seu possuidor sofria de
 paralisia parcial dos membros inferiores e usava habitualmente um
aparelho cirúrgico, além de padecer de outro mal. A veracidade des
sas afirmações foi comprovada pelo Dr. Mayo.

Edgar Cayce
O mais famoso “diagnosticador psíquico”, dentre todos os que
se conhecem, foi sem dúvida Edgar Cayce (1876-1944) que, con
forme já vimos, foi curado de grave enfermidade na garganta por
um hipnotizador.
Convencido a fazer “leituras clínicas” em estado hipnótico, Cayce
descobriu ser capaz de fazer diagnósticos de pacientes que se encon
travam a muitos quilômetros de distância. Não precisava de nenhum
detalhe dos sintomas; apenas endereço e nome do paciente a seu
devido tempo. Deitava-se, então, e lentamente entrava em estado de
transe enquanto seu assistente Layne repetia a fórmula invariavel
mente usada:
Você terá agora diante de si (nome do paciente), que está
neste momento em (endereço). Vai aproximar-se cuidadosamente
desse corpo, fazer-lhe um exame geral e dizer-me seu estado atual
e causas de sua enfermidade; indicará também sugestões para
sua cura. Responderá às minhas perguntas à medida que eu for
formulando.
Caso o paciente não estivesse àquele momento em sua casa con
forme o combinado, Cayce dizia: “Não temos o corpo - não o
encontramos”. Normalmente, porém, começaria dessa forma:
‘Temos o corpo”, e daria a seguir uma descrição do paciente à qual
freqüentemente acrescentava a descrição de sua residência, arredores
e atividades das pessoas presentes na casa. Faria então um diagnósti
co e prescreveria tratamento fazendo uso de terminologia médica
aitamente especializada.
Durante sua vida, fez mais de 30.000 “leituras clínicas” e veio a
ser conhecido como o “médico adormecido”. Nem todas essas
“leituras” foram corretas, mas a maioria era espantosamente precisa.
Quando se tornou muito conhecido, inúmeros médicos recorreram
a ele a fim de solicitar sua ajuda para diagnosticar casos particular
mente difíceis e um deles garantiu ter Cayce obtido uma precisão
maior que 90% nas “leituras” de casos que lhe foram submetidos
dessa maneira.
Um notável exemplo de “leitura” bem-sucedida foi aquela feita
 para uma jovem que recebera atestado de insanidade mental. Cayce
diagnosticou que o problema fora causado pela compressão de um
dente do siso com incidência sobre determinado nervo do cérebro
e sua extração permitiria a cura completa. Um exame da situação
dos dentes da paciente e a conseqüente extração do dente em ques
tão provaram a exatidão do diagnóstico de Cayce, e a jovem recupe-
rou-se completamente.

Sugestionabilidade
Tem-se observado freqüentemente que o grau de sugestionabili
dade do indivíduo exerce grande influência nos resultados obtidos,
e este princípio parece sem dúvida atuar nas curas realizadas por
membros da Ciência Cristã e pelos curandeiros “espirituais”, bem
como nos “milagres” dos santuários, tais como o de Lourdes. As
condições associadas - tensa atmosfera religiosa, expectativa,etc. — 
são tamanhas que se tornam capazes de aumentar a sugestionabilidade
do paciente, elevando-o a nível bem alto e as enfermidades que pare
cem ser curadas sob tais circunstâncias são quase invariavelmente
aquelas do tipo curável através de sugestão hipnótica.
Grande número de curas têm sido feitas de forma aparentemente
 paranormal através do hipnotismo, mas a maioria delas, infelizmente,
sem provas confiáveis. Um caso registrado por alguém não menos
autorizado que o Dr. A. A. Mason, Diretor Geral do Queen Victoria
Hospital, East Grinstead; publicado em 1952, despertou grande
interesse nos círculos médicos e parapsicológicos. Relatava um caso
de cura nessas condições.
