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Engenharia Civil
Júri
Quero transmitir a esperança que me acalenta o coração, de que no outro lado, onde quer que
seja, finalmente eles também puderam matar as saudades daqueles outros que lhe eram
queridos e partiram antes. Desejando que também eu, um dia, os possa reencontrar a todos e
festejar o nunca mais os perder.
i
ii
Agradecimentos
Quero agradecer a Deus meu Papá por ter semeado em mim a raiz da bondade, da benigni-
dade, da pureza de olhar a pessoa a partir do mais profundo de si mesma com a nítida perceção
que cada um é um solo sagrado que me é dado o privilégio de acolher. Quero-Lhe agradecer por
ter partilhado comigo a forma como pensou o mundo, por me ter acompanhado ao longo deste
tempo, partilhando delicadamente a sua sapiência, permitindo-me inteligir a ciência e pondo pes-
soas e livros e tudo o que há de bom no meu caminho para me permitir maravilhar-me com o
conhecimento.
Prosseguir um sonho é sempre algo difícil, pois há uma grande expetativa e um abismo que
separa a realidade do sonho. Eu ousei sonhar investigar e quero agradecer de coração à Pro-
fessora Laura Caldeira por mo ter permitido, incentivado, e empurrado para voar. Eu não tinha a
autoestima capaz de tornar realidade o meu sonho e a professora foi o meu fundamento. Pela
fortaleza de permanecer firme no silêncio para me deixar voar e cair, estar presente nas mazelas
para me acolher e voltar a dar coragem para voar de novo. É preciso muita bravura e altruísmo
para fazer o que a professora fez por mim. Sem ela esta tese não era possível, uma vez que eu
não teria conseguido sequer aproximar-me dos meus limites, quanto mais ir além. E isto, eu vou
levar comigo para sempre! Guardo a sua forma ternurenta de ser, combinada com excelência
profissional de quem tem a humildade de se aceitar, com rigor, com carinho por si próprio e do-
ação de si mesma, sem nunca deixar de fitar a possibilidade de aprendizagem do horizonte, que
pode ser trazida por um qualquer alguém.
Quero agradecer ao Carlos por me ter feito descobrir o encanto pela Geotecnia. Quero-lhe
agradecer por ter alimentado esta paixão na partilha das suas descobertas, pelos desafios que
me colocou, por ter relativizado sempre a minha muita insegurança e ter-me sempre olhado de
igual para igual.
Quero agradecer à Gabi por me ter transmitido a ousadia de me desconstruir e expor-me tal
qual como sou para que qualquer pessoa no LNEC me pudesse reconstruir e voltar a moldar,
correndo o risco de me desconstruir até não restar mais nada senão o ser infantil e correndo o
risco de ser mal interpretada. E ainda bem que o fiz, porque o respeito, a preocupação e a forma
delicada como me construíram faz-me sair hoje do LNEC mais bem formada, menos arrogante
e mais humana. A eles o meu bem-haja por me terem ajudado a construir-me como pessoa e
engenheira e o meu pedido de perdão por todas as vezes em que tenha sido incorreta.
Quero agradecer a todos os meus amigos que me ajudaram a trilhar este ainda curto caminho
iii
da vida e com quem pude contar, descontrair quando tinha o cérebro espapaçado e rir só por
ser feliz. Em particular aos amigos do IST, do CL, do CAES, CVX, da paróquia do Parque das
Nações, da escola Vasco da Gama. Quero agradecer aos amigos do coro do LNEC que puxaram
por mim para eu vencer o meu medo de não estar à altura.
Quero também agradecer à minha amiga Manuela que foi a das mais recentes grandes bên-
çãos da minha vida e cuja amizade valeu ouro ao longo do tempo de tese. Ao Tiago pela santi-
dade que com naturalidade brota em si e que tão carinhosamente se dispõe a partilhar comigo.
Aos meus pais, agradeço o apoio incondicional e ânimo que me deram, derrota após derrota -
que faz parte do meu crescimento - mas que ultimamente tem renascido como um traço fundante
positivo de persistência e humildade no meu caráter. Agradeço os diálogos, debates de ideias,
os silêncios, e a preocupação constante na modelação da minha pessoa como pessoa. Sei lá,
tudo o que disser é ofuscado perante a grandeza de pessoas de que fui fortemente abençoada
com a graça de poder chamar de pai e mãe.
A cada pessoa que passou na minha vida quero agradecer por ser quem é! A sua sin-
gularidade tem-me feito compreender que toda a excelência, dedicação, tudo o que sou e quero
construir para mim só faz sentido na medida em que me ajudar a tornar-me cada vez mais PURO
BEM!
iv
Resumo
Palavras chave: Subloading, Eurocódigo, superfície de cedência, ensaios laboratoriais
v
vi
Abstract
Key words: Subloading, Eurocodes, yielding surface, Laboratory tests, Geotechnical design
Nowadays it is unthinkable to most geotecnical projects to not design them in a numerical pro-
gram. Their blind use carries risks and the waste of soil capacities, which is reflected in economic
terms. That’s why a reflection was made on three fundamental phases of the design process
for sands: the models calibration from triaxial laboratory tests, the goal vs suitability compromise
required for the constitutive models selection and their design implications in a numerical com-
mercial program. It was generally exposed, with a critical perspective, the common range of sand
tests available, and analyzed the reliability of the results performed in the triaxial apparatus. In
the modulation you can see models from different scientific movements of common practice and
forefront research, such as Subloading model. Unfortunately the perform test were not diverse
enough to reveal it is potential. The look gate of the Mitrena hydrolift was the chosen project to
test the design implications of the laboratory test conclusions and use of diferent models.
vii
viii
Conteúdo
Introdução 1
Considerações iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Estruturação da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
2. Programa de Ensaios 27
2.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2.1. Preparação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.2.2. Saturação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.2.3. Consolidação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2.4. Corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.3. Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3. Modelos Constitutivos 45
ix
3.2.1. Modelo Mohr-Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.1.2. Plaxis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.2. Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.2.2. Hydrolift . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.3.3. Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
x
Lista de Tabelas
1.1. Sintese dos resultados diretos que se podem obter através ensaios de campo abor-
dados na tabela A1 da EN1997-2 (2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.2. Sintese dos resultados diretos que se podem obter através ensaios de laboratório
abordados na tabela A1 da EN1997-2 (2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3. Síntese dos ângulos de atrito na fase final dos ensaios obtidos em Vieira (2008) . 29
3.1. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo hiperbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.3. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo elástico-perfeitamente plástico . . . . . . . 53
3.4. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo elastoplástico com endurecimento . . . . 57
3.5. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo elastoplástico com endurecimento e amo-
lecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.7. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo de Cam-Clay . . . . . . . . . . . . . . . . 63
xi
3.11.Quadro síntese da possibilidade de utilização dos modelos usando tensões como
dados em estados axissimétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
xii
Lista de Figuras
1.2. Efeito do arranjo estrutural do solo nas variações volumétricas por corte e com-
pressão isotrópica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.3. Transferência de tensões por forças de contato: (a) esquema ilustrativo duma dis-
posição normal de solos granulares; (b) variabilidade extrema das tensões nas
partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.11.Estados limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.18.Modelo ilustrativo da primeira fase de escavação com o primeiro nível com suporte
de paredes moldadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
xiii
2.3. Ensaio realizado por Tatsuoka(1972)para a determinação das superfícies de ce-
dência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.9. Resultado de compressão isotrópica e dados do estado crítico para três amostras
reconstituídas em laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.11.Resultados dos ensaios triaxiais CD para areias do rio Sacramento no estado solto
e no estado denso a várias pressões de confinamento . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.7. Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento para ajuste dos ensaios
2e3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
xiv
4.3. Elemento finito estrutural linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
xv
B.3. Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastico
plástico com endurecimento e amolecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
B.4. Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Cam Clay para solos
com comportamento denso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
B.5. Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Cam Clay para solos
com comportamento solto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
xvi
Simbologia
Símbolo Descrição
[•] matriz
{•} vector
⇒ Implica
d operador derivada
operador integral
H
4 incremento
Alfabeto latino
Símbolo Descrição
B Parâmetro B de Skempton
c0 coesão efectiva
xvii
Símbolo Descrição
Cc coeficiente de compressibilidade
Cc Coeficiente de curvatura
Cu Coeficiente de uniformidade
Dr Densidade relativa
e01 ,e02 ,e03 Projeção do vetor noutra base no eixo 1, no eixo 2 e no eixo 3 dessa mesma base
ref
Eoed Módulo de deformabilidade edométrico de referência
xviii
Símbolo Descrição
Ep Módulo pressiométrico
Er Correção energética
F Força
F e2 O3 Óxido de férrico
G Potêncial plástico
G Módulo de distorção
~
OA vetor que une os pontos O a A
~ 1
OA projeção no eixo 1 do vetor que une os pontos O a A
~ 2
OA projeção no eixo 2 do vetor que une os pontos O a A
~ 3
OA projeção no eixo 3 do vetor que une os pontos O a A
K2 O Óxido de potássio
M valor de η crítico
M gO Óxido de magnésio
xix
Símbolo Descrição
Ni Função de forma
N a2 O Óxido de Sódio
pa Pressão atmosférica
pf pressão de fluência
pH Potêncial de hidrogénio
q tensão deviatórica
qc resistência de ponta
xx
Símbolo Descrição
S areia
u campo de deslocamentos
u pressão intersticial
w teor de água
wL Índice de liquidez
wP Índice de plasticidade
xxi
Símbolo Descrição
xi , xj Coordenada no ponto
Alfabeto grego
Símbolo Descrição
γ peso volúmico
ε1 , ε2 , ε3 deformações principais
xxii
Letra Descrição
εa deformação axial
εp deformação plástica
εe deformação elástica
εr deformação radial
εs deformação distorcional
εv deformação volumátrica
η q/p0
λ gradiente da LCN
λ multiplicador plástico
somatório
P
ρ Massa volúmica
xxiii
Letra Descrição
σr tensão radial
υ coeficiente de Poisson
ψ ângulo de dilatância
ωi,j tensor das rotações de corpo rígido (na hipótese dos pequenos deslocamentos)
ω1,2 componente da rotação dos eixos 1 para dois do tensor das rotações de corpo rígido
ψ ângulo de dilatância
ηp p/q de pico
φf ângulo de atrito
ηf p/q de final
xxiv
Letra Descrição
xxv
xxvi
Siglas
Siglas Descrição
3D três dimensões
C1 Correlações dos ensaios de campo
C2 Correlações dos ensaios de laboratório
CPT Ensaio de Penetração Estática
CPTU Ensaio de penetração estática com medição da pressão de água
CTa Compressão Triaxial por aumento da tensão radial
CTr Compressão Triaxial por aumento da tensão axial
DPH Penetração dinâmica pesada
DPL Penetração dinâmica leve
DPM Penetração dinâmica média
ELU Estados Limites Últimos
ELUt Estados Limites de Utilização
EMQ Erro médio quadrático
ETa Extensão Triaxial por diminuição da tensão axial
ETr Extensão Triaxial por diminuição da tensão radial
F1 Ensaio de campo 1
F2 Ensaio de campo 2
FLAC Programa de elementos finitos
L1 Ensaio de laboratório 1
L2 Ensaio de laboratório 2
LCN Linha de compressão normal
LEC Linha de estados críticos
MEF Método dos elementos finitos
NC Normalmente consolidado
PLAXIS Programa de elementos finitos
Rpcrítico Grau de sobreconsolidação crítico
SP 49 Nome da areia usada no trabalho
SPT Ensaio de penetração normalizado
SS Ensaio de Corte simples
xxvii
xxviii
Introdução
Considerações iniciais
Nas últimas décadas introduziu-se um novo tipo de modelos: os modelos numéricos que
respeitando aproximadamente todas as equações estruturais (condições de equilíbrio, de com-
patibilidade, relações constitutivas e condições de fronteira) conseguem obter boas simulações
dos fenómenos físicos usando equações diferenciais. Tal permite, face aos antigos modelos con-
vencionais, não só obter as resistências do solo com o intuito de prevenir a ocorrência de Estados
Limte Últimos, mas também, e esta é a grande inovação, simular as deformações do solo e das
estruturas ao longo do processo de construção e da vida útil das mesmas, e com elas garantir os
Estados Limites de Utilização.
Para se poder criar um modelo numérico é necessário definir a geometria dos elementos que
vão ser representados, as ações que lhe vão ser aplicadas - quer as gerais (EN 1991, 2010)
quer as geotécnicas (EN 1997-1, 2009 e EN 1997-2, 200) - as equações constitutivas que vão
definir como os vários materiais presentes no modelo vão reagir face às ações aplicadas, quais
as condições de fronteira que permitem ao modelo estar em equilíbrio com o meio envolvente,
dado que o modelo não tem dimensões infinitas, e finalmente os métodos numéricos vão definir
as regras de propagação dos efeitos ao longo do modelo.
Acontece que nos programas cálculo comercializados existem vários modelos constitutivos,
nenhum deles perfeito, e consequentemente, limitados na capacidade de representar a realidade.
Ciente deste problema e com o intuito de tornar esta tese pedagógica, pretende-se mostrar que
não se pode simular a realidade com um qualquer modelo constitutivo, e que todos os modelos
podem ter um domínio limitado de aplicação.
1
Estruturação da Dissertação
2
Capítulo 1: Comportamento e modelação de areias
A Geotecnia é um segmento muito amplo da Engenharia Civil, dado que o seu objeto de
estudo é o terreno, as suas interações com as demais estruturas e o meio ambiente envolvente
em contínua mutação.
O terreno, por si só, comporta uma enorme variabilidade, a ponto da divergência nos parâme-
tros a analisar e, naturalmente, a consequente abordagem conceptual ter levado ao desenvolvi-
mento de duas grandes ramificações: a mecânica das rochas e a mecânica dos solos.
Mesmo dentro da mecânica dos solos, que será enfoque da presente dissertação, há um
enorme contraste entre materiais, uma vez que a gama de dimensões das partículas em estudo
inclui tanto grandezas da ordem dos micrómetros, como métricas (figura 1.1). Por isso, é uma
boa prática da engenharia separar e estudar os materiais com comportamentos radicalmente
diferentes – solos granulares evolutivos, solos granulares íntegros, siltes e solos argilosos. O
estudo dos solos reais, que integram os vários materiais em diferentes proporções, fica facilitado,
com a sobreposição dos efeitos dos elementos decisivos que o vêm explicar.
Numa abordagem mais genérica dos solos pode-se desde já afirmar que são um meio parti-
culado, cujo comportamento depende do conjunto da estrutura e da eventual cimentação, a que
se chama fábrica. Uma correta caraterização da estrutura implica o conhecimento das proprie-
dades, da disposição espacial das partículas e dos vazios do solo. Da estrutura vai depender a
interação física entre partículas, entre os fluidos que preenchem esses vazios - fluídos interstici-
ais - e as partículas, entre ambos e o meio atmosférico envolvente, nomeadamente a temperatura
e a humidade. A existência de cimentação está dependente da capacidade que as partículas só-
lidas têm de interagir física e quimicamente com os fluídos, com as restantes partículas e com o
3
meio ambiente.
São as partículas sólidas que, em última análise, vão suportar as tensões impostas sobre
o solo. Para as caraterizar é preciso conhecer a dimensão volumétrica, atrás mencionada, a
sua forma e a constituição mineralógica, pois estas vão definir as suas propriedades químicas
e físicas. Excluindo os materiais granulares evolutivos, porque apresentam deformações por
efeito de fraturação e de esmagamento, as restantes mantêm as suas caraterísticas constantes,
podendo-se considerar integras para a gama de tensões impostas no âmbito da Engenharia Civil.
Os vazios são outro elemento definidor do comportamento dos solos. A resposta dos vazios
entre as partículas irá depender das dimensões dos mesmos, dos fluidos com que são preenchi-
dos e da capacidade de escoamento dos fluídos pelos interstícios da estrutura sólida. Os vazios
podem ser preenchidos com ar, tornando o solo seco, mas se, ao invés, forem completamente
cheios com um fluido líquido tornam o solo saturado e o intermédio cria os solos não saturados.
A análise do comportamento dos vazios dos solos aqui presente será restrita ao domínio dos
solos teoricamente secos e dos saturados.
A deformabilidade dos solos com partículas indeformáveis pode ser originada microscopi-
camente pela deformação das próprias partículas, que retornam à sua posição inicial quando
o carregamento é retirado (adaptado de Hashiguchi, 2009), sendo essa deformação, por isso
mesmo, considerada elástica, ou ganhar contornos irreversíveis, plásticos, o que ocorre rapi-
damente como consequência do rearranjo das partículas, que face às pressões exercidas se
movem para encontrar um novo estado de equilíbrio e, uma vez alcançado, pelo princípio da
energia mínima, já não voltarão ao estado inicial.
Como ilustra a figura 1.2, as deformações dependem do tipo de carregamento, que pode ser
igual em todas as direções – carregamento isotrópico que gera tensões de confinamento – ou,
como é mais comum na natureza, devido à sedimentação, o solo tem um acréscimo de tensão
vertical pelo contínuo depositar de novas camadas. Este acréscimo, para distinguir da tensão
de confinamento, gera tensões deviatóricas ou de corte. Pode também acontecer que as forças
nas três direções sejam diferentes e o estado de tensão será tridimensional, em que existe uma
tensão de confinamento média e para cada direção existe uma força de deviatórica associada.
Este tipo de carregamento já está fora do âmbito de estudo.
