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UMA ANÁLISE SEMIÓTICA DE CANÇÃO EXCÊNTRICA

Darcilia M. SIMÕES e Aira Suzana R.


MARTINS  UERJ

(...) todo aspecto da cultura pode tornar-se (enquanto conteúdo de uma


comunicação) uma entidade semântica. (ECO, 1980: 21).

Com base na teoria da iconicidade de Peirce (1995), na Estilística e com auxílio


da lingüística textual, pretendemos fazer um estudo do poema Canção Excêntrica, de
Cecília Meireles.

Nosso objetivo é mostrar a viabilidade da análise de um texto fundamentada na


aplicação das categorias peirceanas, fazendo um levantamento de traços do processo de
raciocínio concretizados na expressão sígnica, presentes na superfície do texto e que
servem como guia de leitura.

Acreditamos que a teoria da iconicidade, associada à estilística, permite-nos


investigar os recursos impressivos e expressivos manifestos na representação sígnica de
nossos pensamentos, sentimentos, idéias, etc. Tal associação parece-nos facilitar a
compreensão de textos em geral.

Tencionamos, ainda, aprofundar o conhecimento das estruturas lingüísticas,


levando o aluno a compreender a importância da Gramática na compreensão de textos.

Segundo Aristóteles (Apud Auroux, 1998:97), os sons emitidos pela voz são
símbolos dos estados da alma, e estes, representações desses sons; podemos dizer que a
realidade provoca a geração de um signo que será representado por outro signo. A partir
disso, temos uma tríade: natureza física das coisas, idéias provocadas pela realidade e
representação dessa realidade.

Peirce elaborou a tríade de sua teoria a partir do seguinte esquema:

interpretante

signo objeto
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O signo pode ser definido como o representante do objeto para um intérprete,


produzindo na mente desse intérprete um outro signo que traduz o significado do
primeiro. Esse processo relacional que se cria na mente do intérprete é denominado
interpretante. Como já mencionamos, o significado de um signo é outro signo  pode
ser uma imagem mental, uma ação, um sentimento.

Segundo Peirce, existem três categorias do conhecimento ou modos de


apreensão dos fenômenos na consciência.

A primeira categoria seria a da percepção imediata de algo, sem relação com


outros elementos. A segunda categoria ocorre quando um fenômeno é relacionado a
outro qualquer, isto é, quando o sujeito procura estabelecer algum tipo de relação entre
os elementos envolvidos num processo. A terceira categoria relaciona um segundo
elemento a um terceiro; esta é a relação do hábito, da representação, da continuidade e
da memória. Essa categoria será responsável pela definição de signo genuíno, capaz de
gerar, produzir e de se desenvolver em outro sigo e assim infinitamente. De acordo com
Lúcia Santaella (1993), o homem só conseguirá interpretar o mundo que o cerca porque
faz sua representação e interpreta essa representação a partir de outra representação.

A segunda categoria, que trata das relações entre o signo e o objeto apreendido,
é composta de três constituintes: ícone, índice e símbolo.

O ícone é o elemento que estabelece a similaridade entre o signo e o objeto


apreendido. São exemplos de ícones os protótipos, a pintura, os diagramas, as fórmulas.
É através da estrutura icônica que o texto se transpõe para a consciência do leitor. Os
ícones projetam estratégias para a possível compreensão do texto.

O índice é o tipo sígnico que estabelece relações de contigüidade entre o


representâmen e o objeto, como os pronomes demonstrativos, que se relacionam aos
substantivos. Constroem relações de encadeamento; um tipo de nexo estruturador.

O símbolo brota da relação arbitrária entre o signo e o objeto, dependendo, pois,


das convenções criadas, como as palavras, as regras, as leis, os significados em geral.

Vejamos o texto de Cecília Meireles:

Canção Excêntrica
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Ando à procura de espaço


para o desenho da vida.
Em números me embaraço
e perco sempre a medida.
Se penso encontrar saída,
em vez de abrir um compasso,
projeto-me num abraço
e gero uma despedida.

Se volto sobre o meu passo,


é já distância perdida.

Meu coração, coisa de aço,


começa a achar um cansaço
esta procura de espaço
para o desenho da vida.
Já por exausta e descrida
não me animo a um breve traço:
 saudosa do que não faço,
 do que faço, arrependida.

Sabemos que os signos icônicos denotam condições de experiência que


evidenciam estratégias para a possível compreensão dos texto; logo, a escolha dos
signos não é determinada por um código, mas pela natureza do objeto do signo.

A seleção vocabular feita por Cecília Meireles para a elaboração do poema


Canção Excêntrica, leva à produção de imagens na mente do leitor. As palavras que
pertencem ao campo semântico do desenho geométrico sugerem o traçado, com
instrumentos próprios, de uma figura. A “visualização” que fazemos com a leitura da
poesia pertence à primeira categoria de captação do objeto. No que diz respeito à
categoria que trata das relações entre signo e objeto, temos nesse estágio da leitura o
ícone, ou seja, as palavras que estimulam o traçado (na mente do leitor) da figura do
objeto focalizado pelo texto. As metáforas são as responsáveis pela formação dessas
imagens. Podemos depreender, por exemplo, a partir da construção desenho da vida, um
modelo de existência idealizado pelo eu-lírico, estado oposto à situação de desencontro
em que se encontra.

