Livro - Ergonomia PDF

Ergonomia
Ana Carolina Gigli Shiguemoto

© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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Yane Ribeiro De Oliveira Lobo
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Shiguemoto, Ana Carolina Gigli
S555e Ergonomia / Ana Carolina Gigli Shiguemoto. – Londrina :
Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019.
216 p.
ISBN 978-85-522-1592-9
1. Ergonomia organizacional. 2. Ergonomia cognitiva.

3. Ergonomia física. 4. Antropometria. I. Shiguemoto, Ana
Carolina Gigli. II. Título.
CDD 620
Thamiris Mantovani CRB-8/9491
2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1
Visão da ergonomia�� 7
Seção 1
Introdução à ergonomia�� 9
Seção 2
Ergonomia física��25
Seção 3
Ergonomia cognitiva��41
Unidade 2
Aspectos relacionados à ergonomia no trabalho��55
Seção 1
Macroergonomia��57
Seção 2
Doenças relacionadas ao trabalho��75
Seção 3
Normas técnicas e regulamentadoras referentes à ergonomia��89
Unidade 3
Os fatores humanos e organizacionais do trabalho�� 109
Seção 1
Fatores humanos no trabalho�� 111
Seção 2
Organização do trabalho�� 126
Seção 3
Posto de trabalho�� 140
Unidade 4
Projeto e aplicação da ergonomia�� 157
Seção 1
Aplicações industriais da ergonomia�� 159
Seção 2
Métodos e técnicas em ergonomia�� 177
Seção 3
Ergonomia do produto�� 193
Palavras do autor
Caro aluno,
V
ocê sabe o que é ergonomia? Essa palavra surge da junção de duas palavras
gregas: ergon, que significa trabalho, e nomos, que significa leis. Você já
consegue perceber, a partir da etimologia da palavra, que a ergonomia
é uma ciência do trabalho cujo objetivo é avaliar a adequação deste ao homem,
principalmente no que diz respeito ao ambiente em que este ofício está sendo reali-
zado. Isso é de extrema importância, pois nos fornece indicadores relacionados ao
bem-estar do ser humano e sobre o desempenho do trabalho, que possibilitam ao
gestor tomar algumas decisões para otimizar, de forma geral, o seu sistema.
Na Unidade 1, conheceremos os principais conceitos referentes à ergonomia
física e cognitiva, de forma que você seja capaz de definir os agentes fundamen-
tais de um sistema homem-máquina e como ocorre sua interação.
Na Unidade 2, abordaremos os aspectos da Macroergonomia, as doenças
relacionadas ao trabalho, bem como as normas técnicas e regulamentadoras
existentes em nosso país, que nos auxiliarão na orientação de problemas referentes
à ergonomia, para que você seja capaz de aplicar esses conhecimentos em casos
práticos. As empresas devem fazer uma análise ergonômica do trabalho e, encon-
trando problemas, precisam propor soluções que os mitiguem de forma a atender
à legislação e, também, proporcionar um ambiente mais seguro aos colaboradores.
Na Unidade 3, conheceremos os principais fatores referentes aos aspectos
humanos no trabalho e sua organização, o que possibilitará a você definir
aspectos ergonômicos importantes que devem ser levados em consideração
no projeto de um posto de trabalho.
Por fim, na Unidade 4, avaliaremos a metodologia existente para avaliação
de diversas aplicações em ergonomia e aspectos que devem ser considerados
no projeto e desenvolvimento de novos produtos, visando proporcionar
maior conforto aos usuários.
Por envolver aspectos de engenharia, fisiologia e psicologia, a ergonomia
é considerada uma ciência interdisciplinar. Ao longo de sua carreira, poderão
surgir situações em que você deverá atuar com foco na melhoria no ambiente
de trabalho, seja por um problema relacionado à legislação ou, até mesmo,
melhorar o conforto e a usabilidade de um produto desenvolvido por você.
Para solucionar esses problemas, é de extrema importância que você conheça
os conceitos básicos sobre ergonomia, a nossa legislação vigente e se inspire
nas situações em que você trabalhará ao decorrer desta disciplina.
Unidade 1
Visão da ergonomia
Convite ao estudo
Caro aluno,
Como mencionamos anteriormente, a ergonomia é uma ciência do
trabalho cujo objetivo é avaliar a adequação deste ao homem, levando em
consideração aspectos físicos e mentais, prezando pela saúde do colabo-
rador. Nesta unidade, trabalharemos os conceitos iniciais de ergonomia e sua
origem, definiremos o papel do ergonomista e conheceremos quais são as
aplicações desta área no nosso dia a dia. Para complementar os conceitos
relacionados à ciência em si, também precisamos entender conceitos sobre
a fisiologia humana e como a atividade mental está relacionada ao desem-
penho no trabalho. É importante que o ambiente de trabalho seja proje-
tado de forma que a atividade seja confortável, segura, e que respeite os
aspectos legais, colaborando para que os trabalhadores desempenhem da
melhor forma possível suas funções. Neste sentido, imagine um operário que
trabalha em bancada em uma linha de produção: se a altura da bancada for
inadequada à sua altura, a postura durante a realização do trabalho pode
ser prejudicada e isso causará danos à saúde, reduzindo sua produtividade e
aumentando o número de faltas ao trabalho, pois o trabalhador se ausentará
do serviço para consultar-se ao médico e ao fisioterapeuta.
Para que seu estudo seja mais proveitoso, você fará o papel de um ergono-
mista conceituado, contratado por uma grande empresa ligada ao ramo
do agronegócio, que enfrenta problemas relacionados a diversas queixas
no ambiente de trabalho. Dentre as principais demandas, os funcionários
reclamam de dores no corpo devido à posição das estações de trabalho no
setor administrativo (escritório) e que, também, o ambiente de trabalho é
muito estressante; alguns colaboradores estão muito cansados e insatisfeitos
com o trabalho de forma geral. Muitos gerentes, ávidos por resultados, são
extremamente exigentes e não reconhecem a importância da ergonomia no
ambiente de trabalho. Parece uma tarefa bastante desafiadora, não é? Frente
a isso, a primeira etapa de seu trabalho é realizar uma conscientização junto
aos gestores e demais funcionários, destacando o papel fundamental da
ergonomia em diversos setores. A segunda etapa do trabalho a ser desenvol-
vido consiste em definir os conceitos de antropometria aplicados ao projeto
da estação de trabalho, levando em consideração os dados antropométricos
dos colaboradores. Para finalizar a sua consultoria, você atuará na questão da
insatisfação e do estresse neste ambiente, destacando quais são as condições
que podem se tornar fatores estressores no ambiente de trabalho e quais são as
ações que podem ser realizadas para reverter a situação na qual a empresa se
encontra. Para conseguir realizar seu propósito de forma efetiva, você precisa
conhecer alguns aspectos históricos e aplicações da ergonomia, ter noções
sobre o organismo humano e entender sobre aspectos da ergonomia cogni-
tiva, que está relacionada à atividade mental. Neste sentido, você consegue
definir o papel de um ergonomista? Conhece o termo antropometria e como
esta ciência nos ajuda a proporcionar maior conforto aos postos de trabalho?
Além disso, como a realização do trabalho está ligada à ergonomia cogni-
tiva? Estas e muitas outras perguntas poderão ser respondidas com este seu
primeiro contato com a ergonomia. Vamos nos aprofundar e colocar em
prática estes novos conceitos!
Seção 1
Introdução à ergonomia
Diálogo aberto
Caro aluno,
Primeiramente, definiremos o que é ergonomia, bem como seus objetivos
e sua classificação. Além disso, investigaremos o papel de um ergonomista e
a transdisciplinariedade da área, suas aplicações e o custo-benefício que esta
ciência traz ao sistema produtivo de diversas empresas.
A ergonomia foi oficializada como uma disciplina científica após a
Segunda Guerra Mundial e é resultado do trabalho de profissionais de
diferentes áreas, tais como engenharia, psicologia e fisiologia. Esta ciência
vem sofrendo alterações com o tempo; anteriormente, a aplicação estava
centrada no binômio homem-máquina, atualmente, são avaliados sistemas
mais complexos e abrangentes, que contam com a interação de diversos
humanos, máquinas e o ambiente de trabalho das mais diferentes atividades.
Além disso, precisamos levar em consideração as mudanças em termos da
natureza do trabalho: cada vez mais as atividades realizadas dependem de
aspectos cognitivos, ou seja, qual a percepção do colaborador para que este
tome a melhor decisão, em detrimento de um trabalho que, antigamente,
exigia apenas esforço físico.
Para que você aprenda os conceitos de forma mais proveitosa, imagine a
seguinte situação: você é um renomado consultor em ergonomia e foi contra-
tado recentemente por uma empresa que enfrenta sérios problemas com as
reclamações e os resultados de seus colaboradores. As principais demandas
estão relacionadas às dores no corpo devido à posição das estações de
trabalho: os colaboradores do setor administrativo queixam-se das mesas e
das cadeiras fornecidas pela empresa, pois não são confortáveis para a reali-
zação de trabalho de escritório. Recentemente, a gestora de RH (recursos
humanos) realizou um levantamento sobre as consultas médicas junto ao
provedor de plano de saúde, que destacou, de forma preocupante, o número
de consultas à ortopedistas e de seções de fisioterapia. Em suma, o ambiente
de trabalho é muito estressante; alguns colaboradores estão muito cansados
e insatisfeitos com o trabalho de forma geral, o que gera muita “conversa de
corredor”, principalmente sobre os gestores e a forma de coordenar o trabalho.
Nesse contexto, como primeira etapa você deve realizar uma conscientização
junto aos gestores e demais funcionários, destacando o papel fundamental
da ergonomia em diferentes setores. Qual é a forma que o ergonomista deve
9
trabalhar para que a conscientização seja eficaz? Quais são as diversas formas
que podemos aplicar para lidar com problemas ergonômicos? Nesse cenário,
quais são os benefícios que a ergonomia poderá trazer à empresa?
Para isso, você deverá avaliar o papel do ergonomista e as diversas aplica-
ções que a ergonomia apresenta em termos de avaliação da adequação do
trabalho ao homem e, também, a relação benefício-custo que a aplicação
desta área traz ao setor produtivo quando da sua aplicação. Aprofunde seus
estudos para a realização de uma ótima consultoria!
Não pode faltar
Durante a realização de determinada atividade ou serviço, o ser humano

pode permanecer na mesma posição por um determinado período, o que
pode levar ao surgimento de problemas, por exemplo, desconforto e fadiga.
Já esforços repetitivos, aliados a uma postura inadequada, podem ser a
causa do aparecimento de diversas lesões. Para evitar estes problemas, preci-
samos avaliar as condições de trabalho, surgindo, portanto, a ergonomia.
Esta área tem muitas definições, no entanto, todas elas destacam o caráter
interdisciplinar e um objetivo comum: estudar a adequação do trabalho
ao ser humano a partir da interação do colaborador com as máquinas
no ambiente de ofício; isso define o sistema homem-máquina-ambiente.
A definição mais antiga da ergonomia data de meados dos anos 50 e foi
formulada pela Ergonomics Research Society (Sociedade de Pesquisa em
Ergonomia) na Inglaterra:
Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e

seu trabalho, equipamento, ambiente e, particularmente,
a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia
e psicologia na solução dos problemas que surgem deste
relacionamento. (ERGONOMICS RESEARCH SOCIETY, 1949
apud ERGONOMIA, [s.d.]
A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) adota a definição

da Associação Internacional de Ergonomia (International Ergonomics
Association – IEA):
Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica

que estuda as interações entre os seres humanos e outros
elementos do sistema de trabalho aplicando os princípios
10
teóricos, dados e métodos, a fim de realizar projetos para
otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral desse
sistema. (ERGONOMIA, [s.d.])
A ergonomia tem como objetivo proporcionar satisfação e conforto aos

indivíduos e garantir que a atividade laboral e interação com as máquinas/
equipamentos não causem problemas à saúde do colaborador, reduzindo,
desta forma, fadiga, estresse, erros e acidentes. Para isso, é necessário avaliar
diversos fatores que influenciam o desempenho do sistema de produção,
conforme ilustra a Figura 1.1.
Reflita
A ergonomia visa preservar a saúde, segurança, satisfação, eficiência e produ-
tividade dos trabalhadores. No entanto, não se aceita colocar a eficiência do
trabalho como objetivo principal da ergonomia, ela seria uma consequência.
Reflita com seus colegas e docente o porquê desta consideração.
Figura 1.1 | Medidas antropométricas para postos de trabalho
Fonte: Iida e Guimarães (2018, p. 5).
11
Assimile
Para que você tenha sucesso em seus trabalhos como ergonomista, é neces-
sário compreender os seguintes conceitos e as seguintes características:
• Homem: tem atributos como idade, tamanho, força, habilidade
cognitiva, experiência, cultura e objetivos que devem ser consi-
derados no projeto de ergonomia.
• Máquina: ferramentas, mobília, equipamentos e instalações.
• Ambiente: onde o homem está inserido e tem como caracterís-
ticas temperatura, ruídos, vibrações, luminosidade, etc.
• Informação: sistema de transmissão das informações necessárias
à realização do trabalho.
• Organização: elementos do sistema produtivo.
• Consequências do trabalho: estresse, fadiga, erros e acidentes.
Os princípios que regem a ergonomia começaram nos primórdios da

humanidade, quando o homem pré-histórico adaptou ferramentas (Figura
1.2) para tornar o manuseio mais adequado às suas necessidades e, também,
mais seguro e eficiente.
Figura 1.2 | Ferramentas da pré-história
Fonte: https://www.istockphoto.com/br/vetor/idade-da-pedra-homem-primitiva-gm512907816-87376081.
Acesso em: 28 jun. 2019.
Na renascença, período entre o século XIV e início do século XVII,

surgiram alguns trabalhos na área, tais como:
12
• O homem vitruviano, que apresenta as proporções do corpo humano
e sua relação com o espaço que o cerca, de Leonardo da Vinci
(1452-1519).
• A primeira sistematização de doenças de trabalho: De morbis
Artificum Diatriba, realizada por Bernardino Ramazzini (1633-1714).
• A obra de Wojciech Jastrzebowski (1799-1882): A Ciência do
Trabalho, na qual aparece, pela primeira vez, o termo ergonomia.
Com a Revolução Industrial (meados do século XVIII – Inglaterra), o
surgimento de diversos avanços tecnológicos impactou o processo produtivo
e a concepção de ergonomia tomou novas proporções devido às condições de
trabalho (em termos de ruído, segurança e higiene e período de jornada que
eram de aproximadamente 16 horas).
Pesquise mais
Com o advento da Revolução Industrial, a maior preocupação estava
atrelada ao aumento de produtividade em detrimento dos fatores
humanos. Aprofunde seu conhecimento na Aula 01 – Conceitos Básicos
e História, do canal Univesp, na qual o Professor Danilo Corrêa Silva
ilustra este caso com o filme “Tempos Modernos”, de Charlie Chaplin
(até 13min17seg).
Em 1940, a ergonomia passa a ser classificada como uma disciplina cientí-

fica, mas não eram observados muitos avanços na área, pois a utilização dos
equipamentos ainda não era bem compreendida. Com os avanços da Segunda
Guerra Mundial, percebeu-se essa dificuldade de forma mais efetiva, estimu-
lando a pesquisa na área, envolvendo questões sobre a interação de pessoas
com equipamentos e ambiente. Em 1949, foi formada a primeira sociedade
mundial de ergonomia, a Ergonomics Research Society.
Após a Segunda Guerra Mundial, de acordo com Hendrick (1995), a
ergonomia pode ser organizada em quatro fases (Quadro 1.1).
Quadro 1.1 | Fases da Ergonomia (HENDRICK, 1995)
Iniciou-se durante a Segunda Guerra Mundial e destacava

Ergonomia de hardware questões fisiológicas e biomecânicas do ambiente de trabalho e
ou tradicional interação do sistema homem-máquina. Interesse principal na
área militar.
Trata-se de como ruído, vibrações, temperatura, iluminação

Ergonomia do meio
e elementos dispersos no ar afetam o trabalho. Interesse na
ambiente
compreensão da relação do ser humano com o ambiente.
13
A partir da década de 80, com o avanço no setor de informática,
passou a ser estudada a interface entre humano e máquina, uma
Ergonomia de software
vez que o homem não manuseia mais o produto e sim opera
ou cognitiva
uma máquina que irá fazê-lo. Fatores cognitivos devem ser
levados em consideração para facilitar o trabalho.
Visão ampla da ergonomia: engloba o contexto organizacio-

nal, psicossocial e político de um sistema. Prioriza o processo
participativo, prevendo realização de trabalho em equipe
Macroergonomia
para garantia de melhores resultados, buscando redução de
erros e aumentando o nível de satisfação dos colaboradores
ao trabalho.
Fonte: Adaptado de Corrêa e Boletti (2015, p. 7).
No Brasil, o primeiro trabalho acadêmico data de 1973. Em 1983, surge

a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), cujo objetivo é estudar,
praticar e divulgar a ergonomia no nosso país.
O profissional responsável pelo planejamento, pelo projeto e pela
avaliação de tarefas e compatibilização dos postos de trabalho ao ser humano
é o ergonomista. Suas atividades têm sempre como foco que um sistema
esteja de acordo com a necessidade do colaborador. São elas:
1. Investigar as habilidades e as limitações do ser humano.
2. Analisar como as pessoas utilizam os equipamentos.
3. Avaliar os riscos do ambiente de trabalho, bem como seus efeitos na
saúde do trabalhador.
4. Projetar, sugerir e planejar a implementação de melhorias, para que
elas sejam implementadas de forma efetiva.
5. Realizar pesquisa (entrevistas), compilar dados e produzir relatórios.
6. Aplicar conhecimentos sobre fisiologia humana para o projeto de
novos produtos.
Para que estas atividades sejam realizadas com sucesso, é importante que
o ergonomista tenha conhecimento em diversas áreas, por exemplo, antropo-
metria, biomecânica, anatomia, fisiologia, psicologia e engenharia. Isso quer
dizer que a ergonomia é uma disciplina transdisciplinar
Assimile
Multidisciplinaridade: conjunto de disciplinas que trata, simultanea-
mente, de uma dada questão; o objeto em questão é visto sob diversos
pontos de vista, em uma justaposição de conhecimentos.
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Interdisciplinaridade: conjunto de disciplinas científicas que se interagem,
sob a coordenação de uma delas, para enriquecimento e transformação
das disciplinas envolvidas. Há troca de técnicas e metodologias.
Transdisciplinaridade: busca resolver o problema com base na experi-
ência acadêmica e não acadêmica, possibilitando o surgimento de
uma nova visão acerca do assunto, na tentativa de elaborar uma nova
metodologia unificada.
Nesta área da ergonomia, os profissionais devem contribuir de forma

proativa, interagindo com outros profissionais diante da problemática a ser
resolvida. Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia (2004, p.11):
[...] os problemas da realidade laboral não são exclusivos

de quaisquer das disciplinas de suporte e muito menos
admitem reduções a estes olhares segmentados. O próprio
objeto da ergonomia, a atividade de trabalho, não e apenas
fisiológico, biomecânico cognitivo ou organizacional, mas
sintetiza todos esses aspectos face ao problema que é reali-
zá-lá com eficiência, conforto e segurança. O que significa
dizer que as soluções propostas devem ser examinadas por
todos esses ângulos.
Dessa forma, os ergonomistas devem priorizar o entendimento de todo o

campo de ação da ergonomia: aspectos físicos, cognitivos, sociais, organiza-
cionais, ambientais, etc. Quando da intervenção do profissional, este elabora
um diagnóstico ergonômico do sistema de trabalho e, após a constatação
da realidade, sugere melhorias e adequações. Dependendo da situação, o
ergonomista pode lidar com problemas ergonômicos de diferentes maneiras,
de acordo com a sua classificação:
1. Abordagem: ergonomia de produto e ergonomia de produção.
2. Perspectiva: ergonomia de concepção e ergonomia de intervenção
(conscientização).
3. Finalidade: ergonomia de correção, de enquadramento, de remaneja-
mento e de modernização.
A de concepção ocorre quando se aplica a ergonomia durante o desen-
volvimento de um produto, máquina, ambiente ou sistema. Como não existe
nada construído, podemos examinar todas as possibilidades, levando em
consideração situações hipotéticas, sendo auxiliados por modelos tridimen-
sionais e modelos virtuais.
15
A de correção se aplica em situações já existentes em que é necessário
resolver problemas para redução de fadiga, doenças de trabalho e melhoria
nos aspectos relacionados à segurança e ao trabalho que vem sendo execu-
tado. Neste caso, é possível interpretar a causa do problema, mas resolvê-lo
pode ser demorado ou ter custo bastante elevado, além de afetar negativa-
mente a imagem da empresa.
Exemplificando
Algumas correções, no entanto, são bastante simples: imagine uma
situação em que a iluminação estava insuficiente e o trabalho, execu-
tado com um notebook, estava bastante desconfortável. A solução
encontrada pelo ergonomista encontra-se ilustrada na Figura 1.3.
Figura 1.3 | Situação de ergonomia de correção
Fonte: Corrêa e Boletti (2015, p. 13).
A correção da luminosidade aconteceu com a colocação de uma luminária

e o desconforto do trabalho executado com o notebook foi corrigido
colocando o equipamento em um suporte e acoplando um teclado a ele.
Você conseguiria definir alguma outra correção neste cenário?
A ergonomia de conscientização capacita os colaboradores para perceber

e corrigir os problemas que ocorrem no dia a dia ou aqueles que surgem
em caráter emergencial. Devido à dinâmica do processo produtivo, podem
surgir novos problemas, que não eram previstos na fase de concepção ou até
mesmo de correção. A conscientização é feita por meio de treinamentos, que,
16
de forma geral, são realizados coletivamente, a fim de estimular o colabo-
rador a trabalhar de forma segura, reconhecendo todos os fatores de risco
que o cercam no ambiente de trabalho e, caso uma emergência ocorra, qual
a melhor forma de proceder.
A ergonomia de participação busca envolver os usuários na resolução
dos problemas ergonômicos, pois estes apresentam vivência e conhecimento
prático, o que não pode ser realidade do projetista.
Inicialmente, as aplicações da ergonomia eram ligadas à indústria, ao
setor militar e aeroespacial. Atualmente, no entanto, houve uma expansão da
ergonomia para atividades do setor agrícola, de serviços e do nosso dia a dia.
Na indústria, a ergonomia contribui para melhoria da eficiência, quali-
dade e segurança das operações. Isso acontece por meio de adaptações do
trabalho às capacidades e limitações do ser humano, avaliando as condições
ambientais e adequando-as para que o ambiente seja confortável para a reali-
zação da atividade. Além disso, com a intenção de proporcionar maior satis-
fação, busca-se organizar o trabalho para que o ritmo mecânico repetitivo
seja eliminado.
Para que as melhorias sejam implementadas de forma precisa, é neces-
sário que se conheça o cenário no qual se está inserido e isso é possível por
meio da avaliação de alguns indicadores: alto índice de erros, absenteísmo,
acidentes e doenças. A análise destes pode revelar deficiências ambientais,
falhas na organização do trabalho, situações que provocam dores musculares
e problemas psíquicos.
No setor agrícola, alguns avanços têm sido alcançados com as empresas
de máquinas e implementos que, preocupadas com os acidentes e condi-
ções adversas, equipam tratores e máquinas para promover um trabalho
mais seguro, no âmbito físico, tal como risco de tombamento, e no âmbito
químico, tal como aplicação de defensivos agrícolas. Outras atividades
do setor, por exemplo, tarefas de colheita, transporte e armazenagem de
produtos requerem o desenvolvimento de produtos que promovam melhor
condições de postura e segurança para o trabalhador.
A automação na indústria e mecanização da agricultura levam a uma
migração e a um aumento da mão de obra para o setor de serviços, estimu-
lando a pesquisa e o desenvolvimento de sistemas de informação, projetos
de postos de trabalho adequados com telas e sistemas de monitoramento e
controle de operação.
No nosso dia a dia, a ergonomia contribui com a segurança e melhoria
de eficiência de nossos eletrodomésticos e maior conforto nos automóveis
17
e móveis. Muitos destes produtos, principalmente aqueles que podem afetar
a segurança e saúde do usuário, passam por testes e necessitam de um selo de
homologação para serem fabricados e comercializados. Verificamos que os
estudos nesta área são amplos e não são restritos às atividades econômicas; de
forma geral, a ergonomia está relacionada com a melhoria de qualidade de vida.
No meio produtivo, para afirmar se algo traz benefício, precisamos
comprovar se é economicamente favorável, por isso, para a implantação
de projetos ou recomendações ergonômicas, é necessário que se faça uma
análise de custo-benefício, contemplando todos os custos envolvidos: contra-
tação de consultores, elaboração de projeto, aquisição de equipamentos,
treinamentos, etc., bem como de tudo o que se pretende obter como resul-
tado de projeto (benefícios), por exemplo: economia de material, redução de
acidentes, redução de absenteísmo, queda na rotatividade de colaboradores,
diminuição de custos jurídicos e melhoria na produtividade.
Projetos economicamente viáveis apresentam valores da relação custo-
-benefício menores que 1, ou seja, os custos são menores que os benefícios.
As empresas estabelecem que o retorno do investimento aconteça em um
prazo de cinco anos. Caso o retorno do investimento ocorra em um prazo
menor, o projeto passa a ser mais interessante.
Além desta análise, é importante que o tomador de decisão tenha em
mente que para todo investimento existe um risco associado. Os riscos são
relativos às incertezas e produzem resultados inesperados, podendo levar o
projeto ao fracasso.
Exemplificando
Iida e Guimarães (2018) ilustram um exemplo interessante de que,
na década de 80, um banco investiu no redesenho para melhoria dos
postos de trabalho dos caixas, com um retorno de investimento de 20
anos, supondo-se, portanto, um custo considerável. No entanto, com o
avanço da tecnologia, muitos destes postos de trabalho, cerca de 80%,
foram substituídos por caixas de autoatendimento. Você consegue
imaginar um outro exemplo?
Fatores intangíveis, ligados à imagem da empresa, por exemplo, devem ser

levados em consideração pelos tomadores de decisão, pois podem impactar
os resultados da empresa a médio e longo prazo e isso afeta diretamente a
motivação e o compromisso da equipe com as atividades.
18
Sem medo de errar
Vamos retornar para nossa consultoria: você é um renomado consultor

em ergonomia e foi contratado recentemente por uma empresa que enfrenta
sérios problemas com as reclamações e os resultados de seus colaboradores.
As principais demandas estão relacionadas às dores no corpo devido à
posição das estações de trabalho: os colaboradores do setor administrativo
queixam-se das mesas e das cadeiras fornecidas pela empresa, pois não são
confortáveis para a realização de trabalho de escritório. Recentemente, a
gestora de RH (recursos humanos) fez um levantamento sobre as consultas
médicas junto ao provedor de plano de saúde, que destacou, de forma preocu-
pante, um número elevado de consultas à ortopedistas e de seções de fisiote-
rapia. Em suma, o ambiente de trabalho é muito estressante; alguns colabo-
radores estão muito cansados e insatisfeitos com o trabalho de forma geral,
o que gera muita “conversa de corredor”, principalmente sobre os gestores e
a forma de coordenar o trabalho. Nesse contexto, como primeira etapa você
deve realizar uma conscientização junto aos gestores e demais funcioná-
rios, destacando o papel fundamental da ergonomia em diferentes setores.
Qual é a forma que o ergonomista deve trabalhar para que a conscientização
seja eficaz? Quais são as diferentes formas que podemos aplicar para lidar
com problemas ergonômicos? Nesse cenário, quais são os benefícios que a
ergonomia poderá trazer à empresa?
Para que a conscientização seja feita de forma eficaz, o ergonomista deve
elaborar um diagnóstico ergonômico do sistema de trabalho para levan-
tamento dos problemas e possíveis soluções. Para isso, ele deverá realizar
algumas atividades:
1. Investigar as habilidades e as limitações do ser humano naquele ambiente.
2. Analisar como as pessoas utilizam os equipamentos.
3. Avaliar os riscos do ambiente de trabalho, bem como seus efeitos na
saúde do trabalhador.
4. Projetar, sugerir e planejar a implementação de melhorias, para que
elas sejam executadas de forma efetiva;
5. Realizar pesquisa (entrevistas), compilar dados e produzir relatórios.
6. Aplicar conhecimentos sobre fisiologia humana para o projeto de
novos produtos.
Podemos lidar de diferentes formas para resolver problemas ligados à
ergonomia, por exemplo:
19
• A ergonomia de concepção é aplicada durante o desenvolvimento de um
produto, máquina, ambiente ou sistema. Com ela, podemos examinar
todas as possibilidades, levando em consideração situações hipotéticas.
• A ergonomia de correção se aplica em situações já existentes em que
é necessário resolver problemas para redução de fadiga, doenças de
trabalho e melhoria nos aspectos relacionados à segurança.
• A ergonomia de conscientização capacita os colaboradores para
perceber e corrigir os problemas que ocorrem no dia a dia ou aqueles
que surgem em caráter emergencial.
• A ergonomia de participação busca envolver os usuários na resolução
dos problemas ergonômicos, pois estes apresentam vivência e conhe-
cimento prático, o que não pode ser realidade do projetista.
No meio produtivo, para afirmar se algo traz benefício, precisamos
comprovar se é economicamente favorável, por isso, para a implantação
de projetos ou recomendações ergonômicas, é necessário que se faça uma
análise de custo-benefício, contemplando todos os custos envolvidos, bem
como de tudo o que se pretende obter como resultado de projeto (benefí-
cios). Projetos que são economicamente viáveis apresentam valores da
relação custo-benefício menores que 1, ou seja, os custos são menores que
os benefícios. Além desta análise, é importante que o tomador de decisão
tenha em mente que para todo investimento existe um risco associado e que
fatores intangíveis podem impactar os resultados da empresa. Alguns dos
benefícios que podemos obter com um projeto bem-sucedido são: economia
de material, redução de acidentes, redução de absenteísmo, queda na rotati-
vidade de colaboradores, diminuição de custos jurídicos, melhoria na produ-
tividade, além de melhora na motivação e no compromisso da equipe.
Avançando na prática
Realizando um diagnóstico
Você foi contratado por um gestor de um escritório para realizar um

relatório ergonômico e apontar os principais problemas no ambiente
de trabalho. Analise a Figura 1.4 de seu relatório fotográfico em grupo
e descreva as sete situações que não estão adequadas, de acordo com os
princípios de ergonomia. O que seu grupo de trabalho sugere para corrigir
os problemas encontrados?
20
Figura 1.4 | Consultoria – relatório fotográfico
Fonte: adaptado de Absoluta (Móveis e Equipamentos para Escritórios). Disponível em: https://www.movei-
sabsoluta.com.br/informes/7-erros-no-escritorio. Acesso em: 28 jun. 2019.
Resolução da situação-problema
Analisando a situação ilustrada, a equipe obteve a seguinte conclusão
para cada um dos pontos destacados:
1. A coluna deve estar apoiada no encosto da cadeira (com inclinação
de 90°) para prevenção de dores nas costas e problemas de postura.
2. É preciso manter espaço embaixo da mesa para movimentação das
pernas e garantir postura adequada. As caixas e os documentos devem
ser colocados em armários ou em gaveteiros.
3. Os punhos devem estar apoiados para digitação de forma a se evitar
dores e problemas como tendinite. Para isso, é preciso fazer uma
regulagem na altura da cadeira e colocar um apoio para os pés, caso o
colaborador tenha baixa estatura.
4. Não se deve inclinar o pescoço para segurar o telefone para digitar ao
mesmo tempo em que se fala. Para isso, é necessário providenciar headsets.
5. A iluminação do ambiente é bem-vinda, mas, quando refletida na tela
do computador, causa grande incômodo e pode cansar a visão. Para
que isso não ocorra, são necessárias persianas na janela.
21
6. Devemos sempre estar atentos à posição e à temperatura do ar condi-
cionado. A temperatura de conforto é 24º C e, para garantir ótimo
funcionamento da máquina, esta deve estar próxima a este valor. Para
que o ar frio não se direcione diretamente sobre o funcionário, as
aletas devem ser direcionadas para cima ou a empresa deve instalar
um defletor para direcionamento do ar.
7. As refeições não devem ser feitas na mesa do trabalho. Pausas devem
ser realizadas (de uma em uma hora, caso a atividade seja repetitiva),
mas, para isso, é fundamental que o colaborador se dirija ao refeitório
da empresa.
Faça valer a pena
1. Em 1940, a ergonomia passa a ser classificada como uma disciplina científica,

mas não eram observados muitos avanços na área, pois a utilização dos equipamentos
ainda não era compreendida. Com os avanços da Segunda Guerra Mundial, perce-
beu-se essa dificuldade de forma mais efetiva, estimulando a pesquisa na área, envol-
vendo questões sobre a interação de pessoas com equipamentos e ambiente. Após
este período, de acordo com Hendrick (1995), a ergonomia pode ser organizada em
quatro fases.
Período Características
( ) A partir da década de 80, com o avanço no setor de informática,

I. Ergonomia passou a ser estudada a interface entre humano e máquina, uma vez
de hardware ou que o homem não manuseia mais o produto e sim opera uma máquina
tradicional que irá fazê-lo. Fatores cognitivos devem ser levados em consideração
para facilitar o trabalho.
( ) Iniciou-se durante a Segunda Guerra Mundial e destacava questões

II. ergonomia do
fisiológicas e biomecânicas do ambiente de trabalho e interação do sistema
meio Ambiente
homem-máquina. Interesse principal na área militar.
( ) Visão ampla da ergonomia: engloba o contexto organizacional, psi-

III. Ergonomia cossocial e político de um sistema. Prioriza o processo participativo,
de software ou prevendo realização de trabalho em equipe para garantia de melhores
cognitiva resultados, buscando redução de erros e aumentando o nível de satis-
fação dos colaboradores ao trabalho.
( ) Trata-se de como ruído, vibrações, temperatura, iluminação e ele-

IV. Macroergo-
mentos dispersos no ar afetam o trabalho. Interesse na compreensão da
nomia
relação do ser humano com o ambiente.
22
Analisando as diferentes fases da ergonomia, associe corretamente a coluna da
esquerda (período) com a coluna da direita (características):
a. III – I – IV – II.
b. III – IV – I – II.
c. II – I – III – IV.
d. I – III – IV – II.
e. II – III – I – IV.
2. O profissional responsável pelo planejamento, pelo projeto e pela avaliação de

tarefas e compatibilização dos postos de trabalho ao ser humano é o ergonomista Suas
atividades têm sempre como foco que um sistema esteja de acordo com a necessidade
do colaborador. São elas:
( ) Investigar as habilidades e as limitações da máquina.
( ) Analisar como as pessoas utilizam os equipamentos.
( ) Avaliar os riscos do ambiente de trabalho, bem como seus efeitos na saúde

do trabalhador.
( ) Evitar a implementação de melhorias, pois a empresa não apresenta risco de

acidentes.
( ) Realizar pesquisa (entrevistas), compilar dados e produzir relatórios.

( ) Aplicar conhecimentos sobre fisiologia humana para o projeto de novos
produtos.
Assinale a seguir a alternativa que apresenta a sequência correta de verdadeiro ou falso.
a. F – F – F – F – F – F.
b. F – V – F – F – V – F.
c. V – V – V – V – V – V.
d. F – V – V – F – V – V.
e. F – F – V – F – F – V.
3. A ergonomia de ___________ é aplicada durante o desenvolvimento de

um produto, máquina, ambiente ou sistema. Com ela, podemos examinar todas
as possibilidades, levando em consideração situações hipotéticas. A ergonomia
de ___________ se aplica em situações já existentes em que é necessário resolver
problemas para redução de fadiga, doenças de trabalho e melhoria nos aspectos
23
relacionados à segurança. A ergonomia de ___________ capacita os colaboradores
para perceber e corrigir os problemas que ocorrem no dia a dia ou aqueles que
surgem em caráter emergencial. A ergonomia de ___________ busca envolver os
usuários na resolução dos problemas ergonômicos, pois estes apresentam vivência e
conhecimento prático, o que não pode ser realidade do projetista..
Qual das alternativas a seguir apresenta os termos que preenchem corretamente as

lacunas do texto-base:
a. Conscientização – correção – participação – concepção.
b. Correção – participação – concepção – conscientização.
c. Correção – concepção - conscientização - participação.
d. Concepção – conscientização – participação – correção.
e. Concepção – correção – conscientização - participação.
24
Seção 2
Ergonomia física
Diálogo aberto
Caro aluno,
Como se trata de uma disciplina transdisciplinar, o ergonomista precisa
conhecer minimamente as características físicas e cognitivas humanas para
conseguir adequar os projetos respeitando as proporções e possibilidades de
ação do indivíduo. O profissional deve entender também quais são as carac-
terísticas ligadas ao funcionamento do corpo humano que permitem a reali-
zação de determinado trabalho. Isso requer o estudo de conceitos relacio-
nados à ergonomia física, que envolve o conhecimento do nosso organismo,
da anatomia e da fisiologia, ou seja, das funções do nosso organismo que
permitem o trabalho e sofrem influência do ambiente no qual estamos reali-
zando o ofício.
Agora, pare sua leitura por um minuto e se imagine em um parque ou
em um show em que exista um aglomerado de pessoas. Logo, você poderá
perceber que não somos todos iguais. Existe uma diversidade (variações) de
medidas corporais, forças, resistência, que são diferentes de um indivíduo
para outro. Essa variação também existe quanto às capacidades perceptivas e
de processamento de informações e precisa ser levada em consideração nos
projetos de ergonomia.
Neste momento, voltaremos à nossa situação-problema: você é um
conceituado ergonomista e foi contratado por uma grande empresa ligada
ao ramo do agronegócio, que enfrenta problemas relacionados a diversas
queixas no ambiente de trabalho. A primeira etapa do projeto, o trabalho de
conscientização na empresa, foi perfeita! Finalmente os gestores compreen-
deram a importância da ergonomia e se mostraram à disposição para realizar
as melhorias necessárias, visando maior produtividade e nível de satisfação
dos colaboradores. Motivados, a segunda etapa a ser desenvolvida consiste
em definir os conceitos de antropometria aplicados ao projeto da estação de
trabalho, levando em consideração os dados antropométricos dos colabora-
dores. Os postos do setor administrativo, de forma geral, são compostos por
uma mesa, que será utilizada para colocar o computador e realizar anota-
ções, além de uma cadeira estofada. Como devem ser apresentados os dados
antropométricos? No projeto, como utilizaremos os dados antropométricos?
Analisando a Figura 1.5, quais as dimensões que correspondem às medidas
mínimas e as máximas?
25
Aprofunde seu conhecimento sobre o organismo humano, bem como os

conceitos relacionados à anatomia. Dessa forma, a partir dos conceitos de
antropometria, você certamente conseguirá solucionar o caso.
Bons estudos e bom trabalho!
Não pode faltar
Você já parou para pensar como o nosso corpo funciona? Como conse-
guimos nos movimentar e realizar as atividades em nosso cotidiano? As
ciências de anatomia e fisiologia são fundamentais para que se compre-
endam as estruturas e funções do corpo humano. A primeira é aquela que
estuda a estrutura do organismo e suas relações. Já a segunda compreende as
funções corporais de acordo com a atividade de cada órgão. Nesse contexto, o
conjunto de órgãos que possuem funções comuns compõe um sistema.
Assimile
Neste momento, destacaremos os componentes dos principais sistemas
do corpo humano, a partir dos estudos de Corrêa e Boletti (2015):
1. Tegumento: pele e estruturas associadas (unhas, pelos e glândulas).
2. Sistema nervoso: composto pelo cérebro, pela medula espinhal,
pelos nervos e órgãos como olhos e ouvidos.
26
3. Sistema esquelético: composto pelos ossos, pelas articulações e
pelas cartilagens.
4. Sistema muscular: musculatura esquelética (ligada aos ossos).
5. Sistema circulatório: composto pelo coração, pelos vasos sanguí-
neos e pelo sangue.
6. Sistema digestório: composto pelos órgãos do trato gastrointestinal e
órgãos acessórios, tais como glândulas salivares, pâncreas e vesícula.
7. Sistema respiratório: composto pelo pulmão e pelas vias aéreas.
8. Sistema urinário: composto pelos rins, pelos ureteres, pela
bexiga e pela uretra.
9. Sistema genital: composto pelas gônadas e pelos órgãos associados.
10. Sistema linfático: composto pela linfa e pelos vasos linfáticos que
atuam na resposta imunológica.
11. Sistema endócrino: composto pelas glândulas produtoras de
hormônios que controlam todos os demais sistemas.
O sistema esquelético tem a função (A) de oferecer uma estrutura para

sustentação dos tecidos moles, com pontos de fixação para a maioria dos
músculos esqueléticos (tendões), (B) proteger órgãos internos de lesões e (C)
auxiliar o movimento; em conjunto, a ação dos ossos e dos músculos permite
que o corpo se movimente (Figura 1.6).
Figura 1.6 | Funções do sistema esquelético
O tecido ósseo altera sua força em função do estresse mecânico: em situa-

ções nas quais o organismo não sofre estresse mecânico, a massa óssea tende
a diminuir. No caso de atletas, cujos ossos são estressados em intensidade
elevada, a massa óssea e a espessura do osso são maiores do que aqueles que
não são atletas.
27
Reflita
Em vista disso, qual é a recomendação para manutenção da massa
óssea? O que você pratica no seu dia a dia?
Parte do sistema esquelético fundamental para o estudo da ergonomia

é a coluna vertebral, que funciona como uma haste forte e flexível, capaz de
girar, flexionar para frente e para traz e para os lados. Ela protege a medula
espinhal, sustenta a cabeça e serve como ponto de fixação das costelas. A
coluna vertebral é sustentada por diversos músculos e está sujeita a deforma-
ções que podem ser consequências de má postura ou envelhecimento, por
exemplo. A Figura 1.7 ilustra esses aspectos. A hérnia de disco é uma defor�-
mação grave causada pela compressão dos discos que separam as vértebras.
Uma das causas da hérnia de disco é o levantamento de peso sem o cuidado
de se manter uma postura correta durante este movimento.
Figura 1.7 | Coluna vertebral e seus principais tipos de alterações
Fonte: adaptado de Iida e Guimarães (2018, p. 139-141).
As funções de interesse para a ergonomia do sistema muscular são: a

produção de movimentos do corpo, a estabilização das posições, ou seja,
permitir que o indivíduo se mantenha em pé ou sentado, e a produção de
calor, fundamental para manutenção da temperatura corporal. Para que
estas funções aconteçam, é necessário que o músculo se contraia: o músculo
esquelético tem a capacidade de se contrair até metade de seu comprimento
normal de repouso.
Para nos mantermos em pé, diversos grupos musculares ficam continu-
amente contraídos; se permanecemos na mesma posição (trabalho estático)
28
por muito tempo, a musculatura começa a doer e provocar incômodo. Ao
sentar, parte da musculatura relaxa, reduzindo significativamente as exigên-
cias musculares. Ao deitar, praticamente todo trabalho estático é eliminado
e, por isso, conseguimos descansar.
Assimile
Segundo Kroemer e Grandjean (2005), um trabalho estático é conside-
rado significativo quando:
1. O esforço grande é mantido por mais de 10 segundos.
2. O esforço moderado é mantido por mais de 1 minuto.
3. O esforço leve (1 3 da força máxima) é mantido durante 5 minutos
ou mais.
Durante o trabalho dinâmico, por sua vez, existe contração e relaxamento
alternados dos músculos. Neste caso, o músculo age como uma bomba sobre
a circulação sanguínea, favorecendo o fluxo sanguíneo e, consequentemente,
a oxigenação e a nutrição das células musculares. Por esse motivo, trabalhos
dinâmicos são preferíveis aos estáticos.
Exemplificando
Em muitos casos, é difícil diferenciar uma situação de esforço estático
ou dinâmico. Uma tarefa pode exigir ambos os esforços. Por exemplo:
uma pessoa que trabalha utilizando um computador requer uma parcela
de trabalho estático, para manter a posição das mãos sobre o teclado,
realizado pelos músculos das costas, dos ombros e dos braços. Já para
operar os dedos sobre as teclas é necessário trabalho dinâmico. Neste
caso, o trabalho estático está relacionado à fadiga postural, enquanto o
dinâmico está relacionado a lesões devido a esforços repetitivos.
O sistema nervoso tem três funções básicas: sentir (detectar estímulos

por meio dos nossos sentidos), integrar (processar a informação devido ao
estímulo ao qual o organismo foi submetido pelo sistema nervoso central),
agir (função motora), ou seja, uma vez que o estímulo é percebido e proces-
sado, o sistema nervoso responde ativando músculos e glândulas.
Segundo Tortora e Derrickson (2012), os estímulos transmitidos ao
sistema nervoso central são recebidos por estruturas associadas à visão, à
audição, ao olfato, à gustação e ao equilíbrio. Esses cinco sentidos são nossos
sentidos especiais. Na ergonomia, os de maior importância são a visão e a
audição, sentidos afetados diretamente pelas condições de iluminação e
ruído do ambiente.
29
Os olhos são os órgãos que captam as ondas de luz e, na retina, trans-
formam esta informação em impulsos nervosos que são enviados, pelo nervo
óptico, para o córtex cerebral, no qual é formada a percepção visual. Os
ouvidos apresentam receptores que convertem vibrações sonoras em sinais
elétricos; esse impulso elétrico é enviado ao cérebro que processa o som
devido àquela determinada vibração percebida. Uma função importante do
ouvido, ligada à estrutura do ouvido interno, está relacionada ao equilíbrio e
é muito importante para determinadas funções de trabalho.
Pesquise mais
Os sentidos somáticos incluem sensações táteis, térmicas de dor e
proprioceptivas (posição e movimento de membros e cabeça). Para
conhecer mais sobre estes sentidos e sua importância na ergonomia,
faça a leitura das páginas 33 e 34 do seguinte livro:
CORRÊA, V. M.; BOLETTI, R. R. Ergonomia: fundamentos e aplicações.
Série Tekne. Porto Alegre: Bookman, 2015.
Você sabe o que é a antropometria? Esta estuda as dimensões corporais e

os limites dos movimentos. A produção industrial, por sua vez, exige uniformi-
dade de formas e medidas na seriação, buscando a síntese de padrões dimensio-
nais para conter toda a gama de variações individuais. A aplicação correta dos
dados antropométricos no projeto de produtos e ambientes permite conciliar
as necessidades de produção em larga escala e as exigências da individualidade.
Reflita
Estamos inseridos em um mundo que está vivendo a quarta revolução
industrial ou vivenciando a indústria 4.0. Antigamente, era uma
exigência trabalhar com dados antropométricos para garantir que o
produto atendesse a uma população em larga escala. Atualmente, com
os conceitos de inovação, a ideia da fábrica do futuro está relacionada
à personalização, ou seja, o cliente pode customizar e personalizar o
produto. Como esta personalização será possível na indústria 4.0 e
como os conceitos relacionados à ergonomia são impactados com isso?
Por meio de pesquisas antropométricas, podemos obter o perfil dimen-

sional de determinada população e, através do uso de tabelas antropomé-
tricas, projetaremos o produto mais adequado às variações individuais
dentro da população.
William Sheldon desenvolveu um método para determinar a constituição
física dos indivíduos baseando-se em um registro fotográfico de 4000 alunos
30
da Universidade de Harvard. Analisando-se cada fotografia, o pesquisador
determinou três tipos extremos da forma corporal: endomorfo, mesomorfo
e ectomorfo.
Figura 1.8 | Três biótipos básicos
A variabilidade dimensional humana está ligada a:

