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Pol

Desde 1976

do Governo
OPINIÃO DE HENRIQUE NETO
20 de Março de 2020 • Ano XLIV • Nº 2255 • Preço 2,00 € (IVA incluído) · Fundadora: Vera Lagoa • Directora: Cecília Alexandre PÁGINA 4

OFERTA EDIÇÃO DIGITAL · 20 DE MARÇO 2020 · OFERTA EDIÇÃO DIGITAL

E DEPOIS,
A TEMPESTADE
ECONÓMICA

CENTRAIS

Pandemia Vai sendo


tudo feito aos
adiou revisão safanões, ao
constitucional sabor do vento,
a tapar buracos…
para data incerta NUNO ALVES CAETANO
PÁGINA 5 PÁGINA 8
2 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Sete Dias

O ‘cartoon’
de
Adriano
Centeno

© Adriano Centeno / O Diabo


Portugal perde o rasto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, con-
siderando que se tratava de “imigrantes
económicos” e não fugitivos em busca de
refúgio legítimo – com excepção do menor,

a imigrantes ilegais
que foi alojado na Casa de Acolhimento para
Crianças Refugiadas enquanto se aguarda
uma decisão sobre o seu futuro.

Quatro dos imigrantes adultos, entretan-


to, recorreram da decisão do SEF e ficaram
a aguardar sentença de um tribunal adminis-
O Estado Português (CPR), depois de terem pedido ao Serviço
de Estrangeiros e Fronteiras, que os inter-
saturadas outras rotas de migração ilegal
no Mediterrâneo) e que o segundo grupo
trativo sobre o seu pedido de impugnação, vi-
vendo sob protecção do Conselho Português
desconhece o paradeiro de 14 ceptou, a aplicação do estatuto de protecção seguira indicações fornecidas pelo primeiro. para os Refugiados, que tem continuado a
internacional. conceder-lhes “assistência médica, educa-
dos 19 cidadãos marroquinos Também claro ficou que 18 dos 19 can- ção, alojamento e meios de subsistência”.
Tendo o pedido de análise do seu caso didatos ao estatuto de refugiado não se en-
que em Dezembro e em sido aceite pelo SEF, imediatamente lhes foi quadravam nos parâmetros legais aplicáveis Na última semana, o ‘Diário de Notí-
“providenciada documentação que com- em tais casos, os quais só prevêem o asilo cias’ descobriu que, dois meses depois do
Janeiro desembarcaram prova o período de análise”, o que não só para indivíduos “perseguidos ou gravemente desembarque, o Conselho Português para
ilegalmente na costa algarvia. lhes permitiu circularem com documen-
tos europeus como obterem “assistência
ameaçados de perseguição, em consequên-
cia de actividade exercida no Estado da sua
os Refugiados perdeu o rasto a 14 dos 19
marroquinos: simplesmente ausentaram-se
médica, educação, alojamento e meios de nacionalidade ou da sua residência habitual dos alojamentos em que se encontravam, e

N
um primeiro grupo em Dezem- subsistência”. em favor da democracia, da libertação social onde não eram alvo de qualquer controlo.
bro e num segundo em Janeiro, e nacional, da paz entre os povos, da liberda- A informação foi confirmada por Móni-
19 migrantes ilegais oriundos de No final de Janeiro, um novo grupo de e dos direitos da pessoa humana”, ou para ca Farinha, jurista do CPR, que admitiu
Marrocos tentaram infiltrar-se clandesti- de onze marroquinos igualmente jovens quem “receie com razão ser perseguido em que “não se sabe o que aconteceu”: tan-
namente em território europeu através da aportava à mesma zona da costa algarvia, virtude da sua raça, religião, nacionalidade, to podem estar ainda em Portugal, “mas
costa algarvia. O Conselho Português para com o mesmo propósito. Também a estes convicções políticas ou pertença a um deter- noutros alojamentos”, como “podem ter
os Refugiados já só sabe do paradeiro de foi concedida documentação e ajuda pelo minado grupo social” e se encontre por isso seguido um plano pessoal que já tinham
cinco deles. período que durasse a apreciação dos pe- impedido de regressar ao país de origem. anteriormente” (possivelmente, circularem
didos de asilo. A única excepção humanitária que podia ilegalmente pela Europa, pois só há dias
Os primeiros oito chegaram em 11 de eventualmente ser considerada aplicava-se as fronteiras passaram a ser controladas).
Dezembro: tinham entre 16 e 26 anos de As autoridades portuguesas não tiveram ao menor de 16 anos que acompanhava o “Só saberemos disso se nos contactarem”,
idade e desejavam obter em Portugal o es- dificuldade em compreender que o pri- primeiro grupo. reconheceu Mónica Farinha, confessando
tatuto de refugiados. Ficaram sob custódia meiro grupo viera tentar uma “via inédita” que não se sabe sequer desde quando os
do Conselho Português para os Refugiados de entrada na Europa (encontrando-se já E foi precisamente essa a decisão do jovens não contactam o CPR. ■
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 3

Sete Dias

Ana Gomes pressionada


para avançar
N a última semana, por entre a flores-
ta de notícias e comentários sobre
o Covid-19, choveram críticas a Marcelo
Rebelo de Sousa pela sua auto-imposta qua-
rentena, pelo caricato de uma atabalhoada
tele-comunicação feita “em nome pessoal”
(conceito que não se aplica a um Presidente
DR

da República que fala ao país) e por uma

Aeroporto:
convocação do Conselho de Estado em
câmara lenta, quando se tratava precisa-
mente de apreciar uma emergência. Ao

autarcas mesmo tempo, cresciam nas redes sociais


e entre os comentaristas políticos alusões
a uma possível candidatura de Ana Gomes

continuam à eleição presidencial de Janeiro de 2021.

Embora a própria Ana Gomes tenha

a bater o voltado a garantir, há uma semana, que “não


tem essa ambição”, o certo é que, confronta-

DR
da pela SIC-Notícias com a pressão crescente

pé à ‘opção para que se candidate, a diplomata socialista


não rejeitou a possibilidade de vir a fazê-
-lo, sempre ressalvando que “faltam vários
com razão - a pregar sozinhos” (“gente
que desacreditou na justiça, na política e
nos políticos”) e “disputaria ainda com
nem nunca escolheria - em quem os socialis-
tas que não gostam de Marcelo, mas também
nunca votariam no candidato do PCP ou

Montijo’ meses” para o escrutínio presidencial – o


que, em “politiquês”, significa que é cedo
para avançar.
André Ventura uma parte do eleitorado
abstencionista”.
do Bloco de Esquerda, poderiam votar”.

Esta tese, cada vez mais popular à es-

T alvez na esperança de dividi-los, o


Governo continuou esta semana a
ouvir separadamente os autarcas críti-
Enquanto a Direita se prepara para dar
fôlego à candidatura, já oficialmente anun-
Nesta análise, que replica muitos dos
comentários de esquerda nas redes sociais,
Crespo sustenta que um hipotético apoio
querda, confirma a argumentação do so-
cialista Francisco Assis, que em Janeiro foi
o primeiro dirigente do PS a defender a
cos da localização do novo aeroporto ciada, de André Ventura, líder do Chega, formal do PS à recandidatura de Marcelo candidatura de Ana Gomes alegando o ine-
de Lisboa na Base Aérea do Montijo. à esquerda aumenta a pressão sobre Ana “dividiria ainda mais um partido que já anda vitável desgaste da imagem de Marcelo – um
Na terça-feira, foi a vez de António Gomes. No ‘Diário de Notícias’, Anselmo a pensar na era pós Costa” e que, por isso, Presidente que, “na sua vertiginosa vontade
Costa (acompanhado pelos ministros Crespo resumia as vantagens (para a es- os socialistas teriam vantagem em “não ter de ser amado por todos”, “remete para
do Ambiente e das Infraestruturas) querda) de uma candidatura da diplomata: candidato próprio”, o que permitiria a Ana uma espécie de irrealidade anestesiante da
receber o presidente da Câmara do ela “dividiria muito mais o eleitorado de Gomes “ganhar o espaço de que precisa verdadeira e necessária discussão política”.
Seixal, Joaquim Santos. André Ventura do que o de Marcelo Rebelo para avançar”. Neste cenário, “Costa, sem O nome de Ana Gomes surgiria, assim,
Mas voltou-se o feitiço contra o de Sousa”, “arregimentaria os ‘rabujos do se comprometer, passa a ter uma candidata “num momento em que o país precisa de
feiticeiro: em vez de se deixar intimidar sistema’ que andam há anos - muitas vezes da família política do PS - que não escolheu, um sobressalto cívico-moral”. ■
pelas declarações governamentais de
que “a decisão está tomada” e “já nada
pode alterar a localização escolhida
pela ANA/Aeroportos”, o autarca abriu
a pasta e pôs em cima da mesa da
Decidido arresto de todos
reunião uma bateria de documentos
técnicos certificados “que contradizem
os estudos na posse do Governo”.
os bens de Isabel dos Santos
“Apesar de o senhor primeiro-minis-
tro dizer que, para ele, está encerrado,
nós entendemos que não está”, afir-
O juiz Carlos Alexandre decretou o arresto de todos os bens
da empresária angolana Isabel dos Santos em Portugal, no
âmbito do processo judicial que corre em Angola. Um mês depois
Relação que Carlos Alexandre assinou o despacho de arresto, com
o qual as autoridades judiciais de Luanda esperam recuperar mais
de mil milhões de euros referentes a vários esquemas financeiros de
mou Joaquim Santos, considerando não de o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa ter ordenado o Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido
poder “aceitar que uma multinacional “congelamento” daqueles bens, um acórdão do Tribunal da Relação retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos
decida aquilo que vai ser” o “futuro de Lisboa reviu a sentença e prenunciou-se pelo arresto, solução fiscais. Isabel dos Santos foi constituída arguida, em Angola, na
colectivo” da zona e que “é preciso pôr defendida pela Justiça angolana. Foi na sequência do acórdão da sequência das revelações do ‘Luanda Leaks’, em Janeiro passado. ■
o interesse nacional e das populações
em primeiro lugar”. Vários estudos
ambientais e da Protecção Civil conde-
naram já a ‘opção Montijo’, reforçando
os argumentos dos autarcas da Moita
Instrução do Caso Sócrates adiada ‘sine die’
e do Seixal, que apontam Alcochete
como solução menos má.
Segundo a lei, sem o acordo de
O debate instrutório do processo
judicial da Operação Marquês, em
que o antigo líder socialista José Sócra-
os tribunais.

O caso envolve 28 arguidos, entre


Vara, Zeinal Bava, Henrique Granadei-
ro, Sofia Fava e Rui Mão de Ferro. A
interrupção do debate surge quando
todas as autarquias da região afectada tes é o mais notório dos arguidos, foi pessoas singulares e empresas. O debate falta ainda ouvir as alegações da defesa
a obra não poderá avançar. As conver- suspenso “por tempo indeterminado” instrutório teve início em 4 de Mar- de José Sócrates, Carlos Santos Silva,
sações prosseguem. ■ pelo juiz Ivo Rosa devido à pandemia ço, tendo já sido ouvidas as alegações Joaquim Barroca, Hélder Bataglia, Rui
de Covid-19, que obrigou a encerrar da defesa de Bárbara Vara, Armando Horta e Costa e Ricardo Salgado. ■
4 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Estado de Emergência
grave, provavelmente com uma crise no
SNS e algumas mortes. Seja como for, o
vírus não chegará por via digital e essa será
a forma de tratar de tudo o que necessita-
mos do exterior das nossas casas, desde as
importações a encomendar refeições, as
compras do supermercado, com os riscos
próprios, está bem de ver, mas o risco existe
desde que nascemos.

Apesar disso, tenho muitas dúvidas so-


bre a histeria colectiva em que estamos a
cair, mas como não sei o suficiente sobre o
assunto fico com as minhas dúvidas e, até
ver, aceito de boa vontade tudo o que os
serviços de saúde decidirem. Quanto ao
futebol, espero que os comentadores tirem
férias das televisões; e como não há nada
que se possa fazer relativamente aos muitos
comentadores da epidemia, há sempre a
salvação de ligar a Netflix.

As cartas estão agora lançadas e vamos


ter que conviver com o vírus dentro da nossa

Corona Vírus
DR
própria casa nacional, na lotaria que será
sempre a nossa vida independentemente
das precauções tomadas e sempre insufi-
cientes, já que somos um povo que, para o
bem e para o mal, não brilha pela discipli-
na. Por exemplo, acabamos de saber pela
chamada ministra da Saúde que só agora
é que estamos a encomendar os materiais
de protecção que, estranhamente, não en-

- a sorte do Governo
comendámos no início da crise na China.
O mesmo com a linhas telefónicas para
dar a informação essencial a quem poderá
estar doente e só agora o Governo está a
providenciar a instalação de mais linhas e
mais recursos humanos.

nem tudo o que é mau para a generalidade ria mal vista pela população portuguesa. Voltando à questão do fecho das frontei-
dos portugueses é fatalmente mau para o Pela minha parte, confesso que teria feito ras, essa já foi a solução encontrada por al-
HENRIQUE NETO poder político. Pensem apenas que a fo- diferente, por duas razões: guns países como a Dinamarca e a República
tografia de António Costa está em ponto Checa, mas não sabemos ainda qual será o
grande em todos as primeiras páginas dos 1 - O vírus nasceu na China e, como seria resultado, como não sabemos da bondade
jornais portugueses, que as televisões só de esperar, chegou a Portugal na ponta da da solução britânica. Em qualquer caso, os
falam das medidas, boas ou más pouco Europa e junto ao mar muito mais tarde, ou milhares de turistas que por aí andam em

A
António Costa, aos seus Governos importa, publicadas pelo Governo, que os seja, tivemos tempo mais do que suficiente liberdade não deve ajudar ao controlo do
e ao Partido Socialista, saiu-lhes a ministros, secretários de Estado, directores- para decidir o que fazer e organizar a defesa. vírus, como não ajudaram as centenas de
sorte grande durante os últimos -gerais, deputados e políticos avulsos não As convocações do que penso se chama profissionais e de turistas portugueses que
cinco anos. Não é muito comum que os saem das televisões com loas ao PS e ao Conselho Superior da Saúde e o Conselho chegaram de Itália, que é o país europeu
astros políticos se tenham encontrado todos Governo. Para mais, num tempo em que se de Estado deveriam ter sido feitas no início mais atacado pela segunda vez na história.
em sintonia favorável ao mesmo tempo e deu o milagre de todos os outros partidos da pandemia na China, porque talvez que Entretanto, sabemos que os países e re-
que a fortuna bafeje os mesmos durante não quererem perder a sua parte de glória alguém com poder político e algum bom giões que organizaram as suas defesas com
tanto tempo. na comunicação social e tenham esquecido, senso tivesse sugerido fechar as fronteiras. rapidez no início da crise, como Macau,
e bem, as suas habituais dissensões. Agora, tarde demais, trancas à porta. Singapura e a Formosa, tiveram sucesso.
Essa sorte teve o seu início quando o
Partido Comunista se cansou de quarenta Mas há mais, a União Europeia abriu a 2 - Como o vírus residia fora de Portugal e Tenho a convicção de que a vacina ne-
anos de oposição e decidiu experimentar, bolsa e nos próximos tempos não tomará não no interior do País, a decisão óbvia seria cessária para terminar com a crise chegará
por boas ou más razões não vem ao caso, conta do défice público e assim podere- pois fechar as fronteiras - aérea, marítima e mais tarde ou mais cedo. Nunca como hoje
os favores do poder político. O Bloco de mos gastar à vontade - se bem se mal, logo por terra - provavelmente com duas condi- tivemos à nossa disposição tanto conheci-
Esquerda já estava pronto e assim nasceu se vê no futuro - mas, entretanto, o bom ções: (a) impedir todos os estrangeiros de mento, tantos milhares de centros de in-
a geringonça. Depois, os mesmos astros povo aprova. Finalmente, no futuro mais entrar em Portugal; (b) permitir a entrada, vestigação e tantos milhares de cientistas
ditaram que depois de uma séria crise eco- longínquo, quando o cinto voltar a apertar, ou o regresso dos portugueses, na condição a trabalhar para nos defender. Suponho
nómica provocada principalmente pelo o Governo, António Costa e o PS já têm a de aceitarem “voluntariamente” as duas que, neste caso, ninguém se vai preocupar
PS de José Sócrates e resolvida em grande desculpa ideal, a crise económica provocada semanas de quarentena. O caso dos portu- se isso se passa nas instituições privadas ou
parte pelo PSD, a governação socialista se pelo Corona Vírus, nem mais nem menos. gueses que chegaram de Itália deveria ter públicas, ainda que entre nós e de forma
iniciasse com o crescimento económico Se tudo isto não é sorte, não sei o que será. sido, pelo menos este caso, melhor tratado. subtil a defesa do público esteja presente
na Europa e no Mundo e Portugal tivesse nas mais diversas intervenções.
aproveitado, ainda que de forma modesta, Coisa diferente é saber se as medidas Claro que nada disto aconteceria sem
esse empurrão. Finalmente, a sorte de An- adoptadas pelo Governo são, ou não, ade- custos humanos e económicos, nomeada- Finalmente, resta-nos confiar no conhe-
tónio Costa e do Governo não terminou e quadas à situação que estamos a viver. Com mente a queda do turismo, as complicações cimento e na dedicação dos milhares de
chegou uma terceira vaga da fortuna sob a a nota de que não se sabendo ao certo, para as empresas que precisam de fazer médicos, enfermeiros, técnicos e todas as
forma de um vírus chamado Corona. dada a novidade do vírus, os partidos e os os seus contactos internacionais e receber pessoas que trabalham nos serviços de Saú-
portugueses em geral meteram a viola no compradores, o transporte aéreo, etc., mas de, sejam públicos ou privados, e agradecer
Não se surpreendam os leitores, porque saco, até ver, dado que qualquer crítica se- os custos vão aparecer agora de forma mais o seu trabalho e a sua competência. ■
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 5

Estado de Emergência

A política segue dentro gar um projecto até ao final da


sessão legislativa ou, o mais tardar,
início da próxima, que pretende
ver aprovado durante a legislatura.

de (longos) momentos…
“Nós não vamos fazer uma re-
volução na Constituição, vamos
fazer propostas de alterações pon-
tuais”, assegurou o líder ‘laranja’.
Rui Rio balizou as matérias que
vão constar desse projecto, no-
meadamente na área da Justiça.
por MARIA COSTA
“Seguramente que vamos propor
Com o país praticamente paralisado, também os partidos parlamentares tiveram de adiar para alterações à Constituição que per-
mitam que a maioria do Conselho
melhores dias os grandes debates da política – a começar pela ansiada revisão da Constituição da Superior do Ministério Público,
da Magistratura e dos tribunais
República, que estava na calha e iria pôr em causa a opção socialista do texto fundamental. administrativos e fiscais sejam indi-
vidualidades independentes e não