A forma das partículas induz o modo de transmissão das tensões. As equidimensionais aju-
dam a que a transmissão do carregamento seja isotrópico, ao passo que as partículas laminares
vão criar direções preferenciais de transmissão, gerando anisotropia.
4
Ambos os solos contraem
Figura 1.2 – Efeito do arranjo estrutural do solo nas variações volumétricas por corte e compressão isotró-
pica
las e maior resistência o solo tem como um todo. A forma de gerar instabilidade do solo é, neste
caso, retirar-lhe toda a tensão de confinamento e, se este não tiver coesão, então desmoronar-
se-á.
A tensão de corte é mais prejudicial porque obriga o solo a mudar de forma, colocando-o em
posições instáveis que podem provocar a sua rotura parcial ou total por falta de resistência. Para
obrigar o solo a mudar de forma, dependendo do estado inicial do solo, vai haver repercussões
em termos de variação volumétrica. Se o solo estiver no estado chamado solto, em que existem
muitos vazios entre partículas, o rearranjo das partículas tende a ocorrer para o interior dos
vazios existentes, tratando-se, então, da contração do solo. Caso o solo esteja inicialmente já
num estado denso, há criação de espaços vazios originados pelas próprias partículas que, para
deslizarem umas sobre as outras, provocam a dilatação do solo.
Para que as partículas se possam deslocar, os vazios têm de poder aumentar ou diminuir. Há
duas hipóteses que permitem a concretização deste fenómeno. Ou os vazios são preenchidos
por um fluido que seja compressível, que é o que acontece nos solos teoricamente secos, pois
o ar é compressível. Ou as condições externas permitem a drenagem dos solos, de modo a
ser possível ao fluido incompressível entrar ou sair do solo, conforme este tenda a aumentar ou
diminuir de volume.
Frequentemente acontece, nos solos com vazios de pequenas dimensões, que a taxa de car-
regamento imposta é superior à capacidade de drenagem dos vazios, gerando, por isso, pressões
no fluido, que, na terminologia técnica, se denomina excesso de pressões intersticiais. Quando
a água não consegue ser drenada, e, consequentemente, não há variações volumétricas, diz-se
que o solo está em condições não drenadas.
5
A interação física e/ou química entre partículas e entre a partícula e o fluido está fortemente
dependente das dimensões e forma das partículas, da sua mineralogia e da capacidade de inte-
ração do próprio fluido. A interação química depende da constituição mineralógica das partículas
que as torna capazes, ou não, de possuir cargas positivas ou negativas, gerando forças de atra-
ção ou repulsão no interior da fábrica. Estas forças têm a particularidade de serem constantes
independentemente da tensão de confinamento. As forças químicas dependem da superfície es-
pecífica, cuja relação é inversamente proporcional ao volume das partículas (Maranha das Neves,
2013). Assim, com o aumento da dimensão das partículas a importância deste efeito torna-se
residual, enquanto que o peso das mesmas vai aumentando, consequentemente as forças físicas
vão ganhando predominância.
Para o caso particular dos solos granulares íntegros, em especial das areias puras, sobre as
quais a tese se debruça, as dimensões das partículas variam entre 0,06 e 2 mm. A sua forma
é aproximadamente equidimensional, o que lhe confere um comportamento isotrópico. São,
predominantemente constituídas por monominerais, duros, que não fraturam, nem se deformam
para as cargas aplicadas no âmbito da engenharia civil. Note-se que existem algumas areias em
que tal não se verifica, como as carbonatadas,que tendem a ser problemáticas e merecem um
estudo especial. São quimicamente estáveis (geralmente constituídas por quartzo) e, por isso,
não tendem a reagir quimicamente entre si, nem com os fluidos circundantes. Por estas razões,
do ponto de vista da Geotecnia, as interações químicas são desprezáveis e o comportamento do
solo é regido por forças gravíticas. Os vazios são criados pelos espaços entre partículas, dado
que estas não se agregam se não existirem ligações cimentícias. As sua dimensão só depende
do tamanho das partículas e do seu arranjo. A existência de partículas de várias dimensões
reduz os vazios disponíveis, dado que as partículas de menores dimensões tendem a preencher
os vazios deixados pelas maiores.
A propagação das tensões neste tipo de material em estudo não se transmite uniformemente.
Drescher e Jong (1972) procuraram ilustrar na figura 1.3 que existem pontos de contacto que
transmitem grandes forças de umas partículas para outras, existem também partículas menores
que, por estarem na extremidade da interface entre partículas de maiores dimensões, transmitem
uma fração reduzida da força das grandes e, por fim, existem outras partículas menores que
somente repousam sobre outras e transmitem o próprio peso, que é muito reduzido.
6
(a) (b)
Figura 1.3 – Transferência de tensões por forças de contato: (a) esquema ilustrativo duma disposição
normal de solos granulares; (b) variabilidade extrema das tensões nas partículas (Drescher e
Jong, 1972)
A perspetiva qualitativa, anteriormente abordada, sendo ótima para intuir os fenómenos que
descrevem o problema é claramente insuficiente para prever o comportamento do solo do ponto
de vista da Engenharia Geotécnica. É necessária uma análise quantitativa dos fenómenos. Para
tal é preciso proceder à escolha dos parâmetros capazes de caraterizar o comportamento e
selecionar a forma mais fiável dos obter (ensaios) e um meio de interpretação dos parâmetros
que permita quantificar o comportamento em estudo (modelo).
Começando pelo último Muir Wood (1990) afirma que a compreensão do comportamento dos
solos vai melhorando se simplificações inteligentes da realidade forem feitas e as análises forem
realizadas utilizando modelos simplificativos de objetos reais. Segundo esta lógica começar-
se-á pelo modelo mais simples até ao modelo mais complexo, para ser mais fácil perceber as
aproximações das simplificações.
7
(a) (b)
Figura 1.4 – Ensaio de polarização da luz em discos birrefrigentes que permite visualizar o encaminha-
mento da propagação das tensões principais: (a) um disco (Muir Wood e Leśniewska, 2011);
(b) assemblagem de discos (Muir Wood, 2012)
Campo de Deslocamentos
P h P xj
i
(ui )P onto = (ui )Origem − xj ωij + xi εij + 2
γij
Translação Rotação
1
ωij = −ωji = 2
(ui,j − uj,i )
u1 ~u
u1,1 dx1
+
e2 u1,2 dx2 u1,2 dx2
u1
u2,1 dx1
u2 u2 +
ϕ1 u2,2 dx2
u2,2 dx2
O
e1
u1
8
engenharia tem vindo a comprovar e conceptualmente compreende-se que as variações pontuais
sejam diluídas no comportamento do todo.
O que atualmente ainda não está bem compreendido é a partir de que escala se passa da
mecânica dos meios particulados para a mecânica dos meios contínuos. Ou seja, a partir de que
escala as variações das caraterísticas ao nível local afetam significativamente as caraterísticas
do solo na sua globalidade. Na prática considera-se que se pode assumir uma amostra como
meio contínuo se o diâmetro da amostra for cinco vezes maior que o diâmetro da maior partícula.
Informação mais pormenorizada pode-se encontrar em Muir Wood (2012).
3. Estados limite.
(a) (b)
Figura 1.6 – Propriedades não lineares do solo: (a) Variação do móduo de compressibilidade volumétrica
(K) na compressão isotrópica; (b) Variação do módulo de distorção (G) no corte (Maranha
das Neves, 2007)
Qualquer um dos módulo representados pode ser definido pela tangente à curva ou pela
secante. K0 e G0 correspondem às grandezas medidas inicialmente.
9
1.1.2 Memória da história de tensões
O processo de cargas e descargas permitiu verificar que o solo é afetado pela história de
tensões em ambas as solicitações (compressão isotrópica e corte).
10
(a) (b)
Figura 1.8 – Memória da história de tensões: (a) trajectória de carregamentos no espaço p:q anteriores ao
corte; (b) Resultados no espaço G: γ do corte (Richardson, 1988 and Atkinson et al., 1990)
O efeito da descarga e recarga no comportamento isotrópico já foi abordado para a figura 1.7.
O efeito que este tem sobre o comportamento de corte depende se o solo no início do corte está
sobre a LCN, em que, nesse caso, o solo se vai deslocar sobre a superfície de estados limite,
que será abordada no ponto 1.1.3, ou se está sobre a linha κ. Na linha κ o comportamento do
solo no corte vai depender do grau de sobre consolidação crítico (Rp crtico ) que é um plano que
divide o comportamento solto e denso do solo (fig. 1.9a)).
(a) (b)
Figura 1.9 – Comportamento teórico do solo no estado denso e solto: (a) Espaço (p,q,ν) ilustrativo do
plano Rp crtico que separa os dois estados do solo; (b) comportamento do solo no estado
solto e denso quando submetido ao corte.
No estado solto, o solo vai endurecendo na medida que, por corte, vai ficando mais compato,
como foi ilustrado na figura 1.2 até alcançar o ângulo de atrito crítico (φ0 ). A areia densa terá
um pico de tensão que será dado pela dilatância (ψ), que corresponde a um estado transitório,
como ilustrado na figura 1.9b) e depois perderá essa mesma resistência, com o acréscimo de
deformação, tendendo para a tensão crítica. No caso da tensão de confinamento inicial ser a
mesma o ângulo de atrito associado para os dois estados iniciais será o mesmo.
11
A descarga e recarga durante o corte pode ocorrer para qualquer tensão dentro daquelas
que estão delimitadas pela superfície limite (a ser desenvolvido em 1.1.3). No entanto, devido
ao rearranjo das partículas, a descarga não vai poder recuperar toda a deformação imposta na
carga. Para muito pequenas deformações a histerese criada pelo ciclo de descarga e recarga é
reduzida e o comportamento é aproximadamente linear elástico (fig. 1.10a)), mas com o aumento
das deformações, a histerese deixa de ser insignificante, gerando comportamentos não lineares
mas ainda elásticos, por isso o ciclo começa e termina no mesmo ponto (fig. 1.10b)). Para
deformações médias e grandes o comportamento é definitivamente elastoplástico, como se vê
no esquema da figura 1.10b).
Figura 1.10 – Histerese (a) para muito pequenas deformações; (b) para pequenas deformações; (c) para
médias e grandes deformações. (Gomes, 2012)
Sabe-se que ao nível das grandes deformações o solo perde a memória da sua história de
tensão. Para tentar compreender o que ocorre, Hvorslev (1937) introduziu o conceito de superfí-
cie estados limites, que corresponde a uma fronteira que separa os estados de tensão possíveis
para o solo dos que são inatingíveis. Definiu-a com dois troços: um correspondente á superfí-
12
cie composta pelos pontos no estado de pico e outro à superfície de separação dos estados de
compressão (interiores à superfície) dos estados de tração (que os solos não podem suportar).
Atkinson e Bransby (1978) e Muir Wood (1990) realizaram um conjunto de ensaios que vieram
a mostrar que, para trajetórias η=q/p0 menores do que o declive M da Linha dos estados crí-
ticos (LEC) no plano p0 :q havia um limite correspondente aos estados possíveis. Sabe-se que
quando os solos são carregados sem que as condições de fronteira sejam impedimento, estes
alcançam o estado crítico. Estado este definido por ter deformações distorcionais plásticas que
teoricamente continuaram indefinidamente sem variação volumétrica nem das tensões efetivas.
(a) (b)
Figura 1.11 – Estados limite:(a) Superfície limite dos estados num espaço (p’,q,ν) (Maranha das Neves,
2013); (b) superfície dos estados limites de Cam-Clay e três estados assimptóticos: ensaio
de compressão isotrópica (LCN ), ensaio edométrico (K0 LCN ) e ensaio convencional de
compressão triaxial (LEC) (Mašin, 2014)
Para rematar toda esta prévia informação levanta outra problemática realçada por Kolymbas
(2000), que traduzida é: A utilização repetida de um conceito dá-nos a sensação que nós o
percebemos (na realidade, não o percebemos mas aceitamo-lo). (...) A aplicação repetida do
critério de cedência de Mohr-Coulomb gerou a crença, na mecânica dos solos, que o ângulo de
atrito (φ0 ) está claramente definido e é que é uma constante intrínseca auto-evidente do material.
Ao assumir isso ignoramos que o ângulo de atrito não é constante e varia consideravelmente
dependendo da porosidade, do modo de deformação e da tensão média. Uma confusão similar
é relacionada com o ângulo de dilatância (ψ), cuja definição precisa na maior parte dos casos é
desconhecida.
13
1.2 Processo experimental
A segunda questão corresponde aos vários tipos de modelos que se usam para dimensionar:
Os modelos físicos dos solos para ensaios laboratoriais são protótipos do solo do local e
fornecem resultados, tanto para aplicação direta em projeto, como para a aplicação nos modelos
estruturais, que são o meio de interpretação. Também podem ser usados na fase de criação e
de verificação da aplicabilidade dos modelos estruturais para averiguar o realismo dos mesmos.
Os modelos estruturais são uma abstração, fundamentada nas leis da física e da matemática,
capaz de reproduzir a realidade. Estes últimos recebem valores para os parâmetros através de
dados obtidos diretamente dos ensaios realizados no campo e em laboratório ou de correlações
estabelecidas a partir dos resultados obtidos - parâmetros indiretos.
Definidos os tipos modelos, passa-se então, para a forma mais fiável de obter os parâmetros
para os modelos estruturais que serão os abordados na presente tese. É preciso ter um grande
cuidado em relação aos dados utilizados para a dedução dos parâmetros porque os modelos
são gerados a partir deles, e consequentemente, estes serão determinantes na capacidade de
aproximação do modelo ao comportamento real, como se clarifica na figura 1.12, que ilustra o
processamento dos dados até ao dimensionamento. Maus dados, naturalmente, darão resulta-
dos absurdos.
É fácil ter maus dados se se esquecer que na sua origem estão ensaios com limitações.
A primeira máxima neste assunto é: Para que os ensaios e os respetivos estudos paramétri-
cos sejam bem conduzidos, há necessidade de situar e perspetivar o problema, enumerando as
variáveis (Caldeira, 1994) e seguidamente combinar os resultados dos vários tipos de ensaios
com as necessárias adaptações de forma a que a complementaridade contorne as limitações de
cada um (Cruz, 2010). Os eurocódigos ajudam a concretizar este problema fornecendo orienta-
ções de projeto e formas de cálculo das ações atuantes especialmente a EN 1990 (2009), a EN
1991 (2010), a EN 1997-1 (2009), a EN 1998 (2006) e a EN 1997-2 (2007) dá diretrizes para o
planeamento e interpretação dos ensaios laboratoriais e de campo.
14
Figura 1.12 – Esquema geral da seleção de valores derivados das propriedades geotécnicas (EN1997-
2,2010)
Os ensaios de campo, cujo guião de aplicabilidade pode ser consultado na tabela 2.1 da EN
1997-2 (2007) 2.4.1.1 (anexo A.1), têm a vantagem de serem rápidos e de custo reduzido, de se
ensaiarem grandes volumes representativos do solo nas condições locais, fornecendo direta ou
indiretamente informação, mais ou menos contínua no espaço (dependendo do ensaio), e sem
alterações significativas do estado de tensão, permitindo conhecer o estado atual do solo. Por
isso, são usados para a prosperação do local, com o intuito de identificar estratos e heteroge-
neidades, para fazer o controlo da construção e a monotorização do desempenho de estruturas
geotécnicas, bem como para medir as propriedades específicas do terreno correspondentes pe-
quenas distorções. Os resultados diretos passíveis de serem obtidos nesses ensaios estão lista-
dos na Tabela 1.1. Existe bibliografia (Been, 1985, ESLR, 1998, Kulhawy e Mayne, 1990, Morris
e Lockington, 2002, Sabatini et al., 2002) que permite correlacionar os resultados obtidos com
parâmetros fundamentais de dimensionamento, principalmente para um pré-dimensionamento.
Também podem ser correlacionados diretamente com os parâmetros obtidos em ensaios labora-
toriais.
Sabe-se (Caldeira, 1994) que as propriedades medidas em campo tendem a ser superiores
face às medidas em laboratório, porque nestas últimas há perturbação da amostra que originará
descompressão, e para os estados de tensão e a deformação equivalentes aos impostos em
campo, a memória da história de tensões é determinante e consequentemente a rigidez medida
em laboratório será minorada.
15
Tabela 1.1 – Sintese dos resultados diretos que se podem obter através ensaios de campo abordados na tabela A1 da
EN1997-2 (2007)
1 4
Ensaio de penetração estática Penetração dinâmica média
2
Ensaio de penetração estática com medição da pressão inters- 5 Penetração dinâmica pesada
6
ticial de água Ensaio de penetração normalizado
3
Penetração dinâmica leve
16
• os campos de deformação, em geral, não serem uniformes;
Os ensaios laboratoriais, ao contrário dos de campo, tendem a ser morosos, têm um custo
elevado por ensaio e uma representatividade reduzida. Os resultados são afetados pelas pertur-
bações resultantes da extração, transporte e montagem dos provetes, especialmente em areias
devido à escassez ou ausência de cimentação, perdendo-se assim a influência da história de
tensões e de deformações. Para reduzir as perturbações, existe a possibilidade de congelar os
solos, de forma a extrair amostras o mais indeformadas possíveis. No entanto, a água ao conge-
lar pode expandir alterando o volume dos vazios do solo, e consequentemente, as propriedades
do mesmo. Por esta razão, no caso das areias, é mais comum reconstruir provetes em laboratório
e tentar reproduzir a história de carregamento in situ.
