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Prefácio

Gaudemar (1977) já enfatiza que seu trabalho parte de um pensamento


contextualizado das décadas de 1960 e 1970 na França, estando inserido
politicamente nos movimentos revolucionários da época. Seu ensejo é, assim,
de elucidar os problemas e fenômenos que vivenciava no período de seu estudo,
como o porquê refletir sobre o conceito de Mobilidade do trabalho em 1975.

Tratando sobre o conceito de trabalho, o autor identifica sua problemática


dentro de um contexto em que o trabalho é majoritariamente visto a partir da
lógica de trabalho produtivo, que é todo o trabalho que promove a valorização
do capital. O destino tomado pelo conceito de trabalho, após de início servir para
explicar o modo de produção capitalista, é estranho e contraditório, sendo hoje
utilizado como uma máscara em sentido de mistificar os traços do capitalismo
contemporâneo. Tal capitalismo que apresenta uma tendência de destruir o que
ele próprio construiu e de monopolizar a esfera produtora de mercadorias, no
sentido de produtivizar todo o trabalho, ou seja, tornar todo o trabalho uma forma
de valorização do capital.

A reflexão de Gaudemar (1977) sobre o conceito de trabalho, assim, se


pauta a partir de uma interrogação sobre a mobilidade do trabalho, sua pergunta
principal é justamente no sentido de questionar o porquê de a força de trabalho
se prestar à utilização extensiva e intensiva para produzir mais-valia absoluta e
relativa, ou como ele salienta: “De que natureza é então esta força de trabalho
que se presta a tal uso tanto extensivo como intensivo? Como designar tal
qualidade?” (GAUDEMAR, 1977, p. 15). Rapidamente, o autor supracitado
responde que essa qualidade é justamente o que ele define como mobilidade do
trabalho. O que o autor objetiva é justamente formular um conceito que possa
designar o uso capitalista da mercadoria força de trabalho, que defina a
qualidade da força de trabalho, que se não existisse, não haveria uso capitalista
(que produz mais-valia).

Com base no emprego de Marx sobre o termo, Gaudemar (1977) acredita


que apenas o conceito de mobilidade parece dar conta das várias aptidões
necessárias à força do trabalho para ela ser utilizada para a produção da mais-
valia.
Gaudemar também salienta que junto à mobilidade do trabalho
“manifesta-se sempre o modo como os homens submetem o seu comportamento
às exigências do crescimento capitalista” (p. 17). O que permite o autor enfatizar
que toda estratégia de mobilidade empregada pelo capitalismo é uma estratégia
de mobilidade forçada. Assim sendo, expõe sua crítica à forma como é tratada a
mobilidade no discurso econômico, destacando que a mesma se configura como
“o uso capitalista das disponibilidades dos homens, da docilidade (Foucault) dos
seus corpos” (id).

Seguindo sua análise, Gaudemar destaca o papel do Estado em relação


à promoção dessa mobilidade forçada, tal papel é realizado no sentido de
sempre buscar a valorização do capital. Nesse sentido, as estratégias estatais
contemporâneas se dão sobretudo em promover movimentações da força de
trabalho que permitam a valorização do capital. Aqui o autor traz exemplos de
políticas adotadas pela França em seu contexto, que tornam a mobilidade um
instrumento para promover tais mudanças na mão-de-obra. Algumas formas de
mobilidade (tanto espacial como profissional) trazidas pelo autor supracitado
incluem encorajamento dos movimentos migratórios, desenvolvimento das
camadas mais móveis e controle de imigração estrangeira, desenvolvimento de
uma formação profissional; e intensificação e produtivização de todo trabalho,
industrial ou nos serviços (GAUDEMAR, 1977).

O principal processo migratório dentro do contexto no qual viveu


Gaudemar se deu no movimento dos trabalhadores do campo para as cidades
francesas, em que se destaca o grande papel do Estado francês para promover
tal movimento. A base teórica na qual a maioria dos estudos sobre as migrações,
bem como as políticas estatais, se pautavam era a teoria neoclássica, que
enxerga apenas uma mobilidade desejada tanto pelos trabalhadores como para
o bem-estar de todos. No entanto, não é assim que se deu tal processo na
realidade, como analisado por Gaudemar, o que se viu foi uma grande
polarização econômica dos espaços franceses, e algumas cidades e regiões
acabaram por se desenvolver em detrimento de outras (especialmente Paris),
recebendo um grande número de migrantes do campo, e, mesmo que com um
desenvolvimento industrial, não conseguiram incorporar toda a mão-de-obra
vinda do campo.
Ao mesmo tempo em que há uma polarização do espaço econômico,
Gaudemar identifica que desenvolveu-se rapidamente uma camada social mais
móvel. Tais trabalhadores móveis se constituem principalmente em
trabalhadores temporários e imigrados, e seu crescimento está ligado a uma
precarização das condições de trabalho, especialmente devido ao fato de tais
migrantes não possuírem as mesmas leis que amparam os trabalhadores
franceses. A estratégia de mobilidade tomada pelo Estado, e que tem como um
elemento o controle e divisão da imigração estrangeira, se pauta sobretudo na
necessidade de maior reprodução do capital, uma vez que com menos direitos
garantidos aos migrantes, a exploração da mais-valia desses contingentes é
mais intensa e exploratória. Outros elementos que favorecem a acumulação
capitalista sobre os trabalhadores imigrantes é o fato de eles possuírem salários
mais baixos que os franceses e possuírem maior rotatividade no mercado de
trabalho (especialmente devido as demissões).

Nesse sentido, como o autor continua, os imigrantes são uma força de


trabalho móvel que pode ser deslocada entre empresas ou mesmo ramos
econômicos, como o próprio autor afirma em relação à mobilidade forçada dos
imigrantes: “todas as suas deslocações geográficas, profissionais ou sectoriais,
são submetidas à dupla exigência da lei e das necessidades do capital”
(GAUDEMAR, 1977, p. 28). O papel do Estado, através de suas políticas de
controle da migração, tem força sobre tais movimentos, atuando também nas
políticas e medidas a favor da maior exploração dessa mão-de-obra em relação
aos trabalhadores franceses, essas medidas se caracterizam como instrumentos
de disciplinação da mobilidade dos imigrantes.

Outras formas de mobilidade também apresentam controle por parte do


Estado, como na formação profissional. Um elemento de destaque implicado
nessas estratégias se dá pela intensificação e produtivização permanente de
todos os trabalhos, tanto na indústria como nos demais setores que asseguram
a reprodução e circulação do capital. Um dos instrumentos para isso é o aumento
dos turnos de trabalho, como Gaudemar observa, para que com o funcionamento
da economia 24 horas por dia possibilite-se uma maior produção de mercadorias
e maior acumulação de capital, evidenciado no crescimento da mais-valia
absoluta.
Novas formas de organização do trabalho também são evidenciadas por
Gaudemar (1977). Na época em que escreveu esse livro, estava em franco
crescimento a forma de organização de trabalho toyotista, e com ela a adoção
do Neoliberalismo enquanto política econômica. Dentro desse contexto,
reformas trabalhistas para flexibilizar contratos e precarizar as condições de
trabalho começam a se disseminar por vários países capitalistas, buscando
sobretudo o aumento das taxas de mais-valia. Todos esses elementos objetivam
tornar o trabalhador mais polivalente e por isso mesmo mais móvel, o que
contribui para uma ainda maior exploração de sua força de trabalho e de sua
mobilidade. “Assim podem surgir, numa primeira vista de olhos sem pretensão
exaustiva, os diferentes elementos de uma estratégia de mobilidade forçada
característica da evolução do capitalismo contemporâneo” (GAUDEMAR, 1977,
p. 31).

O autor supracitado enuncia a necessidade de desenvolvimento de


movimentos que se coloquem contrários a essas estratégias enquanto
movimentos anti-capitalistas, que tenham na classe trabalhadora unificada uma
possibilidade de superação dessa problemática. O autor toma como exemplo as
lutas dos funcionários da empresa Lip, que formaram um movimento de recusa
à mobilidade imposta e influenciaram diversos outros quadros de trabalhadores
de empresas francesas. Nesse sentido, os movimentos trabalhistas contra a
mobilidade forçada, em especial os casos dos funcionários da Lip, e também da
empresa Margoline, têm como principal meta afrontar a lógica da racionalidade
capitalista que fundamenta os instrumentos de mobilidade.

Mobilidade e alienação: Trabalhador não se reconhece e não possui nem


espaço e nem tempo.

“A imigração estrangeira é uma das formas mais importantes política,


social e economicamente, da mobilidade capitalista do trabalho” (GAUDEMAR,
1977, p. 40)

Gaudemar destaca que embora se constitua como mobilidade forçada,


muitos dos imigrantes podem não a considerar forçada, e até ser mesmo
suportada, em alguns casos, na perspectiva do imigrante melhorar sua situação
econômica, o que traz aí uma ambiguidade em muitas situações de migração.
Em se tratando dos imigrantes, muitas das lutas procuram assegurar a
garantia de direitos iguais em relação aos trabalhadores nacionais, para dar
maior segurança e meios para se defender.

Com base na ideia de que os movimentos contrários à mobilidade forçada


devem se organizar e possuir uma visão teoricamente embasada, Gaudemar
busca em seu trabalho analisar o discurso do capital em relação à força de
trabalho, compreender a forma como o capital utiliza a força do trabalho e a
possibilidade de formular um discurso contrário que promova uma estratégia de
imobilidade.

Nesse sentido, busca-se romper com o discurso do capital, que tem como
principal fundamento a chamada teoria neoclássica, que tem suas origens no
pensamento de Adam Smith e evoluiu para uma axiomática, em que defende-se
que a mobilidade do trabalho é totalmente livre, pensamento baseado na
liberdade total dos indivíduos em passar pelo processo de mobilidade.