1. Variabilidade histórica ou secular: observa-se, ao longo do tempo,
significativo aumento da média de altura de populações. A Figura 1.9
apresenta a evolução da altura média de recrutas holandeses entre os
anos de 1870 e 1970 (DE JONG, 1975). Durante este período houve
um crescimento médio de 14 cm, podendo ser observada certa acele-
ração no processo de crescimento. Isso ocorre devido à melhoria de
condições de vida desta população.
Figura 1.9 | Evolução da altura média de recrutas holandeses entre os anos de 1870 e 1970
Fonte: Iida & Guimarães (2018, p. 195).
31
2. Diferentes etnias: em termos de proporção corporal, os negros apresentam
as pernas mais longas em relação aos troncos do que os brancos. Povos de
origem asiática têm membros inferiores menores que as demais etnias; tal
apontamento pode ser vislumbrado na Figura 1.10. No entanto, é interes�-
sante observar que, mesmo com a evolução da estatura de determinada
população, as proporções permanecem as mesmas
Figura 1.10 | Proporções dimensionais típicas de cada etnia
3. Sexo: o homem apresenta, de forma geral, ombros e tórax mais

largos, pélvis mais estreita, braços e pernas mais compridos com
mãos e pés maiores. A mulher apresenta ombros estreitos, tórax
mais leve e arredondado, pélvis larga e inclinada para frente, braços
e pernas mais curtos com mãos e pés menores. A diferença média
entre a altura de homens e mulheres é em torno de 6 a 7%. A consti-
tuição corporal também muda: no homem, o tecido muscular
predomina sobre o adiposo (tecido de células de gordura), enquanto
nas mulheres, ocorre o inverso.
As medidas antropométricas dividem-se em estruturais (estáticas),
obtidas com o corpo do sujeito em posições padrão e utilizadas em projetos
de equipamentos que demandem pouca movimentação corporal para sua
operação, e funcionais (dinâmicas), obtidas com o corpo do sujeito em
diversas posturas de trabalho. O Anexo desta seção apresenta as figuras
relacionadas às medidas antropométricas estáticas (Figura-anexo 1.1)
e dinâmicas (Figura-anexo 1.2 e Figura-anexo 1.3), além de tabelas que
32
registram medidas antropométricas de diferentes populações, inclusive a
brasileira (Tabela-anexo de 1.1 a Tabela-anexo 1.4).
Para acessar as figuras e tabelas relacionadas às medidas

antropométricas estáticas e dinâmicas, utilize o link.
Cada medida antropométrica é coletada, registrada e, dessa forma, os

valores são ordenados de modo a indicarem a frequência da ocorrência
destes valores, ou seja, o número de vezes em que estes foram observados.
Os histogramas permitem que a distribuição dos dados seja entendida
mais facilmente. A Figura 1.11 apresenta a forma de apresentação dos
dados antropométricos. Apesar das variações, a distribuição dos dados
se aproxima de uma Curva Normal (ou Gaussiana), isso significa que a
maior porcentagem da distribuição se encontra em torno da área central
da curva e a concentração diminui à medida que se aproxima dos dois
extremos da escala.
Os dados antropométricos são apresentados em percentis, separatrizes
que dividem a série de valores em cem partes, cada uma correspondendo a
1% da distribuição. Dessa forma, os percentis representam a porcentagem
de pessoas com certa medida ou abaixo desta, indicando a quantidade de
indivíduos acomodados ou excluídos em determinada dimensão. Podemos
apresentar os percentis de forma gráfica ou tabular, conforme verificamos
nas Tabelas-anexo.
Dependendo do objetivo do projeto, podemos usar os dados antropo-
métricos de diferentes formas; no caso de projetos antropométricos consi-
derando valores mínimos e máximos, utilizamos as dimensões máximas
(95° percentil) para as dimensões do produto que envolvam espaços livres
e aberturas. As dimensões mínimas (5° percentil) são utilizadas nas dimen-
sões que envolvam alcance. O Quadro 1.2 apresenta medidas antropomé-
tricas mínimas (5° percentil) e máximas (95° percentil) da população para
o dimensionamento de postos de trabalho.
33
Figura 1.11 | Apresentação de dados antropométricos: distribuição da frequência das estaturas
de 2960 cadetes da força aérea americana
34
Quadro 1.2 | Uso de medidas antropométricas mínimas (5° percentil) e máximas (95° percentil)
da população para o dimensionamento de postos de trabalho
Biomecânica ocupacional e cinesiologia

As medidas antropométricas permitem a realização da adaptação do
posto de trabalho ao trabalhador. Nesse contexto, a área que se ocupa do
estudo da postura corporal no trabalho, da aplicação de forças e suas possí-
veis consequências é denominada de biomecânica ocupacional. A biomecâ-
nica cinesiologia (ou, somente cinesiologia), por sua vez, é a área que estuda
os movimentos humanos.
Na biomecânica ocupacional, as dimensões do corpo e a postura no
trabalho se relacionam quando o trabalhador tenta se ajustar ao equipamento,
assumindo posturas inadequadas ou, também, no caso em que o equipa-
mento é ajustado para respeitar as dimensões corporais do trabalhador para
que este adote posturas confortáveis e adequadas ao trabalho. A aplicação
da biomecânica ocupacional tem como objetivo o alívio das tensões nos
músculos e nas articulações durante um movimento ou uma postura, tendo
como princípios básicos:
1. Conservar as articulações em posições neutras.
2. Manter pesos próximos ao corpo.
3. Evitar curvar o corpo para frente (deve-se flexionar o joelho).
4. Evitar torções bruscas do tronco.
5. Evitar alternância de movimentos e posturas.
6. Reduzir o tempo de esforço muscular.
7. Prevenir a fadiga muscular e realizar pausas para descanso frequentes
e curtas.
35
Existem pontos em comum entre a cinesiologia e a biomecânica: enquanto uma
área estuda os movimentos, a outra o quantifica em termos físicos e matemáticos.
A biomecânica pode ser classificada em interna e externa. A biomecânica interna
determina as forças articulares e musculares frente aos vários tipos de solicitação
mecânica para verificar o que isso implica em termos de tensões no material bioló-
gico (ossos e musculatura). A biomecânica externa determina padrões das varia-
ções do corpo humano. Este entendimento sobre como o corpo se comporta frente
às solicitações é no âmbito da ergonomia, pois permite atuar de forma preventiva,
mas também é uma importante ferramenta na realização de atividades desportivas
(principalmente as de alto rendimento) e nas atividades de recreação.
Sem medo de errar
Motivados pelo sucesso do primeiro contato dos gestores com a ergonomia,

a segunda etapa do trabalho a ser desenvolvido consiste em definir os conceitos
de antropometria aplicados ao projeto da estação de trabalho, levando em
consideração os dados antropométricos dos colaboradores. Os postos de
trabalho do setor administrativo, de forma geral, são compostos por uma mesa
de trabalho para computador e para realização de anotações, além de uma
cadeira estofada. A Figura 1.12 ilustra as medidas antropométricas que devem
ser consideradas para o projeto de postos de trabalho.
Para apresentarmos os dados antropométricos, cada medida antropomé-

trica é coletada, registrada e, dessa forma, os valores são ordenados de modo a
indicarem a frequência da ocorrência destes valores. A Quadro 1.2 apresenta
36
a forma de apresentação dos dados antropométricos. Uma sugestão é a repro-
dução desta com os dados da população que representa a sala de aula (supondo
que estamos nos referindo aos trabalhadores da situação-problema).
Os dados antropométricos são apresentados em percentis, separatrizes
que dividem a série de valores em cem partes, cada uma correspondendo a
1% da distribuição. Dessa forma, os percentis representam a porcentagem de
pessoas com certa medida ou abaixo desta, indicando a quantidade de pessoas
acomodadas ou excluídas em determinada dimensão. Podemos apresentar os
percentis de forma gráfica ou tabular, no caso de projetos antropométricos
considerando valores mínimos e máximos, usamos as dimensões máximas
(95° percentil) para as dimensões do produto que envolvam espaços livres
e aberturas. As dimensões mínimas (5° percentil) são utilizadas nas dimen-
sões que envolvam alcance. Nesse sentido, as dimensões correspondentes
às medidas mínimas (5° percentil das mulheres) são as dimensões c, d, i, j.
As dimensões correspondentes às máximas (95° percentil dos homens) são
as dimensões a, b, e, f, g, h. Determine as medidas antropométricas de sua
população com base nos dados apresentados na Figura 1.12.
Assim, reforçaremos a descrição da atividade para que a realização seja
dinâmica e bastante interessante: colete os dados antropométricos de sua
turma, apresente-os em forma de tabela e em uma curva de distribuição de
frequência e quais são os valores que serão utilizados para o projeto do posto
de trabalho específico para esta população. Utilize estes mesmos dados para
a situação proposta no Avançando na Prática para determinação de altura de
bancada de trabalho em pé.
Não se esqueça de que, para realizar a atividade, você deve levar para a
sala de aula trena flexível ou fita métrica para levantar as medidas antropo-
métricas dos alunos.
Dimensionando alturas de acordo com a

natureza do trabalho
Você é o responsável pelo projeto das bancadas de trabalho para empaco-

tamento na fábrica na qual está empregado e, animado com as aulas de
ergonomia, enxerga a possibilidade de aplicar os conceitos estudados em sala
de aula. É necessário determinar a altura de uma bancada fixa, para trabalho
em pé, na qual produtos serão empacotados e não existe espaço disponível
37
para colocação de um estrado. As recomendações gerais são apresentadas
na Figura 1.14. Nesta tarefa, existe necessidade de aplicação de força para
o empacotamento. Qual é a situação a ser considerada? Qual é a altura da
bancada considerando que será utilizada por homens e mulheres?
Fonte: Abrahão ([s.d.], notas de aula).
Durante a execução do trabalho o operador faz força e, por isso, podemos
classificar o ofício como pesado. Nesse contexto, a recomendação é que o
operador tenha a superfície de trabalho de 8 a 20 cm abaixo da altura do
cotovelo (medida antropométrica da altura do cotovelo, em pé, ereto).
Tomando como base os valores extremos 5° percentil das mulheres e 95°
percentil dos homens, utilizaremos os dados de medidas antropométricas da
Tabela-anexo 1.1. (sugestão: fazer o levantamento destas medidas em grupo).
Com isso, consideramos 95,7 cm a dimensão mínima e a máxima 117,9 cm.
A essas medidas, acrescenta-se 2,5 cm devido ao salto do sapato (mínima de
98,2 cm e máxima de 120,4 cm).
Com isso, o limite inferior para as dimensões mínimas, considerando o
5° percentil das mulheres, é 78,2 cm, e o superior, 90,2 cm. Considerando as
dimensões máximas, o limite inferior é 100,4 cm e o limite superior é 112,4
cm. Nossa solução de compromisso considerará os valores que estão mais
próximos entre si: 90,2 cm e 100,4 cm. Buscando adequação a ambas as popula-
ções, definiremos a altura da bancada como um valor aproximado da média
destes valores, ou seja, nossa solução será de 95 cm para a altura da bancada em
questão para este tipo de trabalho, para esta população em específico.
38
Faça valer a pena
1. A coluna vertebral protege a medula espinhal, sustenta a cabeça e serve como

ponto de fixação das costelas. Além disso, é sustentada por diversos músculos e está
sujeita a deformações que podem ser consequências de má postura ou envelheci-
mento, tais como as descritas a seguir:
Deformação Característica
I. Lordose ( ) Curvatura acentuada, para fora, da parte superior da coluna vertebral.
II. Cifose ( ) Curvatura lateral da coluna vertebral, geralmente da região torácica.
III. Escoliose ( ) Curvatura, para dentro, da região lombar da coluna vertebral.
Analisando as diferentes deformações da coluna vertebral, associe corretamente a

coluna da esquerda (deformações) com a coluna da direita (características):
a. I – II – III.
b. II – III – I.
c. III – II – I.
d. I – III – II.
e. II – I – III.
2. No caso de projetos antropométricos considerando valores mínimos e máximos,

usamos as dimensões máximas (95° percentil) para as dimensões do produto que
envolvam espaços livres e aberturas. As dimensões mínimas (5° percentil) são utili-
zadas nas dimensões que envolvam alcance. Imagine que você precisa determinar a
altura entre a bancada e o piso, de forma que o operador consiga sentar-se conforta-
velmente à bancada para realização de seu trabalho.
Qual é a solução de compromisso a ser adotada?
a. Trata-se de dimensão que envolve espaço livre, portanto será considerado o

5º percentil (dimensões máximas).
b. Trata-se de dimensão que envolve alcance, portanto será considerado o 5º

percentil (dimensões mínimas).
c. Trata-se de dimensão que envolve alcance, portanto será considerado o 95º

percentil (dimensões máximas).
d. Trata-se de dimensão que envolve alcance, portanto será considerado o 95º

percentil (dimensões mínimas).
39
e. Trata-se de dimensão que envolve espaço livre, portanto será considerado o 95º
percentil (dimensões máximas).
3. A aplicação da biomecânica ocupacional tem como objetivo o alívio das tensões

nos músculos e nas articulações durante um movimento ou uma postura. Com base
neste princípio, analise as afirmativas a seguir e marque (V), para verdadeira, e (F),
para falsa:
( ) Conservar as articulações em posições neutras.
( ) Manter pesos afastados do corpo.
( ) Evitar curvar o corpo para frente (deve-se flexionar o joelho).
( ) Evitar torções bruscas do tronco.
( ) Promover a alternância de movimentos e posturas.
( ) Aumentar o tempo de esforço muscular.
( ) Prevenir a fadiga muscular e diminuir a frequência de pausas para descanso.
Assinale a seguir a alternativa que apresenta a sequência correta do verdadeiro ou falso.
a. V – V – F – V – F – F – F.
b. V – V – V – V – V – V – F.
c. V – F – V – V – F – F – F.
d. F – V – F – F – F – V – F.
e. F – F – V – F – V – F – V.
40
Seção 3
Ergonomia cognitiva
Diálogo aberto
Caro aluno,
O aumento do emprego de sistemas informatizados, buscando automação
e robotização do trabalho, fez com que muitas tarefas repetitivas, que
exigiam utilização de força, fossem transferidas paras as máquinas. Com isso,
o trabalho humano concentrou-se basicamente em programar as máquinas,
realizar tarefas de comando e controle e fazer a manutenção destas. Para que
estes sistemas funcionem adequadamente, é necessário que o homem capte
as informações, processe-as e, em seguida, tome decisões, ou seja, a reali-
zação do trabalho ficou mais dependente da cognição humana.
Dessa forma, surge a necessidade de a ergonomia estudar aspectos cogni-
tivos das relações entre pessoas e o sistema de trabalho, nascendo, dessa
forma, a ergonomia cognitiva, também conhecida como engenharia psico-
lógica. Nesse sentido, estudos datam da década de 50, na França, quando
Le Guillant e colaboradores desenvolveram uma pesquisa clássica, intitu-
lada “a neurose das telefonistas”, na qual são relatados casos de adoecimento
(dores de cabeça, costas, alterações no humor) devido às características de
organização do trabalho. Em outras palavras, era necessário seguir um script
durante o atendimento, que era monitorado e tinha seu tempo controlado.
Além disso, as telefonistas não tinham pausas durante o trabalho e a pressão
por resultados era grande.
Neste campo de estudo, analisam-se os processos mentais: percepção de
sinais, raciocínio, respostas, memória, concentração e atenção do colabo-
rador; elementos que afetam a relação entre homem e os demais elementos
do sistema de trabalho. O principal objetivo com este estudo é tornar a inter-
face de trabalho compatível às necessidades e características do usuário,
lidando com as dificuldades que os trabalhadores apresentam ao exercerem
funções que exigem maior esforço mental.
Outro aspecto relevante da ergonomia cognitiva é que essa área busca
aprimorar o desempenho e a capacidade dos colaboradores nas tomadas
de decisão, influenciando a satisfação que o indivíduo tem em relação à
realização de determinado trabalho e que, consequentemente, atua na sua
motivação profissional.
41
Com isso em mente, chegou o momento final da sua consultoria: você é
um conceituado ergonomista e foi contratado por uma grande empresa ligada
ao ramo do agronegócio, que enfrenta problemas relacionados a diversas
queixas no ambiente de trabalho. Neste momento, você atuará na questão
da insatisfação e do estresse no ambiente: demandas elevadas de prazo e de
atenção; falta de controle sobre o tempo; e falhas na supervisão. Para tanto,
é importante destacar as condições que podem se tornar fatores estressores
no ambiente de trabalho e quais são as ações que podem ser realizadas
para reverter a situação na qual a empresa se encontra. Nesse cenário, você
consegue identificar quais são as condições que apresentam maior relação
com o contexto atual? Quais são os sintomas de estresse que os colaboradores
podem apresentar neste tipo de ambiente? Isso afeta a qualidade do trabalho?
Quais são as ações que devem ser implementadas para contornar a situação?
Estude a teoria relacionada à ergonomia cognitiva e verifique quais são as
ações que o ergonomista pode promover para alterar a satisfação do colabo-
rador e os resultados de produtividade.
Bom trabalho!
Não pode faltar
Para iniciar nossa discussão sobre ergonomia cognitiva, devemos

primeiramente compreender como o trabalho era realizado antigamente,
tomando como base seu conhecimento sobre a história e conversas com
seus familiares: o trabalho era tido como uma atividade braçal que não
exigia praticamente nenhuma participação mental dos operadores, ou seja,
a atividade de trabalho era puramente mecânica. O aumento do emprego de
sistemas informatizados, cujo aparecimento mais intenso aconteceu após o
término da Segunda Guerra Mundial, buscando automação e robotização do
trabalho, fez com que muitas tarefas repetitivas, que exigiam utilização de
força, fossem transferidas para as máquinas e, com isso, algumas posições
passaram a exigir bastante atividade mental: processamento de informação,
tomada de decisões e supervisão de trabalho.
Assimile
Atividade mental é o termo utilizado para definir um tipo de trabalho
que envolve informação a ser processada pelo cérebro e pode ser
dividida em duas categorias:
1. Trabalho cerebral: processo do pensamento que exige criativi-
dade. A informação precisa ser recebida, processada, combinada
com a informação memorizada e, dessa forma, aprendida. Este
42
trabalho inclui conhecimento, experiência, agilidade e habilidade
mental. Exemplos de atividades que envolvem trabalho cerebral
são: planejamento de produção, construção de máquinas, análise
de dados e redação de relatórios.
2. Processamento de informação como parte do sistema homem-má-
quina: consiste em perceber, interpretar e processar a informação
para tomada de decisão. Exemplos de atividades: o mostrador da
máquina informa sobre o status da produção, o operador visualiza
e entende a informação e, com base em sua interpretação e conhe-
cimento prévio (experiência), realiza a tomada de decisão por meio
de controles da máquina (Figura 1.14).
Figura 1.14 | Processamento de informação como parte do sistema homem-máquina
No cotidiano do trabalho, os processos mentais mais importantes para o

ergonomista são a captação ou percepção da informação, além da memória e
da manutenção do estado de atenção.
A percepção da informação envolve processos cognitivos como a
linguagem, a atenção e a memória para que um estímulo ambiental se torne
uma informação. Os estímulos são captados por meio de nossos cinco
sentidos básicos, mas também podem ser captados por outros sentidos
para sentir vibrações, calor, frio, dor, pressão ou movimento, por exemplo.
Assim que são captados, os estímulos são convertidos em impulsos elétricos
43
e transmitidos a áreas específicas do sistema nervoso central. A partir do
processamento do estímulo sensorial, este passa a ter um significado tradu-
zido em informações acerca do ambiente, comparando-as com aspectos que
o indivíduo traz em sua memória. Esta percepção depende de experiências
anteriores e de fatores individuais: nível de atenção, afinidade e personalidade.
Reflita
Com a explanação de como ocorre o processamento da informação,
você consegue distinguir os conceitos de sensação e percepção?
O processo de armazenamento da informação no cérebro é a memória.

Neste processo, parte da informação é selecionada de acordo com o que
o indivíduo subjetivamente julga importante. Não se sabe como a seleção
da informação ocorre, mas é sabido que é uma etapa sujeita a emoções do
momento e de informações prévias importantes armazenadas. Atkinson e
Shiffrin (1968) elaboraram um modelo de três estágios para descrever como
a informação é captada e processada:
1. Memória sensorial (sensação e percepção): os estímulos ambientais
são captados e armazenados temporariamente. Para estímulos visuais,
esta etapa dura menos de um segundo; para estímulos auditivos, dura
poucos segundos. O que é captado pela memória sensorial é condu-
zido para a memória de curta duração (MCD).
2. Memória de curta duração (MCD): retém as informações por
períodos de cinco a trinta segundos. Neste processo, os circuitos de
neurônios se ligam e se desligam rapidamente e a capacidade média
de retenção depende das circunstâncias e do grau de atenção. Neste
sentido, a informação armazenada pela MCD pode ser perdida tanto
pelo tempo quanto pela sobrecarga: tarefas que são realizadas utili-
zando diversos canais de informação provocam sobrecarga mental e,
consequentemente, perda da capacidade média de retenção.
3. Memória de longa duração (MLD): retém a informação por um
tempo maior (décadas). Os neurônios se unem em circuitos que não
desligam. Quando uma rede neural já está formada no cérebro, novas
informações se conectam mais facilmente a ela.
A MCD tem natureza fonética (sons e formas), enquanto a MLD está
relacionada aos aspectos semânticos (conceituais). Algumas informações da
MCD transformam-se em MLD: é possível que a MCD funcione como uma
fila, enquanto a informação aguarda arquivamento definitivo na MLD. O
Quadro 1.4 apresenta as principais diferenças entre a MCD e a MLD.
44
Quadro 1.4 | Principais diferenças entre a MCD e a MLD
Características MCD MLD

Capacidade de
7 a 9 itens Grande
armazenamento
Tempo de retenção 5 a 30 segundos Muitos anos
Forma de codificação Fonética (sons) Semântica (significados)
Perda de informação Concorrência de outros sinais Dificuldade de relembrar
Pesquise mais
Consulte as páginas 472 a 475 da seguinte referência:
IIDA, I.; GUIMARÃES, L. B. M. Ergonomia: projeto e produção. 3. ed. São
Paulo: Blucher, 2018.
Você poderá encontrá-la em sua biblioteca virtual para conhecer
algumas práticas de aperfeiçoamento da memória de curta duração e
de longa duração.
Determinadas atividades exigem uma concentração contínua, ou seja,

manter o estado de alerta em um determinado nível por um tempo prolon-
gado. Diversos estudos sobre atenção após a experiência na Segunda Guerra
Mundial foram realizados. Neles foi possível verificar a diminuição da frequ-
ência de observação de submarinos durante o serviço de vigília. Em síntese,
a atenção diminuía com a duração do turno. A seguir, abordaremos os fatores
que afetam a concentração contínua:
1. Fadiga mental: induzida pelo excesso de trabalho mental e é agravada
pelas condições insatisfatórias do ambiente de trabalho ou interfaces
não amigáveis dos dispositivos de informação.
2. Qualidade e quantidade de trabalho: a quantidade geralmente é
expressa pelo número de itens processados ou de operações realizadas
em determinado tempo. A fadiga pode ser considerada em relação
à qualidade do trabalho ou frequência de acidentes. Nesse contexto,
devemos tomar cuidado em analisar, uma vez que a fadiga pode não
ser a causa do problema.
3. Estresse ocupacional: é um estado emocional que surge devido ao
nível de demanda e à falta de habilidade da pessoa em lidar com a
situação. Nesse sentido, o papel do ergonomista é ajustar a carac-
terística das pessoas e o ambiente de trabalho. As seguintes condi-
ções podem ser estressores no ambiente de trabalho, de acordo com
Kroemer e Grandjean (2005):
45
3.1 Falta de controle do indivíduo na determinação da sua rotina,
controle sobre o tempo e supervisão dos processos de trabalho.
3.2 Falta de apoio de supervisores e colegas (suporte social).
3.3 Insatisfação, causada pelo estresse excessivo devido ao conteúdo
e à carga de trabalho. Trabalhos pouco complexos podem trazer
insatisfação por serem monótonos e repetitivos, enquanto
aqueles muito complexos podem gerar sentimento de incompe-
tência, gerando estresse emocional.
3.4 Demandas de atenção e atendimento de prazos.
3.5 Excesso de responsabilidade.
3.6 Problemas com o ambiente físico, no que diz respeito ao conforto
térmico e acústico.
4. Tédio: reação à monotonia, caracterizada por uma sensação de
cansaço, letargia e redução do estado de alerta. Isso pode ser verifi-
cado em trabalhos nos quais se faz a mesma operação durante um
período muito longo ou em atividades nas quais os sinais a serem
respondidos forem muito espaçados e raros. A tendência ao tédio é
maior em pessoas com baixa motivação e pouco interesse; em ativas
que buscam um trabalho demandante; nas que apresentam estado de
fadiga; e aquelas com alto nível de educação, conhecimento e habili-
dade. No caso de indivíduos que ainda estão aprendendo determi-
nado ofício, satisfeitas com seu trabalho e descansadas, a resistência
ao tédio é maior.
A relação entre ser humano e máquina forma um sistema homem-má-
quina, que pode ser bastante produtivo se as suas características forem
empregadas de forma correta: a máquina é capaz de agir com velocidade,
precisão e pode exercer grande força. O homem, por sua vez, é mais lento, no
entanto, mais flexível e adaptável.
Com o desenvolvimento da eletrônica, os controles das máquinas torna-
ram-se mais elaborados e as respostas mais rápidas, por isso, a informação
precisa ser interpretada de forma mais acurada, o que tornou o trabalho
mental mais complexo e demandante. A ergonomia procura que produtos
sejam adequados à captação da informação e processamento com mais efici-
ência. Desta forma, os sistemas homem-máquina precisam ser concebidos
para atender aos requisitos ergonômicos.
No ambiente de trabalho, podemos apresentar informações de diversas
formas, sendo que para cada situação existe um formato mais adequado,
46
dependendo das condições a serem analisadas. O Quadro 1.5 apresenta
diferentes situações e as preferências na forma de se apresentar a informação
ao usuário. Interfaces que têm menus visuais podem ser vantajosas em relação
aos auditivos, pois permitem a visualização de maior número de opções.
Assimile
A interface é a zona de comunicação entre o sistema e usuário em que
são registradas mensagens aos usuários (visuais ou auditivas). O projeto
de uma interface amigável deve primar pela facilidade de uso, apren-
dizagem e comunicação. Seu uso deve ser intuitivo e a realização das
tarefas, com seu auxílio, deve ocorrer de forma segura.
Quadro 1.5 | Situações e preferências na forma de se apresentar a informação ao usuário
Para que as interfaces sejam amigáveis ao usuário, podemos aplicar as

regras da Gestalt, conjunto de regras formuladas por psicólogos alemães por
volta de 1910 que indica que nossa percepção é resultado da relação entre
as partes de um todo, e não de sua soma, simplesmente. De acordo com a
Gestalt, ao olharmos determinada imagem, o cérebro tende a organizá-la e
atribuir um significado, que está relacionado ao seu formato, às suas propor-
ções, à sua localização e às suas interações entre os demais elementos. A
Figura 1.15 apresenta as regras do Gestalt.
Figura 1.15 | Regras da Gestalt
47
1. Figura/fundo: nossa percepção diferencia o objeto do fundo do

desenho. Em imagens ambíguas, podemos fazer a inversão (porém de
forma não simultânea).
2. Simetria: temos a habilidade em descobrir simetrias em formas
complexas; simetria é sinônimo de beleza na arte.
3. Proximidade: elementos muito próximos se “fundem”. Pontos
próximos são percebidos como linhas.
4. Similaridade: conseguimos perceber padrões.
5. Continuidade: conseguimos prolongar e extrapolar trajetórias.
6. Fechamento: podemos completar figuras que estão incompletas. Nosso
cérebro repõe estas falhas para que estes objetos tenham significado.
Exemplificando
A Figura 1.16 apresenta duas concepções de projeto para um painel em
blocos. A aplicação das regras do Gestalt permite o agrupamento dos
elementos que têm formas ou funções semelhantes, facilitando sua identi-
ficação, além de colaborar com a redução da complexidade do trabalho.
48
Figura 1.16 | Aplicação das regras do Gestalt em um painel em blocos
Para Ascencio (2000), para que se tenha maior interação homem-má-

quina, as interfaces devem respeitar as necessidades individuais e apresentar
uma linguagem universal e natural. Além disso, deve ser à prova de falhas,
eficiente, promover agilidade durante sua utilização, flexível, ou seja, atender
à variedade de diversos usuários, e, por fim, intuitiva.
Mostradores são partes da máquina que apresentam as informações ao
operador e seu uso inadequado pode prejudicar o desempenho do sistema
homem-máquina-ambiente, aumentando o tempo de reação e erros, além de
aumentar custos relacionados à instalação e manutenção do sistema.
Para definir os mostradores, precisamos considerar a aplicação, locali-
zação e dimensão. Corrêa e Boletti (2015) apresentam um exemplo do
conta-giros veicular, em que modelos digitais devem ser evitados, pois
não permitem a leitura precisa da rotação do motor; para esta aplicação,
portanto, o modelo indicado é o analógico. Dependendo da população-
-alvo, devemos nos preocupar com o tamanho dos caracteres: pessoas mais
velhas não conseguem ler caracteres muito pequenos devido à perda da
acuidade visual.
Em relação aos controles das máquinas, podemos categorizá-los em
aqueles que exigem pouco ou muito esforço manual para seu acionamento.
No primeiro caso, são utilizados botões de pressão, interruptores e alavancas
que podem ser facilmente acionados pelos dedos. No segundo, os aciona-
mentos são realizados por meio de rodas, manivelas, pedais e alavancas. É
49
importante que o posicionamento dos controles considere a anatomia e o
funcionamento dos membros e as medidas antropométricas, além de estarem
completamente visíveis.
Pesquise mais
Com o vídeo do HoloLens2 da Microsoft, Introducing Dynamics 365
Remote Assist for HoloLens 2 and mobile devices, como o desenvol-
vimento tecnológico preconiza o lançamento de novos produtos
que permitem a realização de trabalho com colaboradores remotos,
tornando o mais dinâmico, eficiente, rápido e seguro.
Sem medo de errar
Agora, chegou o momento final da sua consultoria: você atuará na questão

da insatisfação e estresse neste ambiente: demandas elevadas de prazo e de
atenção; falta de controle sobre o tempo; e falhas na supervisão. Para tanto,
é importante destacar as condições que podem se tornar fatores estressores
no ambiente de trabalho e quais são as ações que podem ser realizadas para
reverter a situação na qual a empresa se encontra. Nesse contexto, você
consegue identificar quais são as condições que apresentam maior relação
com o cenário atual? Quais são os sintomas de estresse que os colaboradores
podem apresentar neste tipo de ambiente? Isso afeta a qualidade do trabalho?
Quais são as ações que devem ser implementadas para contornar a situação?
O cenário atual é de insatisfação no trabalho devido a demandas elevadas
de prazo e de atenção; falta de controle sobre o tempo; e falhas na supervisão,
o que caracteriza estresse ocupacional. De acordo com Kroemer e Grandjean
(2005), algumas das condições consideradas estressores no ambiente de
trabalho são:
1. Falta de controle do indivíduo na determinação da sua rotina, controle
sobre o tempo e supervisão dos processos de trabalho.
2. Demandas de atenção e atendimento de prazos.
Nesse contexto de estresse ocupacional, o colaborador pode apresentar
problemas em manter sua atenção no ofício, afetando diretamente a quali-
dade do trabalho, pois, com uma menor atenção, o trabalhador poderá
cometer um maior número de erros, reduzir a produtividade devido ao
maior tempo de resposta para o processamento da informação. Com tantas
falhas e queda de qualidade no seu trabalho, poderá tornar-se insatisfeito
devido ao sentimento de incompetência e apresentar tristeza e irritabilidade.
50
Para melhorar o clima organizacional, uma sugestão é fazer uma
campanha de marketing interno para aprimorar a comunicação e as formas
de se organizar o trabalho, com protocolos bem definidos a serem elaborados
pelos supervisores, que não gerem dúvidas ou falhas de interpretação de
informação. Como práticas saudáveis temos também a realização de pausas
programadas para prática de ginástica laboral e técnicas de relaxamento.
Adequação de um mostrador analógico
Em seu trabalho como supervisor de projeto, seu novo estagiário lhe

apresentou o mais novo projeto de mostrador analógico para um contro-
lador de um cliente. Antes de iniciar o ofício, o estagiário questionou se o
mostrador poderia ser digital, no entanto, como é requerida uma elevada
precisão na leitura do dado, a aplicação exige um mostrador analógico.
Tendo isto exposto, o aprendiz apresentou o projeto apresentado na Figura
1.17. Você, como supervisor, detecta algumas falhas. Quais seriam elas? Qual
sugestão você apresentaria para melhorar o projeto apresentado?
Figura 1.17 | Projeto inicial do mostrador analógico
Fonte: adaptado de Kroemer e Grandjean (2005, p. 129).
Neste projeto, as principais falhas a serem destacadas estão relacionadas
à espessura da extremidade do ponteiro. Da forma como foi apresentada, ela
cobre praticamente dois traços da escala, assim, recomenda-se que a espes-
sura da extremidade do ponteiro seja a mesma do traço da escala. Além disso,
o ponteiro não deve cobrir os traços nem os números da escala, impossibili-
tando a leitura ou provando erros de leitura. Desta forma, você pode sugerir
51
ao estagiário que ele faça as correções para que o produto final seja similar ao
apresentado na Figura 1.18.
Figura 1.18 | Sugestão de melhoria do projeto do mostrador analógico
Fonte: adaptado de Kroemer e Grandjean (2005, p. 129).
Faça valer a pena
1. A percepção da informação envolve processos cognitivos como a linguagem, atenção

e memória para que um estímulo ambiental se torne uma informação. Os estímulos são
captados não só por meio de nossos cinco sentidos básicos, mas também por outros
sentidos para sentir vibrações, calor, frio, dor, pressão ou movimento, por exemplo. Assim
que são obtidos, os estímulos são convertidos em impulsos elétricos e transmitidos a áreas
específicas do sistema nervoso central, sendo interpretados em informações.
O nome que se dá ao processo essencialmente biológico de captação de estímulos é:

a. Percepção.
b. Sensação.
c. Processamento.
d. Estimulação.
e. Transmissão.
2. Determinadas atividades exigem uma concentração contínua, ou seja, manter o

estado de alerta em um determinado nível por um tempo prolongado. Diversos estudos
sobre atenção após a experiência na Segunda Guerra Mundial foram realizados. Neles
foi possível verificar a diminuição da frequência de observação de submarinos durante
o serviço de vigília. Em síntese, a atenção diminuía com a duração do turno.
Selecione a alternativa que está relacionada com a diminuição da atenção contínua.
a. Satisfação com o trabalho.
b. Aprendizado de nova tarefa.
52
c. Arranjo físico das estações de trabalho.
d. Legislação trabalhista.
e. Estresse ocupacional.
3. A interface é a zona de comunicação entre o sistema e usuário, na qual são regis-

tradas mensagens aos usuários (visuais ou auditivas). Imagine a situação de um
designer elaborando um projeto de construção de um website, cuja preocupação é
criar páginas a serem acessadas por um público diverso. Com isso em mente, analise
as afirmativas a seguir:
I. O produto deve ser flexível para atender às necessidades do maior número de

pessoas e ser compatível com as tecnologias de acessibilidade.
II. Os sistemas devem ser intuitivos, fáceis de usar e aprender.
As afirmativas estão associadas, respectivamente, aos conceitos de:
a. Acessibilidade e usabilidade.
b. Usabilidade e acessibilidade.
c. Ergonomia e design.
d. Design e antropometria.
e. Interface e ergonomia.
53
Referências
ABRAHÃO, R. F. Ergonomia – Antropometria: notas de Aula. Campinas: Faculdade de

Engenharia Agrícola da UNICAMP, [s.d.].
ASCENCIO, A. F. G. Método heurístico para projeto de interfaces inteligentes com usabili-

dade. 2000. Dissertação (Mestrado). Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Rio Grande do Sul.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA. O esquema brasileiro de certificação de

ergonomistas. Ação Ergonômica, v. 2, n. 1, 2004. Disponível em: http://www.abergo.org.br/
revista/index.php/ae/article/download/43/40. Acesso em: 28 jun. 2019.
ATKINSON, R. C.; SHIFFRIN, R. M. Human memory: A proposed system and its control
processes. In: SPENCE, K. W.; SPENCE, J. T. (Org.) The psychology of learning and motivation:
advances in research and theory. New York: Academic Press, 1968. p. 89-195. v. 2.
CORRÊA, V. M.; BOLETTI, R. R. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Série Tekne.

Porto Alegre: Bookman, 2015. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/9788582603154/cfi/44!/4/4@0.00:25.4. Acesso em: 1 jul. 2019.
DE JONG, J. R. Introduction and welcome. In: CHAPANIS, A (Ed.) Ethnics variables in human
factors engineering. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, p. xv-xviii, 1975.
ERGONOMIA – AULA 01 – CONCEITOS BÁSICOS E HISTÓRIA. 2017. 1 vídeo (21 min).