A Tabela 2.2 da EN 1997-2 (2007), ilustra a razoabilidade da utilização das amostras para os
vários solos nos vários ensaios, ao passo que a tabela 1.2, que provém da mesma fonte diz quais
os parâmetros passíveis de ser obtidos em cada ensaio laboratorial. Estes resultados são mais
precisos porque os três elementos definidores dos solos saturados (as tensões, as deformações
e o índice de vazios) são determinados ou conhecidos ao longo de todo o ensaio, bem como as
fronteiras e as condições de drenagem. É exatamente por esta razão que estes ensaios servem
tanto para verificar a aplicabilidade dos modelos constitutivos do solo, como também para, em
termos de investigação, criar novos modelos. Daqui depreende-se que se o modelo não for capaz
de representar bem o ensaio também a fiabilidade do dimensionamento será questionável. Isto
explica porque o EN 1997-2 (2007) refere que só se existir experiência local suficiente para corre-
lacionar os ensaios de campo com as condições de solo por forma a garantir uma interpretação
inequívoca dos resultados, se pode evitar a realização de ensaios laboratoriais, substituindo-os
por ensaios de campo. Tal como nos ensaios de campo, há vários tipos de ensaios laboratoriais,
cujo interesse para os vários tipos de geomateriais se pode encontrar na tabela 2.2 e 2.3 do EN
1997-2 (2007) (anexo A.2 e anexo A.3).
Não há um ensaio capaz de simular todas as solicitações que um solo pode ser sujeito. Em
termos práticos, quanto mais parecidas forem as condições de fronteira e a trajetória de carre-
gamento do que se pretende simular menor é a incerteza associada, porque menos correlações
são necessárias. Deste modo, dependendo das situações de projeto geotécnico, uns ensaios
17
Tabela 1.2 – Sintese dos resultados diretos que se podem obter através ensaios de laboratório abordados
na tabela A1 da EN 1997-2 (2007)
18
adequam-se melhor do que outros, como se pode ver nos exemplos referidos na figura 1.13.
Ensaio de deformação
Reservatório Unidimensional (EDO)
Aterro
Figura 1.13 – Tensão inicial in situ e variação de tensões resultantes de algumas construções típicas da
engenharia geotécnica e ensaio que seguem as trajetórias correspondentes (Bardet, 1997
e Maranha das Neves, 2013)
19
de acordo com a mecânica dos estados críticos o ângulo de atrito (φ’), λ e κ são parâmetros
intrínsecos do solo, que podem ser deduzidos por correlações a partir parâmetros provenientes
desses ensaios.
Deslocamentos (u) C
E I
S N
T E
M
Compatibilidade
T
I T
C I
A C
) ) A
Constitutivas
20
Figura 1.15 – Projeção de um triângulo em vários espaços matemáticos afins
Esta consciência levantou uma questão curiosa que está fora do âmbito da tese: será que
existirá informação relativa ao comportamento do solo, ao nível particulado, a qual não se tem
acesso porque o modelo contínuo ocorre num espaço euclidiano? Isto porque as partículas
são aproximadamente esféricas, a transmissão das forças, quando não coagidas por fronteiras,
tendem a ser semiesféricas.
Figura 1.16 – Projeção no espaço (adaptado de Anton et al.,2007) e o respetivo efeito da projeção segundo
diferentes eixos ortonormados
21
(a) (b)
Figura 1.17 – Tensor das tensões: (a) Caso geral; (b) segundo as direções principais
eixos ~e=(1,0,0) ex +(0,1,0) ey +(0,0,1)ez . Assim, como se pode ver na figura 1.5 a projeção de
~ • ~e = ||OA||
OA ~ • ||~e|| • cos(θ) (1.1)
O tensor das tensões de um elemento infinitesimal em que cada uma das suas facetas está
sujeito a uma determinada tensão, se for projetado sobre os eixos locais, que são os eixos do
elemento, obtém-se o conhecido tensor das tensões, que se representa na figura 1.17a).
Este pode ser subdividido numa parcela isotrópica e numa deviatórica (1.2), correspondente
a uma tensão média, dada pela equação (1.3), e o restante correspondente à tensão deviatórica
segundo cada uma das direções (1.5).
σ11 τ12 τ13 p 0 0 σ −p τ12 τ13
11
τ21 σ22 τ23 = 0 0 + τ21 σ22 − p (1.2)
p τ23
τ31 τ32 σ33 0 0 p τ31 τ32 σ33 − p
com
σ11 + σ22 + σ33
p= (1.3)
3
Ora, como o espaço Euclediano tem uma geometria de congruência, então todas as formas
espaciais são invariantes sob translação e/ou rotação. Ora esta propriedade permite que se
possa rodar o elemento por forma a que os eixos coincidam com as direções principais. Nesse
caso a matriz fica simplificada e permite reconhecer as tensões principais a que o solo está
sujeito como mostra a figura 1.17b, cuja decomposição, como anteriormente, corresponde à
equação (1.4).
σ 0 0 p 0 0 σ −p 0 0
I I
0 = 0 0 + 0 σII − p (1.4)
0 σII p 0
0 0 σIII 0 0 p 0 0 σIII −p
Fazendo isto localmente vê-se o encaminhamento das tensões principais no solo e isto cor-
22
responde ao que se vê nos programas numéricos através da gradação da cor ou de cruzes com
a direção e a intensidade das tensões principais e o tamanho consoante a grandeza. (Fig 1.18)
(a) (b)
Figura 1.18 – Modelo ilustrativo da primeira fase de escavação com o primeiro nível com suporte de pa-
redes moldadas: (a) Referência da tensão média em função das cores; (b) Referência das
tensões principais em função das cruzes diretrizes das tensões principais
r
(σ11 − σ22 )2 + (σ11 − σ33 )2 + (σ22 − σ33 )2
q= 2 + τ2 + τ2 )
+ 3(τ12 13 23 (1.5)
2
r
(σI − σII )2 + (σI − σIII )2 + (σII − σIII )2
q= (1.6)
2
2
εs = (εI − εIII ) (1.8)
3
23
Esta relação é muito importante porque permite medir o que ocorre no interior do corpo pelo
trabalho interno de deformação. Este trabalho corresponde ao esforço que o solo tem que ter,
para que, por causa de uma determinada ação, ocorra uma correspondente deformação e de tal
forma que a parcela do trabalho volumétrico (Wv ) seja independente do distorcional (Wd ):
Nesta simplificação (p,q vs εv ,εs ) os eixos resultantes podem-se representar num espaço bi-
dimensional e correspondem ao eixo isotrópico do espaço tridimensional e qualquer ponto sobre
o plano perpendicular ao eixo isotrópico, como se pode ver na figura 1.19. Também se pode
verificar que se perde sensibilidade quanto à direção do vetor, seja ele de tensão ou deformação,
e que qualquer ponto centrado no eixo isotrópico com o mesmo raio tem o mesmo q.
3p
√
C q
q
q
2
3
A
D
D
σ3
E B
E C
3
σ
2
=
σ
1
=
σ
σ2
p
σ1
Tem havido um grande esforço de investigação no âmbito da modelação por parte da comuni-
dade internacional de geotecnia e naturalmente ramificações associadas à forma de abordagem
da modelação e aos conceitos teóricos subjacentes. Alguns modelos do processo de evolução
24
da modelação de areias estão indicados da figura 1.20.
Teoria Modelos
Rotura Mohr-Coulomb (Mohr,1900)
Hiperbólico (Konder,1960)
Hipo-elasticidade
K-G (Naylor et al., 1981)
Elasticidade Elasticidade
Hiper-elasticidade
Existem duas teorias base para qualquer modelo da Geotecnia que correspondem ao critério
de rotura, que têm um modelo associado de Mohr-Coulomb, e a teoria da elasticidade provinda
dos materiais estruturais, que, de diferentes formas, é aplicada na modelação elasto-plástica.
Sem estas duas teorias não é possível avançar para a mecânica dos estados críticos, que permite
a interpretação dos ensaios, e por isso excepcionalmente estas teorias e o modelo constitutivo
associado vai ser abordado neste capítulo.
A primeira grande preocupação da geotecnia foi prever e evitar a rotura das areias. Esta
modelação foi introduzida através do conceito de Mohr-Coulomb do ângulo de atrito interno do
solo que define uma superfície de rotura onde, qualquer ponto (σ1 ,σ2 ,σ3 ) sobre este tem um
comportamento de rotura, a esta superfície normalmente chama-se envolvente de rotura.
Evitado este problema, levantou-se a questão de como é que o solo evoluí desde o seu
estado de repouso até à rotura. A primeira abordagem foi a modelação elástica, transpondo
os conceitos de teoria da elasticidade do Módulo de Young (E) e do coeficiente de Poisson (υ).
Estes são caraterizados por terem um comportamento reversível em termos de deformações.
Isto é conseguido pela aplicação de uma única função (D) que correlaciona as tensões com as
deformações.
σ = Dε (1.10)
25
A adaptação para os solos consistiu em obter uma relação volumétrica e distorcional. Esta
transição obriga a considerar o tipo de comportamento do solo.
O solo conforme o carregamento a que esteve sujeito ao longo da sua história pode ter um
comportamento isotrópico, ou seja em que as propriedades inerentes ao solo são independentes
da direção de carregamento, ou pode devido ao processo de sedimentação ter maior rigidez
numa direção do que nas outras fazendo com que se deforme mais facilmente na direção menos
rígida, tendo portanto um carregamento anisotrópico.
Este caminho teoricamente introduzido aqui vai ser simulado no presente trabalho para se
poder acompanhar o processo de modelação. A partir do próximo capítulo começar-se-á a con-
cretizar. Segue-se o capítulo dos ensaios que abordará de forma mais concreta os ensaios
laboratoriais realizados.
26
Capítulo 2: Programa de Ensaios
2.1 Introdução
Foram realizados três ensaios na presente tese (tabela 2.1) em amostras reconstituídas em
laboratório da areia SP 49, comercializada pela empresa Sibelco, com um duplo objetivo: ana-
lisar a capacidade que os modelos constitutivos da mecânica dos solos dos estados críticos
têm de descrever os resultados experimentais e testar a capacidade que os diferentes modelos
constitutivos (capítulo 3) têm de descrever os ensaios. Assume-se que o modelo que conse-
guir descrever os diferentes comportamentos de um solo em vários tipos de ensaios está apto
para descrever as várias solicitações que na realidade o solo pode ser submetido. Sabe-se que
os ensaios realizados não serão suficientes para garantir a adequabilidade do modelo, pois só
corresponde a um tipo de ensaios (ensaios triaxiais drenados).
Descrição Objetivo
Ensaio CD de compressão
convencional monotónica
Ensaio 1 Obter a resposta do comportamento
(trajetória 1:3)(ASTM D 7181-11)
solto da areia
com compacidade relativa de 3%
(ASTM D 4254-00)
Ensaio CD de compressão
convencional monotónica
Ensaio 2 Obter a resposta do comportamento
(trajetória 1:3)(ASTM D 7181-11)
denso da areia.
com compacidade relativa de 100 %
(ASTM D 4253-00)
Ensaio de caraterização
Simular um carregamento não norma-
das superfícies de cedência lizado e testar a capacidade de ajuste
Ensaio 3 (Tatsuoka, 1974) dos modelos
O solo ensaiado foi usado em Vieira (2008), o qual contém os resultados dos ensaios de
caraterização física do solo – análise granulométrica (LNEC E 239 e LNEC E 195), de determi-
nação da densidade das partículas (NP 83) e de determinação do valor máximo e mínimo do
peso volúmico seco (ASTM D 4253-93 e ASTM D 4254-93). A composição química foi fornecida
pela empresa Sibelco. Todos estes resultados estão sintetizados na tabela 2.2 e na figura 2.1.
Da caraterização química pode-se comprovar que se trata de uma areia siliciosa (composta
essencialmente por sílica – 99,6%). A análise granulométrica permite saber que o solo corres-
27
Tabela 2.2 – Caracterização física (Vieira, 2008) e química (Sibelco) da areia SP49
ponde a uma areia limpa, cujas partículas variam na casa das décimas de milímetro, e estão
contidas no intervalo da dimensão de partículas classificada como areia. O coeficiente de uni-
formidade é próximo da unidade - valor mínimo - bem como o coeficiente curvatura, donde se
conclui que a variação de diâmetros das partículas do solo é reduzida, o que confere uniformi-
dade ao solo, e por isso é classificada como uma areia mal graduada. O D50 é de 45 mm, ao
contrário do rótulo da fábrica que afirmava ser 49 mm. A compacidade máxima e mínima fornece
o intervalo passível de ser testado, que no caso específico das areias varia entre o peso volúmico
seco máximo e o peso volúmico seco mínimo, correspondente ao grau de sobreconsolidação crí-
tico (Mansin, 2014).
28
servirão de suporte para analisar os resultados obtidos nos ensaios realizados. Existe uma certa
variação no ângulo de atrito entre ensaios que advêm da utilização de diferentes métodos de
preparação e ensaio, e também devido à variação da compacidade relativa (Dr).
Tabela 2.3 – Síntese dos ângulos de atrito na fase final dos ensaios obtidos
em Vieira (2008)
Dependendo dos parâmetros que se pretende obter há ensaios com maior precisão que ou-
tros (tabela 2.4).
Tabela 2.4 – Ensaios mais adequados para obter os parâmetros dos modelos (Von Wolf-
fersdorff, 1996)
Parâmetro Ensaio
φ1 Deposição da areia seca em talude
λ2,κ3,e0 4 Ensaio edométrico em solos com compacidade relativa mínima
5
G Ensaio triaxial drenado no estado denso
1
Ângulo de atrito
2
Gradiente da LCN
3
Gradiente duma linha de descarga-recarga (linha κ), numa representação (ν, ln p’)
4
Índice de vazios do solo NC para σ’ igual a 1 kP a
5
Módulo de distorção
Os ensaios triaxiais drenados em areias são usados frequentemente para testar a capacidade
de ajuste do modelo com base em parâmetros anteriormente calibrados. Na presente tese os
parâmetros de calibração foram obtidos nos ensaios 1 e 2.
2.2.1 Preparação
O ensaio 1 foi preparado segundo a norma ASTM D 7181-11 com aplicação do método de
deposição com colher (método A da ASTM D 4254-00) (figura 2.2a)), pois corresponde aquele
que consegue alcançar compacidades menores com uma distribuição mais uniforme, uma vez
que se consegue garantir que a altura de queda é mais ou menos constante, sem haver um
acréscimo de aceleração das partículas com o funil. A compacidade mínima conseguida com a
colher tem o adensamento correspondente à ação da gravidade.
29
Como a areia não tem coesão, foi necessário aplicar vácuo pelo interior da amostra para
gerar sucção capaz de manter a forma da amostra durante a preparação e enquanto a câmara
não é fechada, cheia de água e aplicada a pressão de confinamento, como se pode ver na
figura 2.2b). Este efeito leva a uma certa densificação da amostra, pois o excesso de sucção é
capaz de provocar o rearranjo das partículas. Também a montagem da amostra não é realizada
diretamente na prensa, obrigando ao transporte, gerando vibrações que também contribuem para
a densificação da amostra.
Os ensaios 2 e 3 foram preparados segundo a norma AST D4253-00 (figura 2.2c)) com utili-
zação da mesa vibratória para se conseguir obter a compacidade máxima. Foi testada a hipótese
de densificação em meio seco (método 1A ou 2A) e em meio húmido (método 1B ou 2B), para se
procurar determinar em qual dos casos se consegue maior densificação e confirmou-se que os
melhores resultados se obtinham nas areias em meio seco, sendo que a diferença era reduzida.
Figura 2.2 – Preparação da amostras: (a) colocação da areia no molde; (b) aplicação do sistema de vácuo;
(c) adensamento na mesa vibratória
2.2.2 Saturação
Para o caso específico das areias, como é difícil dissolver o ar na água e como as areias são
quimicamente estáveis, antes de começar a saturação, pode-se aplicar no interior da amostra
CO2 , que por ser mais denso que o ar, o expulsa do interior ocupando o seu lugar e, dado que é
30
mais solúvel em água do que o ar, consegue-se saturar melhor a amostra. Pode-se mesmo cons-
tatar, graças à variação do tempo de aplicação do CO2 , que este facilita e melhora os resultados
em termos do parâmetro B de Skempton (1954), minimiza o tempo de saturação e a contrapres-
são necessária para a saturação. Na segunda subfase o aumento da pressão da câmara foi pro-
vocada segundo pequenos incrementos com os controladores automáticos de pressão/volume e
lentamente para não gerar pressões intersticiais significativas capazes de alterar a estrutura do
solo (Bardet, 1997).
2.2.3 Consolidação
2.2.4 Corte
O 3º ensaio foi planeado com base em Tatsuoka (1974) com o objetivo de compreender a
forma das superfícies de cedência das areias. A metodologia utilizada para prescrutar a forma
das superfícies consiste em fazer uma sequência de cargas e descargas da tensão de corte, e
descargas a tensão devitórica constante. Como pode ver-se na figura 2.3, a partir do estado
de compressão isotrópico (1) carrega-se o solo até a um determinado valor da tensão deviató-
31
rica (2), que posteriormente se verificará se já terá atingido o comportamento plástico, ou não.