A abordagem proposta por Gaudemar (1977) tem como fundamento o


pensamento marxista, com a intenção de formular uma crítica à economia
política da mobilidade capitalista. O autor identifica que até a década de 1970
pouco havia sido explorada a temática da mobilidade do trabalho pelos
pensadores marxistas, ele diz ser então necessário promover a discussão desse
tema, que é tão essencial quanto os temas mais importantes presentes n’O
Capital. Como destaca o autor, ainda sobre seu objetivo: “O que aqui está em
jogo é o esboço de uma compreensão teórica e prática do modo como o poder
capitalista sujeita as forças do trabalho, isto é, os corpos dos homens, que ele
pretende permanentemente dóceis” (GAUDEMAR, 1977, p. 49).

A dominação do modo de produção capitalista sobre os homens que o


autor evoca tem como influência a ideia de Michel Foucault da disciplina como
modo geral de dominação. Ela fabrica corpos submissos, treinados e dóceis, ao
mesmo tempo aumenta as forças dos corpos (para utilidade econômica) e
diminui suas forças ao subordiná-las politicamente, dissociando o poder do corpo
(GAUDEMAR, 1977).
Em relação à mobilidade do trabalho, a disciplina capitalista promove a
repartição dos homens no espaço, enquadrando tanto suas atividades e dos
espaços para onde são deslocados e inseridos. Sendo a mobilidade do trabalho
um dos principais dispositivos de disciplinação do modo de produção capitalista
sobre o trabalhador, Gaudemar coloca tal dispositivo como chave-mestra do
processo de acumulação capitalista:

Na sua dimensão espacial, ela assegura a repartição dos


indivíduos no espaço, na sua dimensão profissional, constitui o
postulado implítico de toda a nomenclatura dita homogénia,
portanto de toda a codificação das actividades; na sua dimensão
produtiva mais geral, ela conduz a todos os processos pelos
quais o capital dispõe das forças de trabalho e as usa na
multiplicidade dos processos de extorsão da mais-valia tanto
absoluta como relativa (GAUDEMAR, 1977, p. 51)

Mobilidade e espaço: Termos pouco relacionados por autores


neoclássicos, como Ricardo. Os pressupostos trazidos por tais autores, desde o
período mercantil e passando pelos séculos XVIII e XIX, colocam como elemento
essencial a existência de uma Mobilidade perfeita do trabalho.

Com Marx, os paradigmas da mobilidade perfeita do trabalho trazida pelos


neoclássicos são rompidos e a mobilidade do trabalho passa a ser vista como
dispositivo de dominação dos trabalhadores para atender às exigências de
valorização e acumulação do capital. Trazendo como base o conceito de mais-
valia e dos valores de uso e de troca, Gaudemar destaca a possibilidade de
compreender o uso produtivo do trabalho, em suas várias formas, pelo capital. A
mais-valia se coloca como ponto de partida para compreender as várias formas
econômicas de submissão dos trabalhadores ao capital.

Os movimentos contrários à mobilidade forçada têm como base os


pressupostos identificados pelo pensamento marxista da mobilidade do trabalho,
tais movimentos, denominados de imobilidade, apresentam, como objetivos,
como destaca Gaudemar (1977, p. 58):

Este direito à imobilidade colectiva é o direito a manter-se no


lugar escolhido e aí encontrar trabalho e condições de vida, é o
direito de recusar um êxodo com promessas ilusórias, é também
o direito de escolher, o direito à automobilidade, o direito a uma
mobilidade individual livremente assumida. É o direito de partir
sem a isso ser constrangido, assim como o de ficar.

Capítulo 1 do prefácio: Problemas e riscos de uma situação teórica da


mobilidade do trabalho

Os estudos sobre a mobilidade começaram já há muito tempo, mas até a


segunda guerra tal conceito ainda não era utilizado, embora muitos estudos
sobre as formas concretas de tal mobilidade já existissem (migrações). Após a
segunda guerra os economistas começaram a analisar tal área tomando o
caminho que havia sido aberto pela demografia no fim do Século XIX.

Com a inexistência de trabalhos teóricos, os economistas passam a


utilizar de dados quantitativos para analisar os fenômenos de mobilidade, que
são abordados tanto na dimensão espacial das migrações (mobilidade espacial)
como na dimensão abstrata dos diferentes empregos (mobilidade setorial,
profissional).

Os autores que começaram a tratar sobre esse conceito, dessa forma,


tinham como base os elementos da economia neoclássica, com o uso de
diferentes modelos estatísticos e matemáticos para explicar as diferentes
mobilidades. Os fundamentos teóricos dos processos de mobilidade são
ignorados por tais autores que têm base na teoria econômica burguesa, trazendo
em seus estudos mais explicações dos efeitos das migrações na economia do
que uma análise teórica aprofundada.

Nesse sentido, os modelos de estudo da mobilidade inicialmente tinham


como dominantes as concepções empíricas ou quantitativas, ambas trazendo
conteúdos com base na quantificação de migrantes com base em
recenseamentos. Modelos esses que colocam a mobilidade como uma variável
homogênea, e defendem que os fluxos migratórios atuam na direção de
compensar os desequilíbrios econômicos com vista ao equilíbrio geral ao passo
que a mobilidade do trabalho torna-se perfeita. Tal mobilidade perfeita se coloca
como uma “deslocação individual que ilustra a racionalidade de um indivíduo
capaz isoladamente de maximizar os seus ganhos e de minimizar os seus
gastos” (GAUDEMAR, 1977, p. 71).
Um modelo trazido pelo autor referido é a tese de Clark-Fourastié, que
promovem uma esquematização com base na ideia de que há uma mobilidade
ascendente que evolui do setor primário da economia (agricultura) para o
secundário (industrial) e posteriormente terciário (serviços), acreditando que
existe um desenvolvimento na medida em que se passa pelos três setores. Uma
vez que a mobilidade é sempre ascendente, não há a possibilidade de uma
mobilidadade que não a perfeita. Tal referencial, como indica Gaudemar (1977),
reduz os complexos processos da mobilidade à uma mobilidade ascendente.

A proposta de Gaudemar (1977) vai contra tal sentido, criticando a visão


neoclássica:

A crítica aqui feita volta a sublinhar que a análise econômica


burguesa da mobilidade do trabalho se apresenta
essencialmente como um tratamento axiomático dos fenômenos
correspondentes: na base canónica de Clark-Fourastié, a
mobilidade do trabalho é reduzida a um movimento ascendente
para a categoria resíduo que constitui o “terciário” (...)
(GAUDEMAR, 1977, p. 78-79)

Fazendo um recorte histórico no intuito de mostrar os diferentes autores


que contribuiram para a elaboração e desenvolvimento da mobilidade enquanto
conceito, Gaudemar (1977) destaca que no século XVIII é quando se originam
as grandes migrações transoceânicas em decorrência do desenvolvimento dos
meios de transporte, em um período de desenvolvimento e domínio do modo de
produção capitalista. Nesse período surgem diversos autores que discutem as
diferentes visões a respeito do trabalho e de sua produtividade para a economia.
O debate tem como principais precursores Cantillon, os fisiocratas e também
Adam Smith, que colocam destaque no trabalho como formador de riquezas.
Ainda não se há aqui um desenvolvimento da noção espacial enquanto
abstração, mas a relação entre a natureza e o homem, que se apropria da terra
para produzir riquezas, é o fator central. O trabalho nesse sentido é estudado
sempre nas suas formas concretas.

No entanto, nesse período já se estudam as estruturas do trabalho, como


a repartição espacial da população e as formas de mobilidade social, trazendo
uma premissa de um possível surgimento do conceito de mobilidade do trabalho
(GAUDEMAR, 1977). Já no século XIX a noção de mobilidade do trabalho passa
a tomar uma forma de axiomatização, em especial pelo trabalho de autores
clássicos como Say e Ricardo. De início, tal ideia de mobilidade do trabalho é
pouco enfatizada face a maior importância dada a temas como o valor, a
produtividade e os mercados; mesmo Malthus, que trata sobre as migrações,
não traz uma análise do conceito de mobilidade do trabalho.

É nesse sentido que Gaudemar se questiona como é possível, em um


período marcado pela emergência de diversos fenômenos (migrações espaciais
e profissionais), novos ramos econômicos, movimentos do campo para as
cidades entre outros, não haver um esforço dos teóricos para pensar tais
processos com base em um conceito que os explique, um conceito de mobilidade
do trabalho. É nessa lógica que formula sua hipótese central:

Daí resulta a hipótese que nos conduziu ao limiar desse estudo:


a recusa a priori em acreditar na marginalidade, no carácter
derivado ou secundário da noção de mobilidade do trabalho, por
considerar o seu modo de tratamento ou de não tratamento
como significativo do modo como os diferentes autores articulam
as noções de valor, produtividade do trabalho e espaço
económico, e como formulam assim uma economia política
exaustiva. Neste sentido, o nosso estudo poderia ser definido
como a procura de uma noção perdida e a tentativa de uma
conceptualização que permita encontrar as causas de sua
ocultação (GAUDEMAR, 1977, p. 85)

É com base nessa ideia que o autor supracitado destaca a necessidade


de analisar historicamente o pensamento econômico para identificar nele a
presença silenciosa de um conceito que se coloca próximo aos conceitos de
valor e produtividade do trabalho: “Situar o conceito de mobilidade do trabalho
como dimensão que falta, ou como noção incompreendida por outras leituras da
teoria económica” (GAUDEMAR, 1977, p. 86).

