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CAPÍTULO 70

Ozonioterapia no tratamento de feridas

Ana Cristina de Carvalho Barreira

O ozônio é uma molécula gasosa natural feita de três Hoje, por consenso, o ozônio já é amplamente
átomos de oxigênio. utilizado pela indústria e na desinfecção da água, mas
A ideia de usar o ozônio na medicina foi desen- o uso na medicina ainda é controverso, pois o hábito
volvida vagarosamente durante o último século e seu de críticas por profissionais que ainda não estudaram
uso foi estimulado devido às suas propriedades desin- e não entenderam a utilidade do ozônio é bem evi-
fetantes e antibióticas. denciado.
Entre os agentes oxidantes, o ozônio é o terceiro O ozônio é instável e necessita ser gerado somen-
mais forte, após o flúor e o persulfato, fato esse que te na hora que for usado, por isso o ozonioterapeuta
explica sua alta reatividade. deve possuir um gerador de ozônio seguro e com boa
Na estratosfera, a aproximadamente 22 km da reprodutibilidade.
superfície terrestre, há uma camada de ozônio que A concentração final do ozônio é inversamente
pode chegar à máxima concentração de 10 ppm, que proporcional ao fluxo de oxigênio, por isso, com altos
equivale a 0,02 micrograma/mL. A manutenção dessa fluxos de oxigênio, teremos baixa concentração e vice-
camada é muito importante, devido à sua capacidade -versa.
de absorver a maior parte dos raios ultravioletas pelas Os critérios para calcular a dose de ozônio são os
suas bandas B e C. Quando há falha nessa absorção, seguintes: volume total da mistura do gás composto
podem ocorrer mutações, como alterações da idade de oxigênio e ozônio; concentração de ozônio, ex-
da pele e carcinogênese, responsáveis pelo aumento pressa em microgramas por mL; pressão barométrica
progressivo de carcinomas e melanomas nos últimos em mm Hg, se diferente do normal. Por questões de
tempos. segurança, devemos evitar a pressão hiperbárica.
Em grandes cidades, o ozônio, misturado com
outros componentes tóxicos e acrescido da ação solar A dose total de ozônio é equivalente ao volu-
e do oxigênio do ar, torna-se tóxico para os pulmões, me de gás em mL, multiplicado pela concen-
em particular a mucosa pulmonar, os olhos, o nariz e tração de ozônio em mcg/mL.
a pele (Devlin et al., 1991; Aris et al., 1993; Broeckaert
et al., 1999). Isso leva ao conceito errado que se tem A ozonioterapia não se baseia em um conceito
de que o ozônio é um gás tóxico, mas no local certo homeopático, onde qualquer traço será ativado, mas
e na dose certa ele possui uma ação medicamentosa sim em uma base farmacológica firme, a de que o
muito boa. ozônio significa e age como uma droga real, e como
O corpo humano, mediante a ativação de leucó- tal deve ser quantitativamente concisa (Bocci et al.,
citos, pode produzir ozônio, que vai ser importante 2005).
em situações normais e patológicas (Babior et al., A ozonização da água bidestilada ou do azeite
2003; Nieva e Wentworth, 2004). é realizada por borbulhamento da mistura gasosa,

721
722 Seção XXVI  Terapias coadjuvantes

quer por cinco minutos ou até dois dias, respecti-


vamente. A concentração de ozônio em água pura SNC Sangue
ozonizado
corresponde a 25% da concentração de ozônio uti- Coração Glândulas

lizada, o que é mais que suficiente para uma boa


desinfecção. Um grama de óleo pode ligar-se a 160 Pulmões Compartimento Ossos
mg de ozônio (Miura et al., 2001). Enquanto a água SANGUÍNEO

ozonizada permanece eficaz por 1–2 dias, o óleo per-


manece estável por 2 anos no refrigerador. Ambos
Malt LOP Músculo
atuam como desinfetantes potentes e melhoram a
cicatrização, estimulam a proliferação celular, tor-
nando-se ferramentas indispensáveis no ​​ tratamento
TGI
da cicatrização de feridas crônicas. A água também Ba

apresenta uma excelente ação de debridamento des-


sas feridas. Urina Rins Fígado
Bile
Então, o que acontece quando o sangue humano Pele

é exposto a doses terapêuticas da mistura de oxigênio


com ozônio? Figura 70-1  Sangue ozonizado e a interação da geração
Ambos os gases se dissolvem na água do plas- de LOP com diversos órgãos. (Do livro Ozônio, Uma Nova
ma, dependendo da sua solubilidade, da pressão Droga Médica, Ed. Springer, 2005, Bocci V.)
parcial e da temperatura. Enquanto o oxigênio pron-
tamente se equilibra, o ozônio não pode se equi-
ENDOTÉLIO: LIBERAÇÃO DE SUPERERITRÓCITOS
librar porque ele reage com biomoléculas (PUFA,
antioxidantes) presentes no plasma. O rendimen- MEDULA ÓSSEA: LIBERAÇÃO DE CÉLULA-MÃE
to da reação entre peróxido de hidrogênio (entre OUTROS ÓRGÃOS: REGULAÇÃO
outras possibilidades, os ROS, espécies reativas de EXCESSIVA DE ENZIMAS ANTIOXIDANTES

oxigênio) e produtos de peroxidação lipídica (LOP) A

leva a um súbito aumento da concentração de pe- REGULA O SISTEMA


ANTIOXIDANTE
róxido de hidrogênio, gerando um gradiente que
acarreta sua rápida transferência para dentro das
células, onde em poucos segundos serão ativados MELHORA O INTERVÉM NA
METABOLISMO LIBERAÇÃO DE
vários processos bioquímicos e simultaneamente DE OXIGÊNIO AUTACOIDES
sofrerá redução para água pelo eficiente sistema OZÔNIO
POR MEIO DE
antioxidante intracelular (GSH, catalase, GSH-Px). SEUS
SUBPRODUTOS
Essa etapa crítica corresponde a um estresse oxidati- MODULA O REGULA O
SISTEMA METABOLISMO
vo controlado, agudo e transitório, necessário para IMUNOLÓGICO