Se não o tiver atingido não há problema porque na sequência de cargas e descargas este será
alcançado. Depois descarregou-se o solo segundo um conjunto de trajetórias (2-3-4) tal que,
quando recarregado, nenhum dos pontos a trajetória de tensão coincida com a anterior. Algures
no percurso da trajetória de recarga (4-6) existe um ponto (5) em que se alcança novamente a
superfície de cedência e há uma mudança no comportamento da tensão de corte do solo face
à variação da deformação. Note-se que, apesar de este ensaio ser interessante para aproximar
a forma da superfície de cedência, é preciso não esquecer que toda esta formulação está as-
sociada à conceptualização dos modelos plásticos convencionais (Kolymbas, 2000), e que, por
isso, não é diretamente extensível a outros modelos, como por exemplo o modelo de subloading
apresentado no próximo capítulo.
Figura 2.3 – Análise da cedência em ensaio triaxial em areias densas de rio Fuji: (a) trajetória de tensões
no plano p0 :q; (b) evolução de η : εv ; (c) evolução de η : εv ; (d) segmentos da curva de
cedência (adaptado de Tatsuoka, 1972)
2.3 Resultados
Na figura 2.4 a) consegue-se facilmente verificar que houve problemas na realização da fase
de compressão isotrópica dos ensaios com a compacidade máxima. Verifica-se na quase verti-
calidade do troço a fuga de água da câmara detetada no 3º ensaio. No segundo, como não foi
ensaiado nesta fase com aquisição automática, só se verificou a irregularidade após terminado
32
e com base na comparação com os outros ensaios.
Nos resultados corrigidos dos ensaios na figura 2.4 b) pode-se verificar que a inclinação da
linha κ é aproximadamente igual para todos os ensaios, a menos do intervalo de erro reduzido,
que assumindo a mecânica dos estados críticos, será oriundo incerteza experimental.
2.0 2.0
1.8 1.8
1.6 1.6
ν
ν
1.4 1.4 Linha k
Ensaio 1
1.2 1.2 Ensaio 2
Ensaio 3
1.0 1.0
20 100 200 400 800 20 100 200 400 800
p (kPa) p (kPa)
Figura 2.4 – Resultados de compressão isotrópica dos três ensaios realizados: (a) resultados experimen-
tais; (b)correção dos resultados e ajuste à linha κ
A figura 2.5 ilustra os resultados obtidos no corte do 1º e 2º ensaios. A figura 2.5 a) pretende
ilustrar que ambos os ensaios têm a mesma trajetória de tensões, com a inclinação 1:3, e permite
visualizar no espaço (p0 :q:ν) a as respetivas trajetórias.
A figura 2.5 b) do gráfico no plano (p0 :q) ilustra os resultados dos ensaios e a linha de estados
críticos (LEC). Pode-se verificar que, no fim do segundo ensaio, este ainda não convergiu para
a LEC. Os dados dos dois ensaios não estão sobrepostos, mas aproximam-se da trajetória 1:3
que o ensaio define.
A figura 2.5 c) mostra que ambos os ensaios apresentam uma tensão de corte de pico, maior
no ensaio 2, cuja compacidade inicial era maior do que a do ensaio 1. A relação η final, não sendo
coincidente, não revela tendência para coincidir se o ensaio 2 fosse prolongado. No entanto, nos
ensaios a taxa de variação de volume nula correspondeu a um intervalo, sombreado no gráfico e
registado na tabela 2.5 com dimensões diferentes. No segundo ensaio o intervalo inclui a tensão
final do primeiro ensaio. O valor de pico foi obtido em torno dos 4 % de εs , no segundo ensaio, e
11% no primeiro.
A figura 2.5 d) revela, para ambos os ensaios, uma variação crescente do índice de vazios
que corresponde a uma expansão do solo, sendo quase linear durante um troço alongado que
termina antes de se alcançar o pico, aumentando a partir desse ponto também as oscilações nos
resultados. O volume específico final dos dois ensaios não é o mesmo, nem tem tendência de vir
a coincidir.
33
distorcional ao longo dos ensaios. Pode-se verificar que ambos tiveram um comportamento ini-
cialmente contrátil e que com o aumento da deformação se tornou dilatante. Pode-se ver que,
aquando do pico o comportamento já é dilatante e que, o pico corresponde ao ponto de inflexão
das curvas. Verifica-se também que, quer o troço contrátil, quer o ponto de inflexão, no primeiro
ensaio ocorrem para deformações distorcionais superiores ao do segundo caso.
400
q (kPa)
dq
dp
=3
200
500
0 400
1.2 300
1.6 200
(a) 1.8
2.0100
ν p (kPa)
600 2.0
1.5
400
q (kPa)
1.0
η
200
0.5
0
0 100 200 300 0 5 10 15 20 25
(b) p (kPa) (c) εs (%)
2.0
0
1.8 -2
εv (%)
1.6 -4
ν
-6
1.4
-8
1.2 -10
0 100 200 300 0 5 10 15 20 25
(d) p (kPa) (e) εs (%)
Figura 2.5 – Resultados do ensaio de corte em compressão triaxial CD para as duas amostras
Os valores mais significativos podem ser verificados na tabela 2.5. Olhando para o conjunto
34
de resultados de consolidação e de corte, compreende-se que ambos os solos estavam no es-
tado denso quando ensaiados, um mais que o outro e que a teoria corrobora a resposta obtida
nas duas partes do ensaio. Verifica-se também que os φ0 no final dos ensaios 1 e 2 são inferiores
aos resultados obtidos nos ensaios de corte direto e que o φ0 do segundo ensaio é igual ao obtido
no ensaio de corte simples.
Como se pode ver na figura 2.6 a), a trajetória de tensões imposta ao solo foi complexa, com
uma sucessão de cargas e descargas irregulares, por forma a permitir a realização dos dois
objetivos definidos para este ensaio. Pode-se verificar que a prensa teve dificuldade em realizar
as descargas com o parâmetro q constante e daí advém a principal oscilação dos resultados.
Na figura 2.6 b) dá para perceber bem a dificuldade que experimentalmente se verifica no iní-
cio dos ensaios. Bem como a diferença na trajetória dos resultados corrigidos (ensaio 1 e 2) e por
corrigir (ensaio 3). Verifica-se que a histerese dos ciclos não foi grande e que, por isso, o com-
portamento do solo na descarga e recarga ainda é aproximadamente elástico e ajusta-se bem
a uma reta, sendo, como a teoria afirma, as retas aproximadamente paralelas. É interessante
também verificar que a deformação associada ao ciclo na recarga é menor que na descarga, ou
seja que há uma maior rigidez, e que este efeito com o aumento da deformação vai diminuindo.
Verifica-se também que o comportamento da areia é o correspondente ao estado denso, porque
η é maior do que o crítico. Face a estes resultados no final do ensaio, o solo está próximo de
alcançar o estado de pico, pois aproxima-se dos resultados do ensaio para este estado.
Nas figuras 2.6 a), c) e d) os pontos assumidos como pertencentes a uma superfície de
cedência são os correspondentes ao fim dos ciclos obtidos segundo a forma explicada no pro-
cedimento. Verifica-se que há uma correspondência entre o fim dos ciclos, quer em termos de
relação de tensões, quer na relação tensão-deformação. Verifica-se também que os segmentos
de reta que unem os pontos da mesma superfície são em cada ciclo mais inclinados, sendo que
há três possíveis fatores a influenciar esta variação - o número de ciclos realizados, os carre-
gamentos máximos associados a cada um dos ciclos e as diferentes trajetórias de descarga e
recarga. Verifica-se também que os ciclos fechados de η:εs ocorrem para ciclos que partem de
baixas tensões de carregamento, e os abertos para o contrário. A figura 2.3 d) refere-se aos
resultados do ensaio idealizado por Tatsuoka (1972), os quais serão modelados e apresentados
no capítulo 3.
Na figura 2.7 b) está bem patente a deformação volumétrica originada e é interessante veri-
ficar que, apesar das cargas e descargas e mesmo das diferentes direções de carregamento, a
curva do ensaio 3 tende a acompanhar a curva do ensaio 2, que têm um comportamento denso
bastante próximo. Na figura 2.7 a) verifica-se que a variação de ν foi pequena, o que é de esperar
pois está-se com deformações distorcionais da ordem dos 2%. Ocorre uma sucessão de valores
de ν com a variação de p, nos ciclos de descarga e recarga, cuja tendência foi de expansão, à ex-
ceção do troço inicial que foi de contração. É interessante notar que, apesar dos ciclos de carga
e descarga, a variação volumétrica não foi suficientemente grande para gerar ciclos fechados na
35
Tabela 2.5 – Resultados mais importantes dos ensaios
Ensaios
Grandezas
1 2 3
1 6
Parâmetro B de Skempton (1954) q/p’
2 7
Tensão média Ângulo de atrito no estdo crítico
3 8
Tensão deviatórica Deformação axial na rotura
4 9
Volume específico Deformação volumétrica máxima
5
Ângulo de dilatância
36
1400 2.0
1200
1000 1.5
800
q (kPa)
1.0
η
600
400
200 0.5
1200 1200
1000 1000
800
q (kPa)
q (kPa)
800
600
600
400
400
200
200
0
0
-1.2 -1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0 1 2 3
(c) (d)
εv (%) εs (kPa)
Figura 2.6 – Resultados do ensaio de corte CD para o terceiro ensaio: (a) comparação entre os carre-
gamentos dos três ensaios no plano (p0 :q); (b) comparação três ensaios no plano εs :η; (c)
Resultados no plano εv :q; (d) Resultados no plano εs :q
relação p:ν.
1.43 1
0
ν (kPa)
εv (%)
1.42
-1
1.41 -2
200 400 800 1000 0 1 2 3
(a) (b)
p (kPa) εs (%)
Figura 2.7 – Resultado deformacionais do terceiro ensaio: (a) no plano ν:p; (b) comparação da deformação
dos três ensaio (εv :εs )
A figura 2.8 ilustra o contraste entre as areias que deformam continuamente até ao estado
crítico e o solo que desenvolve localização das deformações após a resistência de pico.
37
(a) (b)
Figura 2.8 – Forma do provete no final do ensaio: (a) Fim do ensaio da amostra do ensaio 1; (b) desmon-
tagem para ilustrar a localização das deformações do ensaio 2
Função Expressão R2
Logarítmica ν=1,7964-0,004ln p0 0,9866
Linear ν=1,7852-0,00008p’ 0,9901
Quadrática ν=1,7862-0,0001p0 +4x10−7 0,9996
−5 0
Exponêncial ν=1,7852e−4x10 p
0,9902
A figura 2.9 vem ilustrar que os solos não tendem a ter um comportamento com uma variação
abrupta entre o comportamento elástico e plástico. Esta curvatura da transição está patente em
ambos os ensaios das areias densas, que tendem a aumentar a inclinação e a afastar-se do
comportamento linear à medida que se dá o acréscimo de pressão.
No caso das areias, Von Wolffersdorff (1996) afirma que a forma mais fiável de obter a linha
de compressão normal (LCN) é pela compressão de areias soltas, porque, como se pode ver
no ensaio de areias reconstruídas em laboratório da figura 2.9, as areias tendem a aproximar-
38
se muito lentamente da linha de compressão normal (LCN). Segundo Coop (2005) a variação
volumetrica que ocorre à medida que o solo é comprimido na LCN está associado com a fratura
das partículas, que se denomina de cedência clástica, e por isso uma das principais diferenças
entre areias e argilas é que a cedência durante o primeiro carregamento ocorre para tensões
muito altas, tal que dentro da gama de tensões aplicadas na engenharia a maior parte das areias
não alcançarão a LCN como se pode ver na figura 2.9.
Figura 2.9 – Resultado de compressão isotrópica e dados do estado crítico para três amostras reconstituí-
das em laboratório (Coop, 2005): (a) areias de Dog’s Bay - calcárias; (b) granito decomposto;
(c) areias do rio Ham - quartzosa
Na presente tese os ensaios de compressão para areias procuram representar cargas cor-
respondentes a projetos realistas e por isso as tensões aplicadas não foram suficientemente
grandes para se poder determinar a linha de compressão normal e verificar esta caraterística
do solo. Assim sendo, não foi possível alcançar o comportamento normalmente consolidado.
Conseguiu-se, no entanto, obter a compacidade relativa correspondente à área de influência do
grau de sobreconsolidação crítico, como foi afirmado por Mansin (2014), a justificação está na
secção 2.4.2.2.
Devido a problemas que ocorreram na fase de consolidação nos ensaios 2 e 3 não é possível
tirar conclusões sobre a mecânica do solo.
Como se verificou no segundo ensaio, não existe coincidência entre os resultados na carga
e na descarga, sendo que não se sabe com precisão quando se deu o problema técnico e dado
que existe uma incerteza experimental não se consegue saber se o comportamento é puramente
elástico ou se já está a ocorrer alguma plastificação do solo. Teoricamente segundo Coop (2005)
a linha de descompressão é muito mais rígida do que a do primeiro carregamento no ensaio
39
realizado ao solo, mesmo que este ainda não pertença à LCN.
A não linearidade do comportamento dos solos é um facto que se deteta bem cedo nos
ensaios, principalmente em termos de tensões. A possibilidade duma análise mais exaustiva do
troço linear está fora de questão dado que, devido ao ajuste do êmbolo nos procedimentos e aos
efeitos da irregularidade local das amostras junto à placa porosa (Kung, 2007), os dados não são
fidedignos.
Como se tinha já anteriormente constatado, ambos os solos estão no estado denso, pois
ambos não chegaram a ter oportunidade de sair da linha κ. No entanto, o grau de sobreconso-
lidação é diferente e a diferença dessa resposta é visível, pois, apesar de ambos se iniciarem
com o mesmo estado de tensão, a resposta no corte é muito diferente, quer em tensões, quer
em deformações.
A variação de η entre o pico e a resistência final é muito menor no primeiro ensaio e é tão
pequena que se pode compreender que o solo inicialmente estava muito próximo do Rpcrtico, o
que vai de encontro à explicação teórica introduzida em relação à capacidade de realização de
ensaios em areias limpas no estado solto.
40
1.4.2.3 Comportamento na carga e na descarga
Verifica-se que, quer as descargas ocorram segundo a mesma trajetória de tensões, quer
ocorram segundo trajetórias diferentes, os ciclos no plano η:εs são sempre fechados. Neste nível
de deformação a histerese é muito pequena, o que quer dizer que a energia dissipada no ciclo
é muito reduzida, ou seja, que neste nível de deformação, ainda que a descarga seja grande, o
amortecimento (ξ) provocado pelo ciclo é pouco significativo.
É interessante notar que nas figuras 2.7 a) e b) que quando a trajetória de descarga e de re-
carga foi a mesma (1º e 4º ciclo), os pontos inicias e finais do ciclo para este nível de deformação
praticamente coincidiram, ao passo que quando a trajetória diferiu (2º e 3º ciclo) a rigidez obtida
na recarga é inicialmente igual, mas o amortecimento foi muito menor e por isso o solo atingiu
a mesma tensão deviatórica com uma deformação distorcional menor do que quando carregado
pela primeira vez. O conceito da deformação intergranular (Niemunis e Herle, 1997) foi formu-
lado para modelos hipoplástico mas como foi definido a partir do conceito de Simpson (1992)
para modelos elasticoplásticos então será abordado de um ponto de vista fenomenológico dado
que as expressões em concreto não se aplicam diretamente.
Durante o ciclo histerético dá-se uma variação da rigidez quer na descarga como na recarga,
razão esta que justifica a existência de histerese. Segundo estes, como se vê na figura 2.7, existe
a deformação total medida nos ensaios (δ) que varia entre os pontos extremos da deformação
do ciclo teoricamente por uma questão explicativa foram denominados por +D e −D para que
seja um ciclo com a mesma trajetória de carga e descarga. A variável δ̇ corresponde à deforma-
ção relativa intragranular, que fisicamente corresponde à alteração dos pontos de contacto entre
partículas que se dá ao nível macroscópico, da qual o valor R corresponde ao valor máximo de
deformação após o qual se dá o clássico rearranjo das partículas associado ao comportamento
plástico. A esta deformação intragranular também se chama variação da interface devido ao
fenómeno físico que foi explicado.
Antes do início do ciclo o solo estava a ser forçado para ter uma deformação numa deter-
minada direção (ponto 6), quando se dá a descarga, desenvolve-se uma alteração gradual dos
pontos de contacto entre as partículas ao nível da micromecânica alterando-se assim a forma
da interface como se pode ver na trajetória de 1 para 2. Quando o solo recupera as deforma-
ções com que vinha forçado (2), alcança o ponto nulo da deformação intragranular (δ) a partir
da qual o continuar da deformação vai induzir a uma variação da deformação mais lenta que
vai diminuindo até chegar à deformação máxima que a interface consegue alcançar, este abran-
damento da variação leva à sucessiva perda da rigidez elástica (trajetória de 2 para 3) e a um
comportamento não linear do solo. Quando se recarrega, inicialmente o solo vai de novo recupe-
rar as deformações impostas (trajetória de 4 para 5) e posteriormente novamente perder rigidez
originando um comportamento não linear. Ora se se expandir para um espaço tridimensional a
rigidez associada a diferentes trajetórias de descarga e recarga, segundo este fenómeno, leva
41
a que os comprimentos dos troços não tenham que ser iguais e simétricos como ilustra a figura
2.10.
(4) (5)
R
=R =0
(3) D=0 (4) D=+1
-R 0 R
(3) (6) R R
=-R =-R
(5) D=+1 (6)
D=0
(2) (1)
R
=0 =R
O comportamento contrátil e dilatante já foi referido que é coincidente com a teoria. A razão
porque quer o troço contrátil quer o ponto de inflexão no primeiro ensaio ocorrem para deforma-
ções distorcionais superiores ao segundo caso é porque, como a teoria afirma, vai havendo uma
transição entre o comportamento denso e o solto.