A análise histórica de Gaudemar destaca os momentos vitais para o


desenvolvimento do conceito de mobilidade do trabalho desde o período de
emergência do modo de produção capitalista e das contribuições teóricas que o
analisa. Sua análise passa por diferentes autores e suas contribuições para o
entendimento do conceito, iniciando no trabalho de Adam Smith.
Influenciado por autores como Cantillon, Smith traz para o debate a
relação não mais apenas entre o homem e a natureza, mas também a relação
entre os homens (social). A noção do autor sobre a mobilidade é que ela é uma
propriedade do trabalho que o torna capaz de ser produtivo e satisfazer as
necessidades de acumulação do capital (desenvolvimento do mesmo),
necessidades tanto na qualificação do trabalho como na repartição social e
setorial dos trabalhadores, determinando várias formas de mobilidade. Nesse
sentido, a mobilidade é a expressão de liberdade do homem, e portanto é uma
mobilidade perfeita, que promove o desenvolvimento da economia e da riqueza.
Smith apresenta em seu estudo a primeira aproximação conceitual da
mobilidade do trabalho, através de uma reflexão não apenas sobre o trabalho,
mas sobre o espaço onde o trabalho se exerce, trazendo uma contribuição de
Cantillon nessa ideia. É também Smith o primeiro autor a esboçar uma possível
problemática a ser tratada pelo conceito de mobilidade do trabalho. Dessa forma,
é ele quem promove o desenvolvimento de tal conceito que, com a consolidação
do capitalismo, assume novas formas e sua interpretação se divide em dois
ramos distintos, o que Gaudemar propõe-se a analisar.

Com o século XIX e o desenvolvimento capitalista, a desigualdade e a


falta de emprego em vários países marcam tal período, em que uma série de
autores liberais (clássicos) trazem suas ideias. Embora a mobilidade não seja,
em seus trabalhos, explicitamente teorizada, sua noção está presente nas obras
de tais autores, como Malthus, Ricardo e Say, presente dentro das reflexões a
respeito do trabalho como também no destaque de algumas formas concretas
de mobilidade. Embora tenham divergências em alguns aspectos, Ricardo e Say
concordam na ideia de que a mobilidade do trabalho é essencial em se tratando
das diferentes formas que o trabalho se sujeita às necessidades do capital, tanto
na transformação em suas funções como nos locais em que se exerce.

A visão de Say a respeito da mobilidade do trabalho é que ela está


presente, como um meio, nas medidas das políticas econômicas destinadas a
assegurar um equilíbrio econômico e social. Defendendo tal hipótese de
mobilidade perfeita, o autor no entanto não aprofunda uma teorização nesse
sentido.
Já David Ricardo traz em sua análise uma justificativa para a mobilidade
perfeita do trabalho, baseada na ideia de que o trabalho se configura como uma
mercadoria. Nesse sentido, a mobilidade perfeita do trabalho exprime a
necessidade de o trabalho possuir uma característica para ser uma mercadoria.
É aqui que Gaudemar pontua que Ricardo busca uma axiomatização da
mobilidade do trabalho (que mais tarde será promovida pelos neoclássicos).

Malthus, por sua vez, se afasta dessa perspectiva de axiomatização da


mobilidade (que a configuraria como mobilidade perfeita), trazendo uma
concepção mais concreta do modo de funcionamento do capitalismo em que não
é possível que o mercado se autoregule (como defendem os outros teóricos
clássicos como Say e Ricardo). O pensamento de Malthus, nesse sentido, se
afasta do defendido por Ricardo e Say, e se aproxima da teorização de Sismondi.

Sismondi, conforme Gaudemar analisa, é o único autor pré-marxista que


rompe com a ideia predominante de uma mobilidade do trabalho que deve ser
incentivada e colocada a serviço da acumulação do capital. Trazendo uma crítica
ao capitalismo e sua atuação a partir da mobilidade do trabalho, Sismondi
introduz em sua análise com mais intensidade a noção de espaço, bastante
ocultado concretamente pelos autores clássicos, e, por isso mesmo, ignoradas
por eles as contradições presentes em tais espaços. Mesmo sem grande
aprofundamento teórico, o autor, com sua ruptura, abre caminho para Marx
desenvolver sua teoria de tal modo de produção (GAUDEMAR, 1977).

Com Marx e os marxistas, a mobilidade do trabalho passa a ser estudada


sobretudo em seu aspecto estrutural, algo que o próprio Gaudemar analisa
posteriormente. Em resposta e como crítica a visão marxista, surgem também
os pensadores neoclássicos, que defendem a mobilidade do trabalho com base
nas ideias dos autores clássicos, especialmente Ricardo e Say, axiomatizando
a teoria de equilíbrio geral dos autores.

De maneira geral, Gaudemar (1977) traz um resumo do processo histórico


de desenvolvimento do conceito de mobilidade do trabalho e como a contribuição
de Adam Smith foi essencial para a formação de dois ramos diferenciados de
análise desse processo filiados à escolas econômicas diferentes:
O tronco conduz ao longo do século XVIII, através da
complexidade do período de transição para o capitalismo, de
Cantillon a Smith passando pelos fisiocratas. Smith constitui a
bifurcação a partir da qual se efectua a separação em dois ramos
distintos, um que se dirige para Sismondi, depois para Marx e os
marxistas, o outro para os clássicos, Walras e os neoclássicos,
atravessando cada um destes dois ramos, de modo diferente, a
mesma cronologia, porque colocando-se diferentemente face ao
desenvolvimento capitalista (GAUDEMAR, 1977, p. 100).

Com base nessa abordagem de Gaudemar, pode-se dividir o


desenvolvimento do conceito de mobilidade do trabalho em três fases diferentes,
como elencado na figura X.

Gaudemar se propõe, nesse sentido, a analisar os dois troncos que


tratam, já no período de domínio capitalista, sobre a mobilidade do trabalho: De
um lado, os autores neoclássicos, como Walras, que axiomatizam tal ideia com
base na contribuição dos autores clássicos e na escola do liberalismo
econômico; e de outro lado, Marx e os marxistas, que aprofundam sua análise
no aspecto estrutural da mobilidade do trabalho, enquanto aspecto central do
modo de produção capitalista e de sua reprodução ampliada.

PRECISO FAZER UM ESQUEMA COM O QUE ESCREVI NA PÁGINA 100

Parte 2: A análise da mobilidade do trabalho no processo de acumulação


capitalista

Na parte anterior, Gaudemar analisa a contribuição da escola neoclássica


para explicar a mobilidade, tida como perfeita e sempre no sentido de valorizar
o capital e dotada de liberdade total, criando um axioma com a pretensão de
tornar tal teoria uma ciência de base exata. Uma outra interpretação dos
pressupostos de Adam Smith, no entanto, permite analisar, a partir da ideia de
papel produtivo do trabalho elencada por Smith, uma teoria de sua sujeição ao
capital. É o que o materialismo histórico de Marx faz, estudando a suposta
liberdade de mobilidade em relação às contradições presentes no modo de
funcionamento do capitalismo e seu regime de acumulação. A análise de
Gaudemar sobre o trabalho de Marx se sucede pelo estudo das visões de Rosa
Luxemburgo e Lênin, autores marxistas.

Capítulo 5: O conceito marxista de mobilidade do trabalho

Mercadoria: tripla característica – valor de uso, valor de troca e presença no


mercado.

Utilidade – funda apenas o valor de uso da mercadoria, é condição de existência


do valor e não medida.

Valor de troca: Marx o mede com base na quantidade de trabalho socialmente


necessário à produção da mercadoria;

Como explicar o excedente de valor que vem do consumo produtivo do trabalho?


Uma vez que a circulação ou troca de mercadorias não produz valor.

A partir dessa pergunta surge o conceito de força de trabalho, que é uma


mercadoria que possui uma virtude específica: Produz, a partir de seu valor de
uso, um valor de troca, como explica Gaudemar a partir de Marx:

Para poder extrair um valor de troca do valor de uso de uma


mercadoria, seria necessário que o possuidor do dinheiro tivesse
a feliz possibilidade de descobrir no meio da circulação, no
próprio mercado, uma mercadoria cujo valor de uso possuísse a
virtude particular de ser fonte de valor-de-troca, de modo que
consumi-la seria realizar trabalho e consequentemente criar
valor. (MARX apud GAUDEMAR, 1977, p. 188)

Se constituindo enquanto mercadoria que o homem possui, um conjunto


de faculdades psíquicas, físicas e intelectuais que ele coloca em movimento para
produzir coisas úteis; uma mercadoria dotada de capacidade de transformar
dinheiro em capital (GAUDEMAR, 1977). Sendo uma mercadoria, essa força de
trabalho possui um valor, que é medido pelo tempo de trabalho necessário à sua
produção, assim sendo, existe um processo de produção da força de trabalho.

Como continua o autor supracitado, para que o dinheiro se torne capital,


é necessário que exista no mercado um trabalhador livre, livre em dois sentidos:
primeiramente livre por possuir a força de trabalho como uma mercadoria sua;
ao mesmo tempo precisa não ter qualquer outra mercadoria que possa vender,
não possuindo qualquer coisa (instrumento) necessária para a realização de sua
força de trabalho. Tais liberdades são na ótica de Gaudemar (base em Marx),
uma dupla determinação: uma liberdade positiva e uma negativa,
respectivamente. Ao mesmo tempo que o homem é livre para possuir sua própria
força de trabalho, ele é obrigado a vendê-la para poder viver, pois se não vende
sua força de trabalho, ele morre.

Dada a existência dessa dupla determinação de “compra-venda” da força


de trabalho, e considerando a existência de um mercado de trabalho
multidimensional e vasto, possuindo sua estrutura própria e se deformando no
tempo e espaço, surgem as formas de uma mobilidade capitalista do trabalho,
“A mobilidade da força de trabalho é assim introduzida, em primeiro lugar, como
a condição de exercício da sua <liberdade> de se deixar sujeitar ao capital, de
se tornar a mercadoria cujo consumo criará o valor e assim produzirá o capital”
(GAUDEMAR, 1977, p. 190). → DEPOIS ELE DESTACA ALGUMAS FORMAS
CONCRETAS DA MOBILIDADE.

Ainda em relação às liberdades positivas e negativas, a primeira leva o


trabalhador a ter a possibilidade de escolher seu trabalho e onde irá o exercer;
mas na negativa essa escolha está sujeita às necessidades e interesses do
capital, que pode modificar seu trabalho e as condições em que é exercido. A
força de trabalho, em ambas as situações, deve ser sempre móvel, apta para
atender os interesses de deslocação e modificação de seu emprego às vontades
de maximização de lucros, sem importar o conteúdo do emprego, mas onde e o
que possa trazer maior lucro.