O paciente, um jovem de dezesseis anos, sofria de ictiose congê
nita, conhecida também como xerodermia, doença hereditária
normalmente tida como incurável. Uma camada negra, calosa, reco
 bria to do seu corpo, exceto o tórax, pescoço e rosto. Seguem-se as
 palavras do Dr. Mason:
A pele apresentava-se papilífera, as papilas projetando-se 2,6
mm acima da superfície e separadas entre si por um espaço de
aproximadamente 1 mm. Suas dimensões variavam desde as
menores, protuberâncias de forma semelhante a roscas, localiza
das no abdômen, até as enormes excrescências que mediam cerca
de 5 mm, espalhadas pelos pés, coxas e palmas das mãos. As
 pequenas aberturas que permitiam vislumbrar áreas diminutas da
 pele entre as papilas também apresentavam-se negras, escamosas
e cheias de fissuras. Era tão dura ao toque quanto a unha normal
dos dedos e tão ressecada que qualquer tentativa para dobrá-la
 provocava rachaduras em sua superfície das quais eventualmente
escorriam gotas de um soro de sangue. Nas dobras da pele, aber
tas pelos movimentos do paciente, havia fissuras doloridas e
cronicamente infeccionadas. A camada escamosa, quando seccio-
nada, apresentava consistência de cartilagem e era indolor até uma
 profundidade de vários milímetros.
A gravidade da condição do paciente variava nas diferentes
áres do corpo, apresentando-se pior nas mãos, pés, coxas e pantur-
rilhas e menos graves nos antebraços, abdômen e costas. A pele da
face, pescoço e tórax era aparentemente normal, embora, confor
me demonstrado mais tarde, se tornasse escamosa quando trans
 plantada para as palmas das mãos.
O paciente foi tratado em diversos hospitais sem sucesso, e os
enxertos de pele não apresentaram resultados positivos. O Dr. Mason
decidiu então tentar um tratatamento baseado na ação da hipnose,
limitando suas sugestões inicialmente ao braço esquerdo, de forma a
excluir a possibilidade de resolução espontânea. “Cerca de cinco dias
depois”, declarou o Dr. Mason, “a camada escamosa amoleceu,
tornou-se friável e caiu. A derme apresentava-se ligeiramente eritema-
tosa, mas sua textura e cor eram normais. De um envoltório negro
semelhante a uma couraça, a pele tornou-se cor-de-rosa e macia em
 poucos dias. As melhoras foram observadas inicialmente nas dobras
e áreas de fricção e posteriormente nas demais áreas do braço. O
eritema desapareceu em poucos dias. Ao fim de dez dias o braço
apresentava-se completamente são do ombro ao pulso”.
O Dr. Mason estendeu então o tratamento ao resto do corpo do
 jovem obtendo sucesso quase idêntico, conforme ilustra a tabela
abaixo:

 Região A nte s do tratamento Ap ós o tratamento

Mãos Completamente recobertas Palmas curadas. Ligeiras


melhoras nos dedos
Braços 80% recobertos 95% de cura
Costas Apenas levemente
recobertas 90% de cura
 Nádegas Revestimento espesso 60% de cura
Coxas Revestimento espesso
e completo 70% de cura
Pernas e pés Revestimento espesso
e completo 50% de cura
Durante as primeiras semanas de tratamento hipnótico observa
ram-se melhoras “rápidas e dramáticas”, após o que não se constatou
mudança apreciável num período de vários meses. Após um ano,
contudo, não se registrou nenhuma recidiva nas áreas que apresenta
ram melhoras.