Segundo SIMÕES, 1999:


Ainda que (se)* reconheça a fragilidade dos esquemas de ancoragem da
significação textual e da subjetividade imanente à produção mesma dos
textos, tem sido possível construir estratégias diagramático-
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sintagmáticas de leitura a partir do levantamento do diálogo interno


travado entre conectivos e circunstancializadores, por exemplo. (*
inclusão nossa)

Os elementos que se seguem, que pertencem à isotopia do desenho, permitem-


nos supor que o sujeito se empenha em buscar um convivência afetiva satisfatória ou
um equilíbrio emocional a partir de um projeto arquitetônico. São eles:
espaço
desenho da vida
medida
compasso
projeto-me
gero
se volto sobre o um passo
distância
traço
faço

Os verbos que ocorrem no poema reiteram a determinação do eu-lírico em


alcançar seu objetivo: o desenho da vida.

A trajetória da busca é marcada por tentativas reveladoras de otimismo e


resultados que mostram o insucesso dessas ações. Os verbos acompanhados dos sinais +
(= otimismo) e – (= insucesso) ilustram o que dissemos.

Vejamos:

andar +
embaraçar 
perder 
pensar +
projetar-se +
gerar +
começar +
(não) animar-se 
(não) fazer 
fazer +
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Esse levantamento mostra que, apesar de o sujeito admitir sua derrota diante da
vida, as ações realizadas por ele que traduzem insucesso são quantitativamente
inferiores às ações marcadas, de alguma forma, pela positividade. Logo, isso poderia
nos levar a concluir que, embora não reconheça ( do que faço, arrependida) o eu-lírico
não deixou de realizar algo.

As marcas de tempo dos verbos são de importância fundamental para a


interpretação do texto. Notamos que todos os verbos do poema se apresentam no
presente do indicativo. Segundo a gramática, podemos citar a de Evanildo Bechara
(1999), essa forma verbal refere-se a fatos reais que se passam na ocasião em que
falamos. Baseados nisso, podemos dizer que o sujeito revela a sua realidade atual.
Weinrich (Apud Koch:1996) acrescenta que esse tempo pertence ao mundo comentado,
que se caracteriza por apresentar uma atitude tensa, num discurso dramático, pois os
fatos narrados se tratam de acontecimentos que afetam o sujeito diretamente. O teórico
prossegue afirmando que “comentar é falar comprometidamente” (Cf. Koch, 1996: 38);
ele diz ainda que o presente constitui o tempo zero do mundo comentado, ou seja, sem
perspectivas. Portanto, de acordo com as idéias de Weinrich, e está perfeitamente claro
na poesia, Canção Excêntrica é mais um canto de lamento de uma realidade que não
pode ser modificada; o sujeito apenas constata os fatos, não tendo perspectivas de
mudança.

Embora algumas ações do sujeito revelem tentativas de ação otimistas, há


elementos indiciais na poesia que conduzem o leitor para um desfecho negativo. O
advérbio sempre, que aparece no verso 4: “e perco sempre a medida” se constitui em
um índice de que a tarefa do eu-lírico não vai ter o resultado esperado. O outro advérbio
 já  que aparece no verso 15: “Já por exausta e descrida” é um índice de que o
sujeito, vencido pelas adversidades, deu por finalizada sua busca.

É possível fazer a divisão da poesia em três partes:


 do verso 1 ao verso 4 – declaração da ação real positiva
 do verso 5 ao verso 10 – declaração de ação hipotética
 do verso 11 ao verso 18 – declaração da ação real com desfecho negativo

É oportuno, neste momento, distinguir as relações lógicas presentes no texto,


tanto do ponto de vista lingüístico como do ponto de vista discursivo. Conforme
observa Angelim (1996:7), persuadir é convencer o outro, e, na estruturação do discurso
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usam-se relações lógicas, que podem aparecer de diferentes formas (explícita e


implicitamente).

Tomando como ponto de partida o título da poesia, podemos dizer que este texto
é eminentemente persuasivo. A autora, através de estratégias próprias do discurso
argumentativo-persuasivo, procura justificar o porquê de a poesia intitular-se Canção
Excêntrica. A noção de causalidade, que não se limita somente aos instrumentos
próprios, está clara no desenvolvimento do texto. A conjunção e, mesmo sendo um
conector coordenativo, traduz uma noção de causalidade implícita; conotando a idéia de
conseqüência: “Em números me embaraço / e perco sempre a medida” (v.3-4);
“projeto-me num abraço / e gero uma despedida” (v.7-8). A conjunção se, que introduz
os versos 5 e 9, encerram declarações hipotéticas que confirmam o eterno desencontro
do sujeito — “se penso encontrar saída/.../projeto-me num abraço e gero uma
despedida; se volto sobre meu passo,/´já distância perdida). As proposições não são
verdadeiras, porém, a idéia conseqüente será verdadeira se a antecedente o for, as ações,
se realizadas, certamente resultarão em decepção.