E
xiste em tudo (e a política magistrados, até para não haver
não é excepção) um tempo nunca situações de juízes [a jul-
antes da pandemia e outro gar] em causa própria”, afirmou,
depois da pandemia. André Ventu- deixando para depois a análise de
ra tinha sido o primeiro a entregar saber se deverá ser o Presidente
no Parlamento uma proposta de da República ou a Assembleia da
revisão constitucional. O líder do República a fazer essas nomeações.
Chega viu a sua proposta admitida
pelo Presidente da Assembleia da Num aspecto persistem ainda
República no dia 10 de Março, dúvidas sobre o caminho a seguir:
e pela lei os restantes partidos “Admito que, para as medidas que
deviam apresentar as respectivas queremos propor na área do sis-
propostas nos 30 dias seguintes tema político, não seja necessário
(isto é, até 10 de Abril). Depois mexer na Constituição, mas se en-
seria constituída uma comissão de tendermos que a legislatura deve
revisão constitucional no âmbito passar de quatro para cinco anos,
da qual seria desenvolvido o pro- então já seria preciso”, disse. O pre-
cesso. Mas com eclosão do surto sidente do PSD tinha a intenção de
de Coronavírus tudo mudou. nomear uma comissão para estudar
o projecto de revisão constitucio-
Aliás, se não fosse Ventura a nal, sendo de presumir que adiará
tomar a iniciativa de suspender o a formação desta estrutura.
processo, a evidência dos factos
DR
imporia um compasso de espera O presidente do CDS-PP, Fran-
a qualquer revisão do texto fun- luta contra esta terrível pandemia preparar o texto. “Não vamos a é suficiente para o fazer com “a cisco Rodrigues dos Santos, adian-
damental. De todo o modo, está e nas suas consequências”. jogo agora, e não é porque tenha devida qualidade e ponderação”. tou igualmente que o seu partido
decidido que o processo só será sido o Chega. Não tenho proble- vai apresentar um projecto de re-
retomado depois de se normalizar Apesar de reconhecer que ma de ir atrás de propostas do BE Antes da pandemia de Co- visão constitucional, sublinhando
o funcionamento do Parlamento, pode “ver precludido o seu direito ou do Chega, o problema é que, vid-19, Rui Rio disse que o PSD que o partido “não se demitirá
o que acontecerá em data total- de iniciar novo processo de revisão se assim fosse, teríamos apenas 30 queria aproveitar o facto de já se desse debate”, sem, contudo, des-
mente incerta. constitucional nesta sessão legisla- dias para apresentar o projecto de terem passado mais de cinco anos vendar quais são as alterações à Lei
tiva”, o deputado salienta que “não revisão constitucional”, esclareceu, sobre o último processo de revisão Fundamental defendidas pelos
Através de comunicado, An- foge às suas responsabilidades e considerando que este prazo não ordinária da Constituição e entre- centristas. ■
dré Ventura explicou os motivos não esquece as prioridades: salvar
pelos quais decidiu retirar “os Portugal e os portugueses”.
dois projectos de revisão consti-
tucional já apresentados” – com
vista a permitir o “internamento
PSD só quer
alterações pontuais
Assembleia da República em contenção
compulsivo”, em casos como o
da crise do Covid-19, e a dimi-
nuição do número mínimo de
Antes de a revisão constitucio-
nal ter ficado em “banho maria”,
também o PSD anunciou que iria
E nquanto a pandemia de Covid-19 o justificar,
o Parlamento vai continuar a funcionar com
um quórum flutuante de 116 deputados, que
obrigados a estar na sala no momento de votar.

Todas as bancadas de esquerda deram a sua


deputados, dos actuais 180 para participar no processo. O presi- podem não estar todos no plenário no momento anuência à proposta, ignorando os argumentos
100 eleitos – pelo que “terminará dente do PSD afirmou que uma de votar. Esta foi a conclusão saída da reunião do PSD e do CDS, que defendiam o funciona-
assim o processo de revisão cons- das alterações que pretende in- da conferência de líderes, em que, por maioria, mento do Parlamento com a Comissão Perma-
titucional iniciado”. troduzir na Constituição se refe- foi adoptada a proposta de reorganização dos nente, órgão que substitui o plenário em férias,
re à composição e nomeação de trabalhos parlamentares feita pelo Presidente da e que poderia convocar reuniões com todos os
As circunstâncias criadas pela órgãos judiciais, como o Conselho Assembleia da República, Ferro Rodrigues, ex- deputados caso tivesse de ser aprovada uma lei
pandemia, justifica André Ventura, Superior do Ministério Público, ceptuando a parte em que sugeria que as votações importante.
“não se coadunam com a apresen- de forma a “não haver juízes em se fizessem com o quórum de funcionamento,
tação de propostas de natureza de causa própria”. ou seja um quinto dos deputados. O plenário da Assembleia da República conta
revisão constitucional, nem com com 230 deputados mas está em fase de grande
a sua necessária discussão pública Questionado pelos jornalistas, Essa parte foi adaptada, segundo disse a porta- contenção. Assim, na Assembleia da República as
e a ponderação necessária para a Rui Rio explicou que o seu pro- -voz da conferência de líderes, a deputada do PS comissões parlamentares funcionam só quando
levar a cabo”. O líder do Chega jecto de revisão constitucional não Maria da Luz Rosinha, dado que se permite que, estritamente necessário, com os deputados da
aponta que “neste momento todos seria entregue durante o proces- para não estarem tantos deputados no hemiciclo mesa e coordenadores de cada partido, e haverá
os órgãos de soberania devem es- so aberto pelo Chega, porque tal ao mesmo tempo, confirmem a presença na apenas um plenário por semana, com as regras
tar integralmente concentrados na implicava ter apenas um mês para reunião na hora anterior à votação, não estando definidas em conferência de líderes. ■
6 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Estado de Emergência

Matemática de COVID-19
MANUEL SILVEIRA
DA CUNHA

E screvo hoje ainda sobre a nova doença,


o COVID-19.

É perigosa e tinha de ser atacada de


forma violenta no início. Não foi, ainda
temos algum tempo e parece que as me-
didas acabarão por ser tomadas, mais por
reacção do que por acção. Infelizmente,
no dia em que escrevo, já temos mais de
cinco mil infectados à solta na população,
como se verá no dia da próxima edição
deste jornal, dentro de oito dias.

Os matemáticos evidenciaram-se nesta


crise. Jorge Buescu, por exemplo, mate-
mático da Faculdade de Ciências da Uni-
versidade de Lisboa, teve um artigo muito
citado, e altamente irresponsável, em que
desvalorizava esta terrível crise, dizia ele
citando o altamente irresponsável José
Antonio Lopez Guerrero:

“A virose em si não é complicada;


um dos maiores virologistas espanhóis e
Presidente da Sociedade Espanhola de
Virologia, José Antonio Lopez Guerrero,
descreve-o como ‘mais do que um catarro,

DR
menos do que uma gripe’. 80% dos casos
são assintomáticos ou têm sintomas muito anos, é completamente acéfalo fazer uma Fica agora a mensagem realista e séria: A previsão de uma epidemia é muito
leves. Apenas em 5% dos casos existem observação destas sobre uma doença nova, esta é uma doença grave, mas tem uma mais confiável do que a da meteorologia,
complicações graves, na sua grande maioria que já se sabia tinha uma taxa de contágio forma de ser limitada. Foi assim na China por exemplo. O resultado das previsões ini-
em grupos de risco: por exemplo, pessoas elevadíssima e cuja letalidade era também e em Macau, na Coreia está a resultar, em ciais era penoso. Se o Governo nada fizesse,
com bronquites crónicas, DPOC ou sistema muitíssimo superior à da gripe. Singapura está a resultar, na Itália parece o balanço seria de setenta mil mortos em
imunitário estruturalmente enfraquecido estar a abrandar. Portugal. Com estas medidas, graves, que
como doentes oncológicos. São essas pesso- Felizmente, Jorge Buescu viu as contas se adoptaram esta semana, se resultarem,
as que podem estar em perigo – tal como a sério: antes estava a pensar, obviamente, Os matemáticos baseiam todos os seus vamos ter menos de 2.000, talvez mesmo
estariam, com o mesmo nível de risco, se de forma leviana, arrependeu-se e assus- cálculos num modelo altamente testado muito menos se fecharem todas as rotas
contraíssem uma gripe comum.” tou-se, mudou de opinião. Viu a enorme em todos estes fenómenos, baseado num aéreas (e não apenas algumas como se
irresponsabilidade social do seu acto de trabalho de 1927 de dois amadores, na isto fosse a guerra do Solnado), poderiam
Este ponto tem diversas falsidades. A gri- conferir uma chancela séria, com assinatura altura, considerados os fundadores da mesmo ficar abaixo do limiar normal de
pe tem uma taxa de morte vinte vezes maior, académica, a uma opinião irresponsável epidemiologia, Kermack–McKendrick, uma gripe sazonal. Morrem 300 pessoas
ou mesmo mais (como em Itália), do que e irreflectida, travou às quatro rodas e fez que se basearam nos trabalhos de Hud- por dias em Portugal, e alguns idosos que
a gripe normal. Tem muitíssimo mais casos marcha atrás. Esta sua mudança de posição, son e Ross. morrem desta doença, morreriam ainda
críticos do que a gripe (e não são 5%, são informada e ponderada, deixou-o vítima do este ano. O problema poderia ser minimi-
8%). Numa população de muitos milhões descrédito e do ataque pessoal. É evidente Neste caso, os modelos foram me- zado, mas isso implicaria fechar fronteiras
como a Itália, a Espanha ou a Alemanha, que deveria ter pensado melhor antes de lhorados e sofisticados no tempo, e fo- durante muito tempo, pois a população não
são centenas de milhares de casos a mais. mandar bocas irreflectidas que ecoaram de ram perfeitos para modelar a crise do ficaria imunizada e seria sensível a todo o
Para além disso, esta doença mata para forma viral nas redes sociais, incentivando Ébola e todas as anteriores pandemias. momento a um reacender da doença. Há
além da gripe, os doentes vulneráveis são a comportamentos de risco e pouco cívicos. Cada doença é diferente: os tempos duas formas de intervir, que baixam muito
os mesmos, mas a gravidade das doenças de contágio e as taxas de contágio por a multiplicação da doença: trata-se, no fun-
é radicalmente diferente nos dois casos. O maior aliado dos serviços de saúde pessoa, os tempos de incubação com do, de baixar dois parâmetros cruciais do
nesta crise é o medo. Fomentar comporta- e sem contágio, se os mortos podem modelo – diminuir o número de contactos
Em Portugal, o “especialista” e cate- mentos levianos é criminoso e mata. Não contagiar ou não, são inseridos no mo- de cada pessoa (quarentenas, eliminação
drático de saúde pública, o porta-voz do tenho qualquer dúvida sobre o que estou delo. No Ébola, os mortos são muito de viagens, fecho de tudo o que é públi-
Conselho Nacional de Saúde Pública, o a escrever: menorizar este vírus e afirmá-lo perigosos, tocar num cadáver é muito co) e aumentar a resistência ao contágio
professor doutor Jorge Torgal, que se co- publicamente é matar pessoas, mesmo que perigoso. Nesta doença ainda não se (com higiene, máscaras e distância entre
briu de ridículo com a célebre reunião indirectamente. Os eternos optimistas, ou sabe se a imunidade se perde ou não as pessoas).
na semana passada em que passaram um alienados, sem informação, acham que de- com o tempo. Mas estes modelos, com
dia inteiro a discutir para não decidirem vem fazer a vida na mesma, e uma opinião a informação dos cientistas chineses e Como escrevi anteriormente aqui, a
nada, veio afirmar que este vírus era “me- de professores universitários nesse sentido é outros que já publicaram o que sabem grande esperança é uma vacina e essa pa-
nos perigoso do que o vírus da gripe”. Se um convite a irem para a praia no início da e viram no terreno, já são fiáveis. Esses rece que já tem passos largos dados pelos
pode ter uma aparência de razão nas mor- expansão de uma doença que matará muita modelos são muito fiáveis para prever chineses e, citam outros, os americanos.
tes acumuladas ao longo de centenas de gente e nunca mais deixará o Mundo igual. o que poderia acontecer. Haja esperança. ■
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 7

Estado de Emergência

Tarde e mal Vacina:


uma
R
espaldado num Presidente da Re-

corrida
pública que só pede a todos os santi-
nhos que não lhe estraguem o final
do mandato, o Governo de António Costa

contra
encontrou na crise do novo Coronavírus
um inesperado “estado de graça”. Paralisada
pelo receio de ficar mal vista ou ser mal

o tempo
compreendida, a oposição demitiu-se da sua
função natural e, juntamente com todos os
outros partidos parlamentares, apenas dá
‘amens’ ao Executivo. Resultado: Costa faz
o que quer, como quer, sem receio de ser
desfeiteado ou sequer criticado.

Que o Serviço Nacional de Saúde não


estava preparado para uma epidemia – isso
toda a gente percebeu desde o primeiro ins-
tante. Ainda assim, a Ministra Marta Fartura
Temido garantia que “o SNS está pronto
para enfrentar o vírus”, escassos dias antes

DR
de ter de admitir que o sistema rebentaria
pelas costuras à primeira pressão. Desde que rapidamente em colapso – e quando o seu toda a gente continuou a circular livremen-
a epidemia (depois pandemia declarada) responsável denunciou a situação, a única te, os aeroportos mantiveram-se abertos e
chegou à Europa, Portugal andou sempre coisa que o Governo soube fazer foi demiti- sem controlo, as fronteiras escancaradas,
ao retardador. -lo, enquanto a Ministra e a Directora-Geral com o primeiro-ministro insistindo em que
de Saúde metiam os pés pelas mãos em não se deve gastar as munições todas de

DR
No dia 11, o Governo ainda considera- conferências de imprensa de rir à garga- uma vez. E o tempo a passar. E a oposição

O
va uma precipitação fechar as escolas. No lhada, se não fossem para chorar. dando o seu ‘amen’ a esta caricatura de Ministério da Defesa da
dia 12, mandou todos os alunos para casa. “estratégia”. Só muito a custo o Executivo China anunciou esta sema-
Não foram compradas luvas, máscaras ou Portugal continuou tranquilamente à foi acabando por tomar as decisões que a na que a Academia Militar
gel com solução de álcool. Não se prepara- espera de que o vírus passasse ao largo, tal- sociedade civil reclamara com antecedência. de Ciências desenvolveu “com êxito”
ram salas de quarentena nos hospitais. As vez por efeito do anticiclone dos Açores. A E até a declaração do estado de emergência uma vacina contra o novo Coronavírus
linhas de atendimento telefónico entraram quarentena só foi recomendada in extremis, foi feita contra a sua vontade… ■ e está preparada para iniciar testes
clínicos em humanos. A vacina foi
desenvolvida pela equipa liderada

A saga dos pelo epidemiologista Chen Wei, com


a participação das universidades de
Pequim, Tsinghua e Xiamen.

ventiladores Vários outros medicamentos des-


tinados a diminuir a virulência do

N
um dia a Ministra Covid-19 e a reforçar as defesas natu-
da Saúde não sabia rais do corpo humano estão também
DR

‘Pacote’ de
quantos ventiladores a ser preparados na China – adiantou
existiam nos hospitais portu- o Ministério – e os ensaios clínicos
gueses. No dia seguinte, o deverão começar em Abril.

socorro económico Primeiro-Ministro apressa-


va-se a revelar que, afinal, o
Governo sabia quantos: mais
Também esta semana, o Instituto
Nacional de Saúde dos Estados Uni-

D
epois de ter-se inteirado das medidas económicas exactamente, 1.142. Simples- dos da América anunciou ter pronta
de emergência adoptadas pela União Europeia para mente (e há sempre um ‘mas’ para testes uma vacina contra o contá-
evitar a falência generalizada das economias co- quando António Costa fala) gio pelo novo Coronavírus. Ao longo
munitárias (medidas que farão entrar nos cofres do estado “não estão todos disponíveis” das próximas seis semanas, 45 pessoas
Português quase dois mil milhões de euros, numa primeira para a pandemia de Covid-19, voluntárias (com idades entre os 18 e
fase), o Governo socialista anunciou por seu turno um “pa- “porque há outras necessida- os 55 anos) participarão nos ensaios. A
cote” de socorro à economia nacional. des”. Por entre os episódios vacina norte-americana está a ser de-
caricatos desta tragicomédia, senvolvida por cientistas do Instituto
Os Ministros das Finanças e da Economia garantiram ter especialistas revelaram que, Nacional de Alergias e Doenças e pela
DR

assegurada a concessão de linhas de crédito (a reembolsar num cálculo generoso, Por- empresa biofarmacêutica canadiana
em quatro anos) destinadas, sobretudo, à restauração, ao tugal deverá ter um máximo de 600 ventiladores prontos a serem Medicago.
turismo, a hotéis e empreendimentos turísticos e à indústria utilizados em doentes de Coronavírus.
extractiva, têxtil, do vestuário e da madeira (num total de Já a Comissão Europeia anunciou
três mil milhões de euros); no sector financeiro, moratória Três semanas depois do início da propagação do vírus em há dias que disponibilizou 80 milhões
de capital e juros para empréstimos, eliminação das taxas Portugal, o Governo de António Costa decidiu-se finalmente de euros ao laboratório privado ale-
mínimas cobradas aos comerciantes nos pagamentos por a comprar mais ventiladores e a investir pela primeira vez em mão que está a trabalhar numa po-
meios electrónicos; e flexibilização das obrigações fiscais e testes de diagnóstico. Mais uma vez, a iniciativa nem sequer foi tencial vacina. “Espero que possamos
contributivas, entre outras medidas. sua: o Executivo do PS limitou-se a concorrer a um “pacote” de ter a vacina no mercado, talvez antes
aquisição global de ventiladores e ‘kits’ anunciado pela União do Outono”, revelou Ursula Von der
Ler análise da crise económico-financeira global nas Europeia. E depois não gostam de que se diga que este Governo Leyen, presidente da Comissão Eu-
páginas centrais desta edição. ■ anda a reboque dos acontecimentos. ■ ropeia. ■
8 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Estado de Emergência

Imbecis, incompetentes
e cobardes fez mal. Vai sendo tudo feito em fases, aos
safanões, ao sabor do vento, de modo a
tapar buracos, sem qualquer estratégia ou
NUNO ALVES objectivo concreto e de futuro, sobretudo
CAETANO sem antecipar nem minimizar estragos.