Nesse sentido, Gaudemar afirma que a mobilidade da força de trabalho é


uma característica do trabalhador submetido ao capital. E, sendo assim, essa
mobilidade da força de trabalho se constitui como condição necessária da
gênese do capitalismo e como índice de seu desenvolvimento, visto que é nos
países centrais da economia capitalista que se percebe maior mobilidade (MARX
apud GAUDEMAR, 1977).

Uma vez que a mobilidade da força de trabalho é condição do capitalismo,


ela conduz às condições de existência desse modo de produção: A produção
das forças de trabalho, a sua utilização no processo produtivo e a sua circulação
entre as várias esferas de atividade. Gaudemar faz então uma análise desses
três momentos da força de trabalho.

Produção das forças de trabalho: Esse é o momento em que Marx


identifica como acumulação primitiva, é o momento em que é adquirida a
mobilidade do trabalhador, não mais submetido aos modos de produção
anteriores. Aqui, o dinheiro se torna capital e o trabalhador em assalariado, é
quando surge o proletariado e o mercado de trabalho. Esse momento não é
decorrente de uma ação natural, mas resultado de um desenvolvimento histórico
anterior, surgido após o fim das formas de produção anteriores ao capitalismo.

Utilização das forças de trabalho: É o momento em que a mobilidade do


trabalhador é submetida às exigências do capital, modificada a partir das
transformações da organização do processo de trabalho. Assim, a depender das
necessidades, aumentam a intensidade, produtividade do trabalho e outros
aspectos. Nesse sentido, a mobilidade torna-se “uma capacidade que permite à
força de trabalho adaptar-se às variações da jornada de trabalho, à permutação
dos postos de trabalho, aos efeitos de uma divisão do trabalho cada vez maior”
(GAUDEMAR, 1977, p. 194)

Circulação das forças de trabalho: É o momento de submissão da


mobilidade do trabalhador às exigências do mercado, aquele em que o
trabalhador, dependente do capital e de suas crises periódicas, se desloca de
uma atividade para outra.

Gaudemar se propõe a aprofundar a análise sobre essas fases nos


capítulos seguintes. Destacando ainda sobre a mercadoria força de trabalho, o
autor salienta que o capitalismo surge no momento em que o próprio trabalho se
torna mercadoria (força de trabalho), separando aqui definitivamente o valor de
uso e o valor de troca do trabalho.

II: Mobilidade da força de trabalho e determinação específica do modo de


produção capitalista
Marx, ao introduzir o conceito de Força de trabalho (capítulo VI de o
Capital), diferencia, através da mediação desse conceito, a natureza específica
do modo de produção capitalista em relação à economia mercantil. Gaudemar
se propõe a ler Marx à luz da sua própria forma de expor as categorias de cunho
econômico. Assim, ele busca indicar alguns caminhos para investigar os
primeiros capítulos de O Capital, substituindo o termo mercadoria (geral) para o
termo força de trabalho (específico) em sua determinação geral (a contradição
valor de uso-valor de troca).

De início, o autor destaca que na forma capitalista, o trabalho é uso da


força de trabalho, ou seja, uso ou troca de uma mercadoria (força de trabalho)
por outra mercadoria (produto). Nesse sentido, a relação social entre os homens
toma uma forma de relação entre as coisas, mercadorias entre mercadorias
(GAUDEMAR, 1977). Aqui, o autor referido traz a diferença entre o capitalismo
e a idade média, em que as relações sociais no trabalho, por não serem
mediadas pelas mercadorias, não se constituem como relações entre coisas,
mas de fato entre pessoas.

Nesse sentido, Gaudemar afirma que a mobilidade da força de trabalho,


enquanto condição de sua mercantilização, tem participação na constituição da
forma “fantástica” (fantasmagoria ou fetichismo) que tomam as relações sociais
no capitalismo.

Se referindo ao segundo capítulo d’O Capital, Gaudemar destaca que a


mercadoria força de trabalho possui duas particularidades em relação às demais
mercadorias, relacionadas justamente ao fato de possuir como característica a
mobilidade: Ao mesmo tempo que o uso produtivo dessa força de trabalho cria
um valor superior ao seu valor de troca, ela pode ir por si só ao mercado
(diferentemente das outras mercadorias, que Marx afirma não poderem ir ao
mercado por si só nem trocarem a si mesmas). O que garante essa
particularidade é justamente o fato de o homem, através de sua mobilidade,
poder deslocar-se ao mercado para vender sua força de trabalho. Nesse sentido,
é a mobilidade da força de trabalho que comanda essa dupla particularidade,
como identificado por Gaudemar (1977).
A partir desse destaque, Gaudemar analisa dois momentos importantes
na história do capitalismo: Transformação do trabalho em mercadoria-força de
trabalho; e transformação de troca de mercadorias em sua forma geral para troca
de mercadoria particular da força de trabalho. Na primeira identifica Gaudemar
que, devido ao fato de as mercadorias serem coisas e portanto não
apresentarem resistência ao homem, a força de trabalho, tornada mercadoria,
também não pode mostrar resistência frente ao capital, para garantir isso, o
capital utiliza-se da força e coerção para transformar a mercadoria força de
trabalho em coisa, assim os possuídores dessa força de trabalho (trabalhador)
também são tornados mercadorias (aqui Gaudemar se apoia na história da
acumulação primitiva do capital, marcada pela coerção e violência). A respeito
do segundo momento, vendedor e comprador apresentam-se como proprietários
privados, quando envolve-se o dinheiro como mediador, um possui a mercadoria
e o outro possui o dinheiro; aqui forma-se o contrato de trabalho, forma
específica desta relação jurídica que expõe uma relação econômica.

Antes de analisar a determinação da mobilidade do trabalho sobre a forma


específica assumida pela produtividade do trabalho e pelo trabalho produtivo no
capitalismo, Gaudemar retoma uma análise dessa forma específica.

Gaudemar logo destaca que o trabalho produtivo é aquele que valoriza o


capital, tanto diretamente como indiretamente para realizar a mais-valia, uma vez
que só há valorização se for realizada a mais-valia. Assim, o trabalho produtivo
possui três formas: Trabalho direamente produtor de mais-valia; trabalho que
assegura as condições de produção de mais-valia (condições de exploração da
força de trabalho); e trabalho que assegura a transformação da mais-valia
produzida em capital. É nesse sentido que Marx (apud Gaudemar, 1977) afirma
que esse trabalho produtivo e suas formas asseguram a acumulação de capital.
Gaudemar (1977) ainda destaca que Marx coloca como principal a primeira
forma, trabalho direamente produtor de mais-valia, já que se coloca como base
no processo de produção e as outras formas/componentes são condicionadas
por ela.

Em seguida, o autor traz a passagem do trabalho produtivo para


produtividade do trabalho (mesma linha da passagem trabalho abstrato para
trabalho concreto e útil). A produtividade do trabalho, para Gaudemar, só pode
existir se houver condições necessárias para realizar a troca entre o capital e a
mercadoria força-de-trabalho (exploração do trabalho). Nesse sentido:

A produtividade do trabalho supõe assim directamente a


mobilidade do trabalho, quer esta mobilidade permita a
extracção das forças de trabalho de esferas em que o capital não
estabeleceu ainda o seu domínio, quer ela modele estas forças
de trabalho segundo as exigências do capital ou quer assegure
a sua circulação (GAUDEMAR, 1977, p. 207).

A seguir, Gaudemar destaca a evolução/superação do conceito de


mobilidade do trabalho de Adam Smith para Marx. O segundo traz um conteúdo
que torna o conceito de mobilidade do trabalho precisamente colocado: A
mobilidade do trabalho conduz a apenas uma liberdade dos homens, a de se
emancipar de modos de produção anteriores, aí acaba a liberdade, pois uma vez
que o trabalhador tem sua capacidade de trabalho tornada mercadoria, ele está
sujeito às necessidades do capital. É justamente o uso da força de trabalho como
mercadoria que encerra a imobilidade do trabalho presente na idade média e
reflete o caráter da força de trabalho no modo de produção capitalista.

A crítica de Marx sobre o conceito de mobilidade do trabalho dos autores


clássicos é baseada no fato de esses autores defenderem a mobilidade como
uma determinação geral, a-histórica, do caráter produtivo. Gaudemar (1977)
elabora uma esquematização trazendo a passagem da mobilidade do trabalho
de uma determinação geral da economia mercantil para uma determinação
específica da economia capitalista (Figura X).
Figura X: Passagem da Mobilidade do trabalho do mercantilismo para o capitalismo.

Fonte: GAUDEMAR (1977)

Capítulo 6: Mobilidade do trabalho e produção de mais-valia

Mobilidade do trabalho: Uso específico da força de trabalho em um sistema


capitalista → Este uso específico é que produz a mais-valia e
consequentemente a acumulação do capital.

Mais-valia: Excedente de valor apropriado pelo capitalista;

Mais-valia absoluta: Produzida pelo prolongamento da jornada de trabalho;

Mais-valia relativa: Provém da redução do tempo de trabalho necessário devido


à mudanças, tanto nas técnicas utilizadas como na divisão do trabalho.

A conjugação dos dois modos de mais-valia permite ver a relação entre a


taxa de mais-valia e o preço da força de trabalho, como Gaudemar salienta:

Esta relação é efectivamente determinada por três factores: 1) a


duração do trabalho ou a sua grandeza extensiva; 2) o seu grau
de intensidade segundo o qual diferentes quantidades de
trabalho são despendidas no mesmo tempo; 3) o seu grau de
produtividade, segundo o qual a mesma quantidade de trabalho
rende no mesmo tempo diferentes quantidades de produtos
(MARX apud GAUDEMAR, 1977, p. 214).
O primeiro fator corresponde a mais-valia absoluta (já que é o
prolongamento da jornada de trabalho), enquanto os fatores 2 e 3 referem-se a
mais-valia relativa (uma vez que provém de mudanças em intensidade e
produtividade). Esses três conceitos: Duração, intensidade e produtividade, em
relação à produção e ao valor, são analisados através da Figura X2.