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=q8xoi4fEx6o. Acesso em: 28 jun. 2019.
ERGONOMIA. Abergo. [s.d.]. Disponível em: http://www.abergo.org.br/internas.php?pg=o_

que_e_ergonomia. Acesso em: 28 jun. 2019.
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conteudo/artigos/fisioterapia/ergonomia/10546. Acesso em: 28 jun. 2019.
HENDRICK, H. W. Future directions in macroergonomics. Ergonomics, v. 38, p. 1617-1624, 1995.
IIDA, I.; GUIMARÃES, L. B. M. Ergonomia: projeto e produção. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2018.
INTRODUCING DYNAMICS 365 REMOTE ASSIST FOR HOLOLENS 2 AND MOBILE

DEVICES. 2019. 1 vídeo (2 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J-C6GE-
2gFYw. Acesso em 16 de abril de 2019.
KROEMER, K. H. E; GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o trabalho ao

homem. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 8.

ed. Porto Alegre: Artmed, 2012.
Unidade 2
Aspectos relacionados à ergonomia no trabalho
Convite ao estudo
Prezado aluno, imagine a situação em que um analista executará seu
trabalho em um laboratório com deficiência em iluminação; um operário
que, todos os dias, fica exposto a níveis de ruídos elevados, podendo até
mesmo perder uma parcela de sua capacidade auditiva; ou, ainda, um traba-
lhador de chão de fábrica em uma situação de desconforto térmico devido ao
calor exagerado. Todas essas situações geram desconforto aos colaboradores,
diminuindo o desempenho no trabalho e também causando situações que
podem prejudicar a sua saúde.
Dessa forma, é importante que as empresas promovam condições para
que o funcionário realize suas atividades adequadamente. Para isso, o
Governo Federal instituiu Normas Regulamentadoras (NRs) que visam
estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho
às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a propor-
cionar conforto, segurança e desempenho eficiente. Nesse sentido, para que
o ambiente de trabalho seja adequado às atividades a serem realizadas, é
importante que o profissional conheça e seja capaz de utilizar informações
sobre os aspectos da macroergonomia, doenças ocupacionais e legislação
aplicada à ergonomia.
Pensando nesse contexto e na necessidade de adequação do ambiente
ao trabalho, imagine que você é um ergonomista especialista em avaliações
ergonômicas de ruído e presta serviços para indústrias e empresas em geral.
Seu próximo trabalho será avaliar a pressão sonora causada pelos maquiná-
rios de uma ferramentaria (torno, furadeira, fresadora e guilhotina), classi-
ficar a exposição ao ruído e verificar a necessidade de utilização de equipa-
mentos de proteção individual (EPIs). Para isso, dividiremos o seu trabalho
em três etapas.
1. Na primeira etapa, você irá definir o que é ruído e como ele é medido
e avaliado em trabalhos de avaliação da exposição ocupacional ao
ruído (NHO 01 – Fundacentro), aplicando esse método na ferramen-
taria em que você está trabalhando atualmente.
2. Na segunda etapa, você fará um trabalho de conscientização, em
forma de palestra, sobre os riscos ocupacionais e problemas de
audição devido à exposição a ruídos.
3. Na última etapa, você analisará seus dados frente às normas em
vigência: NHO 01 - Avaliação da exposição ocupacional ao ruído -
Fundacentro e ABNT NBR 10159 - Acústica: Níveis de pressão sonora
em ambientes internos a edificações.
Os dados coletados permitem fazer a análise de risco de exposição ao
ruído? Quais as consequências da exposição ao ruído? Como fazer para evitar
que o trabalhador sofra e desenvolva problemas devido a essa exposição?
Qual é o nível seguro de ruído ao qual o trabalhador pode ser exposto?
Vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre os aspectos relacionados à
ergonomia no ambiente de trabalho para conseguirmos responder a esses
questionamentos e elaborar um plano de ação. Bom trabalho!
Seção 1
Macroergonomia
Diálogo aberto
Prezado aluno, para que se desempenhe um bom trabalho, o ambiente
deve estar adequado à realização de sua atividade. Por exemplo, se não
houver luminosidade suficiente, o trabalhador em um escritório perderá
seu desempenho, além de prejudicar sua visão. Um trabalhador exposto ao
calor excessivo em um chão de fábrica pode vir a ter seu desempenho afetado
devido ao baixo índice de conforto térmico e poderá ter impacto em sua
saúde também.
Pensando em compatibilizar o ambiente de trabalho com as tarefas a serem
realizadas, imagine-se no papel de um ergonomista especialista em avalia-
ções ergonômicas de ruído que presta serviços para indústrias e empresas
em geral. Seu trabalho atual é a avaliação da pressão sonora causada pelos
maquinários de uma ferramentaria (torno, furadeira, fresadora e guilhotina),
em que você deve classificar a exposição ao ruído e verificar a necessidade de
utilização de equipamentos de proteção individual (EPIs). Para isso, o seu
trabalho foi dividido em três etapas. A primeira etapa consiste em definir
o que é ruído e como ele é medido e avaliado em trabalhos de avaliação
da exposição ocupacional ao ruído (NHO 01 – Fundacentro), aplicando
esse método na ferramentaria (Figura 2.1) em que você está trabalhando
atualmente.
Figura 2.1 | Layout da ferramentaria
Fonte: elaborada pela autora.
57
A avaliação foi realizada utilizando um decibelímetro, portado pelo
avaliador, posicionado dentro da zona auditiva do operador. Os operadores
trabalharam por um período de 5 minutos e as amostras do Nível de Pressão
Sonora (NPS) foram coletadas a cada 10 segundos, totalizando 30 amostras,
como apresentados na Tabela 2.1.
Tabela 2.1 | Nível de pressão sonora [dBA] amostrados
Amostra Fresa Guilhotina Furadeira Torno

1 85 92 85 80
2 81 90 84 78
3 81 95 85 78
4 54 95 85 83
5 82 90 85 80
6 82 97 86 78
7 82 99 85 78
8 84 98 86 78
9 81 95 86 87
10 84 96 89 78
11 81 99 87 78
12 84 98 88 78
13 82 98 85 77
14 84 97 86 78
15 81 96 87 78
16 81 99 88 79
17 82 100 89 82
18 85 101 90 77
19 81 89 91 78
20 81 90 90 77
21 85 97 91 77
22 81 96 89 78
23 90 98 88 84
24 81 98 89 77
25 85 97 88 78
26 82 97 87 77
27 85 96 88 81
58
28 84 94 90 77
29 86 93 92 77
30 86 93 91 80
De acordo com a metodologia empregada, como se calcula o nível de

exposição ao ruído? Como é classificado o ruído com base nesses dados?
Com o término dessa etapa, qual a definição de ruído em ergonomia? Claro
que você conseguirá responder a essas perguntas com um pouco de estudo
sobre os conceitos de ergonomia ambiental (ruído). Mãos à obra para conse-
guirmos terminar nossa avaliação!
Não pode faltar
O ambiente de trabalho é o lugar onde o serviço é realizado, devendo ser

adequado para tal. O ramo da ergonomia que se preocupa com essa questão
é a ergonomia ambiental, que compreende a análise dos componentes desse
ambiente: iluminação, ruídos, vibração e conforto térmico (temperatura),
de forma que as estações de trabalho sejam projetadas evitando que esses
fatores possam trazer desconforto ao colaborador, bem como comprometer
sua saúde.
Iluminação
A correta iluminação no ambiente de trabalho é importante, pois está
relacionada ao mecanismo fisiológico da visão e da musculatura utilizada para
movimentação dos olhos. Condições desfavoráveis de iluminação provocam
o aparecimento da fadiga visual e, consequentemente, dos acidentes relacio-
nados. Além disso, mesmo que o colaborador consiga efetuar sua tarefa
em um ambiente deficiente em relação à iluminação, o tempo que levará
para completar a atividade será muito maior do que se ele estivesse em um
ambiente iluminado corretamente.
Reflita
Na maioria dos projetos, precisamos priorizar ao máximo a luminosi-
dade natural, como mostra a Figura 2.2. Você consegue, no entanto,
imaginar uma situação em que esse cenário seria desconfortável ao
usuário? Qual a sugestão para corrigi-la?
59
Figura 2.2 | Escritório com boa iluminação natural
Conforto visual
De acordo com Kroemer e Grandjean (2005), para que se tenha uma
condição de conforto visual e bom desempenho óptico, devemos respeitar
as seguintes premissas:
1. Nível de iluminância adequado (a Tabela Anexo 2.1 apresenta níveis
de iluminância adequados para algumas tarefas).
2. Equilíbrio espacial das luminâncias da superfície.
3. Uniformidade temporal da iluminação.
4. Eliminação de ofuscamento (a fonte de luz não deve estar no campo
visual do colaborador durante seu trabalho).
Para acessar a Quadro Anexo 2.1 desta seção, utilize o

link.
60
Assimile
Ofuscamento
Kroemer e Grandjean (2005) definem dois tipos de ofuscamento (Figura
Anexo 2.1) que podem ser evitados com ações ergonômicas adequadas:
• Ofuscamento direto: ocorre ao olhar diretamente para a fonte de
luz.
• Ofuscamento indireto: é refletido pela superfície, alcançando os
olhos, como uma janela refletida na tela do computador.
Iida & Guimarães (2018) destacam que um ponto importante é o

contraste, em que se recomenda, por exemplo, a utilização de revestimentos
em tons de cinza ou bege em mesas onde serão manipulados papéis. A utili-
zação de cores também é importante, podendo interferir na produtividade e
ânimo do colaborador. O Quadro Anexo 2.1 apresenta a indicação de utili-
zação de cores no favorecimento das questões de segurança.
Para acessar o Quadro Anexo 2.2 desta seção, utilize

o link
Ruído
Pressão sonora associa o som com o deslocamento das partículas de
um meio elástico, levando em consideração a relação com suas posições de
equilíbrio. Dessa forma, as compressões e expansões do meio causam flutua-
ções de pressão. Como essas flutuações ocorrem devido à transmissão de um
som, recebem a denominação de pressão sonora (GERGES, 2000).
A unidade usual para a pressão sonora é o Newton por metro quadrado
(N/m²) ou Pascal (Pa). Existe um valor de pressão sonora abaixo do qual o
sistema auditivo dos seres humano não é mais sensibilizado. Esse valor é de
aproximadamente 2´10-5 N m2 , ou 20 µPa (KINSLER et al., 1982). Qualquer
nível de pressão sonora maior ou igual a esse valor é traduzido pelo ouvido
humano como uma sensação auditiva.
Os métodos usuais de medição ou de representação da pressão em uma
escala linear trazem problemas quando o objetivo é representar resposta do
ouvido humano. A menor pressão sonora (ou o menor som audível) detec-
tada na frequência de 1000 Hz, para uma amostragem de indivíduos jovens e
61
saudáveis, foi de 20 µPa ou 2´10-5 N m2 . Esse valor foi normalizado e
tornou-se o valor de referência do limiar da audição, com o objetivo de
medições de níveis sonoros (GERGES, 2000). Do outro lado da escala ocorre
o limiar da dor a uma pressão de aproximadamente 200 Pa. Daí, temos a
definição de ruído: quando a pressão sonora não é desagradável a nossos
ouvidos, chamamos de som, e quando esse nível de pressão sonora nos
perturba, chamamos de ruído.
Como o ouvido humano, no entanto, não responde linearmente, mas
algoritmicamente a uma dada excitação, foi convencionado expressar
grandezas acústicas por meio de uma razão logarítmica de um valor de
interesse (medido) em relação a um valor de referência. A escala resultante
é chamada de escala Bel (em homenagem a Alexander Graham Bell) e é
definida pelo logaritmo de base 10 da razão entre potências ou intensidade
sonoras, também do quadrado da razão entre pressões sonoras (QUADROS,
2004). Essa escala pode ser ainda subdividida em 10 partes, para melhor
aplicação prática, gerando-se, então, a escala decibel (dB), largamente utili-
zada (LAGE, 2003). A Figura 2.3 ilustra o termômetro do ruído.
Figura 2.3 | Termômetro do ruído
Fonte: https://bit.ly/2LCwdgZ. Acesso em: 23 jul. 2019.
Pesquise mais
Acesse o item 5 e o item 6.4 da norma NHO 01 - Procedimento Técnico -
Avaliação da Exposição Ocupacional ao Ruído para conhecer a metodo-
logia proposta para avaliar a pressão sonora em ambientes de trabalho.
62
Essa leitura será fundamental para que você consiga trabalhar a situa-
ção-problema desta seção.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Fundacentro. NHO 01 -
Procedimento Técnico - Avaliação da Exposição Ocupacional ao Ruído.
Brasília, DF: Ministério do Trabalho e Emprego, 2001.
Vibração
Podemos considerar o corpo humano como um complexo sistema de massas
– molas e amortecedores conectados entre si, ou seja, as várias partes do corpo
estão ligadas entre si visco-elasticamente por ossos, músculos e ligamentos.
Quando o corpo humano está em contato com ferramenta ou veículo que
produz vibração durante seu funcionamento, o corpo se desloca da posição
de repouso devido aos movimentos periódicos regulares ou irregulares
promovidos pela máquina. Essas vibrações mecânicas são preocupantes, pois
causam mudanças na posição dos membros do corpo e órgãos importantes.
Além disso, quando o corpo está sujeito a um ambiente vibratório com
uma combinação crítica de frequências, pode ocorrer ressonância (sistema
vibratório que conduz outro sistema a oscilar com maior amplitude em
frequências). Sentado, em repouso, o corpo humano responde a vibrações
verticais como uma massa rígida para frequências de até 2 Hz. Acima desse
valor, a resposta se torna completa, ocorrendo ressonâncias localizadas.
Podemos afirmar, de maneira geral, que a frequência de ressonância média
do corpo humano está na faixa entre 4 e 8 Hz.
Quando se consideram os efeitos da vibração, é possível distinguir três
faixas de frequência, que correspondem às principais zonas de sensibilidade
do sistema corporal humano às vibrações:
1. Em baixas frequências (0 a 1-2 Hz), o subsistema corporal mais
sensível é o sistema vestibular, conjunto de receptores sensoriais do
ouvido interno. Esse tipo de vibração é gerado por navios, edifícios,
aviões, carros e ônibus.
2. Nas frequências médias (2 a 20-30 Hz), ocorrem a maioria das resso-
nâncias corporais. Esse tipo de vibração é gerado por veículos e aviões.
3. Nas frequências altas (de 20 a 300 Hz), receptores mecânicos dos
músculos, tendões e tecido cutâneo são os componentes corporais
mais sensitivos. Vibrações nessa faixa são geralmente geradas por
máquinas e ferramentas.
63
De forma geral, as vibrações afetam severamente a percepção visual, o
desempenho psicomotor e a musculatura, com efeito menor nos sistemas
circulatório, respiratório e nervoso.
Clima de interiores
O termo clima não se refere somente à temperatura do ar, mas também
à temperatura das superfícies no entorno, à umidade, à movimentação e à
qualidade do ar. O índice de conforto térmico avalia as condições climáticas
no ambiente em que vivemos e trabalhamos. Para garantir o conforto térmico
em condições de trabalho sedentário, que não envolve nenhum esforço
manual, Kroemer e Grandjean (2005) fazem as seguintes recomendações:
• No inverno, a temperatura do ar deve estar entre 20 e 21°C e, no verão,
entre 20 e 24°C. É importante lembrar que esse parâmetro pode estar
relacionado à região e apresentar diferenças devido aos costumes e à
forma das pessoas se vestirem.
• A temperatura da superfície dos objetos deve estar próxima à tempe-
ratura do ar (não mais de 3°C de diferença) e nenhuma superfície
deve estar 4°C mais fria do que o ar no interior do ambiente.
• A umidade relativa deve ser no mínimo de 30% no inverno e, no
verão, deve estar na faixa de 40 a 60%.
• A velocidade do ar na região entre a cabeça e os joelhos não deve ser
superior a 0,2 m/s.
O desconforto térmico causa alterações fisiológicas que estão relacio-
nadas ao desempenho no trabalho: temperaturas elevadas geram cansaço
e sonolência, acarretando uma incidência maior de erros; já baixas tempe-
raturas reduzem o estado de alerta e concentração nas atividades mentais,
podendo causar tremores.
Como já mencionado anteriormente, a velocidade do ar também influi
no conforto térmico: a ventilação retira calor gerado pelo corpo humano e
pelas máquinas por convecção, além de remover contaminantes em recintos
industriais e agroindustriais.
As empresas devem assegurar que os locais de trabalho apresentem
ventilação natural para execução do trabalho. Se a ventilação natural não for
suficiente para promover conforto térmico, deve ser utilizada a ventilação
artificial (ventiladores e exaustores).
A ergonomia organizacional é baseada em um método participativo em
que os funcionários contribuem para que as intervenções ergonômicas sejam
64
mais efetivas, ou seja, o colaborador se torna um agente de transformações e
a isso, atribuímos o nome de ergonomia participativa.
Contexto organizacional
Entender como os trabalhadores avaliam o contexto do trabalho pode
ser um diferencial na eficiência de adoção de mudanças visando aumento
do bem-estar no trabalho, bem como melhoria dos processos de produção.
Para isso, Siqueira (2008) propõe um método para analisar o contexto de
trabalho de forma que seja possível compreender a atividade de trabalho dos
indivíduos: Contexto de Produção de Bens e Serviços (CPBS). As dimensões
analíticas do CPBS contribuem para a análise macroergonômica e amplia as
possibilidades do ergonomista. O Quadro Anexo 2.3 apresenta as dimensões,
a definição e os componentes do CPBS.
Para acessar a Quadro Anexo 2.3 desta seção, utilize

o link.
Clima organizacional
Sem condições adequadas de trabalho, nenhuma empresa consegue se
sustentar. No entanto, promover boas condições de trabalho não significa
apenas possuir os meios de produção adequados, máquinas de última geração
e oferecer bons salários; o conceito vai além disso, pois inclui aspectos sociais,
culturais e humanitários.
O clima organizacional é utilizado para avaliar as condições organiza-
cionais e é formado por percepções e interpretações compartilhadas dos
colaboradores. Sua análise leva em consideração o meio interno, aspectos
emocionais e a atmosfera humana em que são realizadas as tarefas, poden-
do-se considerar todo o ambiente ou partes dele (setorização).
Pode-se considerar o clima organizacional como bom ou ruim. Quando
o clima organizacional é bom, o funcionário é mais feliz, satisfeito, motivado
e dedicado. O colaborador comprometido com a empresa tem orgulho de
trabalhar nela e isso reduz conflitos, melhorando o relacionamento inter-
pessoal, que favorece o desenvolvimento organizacional. Quando o clima
organizacional é ruim, existe tendência para rotatividade de pessoas, baixo
desempenho e comprometimento dos profissionais, fofocas e a empresa é
considerada um lugar ruim de se trabalhar.
65
Uma das formas de avaliação desse parâmetro é a Escala de Clima
Organizacional (ECO); uma escala multidimensional, construída com o
objetivo de avaliar a percepção do colaborador sobre as diversas dimensões
do clima organizacional. Essa escala é constituída por 63 itens, agrupados em
cinco fatores: apoio da chefia, recompensa, conforto físico, controle/pressão
e coesão entre os colegas.
Cultura organizacional e valores culturais
A cultura organizacional é a cultura da empresa formada por percepções incons-
cientes de comportamento que norteiam normas e processos a serem seguidos
pelos colaboradores ao se pensar, agir e tomar decisões frente aos problemas, ou
seja, é o que define a identidade da empresa diferenciando-a das demais.
A cultura organizacional se manifesta em três níveis diferentes:
Artefatos visíveis: os artefatos são símbolos e sinais observáveis da
empresa, tais como seu arranjo físico, recepção aos visitantes, forma de
recompensa de seus funcionários.
Valores e pressupostos básicos: valores e pressupostos não são visíveis,
mas são observados indiretamente via artefatos.
A análise ergonômica organizacional com foco na cultura organizacional
diz respeito à cultura adaptativa, que está relacionada ao grau de satisfação dos
funcionários. Na cultura adaptativa, os funcionários são flexíveis às mudanças
necessárias para que a empresa se adapte ao ambiente externo, ou seja, as
mudanças se dão de forma contínua e, dessa forma, os próprios funcionários
assumem o papel de agentes responsáveis pelo desempenho da empresa e seu
alinhamento com o mercado. Como consequência dessa cultura adaptativa,
os funcionários estão mais abertos ao aprendizado, experimentação de novas
ideias e acreditam que os erros fazem parte do processo de melhoria.
Exemplificando
As empresas de tecnologia, como Google, Facebook e Netflix nos oferecem
alguns casos interessantes para avaliarmos a cultura organizacional:
1. Google: para que o funcionário se sinta feliz e inspirado para
criar, a empresa busca motivar os colaboradores com salas de
massagem, comida à vontade, quadras de vôlei, viagens e outros
benefícios que buscam motivar seu pessoal a trabalhar com quali-
dade e emprenho.
2. Facebook: assim como a Google, oferece aos colaboradores um
ambiente bastante descontraído e o que a diferencia é a horizon-
66
talidade, ou seja, todos os funcionários, independentemente de
sua função, trabalham lado a lado.
3. Netflix: não controla o número de horas trabalhadas e sim a
capacidade em se atingir resultados, desenvolvendo a criativi-
dade, responsabilidade e autodisciplina; valor muito importante,
pois a base da empresa é a liberdade. Com isso, a empresa busca
reduzir custo com controles desnecessários.
Satisfação no trabalho
Pessoas realizadas em seus empregos são mais motivadas e produzem
melhor. Diversos estudos buscam compreender o que motivam os colabora-
dores em seu ambiente de trabalho e isso é muito importante, pois o monito-
ramento do nível de satisfação pelas empresas permite promover ações para
proteger a saúde e o bem-estar de seus funcionários.
Estudos realizados por Hezberg (IIDA e GUIMARÃES, 2018) apontam
que os fatores motivadores, que promovem satisfação, são: o reconhecimento
pelo trabalho, responsabilidade, avanço e crescimento. Por outro lado, os
fatores de insatisfação mais frequentes são: condições de trabalho, salário,
relacionamento com colegas e superiores e políticas da empresa. Pesquisas
recentes apontam que o nível geral da satisfação dos colaboradores depende
dos resultados globais alcançados pela empresa, o que aumenta a responsabi-
lidade e a cooperação entre equipes e membros de equipe.
Sem medo de errar
Vamos agora retornar o nosso trabalho: você é um ergonomista que

está trabalhando na avaliação da pressão sonora causada pelos maquiná-
rios de uma ferramentaria (torno, furadeira, fresadora e guilhotina) (Figura
2.1). Para tal, você deve classificar a exposição ao ruído e verificar a neces�-
sidade de utilização de equipamentos de proteção individual (EPI’s). Nesse
primeiro momento, nos concentraremos na definição de ruído e na metodo-
logia proposta para avaliação da exposição ocupacional ao ruído (NHO 01
– Fundacentro), para avaliação dos dados coletados na Tabela 2.1.
Primeiro, vamos às definições: na ergonomia, a definição de ruído é qualquer
som indesejado ou desagradável, ou seja, apresenta alto nível de pressão sonora
(KROEMER e GRANDJEAN, 2005). O ruído pode ser classificado em:
67
1. Ruído de impacto ou impulsivo: no caso em que o ruído apresenta
picos de energia acústica de duração inferior a 1 segundo, em inter-
valos maiores que 1 segundo.
2. Ruído contínuo ou intermitente: todo tipo de ruído que não for
classificado como ruído de impacto ou impulsivo.
O nível médio representativo da exposição do trabalhador avaliado pode
ser calculado conforme a Equação 1.
é1 ù
NM = 10 log ê (n1 ´100,1NM1 + n2 ´100,1NM2 +  + ni ´100,1NMi +  + nn ´100,1NMn )ú (1)
êë n úû
Em que:
NM = nível médio representativo da exposição do trabalhador avaliado.
ni = número de leituras obtidas para um mesmo nível médio parcial
assumido – NMi .
n = número total de leituras.
NMi = i-ésimo nível médio de pressão sonora assumido (exceto valores
de níveis de pressão sonora inferiores a 80 dB(A)).
Com base no nível médio calculado, definimos o tempo máximo diário
permissível e, então, calculamos a dose diária, com base no tempo total diário
em que o trabalhador fica exposto a um nível de ruído específico, de acordo
com a Equação 2.
æC C C C ö
Dose diária = ççç 1 + 2 + 3 +  + n ÷÷÷´100 (2)
çè T1 T2 T3 Tn ø÷
Em que:
Cn é o tempo total diário em que o trabalhador fica exposto a um nível de
ruído específico.
Tn é o tempo máximo diário permissível a este nível.
A Tabela 2.2 apresenta os resultados da análise para a fresa e para a

furadeira, considerando uma jornada de trabalho de 8 horas diárias. Em
ambos os casos, o nível de exposição ao ruído ultrapassa 80 dB(A). Faça a
análise dos demais equipamentos, assim, poderemos fazer, na sequência, as
recomendações de acordo com a legislação que estudaremos mais a frente.
Por agora, você já consegue ter alguma ideia do que será preciso fazer, não?
68
Tabela 2.2 | Análise dos resultados de nível de pressão sonora para fresa e furadeira
Fonte de ruído Fresa Furadeira
Nível de pressão sono- Nível de pressão sonora

i ni ni
ra [dB(A)] [dB(A)]
1 54 1 84 1
2 81 10 85 6
3 82 6 86 4
4 84 5 87 3
5 85 5 88 5
6 86 2 89 4
7 90 1 90 3
8 91 3
9 92 1
10
11
12
Total de leituras 30 30
NM [dB(A)] 83,58 88,23
Tempo máximo
diário permissível 604,76 190,48
[minutos]
Tempo de duração da
jornada de trabalho 480,00 480,00
[minutos]
Dose diária [%] 79,37 251,99
69
Entendendo a cultura organizacional
A empresa onde você trabalha está passando por uma forte crise. Como
forma de fortalecimento da equipe e buscando alternativas para conseguir
superar essa etapa, a diretoria contratou uma consultoria estratégica que
expôs ao time de gestores a seguinte imagem (Figura 2.4) e pediu para que
fossem definidas algumas questões:
Figura 2.4 | Níveis do ambiente organizacional
Fonte: https://bit.ly/2LBMkeV. Acesso em: 23 jul. 2019.
1. Como a cultura organizacional se relaciona com a economia?

2. Como os clientes afetam a cultura organizacional da empresa?
3. Como a cultura organizacional afeta a ação dos gestores? Nesse
sentido, quais os exemplos interessantes e de sucesso de cultura
organizacional em empresas?
70
A cultura organizacional tem relação direta com os aspectos econô-
micos, uma vez que a organização tem como premissa a obtenção de lucro e,
para isso, precisa ter um índice de produtividade satisfatório. Para que esse
índice seja atingido e a empresa se mantenha no mercado de forma ativa
e competitiva, é necessário o trabalho realizado por pessoas. O principal
recurso das empresas são as pessoas e estas devem estar motivadas para que a
empresa atinja resultados cada vez melhores. Em contrapartida, se o cenário
econômico global (do país ou mundial) não se encontra favorável naquele
momento, as atividades da empresa podem ser prejudicadas, o que pode
desmotivar seus colaboradores. No entanto, se a cultura organizacional for
forte, a equipe terá o cenário econômico como um desafio e irá desenvolver
soluções criativas para conseguir superar a fase ruim sem que os resultados
da empresa sejam tão prejudicados.
A cultura organizacional define a identidade da empresa e estabelece
os procedimentos da empresa, ou seja, como será feito o relacionamento
entre os colaboradores e, também, como será o relacionamento com os
clientes. Os clientes tendem a fazer negócios com empresas alinhadas aos
seus valores, os quais devem ser divulgados para atrair determinado nicho
de clientes. É importante que a cultura organizacional esteja definida para
que ações sejam elaboradas no sentido de difundi-la, tornando seus clientes
mais próximos, satisfeitos com o serviço oferecido e fazendo com que eles,
também, recomendem seus serviços/produtos a outros clientes em potencial.
Os gestores apresentam um papel fundamental na cultura organizacional,
pois essa pessoa, na posição de liderança, deve ser responsável por difundir
os procedimentos e normas aos colaboradores e deve dar o exemplo, compor-
tando-se e agindo de acordo com os valores da empresa. Sendo assim, eles
são as figuras fundamentais para garantir o engajamento dos funcionários
frente às mudanças, garantindo o bem-estar de todos na equipe, evitando
desgaste entre os funcionários.
De acordo com os objetivos da empresa, busca-se uma cultura organiza-
cional que permitirá atingir os resultados esperados. Existem diversos tipos
de cultura organizacional e a Figura 2.5 apresenta as vantagens e desvantagens
de cada uma, bem como a frequência com que aparecem em uma pesquisa
realizada pela Harvard Business School. Selecione diferentes empresas
conhecidas por você e pelo seu grupo: qual o estilo de cultura organizacional
adotado? Vá além e pesquise o que as empresas tem feito no sentido de inovar
e buscar cada vez mais motivar as equipes.
71
Figura 2.5 | Prós e contras dos estilos de cultura organizacional
Fonte: adaptada de http://hbrbr.uol.com.br/wp-content/uploads/2018/02/3.png. Acesso em: 23 jul. 2019.
72
Faça valer a pena
1. Ruído é definido como qualquer som indesejado ou desagradável (ou seja, aquele
que apresenta alto nível de pressão sonora) e pode ser classificado em ruído intermi-
tente, contínuo ou ruído de impacto. Dependendo do nível de pressão sonora, bem
como do tempo de exposição, podem surgir danos irreversíveis à audição humana.
Qual o nível de pressão sonora, em dB, que pode causar rompimento do tímpano?
a. 120.
b. 100.
c. 90.
d. 140.
e. 85.
2. Na ergonomia, o termo clima não se refere somente na temperatura do ar, mas

também da temperatura das superfícies no entorno, da umidade do ar, da movimen-
tação e qualidade do ar. O índice de conforto térmico avalia as condições climáticas
no ambiente em que vivemos e trabalhamos.
Para garantir o conforto térmico em condições de trabalho sedentário, indique a

alternativa que contém a recomendação correta:
a. No inverno, a temperatura do ar deve estar entre 20 e 24 °C.

b. A temperatura da superfície dos objetos deve estar próxima à temperatura do
ar (não mais de 3°C de diferença).
c. A umidade relativa deve ser no mínimo de 20% no inverno.
d. A velocidade do ar na região entre a cabeça e os joelhos não deve ser superior

a 0,5 m/s.
e. No verão, a temperatura do ar deve estar entre 20 e 21 °C.
3. A ergonomia organizacional baseia-se em um método em que os funcionários

contribuem para que as intervenções ergonômicas sejam mais efetivas. Analise as
afirmações sobre ergonomia organizacional:
I. Entender como o trabalhador avalia o contexto do trabalho não faz diferença

nas tomadas de decisão que a organização realiza.
II. Quando o clima organizacional é bom, o funcionário é mais feliz, satisfeito,

motivado e dedicado, o que favorece o desempenho da empresa.
73
III. Entre os fatores motivadores que promovem satisfação estão: o reconhe-
cimento pelo trabalho, responsabilidade, avanço e crescimento, além dos
resultados globais alcançados pela empresa.
Escolha a alternativa correta:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I, II e III.
e. II e III, apenas.
74
Seção 2
Doenças relacionadas ao trabalho
Diálogo aberto
Prezado aluno, avalie as situações a seguir e imagine como elas interferem
na saúde do trabalhador: um profissional que atua na função de carrega-
mento e descarregamento; uma funcionária de um escritório que fica horas
digitando relatórios e e-mails; mulheres que ocupam cargos em que estão
submetidas a altos níveis de pressão e estresse e, até mesmo, seu professor,
que fica boa parte do tempo de pé. Você consegue imaginar quais seriam os
problemas mais frequentes de saúde desses profissionais?
• O primeiro caso envolve a sobrecarga do sistema osteomuscular, que
pode causar problemas de saúde devido às posturas incorretas empre-
gadas durante o desenvolvimento do trabalho.
• A funcionária do escritório que passa boa parte do tempo digitando
está sujeita a desenvolver Lesão por Esforço Repetitivo/Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT).
• Mulheres submetidas a alto nível de estresse estão mais propensas
a desenvolverem endometriose, doença que provoca forte dor
abdominal, em que o tecido de revestimento do útero está presente
fora da cavidade uterina.
• Seu professor, por ficar muito tempo em pé, pode desenvolver
problemas circulatórios, tais como varizes e tromboses.
É claro que existem doenças comuns que não possuem relação nenhuma
com o trabalho, mas também existem grupos de doenças cujo surgimento se
deu mais precocemente ou possui complexidade maior devido à contribuição
das condições de trabalho, como a hipertensão arterial (devido ao estresse)
ou até mesmo a perda auditiva induzida pelo ruído ocupacional. Aqui,
podemos fazer uma observação: com a idade, esperamos que se tenha uma
perda de audição, que pode ser combinada com a perda de audição induzida
por ruído, se houver exposição do trabalhador ao ruído sem proteção.
Com essas informações em mente, vamos voltar à situação em que você
é um ergonomista especialista em avaliações ergonômicas de ruído e presta
serviços para indústrias e empresas em geral. Nesse momento, você está
concentrado em um trabalho de avaliação da pressão sonora causada pelos
maquinários de uma ferramentaria (torno, furadeira, fresadora e guilho-
tina) e verificação da necessidade de utilização de equipamentos de proteção
75
individual (EPIs). O trabalho foi dividido em três etapas. A primeira parte, de
avaliação do nível de ruído, foi realizada anteriormente. Agora, na segunda
etapa, você fará um trabalho de conscientização, em forma de palestra, sobre
os riscos ocupacionais e problemas de audição devido à exposição a ruídos.
Nessa palestra é importante que você responda os seguintes questionamentos:
1. O que é e como se detecta a perda auditiva?
2. Quais são os principais efeitos fisiológicos da perda auditiva?
3. Quais são as formas de se evitar a perda auditiva em situação de
trabalho?
Monte uma apresentação que esclareça esses conceitos e conscientize sua
audiência (gestores e trabalhadores) sobre os riscos e formas de se evitar problemas
ligados à perda auditiva. Com base no conteúdo de seu livro-texto relacionado à
Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), faça um excelente trabalho.
Não pode faltar
Você sabia que entre as causas de afastamento do trabalho, as principais

são as doenças do trabalho e as doenças ocupacionais ou profissionais?
Assimile
Embora ambos estejam relacionados às atividades laborais e sejam
considerados acidentes de trabalho, os termos “doença do trabalho”
e doença ocupacional” referem-se a conceitos diferentes, conforme
determina a Lei 8213 de 24 de junho de 1991 (BRASIL, 1991):
I – doença do trabalho é adquirida em decorrência

das condições do ambiente de trabalho, tais como
doenças induzidas pelo ruído ou condições precárias
de ventilação ou conforto térmico.
II – doença ocupacional é desencadeada pelo exercício
da função do trabalhador, sendo causada por agentes
físicos, químicos ou biológicos. (BRASIL, 1991, [s.p.])
As doenças ocupacionais possuem relação direta com a atividade profis-

sional ou com as condições de trabalho. Entre as doenças mais comuns,
destacam-se as LER/DORT, que englobam aproximadamente 30 doenças.
A pressão diária no trabalho e o estresse também são responsáveis
pelo surgimento de outros problemas, tais como alcoolismo, dependência
76
química, síndrome do pânico, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Nesse sentido, as empresas precisam promover ações que busquem melhorar
a qualidade de vida no trabalho para que os colaboradores estejam aptos a
suportar as tensões, sejam elas de origem física ou psicológica. Atualmente,
com as mudanças na forma com a qual o trabalho é realizado, as doenças
psíquicas estão em destaque, sendo uma ameaça à saúde do profissional.
Vamos explorar, então, as principais doenças relacionadas ao trabalho.
LER/DORT
Atividades em que o indivíduo permanece por um longo período em
determinada posição ou realizando os mesmos movimentos, repetidamente,
tendem a causar Lesões por Esforços Repetitivos (LER). Esse tipo de lesão,
também conhecido como Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho
(DORT), é muito comum em bancários, digitadores, trabalhadores de linha
de montagem e operadores de telemarketing.
LER corresponde a uma síndrome constituída por um grupo de doenças
que acomete os músculos, nervos e tendões dos membros superiores (provo-
cando inflamações e dor) e que pode comprometer a capacidade funcional
da região afetada. Essas doenças ocorrem devido ao excesso de uso dos
membros sem que se tenha uma pausa para recuperação, resultando em uma
incapacidade laboral que pode ser temporária ou permanente.
Existem diversos fatores que podem determinar o aparecimento da LER/
DORT: movimentos repetitivos, postura inadequada, trabalho estático e esforço
físico excessivo. A melhor forma de tratar esse tipo de doença é evitar seu apare-
cimento, portanto, as empresas devem investir em práticas de prevenção. Para
que possamos prevenir os efeitos adversos de posturas inadequadas, pontuamos
alguns dos efeitos de diferentes posturas e movimentos no corpo humano:
1. Em pé: envolve o trabalho das pernas e dos pés, podendo levar a
problemas circulatórios.
2. Sentado (sem encosto): sobrecarga dos músculos das costas.
3. Assento muito alto: afeta pernas, joelhos e pés.
4. Assento muito baixo: afeta pescoço e ombro.
5. Braços esticados: afeta ombros e braços.
6. Pegas inadequadas: perigo de lesão do antebraço.
7. Punho em posição não neutra: lesão nos punhos.
8. Rotações no corpo: danos na coluna.
77
Reflita
Hoje em dia geralmente trabalha-se na posição sentada; na maioria dos
escritórios, é comum o colaborador permanecer sentado cerca de 8
horas diárias. A posição sentada, em relação a em pé, é inegavelmente
vantajosa em alguns aspectos. Mas até que ponto? Quais são os riscos
que esse hábito traz a nossa saúde?
Acesse o Quadro Anexo 2.4 para conhecer mais lesões e suas causas
ocupacionais.
Para acessar o Quadro Anexo 2.4, utilize o link.
Doenças que acometem o sistema respiratório

O sistema respiratório é uma interface importante do organismo com
o ambiente, e a poluição aérea nos ambientes de trabalho está associada a
diversas doenças do trato respiratório que acometem desde o nariz até a o
espaço entre as membranas que envolvem o pulmão (espaço pleural). Vamos
destacar algumas das principais doenças do sistema respiratório que são
relacionadas ao trabalho:
1. Antracose
Lesão pulmonar caracterizada pela deposição de partículas de carvão,
provenientes do ar, nos pulmões de mineradores, populações de áreas
poluídas e, também, de fumantes. A deposição de carvão, embora não lesione
o tecido pulmonar, é irreversível. No entanto, se a exposição for intensa, o
quadro poderá evoluir para disfunções pulmonares graves, podendo causar,
por exemplo, fibrose pulmonar (substituição do tecido pulmonar por tecido
cicatricial, que promove redução da capacidade respiratória).
2. Bissinose
É uma doença das vias aéreas causada pela aspiração de poeiras de fibras
orgânicas de algodão, linho, cânhamo ou sisal. É conhecida como síndrome
das manhãs de segunda-feira, pois a resposta aguda de falta de ar e dor no
peito ocorre ao retorno do trabalho, após o final de semana. Essa doença
ocorre com bastante frequência entre trabalhadores que fazem a abertura de
fardos e iniciam o processamento do algodão. Não há tratamento específico
78
para ela. Caso o grau da doença evolua com persistência de queixas, o
paciente deve ser afastado da função. Por isso, o empregador deve imple-
mentar medidas de controle ambiental para eliminação ou redução da poeira
a níveis considerados seguros.
3. Siderose
É uma doença caracterizada por alterações pulmonares associadas à
exposição a fumos de óxido de ferro: em procedimentos de corte de ferro
com solda elétrica são emitidos vapores de óxido ferroso. A inalação prolon-
gada desses fumos causa a deposição de óxido férrico (resultado da redução
do óxido ferroso) no pulmão. Essa deposição, na forma pura, não provoca
alteração funcional respiratória.
De forma geral, quando nos referimos à prevenção de doenças do sistema
respiratório relacionadas ao trabalho, temos que adotar medidas para
eliminar ou reduzir a concentração dos agentes causadores de doenças, tais
como sistemas de ventilação, monitoramento ambiental sistemático, isola-
mento de agentes ou substâncias nocivas, enclausuramento de processos e,
também, buscar diminuir o tempo de exposição, bem como o número de
trabalhadores envolvidos, além de fornecer os EPIs adequados, observando
que as máscaras protetoras respiratórias devem ser usadas como medidas
temporárias, emergenciais.
Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR)
Quando somos submetidos a um estímulo sonoro intenso podemos
perder a capacidade auditiva temporariamente, no entanto, se essa exposição
for repetida, o dano pode se tornar permanente. A esse efeito damos o nome
de Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR): quanto mais intenso e repeti-
tivo for o ruído, maior o dano para a audição.
A sensibilidade ao ruído, no entanto, varia de pessoa para pessoa.
Geralmente, a PAIR se inicia com frequências acima de 4000 Hz e é progres-
siva, combinando-se com a perda auditiva que ocorre naturalmente com o
envelhecimento, podendo até ser confundida com esse caso.
A capacidade de audição ou a extensão da perda auditiva é medida pela
audiometria, que determina o limiar de audição de tons puros de diversas
frequências. O resultado da audiometria é o audiograma que apresenta, em
decibéis, o quanto o limiar de audição foi elevado para cada frequência. Os
limiares de audição normais estão entre 0 a 20 dB. Acima de 20 dB, a pessoa já
apresenta dificuldade de compreensão da fala em ambientes ruidosos. Entre
40 e 70 dB, o grau de deficiência auditiva é moderado, com maior dificuldade
para se compreender a fala. Entre 70 e 90 dB, é preciso falar bem próximo à
79
orelha para que a pessoa consiga compreender. Acima de 90 dB, o grau de
deficiência auditiva é classificado como profundo.
A Figura 2.6 ilustra um audiograma em que há redução de capacidade
auditiva de 50 a 60 dB em torno de 4000 Hz, característica de dados auditivos
por ruídos.
Figura 2.6 | Audiograma de tons puros apresentando dano por ruído
Fonte: Kroemer e Grandjean (2005, p. 260).
A PAIR ocorre em diversos ramos de atividade, no entanto, a frequência

é maior nos ramos da construção civil, metalurgia e siderurgia. O risco de
problemas aumenta tanto com a intensidade do som (acima de 90 dB(A)),
quanto com a duração da exposição. Interrupções durante a jornada de
trabalho de trabalhadores submetidos a ambientes ruidosos são favoráveis no
sentido de reduzirem o risco da perda auditiva. Por isso, para uma jornada de
8 horas de trabalho, a exposição ao ruído não deve ser maior que 85 db (A). A
Tabela 2.3 apresenta a relação entre o tempo de exposição e a intensidade da
exposição para que se tenha o mesmo grau de risco de perda auditiva.
Tabela 2.3 | Relação entre o tempo de exposição e a intensidade da exposição
Horas dB (A)
8 90
6 92
3 97
1,5 102
0,5 110
80
Pesquise mais
Aprofunde-se mais no tema estudando os efeitos psicológicos e fisioló-
gicos do ruído em nosso organismo e quais são as formas de nos prote-
germos contra ele. Leia as páginas 262 a 272 da seguinte obra, dispo-
nível na Biblioteca Virtual (lembre-se de logar para acessar):
KROEMER, K. H. E; GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia: adaptando o
trabalho ao homem. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
Doenças de pele
As dermatoses ocupacionais são alterações na pele, mucosas e anexos
causadas direta ou indiretamente, mantidas ou agravadas pelo trabalho.
Cerca de 80% das dermatoses ocupacionais são produzidas por agentes
químicos, sendo que os mais comuns são metais, ácidos e álcalis, hidrocar-
bonetos aromáticos, óleos lubrificantes e arsênico. Outros agentes de derma-
toses ocupacionais são os físicos – caracterizados por radiação, vibração,
pressão, calor, frio ou traumas – e/ou biológicos (fungos, bactérias, vírus,
parasitas, animais e plantas).
As dermatoses mais frequentes são as dermatites alérgicas de contato e as
dermatites de contato por irritantes. Embora não produzam quadros graves,
essas doenças interferem na vida social e no trabalho, pois causam descon-
forto, coceira, ferimentos e até alterações estéticas na pele. As lesões começam
com irritação da pele, evoluindo para rachaduras, seguida de sangramentos
e eczema. A Figura 2.7 apresenta a dermatose ocupacional causada pelo
contato com o cimento.
Figura 2.7 | Dermatose ocupacional causada pelo contato direto com o cimento
Fonte: https://bit.ly/2JZS0vT. Acesso em: 24 jul. 2019.
81
Para que se evitem complicações, o ideal é que o tratamento da doença
seja iniciado logo no início do aparecimento dos sintomas. O afastamento do
trabalhador é uma medida que deve ser adotada, no entanto, a prevenção é
fundamental, por isso, devem ser aderidas medidas de proteção individual
(higiene pessoal, utilização de EPI) e coletiva (exames periódicos, treina-
mentos e orientações aos colaboradores).
No caso de trabalhadores da área agrícola, de mineração e da construção
civil, que estão expostos à radiação solar, existe o risco de desenvolvimento
de câncer de pele. Nesse cenário, o empregador é responsável por alertar
os colaboradores sobre os riscos que aquela atividade traz para sua saúde,
pelo fornecimento de equipamentos que irão proteger o trabalhador (filtros
solares, vestuário adequado) e pelo estabelecimento de horários de trabalho
em que a radiação solar é menor.
Doenças psicossociais
Problemas como estresse e depressão podem estar ligados a uma carga
horária excessiva, à pressão para que o funcionário cumpra as atividades e
aos conflitos no ambiente de trabalho devido à competição, por exemplo.
Nesse sentido, é importante que a carga de trabalho e as exigências não
comprometam a saúde do trabalhador e que o ambiente de trabalho seja
tranquilo. Ainda, a empresa deve promover ações de conscientização para
que o funcionário cuide de sua saúde, mantendo bons hábitos alimentares e
uma prática de exercícios constante.
O estresse, além de ser um problema social e de saúde pública, inter-
fere negativamente no trabalho e em casa, pois pessoas estressadas perdem
a autoestima e autoconfiança, tornando-se desleixadas, agressivas e com
tendências ao vício em bebidas ou fumo.
Exemplificando
Excesso de trabalho no Japão
No Japão, após a 2ª Guerra Mundial, as pessoas eram estimuladas
a trabalhar cerca de 12 horas por dia durante 7 dias da semana para
reerguer a economia do país. Essa cultura de se trabalhar em excesso
é bem característica desse país, tanto é que, perda de cargo ou do
emprego é dada como a maior causa de suicídios no Japão. Além disso,
existe o termo Karoshi, que é morte causada por excesso de trabalho: os
trabalhadores sofrem ataques do coração e derrame devido ao estresse
ocupacional e desleixo com sua alimentação e saúde de forma geral. O
governo japonês e as empresas estão se esforçando para que os traba-
lhadores trabalhem menos; algumas empresas monitoram em tempo
82
real seus escritórios com uso de drones para incentivar os colabora-
dores a voltarem para casa (JORNADA..., 2019, [s.p.]).
A condição de estresse, se prolongada, afeta a qualidade de trabalho,

oferece maior risco de acidentes, é causa de absenteísmo e rotatividade. O
estresse também pode evoluir para quadros de depressão e ansiedade, como
síndrome do pânico e TOC.
Sem medo de errar
Você é um ergonomista especialista em avaliações ergonômicas de ruído e

presta serviços para indústrias e empresas em geral. Neste momento, você está
concentrado em um trabalho de avaliação da pressão sonora causada pelos
maquinários de uma ferramentaria (torno, furadeira, fresadora e guilhotina)
e de verificação da necessidade de utilização de Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs). O trabalho foi dividido em três etapas. A primeira parte
foi a avaliação da exposição ao ruído. Agora, na segunda etapa, você fará um
trabalho de conscientização, em forma de palestra, sobre os riscos ocupacio-
nais e problemas de audição resultantes da exposição a ruídos.
Apresentamos, a seguir, alguns dos slides preparados para sua palestra. A
Figura 2.8 contém a definição de PAIR, sendo que sua classificação é apresen�-
tada na Figura 2.9. A PAIR pode ser detectada pela audiometria (Figura
2.10). Os principais efeitos fisiológicos da PAIR são apresentados na Figura
2.11 e as formas de prevenção são apresentadas na Figura 2.12.
Figura 2.8 | O que é PAIR
83
Figura 2.9 | Classificação da perda auditiva
Fonte: adaptada de http://portalotorrinolaringologia.com.br/SURDEZ-graus.php. Acesso em: 24 jul. 2019.
Figura 2.10 | Detecção da PAIR
84
Figura 2.11 | Efeitos fisiológicos da PAIR
Figura 2.12 | Prevenção da PAIR
Um perigo lento e mortal
Você está participando de um congresso na área de ergonomia e na

mesa-redonda, cujo tema foi “Doenças relacionadas ao trabalho”, foi apresen-
tada a seguinte ilustração (Figura 2.13):
85
Figura 2.13 | Efeitos do benzeno no organismo
Fonte: https://bit.ly/2Gsz1Jp. Acesso em: 24 jul. 2019.
Levando em consideração a natureza deste trabalho, quais as recomenda-

