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A EDUCAÇÃO E O RESGATE DOS VALORES

MORAIS E CÍVICOS EM ANGOLA


NOTAS PRELIMINARES
A moral e a cívica sempre foram uma preocupação do povo
angolano. Com efeito, a nossa história pode ser compreendida como
uma re-abordagem contínua dos nossos ideais morais e cívicos,
enquanto seres sociais. A luta pela autoformação enquanto povo, a
independência, a luta pela paz, democracia e desenvolvimento do
homem angolano, podem ser citados como exemplos históricos do
exercício de realização de ideais morais e cívicos.
No entanto, a nossa própria história também é mostra do quanto a
moral e a cívica nem sempre gozaram do lugar que nós todos
desejávamos que elas tivessem. Dum lado, pela dialéctica própria da
existência humana, onde a negação contínua e a superação
constante são uma realidade, doutro lado pela idealidade própria aos
princípios cívicos e morais que podem ser compreendidos como
sendo da dimensão da Ideia. Eles não são factos ou realidades
adquiridas, mas sim ideais a alcançar. 
Finalmente, e ligados aos argumentos precedentes, a moral e a cívica
nem sempre foram realizadas pelo facto da própria contingência
humana. Somos seres contingentes, e por isso finitos e imperfeitos.
Assim, nós erramos. O nosso conflito armado, e as suas
consequências, são prova da nossa imperfeição no exercício da cívica
e da moral. Portanto, quando falamos da educação na recuperação
dos valores morais e cívicos, estamos a falar duma realidade que nos
toca enquanto angolanos aqui e agora.
Para abordar este tema, proponho quatro pontos: clarificação de
conceitos; a relação entre a educação, valores morais e cívicos; a
questão angolana; e os desafios (a guisa de conclusão).

