Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
08/06/13
O começo que vos ofereço é elementar: como conhecemos a realidade? Utilizarei aqui
uma palavra diferente: captar a realidade. Quando captamos a realidade, captamos o
ser. E nessa operação aparece a pergunta: o que é isto? Aquilo que nos interpela é um
algo definido, é um ser. Pois bem, captamos pelos sentidos em toda sua amplitude,
desde o órgão fisiológico até a operação mais espiritual de contemplar, perceber, sentir,
gostar, e também pelo trabalho da inteligência, que vá aclarando, ordenando e
relacionando um conjunto proporcionado pelos dados dos sentidos. O resultado final é o
conhecimento da verdade daquilo que existe, exprimida em conceitos ou em definições.
Seja o optimista como seja o pessimista, eles observam a realidade «com um só olho».
Para ser realistas, observamos a realidade com os dois olhos. Aqui, é bom clarificar, não
estamos a falar de problemas de visão quando falta um olho, ou quando o olho está
enfermo. Aqui falamos duma cosmo visão completa da realidade: não escondemos
aquilo que é negativo para exaltar o positivo, nem escondemos o positivo para sublinhar
as falhas. Romano Guardini disse que «pessimismo e optimismo são duas qualificações
que compreendem mal a realidade. Ambas capitulam perante a complexidade da sua
situação. Não têm a coragem de olhar ao problema aos olhos, nem a decisão de manejá-
lo praticamente» (Ética, p.773)
Quando dizemos que olhar com um só olho, referimo-nos a uma forma concreta de ver a
realidade. Mas estamos acostumados a criticar vivamente ao pessimista porque actua
dessa forma. Não pensamos que o optimista pode ser ele também um arbitrário, pois não
considera a totalidade da realidade. Quiçá porque seja ingénuo ou demasiado bom ou
demasiado virtuoso ou demasiado santo. Em todo caso, tem que ser uma pessoa realista,
e aí estão tantas pessoas santas como exemplo. O santo é realista.