ativação biológica, sem toxicidade concomitante,


AMPLO ESPECTRO
provando que a dose de ozônio é compatível com B GERMICIDA
a capacidade antioxidante do sangue (Mendiratta et
al., 1998 a, b). Figura 70-2  Efeitos do ozônio mediante suas reações
Enquanto as ROS são responsáveis pelos efeitos com moléculas mediadoras. A. Em locais específicos do
organismo. B. Por meio de seus subprodutos. (De Bocci,
biológicos imediatos, os LOPs são importantes por 2006.)
seu efeito tardio, quando o sangue ozonizado retor-
na para a circulação por reinfusão. Os LOPs podem
chegar a qualquer órgão após se ligarem ao receptor,
REGULAÇÃO DO SISTEMA
suscitando a adaptação para repetidos estresses oxi-
ANTIOXIDANTE
dativos agudos. Os LOPs ativarão a regulação das en-
zimas antioxidantes e, provavelmente, a liberação de A otimização dos sistemas oxidantes e antioxidantes
célula-tronco (Bocci et al., 1993 a, b; 1998 a, b) (Fi- do organismo é um dos efeitos biológicos fundamen-
gura 70-1). tais da interação sistêmica da ozonioterapia, que se
Capítulo 70  Ozonioterapia no tratamento de feridas 723

realiza por meio da influência nas membranas celula- gado em enfermidades que intervêm no processo
res e consiste na normalização do balanço dos níveis de estresse oxidativo. Ademais, o mecanismo geral
de produtos da peroxidação lipídica e o sistema de pelo qual atua a ozonioterapia sistêmica é a pro-
defesa antioxidante. dução de um pequeno e controlado (pelas defesas
Como resposta à aplicação do ozônio nos tecidos antioxidantes) estresse oxidativo, que se converte
e órgãos, se produz um aumento compensador sobre em um estímulo oxidante. A repetição sistêmica
toda a atividade das enzimas antioxidantes, como a desse estímulo induz no organismo diversas res-
superóxido dismutase, a catalase e a glutationa pero- postas terapêuticas. A ozonioterapia está, portanto,
xidase, amplamente representadas nos músculos car- estreitamente ligada ao processo biológico conhe-
díacos, fígado, eritrócitos e outros órgãos. cido como estresse oxidativo (Martinez-Sanchez e
Os resultados de vários experimentos clínicos Re, 2010).
e pré-clínicos em diferentes patologias e tecidos O estresse oxidativo não pode ser definido em
indicam que, como resposta à administração das termos universais, porque é um processo biológico
primeiras doses de ozônio, por diversos modos de complexo, que necessita ser avaliado por diferentes
aplicação, se observam aumentos não significativos pontos. Por esse motivo, se aceita, atualmente, de um
dos processos oxidativos, determinados pelo méto- modo universal, que a valorização do estado de estres-
do de quimiluminescência dos tecidos biológicos se oxidativo requer uma combinação de métodos, que
analisados e com as análises das concentrações de permitirá estabelecer o tipo de uma forma personali-
produtos de peroxidação lipídica: primários (DC, zada, já que muitas patologias podem estar associadas
TC: conjugados dienólicos e trienólicos), secundá- a diversos desequilíbrios oxidativos, o que obriga ao
rios (MDA: malonildialdeído) e finais (BSH: bases uso de vários índices de evolução.
de Schiff). Não obstante a ativação posterior dos sis- Os principais produtos que se originam na ozo-
temas antioxidantes enzimáticos e não enzimáticos nização de lipídios e proteínas são: ozonídeos de
do organismo, há a restauração da atividade da pero- Criegee, hidróxi-hidroperóxidos, peróxido de hidro-
xidação lipídica e, ao final do tratamento, se observa gênio e aldeídos.
a normalização de todos os componentes do sistema Para se ter uma ideia das defesas antioxidantes
redox. enzimáticas, temos que achar os produtos da ozoni-
A restauração do sistema antioxidante é um pro- zação.
cesso complexo e requer a ativação das reações meta- Os ozonídeos de Criegee são catabolizados pela
bólicas, que permite o acúmulo de NADH e NADPH enzima GST (glutationa S transferase), que usa a glu-
do ciclo de Krebs e da via da pentose fosfato, que são tationa (GSH) como agente redutor para gerar aldeí-
doadores de prótons para a redução dos componentes dos e glutationa oxidada (GSSH). Os aldeídos são
oxidativos do sistema antioxidante (glutationa, vita- metabolizados pela enzima aldeído desidrogenase
mina E, acido ascórbico e outros). (ALDH), utilizando como cofator o dinucleotídeo
A possível dose de ozônio se determina pela oxidado da nicotinamida adenina (D+).
potência do sistema de defesa antioxidante do or- A ozonioterapia leva ao estímulo significativo da
ganismo. A escola russa utiliza a quimiluminescên- enzima GSH.
cia como critério de seguridade para a utilização da A evolução do estado de estresse oxidativo antes,
ozonioterapia (Kontorchikova, 1992). A aplicação de durante e depois da ozonioterapia facilita a perso-
antioxidantes exógenos, com o cálculo preliminar da nalização da terapia e assegura um resultado ótimo,
dose administrada, somente é necessária para concen- por isso é bom um controle bioquímico do estresse
trações elevadas de ozônio e também na presença de oxidativo.
indicadores iniciais muito baixos do sistema de defesa
antioxidante nos pacientes.
A ozonioterapia está muito vinculada ao con-
MELHORA DO METABOLISMO DO
ceito de equilíbrio oxidação-redução (ambiente
redox) devido ao fato de, como parte de seu meca-
OXIGÊNIO
nismo de ação, gerar um efeito antioxidante, sendo O uso do ozônio levando a uma reação de peroxida-
paradoxalmente um tratamento oxidativo, empre- ção sobre os fosfolipídios de membrana determinará
724 Seção XXVI  Terapias coadjuvantes

