CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ESTUDO PRELIMINAR DOS

EFEITOS SISTEMÁTICOS QUE AFETAM AS MEDIÇÕES DE GRANDEZAS ELÉTRICAS:

INTERFERÊNCIA ELETROMAGNÉTICA E ATERRAMENTO
Adilson de Oliveira Prado1 , Cristiano Pinto Pereira2, Cristiano Torres do Amaral3, Leonardo Araújo da Silva4

1
Polícia Militar de Minas Gerais – Assessoria de Telecomunicações, Belo Horizonte, Brasil, adilson.prado@pmmg.mg.gov.br.
2
Tele Norte Leste Participações (Grupo Telemar/Oi), Brasil, cristiano.pereira@oi.net.br.
3
Academia de Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, cristiano.amaral@pmmg.mg.gov.br.
4
Secretaria de Estado de Defesa Social – Diretoria de Ensino e Pesquisa (Telecentro), Brasil, telecentro@defesasocial@mg.gov.br.

Resumo: O presente artigo discute a contribuição das
tecnologias educacionais através da internet no ensino e
aprendizagem a distância dos efeitos sistemáticos
preliminares que afetam as medições de grandezas elétricas.
No texto são abordadas as potencialidades deste método de
ensino e aprendizagem para difusão de conteúdos
elementares nos momentos que antecedem os ensaios
práticos de laboratório, ou mesmo para a educação
continuada de profissionais. Para tanto, os autores discorrem
acerca da influência da Interferência Eletromagnética (EMI)
na prática de ensino que envolva medição elétrica, e
apresentam sugestões para novas abordagens por meio do
ensino a distância.
Palavras-chave: Educação a distância,
interferência eletromagnética e aterramento.
1. INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios na prática de ensino
profissionalizante está relacionada com a integração dos
conceitos teóricos, discutidos em sala de aula, e os ensaios
práticos em laboratório. Geralmente, o docente discute os
conceitos com seus alunos em classe, para depois,
reproduzir e comprovar tais conteúdos em um laboratório.
Essa dinâmica ocorre em todos os níveis do ensino, desde o
médio tradicional, médio profissionalizante até o superior.
Nesse contexto, o professor adota a premissa que
existem conceitos elementares já consolidados pelos alunos
e a produção do conhecimento poderá fluir a partir de novos
conceitos abordados, seja em sala de aula ou no laboratório.
No entanto, essa não é uma realidade que possa ser
plenamente comprovada durante as discussões em sala de
aula, mas pode comprometer significativamente o processo
de ensino e aprendizagem.
Contudo, o docente poderá contornar tal
constrangimento acadêmico adotando um material didático
que possa apoiar o discente durante a realização das
atividades de classe e/ou laboratório. Neste material as
informações devem ser claras e concisas, de maneira que o
aluno possa identificar os objetivos das atividades, o método
científico para resolução dos problemas, bem como todo um
suporte conceitual para embasar a etapa prática dos
trabalhos.
Para tanto, durante ensaios práticos que envolvam
medição elétrica, o discente deve ter a compreensão dos
conteúdos teóricos que estão envolvidos, a metodologia
científica adotada, e ainda, segurança no trabalho envolvido.
Todos esses fatores são essenciais para a realização das
atividades em laboratório, uma vez que o discente poderá
reduzir as margens de erro de seus resultados e produzir o
conhecimento de modo sólido e seguro. Além disso, é de
suma importância discutir os conteúdos teóricos com
antecedência, a fim de utilizar os elementos adequados em
cada experimento.
Outro aspecto relevante está associado a área de atuação
desses profissionais, que pode alcançar grandes proporções
geográficas. Em alguns casos, esse profissional está
internet,
localizado em residência fixa próxima a sua área de
trabalho, mas distante de sua organização gerencial. Logo,
agrupar essa equipe dispersa poderá mobilizar consideráveis
recursos, os quais podem aumentar as despesas da
instituição.
Portanto, ao docente cabe avaliar esse contexto e inferir a
metodologia didática mais apropriada para elaboração do
material de estudo a ser utilizado. O professor deve agir
como agente facilitador, estimulando a produção do
conhecimento.
Ainda assim, são necessários materiais didáticos
auxiliares, os quais devem ser utilizados respeitando-se cada
etapa da construção do conhecimento. Os conteúdos
curriculares podem ser abordados por meio de artigos
científicos, livros, dissertações, teses, dentre outros. Desse
modo, o discente resgata conceitos básicos, aprimora
elementos teóricos, e constrói conhecimento.
No caso dos ensaios que envolvam medição elétrica, o
docente deve resgatar conceitos elementares para avançar
nas discussões de novos conteúdos. Nessa análise é
relevante promover novas discussões acerca das
Interferências Eletromagnéticas (EMI – Eletromagnetic
Interference) e sua atuação predatória em ambientes
controlados [1].
Avaliando essas considerações verifica-se que o docente
do ensino profissional pode avançar na produção do
conhecimento a partir de uma nova abordagem na prática de
ensino. Nessa abordagem, os novos recursos didáticos
podem resgatar conteúdos tradicionais e essenciais para a
prática de ensino. No caso do ensino profissionalizante, a

