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Estudo de Modelos Constitutivos do solo

e Avaliação da sua Adequabilidade

Maria José Rosa Peixoto

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientadora: Professora Doutora Laura Maria Mello Saraiva


Caldeira

Júri

Presidente: Professor Doutor Jaime Alberto dos Santos

Orientadora: Professora Doutora Laura Maria Mello Saraiva Caldeira

Vogal: Professor Doutor Emanuel José Leandro Maranha das Neves

Lisboa, Outubro de 2014


ii
Quero dedicar esta tese a todos os muitos meus familiares e amigos que faleceram ao longo do
meu curso. Desejo expressar o meu sofrimento entalado de, no decorrer do percurso
académico, não ter tempo para estar presente na dor do seu processo de despedida deste
mundo e daqueles que como eu ficaram a embalar a dor da saudade. A dor de ter de passar o
resto da vida sem alguém que nos é querido.

Quero transmitir a esperança que me acalenta o coração, de que no outro lado, onde quer que
seja, finalmente eles também puderam matar as saudades daqueles outros que lhe eram
queridos e partiram antes. Desejando que também eu, um dia, os possa reencontrar a todos e
festejar o nunca mais os perder.

i
ii
Agradecimentos
Quero agradecer a Deus meu Papá por ter semeado em mim a raiz da bondade, da benigni-
dade, da pureza de olhar a pessoa a partir do mais profundo de si mesma com a nítida perceção
que cada um é um solo sagrado que me é dado o privilégio de acolher. Quero-Lhe agradecer por
ter partilhado comigo a forma como pensou o mundo, por me ter acompanhado ao longo deste
tempo, partilhando delicadamente a sua sapiência, permitindo-me inteligir a ciência e pondo pes-
soas e livros e tudo o que há de bom no meu caminho para me permitir maravilhar-me com o
conhecimento.

I have a dream! (Marthin Luther King)

Prosseguir um sonho é sempre algo difícil, pois há uma grande expetativa e um abismo que
separa a realidade do sonho. Eu ousei sonhar investigar e quero agradecer de coração à Pro-
fessora Laura Caldeira por mo ter permitido, incentivado, e empurrado para voar. Eu não tinha a
autoestima capaz de tornar realidade o meu sonho e a professora foi o meu fundamento. Pela
fortaleza de permanecer firme no silêncio para me deixar voar e cair, estar presente nas mazelas
para me acolher e voltar a dar coragem para voar de novo. É preciso muita bravura e altruísmo
para fazer o que a professora fez por mim. Sem ela esta tese não era possível, uma vez que eu
não teria conseguido sequer aproximar-me dos meus limites, quanto mais ir além. E isto, eu vou
levar comigo para sempre! Guardo a sua forma ternurenta de ser, combinada com excelência
profissional de quem tem a humildade de se aceitar, com rigor, com carinho por si próprio e do-
ação de si mesma, sem nunca deixar de fitar a possibilidade de aprendizagem do horizonte, que
pode ser trazida por um qualquer alguém.

Quero agradecer ao Carlos por me ter feito descobrir o encanto pela Geotecnia. Quero-lhe
agradecer por ter alimentado esta paixão na partilha das suas descobertas, pelos desafios que
me colocou, por ter relativizado sempre a minha muita insegurança e ter-me sempre olhado de
igual para igual.

Quero agradecer à Gabi por me ter transmitido a ousadia de me desconstruir e expor-me tal
qual como sou para que qualquer pessoa no LNEC me pudesse reconstruir e voltar a moldar,
correndo o risco de me desconstruir até não restar mais nada senão o ser infantil e correndo o
risco de ser mal interpretada. E ainda bem que o fiz, porque o respeito, a preocupação e a forma
delicada como me construíram faz-me sair hoje do LNEC mais bem formada, menos arrogante
e mais humana. A eles o meu bem-haja por me terem ajudado a construir-me como pessoa e
engenheira e o meu pedido de perdão por todas as vezes em que tenha sido incorreta.

Agradeço também a constante disponibilidade profissional daqueles que comigo trabalharam


e desejo referir o valor individual da preciosa dedicação que colocaram no trabalho, que tanto me
ensinou.