ções para que sejam minimizados os riscos de contaminação por benzeno?
O benzeno é uma substância cancerígena e diversos estudos comprovam
seus efeitos adversos na saúde do trabalhador que desenvolve atividade como
86
frentista, havendo registros, inclusive de morte. Na Europa e nos Estados
Unidos, essa profissão não existe, no entanto, em nosso país, a sua existência é
protegida por uma lei que proíbe o funcionamento de bombas de autosserviço
em todo território nacional.
Para que o risco de doenças ocupacionais seja minimizado, é preciso
fazer um trabalho de conscientização com os frentistas, expondo os riscos de
contaminação, sintomas de intoxicação, quais são as medidas de prevenção e
os procedimentos de emergência. Nesse sentido, a principal orientação seria
a proibição do abastecimento após o travamento automático da bomba, para
evitar a inalação dos vapores. Além disso, é necessário evitar o contato do
combustível com a pele, por isso não se pode utilizar flanela ou estopa para
limpeza da lataria do veículo caso extravase combustível; a limpeza deve
ser feita com toalha de papel absorvente. Para saber mais, consulte o Anexo
2 da NR09 - Exposição Ocupacional ao Benzeno em Postos Revendedores
de Combustíveis, a qual aborda outras ações que devem ser empregadas
(BRASIL, 2017).
Faça valer a pena
1. As doenças ocupacionais possuem relação direta com a atividade profissional ou

com as condições de trabalho. Entre as doenças mais comuns, destacam-se as LER/
DORT, que englobam aproximadamente 30 doenças. Analise as afirmações sobre as
doenças relacionadas ao trabalho:
I. LER é um termo que se refere às doenças que atingem membros inferiores,
músculos, tendões e nervos, provocando dores e inflamações neles.
II. LER/DORT são distúrbios orteomusculares relacionados ao trabalho.
III. LER significa Lesão por Esforço Repetitivo, mas ela também é conhecida por
Lesão por Trauma Cumulativo (LTC).
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I, II e III.
87
2. O sistema respiratório é uma interface importante do organismo. O ambiente e
a poluição aérea nos locais de trabalho estão associados a diversas doenças do trato
respiratório que acometem desde o nariz até a o espaço entre as membranas que
envolvem o pulmão (espaço pleural).
Assinale a alternativa que corresponde à doença ocasionada pela aspiração de poeira

orgânica:
a. Beriliose.
b. Asbestose.
c. Bissinose.
d. Antracose
e. Siderose.
3. Descrito em 1974, sua principal característica é o estado de tensão emocional e

estresse crônicos causados por condições de trabalho desgastantes em profissões que
exigem envolvimento interpessoal direto e intenso, tais como profissões da área da
saúde, educação e segurança. O sintoma é uma sensação de esgotamento emocional e
físico, que provocam atitudes negativas, como mudanças repentinas de humor, lapsos
de memória, dificuldade de concentração, depressão, dores de cabeça, pressão alta,
entre outros.
Assinale a alternativa que corresponde à doença descrita no texto-base:

a. Doença decorrente de contaminação no ambiente de trabalho.
b. Doença degenerativa.
c. Lesão por Esforço Repetitivo.
d. Síndrome de Burnout.
e. Perda auditiva induzida por ruído.
88
Seção 3
Normas técnicas e regulamentadoras referentes

à ergonomia
Diálogo aberto
Prezado aluno, neste momento, convido você a uma viagem no tempo:
imagine como cenário, a indústria na época da Revolução Industrial; nessa
época não havia nenhum cuidado ou preocupação com relação à saúde
e à segurança do trabalhador, pois o objetivo principal era o aumento da
produtividade. Com isso, as instalações de trabalho eram precárias, o local
de trabalho era improvisado e não atendia nenhum requisito quanto à
segurança, oferecendo risco de acidentes e condições agressivas de trabalho,
pois não havia iluminação suficiente, ventilação adequada para renovação do
ar e, como você deve imaginar, o local de trabalho era muito sujo.
Além disso, as condições de trabalho eram tão precárias que o traba-
lhador era explorado: jornada de trabalho que muitas vezes era estendida
até a madrugada, os salários eram baixos e não havia benefícios como as
férias, sem contar que o trabalhador estava exposto ao risco de acidentes
sem nenhum tipo de respaldo jurídico. Além disso, aos seis anos de idade, as
crianças já estavam nas fábricas trabalhando.
Poderíamos parar por aí, não é verdade? Mas, infelizmente, tem mais: as
máquinas daquela época não previam nenhum sistema de proteção, por isso,
eram frequentes os acidentes graves (perda de membros em engrenagens,
por exemplo) ou até mesmo fatais. As máquinas produziam níveis de ruídos
altíssimos, provocando o aparecimento de doenças, como a Perda Auditiva
Induzida por Ruído (PAIR).
Com todo esse cenário, além dos afastamentos de trabalho devido aos
acidentes, os trabalhadores eram afastados de seus trabalhos devido às
doenças ocupacionais, o que interrompia os processos produtivos. Com
tantos problemas, associados à opinião pública, viu-se a necessidade do
surgimento de uma legislação para proteger os trabalhadores. Essa legis-
lação, ao longo do tempo, vem sofrendo evoluções, no entanto, ainda temos
um quadro em que doenças e acidentes de trabalho ainda afetam a classe
trabalhadora.
Com todo esse histórico em mente, vamos nos concentrar na última
etapa de seu trabalho: atuando como ergonomista especialista em avaliações
ergonômicas de ruído, prestador de serviços para indústrias e empresas em
89
geral, seu trabalho atual consiste em três etapas fundamentais. A primeira, foi
definir o que é ruído e, com base na metodologia prevista em norma, realizar
a sua medição e avaliação. A segunda etapa foi uma palestra com intuito de
esclarecer sobre os riscos e formas de se evitar problemas ligados à perda
auditiva. Agora, com base nos dados analisados anteriormente e nas referên-
cias legais, você deverá indicar se o trabalho evidencia risco ao trabalhador
com as máquinas trabalhando isoladamente e, também, com as máquinas
funcionando simultaneamente. Como tratar os dados para realizar a análise?
Os dados coletados indicam risco ao trabalhador? Quais as ações a serem
tomadas para evitar problemas nessa situação? Aprofunde a análise com base
na teoria relacionada à legislação aplicada à ergonomia e nas normas regula-
mentadoras para que você consiga entregar um bom resultado ao cliente,
a fim de que ele possa promover um ambiente de trabalho saudável a seus
funcionários.
Não pode faltar
Prezado aluno, relembrando o estudo realizado até este momento da

disciplina, sabemos que, com o advento da Revolução Industrial, a atenção
estava voltada à expansão da produção que, na maioria das vezes, ocorria
à custa da saúde e da segurança do trabalhador; esses aspectos eram vistos
como secundários, pois na concepção dos tomadores de decisão daquela
época, a preocupação com as condições de trabalho não eram convertidas
em lucro. Frente a essa situação, em 1802 foi aprovada, no Parlamento
Britânico, a primeira lei de proteção aos trabalhadores: a “Lei de Saúde e
Moral dos Aprendizes” que limitava uma jornada de trabalho de 12 horas
por dia, proibindo o trabalho noturno, e obrigava os empregadores a instalar
ventiladores nas indústrias (para renovação de ar) e a limpar as paredes das
fábricas duas vezes ao ano.
Com o passar do tempo, mesmo com a resistência dos empregadores,
leis complementares foram surgindo e a preocupação com a saúde e com a
segurança do trabalhador foi ganhando importância.
Com o intuito de preservar a qualidade de vida do trabalhador, de forma
que não sejam comprometidas a saúde física e a saúde psíquica, os conhe-
cimentos em ergonomia foram consolidados em documentos normativos,
que estabelecem regras e diretrizes a serem respeitadas pelos empregadores.
No Brasil, temos dois conjuntos desses documentos: as normas técnicas e as
Normas Regulamentadoras (NR).
90
Assimile
As Normas Regulamentadoras são elaboradas pelo governo federal,
possuem caráter compulsório (é obrigatório) e são utilizadas para fisca-
lização do trabalho.
Normas técnicas são elaboradas por entidades não governamentais,
envolvendo representantes do governo, consumidores e fabricantes,
no intuito de beneficiar a maioria da população e, geralmente, não
possuem caráter compulsório.
Normas Regulamentadoras
O órgão responsável pela fiscalização do trabalho, estabelecimento e
revisão das Normas Regulamentadoras é o Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), cuja pasta foi, em janeiro de 2019, incorporada ao Ministério da
Economia na Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. As NR devem
ser respeitadas por todas as empresas brasileiras que tenham empregados
regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e devem ser revisadas
periodicamente. Atualmente, existem 37 NRs, sendo que a NR17 - Ergonomia
é a que aborda especificamente o tema de ergonomia, com o intuito de
estabelecer os parâmetros que permitam o máximo de conforto e segurança
para que os colaboradores desempenhem um trabalho eficiente, respeitando
suas características psicofisiológicas. A NR 17 estabelece diretrizes quanto ao
levantamento, transporte e descarga de materiais, características de mobiliá-
rios e equipamentos, além das condições ambientais do posto de trabalho e
como deve ser a organização do trabalho. De acordo com essa NR, o empre-
gador é o responsável pela implantação da Análise Ergonômica do Trabalho
(AET).
Exemplificando
A Análise Ergonômica do Trabalho deve abordar as condições de
trabalho. Oliveira (2015) cita os itens que devem ser apresentados nesse
documento:
1. DEPTO/SETOR: GVT
2. POSTO DE TRABALHO: setor de montagem automo-
bilística
3. DADOS DO MEIO AMBIENTE DE TRABALHO: ruído 67
dB(A), iluminação artificial.
4. SERVIÇO EM PROCESSO: Montagem de motores
automotivos
5. FUNÇÃO ANALISADA: Mecânico montador
6. QUANTIDADE DE TRABALHADORES ENVOLVIDOS: 1
91
7. DADOS DO TRABALHADOR: 74 kg, 1,78 m, sexo
masculino, 26 anos de idade.
8. TEMPO DE TRABALHO NA EMPRESA: 5 anos
9. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS:
Montam motores com auxílio de ferramentas manuais
e mecânicas; regulam e testam motores e realizam
inspeções.
10. O TURNO DE TRABALHO: 07:00 às 15:00 e 15:00 às
23:00
11. O RITMO DE TRABALHO: movimentos rápidos, com
cerca de 150 movimentações dos braços e mãos
durante 30 min. de trabalho. O trabalho é repetitivo,
com montagem de 3 motores durante os 30 min.
12. AS PAUSAS DE TRABALHO: Descanso em sala de 5
min. a cada 30min. trabalhado.
13. A ROTATIVIDADE DE PESSOAL: semanalmente o
mecânico é direcionado à montagem de motores
menores GFT
14. EXIGÊNCIAS FÍSICAS DO TRABALHO: O trabalho é
realizado em pé, de acordo com as exigências da
linha de montagem. O trabalho não envolve a pega
de cargas maiores que 10Kg em freqüência maior que
uma vez a cada cinco minutos. Não há o uso de ferra-
mentas vibratórias. A média de peso das ferramentas
manuais é de 1 kg.
15. EXIGÊNCIAS DAS POSTURAS INADEQUADAS: O
mecânico utiliza flexão de tronco, mantendo uma
postura estática, para operar as ferramentas
mecânicas. Movimenta principalmente as mãos e
braços
16. AS PRINCIPAIS QUEIXAS DOS TRABALHADORES:
Dores nos braços e mãos.
17. FOTOS DOS POSTOS DE TRABALHO: Fotos 1,2 e 3
anexo
18. AS RECOMENDAÇÕES: Deve-se substituir ferramenta
x pela y para um melhor conforto e rendimento do
trabalhador. As pausas devem aumentar para, pelo
menos 10 minutos. As ferramentas manuais x,t, g e h
devem ser substituídas.
19. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS: A forma de
trabalho atual oferece condições de adquirir LER/
DORT, devendo-se atentar às recomendações. Ressal-
92
te-se que deve-se analisar a organização do trabalho
de um modo global. (OLIVEIRA, 2015, p. 164)
Iremos, na sequência, ver cada uma das NR de forma resumida (IIDA e

GUIMARÃES, 2018):
NR 1 – Disposições gerais: estabelece o campo de aplicação das normas
preventivas de segurança e saúde no trabalho, bem como das obrigações do
governo, dos trabalhadores e dos empregadores, além disso, estabelece que
a NR é de aplicação obrigatória para celetistas (trabalhadores regidos pela
CLT).
NR 2 – Inspeção prévia: trata da inspeção prévia de instalações de forma a
assegurar que as atividades estejam livres de riscos de acidentes e/ou doenças
de trabalho.
NR 3 – Embargo ou interdição: trata do embargo ou interdição em casos
em que existam riscos graves e iminentes ao trabalhador.
NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho (SESMT): estabelece critérios para organização de
serviços em engenharia de segurança e em medicina do trabalho, envol-
vendo médico do trabalho, engenheiro de segurança do trabalho, técnico em
segurança do trabalho, enfermeiro do trabalho e auxiliar de enfermagem.
Deve ser o parceiro principal da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
(CIPA).
NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA): trata da
CIPA, cujo objetivo é atuar na prevenção de acidentes e doenças ocupacio-
nais. A CIPA é composta por representantes do empregador e dos colabora-
dores da empresa.
NR 6 – Equipamento de Proteção Individual (EPI): tem como objetivo
especificar o EPI, dispositivo que possui Certificado de Aprovação, de uso
individual para proteção da saúde e integridade física do colaborador.
NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO):
estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação do PCMSO,
que tem como objetivo preservar a saúde dos colaboradores por meio da
prevenção, monitoramento e diagnóstico precoce de problemas de saúde
relacionados ao trabalho. São previstos os exames admissional, periódico,
quando do retorno ao trabalho, quando da mudança de função e o demis-
sional, quando do desligamento do colaborador.
NR 8 – Edificações: estabelece os requisitos a serem observados nas insta-
lações para garantia de segurança e conforto aos colaboradores.
93
NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA): estabelece
a obrigatoriedade da elaboração e implementação do PPRA com finalidade
de preservar a saúde e a integridade física dos trabalhadores, reconhecendo
os riscos ambientais (físicos, químicos, biológicos) existentes ou que venham
a existir no ambiente de trabalho. Os riscos ergonômicos e ambientais podem
ser incorporados ao PPRA.
NR 10 – Serviços em eletricidade: determina requisitos e condições
mínimas para garantia da saúde e segurança dos trabalhadores envolvidos
em projeto, construção, montagem, operação e manutenção de instalações
elétricas, bem como aqueles que realizem trabalho próximo a áreas de risco.
Esta NR exige a realização de um curso com 40 horas de duração e reciclagem
a cada dois anos.
NR 11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de
materiais: determina normas para operação de elevadores, guindastes e trans-
portadores. O armazenamento de materiais deve obedecer aos requisitos de
segurança existentes de acordo com a natureza do material em questão.
NR 12 – Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos: deter-
mina as medidas a serem adotadas pelas empresas quanto ao projeto, insta-
lação, operação de máquinas e equipamentos, com a finalidade de prevenir
acidentes de trabalho.
NR 13 – Caldeiras e vasos de pressão: determina requisitos relativos à
instalação, operação e manutenção de caldeiras e vasos de pressão, com a
finalidade de prevenir acidentes de trabalho.
NR 14 – Fornos: determina requisitos relativos à construção, operação e
manutenção de fornos, com a finalidade de oferecer conforto e segurança aos
trabalhadores, observando os limites impostos pela NR 15.
NR 15 – Atividades e operações insalubres: define as atividades, opera-
ções, agentes insalubres (ruído, calor, radiações, pressões, frio, umidade,
agentes químicos) e estabelece os limites de tolerância dessas atividades,
prevendo medidas preventivas de proteção à saúde dos trabalhadores.
NR 16 – Atividades e operações perigosas: estabelece atividades e opera-
ções consideradas perigosas (motocicletas, explosivos, inflamáveis, radia-
ções ionizantes, substâncias radioativas e profissionais de segurança pessoal
e patrimonial).
NR 17 – Ergonomia: estabelece medidas de prevenção com a finalidade
de adaptar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos
trabalhadores, proporcionando conforto, segurança e desempenho eficiente.
Com isso, o principal objetivo desta norma é a prevenção das doenças
94
ocupacionais, que representam grande parte dos problemas relacionados ao
trabalho, sendo o mais conhecido a lesão por esforço repetitivo. Dessa forma,
a NR 17 prevê atuação em diferentes níveis do ambiente de trabalho, desde
levantamento de cargas, trabalhos manuais, movimentação de objetos, como
condições ambientais de iluminação, temperatura, renovação de ar e mobili-
ário e equipamentos adequados à atividade em questão.
Para o empregador, o desrespeito às normas gera perdas financeiras e,
caso o trabalhador não obedeça às orientações, ele receberá advertência e, se
houver recorrência, poderá ser demitido por justa causa.
O cumprimento da NR 17 traz benefícios tanto para o colaborador, que
tem sua saúde preservada, como para o empregador, que irá sofrer menos
com absenteísmo, aumentando a produtividade e diminuindo problemas de
ordem jurídica, devido à redução de ações trabalhistas.
NR 18 – Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da
construção: estabelece diretrizes de ordem administrativa, planejamento
e organização com a finalidade de implementar medidas de controle e
prevenção no ambiente de trabalho da construção.
NR 19 – Explosivos: determina procedimentos para manuseio, transporte
e armazenamento de explosivos com a finalidade de prevenção de acidentes.
NR 20 – Líquidos combustíveis e inflamáveis: determina procedimentos
para manuseio, transporte e armazenamento de líquidos combustíveis, infla-
máveis e gás liquefeito de petróleo.
NR 21 – Trabalho a céu aberto: determina critérios mínimos para
adequação de serviços a céu aberto, obrigando o empregador a providenciar
abrigos para proteção dos trabalhadores às intempéries.
NR 22 - Segurança e saúde ocupacional na mineração: estabelece
diretrizes de ordem administrativa, planejamento e organização com a
finalidade de implementar medidas de controle e prevenção no ambiente de
trabalho da mineração.
NR 23 – Prevenção contra incêndios: determina medidas a serem
adotadas pelas empresas na prevenção de incêndios, contemplando saídas
de emergências, equipamentos de combate ao fogo e treinamento de pessoal
(brigadistas).
NR 24 – Condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho: estabe-
lece critérios para construção, instalação de sanitários, vestiários, cozinhas,
refeitórios e alojamentos, bem como a manutenção da limpeza e ordem
destes ambientes.
95
NR 25 – Resíduos industriais: estabelece critérios para descarte de
resíduos industriais, adotando métodos e equipamentos adequados, com o
objetivo de preservar a saúde e segurança do trabalhador.
NR 26 – Sinalização de segurança: estabelece as cores a serem utilizadas
nos locais de trabalho para prevenção de acidentes.
NR 27 – Registro profissional do técnico de segurança do trabalho:
regulamenta a profissão de técnico de segurança do trabalho (revogada em
2008).
NR 28 – Fiscalização e penalidades: estabelece fiscalização, embargo,
interdição e penalidades, além do procedimento de autuação devido à
infração das NR. Na primeira visita é feita uma notificação para que as corre-
ções sejam realizadas em determinado prazo. Na segunda visita, se as corre-
ções não foram implementadas, a empresa é autuada.
NR 29 – Norma regulamentadora de segurança e saúde no trabalho portu-
ário: estabelece diretrizes de ordem administrativa, planejamento e organi-
zação com a finalidade de implementar medidas de controle e prevenção de
doenças ocupacionais dos trabalhadores de portos e instalações portuárias.
NR 30 – Segurança e saúde no trabalho aquaviário: estabelece diretrizes
de ordem administrativa, planejamento e organização com a finalidade de
implementar medidas de controle e prevenção no ambiente de trabalho
aquaviário.
NR 31 – Segurança e saúde no trabalho na agricultura pecuária silvi-
cultura, exploração florestal e aquicultura: estabelece diretrizes de ordem
administrativa, planejamento e organização com a finalidade de implementar
medidas de controle e prevenção nas atividades da agricultura, pecuária,
silvicultura, exploração florestal e aquicultura.
NR 32 - Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde: estabe-
lece diretrizes de ordem administrativa, planejamento e organização com a
finalidade de implementar medidas de controle e prevenção nas atividades
de serviços de saúde.
NR 33 – Segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados: deter-
mina os requisitos mínimos para a classificação de espaços confinados,
reconhecimento, avaliação, monitoramento e controle dos riscos existentes
quando se trata da execução de atividades nesses locais.
NR 34 - Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da
construção, reparação e desmonte naval: estabelece diretrizes de ordem
administrativa, planejamento e organização com a finalidade de implementar
96
medidas de controle e prevenção na indústria da construção, reparação e
desmonte naval.
NR 35 – Trabalho em altura: determina os requisitos mínimos e medidas
de proteção em espaço em altura, que inclui treinamento de funcionários,
como forma de garantir a segurança e a saúde de trabalhadores envolvidos
em atividades dessa natureza.
NR 36 - Segurança e saúde no trabalho em empresas de abate e processa-
mento de carnes e derivados: estabelece diretrizes de ordem administrativa,
planejamento e organização com a finalidade de implementar medidas de
controle e prevenção nas atividades desenvolvidas pelos trabalhadores no
abate e processamento de carnes e derivados para consumo humano.
NR 37 – Segurança e saúde em plataformas de petróleo: estabelecer
requisitos mínimos de segurança quando se trata do trabalho a bordo de
plataformas de petróleo.
Pesquise mais
Em 2019, foi colocado em pauta mudanças nas NRs visando a atuali-
zação das normas com o objetivo de facilitar os trabalhos dos fiscais,
bem como a interpretação por parte de empregadores e trabalhadores.
Essas mudanças serão realizadas pela Fundacentro, órgão de pesquisa
responsável pela produção e divulgação de conhecimento acerca de
segurança e saúde do trabalho. Leia a entrevista de Marina Brito Batti-
lani, presidente da Fundacentro e se informe sobre as características
das mudanças que serão propostas.
BATTILANI, M. B. Integração é a palavra-chave. [Entrevista cedida a]
Raira Cardoso. Revista Proteção, Nova Hamburgo-RS, maio 2019.
Normas técnicas brasileiras

As normas técnicas brasileiras são elaboradas pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), uma instituição não governamental reconhe-
cida pela International Organization for Standardization (ISO). A maioria
das normas técnicas não possui caráter compulsório, no entanto, as que
envolvem segurança e saúde da população podem se tornar compulsórias.
Na área de ergonomia, as normas técnicas, de forma geral, não são
compulsórias. No entanto, é importante sua utilização, pois suas diretrizes
indicam práticas que criam ambientes de trabalho adequados, reduzindo o
risco de acidentes e doenças, colaborando com a melhoria do conforto do
trabalhador e, consequentemente, com a melhoria de seu desempenho.
97
As normas técnicas brasileiras possuem objetivo de orientar, por
exemplo sobre aspectos relacionados à ergonomia no ambiente de trabalho,
mobiliário para escritório, medidas do corpo humano, ergonomia da
interação humano-máquina, segurança e saúde ocupacional, segurança
de máquinas, usabilidade e acessibilidade, destacando-se as normas:
1. ABNT NBR 9241 – Ergonomia da interação humano-sistema, que
estabelece uma visão sobre o conteúdo de normas de ergonomia de
software e especificações quanto aos requisitos de projeto e avaliação
de interfaces de usuários, para serem consideradas no desenvolvi-
mento dos softwares.
2. ABNT NBR ISO 1126 – Ergonomia – avaliação de posturas estáticas
de trabalho: restabelece recomendações ergonômicas para diferentes
tarefas de trabalho considerando os conceitos básicos de ergonomia,
bem como as posturas de trabalho, em particular.
3. ABNT NBR ISO 11228 – Ergonomia – Movimentação manual:
estabelece os limites recomendados para movimentos de puxar e
empurrar com o corpo todo.
Pesquise mais
Aprofunde-se mais no tema e consulte as normas técnicas brasileiras
relacionadas à ergonomia. Leia da página 796 à 809 da obra referen-
ciada a seguir, que está disponível em sua Biblioteca Virtual (lembre-se
de que é preciso estar logado para acessar o conteúdo):
Normas técnicas internacionais

Assim como no Brasil temos a ABNT, outros países possuem órgãos para
elaboração das normas técnicas, tais como:
1. DIN (Deutsches Institut für Normung) na Alemanha.
2. IRAM (Instituto Argentino de Normalización y Certificación) na
Argentina.
3. SCC (Standards Council of Canada) no Canadá.
4. AENOR (Associación Española de Normalización y Certificación) na
Espanha.
98
Além das normas específicas de cada país, existem as internacionais, tais
como a International Organization for Standardization (ISO), organização
não governamental integrada por 157 países e a International Electrotechnical
Comission (IEC), voltada à normalização internacional no campo da eletrô-
nica e da eletricidade. Na área de ergonomia, as normas técnicas foram
elaboradas pela ISO.
No âmbito internacional, a Organização Internacional do Trabalho (OIT)
atua com a missão de promover oportunidades para que os trabalhadores
possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liber-
dade, equidade, segurança e dignidade. No Brasil, a OIT atua desde 1950
realizando ações que promovam as normas internacionais do trabalho, da
melhoria das condições de trabalho e da ampliação da proteção social, por
meio do combate ao trabalho escravo, infantil e ao tráfico de pessoas.
Reflita
Vimos que existem diversas normas técnicas e normas regulamenta-
doras para diversas situações. Mas, você já parou para pensar em qual
seria a alternativa se não houvesse uma norma específica para determi-
nado caso no país? Qual seria a solução?
Levando em consideração a legislação aplicada à ergonomia, de forma

geral, as NR citam as normas técnicas brasileiras para recomendar ou especi-
ficar itens técnicos, a fim de que o documento não fique extenso demais.
Além disso, como as normas são dinâmicas, ou seja, constantemente passam
por revisões e atualizações, você precisa se preocupar em sempre se manter
atualizado. É importante lembrar que essas revisões são importantes para
correções, por exemplo, de contradições entre normas. No caso em que há
duas normas diferentes para a mesma situação, a norma a ser seguida é a que
apresenta mais restrições, ou seja, aquela que é mais conservadora e, com
isso, oferece maior proteção ao trabalhador.
Sem medo de errar
Agora que você já domina os aspectos referentes à legislação relacio-

nada à ergonomia, vamos nos concentrar na última etapa de seu trabalho.
Atuando como ergonomista especialista em avaliações ergonômicas de ruído,
prestador serviços para indústrias e empresas em geral, seu trabalho atual
encontra-se na última etapa: agora, com base nos dados analisados anterior-
mente e nas referências legais, você deverá indicar se o trabalho evidencia
99
risco ao trabalhador com as máquinas trabalhando isoladamente e, também,
com as máquinas funcionando simultaneamente.
Tomando como base os dados coletados anteriormente e o cálculo da
dose diária de exposição ao ruído, a Tabela 2.4 apresenta o nível de pressão
sonora para todos os equipamentos avaliados.
Tabela 2.4 | Análise dos resultados de nível de pressão sonora para fresa e furadeira
Fonte de
Fresa Furadeira Torno Guilhotina
ruído
Nível de Nível de Nível de

pressão pressão Nível de pressão pressão
i ni ni ni ni
sonora sonora sonora [dBA] sonora
[dBA] [dBA] [dBA]
1 54 1 84 1 77 8 89 1
2 81 10 85 6 78 13 90 3
3 82 6 86 4 79 1 92 1
4 84 5 87 3 80 3 93 2
5 85 5 88 5 81 1 94 1
6 86 2 89 4 82 1 95 3
7 90 1 90 3 83 1 96 4
8 91 3 84 1 97 5
9 92 1 87 1 98 5
10 99 3
11 100 1
12 101 1
Total de
30 30 30 30
leituras
NM 83,58 88,23 77,09 96,70
Tempo
máximo
diário per- 604,76 190,48 -- 30,00
missível
[minutos]
100
Tempo de
dura-
ção da
480,00 480,00 480,00
jornada de
trabalho
[minutos]
Dose diá-
79,37 251,99 1600,00
ria [%]
De acordo com a metodologia proposta para a avaliação da exposição

ocupacional ao ruído (NHO 01 – Fundacentro) e com a interpretação dos
resultados, todas as vezes em que a dose diária de exposição for maior que
100%, o limite de exposição é excedido e é necessário adotar imediatamente
medidas de controle. Em nossa análise, isso ocorreu na guilhotina.
Caso a dose esteja entre 50 e 100%, a exposição é considerada acima do
nível de ação e devem ser tomadas medidas preventivas para minimizar o
risco de danos à audição do trabalhador, como é o caso das medições reali-
zadas na fresa e na furadeira. O nível de pressão sonora para operação no
torno não traz nenhum risco ao trabalhador, pois o nível de pressão sonora
encontrado é menor que 80 dB (A).
É importante lembrar que níveis de ruído contínuo ou intermitente
acima de 115 dB (A) não são permitidos em nenhum momento da jornada
de trabalho para indivíduos sem a proteção adequada, independentemente
do nível de exposição. Dessa forma, deverão ser tomadas medidas corre-
tivas (guilhotina) e de prevenção (fresa e furadeira). Usando os dados de sua
palestra, para evitarmos problemas com essa situação, é necessário conscien-
tizar os colaboradores sobre os riscos que a atividade promove em relação à
saúde auditiva e realizar um monitoramento periódico (audiometria) para
detectar problemas e sua evolução. Além disso, é de fundamental impor-
tância a utilização do EPI para redução da intensidade da pressão sonora. Se
o nível de ruído for excessivo, pode ser realizado o enclausuramento da fonte
de ruído para que este seja atenuado.
Uma imagem vale mais do que mil palavras
101
Você participou da Semana Interna de Prevenção de Acidentes do
Trabalho (SIPAT) na empresa onde trabalha. Nessa oportunidade, situações
de trabalho foram encenadas por atores comediantes e descritas a seguir:
1. Poeira no ambiente de trabalho: dois amigos estão trabalhando
em um ambiente insalubre e com alta concentração de material
em suspensão, no entanto, um está usando máscara de proteção
e outro não. Ao alertar seu colega que não estava usando máscara,
este responde que não usará o equipamento, pois sabe o que faz e
não precisa do conselho de ninguém. Subitamente, o trabalhador
sem máscara começa a passar mal e rapidamente entra uma equipe
simulando a sua internação, colocando o paciente em uma maca, com
alimentação via soro e ventilação mecânica. Na cena seguinte, o colega
que o advertiu entra no quarto de hospital e, então, comenta: “Viu só
como no final você acabou usando uma máscara mesmo assim? ”
2. Máquina perigosa: na primeira cena, a secretária avisa ao gerente
industrial que os fiscais do trabalho estão na empresa para visto-
riar a segurança das máquinas e equipamentos. Na cena seguinte,
é apresentada ao fiscal uma máquina em não conformidade com a
norma de segurança de máquinas e equipamentos (Figura 2.14) e o
fiscal questiona: “Veja bem, Sr. gerente industrial, sua máquina não
é segura! Não podemos deixar que este equipamento continue em
operação até que esteja totalmente adequado! ” O gerente industrial,
sem demora, responde: “Imagina, Sr. fiscal, é só deixar o botão de
acionamento na posição “OFF”, que a máquina fica extremamente
segura! ”
Após as encenações, o palestrante dividiu a plateia em grupos para
discussão dos temas centrais que cada peça trazia, de forma lúdica, ao
contexto do trabalhador no dia a dia de seu trabalho, buscando resposta ao
questionamento: sobre o que trata cada uma das situações expostas e como
fazer para evitá-las?
102
Figura 2.14 | Máquina em não conformidade com a norma de segurança de máquinas e equi-
pamentos
Fonte: https://bit.ly/2GvVipH. Acesso em: 25 jul. 2019.
Na primeira situação, o trabalhador fica doente devido à aspiração de
poeira no ambiente de trabalho. O colega de trabalho alerta que o técnico de
segurança recomenda a utilização da máscara, pois existe um risco avaliado
e o EPI correto deve ser utilizado quando o trabalhador está exposto, em
obediência à NR 09. No entanto, contrariando essa orientação, o colaborador
se recusa a utilizar o EPI e, como consequência, acaba ficando doente e, por
ironia do destino, precisa utilizar uma máscara para auxiliá-lo a respirar. O
importante nesse cenário é dizer que o colega que lembrou o outro sobre
a necessidade do uso da máscara deveria ter alertado ao superior sobre a
resistência oferecida pelo trabalhador em utilizar a máscara, pois essa resis-
tência representa uma ocorrência que pode implicar em risco à saúde, como
aconteceu, de fato.
103
A segunda situação retrata a desobediência à NR 12: as empresas são
obrigadas a atender todos os requisitos da norma regulamentadora quanto
aos dispositivos de proteção dos equipamentos, sejam eles mecânicos ou
elétricos, oferecendo sinalização adequada para advertir os riscos aos quais
os trabalhadores estarão expostos ao manusear determinada máquina ou
equipamento. Se a máquina ou equipamento não estiver em conformidade
com a norma, sua utilização é proibida, assim como sua fabricação, comer-
cialização e locação.
Faça valer a pena
1. Uma empresa do ramo de teleatendimento notou altos índices de absenteísmo

e contratou um ergonomista, especialista em saúde ocupacional, para desenvolver
um estudo que apontasse as causas do problema e, então, elaborar um plano de ação
para reverter a situação. O ergonomista disse aos diretores da empresa que existe uma
Norma Regulamentadora (NR) que contém um anexo específico para esse tipo de
trabalho.
Assinale a alternativa que aponta o número da NR abordada pelo ergonomista:
a. 33.
b. 35.
c. 9.
d. 17.
e. 12.
2. A NR 17 tem como objetivo regulamentar a ergonomia no ambiente de trabalho,

visando essencialmente o conforto, a diminuição de lesões e o aumento da produti-
vidade dentro das empresas. Sua existência é muito importante já que a maioria das
doenças ocupacionais ocorre devido à exposição a determinado risco ergonômico
inerente à atividade realizada no dia a dia do colaborador. Analise as afirmações sobre
a norma regulamentadora NR 17 – Ergonomia.
I. A organização do trabalho deve ser adequada às características psicológicas

dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.
II. Transporte manual de cargas designa todo transporte em que o peso da

carga é suportado inteiramente por um só trabalhador ou por dois traba-
lhadores, compreendendo desde o levantamento até a deposição da carga.
III. Todos os locais de trabalho devem possuir iluminação adequada, natural ou

artificial, geral ou suplementar, apropriada à natureza da atividade.
104
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I, II e III.
3. A NR 9 estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação do PPRA

com a finalidade de preservar a saúde e a integridade física dos trabalhadores,
reconhecendo os riscos ambientais (físicos, químicos, biológicos) existentes ou que
venham a existir no ambiente de trabalho.
Assinale a alternativa que indica o significado de PPRA.
a. Prevenção Periódica de Riscos Ambientais.
b. Plano de Participação de Riscos Acidentais.
c. Práticas de Predição de Riscos e Acidentes.
d. Programa de Prevenção de Riscos e Acidentes.
e. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.
105
Referências
ABRAHÃO, R. F. O ambiente físico – vibrações mecânicas: Notas de Aula. Faculdade de

Engenharia Agrícola da UNICAMP, 2012.
BATTILANI, M. B. Integração é a palavra-chave. [Entrevista cedida a] Raira Cardoso. Revista

Proteção, Nova Hamburgo-RS, maio 2019. Disponível em: https://bit.ly/2SF02y4. Acesso em:
25 jul. 2019.
BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência
Social e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 24 jul. 1991. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 27 jul. 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde/Organização Pan-Americana da Saúde. Doenças relacionadas ao

trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde do
Brasil, 2001. Disponível em: http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/manuais/seguranca%20
e%20saude%20no%20trabalho/Saudedotrabalhador.pdf. Acesso em: 27 jul. 2019.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Fundacentro. NHO 01 - Procedimento Técnico

- Avaliação da Exposição Ocupacional ao Ruído. Brasília, DF: Ministério do Trabalho e
Emprego, 2001. Disponível em: https://bit.ly/1OHJkG9. Acesso em: 23 jul. 2019.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência Social. Alteração na NR - 9 - Programa de

Prevenção de Riscos Ambientais - ANEXO II - Exposição Ocupacional ao Benzeno em
Postos Revendedores de Combustíveis. 30 jul. 2017. Disponível em: http://www.acm.org.br/
acamt/documentos/emfoco/alteracoes-nr9-07-2017.pdf. Acesso em: 27 jul. 2019.
CORRÊA, V. M. BOLETTI, R. R. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Série Tekne. Porto

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CORRÊA, V. M. BOLETTI, R. R. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Série Tekne. Porto

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FUNDACENTRO. Normas de higiene ocupacional. Disponível em: http://www.fundacentro.

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GERGES, S. N. Y. Ruído – Fundamentos e controles. 2 ed. Florianópolis: Universidade Federal

de Santa Catarina, 2000.
Disponível em: https://bv4.digitalpages.com.br/?term=ergonomia&searchpage=1&filtro=to-
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JORNADA extenuante: empresas japonesas estão usando drones para evitar que as pessoas
trabalhem demais. BBC NEWS. 17 fev. 2019. Disponível em https://glo.bo/2YsnhRm. Acesso
em 24 jul. 2019.
KINSLER, L. E. et al. Fundamentals of Acoustics. 3. ed. USA, 1982.

homem. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.
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OLIVEIRA, U. R. Ergonomia e segurança do trabalho. MBA em Gestão da Produção e

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QUADROS, F. S. Avaliação do ruído ambiental gerado por veículo de utilidade pública estudo
de caso: caminhão de coleta de resíduos domiciliar. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Mecânica) – Setor de tecnologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004. Disponível
em: http://www.pgmec.ufpr.br/dissertacoes/dissertacao_039.pdf. Acesso em: 24 jul. 2019.
SIQUEIRA, M. M. M. Envolvimento com o trabalho. In: SIQUEIRA, M. M. M. et al. Medidas

do Comportamento Organizacional: ferramentas de diagnóstico e de gestão. São Paulo: Artmed
Editora S.A., 2008. p. 139-142.
Unidade 3
Os fatores humanos e organizacionais do

trabalho
Convite ao estudo
Prezado aluno, ao longo desta disciplina, estudamos como a ergonomia é
utilizada para modificar o ambiente de trabalho de forma que seja adaptado
ao colaborador e suas necessidades. Nesse sentido, é fundamental que sejam
consideradas as limitações para desempenho de determinada atividade tanto
em aspectos físicos quanto em aspectos mentais, que estão relacionados ao
modo de percepção dos riscos, da informação e do poder de decisão.
As características individuais do trabalhador influenciam seus compor-
tamentos de forma significativa, podendo ter efeitos positivos ou negativos
nas atividades a serem desenvolvidas. Além disso, temos que considerar que
o indivíduo não irá ter um desempenho constante devido a características da
fisiologia do organismo humano. Para reduzir problemas, como o estresse,
e manter os colaboradores engajados, a ergonomia nos fornece ferramentas
para que aspectos negativos sejam eliminados e, consequentemente, melho-
rias na organização sejam implementadas.
Para que os conceitos fiquem mais claros, vamos imaginar uma situação
em que você é o gestor industrial de uma indústria metalúrgica de médio
porte que tem dois turnos de trabalho (diurno e noturno). Recentemente,
devido ao aumento da produção, a diretoria da empresa realizou mudanças
na operação, incluindo mais etapas no processo de fabricação, relacionadas
à pintura, a qual, anteriormente, era terceirizada. No entanto, após essa
alteração, o índice de absenteísmo na fábrica aumentou muito devido ao
estresse, principalmente nos trabalhadores do turno da noite. Percebendo
que os índices de produtividade estão bem ruins, incluindo reclamação de
clientes, a diretoria já cobrou uma posição sua como gestor para diagnosticar
os problemas no chão de fábrica. Em reunião com os supervisores de cada
um dos setores, você resolveu atuar em três frentes de trabalho:
• A primeira frente está focada em analisar as fontes de estresse e quais
as ações necessárias para reverter o quadro.
• Na segunda etapa, você e sua equipe irão avaliar os efeitos do trabalho
noturno e em turno na saúde dos colaboradores e nos resultados
da produção.
• Finalmente, na terceira frente, você e sua equipe irão propor melho-
rias no arranjo físico dos postos de trabalho das máquinas do setor
de pintura, para que os trabalhadores sintam mais conforto na
realização do trabalho e, consequentemente, realizem um trabalho
mais produtivo.
Com a realização dessas tarefas, seremos capazes de responder aos
seguintes questionamentos elaborados pela diretoria: quais são as causas do
estresse ocupacional e quais são as formas de reduzi-lo ou eliminá-lo? Quais
são os impactos do trabalho noturno e em turno na saúde do trabalhador?
Quais ações devem ser realizadas pela gestão para reduzir os efeitos danosos
do trabalho noturno? Quais são as principais recomendações quanto ao
trabalho em turno? Quais critérios devemos adotar no projeto de dimensio-
namento do posto de trabalho?
Para que possamos solucionar os problemas do setor fabril da empresa,
vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre os fatores referentes aos
aspectos humanos no trabalho e à organização do trabalho; além disso, apren-
deremos sobre a análise, o projeto e a construção de um posto de trabalho.
Seção 1
Fatores humanos no trabalho
Diálogo aberto
Prezado aluno, é claro que, quando pensamos em realizar intervenção
ergonômica em determinada empresa, nos preocupamos com o sucesso e a
efetividade de nosso trabalho. Para isso, é preciso que sejam consideradas as
características fisiológicas de nosso organismo e como esses fatores influen-
ciam nosso desempenho. Três aspectos devem ser observados, são eles: a
monotonia, a fadiga e a motivação. Com essa avaliação, podemos tornar os
ambientes de trabalho mais interessantes e motivadores.
Outro aspecto a ser considerado é a adequação do trabalho ao público
feminino, aos idosos e, também, às pessoas com deficiência. O trabalho
moderno requer mais esforço cognitivo do que físico para sua realização, o
que proporciona mais participação de mulheres, e, de forma geral, as pessoas
tendem a prolongar o período de vida ativa.
Vamos analisar como essas características influenciam o desempenho do
trabalho na prática. Imagine que você é o gestor industrial de uma indús-
tria metalúrgica de médio porte que tem dois turnos de trabalho (diurno e
noturno). Visando obter melhores resultados, a diretoria optou por incluir
etapas no processo de fabricação, incorporando a pintura, etapa anterior-
mente terceirizada, conforme apresentado na Figura 3.1.
Figura 3.1 | Sequência de operações de manufatura
Fonte: adaptada de Gerlach et al. (2017, p. 47).
Após essa alteração, o índice de absenteísmo na fábrica aumentou muito

devido ao estresse, principalmente nos trabalhadores do turno da noite.
111
Percebendo que os índices de produtividade estão bem ruins, incluindo
reclamação de clientes, a diretoria já cobrou uma posição sua como gestor
para diagnosticar os problemas no chão de fábrica. Em reunião com os
supervisores de cada um dos setores, você resolveu atuar em três frentes de
trabalho. A primeira frente está focada em analisar as fontes de estresse e
quais as ações necessárias para reverter o quadro, buscando as respostas para
as seguintes questões: quais são as causas do estresse ocupacional? Quais
são as ações necessárias para reduzi-lo ou eliminá-lo? Com foco na teoria
relacionada aos fatores fisiológicos no trabalho e estresse, certamente você
irá conseguir traçar um bom diagnóstico. Mãos à obra!
Não pode faltar
Certamente, em conversas entre colegas e familiares, você já deve ter

escutado a seguinte frase: “Eu não consigo fazer nada durante a manhã, sinto
muito sono! Eu funciono melhor à noite!”. Pois bem, isso é uma realidade
já que nosso organismo não tem desempenho constante e pode estar mais
apto ao trabalho em determinados horários e dias. Isso está relacionado ao
ritmo circadiano (fator intrínseco de nosso organismo e particular de cada
indivíduo) e, também, a fatores externos (tais como atividade física).
Fatores fisiológicos no trabalho