O poder da sugestão vem obtendo amplo reconhecimento médico
nos anos recentes, a tal ponto que brevemente não mais poderá
ser considerado como algo “paranormal”. Essa experiência bem-
sucedida é anuviada por um relatório (publicado em 1956, alguns
anos após a publicação do documento do Dr. Mason) por uma
comissão designada pela Associação Médica Britânica para averiguar
declarações de curandeiros espirituais. Seu relatório inclui as seguin
tes declarações:
 No que concerne às nossas averiguações e observações, não
encontramos nenhuma evidência que comprove que qualquer
tipo de doença curada unicamente por tratamento espiritual não
 poderia também tê-lo sido com o uso de recursos médicos comuns
que não envolvem tal tipo de técnica. Os casos citados como
exemplos de curas de natureza milagrosa não apresentam quais
quer características únicas ou imprevistas que não sejam do
conhecimento de qualquer médico ou psiquiatra experiente.. .
Achamos que, enquanto pacientes portadores de distúrbios
 psicogênicos podem ser “curados” por vários métodos de cura
espiritual exatamente como o são através de métodos de suges
tão e outras formas de tratamento psicológico utilizado por
médicos, não vemos então qualquer evidência comprobatória
que ateste serem as doenças orgânicas passíveis de cura com o
simples uso de tais meios. A evidência sugere serem muitos desses
casos considerados como de cura, provavelmente exemplos de
diagnósticos ou prognósticos errados, remissão ou possibilidade
de cura espontânea.
Continuando o relatório do Dr. Mason sobre o caso de cura de
ictiose, a hipnose tem sido empregada desde então com não menos
sucesso no tratamento de quadros clínicos semelhantes por outros
médicos, particularmente o Dr. C. A. S. Wink, de Oxford, que
relatou o bem-sucedido tratamento de dois casos de eritrodermia
ictiosiforme congênita em 1961. As pacientes do Dr. Wink eram
irmãs, com oito e seis anos de idade respectivamente, e haviam sido
tratadas anteriormente por métodos ortodoxos, sem êxito. Seu
dossiê é particularmente valioso pelo fato de esclarecer o modus
operandi  do tratam ento hipnótico em tais casos.
Outras experiências no campo da cura paranormal foram realiza
das em projeto comum pelo Allen Memorial Institute, Universidade
McGill, de Montreal, e pelo Departamento de Fisiologia da Universi
dade de Manitoba.
Esses testes caracterizaram-se pelo afastamento do uso da suges
tão, usualmente sob hipnose, representando a maior parte do traba
lho recentemente desenvolvido sobre o assunto. As conclusões pare
cem demonstar de forma definitiva que determinado curador era
capaz de causar aceleração significativa do processo de cura das feri
das provocadas na pele de um grupo cuidadosamente controlado de
ratos.

1 Situação atual
/ e perspectivas futuras
8  No texto deste livro foram abordadas rapidamente algumas expe
riências de PES utilizando as cartas Zener. Já que considerável par
cela da pesquisa psíquica foi baseada nelas, parece-me que a atenção
a elas dispensada foi demasiadamente pequena, embora eu considere
seu valor relativo. É claro que admito sua importância: representam
o único tipo de evidência aceitável para muitos céticos do meio
científico. Mas, quando uma pessoa descreve em detalhes um fato
que está ocorrendo a quilômetros de distância, ou que irá acontecer
futuramente, isso para mim é algo muito mais importante —e certa
mente de maior interesse —que simplesmente obter uma somatória
maior ou menor de pontos em experiências com as cartas Zener.
Em que pese o fato de ter participado de tais experiências, e
eventualmente utilizar as cartas Zener como parte dos testes mais
gerais na avaliação de PES, realizei apenas um amplo teste desse tipo
e duvido realmente que ainda me preocupe em fazer outro. O resul
tado foi negativo, mas vou descrevê-lo resumidamente, não só para
ilustrar os detalhes da experiência, mas também seus interessantes
“efeitos secundários”.
Essa experiência, realizada em colaboração com David Jolliffe,
amigo e membro da Sociedade para a Pesquisa Psíquica, tinha como
objetivo a obtenção de resultados semelhantes aos do Dr. Milan
Ryzl. Um relatório contendo a íntegra da experiência foi publicado
no  Journal   da SPR de dezembro de 1965.
