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Por fim, destaque-se que o prazo para ajuizamento da ação rescisória era
previsto no Código Civil de 1916, possibilitando a rescisão da decisão
transitada em julgado até cinco anos após o desfecho do processo.
Por fim, uma questão que nos parece fundamental diz respeito à
necessidade de utilização da ação rescisória, quando, ao invés de se
pretender impugnar a decisão pela presença de algum vício previsto no
art. 485 do CPC, almeja-se apenas apontar uma alteração nas
circunstâncias fáticas ou jurídicas apreciadas na decisão transitada em
julgado, fazendo com que tal decisão não mais seja adequada a regular a
nova situação formada. Tais situações ocorrem quando a demanda trata
de relações jurídicas de trato continuado[22], na qual a decisão proferida
irá reger não só os fatos jurídicos passados, mas também futuros,
enquanto presentes as mesmas circunstâncias que foram objeto da
decisão passada em julgado.
Imaginemos, por exemplo, a hipótese de uma ação civil pública que vise à
defesa do meio ambiente, pois determinada fábrica está contaminando
um rio que abastece uma cidade inteira. Por equívocos na produção
probatória (não pela falta de provas, que obstaria a formação da coisa
julgada), formou-se coisa julgada sobre uma decisão de improcedência
da ação. Contudo, não há dúvidas de que realmente as provas foram
forjadas e que, em poucos anos, a população da referida cidade será
dizimada, bem como todo o ecossistema do entorno. Não há mais prazo
para ação rescisória.
Com efeito, não obstante ser a garantia da coisa julgada uma regra
constitucional, no dizer de Marinoni uma “super-regra”[30], sua aplicação
não observa constantemente a lógica do “tudo ou nada”, havendo
situações excepcionais que, não obstante preenchido o enunciado
prescritivo que recomenda sua observância, será possível a superação.
[31]
Como dissemos, não obstante seja a coisa julgada uma regra das mais
importantes em um Estado de Direito, o que faz com que sua superação
ocorra em situações absolutamente excepcionais, não nos parece que só
o Poder Legislativo esteja autorizado a estabelecer os casos de
superação da regra constitucional. Deve ter prioridade, mas não
exclusividade. Há de remanescer, em alguma medida, atribuição ao
Judiciário para afastar uma decisão transitada em julgado.[34]
Temos que atentar, todavia, que estamos diante de uma das regras mais
importantes de um Estado Democrático de Direito e essa premissa deve
nortear toda a construção proposta. Isso reforça, por exemplo, a
preocupação antes citada do Professor Humberto Ávila no sentido de que
as regras só podem ser superadas “por razões extraordinárias e mediante
um ônus de fundamentação maior”.[38] No particular, tal exigência se
avulta.
Preocupa-nos bastante a tese ora perfilhada de ao Poder Judiciário ser
possível, ainda que excepcionalmente, afastar a coisa julgada quando
presentes razões que superem os valores que fundamentam tal garantia
constitucional.[39] Entretanto, sendo coerente com o discurso jurídico até
aqui desenvolvido, não podemos defender que a coisa julgada se
sustenta em um valor absoluto, insuperável, pois o próprio sistema nos
desmentiria, na medida em que as hipóteses de cabimento da ação
rescisória e da revisão criminal escancaram a possibilidade de superação
da regra constitucional.
O art. 741 do CPC nos demonstra de forma eloquente tal relação entre a
exigibilidade dos direitos e a eficácia executiva dos julgados. Impressiona
como a doutrina não confere a devida relevância a tais distinções e, vez
por outra, afirma de forma categórica que a supressão da eficácia
executiva das decisões importa violação à coisa julgada.
A coisa julgada, reitere-se, não tem por objeto a exigibilidade dos direitos
ou a eficácia executiva da decisão, mas sim o próprio direito reconhecido,
tornando-o incontestável quanto à sua existência. A exigibilidade, porém,
pode ser alterada, suprimida, interrompida, suspensa, sem qualquer
violação à coisa julgada.
Pensamos que o art. 741, parágrafo único, e o art. 475-L, § 1º, do CPC
devem ser interpretados nos mesmos termos do regramento alemão, na
medida em que constituem uma hipótese de ineficácia prospectiva dos
julgados baseados em dispositivos tidos por inconstitucionais pelo STF.
Não é furtivo o fato de ser suprimida a exigibilidade do direito, afastando a
eficácia executiva do julgado. O que tais dispositivos pretendem, pois, é
suprimir a possibilidade de se executar um título judicial caso sobrevenha
um evento da mais alta relevância no ordenamento jurídico nacional, que
é o reconhecimento da inconstitucionalidade de um enunciado normativo
pelo STF. Visa ao futuro, jamais ao passado. Não há retroatividade que
atinge a coisa julgada, muito menos possibilidade de repetição do que foi
regularmente cumprido.
Assim, ainda que analisado apenas sob a ótica da segurança jurídica (item
4.2 supra), não nos parece inconstitucional o resultado da ponderação de
valores feita pelo Legislador, quando positiva que a definição sobre a
constitucionalidade de um dispositivo legal pelo STF constitui algo tão
impactante no ordenamento jurídico que se torne apto a impedir a
execução de decisões que o tenha por fundamento. Além de prestigiar a
autoridade das decisões da Suprema Corte e a própria força normativa da
Constituição[57], consagra a isonomia, na medida em que busca
proporcionar uma aplicação homogênea do ordenamento, na maior
dimensão possível. Os cidadãos, por sua vez, estarão devidamente
informados que as decisões judiciais não produzirão mais efeitos se o
Supremo Tribunal Federal reconhecer a inconstitucionalidade dos
dispositivos no qual ela se baseia.