O ritmo circadiano varia de um indivíduo para outro, o que possibilita a
divisão da população em três cronotipos diferentes:
• Indiferentes: não apresentam preferência quanto ao período do dia
para realização de tarefas.
• Matutinos: são mais dispostos durante a manhã e costumam
dormir cedo.
• Vespertinos: são menos dispostos durante a manhã, preferindo
realizar tarefas à tarde e no início da noite; adaptam-se ao trabalho
noturno com mais facilidade.
Assimile
Ritmo circadiano é o termo que se refere às oscilações das funções fisio-
lógicas em um período de 24 horas (daí vem o seu nome, que significa
“cerca de um dia”), comandadas pela presença de luz solar. Dentre as
variações fisiológicas do organismo, a mais importante para o trabalho
é a alteração da temperatura interna do corpo, que oscila de 1,1 a 1,2°C
durante o dia: a temperatura começa a subir às 8 horas da manhã e se
112
mantém elevada até as 22 horas, quando começa a cair, atingindo o
valor mínimo entre 2 e 4 da manhã; a partir daí ela volta a subir (IIDA;
GUIMARÃES, 2018).
Pesquisadores registraram oscilações da atenção, vigilância e sono em um

período de 24 horas, comprovando que os matutinos são mais eficientes para
detecção de falhas no período da manhã, enquanto os vespertinos são mais
eficientes na parte da tarde.
Após as refeições, o fluxo sanguíneo é direcionado para os órgãos do
sistema digestório, o que provoca uma queda no estado de vigília. Nesse caso,
é importante que seja feita uma pausa de 45 minutos a uma hora para que a
digestão seja feita, evitando acidentes nesse período.
Como foi mencionado anteriormente, durante a manhã a temperatura
corpórea aumenta e de madrugada ela cai. Isso é natural e está relacionado
ao fato de que, quando acordamos, nossa temperatura aumenta e, ao chegar
a hora de dormir, o metabolismo vai diminuindo, assim como as demais
funções fisiológicas, promovendo redução da temperatura. O sono é muito
importante para recuperação das capacidades física e mental, e uma pessoa
deve dormir em média oito horas por dia.
Reflita
Imagine a situação de trabalho noturno, quando há perturbação
do ritmo circadiano. O que acontece nesse caso? Qual é o tempo de
adaptação do organismo?
Para afastar o sono, é comum o uso de café, fumo (que pode causar doenças
vasculares e câncer) e muitas vezes álcool (substância que prejudica o sistema
muscular e neurológico, alterando o tempo de reação, reduzindo a coordenação
motora, a capacidade de tomada de decisão e a capacidade de autocrítica). O
café é estimulante devido à cafeína presente em sua composição. Geralmente,
o café produz alterações fisiológicas, como aumento de temperatura corporal,
aceleração do ritmo cardíaco e aumento do consumo de oxigênio, assim
aumenta a vigilância e alivia a fadiga temporariamente. É importante lembrar
que o uso exagerado do café provoca insônia, nervosismo e dores no estômago.
Conhecimento, aprendizagem e treinamento

O conhecimento é tudo o que aprendemos e sabemos, envolve o uso
de informações e está armazenado na memória de longa duração. Em uma
113
empresa, o conhecimento adquirido é armazenado e utilizado em suas
operações; seja ele relacionado às normas técnicas, manuais, dados de forne-
cedores e clientes, seja ele utilizado no projeto, na fabricação, no controle de
qualidade e operações logísticas.
Atualmente, devido ao grande (e crescente) volume de informações, são
utilizados sistemas de gestão do conhecimento, através de softwares especí-
ficos, que permitem a busca rápida da informação necessária para execução
de determinada tarefa.
Aprender significa adquirir conhecimentos e armazená-los na memória
de longa duração. No contexto de trabalho, o processo de aprendizagem é
aquele em que o indivíduo adquire conhecimentos sobre a estrutura e funcio-
namento do sistema em que atua, permitindo a realização de inferências dos
resultados a serem alcançados para cada ação realizada.
Para que o aprendizado se dê de forma mais efetiva e rápida, é importante
que o modelo de aprendizagem exploratória utilize elementos ou modelos
mentais já existentes na mente do aprendiz, ou seja, o sistema para apren-
dizagem deve conter elementos coerentes com a lógica preestabelecida para
que o usuário o entenda com mais facilidade. Se isso não ocorrer, o indivíduo
irá apresentar mais dificuldade para aprender, além de cometer erros e de
não saber qual ação tomar frente a eventos inesperados.
Geralmente, o processo de aprendizagem é iniciado com uma explanação
verbal ou escrita (manual) que descreve como determinada tarefa deve ser
realizada. Essa informação será útil para o treinamento em que a tarefa será
executada e, então, a informação adquire a dimensão operacional e, enfim,
transforma-se em conhecimento. É comum, no entanto, observar que, na
prática, os indivíduos preocupam-se em aprender fragmentos do sistema que
consideram indispensáveis à realização de seu trabalho e depois, aos poucos,
vão explorando o sistema para aprender gradativamente outras funcionali-
dades por tentativa e erro.
À medida que os modelos mentais evoluem com a aquisição de novos
conhecimentos e experiências, as pessoas adotam simplificações no processo
de aprendizado, construindo atalhos para a obtenção dos resultados
desejados, de maneira mais eficaz.
É importante lembrar que no processo de aprendizagem, ao se deparar
pela primeira vez com algo nunca visto, o indivíduo, naturalmente, sentirá
mais dificuldade que uma pessoa experiente. Na segunda vez em que executar
a atividade nova, certamente sentirá menos dificuldade, ou seja, a curva de
aprendizagem, de forma geral, demonstra que o tempo do ciclo se reduz em
escala logarítmica em função do número de vezes em que a tarefa é repetida.
114
A curva de aprendizagem, no entanto, nem sempre é contínua e varia de um
indivíduo para outro.
O processo de aprendizagem pode ser dividido em quatro fases:
• Fase 1: aprendizado da sequência de atividades: envolve a execução
de instrução verbal, escrita ou, ainda, imitação de comportamento.
• Fase 2: ajuste dos canais sensoriais: à medida que o trabalhador se
torna mais habilidoso, os canais sensoriais vão se modificando, de
forma que, com o passar do tempo, a atenção se volta somente aos
aspectos realmente importantes da tarefa.
• Fase 3: ajuste dos padrões motores: os padrões motores também
são alterados com a prática de determinada tarefa, o ritmo dos
movimentos, trajetória e velocidade são refinadas.
• Fase 4: redução da atenção consciente: o trabalhador passa a
realizar a tarefa de forma automática, sem necessidade de informa-
ções adicionais.
Exemplificando
Lembre-se de quando você tirou carta e passou pelo processo de apren-
dizagem de dirigir um veículo; ao entrar no carro para dirigir, a atenção se
voltava para todos os detalhes do processo: colocar o cinto de segurança,
acionar a seta, engatar a marcha, sincronizar o movimento de liberação
da embreagem e acionar o acelerador enquanto libera o freio de mão.
Todas essas ações requeriam o máximo de sua atenção e, em qualquer
desvio, o carro poderia “morrer”. Com o tempo, as ações foram sendo
realizadas de forma mais rápida, até que passaram a ser automáticas.
Se a atividade não for praticada por um longo período, começamos a esquecer

das etapas de realização da tarefa, o que pode ser minimizado com treinamentos
de reciclagem e cursos. Nesse sentido, percebe-se que tanto o aprendizado quanto
o esquecimento implicam custos adicionais para a empresa.
Fadiga e estresse
O trabalho contínuo provoca um estado de redução da capacidade
do organismo que resulta na redução da produtividade e da qualidade do
trabalho. Esse efeito cumulativo é conhecido como fadiga, causada por vários
fatores, os quais podem estar relacionados com a intensidade e duração do
trabalho, bem como com a falta de motivação, monotonia, problemas de
relacionamento social (no trabalho e fora dele) e condições de trabalho
115
(ambiente). Quando a pessoa está fadigada, ela tende a fazer sua tarefa de
forma simplificada, aceitando padrões de qualidade, precisão e segurança
menores, mesmo que tenha a intenção de realizar a tarefa da melhor forma
possível. A precisão e coordenação dos movimentos também são comprome-
tidas. Nesse cenário, os erros tendem a aumentar.
No organismo, a fadiga fisiológica provoca acúmulo de ácido lático
e consumo das reservas de energia, que pode ser reposta pela ingestão de
alimentos. Esse tipo de fadiga pode ser facilmente reversível, se não forem
ultrapassados determinados limites, como o descanso diário. Por sua vez, a
fadiga crônica não é aliviada com pausas/períodos de descanso, tem efeito
cumulativo e pode levar ao desenvolvimento de doenças cardíacas, mentais
e úlceras. Seus sintomas são: aborrecimento, desânimo, depressão, ansiedade
e falta de iniciativa. Além disso, a causa da fadiga crônica não está exclusi-
vamente relacionada ao trabalho. Já a fadiga psicológica apresenta sintomas
mais dispersos, tais como irritabilidade, desinteresse, sentimento de cansaço
geral e maior sensibilidade a estímulos como fome, calor, frio ou postura.
Quando submetidas a situações de estresse, as pessoas ficam mais suscetí-
veis à fadiga, que pode ocorrer em situações nas quais o trabalho requer mais
esforço mental do que físico. A forma como a fadiga ocorre varia de acordo
com o indivíduo, facilidade/dificuldade na realização das tarefas e período
(dia ou fase da vida).
Quanto à redução da produtividade, a fadiga aparece como uma das
causas principais e tem relação com a carga de trabalho, ambientes não
adequados, horários de trabalho, programação de trabalho e relações sociais.
A administração da empresa deve prevenir a fadiga e, nesse contexto, estar
sempre atenta à ocorrência desse fenômeno, buscando suas causas e, então,
implementando formas de eliminá-la. Uma maneira de agir preventivamente
é estabelecer pequenas pausas durante a jornada de trabalho; no caso de
trabalhos moderados, as pausas podem ser de 10 minutos a cada hora traba-
lhada. Nesse momento, o trabalhador deve se levantar, caminhar um pouco
e, se houver oportunidade, conversar com colegas de trabalho.
A pressão por resultados cada vez melhores, conflitos com superiores e
colegas, problemas pessoais, ameaça de desemprego, dentre outros, causam
situações de estresse. Em situações de estresse, as pessoas ficam mais deslei-
xadas e perdem autoestima e autoconfiança, podendo apresentar distúrbios
de sono e, também, recorrer a algum vício, como fumo, bebidas alcóolicas e
outras drogas. Além disso, os sistemas neuroendócrino e imune podem ser
alterados, causando doenças cardiovasculares, problemas gastrointestinais e
116
dores osteomusculares. O estresse também afeta o sistema nervoso central
reduzindo a capacidade de resposta a estímulos e provocando distúr-
bios emocionais, como ansiedade e depressão. As causas do estresse estão
resumidas no Quadro 3.1.
Quadro 3.1 | Causas do estresse no trabalho
Causa Descrição
Pressão para manter ritmo de trabalho elevado e cumpri-
Conteúdo do trabalho mento de prazos. Responsabilidades, conflitos, insatisfação
e desmotivação.
O trabalhador percebe que não consegue atender às de-

Sentimento de incapacidade
mandas ou prazos estabelecidos.
As condições do ambiente são desfavoráveis (temperatura,

umidade e níveis de ruído elevados, iluminação inade-
Condições de trabalho quada, dentre outros). O posto de trabalho não oferece
conforto e os trabalhadores sofrem tanto exigências físicas
quanto mentais.
Situação em que os superiores são muito exigentes e

Fatores organizacionais críticos; e o trabalho não atende às expectativas quanto à
remuneração, evolução na carreira e jornada de trabalho.
Medo do desemprego e insegurança financeira. Conflitos

Pressões socioeconômicas
com colegas de trabalho e superiores.
Detectar as causas do estresse não é fácil, por isso, muitas vezes ações
corretivas são introduzidas considerando suposições falsas. Para avaliar as
causas do estresse, Herbert (1978) desenvolveu uma metodologia baseada
em três etapas:
• A primeira etapa consiste em identificar as dificuldades encontradas
por uma amostra de trabalhadores.
• Na segunda etapa, as dificuldades são avaliadas com base em um
questionário a ser respondido por uma população maior.
• Na terceira etapa, os dados coletados são analisados estatisticamente,
destacando as principais dificuldades. Dessa forma, esses dados
fornecem subsídio para intervenções mais significativas na tentativa
de reduzir o estresse. As intervenções a serem adotadas para redução
do estresse no posto de trabalho são apresentadas no Quadro 3.2.
117
Quadro 3.2 | Intervenções a serem adotadas para redução do estresse no posto de trabalho
Ação Descrição das ações
Visar à melhoria da postura, adaptar as dimensões antro-
pométricas e facilitar a movimentação do corpo. Tanto as
Redesenho do posto de
cargas musculares quanto cognitivas devem ser reduzidas. As
trabalho
variáveis relacionadas ao conforto ambiental também devem
ser analisadas.
Eliminar possíveis condições de isolamento e ambientes rui-

Melhoria dos contatos
dosos. Em casos de isolamento físico ou temporal necessário,
sociais
providenciar pausas frequentes.
Mudança de estilo Tornar a organização mais participativa para que os trabalha-

gerencial dores manifestem suas opiniões e dificuldades.
Fornecer informações sobre as condições de trabalho e

treinamento para desenvolvimento de habilidades necessárias
Providenciar treinamento
para o cargo. Recepcionar os novos colaboradores apresen-
tando-os para toda a equipe.
Informar aos colaboradores os procedimentos a serem

Manter ajudas emergen- seguidos caso aconteçam incidentes, eventos inesperados e
ciais acidentes de trabalho. O trabalhador precisa saber a quem
recorrer e o que fazer em cada situação.
Incluir práticas de ginástica laboral, de relaxamento e terapia

Fazer exercícios de rela- em grupo. Devem ser feitas pausas coletivas de 10 a 15 mi-
xamento nutos antes do trabalho ou uma pausa a cada duas horas com
duração de 10 minutos.
Pesquise mais
A síndrome de Burnout é uma situação de esgotamento físico e mental
com origem relacionada ao trabalho, que afeta mais de 33 milhões
de brasileiros. Recentemente, esse transtorno foi reconhecido como
síndrome crônica diretamente ligada ao trabalho pela Organização
Mundial da Saúde (OMS). Para conhecer mais sobre essa síndrome, leia
a matéria indicada a seguir:CURY, M. E. O que é a síndrome de Burnout,
que afeta 33 milhões de brasileiros. Exame, [S.l.], 29 maio 2019.
Também assista ao vídeo:
COMO prevenir e tratar o Burnout? [S.l.]: Bem-Estar, 31 maio 2019. 1
vídeo (7 min.). Publicado em Globoplay.
Monotonia e motivação
A fadiga pode ser agravada ou aliviada pela monotonia e pela motivação,
respectivamente. A monotonia ocorre ao se realizar tarefas pouco interes-
santes, sobretudo repetitivas, que não provocam estímulo e seus sintomas
118
são sonolência, morosidade, sensação de fadiga e diminuição de vigilância. A
diminuição da atenção e aumento de tempo de reação causam aumento dos
erros; outra importante consequência da monotonia é a saturação psíquica,
em que o indivíduo sabe de seu dever de trabalhar, no entanto tem o desejo
de parar de trabalhar.
Reflita
Discuta com seus amigos sobre os cargos e tarefas que podem causar o
estado de monotonia. Quais são as profissões mais suscetíveis? E quais
são os fatores que podem agravar esse estado?
A motivação é uma característica do comportamento humano que faz

com que o indivíduo persiga determinada meta. Um trabalhador que está
motivado consegue produzir mais e melhor, não sendo necessárias interven-
ções de um supervisor para atingir as metas, pois consegue trabalhar com
mais autonomia. Uma tarefa monótona pode se tornar motivadora com as
ações resumidas no Quadro 3.3.
Quadro 3.3 | Intervenções para motivação do trabalhador
Conhecer o objetivo de determinada tarefa que está sendo realizada
é motivador. Sem fixação de metas, o trabalho parece interminá-
Estabelecer metas
vel. O estabelecimento de metas precisa considerar a natureza do
trabalho.
Tarefas desafiadoras são mais motivadoras do que as triviais,

principalmente quando envolve pessoas que gostam de competir. É
Desafiar
necessário cuidado no modo em que se propõe o desafio para não
prejudicar o clima e a harmonia da equipe.
É preciso fornecer feedback para o trabalhador sobre o andamento

Informar de seu trabalho e sobre o quanto ele precisa produzir para atender à
meta estabelecida.
Ao se atingir as metas estabelecidas, o trabalhador pode ser

recompensado com aumento de salário (caráter monetário), com
Recompensar promoções (caráter organizacional) ou reconhecimento perante o
time (caráter social). Os critérios para remuneração e promoção
devem estar claros para os colaboradores.
É necessário que as empresas se esforcem para manter os trabalhadores

motivados. Importante lembrar que os fatores que influenciam diretamente
a motivação são o salário e o ambiente de trabalho. O salário é o fator
119
preponderante e pode se tornar, inclusive, fonte de insatisfação. O ambiente
de trabalho é motivador quando existe espírito de colaboração, respeito e
gestão adequada da empresa.
Podemos resumir o que aprendemos da seguinte forma: tarefas que são
monótonas e repetitivas, sem desafios, irão atrofiar o indivíduo; no entanto,
quando o ambiente de trabalho provocar excitação e ser desafiador, o
indivíduo tende a se desenvolver.
Influências de sexo, idade e deficiência

No mercado de trabalho, vemos crescente contribuição do trabalho
feminino, aumento da quantidade de pessoas idosas, devido à queda da taxa
de natalidade e aumento da expectativa de vida, e pessoas com deficiência se
capacitando mais para o trabalho produtivo.
Observa-se maior quantidade de mulheres nas áreas de educação, saúde,
comércio e trabalhos de escritório. Na indústria, o trabalho feminino tem
presença maior nos setores de alimentos, têxtil e eletrônica e é crescente
a participação delas em setores antes essencialmente masculinos, como
construção civil, transportes e forças armadas.
Como até recentemente os postos de trabalho estavam adequados para
a predominância masculina, é necessário rever os projetos para melhorias e
adaptações ergonômicas de produtos, sistemas e serviços para as mulheres.
Homens e mulheres, em termos de capacidade mental, não se diferenciam
de forma alguma. No entanto, as dimensões antropométricas, funções fisio-
lógicas, força muscular e capacidade cardiovascular são diferentes. Dessa
forma, homens e mulheres podem se complementar no trabalho, cada um
realizando tarefas mais adequadas à sua capacidade física: enquanto homens
possuem maior força física, as mulheres têm maior facilidade com tarefas
que exigem contato social e atenção a detalhes.
Pesquise mais
Para conhecer mais sobre as características femininas que apresentam
maior importância para o trabalho, consulte as páginas 631 e 632 do livro:
Paulo: Blucher, 2018. Disponível na Biblioteca Virtual.
Embora no processo de envelhecimento algumas habilidades físicas e

cognitivas possam ser perdidas, a pessoa idosa ainda continua apta para o
trabalho que não faça exigências além de sua capacidade. Manter-se ativo
é importante, inclusive, para manutenção da capacidade física e mental. De
120
forma geral, os idosos são mais cautelosos e focados no trabalho, reduzindo
dispersão e aumentando a concentração e confiabilidade nos resultados.
Os postos de trabalho precisam ser adaptados aos idosos de forma a
posicionar os objetos próximos e reduzir os movimentos corporais, além
disso, informações adicionais e irrelevantes devem ser excluídas. A lumino-
sidade também deve ser aumentada, assim como a intensidade dos estímulos
(por exemplo: alarmes).
As pessoas com deficiência possuem limitações físicas ou mentais, sendo
que existe uma variedade muito grande de tipos e causas de deficiências que
as afetam. A ergonomia busca possibilitar a inclusão delas no mercado de
trabalho e capacitá-las. Para isso, busca-se adaptar os equipamentos e o
espaço físico (que deve ser projetado prevendo o acesso dessas pessoas) e,
também, busca-se a utilização de novas tecnologias (como, por exemplo,
sistemas de voz sintetizada para que cegos consigam fazer “leituras”). É
fundamental que sejam garantidos parâmetros mínimos de acessibilidade
nos ambientes frequentados por essa população.
O estudo desta seção permitiu que você aprofundasse seu conhecimento
sobre como os aspectos relacionados ao ser humano influenciam sua saúde
e produtividade. É papel da ergonomia promover melhorias e adequar o
ambiente de trabalho para preservar a saúde física e mental dos trabalha-
dores, considerando todas as populações.
Sem medo de errar
Agora, vamos relembrar a situação-problema apresentada em que você é

o gestor industrial de uma indústria metalúrgica de médio porte que tem dois
turnos de trabalho (diurno e noturno). Visando obter melhores resultados, a
diretoria optou por incluir etapas no processo de fabricação, incorporando a
pintura, anteriormente terceirizada, conforme apresentado na Figura 3.1. Após
essa alteração, o índice de absenteísmo na fábrica aumentou muito devido
ao estresse, principalmente nos trabalhadores do turno da noite. Percebendo
que os índices de produtividade estão bem ruins, a diretoria já cobrou uma
posição sua como gestor para diagnosticar os problemas no chão de fábrica.
Em reunião com os supervisores de cada um dos setores, você resolveu atuar
em três frentes de trabalho. A primeira frente está focada em analisar as fontes
de estresse e quais as ações necessárias para reverter essa realidade.
Para solucionar esse desafio, vamos retomar as causas do estresse
resumidas no Quadro 3.1 e as intervenções propostas para redução do
estresse apresentadas no Quadro 3.2.
121
Quadro 3.1 | Causas do estresse no trabalho
Causa Descrição
Pressão para manter ritmo de trabalho elevado e cumpri-
Conteúdo do trabalho mento de prazos. Responsabilidades, conflitos, insatisfação
e desmotivação.
O trabalhador percebe que não consegue atender às de-
Sentimento de incapacidade
mandas ou prazos estabelecidos.
As condições do ambiente são desfavoráveis (temperatura,
umidade e níveis de ruído elevados, iluminação inade-
Condições de trabalho quada, dentre outros). O posto de trabalho não oferece
conforto e os trabalhadores sofrem tanto exigências físicas
quanto mentais.
Situação em que os superiores são muito exigentes e
Fatores organizacionais críticos; e o trabalho não atende às expectativas quanto à
remuneração, evolução na carreira e jornada de trabalho.
Medo do desemprego e insegurança financeira. Conflitos
Pressões socioeconômicas
com colegas de trabalho e superiores.
Quadro 3.2 | Intervenções a serem adotadas para redução do estresse no posto de trabalho
Visar à melhoria da postura, adaptar as dimensões antro-
pométricas e facilitar a movimentação do corpo. Tanto as
Redesenho do posto de
cargas musculares quanto cognitivas devem ser reduzidas. As
trabalho
variáveis relacionadas ao conforto ambiental também devem
ser analisadas.
Eliminar possíveis condições de isolamento e ambientes rui-
Melhoria dos contatos
dosos. Em casos de isolamento físico ou temporal necessário,
sociais
providenciar pausas frequentes.
Mudança de estilo Tornar a organização mais participativa para que os trabalha-
gerencial dores manifestem suas opiniões e dificuldades.
Fornecer informações sobre as condições de trabalho e
treinamento para desenvolvimento de habilidades necessárias
Providenciar treinamento
para o cargo. Recepcionar os novos colaboradores apresen-
tando-os para toda a equipe.
Informar aos colaboradores os procedimentos a serem
Manter ajudas emergen- seguidos caso aconteçam incidentes, eventos inesperados e
ciais acidentes de trabalho. O trabalhador precisa saber a quem
recorrer e o que fazer em cada situação.
Incluir práticas de ginástica laboral, de relaxamento e terapia
Fazer exercícios de rela- em grupo. Devem ser feitas pausas coletivas de 10 a 15 mi-
xamento nutos antes do trabalho ou uma pausa a cada duas horas com
duração de 10 minutos.
122
Analisando o primeiro quadro, o contexto nos indica que o estresse foi
causado pelo conteúdo do trabalho, uma vez que, mesmo com a mudança
sofrida na organização, existe pressão para manter os índices de produção
e até melhorá-los. Frente à alteração recente, pode ter surgido um senti-
mento de incapacidade frente às novas atividades que serão necessárias e
as alterações podem ter piorado as condições de trabalho, já que algumas
condições do ambiente se tornaram desfavoráveis (temperatura, umidade
e níveis de ruído elevados, iluminação inadequada, dentre outros); o posto
de trabalho não oferece conforto e os trabalhadores sofrem tanto exigências
físicas quanto mentais.
Nesse sentido, as propostas para alteração do status de estresse são: redese-
nhar o posto de trabalho, analisando as variáveis relacionadas ao conforto
ambiental e, também, à postura e adaptação das dimensões antropométricas.
Também é necessário o fornecimento de treinamento, de forma que os
trabalhadores estejam aptos a desenvolver as atividades necessárias, elimi-
nando o sentimento de incapacidade. E, ainda, é importante que a organi-
zação se torne mais participativa, ou seja, é necessária a mudança no estilo
gerencial para que os trabalhadores expressem mais suas opiniões e dificul-
dades. Quais outras ações, você, como gestor, apontaria para sua equipe?
A síndrome do esgotamento profissional
Você é o gestor da produção de uma empresa que produz medicamentos e

está participando de um seminário sobre saúde no trabalho. Nessa oportunidade,
você participou de uma palestra e, imediatamente, lembrou-se de uma funcionária,
Alice, que era extremamente dedicada e motivada. Alice chegava para o trabalho
às 7 horas da manhã e saía, todos os dias, próximo das 22 horas. Diversas vezes,
Alice “pulou” as refeições, pois aproveitava esse momento para colocar a caixa
de e-mail em ordem, respondendo aos fornecedores e clientes, já que durante o
expediente estava ocupada com outras tarefas. Certo dia, chegando ao trabalho,
você foi conversar com Alice sobre a produção prevista para a semana e Alice ficou
estática, não se lembrava do que era necessário fazer, acabara de sofrer um lapso de
memória, e imediatamente ela começou a chorar de forma inconsolável. Alice não
tinha condições de continuar seu trabalho e foi afastada de suas atividades para se
submeter a um tratamento psicológico. De qual transtorno relacionado ao trabalho
Alice estava sofrendo? Quais ações a organização deve adotar para evitar esse tipo
de situação? E quais ações o indivíduo deve tomar para prevenir esse transtorno?
123
Com a palestra, ficou bastante claro que a sua colega de trabalho está
sofrendo com a síndrome de Burnout. Aproximadamente 30% da população
brasileira sofre com esse problema.
A organização deve se esforçar para criar um ambiente saudável, em que os
colaboradores se sintam bem e participativos. Além disso, as pessoas precisam
ser alocadas para as funções de acordo com o seu perfil, de forma a estabelecer
um senso de propósito permanente. Também é válido otimizar processos para
eliminar tarefas e/ou rotinas inúteis, evitando o gasto de energia em processos
que não refletem em resultados. Outra ação relevante é adotar formas de
recompensar o trabalho duro quando as metas são atingidas: comemorar com
o time, propor horários de trabalho flexíveis, folgas e viagens de incentivo.
Para que o transtorno em questão seja prevenido, o indivíduo deve
organizar-se para equilibrar tarefas do trabalho com demais tarefas para
que tanto o estresse quanto a pressão no trabalho sejam diminuídos. Nesse
sentido, pode adotar algumas ações, como: participar de atividades sociais,
praticar exercícios físicos, evitar o consumo de bebidas alcóolicas, passar um
tempo de qualidade com familiares e amigos e procurar descansar adequada-
mente, dormindo pelo menos 8 horas por dia.
A síndrome de Burnout é responsável pelo afastamento do profissional,
ocorrência de desentendimentos entre membros da equipe, perda de talentos
e descumprimento de prazos e metas. Com tantos aspectos negativos, o
melhor remédio é prevenir esse transtorno na organização.
Faça valer a pena
1. Ritmo ___________ é o termo que se refere às oscilações das funções

fisiológicas em um período de 24 horas (daí vem o seu nome, que signi-
fica “cerca de um dia”), comandadas pela presença de luz solar. Dentre as
variações fisiológicas do organismo, a mais importante para o trabalho é a
alteração da ___________ do corpo, que oscila de 1,1 a 1,2°C durante o dia:
a temperatura começa a ___________ às 8 horas da manhã e se mantém
elevada até as 22 horas, quando começa a ___________, atingindo o valor
mínimo entre 2 e 4 da manhã; a partir daí ela volta a subir, encerrando o ciclo
(IIDA; GUIMARÃES, 2018).
Qual das alternativas a seguir preenche corretamente as lacunas do texto-base?
a. circadiano; imunidade; subir; cair.
b. cardíaco; temperatura interna; cair; subir.
124
c. natural; vigilância; subir; cair
d. circadiano; temperatura interna; subir; cair.
e. cardíaco; integridade; cair; subir.
2. Analise os casos dos profissionais a seguir:

• Um piloto de avião, ao se aproximar do aeroporto, apresenta uma
tendência de relaxar, podendo provocar erros e, portanto, aumentar
o risco de acidentes.
• Um motorista, em seu trabalho, olha menos para os instrumentos de
controle, reduz a frequência de trocas de marcha e não responde aos
estímulos ambientais.
O texto-base refere-se a profissionais que apresentam sintomas de:
a. Monotonia.
b. Motivação.
c. Fadiga.
d. Sono.
e. Fome.
3. Um trabalhador que está motivado consegue produzir mais e melhor,

não sendo necessárias intervenções de um supervisor para atingir as metas,
pois consegue trabalhar com maior autonomia. Uma tarefa monótona pode
se tornar motivadora se, ao atingir as metas estabelecidas, o trabalhador for
agraciado com aumento de salário (caráter monetário), com promoções
(caráter organizacional) ou reconhecimento perante o time (caráter social).
Para que isso funcione de forma efetiva, os critérios para remuneração ou
promoção precisam estar claros a todos os colaboradores.
O texto-base se refere a qual ação para promoção da motivação no ambiente
de trabalho?
a. Informar.
b. Estabelecer metas.
c. Desafiar.
d. Recompensar.
e. Demitir.
125
Seção 2
Organização do trabalho
Diálogo aberto
Prezado aluno, na seção anterior, estudamos os principais fatores humanos
que influenciam o trabalho; vimos também que um dos maiores problemas
dos trabalhadores, nos dias atuais, é o estresse causado pelas exigências, por
competições no ambiente de trabalho e conflitos entre colegas e superiores.
Nesse sentido, a ergonomia se esforça para melhorar as condições de
trabalho, reduzindo estresse, erros, acidentes e doenças ocupacionais. Isso não
ocorre somente com a eliminação dos aspectos negativos do trabalho, mas
também com a introdução de melhorias organizacionais, objetivando manter
a saúde e a motivação dos colaboradores em níveis elevados e, consequen-
temente, melhorando a produtividade e a qualidade do trabalho realizado.
Algumas ações importantes para que a organização atinja esses propósitos são:
• Definir e atribuir corretamente as tarefas.
• Atuar em seleção e treinamento de colaboradores.
• Estabelecer planos de salário e de carreira.
• Sobretudo, manter uma comunicação clara entre trabalhadores e
gestores, de forma que não haja ruídos que irão contra o bem-estar no
trabalho, metas e qualidade de produção.
Um dos aspectos importantes a ser considerado é a alocação do traba-
lhador em grupos de trabalho e a necessidade de realização de trabalhos
em turnos. Para que esses conceitos fiquem mais claros, vamos continuar
a analisar a situação em que você é o gestor industrial de uma indústria
metalúrgica de médio porte que tem dois turnos de trabalho (diurno e
noturno). Recentemente, devido ao aumento da produção, a diretoria da
empresa realizou mudanças na operação, incluindo mais etapas no processo
de fabricação, relacionadas à pintura, que, anteriormente, era terceirizada.
No entanto, após essa alteração, o índice de absenteísmo aumentou princi-
palmente entre trabalhadores do turno da noite. Percebendo que os índices
de produtividade estão caindo, a diretoria já cobrou uma posição sua como
gestor para diagnosticar os problemas no chão de fábrica. Na primeira etapa
de seu trabalho, você analisou, em conjunto com supervisores, as causas
do estresse e as ações necessárias para alterar o quadro, constatando que os
126
fatores organizacionais, como o turno de trabalho, influenciam na produtivi-
dade e satisfação dos empregados.
Agora, você e seu time devem entender: quais fatores influenciam no
trabalho noturno? Quais são as consequências do trabalho em turno e
noturno? Quais ações a companhia deve implementar para solução do
problema? A diretoria está muito contente com o empenho de sua equipe
para resolver a situação apresentada. Avance em seus conhecimentos sobre
trabalho noturno e trabalho em turnos para conseguir agir de forma efetiva
sobre os problemas enfrentados.
Não pode faltar
Você certamente já ouviu a máxima “O trabalho dignifica o homem”, pois é,

no século XVIII (Era Pré-Industrial), não se pensava assim: o trabalho era visto
como um fardo, pois as condições de trabalho eram péssimas e expunham a
população a diversas doenças. Durante a Revolução Industrial, as fábricas eram
sujas, escuras, ruidosas e perigosas; os postos de trabalho eram improvisados e
essas condições permaneceram por mais de um século. Essa situação começou
a se alterar no final do século XIX devido à influência do engenheiro norte-a-
mericano Frederick Winslow Taylor, que introduziu a administração científica
do trabalho, conhecida como taylorismo. As ideias de Taylor foram adotadas
na organização da primeira fábrica automotiva da Ford.
Assimile
O taylorismo era baseado em observações na fábrica, que cronome-
travam o tempo de realização de determinada tarefa para estabeleci-
mento de um padrão de execução de tarefas a ser seguido por todos,
respeitando o tempo-padrão observado para realização de cada tarefa.
Em termos organizacionais, o taylorismo divide as responsabilidades
entre a gerência, que deveria estabelecer os métodos e os tempos-pa-
drão, e os trabalhadores, que eram controlados e tinham a produtivi-
dade mensurada; os que eram mais eficientes ganhavam um bônus no
salário. Os trabalhadores realizavam trabalho puramente mecânico,
sem participar e interferir nas decisões; eram vistos como meros
“braços e pernas”.
Segundo Iida e Guimarães (2018), o problema do taylorismo é que ele

simplifica a realidade do trabalho, ignorando os fatores relacionados ao
ambiente físico, maquinário e relacionamento humano, atribuindo a baixa
produtividade e os acidentes de trabalho à ociosidade e à negligência dos
127
trabalhadores, respectivamente. Outro conceito muito questionado é de que
o homem é motivado apenas pelo dinheiro para melhorar a produtividade;
sabe-se que grande parte dos trabalhadores são motivados pela realização,
respeito e reconhecimento pelo trabalho que fazem.
A difusão do taylorismo e das linhas de produção foi considerada um
avanço para aumento da produtividade e competitividade. Nesse cenário, o
trabalho era dividido em tarefas curtas, simples e repetitivas, definidas pela
gerência. A natureza desse trabalho tem como consequência o aparecimento
de fadiga e monotonia, o que reflete em erros, acidentes, baixa qualidade da
produção, aumento de absenteísmo e rotatividade.
Assimile
A rotatividade também é chamada de turnover e é medida pela relação
entre a taxa de demissões e admissões em determinado período (IIDA;
GUIMARÃES, 2018).
A partir de 1960, começaram a surgir novas formas de organização do

trabalho com o objetivo de reduzir os efeitos nocivos da organização taylo-
rista e aumentar o grau de motivação e produtividade. O trabalho moderno
tem mais tarefas que envolvem aspectos cognitivos, que não requerem força
física; o trabalhador é exigido no sentido de prestar atenção, manter-se
concentrado e ser capaz de tomar as decisões corretas, tendo maior autonomia
e liberdade para tal.
O ambiente físico de trabalho também foi transformado: os layouts foram
projetados para permitir bom relacionamento entre colegas e supervisores
e, também, a temperatura e a iluminação são projetadas para fornecer um
ambiente agradável para a realização das tarefas. Essa transformação teve
como base a análise das fontes de insatisfação dos trabalhadores, as quais
dependem do tipo de trabalho que está sendo realizado. De forma geral,
a insatisfação dos trabalhadores está relacionada à jornada de trabalho, à
remuneração, à organização, ao ambiente físico e social.
Pesquise mais
Para conhecer mais sobre as fontes de insatisfação dos trabalhadores,
consulte as páginas 640 a 642 do livro:
128
Quando o trabalhador tem maior liberdade para organizar seu trabalho,
acaba por realizar ajustes de acordo com suas necessidades físicas e mentais,
proporcionando maior equilíbrio emocional. Isso é bastante importante, já que
ninguém conhece o trabalho melhor do que quem o executa. Dessa forma,
as contribuições dos trabalhadores, mesmo que aparentemente insignificantes,
devem ser consideradas para marcar sua participação e aumentar a moral.
Diversas decisões devem ser tomadas em conjunto, o qual pode ser classi-
ficado como grupo ou time. Grupos, de forma geral, são mais propensos
a assumir riscos e as decisões em grupo podem ser tomadas com técnicas
como o brainstorming. Em um grupo, nem sempre os objetivos se convergem
e, em alguns casos, os membros podem competir entre si, enquanto em um
time os participantes têm o mesmo objetivo e trabalham de forma colabo-
rativa para atingi-lo. Em termos organizacionais, é mais interessante possuir
times em vez de grupos para que sejam evitados conflitos entre as pessoas.
Reflita
Você acha que na prática fica clara a distinção entre grupo e time? Pense em
situações em que conflitos podem existir em relação a essa classificação.
A partir da década de 1980, com a automação da produção, alguns

mercados ficaram saturados de produto e a exigência por produtos customi-
zados, em detrimento da produção em série, ficou maior. Com essa situação,
novas propostas de organização do trabalho surgiram, promovendo o alarga-
mento e o enriquecimento do trabalho nas linhas de produção e tornando-o
mais flexível. O alargamento do trabalho (enriquecimento horizontal) acres-
centa ao trabalhador outras tarefas, sem mudança substancial na natureza
do trabalho. Essa prática contribui para diminuição da monotonia e fadiga.
O enriquecimento do trabalho (vertical) propõe a introdução de mudanças
qualitativas, colocando os profissionais em situações desafiadoras, que
exigem novas responsabilidades, novas habilidades e conhecimentos.
Exemplificando
A Figura 3.2 exemplifica a diferença entre a organização tradicional e o
trabalho enriquecido, no qual, além das tarefas rotineiras, o trabalhador
passa a ser responsável pelo controle de qualidade, preparo e manutenção
da máquina. Ao ser responsável pela verificação da qualidade, o traba-
lhador se preocupa em produzir pelas boas práticas e corrigir imediata-
mente os erros, pois a responsabilidade é dele e de seu grupo.
129
Figura 3.2 | Exemplo de alteração do trabalho tradicional para o trabalho enri-
quecido
O trabalho enriquecido exige mais treinamento, organização e controle da

produção, no entanto, tudo isso é compensado pela maior motivação e pela
redução de absenteísmo, rotatividade e outros problemas. No trabalho flexível, o
organograma tradicional é substituído por formas mais flexíveis de organização.
Além disso, a flexibilidade é atingida quando os trabalhadores e os horários são
flexíveis e quando existem líderes ou facilitadores no lugar de chefes.
Alocação do trabalho em grupo

As tarefas da empresa são estruturadas em cargos, cuja complexidade de
tarefas varia e tem relação direta com os salários e carreiras. Para cada cargo,
deve haver um salário definido em uma faixa. Dessa forma, o salário para
pessoas de um mesmo cargo varia de acordo com o nível de escolaridade,
experiência, antiguidade ou mérito. É importante que o plano de cargos esteja
bem estabelecido para que as pessoas consigam vislumbrar, ao longo do tempo,
promoções. Empresas que possuem um plano de carreira e de salários bem
definidos, de forma geral, não têm taxa de rotatividade elevada, as despesas
com seleção e treinamento e até trabalhistas são menores e os colaboradores
têm uma mentalidade mais alinhada com os valores da empresa.
130
Pessoas que ocupam o mesmo cargo ou possuem cargos semelhantes
podem ser organizadas em grupos. Cada grupo tem uma dinâmica própria
de funcionamento, que nem sempre é compatível com a descrição de cargos
e funções. É importante que o grupo tenha um objetivo comum e, não
raro, os componentes do grupo devem fazer concessões para se adaptar ao
objetivo global. Dessa forma, é importante que o grupo seja coordenado para
que os esforços individuais se sobressaiam ao objetivo do grupo, de modo
que o indivíduo não adote uma postura egoísta, fazendo o que lhe é mais
conveniente. É papel do coordenador do grupo reunir talentos que unidos
permitam atingir o resultado idealizado.
A forma de alocação das tarefas no grupo pode ser realizada de três formas:
• Alocação em série, em que cada membro faz uma parte do trabalho
e ao término passa para outro realizar a tarefa seguinte até o término
do trabalho.
• Alocação em paralelo, em que existe mais de uma pessoa reali-
zando ao mesmo tempo a mesma tarefa, multiplicando a capaci-
dade produtiva.
• Sistema misto, que consiste na combinação dos modelos anteriores.
Na rotação, o trabalhador é transferido de um cargo para outro, o que
contribui para redução da monotonia e sobrecarga osteomuscular. Para
que a rotação de trabalhadores seja possível, é preciso que os colaboradores
estejam aptos a ocupar determinado grupo de cargos, assim, os trabalhadores
conhecem as tarefas e estão dispostos a assumir as responsabilidades que o
novo cargo requer. Em determinadas empresas, existe a figura do operário-cu-
ringa, que consegue ocupar diversos postos de trabalho de determinada linha
de montagem, podendo substituir colegas em caso de falta ou afastamento.
Reflita
Pense com seus colegas e professor sobre as vantagens da rotação de
trabalhadores. Quais os ganhos de desempenho?
Seleção e treinamento
As pessoas são diferentes e possuem capacidades diferentes de realizar
trabalho. Muitas vezes, a diferença de produtividade entre as pessoas é
atribuída ao treinamento, no entanto, em alguns casos o treinamento pode
acentuar essas diferenças (IIDA; GUIMARÃES, 2018). No caso de tarefas
complexas, o treinamento é útil para que pessoas com baixo rendimento
131
consigam se aproximar de pessoas eficientes sem, no entanto, ultrapassar a
produtividade destas, ou seja, as diferenças existem e podem ser atenuadas
(não eliminadas) com treinamento.
O processo de seleção de pessoal parte do pressuposto de que os traba-
lhadores se diferenciam entre si quanto aos conhecimentos, capacidades
físicas, habilidades e experiências. O recrutador busca habilidades básicas e
características de personalidade necessárias para o cargo, sendo que existem
diversos testes na psicologia que são aplicados para avaliar as habilidades e
características individuais.
Visando manterem-se competitivas, as empresas oferecem oportunidades
de treinamento aos colaboradores. O treinamento pode ser feito no próprio
cargo (on the job), em que o aprendiz é colocado ao lado de um trabalhador
mais experiente ou, também, pode ser feito de uma forma mais sistemati-
zada. Para que o programa de treinamento tenha sucesso, é necessário que
o objetivo seja definido, para isso, é interessante a participação de pessoas
de outros setores/departamentos. Os conteúdos dos treinamentos devem ser
organizados de forma que as novas habilidades sejam transmitidas progres-
sivamente e devem abranger vários cargos para serem eficazes.
Durante o processo de aprendizagem, é importante que o colaborador
receba um feedback para saber se está aprendendo, e o instrutor também
deve identificar se o programa está sendo bem-sucedido. Dessa forma, para
que o treinamento avance para uma fase seguinte, é necessário fazer uma
verificação, e cabe ao instrutor reforçar o comportamento dos aprendizes de
forma a motivá-los.
Para manter os trabalhadores atualizados, é importante que sejam feitos
cursos de treinamento periódicos para manutenção ou reforço (reciclagem).
A reciclagem é fundamental em áreas dinâmicas, em que as atividades
sofrem impacto devido aos avanços tecnológicos rápidos. É recomendado
que a reciclagem seja feita pelo menos uma vez ao ano, além disso, para os
responsáveis pelas tomadas de decisão, é importante que a empresa propor-
cione a participação deles em eventos e feiras para que esses profissionais
estejam alinhados com as principais inovações do mercado.
Trabalho noturno e em turnos

