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suja
15/12/2019 às 08:48
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Passa longe de mim o discurso ingênuo lastreado na suposição de que possa
haver convergência no atual quadro político brasileiro. Basta assistir uma
sessão da Câmara dos Deputados para perceber o quanto é ingênuo esse
discurso.
Nas eleições do ano passado, o eleitorado deu giro de 180 graus no conjunto
de suas opiniões sobre a situação nacional. Durante 25 anos, a direita ficou
sem partido e sem voz. Essencialmente antipetista, renasceu vigorosa nas
redes sociais após os achados da Lava Jato e se identificou com o discurso
conservador de Bolsonaro.
Isso explica muita coisa. Mas não explica suficientemente tudo. Veja, leitor, o
que está acontecendo ante as mais recentes decisões do STF, notadamente
na invencionice processual de “que o delatado fala por último nas alegações
finais do processo” e na deliberação que, na prática, acabou com a prisão após
condenação em segunda instância.
Ambas aconteceram num país que saiu das urnas com a tarefa de acabar com
a cultura da impunidade, com a insegurança e com a corrupção. Lugar de
bandido é na cadeia. A sociedade sabe que muitos crimes contra ela
praticados não ocorreriam se os criminosos estivessem neutralizados, contidos
onde lhes sobram motivos para estar: atrás das grades.
Enquanto o STF toma decisões das quais até Deus duvida, o Congresso
Nacional vem na contramão da vontade social, surdo à voz das ruas,
atropelando os urgentes anseios da sociedade. Legisla velozmente em causa
própria, aprova leis que inibem a persecução penal e revela total inapetência
ante o cardápio legislativo que o governo e a sociedade lhe propõem.
Se pequena parcela do esforço que dedicam para atacá-lo fosse usada com o
intuito de colocar o país nos eixos da decência e do efetivo combate à
impunidade, o povo, o público, os leitores, os aplaudiriam e não precisariam
sair às ruas para expor os fatos do alto de um carro de som.
Percival Puggina
Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular
do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada
do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.