Figura X2: Taxa de mais-valia e o preço da força de trabalho.

Fonte: GAUDEMAR (1977)

Exposta a relação entre esses três fatores da mais-valia, Gaudemar


afirma que os dois modos de extração de mais-valia utilizam a mobilidade da
força de trabalho, tanto no tempo empírico (mais-valia absoluta) como no tempo
específico observado no ritmo do período de trabalho (relativa). A seguir,
Gaudemar analisa mais aprofundadamente a relação entre a mobilidade do
trabalho e cada uma das formas de mais-valia.

Em relação à mais-valia absoluta, a mobilidade é correspondente ao


tempo, uma vez que tal forma de mais-valia seja produzida pelo aumento da
jornada de trabalho. O capitalista busca sempre aumentar o máximo possível o
tempo em que a mobilidade do trabalhador se presta à seu serviço, enquanto o
trabalhador almeja diminuir o máximo o tempo em que vende sua força de
trabalho, aqui se identifica claramente um conflito de classes, que marca ao
longo da história a luta da classe operária pela regulamentação da jornada de
trabalho.

A primeira forma manifesta, no tempo, da mobilidade da força de trabalho


é no prolongamento máximo da jornada de trabalho total ou parcialmente
legalizado, como visto históricamente no período de capitalismo fabril no século
XIX e também nos atos cometidos por patrões que se desviam dos regulamentos
e leis, como redução do tempo de repouso, horas extras não remuneradas entre
outros elementos.

A segunda forma da mobilidade no tempo diz respeito à adoção, por parte


das fábricas, do trabalho em turnos, uma vez que devido ao fato de o ser humano
não conseguir trabalhar 24 horas por dia sem descanso, uma parte do tempo
sem produção acaba por diminuir as possibilidades de lucro do capitalista, que
assim cria novas formas de explorar a mobilidade da força de trabalho por um
maior tempo para produzir maior taxa de mais-valia. O operário, estando
submetido a uma alternância do período do dia em que trabalha (manhã, tarde
ou noite), apresenta uma mudança em sua mobilidade, que agora exprime sua
capacidade de vender sua força de trabalho tanto no maior tempo possível como
em qualquer momento do dia.

Mesmo com essa mudança, por muito tempo se observou que grande
parte da mão-de-obra, explorada por grandes jornadas de trabalho ainda que
não 24 horas, não resistia durante muitos anos à penúria do trabalho constante,
o que diminuiu a oferta de mão-de-obra e causou efeitos aos salários e
interesses capitalistas. Junta-se a isso o surgimento de uma série de
movimentos de luta operários em prol de melhores condições trabalhistas que
colocou a diminuição das jornadas de trabalho um elemento necessário. Essa
luta de séculos, conforme Gaudemar (1977), levou os capitalistas a diminuir
progressivamente a jornada de trabalho, mas capitaneando um crescimento
cada vez maior da intensidade e produtividade do trabalho: “O homem trabalha
durante menos tempo mas mais depressa e com material mais aperfeiçoado. É-
lhe pedido que aplique a sua capacidade de adaptação, a sua mobilidade, a
outras exigências (GAUDEMAR, 1977, p. 222).
Com base em um panorama histórico que Gaudemar traz a partir de Marx
(sobre as mudanças nas leis de jornada de trabalho na Inglaterra no século XIX
por pressão operária), ele traz uma lição de Marx:

Se é verdade que o operário se apresenta diante do capitalista


como vendedor livre da sua força de trabalho, aliena
imediatamente esta liberdade submetendo-se às exigências do
capital. Ou ainda, a mobilidade adquirida quando da sua saída
do mundo feudal, a mobilidade, sinal da sua emancipação, torna-
se de imediato o meio da sua exploração, pois que lhe permite
adaptar-se ainda melhor a este modo de produção
(GAUDEMAR, 1977, p. 225).

Tratando sobre a mobilidade do trabalho em relação à mais-valia relativa,


Marx traz três momentos em que, por combinações sociais diferentes e
sucessivas, é produzida a mais-valia relativa e o papel da mobilidade em sua
produção: Mobilidade do trabalho e cooperação simples; Mobilidade do trabalho
e manufatura; Mobilidade do trabalho e grande indústria.

1. Mobilidade do trabalho e cooperação simples

A cooperação é a primeira etapa do sistema fabril, quando o sistema de


trabalho operário a domicílio é substituído pelas matérias-primas fornecidas pelo
empresário. Aqui o trabalho feito isoladamente no sistema anterior passa a ser
feito agrupado num único local, uma fábrica, onde também se desenvolve uma
nova configuração da divisão do trabalho, gerando pessoas que coordenam e
vigiam o trabalho dos operários, forma-se uma cooperação entre os
trabalhadores para produzir os produtos, coordenada pelo capitalista.

Nesse momento, em que os trabalhadores se encontram fisicamente num


mesmo espaço (fábrica) e comandados diretamente pelo capitalista ou
encarregados diretos, a mobilidade do trabalho se fortalece, e se antes disso
ela se baseava na extensão da jornada de trabalho, aqui ela assume um novo
domínio, que se baseia em uma dupla dimensão: Dimensão espacial e dimensão
social (GAUDEMAR, 1977).
Dupla dimensão espacial: É o espaço onde se estende o trabalho, é mobilidade
no espaço, ela cria uma melhoria das condições de circulação das mercadorias
(inclusive ela própria) ao se apossar do espaço e nele criar meios de vida. É
também o espaço em que se faz o processo de trabalho, onde concentra-se a
força de trabalho para produzir. Essa conquista do espaço por parte da força de
trabalho, no entanto, lhe retira sua autonomia, já que o trabalhador conquista o
espaço, através do trabalho, apenas para o uso do capital.

Dupla dimensão social: Para que ocorra a exploração da força de trabalho, é


necessária uma organização social específica, aqui surge a estrutura hierárquica
de poder nas oficinas, com o capitalista no patamar mais alto, seguido pelos
imediatos e depois pelos trabalhadores. A mobilidade social do trabalho já se
insere diretamente nessa dimensão.

2. Mobilidade do trabalho e manufatura

Nesse momento a cooperação simples evolui para uma mais complexa,


agora com uma divisão maior das tarefas entre os trabalhadores, constitui-se
então uma divisão diferencial do trabalho. A passagem do trabalho a domicílio
para cooperação simples e depois manufatura é elencada por Gaudemar (1977)
na Figura X3.

Figura X3: Passagem do trabalho a domicílio para a manufatura

Fonte: GAUDEMAR (1977)


Na manufatura, a hierarquia das forças de trabalho toma forma como
forças de trabalho mais complexas ou menos complexas, que corresponde a
uma escala diferenciada de salários. Aqui se forma a base do que tempos depois
serão as carreiras individuais, com trabalhadores de determinadas áreas se
“especializando” nelas e perdendo contato com o conhecimento de outras áreas.

O que Gaudemar observa é a diferenciação e especialização das forças


de trabalho, e ao mesmo tempo a diferenciação e especialização dos
instrumentos do trabalho, constitui-se a base de uma revolução tecnológica que
promove a criação de novos ofícios. No entanto, o autor salienta que ainda não
há uma mais-valia relativa, mas uma forma embrionária de sua procura, e
também não leva ainda ao extremo a mobilização das forças de trabalho no
tempo e espaço.

3. Mobilidade do trabalho e grande indústria

Com o advento das máquinas, que substituem boa parte das ações antes
manuais dos trabalhadores, ganhos são observados em relação à mais-valia
relativa, tanto na intensidade do trabalho (dada a continuidade ininterrupta dos
processos) como na produtividade (grande número de máquinas que operam
com maior velocidade que os trabalhadores manufatureiros).

Novas bases são dadas para a mobilidade do trabalho nessa nova fase,
a força de trabalho deixa de ser apenas elemento subjetivo do processo de
trabalho e passa a ser seu princípio regulador, o homem se submete à máquina
e está é produtiva a partir do uso do trabalhador. Forma-se aqui uma divisão do
trabalho tecnológica, em que um grupo pequeno de especialistas (engenheiros,
mecânicos) que ocupa uma posição maior na hierarquia, vigia e controla os
processos feitos pelos operários.

O trabalhador se torna aqui um acessório consciente da máquina, que


“define as formas industriais da mobilidade do trabalho como efeitos da
plasticidade da força de trabalho face às exigências da grande indústria e da
maquinaria” (GAUDEMAR, 1977, p. 241). Aqui o autor busca resumir tais formas
a partir de um duplo efeito de fluxo e refluxo para e do espaço submetido ao
capital.

Efeito de fluxo: Com a máquina, tarefas que demandariam força física ou


intelectual do operário são facilitadas, o que possibilida maior inserção da mão-
de-obra feminina e infantil. Além disso, a penetração das máquinas e tecnologias
no campo também faz com que os trabalhadores do campo percam espaço e se
desloquem para as indústrias das cidades. O que se vê nesse sentido é a
mobilização de novas forças de trabalho, que é reforçada pelo surgimento de
novos ramos da indústria com o desenvolvimento capitalista. Com o crescimento
das indústrias em vários ramos (bens de produção, de consumo e outros
diversos ramos) a divisão social do trabalho se fortalece muito mais
extensamente do que no período da manufatura e o processo de acumulação de
capital se amplia cada vez mais no espaço, incorporando cada vez mais
trabalhadores, e portanto, força de trabalho a ser mobilizada.

Essas novas forças de trabalho produzidas em decorrência do


crescimento industrial produzem mais-valia relativa, mas ao mesmo tempo mais-
valia absoluta, que é co-extensiva à relativa, segundo Gaudemar, uma vez que
ao mesmo tempo conduzem a um crescimento da produtividade e podem levar
a um aumento da duração do processo de trabalho. A produtividade do
trabalhador está alinhada ao ritmo da máquina, e a duração da jornada de
trabalho relaciona-se com as normas legais fixadas (papel do Estado).

