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Público • Sexta-feira 17 Dezembro 2010 • 39

A nova “agenda para o crescimento” não muda nada na economia, apenas serve para eurocrata ver

Uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma

U
DANIEL ROCHA
ma comédia de máscaras, um jogo de ter aumentado, há uns anos, o ministro de então,
ilusões. Ao ler a extensa lista das “50 Manuel Pinho, entendeu “empurrar com a barriga”
medidas” da Iniciativa para a Compe- o problema do défice tarifário e ele acaba de voltar
titividade e o Emprego, fica-se com um agora, devendo agravar significativamente os custos
sabor amargo na boca. Não há ali um das empresas quando estas menos podem. Ou seja,
arremedo de um plano ou de uma estratégia, apenas faz-se o que não é preciso em vez de fazer o que se
mais uma guinada na direcção das políticas públicas deve – e o que se devia fazer era simplesmente dimi-
José provocada, desta vez, única e exclusivamente pela nuir os custos de contexto a todas as empresas para
Manuel necessidade de ir a Bruxelas dizer que se estão a que cada uma fosse capaz de procurar o melhor ca-
Fernandes promover reformas. minho para crescer com base nas suas capacidades
Porventura o exemplo mais acabado da incoerên- e qualidades, dispensando a mãozinha do Estado
Extremo cia das medidas anunciadas é o fornecido pelas que que apoia hoje para desapoiar amanhã.
ocidental se dizem destinadas a “aumentar a competitividade Por fim, e para que o pacote ficasse completo e
do mercado de trabalho”. Pretende-se, reza o texto fosse mesmo perfeito, não podia faltar um toque de
oficial, “incentivar as novas contratações e a cria- proteccionismo. E lá o encontramos, precisamen-
ção de emprego”, mas a única medida com efeitos te na última das medidas: “Reforçar o controlo da
imediatos tornará as contratações ainda mais caras entrada no território nacional de produtos equi-
para os empregadores, pois obriga-os a criarem um valentes aos produzidos internamente, mas cujo
fundo para despedimentos futuros. A ideia espanho- processo produtivo não tenha sido sujeito ao mesmo
la desse desvairado fundo já era má, o que se sabe tipo de condições que os produtos portugueses.”
sobre o fundo português é ainda pior. Porquê? Por- Não sei porquê, mas cheira-me a proteccionismo
que em vez de se fazer o que era necessário – baixar antiloja-do-chinês, sinal de que vivemos bem com
os custos associados ao trabalho, nomeadamente a os iPhones vindos da China mas menos bem com
taxa social única – cria-se uma nova taxa, que nem as havaianas de borracha reles e olhos em bico que,
sequer se sabe se será guardada nos cofres das em- supõe-se, qualquer fabriqueta nacional também
presas ou do Estado, taxa essa que onerará todas pode muito bem colocar no mercado ao triplo do
as novas contratações. preço das orientais…

P
Mesmo assim, com tal resolução do Conselho de
Ministros no bolso, Sócrates lá seguiu ontem para erguntar-se-á: e porquê todo este foguetó-
Bruxelas a anunciar a boa nova do reformismo go- rio? Porquê esta obsessão com conseguir a
vernamental, mas é duvidoso que alguém se deixe aprovação exterior ou uma pequena evo-
convencer, sobretudo que os famosos “mercados” lução nas estatísticas comparadas?
se comovam com medidas que ou são contraprodu- Só encontro uma resposta: o primeiro-
centes (como a do fundo para despedimentos) ou ministro já percebeu que para prolongar a sua so-
só terão efeito daqui por uma dúzia de anos (como brevivência já não lhe bastam as sucessivas fugas
a da modificação das regras de cálculo das indem- em frente que têm caracterizado o seu mandato,
nizações). Pelo caminho atropelaram-se de novo os tem mesmo de conseguir evitar o recurso à ajuda
direitos dos que estão desempregados, sobretudo 800 mil casas a necessitar de obras externa. É que em Portugal, neste momento, o FMI
dos jovens: depois de a reforma da segurança social
Em Portugal, neste de conservação ou recuperação. Só só é fatal para a sobrevivência política de José Só-
os ter expropriado das suas pensões futuras, esta momento, o FMI só seria que este tipo de obras só poderá ser crates – nós, todos os outros, não passaremos por
modificação nas leis laborais coloca-os em pé de feito de forma célere e eficaz se o certo pior com o fundo do que com esta constante
desigualdade de direitos com quem já está empre- fatal para a sobrevivência mercado de arrendamento premiar deriva.
gado. Pelo caminho continua-se sem se tocar no política de José Sócrates tais investimentos – e o mercado O raciocínio do chefe do Governo é simples: pri-
principal motivo da rigidez do mercado de trabalho, do arrendamento não se estimula meiro, como não tem maioria na Assembleia, sabe
o despedimento individual. – todos os outros não acelerando apenas os processos que não controla os timings políticos e que a sua