A plastificação dos solos é um facto notório no terceiro ensaio, dado que, na descarga, o solo
não consegue recuperar as deformações impostas no carregamento. Verifica-se também que,
com o aumento de deformação distorcional, há, não só um aumento da plastificação do solo,
como também um endurecimento do mesmo, que tende a estabilizar, como em todos os ensaios
se verifica.
Segundo a teoria da mecânica dos estados críticos ambos os ensaios deveriam tender para
o mesmo valor de q, p e de ν, o que não aconteceu.
Como a figura 2.11 vem provar há uma incerteza probabilística associada à experimentação,
que justifica esta discrepância nos resultados dos ensaios 1 e 2 e verifica-se também que o
solo denso tende a aproximar o estado crítico por valores superiores ao solo solto. O Professor
Maišon numa comunicação pessoal mostrou um artigo que está em revisão no qual realizou um
conjunto de 40 ensaios todos preparados exatamente nas mesmas condições e os resultados do
42
corte devido a esta incerteza e à associada à experimentação laboratorial obtinha discrepâncias
da ordem das centenas de kPa na tensão deviatórica final.
Poder-se-ia pôr também a questão da areia estar a ter um comportamento evolutivo e assim
sendo o ângulo de atrito alterar-se com a pressão de confinamento associada. No entanto, a
mesma figura 2.11 descarta esta hipótese, porque para os valores de tensão de confinamento
de 500 kPa com que o solo foi carregado inicialmente, face aos valores da ordem dos MPa com
que as areias da figura 2.11 foram testadas, a pressão de confinamento utilizada nos ensaios
2 e 3 não é suficientemente grande para gerar um comportamento evolutivo dos solos. Este
intervalo de tensões também cobre os resultados do ângulo de atrito para a caixa de corte com
a Dr=70 %. No caso da Dr=90 %, os resultados são superiores, mas verifica-se também que o
ensaio foi finalizado sem que os resultados da variação dos deslocamentos vertical e horizontal
tivessem estabilizados.
Figura 2.11 – Resultados dos ensaios traixiais CD para areias do rio Sacramento no estado solto (Dr=38
%) e no estado denso (Dr=100 %) a várias pressões de confinamento (Lee e Seed,1967):
(a) σ10 /σ30 : ε1 da areia com comportamento denso; (b) εv :ε1 da areia com comportamento
denso; (c) σ10 /σ30 : ε1 da areia com comportamento solto; (d) εv :ε1 da areia com comporta-
mento solto
A explicação para a não coincidência dos resultados no plano p:ν no fim do ensaio advêm do
fenómeno de localização. Como se pode ver na figura 2.12 a deformação na banda de corte por
onde se dá a rotura do solo (local 1) é muito superior do que fora da banda (local 2). A variação
total medida normalmente nos ensaios, como se pode verificar pela linha que carateriza o troço
global, é muito inferior à que realmente ocorre, porque corresponde à média da resposta do solo.
Com isto quer-se dizer que na banda de corte a variação de p:ν seria tal que os ensaios deveriam
43
coincidir no ν crítico.
Por outro lado o primeiro ensaio, como se pode ver na figura 2.8 a), embarrilou. Dado que as
medições são feitas a partir de deduções que consideram que durante todo o ensaio o provete
é um cilindro perfeito, também não se pode garantir que o ponto final obtido no ν, nem que o
ângulo de atrito final correto seja o medido. No entanto, considera-se que o erro associado a
este efeito é menor do que o erro supramencionado.
Figura 2.12 – Estereofotogrametria baseada na evolução local e global das deformações do ensaio shf06
(Desrues e Viggiani, 2004)
44
Capítulo 3: Modelos Constitutivos
A análise modelar consiste na conceptualização de fenómenos físicos que se procura formu-
lar em teorias e parâmetros matematicamente explicativos. O caso das areias saturadas já foi
amplamente abordado nos capítulos anteriores. Há também uma outra abordagem inversa que
consiste em formular o modelo estritamente dum ponto de vista matemático, cuja desvantagem
é carece de sensibilidade física.
i. Elástico-perfeitamente plástico
ii. Elasto-plástico com endurecimento
iii. Elasto-plástico com amolecimento
Este tipo de modelos supõe que o solo tem sempre um comportamento elástico até atingir
a rotura. Ser elástico quer dizer que no final de um ciclo fechado de carga e descarga, inde-
45
pendentemente da variação deformacional que ocorre dentro desse ciclo, o trabalho é nulo, e
consequentemente a variação deformacional também é nula.
I
W = σε = 0 (3.1)
∂g(ε)
W = σε = ε (3.2)
∂ε
Esta função g não é conhecida. Na resposta elástica linear admite-se que se sabe a relação,
em cada instante, entre a tensão e a deformação.
e
p
K 0 εv
= (3.3)
e
q
0 3G εs
O conceito hipoelástico é menos exigente que o elástico porque afirma que não se sabe a
relação direta entre tensões e deformações, mas se consegue relacionar a variação das tensões
(∆σ) com a variação das deformação (∆ε). Um dos interesses deste modelo advém de que, se se
souber a variação de tensões no solo que um dado projeto vá implicar, então, utilizando o ensaio
que recria aproximadamente os condicionamentos externos e as solicitações que irão ocorrer,
pode-se usar diretamente os parâmetros de K e G desse intervalo, e saber a deformabilidade do
solo, o valor da deformação ou da tensão final, a proximidade a que o solo estará sujeito.
O modelo hiperbólico faz parte do conjunto dos modelos elásticos não lineares. A parte
esquematizada foi desenvolvida por Konder (1960) e expandida para poder modelar a variação
da pressão de confinamento por Janbu (1963). Além desta parte principal do modelo existem
extensões do mesmo para poder prever a descarga e recarga mas que não serão abordados
nesta tese, dada a complexidade do terceiro ensaio.
46
Consiste num ajuste duma função hiperbólica aos resultados obtidos. A forma de modelação
está esquematizada na figura 3.1. Como se pode ver, nos resultados obtidos deste modelo, só
foi possível desenvolver a parte de Konder do modelo, pois todos os ensaios tiveram uma tensão
de confinamento inicial igual.
𝜀1 𝜀3
𝜎1 − 𝜎3 = 𝜀1 =
𝑎 + 𝑏𝜀1 𝑓 + 𝑑𝜀3
Regressão Linear
(𝜎1 − 𝜎3 )𝑅
𝑅𝑓 =
(𝜎1 − 𝜎3 )𝑈
Resultado
Como se pode ver na figura 3.2, o ajuste do modelo para q:εa no caso do 1º ensaio tem um
erro médio quadrático (EMQ) de 0,6 kPa, sendo este mesmo erro de 5,5 kPa para as pequenas
deformações e 0,45 kPa, ao passo que no 2º ensaio o ajuste só é razoável para as pequenas
47
deformações (EMQ de 1,3 kPa). Não é possível determinar o coeficiente de Poisson com este
modelo, como ilustra a figura 3.8b), porque o ajuste não é linear.
0.08 -2
0.06
-1
εr /εa
q/εa
0.04
0
0.02
0 1
0 5 10 15 20 0 -5 -10 -15
(a) (b)
εa (%) εr (%)
600 20
15
400
q (kPa)
εa (%)
10
200
5
0 0
0 5 10 15 20 0 -5 -10 -15
(c) (d)
εa (%) εr (%)
ensaio 1 ensaio 2 melhor ajuste do ensaio 1
ajuste dos ensaios para os ELU melhor ajuste do ensaio 2
Tabela 3.1 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, grandes defor-
mações e ELU para o modelo hiperbólico
48
Tabela 3.2 – Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias com o
modelo hiperbólico
Comportamento
O comportamento na carga e descarga do 3º ensaio era demasiado
na carga
complexo para ser reproduzido com este modelo.
e descarga
Comportamento
O modelo não consegue representar a variação volumétrica dado, que
dilatante
não consegue modelar o parâmetro υ.
e contrátil
49
axial, sendo que a capacidade de descrição das defoos estados limite não é igual para os solos
densos e soltos e só se consegue para o equivalente a ensaios simples.
A execução de descargas nos ensaios permitiu perceber que facilmente se geram deforma-
ções residuais permanentes (plásticas). Segundo a teoria da plasticidade (Drucker, 1950 e Druc-
ker, 1951) estas deformações ocorrem quando o solo experiencia o limite máximo da sua história
de carregamento e consequentemente estas são controladas pela instabilidade que se gera nos
pontos de contacto entre partículas (capítulo 1). O comportamento antes de se alcançar este
limite é elástico e após este é elastoplástico.
f (σ) = 0 (3.4)
A deformação total a partir daí passa a ser o somatório da componente elástica, que não
desaparece, com a componente plástica.
ε = εp + εe (3.5)
Tal como nos modelos elásticos, é através do trabalho que se conseguirá analisar a relação
entre tensões e deformações, sendo que agora o trabalho já não é nulo, mas é mensurável.
O teorema de Green permite saber o trabalho total sabendo a variação do trabalho sobre a
curva/superfície de fronteira. Para usar esta propriedade matemática ir-se-á conceptualmente
assumir a chamada condição de consistência, que afirma que os incrementos de deformação
plástica estão associados a uma variação da tensão que só pode ocorrer sobre a superfície de
cedência, matematicamente definida pela derivada da função f(σ 0 ), que só permite uma variação
tangente à superfície.
50
df (σ 0 ) = 0 (3.6)
Segundo Schofield e Wroth (adaptado, 1968) é da natureza dos materiais plásticos escoarem
para onde quer que sejam forçados pelas grandes tensões que levam o material à cedência. O
campo de deformações plásticas permite definir a função de potencial plástico (G) de tal forma
que através do gradiente seu se possa saber a tendência máxima do escoamento em qualquer
estado de tensão plástico e assim saber a direção e o sentido da deformação plástica, que é
definida por um vetor. A dimensão dessa deformação é dada por um multiplicador (escalar).
∂G
εp = λ (3.7)
∂σ 0
Os fenómenos físicos que permitem definir o potencial plástico ainda são desconhecidos.
Umas das formas de contornar o problema é através da lei de fluxo associado, que afirma que
a função de cedência e a função de potencial plástico são coincidentes. Outra delas é definir
uma função matemática sem significado físico que leve os resultados das deformações a ir de
encontro aos obtidos nos ensaios. Esta função deve incorporar uma relação com a superfície de
cedência e, se a superfície for evolutiva, o potencial plástico tem de ser, de alguma forma, função
do parâmetro de endurecimento (χ) para que este fenómeno que seja correlacionável com as
deformações.
51
3.2.1 Modelo Mohr-Coulomb
Modelo Elastoplástico
Modelo Elástico-perfeitamente plástico
com endurecimento
ߝ = ߝ݁ + ߝ
Rotura do geomaterial
q à compressão por
6sinφ ' compressão axial
= Mc
p'
ݍ− ߟ ݕ′ = 0
6sinφ '
= Me
3+sinφ ' 0
Me = 6 sin φ 0
3+sin φ
Rotura do geomaterial
à compressão por
extensão axial
′ݎ
(ܩ′ , ݍ, ߯) = ݍ− ܯ′݈݊
′
߲ܩ
ۗ ۓ
݀ߝߥ ߲′ ܯ− ߟݕ
ቊ ቋ = = ߣ൜ ൠ
݀ߝݏ ۘ ܩ߲ ۔ 1
=ܭ
Δ′
ۙ ݍ߲ ە
Δߝߥ
Δݍ
3= ܩ
Δߝݏ
ߟݏߝ
ߟ= ݕ
ܽ + ߝݏ
ߝ = ߝ݁ + ߝ
߲ܩ
ۗ ۓ
݀ߝߥ ߲′ ߝݏ
−∗ܯ
ቊ ቋ = = ߣቄ ቅ ߟ = ߟ − ൫ߟ − ܯ൯, 0 < ߝܾ < ݏ
݀ߝݏ ߲ܩ
ۘ ۔ 1 ቐ ݕ ܾ
ۙ ݍ߲ ە ߟܯ = ݕ, ߝܾ > ݏ
Tabela 3.3 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, grandes defor-
mações e ELU para o modelo elástico-perfeitamente plástico
53
2.0
0
1.5 -2
-4
εv
1.0
η
-6
0.5
-8
0 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
(a) (b)
εs (%) εs (%)
2 40
0 20
q (M P a)
-1
η
-2
0
-3
-4 -11
0 5 10 15 20 -500 -250 -50 50
(c) (d)
εs (%) p (MPa)
Figura 3.4 – Resultado do modelo Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico: (a) resultados dos en-
saios 1 e 2 e ajuste do modelo no plano η:εs com controlo de tensões (b) resultados dos
ensaios 1 e 2 e ajuste do modelo no plano εv :εs com controlo de tensões; (c) resultados dos
ensaios 1 e 2 e ajuste do modelo no plano η:εs com controlo de deformações (d) resultados
dos ensaios 1 e 2 e ajuste do modelo no plano q:p com controlo de deformações
Os parâmetros elásticos diferem nos dois ensaios e foram ajustados para obter a melhor
aproximação ao troço inicial. Pode-se verificar que a transição entre o comportamento elástico e
elastoplástico no modelo é abrupto, não correspondendo à realidade. A capacidade de ajuste da
parte elástica distancia-se significativamente da realidade, principalmente no caso do primeiro
ensaio a partir de valores de η da ordem de 1.
O valor de M ∗ é um valor constante que permite traçar uma reta para descrever a parte
plástica do ensaio em termos de variação volumétrica. Considerando as tensões como dados, no
caso do primeiro ensaio o ajuste é bom (figura 3.4 b) porque a variação volumétrica é aproximável
54
por uma reta, ao passo que, no segundo ensaio, a variação não linear obriga a formular dois
modelos, um para as pequenas deformações e outro para as grandes deformações, por forma a
conseguir acompanhar a deformação volumétrica inicial para os ELUt e conhecer o valor final da
deformação para a rotura.
3GK
dp0 = (dεv + M ∗ dεs ) (3.8)
KM M ∗ + 3G
3GK
dq = (M dεv + M M ∗ dεs ) (3.9)
KM M ∗ + 3G
em que qualquer uma das incógnitas é multiplicada por uma função que é só dependente de
constantes (a figura 3.4 d) ilustra bem o que se explicou). A variação abrupta na vertical da figura
3.4 c) existe porque a combinação da deformação volumétrica e distorcional ao longo do ensaio
é tal que permite que dp0 tenda para zero.
Os ajustes em termos de deformação têm grandes erros ao longo de todo o ensaio e nem
o valor final é coincidente. Isto ocorre porque a função do fluxo plástico depende diretamente
do endurecimento, ao contrário do modelo anterior, em que quando ocorre fluxo plástico este é
independente do estado de tensão.
55
2 2
0
1.5
-2
εv
1 -4
η
-6
0.5
-8
0 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
(a) (b)
εs (%) εs (%)
600
Ensaio 1
Ensaio 2
Ajuste (ensaio 1)
400 Ajuste (ensaio 1 ao ELU)
q (kP a)
Ajuste (ensaio 2)
Ajuste (ensaio 2 ao ELU)
200
0
0 5 10 15 20
(c)
εs (%)
Figura 3.5 – Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento: (a) resultados dos ensaios 1 e 2 e
do ajuste do modelo no plano η:εs ; (b) resultados dos ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo no
plano εv :εs ; (c) resultados dos ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo no plano q:εs ;
por isso, os erros por vezes conservativos, no início, e na parte final do ensaio contra a segu-
rança. Consegue-se, ainda assim, que o valor final da tensão seja a crítica, dado que é um dos
parâmetros impostos.
Tal como no modelo anterior, os resultados da deformação não são fiáveis e apesar de se
aplicar o amolecimento no primeiro ensaio a variação volumétrica do modelo não foi capaz de
expressar a existência de expansão no solo.
Como os resultados da figura 3.7 permitem comprovar, o melhor ajuste não corresponde aos
valores dos parâmetros definidos anteriormente para o ajuste dos resultados do ensaio de com-
pressão triaxial convencional, mas antes uns outros novos valores que também dão resultados
conservativos no ensaio convencional, ainda que com maior erro.
Pode-se verificar que os primeiros 2 ciclos de carga e descarga e no último o ajuste é bastante
aproximado, ao passo que o terceiro está bastante desfasado.
56
Tabela 3.4 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações,
grandes deformações e ELU para o modelo elastoplástico com endureci-
mento
Tabela 3.5 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, grandes defor-
mações e ELU para o modelo elastoplástico com endurecimento e amolecimento
1º Ensaio 2º Ensaio
G= 1 000 MPa G= 100 MPa
K= 500 MPa K= 500 MPa
Pequenas deformações,
M = 1.3 M = 1,63
médias deformações e
ηp =1.38 ηp = 1,91
ELU
a= 0.0015 a= 0,0005
b=0.15 b= 0,125
A figura 3.7 mostra que, mais uma vez, o modelo não consegue reproduzir as variações
de deformação volumétrica. Segundo este ajuste o solo está durante todo o processo em fase
contrátil, ao passo que, na realidade, desde bem de cedo, que o solo passa a expandir.
57
600
0
-2
400
q (kP a)
-4
εv
-6
200
-8
0 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
(a) (b)
εs (%) εs (%)
Figura 3.6 – Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento: (a) resultados dos
ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo no plano η:εs ; (b) resultados dos ensaios 1 e 2 e do
ajuste do modelo no plano εv :εs
Note-se que o melhor ajuste dum mesmo modelo para os vários ensaio obrigou a um com-
promisso entre os erros admitidos.