Quero agradecer a todos os meus amigos que me ajudaram a trilhar este ainda curto caminho

iii
da vida e com quem pude contar, descontrair quando tinha o cérebro espapaçado e rir só por
ser feliz. Em particular aos amigos do IST, do CL, do CAES, CVX, da paróquia do Parque das
Nações, da escola Vasco da Gama. Quero agradecer aos amigos do coro do LNEC que puxaram
por mim para eu vencer o meu medo de não estar à altura.

Quero também agradecer à minha amiga Manuela que foi a das mais recentes grandes bên-
çãos da minha vida e cuja amizade valeu ouro ao longo do tempo de tese. Ao Tiago pela santi-
dade que com naturalidade brota em si e que tão carinhosamente se dispõe a partilhar comigo.

Aos meus pais, agradeço o apoio incondicional e ânimo que me deram, derrota após derrota -
que faz parte do meu crescimento - mas que ultimamente tem renascido como um traço fundante
positivo de persistência e humildade no meu caráter. Agradeço os diálogos, debates de ideias,
os silêncios, e a preocupação constante na modelação da minha pessoa como pessoa. Sei lá,
tudo o que disser é ofuscado perante a grandeza de pessoas de que fui fortemente abençoada
com a graça de poder chamar de pai e mãe.

A cada pessoa que passou na minha vida quero agradecer por ser quem é! A sua sin-
gularidade tem-me feito compreender que toda a excelência, dedicação, tudo o que sou e quero
construir para mim só faz sentido na medida em que me ajudar a tornar-me cada vez mais PURO
BEM!

iv
Resumo
Palavras chave: Subloading, Eurocódigo, superfície de cedência, ensaios laboratoriais

A utilização de programas numéricos no âmbito da Geotecnia é uma prática incontornável da


atualidade, a sua utilização cega, acarreta riscos e desaproveitamento das capacidades do solo,
que se reflete em termos económicos. Nesta tese pretendeu-se refletir sobre três fases funda-
mentais do processo de dimensionamento, para o caso das areias: a calibração de modelos a
partir dos ensaios laboratoriais em câmara triaxial, o compromisso entre a finalidade e a ade-
quabilidade dos modelos constitutivos e as implicações práticas no dimensionamento com um
qualquer programa numérico comercial. Genericamente expôs-se o leque de possibilidades de
ensaios referidos no eurocódigo, introduziu-se uma perspectiva crítica quanto à sua escolha e,
nos executados, quanto ao domínio de verosimilhança dos resultados. Na modelação introduziu-
se modelos associados a várias correntes científicas, de aplicação corrente e na vanguarda da
investigação, nomeadamente o modelo Subloading, ainda que seriam necessários mais ensaios
variados para revelar o seu potencial. A Eclusa do Hydrolift da Mitrena foi o projeto escolhido
para testar as implicações em termos de dimensionamento das conclusões obtidas em relação
aos ensaios e da utilização de diferentes modelos.

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Abstract
Key words: Subloading, Eurocodes, yielding surface, Laboratory tests, Geotechnical design

Nowadays it is unthinkable to most geotecnical projects to not design them in a numerical pro-
gram. Their blind use carries risks and the waste of soil capacities, which is reflected in economic
terms. That’s why a reflection was made on three fundamental phases of the design process
for sands: the models calibration from triaxial laboratory tests, the goal vs suitability compromise
required for the constitutive models selection and their design implications in a numerical com-
mercial program. It was generally exposed, with a critical perspective, the common range of sand
tests available, and analyzed the reliability of the results performed in the triaxial apparatus. In
the modulation you can see models from different scientific movements of common practice and
forefront research, such as Subloading model. Unfortunately the perform test were not diverse
enough to reveal it is potential. The look gate of the Mitrena hydrolift was the chosen project to
test the design implications of the laboratory test conclusions and use of diferent models.