I. CLARIFICAÇÃO DE CONCEITOS
Gostaria de recorrer ao método histórico para buscar a origem, a
etimologia, das palavras-chaves da nossa comunicação, que são:
valor, moral, cívica e educação.
Valor
A palavra valor vem do latim Valere, que significa “ser forte.” Assim,
o termo valor pode ser compreendido como a qualidade e
importância que nós projectamos e reconhecemos na realidade.
Uma vez definidos, os valores justificam as nossas escolhas e acções.
As dimensões valorativas são várias: Podemos falar de valores éticos,
que têm a ver com a nossa conduta, como por exemplo a
honestidade; temos valores religiosos, relacionados com a ligação do
homem como o Outro (o transcendente), por exemplo, a santidade;
valores estéticos, como a simetria. Existem valores políticos, como a
participação cívica, etc. Sendo que os valores não o são para todos
em todos os tempos e lugares, existe a possibilidade de mitigar o
conflito de valores pela hierarquização dos valores. Neste sentido, a
educação surge para harmonizar a diversidade de valores. A
educação constitui-se como um factor chave na organização,
transmissão e recuperação de valores.
Moral
A palavra moral também tem origem latina, “mor, mores.” Este
termo significava para os latinos costume, carácter ou forma
habitual de agir. Assim, a moral pode ser compreendida como as
regras da conduta humana que radicam da sua capacidade e
responsabilidade em distinguir o bem do mal. Em termos Kantianos
diríamos, a moral é a dimensão prática da razão que impõe regras de
comportamento e acção. Assim sendo, o valor moral indica a
qualidade de princípio comportamental a partir da qual escolhemos
e julgamos os nossos actos.
Cívica
A palavra cívica também vem do latim Civitas que significa
cidadania romana. Daí que o objecto da cívica seja a cidadania. Com
efeito, quando os latinos diziam cives, queriam dizer cidadãos, que
eram distintos dos estrangeiros (que eles chamavam de peregrini).
Neste contexto, a cidadania é a articulação explicativa dos direitos
civis (tais como liberdades individuais e o direito a propriedade
privada), direitos políticos (a possibilidade de exercer o poder) e
direitos sociais (segurança económica e social) (Janoski, p. 3).
Nestes termos, o objecto da educação cívica pode ser compreendido
como sendo a cidadania, que quer dizer a participação na cidade.
Esta cidade está para além da polis grega de Aristóteles e doutros
clássicos, (baseada na organização da sociedade) a Cidade da qual
fazemos derivar a civitas de cívico, pode ser melhor compreendida,
buscando a civitas de Santo Agostinho, que fundava a cidade em
laços afectivos e não apenas jurídicos como se pretendia na
republica latina de Cicero.
Educação
O grande consenso quanto a origem do termo educação é de que ele
deriva do latim. No entanto, dali para frente, o consenso e
unanimidade não é tão evidente. Com efeito, há autores que derivam
o termo educação do verbo latino “educare” que significa criar ou
alimentar (cfr. Enciclopédia Luso Brasileira, p. 148). Existem outros
autores que, como afirma Américo Veiga preferem derivar o termo
educação dum outro verbo latino “educere”, que resulta da
justaposição do prefixo “ex” que significa sair de, tirar para fora, etc.
e o verbo “ducere” que quer dizer conduzir. Assim, educação pode
ser compreendida como o processo de condução para fora de.
A articulação que Américo Veiga faz dessas duas perspectivas
etimológicas é interessante porquanto, ele assume que a educação é
um processo que implica duas direcções: a direcção de dentro para
fora (do lado do educando; desenvolvimento) e a outra de fora para
dentro (do lado do educador; a ajuda).
Neste âmbito, apesar de ser grego, Sócrates parece ter percebido
muito bem esta dinâmica dialógica do processo educativo, quando
lançava as bases da mieutica, sendo, o educador, uma espécie de
parteira, ou seja ginecologista -obstetra, especialista em partos. Com
efeito, não é parteira que dá à luza; Ela apenas ajuda a parturiente a
dar a luz. O meu colega e amigo professor, Nlandu Matondo, numa
das suas conferências, também ligava esta visão socrática à de Santo
Agostinho do Logoi Spermatokoi (despertar as razões que estão em
sementes), e à de Lonergan (com o seu conceito de Insights, ou seja
“ideias adormecidas no santuário cognitivo” do educando.
(apresentação do dia 29/07/2010, CEDBES).
Nestes termos, educar pode ser compreendido como o processo de
motivar o desenvolvimento da razão, que, na perspectiva de Kant,
teria várias dimensões, dentre as quais a teórica, prática e a
judicativa.
O PAPEL DA EDUCAÇÃO EM RELAÇÃO AOS VALORES MORAIS
E CÍVICOS
O papel da educação em relação aos valores morais e cívicos é
anterior ao de resgate. A educação tem um papel basilar. A
educação, enquanto processo humanizante e socializante, desperta o
homem para os valores morais e cívicos. Ela tem o papel primordial
na manifestação da moral e da cívica. Porém ela não se limita a dar
os fundamentos e descansar. É a mesma educação que é chamada a
entrar em acção quando os valores morais e cívicos são julgados
perdidos. Neste âmbito, o processo de educação aparece como o
recuperador de valores perdidos.
Para Rafael Yus Ramos (2002), existem 4 pilares da educação do
século XXI:
Aprender a ser (incluindo a educação para a saúde, educação
emocional e educação para o consumo);
Aprender a fazer (Educação para a vida activa; desenvolver a
competência para vida, ou seja conhecimento em acção);
Aprender a conhecer (estudar, memorizar, resolver, etc.);
e aprender a viver juntos (educação ambiental, educação para
democracia, educação para solidariedade, educação intercultural,
educação para a paz, educação para a igualdade, educação cívica,
aceitação e respeito das normas cívicas, capacidade de desenvolver
projectos comuns, etc. (in Valores escolares y educación para la
cidadania, p. 33ss).
Na óptica de Américo Veigas (2005), uma boa educação moral deve
abranger os seguintes aspectos:
Sentido e opção pelo bem (identificar e escolher o bem);
Reconhecimento da dignidade humana (com as suas liberdades e
igualdades fundamentais, e para os religiosos, sendo o homem
criado à imagem e semelhança de Deus).
Respeito e promoção da vida;
O sentido do outro;
O sentido do bem comum e do meio ambiente;
A vivência de algumas virtudes humanas fundamentais: Verdade,
justiça, lealdade, rectidão, fidelidade, honestidade.
O sentido da liberdade e responsabilidade;
Abertura aos apelos da consciência para o bem e a verdade;
Motivações positivas e não defensivas ou negativas. ex.: Agir por
amor e não pelo medo (pp. 284-285).
Diante da grandeza desta tarefa, é evidente o reconhecimento de que
ela não pode ser realizada apenas pela educação, se por educação
nós entendemos apenas um sector do executivo. No entanto, se
entendemos a educação como um processo de assumpção social, que
deve ser assumido pela sociedade toda, da família aos grupos mais
complexos da sociedade; aí sim, a moral é uma tarefa de educação,
porque é uma tarefa da sociedade. O resgate dos valores morais e
cívicos é uma tarefa da sociedade Angolana que deve ser assumido
por todos individual e colectivamente de maneira contínua e
continuada.