Tabela 70-1  Alteração da esfericidade da hemácia pós-ozonioterapia em alterações patológicas


Pacientes com inflamação Pacientes com hipóxia
Antes de O3 Depois de O3 Antes de O3 Depois de O3
13% 81% 17% 79%
75% 17% 69% 20%
Do trabalho de Barjotkina TM et al. National Polytechnic University, Medical Center. Ucrânia, Cracóvia.

um aumento da carga elétrica negativa na membrana 78 pessoas (Barjotkina TM et al., National Polytech-
eritrocitária, evitando um empilhamento ou roleaux, o nic University, Medical Center, Ucrânia, Cracóvia),
que torna os eritrócitos mais deformáveis, aumentan- foi mostrado que os eritrócitos discoides bicôncavos
do assim sua flexibilidade (Tabela 70-1). eram muito afetados com a inflamação e hipóxia
O 2,3-DPG exerce um papel importante na fun- (13% e 17%) e, após o uso do ozônio, foi observada
cionalidade dos eritrócitos, pois a afinidade da he- a melhora da sua população, havendo maior entrega
moglobina pelo O2 depende do 2,3-DPG. Este, de de oxigênio (81% e 79%), enquanto os eritrócitos
fato, adentra o centro da estrutura quaternária da planos (75% e 69%) estavam aumentados nas pato-
hemoglobina, liberando quatro moléculas de O2. O logias e, após o ozônio, voltavam a ter seu formato
aumento da velocidade da glicólise no eritrócito é mais fisiológico, que é discoide bicôncavo (Figuras
acompanhado de um significativo aumento no inter- 70-3 e 70-4).
câmbio de íons sódio e potássio, os quais são respon-
sáveis por manter o potencial elétrico de membrana.
A normalização da troca de íons pelo ozônio e seus
produtos favorece a restauração do potencial ao nor-
mal. As doenças arteriais oclusivas estão relaciona-
das com a perda do potencial normal da membrana.
Foi observado, também, que, de acordo com a forma
do eritrócito (discoide bicôncavo tem maior coefi-
ciente do que o eritrócito plano e esferoide), que de-
termina seu coeficiente de esfericidade, observou-se
que, quanto maior esse coeficiente, maior era o grau
A
de hipóxia. Em um trabalho para determinar o coe-
ficiente de esfericidade, um estudo com amostra de

Valores normais
Área de superfície do eritrócito, %

110
Leve grau de hipóxia
100 Moderado grau de hipóxia

90

80

70
B
60

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 Figura 70-4  A. Microscopia eletrônica do sangue que
mostra agregação dos eritrócitos em “pilha de moedas”. B. A
Coeficiente de esfericidade do eritrócito
mesma amostra depois do tratamento com ozônio. (Do livro
Figura 70-3  (Do trabalho de Barjotkina TM et al. National Ozônio, Aspectos Básicos e Aplicações Clínicas, Menendez S.
Polytechnic University, Medical Center. Ucrânia, Cracóvia.) et al., 2008.)
Capítulo 70  Ozonioterapia no tratamento de feridas 725