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viii
Conteúdo

Introdução 1

Considerações iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

Estruturação da Dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1. Comportamento e modelação de areias 3

1.1. Caraterização fenomenológica dos solos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.1.1. Não linearidade da resposta do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1.1.2. Memória da história de tensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

1.1.3. Estados limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1.2. Processo experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

1.3. Introdução ao espaço da modelação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2. Programa de Ensaios 27

2.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2.2. Procedimento Realizado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2.2.1. Preparação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2.2.2. Saturação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

2.2.3. Consolidação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

2.2.4. Corte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

2.3. Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

2.4. Analise de Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

2.4.1. Análise das propriedades fundamentais do solo quando submetido à com-


pressão isotrópica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

2.4.2. Análise das propriedades fundamentais do solo quando submetido ao corte 40

3. Modelos Constitutivos 45

3.1. Modelos Elásticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

3.1.1. Modelo Hiperbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

3.2. Modelos elastoplásticos convencionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

ix
3.2.1. Modelo Mohr-Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

3.2.2. Modelo Cam-Clay modificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

3.3. Modelo elastoplástico não convencional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

3.3.1. Modelo Subloading aplicado ao Cam-Clay . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

3.4. Conclusões sobre a capacidade de ajuste dos modelos em geral . . . . . . . . . . 70

3.5. Superfícies de cedência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

3.5.1. Análise de resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

4. Aplicação do programa Plaxis 75

4.1. Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4.1.1. Exemplo de aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4.1.2. Plaxis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

4.2. Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

4.2.1. Processo construtivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

4.2.2. Hydrolift . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

4.2.3. Teste A: Variação do ângulo de atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

4.2.4. Teste B: Utilização de diferentes modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

4.3. Resultados e Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

4.3.1. Teste A: Variação do ângulo de atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

4.3.2. Teste B: Utilização de diferentes modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

4.3.3. Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

5. Conclusões e Proposta de desenvolvimentos futuros 91

Apêndice A. Tabelas do Euródigo 7 99

Apêndice B. Esquema dos drivers dos modelos 103

Apêndice C. Deduçao do modelo Subloading 109

x
Lista de Tabelas

1.1. Sintese dos resultados diretos que se podem obter através ensaios de campo abor-
dados na tabela A1 da EN1997-2 (2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

1.2. Sintese dos resultados diretos que se podem obter através ensaios de laboratório
abordados na tabela A1 da EN1997-2 (2007) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.1. Ensaios realizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

2.2. Caracterização física e química da areia SP49 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.3. Síntese dos ângulos de atrito na fase final dos ensaios obtidos em Vieira (2008) . 29

2.4. Ensaios mais adequados para obter os parâmetros dos modelos . . . . . . . . . . 29

2.5. Resultados mais importantes dos ensaios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

2.6. Funções de ajuste ao resultado da compressão isotrópica do 1º ensaio e R2 asso-


ciado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3.1. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo hiperbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3.2. Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias


com o modelo hiperbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

3.3. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo elástico-perfeitamente plástico . . . . . . . 53

3.4. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo elastoplástico com endurecimento . . . . 57

3.5. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo elastoplástico com endurecimento e amo-
lecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

3.6. Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias 60

3.7. Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, gran-
des deformações e ELU para o modelo de Cam-Clay . . . . . . . . . . . . . . . . 63

3.8. Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias 64

3.9. Parâmetros usados na modelação do ensaio 1 e 2 com o modelo subloading apli-


cado ao Cam-Clay . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

3.10.Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias 71

xi
3.11.Quadro síntese da possibilidade de utilização dos modelos usando tensões como
dados em estados axissimétricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

4.1. Propriedades usadas para as Plates . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

4.2. Hipóteses de teste por variação do ângulo de atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

4.3. Tabela com os valores aplicados para cada um dos modelos . . . . . . . . . . . . 84

xii
Lista de Figuras

1.1. Classificação granulométrica do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

1.2. Efeito do arranjo estrutural do solo nas variações volumétricas por corte e com-
pressão isotrópica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

1.3. Transferência de tensões por forças de contato: (a) esquema ilustrativo duma dis-
posição normal de solos granulares; (b) variabilidade extrema das tensões nas
partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

1.4. Ensaio de polarização da luz em discos birrefrigentes . . . . . . . . . . . . . . . . 8

1.5. Componentes do campo de deslocamentos e do tensor das deformações . . . . . 8

1.6. Propriedades não lineares do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

1.7. Comportamento teórico do solo sob compressão isotrópica . . . . . . . . . . . . . 10

1.8. Memória da história de tensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.9. Comportamento teórico do solo no estado denso e solto . . . . . . . . . . . . . . . 11