Foram testadas quatro garotas que afirmaram nunca terem parti
cipado de experiências paranormais ou de PES antes. Foi-lhes expli
cada a natureza da experiência e todas foram hipnotizadas diversas
vezes durante um período de condicionamento de dois meses que
antecedeu o teste. Receberam intensivas sugestões de estarem desen
volvendo suas faculdades de PES.
Foram usadas as cartas Zener e a técnica geral descrita no Capí
tulo 3 na íntegra, de forma que os resultados obtidos podem ser
comparados aos de outros pesquisadores. O arranjo e procedimento
adotados foram os seguintes:
Utilizaram-se dois cômodos adjacentes; estes não se comunica
vam diretamente entre si, mas suas portas davam para um corredor
comum. As paredes divisórias eram grossas. Havia pesadas cortinas
nas portas e a conversação mantida num deles era completamente
inaudível no outro. O quarto  A   foi ocupado pelo agente (o “trans
missor”) e nele instalou-se uma campainha elétrica que eu acionava
através de teclas, do quarto  B.
Sentei-me no quarto  B   com uma das jovens sob hipnose e, para
dar início à primeira série de tentativas, premi quatro vezes a campa
inha em toques curtos, conforme fora combinado. O agente no
quarto  A   escolheu então um dos maços de cartas Zener previa
mente embaralhados. Então dei um toque breve de campainha, o
agente olhou a primeira carta do maço que tinha em suas mãos e a
 jovem hipnotizada deu seu palpite na tentativa de acertar o nome
da mesma e eu anotei o que dissera numa folha de papel destinada
à marcação dos pontos, dei novo sinal para a tentativa seguinte, e
assim sucessivamente até o final da primeira série de palpites. Após
cada série de tentativas eu ia ao quarto  A   para verificar as “cartas-
alvo” antes de serem novamente embaralhadas e anotava seus nomes
inversamente às tentativas feitas na folha de marcação de pontos.
Havia, é claro, testemunhas presentes a cada sessão.
Cada jovem foi submetida a dez sessões semanais compostas de
oito séries de tentativas, perfazendo por conseguinte um total de
dois mil palpites. Os resultados eram comparados com relação a
escqres pré ou pós-cognitivos, bem como para “palpites” diretos.
 Não se verificou nenhum caso significativamente diferente daquilo
que se poderia esperar como decorrente da pura casualidade, nem
se observou qualquer aumento do total de acertos durante todo o
 período em que se realizou a experiência.
Ocorreram, entretanto, alguns efeitos incidentais curiosos. Uma
das jovens, durante um teste informal subseqüente a uma das sessões,
descreveu minuciosamente a pessoa com quem eu estivera na noite
anterior e o que essa pessoa fizera. É quase certo que não obteve
essas informações por qualquer um dos meios que se conhece. Duas
vezes, sentada no quarto  A ,   após sessões diferentes, entrou em
hipnose profunda quando eu, sentado no quarto  B,   “sugestionei-a”
mentalmente para fazê-lo. Em ambas as ocasiões ela declarou ter
ouvido minha voz dizendo: “Durma”, e chamando-a pelo nome, As
duas tentativas subseqüentes falharam e infelizmente a jovem não
mais pôde comparecer para novos testes e ao final de experiência.
É interessante notar, entretanto, ser ela sabidamente uma pessoa que
 jamais entrara em estado de hipnose espontaneamente, e que as
tentativas feitas por outros para hipnotizá-la foram inúteis.
Outra jovem chegou numa das sessões visivelmente angustiada,
explicando que sua vida sentimental atravessava péssima fase. Pronti
fiquei-me a cancelar a sessão, mas percebendo que isso poderia
arruinar todo o trabalho feito, insistiu resolutamente para que pros
seguíssemos.