No nível da expressividade, o sujeito mostra sua ex-centricidade através do


quiasmo que aparece no fechamento da poesia : “ saudosa do que não faço, /  do que
faço, arrependida.” ( v.17-18). Observa-se que os dois versos formam uma antítese que
rompe com a lógica discursiva: saudosa do que não faço; arrependida  do que faço.

Ainda no nível da expressividade, vemos que aparecem as rimas em –ida e –aço.


É possível estabelecer-se uma oposição entre elas de acordo com o sentido do texto:
IDA AÇO
vida embaraço
medida compasso
saída abraço
despedida passo
perdida cansaço
descrida espaço
arrependida traço

O Dicionário Aurélio (1986), registra como acepção para a palavra ida os termos
partida , jornada da ida; para o verbo ir, entre os vários termos, há os sentidos:
deslocar-se, andar, percorrer, seguir. O vocábulo aço, dentre outras acepções é
definido como: aquilo que é duro, resistente, rígido. Associando esses sentidos ao texto
estudado, poderíamos abstrair que o sujeito se empenha em uma ida para o desenho da
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vida, porém suas tentativas são frágeis diante da dureza, da rigidez dos obstáculos,
tornando duro, resistente ao sentimento seu próprio coração: “Meu coração, coisa de
aço,” (v.11).

Segundo Monteiro (1991), a vogal /a/ se associa a algo grande, enquanto que a
vogal /i/ está ligada à noção de pequenez, estreitamento (cf. macro x micro). A noção de
grandeza pode ser associada também ao vocábulo ando que inicia o poema: “Ando à
procura de espaço”. Deduz-se daí que, inicialmente, o sujeito possuía força e
determinação em seus propósitos, entretanto, diante das adversidades, esse estado de
espírito apagou-se no coração do eu-lírico, que agora se mostra descrente, exausto e
arrependido.

Inicialmente, o poema produz apenas um interpretante de primeiro nível, ligado


ao plano sensorial, no caso de Canção Excêntrica, a sensação visual. A observação de
todas as estratégias presentes no texto fará emergir o interpretante final, ou seja, o
possível ou possíveis sentidos para o poema.

A leitura do poema, feita através da isotopia do desenho, nos permite imaginar


que o sujeito idealiza sua vida à semelhança de um projeto arquitetônico.
Conseqüentemente, sua tarefa não atinge o resultado esperado, deixando-o, desse modo,
em desconcerto com o mundo, isto é, ex-cêntrico. No plano da expressão, vemos um
texto poético, cujas funções predominantes são a emotiva e a poética, construído com
vocábulos que não são adequados à construção de uma poesia; logo, Canção Excêntrica,
em todos os níveis, pode ser considerado um símbolo da excentricidade.

Para finalizar, lembramos mais algumas palavras de SIMÕES (1999ª: 98-9):


A proposta semiótica de análise de textos que vimos construindo visa a
alargar o horizonte metodológico do ensino da leitura e produção de
textos, com vistas a afastar desse contexto o fantasma da incompetência
para a codificação da experiência em signos verbais, sobretudo escritos.
Assentada numa tradição exclusivamente verbal e filológica, a escola
brasileira acabou por promover uma antipatia entre estudantes e
vernáculo. Desta antipatia resultou uma (ou mais) geração (-ções) de
falantes e redatores despreparados, não por incompetência prévia (se é
que isto possa existir), mas por desinteresse relativo aos espaços onde o
diálogo falante & língua materna deveriam ocorrer agradável e
produtivamente.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGELIM, Regina Célia Cabral. (1996). In: Discurso, Coesão, Argumentação.


Organização de Leonor Werneck dos Santos. Rio de Janeiro: Oficina do Autor.
AUROUX, Silvain. (1998). A Filosofia da Linguagem. Campinas, SP: Editora da
UNICAMP.
BECHARA, Evanildo. (1999). Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora
Lucerna.
ECO, Umberto (1980) Tratado geral de semiótica. São Paulo: Perspectiva.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. (1986). Novo Dicionário da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.
KOCH, Ingedore G. Villaça. (1996). Argumentação e Linguagem. São Paulo: Cortez.
MEIRELES, Cecília. (1977). Obra Completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar
S.A.
MONTEIRO, José Lemos. (1991). A Estilística. São Paulo: Editora Ática.
PEIRCE, Charles Sanders. (1995). Semiótica. São Paulo: Perspectiva.
SIMÕES, Darcilia. (1999) “Considerações semióticas acerca da leitura do texto verbal”.
In CADERNO SEMINAL. Ano 5. Nº 7. Rio de Janeiro: DIALOGARTS. 1999. [P.
123-135]
SIMÕES, Darcilia. (1999ª) “Leitura e produção de textos: subsídios semióticos”. In
VALENTE, André (org.) (1999) Aulas de português: perspectivas inovadoras.
Petrópolis: Vozes. [P.89-99]

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