Durante I/R hepáticas, a ativação das células de


MODULAÇÃO DO SISTEMA Kupffer torna-se um eixo importante da lesão he-
IMUNOLÓGICO pática. Essas células ativadas secretam uma grande
O efeito da regulação imunológica por parte do ozô- quantidade de mediadores pró-inflamatórios, como
nio foi demonstrado pela primeira vez por Winkler o TNF-α e a IL-1, que ampliam de forma generali-
zada a resposta inflamatória, afetando órgãos dis-
(1989) e Bocci (1997). Em longos anos de estudo,
tantes, como o pulmão. O TNF-α se produz à custa
foi demonstrada sua propriedade de induzir a pro-
da ativação do fator de transcrição nuclear NFk-b
dução de citocinas. Os efeitos são dependentes da
(p65) e, ao mesmo tempo, essa citocina é a respon-
dose de ozônio e, em concentrações terapêuticas, há
sável pela ativação desse fator e pelos processos in-
um acúmulo nas membranas das células fagocíticas
flamatórios crônicos. A ativação do NFk-b conduz
de monócitos e linfócitos T, os quais, induzidos, li-
à expressão de diferentes genes, que codificam um
beram pequenas quantidades de praticamente todas
amplo espectro de enzimas e proteínas, entre elas a
as citocinas de forma endógena, particularmente o
óxido nítrico sintetase (ONSi), a SOD dependente
interferon gama. As citocinas que são peptídios biolo-
de manganês e a proteína de choque térmico HSP-70,
gicamente ativos possibilitam a ativação de sistemas
que participa tanto na citoproteção como na morte
inespecíficos (aumento da temperatura corporal, pro-
celular. Manipulações farmacológicas têm demons-
dução hepática de proteínas da fase aguda) e ativação
trado que a inibição de TNF-α e IL-1 durante a re-
da imunidade celular. Há também um aumento da
perfusão proporciona proteção hepática. No estu-
liberação de antagonistas das citocinas, como a IL-10
do mencionado anteriormente, se pode comprovar
e TGF-b1, capazes de suprimir a citotoxicidade autor-
como o tratamento prévio com ozônio pode mo-
reativa, portanto a indução de citocinas não ultrapas-
dular a expressão de NFk-b e TNF-α, protegendo as
sa níveis maiores do que o necessário, uma vez que se
células hepáticas contra a lesão por I/R (Ajamieh et
ativem os contrarreguladores (Schulz, 1982; De Ville,
al., 2004, 2005).
1986; Viebahn, 1985).
No soro de ratos tratados com ozônio, tanto por
Investigações in vitro têm demonstrado que con- via intraperitoneal como retal, se obsevou um efeito
centrações de ozônio entre 10 e 78 mg/mL de sangue inibidor significativo na liberação de TNF-α. O efei-
produzem a liberação progressiva de citocinas, capaz to inibidor do ozônio sobre o TNF-α pode ser uma
de estimular certo número de células do sistema imu- consequência da estimulação dos sistemas de defesa
ne, as quais podem liberar uma pequena quantidade antioxidantes induzidos pelo ozônio. Sabe-se que os
de citocinas imunoestimulantes e imunossupressoras radicais livres intervêm intensamente na indução dos
que mantêm o sistema imune entre ativação e supres- processos inflamatórios e na patogenia do choque en-
são (ação imunomoduladora), como interferon m e dotóxico, assim como no efeito dos agentes antioxi-
b, fator de necrose tumoral (TNF), interleucinas (IL) dantes e na inibição do NFk-b.
1b, 2, 4, 6, 8, 10, fator transformador de crescimento Em um estudo realizado com 59 crianças com
(TGF-b1), fator estimulador de colônia de granulóci- imunodeficiência humoral, foi utilizada uma imu-
tos e macrófagos (GM-CSF). Desse modo, o sistema noestimulação das imunoglobulinas IgA, IgM e IgG
imunitário se mantém em estado de alerta (Bocci, até a concentração normal, com três ciclos de ozônio
2006; Menendez et al., 2008). por via retal ao longo de um ano .
Em estudos pré-clínicos realizados em Cuba com Também um estudo com 25 pacientes com gra-
o emprego do modelo de I/R (isquemia/reperfusão) ves queimaduras em estado crítico, além do trata-
no fígado sobre o fator de transcrição nuclear NFk-b mento habitual, demonstrou a administração do
(p65), o TNF-α e a proteína de choque térmico HSP-70, ozônio por via venosa. Esses pacientes evidencia-
se detectou uma intensa expressão da subunidade ram, após receberem 10 sessões, a normalização de
p65, TNF-a e a HSP-70 no grupo com I/R. O trata- diferentes indicadores imunológicos. O paciente
mento com ozônio (pré-tratamento e continuação) queimado apresenta, entre suas graves complica-
levou a uma grande modulação da expressão dessas ções, uma importante imunodepressão, assim como
biomoléculas reguladoras da função celular no grupo infecções que frequentemente levam à morte (Figu-
tratado com I/R. ra 70-5).
726 Seção XXVI  Terapias coadjuvantes

Aplicação clínica do ozônio

Micobactérias INDUTORES HIV


HSP Alérgenos

Th0

Th1 Th2

IL-1, IL-2, IL-12 IL-4, IL-5, IL-6


IL-15, IL-18 IL-10, IL-13
IFN-, TNF- TGF- Figura 70-5  Esquema do
Imunidade mediada por célula Imunidade humoral equilíbrio imunológico entre
INIBIÇÃO Th1 e Th2 com liberação e
imunossupressão das citocinas.
Doenças autoimunes, Infecção pelo HIV, (Do livro Ozônio, Uma Nova
hanseníase, gestação, doenças
tuberculose, diabetes alérgicas, LES, Droga Médica. Ed. Springer,
esclerodermia 2005, Bocci.)

É importante assinalar que as moléculas do ozônio


AMPLO ESPECTRO BACTERICIDA, não só interagem com os componentes da superfície
VIRICIDA E FUNGICIDA DO OZÔNIO da membrana, mas também, ao terem variada sua
Entre os efeitos biológicos do ozônio, o primeiro a ser permeabilidade, produzem a destruição das organelas
descoberto foi o efeito bactericida, na I Guerra Mun- intracelulares em 10–20 minutos.
dial. Essa ação direta do ozônio se manifesta de forma Segundo os dados obtidos a partir de estudos
geral quando aplicado por uma via externa, seguindo microbiológicos in vitro, o ozônio é capaz de destruir
as diversas modalidades terapêuticas, principalmente todos os tipos conhecidos de bactérias Gram-positivas
em concentrações elevadas. Com relação a muitos an- e Gram-negativas (Carpendale e Griffis, 1993). Segun-
tissépticos conhecidos, o ozônio não irrita nem des- do os dados proporcionados por diversos autores, em
trói os tecidos protetores das pessoas, porque existe concentrações que oscilam entre 1 µg/mL e 5 µg/mL, o
um potente sistema antioxidante. ozônio destruiu 99,9% de E. coli, Enterococcus faecalis,
A primeira ação do ozônio é na membrana plas- Mycobacterium tuberculosum, Cryptosporidium parvum,
mática das células. As modificações induzidas pelo Varavium e outros, em um intervalo de 4–20 minutos.
ozônio no conteúdo intracelular (oxidação de pro- A experimentação sobre as propriedades bacteri-
teínas citoplasmáticas e alteração das funções das or- cidas in vitro da água destilada ozonizada com uma
ganelas) se produzem provavelmente pela ação dos concentração do ozônio de 4 µg/mL tem demonstra-
oxidantes secundários, produtos da ozonólise dos li- do que se produz uma inibição total do crescimento
pídios das membranas. das colônias de estafilococos, bacilos intestinais, Pseu-
A causa direta da destruição das bactérias pela domonas aeruginosa, Proteus e Klebsiella.
ação do ozônio é a deterioração das membranas plas- Além da expressão do efeito bactericida do ozô-
máticas, fazendo as células bacterianas perderem sua nio na microbiota Gram-positiva das feridas supuran-
capacidade de viver e/ou se reproduzir. Nas leveduras, tes e das úlceras tróficas, unido à diminuição dinâ-
a causa fundamental é a alteração da homeostase no mica da resistência dos micro-organismos diante do
interior da célula, como consequência da alteração da ozônio, se observa, também, um aumento da sensibi-
propriedade de barreira das membranas plasmáticas. lidade aos antibióticos.
Capítulo 70  Ozonioterapia no tratamento de feridas 727