Hipnotizei-a da forma costumeira, e teve início a série de tenta
tivas. Na metade da quarta sessão tocou o telefone da mesa do corre
dor. Ignoramos o fato, prosseguindo com a experiência. Alguém
 presente no apartamento o atendeu. Como de costume, eu havia
sugerido à jovem que esta não ouviria nenhum som exceto minha
voz, e ela não esboçou qualquer reação visível quando o telefone
tocou.
Ao ser acordada para um intervalo após a sessão, disse: “Oh
Simeon, se ‘X’ telefonar, diga que não estou aqui. Não quero que
apareça e estrague toda a experiência”. Na verdade a chamada tele
fônica nada tinha a ver com ela. O detalhe interessante, entretanto,
foi observado ao se estabelecer uma comparação entre seus palpites
e as cartas-alvo, descobrindo-se ter ela acertado cinco palpites con
secutivos enquanto o telefone tocava — único momento em que
obteve tal escore durante o desenrolar de todas as sessões.

Estimulação emocional da PES


Reconhece-se amplamente que qualquer tipo de excitação emo
cional pode estimular a telepatia. Fato semelhante parece ter ocorri
do durante uma experiência realizada em 1964 por outro membro
da SPR, Antony Cornell, na qual eu era o hipnotizador. Nessa expe
riência, dois agentes, um hipnotizado e outro desperto, tentaram
enviar impressões de um avião que fazia um vôo entre Londres e
Glasgow, para indivíduos sensitivos de várias partes da Inglaterra.
As impressões eram baseadas em cartas Zener, imagens e sugestões
verbais. Foi observado um cronograma rígido, sendo todos os reló
gios acertados pelo sinal da BBC.
Devido ao atraso no embarque, o primeiro teste teve de ser
realizado sob um frio gélido no terminal do aeroporto de Londres
ante as vistas das pessoas que lotavam um ônibus de passageiros e
de uma aeromoça suspeita. Nesse caso, parece-me que a tensão emo
cional dos agentes, e não a dos sensitivos, concorreu para o sucesso
do teste. Este constituía-se de uma série de palpites com as cartas
Zener e a verificação dos escores obtidos pelos sensitivos registrou a
disparidade de mil e seiscentas chances para um contra a pura casua
lidade.
Os demais testes foram realizados conforme o planejado, a bordo
da aeronave, e em nenhum deles foram conseguidos resultados signi
ficativos, embora em certas imagens-alvo que iam desde gatos e
 poltronas a garrafas e abelhas, os resultados obtidos tenham sido
até certo ponto notáveis.
Vários sensitivos (todos desconhecidos para mim) imaginaram-me
um homem barbudo; eu sou realmente barbudo. Em resposta a uma
imagem-alvo de um carro, um sensitivo esboça em linhas gerais um
objeto com a forma vagamente similar captado como “uma arma
dilha para pássaros”. “Mandrake”, do Sunday Telegraph,  que orga
nizou o teste, sugere a possibilidade de ter ocorrido aqui algum tipo
de influência freudiana, bem como telepatia.

“Flashes” psíquicos
Tive uma paciente a quem submeti freqüentemente a sessões de
hipnose durante algumas experiências de psicologia. Os testes ocasio
nais de PES com ela geralmente apresentavam resultados negativos,
mas às vezes parecia-me que ela tinha lampejos clarividentes de uma
 precisão extraordinária. Diversas vezes descreveu coisas que ocorriam
em minha casa na Dha de Wight, a qual jamais visitara. Uma carac
terística singular de sua faculdade de clarividência consistia em rara
mente dar respostas imediatas às perguntas do teste, mas apresentar
voluntariamente essas respostas algum tempo depois, usualmente
quase ao final de uma sessão hipnótica.