Efeito de refluxo: Os vários novos tipos de força de trabalho que são


mobilizados crescem e na mesma medida cresce a baixa qualificação do
trabalho operário. As máquinas rejeitam os “adultos”, aqueles que
desempenham ofícios especializados e que eram maioria no período da
manufatura e tomam seu lugar, as máquinas substituem uma série de ofícios
antes humanos (exemplo da máquina de tecelagem que toma o lugar do tecelão)
e tomam da força de trabalho seu valor de uso e de troca. Esse processo conduz
ao que Marx chama de exército industrial de reserva, uma população de fora do
processo produtivo. As modificações técnicas que ocorrem na composição
orgânica do capital levam a um crescimento do número de desempregados, que
pode diminuir em momentos de interrupção e parada.
Nesse momento, novas formas de mobilidade do trabalho emergem,
como a mobilidade espacial das migrações, no intuito de absorver a
superpopulação operária desempregada, como destaca o próprio Marx (apud
GAUDEMAR, 1977, p. 255): “a grande indústria necessita de emigração, e
consequentemente da colonização de regiões estrangeiras que se transformam
em celeiros de matérias-primas para a mãe-pátria”. Aqui o autor também
identifica uma nova divisão internacional do trabalho, em que cada parte do
mundo possui um papel, de produção agrícola ou industrial. A migração torna-
se fenômeno importante dentro do modo de produção capitalista.

Gaudemar retoma a ideia de Marx de que no capitalismo, diferentemente


do período manufatureiro e anteriores em que o trabalhador tem domínio sobre
seu trabalho, o trabalhador é submetido às leis de funcionamento da indústria e
da maquinaria.

Nesse sentido, com a indústria, o modo de produção capitalista começa a


se tornar cada vez mais hegemônico, e a mobilidade da força de trabalho
desenvolve formas mais complexas no sentido de garantir a maior acumulação
de capital, num regime de reprodução ampliada do modo de produção capitalista.

Capítulo 7: Mobilidade do trabalho e acumulação primitiva

Elencadas as três fases da instalação do modo de produção capitalista


(cooperação, manufatura e indústria), Gaudemar parte nesse capítulo a analisar
a formação da força de trabalho no período de acumulação primitiva, buscando
destacar se tais mecanismos da acumulação primitiva podem persistir até a
atualidade (ainda que sob outras formas). O autor destaca que a mercadoria
força de trabalho é produzida antes de o capitalismo se tornar dominante, ela é,
em um primeiro momento, extraída, no sentido de emancipação do trabalho
existente nas estruturas pré-capitalistas, como exemplo extraída das antigas
estruturas feudais da idade média.

Tratando inicialmente sobre a mobilidade primitiva, Gaudemar objetiva


evaluar em que momento da história as forças de trabalho são mobilizadas para
servir ao capitalismo e quais formas a mobilidade do trabalho assume no início
do capitalismo. Para alcançar a resposta desse questionamento, Gaudemar
destaca que até juridicamente busca-se, por parte dos estados nacionais no
período de passagem para o capitalismo, tornar a força de trabalho livre, como
evidenciado em leis que aboliram a servidão e mais tarde a escravidão.
Tornando o trabalho livre e móvel com o fim das antigas estruturas, este trabalho
torna-se também livre para ir sozinho ao mercado para se submeter ao capital,
é aqui que Marx, segundo Gaudemar (1977), identifica o surgimento do mercado
de trabalho. Nele, a força de trabalho (única mercadoria produtiva que se troca
por capital) entra em circulação. É no momento em que o valor de troca se torna
alma da produção que o mercado de trabalho surge, o valor de troca dissolve a
produção essencialmente voltada a produzir valores de uso e suas formas de
propriedade correspondentes. Ou seja: “O nascimento do capital como relação
social implica a dissolução das diferentes formas nas quais ou o trabalhador é
proprietário, ou o proprietário trabalha” (GAUDEMAR, 1977, p. 266).

Ao ser libertada das antigas estruturas, a força de trabalho passa por dois
processos de submissão ao capital: A submissão formal e a submissão real. A
primeira explica a submissão de um modo de trabalho aliado a um modo de
produção anterior à relação capitalista, é um processo de extração da força de
trabalho de seu meio de origem e assim de extorsão de mais-valia absoluta. Já
na submissão real é introduzida a produção de mais-valia relativa. É na
passagem da submissão formal para a real que a mobilidade primitiva define-se
e formam-se novas relações de produção, agora expostas na relação entre o
capitalista e o proletário (GAUDEMAR, 1977). Os vários processos de
acumulação primitiva definidos por Marx são a seguir retomados por Gaudemar.

Analisados tais processos, que são vistos por autores clássicos como
processos que formam a liberdade total da mobilidade do trabalho, Marx analisa
as formas da mobilidade do trabalho correspondentes às classes que trazem ao
capitalismo sua estrutura específica: A gênese do rendeiro capitalista; a gênese
de uma classe de camponeses ligados à agricultura industrial, que são
expropriados e transformados em assalariados; e a gênese do capitalista
industrial. Todas essas classes desenvolveram-se de classes presentes nos
antigos modos de produção através de um processo de dissolução do período
feudal para o capitalismo.
Partindo para uma análise sobre a persistência ou não de uma mobilidade
primitiva, Gaudemar (1977) retoma a lógica do pensamento marxista:

A mobilidade <primitiva> do trabalho conduz ao modo de


produção da força de trabalho como mercadoria particular.
Produção de um fluxo, dos espaços submetidos formalmente ao
capital, para os espaços que lhe estão realmente submetidos (no
sentido destes conceitos, definidos mais atrás). A partir de então,
este fluxo só pode parar com a extinção de toda a submissão
formal, do reino generalizado da submissão real e da mais-valia
relativa (GAUDEMAR, 1977, p. 273).

Com base em Marx, o autor destaca que a acumulação primitiva (e as


formas de mobilidade relacionadas) continua a existir mesmo que sob outras
formas e contextos, já que é um elemento permanente do processo de
acumulação. Ela já não é condição necessária para a submissão real do trabalho
ao capital, mas agora é determinada pelas necessidades de reprodução
ampliada do capital. → Acumulação por espoliação do Harvey se refere a isso.

Gaudemar identifica que uma vez que o capitalismo não se apoderou de


toda a produção nacional, existem esferas de acumulação primitiva, onde se
estabelecem elementos da passagem da submissão formal para a real. Tais
esferas são concernentes às atuais relações geopolíticas entre os países
centrais e os dominados, onde evidenciam-se processos de expropriação dos
camponeses (deve se referir as expulsões do campo na década de 1970) e
também a imigração. A acumulação do capital, nesse sentido, é que explica hoje
os movimentos migratórios.

Capítulo 8: Mobilidade do trabalho e processo de conjunto da acumulação


do capital

Gaudemar busca aqui relacionar a mobilidade do trabalho e suas formas


ao movimento de conjunto do capital. Para isso, ele lança quatro teses de Marx:

1 ) O capital promove tanto a procura de trabalho por aqueles que necessitam


como também a oferta de trabalho, criando uma superpopulação relativa que
busca por trabalho. Nesse sentido, a relação entre acumulação de capital e
mobilidade do trabalho é feita “como representação global da relação entre
composição orgânica e população operária [...] (GAUDEMAR, 1977, p. 277);

2 ) O movimento dos salários está relacionado ao ritmo de acumulação do


capital. Nesse sentido, os trabalhadores não se deslocam no espaço em busca
de melhores salários, mas para satisfazerem as exigências do capital e também
as exigências de subsistência deles próprios, submetidos ao capital;

3 ) Nessa lógica é que a mobilidade do trabalho atua, a partir de suas diferentes


formas, na reprodução ampliada do capital, sendo imprescindível a existência da
mobilidade do trabalho para a acumulação de capital. A formas de mobilidade,
assim, são realizadas conforme as necessidades do capital, sendo tanto
qualitativas (formas profissionais e sociais, formas relacionadas às modificações
na divisão do trabalho) que dizem respeito a transformações da composição
orgânica do capital, variações de produtividade e intensidade do trabalho (taxa
de mais-valia relativa); como também quantitativas (volume de força de trabalho,
com estrutura constante).

4 ) Com base nos tópicos anteriores, a análise expõe a luta do capital contra a
queda tendencial da taxa de lucro. Aqui a mobilidade do trabalho pemite uma
relativa diminuição do valor da força de trabalho, a submissão efetiva do trabalho
às necessidades do capital: “O processo de circulação da mão-de-obra surge
assim como elemento da circulação do capital” (GAUDEMAR, 1977, p. 279).

Gaudemar analisa que as formas da mobilidade do trabalho estão


inseridas no processo de acumulação de capital, que sempre reaplica uma parte
da mais-valia extraída em capital constante ou variável. Nesse sentido, uma vez
que o capital sempre se valoriza sendo reaplicado, o proletariado também se
expande, mas não necessariamente o proletariado empregado, e sim uma
superpopulação que constitui o exército industrial de reserva e que também
busca um emprego. Sendo assim, é produzida força de trabalho sempre disposta
a se vender para o processo de produção. É nesse contexto que Gaudemar
(1977) julga necessário compreender o conceito de superpopulação relativa
(exército industrial de reserva), que é fundamental para o processo de
valorização do capital.
Escola: Aparelho de formação de mão-de-obra, produz assim trabalhadores
assalariados para que estes se tornem “aptos” para o trabalho, é então produtora
de força de trabalho e superpopulação relativa.

Ainda sobre a superpopulação relativa, Gaudemar (1977) afirma que são


as formas da mobilidade do trabalho que garantem uma adequação entre os dois
tipos de disponibilidade: A disponibilidade do trabalhador sem emprego e a
disponibilidade conveniente ao capital. Nesse sentido, são essas formas da
mobilidade que determinam a repartição da oferta de trabalho (GAUDEMAR,
1977). Assim, Gaudemar destaca que a acumulação de capital determina tanto
a procura como a oferta de trabalho.