Enquanto víamos um pouco por toda

A
situação de crise mundial não per- a parte os Governos a encerrarem espaços
mite meias tintas e muito menos o públicos, constatamos que a DGS (em con-
chamado politicamente correcto. luio com o Governo PS) reabria museus e
Este Governo socialista demonstrou clara recusava-se a encerrar os estabelecimentos
e inequivocamente ser um grupo de ami- de ensino. Enquanto víamos, por exem-
galhaços sem qualquer qualificação para os plo nos dois países citados, serem tomadas
cargos que ocupam nem com capacidade medidas drásticas contra os infractores da
para nomear responsáveis por pelouros quarentena estabelecida, por cá, deparáva-
fundamentais ao país. Em suma, não se mo-nos com o triste espectáculo de ver as
trata de um Governo mas de um Desgo- praias cheias de energúmenos (alunos) de
verno, de um grupo de amigalhaços que escolas que haviam decretado voluntaria-
se protege entre si. mente “quarentena” sem que o Governo
tomasse medidas imediatas para sancio-
Já aqui assinalei e enumerei num an- nar os prevaricadores. Como? Cercando "Houve falta de coragem para fechar
terior artigo alguns exemplos da imbeci- as praias com militares e forças policiais as fronteiras, da responsabilidade do
lidade de vários Ministros, os quais, pelos obrigando à identificação dos “meninos” Presidente da República mas que o Governo
vistos, continuaram e continuam a gozar do e “meninas” com a pronta detenção de imediatamente deveria ter sugerido"
incondicional apoio do Primeiro-Ministro quem não tivesse a respectiva identificação

DR
António Costa. e a aplicação imediata da lei, isto é, da apli-
cação da respectiva multa. Cobardia pura. Falta de noção de gestão porque facil- guns ditados portugueses, de que gosto
Cingindo-nos apenas à saúde e aos seus mente se compreende que seria muito mais tanto pela clareza da mensagem, como, por
responsáveis – Ministra e DGS – pois este Espectáculo degradante foi a confe- eficaz em termos sociais, de saúde pública exemplo, “diz-me com quem andas, dir-te-
é o tema do momento, questionamo-nos rência de imprensa da Ministra da Saúde e em resultados financeiros “encerrar” o -ei quem és”, ou “tão ladrão é o que rouba
como é possível que ninguém tenha sido coadjuvada pela Directora da DGS e ou- país durante duas semanas do que manter o como o que fica à porta” – este aplica-se em
destituído do cargo perante tudo o que se tro membro da respectiva direcção onde, país a meio gás com os serviços a funcionar muitos sentidos – e por último “quem cala,
passou até ao momento. Só a conivência novamente, mostraram ao país toda a sua proporcionando a continuação da propa- consente”) fica irremediavelmente com o
partidária, o “tacho” e a falta de vergonha incompetência e imbecilidade através da gação do vírus. Com o país em quarentena ónus da responsabilidade das consequên-
o justificam. mensagem transmitida. Quando se pensava absoluta, como acontece actualmente em cias de tão desastrosa forma de conduzir
que, tardiamente, mas finalmente, iam ser Itália e em Espanha e como aconteceu em o combate ao COVID-19.
Uma Ministra que, além de não saber anunciadas medidas eficazes de combate Macau e na China, o resultado seria muito
falar, só diz asneiras, algumas delas ofensivas à pandemia, eis senão quando acontece mais seguro a todos os níveis, a duração da Se António Costa não teve a coragem
para a população e para os profissionais da precisamente o contrário, deixando a po- pandemia muito mais curta e o número de demitir a Ministra da Saúde, que de-
saúde, uma Directora da DGS que cada vez pulação completamente atónita. As que de infectados, substancialmente menor. monstrou desde o primeiro segundo não
que abre a boca, ou entra mosca, ou sai se seguiram não fugiram muito à regra. Paralelamente, não há coragem política ter qualquer aptidão para o cargo a não
asneira (e da grossa) só têm um caminho: Estatísticas, muito palavreado para no final para o fazer porque para esta gente do ser o possível “cartão do Partido” ou ser
destituição. não dizerem nada. PS, em primeiro lugar estão os votos e só amiga, nem para demitir a Direcção da
depois a causa pública. O receio de que as DGS, perante mais este descalabro socia-
Frases como “O corona vírus não vai É claro que 24 horas depois, surge o pessoas reagissem mal ao facto de terem lista, cujo Executivo tem já antecedentes
chegar a Portugal”, “Não entrem em pânico Primeiro-Ministro a dar o dito por não dito, de ficar encerradas em casa durante duas gravíssimos como Pedrógão e outros, para
até nós dizermos”, “Recorram às hortas do não por mote próprio mas a isso obrigado semanas semeou o pânico (esse sim verda- os portugueses ficarem descansados quanto
vizinho”, “O corona vírus até vai ser bom pelas instâncias internacionais, facto que deiro) nas hostes socialistas e daí talvez o ao futuro seria bom que ‘quem de direito’
para Portugal”, “Não há razão para alarme”, aliás o deve ter incomodado bastante – fenómeno da corrida ao papel higiénico. demitisse António Costa.
afirmações de que “Estamos preparados” via-se no ar comprometido e linguagem Falta de coragem para fechar as fronteiras,
para uma semana depois se afirmar “Não utilizada durante a comunicação ao país da responsabilidade do Presidente da Re- António Costa, devido à sua incom-
houve tempo para formação” são apenas – demonstrativos da total incompetência pública mas que o Governo imediatamente petência e incúria, ficará, mais uma vez,
alguns dos exemplos da imbecilidade e deste Desgoverno, informando o encer- deveria ter sugerido. Igualmente, António moralmente responsável pela morte de
incompetência do Executivo socialista. ramento dos estabelecimentos de ensino. Costa, como aliás já demonstrou no passado muitos portugueses.
recente, não tem coragem para demitir
Perante a catástrofe chinesa – de que No meio de toda esta calamidade, um ninguém nem para agir perante qualquer Nota: Uma ressalva para felicitar e dar
só saberemos uma parte – e da calami- Serviço de Saúde 24 inoperacional, e pago! crise, atirando sempre para terceiros as os meus sinceros parabéns ao Dr. Miguel
dade italiana, infelizmente servindo de (entretanto passou a ser gratuito), a funcio- culpas do seu insucesso. Albuquerque, Presidente da Região Autó-
exemplo para os demais países, o que fez nar mal, por vezes a nem sequer funcionar. noma da Madeira, e a todo o seu Executivo,
e que medidas tomou o Governo do PS, António Costa, para além de ter cha- pela lucidez, sentido de Estado e coragem
liderado por António Costa, que chamou Desgoverno este que demonstra uma mado a si o comando deste processo, o demonstrados, e pelo exemplo do que é
a si a gestão do processo? Nada, a não ser completa falta de noção de gestão e co- que desde logo o torna conivente com a agir em defesa do interesse dos cidadãos
dizer asneiras; e quando fez alguma coisa, bardia política. incompetência alheia (fazendo jus a al- e, neste caso, da Região. ■
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 9

Estado de Emergência

E no meio da tragédia…
Algumas notícias já fazer adaptações num ventilador de
forma a ele poder ser utilizado por mais
sobre a pandemia do que um paciente.

de Covid-19 ▶ No Reino Unido, o Governo de Boris


Johnson está a trabalhar em conjunto com

permitem alimentar laboratórios privados para aumentar a pro-


dução de ventiladores. Às muitas empresas

o optimismo e a
de produtos médicos mobilizadas para
este esforço, como a Unipart, juntaram-se
outras, dispostas a adaptar as suas linhas
esperança: no de produção, como a Rolls Royce.

meio da tragédia, ▶ No Porto, um empresário de Cam-


panhã disponibilizou-se para produzir

nem tudo é mau.


máscaras para o pessoal da Câmara Muni-
cipal. O material destina-se, para já, a fun-
cionários municipais que contactem com

DR
o público, mas a Edilidade anunciou que
▶ João Nascimento, um português que no novo projecto (já baptizado como intervenção na luta contra o Covid-19”, as máscaras “poderão também vir a ser
estuda Neurociência na Universidade de ‘Open Air’), incluindo académicos e in- contou João Nascimento ao jornal ‘Ob- distribuídas pela autarquia à rede social,
Harvard, nos Estados Unidos, lançou um vestigadores de universidades de todo o servador’. corporações de bombeiros voluntários e
apelo na internet com vista a conseguir mundo. às empresas de transporte, como STCP”.
reunir uma equipa de técnicos e cientis- Enquanto o projecto inicial avança, a
tas que, gratuitamente e sem reserva de “Temos actualmente uma equipa exe- junção de esforços já permitiu explorar ▶ Tanto na China como em Itália, dois
direitos de autor, concebesse um novo cutiva de 12 Administradores, 40 ‘mana- “diversas abordagens nas áreas da pre- dos três países mais afectados pela pro-
modelo de ventilador médico para ser gers’, centenas de ‘channel leaders’ a gerir venção, contenção, assistência remota, pagação do vírus (o terceiro é o Irão), a
usado em doentes com o Coronavírus. cerca de 2.500 engenheiros, ‘designers’, aplicações móveis, propagação de pande- paralisação da vida económica e social
‘software developers’, tradutores, médicos mias, controlo de temperatura, soluções teve uma consequência positiva: diminuí-
À hora de fecho desta edição, quase e enfermeiros, advogados, investigadores em cuidados ambulatórios”; e um médico ram drasticamente as emissões poluentes
três mil pessoas trabalhavam via internet nos mais diversos projectos nas áreas de espanhol ligado ao ‘Open Air’ conseguiu do ar. ■

Coronavírus e Fisioterapia
LUÍS COELHO todos em risco. Não há higiene terapeutas num novo contexto já estamos mortos e a luta é iní- Ninguém pode ser subtraído
Fisioterapeuta e escritor manual possível quando se tratam “de banco”, e até nocturno. Os qua. A atitude terapêutica é uma ao contacto. A própria equipa de
dezenas de doentes em simultâ- cuidados de enfermagem, ‘per potência de “vida”, e a morte é saúde vai ter de aligeirar as antigas
neo. Há, apenas, a pertinência se’ muito respeitáveis, não são vencida quando se vence o pró- querelas. As luvas não são para ser

O
que diferencia genuina- da higiene dos comportamentos, “Fisioterapia respiratória”. E “Ci- prio medo. Para este objecto não tiradas só num momento de due-
mente a Fisioterapia das que se vendem como receitas a nesiterapia respiratória” é um há zona de quarentena, há, sim, lo. Podem ser mantidas e permitir
outras práticas de saúde pacientes desinvestidos e sem o conceito esquivo, e não exclusivo zona de guerra “libidinal”, onde que as mãos se façam presentes.
ligadas à motricidade é o toque. O necessário acompanhamento aos fisioterapeutas. O método o contacto é seguro e aprovável. Por sua vez, as máscaras consen-
contacto manual funde-nos com ciente. A individualidade possi- específico destes profissionais Zona de Eros, em que o poder e a tem muitas vezes que as outras que
o paciente, laborando um objecto bilita encadear ciência de “grupo” possui um alcance único, “evi- “luta pela sobrevivência” se fazem usamos sempre se façam de fra-
comum. O caminho é racional e e racionalidade personalizada. dente” e, mais do que nunca, de uma só bênção. gilidade. Num país onde o papel
idiossincrático. A multiplicação Mesmo em contexto de pânico, imprescindível. higiénico se esgota, devemos, cada
do Coronavírus não mata a ra- em “estado de sítio”, é possível e Não deixemos, portanto, que a vez mais, tirar as fraldas. Para que
cionalidade ou a individualidade, recomendável “parar” para que Paciente e o próprio terapeuta “potência” estrague o objecto do o sol nasça para todos, na praia
antes exponencia a sua necessida- uma estratégia seja esboçada com são os agentes de um processo sofrimento, que é o de crescer e dos hóspedes divinos.
de. Porque uma situação inédita coerência. que não se inicia ou finaliza no redimir os erros do passado. Se
implica medidas criativas. E por- imediato. O imediato é o ineren- não estivermos à altura, sobrevi- É por isso que exorto os tera-
que uma condição de “excepção” É verdade que algumas tare- te espaço terapêutico em que o veremos de esquecer o pretérito peutas a darem o máximo de si,
obriga à coragem moral de estar fas “fisioterapêuticas” podem ser tempo se esgota na fusão de um e de varrer os destroços para de- num paradigma de segurança e
“com”, sem o desabrigo da qua- consideradas adiáveis. O que, de caminho, do qual deve sobressair baixo de um tapete “vermelho” dignificação. As regras e a ciência
rentena tácita. mais a mais, convida ao desem- um equilíbrio contagioso. A crise por cima do qual caminharemos só fazem sentido num clima de
prego dos profissionais precá- é a oportunidade de melhorar ca- com o orgulho e um falso arre- razoabilidade e abnegação. Para
Muitos “modernos” gostariam rios. Mas é também verdade que pacidades e de desenvolver novas pendimento. O actual “estado que não acabemos a escolher os
que a Fisioterapia fosse progres- certas necessidades irão urgir, valias. Um vírus é, bem vendo, de excepção” também desperta pacientes mais “produtivos” e a
sivamente massificada e desindi- obrigando ao encadeamento de uma proa de (re)acção onde se passados ressentidos e “ajustes negar-nos à velhice. Para que nós
vidualizada. Conseguiram, sim, uma nova dinâmica. Necessida- devem deslocar todas as sinergias. de contas”. Compete aos profis- mesmos nos tornemos velhos rea-
que o número exponencial de des “respiratórias” e de exercício Só isto pode repudiar o clima de sionais dar o exemplo da acção lizados e contaminados de “boa
pacientes nas clínicas colocasse não podem deixar de recrutar os morte e apreensão. Doutro modo, objectiva, altruísta e equitativa. vontade”. ■
10 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Sem papas na língua – a página de Maria d’Aljubarrota

’Tamos juntos, me’Irmão!


Q uando, no dia 12 de Março, ouvi
António Costa dizer que “esta é
uma luta pela nossa própria so-
a oposição se limitasse a André Ventura,
o perigo não passara: o esboroamento
das suas anteriores alianças à esquerda
políticos estão convergentes”. E a verdade
é que os seus ministros de cara monótona,
os antigos aliados que juravam fazer-lhe a
brevivência”, não pude deixar de esboçar ameaçava escangalhar o equilíbrio que vida negra, os próprios direitinhas que fin-
um sorriso. Por uma vez, aquele homem o mantinha, desde Outubro, no pino do giam ser oposição ladrando-lhe às canelas,
falava verdade. trapézio parlamentar. Cheirava a pânta- até os telejornais, e (acredite-se ou não)
no. E até o Presidente da República, que até mesmo André Ventura se juntaram à
Há apenas duas ou três semanas, a tão complacente se mostrara no passado, volta de António Costa, pastorinhos em
sobrevivência de António Costa não era avisava já que se respirava um ar de fin de adoração, jurando-lhe a convergência que
uma coisa garantida. O seu Governo siécle. Ou seria de fim de ciclo? ele reclamava.
desgastava-se inexoravelmente, os seus
ministros entravam em curto-circuito, as Por isso eu sorri, quando António Costa Eis a união nacional, de novo presidida
suas caras tinham-se tornado cromos can- viu clarear o dia da sua própria sobrevi- por Marcelo.
sativos em telejornais viciados de mono- vência. Para tanto, explicou ele sem ro-
tonia. Um bocejo. E embora à sua direita deios, “é essencial que o país sinta que os Marcelo Rebelo de Sousa. ■

Onde se meteu a Senhora


Dona União Europeia? mariadaljubarrota@gmail.com

E Tranga-
stavas, linda UE, posta em sossego, quando subitamente Estavas, linda UE, contemplando a federação das tuas
te chamaram ao guichet: era um vírus que pedia audi- plebes quando te levantaram fronteiras. Punha-se o sol no
ência. Ursula estava em reunião, veio Lagarde espreitar horizonte quando deste conta da tua impotência.
o maçador – e enxotou-o com promessas.

lhadanças
Estavas, linda UE, organizando uma excursão ao Novo
Estavas, linda UE, cismando em teu umbigo, sonhando Mundo quando o Tio Sam t’a proibiu. Raiava o sol no Oci-
alto a força da tua própria união, quando te bateu à porta um dente quando o protesto te morreu na garganta.
vírus: dormindo a sono solto, não te despertaram as batidas.

N
Da rua ouvia-se um suave ressonar. Estavas, linda UE, posta em sossego, de teus anos colhen- o momento da aflição,
do doce fruto, quando te bateu à porta um vírus. Mas tu, tão quando o céu nos desabou
Estavas, linda UE, desvanecendo-te ao espelho quando absorta naquele engano da alma, ledo e cego, que a fortuna em cima e a pestilência da
Emmanuel quis retocar-te o rouge com o vírus da petulân- não deixa durar muito, não o ouviste. febre ameaçou tirar-nos a vida,
cia. Tão mal o fez que as caretas de ambos assustaram o os partidos políticos portugueses
próprio susto. Ai, Deus, e UE? ■ mostraram a sua mais completa
inutilidade. A excrescência que
são nas nossas vidas reais.

Termos de comparação O funâmbulo Ignorados, reduzidos ao si-


lêncio, descartáveis como bone-

C ompreendo.

Compreendo a dúvida, a
E i-lo, pontas dos pés no
fio do equilibrismo, flu-
tuando sobre os partidos que
cos quebrados, envergonhados
da sua própria inanidade, ratos
escondidos no seu buraco, não
angústia, o medo, o pânico. Com- esvaziou. Vai de um ponto nos fizeram a menor falta. Não
preendo a prevenção, a máscara, a a outro, sulca entre A e B. desejámos a sua companhia, o
luva. Compreendo a quarentena, o Talvez caia. Talvez não. seu conselho, o seu apoio. Não
lazareto, o álcool em gel, o perdigoto, tivemos saudades. Não chamámos
o espirro. É inimputável, pois por si por eles. Não nos lembrámos de
falarão, em caso de desaire, nada que tivessem dito e nos fi-
Compreendo os duzentos mil aqueles que lhe esticaram zesse proveito.
infectados, os oitenta mil curados, a corda.
os sete mil mortos. O eco da sua vozearia soava-nos
DR

Sendo inimputável, pôde ainda nos ouvidos, das arengas


DR

Mas em meio do sobressalto do durante mais de cinco anos em que nos tinham mantido hip-
nosso Covid-19 socorre-me a me- dormitar sobre um equívoco. Chegou ao vírus totalmente im- notizados – mas este não era já o
DR

mória. A peste negra, trazida pela preparado. O Serviço Nacional de Saúde em caos. Sem gente. seu tempo. As caraças espectrais
pulga do rato preto, de 1346 a 1353, sete anos em que a megera Desprovido de meios, oportunamente “cativados” por outro das Catarinas, dos Jerónimos, dos
da gadanha ceifou cem milhões de vidas, da Crimeia a Lisboa, malabarista. Sem equipamentos. Sem organização. Rios, dos Almeidas, das Joacines,
metade da população de Portugal dizimada, corpos insepultos dos Ferros, os fantasmas de todos
gerando novas pestes. Mas a cordata oposição, domesticada à trela, deixa que o esses trangalhadanças de pesadelo
funâmbulo prossiga a sua travessia de equilibrista. Nem se atreve eram agora peças de um museu
E em meio do sobressalto do nosso Corona socorre-me a me- a invectivá-lo, não vá ele cair. Também as gazetas desejam que que ninguém visita.
mória da Pneumónica de 1918, outros cem milhões sepultados, singre, pois sem ele não há circo.
oitenta mil só em Portugal, só em alguns meses. De um momento para o outro,
O presidente da grande união nacional ofereceu-lhe um obsoletos. Obliterados de cena,
Compreendo a angústia do nosso Covid. Mas socorre-me a grande chapéu e tirou com ele um grande retrato, antes de por absolutamente desnecessá-
memória. ■ lhe desejar uma grande viagem. ■ rios.■
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 11

Estado de Emergência

Um combate de todos
DR

DR
DR

DR
DR
DR
DR

DR

DR
12 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Estado de Emergência

Tempos de guerra na Econ por MARTA BRITO

De dia para dia a situação da economia piora. Depois


da crise dos mercados e do colapso previsível do
sector do turismo, Portugal, tal como os outros países
da União Europeia, está a viver numa situação em
que se sucedem os encerramentos das unidades
produtivas e do comércio. Uma situação de cascata
em que uns sectores vão ‘puxando’ os outros
Quando a crise de saúde pública for debelada,
para a impossibilidade de continuarem abertos e o declínio das economias fará abrandar a circulação
de pessoas e agravará a crise no turismo
conseguirem pagar a fornecedores e trabalhadores.