Assim não nos parece. Após o STF dar a última palavra sobre a
constitucionalidade de certo dispositivo legal, em especial quando
reconhece sua inconstitucionalidade, temos uma alteração significativa o
ordenamento jurídico, porquanto os juízes não mais poderão aplicar a
regra afastada pela Corte maior. Caso o faça, e não estejamos diante do
pronunciamento do STF em sede de controle concentrado de
constitucionalidade – situação que confere grande nitidez ao referido
impacto jurídico – basta que a demanda seja conduzida ao STF que
certamente tal solução lhe será conferida.[63]
(...)
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
_______________. Manual da execução. 11. Ed. Rev., ampl. E atual. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2007.
DIDIER JR, Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil. Teoria da prova,
direito probatório, teoria do precedente, decisão judicial, coisa julgada e
antecipação dos efeitos da tutela. V. 2. 4. Ed. Salvador: EDITORA
JusPODIVM, 2009.
NEVES, Celso. Coisa julgada civil. São Paulo, Editora Revista dos
Tribunais, 1971.
Notas
[1] RAÓ, Vicente. O direito e a vida dos direitos. 2.ª ed. São Paulo:
Resenha Universitária, 1977, p. 428.
[2] “É que, quando se afirma que algo deve ser “relativizado”, logicamente
se dá a entender que se está enxergando nesse algo um absoluto: não faz
sentido que se pretenda “relativizar” o que já é relativo. Ora, até a mais
superficial mirada ao ordenamento jurídico brasileiro mostra que nele está
longe de ser absoluto o valor da coisa julgada material: para nos
cingirmos, de caso pensado, aos dois exemplos mais ostensivos, eis aí, no
campo civil, a ação rescisória e, no penal, a revisão criminal, destinadas
ambas, primariamente, à eliminação da coisa julgada. O que se pode
querer – e é o que no fundo se quer, com dicção imperfeita – é a
ampliação do terreno “relativizado”, o alargamento dos limites da
“relativização””. (Considerações sobre a chamada “relativização” da coisa
julgada material In Relativização da coisa julga. 2ª ed. Coordenação de
Fredie Didier Jr. Salvador: JusPODIUM, 2008, p. 225).
[3] DIDIER JR, Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil. Teoria da
prova, direito probatório, teoria do precedente, decisão judicial, coisa
julgada e antecipação dos efeitos da tutela. V. 2. 4. Ed. Salvador: EDITORA
JusPODIVM, 2009, p. 432.
[15] “8. No caso específico dos autos, em que a ação principal tramitou
sem que houvesse citação válida do litisconsórcio passivo necessário,
não se formou a relação processual em ângulo. Há, assim, vício que
atinge a eficácia do processo em relação ao réu e a validade dos atos
processuais subsequentes, por afrontar o princípio do contraditório. Em
virtude disto, aquela decisão que transitou em julgado não atinge aquele
réu que não integrou o polo passivo da ação. Por tal razão, a nulidade por
falta de citação poderá ser suscitada por meio de ação declaratória de
inexistência por falta de citação, denominada querela nullitatis, que, vale
ressaltar, não está sujeita a prazo para propositura, e não por meio de
ação rescisória, que tem como pressuposto a existência de decisão de
mérito com trânsito em julgado. 9. Ação rescisória extinta sem julgamento
do mérito.” (STJ, AR 569 / PE; Primeira Seção; j. Em 22/09/2010)
[21] CÂMARA, Alexandre Freitas. Ação rescisória. Editora Lumen Juris: Rio
de Janeiro, 2007, p. 53-54.
[25] Nesse caso, como a decisão tem nítida eficácia prospectiva, regendo
a situação jurídica do contribuinte para o futuro, pondera o Tributarista
gaúcho sobre a necessidade de “conciliação do princípio da segurança
jurídica, por meio da coisa julgada, com o princípio da igualdade, por meio
da revisão da coisa julgada”, propondo a “manutenção da validade da
coisa julgada, com a mera limitação dos seus efeitos futuros”. (Ávila,
Humberto. Segurança jurídica. Entre permanência, mudança e realização
no direito tributário. São Paulo: Malheiros, 2011, p. 354.)
[43] Por exemplo, por meio de demanda com competência originária dos
tribunais, participação obrigatória do Ministério Público, reexame
necessário etc.
[48] “Do ponto de vista conceptual, nada nos força a admitir correlação
necessária entre os dois fenômenos [eficácia da sentença e a sua
imutabilidade]. O mais superficial exame do que se passa no mundo do
direito mostra que é perfeitamente normal a produção de efeitos por ato
jurídico suscetível de modificação ou desfazimento. Mostra também que
podem deixar de manifestar-se, ou ver-se tolhidos ou alterados, os
efeitos de um ato jurídico, não obstante permaneça este, em si, intacto,
assim como podem subsistir, no todo ou em parte, os efeitos de um ato
jurídico que se modifica ou se desfaz; em outras palavras: mostra que a
subsistência do ato e a subsistência dos efeitos são coisas distintas, sem
obrigatória implicação recíproca. (...) Quanto à relação entre eficácia e
imutabilidade, nada existe que vincule a priori aquela a esta, ou esta
àquela.” (MOREIRA, José Carlos Barbosa. Eficácia da sentença e
autoridade da coisa julgada. Revista da Associação dos Juízes do Rio
Grande do Sul. Porto Alegre: AJURIS, 1983, n.28, pp. 19 - 20.)
Fonte: http://jus.com.br/artigos/30400/coisa-julgadaeseguranca-juridica