Segundo os dados de Bolton (1982), os vírus en- aumentando a possibilidade de aparecimento de sep-
capsulados são mais sensíveis à ação do ozônio que os ses. Essa investigação demonstrou que o tratamento
não encapsulados. mediante a insuflação retal de ozônio produz dimi-
O efeito bactericida do azeite vegetal ozonizado nuição da mortalidade, aumento da atividade do teci-
se deve à presença de ozonídeos e hidroxiperóxidos, do linfoide esplênico e menor lesão hepática e renal,
que se formam nas reações do ozônio com as duplas em comparação com os resultados obtidos com um
pontes de lipídios. Supõe-se que o ozonídeo do óleo tratamento com soro fisiológico (Figura 70-6).
se acopla no receptor para os micro-organismos e o
bloqueia.
A ação germicida de amplo espectro do ozônio
permite que a ozonioterapia seja um valioso tratamen-
REGULAÇÃO DO METABOLISMO
to para a limpeza e a desinfecção das feridas infectadas, Diversas observações pré-clínicas e clínicas realizadas
assim como nos processos sépticos locais. Essa forma têm permitido observar a ação reguladora do ozônio
de aplicação pode se combinar com outros procedi- sobre indicadores metabólicos, tendo-se detectado,
mentos também derivados das aplicações do gás (ozo- em geral, uma modulação dos indicadores (glicose,
nioterapia sistêmica, água ozonizada, azeites vegetais creatinina, hemoglobina, hematócrito, proteínas to-
ozonizados), sem o perigo de resistência dos micro- tais, lactato desidrogenase, colesterol, triglicerídios,
-organismos nem de toxicidade ou efeitos colaterais. lipoproteínas, enzimas hepáticas, bilirrubinas, ácido
As queimaduras constituem um tema de grande úrico, acido láctico, cálcio, entre outros), inicialmente
interesse, por sua intensa relação com sepses, síndro- alterados para valores normais.
mes de inflamação sistêmica generalizada e disfunção Não existe uma explicação clara para os meca-
orgânica múltipla, choque e traumatismos, entre ou- nismos de ação, mas acredita-se que provavelmente o
tros. Os resultados de um estudo experimental sobre equilíbrio do sistema redox leve à estabilização desses
queimaduras em ratos, com o fim de constatar a efe- parâmetros metabólicos (León, 1998; Al Dalain S. M.
tividade do tratamento com ozônio na evolução da 2005; Hernandez, 1995; Baeuerle, 1994; Borrego, 2004;
lesão multiorgânica, demonstraram que, nas queima- Gonzaléz, 2004; Martinéz, 2005; Al Dalain S. M. 2005;
duras, um importante edema com isquemia tissular Candelário, 2001; Peralta, 2000; Hernandez, 2005).
local é produzido. A falta de fluxo sanguíneo compli- Em um estudo com 22 pacientes com cardiopa-
ca a necrose e diminui a velocidade de cicatrização, tia isquêmica, se observou uma diminuição estatisti-