DR
A
semana começou com Mário Cen- da Zona Euro, que teve lugar por videocon- no apoio às economias, apontando que “a novo coronavírus, que ameaça seriamente
teno, no seu papel de presidente do ferência. flexibilidade está lá, e será integralmente mergulhar a economia europeia na recessão.
Eurogrupo, a afirmar que o surto de utilizada”. Centeno refere que “os esforços
Covid-19 está a ter um impacto na economia Foi um Eurogrupo “dedicado às conse- nacionais” são complementados com as “ini- Medidas na UE
como em “tempos de guerra”. E numa altura quências económicas deste vírus”. Centeno ciativas lideradas pelas instituições europeias, As medidas orçamentais de Bruxelas para
em que escasseiam certezas e crescem todas adiantou logo de início que ia apresentar com a Comissão Europeia, Banco Europeu apoiar os países europeus afectados pelas con-
as dúvidas, Centeno quis dar um tom de op- “uma declaração que estabelece uma resposta de Investimento (BEI) e também o Banco sequências económicas do novo coronavírus
timismo e garantiu que a Europa recorrerá a política coordenada da UE”, que “contém Central Europeu (BCE)”. “Juntos, estamos equivalem a 1% do Produto Interno Bruto
todas as suas armas para travar uma batalha iniciativas para travar e tratar a doença, apoio a a dar uma resposta poderosa. Mas sabemos (PIB) dos Estados-membros, divulgou o Euro-
que antecipa “longa”. nível de liquidez às empresas, particularmente que o vírus não atingiu o seu pico. Não pode- grupo. “Já decidimos um pacote de medidas
às PME, apoio a trabalhadores e famílias”. No mos ter ilusões: estes são os primeiros passos orçamentais de cerca de 1% do PIB, em média,
“Estamos a viver num estado de emer- fundo, acrescenta, “medidas que ajudarão a numa luta temporária mas longa”, completa para apoiar a economia em 2020”, informa
gência com este surto de coronavírus. O colmatar este fosso até que o vírus esmoreça”. Mário Centeno. em comunicado o Eurogrupo, numa alusão às
confinamento forçado está a trazer as nossas garantias de flexibilidade dadas pela Comissão
economias a tempos semelhantes aos de uma O presidente do fórum informal de mi- Os ministros das Finanças europeus Europeia e dos apoios de Bruxelas à liquidez.
guerra”, declarou Mário Centeno, na men- nistros da Zona Euro assegura ainda que “as reuniram, com sentido de urgência “sem
sagem de vídeo, divulgada antes do início regras da UE a nível orçamental e de ajudas precedentes”, para acordarem medidas que Na nota divulgada após uma reunião
de uma reunião de ministros das Finanças de Estado não constituirão um obstáculo” mitiguem o impacto económico do surto do por videoconferência, o Eurogrupo garan-
te “acompanhar a situação muito de perto,

Standard and Poor's prevê défice de 0,3% em Portugal


estando em contacto permanente e coorde-
nado para dar uma forte resposta da política
económica à situação excepcional”, mas não

A
agência de notação financeira Standard and Poor’s (S&P) com o petróleo a contribuir também para a descida nas importações. dá conta de qualquer medida adicional às
considera que “os riscos económicos do coronavírus são anunciadas nos últimos dias pelo Executivo
consideráveis, dado que mais de um quinto das receitas “Esta é uma ‹espada de dois gumes”, pois baixos preços no comunitário e pelo Banco Central Europeu
externas (e cerca de 8% do valor acrescentado bruto) vêm do tu- petróleo significam menor procura externa, para além de uma vo- (BCE), que avançou com estímulos à estabi-
rismo”. A S&P decidiu, apesar disso, manter o ‘rating’ e perspectiva latilidade considerável nos mercados financeiros globais. A balança lidade financeira.
de Portugal (manutenção em ‘BBB’ e positiva, respectivamente). comercial a encolher (juntamente com menos crescimento) será,
para além disso, marcada particularmente por menos exportações “Os nossos compromissos reflectem a
A S&P prevê ainda um “crescimento em U” da economia automóveis”, assinala a agência. nossa forte determinação em fazer o que for
portuguesa começando no segundo trimestre, à medida que a necessário para enfrentar os desafios actuais
situação externa se desenvolve, mas ninguém sabe como vai evoluir O ministro de Estado e das Finanças considerou que a manuten- e restaurar a confiança, visando uma rápida
a economia Mundial e portuguesa. “Tendo um pano de fundo de ção da perspectiva positiva sobre o ‘rating’ de Portugal pela Standard recuperação” económica, assegura o Eurogru-
crescimento incerto, é provável que o Orçamento volte a um défice & Poor’s reflecte a trajectória de crescimento e robustez das contas po no comunicado. Os ministros das Finanças
de 0,3% este ano, antes de regressar a um excedente de 0,2% em públicas que o país conseguiu alcançar. “É uma notícia que, num da UE abordaram também os compromissos
2021”, refere a S&P, que prevê que em 2019 se tenha registado um contexto difícil do ponto de vista económico e financeiro que hoje assumidos de “providenciar mecanismos de
saldo orçamental positivo de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). enfrentamos, reflecte aquilo que foi a trajectória de crescimento liquidez equivalentes a pelo menos 10% do
e de robustecimento das contas públicas que Portugal conseguiu PIB, que consistem em regimes públicos de
Apesar do avolumar da crise, a agência estima um crescimento concretizar”, afirmou Centeno. garantias e adiamentos de pagamentos de
do PIB de 1,3% em 2020 e de 1,9% em 2021. Em termos de rácio impostos”.
da Dívida Pública face ao PIB, a S&P prevê que baixe dos 100% em O governante sublinhou que entre 2016 e 2019 o crescimento
2023, “assumindo que a economia acelera novamente na segunda médio do PIB foi de 2,6%, sendo “um dos mais altos da União Eu- Na declaração conjunta, o Eurogrupo
metade de 2020 e que o Governo regressa a um saldo primário ropeia. É uma perspectiva positiva que continua a deixar-nos com manifesta ainda “solidariedade para com os
acima de 3% do PIB em 2021”. confiança de que no futuro essa notação possa vir a ser melhorada”. cidadãos e os Estados-membros particular-
Mário Centeno adiantou que vai rever em baixa a estimativa de mente afectados por esta crise, e gratidão por
Face ao Covid-19, a S&P prevê uma descida no excedente da crescimento do PIB para este ano, não adiantando um valor, mas aqueles que arriscam a sua própria saúde para
balança de serviços e no défice da balança de bens, neste último sublinhou que os portugueses devem estar confiantes na capacidade salvar vidas”. “Saudamos todas as medidas
“em particular à medida que caem as importações de bens duráveis”, da economia para enfrentar as dificuldades devido ao Covid-19. ■ adoptadas pelos Estados-membros e pela Co-
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 13

Estado de Emergência

nomia
Recorde-se que o Orçamento de Estado
para 2020 foi aprovado em Fevereiro, numa
altura em que o cenário nacional e interna-
cional era radicalmente diferente, pelo que
Madeira em “recessão absoluta”
S
o impacto da crise do Covid-19 na economia e no Continente a situação é muito uma ameaça mortal e temos que hie-
não está reflectido no documento. Marcelo complicada, na Madeira, depois da rarquizar as coisas, salvaguardar a nossa
vai pedir mais explicações a Mário Centeno, vaga de problemas sociais causados vida e saúde e depois salvar a economia”,
missão Europeia e, perante estas circunstâncias e o cenário de ser necessário ‘actualizar’ o OE pelo regresso de muitos cidadãos vindos sustentou, reforçando que o Governo
excepcionais, concordamos que é necessária 2020 está em cima da mesa. de uma Venezuela em tumulto, o clima é Regional vai “fazer tudo para que as fa-
uma resposta política imediata, ambiciosa e de total crise. O Presidente do Governo mílias e as empresas sejam apoiadas”. A
coordenada”, acrescenta. “Responderemos Ainda durante o período de quarentena da Madeira considerou que a região vive Madeira avançou já com um primeiro
com rapidez e flexibilidade aos desenvolvi- que cumpriu na sua casa de Cascais, o PR pro- um dos momentos mais difíceis, com a pacote de medidas. Assim, foi decidida
mentos à medida que ocorrem. Usaremos mulgou “o diploma do Governo que aprova as economia a viver uma “fase de recessão “a redução do número de efectivos a
todos os instrumentos necessários para limitar medidas extraordinárias e de carácter urgente absoluta”, anunciando a preparação de prestar serviço presencial ou atendimen-
as consequências socioeconómicas do surto de resposta à situação epidemiológica do novo medidas de apoio às famílias e empresas. to para metade em cada organismos e
de Covid-19”. coronavírus”, ou seja, o primeiro pacote que sector empresarial da região”. Por ou-
o Executivo de António Costa apresentou. O “É preciso perceber que estamos numa tro lado, o atendimento ao público dos
Défices disparam Ministro das Finanças referiu na altura que o situação muito grave, das mais graves por vários serviços será efectuado apenas
A Comissão Europeia foi a primeira a ad- impacto na despesa orçamental das medidas que a Madeira passou, e tudo o que acon- em “situações urgentes, inadiáveis e que
mitir como “muito provável que o crescimento relacionadas com o novo coronavírus então tecer vai depender de factores que não não possam ser efectuadas por meios
na Zona Euro e na União Europeia como anunciadas são da ordem dos 300 milhões controlamos e do comportamento cívico electrónicos, também para proteger os
um todo caia para abaixo de zero este ano, de euros. que temos”, declarou Miguel Albuquerque funcionários”, acrescentou. O executivo
e potencialmente consideravelmente abaixo numa conferência de imprensa onde fez regional decidiu “instituir o regime de
de zero”, segundo o responsável máximo da Mário Centeno garantiu que as medidas o ponto da situação relacionado com o jornada contínua, entre as 10 e as 16
Direcção-Geral de Assuntos Económicos e “têm um impacto que é enquadrável no de- Covid-19. horas” e solicitar a todos os organismos
Financeiros da Comissão Europeia. Maarten senho do Orçamento do Estado” aprovado e entidades públicas que “adoptem me-
Verwey falava num ‘briefing’ para jornalistas na na Assembleia da República, mas sublinhou Miguel Albuquerque sublinhou que didas necessárias na simplificação dos
sede do Executivo comunitário, em Bruxelas, que o Governo estará disponível para “redese- esta é “uma situação de excepção” e que procedimentos administrativos”.
depois de uma conferência de imprensa da nhar e redefinir as medidas na dimensão que o “turismo está numa fase de recessão ab-
presidente da Comissão Europeia, Ursula tiver de ser feita para enquadrar o problema”. soluta”, isto numa região onde a actividade O Presidente do Governo Regional
von der Leyen, sobre a resposta da UE à crise “Estamos a falar não só de impactos que se turística é fundamental. O responsável in- da Madeira falava numa altura em que
provocada pelo novo coronavírus, sobretudo estimam já do lado da execução da despesa e sular anunciou que foi formado um grupo ainda não se tinha conhecimento de um
no plano económico. juntamos a estes impactos do lado da receita de trabalho com a Associação Comercial caso de Covid-19, pelo que queria fechar
com a previsível diminuição da receita”, acres- e Industrial do Funchal (ACIF), que vai o espaço aéreo da Madeira, e desde logo
“Aquilo a que estamos a assistir é a uma centou Mário Centeno. depois delinear “um conjunto de apoios decidiu instituir a quarentena obrigatória
previsão de crescimento que está a deteriorar- para as empresas e famílias”, porque esta a quem chega ao arquipélago. Miguel Al-
-se muito rapidamente. Em Fevereiro, publi- Novas contas pandemia do Covid-19 “vai ter um efeito buquerque pediu mesmo a intervenção do
cámos as nossas previsões de Inverno, e nessa O Ministro das Finanças explicou que o devastador na economia” da região. Presidente da República para encerrar os
altura ainda pensávamos que a economia da montante estimado em cerca de 300 milhões aeroportos da região, isto depois de não
UE cresceria 1,4% e a da Zona Euro 1,2%, de euros refere-se apenas às semanas que an- Ameaça mortal ter tido uma resposta positiva do Primeiro-
mas o que é claro face a tudo o que está a tecedem as férias escolares da Páscoa. Ou seja, “Neste momento estamos perante -Ministro ao seu pedido. ■
acontecer é que será necessário adaptar as estes 300 milhões são para um tempo muito
previsões e provavelmente de forma muito escasso e as novas contas são obrigatórias.
significativa”, afirmou Verwey. Mário Centeno referiu ainda que o impacto nentemente” as medidas promovidas pelo mocráticos dos seus membros”, avisam os
do primeiro pacote de medidas tem diferentes Executivo, e estimou um impacto de dois mil subscritores. Defendem que “a UE tem de
Recorde-se que a presidente da Comissão naturezas: apoio ao rendimento, em particular milhões de euros por mês na economia por- actuar já, não só para evitar o sofrimento da
Europeia anunciou uma verba de 37 mil mi- na área da Segurança Social, impacto na área tuguesa para promover medidas de apoio às sua população, mas também para se salvar
lhões de euros para apoiar o sector da saúde da saúde e também na liquidez das empresas. famílias à manutenção de postos de trabalho. a si mesma e os valores democráticos que
e as pequenas e médias empresas afectadas diz defender”. Querem medidas de apoio
pelo novo coronavírus, que começa a causar “Fizemos um percurso que nos trouxe a um As contas, já feitas, foram divulgadas pela à economia e avisam que é preciso acesso a
um “tremendo choque” económico. momento em que nós podemos ter confiança ministra do Trabalho, Solidariedade e Segu- financiamento de emergência, e isso impli-
na capacidade das contas públicas de enfren- rança Social, Ana Mendes Godinho, depois de ca permitir que os países acumulem agora
Portugal pode vir a arrecadar 1,8 mil tar este momento de dificuldade”, realçou o uma reunião extraordinária da Concertação elevados défices orçamentais, sem temerem
milhões de euros em fundos europeus para Ministro das Finanças, adiantando que essa é Social. pela sua capacidade de financiamento futura,
apoiar sectores afectados pelo Covid-19, na a “grande virtualidade dos processos de con- argumentam. “Neste contexto de enorme in-
saúde ou nas pequenas e médias empresas, solidação orçamental”. Mas com o prolongar Apelo ao BCE certeza, acreditamos que qualquer coisa seme-
no âmbito desse ‘bolo’ de 37 mil milhões. no tempo do Covid-19 nada está garantido. A semana começou também com um lhante à monetização do défice (possivelmente
manifesto de treze economistas de universi- com nome diferente) é uma parte necessária
Na prática, o Executivo comunitário pro- Recorde-se que o primeiro pacote de medi- dades portuguesas a defender um conjunto da solução”, defendem os economistas.
pôs redireccionar 37 mil milhões de euros de das anunciadas pelo Governo inclui um apoio de acções rápidas, face à crise. Afirmam que
investimento público europeu para fazer face financeiro excepcional aos trabalhadores por é preciso um programa de resposta econó- “Face a circunstâncias excepcionais, o
às consequências, tendo por base a opção de conta de outrem que tenham de ficar em casa mica e financeira financiado pelo Banco BCE tem de ser autorizado a financiar tal
Bruxelas de abdicar de reclamar aos Estados- a acompanhar os filhos até 12 anos, no valor Central Europeu. O manifesto, divulgado programa”, acrescentam, adiantando que
-membros o reembolso do pré-financiamento de 66% da remuneração base (33% a cargo pelo jornal ‘Negócios’, é assinado por Cátia “uma possibilidade é que o BCE o faça na
não utilizado para os fundos europeus estru- do empregador, 33% a cargo da Segurança So- Batista, Fernando Anjos, José Tavares, Pedro forma de empréstimos de longuíssimos pra-
turais e de investimento para 2019. cial). O Governo desenhou ainda o regime de Brinca e Susana Peralta (economistas da Nova zos (mais de 50 anos) a taxas de juro muito
‘lay-off’ simplificado, um apoio extraordinário SBE), Fernando Alexandre, João Cerejeira, baixas (possivelmente, zero) e, com certeza,
PR atrasa OE à manutenção dos contratos de trabalho em Luís Aguiar-Conraria, Miguel Portela e Odd com amortizações muito diferidas no tempo
Outro sinal inquietante foi o facto de o empresa em situação de crise empresarial, no Straume (da Universidade do Minho), Pedro e crescentes no tempo”. O manifesto coloca
Presidente da República ter decidido adiar a valor de 2/3 da remuneração, assegurando a Bação e Tiago Sequeira (da Universidade de ainda a hipótese de “medidas drásticas, como
promulgação do Orçamento do Estado, reve- Segurança Social o pagamento de 70% desse Coimbra) e Sandra Maximiniano (do ISEG, imprimir moeda para entregar a alguns secto-
lando como nova data o final desta semana. valor, sendo o remanescente suportado pela da Universidade de Lisboa). res da população e das empresas, ou a criação
Marcelo Rebelo de Sousa invocou, em nota entidade empregadora. das Eurobonds ou das European Safe Bonds”,
publicada no ‘site’ da Presidência, “a necessi- “A pandemia do Covid-19 é um evento sublinhando que “devem ser seriamente con-
dade de analisar mais detidamente o contexto Entretanto, a Ministra do Trabalho re- extremo que pode ameaçar a sobrevivência sideradas pelas autoridades políticas e pelo
que rodeará a sua execução”. forçou a necessidade de reavaliar “perma- da União Europeia (UE) e dos regimes de- Banco Central Europeu”. ■
14 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Análise O recanto semanal do pensamento político

Paralelos revolucionários:
o 5 de Outubro e o 25 de Abril (1)
Um artigo de
Pedro Soares Martínez

1
A síntese do 5 de Outubro
traçada por Joaquim Leitão
No seu “Diário dos Vencidos”,
escrito pouco depois dos acontecimentos
aí referidos, publicado no “Correio da
Manhã”, e, seguidamente, reproduzido, em
volume, logo no começo de 1911, Joaquim
Leitão, secretário-geral perpétuo da Acade-
mia de Ciências de Lisboa, figura grada da
intelectualidade portuguesa, traçou uma
síntese do movimento revolucionário de
5 de Outubro de 1910, na base do qual