Plantas que possuem processo contínuo e que não podem ser parali-
sadas ou que, por razões econômicas, funcionam continuamente precisam
de colaboradores para trabalhar no turno da noite. Embora seja uma neces-
sidade, o trabalho noturno exige que o organismo realize atividades no
momento em que está se preparando para descansar. Para reduzir os efeitos
132
danosos do trabalho noturno, é interessante a adoção de trabalhos em turnos,
em que o colaborador trabalha somente à noite (turno fixo) ou reveza entre
o trabalho diurno e noturno.
Conhecer como o trabalho noturno influencia no desempenho do
colaborador permite que a organização atue para tornar essa prática menos
prejudicial. No entanto, é importante ressaltar que o trabalhador do turno da
noite nunca terá o mesmo desempenho que um trabalhador do turno do dia.
Destacamos os principais motivos:
• Ritmo circadiano: o organismo não funciona de maneira uniforme
durante o dia; possuímos um relógio biológico que regula as atividades
fisiológicas, mais intensas durante o dia e menos intensas à noite.
Mesmo trocando o dia pela noite, o ritmo circadiano não inverte.
• Diferenças individuais: algumas pessoas possuem maior facilidade
para se adaptar ao trabalho noturno, no entanto, as adaptações serão
sempre parciais. A adaptação ao trabalho noturno é mais difícil
para pessoas idosas e aquelas que têm distúrbios de sono. Pessoas
que exercem mais de uma atividade também sofrem mais com o
trabalho noturno.
• Tipo de atividade: o trabalho noturno é mais fácil de ser realizado
quando as atividades exigirem movimentação.
• Desempenho: o trabalho noturno reduz a concentração mental, o
que leva a um aumento da incidência de erros e acidentes, principal-
mente quando a atividade é monótona e repetitiva. Esse quadro pode
ser agravado quando não houver condições adequadas de trabalho,
como por exemplo, deficiência na iluminação.
• Saúde: trabalhadores do turno da noite são mais cansados, irritados e
apresentam distúrbios gastrointestinais e nervosos. Além disso, entre
essa população, verifica-se maior consumo de café, fumo, álcool e
remédios para dormir.
• Consequências sociais: quem trabalha à noite convive menos com a
família e com a comunidade, o que pode trazer problemas de relacio-
namento. Além disso, como os eventos sociais geralmente ocorrem
no período noturno, a pessoa fica impossibilitada de participar
dessas atividades.
Os trabalhadores da noite apresentam resultados de produtividade
similares a um trabalhador do turno diurno que passou a noite inteira
sem dormir. O sono dos trabalhadores noturnos também possui qualidade
inferior quando comparado ao de uma pessoa que trabalha de dia, pois não
133
tem a mesma capacidade reparadora, provocando um acúmulo de sono que
vai reduzindo o desempenho ao longo da semana.
Na maioria dos trabalhos noturnos, a queda de desempenho não compro-
mete a produtividade ou segurança devido à pouca exigência. No entanto, em
cargos de, por exemplo, pilotos, controladores de tráfego aéreo e profissio-
nais de serviços de emergência, os erros poderão gerar consequências graves.
Nesses casos, os trabalhadores devem fazer rotações entre postos de trabalho
a cada duas horas e, também, pode-se trabalhar com sistemas redundantes,
ou seja, com sistemas duplicados ou triplicados que garantem a disponibili-
dade de processos e equipamentos críticos no caso de ocorrência de falhas.
Esses sistemas são aplicados no caso das aeronaves, por exemplo.
O período entre o trabalho e o sono deve ser um período dedicado às
atividades de lazer. No caso dos trabalhadores noturnos, a sequência dos
períodos fica alterada para: trabalho – sono – lazer. É importante, nesse
caso, dedicar os dias de folga e finais de semana para as atividades de lazer,
compromissos sociais, religiosos e culturais.
Algumas empresas adotam o esquema de turnos fixos e outras, esquemas em
que o trabalhador atua alternadamente em diferentes períodos. É importante
observar que trabalhadores de turnos fixos reclamam de doenças menos graves
do que os de turno rotativo, que, por sua vez, reclamam menos de pequenas
indisposições, atribuindo esse fato à natureza de seu regime de trabalho.
De forma geral, o regime de trabalho rotativo é pior que o regime de turno
fixo, pois as frequentes mudanças de turno desorganizam o ciclo circadiano. Além
disso, os aspectos negativos do trabalho em turno noturno podem ser minimizados
selecionando trabalhadores vespertinos (mais adaptados ao trabalho noturno).
Como o trabalho noturno é uma necessidade, cabe às empresas
organizar esquemas de trabalho que provoquem menor prejuízo ao traba-
lhador, tanto em termos de saúde quanto de convívio social. Para isso, há
algumas recomendações:
• Evitar jornadas de trabalho com mais de oito horas de trabalho diário.
• Limitar os dias consecutivos de trabalho noturno.
• Conceder folga de 24 horas após cada dia de trabalho noturno.
• Conceder folga de dois dias consecutivos pelo menos uma vez
por mês.
• Conceder folgas durante o ano em número equivalente ao dos traba-
lhadores do turno diurno.
134
É importante lembrar que a legislação brasileira regulamenta a questão
de horários, remuneração, duração de turnos e descansos semanais do traba-
lhador. O gestor deve elaborar o esquema de turnos levando em conside-
ração a legislação, bem como os aspectos ergonômicos, tomando ações para
adaptar o trabalho noturno e em turnos ao homem.
Sem medo de errar
Agora que você já conhece os aspectos relacionados à organização do

trabalho, chegou a hora de analisar a situação-problema apresentada! Você é
o gestor industrial de uma indústria metalúrgica de médio porte que tem dois
turnos de trabalho (diurno e noturno). Recentemente, devido ao aumento da
produção, a diretoria da empresa realizou mudanças na operação, incluindo
mais etapas no processo de fabricação, relacionadas à pintura, que anterior-
mente era terceirizada. No entanto, após essa alteração, o índice de absen-
teísmo aumentou principalmente entre trabalhadores do turno da noite.
Percebendo que os índices de produtividade estão caindo, a diretoria já
cobrou uma posição sua como gestor para diagnosticar os problemas no chão
de fábrica. Na primeira etapa de seu trabalho, você analisou, em conjunto
com supervisores, as causas do estresse e as ações necessárias para alterar
o quadro, constatando que os fatores organizacionais, como o turno de
trabalho, influenciam na produtividade e satisfação dos empregados. Agora,
você e seu time devem entender os fatores que influenciam no trabalho
noturno, as consequências do trabalho em turno e noturno e quais ações a
companhia deve implementar para solução do problema.
O trabalho noturno é influenciado pelo ritmo circadiano. O organismo
possui um relógio biológico que regula as atividades fisiológicas mais
intensas no período diurno e menos intensas à noite; mesmo trocando o dia
pela noite, o ritmo não inverte. Portanto, o desempenho do trabalho noturno
é pior do que o diurno, já que ocorre, naturalmente, uma diminuição da
concentração, levando a um aumento da incidência de erros e acidentes,
o que pode ser agravado por parâmetros do ambiente físico (por exemplo,
iluminação). Outro fator que influencia o trabalho noturno são as diferenças
individuais: algumas pessoas têm mais facilidade para se adaptar ao trabalho
noturno, no entanto, as adaptações serão sempre parciais.
O tipo de atividade também influencia o trabalho noturno, sendo
recomendadas as atividades que exigem mais movimentação, caso contrário,
a monotonia irá promover queda ainda maior no desempenho.
Como consequência do trabalho noturno, podemos destacar que os
trabalhadores da noite apresentam resultados de produtividade similares ao
135
trabalhador do turno diurno que passou a noite inteira sem dormir. O sono
dos trabalhadores noturnos também tem qualidade inferior quando compa-
rado ao de uma pessoa que trabalha de dia, pois não tem a mesma capacidade
reparadora, provocando um acúmulo de sono que vai reduzindo o desem-
penho ao longo da semana. Em termos de saúde, os trabalhadores do turno
da noite são mais cansados, irritados e apresentam distúrbios gastrointesti-
nais e nervosos. Além disso, entre essa população, verifica-se maior consumo
de café, fumo, álcool e remédios para dormir. Outro fator a se considerar é
que quem trabalha à noite convive menos com a família e com a comuni-
dade, o que pode trazer problemas de relacionamento. Ainda, sabemos
que a maioria dos eventos sociais geralmente ocorre no período noturno,
assim, a pessoa que trabalha nesse período fica impossibilitada de participar
dessas atividades.
Para reduzir os efeitos danosos do trabalho noturno, é interessante a
adoção de trabalhos em turnos, em que o colaborador trabalha somente à
noite (turno fixo) ou reveza entre o trabalho diurno e noturno. Para isso, cabe
às empresas organizar esquemas de trabalho que provoquem menor prejuízo
ao trabalhador, tanto em termos de saúde quanto de convívio social. Para
isso, devem ser seguidas algumas recomendações:
• Evitar jornadas de trabalho com mais de oito horas de trabalho diário.
• Limitar os dias consecutivos de trabalho noturno.
• Conceder folga de 24 horas após cada dia de trabalho noturno.
• Conceder folga de dois dias consecutivos pelo menos uma vez
por mês.
• Conceder folgas durante o ano em número equivalente ao dos traba-
lhadores do turno diurno.
• Selecionar trabalhadores que apresentam maior adaptabilidade ao
trabalho noturno (de caráter vespertino).
Grupo versus time
Em um departamento de compras, três funcionários trabalhavam como

um verdadeiro time, sempre tomavam as decisões levando em conside-
ração as expectativas e experiências dos três, tinham metas que em conjunto
cumpriam, promovendo redução dos custos da empresa, o que sempre foi
136
bem visto pela diretoria. Como um time, cumpriam os horários previstos,
chegando e saindo no mesmo horário. Com o crescimento da empresa, o
gestor do departamento contratou um novo colaborador, que, logo no início,
ficava além do horário e buscava a todo custo se destacar em relação aos
membros da equipe. O comportamento do novo funcionário começou a
incomodar os demais e logo o gestor percebeu o conflito devido à queda
de produtividade. Para buscar entender a causa do conflito e resolver o
problema, o gestor do departamento de compras se reuniu com os demais
gestores, que tinham problemas similares em suas equipes. E, então, eles
procuraram responder: qual a diferença entre grupo e time? Quando um
time se torna um grupo e vice-versa? Como resolver o problema?
Na discussão entre gestores, chegou-se à conclusão de que em grupos nem
sempre os objetivos se convergem e, em alguns casos, os membros podem
competir entre si, enquanto em um time os participantes têm o mesmo
objetivo e trabalham de forma colaborativa para atingi-lo. Até o momento da
entrada do novo funcionário, os colaboradores do departamento de compras
trabalhavam como um time, pois tinham um objetivo comum e trabalhavam
de forma colaborativa para atingi-lo. Em termos organizacionais, é mais
interessante ter times em vez de grupos para que sejam evitados conflitos
entre as pessoas. Com a entrada do novo colega, os membros do departa-
mento não convergiam mais para o objetivo comum, já que o novo funcio-
nário adotou uma postura competitiva em relação aos demais, destruindo a
coesão entre os membros do time, perturbando a qualidade e produtividade
do departamento, que agora pode ser caracterizado como grupo. O problema
pode ser resolvido por meio do esforço do gestor em estabelecer um diálogo
franco com a equipe a fim de minimizar o comportamento individualista,
passando os valores e a cultura organizacional da empresa e buscando cresci-
mento e aprendizagem para todos os membros do departamento.
Faça valer a pena
1. Com o advento da Revolução Industrial, surgiram as primeiras fábricas, que

eram sujas, escuras, ruidosas e perigosas, e os postos de trabalho eram impro-
visados. Essa situação começou a se alterar no final do século XIX, devido à
influência do engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor, que
introduziu a administração científica do trabalho, conhecida como taylorismo.
Sobre o taylorismo, é correto afirmar que:
137
a. As decisões são tomadas levando em consideração a experiência do
trabalhador.
b. Os fatores relacionados ao ambiente físico são considerados.
c. O conceito de que o homem é motivado pelo reconhecimento e reali-
zação no trabalho é levado em conta.
d. As tarefas são complexas e exigem esforço cognitivo.
e. Os trabalhadores realizam trabalho puramente mecânico, sem parti-
cipar e interferir nas decisões.
2. A forma de alocação das tarefas no grupo pode ser realizada de três

formas: ____________, em que cada membro faz uma parte do trabalho
e ao término passa para outro realizar a tarefa seguinte até o término do
trabalho; ____________, em que existe mais de uma pessoa realizando ao
mesmo tempo a mesma tarefa, multiplicando a capacidade produtiva; e
____________, que consiste na combinação dos modelos anteriores.
Qual das alternativas a seguir preenche corretamente as lacunas do texto-base?
a. alocação em série; sistema misto; alocação em paralelo.
b. alocação em paralelo; alocação em série; sistema misto.
c. alocação em série; alocação em paralelo; sistema misto.
d. alocação em paralelo; sistema misto; alocação em série.
e. alocação em sistemas mistos; alocação em série; alocação em paralelo.
3. As pessoas são diferentes e possuem capacidades diferentes para realizar

trabalho. Muitas vezes, a diferença de produtividade entre as pessoas é atribuída
ao treinamento, no entanto, em alguns casos o treinamento pode acentuar essas
diferenças. No caso de tarefas complexas, o treinamento é útil para que pessoas
com baixo rendimento consigam se aproximar de pessoas eficientes sem, no
entanto, ultrapassar a produtividade destas, ou seja, as diferenças existem e
podem ser atenuadas (não eliminadas) com treinamento.
Considerando o texto-base, selecione a alternativa correta sobre treinamento.
a. O recrutador não leva em consideração as capacidades individuais no
processo seletivo.
b. As empresas realizam o treinamento on the job para que o aprendiz
aprenda sozinho a como realizar o trabalho.
138
c. O método de aprendizagem é reforçado repreendendo o trabalhador
em público.
d. A reciclagem é fundamental para manter os trabalhadores atuali-
zados.
e. Recomenda-se que a reciclagem seja feita uma vez a cada cinco anos.
139
Seção 3
Posto de trabalho
Diálogo aberto
Caro aluno, imagine o layout de uma fábrica ou de um grande escritório.
Você logo perceberá que, embora a natureza das atividades seja diferente,
ambos os locais são formados por diversas células ou postos de trabalho. O
posto de trabalho é o local onde o ser humano irá, operando uma máquina ou
equipamento, produzir e realizar o trabalho. Esse ambiente deve ter as dimen-
sões, as formas e os arranjos ideais para que o trabalho seja realizado de forma
eficiente e para que implicações à saúde do trabalhador não sejam causadas.
Para assimilar melhor o conteúdo, trabalharemos com os conceitos de
avaliação e dimensionamento de posto de trabalho de uma forma prática! Vamos
voltar para nosso contexto de aprendizagem, em que você é o gestor industrial
de uma indústria metalúrgica de médio porte que tem dois turnos de trabalho
(diurno e noturno). Recentemente, devido ao aumento da produção, a diretoria
da empresa realizou mudanças na operação, incluindo mais etapas no processo
de fabricação, relacionadas à pintura, que anteriormente era terceirizada. Após
essa alteração, o índice de absenteísmo na fábrica aumentou principalmente
entre trabalhadores do turno da noite. Percebendo queda nos índices de produ-
tividade, a diretoria interviu pedindo um diagnóstico completo para realização
de ações de melhoria. A primeira e a segunda etapa do projeto foram concluídas
com sucesso. Agora, você e sua equipe precisam analisar o problema relacionado
aos postos de trabalho propondo melhorias no arranjo físico, já que os trabalha-
dores estão se queixando de dores no corpo devido às posturas desenvolvidas
durante a execução da tarefa (Figura 3.3). Além disso, o cheiro no ambiente é
muito forte e os trabalhadores só utilizam uma máscara para proteção.
Figura 3.3 | Posto de trabalho no setor de pintura
Fonte: Silva e Ferreira (2018, [s.p.]).
140
Em relação à postura, quais são os problemas verificados e quais ações são
necessárias para resolver o problema? Em termos de qualidade do ambiente,
quais ações devem ser implementadas para resolver o problema apresentado?
Tomando como base os conceitos de arranjo físico e dimensionamento do
posto de trabalho, elabore um projeto de melhoria para que os trabalha-
dores sintam maior conforto na realização do trabalho e, consequentemente,
realizem um trabalho mais produtivo.
Não pode faltar
Você já parou para pensar como o projeto ergonômico do posto de

trabalho influencia a eficiência, segurança e satisfação no trabalho? Como,
por exemplo, assegurar que o colaborador execute as posturas adequadas aos
movimentos corporais, manter as cargas dentro de limites de tolerância e,
também, facilitar as tarefas do dia a dia. Parece que não, mas todos esses
elementos precisam ser bem pensados para que o trabalhador execute suas
tarefas com conforto e se mantenha saudável.
O posto de trabalho pode ser analisado sob dois pontos de vista, ou
enfoques: o enfoque taylorista e o enfoque ergonômico.
Assimile
De acordo com Iida e Guimarães (2018), o enfoque taylorista é baseado
nos estudos dos movimentos do corpo necessários para a realização
de determinada tarefa e, também, é chamado de estudo de tempos
e movimentos. Nesse método, são avaliadas diferentes sequências de
movimentos necessários para se realizar a tarefa, sendo que a sequência
de movimentos padrão escolhida é aquela que permite a realização da
atividade em menor tempo. O enfoque ergonômico é aquele que se
baseia na análise biomecânica da postura e análise do sistema: homem-
-sistema-ambiente.
O enfoque taylorista é bastante criticado, pois a análise dos movimentos

leva à adoção daqueles mais simples e repetitivos, característica que a
longo prazo gera fadiga muscular e monotonia, contribuindo para redução
da motivação do trabalhador, aumento do absenteísmo e rotatividade
de funcionários.
O enfoque ergonômico, por sua vez, busca reduzir tanto as exigên-
cias biomecânicas quanto físicas nos postos de trabalho, de forma que o
operador execute uma postura adequada e que os objetos fiquem dentro da
141
área de alcance dos movimentos corporais. Nesse sentido, máquinas, equipa-
mentos e ferramentas são projetados para promover o equilíbrio biomecâ-
nico, reduzindo contrações de musculatura, tarefas altamente repetitivas e
estresse, de forma geral.
Reflita
Você consegue imaginar qual o principal desafio dos projetistas dada a
grande variedade de dimensões antropométricas de nossa população?
Quais os impactos disso no projeto de postos de trabalho? Quais seriam
as alternativas para contornar esse problema?
Análise da tarefa
Para projetar um posto de trabalho, é preciso efetuar a análise da tarefa,
que deve ser realizada antes da compra de equipamentos e ações que impos-
sibilitem a alteração do posto de trabalho. A análise da tarefa é realizada em
três níveis:
1. Descrição da tarefa: ocorre em um nível mais global e abrange
os aspectos gerais da tarefa, bem como das condições nas quais
ela é realizada. Nesse sentido, é necessário especificar o objetivo
da tarefa, quais são as características do operador e das máquinas
envolvidas na atividade, onde o posto de trabalho estará locali-
zado no sistema produtivo e, também, as condições operacionais,
ambientais e organizacionais.
2. Descrição das ações: interfere no projeto da interface homem-
-máquina e classifica as ações em informações (que se referem
às interações sensoriais) e controles (que se referem às ativi-
dades motoras e a qual tipo de movimento corporal é exigido).
A observação das ações pode ser realizada por observação direta,
amostragem ou filmagens.
Exemplificando
A Figura 3.4 apresenta um gráfico das durações das ações relacionadas
à tarefa de dirigir um ônibus, conforme estudo realizado por Göbel et al.
(1998), citados por Iida e Guimarães (2018). Verificou-se que o motorista
realiza cerca de 200 ações, dentre frear, acelerar, mudar a marcha, etc.
142
Figura 3.4 | Duração das ações necessárias para se dirigir um veículo
Fonte: Göbel et al. (1998) apud Iida e Guimarães (2018, p. 301).
3. Correção dos problemas: consiste na revisão crítica das tarefas e das

ações de forma a eliminar os problemas constatados, principalmente,
condições que possam provocar dores ou lesões osteomusculares, como:
tarefas altamente repetitivas, com ciclos menores que 90 segundos, e
ações estáticas, em que é necessária a manutenção da posição por deter-
minado período. É interessante também propor alterações que contri-
buam para a diminuição de erros, bem como retrabalhos.
Projeto do posto de trabalho

O projeto do posto de trabalho faz parte da estratégia global das empresas
e, de acordo com Iida e Guimarães (2018), é composto por seis etapas:
• Etapa 1: objetivos, especificações globais e recursos disponíveis
A administração define os objetivos, as especificações e os recursos
disponíveis para o projeto, que irão determinar o grau de investi-
mento/automação do posto de trabalho. Nessa etapa, é definido o
que pode ser reaproveitado ou quais equipamentos a empresa precisa
adquirir. Muitas vezes, o posto de trabalho necessita de algumas
adaptações e melhorias para promover maior conforto; em outras
situações, a alteração do processo produtivo com a implantação de
grupos semiautônomos de produção é avaliada. Devem ser levadas
em consideração as restrições financeiras, tecnológicas e de prazo
para implantação do projeto e, com base nos objetivos e nas limita-
ções apuradas, são definidas as soluções de compromisso.
143
• Etapa 2: principais características do posto de trabalho
A natureza da tarefa deve ser avaliada, podendo, inclusive, realizar-se
uma Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Nesse levantamento,
devemos nos atentar às atividades realizadas, ações e operações
envolvidas e verificar se o sistema proporciona conforto e saúde ao
operador, com atenção aos aspectos desfavoráveis ao trabalhador.
• Etapa 3: projeto do posto de trabalho
A primeira fase do projeto, de natureza qualitativa, é a definição dos
arranjos físicos das posturas e movimentação do trabalhador em relação
às máquinas e equipamentos envolvidos, ou seja, é o momento de:
– Definir a localização dos equipamentos e do trabalhador (com
atenção à postura e movimentos a serem executados).
– Estabelecer a prioridade das ações e operações manuais.
– Posicionar os dispositivos de informação dentro da área da visão.
– Estabelecer o fluxo de entrada e de saída de materiais.
Na sequência, é realizado o dimensionamento, de natureza quantita-
tiva, em que se busca dimensionar o local de trabalho com base nas
medidas antropométricas e, também, definir as faixas de variações das
medidas antropométricas de acordo com a população. Além disso,
máquinas e equipamentos são dimensionados, procurando estabe-
lecer os pontos de entrada e saída de materiais. Nesse sentido, também
são especificados os espaços para acomodação e de circulação.
• Etapa 4: construção e teste do modelo
O modelo é construído em escala 1:1, em material alternativo, como
papelão ou madeira, para que sejam testados os arranjos e dimen-
sionamentos do posto de trabalho. Pode ser construído simultanea-
mente à etapa 3.
• Etapa 5: construção e teste do protótipo
O protótipo é construído com materiais reais e é diferenciado do modelo,
pois o equipamento funciona de fato. Nesse momento, além de serem
realizados testes de movimentação, velocidade e força, são avaliadas as
variáveis ambientais: ruído, iluminação e isolamento térmico.
• Etapa 6: elaboração de manuais de uso
Com a aprovação do protótipo, as especificações e desenhos técnicos
para construção do posto de trabalho devem ser elaborados, bem
144
como o manual de uso e operação, prevendo quais são as manuten-
ções necessárias e sua periodicidade. Dependendo da aplicação,
podem ser elaborados manuais de treinamento e manutenção.
Arranjo físico do posto de trabalho

O arranjo físico do posto de trabalho está relacionado ao estudo do
posicionamento dos instrumentos de informação e controle que compõem
o posto de trabalho. A disposição dos instrumentos é feita de acordo com
alguns critérios, conforme descrito a seguir:
• Importância: o componente mais importante é colocado em posição
de destaque para facilitar sua manipulação.
• Frequência de uso: para facilitar a manipulação, o instrumento mais
utilizado é colocado em posição de destaque ou de fácil alcance.
• Agrupamento funcional: elementos que têm funções semelhantes
são agrupados em blocos.
• Sequência de uso: os instrumentos devem ser posicionados de acordo
com a sequência de utilização. Nesse sentido, o primeiro instrumento
a ser acionado deve estar na primeira posição, o segundo instrumento
na segunda posição e assim por diante.
• Intensidade de fluxo: elementos com maior intensidade de fluxo
são colocados em posições próximas para facilitar a movimentação
corporal ou aquisição de informações.
• Ligações preferenciais: elementos relacionados entre si são colocados
próximos, podendo haver, no entanto, diferenças na intensidade de fluxo.
Percebam que os critérios estão relacionados tanto à natureza dos
elementos quanto às interações entre eles e que, dependendo de cada caso,
esses elementos podem ser utilizados de forma conjugada, sendo possível,
por exemplo, fazer um agrupamento de acordo com suas funções (agrupa-
mento funcional) e, na sequência, em relação às ligações preferenciais.
Dimensionamento do posto de trabalho

O correto dimensionamento do posto de trabalho é fundamental para
garantir o bom desempenho do colaborador, uma vez que ele passará grande
parte do dia nesse local. Erros no dimensionamento do posto de trabalho
poderão ser a causa do sofrimento desse trabalhador durante um período
bastante longo e, inclusive, poderão gerar impactos negativos em sua saúde.
145
Na prática, algumas formas improvisadas podem colaborar para mitigar o
problema, mas, em algumas situações, correções são difíceis de serem imple-
mentadas, pois exigem que o projeto de dimensionamento seja bem estru-
turado desde a sua concepção, como, por exemplo, painéis de comando de
veículos ou centros de controle de operações.
Com a crescente preocupação com os fatores ergonômicos, muitas
recomendações são encontradas em normas técnicas (muitas, no entanto,
possuem caráter não compulsório). Dentre as normas elaboradas pela
International Organization for Standardization (ISO) que possuem relação
com os postos de trabalho, destacam-se:
• ISO 6385 – Ergonomic Principles in the Design of Work Systems (atuali-
zada em 2016).
• ISO 9241 – Ergonomics of Human System Interaction.
• ISO 11064 – Ergonomic Design of Control Centers.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) também elaborou
normas técnicas visando à padronização de mobiliário de escritórios,
dentre outras.
É importante que o posto de trabalho seja dimensionado de forma
que seja possível a sua utilização de maneira confortável pela maioria dos
usuários. Logo, devem ser considerados: postura, movimentos corporais,
medidas antropométricas, necessidade de iluminação, ventilação, dimensões
de máquinas e equipamentos, dentre outros. De forma geral, as dimensões
mais importantes a serem consideradas são:
• Altura da superfície de trabalho.
• Alcances.
• Espaços para acomodação de pernas e movimentação.
• Dimensionamento de folgas.
• Altura e campo de visão.
Pesquise mais
Aprofunde seus conhecimentos sobre os dimensionamentos recomen-
dados fazendo a leitura das páginas 310 a 315 do livro:
146
A produção em série de móveis de escritório não permite que se consi-
derem as diferenças antropométricas de seus ocupantes, por isso, é impor-
tante que os postos de trabalho sejam flexíveis de forma a possibilitar alguns
ajustes individuais, inclusive com a utilização de acessórios para facilitar a
realização de tarefas, como, por exemplo, a base de apoio para pés e a base
para ajuste de altura de ferramenta (Figura 3.5).
Figura 3.5 | Ilustração de ajustes individuais
Fonte: adaptada de Iida e Guimarães (2018, p. 317).
Importante lembrar que os ajustes devem ser realizados de forma fácil e

rápida, caso contrário, acaba por desestimular o usuário e o produto passa
a não cumprir o objetivo. Fundamentalmente, os ajustes são necessários
para permitir mudanças de postura e, também, acomodar indivíduos com
diferentes medidas antropométricas, como ilustra a Figura 3.6, cujo posto de
trabalho em computadores permite a realização de 14 ajustes possíveis.
Figura 3.6 | Posto de trabalho com 14 ajustes possíveis
147
Iida e Guimarães (2018) citam que estudos realizados com modelos de
suportes para realização de tarefas comprovam a redução de até 40% das
atividades musculares, colaborando de forma significativa para o conforto
do trabalhador durante a realização de tarefas.
É válido salientar que, após a realização do projeto do posto de trabalho,
efetiva-se a construção e teste do posto de trabalho em si. Conforme
aprendemos, em um primeiro momento, os testes podem ser realizados
em protótipos construídos com materiais provisórios, como madeira ou
papelão, de forma que seja possível a simulação da distribuição espacial
dos elementos do posto de trabalho, bem como dos espaços necessários
para movimentação do corpo. Detectados problemas, estes podem ser
facilmente corrigidos e, então, o modelo real ou próximo das condições
de operação deve ser construído, simulando-se, inclusive, as condições de
operação e ambientais, avaliando-se, por exemplo, o ruído emitido pelo
equipamento ou a temperatura e se esses fatores influenciam nas ativi-
dades a serem realizadas. Nesse momento, pode ser verificada a inclusão
de elementos e correções de desenho, eliminando-se “cantos vivos” ou
angulosos, de forma a se evitar que o operador sofra lesões.
Lembre-se de que, com a definição do projeto, devem ser elaborados os
desenhos técnicos e especificações para construção do posto de trabalho
e, também, manuais de instrução de operação e manutenção, bem como
materiais complementares que podem ser utilizados nos treinamentos.
Com os conceitos estudados, você já é capaz de definir os aspectos ergonô-
micos apropriados para o projeto e construção de um posto de trabalho.
Sem medo de errar
Agora, vamos partir para a prática e resolver a situação problema apresen-

tada! Você é o gestor industrial de uma indústria metalúrgica que, devido ao
aumento da produção, passou por algumas mudanças na operação, incluindo
mais etapas no processo de fabricação, relacionadas à pintura, que anterior-
mente era terceirizada. Nesta etapa do projeto, você e sua equipe precisam
analisar o problema relacionado aos postos de trabalho, propondo melhorias
no arranjo físico, já que os trabalhadores estão se queixando de dores no
corpo devido às posturas desenvolvidas durante a execução da tarefa (Figura
3.3). Além disso, o cheiro no ambiente é muito forte e os trabalhadores só
utilizam uma máscara para proteção.
148
Para avaliar quais problemas existem no posto de trabalho, devemos

realizar a Análise Ergonômica do Trabalho. Nesse levantamento, devemos
nos atentar às atividades realizadas, ações e operações envolvidas e verificar
se o sistema proporciona conforto e saúde ao operador, com atenção aos
aspectos desfavoráveis ao trabalhador. No caso em questão, o trabalho é
realizado em uma jornada de trabalho de oito horas em um posto de trabalho
no qual os colaboradores exercem atividade de pintura e, também, prepa-
ração da superfície a ser pintada, preparo da tinta e execução de pintura com
o auxílio de pistolas pneumáticas.
Verifica-se que o ambiente é adequado em relação ao espaço, permi-
tindo a movimentação do funcionário para realização do trabalho. Outro
ponto importante é que a empresa disponibiliza Equipamentos de Proteção
Individual (EPI), como botas, máscaras de proteção e óculos de segurança.
A Figura 3.3 indica que as atividades são realizadas principalmente na
posição de pé. Os trabalhadores realizam movimentos para realização da pintura
e, também, para reabastecer a pistola de tinta. A necessidade de permanecerem
com os braços acima da cabeça sem apoio por período longo e, também, a
necessidade de extensão do corpo, ficando na ponta do pé, confirmam a
possível causa de dores no corpo (ombros e braços, principalmente).
Além das posturas necessárias para execução das atividades, outro
problema é a incidência de movimentos repetitivos e a ausência de funcioná-
rios para realizar revezamento durante a jornada de trabalho. Outra defici-
ência é a ausência de posto de descanso para momentos de pausa e espera.
Em relação aos riscos ambientais, o setor apresenta riscos químicos, físicos
e ergonômicos (posturas inadequadas, esforços repetitivos e levantamento de
149
peso). Em relação ao ambiente de trabalho, embora as iluminações artificial
e natural sejam consideradas boas e os níveis de ruído estejam dentro do
limite aceitável, o cheiro de tinta é extremamente forte, pois não há sistema
de ventilação adequado nem filtros nas cabines de pintura.
Analisando essa situação, verifica-se que é inviável a execução do trabalho
na posição sentada. Para evitar extensão dos pés e reduzir a força execu-
tada pela musculatura dos ombros e braços, é imprescindível a instalação
de escadas, andaimes e plataformas, para possibilitar a pintura nas regiões
mais altas. É importante organizar o trabalho para que sejam revezadas as
posturas. Também devem ser implementadas pausas durante a jornada de
trabalho e deve ser instalado um local de descanso, para que o trabalhador
possa se sentar durante a pausa.
Para alívio do peso da pistola pneumática, devem ser instalados tanques
de pressão, eliminando-se a caneca da pistola; e as mangueiras das pistolas
devem ser posicionadas de forma aérea (sistema de correr), diminuindo o
peso nas mãos do trabalhador.
Uma ação importante para resolver o problema com os odores é a insta-
lação de filtros nas cabines de pintura, bem como o desenvolvimento de um
projeto de ventilação, buscando adequada renovação do ar.
Você consegue vislumbrar outras ações que sejam interessantes? Discuta
com seus colegas! Invista em ergonomia e em qualidade no trabalho: sob
melhores condições de trabalho, o colaborador fica mais motivado e satis-
feito com as atividades que desenvolve, o que está ligado ao aumento de
produtividade da empresa.
Avaliando o posto de trabalho em escritórios
Você atua como ergonomista e está assessorando diversas empresas

nas adequações e projetos de posto de trabalho. Em uma delas, na Análise
Ergonômica do Trabalho, você se deparou com as situações apresentadas
na Figura 3.7. Quais problemas você consegue detectar por meio da análise
das fotos? Quais são as principais recomendações para melhoria dos postos
de trabalho, buscando a execução das tarefas pelos trabalhadores com mais
conforto, contribuindo também para sua saúde?
150
Figura 3.7 | Posto de trabalho em escritório
(A) (B)
Fonte: A: Melo, Lima e Oliveira (2016, [s.p.]); B: Barros et al. (2014, p. 40).
Na primeira foto, são verificados diversos problemas: o monitor posicio-
nado obliquamente à visão da colaboradora e, também, mais baixo que a
altura dos olhos, exigindo o abaixamento da cabeça e, portanto, trabalho
dos músculos do pescoço. Os braços também estão posicionados de forma
errada: o cotovelo está abaixo da linha de apoio do teclado, sem apoio algum,
exigindo esforço dos músculos do pulso. Verifique também que acima da
mesa há um ventilador de mesa, indicando que o local de trabalho não tem
climatização adequada. No outro cenário, fica claro que a postura do colabo-
rador está comprometida: para atender ao telefone ele “entorta a coluna”,
adotando uma postura escoliótica.
Dessa forma, podemos concluir que existe necessidade de uma reade-
quação do sistema de climatização, de forma a abandonar os ventiladores
de mesa. Além disso, é necessária uma readequação das estações de compu-
tador. Kroemer e Grandjean (2005) indicam as seguintes recomendações:
• O mobiliário deve ser o mais flexível possível, devendo ser ajustáveis
nas seguintes dimensões:
– Altura do teclado (do chão à linha da tecla home): 700 – 850 mm.
– Altura da tela (do chão ao centro da tela): 800 – 1100 mm.
– Inclinação da tela em relação à horizontal: aproximadamente 105°.
– Distância da tela até a borda da mesa: 500 a 750 mm.
• A estação de trabalho deve possibilitar o ajuste de altura do teclado e
da altura e distância da tela.
151
• Os controles para ajuste de dimensões devem ser fáceis de operar.
• Ao nível do joelho, a distância entre a frente da borda da mesa e a
parede do fundo deve ser de, no mínimo, 600 mm e a altura deve ser
de no mínimo 800 mm.
Para ajudá-lo na busca pela adequação dos postos de trabalho com
computador, assista ao vídeo:
SAÚDE em ação #40 – Ergonomia no posto de trabalho. [S.l.]: 15 abr.
2012. 1 vídeo (4:14). Publicado no canal blogsaudeemacao.
Faça valer a pena
1. Trata-se do enfoque do posto de trabalho baseado no estudo de

movimentos corporais necessários para execução da tarefa com base
no tempo para realização de cada um dos movimentos. A sequência de
movimentos necessários para executar a tarefa é baseada em uma série de
princípios de economia de movimentos e o melhor método é escolhido com
base no menor tempo gasto.
O texto-base descreve qual enfoque do posto de trabalho?
d. Produtivo.
e. Padrão.
f. Econômico.
g. Ergonômico.
h. Taylorista.
2. São etapas do projeto de um posto de trabalho as atividades listadas a seguir:

1. Verificar os pontos de entrada e saída de material.
2. Estabelecer prioridades para as operações, colocando na área de
alcance as operações principais.
3. Identificar o grupo de usuários para realizar as medidas antropométricas.
152
4. Determinar a faixa de variação das medidas antropométricas.
5. Localizar os dispositivos de informação na área de visão.
6. Elaborar o modelo para testes.
7. Levantar as características da tarefa, do equipamento e do ambiente,
usando técnicas de entrevistas, filmagens e observações.
8. Elaborar o desenho (dimensionamento) do posto de trabalho, com
os principais componentes.
9. Elaborar o protótipo para testes reais de operação.
10. Providenciar espaços adequados para acomodação.
Indique a alternativa que contém a sequência correta das atividades para
projetar um posto de trabalho.
a. 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10.
b. 7 – 2 – 3 – 5 – 10 – 6 – 1 – 8 – 4 – 9.
c. 8 – 2 – 3 – 4 – 9 – 5 – 1 – 7 – 6 – 10.
d. 7 – 3 – 4 – 2 – 10 – 5 – 1 – 8 – 6 – 9.
e. 8 – 4 – 6 – 5 – 9 – 3 – 1 – 7 – 2 – 10.
3. O eletromiograma da musculatura é utilizado para avaliar a contração

de fibras musculares e, então, estimar a força exercida pelo músculo. Nessa
avaliação, conclui-se que quanto menor a atividade elétrica registrada,
melhor e mais equilibrada a postura. Pesquisadores avaliaram eletrogra-
ficamente a musculatura de ombros e braços de trabalhadores de datilo-
grafia em mesas altas e baixas e obtiveram registros eletromiográficos dos
seguintes músculos: M. trapezius (trapézio, na região posterior do pescoço
e do tronco); M. deltoideus (deltoide, no ombro); M. interosseus dorsalis I
(músculo interósseo dorsal I, na mão, entre os dedos indicadores e médio)
(figura a seguir).
153
Figura | Registros eletromiográficos
Sobre os registros eletromiográficos apresentados, é correto afirmar que:

a. A posição A é classificada como a pior devido à alta atividade da
musculatura.
b. Na posição B, o músculo trapézio encontra-se relaxado.
c. Na posição C, a atividade do deltoide para elevação lateral dos braços
indica que a altura da mesa é inadequada (muito alta).
d. Todas as posições são adequadas para a atividade em questão.
e. Em todos os casos, a musculatura dorsal foi a mais exigida.
154
Referências
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trabalho dos operadores da sala de controle numa empresa de fornecimento de energia elétrica.
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puc-rio.br/index.php/revistaergodesign-hci/article/view/33. Acesso em: 21 ago. 2019.
COMO prevenir e tratar o Burnout? [S.l.]: Bem-Estar, 31 maio 2019. 1 vídeo (7 min.). Publicado
em Globoplay. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/7657551/. Acesso em: 20
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CURY, M. E. O que é a síndrome de Burnout, que afeta 33 milhões de brasileiros. Exame, [S.l.],
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GERLACH, G.; SILVA, V. B.; SANTOS, L. A.; ADAMY, A. P. A.; GARLET, E. Proposta de
melhoria de layout como fator para otimização do processo produtivo organizacional. Revista
de Administração da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, v. 20, ed. especial,
p. 41-55, ago. 2017.
HERBERT, A. Perceived causes of difficulty in work situations. Ergonomics, v. 21, n. 7, p.