M
de despejo, como se prevê neste única esperança é durar o mais tempo possível. So-
as se as ideias originais deste pacote
passaríamos por certo pior “pacote”. Também aqui pesa sobre bretudo se puder falar muito de “agenda do cresci-
de medidas são, no essencial, más, com o fundo do que Portugal e a economia portuguesa mento” em vez de andar a justificar medidas de aus-
as boas ideias – que também existem uma lei do arrendamento que, mais teridade. Depois, Sócrates conhece suficientemente
– não são originais. Por exemplo: a com esta constante deriva de quatro anos depois de entrar em bem Cavaco Silva para saber que este não tomará,
anunciada decisão de “promover o e improvisação vigor, apenas induziu um décimo em condições de normalidade política e económica,
investimento na reabilitação urbana e a dinamiza- dos novos contratos que deveria a decisão de dissolver a Assembleia da República.
ção do mercado de arrendamento” é correcta, mas induzir… por ano. Ninguém falou, Ou seja, interessa-lhe prolongar a sua vida até ao
chega com dois anos de atraso. Convém mesmo contudo, em rever essa aberração legislativa do Go- OE de 2012, altura em que espera poder repetir o
lembrar que, ainda nem tinha começado a campa- verno Sócrates I. discurso da “responsabilidade” e comprometer de

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nha eleitoral de 2009, e já a então presidente do novo o PSD, evitando o chumbo do documento e
PSD, Manuel Ferreira Leite, defendia que se deviam e uma forma geral o “pacote” legislati- um pretexto para eleições antecipadas. Com Cavaco
trocar “os investimentos megalómanos” por “inves- vo incorre no mesmo tipo de erro que reeleito, mesmo que por larga margem, Sócrates
timentos de proximidade que têm efeitos imediatos tem provocado o fracasso deste tipo de acredita que antes de uma crise no Parlamento não
sem gerarem endividamento externo”, dando os iniciativas legislativas: não acaba com a haverá novas eleições – isto é, acredita que Cavaco
exemplos da reabilitação urbana e da recuperação burocracia, antes a “adapta” ou “agili- II não será como Sampaio II.
do património. Tivemos, contudo, de suportar dois za”, rebaptizando-a com nomes pomposos – “Sim- O que é que pode alterar este equilíbrio no fio da
anos de gritaria em torno do TGV, do novo aeroporto plex Exportações”,“Balcão do Empreendedor”, navalha? A vinda do FMI. Com os técnicos do fundo,
e da imprescindibilidade do grande investimento “Licenciamento Zero” ou “Dossier Electrónico da e da União Europeia, a desembarcarem na Portela, o
público para relançar a economia para, de repente, Empresa” – que muitas vezes apenas disfarçam, e Presidente teria um pretexto para convocar eleições
assistirmos esta quarta-feira a uma conferência de mal, a longa mão dos decisores públicos que conti- em nome da necessidade de relegitimar o Governo
imprensa de quatro ministros onde avultava pela nuarão a determinar quem é inovador e quem não (ou teria mesmo a obrigação de o fazer). Nessa altura
ausência o ministro das Obras Públicas. Significativo, é, quem é um bom exportador ou quem merece nem o argumento da instabilidade funcionaria, pois
mas triste, senão trágico. um incentivo fiscal. Mais: em vez de melhorar a lei a Irlanda já lá tem o FMI e, por causa dele, até terá
E o pior é que nem se tomam nem as medidas geral, criam-se novas excepções, através de novos eleições antecipadas. Como, para além do mais, se
correctas nem, sobretudo, as necessárias para pro- PIN, que tornarão o sistema ainda mais labiríntico prevê que as maiores dificuldades surjam lá para
mover realmente a reabilitação urbana, uma área e menos transparente. Março, quando Portugal voltar aos mercados da
fundamental: em Portugal o que se gasta em reabi- Curiosamente, no mesmo dia em que se anuncia- dívida, altura em que já teremos o Presidente re-
litação representa menos de 10 por cento do mer- vam as medidas, também foi conhecida a propos- eleito, a palavra de ordem em São Bento é tentar
cado da construção, quando na Europa se investe o ta de aumento das tarifas da electricidade, muito sobreviver, sobreviver, sobreviver… Jornalista (www.
equivalente a 36 por cento, e estima-se que existam acima da inflação. Porquê? Porque quando deviam twitter.com/jmf1957)

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