DR
a República foi proclamada. E, logo no
prefácio dá obra referida, o seu autor fez as supostas cumplicidades, que tornaram mandante da Divisão de Lisboa, instalada encarregado de negócios da Alemanha”.
um resumo qualificativo do caso. Segundo possível, ou inevitável, o triunfo revolucio- no Palácio da Independência, que teria Nem isso, pois o corpulento alemão, já re-
esse resumo, “a revolução do 5 de Outubro nário. E começa por dar relevo particular a seu cargo a superior orientação da luta ferido, viria a ser encarregado de negócios
não foi uma batalha. Foi uma defecção. A ao facto de a conspiração revolucionária contra os revolucionários, recebeu pron- da Alemanha, mas ainda então não tinha
crise que bafejou a revolução não residia ter-se realizado “à luz do dia, sob a protec- tamente um alemão corpulento que lhe essa qualidade. Mas o bom do General
no princípio, mas no carácter. E numa ção de uma política da pusilanimidade”. disse ser o encarregado de negócios da não tratou sequer de apurar a identidade
deflagração destas não há um panorama Parece ter em vista, sobretudo, ou com Alemanha e desejar que fosse decretado do alemão e se tinha competência para
épico a desenrolar. O que há são traições a preferência, a “política de acalmação” um armistício, o qual permitisse resguar- aceder ao seu pedido.
surpreender, coincidências que lembram que, seguindo-se ao assassinato do rei dar, ou evacuar, os súbditos alemães. E o

3
cumplicidades, fraquezas que parecem Dom Carlos e do Príncipe, e permitindo bom do General, sem indagações prévias, As outras traições,
vendas, desorientações que passam por até públicas exaltações dos assassinos e que se impunham ao caso, prontamente cumplicidades e fraquezas
cobardias, e uma que outra audácia… da sua obra, levou a nação e até os seus passou ao alemão um papel, por ele assi- no relato de Joaquim Leitão
melhores servidores, a porem em dúvi- nado, pelo qual o armistício era concedi- As acusações de Joaquim Leitão aos
Nascida de uma conspiração feita à da a solidez das instituições. Essa dúvida do, recomendando ao dito alemão que o vencidos daquele dia 5 de Outubro de 1910
luz do dia, sob a protecção de uma po- constitui sempre o factor dominante para levasse à Rotunda, para conhecimento do atingem, entre muitos outros, governado-
lítica de pusilanimidade, sem ter dado o ruir dos regimes. Porquanto os povos comando revolucionário. Para isso forne- res civis que prontamente proclamaram a
combate nem conhecer a luta, o 5 de Ou- precisam sempre de confiar, para sua ceu também ao alemão dois soldados, três República nos respectivos distritos, o chefe
tubro rematou logicamente por triunfar própria segurança, na solidez do poder montadas e uma grande bandeira branca, do Governo e os seus ministros, cujo jaez
durante um armistício”. Joaquim Leitão ao qual se acham submetidos. Sem essa para segurança da deslocação à Rotunda. fica bem fixado, um por um, pelo relato
era monárquico, mas a severidade dos confiança, e não querendo hostilizar um Nem terá previsto o bom do General que a do último conselho de ministros da Mo-
seus juízos atinge, por igual, monárqui- admissível novo poder nascente, quase saída ostensiva do Palácio da Independên- narquia e pelo desinteresse manifestado
cos e republicanos. Talvez mesmo não todos acabam por abrir as portas das ci- cia daqueles mensageiros e da bandeira relativamente à segurança do rei e da famí-
dê todo o relevo devido aos três oficiais dades a qualquer horda revolucionária, branca que os cobria, seria, conforme foi, lia real. Também foram raros os dignitários
que ali perderam a vida, em defesa da ou a qualquer quadrilha de malfeitores. interpretada pelas tropas estacionadas que, naquele momento, acompanharam
Monarquia, Nem a todos quantos, e al- no Rossio e imediações, como rendição o rei, nas Necessidades, em Mafra e na
guns foram, os que procuraram honrar Tendo em vista a situação portugue- da Divisão de Lisboa, do comando anti- Ericeira, a caminho do exílio. Os ministros
os compromissos assumidos, perante a sa em 1910, à obra de pusilanimidade -revolucionário e da Monarquia. sumiram-se por completo, por vezes em
Monarquia, ou perante a Pátria. Também da “política de acalmação” acresceria os condições de medo e de grotesca falta
não se refere à persistência temerária de efeitos deletérios de todo o regime liberal, Os soldados amotinaram-se. E do alto de senso. Foi o caso entre muitos outros,
um revolucionário republicano, modesto que reduziu o respeito de muitos por va- do Convento do Carmo, o Comandante do Ministro das Obras Públicas e do Mi-
comissário naval, que, misturando os ra- lores humanos, sem obediência aos quais das Guardas Municipais, força policial nistro da Marinha. Este, aliás intelectual
ros seguidores, na balbúrdia feirante da a Monarquia passa a merecer um relevo militarizada e poderosa, possivelmente reputado, acabou por refugiar-se numa
Rotunda, lá se conservou, como centro formal que, para muitos, pode justificar também convencido da rendição, não hospedaria da qual era proprietário um
aparente da Revolução, tendo, por isso, ainda grandes devoções, mas não pesados confirmada, decidiu que a sua guarnição conhecido revolucionário. Mas entre todas
sido consagrado como fundador da Re- sacrifícios. Assim terão pensado muitos se rendesse e, à falta de bandeira branca, as traições, cumplicidades e fraquezas que
pública pelo novo regime. dos que claudicaram face àquele “5 de que não encontrou, desfraldou, sobre a andam ligadas ao “5 de Outubro” têm par-
Outubro”. Acresce que a paz prolongada, janela grande do quartel, que dá para o ticular relevo as respeitantes ao embarque

2 ■
As traições, as cumplicidades conjugada com os erros políticos do sécu- Rossio e agitou, ele próprio, um lençol, a do rei e da família real.
e as fraquezas nos quadros lo XIX, tinha elevado até altas posições fim de que não houvesse dúvida de que se [conclui na próxima edição]
do 5 de Outubro hierárquicas gente melhor ajustada ao tinha rendido. Estas duas atitudes corres-
Tendo renunciado a esboçar um pano- cumprimento de deveres burocráticos do pondem à síntese do 5 de Outubro e ao Ver Joaquim Leitão, Diário dos Vencidos,
rama épico, em torno do 5 de Outubro, e que às exigências da carreira castrense, ridículo que acabou por envolver todo o Porto, 1911; Gomes da Costa, Memórias, Lisboa,
face ao descalabro geral, Joaquim Leitão da carreira diplomática e até do sentido país, no qual, no dizer de Gomes da Costa, 1930; Soares Martínez, A República Portuguesa
prefere referir as fraquezas, as traições e comum das coisas. Por isso, o General co- “afinal a República foi proclamada pelo e as Relações Internacionais, Lisboa, 2001
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 15

Opinião

Injustiças (II - Conclusão)


as forças políticas que nos emboscavam as recurso para a Relação, Nuno Godinho de conhecimento do novo acórdão-surpresa
Tocar a Rebate tropas”. Do teor do referido artigo poderão Matos, que passou, nessa altura, a pasta a é que os recorrentes poderiam saber quem
alguns leitores inferir que MA cometeu o Afonso Duarte, filho de MA. Por um erro o lavrou!
Eduardo Brito Coelho crime de traição à Pátria, embora tal não burocrático…, a que BF e o seu defensor,
Coronel Engº (ref.)
seja dito expressamente por BF. Alexandre Lafayette, foram naturalmente Acresce dizer que BF não mentiu nos
alheios, o novo advogado, Afonso Duarte, elementos apresentados no seu artigo e o
No processo que lhe foi movido por MA, não recebeu uma notificação do Ministério que estava em causa não era saber se MA

O
que se tem passado na Justiça em BF foi absolvido em primeira instância, em Público (irrelevante, à partida, quanto ao cometeu ou não traição à Pátria, porque este
Portugal provoca a maior das des- 2014, tendo os juízes tratado o caso no âm- teor do acórdão já proferido), que terá sido eventual crime já tinha prescrito. Conclui-se,
confianças. Ao sentarem-se diante bito da liberdade de expressão, ancorados, enviada para Godinho de Matos. Devido a então, que BF foi condenado por delito de
de um juiz, os cidadãos tanto podem es- em particular, na Convenção Europeia dos este erro burocrático, veio a Relação a con- opinião, e daí se ter lembrado, na primeira
tar perante um magistrado honesto como Direitos do Homem. Face às provas produ- siderar que a decisão não tinha transitado parte desta crónica, o acórdão do Supremo
perante um burlão ou alguém vendido a zidas, consideraram que BF não cometeu em julgado, e, uma vez que Carlos Benido Tribunal de Justiça no recurso que opôs,
interesses obscuros. A dúvida instalou-se. qualquer crime. Foram testemunhas de BF se tinha, entretanto, jubilado, atribuiu, a recentemente, Rui Rangel ao CM.
Uma situação assim é meio caminho andado figuras da maior estatura moral, de que me coberto de confidencialidade, o processo
para que as pessoas sejam tentadas a fazer permito citar o Gen. Lemos Ferreira, o Alm. - não se sabe se por sorteio electrónico ou Tenho a esperança de que este caso do
justiça pelas suas próprias mãos. Vieira Matias, o Maj. Gen. Heitor Almendra, manual… - a dois novos juízes, ignorando tenente-coronel Brandão Ferreira venha a
o Cmdte. Alpoim Calvão e o Maj. António o juiz adjunto anterior. O relator passou a ser investigado no quadro do Processo Lex,
*** Lobato, tendo todos afirmado subscrever ser Luís Antero, e a sentença produzida, e também pelo CSM, até porque a reviravol-
Em 2010, o colaborador deste jornal, te- o artigo de BF. contradizendo em 180 graus a anterior, con- ta atrás descrita teve início em 2016, quando
nente-coronel (ref.) Brandão Ferreira (BF) denou BF a pesadas multa e indemnização! era presidente da Relação o desembargador
escreveu um artigo com o título “Manuel Tendo MA recorrido para a Relação, Luís Vaz das Neves, agora arguido. Não é
Alegre ‘combatente’, por quem?” em que, este Tribunal confirmou, em acórdão de Recorreu BF para o Tribunal Constitu- admissível que haja dualidade de critérios
com a frontalidade que lhe é reconhecida, que foi relator o desembargador Carlos cional, alegando a clara violação do prin- quanto ao princípio da liberdade de expres-
afirmou que Manuel Alegre (MA), quando Benido, a absolvição de BF, mas iniciou-se, cípio do juiz natural, tendo este Tribunal são entre o Tribunal da Relação de Lisboa
em Argel, nos anos 60/70, “não se limitou a então, um dos processos mais bizarros e indeferido a pretensão por não ter sido e o Supremo Tribunal de Justiça. Estamos
combater o regime, consubstanciado nos ór- revoltantes de que há memória em tribunais suscitada em tempo…, o que não parece perante uma nódoa feia e nunca é tarde
gãos do Estado, mas a ajudar objectivamente portugueses… Foi advogado de MA, até ao pacífico, uma vez que só após tomarem de mais para se fazer justiça. ■

Embaixadores do Brasil Comunidade dos Países de Língua Por-


tuguesa (CPLP), depois embaixador em
Lisboa. Integrado na vida cultural do país,

notáveis em Portugal
ele movimentou a embaixada de tal maneira
que, ao sair, mereceu a observação de seu
número dois, embaixador Luís Henrique,
de que a Embaixada nunca mais seria a
mesma.

de sua visita oficial e depois quando veio professor Marcelo Caetano à Universidade Da carreira diplomática, o Brasil colocou
Aristóteles Drummond a morar no exílio e casar sua filha em Por- Gama Filho, onde o ilustre estadista e pro- tradicionalmente nomes de muito prestígio,
Jornalista brasileiro tugal. Mais tarde, os presidentes Médici e fessor foi dar aulas na Faculdade de Direi- como Luís Felipe Lampreia, que veio a ser
Comendador da Ordem do José Sarney também mereceram demons- to, fundando o Departamento de Direito ministro dos Negócios Estrangeiros, Heitor
Mérito da República Portuguesa trações afectuosas dos portugueses. E cabe Comparado. Negrão manteve uma longa e Lira, biógrafo de referência do Imperador
recordar, antes de lembrar os dois mais forte ligação de amizade e amor com uma Pedro II, Dário Castro  Alves e Alberto Costa
marcantes titulares da Embaixada do Brasil ilustre portuguesa, Fernanda Pires da Silva, e Silva, membro da Academia Brasileira de

E
mbora as ligações de Portugal e Brasil nos últimos 70 anos, Francisco Negrão de recentemente falecida. Foi um período Letras e que teve como cônsul honorário no
ainda sejam referentes, sobretudo, às Lima e José Aparecido de Oliveira, que o atribulado nas relações bilaterais, com o Algarve o empresário luso-brasileiro André
identidades das duas sociedades, na Brasil foi o único país a participar, em 1940, infeliz voto do Brasil na ONU na questão Jordan. Este, aliás, por quase 20 anos, asse-
cultura e na história, e menos nas relações da Exposição do Duplo Centenário e do dos Estados Ultramarinos, mas a sua habili- gurou por sua conta a presença do Brasil
comerciais efectivas, o posto de embaixa- Mundo Português, ao lado de Portugal e dade e a amizade com o chanceler Franco no Sul de Portugal.  E agora Carlos Alberto
dor em Lisboa é dos de maior prestígio dos Estados Ultramarinos. Nogueira amenizaram o inconsequente Simas Magalhães, filho, marido e pai de
na diplomacia e na política brasileira. Isso acto do presidente Jânio Quadros e de seu diplomatas. Fora da carreira, o país teve um
pode ser atestado, por exemplo, pelo apoio No governo JK, que tinha grande apreço chanceler, Afonso Arinos, para efeitos na ex-presidente da República, Itamar Franco.
popular às manifestações nas ruas quando por Portugal e os portugueses, para cobrir política interna de agradar às esquerdas.
da visita dos presidentes Craveiro Lopes, em um lamentável equívoco ao enviar um desas- Tendo na ocasião conhecido o Laboratório Infelizmente, houve equívocos, além do
1958, e Américo Tomás ao Brasil, em 1972. trado intelectual para Lisboa, o presidente de Engenharia de Lisboa é que Negrão de indicado por JK, Sr. Lins, o anti-diploma-
O segundo foi levando, em embarcação da foi buscar no próprio ministro das Relações Lima realizou das suas maiores obras como ta, o afilhado da sra. Ruth Cardoso e seu
Marinha de Portugal, os restos mortais do Exteriores o novo ocupante da embaixada. Governador do Rio que foi o alargamento companheiro de militância esquerdista,
Imperador Pedro I e Rei de Portugal Pedro Negrão de Lima, diplomata e homem pú- da Av. Atlântica, a praia de Copacabana, José Gregory, um estranho no ninho, pois
IV, por ocasião dos 150 anos da Indepen- blico de referência. E este permaneceu nos com tecnologia portuguesa. Obra funda- nada tinha com Portugal e muito menos
dência do Brasil, feita pelo Regente, na governos Jânio Quadros e João Goulart.  mental para a cidade, como se sabe.  com a diplomacia. Aliás, Fernando Henri-
qualidade de Príncipe herdeiro de D. João que Cardoso, em memorável entrevista à
VI. Na verdade, o 1922 foi a separação de Negrão de Lima fez inúmeros amigos Nos governos José Sarney e Itamar Fran- jornalista Maria João Avilez, no Expresso,
Portugal, já que o Brasil já era Reino Unido em Portugal, ficou muito ligado a toda a co, as relações entre os dois países talvez reconheceu o erro de não ter prestigiado
desde 1815.  comunidade e, depois do 25 de abril, foi um tenham chegado a seus grandes momentos a CPLP e não ter indicado José Aparecido
porto seguro para os refugiados, recebendo pela integração dos presidentes brasileiros para secretário-geral, abrindo mão para
Juscelino Kubitscheck (JK) também foi e procurando ajudar dos mais modestos aos com Mário Soares e a presença marcante Angola, que colocou um homem polémico
alvo de manifestações carinhosas quando mais ilustres. Foi ele quem encaminhou o de José Aparecido de Oliveira, criador da no cargo.  ■
16 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Opinião

O nexo causal gundo parece, enquanto não se atingiu o homem, encarado como uma espécie mas sim se um homem morde um cão.
o outro objectivo. de monstro dominador na sociedade de
ISAÍAS AFONSO características ocidentais. O engrandeci- A comunicação social coloca-se ao
Professor Não se coloca em causa a punição de mento é visível, como visível é também a lado dos ditos mais frágeis, e pela leitura
23 anos de prisão com que o produtor vitimização do dito sexo fraco na tal co- das notícias nunca ficamos a saber o nexo
foi castigado, pagando assim pelos ac- municação social, muitas vezes conhecida causal da violência do homem sobre a mu-
tos escabrosos praticados. O “prez” das como «pasquins». Lê-se então amiudadas lher. Geralmente atribui-se ao homem a

N
este nosso mundo há situações donas foi tido em conta, mas o longo vezes que o namorado agrediu a namora- responsabilidade da violência e fica assim
que muito nos surpreendem, pois silêncio, desde os actos praticados até ao da, que o marido bateu na mulher, que o explicado o nexo causal. Será sempre as-
somos atingidos pelo sensaciona- tempo da apresentação da queixa, é algo amigo não teve contemplações para com sim? Não existem verdadeiras garças que
lismo em primeiro lugar e nunca ficamos que nos faz pensar, pois não deixa de a amiga e, mais grave ainda, o homem fomentam a agressão ou criam situações
a saber o nexo causal que produz tal alvo- ser criminosa essa duração, lembrando assassinou a mulher. Perante este cenário, que favorecem o espoletar da violência
roço, na comunicação social sobretudo. apenas que «a vingança serve-se fria», preocupa-nos o número destes casos que por parte do homem, o que equivale a
uma vez que a violência sobre elas pra- os «pasquins» aproveitam para preencher dizer que o nexo causal também reside

1
Recentemente foi condenado ticada deveria ser de imediato denun- as suas páginas, pois e segundo parece a na mulher? Será que há um abismo entre
em Tribunal dos USA um co- ciada. E não foi. violência gera boas vendas. o Diabo Homem e a Virgem Mulher, ou
nhecido produtor de cinema o contrário também existe?
de Hollywood por ter violado e abusado O nexo causal ficou por explicar, Uma Universidade levou a efeito um

3
sexualmente de artistas da sétima arte. mas invoca-se agora a coragem necessá- estudo sobre a violência dos namora- Falta apenas anunciar a necessi-
Anos passados destes actos, as damas ria dada por esse movimento feminista dos sobre as namoradas, provando, ou dade de organizar-se um movi-
apresentaram queixa por tais abusos. sempre enaltecido e conhecido por «ME tentando fazê-lo, que mesmo antes do mento “ME TOO” por parte do
Não pode deixar de surpreender a du- TOO». Os advogados de acusação são matrimónio já existem actos agressivos, Homem para enfrentar o diabolismo de
ração do tempo decorrido, pois parece sempre peritos no aproveitamento. o que não vislumbra bons princípios para certas mulheres, quase encaradas como
entender-se que, atingida a fama à custa uma apregoada felicidade. Ficamos assim, seres de mansa tranquilidade a quem se

2
do produtor, ainda que por actos vilmente Quem ler alguma comunicação e mais uma vez, com a ideia de que o ma- deve apenas e só veneração. A posição da
praticados por este, terá chegado a época social menos de referência é cho é violento e que a fêmea é a eterna virilidade está do lado do homem e, por
da vingança. Em primeiro lugar esteve a também confrontado com a vítima de tais maus tratos. O inverso é essa simples razão, falta a coragem ou a
fama da profissão e depois a honra das avalanche de louvores dados hoje às mu- muito raro, mas lembramo-nos de que audácia do Homem para assumir a sua
damas. Esta nunca esteve presente, se- lheres e à sua luta pela igualdade contra não é notícia se um cão morde o homem, mais do que legítima defesa. ■