Certa vez perguntei a ela o que havia em um embrulho fechado
em um recipiente dentro do porta-malas do meu carro que se achava
também trancado. Eu não tinha a mínima idéia do que havia dentro
do embrulho que eu prometera não abrir até o dia seguinte; sabia
somente que era um presente de aniversário. Em resposta à minha
 pergunta, a moça disse apenas “não sei” , porém, meia hora depois,
quando eu estava a ponto de acordá-la, observou: “Há um livro no
embrulho; um livro vermelho e grande”. No dia seguinte, quando
abri o pacote, encontrei um livro grande com a capa vermelha e
 brilhante.
Quando ia visitá-la, viajava geralmente de trem. Ao chegar à
estação freqüentemente a encontrava esperando-me, muito embora
eu nunca lhe dissesse quando aguardar-me. “Alguma coisa me disse”,
explicava ela, “que você estava a caminho”, e assegurou-me que
sempre que se sentia impelida a ir até lá e me encontrar eu chegava.
Devo adiantar que jamais tentei enviar-lhe qualquer mensagem tele
 pática avisando-a da m inha chegada.
Tive outra paciente, Nora, que apresentava ocasionalmente esses
“flashes” psíquicos enquanto hipnotizada. A maioria das minhas
sessões com ela constituía-se de longas conversas com o suposto
espírito de um jovem soldado, morto na Coréia, que presumivel
mente falava através da garota em transe. Embora nunca tenha forne
cido qualquer evidência passível de ser verificada, suas declarações
e descrições eram realmente dramáticas e impressivas. Demonstravam
um conhecimento e uso lingüístico que Nora, uma empregada
doméstica de educação limitada, dificilmente teria, e acredito plena
mente que muitas pessoas aceitariam tais comunicações como verda
deiramente vindas do além.
Pelo que pude observar, Nora não tinha qualquer conhecimento
ou experiência com relação ao espiritismo. As “comunicações”
começavam quando, hipnotizada, era-lhe ordenado para permanecer
sentada quieta, por meia hora, e para descrever qualquer coisa que
estivesse vendo ou ouvindo. Este caso, entretanto, é uma digressão.
Mencionei Nora por sua clarividência espontânea. Eis um exemplo:
 Nora estava sentada quieta, profundamente hipnotizada, quando
disse subitamente: “Posso ver seu carro. Está na estrada, e dentro
dele há uma grande cobra”. Quando indagada, disse ser bege a cor
do carro e “leu” o número da placa.
O carro que eu usava estava estacionado “estrada abaixo”, a certa
distância da casa em que Nora trabalhava e onde nos encontrávamos.
Era de um a cor bege não muito comum. Quando a deixei e me dirigi
novamente ao carro, descobri que havia dado os números e letras
corretos da placa, só que em ordem inversa. Nora certamente não
 pôde ver-me chegar e estacionar o carro, que no local em que estava
não podia ser visto da casa. Eu havia emprestado esse carro e o vira
 pela primeira vez há menos de meia hora antes de chegar. Não o
dirigi por nenhuma rua próxima nem passei em frente à casa antes
de estacionar. E eu realmente não havia notado anteriormente que
no banco traseiro achava-se, toscamente enrolada, uma mangueira
de aspirador de pó que à primeira vista dava a alarmante impressão
de ser uma enorme cobra.
 Nora também predisse a maneira como terminariam nossas expe
riências. Previu a morte de seu patrão, a venda da casa, a conse
qüente perda de seu emprego e os atritos surgidos no seio da família
em conseqüência disso. Todos esses fatos pareciam completamente
inverossímeis à época em que ela os predisse, e escapavam total
mente ao seu controle ou influência.