58
2.0 2.0
1.5 1.5
1.0 1.0
η
η
0.5 0.5
0 0
0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
(a) (b)
εs (%) εs (%)
1400 1
1200
1000
0
q (kP a)
εv (%)
800
600
-1
400
200
0 -2
0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
(c) (d)
εs (%) εs (%)
ensaio 2 ajuste do modelo com os parmetros definidos no ensaio 2
ensaio 3 melhor ajuste do modelo para os dois ensaios
Figura 3.7 – Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento para ajuste dos ensaios 2 e 3: (a)
com os parâmetros do modelo definidos para o ensaio 2 (b) com os parâmetros do melhor
ajuste para os dois ensaios
primeiro ensaio, e, mais limitado, mas ainda assim capaz de estimar o valor final da deformação
para 2º ensaio.
Para o segundo ensaio, o erro associado à variação volumétrica obtida no modelo não é
conservativa, porque admite que o solo resiste muito mais do que na realidade para chegar a
uma determinada deformação, podendo atingir-se um ELUt mais depressa do que o previsto. Por
exemplo, implicou que, para as deformações iniciais, o solo tivesse mais resistência do que de
facto tinha. No caso hipotético de se obrigar o solo a suportar essa tensão a consequência seria
a deformação real ser maior do que a esperada. No caso específico deste ensaio a deformação
consequente seria menor que 1%, ao passo que a do solo solto iria até aos 4%.
59
A separação do comportamento endurecido e amolecido permite que o parâmtero G e K
sejam ajustados por forma a consegui obter a rigidez do troço de endurecimento mais próxima
da realidade sem projodicar as tensões ao nível das deformações médias.
Tabela 3.6 – Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias
de rotura como é um parâmetro intrínseco do solo, tem que ser constante nos
dois ensaios (como se pode ver na análise dos resultados dos ensaios).
60
3.2.2 Modelo Cam-Clay modificado
Modelo Elastoplástico
Modelo Elástico-perfeitamente plástico
com endurecimento
Rotura do geomaterial
ߝ =ߝ ߝ=+ߝ
݁ ߝ +
q à compressão por do geomaterial
Rotura
q
compressão axial
à compressão por ߝ݁
φ ' φ ' = Mc
6sin6sin compressão axial
=φM'0c
36 sin ' φ
q2
0
Me = 6 sin φ 0
p' f (σ 0 , p00 ) = M2
− p0 (p00 − p0 )
ݍ− ߟ ݕ′ = 0
3+sinφ ' φ 'φ= M
6sin6sin
= Me e
' φ'
3+φsin
3+sin 0
Rotura
M do geomaterial
sin φ6
e =
à compressão por 0
3+sin φ
extensão axial
Rotura do geomaterial
à compressão por
extensão axial
′ݎ
(ܩ′ , ݍ, ߯) = ݍ− ܯ′݈݊
′
߲ܩ
ۗ ۓ
݀ߝߥ ߲′ ܯ− ߟݕ
ቊ ቋ = = ߣ൜ ൠ
݀ߝݏ ۘ ܩ߲ ۔ 1
νp0
ۙ ݍ߲ ە
K=
Δ′
λ κ
=ܭ
Δߝߥ
Δݍ
3 ∆ܩq =
κ
3G =
Δߝݏ
ߟݏߝ
∆εs
ߟ= ݕ
ܽ + ߝݏ
ߝ = ߝ݁ + ߝ
Figura 3.8 – Esquema de aplicação do modelo de Cam-Clay
deixa de ser capaz de descrever qualquer tipo de variação deformacional e por isso o modelo
termina aos 11% de deformação. Neste ensaio os erros de tensão do modelo foram sempre
conservativos. O erro inicial da fase elástica do modelo não é conservativo.
Os ajustes em termos de deformação têm grandes erros ao longo de todo o ensaio e nem
o valor final é coincidente. Isto ocorre porque a função do fluxo plástico depende diretamente
61
2 600
1.5
400
q (kP a)
1
η
200
0.5
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
(a) (b)
εs (%) εs (%)
2 1400
0 1200
1000
-2 q (kP a)
εv (%)
800
-4
600
-6
400
-8 200
-10 0
0 5 10 15 20 0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
(c) (d)
εs (%) εs (%)
ensaio 1 ajuste do ensaio 1 ensaio 3 ajuste do ensaio 3
ensaio 2 ajuste do ensaio 2
Figura 3.9 – Resultado do ensaio de aplicação do modelo Cam-Clay: (a) resultados dos ensaios 1 e 2 e
do ajuste do modelo no plano η:εs ; (b) resultados dos ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo
no plano q:εs ; (c) resultados dos ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo no plano εv :εs ; (d)
resultados do ensaios 3 e do ajuste do modelo no plano q:εs
do endurecimento e esta correlação não foi capaz de descrever o ensaio. No entanto, para o
2º ensaio, conseguiu-se considerar a expansão do solo. Esta questão tem como consequência,
como se pode ver, na mesma figura, no ensaio 2, que a relação em termos absolutos entre p0
e q não é a do ensaio e por isso há um desfasamento conservativo entre o valor resistência do
ensaio e do modelo, que se nota mais drasticamente quando o solo apresenta amolecimento.
Para ajustar o terceiro ensaio é preciso considerar que o comportamento do solo é solto,
porque se o comportamento for considerado denso, todo o ensaio resumir-se-ia a uma reta onde
as cargas e descargas ocorreriam. O máximo valor de q é o correspondente ao estado crítico e
a partir daí o restante ajuste é absurdo, pois corresponde à simples resolução matemática, sem
sentido físico.
62
Tabela 3.7 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações,
grandes deformações e ELU para o modelo de Cam-Clay
Há dois parâmetros do solo (tabela 3.7) que parecem errados mas não o são necessaria-
mente. Um deles é o o valor de N que parece muito elevado mas dado que a LCN é atingida
muito tardiamente em termos de tensões, frequentemente fora do campo de aplicação de tensões
das estruturas geotécnicas, assim também o volume específico para a tensão de confinamento
nula também é um valor muito superior ao que comumente se está habituado a ver. O outro parâ-
metro é o módulo de distorção (G) cujo o efeito quando o solo já plastificou é muito reduzida e por
isso o melhor ajuste acontece para valores enormes mas se se reduzir consideravelmente este
parâmetro também a diferença não vai ser muito relevante. No caso do ensaio 2 o parâmetro G
já se torna essencial na definição do comportamento do solo até atingir a superfície de cedência
e por isso é mais baixo.
O primeiro ensaio está sempre do lado da segurança e o ajuste até é económicamente inte-
ressante. No entanto a rotura dá-se aos 11 %, o que não é de todo verdade e, apesar de ser do
lado da segurança, não é de todo económico porque pode limitar as deformações antes de ser
realmente necessário.
63
Tabela 3.8 – Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias
de rotura cedência e em particular a rotura por aumento de p’ e por isso faz parte
do conjunto dos "cap models".
Comportamento
O modelo consegue reproduzir cargas e descargas admitindo um com-
na carga portamento linear e, por isso, não é capaz de descrever histereses, o
que não foi muito importante.
e descarga
Memória
A memória do estado de tensões é considerada neste modelo a partir
da história da relação (ν,p,q) inicial em relação ao Rpcrtico e em função deste o
comportamento é denso ou solto.
de tensões
Comportamento
O modelo é capaz de simular qualitativamente ambos os comporta-
dilatante
mentos.
e contrátil
64
3.3 Modelo elastoplástico não convencional
O modelo subloading vem admitir que existe uma transição entre a rigidez do comportamento
elástico e a do comportamento plástico. Esta transição é realizada através de uma superfície ho-
motética (com a mesma forma) da superfície de cedência e contida no interior desta, denominada
superfície de subloading (figura 3.10).
ij
f(
Subloading surface
f(
R 1
Re ij
p py
Figura 3.10 – Superfície de cedência, superfície de Suboading e região elástica (adaptado de Hashiguchi,
2009)
Como se pode verificar na figura 3.10 define-se um parâmetro R que corresponde à relação
entre o comprimento do segmento de reta que une a origem ao ponto de tensão corrente e o
comprimento, segundo a mesma direção, que une a origem à tensão na superfície de cedência.
O parâmetro R pode ser calculado através da equação 3.10 para os parâmetros p0 e q.
p
py =
R (3.10)
q
q y =
R
q 2
y
f (py , qy , pc ) = − py (pc − py ) (3.11)
M
Por sua vez, a direção e sentido da deformação plástica (3.7) é dada pelo gradiente da função
65
de potencial plástico (G) mas a intensidade (λ) vai depender do estado de transição de rigidez
que a tensão corrente tem face à superfície de cedência através do aumento progressivo de R,
que será obtido através da condição de consistência (3.6), que será agora definida por mais uma
parcela em relação ao modelo de Cam-Clay:
∂f ∂f ∂f
df = dσ 0 + dχ + dR (3.12)
∂σ 0 ∂χ ∂R
que pode ser decomposta nas derivadas parciais (3.13), (3.14), (3.16).
∂f ∂f
0
dσ 0 = Ddε (3.13)
∂σ ∂σ 0
T
∂f ∂f ∂χ ∂g
dχ = λ (3.14)
∂χ ∂χ ∂εp ∂σ 0
T
∂f ∂f ∂χ ∂f
dχ = λ (3.15)
∂χ ∂χ ∂εp ∂σ 0
A derivada parcial (3.16) tem que conter em si mesmo uma função que seja capaz de des-
crever a variação de R em função da deformação, esta função é U (R) e relaciona-se com a
deformação pela dependência direta da deformação plástica.
∂f ∂f
dR = U (R)dεp (3.16)
∂R ∂R
→∞ para 0 ≤ R ≤ Re (estado quase elástico)
para Re ≤ R ≤ 1 (estado de sub-cedência)
>0
U (R) =
para (estado de cedência)
=0 R=1
para (estado impossível porque está fora da cedência)
<0
R>1
(3.17)
< R − Re >
U (R) = −uln (3.18)
1 − Re
66
A constante u do material é um parâmetro ajustável consoante o estado de densificação do
solo e é responsável pela intensidade do efeito de transição. Se o u fôr muito alto, o compor-
tamento é praticamente linear até chegar à superfície de cedência. Quanto menor for u, maior
a não linearidade do solo no processo de carregamento antes de atingir a superfície de cedên-
cia. A parte logarítmica garante a diminuição de U (R) à medida que R tende para 1, que ocorre
quando a superfície de subloading e a superfície de cedência coincidem. Nesse caso o compor-
tamento corresponde ao definido pelo modelo de Cam-Clay. Quando numericamente R>1, lnR
dá negativo e a superfície de subloading encolhe para coincidir com a superfície de cedência.
Desta forma o multiplicador plástico será dado pela equação (3.19), que é igual à função de
Cam-Clay à exceção da última parcela do denominador.
T
∂f
∂σ 0 Ddε
λ= T T (3.19)
∂f ∂g ∂f ∂χ ∂g ∂f ∂g
∂σ 0 D ∂σ 0 − ∂χ ∂εp ∂σ 0 − ∂R u ln R ∂σ 0
Este modelo, com este λ, tem como implicação que, para Re igual zero, o comportamento
do solo é plástico desde o princípio e que o comportamento é sempre dependente do estado de
cedência do mesmo, ainda que esteja longe de o alcançar. A relevância dessa relação é dada
pela proximidade definida por R.
A superfície de subloading está sempre dependente do estado corrente do solo, dado que
é definida a partir deste, por isso aquando do carregamento é sempre crescente até alcançar a
dimensão máxima coincidente com a superfície de cedência, quando se descarrega acompanha
a tensão diminuindo elasticamente a sua dimensão.
Este modelo em relação à capacidade de descrever o comportamento cíclico tem uma limi-
tação que advém do processo de descarga. Quando esta ocorre, a superfície de subloading
contrai para acompanhar a tensão corrente, mas a superfície de cedência fica estática porque o
comportamento é puramente elástico. No entanto quando se dá a recarga, esta é logo plástica, o
que implica que começa logo a ocorrer o endurecimento da superfície de cedência, o que impede
a descrição do comportamento histerético, ou mesmo uma correta transição entre um compor-
tamento quase linear, que ocorre ao nível das pequenas deformações, e o comportamento não
linear, como ocorreu no ensaio 3.
67
Este modelo pode ser melhorado neste sentido pela introdução de propriedades cinemáti-
cas, propriedades estas consideradas no desenvolvimento deste modelo (Extended Subloading
Surface Model (Hashiguchi, 2009)).
Tabela 3.9 – Parâmetros usados na modelação do ensaio 1 e 2 com o modelo subloading aplicado ao
Cam-Clay
Ensaio 1 Ensaio 2
Ambos os controlos Controlo da deformação Controlo da tensão
G 40 MPa 40 MPa 40 MPa
k 0,0039 0,0039 0,0039
λ 0,2 0,2 0,2
u 50 30 50
Mc 1,2 1,3 1,2
pc 430 kPa 1100 kPa 1090 kPa
Verificam-se diferenças nos gráficos q:εs , que são comuns a ambos os métodos, e a justifica-
ção está nos outros gráficos onde a ordenada é o parâmetro que não é controlado (p0 ou εv ) e
como se vê tem dificuldade de ser ajustado. O ajuste das tensões no plano q:εs do 1º ensaio não
foi sempre conservativo, ao contrário do segundo ensaio.
68
300 300
200 200
q (kPa)
100 100
0 0
0 5 10 15 20 25 0 100 200 300
(a) (b)
εs (%) p’ (kPa)
300 1
200 0
q (kPa)
εv (%)
100 -1
0 -2
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25
(c) (d)
εs (%) εs (%)
ensaio 1 ajuste do modelo com os parmetros definidos no ensaio 1
Figura 3.11 – Resultados da modelação do ensaio 1: (a) Resultado q:εs a partir das deformações; (b) Re-
sultado q:p a partir das deformações; (c) Resultado q:εs a partir das tensões; (d) Resultado
εv :εs a partir das tensões
As capacidade deste modelo dependem do modelo base, neste caso, o modelo Cam-Clay,
onde é aplicado, porque o que este permite é fazer uma transição mais suave entre o comporta-
mento elástico e plástico.
Dum ponto de vista económico, este modelo, de entre os apresentados, é sem dúvida o
melhor e é também, por isso, que se justifica a continua investigação no âmbito da modelação.
O programa com este modelo já tem uma resposta mais realista caso as condições de fron-
teira impostas sejam deslocamentos.
69
600
500
400
400
q (kPa)
300
200
200
100
0
0 0 100 200 300
0 5 10 15 20 25
(a) (b)
εs (%) p’ (kPa)
600
0
500
2
400
εv (%)
q (kPa)
1
300
0
200
-1
100
0 -2
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25
(c) (d)
εs (%) εs (%)
Figura 3.12 – Resultados da modelação do ensaio 2: (a) Resultado q:εs a partir das deformações; (b) Re-
sultado q:p a partir das deformações; (c) Resultado q:εs a partir das tensões; (d) Resultado
εv :εs a partir das tensões
Pode-se concluir que há modelos melhores que outros e que cada um tem um domínio de
aplicação específico. O modelo hiperbólico é o mais limitado de todos os estudados porque
permite analisar o comportamento só em termos de tensões e na direção axial. A maior parte dos
modelos à excepção do Cam-Clay, do Subloading aplicado ao Cam-Clay e do Mohr-Coulomb com
endurecimento e amolecimento necessitam que se usem parâmetros diferentes para analisar
os ELU e os ELUt. O modelo de Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento tem a
desvantagem de ser definido por troços e, por isso, o valor de pico tem que ser conhecido à
partida e tem que se programar a transição dos troços.
70
Tabela 3.10 – Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias
O critério de rotura com este modelo passa a poder ser o mesmo in-
Comportamento
e descarga
Comportamento Como se pode verificar, neste modelo pode-se partir dos resultados de
deformação para obter razoáveis resultados de tensão, assim sendo
dilatante
o modelo é capaz de descrever razoavelmente o comportamento dila-
e contrátil tante e contrátil do solo.
pelo modelo Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento são mais próximos devido à
independência dos troços, o que permite um melhor ajuste para cada uma das fases.
71
modelo de Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico.
A tabela 3.11 sintetiza a capacidade de ajuste de cada um dos modelos. A este respeito
é importante fazer dois reparos. O primeiro é o facto de que todos os resultados estudados
corresponderem a respostas axissimétricas e que, na realidade, o solo é solicitado também para
outros tipos de resposta. Conseguir um bom ajuste para todos os tipos de solicitações é uma das
principais dificuldades dos modelos. Em segundo lugar, os melhores ajustes nem sempre são do
lado da segurança, e por isso, os coeficientes parciais são muito importantes para minorar o fator
de risco. Neste sentido é possível durante o processo de execução da obra, realizar a recolha
de novos dados e os parâmetros podem ser reajustados para obter soluções que alcancem um
melhor compromisso entre a segurança e a economia.
Tabela 3.11 – Quadro síntese da possibilidade de utilização dos modelos usando tensões como dados em
estados axissimétricos
A compacidade dos solos vai-se alterando em profundidade ainda que pertençam ao mesmo
estrato. Para que ocorra a evolução dos parâmetros associados é preciso que o programa usado
permita definir a evolução em profundidade dos mesmos. Estes parâmetros variam dependendo
do modelo. Caso a variação paramétrica não seja permitida então será necessário gerar estratos
de solo homogéneos no seu domínio.