A procura da verdade pormenor, porque tal imponderação é


própria de ignorantes que se consideram
possuidores da verdade. O sábio só tem
dúvidas enquanto o ignorante só tem “cer-

exige saber e sensatez


tezas”, mesmo que ao ser perguntado por
argumentos não vá além de “porque sim”.
As dúvidas têm a força de exigir mais análi-
se e estudo, aspectos que definem a busca
de sabedoria que caracteriza o sábio. O
comportamento mais positivo nos variados
alguns jovens, pouco documentados de aceitando cada caso na sua individualidade, aspectos da vida ou da realidade assenta
forma multifacetada, que procuram destruir sem desprezar pormenores, porque cada na ponderada procura da verdade, isto é,
António João Soares os feitos dos nossos heróis históricos, os facto tem a sua particularidade, devendo na atenção dada a todos os pormenores,
Coronel valores do nosso passado nacional, e preten- ser considerado diferente dos outros. Tal não menosprezando nenhum, a fim de a
dem baralhar os espíritos mal preparados como cada pessoa tem o seu ADN próprio, decisão nada ter de casual e assentar em
sobre género, racismo, escravatura e sobre também as realidades materiais e sociais são bases concretas. Mas, mesmo assim, nada
falácias “doutrinárias” sobre direitos, estão diferentes, e devem ser aceites tal como são, deve ser considerado definitivo, porque

A
difusão de palavras, de ideias, de condenados ao insucesso e ao descrédito, com vantagens e inconvenientes, embora as na natureza tudo muda e, após a decisão,
doutrinas, não é suficiente para sem o futuro que ambicionam. diferenças possam ser tomadas em apreço não se deve ficar surpreso quando surgir
convencer pensadores ávidos do quando decidido o seu aproveitamento. necessidade de pequenos ajustamentos,
conhecimento e da verdade e, por maioria Por exemplo, em vez de usar palavras, Esta realidade é tida em consideração na normalmente devidos a alterações ambien-
de razão, para esclarecer as pessoas menos ideias e opiniões sobre a diferença entre os preparação da decisão, no momento em tais que valorizam mais um factor do que
sabedoras. É certo, porém, que os menos últimos 45 anos e igual período imediata- que se faz a listagem de possíveis soluções, outro. Enfim: penso, logo existo; observo,
conhecedores e mais carecidos de inteli- mente anterior, será mais convincente pre- sem desprezar as que possam parecer dispa- logo aprendo.
gência podem ser enganados e iludidos, parar uma lista verdadeira das realizações ratadas; como dizia um grande mestre aos
temporariamente, mas depressa se poderão concretizadas em cada um dos períodos, em seus instruendos e, depois, colaboradores, Ao meditarmos neste tema devemos
mudar para outro propagandista ou falso obras públicas, de interesse nacional, das “durante 5 minutos a asneira é livre”. Mas recordar a “decisão” de mudar o Infarmed
profeta. reformas efectuadas nos principais serviços ao analisar cada uma, respeitando as suas de Lisboa para o Porto, depois anulada, a
públicos de defesa, de segurança, de saúde, características, a maior parte das possíveis decisão de construir o terminal de conten-
Ora, se não bastam palavras, ideias ou de justiça, etc. E, depois, podem fazer-se hipóteses é afastada para se escolher a que tores no Barreiro, já anulada, as sucessivas
doutrinas para convencer as pessoas, de que comparações verdadeiras e honestas, com contém mais vantagens e menos inconve- tentativas de reforçar o aeroporto de Lisboa
maneira se devem conduzir estas a aderir base em decisões, acções, realizações, e nientes, e que garanta a melhor eficiência com solução na Ota, em Alcochete, em Al-
a uma corrente de pensamento ou a uma evitar palavras balofas e intencionalmente na acção a desenvolver. verca, no Montijo, em Beja. Se não houver
doutrina científica ou social? Há argumen- enganadoras. uma decisão válida, ainda podemos ver a
tos imbatíveis: os da realidade, da verdade Na escolha da modalidade ou de qual- interdição do aeroporto de Lisboa que está
dos factos, das realizações claras e iniludíveis Para se formarem opiniões bem estru- quer das suas particularidades há que fazer a lesar seriamente os seus moradores por
que não podem ser desmentidas. Perante turadas e fundamentadas é indispensável um esforço para evitar cair na tentação da ser a 2ª cidade europeia martirizada pelos
isso, os nossos políticos, principalmente ter em consideração todos os aspectos reais, precipitação em defesa de um ou outro ruídos dos aviões nas descolagens. ■
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 17

O jogador ainda se arrisca a ser condecorado no próximo 10 de Junho… Opinião

Os Maregas deste mundo


JOÃO JOSÉ BRANDÃO
FERREIRA
Oficial Piloto Aviador

“Não foi por acaso que o meu


sangue que veio do Sul
Se cruzou com o meu sangue que
veio do Norte.
Não foi por acaso que o meu sangue
que veio do Oriente
Se cruzou com o meu sangue que
veio do Ocidente.
Não foi por acaso nada de quem sou
agora.
Em mim se cruzaram finalmente
todos os lados da terra.
A Natureza e o Tempo me valeram:
séculos e séculos
Ansiosos por este resultado um dia
E até hoje fui sempre futuro”
José de Almada Negreiros

DR
V ou falar de Portugal e dos portugueses.
Não de outro país.
como empregar o tempo e a massa encefá-
lica, entretêm-se a arranjar problemas onde
eles não existem. Agora é o racismo, bran-
(ou preocupasse) em fazer flexões de
braços para o “senhor candidato pixa
negra”! Quando se deu a independência
as bancadas e aponta para o braço numa
inegável menção à cor do mesmo (isso
chama-se o quê?), é tido não só como
Eu já não vou a um estádio de futebol co entenda-se, porque para as luminárias (forçada) da Guiné-Bissau, o dito cujo racismo mas quase um tiro de canhão nos
há muitos anos. Quero ver se não volto. indignadas que pululam, aparentemente optou por se tornar cidadão do novo país. direitos humanos! O jovem passa-lhe uma
E não é por não gostar de futebol, de só os caucasianos é que têm essa mácula. Acabou morto às ordens de um elemen- coisa má pela cabeça e decide abandonar
que gosto e gostava, sobretudo de jogar. to do PAIGC, que se tornou presidente o campo sem ordem do treinador – o que
É porque o espectáculo há muito que se Vamos lá a ver se a gente se entende: daquela terra que, pelos vistos, jamais se está no seu livre arbítrio e tem contrapar-
tornou ordinário; o negócio preside a os preconceitos racistas relacionados com tornará um país. tida na assumpção da responsabilidade – e
tudo, e onde há negócio, caso não haja uma suposta inferioridade intelectual, quase passa a herói, não direi nacional,
“regras”, medram a corrupção e o desva- moral, ou outra, relativamente a povos, Quando nós contamos anedotas de pois ainda não se caiu na asneira de se
rio. Sendo já tudo suficientemente mau, tribos, etnias, etc., fizeram a sua carreira alentejanos ninguém leva a mal (sobretu- lhe conceder a nacionalidade, mas do
a Comunicação Social tornou tudo pior ao longo dos séculos, o que levou a várias do os ditos cujos), e quando se dizia que dia? Ainda se arrisca a ser condecorado
ao exponenciar tudo isto, tornando toda formas de segregação e injustiça. Faz parte aquela “estranhíssima” gente só tem duas no próximo 10 de Junho…
a pouca-vergonha existente num circo da evolução da História da Humanidade. velocidades, que é “devagarinho e para-
mediático da pior espécie e uma arma Neste âmbito, não tenho dúvidas em afir- do”, todos nós entendemos e nos rimos. Não tarda fazem uma lei na AR que
(literalmente) de alienação mental da mar que os portugueses ao longo da sua Com a atmosfera que se está a tentar criar, manda para a prisão quem chame “mo-
população, sobretudo da mais vulnerável. longa História foram os que se portaram contar uma história parecida, substituindo nhé” ao PM, que se orgulha de ter ante-
melhor, à luz dos conceitos de hoje e de “alentejano” por “preto”, passará a ser passados indianos que não portugueses…
Os casos de imoralidade pública e de ontem. E não temos lições a receber seja proscrita, por racista… Ora vão passear Mas quem era ditador e fascista era o
polícia têm sido tantos que envergonha- de quem for. “primatas” (também é perigoso dizer Professor Salazar. Curioso que no tempo
riam qualquer sociedade minimamente “macacos”), um ditado português! dele nunca ninguém chamava nomes ao
decente e lúcida. Não parece ser o caso Nunca houve portugueses racistas? Eusébio, ao Coluna, ao Vicente, ao Mata-
daquela onde me calhou viver, actual- Houve, do mesmo modo que houve men- Por isso, fazer do episódio que se pas- teu e tantos outros. E seguramente que
mente. Antes pelo contrário, qualquer tirosos, homicidas, ladrões, violadores, sou em Guimarães, no jogo que opôs a eles também não se melindrariam se lhes
bicho careta da política logo bajula e etc. Fazer desses exemplos uma media- equipa daquela cidade ao FCP, onde joga chamassem pretos…
condecora o primeiro simplório que se na da população é que me parece uma o tal de Marega, é profundamente vil e ri-
destaque na “arte” dos chutos da bola e mentira grosseira, sendo que as práticas dículo. Não foi bonito, convenhamos, mas Eu vivi em Bissau depois da indepen-
sempre que uma equipa de uma cidade ofensivas foram sempre condenadas e ter o país quase parado durante quatro dência e algumas vezes me chamaram
se destaca transitoriamente, num fugaz castigadas através dos documentos e di- dias a discutir a cena, demonstra bem o “branco” e à minha mulher “branca”.
triunfo desportivo (estamos a falar do rectivas oficiais emanadas dos órgãos do estado de insanidade mental a que des- Não sei exactamente com que intenção
que era um desporto), logo é recebida Estado. Em Portugal sempre se falou e cemos. Qualquer um de nós entra num e também nunca me preocupei com isso.
com pompa e circunstância no “palácio” chamou livremente preto ao preto, chi- estádio de futebol e ouve palavrão que Por tudo isto (e muito mais) não entendo
da edilidade e mostrada ao povo! Pelos no, malabar, monhé, mouro, etc., sem ferve do princípio ao fim, contra tudo e que tenham chamado nomes ou gozado
vistos o povo gosta, o povo quer, o povo outro significado que não fosse o de uma contra todos, e é “normal”. Mas chamar-se com o Marega (que nem deve conhecer
tem! Pensam eles. evidência factual. preto a um jogador é racismo!? minimamente o país onde vive) por ele
ser preto, mas por ser… como é. Fazer
Mas agora aumentou-se o patamar do Quando entrei para a Academia Mi- O desgraçado do árbitro pode ser disto uma feira mediática para acusar a
confronto, da violência e da irracionalida- litar, em 1971, havia um cadete oriundo agredido, vilipendiado e a sua mãezinha população portuguesa de ser racista é um
de política com o “caso Marega”. Moussa da Guiné, preto retinto, cujo nome de ofendida vezes sem conta, com os pio- abuso idiota e maléfico (a que o próprio
Marega, um francês naturalizado maliano, guerra era o “pixa negra” (o que é que res epítetos e adjectivos, que “no pasa Marega é alheio).
com mau feitio e que, pelos vistos, tem al- se lhe haveria de chamar?), mas como já nada” - trata-se apenas de um “escape” dos
guma dificuldade em se integrar seja onde era repetente, praxava os recém-vindos, “adeptos” em delírio; mas chamar macaco Vão-se encher de moscas. Sem ofensa
for. Como anda por aí uma quantidade como todos os outros. Nunca houve ne- ou imitar os sons do mesmo perante um para as moscas, claro. Não vá o diabo e o
de bípedes que não sabem propriamente nhum “racista” branco que se recusasse jogador que levanta o dedo do meio para PAN tecê-las… ■
18 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Cultura

CINEMA

Contingências nária, da cidade antítese, anti-cidade, anti- Em termos simbólicos, os alicerces sur-
-urbe. Jim, o paciente desperto da travessia gem como o sucedâneo de metástases
de 28 longas noites depara-se com uma a alastrar sobre o solo natural, mais ou
Londres abandonada, cidade-ruína au- menos fértil, rochoso numa derivação
sente de pessoas. Os carros estacionados, granítica ou basáltica, o que vos aprouver.
os semáforos desligados, não há trânsito, A cidade como infecção ou inflamação de
não há tráfego, não há tráfico. Há lixo nas um plano natural que a precede. Neste
ruas e, por entre a imundice, despontam concreto sentido, a Londres deserta que
umas notas roxas que Jim rapidamente Jim encontra quando sai do hospital pa-
recolhe. Notas roxas na cidade deserta. rece surgir como a resposta imunitária
Notas que nada compram na cidade que da própria natureza, a demandar a recu-
deixou de ser cidade. peração do terreno que lhe pertencera.
Mais, neste hiato que aparta a natureza
Cena de “28 Dias Depois” A cidade deixou de ser cidade por- da construção humana (que não deixa
que se encontra desprovida ou vazada de ser natural, num plano ontológico)
DR sem população. Deixou de ser “polis”, discernimos com clareza o excesso dos
acode. Levanta-se da cama numa enferma- comunidade, obrigação comum. A cidade oponentes. O excesso vírico da natureza
ria deserta, num corredor deserto, num encontra-se varada sem os seus habitantes. contrapõe-se ao excesso arquitectónico
PEDRO JACOB MORAIS hospital fantasma. Acorda 28 dias depois Mais se apresenta estranha, atópica, paisa- humano. Excesso de natureza contra os
de um achaque qualquer num hospital de- gem artificial e ridícula sem as pessoas que excessos civilizacionais ou os excessos da
serto. Traz uma veste hospitalar, daquelas a criaram e mantêm. O artificialismo do natureza como reflexo dos excessos civi-
esverdeadas, larga e comprida e um saco betão ergue-se como um corpo estranho lizacionais.
de plástico na mão a esconder segredos no substrato natural, no solo que recebeu

N
a cena de abertura de “28 Dias consumíveis e naturalmente perecíveis. os alicerces dos edifícios. Assim sendo, Na sua deambulação pela cidade des-
Depois” (2002), de Danny Boyle, a fundação da cidade ocorre enquanto pida, Jim apercebe-se que se encontra
um paciente acorda de um longo A crónica do hospital deserto dá lugar à conquista telúrica, projecto humano de sozinho. Terrivelmente só. Sobre essa so-
sono num hospital. Chama e ninguém crónica da cidade deserta, da cidade imagi- implantação topográfica. lidão falaremos na próxima crónica... ■

VASCO CALLIXTO RECORDA...

De automóvel eléctrico
em Lisboa há 44 anos
N
as ruas de Lisboa, e não só, é hoje frequente ainda subir a São Bento com facilidade. Do que escrevi e
verem-se automóveis a “meter” electricidade publiquei há 44 anos, transcrevo seguidamente algumas
no “depósito”, enquanto o condutor vai tratar passagens.
dos seus afazeres. É o ainda recente automóvel eléctrico
(“carros eléctricos” são os veículos da Carris), que “en- “Com os seus dois lugares e um certo espaço para O ‘Enfield’ eléctrico dos anos 70
trou” no centenário do historial do automóvel, disposto alguma bagagem, o EN-21-07 tem dois pedais, acelera-
DR

a sobrepor-se aos automóveis tradicionais, alimentados dor e travão. Quando se carrega no acelerador ouve-se
a gasolina e a gasóleo. simplesmente o estalido dos contactos eléctricos que à distância percorrida nas voltas diárias pela cidade.
comandam a variação de tensão de alimentação do mo- As baterias demoram 8 a 9 horas a carregar. Por mais
Mas há quase meio século, mais precisamente, há 44 tor. O veículo pode passar junto de qualquer pessoa que paragens e arranques que se seja obrigado a fazer por
anos, quando tal era apenas um sonho desejado, houve não se dá por ele, é um veículo absolutamente silencioso. imposição do trânsito, o automóvel eléctrico não gasta
quem me proporcionasse umas voltas de automóvel eléc- A velocidade máxima é diminuta mas suficiente para a mais por isso, antes pelo contrário, logo que pára, deixa
trico pelas ruas da cidade. E a viatura, da marca “Enfield”, cidade, 60 quilómetros horários. Acelera de 0 a 50 km/h de consumir carga”.
já tinha matrícula portuguesa; era o EN-21-07. em 13 segundos. Quanto às baterias, colocadas à frente
e na retaguarda, pesam 300 quilos. Com tal ‘bagagem’, Não voltei a andar de automóvel eléctrico nem semi-
Em 1976 - quando a saída de Lisboa pela chamada o peso total da pequena viatura alcança os 1000 quilos”. -eléctrico, não se me proporcionou apreciar a condução
“rampa dos cabos ávila» era um martírio, com filas inter- «silenciosa» dos automóveis eléctricos actuais, enormes
mináveis de veículos, e também quando o Rali de Portugal- E a transcrição prossegue: “A autonomia depende, em comparação com o pequeno «city-car» que se me
-Vinho do Porto enchia as bancadas do Autódromo do como é evidente, do perfil do percurso e da maneira revelou em 1976. Custava este cerca de 200 contos e es-
Estoril - o Engº. George de Roo, da CRGE-Companhias como o veículo é conduzido. Num percurso normal, com tava sujeito a um imposto mensal de mil escudos, o que
Reunidas de Gaz e Electricidade, levou-me do Rossio ao poucas subidas muito pronunciadas, e com um condutor era realmente um pesado encargo para quem pensasse
Marquês no seu pequeno e esperançoso veículo eléctri- hábil, a carga total das baterias permite percorrer cerca adquirir a novidade do carrinho ultra-silencioso. Houve
co, que subiu muito bem a Avenida da Liberdade e foi de 50 quilómetros, o que corresponde normalmente que esperar umas décadas e eles aí estão. ■
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 19

Cultura

LIVROS

A Insanidade das Massas


pessoal e o pleno domínio sobre as suas
faculdades cognitivas, se transformam em
massa. Essa, informe, acrítica e manipu-
JOSÉ ALMEIDA lável pelo descontrolo emocional, foi
sempre olhada com um natural
desdém e preocupação por par-
te de várias figuras que, ao longo
Vivemos numa sociedade das sucessivas décadas, dedicaram
profundamente desenraizada, estudos críticos a propósito desse
fenómeno. De Fustel de Coulan-
marcada pela negação da História ges a René Guénon, passando por
e da tradição. Uma sociedade Gustave Le Bon e Ortega y Gasset,
apenas para citar alguns autores
que, procurando sacrificar a sua contemporâneos mais clássicos, estas Douglas Murray