Dificuldade de classificação dos fenômenos psíquicos
Os-exemplos citados nos capítulos anteriores sobre fatos ocorri
dos com pessoas que vivenciaram experiências tais como telepatia,
clarividência, etc., fazem-me crer na indubitável existência dos
fenômenos psíquicos. Os exemplos de minha experiência própria
reforçam essa conclusão, mas também ilustram a extrema dificuldade
existente para sua classificação bem como a total imprevisibilidade
com que ocorrem usualmente. É inevitável que os êxitos obtidos
sejam registrados; ninguém se interessaria em saber dos resultados
conseguidos após horas de tentativas com as cartas Zener, que apre
sentam apenas um total de pontos previsíveis pelas leis da probabili
dade, ou sobre a voz secreta que “preconiza” a vitória de um cavalo
sem chances e que concorre ao primeiro prêmio de uma corrida
anual de cavalos, ou ainda sobre o tipo de “clarividência” que
 poderia ser apenas um a dedução inteligente (se inconsciente) de fa
tos já conhecidos pelo indivíduo. Qualquer pesquisador poderia dar
exemplos como estes considerando-os como aparentemente bem-su-
cedidos. É somente comparando-se com o total de resultados negati
vos que se pode avaliar a significação dos êxitos obtidos.
Pode-se estabelecer um paralelo com os médiuns espíritas real
mente capazes que às vezes, como tenho afirmado, demonstram
inequivocamente poderes psíquicos, não importa se aceitamos ou
não o fato por eles alegado de entrarem em contato com o além.
O médium, em seu transe hipnótico auto-indutivo, produz muita
coisa duvidosa e também que não é absolutamente paranormal,
mas consegue às vezes lampejos de algo verdadeiramente psíquico.
Somente um reduzido número deles, como Douglas Johnson e
outros do mesmo calibre, podem invocar seus poderes psíquicos
quase à vontade e mesmo assim admitem terem-seus dias negativos.
E através da história do espiritismo o número de médiuns geral
mente aceito pelos pesquisadores sérios, passível de ser enquadrado
nessa categoria, dificilmente chegaria a algumas poucas dezenas.
De forma semelhante, somente um pequeno número de clarivi
dentes, como Janet Léonie, Madame Morei de Osty e a Sra. Reyes
de Zierold de Pagenstecher, parecem-me capazes de usar seus poderes
 psíquicos mais ou menos espontaneamente. Descendo-se na escala
e considerando-se apenas aqueles que aspiram à “mediunidade”,
não obtendo de forma plena os poderes psíquicos, pode-se afirmar
que a maioria das tentativas para obter tais poderes através da
hipnose falhou. Esta assertiva é particularmente verdadeira no que
se refere às experiências quantitativas com as cartas Zener e não
há a menor dúvida que milhares de tentativas feitas por hipnotiza
dores, e jamais registradas, para a obtenção de viagem astral, clarivi
dência e outros, foram infrutíferas.
Parece-me que a causa da falha em ambos os exemplos seja prova
velmente a abordagem errada feita por inúmeros pesquisadores.
A maioria deles está empenhada em experiências quantitativas com
as cartas Zener e experiências semelhantes que procuram detectar
a PES em geral. Têm tentado a hipnose apenas de passagem, da
mesma forma como tentaram experiências com drogas, estimulantes
e outras variações de condições experimentais simplesmente para
observar se tinham ou não efeito imediato. Os pesquisadores que
concentraram sua atenção em experiências quantitativas de hipnose,
usaram como pacientes pessoas prontamente disponíveis, sem aten
tar para o fato de terem ou não alguma faculdade psíquica latente.
Quanto às tentativas individuais para a produção de viagem astral
clarividente sob hipnose, etc., parece-me que a maioria dos que se
aventuraram a realizar essas experiências eram mais hipnólogos que
 pesquisadores psíquicos. Seu principal interesse foi talvez o hipno
tismo em si, e todo o conhecimento que possuíam sobre os “fenô
menos maiores” baseava-se na literatura existente sobre o próprio
hipnotismo e não na literatura referente à pesquisa psíquica. Geral
mente, por conseguinte, consideravam a viagem astral, a comunidade
de sensações e os fenômenos similares que foram associados à
hipnose como verdadeiramente causados   pela hipnose propriamente
dita: que estes são fenômenos hipnóticos.  A possibilidade do indiví
duo possuir alguma faculdade — de determinada natureza - passível
de ser estimulada através da hipnose, ou que poderia ser desenvol
vida após um certo período de sessões hipnóticas, em muitos casos
não foi considerada.