72
3.5 Superfícies de cedência
Os dados do ensaio 3 ilustrados nas figuras 3.13 foram estudados à luz dos modelos cons-
titutivos de Mohr-Coulomb e de Cam-Clay. Assumiu-se que nos ciclos de carga e descarga o
ponto máximo de η antes da descarga (figura 2.3 a)) por exemplo o ponto 2) era um dos pontos
da superfície de cedência e que o segundo ponto dessa mesma superfície corresponderia ao
último ponto com comportamento elástico no processo de recarga do solo (fig. 2.6a)) o ponto 5,
do mesmo exemplo). Esses pontos foram marcados diretamente a partir dos dados do ensaio,
sobre o mesmo, os correspondentes troços elásticos estão a azul e os troços plásticos estão a
vermelho. Note-se que, como a cedência ocorre em pontos diferentes dependendo do modelo,
assim também os troços elásticos e plásticos variam. (figura 3.13c) e d)). As superfícies de
associadas também estão ilustradas.
No modelo de Cam-Clay só foi possível desenhar duas superfícies porque o terceiro troço já
está a cima do estado crítico e o resultado já não é válido. Por sua vez, no modelo de Mohr-
Coulomb, como o critério que define as superfícies é η ser constante, apesar de só se ter co-
meçado a modelar para o segundo ciclo de carregamento, pode-se conhecer a superfície de
cedência para o primeiro ciclo, que tem a particularidade de ter tensões de corte muito baixas.
1400 1400
1200 1200
1000 1000
800 800
q (kPa)
q (kPa)
600 600
400 400
200 200
0 0
q (kPa)
600 600
400 400
200 200
0 0
73
3.5.1 Análise de resultados
Ambos os modelos conseguiram obter resultados, mas verifica-se que, além do modelo de
Cam-Clay só ser capaz de modelar estes resultados se se assumir a hipótese do solo estar no
estado solto, o que não é verdadeiro, também os pontos onde se inicia a cedência já estão muito
longe do comportamento elástico linear admitido pelo modelo, o que não é congruente. A partir
desta análise torna-se simples compreender o acrescento que o modelo subloading dá ao modelo
Cam-Clay porque o comportamento não linear do solo passará a ser definido pela superfície
homotética e não a partir do momento que atinge a superfície de cedência (para este tipo de
ensaios o modelo mais indicado é o extended subloading, que corresponde a um alargamento
do conceito para poder considerar o carregamento cíclico através das propriedades cinemáticas
do modelo). Esta não linearidade conferida ao comportamento do solo durante o processo de
carregamento até chegar à superfície de cedência permite que a curva do modelo se ajuste à
experimental. Permite também, como foi abordado na secção 3.3.1, que a superfície de cedência
não seja atingida no decorrer deste ensaio, porque só ocorre aquando do amolecimento, sendo
todo este comportamento teoricamente descrito pela expansão e contração da superfície de
subloading.
Tal como Poorooshasb et al. (1967) sugeriu, a descrição da superfície de cedência pode ser
obtida considerando η constante, que corresponde às superfícies de cedência de Mohr-Coulomb.
Claramente os pontos marcados segundo este modelo estão muito mais próximos do início da
não linearidade visível do comportamento do solo do que os do Modelo Cam-Clay, o que leva a
pensar que esta definição da superfície de cedência é muito mais ajustável que a do modelo de
Cam-Clay. No entanto, o modelo Cam-Clay tem a grande vantagem de num só modelo ser capaz
de definir o comportamento de endurecimento e amolecimento, bem como é capaz de definir o
comportamento do solo em função da sua compacidade, razão que o torna tão interessante.
Ainda assim, este critério de η constante como marco da mudança de comportamento, mesmo
que não seja para definir a superfície de cedência, não deve ser desprezado. Só o modelo 3D
poderá mostrar uma melhor aproximação da real capacidade de ajuste de ambos os modelos.
Por outro lado, a forma da superfície de cedência não deve ser desprezada, uma vez que com
modelos como o subloading, esta já não é tão imprescindível para a mudança de comportamento
do solo, dado que o endurecimento ocorre com a superfície homotética. No entanto, a superfície
homotética também depende da forma da superfície de cedência, mas principalmente porque
esta é fundamental para definir os estados limite do solo.
74
Capítulo 4: Aplicação do programa Plaxis
Após a compreensão dos diferentes resultados dos ensaios e dos modelos, neste capítulo
verificam-se as suas implicações no dimensionamento. Far-se-ão dois testes:
Para o mesmo tipo de areias, com compacidades diferentes, denominadas de areia densa e
areia solta, verificar-se-á os resultados dos esforços e dos deslocamentos para os estados
limite definidos pelos eurocódigos considerando, numa primeira hipótese, que os ângulos
de atrito das areias são iguais e numa segunda hipótese que os ângulos de atrito diferem.
Nesta fase assumir-se-á o mesmo ângulo de atrito nos dois solos e verificar-se-á o efeito
em termos de esforços e deslocamentos da utilização de diferentes modelos (elástico linear,
o de Mohr-Coulomb, e o Hardening model).
4.1 Introdução
A estrutura estudada é o hydrolift do estaleiro de Mitrena (figura 4.1), que integrada num
sistema de docagem, fica situada no extremo leste dos estaleiros de reparação naval da Lisnave,
no estuário do Rio Sado, Portugal.
(a) (b)
Figura 4.1 – Hydrolift do estaleiro em Mitrena (LISNAVE-Estaleiros Navais,SA): (a) Eclusa aberta; (b)
Eclusa fechada com a bacia de manobras inundada.
O hydrolift consiste num conjunto de três docas do tipo plataforma, que ficam aproximada-
mente ao nível dos terrenos circundantes ficando o fundo das mesmas com acesso por meio de
rampas de pequeno declive. Estas três docas são servidas por uma lagoa de elevação, desig-
nada por eclusa que permite a elevação do navio até ao nível destas (Rodrigues, 2008).
75
O processo de docagem consiste em: tendo como ponto de partida a localização do navio
a docar dentro da doca contígua, começa-se por colocar as comportas móveis entre esta doca
e o exterior. A partir do momento em que a estanquicidade em relação ao exterior é atingida,
bombeia-se água para a doca até ao ponto em que o nível desta dentro da doca é suficiente para
que a embarcação possa passar para a plataforma e aí são realizadas um conjunto de manobras
para pousar os barcos nos picadeiros, que correspondem aos blocos onde assenta o fundo da
embarcação (Rodrigues, 2008).
4.1.2 Plaxis
O programa comercial usado para o dimensionamento foi o Plaxis. Por forma a se compreen-
der melhor o funcionamento do programa, segue-se uma breve introdução. Como foi expresso
na introdução os modelos numéricos respeitam aproximadamente todas as equações estrutu-
rais: condições no domínio (condições de equilíbrio, condições de compatibilidade e equações
constitutivas) e condições de fronteira.
Condições no Domínio
O método dos elementos (MEF) permite que toda a geometria envolvida no problema seja
subdividida em pequenas regiões, denominadas elementos finitos, as quais têm nós, quer nas
fronteiras quer no interior (Maranha das Neves, 2007). As condições de equilíbrio e de com-
patibilidade são estabelecidas pela interligação dos elementos finitos através de pontos nodais.
Dependendo da tipologia dos materiais, os elementos finitos são diferentes, mas têm que ser
compatíveis entre si, ou seja, todos os nós têm que estar interligados.
Condições de Fronteira
As condições de fronteira são restrições que definem o comportamento dos pontos nodais e
consequentemente reduzindo as possibilidade de movimentos dos elementos a eles associados.
Por esta razão, as condições de delimitadoras do domínio têm que estar afastadas o suficiente da
estrutura para que não afetem, ou pelo menos significativamente, a distribuição e os valores das
76
(a) (b)
Figura 4.2 – Elemento finito usado para definir o solo: (a) Numeração local, posição dos nós e pontos
de integração de Gauss (x) num elemento triangular de 6 nós; (b) Funções de forma em
coordenadas locais definidoras do elemento
(a) (b)
Figura 4.3 – Elemento finito estrutural linear: (a) numeração local, posição dos nós e pontos de integração
de Gauss (x) num elemento triangular de 3 nós; (b) funções de forma em coordenadas locais
Ainda do ponto de vista da mecânica, é possível aplicar cargas pontuais ou distribuídas, como
condições de fronteiras.
As fronteiras hidráulicas usadas são de dois tipos: as interfaces, que impedem o fluxo da
água pelo interior da estrutura, e o nível freático, que permitirá ao programa calcular as pressões
intersticiais resultantes.
Equações constitutivas
O programa Plaxis está equipado com alguns modelos constitutivos prontos a usar. No en-
tanto, também permite que se programe de forma explícita outros modelos, trabalho este que
não será realizado nesta tese. Os modelos testados foram:
O modelo elástico linear desenvolvido é definido com base na lei de Hooke. O programa pede
o valor do módulo de deformabilidade E, o seu incremento em profundidade e o coeficiente de
Poisson (υ). Este, último, é restringido para valores superiores a 0.
77
Este modelo, como as indicações do manual do Plaxis afirma, não é apropriado para definir
comportamentos altamente não lineares, como o dos solos, mas é útil para definir elementos
estruturais, cujo comportamento se adequa.
(a) (b)
Figura 4.4 – Definição do modelo de Mohr-Coulomb pelo Plaxis: (a) plano q:εa ; (b) plano: εa :εv (Brinkgreve
et al., 2004)
em que:
M∗
ψ = sen−1 (4.1)
M∗ + 2
Dos cinco parâmetros amplamente abordados ao longo da tese (E, υ, c0 , φ0 e ψ) vale a pena
referir que, por questões puramente numéricas, o manual do Plaxis aconselha que o valor de c0
seja no mínimo 0,2 kPa. O valor de E deve corresponder à inclinação da reta secante que passa
pelo ponto com 50% da resistência (E50 ).
O modelo Hardening soil é um “cap model” com duplo endurecimento por corte e por com-
pressão isotrópica. Este modelo esquematizado na figura 4.5 pode ser consultado em pormenor
em Schanz et al. (1999). Como se pode verificar este é composto por dois tipos de endureci-
mentos: por corte e por compressão.
78
Hardening model (Schanz, 1998)
Critério de Mohr-Coulomb Limite da deformação
Para 𝑒 ≥ 𝑒𝑚á𝑥
4.2 Metodologia
Para ambos os testes desenvolvidos neste capítulo o processo construtivo foi o mesmo. Co-
meçou com o rebaixamento do nível freático. Assim sendo, as condições iniciais aplicadas no
79
Plaxis corresponderam a ter o nível freático um pouco abaixo da cota do terreno natural (figura
4.6).
As condições de fronteira como a figura 4.6 mostra, não permitem deslocamentos nem ver-
ticais nem horizontais na base da estrutura. Nas fronteiras laterais o solo pode deslocar-se
verticalmente, mas está impedido de se deslocar na horizontal.
O aterro da ensecadeira foi realizado em três fase consecutivas com alturas de aterro de 2,5
m e de 3 m. A secção superior a branco existe somente porque os Plates têm de estar sempre
associados a uma malha de elementos finitos do tipo do solo, ainda que essa malha não tenha
sido acionada.
Seguidamente (figura 4.8), procedeu-se à compactação dinâmica, por queda de blocos, que
tem como objetivo compactar as areias para apoio rígido das sapatas, uma vez que as defor-
mações diferenciais são muito prejudiciais ao bom funcionamento da estrutura de betão. Esta
compactação teve de ser realizada nesta fase para não instabilizar os taludes de escavação, ou,
caso fosse feito à posteriori, danificar a estrutura de betão.
As escavações foram realizadas com inclinações que garantissem a estabilidade dos taludes.
80
Construiu-se, então a estrutura rígida de betão inferior (figura 4.9).
Seguiram-se, três fase de colocação dos solos a tardoz do elemento estrutural com areia
solta, para dar apoio à estrutura para resistir aos impulsos de água. Finalizou-se então a estrutura
superior que terá que suportar as cargas devido ao enchimento do hydrolift.
4.2.2 Hydrolift
Figura 4.11 – Níveis de água das situações de projecto para a fase de Exploração
A estrutura foi subdividida em nove partes, ilustradas na figura 4.12, por forma a poder dar
ao elemento estrutural Plate, que as vai representar como se fossem secções retangulares, a
rigidez axial e de flexão mais parecida com a real.
Os parâmetros fornecidos para cada uma destas secções estão sintetizadas na tabela 4.1.
Os valores da secção sapata 2.1 variam porque dependem da seção de corte da eclusa que,
dada a forma, que pode ser visualizada na figura 4.1, varia de largura.
81
Figura 4.12 – Segmentação da estrutura para geração de diferentes Plates no Plaxis.
Projetou-se dois cenários (Tabela 4.2) no modelo de Mohr-Coulomb para avaliar as implica-
ções práticas, em termos de dimensionamento, da utilização dos diferentes ângulos de atrito
obtidos nos ensaios do capítulo 2 e considerando o ψ a partir dos parâmetros obtidos nos mode-
los do capítulo 4 e obedecendo à equação (4.1), razão esta que torna o ψ um valor tão alto.
Hipótese 1 Hipótese 2
Areia Areia
Parâmetros solta densa solta densa
φc 32,3º 36,4º 32,3º 32,3º
ψ 1,94º 20,87º 1,94º 20,87º
82
4.2.4 Teste B: Utilização de diferentes modelos
Os modelos aplicados nos solos, dado a explicação toda precedente no anterior capítulo, não
foram sempre os mesmos para todos os estados limites. O modelo elástico linear não é de todo
adequado para os solos dado o seu comportamento não linear, mas usou-se para se poder ter
um resultado de contraste para medir a qualidade dos outros. As caraterísticas definidas para
cada um dos modelos estão na tabela 4.3.
Como se pode ver nas figuras 4.13 e 4.14, os diagrama de deformações são iguais o que
mostra que a diferença dos ângulos não foi relevante nem em termos de resistência, nem de
deformação. A razão para tal advém do efeito de escala, dado que a área de aplicação da areia
densa é muito reduzida face à da areia solta, o que faz com a diferença de comportamento seja,
neste caso, diluída no todo.
(a) (b)
Figura 4.13 – Resultado no final da escavação por aplicação da 1ª hipótese (ângulos de atrito diferentes):
(a) deformação horizontal; (b) deformação vertical
(a) (b)
Figura 4.14 – Resultado no final da escavação por aplicação da 2ª hipótese (ângulos de atrito iguais): (a)
deformação horizontal; (b) deformação vertical
A ordem de grandeza das deformações é espectável dado que se tratam de areias e o empo-
lamento esperado pela descarga é muito reduzido. A simetria da escavação da estrutura permite
83
Tabela 4.3 – Tabela com os valores aplicados para cada um dos modelos
1 7
Módulo de deformabilidade uniaxial Ângulo de dilatância
2 8
Módulo de deformabilidade incremental Potência da função de rigidez
3 9
Coeficiente de Poisson Coeficiente de Poisson na descarga e recarga
4 10
Peso volúmico Tensão isotrópica de referência
5 11
Peso volúmico saturado Coeficiente de tensão lateral para o estado nor-
6
Ângulo de atrito malmente consolidado
84
o equilíbrio de tensões de corte estabilizando os taludes e assim sendo as deformações obser-
vadas são pouco influenciadas pelo corte. As figuras 4.13 a) e figuras 4.14 a) induzem a esta
compreensão, uma vez que correspondem à deformação que neste caso melhor expressa a com-
ponente de corte e é muito menor que a deformação vertical (figuras 4.13 b) e figuras 4.14 b))
que é principalmente dependente da base da escavação que está associada ao empolamento
devido a tensões de tração que se geram.
Os ensaios no segundo capítulo mostraram que a deformação de compressão pode ser dada
por uma expressão linear o que permite que o valor de K seja ajustável e dado que a inclinação de
descompressão, não sendo bem igual pode ser razoavelmente aproximada pela mesma equação,
a formulação de Mohr-Coulomb para a componente isotrópica é relativamente boa. O que não foi
testado é se a descompressão por corte em termos de deformações pode ser bem representada.
O ensaio de Mohr-Coulomb com endurecimento apesar da dependência que a deformação tem
do parâmetro de endurecimento, consegue qualitativamente descrever o comportamento. Por
esta razão, existe a possibilidade de, dado o controlo direto que se consegue ter dos parâmetros
de deformação no modelo de Mohr-Coulomb elástico perfeitamente plástico, se conseguir um
ajuste quantitativamente razoável. No entanto, o modelo usado no Plaxis do Mohr-Coulomb tem
a componente elástica limitada pela inclinação máxima que é permitida à reta de descompressão,
essa limitação não foi forçada no mesmo modelo desenvolvido no capítulo 4, e esta impede o
modelo de aproximar uma deformação mais realista da descompressão do solo.
Por uma questão de coerência é preciso também fazer menção que o estado de deformação
neste caso é plano em vez de axissimétrico como foi estudado nos ensaios e que a transposição
dum para o outro não é direta, como foi abordado no capítulo 1, e assim sendo também existe
aqui uma certeza associada aos resultados da utilização dos parâmetros.
Como se pode ver nas figuras 4.15, 4.16 e 4.17 os resultados dos esforços para o valor de
ângulo de atrito diferentes é ligeiramente superior dado o efeito de escala. Verifica-se que a prin-
cipal alteração dá-se sobre secção da estrutura sobrejacente à areia densa. Consequentemente,
o momento é menor na sapata 2.3 devido à maior rigidez da base e isso reflete-se na sapata
1.3 que absorve mais momento, ainda que na globalidade se tenha gerado menos momentos
diferentes aos da hipótese 2.