Figura 70-6  Inativação de bactérias


por baixas concentrações de ozônio.
728 Seção XXVI  Terapias coadjuvantes

camente significativa do colesterol total e do LDL no No presente estudo, foi demonstrado que a ozo-
plasma no quinto dia de tratamento (diminuíram nioterapia aumentou significativamente a PON as-
5,5% e 15,4%, respectivamente) e no 15o dia (dimi- sociada ao HDL (p <0,05), em comparação com os
nuição de 9,7% e 19,8%, respectivamente) com a ozo- pacientes tratados somente com oxigênio. Enquanto
nioterapia venosa a uma concentração de 50 mg/L com isso, o MDA e o LDL oxidado foram significativamen-
200 mL de gás, sem modificação do HDL colesterol e te inferiores (p <0,05) nos pacientes ozonizados do
dos triglicerídios. Houve uma diminuição maior nos que nos de controle (insuflados apenas com oxigê-
pacientes que receberam uma quantidade maior de nio) (Livan Delgado-Roche, Enrique Verdial, Hern. N
sessões de ozonioterapia. Assam, 2013) (Figuras 70-7 e 70-8).
Em outro estudo realizado com pacientes dia- Observamos também um efeito desintoxicante
béticos do tipo 2, com pé diabético neuroinfeccioso, do ozônio pela otimização do sistema microssômico
um grupo foi tratado com ozônio por via retal e local dos hepatócitos e pelo reforço da filtração hepática. O
(na lesão) e outro com antibiótico (sistêmico e local). ozônio também altera o metabolismo dos hepatóci-
Ambos tinham concentrações elevadas de glicose no tos. Durante o tratamento, observou-se que, nas célu-
sangue antes do início do estudo. Depois do fim de las hepáticas, há acúmulo de enzimas do sistema do
ambos os tratamentos, observou-se que, no grupo citocromo P450 e catalase, o que aumenta o número
tratado com ozônio, a concentração de glicose dimi- de moléculas de glicogênio e dos antioxidantes mais
nuiu significativamente até os valores de referência, importantes, que por sua vez aumentam a produção
enquanto no grupo tratado apenas com antibióticos de ATP. A reorganização do metabolismo se baseia
não se observou diminuição desses níveis (Martinez- também nas trocas morfofuncionais dos hepatócitos,
-Sanchez et al., 2005). na hiperplasia pelos peróxidos, na normalização das
Um grupo de crianças com capacidade auditiva estruturas dos elementos do retículo endoplasmático
diminuída e valores de T3 e T4 elevados com corti- liso e na diminuição do nível de mudanças distrófi-
sol normal recebeu aplicações de 20 sessões de ozô- cas. Graças à ação recíproca desses mecanismos, mui-
nio retal (concentrações de 40 mcg e volume de 50 e tas funções hepáticas, entre elas a antitóxica, melho-
150 mL uma vez ao dia). Ao término do tratamento, ram (Peretiagin, 1991; Boiarinov, 1999).
constatou-se diminuição dos níveis de T3 e T4 para Nos rins, o ozônio intensifica os processos de
valores normais, sem alteração nos níveis de cortisol utilização da glicose, da glicose 6-fosfato, da lactato
(Menendez et al., 2008). e do piruvato, mantendo uma atividade elevada de
A qualidade e a funcionalidade do HDL, mais gliconeogênese (Zelenov, 1998). Tem-se observado
que a quantidade, parecem ser preditores importan- manutenção do ATP e aumento da resistência das
tes das propriedades antiaterogênicas dessas partí- membranas nas células renais. Depois do tratamento
culas. com ozonioterapia, os pesquisadores têm observado
Dados recentes sugerem que a qualidade do HDL
e suas funções também podem ser significativamen- 2,0
*
Atividade da PON1 lactonase

te reduzidas pela aterosclerose e por outras doenças


inflamatórias. É provável que a função antioxidante 1,5
do HDL dependa da sua porção de apoproteína e/ou
(U/mgPr)

da proteína paraoxonase (PON) associada ao HDL, 1,0


que é uma enzima dependente de cálcio, capaz de hi-
drolisar os ácidos graxos de fosfolipídios oxidados e 0,5
reduzir o LDL oxidado, inibindo a sua resposta pró-
-inflamatória. A baixa atividade de PON1 está associa- 0,0
da a aumento da risco de eventos cardiovasculares e
doenças cardiovasculares. CAD + oxigênio
Estratégias terapêuticas destinadas a preservar ou CAD + ozônio/oxigênio
aumentar a PON associada ao HDL devem ser iden- Figura 70-7  Efeito da ozonioterapia sobre a atividade
tificadas como abordagens para o tratamento da ate- da PON1 lactonase. O asterisco representa as diferenças
rosclerose. estatísticas (p <0,05) entre grupos.
Capítulo 70  Ozonioterapia no tratamento de feridas 729

Suscetibilidade do LDL à oxidação

Suscetibilidade do LDL à oxidação


15 20
(nM de MDA/mg Pr)

(nM de MDA/mg Pr)


10
15 *
* 10

5
5

0 0

CAD + oxigênio
CAD + ozônio/oxigênio

Figura 70-8  Efeito da ozonioterapia sobre o LDL oxidado e a concentração de malondialdeído (MDA), determinada na fração
LDL. Os asteriscos representam as diferenças estatísticas significativas (p <0,05) entre grupos.

uma diminuição dos valores das moléculas de massa cosanoides, como algumas prostaglandinas da série E
média, que caracterizam a toxicidade no organismo e prostaciclinas. Alguns estudos mostraram aumento
em diferentes estados de gravidade. de tromboxano B2, dependente da dose de ozônio.
Estudo preliminar em Cuba (Menendez S, 2004) com
pacientes submetidos a insuflação retal de ozônio e
portadores de diversas doenças constatou que as con-
INTERVENÇÃO NA LIBERAÇÃO DE
centrações de TxB2 tenderam a diminuir e a das pros-
AUTACOIDES taciclinas a aumentar.
A palavra autacoide deriva do grego autos (próprio) Um trabalho realizado em pacientes com quei-
e do vocábulo akos (agente medicinal ou remédio) e maduras (estágio inicial) mediu, por técnicas crista-
se considera como tal um grupo de substâncias com lográficas, as concentrações de prostaglandinas E1
diversas ações fisiológicas e farmacológicas, as quais no grupo tratado com ozonioterapia venosa, tendo-
participam em muitos eventos fisiológicos e patoló- -se observado que os resultados foram os mesmos do
gicos. Atuam em baixas concentrações e, em muitos grupo tratado com vazaprostano (um análogo sinté-
casos, mediante o monofosfato cíclico de adenosina tico da prostaglandina E1) e não se evidenciou a pre-
(AMPc) como segundo mensageiro; assim, seu tipo de sença de prostaglandina E1 no grupo não tratado com
ação parece hormonal, embora, ao contrário dos hor- ozônio nem vazaprostano.
mônios, eles não sejam transportados pela corrente Foi realizado um estudo em pacientes com pé
sanguínea para o seu local de ação, ou seja, atuam no diabético neuroinfeccioso e isquêmico submetidos
mesmo ambiente em que são sintetizados. Geralmen- a ozonioterapia retal e local em bolsa, nos quais se
te têm uma vida média muito curta. pode observar que a agregação plaquetária ao final de
Das famílias diferentes de autacoides derivadas 20 tratamentos tinha diminuído significativamente.
dos fosfolipídios de membranas celulares, têm sido O tratamento das feridas ainda é um desafio.
identificados os eicosanoides formados a partir de O número de pacientes que se encontram nessa
certos ácidos graxos poli-insaturados (principalmente condição vem crescendo, devido ao aumento da ex-
o ácido araquidônico), incluindo as prostaglandinas, pectativa de vida.
prostaciclinas, tromboxano A, leucotrienos e outros A amputação de membros inferiores constitui
fosfolipídios modificados, representados pelo fator de uma das mais devastadoras complicações do diabetes
ativação das plaquetas. Esses compostos têm grande melito (DM), associada a significativa morbidade, in-
importância biológica e têm sido detectados em quase capacidade e mortalidade.
todos os tecidos e fluidos do corpo. As amputações representam um relevante impac-
Bocci referenciou de forma hipotética que a ozo- to socioeconômico, com perda da capacidade labo-
nização do sangue pode produzir a liberação de ei- rativa, de socialização e, consequentemente, da qua-
730 Seção XXVI  Terapias coadjuvantes