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Educação a Distância pode auxiliar os discentes e docentes
na discussão de conceitos elementares, dentre esses a ação
da EMI na medição elétrica [2].
O material didático que aborda as EMI pode ser
difundido pela web e a sua leitura preliminar poupa tempo
durante os ensaios práticos. Para equipes de profissionais
dispersos geograficamente, a internet distribui o
conhecimento por meio de e-books, e-mails e fóruns de
discussões. Essas tecnologias podem ser utilizadas tanto
para uma abordagem preliminar ou para a educação
continuada desses profissionais.
2. CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Atualmente, os custos que envolvem a capacitação
presencial de um profissional atingem valores consideráveis
com deslocamento, diárias, documentação técnica impressa
etc. Verifica-se também que a ausência desse profissional no
local de trabalho onera significativamente a cadeia
produtiva, uma vez que outro profissional deve ser alocado
neste período.
Tais fatores contribuíram para o desenvolvimento e
aprimoramento de novas técnicas e abordagens de ensino e
aprendizagem. No início dos anos 90, o ensino a distância
ganhou espaço no meio acadêmico, e a Educação a
Distância (EAD) tem sido utilizada em larga escala por
diferentes áreas do conhecimento [3]. Por meio da EAD é
possível a comunicação de educadores e educandos em
pontos longínquos, mesmo que esses estejam em uma área
geográfica muito dispersa.
Associado à EAD está o emprego de recursos e técnicas
digitais, os quais reduzem custos e agilizam os
procedimentos didáticos. Isso ocorre porque o acesso ao
conteúdo pode ser feito por redes de comunicações internas
ou externas, tais como intranets ou internet.
Outro fator está relacionado com a dinâmica de estudo
do discente, o qual passa a ter grande flexibilidade para
estudo. Neste sentido, existem inúmeros softwares de
gerência de conteúdos e atividades didáticas on-line. Dentre
esses destaca-se o MOODLE (Modular Object-Oriented
Dynamic Learning Environment) como plataforma livre de
gestão do conhecimento.Trata-se de um aplicativo aberto e
amplamente difundido no meio acadêmico mundial
(www.moodle.org).
No que tange aos conteúdos relativos à EMI e medições
elétricas não seria diferente. Para tanto, o docente pode
propor a elaboração de cursos semi-presenciais ou
totalmente a distância. As ferramentas de gestão de
conteúdo podem ser utilizadas para abordagens
preliminares, ou como uma solução para o processo de
educação continuada a distância.
É salutar ressaltar que a parte teórica da capacitação pode
ser realizada com êxito através da EAD, por meio de e-
books, páginas web e/ou fóruns de discussão. Por sua vez, as
práticas laboratoriais devem ser realizadas a posteriori,
presenciais, onde os alunos terão a oportunidade de
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implementar os conteúdos abordados a distância em um
ambiente controlado.
3. TÓPICOS PARA ABORDAGEM A DISTÂNCIA
A EMI apresenta-se na forma de energia eletromagnética
que causa uma resposta indesejável ao funcionamento de um
circuito, isentando-se nesta análise o ruído inerente ao seu
próprio funcionamento [4]. Logo, discutir esses conceitos é Fig. 1
de fundamental importância para o sucesso das atividades
em um laboratório de medição elétrica.
Para tanto, o discente deve conhecer o elementos que
envolvem a EMI, em especial, as características do meio de
acoplamento entre o circuito emissor e o receptor. As EMI
podem ocorrer por meio de pulsos eletromagnéticos (EMP –
Eletromagnetic Pulses) ou Interferência de Radiofreqüência
(RFI – Radio Frequency Interference) sobre o circuito
vítima acoplado [5]. Algumas dessas características podem
indicar os fatores que contribuem para a existência da EMI,
bem como indicar estratégias para coibi-las.
Essa abordagem pode ser feita por meio de material
didático que promova essa discussão, contemplando
conceitos elementares e origens da EMI. A leitura desse
material pode ser feita à distância e seu entendimento
avaliado por meio das ferramentas web de gestão do
conhecimento.
Um bom exemplo está relacionado com os reflexos da
comutação de valores elevados de tensão em circuitos
elétricos. Geralmente, esse fluxo de corrente implica na
geração de ruídos indesejáveis e, consequentemente, na EMI
[6]. Além disso, em altas freqüências é possível observar a
emissão de pulsos de grande amplitude induzidos nos
circuitos adjacentes (Spike).
Outro conteúdo de suma importância, e que pode ser
abordado a distância, está relacionado com os sistemas de
aterramento e sua influência na medição elétrica. O discente
deve ter acesso ao laboratório com a compreensão de que
um sistema de aterramento deficiente pode comprometer
substancialmente os resultados das atividades propostas.
Diante disso, o docente pode disponibilizar aos alunos,
de maneira preliminar, o material didático que aborde a
importância de um plano eqüipotencial de referência
eficiente e eficaz [7]. Essa estratégia, além de poupar tempo