DR
identidade em honra de um falso abordagens foram sempre transversais
e multímodas, acompanhadas por uma Insanidade das Massas” explora a queda da
deus do progresso e da igualdade, análise atenta e profunda acerca do lucidez e a aniquilação do senso-comum,
enceta uma incessante produção funcionamento das sociedades hodier- análogos à exponencial normalização da
nas e suas respectivas mentalidades. “A loucura e do absurdo, num século XXI
de múltiplas identidades artificiais Insanidade das Massas” é uma obra que caracterizado pela comunicação em massa,
através de um processo de se insere no campo mais sociológico um inteligente exercício de reflexão e guerras culturais, guerrilhas sociais e falsas
desse universo, posicionando-se face ao análise em torno da nossa era, abordando políticas de identidade.
hiper-individualização resultante mundo de hoje. algumas das questões sócio-identitárias
do conceito vácuo de auto- contemporâneas, tais como a sexualidade, Não obstante a proveniência ou orien-
O nome de Douglas Murray, editor género ou raça, relacionando-as com a tec- tação político-ideológica do leitor, nenhum
-determinação. O mais recente da revista ‘Spectator’, tem vindo a ganhar nologia enquanto veículo de disseminação conseguirá ficar indiferente à natureza
livro de Douglas Murray, autor de expressão dentro de um espectro mais de opiniões, instrumento de controlo de provocatória de “A Insanidade das Mas-
“A Estranha Morte da Europa”, conservador, aparecendo por diversas vezes pensamento e arma de guerra cultural. sas”. Todos sentirão, sem excepção, uma
associado a autores como o recém-falecido certa identificação com os conteúdos
ajuda-nos a perceber de que modo Roger Scruton, ou Jordan Peterson. Após Douglas Murray contesta nesta sua obra apresentados e escrutinados pelo autor
essa desestruturação conduz, a publicação de “A Estranha Morte da a vitimização de certos grupos e indivíduos inglês. Denunciando as novas formas de
Europa”, chegou ao mercado editorial face a temas fracturantes como o racismo, censura impostas e auto-impostas por uma
hoje, as massas à insanidade. nacional a sua segunda obra traduzida feminismo, homossexualidade e outros sociedade fragmentada e atomizada, esta
para português: “A Insanidade das Mas- assuntos, tratados na espuma dos dias da obra revela a sua apologia da liberdade de

T
oda a construção social moderna sas - Como a opinião e a histeria envene- pueril sociedade liberal, burguesa e capita- expressão e da manutenção dos mesmos
é marcada pelo signo da loucura. nam a nossa sociedade”. Publicada pelas lista, como problemas de fundo. Problemas valores comuns que, ao longo de milé-
Uma enfermidade pandémica que Edições do Desassossego (brochado, 288 que as verdadeiras crises, como a que agora nios, salvaguardaram os pilares da nossa
se alastra através dos aglomerados de indiví- páginas, 18,80 euros), chancela do grupo enfrentamos, provam tratar-se de meras civilização contra a loucura e a histeria
duos que, perdendo a sua individualidade Saída de Emergência, esta obra cumpre fantasias, ou produtos de mercado. “A destruidora das massas. ■

Ao correr da pena em defesa da ‘Agora!’ nas bancas


Escola de Filosofia Portuguesa (2) C
om periodicidade trimestral e direcção de Paulo Rodri-
gues, iniciou a sua publicação o jornal ‘Agora!’, que tem
como subtítulo “O Combate do Futuro”. Definindo-se no
FRANCISCO MORAES SARMENTO repudia o pensamento enquanto garantia de si Estatuto Editorial como “jornal de análise política consagrado
mesmo; a segunda tende para o “acordo cósmico” à defesa intransigente de Portugal como nação soberana e in-
compreensivo do mundo (“o pensamento penetra dependente”, o ‘Agora!’ pretende dar continuidade a um título

Á
lvaro Ribeiro também afirmava que a a realidade e excede-a”), numa atitude amorosa de imprensa que teve já duas séries anteriores, nos anos 60 e 90
tradição é a palavra, ou seja, cada língua que tem o seu princípio e fim no Espírito. Neste vai do século passado, sempre como publicação nacionalista. No
tem um conteúdo e significado próprios. e vem resgata a natureza do seu adormecimento, primeiro número – Janeiro a Março – desta terceira série, com
E que sem a palavra não se pensa. Assim, não basta digamos assim, e tudo o mais, que mantém a sua 16 páginas e preço de capa de 2 euros, Paulo Rodrigues (que
falar em português, característica dos que nascem inocência, a inviolabilidade e a perenidade do partilha o cabeçalho com o director adjunto, Luís
em Portugal. Os que pensam segundo quadros princípio ao fim. A primeira é mecânica e mate- Henriques) reafirma o combate
mentais de outras tradições são “estrangeirados” mática; a segunda, orgânica e filológica. contra “a desagregação moral,
e responsáveis pela decadência de Portugal. económica e social” em curso e
Basta razão para não legitimar a “aplicação” a defesa dos “Valores intemporais
O filósofo português distingue-se por pensar de conceitos, noções e ideias de um sistema de de Deus, da Pátria e da Família”,
e falar em português. Os conceitos, as noções e teses na orgânica de outro sistema sem cair em reclamando para o ‘Agora!’ o título
as ideias têm conteúdos e significados que deter- contradição. Os conteúdos e significados que de “o único jornal que não se sujeita
minam modos de pensar segundo as finalidades adquirem numa determinada tradição não são ao socialismo e veementemente se
que se propõem realizar. A filosofia portuguesa transferíveis para outra, sem perder de vista o afirma contra o sistema”.
distingue-se da filosofia moderna, é uma filosofia seu logos. Por exemplo, o “ser enquanto ser” é
clássica,: a primeira é violenta e separativa, ex- essencial para a filosofia moderna e ilusório para O DIABO deseja à nova publicação
ploradora do mundo, materialista, pragmática e a filosofia portuguesa.■ os maiores êxitos. ■
20 • O DIABO, 20 de Março de 2020

COCKPIT
Mercado Automóvel em Portugal

Radiografia 2019
Numa altura em que o planeta sente cada vez mais os efeitos
económicos de uma virose, não se adivinhando que reflexo
poderá ter para o comércio automóvel em Portugal, um
balanço rápido ao comportamento deste sector em 2019.

A
lguns factores saltam imediata- Além das empresas e dos empresá-
mente à vista ao analisar todos os rios que voltaram a absorver cerca de
dados que já se conhecem sobre o metade das viaturas novas que entraram

DR
desempenho desta importante actividade no mercado, a actividade do rent-a-car
económica: continua a ser grande dinamizador do O comércio de carros usados continua – 80% a gasóleo, cilindrada média em
volume de matrículas de carros novos em a representar a maior fatia do comércio torno de 1,6 litros e idade média de 5,5
Os portugueses continuam a comprar Portugal. As empresas representadas pela automóvel no nosso país mas, em 2019, este anos, dados da ACAP – revela dois factos:
mais carros a gasóleo. Apesar de a venda ARAC, a associação do sector, absorveram mercado parece ter sofrido também uma mantém-se o interesse por carros diesel e
de veículos novos com este tipo de motor 29% dos registos de veículos ligeiros de redução. É o que indica a ligeira quebra a conjugação de características que inci-
ter reduzido 36% e sido suplantada por passageiros, um valor que foi decerto in- do número total de registos e também os de sobre o tipo de mecânica e idade do
viaturas com motor a gasolina (em 2019 flacionado pela necessidade de algumas dados de crédito do Banco de Portugal re- veículo parece ser a mais favorável para
a distribuição dos ligeiros de passageiros marcas anteciparem matrículas face às lacionados com o financiamento automóvel a contabilidade do ISV pago na primeira
foi de 49,2% a gasolina e 40% a gasóleo), exigências impostas pelas novas regras especializado; matrícula em Portugal. Recorde-se, o cál-
80% dos veículos importados usados são relacionadas com o controlo de emissões culo deste imposto depende da cilindrada
diesel. Os 79.459 ligeiros de passageiros automóveis, que passaram a vigorar este Porém, o aumento do volume de usa- do veículo e do volume de emissões CO2,
importados significaram um incremento de ano. Só isso explica o acréscimo de 57% dos importados pode servir de indicador sendo bastante agravado por este último
16,7% face a 2018 e este número equivale do volume de compras em Dezembro de da procura por parte do consumidor na- factor, já que quanto mais antiga é a via-
a 35,5% dos carros novos matriculados em 2019, quando comparado com o mesmo cional. Um olhar rápido sobre as marcas tura, mais elevado o índice de CO2. ■
2019 em Portugal; mês do ano anterior; mais representativas e tipo de mecânica www.cockpitautomovel.com

SUGESTÃO DE FIM-DE-SEMANA

ESFINGE N.478 - CRUZADAS E CHARADAS


1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
PALAVRAS CRUZADAS DEZ CHARADAS
1
Horizontais Verticais Metamorfoseadas por letras
1 – O BEM-ESTAR é um
2
1. Imprimir; Rústicos. 1. Tufo; Fugir. REGALO. 7(1)
3 2. Agrave; Óvalo. 2. Chama; Verga. 2 – ARRUINADO por ter sido
3. Cobrador; Embora. 3. Camisa; Hesitam. PRESO. 6(3)
DR

O som gregoriano 5
4. Buraco; Cartel;
Data.
4. Velhaco; Cachaça;
Apre!.
3 – A maior DIFICULDADE
foi o empregado ser mal

R etidos em quarentena, sem poder-


mos visitar exposições ou monu-
mentos, fazermos passeios ou irmos a
6

7
5. Sua; Imitar.
6. Absoluta.
5. Reaverá; Estás.
6. Cometa.
SERVIDOR. 7(2)
4 – A BARRIGADA era tal que
parecia ADOIDADA. 7(4)
concertos, que se há-de recomendar 5 – O PRAZER causa sempre
como distracção de fim-de-semana? 8
7. Dormitório; Jeito. 7. Fu!; Atendiam.
8. Então; Criada; T“ ris”. 8. “Nome de mulher”; BEM-ESTAR. 6(2)
Uma excelente alternativa à mão de
9
semear é a música gravada. E sendo 9. Talvegue; Atirem. “Mulher”; Dono. Metamorfoseadas por
a internet um farto manancial, recor-
remos a essa fonte para sugerirmos
10
10. Cumpra;Branda. 9. Sanfona; Combóio. sílabas
esta semana aos nossos leitores uma 11 11. Ramos; Murmurar. 10. Carrega;Circo. 6 – Era HUMILDADE mas
incursão diferente pelo som gregoria- 11. Adicionar; VALENTE. 3(1)
no: não a versão estrita da bela tradição 7 – O CHICOTE estava escondi-
monástica de todos conhecida, mas Combinar. do na CHOUPANA. 3(1)
uma alternativa que conjuga o canto
8 – O CÃOZINHO era
com uma instrumentação suave, não SOLUÇÕES Esfinge n. 477 INDOLENTE. 3(1)
intrusiva, e sons da natureza. Uma hora
de paz e harmonia ao alcance de um 9 – A CRAVAÇÃO muitas vezes
‘click’, enriquecida pelo excelente naipe PALAVRAS CRUZADAS CHARADAS sofre de CORROSÃO. 3(1)
de vozes do coro da Schola Gregoriana 1. Aluga - Rocim. 2. Cabaço; Remo. 3. Avelã; Valor. 1. Lambeão 2. Maliga 3. Amuado 4. Panasco 10 – O BOCHECHUDO tinha um
da Pittsburgh Latin Mass Community. ■ 4. Bera; Tarara. 5. O; Arear; Sar. 6. M; Agras; L. 7. Eim; Ualua; C. 5. Pachola 6. Barroco 7. Denudo grande CARRÃO. 3(3)
https://www.youtube.com/watch?v=UDj5-CngcVo 8. At; Bar; Mimo. 9. Ligas; Mural. 10. Agas; Calara. 11. Rases; Ramas. 8. Fitilha 9. Gaivota 10. Mafuta
O DIABO, 20 de Março de 2020 • 21

O ecologismo sobe a religião de fanáticos peregrinando por equinócios… Opinião

Altercações Climáticas II
CARLOS AURÉLIO

O
tema das alterações climáticas veio
para ficar e, seja convergindo ou
altercando, importa limpar obs-
táculos para ver livremente teses diversas.
Sem isso o problema degrada-se em ideo-
logias de facção, obstinação à liberdade de
pensamento sem a qual resta o pântano
das ideias sob o coaxar uníssono das rãs,
idiota e soturno.

É estranho, muito suspicaz, mesmo


inquietante, que entidades poderosas e
globais como a ONU optem sem suspen-
sões ou dúvida por uma só das teses em
cotejo, a qual e no essencial oficia assim:
as actuais alterações do clima confirmam-se
pelo aumento da temperatura global e são
consequência do efeito de estufa originado
pela acção humana na produção de dióxido
de carbono; é preciso descarbonizar e já. O
mundo leigo ouve isto, atordoa-se, aflige-se
e diz que sim, pois que mais pode um leigo,
se não ler o que lhe mandam ler? Mas quem
aqui escreve, leigo sendo, leu outras teses
que, diferentemente, dizem isto: sim, alte-

DR
rações climáticas sempre houve e haverá, a
temperatura global ora tem aumentado ora Voltemos à ONU, chave do enigma dos filhos. Entretanto, outra meia geração, a -se o nervosismo ao recente “Brexit”, revés
diminuído ao longo dos séculos e, a acção “sabidos”. A ONU é evidente expressão do dos “yuppies”, abria-se à voragem de outra evidente no projecto globalista.
humana é nisso, completamente residual; poder globalista no qual desembocam três Era Nova, a do dinheiro!
as variações globais da temperatura devem- séculos de laicismo iluminista, aliás, muito À panóplia de cursos técnicos e acadé-
-se a ciclos solares diferentes e o aumento obscuro. Desde o século das Luzes que a E aqui voltamos ao dogma do clima: a micos, a cientistas tão numerosos como pro-
do CO2 é consequência e não causa. Re- ditadura exclusiva da Razão apeou trono Mãe Terra neopagã − e porque nunca há letarizados, à universidade e à investigação
sumindo, as alterações do clima não são e altar, o primeiro porque arredio da ca- realmente ateus − reduziu-se ao próprio pla- copiosa caberiam aqui descrições pouco
antropogénicas, não se devem à acção hu- valeiresca aristocracia, o segundo porque neta divinizado e materialmente entendido, abonatórias num corrupio de influências
mana. Convém anotar que esta perspectiva se foi alheando do subtil vigor do Sermão qual ávido cemitério sem fogo do espírito nada científicas, sob o império do carreiris-
em nada colide com o combate necessário da Montanha. E a República, não tendo onde todos os seres deixam de o ser para mo, dos financiamentos, até de falsificações.
e imprescindível à poluição: sujar, poluir, honrado o lugar devido à “res publica”, regressarem à terra dos mortos. A Terra, a Basta um exemplo nada invulgar: no cam-
consumir recursos naturais com ganância permitiu uma fraternidade abstracta de in- Vida, tudo morre sem eternidade, a deusa po investigativo da questão climática, tão
e desordem é responsabilidade humana telectuais sem igualha à dos conventos, uma Mãe é madrasta de enteados pecadores que oneroso como longo em anos e décadas,
monstruosamente deplorável. E todavia, igualdade de alma plebeia e uma liberdade exalam o vício mortal do CO2. A ONU sobe não há governo, universidade ou mecenas
não temamos as palavras, o homem ocupa desfraldada, quase desnuda, falsamente vito- a clerezia sábia, tutora e vigilante, o ecolo- que se atreva a financiar projectos de teses
lugar central na Criação, a terra foi criada riosa que depressa se enlameou em “gulags” gismo a religião de fanáticos animalistas, alternativas à correcção política vigente. Daí,
para ele nela habitar! Trazemos fé e teologia comunistas. O século XIX ocidental cerziu vegetarianos e veganos peregrinando por os climatologistas “recearem” posições cuja
ao assunto? Claro, de momento é preciso assim a chicória filosófica que acabou por equinócios e solstícios, idolatrando a Na- confirmação cara e demorada poria em peri-
despoluir das renascidas fantasias fanáticas laicizar Kant, carpiu-se no pessimismo de tureza. O clima impoluto e inalterável é go iminente sustento e carreira. Assim se en-
do deus Pã. Delas adiante diremos. Schopenhauer, até se diminuir na “morte” dogma desta Mãe Terra, reduto litúrgico de tende o famigerado “Climategate” de 2009
de Deus em Nietzsche. Oxalá o idealismo uma putativa religião ateia na qual a ONU e no qual «milhares de e-mails e documentos
Outra questão: é facto que a maioria alemão tivesse bebido do veio mitológico de apêndices intelectuais da correcção política de conhecidos climatologistas britânicos e
dos cientistas afirma a antropogénese das Schelling! A este mundo paulatinamente imperam, vigiam e castigam. norte-americanos (…) expuseram formas
alterações climáticas nomeadamente a re- descristianizado às arrecuas de S. Paulo, de manipular dados para contrariar os ar-
partição científico-política da ONU, o famo- depois estilhaçado pela cizânia da luta de Entretanto o comunismo falhado foi gumentos dos cientistas cépticos e suportar
so IPCC (Painel Intergovernamental sobre classes marxista e, porque todo o homem omitindo a classe operária, mais ainda a a tese da origem humana do aquecimento
Mudanças Climáticas). Insistamos todavia nasce com o seu natural órgão da religião, camponesa, o martelo “foi-se”, sobrou a global» (J. A. Curry, idem, p.76). A prole-
que, gente reputada nega ou está longe de a esta gente assim esvaziada foi-lhe fácil, no estrela internacionalista que quer ser pla- tarização de cientistas e académicos abre
confirmar tal tese, entre elas a climatologista século XX, ornar-se em exotismos e neo- netária. A facção intelectual esquerdista fissuras de vulnerabilidade!
Judith A. Curry, 40 anos de investigação na -orientalismos mal percebidos pelos quais se abocanhou causas de fractura: feminismo,
NASA, ou Piers Corbyn, distinto astrofísico derramam rápidos eflúvios e cíclicas ilusões. drogas duras e outras moles, união civil Resta perguntar: qual a relação justa
que fundamenta as alterações do clima E aí estamos hoje, sentados nos yogas, reen- homossexual, racismo, eutanásia, e quiçá e benigna perante a natureza e o clima?
nos ciclos solares. Judith A. Curry avança carnados em neo-paganismos, alheados em chegará à zoofilia, nome fino da grosseira A ecologia e a saudável governação políti-
quatro questões “não sabidas” que estão estupefacientes espíritas de toda a espécie bestialidade. Cabe à ONU e à correcção ca da nossa grande casa comum, a Terra,
por responder: 1) não sabemos se o aque- numa feira barata de gente infeliz! Disse política prescindir da transcendência, subs- podem alhear-se de Deus, da pátria, da
cimento recente é devido a causas humanas Malraux que o século XXI seria religioso tituir-se à moral das religiões, religar o que família, trilogia esquecida e vilipendiada?
ou a causas naturais; 2) não sabemos se o ou não seria. O que estaremos a fazer para ficou desligado para que a humanidade sub- A ciência é imprescindível mas reduzir o
planeta aquecerá no conjunto do século que não seja? sista una e uníssona, coaxando letárgica no debate ao seu exclusivo critério, parecendo
XXI e quanto; 3) não sabemos, havendo pântano. A ideia providencial e humanista racional tem muito de castrador. Investigar
aquecimento, se é ou não “perigoso”; 4) Da ilusão ao logro, da utopia libertária ao é outorgada à ciência e ao governo global, e passar a hipóteses diversas, tudo importa
não sabemos se reduzindo as emissões de pesadelo comunista, lânguidas gerações des- a questão climática passa a dogma e ao ponderar sob outras disciplinas: da filosofia
CO2 o clima e o bem-estar humano serão de a década de 60 do século XX injectaram- domínio intangível de um “Big-Brother”, ao direito, da antropologia à geografia, à
melhores. (“Alterações Climáticas, o que -se de hedonismo “self-service” em suspiros afinal Chefe paternalista que por sorte cuida ética, mesmo à teologia. Sim, à teologia.
sabemos, o que não sabemos”, Guerra e Paz, pela Nova Era, a dita “New Age”, cultuaram de nós! E quem sabe, entre coronavírus e No Cântico das Criaturas de S. Francisco
p.53). Mas se não sabemos, porque será que fantasias em Stonehenge coaxando êxta- extraterrestres?! A soberania das nações, de Assis a irmã água, a irmã lua, o irmão
tanta gente cientista em vez de se mostrar ses megalíticos pela Mãe Terra, forjaram pátria, Deus, família, tudo estorva perante a sol irmanam-se para que digamos: Louvado
inteligente e sábia opta por ser sabida? religiões sem Deus, incensaram sexo sem impositiva e imperiosa ideia global. Percebe- sejas, meu Senhor! ■
22 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Correio NA INTERNET
www.jornaldiabo.com