539-549, 1978.

homem. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
MELO, C. N. V.; LIMA, I. M.; OLIVEIRA, P. C. C. Considerações ergonômicas sobre o trabalho

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12., 2016, [S.l.]. Anais [...]. [S.l.], 2016. [s.p.]. Disponível em: http://www.inovarse.org/sites/
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SAÚDE em ação #40 – Ergonomia no posto de trabalho. [S.l.]: 15 abr. 2012. 1 vídeo (4:14).
Publicado no canal blogsaudeemacao. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?�-
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SILVA, F. L.; FERREIRA, M. A. Análise ergonômica do posto de trabalho de pintura em

uma empresa transformadora de veículos, utilizando o checklist de Couto. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 8., 2018, Ponta Grossa. Anais [...]. Ponta
Grossa: UTFPR, 2018. [s.p.]. Disponível em http://aprepro.org.br/conbrepro/2018/down.php?i�-
d=4256&q=1. Acesso em: 22 ago. 2019.
Unidade 4
Projeto e aplicação da ergonomia
Convite ao estudo
Prezado aluno, estamos chegando ao fim do curso de Ergonomia. Até
aqui você já aprendeu sobre os principais aspectos da ergonomia física e
cognitiva, estudou doenças relacionadas ao trabalho, quais são as formas de
organização de trabalho e quais parâmetros devem levar em consideração no
projeto e construção do posto de trabalho, com todas as etapas que o desen-
volvimento deve possuir.
Durante nossa caminhada, foram abordadas diversas situações em escri-
tórios e chão de fábrica com conflitos relacionados à ergonomia e você trouxe
a solução para os problemas. No entanto, você parou para pensar sobre a
aplicação da ergonomia em setores específicos de trabalho, como é o caso
da construção civil – em que o trabalhador executa diversas atividades
(preparo da massa, assentamento de blocos, carregamento de cargas em
geral) e não possui um posto de trabalho definido – e das atividades agrícolas
(bastantes similares à área da construção civil pelo fato de não haver um
posto de trabalho definido, além do trabalhador precisar fazer a movimen-
tação de cargas, abaixar-se para realização de colheita em culturas, como a
alface, ou estender o braço no caso de colheita de laranja)? Para cumprir
com sucesso a tarefa de adequar o trabalho ao trabalhador, é necessário que
você conheça quais são os métodos e técnicas utilizadas em ergonomia e suas
diversas aplicações.
Para auxiliá-lo a responder essas perguntas de forma prática, imagine a
seguinte situação: recentemente, você foi contratado como engenheiro de
desenvolvimento de produto em uma fabricante multinacional de equipa-
mentos e máquinas agrícolas e está atuando na melhoria dos produtos
presentes no portfólio da empresa. Para isso, é exigência da matriz consi-
derar não só os aspectos relacionados à redução de custo, mas, também, à
adequação do produto ao operador, aplicando os conceitos de ergonomia.
Nesse primeiro contato, seu supervisor pediu que você levantasse os princi-
pais aspectos sobre a ergonomia na esfera da mecanização agrícola, fazendo
um levantamento dos principais problemas relacionados ao assunto, como
eles afetam a produtividade e quais seriam as ações necessárias a serem
implementadas nos produtos desenvolvidos em sua área.
Com esse estudo realizado, você irá a campo para fazer a análise ergonô-
mica dos operadores de máquinas agrícolas durante a tarefa de preparo do
solo, com o intuito de verificar se o projeto está de acordo com as necessi-
dades antropométricas, identificar os pontos que merecem atenção e verificar
quais melhorias deverão ser feitas pelo seu time no produto.
Para finalizar o seu trabalho, você irá avaliar alguns projetos de comandos
operacionais em diferentes modelos de máquinas e avaliar a compatibilidade
dos movimentos de forma que estes sejam operados de maneira intuitiva,
minimizando a possibilidade de ocorrência de erros durante a operação, para
que não ocorram acidentes. Para realizar essa etapa da tarefa, você imagina
como é o processo de desenvolvimento de produtos seguros, que sejam de
utilização fácil e agradável?
Nesta unidade você irá tratar de outras aplicações industriais, conhecer os
métodos e técnicas empregadas em cada caso e, ainda, conhecer os conceitos
sobre o desenvolvimento de produtos atendendo as premissas estabelecidas
pela ergonomia. Bons estudos.
Seção 1
Aplicações industriais da ergonomia
Diálogo aberto
Até agora a maioria das situações-problema com a qual nos deparamos
envolvia trabalhos cujas atividades são realizadas em escritórios e chão de
fábrica. Nesses ambientes de trabalho, o colaborador geralmente possui um
posto definido e a função também é bem definida, ou seja, seu trabalho é
bem-estruturado. Além desses fatores, podemos destacar como caracterís-
tica desse ambiente de trabalho a realização de treinamentos constantes e
apoio de demais colaboradores. Imagine essa situação de trabalho nas áreas
agrícolas, de construção civil ou, até mesmo, em pequenas empresas, em que
um trabalhador executa diversas tarefas e é muito difícil caracterizar o posto
de trabalho, devido à constante movimentação, e que, ainda, principalmente
no caso dos dois primeiros setores, fica sujeito às condições climáticas.
No caso de trabalhos que são bem estruturados, a ergonomia contribui no
sentido de orientar o arranjo e dimensionamento do posto de trabalho, como
vimos na seção anterior. Já no caso de trabalhos não estruturados, é possível
também utilizar a ergonomia nesse sentido, principalmente quando se trata
de projeto de máquinas e equipamentos para essas aplicações. No entanto, a
forma mais efetiva de se evitar sobrecargas nos trabalhadores é por meio da
realização de treinamentos e da disseminação de práticas que permitam que
se tenha redução nos erros e, também, na ocorrência de acidentes. Para isso,
nesse caso, também é fundamental que o trabalhador participe do processo
de adequação, não sendo visto apenas como um agente passivo que somente
irá receber as instruções para serem seguidas. Saiba que, se não levarmos em
consideração a experiência do trabalhador, o trabalho do ergonomista pode
ser em vão, pois o trabalhador não aplicará as recomendações em seu dia
a dia.
Dito isso, vamos considerar a situação em que você atua como engenheiro
de desenvolvimento de produto e foi, recentemente, contratado por uma
fabricante de equipamentos e máquinas agrícolas de grande destaque no
cenário internacional, tendo como responsabilidade atuar na melhoria
dos produtos da empresa. A diretoria demanda melhorias no produto não
somente visando redução no custo de fabricação, mas também adequação
do produto ao usuário levando em consideração as premissas estabelecidas
pela ergonomia. Seu primeiro projeto é desafiador, pois você nunca teve
contato com a área: seu supervisor pediu que você levantasse os principais
159
aspectos sobre a ergonomia na área de mecanização agrícola respondendo as
seguintes perguntas:
• Quais os principais problemas relacionados à ergonomia
na agricultura?
• Como esses problemas afetam a produtividade?
• Quais seriam as ações necessárias a serem implementadas nos
produtos desenvolvidos em sua área, tais como tratores, colheita-
deiras e pulverizadores?
Faça um estudo detalhado da ergonomia na agricultura e, com certeza,
você conseguirá apresentar resultados positivos e causar uma boa impressão.
Não pode faltar
Imagine-se no papel de uma pessoa que acabou de tirar a habilitação para

dirigir. Nesse trabalho, podemos distinguir pequenas tarefas para que ele seja
realizado, como abrir e fechar a porta do carro, sentar, colocar o cinto de
segurança; até aí está fácil, não é verdade? Porém, quando chega o momento
de coordenar os movimentos de pés e mãos para dirigir ou estacionar o carro
entre dois veículos, as tarefas tornam-se mais complicadas. Estas, claramente,
são tarefas que exigem um investimento maior, ou maior tempo gasto, para
conseguir melhorar as habilidades da pessoa, aumentando a velocidade e a
qualidade dos movimentos a fim de conseguir executar o trabalho como um
todo, ou seja, são tarefas que exigem treinamento.
Assimile
Treinamento é uma atividade planejada e organizada para melhorar
as habilidades de uma pessoa, ou seja, para aumentar a velocidade
e a qualidades psicomotora dos movimentos necessários a fim de se
executar certas atividades (IIDA; GUIMARÃES, 2018).
Treinamento industrial
Quando a organização opta por realizar um treinamento, ela deve, de
antemão, ter identificado as tarefas que são mais críticas ou difíceis e que,
portanto, justificam o investimento de tempo e dinheiro para aperfeiçoa-
mento. Outra decisão importante a se fazer é determinar a duração do treina-
mento. Quanto maior a duração do treinamento, melhor será o desempenho,
no entanto, é preciso considerar os custos. Portanto, é importante ressaltar
que, em determinado momento, o custo adicional investido no treinamento
160
não se reverte em melhoria, necessariamente. Esse é o ponto de duração
ótima de treinamento, que é obtido em função das curvas de aprendizagem.
Ainda, para que seja efetivo, o programa de treinamento (redução de erros)
deve adotar as seguintes premissas:
• Todos, independentemente do nível hierárquico, devem estar envol-
vidos e comprometidos com o programa.
• As definições dos objetivos em relação ao treinamento devem
estar claras, assim como o que é considerado erro ou comporta-
mento inaceitável.
• Todos os erros merecem atenção e devem ser corrigidos antes que
se agravem.
• Erros acontecem por diversos motivos, podendo ou não ter partici-
pação humana.
• Na ocorrência de um erro, não devemos encontrar o culpado, mas
sim as causas que o ocasionaram.
• Quem conhece o erro é a pessoa que convive com ele diariamente
e, portanto, esse colaborador deve participar ativamente na identifi-
cação das causas para eliminá-lo.
• Os casos devem ser analisados e as soluções devem ser apresentadas o
mais rapidamente possível.
• Treinamentos episódico e isolado não é eficaz.
Sobre o último ponto, Iida e Guimarães (2018) relatam que um treina-
mento em ergonomia intensivo sobre manuseio de cargas foi realizado para
2500 funcionários dos Correios. O treinamento teve duração de 3 horas e,
posteriormente, foram realizadas 3 a 4 seções curtas de reforço. O que se
concluiu foi que o treinamento não surtiu efeito algum pois não foi consta-
tada nenhuma diferença estatística da ocorrência de lombalgia durante os 3
anos seguintes.
Pesquise mais
Aprofunde seus conhecimentos sobre a implementação do programa
de redução de erros e sobre o círculo de controle de qualidade fazendo
a leitura das páginas 721 a 723 do livro referenciado a seguir:
161
Automatização
A automatização ocorre quando uma máquina passa a realizar a tarefa
que anteriormente era realizada pelo homem. Especialistas afirmam que as
máquinas apresentam diversas vantagens em relação ao trabalhador humano,
por exemplo:
• Elas trabalham com maior regularidade.
• Comentem menos erros.
• Não se prejudicam com ambientes insalubres.
• Não há diferença na produtividade do trabalho noturno quando
comparado ao diurno, entre outras.
Dessa forma, em termos de ergonomia, a automatização trouxe benefí-
cios, pois, quando há carregamento de cargas elevadas, não ocorre sobre-
carga do sistema musculoesquelético do trabalhador, além disso, a automa-
tização torna possível o trabalho em ambientes de atmosfera tóxica ou cujas
temperaturas são muito elevadas. Em contrapartida, a automatização exige
elevado investimento em máquinas e equipamentos, bem como em mão de
obra, uma vez que é necessária a contratação de pessoal melhor qualificado
para operar, programar e fazer a manutenção das máquinas.
Reflita
Vemos que as máquinas apresentam inúmeras vantagens em relação
ao trabalho humano. Com o desenvolvimento acelerado da tecnologia,
qual a sua percepção em relação a esse dilema? Os homens são ou não
substituíveis? Qual atividade ou tarefa você julga poder ser realizada
somente por humanos?
Algumas características humanas, no entanto, são dificilmente superadas

pelas máquinas:
• Processo decisório: muitos processos exigem a tomada de decisão
de forma complexa, em condições de incerteza, quando não se tem
exatamente a definição do problema.
• Raciocínio indutivo e criatividade: os seres humanos são capazes de
fazer associações, de forma criativa, entre eventos que, aparentemente,
não possuem relação entre si. Vejamos os exemplos dos projetistas,
por mais que as tarefas sejam detalhadas, o conhecimento nem sempre
pode ser transferido para a máquina, além do fator criatividade, em
162
que são desenhadas ou projetadas diferentes soluções dependendo do
problema a ser resolvido, da situação ou da necessidade do cliente.
• Flexibilidade: a flexibilidade, no caso de máquinas, apresenta deter-
minada limitação, por maior flexibilidade operacional que exista, o
que não ocorre com o ser humano.
• Sensibilidade: os órgãos sensoriais dos humanos permitem que
diversas sensações sejam percebidas, o que não ocorre com as
máquinas. Você consegue imaginar um enólogo ou um mestre cerve-
jeiro serem substituídos por uma máquina?
Trabalho de inspeção na indústria

O trabalho de inspeção tem como objetivo realizar o controle de quali-
dade e garantir que os produtos respeitem uma zona de tolerância das
especificações de projeto. A inspeção pode ser realizada no recebimento da
matéria prima, durante o processo de fabricação ou quando o produto já está
acabado. Ela será, no entanto, mais eficiente quando for realizada em um
momento que esteja mais próximo do defeito em si, evitando que o mesmo
se propague.
Para determinadas aplicações, a inspeção pode ser feita em 100% dos
produtos, como ocorre em alguns fabricantes de eletrodomésticos que fazem
o teste em todas as lavadoras de roupas que são produzidas. Em alguns casos,
no entanto, é difícil que uma máquina faça o trabalho de teste de qualidade,
sendo imprescindível a figura do homem, muito bem treinado e especia-
lizado, para a realização da avaliação. Nesse sentido, com o aumento da
complexidade dos produtos e exigência do mercado consumidor, maior a
necessidade de inspetores.
Sob o aspecto ergonômico, como a inspeção é uma tarefa visual, a ilumi-
nação adequada tem uma grande influência no seu desempenho. Devem
ser considerados, no planejamento de um posto de trabalho de inspeção, a
iluminação adequada e o nível de contraste e regulagem de intensidade para
que não se tenha problemas com ofuscamento e fadiga visual.
Nesse trabalho de inspeção, é necessária a definição dos padrões exigidos
para que os parâmetros a serem inspecionados sejam mais bem definidos e
dependam menos do julgamento humano. Para isso, é recomendado que as
seguintes práticas sejam adotadas:
• Padrões de qualidade e procedimentos devem ser bem definidos.
• A inspeção deve ser feita próxima à fonte de defeitos e em
pequenos lotes.
163
• A realização da inspeção deve ser feita, preferencialmente, com os
objetos parados.
• A inspeção deve ser realizada com instrumentos de medida correta-
mente calibrados para evitar julgamentos sobre o objeto produzido.
• O treinamento dos inspetores deve ser padronizado e até os inspe-
tores devem ser supervisionados e periodicamente inspecionados
e recalibrados.
• Por ser uma atividade com alto potencial de monotonia e fadiga, a
inspeção deve sempre estar intercalada com outras atividades.
• A inspeção é uma tarefa puramente visual, dessa forma, para que não
ocorram erros durante a inspeção, o ambiente de trabalho deve ser
bem iluminado e até mesmo a iluminação geral deve ser complemen-
tada por uma iluminação localizada no posto de trabalho.
Atualmente, tende-se a atribuir a responsabilidade da qualidade dos
produtos aos colaboradores que a produziram, dessa forma, o trabalhador
toma para si a responsabilidade de avaliar a qualidade de sua produção de
tempos em tempos. O inspetor de qualidade, nesse caso, passa a ocupar-se
dos aspectos mais globais da produção.
Pesquise mais
Aprofunde seus conhecimentos sobre os métodos de realização de
inspeção fazendo a leitura das páginas 729 a 734 do livro referenciado
a seguir:
Ergonomia na pequena empresa

Para aplicar os conceitos de ergonomia em pequenas empresas, a
Organização Internacional do Trabalho (OIT) desenvolveu a metodologia
WISE (Work Improvement in Small Enterprises). Aplicar os conceitos de
ergonomia em pequenas empresas é essencialmente importante, pois são
essas organizações que dependem do trabalho humano já que é necessário
grande investimento para que se automatizem os processos. É importante
ressaltar que são nessas pequenas empresas que grande parte dos trabalhos
mais perigosos e árduos é realizada.
Para aplicar a metodologia WISE na empresa é, primeiramente, reali-
zado um curso para motivar os colaboradores e diretores sobre questões
164
relacionadas à ergonomia e para identificar situações que precisam ser
corrigidas. Além disso, o curso tem como objetivo apresentar técnicas e
ferramentas de ergonomia e, ainda, indicar as situações em que devem
ser aplicadas. O Quadro 4.1 apresenta as etapas sugeridas para execução
do método.
Quadro 4.1 | Etapas para execução do método WISE em pequenas empresas
Etapa Treinamento Técnicas utilizadas

Visita aos locais de
1 Entrevistas, visitas de inspeção.
trabalho
Lista de ações ou soluções simples e viáveis em

2 Lista de ações
curto prazo.
Reuniões com pequenos grupos para mostrar

Reuniões desensibili-
3 exemplos de soluções de baixo custo e fácil imple-
zação
mentação.
Determinação das prio- Lista das ações prioritárias e descrição de como

4
ridades fazer.
Troca de experiências, mostrando como as coisas

5 Estudos de caso
devem ser feitas.
Organização de pequenos grupos que devem partir

6 Grupos de ação
imediatamente para a ação.
Reuniões de avaliação das ações e trocas de experi-

7 Avaliação
ências entre grupos.
De forma resumida, nesse método:

1. O especialista vai aos locais de trabalho e realiza uma palestra para
apresentar exemplos de aplicações.
2. Então, seleciona um grupo para elaborar uma lista de possíveis ações.
3. A partir da definição das ações a serem realizadas, as etapas subse-
quentes ocorrem não necessariamente na ordem em que estão
apresentadas.
4. No último passo, etapa 7, o especialista retorna à empresa para realizar
uma avaliação.
165
5. Nesse momento, outra lista de ações pode ser definida, repetindo
todo o procedimento.
A partir do momento em que a equipe consegue desenvolver todas
as etapas de forma autônoma, não é necessário o retorno do especialista
em ergonomia.
Ergonomia na agricultura
A agricultura é de grande importância para a humanidade, pois permitiu
que o homem se fixasse em determinado local e não dependesse apenas
de coletas e de caça, colaborando, inclusive, para o aumento populacional.
Como discutimos anteriormente, o trabalho na agricultura não é estruturado
como na indústria, uma vez que não há um posto de trabalho propriamente
dito e o trabalhador executa diversas funções/atividades. As atividades na
agricultura são executadas em posturas inconvenientes, a força necessária
para executá-las é grande e, além disso, por ser em campo aberto, o traba-
lhador está diretamente exposto ao sol, calor, chuva, ventos e, inclusive, sofre
risco de contaminação devido à utilização de defensivos agrícolas.
Nos setores de fruticultura e oleicultura, os processos manuais são predo-
minantes. Na etapa de colheita, o trabalhador adota posturas inadequadas
e a mão é utilizada como ferramenta. Outra característica que é preciso
considerar é que, diferentemente do que ocorre no trabalho na indústria em
relação à adequação dos postos de trabalho, não é possível adequar a altura
de uma árvore ou arbusto ao trabalhador, salvo em casos em que seja feita a
manipulação genética do cultivar.
Para evitar essas posturas e melhorar a produtividade, é proposta:
• A utilização de escadas apropriadas que devem ser colocadas em
zonas que permitam o alcance sem realização de esforço e sem que se
tenha desequilíbrio.
• A utilização de ferramentas que possibilitem o corte das hastes, trans-
porte da fruta para os recipientes e sacolas especiais para realizar a
descarga rápida sem provocar sobrecarga no sistema osteomuscular
do trabalhador.
Exemplificando
Na colheita de frutas, como a laranja, o trabalhador precisa olhar para
cima, inclinando a cabeça para trás, e erguer os braços para cima, sobre-
carregando os ombros (Figura 4.1). Em outras culturas, é necessário que
o trabalhador se incline, flexionando a coluna (Figura 4.2).
166
Figura 4.1 | Colheita de laranja: trabalhador olha para cima e ergue os braços para
alcançar a fruta
Fonte: Cocamar apud Começa... (2009, [s.p.).
Figura 4.2 | Colheita manual, classificação e embalagem de morango em campo
Fonte: Ferreira, Spricigo e Sargent (2017, p. 13).
A Figura 4.3 apresenta uma alternativa para permitir que os trabalha�-

dores alcancem as frutas sem que a postura seja forçada.
167
Figura 4.3 | Plataforma móvel para colheita de laranja
Fonte: Hernandez apud Ferreira, Spricigo e Sargent (2017, p. 9).
Quando falamos em grandes culturas tais como a de milho, a de soja, a

de arroz, a de feijão e a de trigo, que abrangem grandes áreas em terrenos de
baixa declividade, tanto o plantio quanto a colheita são realizados mecanica-
mente, principalmente fazendo uso de tratores.
O trabalho com tratores agrícolas é árduo já que, segundo Iida e
Guimarães (2018), o tratorista está sujeito a vibrações, poeira, calor, intem-
péries e monotonia. Esses autores citam que os tratores possuem mais
controles do que um carro e o tratorista, além de dirigir, deve controlar os
implementos (arados, semeadeiras e pulverizadores), para isso, gira a cabeça
por diversas vezes, mantendo o tronco torcido, provocando fadiga e dores
musculares devido à tensão contínua dos músculos lombares. A vibração do
equipamento também contribui para a ocorrência de doenças degenerativas
da coluna. Outro problema é o centro de gravidade relativamente alto do
trator; que é mais instável e sujeito a capotamentos. Além disso, as vias por
onde o trator trafega são mais acidentadas. Frente a tantos problemas, são
propostos os seguintes aperfeiçoamentos nos equipamentos para melhorar o
trabalho do tratorista e promover maior conforto a ele:
• Abaixar o centro de gravidade para conferir maior estabilidade e
introduzir sistema de suspensão para reduzir as vibrações.
• Posicionar os controles dentro da área de alcance de mãos e pés.
• Compatibilizar os controles com as características biomecânicas de
membros e troncos.
168
• Redesenhar os assentos para absorção de vibrações e facilitar a rotação
do tronco e da cabeça.
• Instalação de uma cabine para proteger o tratorista contra esmaga-
mento e, promover maior conforto em relação às condições ambien-
tais, protegendo-o do sol, chuva, vento e outros.
• Instalação de espelhos retrovisores para diminuir a necessidade de
rotação do corpo.
• As informações visuais devem ser simples e os mostradores
adequados ao objetivo, tomando cuidado com a compreensão e
diferenças culturais.
• Sons devem ser adequados para emitir sinais de alerta.
• Os controles devem ser projetados de acordo com os movimentos
musculares e serem diferenciados em formatos e tamanhos para
evitar erros durante a execução de comandos.
Ergonomia na construção civil

A construção civil é o setor responsável pelo emprego de grande parcela
da população semi-qualificada no mundo. Assim como na área agrícola, o
trabalho não é estruturado, uma vez que os postos de trabalho são móveis
e a maioria das tarefas é realizada ao ar livre e, portanto, o trabalhador está
sujeito às condições de calor, chuva e vento. É importante ressaltar que o
índice de acidentes no setor é relativamente alto.
Muitas tarefas exigem grande esforço físico, como o excesso de cargas
musculares no transporte de cargas, e emprego de posturas incômodas,
como ficar com os braços erguidos para fazer instalações no teto ou pinturas.
Além disso, as tarefas são muito repetitivas: pedreiros inclinam-se mais de
1000 vezes ao dia para pegar o tijolo e fazer o assentamento.
Iida e Guimarães (2018) citam um trabalho realizado sobre a análise da
carga de trabalho na construção civil, em que as tarefas típicas da área foram
classificadas de acordo com os níveis de esforço físico (Figura 4.4), de acordo
com as seguintes definições:
• Esforço pequeno: trabalho inclinado de 10 a 30 segundos de duração ou
carregamento de pesos entre 1 e 4 kg. Pontuação atribuída igual a zero.
• Esforço médio: trabalho inclinado de 30 a 120 segundos de duração
ou carregamento de pesos entre 5 a 19 kg. Pontuação atribuída igual a
1 ponto.
169
• Esforço grande: trabalho inclinado com mais de 120 segundos
de duração ou carregamento de pesos acima de 20 kg. Pontuação
atribuída igual a 2 pontos.
A partir dessa análise, devem ser avaliadas, prioritariamente, as tarefas
que exigem grande esforço no sentido de reduzi-las ou eliminá-las por meio
da utilização de equipamentos ou processos automatizados.
Figura 4.4 | Classificação de esforços de tarefas da construção civil
Com o conteúdo estudado até aqui, você já é capaz de reconhecer as

especificidades de cada um dos setores que não possuem trabalho estruturado
170
e, certamente, conseguirá resolver problemas relacionado à ergonomia em
cada uma destas aplicações. Vamos testar o seu conhecimento trabalhando
na situação-problema a seguir.
Sem medo de errar
Agora, vamos considerar a situação em que, recentemente, você foi

contratado como engenheiro de desenvolvimento de produto em uma fabri-
cante multinacional de equipamentos e máquinas agrícolas e está atuando
na melhoria dos produtos presentes no portfólio da empresa. Para isso é
exigência da matriz considerar não só os aspectos relacionados à redução
de custo, mas, também, à adequação do produto ao operador, aplicando os
conceitos de ergonomia. Seu primeiro projeto é desafiador, pois você nunca
teve contato com a área: seu supervisor pediu que você levantasse os princi-
pais aspectos sobre a ergonomia na área de mecanização agrícola, fazendo
um levantamento dos principais problemas relacionados ao assunto, como
eles afetam a produtividade e quais seriam as ações necessárias a serem
implementadas nos produtos desenvolvidos em sua área.
O trabalho na agricultura não é estruturado, pois não há um posto
propriamente dito e o trabalhador executa diversas funções/atividades. As
atividades na agricultura são executadas em posturas inconvenientes, a força
necessária para executá-las é grande e, além disso, por ser em campo aberto,
o trabalhador está diretamente exposto ao sol, calor, chuva, ventos e sofre até
mesmo risco de contaminação devido à utilização de defensivos agrícolas.
Podemos citar, também, que a jornada de trabalho realizada é acima da
recomentada e a preocupação com a produtividade é um fator estressante.
De forma geral, a atividade agrícola está relacionada a diversos riscos ocupa-
cionais, sendo considerada uma das profissões mais perigosas.
Nos setores de fruticultura e oleicultura, os processos manuais são predo-
minantes. Quando falamos em grandes culturas tais como: milho, soja, arroz,
feijão e trigo, que abrangem grandes áreas em terrenos de baixa declividade,
tanto o plantio quanto a colheita são realizados mecanicamente, principal-
mente fazendo uso de tratores.
Na etapa de colheita manual, o trabalhador adota posturas inadequadas
e a mão é utilizada como ferramenta. Em estudo realizado na década de 80,
cerca de 80% dos trabalhadores rurais reclamaram de dores nas costas, 50%
de dores nos braços e 45% no pescoço, além de apresentarem sintomas de
gastrite, perda de apetite, dores de cabeça e fadiga geral.
Na realização de trabalho com tratores agrícolas, por sua vez, o tratorista
está sujeito a vibrações, poeira, calor, intempéries e monotonia. Ademais,
171
para realização do controle dos implementos, é necessário girar a cabeça
por diversas vezes, mantendo o tronco torcido, provocando fadiga e dores
musculares devido à tensão contínua dos músculos lombares, exigindo tanto
do sistema osteomuscular, quanto do cognitivo do operador. Outro problema
é o centro de gravidade relativamente alto do trator; que é mais instável e
sujeito a capotamentos. Além disso, as vias por onde o trator trafega são mais
acidentadas. Frente a tantos problemas são propostas as seguintes melhorias
nos equipamentos para melhorar e promover maior conforto no trabalho do
tratorista e, também, com o intuito de atender preocupações relacionadas
com a ergonomia cognitiva:
Frente a tantos problemas, são propostos os seguintes aperfeiçoamentos
nos equipamentos para melhorar o trabalho do tratorista e promover maior
conforto a ele:
• Abaixar o centro de gravidade para conferir maior estabilidade e
introduzir sistema de suspensão para reduzir as vibrações.
• Posicionar os controles dentro da área de alcance de mãos e pés.
• Compatibilizar os controles com as características biomecânicas de
membros e troncos.
• Redesenhar os assentos para absorção de vibrações e facilitar a rotação
do tronco e da cabeça.
• Instalação de uma cabine para proteger o tratorista contra esmaga-
mento e, promover maior conforto em relação às condições ambien-
tais, protegendo-o do sol, chuva, vento e outros.
• Instalação de espelhos retrovisores para diminuir a necessidade de
rotação do corpo.
• As informações visuais devem ser simples e os mostradores
adequados ao objetivo, tomando cuidado com a compreensão e
diferenças culturais.
• Sons devem ser adequados para emitir sinais de alerta.
• Os controles devem ser projetados de acordo com os movimentos
musculares e serem diferenciados em formatos e tamanhos para
evitar erros durante a execução de comandos.
Você já tem informação suficiente para seguir com as outras etapas do
projeto. Antes de continuar com seus estudos, quais outras observações você
faria sobre ergonomia na área agrícola?
172
Ergonomia na construção civil
A construção civil é um setor que emprega grande parcela da população

e também é um setor com incidência relativamente alta de acidentes. Você
trabalha como auxiliar do engenheiro de segurança do trabalho, que pediu
para que você vistoriasse a obra, gerando um relatório de imagens (Figura
4.5). Além das imagens, solicitaram que você fizesse uma análise preliminar
das posturas encontradas na obra e demais observações pertinentes. Quais
são os principais pontos críticos observados no relatório em termos das
posturas adotadas pelos trabalhadores? Quais seriam as ações a serem reali-
zadas para correção do problema? Além das posturas adotadas, o que mais
merece atenção em sua vistoria?
Figura 4.5 | Relatório fotográfico da obra
Fonte: Naresi Júnior e Gonçalves (2019, [s.p.]).
Em todas as fotos do relatório os trabalhadores estão executando suas
tarefas sobrecarregando a coluna que se apresenta, em todos os casos, flexio-
nada, seja para possibilitar o trabalho com elementos que estão posicionados
próximo ao chão, carregamento de peso ou condução do carrinho de mão.
Embora aparentemente os trabalhadores estejam utilizando Equipamento de
Proteção Individual (EPI), na Foto 1 os pedreiros não estão utilizando luvas.
173
Algumas ações são necessárias para reverter esse quadro, sendo que, a
principal é o investimento em formação e treinamento dos trabalhadores
para que eles sejam orientados em relação aos malefícios que as posturas
empregadas trazem à saúde. Com o treinamento, os trabalhadores podem
passar a executar posturas mais adequadas, com os joelhos semi-flexionados
para evitar dores na coluna e, futuramente, doenças em que o trabalhador
possa ser afastado. No caso de carregamento de cargas, o saco de cimento
pesa 50 kg, é necessário mais um trabalhador dividir o peso do saco de
cimento, colaborando para a manutenção de uma postura correta.
Faça valer a pena
1. Quando a organização opta por realizar um treinamento, ela deve, de

antemão, ter identificado as tarefas que são mais críticas ou difíceis e que,
portanto, justificam o investimento de tempo e dinheiro para aperfeiço-
amento. Outra decisão importante a se fazer é determinar a duração do
treinamento. Sobre o treinamento para redução de erros, são feitas algumas
afirmações:
I. Somente os colaboradores envolvidos nas tarefas que apresentam
erros devem estar comprometidos e realizar o programa de redução
de erros.
II. Quando ocorre um erro, devemos encontrar o culpado e informar
os superiores para que o funcionário seja desligado da companhia.
III. Quem conhece o erro é a pessoa que convive com ele diariamente
e, portanto, esse colaborador deve participar ativamente na identifi-
cação das causas para eliminá-lo.
a. Somente a afirmação I está correta.
b. Somente a afirmação II está correta.
c. Somente a afirmação III está correta.
d. Estão corretas as afirmações I, II e III.
e. Somente as afirmações I e III estão corretas.
2. A automatização ocorre quando uma máquina passa a realizar a tarefa

que anteriormente era realizada pelo homem. Especialistas afirmam que as
máquinas apresentam diversas vantagens em relação ao trabalhador humano,
por exemplo, as máquinas trabalham com maior regularidade, comentem
174
menos erros, não se prejudicam com ambientes insalubres, não há diferença
na produtividade do trabalho noturno quando comparado com o diurno,
entre outras.
Analisando as vantagens sobre os operadores humanos, associe corretamente
a coluna da esquerda (vantagem) com a coluna da direita (descrição):
Vantagem Descrição
I – Operações altamente repeti- ( ) As máquinas são mais precisas na realização de

tivas operações lógicas, sem variabilidade e sem erros.
II – Processamento de grande ( ) As máquinas conseguem realizar operações sim-

volume de dados ples e repetitivas com grande velocidade e precisão.
( ) As máquinas podem ser projetadas para transpor-

III - Consistência tar e movimentar volumes ou cargas impossíveis de
serem carregadas por humanos.
IV – Exigência além das capacida- ( ) As máquinas conseguem armazenar e processar

des humanas grande volume de dados de forma rápida e segura.
( ) As máquinas podem ser projetadas para suportar

V – Operações em condições
temperaturas elevadas, ambientes poluídos ou com
insalubres
probabilidade elevada de ocorrência de acidentes.
a. I – II – III – IV – V.
b. III – I – IV – II – V.
c. III – V – II – I – IV.
d. III – II – IV – I – V.
e. I – III – II – V – IV.
3. A metodologia ______________ foi desenvolvida pela ______________

para que se apliquem os conceitos de ergonomia em ______________
empresas, visto que são essas organizações que dependem quase que exclusi-
vamente do trabalho ______________ já que é necessário ______________
investimento para que se automatizem os processos. Além disso, é impor-
tante ressaltar que são nessas empresas que grande parte dos trabalhos mais
______________ e árduos são realizados.
Qual das alternativas a seguir preenche corretamente as lacunas do texto-
-base?
a. Científica – ONU – pequenas – automatizado – pequeno – impor-
tantes.
175
b. Lean – OIT – grandes – humano – grande – precisos.
c. CPM – PMI – médias – automatizado – pequeno – perigosos.
d. OPT – MTE – grandes – automatizado – grande – precisos.
e. WISE – OIT – pequenas – humano – grande – perigosos.
176
Seção 2
Métodos e técnicas em ergonomia
Diálogo aberto
Prezado aluno, durante o desenvolvimento de nosso curso buscamos
compreender o sistema composto pelo homem-máquina e ambiente de forma
a adequá-lo ao trabalho humano. Esse sistema é governado por ciências
biológicas, físicas e químicas e também por ciências sociais, tais como
psicologia e sociologia. Cada uma dessas áreas da ciência utiliza métodos e
técnicas diferentes, da mesma forma, a ergonomia deve considerar a natureza
do problema e utilizar a metodologia mais eficiente, seja para diagnóstico,
em que se busca a causa raiz do problema, seja para solução do problema.
Como a ergonomia é interdisciplinar e engloba tanto ciências bioló-
gicas quanto ciências sociais, na análise ergonômica, se for constatado que
o problema está relacionado à fisiologia humana ou ao ambiente de trabalho
em si, serão considerados os métodos das ciências naturais. Por outro lado, se
o problema está vinculado ao relacionamento humano, métodos das ciências
sociais deverão ser empregados.
Dessa forma, para que você consiga informações necessárias para análise,
a fim de atingir os objetivos desejados, é necessário que você e sua equipe
se concentrem na escolha do método mais adequado. Outros fatores que
influenciam a escolha desse método são a experiência e a habilidade de quem
está avaliando, além dos limites de tempo, dinheiro e recursos humanos para
a realização do projeto.
Nesta seção, vamos trabalhar com a hipótese de que você é engenheiro
de desenvolvimento de produto recém-contratado de um fabricante de
máquinas agrícolas importante no cenário mundial e está atuando na
melhoria dos produtos da empresa com base nos princípios de ergonomia.
Na primeira etapa de um estudo realizado por você, foram apresentados os
principais problemas relacionados à ergonomia na área agrícola, principal-
mente na área de máquinas e equipamentos, em que você propôs algumas
recomendações para melhoria do produto em sua empresa. Com esse estudo
realizado, você irá a campo para fazer a análise ergonômica dos operadores
de máquinas agrícolas durante a tarefa de preparo do solo e responder aos
seguintes questionamentos: o projeto está de acordo com as necessidades
antropométricas? Quais são os pontos que merecem atenção e devem ser
alterados rapidamente? Em que consistem essas alterações? Faça um estudo
aprofundado desta seção e utilize seus conhecimentos sobre métodos de
177
análise ergonômica e método em desenvolvimento de produto para resolver
esses pontos fora de conformidade e deixar os clientes ainda mais satisfeitos
com os equipamentos projetados por você.
Não pode faltar
Imagine a situação em que se deseja avaliar a satisfação de um cliente;

certamente, nessa situação, você já se deparou com preenchimento de
questionários, entrevistas e relatórios sobre produtos e serviços. Em todos
os casos, as perguntas são elaboradas por profissionais especializados no
sentido de se obter as respostas que serão utilizadas para melhorar o nível
de satisfação do cliente. Pensando nisso, você consegue imaginar como são
determinados os métodos e técnicas em ergonomia?
Métodos e técnicas ergonômicas

Você já sabe que a ergonomia é uma ciência aplicada e tem natureza
interdisciplinar, portanto, cada profissional tende a ver o problema de acordo
com sua formação. Com isso, para que a análise do problema não seja envie-
sada ou tendenciosa, deve-se empregar uma metodologia que consiga definir
o cenário com a maior clareza possível, evitando distorções. A ergonomia
utiliza diversos métodos e técnicas, como descrito a seguir:
• Método de pesquisa: é definida uma hipótese e, então, emprega-se
uma metodologia para obtenção de resultados que irão confirmar
ou rejeitar a hipótese inicial. Para isso, são utilizadas ferramentas de
coleta e análise de dados (técnicas).
• Técnicas: operações ou maneiras de se realizar determinada atividade.
Reflita
A partir da definição de técnica, você consegue diferenciar o modo com
o qual determinada atividade é realizada em relação ao método que é
empregado na pesquisa?
A escolha dos métodos e técnicas empregados dependem da habilidade e

experiência do pesquisador, bem como das restrições do projeto, seja finan-
ceira ou de tempo. Não existe um método ótimo para cada problema, uma vez
que o método considerado ótimo pode ser inviável devido à falta de recursos.
178
Métodos de análise ergonômica
Já abordamos a análise ergonômica na Seção 2.3 deste livro, mas vale a
pena retornarmos o assunto com maior cuidado. De acordo com o item 8.4
do Anexo II da NR 17 (BRASIL, 2018), a análise ergonômica deve conter, no
mínimo, os seguintes conteúdo:
• Descrição do posto de trabalho: aspectos físicos e dimensionais de
mobiliário, ferramentas, espaço de trabalho e condições de posicio-
namento e movimentação corporal.
• Avaliação da organização do trabalho: comparação do trabalho
previsto e do que é feito na realidade, descrição da produção em
relação ao tempo alocado, variações na demanda de trabalho, quanti-
dade de ciclo de trabalho e descrição (turno e período em que o
trabalho é realizado), quantidade de pausas, normas, exigências do
setor e metodologia empregada para realização da tarefa, histórico
mensal de horas extras (anual) e observação sobre a existência de
sobrecargas do sistema osteomuscular.
• Relatório estatístico: com base nos prontuários médicos, indica a
frequência de incidência de queixas relacionadas à saúde.
• Relatórios de avaliações: levantamento do grau de satisfação do
trabalho e clima organizacional.
• Registro e análise: coletânea de impressões e sugestões
dos colaboradores.
• Recomendações ergonômicas: planos/propostas com cronograma
definido para implantação e avaliações periódicas, bem como
objetivos para solução de problemas.
É importante ressaltar que a análise ergonômica deve ser apresentada
em forma de documento com folhas rubricadas, contemplando todas as
etapas de execução. No Brasil, os métodos mais difundidos de realização de
análise ergonômica são a Análise Ergonômica do Trabalho (AET), conforme
estudamos anteriormente, e a Intervenção Ergonomizadora.
Análise Ergonômica do Trabalho (AET)

De acordo com Iida e Guimarães (2018), o método AET contempla 5
etapas:
• Análise da demanda.
• Análise da tarefa.
179
• Análise da atividade.
• Formulação do diagnóstico.
• Recomendações ergonômicas.
Pesquise mais
Aprofunde seus conhecimentos sobre as etapas da Análise Ergonômica
do Trabalho fazendo a leitura das páginas 70 a 72 do livro referenciado
a seguir:
A AET faz uma distinção conceitual entre tarefa, atividade e cargo.

Na prática, no entanto, principalmente em pequenas e médias empresas
que não possuem descrições de cargos, tarefa e atividade possuem o
mesmo significado.
Assimile
Tarefa: trabalho planejado que consta em descrições de cargos e
manuais de operação. Pode-se decompor a tarefa em diversas ações.
Atividade: é a realização da tarefa na prática. Difere-se, no entanto, da
tarefa devido às diferenças individuais e, também, de acordo com as
situações em que são efetuadas.
Cargo: conjunto de tarefas e responsabilidades atribuídas a uma pessoa.
Não deve ser confundido com a pessoa que o exerce.
Intervenção Ergonomizadora
A Intervenção Ergonomizadora é um método composto por três fases:
• Apreciação ergonômica: em que se mapeia e se faz a descrição dos
problemas ergonômicos observados.
• Diagnose ergonômica: seleciona e prioriza os problemas detectados,
considerando o ambiente físico e organizacional.
• Projetação ergonômica: elaboração das soluções para adequação dos
postos de trabalho considerando as restrições do sistema.
180
Técnicas baseadas no comportamento
As técnicas baseadas no comportamento avaliam percepções, processos
cognitivos e respostas dadas em determinadas situações, tendo como base
a psicologia. Podemos destacar as seguintes técnicas:
• Técnica dos questionários
São meios eficientes e baratos quando se pretende consultar um
grande número de pessoas em um curto espaço de tempo, no entanto, eles
apresentam algumas desvantagens, tais como a superficialidade e confiabi-
lidade das respostas, o que pode ser atribuído até mesmo ao entendimento
incorreto do que está sendo perguntado.
Questionários podem ser elaborados com respostas abertas ou fechadas.
O primeiro tipo é semelhante a uma entrevista, em que as respostas tomam
bastante tempo de processamento. O questionário com respostas fechadas
é mais simples e mais fácil de ser processado. O pesquisador pode, no
entanto, misturar os dois tipos de respostas, sendo que as perguntas com
respostas abertas devem ser usadas para confirmar as respostas dadas às
perguntas anteriores.
Pesquise mais
Saiba mais sobre a elaboração do questionário fazendo a leitura das
páginas 73 a 78 do livro referenciado a seguir:
• Técnica de entrevista
A entrevista é uma conversa dirigida que possui objetivo definido,
podendo também ser informal (em que não há um roteiro previamente
elaborado); estruturada (em que existe uma sequência de perguntas elabo-
radas anteriormente); e semiestruturada (em que as perguntas podem ser
alteradas no decorrer da entrevista para melhor direcionamento). Para
elaborar uma entrevista, portanto, é necessário preparar as perguntas, além
da anuência e disponibilidade do entrevistado. De forma geral, a entrevista
contém 5 etapas:
• Introdução: o entrevistador se apresenta e fala sobre os objetivos
da entrevista.
• Degelo: o entrevistador faz algumas perguntas com o objetivo de
diminuir a ansiedade e estresse.
181
• Conteúdo principal: são realizadas as perguntas de forma que as mais
complexas são deixadas para o momento final da entrevista.
• Finalização: são realizadas perguntas diretas para confirmar as
respostas dadas e eliminar as tensões criadas no decorrer da entrevista.
• Fechamento: explica-se como o conteúdo da entrevista será utilizado
e agradece o entrevistado pela participação.
É importante tomar alguns cuidados quando se elabora uma entrevista,
diante disso, são feitas algumas recomendações ao entrevistador, tais como:
ouvir mais e falar menos, fazer perguntas curtas e diretas, adequar o vocabu-
lário ao entrevistado (evitando-se utilizar jargões profissionais), manter uma
postura adequada (indicando que tem interesse no que está ouvindo) e não
realizar perguntas que induzam o entrevistado.
Um entrevistador habilidoso consegue conduzir a entrevista de forma a
direcionar as perguntas para obter informações relevantes ao projeto, dessa
forma, ele adquire um material mais rico do que o obtido via questionário.
No entanto, a entrevista demanda tempo tanto para sua execução quanto
para compilação das informações, sendo, portanto, um processo demorado.
• Grupos de foco
É um tipo de entrevista com participação de seis a dez pessoas, que são
convidadas para discutir determinado assunto e chegar a um senso comum,
mediadas por um coordenador, que deve manter-se neutro durante a
discussão e também manter a discussão em torno do objetivo principal. Os
participantes devem ser motivados e eles são cuidadosamente selecionados,
de forma que representem o público-alvo. Como na entrevista, no início é
realizado um degelo e o coordenador faz uma breve explicação dos objetivos
e resultados esperados da reunião.
Esse tipo de conduta pode ser importante nas etapas iniciais do projeto
em que são necessárias informações em um curto prazo.
• Observações diretas
Esta técnica consiste em observar e registrar o que está sendo obser-
vado para futura análise e interpretação. Para que sejam obtidas informa-
ções confiáveis, os instrumentos de medida devem estar calibrados e os
procedimentos devem estar bem estabelecidos. A principal vantagem da
observação direta é o realismo. Como desvantagens, no entanto, podemos
destacar o efeito provocado pela presença do observador, que promove uma
alteração na conduta de quem está sendo observado, além do tempo gasto
com a observação.
182
Técnicas de ergonomia física
As técnicas de ergonomia física são baseadas na antropometria, fisiologia
e biomecânica. Durante a jornada de trabalho, o operador executa diversas
posturas de forma que conjuntos da musculatura são acionados e, depen-
dendo da natureza da atividade, as alterações posturais são rápidas, com isso,
somente a observação visual não é suficiente para analisar as posturas em
detalhe. Para tal, é necessário empregar técnicas específicas para registro
e análise das posturas; em ergonomia existem diversas técnicas, que são
resumidas no Quadro 4.2.
Para consultar o Quadro 4.2, acesse o QR Code ou o link: http://cm-kl-

s-content.s3.amazonaws.com/ebook/embed/qr-code/2019-2/ergono-
mia/u4/s2/quadro4.2.pdf
Pesquise mais
Para conhecer em detalhes sobre as técnicas empregadas em ergonomia
física, consulte as páginas 86 a 102 do livro referenciado a seguir:
Avaliações fisiológicas
Para monitoramento dos esforços físicos, gasto energético e condições
estressantes resultantes das tarefas e condições do trabalho, são utilizados
métodos frequentemente aplicados em pesquisas na área de ergonomia,
entre os quais destacamos:
• Registro eletromiográfico: permite registrar os sinais elétricos produ-
zidos durante a contração muscular e fornece um bom indicador do
tipo e grau de esforço realizado pelo músculo. Podem ser superficiais
ou intramusculares, sendo estes mais precisos.
• Batimentos cardíacos: obtidos por meio do eletrocardiograma, é
uma medida indireta da intensidade do esforço e pode ser realizado
por meio de equipamentos simples.
• Pressão sanguínea: existe relação entre estresse no trabalho e aumento
da pressão sanguínea. Esse fenômeno pode ocasionar diminuição do
fluxo sanguíneo para as extremidades do corpo, acelerando os danos
em tecidos sobrecarregados, precipitando os DORT.
183
• Frequência respiratória: é utilizada como avaliação complementar
da sobrecarga e estresse no trabalho, no entanto, é pouco utilizada nas
pesquisas em ergonomia.
• Taxa metabólica: conforme o homem trabalha, a taxa metabólica
aumenta. Esse parâmetro pode ser medido por meio do consumo de
oxigênio (calorimetria indireta) e os resultados são comparados às
tabelas que informam a quantidade de trabalho realizado (em Watts,
W), caracterizando o nível de intensidade da atividade.
Método da análise cognitiva

Cada vez mais o trabalho exige esforço cognitivo em detrimento do
esforço físico, por isso a ergonomia emprega diversos métodos e técnicas
para avaliação de tarefas dessa natureza, tais como a Análise Cognitiva da
Tarefa (ACT). Essa análise é aplicada quando o trabalho envolve muita carga
cognitiva com foco nas habilidades cognitivas, conhecimento e processos
de decisão. Geralmente essa técnica é empregada na avaliação de desem-
penho de trabalhadores envolvidos em atividades que exigem a utilização de
interfaces e controles complexos. Existem muitos métodos de ACT, entre os
quais destacamos:
• Análise hierárquica da tarefa: não avalia as ações, mas considera
as metas e operações necessárias para atingimento das metas. É um
método composto por sete etapas: definição da proposta da análise,
determinação das metas e critérios de desempenho, identificação das
fontes de informação, aquisição de dados e decomposição da tarefa,
validação da decomposição da tarefa, identificação das operações
mais importantes e propostas/testes para solução de problemas.
É um método útil para analisar a maioria das tarefas, no entanto,
demanda tempo e exige que o ergonomista tenha experiência na
aplicação de diversas técnicas.
• Alocação de funções: método que auxilia a decidir se a tarefa deve
ser desempenhada por um grupo de pessoas ou subsistemas tecnoló-
gicos. É um método tradicional na ergonomia e pode ser útil na busca
do equilíbrio do grau de automação com as capacidades/necessidades
humanas.
Análises de interfaces no sistema humano-máquina-ambiente