lidade de vida. Essa complicação protagoniza 85% A isquemia crônica dos membros é frequente-
das amputações não traumáticas, além de contribuir mente acompanhada por uma úlcera que nunca irá
desfavoravelmente para internações prolongadas e re- cicatrizar, a não ser que haja uma normalização do
correntes. oxigênio e estímulo para a regeneração do tecido.
Em estudos prospectivos e retrospectivos sobre pé Nessa doença, o ozônio libera seus mensageiros e se
diabético, encontramos dados alarmantes, tais como: comporta como uma droga muito boa quando o ozo-
nioterapeuta combina ozônio sistêmico seja por via
• O diabetes melito (DM) ocupava em 2000 o nono venosa ou retal e aplicação tópica de água ozonizada
lugar em casos de internação e o 12o lugar em gas- e óleo ozonizado.
tos anuais por internações (R$ 2.782.013,98) no A indução local e a liberação de fatores de cres-
Estado de São Paulo. cimento em um tecido estéril e revascularizado têm
• Atualmente, existem 360 milhões de diabéticos no uma importância fundamental para o processo de
mundo e 15% têm úlcera de pé (56 milhões). cicatrização (Clavo et al., 2004). O paciente deve
• Após 20 anos de doença, 50% dos pacientes dia- continuar com a medicação convencional, pois a
béticos desenvolvem neuropatia diabética. Dos pa- combinação do tratamento convencional e a ozo-
cientes portadores de DM, 30% desenvolvem úlce- nioterapia é potencialmente capaz de corrigir o es-
ras nos pés, sendo que 80% são de causa neuropáti- tresse oxidativo, principalmente nas doenças vascu-
ca. Metade das amputações de causa não traumáti- lares, e restaurar a saúde em pacientes seriamente
ca nos Estados Unidos deve-se às complicações em comprometidos.
pés de pacientes diabéticos. Existem evidências que Quando avaliamos a ferida, temos que nos posi-
no Brasil este índice pode ser ainda maior. cionar nas três fases da cicatrização (Figura 70-9).

Uma das complicações mais frequentes do diabe- • Fase 1 − prevalência da inflamação com presença
tes melito é a síndrome do pé diabético, cuja variante de neutrófilos, macrófagos, mastócitos, plaquetas,
mais grave é a necrótica-supurante. A causa da angio- bactérias e toxinas. A aplicação de ozônio em con-
patia das extremidades inferiores a princípio aparece centrações altas inibe a infecção e promove a se-
como isquemia dos tecidos e depois, com a continua- gunda fase.
ção, manifesta-se com a destruição desses e depois a • Fase 2 − durante esta fase, a aplicação constante de
necrose supurativa. ozônio em concentrações baixas previne a superin-
Na zona afetada, aparecem produtos de decom- fecção e estimula a proliferação celular, a síntese
posição das células, micro-organismos e toxinas de de fibronectina, colágeno III/I, ácido hialurônico e
origem microbiana. sulfato de condroitina. Macrófagos estão presentes,

80
O3 concentração

60
(g/mL)

40

20

0
Fases

I II III

Figura 70.9  As três fases de cicatrização


das feridas. (Do livro Ozônio, Uma Nova
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 Droga Médica, Ed. Springer, ed. 2005,
Dias Bocci V.)
Capítulo 70  Ozonioterapia no tratamento de feridas 731