Marx a seguir define quatro formas de superpopulação relativa: flutuante


(nos centros da indústria moderna); latente (parte da população masculina
demitida e que é obrigada a emigrar no seguimento da emigração do capital);
estagnante (operários com ocupações bastante irregulares); e uma quarta forma
que aglutina operários capazes de trabalhar, filhos de pobres ou órfãos,
operários desmonetizados, operários de idade avançada e vítimas da indústria
(doentes e inválidos).

Essas quatro formas, segundo Gaudemar (1977), expõem o papel da


Mobilidade do Trabalho e também dos outros elementos que configuram a
acumulação do capital. O processo de acumulação capitalista ao mesmo tempo
produz cada vez mais riqueza e cada vez mais força de trabalho para formar o
exército industrial de reserva, expandido tanto a oferta quanto a procura de
trabalho. Nesse sentido, afirma que os dois elementos são negativos um do
outro, e destaca em relação à mobilidade do trabalho:

É através da complexidade desta relação de acumulação do


capital com a oferta de trabalho que se unificam todas as formas
da mobilidade do trabalho encontradas até aqui – as formas
<primitivas> e a sua extensão a todas as formas produtivas das
forças de trabalho, como as formas <elásticas> produtoras de
mais-valia absoluta ou relativa; umas e outras misturam-se como
figuras, alternadamente de fluxo ou refluxo, da acumulação
(GAUDEMAR, 1977, p. 294)
Tratando sobre os salários, o autor afirma que a visão neoclássica
defende uma liberdade do trabalhador em que o salário se apresenta como um
elemento de determinação do próprio trabalhador, que procura sempre
maximizar sua satisfação.

Marx, pelo contrário, defende sua ideia com base em dois tópicos:

a ) Marx liga a procura de trabalho ao ritmo interno da acumulação do capital


(como também os movimentos populacionais). Nesse sentido, a relação entre a
taxa de salário e a acumulação do capital é explicada pelo fato de o movimento
de expansão e contração da acumulação produzir, de maneira alternada, a
insuficiência ou abundância de trabalho oferecido, que influenciam na elevação
ou depreciação do preço do trabalho, como Gaudemar explica:

Ora tanto é um excesso do capital proveniente da acumulação


acelerada que torna o trabalho oferecido relativamente
insuficiente e tende consequentemente a elevar o seu preço,
tanto é um abrandamento da acumulação que torna o trabalho
oferecido relativamente superabundante e que deprecia o seu
preço (GAUDEMAR, 1977, p. 299)

b ) No entanto, Gaudemar destaca que ainda deve-se resolver o problema dos


movimentos de população (ou formas de mobilidade do trabalho) em relação as
variações da taxa de salário. Dessa forma, para Marx, o que provoca a
mobilidade do trabalho em suas diferentes formas “é a diferenciação das
procuras de trabalho nascida da diferenciação dos lucros retirados nesta ou
naquela esfera de atividade” (GAUDEMAR, 1977, p. 302).

A seguir, o autor busca precisar melhor as ligações entre as formas da


mobilidade do trabalho e a acumulação do capital, com base em formalizações
feitas por Marx no livro II d’O Capital em esquemas de reprodução ampliada.

FORMULAS E MAIS FORMULAS

Da formalização, tecem-se alguns comentários. O primeiro é de Rosa


Luxemburgo, que questiona de onde vêm as forças de trabalho correspondentes
ao capital variável adicional. Marx responde tal pergunta no livro I, em que diz
que o capitalismo precisa sempre de novas disponibilidades de trabalho para se
realizar e se reproduzir. É através da análise desse problema que emergem,
segundo Gaudemar, as formas da mobilidade do trabalho.

Tratando da mobilidade, o autor destaca que o alargamento da produção


condicionado pela transformação de mais-valia em capital adicional resulta um
alargamento da base capitalista de produção, que pode significar uma série de
coisas que Gaudemar (1977) explicita.

Focando-se a seguir no aspecto da circulação (item IV), o autor destaca


que o processo de conjunto da acumulação capitalista possui todos os processos
que asseguram a reprodução de um sistema social, e a circulação do capital atua
para repartir as várias esferas sociais. Nesse sentido, Gaudemar se pergunta
qual o papel das formas da mobilidade do trabalho neste aspecto (circulação),
tentanto chegar a resposta guiado pela definição de Marx sobre os processos de
circulação do capital: Dentro da esfera de circulação, o capital se apresenta
como capital-mercadoria e capital-dinheiro e passa por dois processos de
circulação, um processo de transformação da mercadoria em dinheiro (realiza a
mais-valia), e um processo de transformação de dinheiro em mercadoria (gera
novos elementos de produção). Dadas essas informações, Gaudemar identifica
dois aspectos da intervenção da mobilidade do trabalho:

1: Processo de circulação da força de trabalho como mercadoria destinada ao


processo de produção;

2: Efeitos da circulação do capital (mercadoria) na estrutura da força de trabalho,


formas qualitativas de mobilidade do trabalho que a circulação do capital
necessita.

A) Primeiro aspecto do processo de circulação (conversão dinheiro →


mercadoria), em que a força de trabalho (M) circula em direção ao mercado de
trabalho (D). Devido ao fato de existir uma superpopulação relativa, nem sempre
essa força de trabalho está no ponto exato onde o capital irá incorporá-la, nem
mesmo sob a forma em que o capital a incorpora. Aqui Gaudemar destaca que
a mobilidade do trabalho deve responder essas duas necessidades.

A primeira necessidade diz respeito às formas espaciais da mobilidade.


Aqui a mobilidade permite que a força de trabalho se desloque à sua vontade.
Nesse sentido, os fluxos migratórios tem participação e quase sempre são os
trabalhadores que arcam com suas despesas de deslocamento.

Destacando que Marx trata dos fluxos migratórios mais no aspecto da


produção da força de trabalho (momento histórico em que o trabalhador perde
seus meios de produção) do que da circulação da força de trabalho, Gaudemar
afirma ser necessário distinguir as formas circulantes da mobilidade do trabalho
das suas formas produtivas de força de trabalho. As formas circulantes tratam
de forças de trabalho já existentes (já utilizadas na produção capitalista) que se
deslocam de uma esfera para outra; As formas produtivas são as novas forças
de trabalho extraídas e enviadas ao mercado de trabalho. Um aspecto central
em ambas é o fato de permitirem ao capital escolher a melhor sua localização.

As formas espaciais de mobilidade surgem e crescem a partir da


industrialização, e a circulação das forças de trabalho é facilitada pelo maior ou
menor desenvolvimento dos meios de transporte (que garantem maior facilidade
para a mão-de-obra estar disponível no mercado). O Estado tem grande papel
para facilitar a circulação da força de trabalho, uma vez que é ele quem arca com
os custos de construção de infraestrutura (rodovias, ferrovias) responsável por
fazer circular mais facilmente no espaço as mercadorias (como a força de
trabalho).

A segunda necessidade diz respeito às formas qualitativas, profissionais


da mobilidade do trabalho, em que a força de trabalho só sera totalmente
utilizada pelo capital se possuir as condições que o capítal necessita, num plano
da qualificação profissional dessa mão de obra. Aqui aparece o papel da escola
enquanto formadora profissional dessa força de trabalho.

B) O segundo aspecto do processo de circulação (conversão mercadoria →


dinheiro), que é o processo de realização da mercadoria (mais-valia realizada),
trata primeiramente das formas produtivas da mobilidade do trabalho, com o
desenvolvimento desse processo e do capitalismo, podem surgir novas funções
e profissões, que anteriormente eram só partes do trabalho do capitalista, e que
agora se colocam como novas profissões improdutivas, que mesmo não criando
produto ou valor, “permitem a realização do valor do produto a menor custo”
(GAUDEMAR, 1977, p. 326), contribuindo para a diminuição dos custos de
realização da mais-valia.

CITAÇÃO ALEATÓRIA MAS IMPORTANTE:

As formas espaciais da mobilidade do trabalho – em especial os


movimentos migratórios – permitem, sob o ponto de vista da
mercadoria força de trabalho, a destruição do espaço graças ao
tempo. Quanto mais breve o tempo da migração, mais facilmente
o espaço será destruído (GAUDEMAR, 1977, p. 328).

No item seguinte (V), Gaudemar trata sobre a relação da mobilidade do


trabalho com a taxa de lucro (lei da queda tendencial da taxa de lucro), como
convergem na lei da taxa de lucro os elementos da mobilidade do trabalho. É
nesse ponto que Gaudemar (1977) fecha a investigação do conceito marxista da
mobilidade do trabalho. Por trás de toda a história dos deslocamentos humanos
e das transformações de suas profissões, por trás das modificações das
estruturas do trabalho e da força de trabalho, bem como das relações sociais de
produção, está a procura do lucro máximo (GAUDEMAR, 1977).

Componentes da taxa de lucro: Composição orgânica do capital e


Taxa de mais-valia.