nas atividades práticas, pode reduzir a intensidade da EMI
em ambientes controlados durante ensaios didáticos. Para
isso, o docente pode abordar essa temática a partir da
exemplificação e discussão das configurações de
aterramento mais usuais. Essa abordagem pode se iniciar
com a simples difusão de esquemas ou layouts de Faixa não
configuração, conforme observado na Figura 1 a seguir: Abaixo
confiável para
de 30 dB
isolação
Baixo risco de
Até Faixa mínima
interferência gerada
100 mV/m recomendada para
pelo campo
30 a 60 dB pequenas
intensidades de
interferência
Risco potencial de
interferência, o qual
depende da
Recomendado
freqüência,
0,1 a 3,0 V/m 60 a 90 dB para uso
amplitude e
doméstico
dimensão física dos
circuitos gerador e
vítima
Severos riscos de Isolação
interferência, sendo recomendada para
Acima indicadas precauções 90 a 120 instrumentos de
A partir da análise da figura sugerida, os discentes 3,0 V/m para isolação dos dB medição em
poderão ser motivados a pesquisar diferentes configurações circuitos gerador e ambientes
vítima em potencial. controlados
de aterramento e compartilhar o que foi encontrado em
fóruns de discussões ou por e-mail. Essa discussão é Fonte: Adaptado de Sanches, 2003.
induzida e monitorada pelo docente. A motivação do grupo Em função das informações sugeridas pela Tabela I, o
pode se iniciar a partir dos questionamentos básicos discente poderá inferir acerca das blindagens apropriadas
relativos às três configurações dispostas na Figura 1: a) qual para o ensaio prático que deverá realizar. Ele poderá ainda
é o sistema mais simples e econômico; b) qual sistema avaliar de maneira mais significativa os resultados obtidos
apresenta menor imunidade a ruídos; c) por que alguns na medição elétrica, encontrando possíveis erros induzidos
sistemas de aterramento podem apresentar alterações na por EMI.
impedância comum de acoplamento [8].
Outro conteúdo importante, e que também pode ser
abordado a distância, está relacionado com os conceitos de 4. CONCLUSÃO
terra de sinal e terra de proteção. Um erro freqüente é a O ensino a distância está presente em diferentes áreas do
utilização do terra de proteção como terra de sinal. Logo, o conhecimento, incluída nesta análise a engenharia elétrica.
discente deve saber, antes de iniciar suas atividades práticas, As tecnologias educacionais através da internet têm grande
que o terra de proteção pode apresentar ruídos oriundos de utilidade no ensino e aprendizagem. Cabe ao docente avaliar
outros elementos do ambiente e, no caso de um aterramento os conteúdos e temas apropriados para o uso dessa
deficiente, uma diferença de potencial flutuante. Essa tecnologia. No caso da medição elétrica, é inegável a
discussão também é importante, e muitas vezes se perdem importância das atividades presenciais, contudo, a educação
ao longo das atividades de laboratório. Contudo, o docente a distância pode auxiliar as atividades presenciais.
pode se precaver e iniciar uma discussão a distância, Para tanto, alguns tópicos conceituais em medição
antecipando os cuidados mínimos necessários que seus elétrica podem ser abordados de maneira preliminar às aulas
alunos deverão atentar para o desenvolvimento dos ensaios de laboratório, poupando tempo durante atividades práticas.
práticos. Dentre esses conceitos, são sugeridas abordagens acerca da
Por fim, a qualidade da blindagem do ambiente EMI e suas origens, uma vez que tais interferências podem
controlado deve ser considerada, uma vez que a energia comprometer os resultados na medição elétrica.
proveniente de EMI passa de um meio material para outro
através da descontinuidade desta proteção [9]. Essa é uma
característica relevante e pode comprometer os ensaios que 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
envolvem medição elétrica. A Tabela I a seguir apresenta os
níveis de EMI e estratégias sugeridas para discussão a cerca [1] ITU, Handbook Spectrum Monitoring. Genebra, ITU,
da blindagem do ambiente controlado: 2002.
TABELA I – EMI E ESTRATÉGIAS DE BLIDAGEM PARA DISCUSSÃO
[2] Souza, Delmar C., Hipermídia aplicada ao ensino
Interferência Eletromagnética Estratégia de Blindagem
técnico de nível médio. Florianópolis, UFSC, 1998.

Intensidade [3] Rodrigues, Rosângela Schawrz, Modelo de avaliação

Nível de para cursos a distância. Florianópolis, UFSC, 1998.
do Campo Descrição Característica
Isolação
Elétrico

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[4] Keiser, Bernhard, Principles of Eletromagnetic
Compatibility. USA, Artech House, 1987.
[5] Schmitt, Ron, Electromagnetics explained: a handbook
for wireless/RF, EMC, and high-speed electronics.
USA, Elsevier Science, 2002.
[6] NBR 5464 Eletrotécnica e eletrônica - Interferências
eletromagnéticas.
[7] Hugh, W. Denny, Grounding for the Control EMI.
USA, Interference Control Technologies, 2001.
[8] Sanches, Durval, Interferência Eletromagnética. Rio
de Janeiro: Interciência, 2003.
[9] White, Donald R. J. EMI control methodology and
procedures. USA: Interference Control Technologies,
1985.

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