É possível, como afirma o Dr. Ryzl, que a faculdade psíquica
 possa ser desenvolvida em praticamente qualquer pessoa, mas eu
 particularmente não acredito nessa possibilidade. Sou inclinado a
 pensar que um número relativamente bem reduzido de pessoas
 possui faculdades de PES mesmo latentes. Em algumas dessas pessoas
tais faculdades desenvolvem-se espontaneamente e então em casos
excepcionais temos uma Eileen Garret ou um Douglas Johnson.
Em outras, essas faculdades permanecem latentes, a menos que um
hipnólogo faça-as aflorar, quando novamente só em casos excepcio
nais surge uma Madame Morei ou uma Léonie ou uma Sra. Reyes de
Zierold.
Em minha opinião, as faculdades psíquicas podem ser comparadas
ao talento musical. Se alguém possui um “bom ouvido”, esta facul
dade pode ser desenvolvida e ter-se-á como resultado um músico — 
em casos raros, um virtuose —mas se o indivíduo é surdo ou quase
isso, então nenhum tipo de exercício surtirá qualquer efeito. Da
mesma maneira, parece-me, todo o treinamento do mundo não
surtirá nenhum efeito a menos que o indivíduo em questão traga
esse dom do berço.
Parece-me improdutivo realizar testes com cartas Zener, tentar
fazer viagens astrais ou ainda desenvolver poderes psíquicos utili
zando essa maneira aleatória de experimentar indivíduos. A impos
sibilidade de encontrar alguém sensitivo dotado de faculdades
 psíquicas notáveis, usando essa abordagem, parece altamente remota.
A descoberta de sensitivos não é a razão e fim das experiências,
é claro. Seu objetivo primordial é obter uma compreensão melhor
não só da hipnose e fenomenologia psíquica, mas também descobrir
um modo de introduzir tais conhecimentos em nossos conceitos
 pré-existentes sobre ocorrências dessa natureza. Contudo, nosso
objetivo fundamental é a obtenção de resultados: não se pode
teorizar de maneira producente a menos que se tenha um farto
dossiê de fatos.
Podemos resumir nossas conclusões presentes da seguinte forma:
certas pessoas possuem realmente poderes psíquicos. Esse dom
 parece ser usualmente latente, embora suija quase espontaneamente
talvez num contexto trivial e por uma razão ainda desconhecida para
nós, quem sabe em conseqüência de algum estímulo emocional. A
hipnose geralmente não é envolvida em tais ocorrências espontâneas.
Além disso há fortes indícios de que essa faculdade latente possa
ser desenvolvida e cultivada através da hipnose. Os “médiuns” (os
verdadeiros) podem exercitar esse poder, embora somente um peque
no número deles dotado de poderes notáveis tenha sido capaz de
fazê-lo praticamente à vontade; e o estado de auto-hipnose induzida
(transe mediúnico) é característica da mediunidade.
Com os não-médiuns não resta dúvida de que a hipnose indu
zida por um hipnólogo — a “hetero-hipnose” para diferençar da
“auto-hipnose” — auxilia freqüentemente o desenvolvimento e
funcionamento dos poderes psíquicos. Segundo declara o Prof.
Charles Richet: “É evidente que a clarividência pode existir fora do
estado hipnótico; mas não é menos verídico afirmar que a hipnose
aumenta a clarividência. Várias pessoas quase incapazes de quais
quer manifestações transcendentais em estado de vigília tomam-se
lúcidas quando hipnotizadas”.
Em resumo, se tais poderes psíquicos existem realmente latentes,
ou sob os véus da mente, a nível inconsciente talvez, então a hipnose
é a chave para liberá-los.

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