A tenebrosa Covid-19
N o momento em que escrevo, Portugal
é um país a abrandar a “velocidade”
do seu quotidiano, é um país estranho, so-
Na verdade, o que está acontecendo na
Europa – agora o epicentro da pandemia
– e, particularmente, em Itália, ultrapassa
enfermeiros e enfermeiras estão na linha da
frente e, estando mais expostos, não esmo-
recem e dão o seu melhor neste combate
ERC n.º 104 231
Fundadora
rumbático, à espera de algo calamitoso que o inimaginável e o indescritível, e a obra atemorizante. Por sua vez, o Serviço Nacional Vera Lagoa
vai deixar marcas. As pessoas estão receosas, “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago de Saúde tenta responder adequadamente
Directora
tentando disfarçar o inevitável medo que lhes entranha-se na sociedade italiana que está para evitar o caos e o colapso. Quantas pessoas Cecília Alexandre
vai no pensamento. E na alma. Um insidioso em pânico, dormente, apática, anestesiada, morrerão? Como estará o país daqui a um
vírus galopante, um “ser” microscópico está enclausurada nos seus medos. Itália é, neste mês ou dois? Que estranha sensação é esta Antigos Directores
Vera Lagoa
derrubando a tranquilidade desassossegada, o momento, um país quase “morto” à espera que nos está invadindo com o afloramento de José Esteves Pinto
bem-estar e a vitalidade das pessoas. Em todo de recobro. Que este pesadelo tenha fim e pensamentos negativos? Independentemente José António Barreiros
o mundo. Este vírus não escolhe profissões, volte a alegria de viver, no fervilhar das suas de sermos agnósticos, cristãos ou até auto- João Fernandes
Duarte Branquinho
não escolhe idades mas provoca razia nas ruas, dos espaços históricos e turísticos de -suficientes ateus, a expressão que encontro Miguel Mattos Chaves
pessoas mais vulneráveis e mais idosas. Mesmo La Bella Italia. para este cenário desolador de proporções
os desportistas profissionais, a classe política e alarmantes é esta: que Deus nos ajude a todos Texto
governativa também não escapa e está sendo No nosso país os técnicos de saúde e, nestes dias difíceis e desesperantes. ■ Aristóteles Drummond,
Brandão Ferreira, Eduardo Brito
atingida um pouco por todo o mundo. particularmente, os médicos e médicas, os António Cândido Miguéis Coelho, Eurico Paes,
Fernando de Castro Brandão,

Despudor
Francisco Lopes Saraiva,
Francisco Moraes Sarmento,
Frederico Duarte Carvalho,
Henrique Pereira, Henrique
Silveira, Hugo Navarro, Isaías
F inalmente confesso estar ple-
namente de acordo com o
nosso primeiro-ministro e com
negativas em que convém desta-
car as políticas de austeridade em
Portugal e considerar que o ajus-
e as finanças portuguesas.

Como se pode ver por aqui-


Afonso, Joaquim Tapada,
José Almeida, José Figueiredo,
Manuel Cabral, Manuel Silveira
da Cunha, Marco António Baptista
o ministro Santos Silva quando tamento não evitou que a dívida lo que atrás ficou escrito, uma Martins, Maria Costa, Marta Brito,
vieram pedir para que a oposição tivesse subido de 97% para 130% qualidade não se pode negar aos Miguel Rebelo Pinto, Nuno Poças,
não faça agora aproveitamento do PIB, que o país mantenha uma principais responsáveis do actual Paulo Ferrero, Paulo Costa Pereira,
Pedro Jacob Morais, Rogério
político com esta epidemia do taxa de desemprego extremamen- Governo: despudor. Lopes, Soares Martínez,
Coronavírus COVID-19 importa- te elevada e que tenha aumentado Vasco Callixto.
do do estrangeiro. Irei até mais significativamente o nível de po- Que PSD/CDS, que nos go-
Fotografia
longe, pois entendo que num país breza em Portugal”. Estas palavras vernaram entre 2011 e 2015 no
DR

António Luís Coelho,


sério deve ser desnecessário fazer foram proferidas fora de portas papel de pagadores de promessas Rui Coelho da Silva
tal pedido. com origem nos Governos de José por António Costa em 2016, já no e das dívidas e que tão maltratados
Grafismo
Sócrates, tendo aqueles dois po- cargo de primeiro-ministro, numa foram por estes cavalheiros entre Ana Sofia Pinto
No entanto, convém lembrar líticos feito parte, pelo que foi visita à Grécia tendo ainda a sub- 2011 e 2019, agora não se paguem
a estes governantes que em 2011 necessário impor uma quarentena tileza de sublinhar as consequên- com a mesma moeda, embora ra- Redacção
Portugal foi sacudido por outra violentíssima através da famosa cias negativas da intervenção da zões não lhes faltem. ■ Azinhaga da Fonte, 17
1500-275 LISBOA
pandemia, a BANCARROTA III TROIKA, com “consequências TROIKA para ajustar a economia Henrique J. Morais Telefone: 2 17 144 315 /
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O DIABO, 20 de Março de 2020 • 23

A Fechar

Memórias d’o Diabo 44 Fernão de Magalhães


em Brasília
A Via Lusófona
RENATO EPIFÂNIO

Q uinhentos anos após Fernão de Magalhães ter inicia-


do a primeira viagem de circum-navegação ao nosso
planeta, faz todo o sentido que a cidade de Brasília,
através da sua Universidade, se associe às comemorações
desta ímpar efeméride.

Com efeito, através desta sua viagem, Fernão de Maga-


lhães pôs, pela primeira vez, o mundo em diálogo consigo
próprio, abrindo definitivamente as portas do nosso futuro
comum, da chamada “globalização”.

Ora, se há cidade que, no mundo lusófono, simboliza essa


aspiração de futuro, essa cidade é, mais do que qualquer outra,
a cidade de Brasília. Criada “a partir do nada”, ela construiu-se
Cartoon de Augusto Cid publicado na edição de O DIABO de 11 de Agosto de 1987. ■ para ser a nova Capital desse imenso país-continente chamado
Brasil. A sua Universidade representa igualmente, mais do que

A falta de um plano
qualquer outra instituição, essa promessa de diálogo – no caso,
de diálogo entre todos os saberes.

Para tal, alguns portugueses, na esteira de Fernão de Ma-


galhães, deram também o seu contributo. Falamos aqui, em
progressiva evolução das fases de combate ao vírus que particular, de Agostinho da Silva e de Eudoro de Sousa, dois
tinham planeado fazer. nomes fundamentais na consolidação da Universidade de
MANUEL REZENDE Brasília e que jamais deverão ser esquecidos, agora que a UnB
Este súbito encarar da realidade foi aquilo que Boris comemora os seus sessenta anos de existência.
Johnson veio a público fazer. O modelo inglês era, de
facto, intencionalmente menos draconiano, procurava Para Agostinho da Silva, a Universidade Brasília, a própria
manter uma dualidade entre o funcionamento normal cidade de Brasília, deveria ter, de resto, um papel “extra” –

C
ircula pela comunicação social portuguesa uma da sociedade e a contenção do vírus. Ainda procura, não só no plano interno como também a nível internacional,
versão popularusca da estratégia britânica para o mas com acrescidas dificuldades. Vão dizer-me que isto desde logo, no mundo lusófono, ao assumir-se como parte
combate à mais recente pandemia que nos tem é uma utopia. desse “tripé” que expressamente prefigurou, ao falar de uma
trancados em casa. Segundo esta versão, os britânicos “comunidade luso-afro-brasileira, com o centro de coordena-
estão a apostar na “herd immunity”, ou seja, deixar o vírus Meus caros leitores, quando a quarentena acabar, ção em África, de maneira que não fosse uma renovação do
rolar livremente pela sociedade e deixar que as pessoas ainda lá vai estar o vírus. Vamos todos ter de pensar em imperialismo português, nem um começo do imperialismo
desenvolvam imunidades de forma natural. maneiras de combater este vírus de outras formas para brasileiro”.
além do isolamento. Escalas no horário de trabalho mais
Com o desapego pela verdade que os jornalistas, regulares, aulas com menos tempo e menos alunos, even- “O foco central – como, logo de seguida, acrescentou –
hoje em dia, tanto prezam, esta estratégia pouco orto- tos restringidos em número de pessoas e duração, possi- poderia ser em Angola, no planalto, deixando Luanda à borda
doxa, supostamente a oficial do governo britânico, é velmente mais quarentenas assim que os picos de gente do mar e subir, tal como se fizera no Brasil em que se deixou a
usada como prova da inaptidão de Boris Johnson. Não infectada voltarem a subir. Todas estas ideias e muitas terra baixa e se foi estabelecer a nova capital num planalto com
houve jornalista português que fosse à fonte procurar o mais já estão disponíveis na revista online do MIT, a ‘MIT mil metros de altitude. Fizessem a mesma coisa em Angola, e
desmentido. É uma prática habitual entre nós, no que Review’, por exemplo. essa nova cidade entraria em correspondência com Brasília
toca a notícias sobre política internacional. Em Portugal e com Lisboa para se começar a formar uma comunidade
não se investiga, adopta-se automaticamente aquilo que As medidas de curto alcance, especialmente aquelas luso-afro-brasileira” (in “Vida Conversável”, Assírio & Alvim,
a BBC e a CNN afirmam sobre os eventos. mais duras, gozam actualmente de muita popularidade. 1994, pp. 156-157).
É sem dúvida necessário, mas há riscos. O risco mais
Se os leitores descarregarem o plano de luta ao óbvio é a preguiça mental. O Estado que mais fiscalizou No ano em que, por feliz coincidência, se reeditou essa
coronavírus do site do sistema nacional de saúde britâ- a sua fronteira, no que toca ao controlo de passageiros obra – uma das mais emblemáticas – de Agostinho da Silva,
nico, o NHS, ao acabarem de lê-lo verificam duas coisas: vindos da China, foi a Itália. Da mesma maneira, os EUA agora na sua versão completa (Zéfiro, Colecção NOVA ÁGUIA,
primeiro, que os britânicos tinham um plano e que o foram rápidos, no início deste mês, a fechar as portas 2020), exortamos pois os responsáveis pela Universidade
seu governo partilhou esse plano, feito com a antece- aos europeus. O vírus espalha-se, agora, por mais de 100 de Brasília a associarem-se a estas comemorações, em prol,
dência possível, com os seus cidadãos. Não ficou tudo países. Tanto a Itália como os EUA deparam-se com crises também aqui na esteira de Agostinho da Silva, de uma outra
em modo «fazendo-se», como é hábito no sul da Europa. gravíssimas de surtos. Quer isto dizer que as velhas técnicas globalização: mais respeitadora das culturas e línguas locais,
Segundo, o termo «herd immunity» não aparece uma já não funcionam? Não, quer dizer que já não bastam. As mais respeitadora dos direitos sociais e económicos de todas as
única vez. O que lá está é o esquema de um combate medidas draconianas, declarar estados de emergência, populações, mais respeitadora da natureza e do meio ambiente.
multifaseado ao vírus, começando pela identificação fechar pessoas, fronteiras, têm efeitos e acalmam a po- Quinhentos anos após Fernão de Magalhães ter iniciado a sua
das principais ameaças, pelo equipar progressivo dos pulação frágil e propícia ao pânico. Mas serão eficientes? viagem, essa seria, decerto, a melhor forma de a comemorar. ■
hospitais, até à tomada de medidas mais restritivas, etc.
Podemos criticar este plano, claro. É um plano que se Quando acabar o isolamento forçado, os chineses vão Agenda MIL: Em virtude do combate à propagação do COVID-19,
concentra no longo prazo, o que não é mau. Prevenir voltar aos transportes apinhados, aos mercados húmidos, a próxima sessão do Ciclo de “Tertúlias de Cultura Portuguesa”,
um surto não é apenas fechar portas e janelas, é tam- etc. Temos de nos preparar para mais, e isso não se faz a agendada para dia 28 de Março, foi cancelada. O Ciclo retomar-se-
bém assegurar respostas no futuro. Contudo, o que os nível do Estado, mas da preparação dos cidadãos. Isola- -á, assim, a 18 de Abril, no Palacete Viscondes de Balsemão (Porto),
britânicos não imaginaram é que teriam de apressar a mento? Sim. Mas consciente e permanente. ■ com a Apresentação da Revista NOVA ÁGUIA nº 25.
24 • O DIABO, 20 de Março de 2020

Sem truques de feira, esgares histriónicos ou popu- A ainda Ministra da Saúde, Marta Fartura Te-

Céu
lismos baratos, com a dignidade e a contenção de mido, que começou por relativizar um vírus que
um Senhor, Sua Alteza Real o Duque de Bragança, o Serviço Nacional de Saúde estava “preparado

&Inferno
Dom Duarte João, deu esta semana uma lição sobre a nobre para enfrentar”, fala agora em dantescos “cenários de
arte de ser um verdadeiro Chefe do Estado, numa mensagem guerra” em que toda a gente tem de se trancar em casa,
de grande qualidade à Nação Portuguesa. que nos hospitais não há lugar. Se o ridículo matasse…

Instantâneo
Alto! Isto é
uma fronteira!
No Alto Alentejo, onde é comum que caminhos
municipais liguem povoados transfronteiriços,
houve autarcas que não se conformaram com a
lentidão do Governo na decisão de controlar a
circulação de pessoas e bens entre os dois países
– sobretudo depois de se perceber que muitos
espanhóis, oriundos de zonas contaminadas pelo
vírus, se preparavam para uma discreta “invasão”
de Portugal. Já que Costa não os socorria, tomaram
facebook eles a política aduaneira em suas mãos, restaurando
“fronteiras” com aquilo que tinham à mão…

“Não podemos tolerar mais líderes que nos entretêm com combates
5ª Coluna
A Frase planetários quando nem sequer conseguem garantir
que temos testes e máscaras para enfrentar uma pandemia”
Helena Matos, in ‘Observador’
Informação
A quantidade, a densidade
• Facciosismo • Despropósito • Lentidão • Humor negro e a velocidade de circulação
das notícias, comentários e
Quem torto nasce, tarde ou nun- Colocar o fanatismo político à Sucessor dos Reis de Portugal, Os pândegos que há uma semana análises sobre a pandemia
ca se endireita. No meio de uma frente de tudo é uma característi- o Duque de Bragança dirigiu- organizaram num bar de San- de Covid-19 tornaram-se
crise de saúde à escala planetária, ca inconfundível da esquerda. Na -se à Nação com uma palavra ta Maria da Feira um “Corona verdadeiramente estontean-
em vésperas de ser declarado o crise do Covid-19 que o mundo de encorajamento e esperança. Party” de mau gosto, indignan- tes. Há situações em que o
estado de emergência em todo vive, os Governos de esquerda Numa mensagem difundida esta do muito boa gente de Norte a excesso de informação aca-
o território nacional, o socia- e os burocratas federalistas de semana, Dom Duarte sublinha Sul do país, ouviram-nas boas ba, não apenas por saturar,
lista Eduardo Ferro Rodrigues Bruxelas resistiram o mais possí- que “os portugueses adoptaram do presidente do Centro Hospi- mas também por confundir
manteve-se o esquerdista em- vel, enquanto puderam invocar o um comportamento notável para talar do Entre Douro e Vouga, e perturbar aqueles a quem
pedernido que só pensa em im- “politicamente correcto”, à res- este enorme desafio que se nos Miguel Paiva. Numa carta envia- se destina. É legítimo (e até
por aos outros o seu facciosismo tauração das fronteiras nacionais coloca”. Mas não deixa de lançar da ao gerente do bar, este gestor desejável) que queiramos
político. Quando, esta semana, – mesmo que manter fronteiras o seu olhar crítico sobre a políti- hospitalar comentou com ironia: informar-nos e compreen-
lhe falaram em reduzir drastica- abertas significasse expor à con- ca nacional de combate ao vírus. “Apesar da ofensa que sentimos, der melhor este pesadelo
mente a actividade parlamentar taminação e à morte milhares de Considerando que o Governo esteja tranquilo que nós cá con- em que estamos mergulha-
nos tempos mais próximos, Fer- europeus. Entre nós, a ministra “age com o maior cuidado, ten- tinuamos para a eventualidade dos, a nível planetário. Mas,
ro não se lembrou do exemplo da Saúde mostrou o mesmo tipo do vindo a tomar as suas decisões, de V. Exa. ou alguns dos seus para benefício da sanidade
de recolhimento e prudência de fixação mental ao defender (a ponderadas, mas sempre alguns familiares poderem precisar de mental das nossas socieda-
que os deputados deviam dar: despropósito, vendo fantasmas passos atrás da sociedade, que por nós. Apesar de já termos mais de des, impõe-se que evitemos
a sua primeira preocupação foi onde eles não existem) que “tra- sua iniciativa está sempre à fren- quatro dezenas de profissionais a angústia e o pânico que
garantir que “seguramente have- ta-se sobretudo de continuar a te”, o chefe da Casa Real sublinha em quarentena por terem contac- muita dessa informação pro-
rá comemorações do 25 de Abril tratar as pessoas que precisam de a lentidão em algumas decisões: tado com doentes infectados com voca. Depois da tempestade
pela Assembleia”, embora “não se tratamento, independentemente “É difícil compreender como é o tal Covid-19 - esse que V. Exa. virá a bonança – e é bom que
saiba em que condições e onde”. da sua nacionalidade de origem”. possível convocar o Conselho de achou muito engraçado - estamos comecemos a temperar a in-
O 25 de Abril é que o preocupa – Mas quem falou em nacionali- Estado que deverá definir o esta- a reorganizar-nos para que nunca quietação e o desassossego
tudo o resto não interessa nada. dades no tratamento? Só uma do de emergência do país para falte a capacidade de tratar das com o sal da esperança num
É preciso descaramento. mente tortuosa de esquerda… meados desta semana”. Touché! pessoas que precisem”. Toma! tempo renovado. À noite há-
-de suceder o dia.

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