Existem diversas técnicas utilizadas em ergonomia cognitiva e, também,
para realizar análises de interfaces no sistema humano-máquina-ambiente.
184
A Figura 4.6 ilustra as heurísticas propostas para análise de usabilidade
de interfaces.
Figura 4.6 | As 10 Heurísticas de usabilidade para o design de interface de usuário
Fonte: adaptada de https://bit.ly/2lPeJ5o. Acesso em: 3 set. 2019.
Exemplificando
A Figura 4.7 ilustra a heurística de prevenção de erro: o projeto deve
prever e evitar situações que provocam erros, tais como as caixas de
confirmação que aparecem quando deletamos um arquivo.
Figura 4.7 | Exemplo de prevenção de erros
Fonte: https://bit.ly/2k1ErmS. Acesso em: 3 set. 2019.
185
Método em desenvolvimento de produto
Os métodos em desenvolvimento de produto envolvem atividades interdis-
ciplinares, destacando-se o projeto participativo, caso particular de ergonomia
participativa aplicado ao desenvolvimento de novos produtos ou alteração de
produtos existentes. Nessa metodologia o usuário está envolvido no processo
de desenvolvimento não havendo distinção clara entre o projeto e a avaliação.
O objetivo principal desse método é incorporar aos produtos as necessi-
dades e desejos dos consumidores, que nem sempre são compatíveis com as
expectativas de especialistas. Os especialistas se esforçam em atender perfei-
tamente a ergonomia sem foco no cliente, criando, muitas vezes, produtos
que não obtêm sucesso no mercado.
Agora que você conhece os métodos e técnicas empregados em ergonomia, é
importante que você pratique o que aprendeu. Resolva a nossa situação-problema.
Sem medo de errar
Vamos retomar a situação em que você é engenheiro de desenvolvi-

mento de produto recém-contratado de um fabricante de máquinas agrícolas
importante no cenário mundial e está atuando na melhoria dos produtos
da empresa com base nos princípios de ergonomia. Você já conseguiu, com
sucesso, propor recomendações de melhoria do produto que a empresa
fabrica. Agora, chegou a hora de ir a campo para realizar a análise ergonô-
mica dos operadores de máquinas agrícolas durante a tarefa de preparo do
solo para elucidar alguns questionamentos da área.
O Quadro 4.3 apresenta as medidas antropométricas realizadas em
campo e o Quadro 4.4 apresenta as medidas das máquinas agrícolas avaliadas,
ilustradas na Figura 4.8.
Quadro 4.3 | Medidas antropométricas dos operadores
Operadores
Partes do corpo [cm]
A B C B
Estatura 184 174 166 177
Comprimento do braço 32 32 30 33
Comprimento do antebraço 30 26 24 27
Comprimento da mão 20 19 19 19
Comprimento do braço, antebraço e mão 82 72 69 77
186
Comprimento das coxas 49 50 47 50
Comprimento da perna 43 40 40 42
Comprimento do pé 10 9 8 9
Comprimento da perna e pé 53 49 48 51
Fonte: Ederli, Silva e Santos (2018, p. 8).
Quadro 4.4 | Medidas das máquinas
Assento-pe- Assento- Base-en- Encosto-vo-

Máquinas
dal -plataforma costo lante
Pulverizador Uniport –
46 52 45 51
Star 250
Colheitadeira New
44 52 43 49
Holland – TC59
Trator New Holland –

44 51 40 48
T6.110
Fonte: adaptada de Ederli, Silva e Santos (2018, p. 9).
Figura 4.8. | Posto de trabalho em atividade agrícola
Fonte: adaptada de Ederli, Silva e Santos (2018, p. 5 e 6).
187
Alguns pontos merecem atenção em nossa análise:
• Distância do assento ao pedal com o comprimento da perna e pé: a altura
do banco é, em todos os casos, menor que as medidas antropométricas,
podendo causar sobrecarga na musculatura da coxa.
• Comprimento da base do assento comparado ao comprimento da coxa:
as máquinas apresentam medidas menores do que o comprimento das
coxas dos operadores, não permitindo perfeita acomodação do membro
e que o joelho se dobre perfeitamente.
• Distância do encosto ao volante comparado ao comprimento do braço,
antebraço e mão: em todos os casos, as medidas das máquinas foram
menores, provocando uma curvatura nos braços dos trabalhadores, o
que pode ocasionar fadiga durante a jornada de trabalho.
Desta forma, é evidente que as medidas das máquinas utilizadas não atendem
às necessidades dos operadores, por isso, é importante que no projeto sejam
implementadas regulagens individuais de altura de banco e, também, distância
do encosto para que cada trabalhador consiga fazer as regulagens de acordo com
a necessidade individual.
Você deve, em todos os seus projetos, considerar a adaptação da máquina
ao homem para assegurar a integridade física e saúde dos operadores. Para
auxiliá-lo nessa tarefa, existem softwares que permitem a realização da análise
ergonômica por meio de diferentes técnicas. A Figura 4.9 ilustra a tela inicial
para análise ergonômica utilizando o método RULA do Software Ergolândia 7.0.
Para esse caso que você acabou de trabalhar, qual seria a resposta do software?
Aprofunde seus conhecimentos com auxílio de seu professor e informe-se cada
vez sobre as ferramentas disponíveis para auxiliá-lo a trabalhar com ergonomia.
Figura 4.9 | Método RULA - Ergolândia 7.0
Fonte: captura de tela do FBF Sistemas – Software Ergolândia 7.0.
188
Avaliação de carga de trabalho
O método OWAS é utilizado para análise da postura quanto ao descon-

forto. A Figura 4.10 apresenta uma adaptação do método para o reper�-
tório postural na agricultura de hortaliças. Cada postura executada pelo
operador recebe um código composto pelas posições do tronco, braços e
pernas, respectivamente.
Figura 4.10 | Método OWAS adaptado para agricultura
Fonte: Abrahão (2012, p. 8).
Você é o ergonomista responsável pela avaliação ergonômica realizada

em uma cooperativa agrícola. Os seguintes dados foram levantados com a
colaboração de 10 trabalhadores, conforme apresentado no Quadro 4.5. Os
trabalhadores foram observados durante a execução de seu trabalho, sendo
as imagens registradas em vídeo para posterior análise minuciosa.
189
Quadro 4.5 | Frequência das combinações posturais
Combinação Média
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total
postural [%]
111 63 61 58 75 56 90 70 63 53 32 621 62,1%

115 0 0 0 0 0 0 0 0 33 0 33 3,3%
131 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0,2%
211 0 0 10 0 0 0 0 0 0 0 10 1,0%
212 2 4 3 2 21 0,5 3 1 7 35 78,5 7,9%
213 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0,1%
214 0 1 0 0 0 0,5 0 0 0 5 6,5 0,7%
215 0 0 0 11 0 0 0 0 0 0 11 1,1%
311 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0%
312 33 31 29 12 23 9 27 36 7 28 235 23,5%
313 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0%
314 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0,2%
1000 100,0%
Fonte: adaptado de Abrahão (2012, [s.p.].
Faça a análise dos dados apresentados e verifique se é necessário adequar

o posto de trabalho. Em caso positivo, quais são os principais benefícios na
utilização dessa técnica?
Verifica-se que a postura 111 (tronco neutro, braços para baixo e pernas
estendidas) foi adotada em 62,1% do tempo de execução da tarefa, durante
a movimentação das caixas de um lado para outro. Em sequência, a segunda
postura mais adotada foi a 312 (flexão severa, braços para baixo e pernas
flexionadas); no momento da pega de caixas de hortaliças para manuseio,
adotada em 23,5% do tempo de execução. A terceira posição mais comum
foi a 212 (flexão moderada, braços para baixo e pernas flexionadas), adotada
como variação de postura quando se pegavam caixas para movimentação
das cargas.
Nesse caso, em específico, verifica-se que a postura adotada na maior parte
do tempo é uma postura normal que dispensa cuidados especiais. Embora
a segunda postura mais adotada mereça atenção, a média não é alarmante,
correspondendo a menos de 30% da frequência; no entanto é recomendado
que essa postura seja reavaliada em uma próxima análise ergonômica que for
realizada na cooperativa. As análises desses resultados são importantes para
190
identificar pontos críticos e problemas que exigem remodelação dos postos
de trabalho, visando melhorar o conforto dos trabalhadores.
Faça valer a pena
1. Iida e Guimarães (2018) descrevem a diferença entre método de pesquisa

e técnicas. _________ são operações, ações ou modos de executar uma tarefa
e são hierarquicamente inferiores _________. O método é _________ amplo
que a técnica e pode ser composto de várias técnicas. Dessa forma, para cada
_________ existe um _________ para se chegar ao objetivo pretendido.
Qual das alternativas a seguir preenche corretamente as lacunas do texto-
-base?
a. Métodos de pesquisa – à técnica – menos – técnica – conjunto de
métodos.
b. Técnicas – ao método – mais – técnica – conjunto de métodos.
c. Técnicas – ao método – menos – método – conjunto de técnicas
d. Métodos de pesquisa – à técnica – mais – técnica – conjunto de
métodos.
e. Técnicas – ao método – mais – método – conjunto de técnicas.
2. A análise ergonômica deve ser apresentada em forma de documento

com folhas rubricadas, contemplando todas as etapas de execução. No Brasil,
existe um método de realização da análise ergonômica dentro de uma visão
sistêmica que é composta por três etapas: A apreciação ergonômica, em
que se mapeia e se faz a descrição dos problemas ergonômicos observados;
a diagnose ergonômica, que os problemas detectados são selecionados e
priorizados, considerando o ambiente físico e organizacional e, finalmente,
a projetação ergonômica, fase em que se elabora as soluções para adequação
dos postos de trabalho considerando as restrições do sistema.
O texto-base faz referência a qual método de análise ergonômica?
a. Análise ergonômica do trabalho.
b. Recomendações ergonômicas.
c. Escala de Borg.
d. Intervenção Ergonomizadora.
e. Método participativo.
191
3. As técnicas baseadas no comportamento avaliam percepções, processos
cognitivos e respostas dadas em determinadas situações, tendo como base
a psicologia. Podemos destacar as seguintes técnicas: questionários, entre-
vistas, grupo de foco e observações diretas, sobre as quais são feitas as
seguintes afirmações:
I. Os questionários exigem planejamento prévio e também existe a
possibilidade de seu preenchimento ser on-line, no entanto, desta-
ca-se como uma das desvantagens a superficialidade das respostas.
II. A entrevista consiste em uma conversa dirigida em que o entrevis-
tador consegue focar em aspectos importantes devido à flexibilidade
da técnica que, no entanto, exige um tempo maior para elaboração
da entrevista e compilação dos resultados.
III. A observação direta é a técnica em que o comportamento do
operador é registrado e, nesse caso, a influência do observador pode
ser desprezada.
e. Somente as afirmações I e II estão corretas.
192
Seção 3
Ergonomia do produto
Diálogo aberto
Prezado aluno, estamos encerrando nosso curso de ergonomia, em que
estudamos, entre outros assuntos, os conceitos básicos de ergonomia, as
normas que são importantes e direcionam os trabalhos nesta área, como deve
se realizar o projeto de posto de trabalho e até mesmo as aplicações indus-
triais. Vamos aproveitar e refletir em todo o desenvolvimento da ergonomia
até aqui, considerando principalmente seu histórico e como isso também se
alterou ao longo do tempo quando se pensa na ergonomia de desenvolvi-
mento de produtos.
É fácil perceber que os fabricantes, que antes se concentravam somente
nos aspectos técnicos e funcionais, preocupam-se cada vez mais com os
aspectos ergonômicos e de design. Esse fato é notado principalmente entre os
fabricantes de produtos eletrônicos: se você gosta de videogames e se recorda
dos aparelhos que eram utilizados na década de 80, vai logo se lembrar do
joystick (controle) com um desenho bastante simples e que não acompa-
nhava os contornos da mão, bem diferente dos joysticks atuais. Nesse caso,
vale a pena lembrar que, para alguns equipamentos, o joystick deu lugar a
um sistema que reconhece somente os movimentos corporais do usuário em
videogames mais modernos.
Outro exemplo que pode ser lembrado é o controle remoto de televisores:
antigamente, o design era simplificado e os botões eram bem difíceis de
apertar por serem pequenos e muito próximos entre si ou, eles também tinham
inscrições difíceis de serem lidas. Atualmente, os botões são mais adequados
ao movimento de apertar, bem como as inscrições são mais amigáveis.
Com isso em mente, vamos nos concentrar na última etapa do projeto em
que você está atuando. Lembre-se de que você é o engenheiro de desenvol-
vimento de produto recém-contratado de uma grande fabricante de equipa-
mentos e máquinas agrícolas no cenário mundial. As primeiras etapas de
seu trabalho foram muito elogiadas pela diretoria que o parabenizou pela
análise bem-feita sobre os principais problemas relacionados à ergonomia
na área agrícola, principalmente na área de máquinas e equipamentos, além
do relatório de campo elaborado por você sobre a análise ergonômica dos
operadores de máquinas agrícolas durante a tarefa de preparo do solo que
se tornou documento padrão da engenharia. A última etapa desse projeto
consiste na avaliação de projetos de comandos operacionais em diferentes
193
modelos e fabricantes de máquinas e na avaliação da compatibilidade dos
movimentos de forma que eles sejam operados de maneira intuitiva, minimi-
zando a possibilidade de ocorrência de erros durante a operação, para que não
ocorram acidentes. Como a ergonomia consegue auxiliar na avaliação desses
comandos? Quais são os principais problemas existentes e quais seriam as
soluções adotadas para que os controles/comandos estejam de acordo com
o que é preconizado pela ergonomia? Para resolver essa questão, foque nos
conceitos de usabilidade, agradabilidade e projeto de produtos seguros. Seu
desempenho está além das expectativas e com a sua dedicação, empenho
e foco em aprender sempre, em breve, você irá alcançar posições de maior
reconhecimento na empresa!
Não pode faltar
Imagine que você está em busca de um produto em um shopping ou

supermercado; certamente, além do fator preço, você espera que o produto
atenda as seguintes premissas: ter uma aparência que atraia sua atenção,
possuir as funcionalidades adequadas e ser eficiente durante seu manuseio,
atendendo as suas necessidades e, também, apresentar características
adequadas quanto à ergonomia, ou seja, ser fácil de manusear, ser compa-
tível com a movimentação e medidas antropométricas, possuir informações
claras, oferecer conforto e segurança. Pois é, essas são, também, do ponto de
vista da ergonomia, as premissas básicas do desenvolvimento de produtos,
uma vez que, independentemente de sua natureza ou complexidade, todos os
produtos devem atender às necessidades humanas.
Usabilidade
Assimile
A usabilidade, de acordo com Iida e Guimarâes (2018), significa efici-
ência, comodidade e segurança no uso de produtos, seja no ambiente
doméstico ou profissional. A usabilidade depende dos usuários, do
objetivo, das tarefas a serem realizadas e do ambiente, uma vez que
o produto pode ser adequado para determinadas situações, mas não
necessariamente a outras.
A Norma ISO 9241-11 (2018) – Ergonomics of human-system interaction –

Part 11: Usabitily: Definitions and concepts – define que a usabilidade decorre
do uso do produto pelo usuário para que se alcance um objetivo de forma
eficiente, satisfatória e segura. Para isso, o produto deve: possuir uma boa
194
adaptação ergonômica física e cognitiva, possibilitar o alcance dos objetivos
com eficiência, eficácia e satisfação, possibilitar a realização de manutenção
de maneira fácil e também ser tolerantes a erros. São definidos seis princípios
que norteiam a busca de melhor usabilidade de produtos, são eles:
• Evidência: o produto deve indicar claramente sua função e modo de
operação, de forma a reduzir erros, facilitar memorização e evitar
erros durante a operação.
• Consistência: operações parecidas devem ser realizadas de maneira
semelhante, de forma a poder realizar uma transferência positiva da
aprendizagem de experiências anteriores.
• Capacidade: as capacidades dos usuários devem ser respeitadas e não
ultrapassadas, tais como a força, a velocidade, a precisão e o alcance
de movimentos.
• Compatibilidade: os resultados da ação devem ser compatíveis com
a expectativa do usuário, que depende de fatores fisiológicos, cultu-
rais e também de experiências anteriores. As expectativas também
são relacionadas com as associações entre ação e resultados esperadas
pela maioria da população (estereótipos populares).
• Proteção e correção dos erros: os produtos devem impedir os proce-
dimentos errados e, em caso de ocorrência de erros, permitir correção
rápida e fácil.
• Realimentação: os produtos devem retornar aos usuários os resul-
tados de suas ações, indicando forma correta de realizá-las. Esses
sinais são importantes para que o usuário saiba se é necessário realizar
um redirecionamento da ação.
A usabilidade de um produto pode ser testada em um procedimento
de cinco etapas: na primeira etapa, são informados o objetivo do teste e os
procedimentos metodológicos empregados. Na segunda etapa, é realizado
um treinamento inicial para que o usuário se familiarize com o produto, sem
que sejam feitos registros. Em seguida, na etapa de experimentação, o usuário
executa as tarefas e o desempenho é registrado. Na quarta etapa, que pode
ser realizada por meio de questionário, entrevista ou de forma espontânea, o
sujeito dá sua opinião sobre o produto. Finalmente, na quinta e última etapa, os
dados coletados são analisados estatisticamente para definição das conclusões.
Agradabilidade
Já vimos o conceito de usabilidade e os esforços que são realizados para
que os produtos sejam desenvolvidos de forma a se garantir a segurança,
195
funcionalidade e conforto. A partir da década de 90, no entanto, a ergonomia
também se preocupa com a agradabilidade, ou seja, o produto deve propor-
cionar prazer estético e simbólico ao usuário.
Reflita
O aspecto estético está relacionado à combinação de cores, formas,
texturas, acabamentos, dentre outros. No entanto, você consegue
identificar aspectos simbólicos de um produto?
O conceito de agradabilidade, no entanto, é difícil, pois nem sempre os

usuários conseguem descrever com precisão as características agradáveis
ou atrativas que desejariam nos produtos. Para isso, foram desenvolvidos
métodos de avaliação/comparação entre produtos já existentes e propostas
de alterações elaboradas pelo projetista. Esses métodos são categorizados em:
• Métodos verbais: método desenvolvido pelo Massachusetts Institute
of Technology (MIT) em que são apresentados diversos modelos,
configurações ou alterações de determinado produto sobre o qual os
usuários devem manifestar sua opinião verbalmente ou selecionar
palavras que o descrevam. É um método baseado na alteração da voz
em função das emoções.
• Métodos não verbais: são baseados nas reações dos indivíduos.
Avaliam as expressões faciais e corporais e movimentação dos olhos
durante a apresentação de determinado produto, diferentes configu-
rações ou possíveis alterações.
Adaptação ergonômica de produtos

Ao longo de nossa história, os seres humanos buscam a adaptação do
ambiente às suas necessidades, promovendo diversas alterações, por exemplo,
nos formatos, tamanhos e materiais utilizados na confecção desses objetos.
Exemplificando
Há 2 milhões de anos, o homem primitivo adaptava a pedra à anatomia
de suas mãos para fabricação de armas de pedra lascada. Com o passar
do tempo, foi acrescentado a esse objeto, um cabo, surgindo, então, a
machadinha. Então, devido à necessidade de caça e lutas, os objetos
foram se aperfeiçoando e se diversificando.
196
Sem dúvida, é imprescindível que o produto apresente bom funciona-
mento do ponto de vista técnico, o que inclui funcionalidade, conforto,
segurança e também facilidade de realizar manutenção e limpeza. À essa
qualidade técnica acrescentam-se a usabilidade e agradabilidade, qualidades
do produto relacionadas à ergonomia que contribuem efetivamente para a
melhoria dos produtos e ambientes de trabalho, conforme apresentado no
Quadro 4.6.
Quadro 4.6 | Contribuições da usabilidade e agradabilidade
Usabilidade Agradabilidade
Focaliza a questão prática do uso Focaliza as preferências e gostos pessoais
Baseia-se na biomecânica e cognição Baseia-se nas reações emocionais
Enfatiza a facilidade de uso Enfatiza o prazer no uso
Analisa os modos de falhas e erros Analisa os modos de prazer
Considera emoção como qualidade do

Não considera os aspectos emocionais
projeto
Quando ocorre o primeiro contato do produto com o usuário, diversos

canais sensoriais são acionados, destacando o estímulo visual, que é imediato.
Dependendo do produto, no entanto, tal como tecidos, o tato também possui
papel fundamental para avaliação da maciez; já no caso de alimentos, o olfato
é, também, o sentido preponderante. A percepção dos produtos está relacio-
nada às experiências anteriores dos usuários, bem como de sua cultura. A
agradabilidade é um fator diferencial em relação a produtos que apresentem
funções semelhantes.
Em relação às características físicas do produto, tais como dimensões,
formas, materiais e resistência, podem ser alteradas visando promover
melhor usabilidade e agradabilidade. No caso da usabilidade, esta pode
ser melhorada com a inserção de mecanismos de regulagens, no caso
de cadeiras, por exemplo. Quando se trata de equipamentos eletrônicos,
podemos alterar a distância entre os botões e seu agrupamento. Ainda, se
houver risco de queda, podemos alterar o material, para que seja resistente
a choques mecânicos.
Em relação às características cognitivas do produto, é importante que
sejam respeitadas as experiências e estereótipos dos usuários, por exemplo,
197
para se abrir uma porta, a alavanca deve ser girada por baixo. Caso isso não
seja respeitado, o usuário terá dificuldades na utilização do produto. Esse
mesmo cuidado deve ser tomado pelos engenheiros de software ao se lançar
uma nova versão de um programa de computador; as funções básicas devem
ser preservadas, para que se aproveite o domínio anterior da ferramenta.
A emoção atua em conjunto com a cognição sobre o controle de racio-
cínios e comportamentos. A reação promovida pela emoção é mais rápida
que a cognitiva e a interação com os produtos pode produzir emoções,
positivas ou negativas, de interesse à ergonomia e ao projeto de novos
produtos. Logo, produtos que provocam emoções positivas, tais como
diversão, prazer e interesse, são bem mais aceitos. Quando existe uma
conexão emocional entre usuário e produto, aquele tolera, até mesmo
alguns problemas técnicos e inconvenientes. Já se o produto for tecnica-
mente superior mas provoca emoções negativas no usuário, este irá tender
a encontrar defeitos nele.
Dessa forma, podemos entender que o produto pode atingir o máximo de
qualidade técnica e, no entanto, deixar a desejar em termos de agradabilidade
e usabilidade, o que pode não ser interessante do ponto de vista do usuário e
mercado consumidor de forma geral. Nesse caso, é importante que o proje-
tista opte por uma solução de compromisso que, talvez, venha a sacrificar um
pouco em termos de desempenho técnico, mas irá atender às premissas de
ergonomia, influenciando positivamente o resultado final e a aceitabilidade
do produto pelo mercado consumidor.
Processo de desenvolvimento de produtos e a ergonomia

O desenvolvimento de produtos está relacionado a atividades que visam
o lançamento de novos produtos ou alteração nos produtos existentes. Essas
atividades são realizadas por uma equipe multidisciplinar que deve, também,
incluir especialistas em ergonomia, que podem integrar a equipe permanen-
temente ou atuar como consultores externos.
As etapas que envolvem o desenvolvimento de um produto dependem
do tipo de produto e da empresa, que determina o resultado esperado
nesse desenvolvimento: melhoria de qualidade, estética, funcionalidade e/
ou redução de custo. A partir de uma definição clara do objetivo, as etapas
que ocorrem na sequência são o desenvolvimento, detalhamento, avaliação
e, enfim, utilização do produto. É importante lembrar que as etapas de
desenvolvimento do produto não necessariamente ocorrem nessa ordem,
conforme ilustra a Figura 4.11.
198
Figura 4.11 | Etapas de desenvolvimento do produto
A ergonomia contribui com o desenvolvimento de produtos desde a sua

concepção, em que são definidas as características e especificações, até a fase
da avaliação do uso do produto, conforme Quadro 4.7.
Quadro 4.7 | Participação da ergonomia nas etapas de desenvolvimento de produto
Etapas Atividades gerais Participação da ergonomia

Examinar oportunidades;
verificar as demandas; definir Examinar o perfil e as necessida-
Atividades preli-
objetivos do produto; elaborar des do usuário; analisar os requi-
minares
as especificações; estimar custo/ sitos ergonômicos do produto.
benefício.
Analisar os requisitos do sistema;
Analisar as tarefas/atividades;
Desenvolvimento esboçar a arquitetura do sistema;
analisar a interface (informa-
do projeto gerar alternativas de soluções;
ções, cognições e controles).
desenvolver o sistema.
Detalhar o sistema; especificar os

Acompanhar os detalhamentos
Detalhamentos componentes; adaptar as inter-
e analisar os aspectos ergonômi-
para produção faces; detalhar os procedimentos
cos da produção.
de testes.
Avaliar o desempenho; comparar Testar a interface com o usuário,

Avaliação do
com as especificações; fazer os verificando possíveis fontes de
protótipo
ajustes necessários. erros e acidentes.
Prestar serviço pós-venda; acu-

Avaliação do Realizar estudos de campo com
mular experiências para outros
produto em uso usuários e consumidores
projetos.
199
A participação da ergonomia ocorre em cinco tipos de atividades:
• Usuário: as características de usabilidade e agradabilidade devem ser
definidas com base no perfil do usuário, bem como suas necessidades
e valores.
• Características do produto: descrevem as características de usabi-
lidade e agradabilidade para que as necessidades do usuário sejam
atendidas. Devem executar adequadamente suas funções e também
contemplar aspectos estéticos.
• Interface com o usuário: busca avaliar como o usuário irá interagir
com o produto.
• Usabilidade: determina metas de desempenho funcional do produto,
que são utilizadas para avaliação do projeto de interface e testes
de usabilidade.
• Agradabilidade: determina características consideradas agradáveis e
auxilia a avaliação das emoções causadas pelo produto.
Projeto de produtos seguros

A maioria das lesões no trabalho ocorrem com uso de ferramentas
manuais ou elétricas. Muitas dessas lesões ocorrem quando o operador adota
uma postura inadequada ou realiza força/movimento brusco para controle
da ferramenta. Em vista disso, a adoção de dispositivos de segurança e
melhoria da pega podem ser ações que venham a colaborar para a prevenção
desse tipo de acidente.
Além disso, deve ser preocupação do projetista o desenvolvimento de
produtos cuja própria aparência física induza a sua função e uso correto, uma
vez que os acidentes podem decorrer da percepção errada pelos próprios
produtos, ou seja, o usuário julgou que o produto possuía determinada quali-
dade, mas na verdade não, contribuindo, dessa forma, para a ocorrência de
um acidente.
Com intuito de prevenir acidentes, muitas normas e leis foram colocadas
em vigor para que as empresas se preocupem e invistam no desenvolvimento
de produtos seguros. Dessa forma, quase todos os produtos fabricados em
série são regulamentados pela ABNT ou, se esta não estiver disponível,
pela ISO ou normas elaboradas por outros países. Acrescenta-se ao fato um
mercado consumidor cada vez mais exigente. Com isso, foi desenvolvido, em
uma universidade holandesa, um método para projeto de produtos seguros,
baseado em cinco etapas, conforme apresentado na Figura 4.12.
200
Figura 4.12 | Metodologia de projeto para desenvolvimento de produtos seguros
A primeira etapa está relacionada à descrição dos possíveis acidentes com

base nos dados adquiridos pelo Serviço de Atendimento ao Consumidor
(SAC) ou assistência técnica. Com isso, o produto, em uma segunda etapa,
deve ser analisado levando em consideração o projeto, as ações dos usuários
e como é realizada sua utilização em diversas situações. Ainda, devem ser
consideradas as ações relacionadas à limpeza, manutenção e armazena-
mento. Essa análise pode ser feita respondendo algumas perguntas: como
o produto deve ser operado? Quais características impedem ou facilitam a
manutenção e limpeza? Como o produto é armazenado?
Na terceira fase, com base na análise, são selecionados fatores críticos
identificados como possíveis causas de acidentes, sobre os quais os projetistas
irão atuar, propondo alterações nas características do produto com a finali-
dade de torná-los mais seguros.
Na quarta etapa, são elaboradas alternativas para contornar os problemas
identificados na etapa anterior que, na sua maioria, estão relacionadas aos
seguintes casos, destacados por Iida e Guimarães (2018):
201
• Correção de característica do produto
– Selecionar de outro princípio de funcionamento.
– Substituir componentes ou materiais de baixa qualidade.
– Desativar o produto antes que o acidente aconteça.
– Afastar o usuário da fonte de perigo.
– Dificultar modificações que venham a ser realizadas pelo
próprio usuário.
• Correção ou prevenção de ação crítica do usuário
– Induzir a adoção de ações seguras.
– Prevenir o uso não formal.
– Ser tolerante aos erros mais frequentes.
– Adaptar às características antropométricas e cognitivas
dos usuários.
• Correção ou prevenção de ação crítica do ambiente
– Influenciar na escolha do local seguro para instalação e uso
do produto.
– Verificar possíveis influencias das condições ambientais adversas.
Na última etapa, a solução proposta é avaliada quanto à segurança, durabi-
lidade, custo, viabilidade técnica e facilidade de uso, limpeza e manutenção.
Pesquise mais
Conheça mais sobre a contribuição da ergonomia no desenvolvimento
de produtos fazendo a leitura do estudo de caso da ergonomia na indús-
tria automotiva da página 284 à 289 do livro referenciado a seguir:
Conseguimos com sucesso finalizar o estudo de ergonomia e desenvol-

vimento de produto, agora chegou o momento de verificar seu aprendizado
com situações que podem fazer parte de seu dia a dia profissional.
202
Sem medo de errar
Agora chegou o momento de nos concentrarmos na última etapa do

projeto em que você está atuando como o engenheiro de desenvolvimento
de produto em uma grande fabricante de equipamentos e máquinas agrícolas
no cenário mundial. A última etapa desse projeto consiste na avaliação de
projetos de comandos operacionais em diferentes modelos e fabricantes de
máquinas e na avaliação da compatibilidade dos movimentos, de maneira
que estes sejam operados de forma intuitiva, minimizando a possibilidade
de ocorrência de erros durante a operação, para que não ocorram acidentes.
Para isso, são apresentados, no Quadro 4.8, alguns estereótipos populares
propostos por Dul e Weerdmeester (2012), para que sejam considerados
aspectos importantes sobre a usabilidade do produto.
Quadro 4.8 | Movimentos considerados naturais (estereótipos populares)
Item Resultado Movimento
Para cima, para direita, afastando-se do usuário, sentido horário,

1 Ligar
puxando para fora.
Para baixo, para esquerda, aproximando-se do usuário, sentido

2 Desligar
anti-horário, pressionando.
Para cima, para direita, afastando-se do usuário, sentido horário,

3 Aumentar
resistência crescente.
Para baixo, para esquerda, aproximando-se do usuário, sentido

5 Diminuir
anti-horário, resistência decrescente.
Fonte: Veiga et al. (2013, p. 7).
Em um levantamento realizado em três modelos de tratores, foram verifi-

cados os seguintes dados relacionados ao acionamento do levante hidráulico
e do bloqueio do diferencial (Quadro 4.9). O levante hidráulico é o compo�-
nente responsável pelo acoplamento de implementos agrícolas já o bloqueio
do diferencial permite o movimento uniforme das rodas de um mesmo eixo
em situações em que a roda perde aderência com o solo.
Quadro 4.9 | Movimentos considerados naturais (estereótipos populares)
Componente Modelo Resposta ao comando Estereótipo

Sobe aproximando-se do Sobe afastando-se do
A
usuário usuário
Levante Sobe aproximando-se do Sobe afastando-se do
B
hidráulico usuário usuário
Sobe aproximando-se do Sobe afastando-se do
C
usuário usuário
203
Aciona pressionado para
A Aciona puxando
baixo
Bloqueio do Aciona pressionando o
B Aciona puxando para fora
diferencial botão
Aciona e desliga pressionan-
C Aciona puxando
do para baixo
Fonte: adaptado de Veiga et al. (2013, [s.p.]).
Figura 4.13 | Metodologia de projeto para desenvolvimento de produtos seguros
Fonte: adaptada de Veiga et al. (2013, [s.p.]).
Dessa forma, é possível verificar que, utilizando conceitos de ergonomia, é

importante que sejam respeitadas as experiências e estereótipos dos usuários.
Caso isso não seja respeitado, o usuário terá dificuldades na utilização do
produto e, como consequência do uso incorreto, podem ocorrer acidentes ou
sensações que causem emoções negativas em relação ao produto.
Nesse sentido, a avaliação permitiu identificar incompatibilidade entre
o que o usuário espera na realização do movimento para a operação e o
que o produto realmente oferece e avaliar as possíveis ações que deverão
ser adotadas para melhoria do produto e, consequentemente, experiência
do usuário.
Em relação ao levante hidráulico, em todos os casos é necessário que
se inverta o movimento e utilizem-se cores na alavanca para diferenciar os
comandos que estão próximos. No caso do levante hidráulico do modelo C,
pode-se fazer uma recomendação adicional em relação à inclinação da base
do comando, que também deveria ser invertida.
204
Com relação às sugestões de alterações do bloqueio do diferencial para
melhorar aspectos ergonômicos e de usabilidade, agora a tarefa fica somente
sob sua responsabilidade. Utilize os conceitos estudados até aqui para que
você encontre a solução de compromisso ideal.
Segurança em máquinas e equipamentos
Imagine-se no papel de um projetista em uma empresa que fabrica

máquinas para usinagem e componentes metálicos. Como parte do programa
de seu crescimento na empresa, seu gerente o convidou para participar de
um treinamento sobre a NR-12 - Segurança no Trabalho em Máquinas e
Equipamentos. Interessado pelo assunto, você foi pesquisar sobre a impor-
tância da segurança em máquinas e equipamentos industriais e encontrou
duas notícias, com as seguintes manchetes:
• “EMPREGADO QUE SE ACIDENTOU AO BURLAR NORMA DE
SEGURANÇA NÃO DEVE SER INDENIZADO” O trabalhador que
sofreu uma fratura do dedo ao burlar a norma de segurança ao operar
uma prensa foi considerado único culpado pelo acidente do trabalho
(TRT/RS, 2016, [s.p.]).
• “FÁBRICA DE AUTOMÓVEIS É CONDENADA EM 1 MILHÃO DE
REAIS POR ARRISCAR SEGURANÇA DE TRABALHADORES”. A
fábrica repassava, a título gratuito, para suas terceirizadas, máquinas
defeituosas de seu parque industrial, em desacordo com normas de
segurança e saúde. As máquinas não possuíam sistema de segurança
e monitoramento e, além disso, foram encontrados sistemas de burla
dos dispositivos de segurança tornando-os inoperantes. Tal procedi-
mento é feito frequentemente nas máquinas de usinagem para que a
produtividade não seja afetada.
Frente a essa pesquisa realizada, quais são os tipos de proteção em
máquinas e equipamentos que você deve implementar em seus projetos e
quais são suas características?
As proteções têm como objetivo eliminar/neutralizar o perigo gerado por
máquinas e equipamentos, sendo que nenhum trabalhador deve executar
205
atividades em zonas desprotegidas. Dessa forma, as proteções devem impedir
que o trabalhador entre em contato com o perigo, além disso, não devem ser
removidas facilmente ou burladas.
Quanto à natureza podem ser fixas ou móveis. As proteções fixas, geral-
mente fabricadas em tela ou chapa metálica ou em chapa de policarbonato,
são fixadas por meio de solda ou parafusos que não permitem sua remoção.
As proteções também podem ser móveis, podendo ser abertas sem auxílio
de ferramentas e devem estar associadas a dispositivos de intertravamento,
de forma que a máquina não opere enquanto a proteção não estiver fechada.
A zona de perigo da máquina deve ser enclausurada por todas as partes
impossibilitando o acesso dos dedos. O enclausuramento pode ser fixo ou
móvel dotado de intertravamento para garantir a parada da máquina sempre
que as proteções forem removidas. Além do enclausuramento, podem ser
utilizados os seguintes dispositivos em favor da segurança, durante o trabalho
em máquinas e equipamentos industriais:
• Comando bi-manual: exige a utilização das duas mãos para que o
operador acione a máquina de forma que as mãos estejam fora da
área de risco.
• Cortina de luz: é um sistema que composto por um transmissor, um
receptor e um sistema de controle. Para cada conjunto de transmissores
e receptores ativados, caso o receptor não receba o feixe luminoso do
transmissor (devido à barreira do corpo do operador, por exemplo), é
gerado um sinal de falha e a máquina não pode ser acionada.
• Dispositivos de parada de emergência: colocados em locais próximos
ao alcance do operador, têm a função de parar o movimento da
máquina em situação de perigo.
Além disso, é importante lembrar que a NR12 preconiza que as proteções
devem ser projetadas e construídas de modo a atender aos seguintes requi-
sitos de segurança e impedir que elas sejam burladas, evitando, dessa forma,
o surgimento de problemas semelhantes aos encontrados em sua pesquisa.
Faça valer a pena
1. A usabilidade significa eficiência, comodidade e segurança no uso de

produtos, seja no ambiente doméstico ou profissional. A usabilidade, no
entanto, depende dos usuários, do objetivo, das tarefas a serem realizadas e
do ambiente, uma vez que o produto pode ser adequado para determinadas
situações, mas, não necessariamente, a outras. Dessa forma, a usabilidade
206
decorre do uso do produto pelo usuário para que se alcance um objetivo de
forma eficiente, satisfatória e segura.
Analisando os princípios que norteiam a busca de melhor usabilidade de
produtos, associe corretamente a coluna da esquerda (princípios) com a
coluna da direita (descrição):
Princípios de usabilidade Descrição
( ) as capacidades dos usuários devem ser respeitadas e não

I. Evidência ultrapassadas, tais como: a força, a velocidade, a precisão e o
alcance de movimentos.
( ) operações semelhantes devem ser realizadas de maneira

II. Consistência semelhante, de forma a poder realizar uma transferência
positiva da aprendizagem de experiências anteriores.
( ) os resultados da ação devem ser compatíveis com a

III. Capacidade expectativa do usuário que também está relacionada à estere-
ótipos populares.
( ) os produtos devem retornar aos usuários os resultados

de suas ações, indicando a sua realização de forma correta.
IV. Compatibilidade
Esses sinais são importantes para que o usuário saiba se é
necessário realizar um redirecionamento da ação.
( ) o produto deve indicar claramente sua função e modo de

V. Proteção e correção
operação, de forma a reduzir erros, facilitar memorização e
dos erros
evitar erros durante a operação.
( ) os produtos devem impedir os procedimentos errados

VI. Realimentação e, em caso de ocorrência de erros, permitir correção rápida
e fácil.
a. I – II – III – IV – V – VI.
b. III – I – VI – IV – II – V.
c. III – VI – V – II – I – IV.
d. III – II – IV – VI – I – V.
e. I – III – II – VI – V – IV.
2. É importante que o produto apresente bom funcionamento do ponto de

vista técnico, o que inclui funcionalidade, conforto, segurança e, também,
facilidade de realizar manutenção e limpeza. À essa qualidade técnica,
acrescentam-se a usabilidade e agradabilidade; qualidades relacionadas à
ergonomia e que contribuem efetivamente para a melhoria dos produtos
207
e ambientes de trabalho. Com isso, podemos fazer as seguintes afirmações
acerca da adaptação ergonômica de produtos:
I. A usabilidade pode ser melhorada com inserção de mecanismos
de regulagens e outras alterações em termos de forma, dimensões e
resistência do produto, por exemplo, quando houver risco de queda.
II. É importante que sejam respeitadas as experiências e estereótipos
dos usuários, caso isso não seja levado em consideração, pode
ocorrer dificuldade na utilização do produto.
III. As emoções que o produto desperta no usuário não devem ser
levadas em consideração no desenvolvimento do produto.
e. Somente as afirmações I e II estão corretas.
3. A ergonomia contribui para o desenvolvimento de produtos desde a sua

concepção, em que são definidas as características e especificações, até a fase
da avaliação do uso do produto. A participação da ergonomia ocorre em
cinco tipos de atividades, tais como a descrição das características de usabili-
dade e agradabilidade, para que as necessidades do usuário sejam atendidas.
Selecione a alternativa que corresponde à atividade descrita no texto-base:
a. Usabilidade.
b. Característica do produto.
c. Usuário.
d. Agradabilidade.
e. Interface com o usuário.
208
Referências
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BRASIL. Secretaria do Trabalho. Ministério da Economia. Norma Regulamentadora NR 17

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SST_NR/NR-17.pdf. Acesso em: 2 set. 2019.
BRASIL. Secretaria do Trabalho. Ministério da Economia. Norma Regulamentadora NR 12 –

Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos, 2018. Disponível em: https://enit.trabalho.
gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/NR-12.pdf. Acesso em: 4 set. 2019.
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FERREIRA, M. D.; SPRICIGO, P. C.; SARGENT, S. A. Colheita e beneficiamento. In:

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VILAGRA, J. H. Adequação ergonômica de trator agrícola de média potência: construção e

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ência. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina,
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Ergonomia

Ana Carolina Gigli Shiguemoto

Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão

Diretoria de Produção e Responsabilidade Social

Editoração Gráfica e Eletrônica

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

1. Ergonomia organizacional. 2. Ergonomia cognitiva.

Não pode faltar

Durante a realização de determinada atividade ou serviço, o ser humano

Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e

A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) adota a definição

Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica

A ergonomia tem como objetivo proporcionar satisfação e conforto aos

Figura 1.1 | Medidas antropométricas para postos de trabalho

Fonte: Iida e Guimarães (2018, p. 5).

Os princípios que regem a ergonomia começaram nos primórdios da

Na renascença, período entre o século XIV e início do século XVII,

Em 1940, a ergonomia passa a ser classificada como uma disciplina cientí-

Iniciou-se durante a Segunda Guerra Mundial e destacava

Trata-se de como ruído, vibrações, temperatura, iluminação

Visão ampla da ergonomia: engloba o contexto organizacio-

Fonte: Adaptado de Corrêa e Boletti (2015, p. 7).

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Nesta área da ergonomia, os profissionais devem contribuir de forma

[...] os problemas da realidade laboral não são exclusivos

Dessa forma, os ergonomistas devem priorizar o entendimento de todo o

Figura 1.3 | Situação de ergonomia de correção

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A correção da luminosidade aconteceu com a colocação de uma luminária

A ergonomia de conscientização capacita os colaboradores para perceber

Fatores intangíveis, ligados à imagem da empresa, por exemplo, devem ser

Vamos retornar para nossa consultoria: você é um renomado consultor

Você foi contratado por um gestor de um escritório para realizar um

Faça valer a pena

1. Em 1940, a ergonomia passa a ser classificada como uma disciplina científica,

( ) A partir da década de 80, com o avanço no setor de informática,

( ) Iniciou-se durante a Segunda Guerra Mundial e destacava questões

( ) Visão ampla da ergonomia: engloba o contexto organizacional, psi-

( ) Trata-se de como ruído, vibrações, temperatura, iluminação e ele-

Fonte: Corrêa e Boletti (2015, p. 7).

2. O profissional responsável pelo planejamento, pelo projeto e pela avaliação de

( ) Investigar as habilidades e as limitações da máquina.

( ) Analisar como as pessoas utilizam os equipamentos.

( ) Avaliar os riscos do ambiente de trabalho, bem como seus efeitos na saúde

( ) Evitar a implementação de melhorias, pois a empresa não apresenta risco de

( ) Realizar pesquisa (entrevistas), compilar dados e produzir relatórios.

Assinale a seguir a alternativa que apresenta a sequência correta de verdadeiro ou falso.

3. A ergonomia de ___________ é aplicada durante o desenvolvimento de

Qual das alternativas a seguir apresenta os termos que preenchem corretamente as

a. Conscientização – correção – participação – concepção.

b. Correção – participação – concepção – conscientização.

c. Correção – concepção - conscientização - participação.

d. Concepção – conscientização – participação – correção.

e. Concepção – correção – conscientização - participação.

Fonte: Iida e Guimarães (2018, p. 234).

Aprofunde seu conhecimento sobre o organismo humano, bem como os

Não pode faltar

O sistema esquelético tem a função (A) de oferecer uma estrutura para

Fonte: Corrêa e Boletti (2015, p. 25).

O tecido ósseo altera sua força em função do estresse mecânico: em situa-

Parte do sistema esquelético fundamental para o estudo da ergonomia

Fonte: adaptado de Iida e Guimarães (2018, p. 139-141).

As funções de interesse para a ergonomia do sistema muscular são: a