Quatro afirmações do autor sobre o papel da mobilidade do trabalho para


fazer crescer as taxas de lucro:

a) A mobilidade do trabalho permite ao capitalista realizar economias


de capital variável e de capital constante. Capital variável: A partir da redução
do número de empregados, aumentando a intensidade do trabalho, ou redução
de seu salário abaixo de seu valor, desqualificando o trabalho. Capital constante:
A partir do sistema de turnos e trabalho em equipes em grande escala.

b) Por intermédio da superpopulação relativa, a mobilidade do


trabalho permite a existência de setores com fraca composição orgânica,
e assim, uma subida da taxa média de lucro. O desenvolvimento das forças
produtivas faz aumentar a superpopulação relativa no efeito do fluxo e refluxo.
Existe aqui a formação de setores com pouca composição orgânica do capital
que garantem maiores taxas de mais-valia.

c) Pela redução do tempo de rotação do capital variável, a mobilidade


do trabalho permite um crescimento da taxa anual de mais-valia e portanto
da taxa de lucro. A taxa de mais-valia anual (global) leva em conta tanto a taxa
de mais-valia durante o período de trabalho como o número de rotações que o
capital variável efetua. Marx destaca que a taxa de mais-valia anual = taxa de
mais-valia durante um período de rotação X número de rotações no ano. O
número de rotações é inversamente proporcional ao tempo de rotação. Dessa
forma, a taxa de mais-valia anual cresce na medida em que é maior o número
de rotações do capital variável (ou seja, quanto menor for o tempo de rotação,
mais alta é a taxa de mais-valia e mais alta é a taxa de lucro). A diminuição do
tempo de rotação significa a diminuição ou do tempo de produção, ou do tempo
de circulação, ou de ambos. As formas da mobilidade do trabalho são utilizadas
pelos capitalistas para reduzir ambos. No tempo de produção as formas
permitem a redução a partir do aumento da produtividade, sistema de turnos; No
tempo de circulação a melhor forma é desenvolver as comunicações e meios de
transporte.

Citação boa: “A mobilidade do trabalho é portanto também elixir de


juventude: ajuda as estruturas capitalistas a lutar contra as limitações exteriores
à sua dinâmica própria, a brincar com o tempo e espaço históricos”
(GAUDEMAR, 1977, p. 335).

d) É necessário concluir que, através da multiplicidade das suas formas


temporais, espaciais, setorias, etc., por intermédio das economias de capital
variável ou constante, da persistência de setores com fraca composição orgânica
e da redução tanto dos tempos de produção como de circulação, que ela permite,
a mobilidade do trabalho permite contrariar permanentemente a queda
tendencial da taxa de lucro.

Gaudemar finaliza a análise trazendo uma interpretação do livro III d’O


Capital (inacabado por Marx) a respeito da mobilidade:

O nivelamento constante das desigualdades não menos


constantes realiza-se tanto mais depressa quanto: 1) o capital
for mais móvel, mais fácil de transferir de uma esfera ou de um
local para outro; 2) a força de trabalho possa mais facilmente ser
lançada de uma esfera para outra, de um ponto localizado da
produção, para outro (GAUDEMAR, 1977, p. 337-338)

CITAÇÕES DIRETAS DO RESUMO DA CONTRIBUIÇÃO DE MARX PARA O


CONCEITO DE MOBILIDADE:

Efectivamente, o conceito de mobilidade do trabalho num sistema capitalista, tal


como aparece explicitamente nos textos de Marx, isto é, como conceito que
corresponde às formas de existência da força de trabalho como mercadoria,
surge e impõe-se também a partir da análise destas formas propriamente ditas:
constitui o único modo de compreender globalmente aquilo que permite, na
multiplicidade dos seus modos, a submissão do trabalho ao capital
(GAUDEMAR, 1977, p. 341).

Importância do conceito: Só ele consegue representar e caracterizar a


face escondida da acumulação do capital: Caracterizando completamente a
mercadoria particular força de trabalho.

Nesse sentido, o conceito marxista de mobilidade do trabalho consiste no:

Conceito das formas de existência da força de trabalho como mercadoria,


conduz assim ao seu nascimento e morte, tanto aos seus deslocamentos
espaciais como às suas transformações qualitativas; conduz assim duplamente
aos processos que permitem à força de trabalho estar presente nos locais de
valorização do capital (processo de produção e de circulação da força de
trabalho) e nos que lhe permitem a sua utilização nestes mesmos locais
(processo de produção do capital) (GAUDEMAR, 1977, p. 342)

Pelo intermédio da mobilidade do trabalho, a força de trabalho se


transforma em valor valorizante do capital.

Gaudemar ainda salienta que tanto o operário como o capital e os vários


portadores dele e de seu poder possuem mobilidade:

Num extremo, o operário totalmente indiferente ao conteúdo de um trabalho


esvaziado de todo o interesse, próximo apenas de um modo de sobrevivência;
no outro, o representante do capital, capaz de decidir tudo, por todos, em
qualquer momento e em qualquer local; ambos circulam permanentemente de
um lado para outro, segundo as exigências de valorização do capital, mas um
como seu patrão, o outro como seu servidor (GAUDEMAR, 1977, p. 343-344).

A seguir, Gaudemar traz um quadro representando a mobilidade do


trabalho e suas formas em relação a utilização, pelos processos de produção e
circulação do capital, da produção, circulação e utilização da força de trabalho
(Figura X4).

Figura X4: Utilização da força de trabalho em suas fases por parte do processo de reprodução
do capital

Fonte: GAUDEMAR (1977)


Marx: Traz o conceito de força de trabalho para estudar a mobilidade e o
processo de acumulação, rompendo com Smith e os clássicos.

Capítulo 9: Mobilidade e processo de produção da força de trabalho em


Rosa Luxemburgo

Segundo Gaudemar, depois de Marx, dois autores que superaram a


noção neoclássica de mobilidade, ainda que não a tenham tratado
profundamente, foram Rosa Luxemburgo e Lenin. A primeira foca sua análise na
produção da força de trabalho, enquanto o segundo trata sobre algumas formas
de mobilidade do trabalho no desenvolvimento capitalista. Ambos, no entanto,
não trouxeram a mobilidade como objeto central de suas obras.

Luxemburgo traz a importância da análise do imperialismo dentro do


processo de acumulação do capital, levando em conta o papel do capitalismo em
promover colonização em outros territórios no intuito de impor o capitalismo
nesses espaços, utilizando o capital de várias formas de violência e
expropriação, para além do período de acumulação primitiva de Marx. O capital,
nesse sentido, sempre adota a violência e expropriação nos outros modos de
produção, mesmo no seu desenvolvimento e na atualidade.

Para ela, o recrutamento de novas forças de trabalho fora da esfera


capitalista é característica constante do capitalismo, não apenas na acumulação
primitiva ou no imperialismo (como defende Otto Bauer), mas em toda sua
história. Luxemburgo considera que o imperialismo é a ultima etapa do processo
de expansão do capital, marcado pelos conflitos entre os países centrais do
capitalismo pelos últimos espaços ainda não tomados pelo capitalismo.

O recrutamento da força de trabalho para uso capitalista, dentro de sua


reprodução ampliada, defendido pela autora, é onde Gaudemar identifica a
importância da mobilidade do trabalho na análise de Luxemburgo. A mobilidade
em Luxemburgo tem suas formas inseridas em um quadro de acumulação global
do capital, e se traduzem na forma das migrações internacionais e seu duplo
aspecto: imigração da mão-de-obra para o centro capitalista como processo de
crescimento da superpopulação relativa, e emigração para as colônias na pista
das migrações do capital, em que o trabalhador vende sua força de trabalho em
novos locais.

Luxemburgo traz uma série de exemplos do imperialismo como forma de


garantir a mobilidade do trabalho de trabalhadores que vivem em territórios não-
capitalistas para serem incorporados ao modo de produção capitalista.

Capítulo 10: Análise das migrações operárias em Lenin

Teórico do imperialismo, Lenin trata em suas obras o desenvolvimento


capitalista da Rússia, e pouco destaca a respeito dos fenômenos migratórios,
vistos por ele como temas de segundo plano. Segundo Gaudemar (1977), a
contribuição dada por Lenin para o conceito marxista da mobilidade do trabalho
está inserida na análise de um processo de desenvolvimento capitalista numa
formação social específica: a nação russa. E na visão de Lenin, os conceitos que
emergem do estudo concreto de uma determinada formação social podem ser
aplicados em estudos de nível mundial.

Para Gaudemar, o trabalho de Lenin sobre o desenvolvimento industrial


russo traz reflexões sobre as formas espaciais da mobilidade do trabalho, já de
início o autor trata sobre a divisão espacial do trabalho, um elemento pouco
tratado sistematicamente na época, e a relacionando desde os tempos da
manufatura na Rússia. O maior destaque da divisão espacial, no entanto, se dá
já no período industrial, em que Lenin analisa a divisão das industrias no território
russo e as cidades formadas por essa lógica, além dos processos sociais que
ocorrem em decorrência desse fenômeno.

As novas relações sociais de produção, com a expansão das indústrias e


do capitalismo, tomam forma na análise de Lenin, e apresentam uma polarização
capitalista do espaço russo, onde se insere a mobilidade do trabalho. Gaudemar
salienta que a mobilidade espacial do trabalho assume então uma grande
importância na análise do pensador russo: “A mobilidade do trabalho é
inegavelmente processo espacializado de constituição das relações de produção
capitalista: processo espacializado de constituição da força de trabalho pelo
êxodo rural para os centros industriais [...]” (GAUDEMAR, 1977, p. 373-374).
Em outros diversos momentos de sua obra, Lenin destaca o papel da
mobilidade do trabalho (sempre na forma espacial) dentro da lógica da
industrialização, se constituindo como condição da vida econômica nessa
sociedade. Na análise de Gaudemar, a mobilidade é tornada fundamental para
o desenvolvimento do capitalismo em Lenin, e seu estudo sobre os movimentos
migratórios operários na Rússia contribui para a construção do conceito.

Rosa Luxemburgo e Lenin: Destacam o papel da mobilidade do trabalho


sobretudo no aspecto da Produção da força de trabalho, deixando em segundo
plano os aspectos da Utilização e Circulação dessas forças.

Gaudemar finaliza sua análise destacando a importância de estudos que


desenvolvam o conceito marxista de mobilidade do trabalho a partir de estudos
precisos sobre as formas contemporâneas que a mobilidade do trabalho assume
e da crítica desse elemento como política de emprego dos estados capitalistas
e socialistas (da época do autor). E, com base nesses estudos, buscar uma nova
estratégia no intuito de superar o modo de produção capitalista e as políticas de
mobilidade forçada, buscando uma sociedade de caráter socialista.

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