A QUESTÃO ANGOLANA
Em Angola, proponho que situemos o resgate de valores cívicos e
morais dentro da grande dinâmica de reconstrução nacional. A
reconstrução nacional, na minha perspectiva, é a reconstrução da
razão em nós. Neste sentido, razão não é apenas discursiva ou
teórica. Ela é também, como nos lembra Kant, uma razão prática, ou
seja, a razão não é apenas pensamento; ela é também
comportamento. Isto que dizer que apesar de sermos racionais,
moralmente nós devemos querer ser racionais e comportamo-nos de
maneira aceitável. Como consequência, a nossa razão prática é
também activa, no sentido de agirmos civicamente de acordo com os
princípios morais aceites pela nossa sociedade. Não devemos apenas
querer ser razoável, mas também agir de maneira razoável, ou seja
trabalhar para que os angolanos ajam de maneira cada vez mais
razoável.
Muito tem sido realizado pelo executivo e os seus parceiros sociais
no sentido do resgate dos valores morais e cívicos. O curriculum
educativo, no seu todo revela implicitamente, e no seu sentido lato,
um esforço de recuperação dos valores morais e cívicos. No entanto,
esse esforço também se manifesta explicitamente e no sentido
restrito pelas disciplinas como a geografia, história, organização do
estado, línguas, e mais claramente com a introdução da disciplina de
Educação Moral e Cívica.
A disciplina de educação moral e cívica constitui um espaço de
transmissão de valores que concorrem para uma realização do
homem angolano enquanto indivíduo e enquanto social. Um aspecto
importante da educação moral e cívica é mesmo a sua utilidade
enquanto espaço de instrução sobre os assuntos, da sociedade e do
estado. Com efeito a nossa população mais jovem, e não só, pode ser
algumas vezes constituída de diríamos ignorantes cívicos. Ou seja
indivíduos que têm pouca informação, e compreendem muito
menos, sobre os conteúdos da sociedade, dos direitos e deveres, da
economia, da cultura e política; indivíduos alheios a realidade social
e física envolvente.
A introdução da disciplina de Educação Moral e cívica, como
disciplina autónoma, no sistema da reforma educativa, é um dos
exemplos mais notáveis, embora, em princípio, todas as disciplinas
contribuem para educação moral e cívica, sobretudo disciplinas
como história, geografia, línguas, etc.

DESAFIOS
Apesar do trabalho educativo que tem sido feito por todos nós, os
desafios são vários. Porém, podemos levantar alguns desses:
1º. Assumir e articular da melhor maneira possível, e de acordo com
o nosso contexto, aquilo que afirmaria ser a dialéctica da educação
cívica e moral. Com efeito, embora a escola seja um dos contextos
institucionais principais para aquisição e resgate dos valores morais
e cívicos, esses aprendem-se mais em exercício, ou seja na prática.
Neste sentido, os princípios valorativos são lançados pela escola,
mas são vividos e vivenciados na sociedade em geral que se organiza
politicamente.
2º. Existe também o desafio de implementação da Reforma
Educativa. A concepção e implementação da reforma educativa é um
reconhecimento do executivo de que a educação, enquanto
transmissora e recuperadora de valores, deve ser susceptível de
reconsideração e melhoramento. Os contextos sociais mudam e a
apresentação dos valores pode exigir novas estratégias,
metodologias, etc. Temos todos de estar unidos para o sucesso da
reforma educativa em Angola.
3º. O desafio da assumpção da transversalidade e
interdisciplinaridade da Educação moral e cívica. Na verdade, a
manifestação curricular (como disciplina) da educação moral e
cívica implica o envolvimento de varais ciências sociais e não só.
Com efeito, também as ciências ditas humanas (ou sociais) têm
sempre um contributo para uma melhor compreensão da realização
do homem enquanto cidadão na sociedade politicamente
organizada. Para além disso, as ciências naturais também
convergem para um melhor entendimento do ambiente natural no
qual o homem exerce a sua cidadania consciente, porque moral e
civicamente educado. Assim, a articulação do cidadão angolano da
relação entre o meio ambiente (questões ecológicas) e a Sociedade
(questões de desenvolvimento) é deveras importante.
4º. O desafio da Família angolana. A família, como núcleo da
sociedade, é o espaço primeiro do processo educativo. Ela é a
primeira escola de valores. É na família que nós começamos a
despertar aos valores morais e mesmo cívicos. Com efeito, tem sido
quase unânime a afirmação da crise da família moderna, e a crise da
família angolana em especial. Neste sentido, a crise da família tem
implicações na maneira como a recuperação educativa dos valores
pode ser processada. Assim, é importante pensarmos, a nosso nível
quais os mecanismos de recuperação dos valores num contexto de
afirmação da crise da família. Parece-me que o caminho é, mais uma
vez, dialéctico no sentido de reforço mútuo. Com efeito, na medida
em que a família assumir devidamente o seu papel, melhor
recuperaremos os valores cívicos e morais. Por outro lado, quanto
melhor for essa recuperação dos valores morais e cívicos, melhores
famílias teremos no cumprimento das suas funções como escola de
valores.
5º. O desafio do Engajamento comunitário e Associativismo. A
educação cívica tem uma dimensão comunitária. O voluntariado e
participação dos cidadãos em projectos comunitários são essenciais.
O engajamento com a comunidade é crucial. Embora não estejamos
mal, podemos continuar a melhorar a desejada participação civil e
moral dos nossos concidadãos. Na mesma esteira, o associativismo
apresenta-se como um mecanismo de transmissão e recuperação do
sentido da moral e cívica. Já Tocqueville via no associativismo o
trunfo da democracia americana. Nós diríamos que associativismo é
a peça chave na transmissão e recuperação do sentir moral e cívico.
6º. Finalmente, gostava de chamar a nossa atenção ao desafio da
Responsabilidade social da Igreja. Sem dúvida que a Igreja em
Angola tem sido uma das instituições mais interessadas na
recuperação e resgate dos valores cívicos. Constatamos esse
interesse e empenho nas celebrações, pregações, na criação de
cursos de educação moral e cívica, etc. No entanto, reconhece-se que
a crise também pode afectar as igrejas e urge criamos mecanismos
de recuperação dos nossos valores religiosos fundacionais.

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