Estes resultados corroboram com o princípio pelo qual se decidiu em projeto realizar esta
compactação de área tão reduzida. Aumentou-se a rigidez do solo localmente para que a pa-
rede 1, que não é suportada por aterro no tardoz, pudesse resistir às cargas com que é solicitada
durante a sua vida útil da estrutura e também para que as deformações geradas fossem me-
nores, por forma a minimizar os assentamentos diferenciais. Neste sentido, verifica-se que o
deslocamento vertical obtido na base da estrutura na hipótese 1 foi de 3,77 mm ao passo que
85
(a) (b)
Figura 4.15 – Momentos fletores aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) hipótese 1; (b) hipó-
tese 2
(a) (b)
Figura 4.16 – Esforços axiais aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) hipótese 1; (b) hipótese
2
(a) (b)
Figura 4.17 – Esforços transversos aquando do carregamento até à cota de 15,25 m: (a) hipótese 1; (b)
hipótese 2
na hipótese 2 foi de 3,83 mm, o que quer dizer que o ângulo de atrito pode ter indiretamente
influência no cálculo dos ELUt da estrutura, porque influencia o valor da rigidez. Assim, para
dimensionar esta estrutura aos ELUt pode ser relevante a utilização do ângulo de atrito de pico
que é 46º, uma vez que assim o comprimento do troço elástico, consequentemente mais rijo, é
maior. Verificou-se no entanto que a diferença é reduzida. Sob a sapata 2.3 o momento passa
para 300 kNm/m e na sapata 1.3 à somente um reajusto de esforços mas da mesma grandeza.
A razão pelo qual isto acontece é em geral a massa de solo envolvida estar sobre o troço elástico
que só depende dos mesmos valores de E e υ.
86
4.3.2 Teste B: Utilização de diferentes modelos
Como se pode verificar nas figuras 4.19 e 4.18 as deformações maiores ocorrem no modelo
de Mohr-Coulomb porque o solo alcançou, no troço localizado junto à superfície, o patamar de
cedência e a deformação plástica é muito superior à elástica. A diferença para a deformação
elástica linear é de cerca de 1 mm o que quer dizer que a maior parte do solo ainda não plasti-
ficou. Esta constatação está patente na marcação dos pontos de plastificação da figura 4.18b),
que como anteriormente abordado correspondem a uma estreita faixa de solo descomprimido em
torno da escavação. Verifica-se também a existência de plastificação correspondente à camada
superior do solo e junto aos bordos mas considera-se que é resultante do efeito das condições
de fronteira.
(a) (b)
Figura 4.19 – Resultado no final da escavação segundo o modelo de Mohr-Coulomb: (a) deformação total;
(b) Pontos de plastificação
As deformações obtidas pelo hardening model são menores que a de Mohr-Coulomb. Existe
nitidamente um ganho na redução das deformações devido ao corte com o hardening model que
fazem sentido devido ao endurecimento que se dá nos taludes gerando deformações finais me-
nores do que no caso perfeitamente plástico. Por outro lado a deformação também depende da
componente isotrópica da tensão do solo que é dada pelo cap model e cuja real fiabilidade, dado
que não foi ensaiada, não se pode medir. Sabe-se, no entanto que nenhum dos modelos estu-
dados foi capaz (note-se que não apliquei nenhuma metodologia de optimização de soluções) de
relacionar eficientemente a deformação volumétrica com o parâmetro de endurecimento o que
leva a que a deformação obtida pelo modelo seja muito menor que a real.
87
O hardening model não foi testado e por isso quanto a este assunto nada se sabe, no entanto
é possível que se consiga modelar melhor a variação volumétrica pois este modelo tendo duas
funções de endurecimento distintas deve conseguir somar a componente volumétrica por efeito
de corte e de compressão isotrópica permitindo ter uma aproximação melhor que os anteriores
modelos. Excepção feita ao modelo de subloading que devido ao endurecimento tridimensional
da superfície de subloading fica capacitado para incorporar a sensibilidade para a deformação
em função da direção.
(a) (b)
Figura 4.20 – Resultado no final da escavação segundo o Hardening model: (a) deformação total; (b)
Pontos de plastificação
Verifica-se na figura 4.20 b) que o solo é composto por zonas de endurecimento, como ex-
plicado, por zonas de empolamento que já alcançam a rotura de Mohr-Coulomb, na base da
escavação, como esperado, e que tal como o modelo de Mohr-coulomb existe o endurecimento
por compressão associado às condições de fronteira laterais, sendo que para a compreensão da
estrutura só interessa o que acontece em torno da escavação. A distância das fronteiras laterais
ainda foi suficientemente afastada para que não haja endurecimento por compressão do solo na
zona de escavação.
As figuras 4.21, 4.22 e 4.23 permitem perceber claramente o efeito de usar diferentes modelos
no dimensionamento, porque os esforços e a sua distribuição ao longo da estrutura é drastica-
mente diferente. Os esforços escritos a azul realçam essa diferença. Verifica-se que estre os
esforços elásticos lineares (figura 4.21 a), figura 4.22 a) e figura 4.23 a)) e os esforços do modelo
de Mohr-Coulomb (figura 4.15 b), figura 4.16 b) e figura 4.17 b)) a diferença é pequena mas este
último é mais conservativo do lado da segurança.
O Hardening model por sua vez tem outra distribuição de esforços que pode ser mais fa-
vorável ao dimensionamento. É natural que assim seja porque o modelo de Mohr-Coulomb é
demasiado conservativo no que se refere à deformabiliade do solo o que implica que as tensões
de plastificação associadas à rotura aconteçam muito mais precocemente originando esforços
muito maiores. Por esta razão é razoável que os esforços obtidos pelo Hardeninig model sejam
mais realistas que os de Mohr-Coulomb, no entanto, como não foi realizado o driver, não há
certezas.
88
(a) (b)
Figura 4.21 – Momentos fletores aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) modelo elástico linear;
(b) Hardening model
(a) (b)
Figura 4.22 – Esforços axiais aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) modelo elástico linear;
(b) Hardening model
(a) (b)
Figura 4.23 – Esforços transversos aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) modelo elástico
linear; (b) Hardening model
4.3.3 Conclusões
A utilização de diferentes modelos tem um efeito à partida superior tanto em termos de defor-
89
mação como de tensão, mas é preciso ter cuidado para compreender o realismo dos resultados
que são obtidos porque como se viu diferem bastante.
Por último, à que realçar que ainda não existe um modelo que consiga fornecer respostas
igualmente boas para os vários estados de tensão e deformação a que o solo está sujeito.
90
Capítulo 5: Conclusões e Proposta de desenvolvi-
mentos futuros
Conclusões
Esta tese teve a particularidade de dentro deste vasto tema não ter sido bem pré-definida
e delimitada à partida. A sua construção foi resultado da vontade de saber que levou ao de-
safio mútuo e constante entre orientando e orientador. Assim sendo, foram explorados temas
e questões que não se estava à espera e chegou-se posteriormente à conclusão de que teria
feito sentido fazer determinados ensaios, etc. que já não havendo tempo serão remetidos para
desenvolvimentos futuros.
Pretendeu-se explicar o sentido da realização dos ensaios e a linha orientadora que leva a
perceber quais deles escolher, dado que envolve grandes custos. Realizaram-se alguns ensaios
e os restantes foram assinalados como importantes.
Chegou-se à conclusão que os ensaios têm bastantes limitações e que é preciso saber efe-
tivamente o que se pretende para poder saber se o ensaio escolhido será fiável. Em particular,
destacou-se as grandes tensões necessárias para o solo alcançar o estado assimptótico isotró-
pico, os erros probabilísticos dos ensaios e o fenómeno de localização associado a ensaios com
comportamento denso e o embarrilamento associado aos ensaios comportamento aproximada-
mente solto.
A Geotecnia já deu grandes passos no desenvolvimento da modelação, ainda que muitos dos
modelos ainda só sejam usados no âmbito da investigação, pela falta de implementação em pro-
gramas comerciais. Com esta tese pretendeu-se confrontar os modelos e mostrar a necessidade
da realização de testes para verificar a adequabilidade dos modelos a um qualquer o solo e a ra-
zoabilidade da utilização de modelos mais avançados que permitem ganhos económicos diretos
91
e indiretos (diminuição do risco).
Não se conseguiu chegar a programar o modelo Subloading em Plaxis por falta de tempo,
mas é de grande interesse, pois é uma forma eficiente de divulgação do modelo.
2. Fazer uma análise semelhante para exploração noutros materiais, como argilas, areias
calcárias, etc.
92
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97
98
Apêndice A: Tabelas do Euródigo 7
Figura A.1 – Enquadramento geral simplificação da aplicação dos métodos de caracterização de campo
(EN 1997-2:2007 Tabela 2.2)
99
Figura A.2 – Ensaios de classificação do solo (EN 1997-2:2007 Tabela 2.2)
100
Figura A.3 – Ensaios laboratoriais para a determinação de parâmetros geotécnicos (EN 1997-2:2007 Ta-
bela 2.3)
101
102
Apêndice B: Esquema dos drivers dos modelos
103
MODELO ELASTICO-PERFEITAMENTE PLÁSTICO DE MOHR-COULOMB
Ensaio Drenado
Parâmetros do Modelo:
G
K
M
M*
εmáx
p'i qi εs q/p εv εa
104
(KPa) (KPa)
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio
Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio
p'0 q'0
3 × 𝑝′0 − 𝑞0 𝜀𝑣𝑖
𝑝′𝑖 × 𝑀 𝜀𝑚á𝑥 𝑀 𝜀𝑣𝑖 − 𝑀 ∗ 𝜀𝑖 − 𝜀𝑖−1 𝜀𝑠𝑖 +
3−𝑀 3
Figura B.1 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastio-perfeitamente plástico
MODELO ELASTICO-PLÁSTICO ENDURECIDO DE MOHR-COULOMB
Ensaio Drenado
600 εs
Parâmetros do Modelo: 500 0
G 0.0 0.1 0.2
400 -0.02
K
q 300 εv
M -0.04
200
ηp
100 -0.06
a
0 -0.08
p 0 0.05
δεs εs
ex: 0,001
105
εs q/p εv p εa
p'i qi εs
(KPa) (KPa)
Valor no início do
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio 0
ensaio
𝑝
3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 𝑝 𝑞𝑖𝑖 𝜂𝑝 × 𝜀𝑠𝑖 𝑝𝑖 − 𝑝𝑖−1 𝜀𝑣𝑖
𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠𝑠𝑝𝑖𝑖 + 𝑝
𝑝
𝜀𝑣𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝑀 − 𝜂𝑖 + 𝑝
𝜀𝑠𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠
𝑝
𝜀𝑠𝑖 +
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝑎 + 𝜀𝑠𝑖 𝐾 3
… … … … … … …
Notas:
1. É assumido que logo desde o princípio que o comportamento do solo é Plástico.
2. O ensaio termina quando εps é o pretendendido. No caso de ser um ensaio normalmente consolidado o fim
corresponde ao fim do ensaio, caso seja sobreconsolidado então corresponderá ao valor máximo do pico e
finalmente caso corresponda a um projecto a deformação vai até onde consiga descrever a realidade do que está a
acontecer.
3. O parâmetro δεsp ilustra a precisão que o modelo irá ter porque define a dimensão da diferença finita.
Figura B.2 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastico plástico com endurecimento
Parâmetros do Modelo: εs
0
G 600
0 0.05 0.1 0.15 0.2
K 500 -0.02
M 400
εv
q 300 -0.04
ηp
200 Parte Endurecida do Modelo
a -0.06
100 Parte amolecida do Modelo
b
p
0 -0.08
δεs 0 0.1 0.2 0.3
ex: 0,001 εs
Parte endurecida do Modelo Parte amolecida do Modelo
106
Valor no início do
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio 0
ensaio
𝑝
3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 𝑝 𝑞𝑖 𝜂𝑝 × 𝜀𝑠𝑖 𝑝 𝑝𝑖 − 𝑝𝑖−1 𝑝 𝑝 𝜀𝑣𝑖
𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠𝑖 + 𝑝 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝑀 − 𝜂𝑖 + 𝜀𝑠𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝜀𝑠𝑖 +
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝑎 + 𝜀𝑠𝑖 𝐾 3
… … … … … … …
Fim da parte endurecida do Modelo : Quando o εs
3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 𝑝 𝑞𝑖 𝑝
𝜀𝑠𝑖 𝑝 𝑝𝑖 − 𝑝𝑖−1 𝜀𝑣𝑖
𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠𝑖 + 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝑀 − 𝜂𝑖 + 𝑝 𝑝
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝜂𝑝 − 𝜂𝑝 − 𝑀 𝐾 𝜀𝑠𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝜀𝑠𝑖 +
𝑏 3
… … … … … … …
Figura B.3 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastico plástico com endurecimento e amolecimento
MODELO ELASTICO-PLÁSTICO DE CAM-CLAY
Ensaio Drenado
Parâmetros do Modelo:
N
G
k
M 𝜂 2
p'i qi
107
εs q/p εv p'0 ν
(KPa) (KPa)
Valor no início do
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio 0 Valor no início do ensaio
ensaio
… … … … … … …
Uma vez alcançado o ηp então é alcançada a superfície de cedência
… … … … … … …
Figura B.4 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Cam Clay para solos com comportamento denso
MODELO ELASTICO-PLÁSTICO DE CAM-CLAY
Ensaio Drenado
Parâmetros do Modelo:
N
G
k
M 𝜂 2
p'i qi
108
εs q/p εv p'0 ν
(KPa) (KPa)
Valor no início do
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio 0 Valor no início do ensaio
ensaio
… … … … … … …
Uma vez alcançado o ηp então é alcançada a superfície de cedência
… … … … … … …
Figura B.5 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Cam Clay para solos com comportamento solto
Apêndice C: Deduçao do modelo Subloading
Propriedades da homototia:
(C.2)
f (σ) = f (σ y )σ 1
y= R σ
Condição de consistência :
df = 0 (C.4)
∂f ∂f ∂f
df = dσ + dχ + dR (C.5)
∂σ ∂χ ∂R
Componente perfeitamente-plástica:
∂f
−
∂f ∂f ∂σ
1
2p
y
∂p pc
1
(C.6)
y
= => =
∂σ ∂σ ∂σ R 2q R
∂f
My2
∂q
y
Componente de endurecimento:
( )( ) ! ( )( )T ( )( )
∂f
dχ = ∂f ∂χ dεp 1= ∂f ∂χ λ ∂g ∂σ (C.7)
∂χ ∂χ ∂εp ∂χ ∂εp ∂σ ∂σ
T
( ) ∂pc
∂g
2py − pc
(
)
∂εp
∂p
1 1
v
(C.8)
y
λ = λ −py νpc
∂f
∂pc R λ−κ 0 R
2q y
∂pc
∂g
∂ε p ∂q M2
s y
νpc 1
λ −py (2py − pc ) (C.9)
λ−κ R
109
Componente da evolução da superfície de subloading:
T
∂p
∂f y
p
( )
∂f ∂f ∂σ ∂p ∂R
1 y
(C.10)
y 2q y
= = = 2py − pc (− )
∂R ∂σ ∂R ∂q y
M2 R
∂f
∂q ∂R q
y
y
q
(2py − pc )py + 2( My )2
− (C.11)
R
Evolução da relação de R:
dR = −ulnR||dεp || (C.12)
r
∂g ∂g ∂g ∂g
p
||dε || = λ =λ + + (C.13)
∂σ ∂σI ∂σII ∂σIII
∂g dg dp dg dq
= + (C.14)
∂σ dp dσ dq dσ
∂g 1 dg dg
= + (C.15a)
∂σI 3 dp dq
∂g ∂g 1 dg 1 dg
= = − (C.15b)
∂σIII ∂σII 3 dp 2 dq
em que:
∂p 1
= (C.16a)
∂σI 3
∂p 1
= (C.16b)
∂σII 3
3 (p + 23 q) − p
r
∂q ∂q ∂s ∂σ 3 σI − p
= = q = =1 (C.16c)
∂σI ∂s ∂σ ∂σI 2 2
q 2 q
3
3 (p + 23 q) − p
r
∂q ∂q ∂s ∂σ 3 σI − p 1
= = q = =− (C.16d)
∂σII ∂s ∂σ ∂σII 2 2
q 2 q 2
3
s
2 2
∂g 3 dg 1 dg dg 1 dg
= − + (C.17)
∂σ 2 dq 3 dp dq 3 dp
110
Multiplicador Plástico :
T
∂f
∂σ D
λ= T T dε (C.18)
∂f ∂g ∂f ∂χ ∂g ∂f ∂g
∂σ D ∂σ − ∂χ ∂εp ∂σ − ∂R ulnR|| ∂σ ||
Numerador
T ) νpy
(2p y −p c )νp
y
0
(
∂f 1
κ 1 κ
D= 2q y
= (C.19)
∂σ R 2py − pc M2
R 6q y G
0 3G
M2
!
1 (2py − pc )2 νpy 12q 2y G
+ (C.21)
R κ M4
∂f ∂g
ulnR|| || (C.23)
∂R ∂σ
q ! s
2 2
(2py − pc )py + 2( My )2
− ulnR 3 dg −
1 dg dg 1 dg
+ (C.24)
R 2 dq 3 dp dq 3 dp
111