mas há uma proliferação ativa de fibroblastos e ce- nhecer que tempo, paciência e complacência são bons
ratinócitos. aliados (Bocci, 2005).
• Fase III − completa reconstrução da ferida, mas, se A ozonioterapia é extremamente válida, princi-
houver excessiva liberação de TGF-b1, pode estimu- palmente nas doenças vasculares isquêmicas (causa-
lar excessiva fibrogênese e levar à formação de que- das por aterosclerose, diabetes, uremia, tabagismo,
loide. etc.) e para cicatrização de feridas crônicas, escaras,
úlceras crônicas (pé diabético), feridas por queima-
O diagrama na figura mostra a concentração de duras, fístulas intratáveis e infecções de pele, cavidade
ozônio em 80 µcg/mL (como gás) usada somente na oral, vagina, reto. O mais interessante é que a maior
primeira fase, na qual há pus, bactérias e tecido ne- quantidade de pessoas que tem essas doenças vive em
crótico. A ferida deve ser limpa e exposta ao gás por países onde a ozonioterapia ainda não está liberada.
somente 10–15 minutos. Água bidestilada ozoniza- As vias de administração da ozonioterapia no tra-
da também com 80 µcg/mL tem um efeito real de 20 tamento das feridas são:
µcg/mL de ozônio; assim como o óleo ozonizado, são
importantes na limpeza e no curativo dessa ferida ao • Venosa (a principal).
longo dos outros dias. Traumas acidentais, feridas e • Intramuscular (menor).
todos os tipos de infecções cutâneas crônicas podem • Retal.
ser proficientemente tratados com água ozonizada • Vaginal.
e óleo ozonizado que, em comparação com cremes • Água ozonizada.
convencionais, merecem grande atenção. Após a re- • Hidro-ozonioterapia.
gressão da infecção, devemos ir baixando gradativa- • Ozônio bag.
mente a concentração de ozônio para evitar toxicida- • Óleo ozonizado.
de, ativar o metabolismo local, a proliferação celular
e a síntese de citosinas (PDGF, bFGF, TGF-b1, EGF, A ozonioterapia tópica inclui:
KGF), promover a síntese da matriz intercelular e o • Aplicação de óleos vegetais ozonizados.
processo de cicatrização progressivamente para evi- • Aplicação direta da mistura gasosa de oxigênio
tar sua inibição (Beck et al., 1993; Pierce et al., 1995; e ozônio nas lesões (por meio de um saco plástico –
Sporn e Roberts, 1993; Schimid P. et al., 1993; Slavin, ozônio bag).
1996; Martin, 1997). • Aplicação de água ozonizada.
Há boas razões para justificar a aplicação de • Hidro-ozonioterapia.
ozonioterapia. Para a remoção de material puru-
lento, a rápida lavagem com água ozonizada pode A atividade antisséptica dos óleos ozonizados foi
ser útil, particularmente se combinada com ozônio demonstrada inicialmente por Cronhein (1947), po-
venoso ou retal, durante a fase aguda, 2–4 vezes/se- rém outros efeitos vêm sendo atribuídos a eles, tais
mana, com concentrações baixas, pois a associação como:
das técnicas leva a um maior sinergismo na cura das
feridas. • ativadores da microcirculação local;
O ozônio venoso ou retal aumenta a perfusão • aceleradores do metabolismo do oxigênio celular;
tecidual, a oxigenação e o metabolismo, mas não • estimuladores dos sistemas enzimáticos de defesa
aumenta a produção de citocinas pró-inflamatórias, antioxidantes;
as quais são sempre superinduzidas pelas toxinas • estimuladores da granulação e da epitelização.
das bactérias (Miroshin e Kontorshikova, 1995). Ele
também não pode esterilizar o sangue. Embora mui- A hidro-ozonioterapia consiste em um peeling
tos patógenos suspensos na água sejam sensíveis ao suave, com debridamento não cruento e gradativo,
ozônio, eles se tornam bastante resistentes no plas- que retira o odor fétido das feridas abertas e do pé
ma, devido à proteção exercida pelos antioxidantes diabético, alivia a dor do local e mantém a melhora a
endógenos. longo prazo, diminui o edema extravascular, promove
O tratamento tópico é fácil e a observação diária redifusão capilar e higienização ampliadas, além de
da ferida é um bom guia, entretanto isso ajuda a reco- oxigenoterapia por difusão.
732 Seção XXVI  Terapias coadjuvantes

Figura 70-10  Aplicações típicas de óleos ozonizados.


(De Menendez et al., 2005.)

Figura 70-11  Ozônio bag.

Figura 70-12  Hidro-ozonioterapia.


Capítulo 70  Ozonioterapia no tratamento de feridas 733

CASOS CLÍNICOS
Caso clínico 1: Ferimento infectado – parte superior do glúteo e flanco
(P. S. Cirúrgico HCFMUSP, arquivo pessoal do Dr. Glacus Brito)

Figura 70-13.

A cultura da ferida revelou Pseudomonas aeruginosa, Após 2 dias de tratamento com O3, o paciente
Acinetobacter hominis, Bacteroides fragilis e E. coli multir- estava sem febre, após 6 dias o antibiótico foi suspen-
resistentes, resultando em um diagnóstico de “ferimen- so e, após 2 meses sem antibioticoterapia, ele teve alta
to incompatível com a vida”, de acordo com o Dr. Cor- hospitalar.
nelius Mitteldorf, cirurgião de trauma do HCFMUSP.

Caso clínico 2: Síndrome de Fournier (arquivo pessoal do Dr. Glacus Brito)

Figura 70-14.

A associação da terapia convencional com ozo- (fim do odor fétido da secreção purulenta) e diminui-
nioterapia tópica resultou em rápida formação de ção rápida e progressiva da área lesada. A cicatrização
rede neovascular, interrupção do processo infeccioso estava completa após 4 meses.
734 Seção XXVI  Terapias coadjuvantes

Caso clínico 3: Úlcera venosa (arquivo pessoal [de quem?])

A B

Figura 70-15 A. Úlcera venosa. B. Após 18 sessões de hidro-ozonioterapia + bag.

Paciente com úlcera venosa há 8 anos, de odor zação quase completa após 18 sessões de hidro-ozo-
muito fétido, secreção intensa chegando a fazer uma nioterapia e bag.
“poça de secreção” ao ficar parada com o pé. Cicatri-

Caso clínico 4: Pé diabético (arquivo pessoal do Dr. Gilberto Soutello)

A B

Figura 70-16  A. Antes do tratamento. B. Após 20 sessões de ozonioterapia em bolsa (bag).

CONCLUSÃO • reabilitação precoce do profissional, com diminui-


ção do tempo de recuperação;
A ozonioterapia pode promover, no tratamento de fe-
• diminuição da morbidade de diversas patologias,
ridas:
com ganho na qualidade de vida;
• redução do custo do tratamento de várias patolo- • redução de até 80% da taxa de amputação de mem-
gias crônicas; bros de pacientes com gangrena diabética.
Capítulo 70  Ozonioterapia no tratamento de feridas 735

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