1.10.Evolução da histerese com o aumento de deformação . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1.11.Estados limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.12.Esquema geral da seleção de valores derivados das propriedades geotécnicas . . 15

1.13.Tensão inicial in situ e variação de tensões resultantes de algumas construções


típicas da engenharia geotécnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

1.14.Esquema dos modelos estruturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1.15.Projeção de um triângulo em vários espaços matemáticos afins . . . . . . . . . . . 21

1.16.Projeção no espaço e o respetivo efeito da projeção segundo diferentes eixos or-


tonormados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

1.17.Tensor das tensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

1.18.Modelo ilustrativo da primeira fase de escavação com o primeiro nível com suporte
de paredes moldadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.19.Explicação das implicações da simplificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

1.20.Evolução dos modelos para areias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

2.1. Ensaio Granulométrico da areia SP 49 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2.2. Preparação da amostras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

xiii
2.3. Ensaio realizado por Tatsuoka(1972)para a determinação das superfícies de ce-
dência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

2.4. Resultados de compressão isotrópica dos três ensaios realizados . . . . . . . . . 33

2.5. Resultados do ensaio de corte CD para as duas amostras . . . . . . . . . . . . . . 34

2.6. Resultados do ensaio de corte CD para o terceiro ensaio . . . . . . . . . . . . . . 37

2.7. Resultados deformacionais do ensaio de corte CD para o terceiro ensaio . . . . . 37

2.8. Forma do provete no final do ensaio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

2.9. Resultado de compressão isotrópica e dados do estado crítico para três amostras
reconstituídas em laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

2.10.Conceito de deformação intergranular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

2.11.Resultados dos ensaios triaxiais CD para areias do rio Sacramento no estado solto
e no estado denso a várias pressões de confinamento . . . . . . . . . . . . . . . . 43

2.12.Estereofotogrametria baseada na evolução local e global das deformações do en-


saio shf06 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

3.1. Esquema de aplicação do modelo hiperbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

3.2. Resultado da aplicação do modelo hiperbólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3.3. Esquema de aplicação do modelo Mohr-Coulomb . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

3.4. Resultado do modelo Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico . . . . . . . . 54

3.5. Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento . . . . . . . . . . . . . . 56

3.6. Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento . . . . . 58

3.7. Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento para ajuste dos ensaios
2e3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

3.8. Esquema de aplicação do modelo de Cam-Clay . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

3.9. Resultado do ensaio de aplicação do modelo Cam-Clay . . . . . . . . . . . . . . . 62

3.10.Superfície de cedência, superfície de Suboading e região elástica . . . . . . . . . 65

3.11.Resultados da modelação do ensaio 1 com o Subloading model . . . . . . . . . . 69

3.12.Resultados da modelação do ensaio 2 com o Subloading model . . . . . . . . . . 70

3.13.Superfícies de cedência de modelo de Mohr-Coulomb e Cam-Clay . . . . . . . . . 73

4.1. Hydrolift do estaleiro em Mitrena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4.2. Elemento finito usado para definir o solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

xiv
4.3. Elemento finito estrutural linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

4.4. Definição do modelo elástico perfeitamente-plástico de Mohr-Coulomb pelo Plaxis 78

4.5. Esquema do Hardening model . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

4.6. Fase inicial após o rebaixamento do nível freático . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4.7. Construção da ensecadeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4.8. Escavação da ensecadeira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

4.9. Construção da primeira fase da estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

4.10.Aterro, construção da estrutura superior e aplicação das acções de água . . . . . 81

4.11.Níveis de água das situações de projeto para a fase de serviço . . . . . . . . . . . 81

4.12.Segmentação da estrutura para geração de diferentes Plates no Plaxis . . . . . . 82

4.13.Resultado no final da escavação por aplicação da 1ª hipótese . . . . . . . . . . . . 83

4.14.Resultado no final da escavação por aplicação da 2ª hipótese . . . . . . . . . . . . 83

4.15.Momentos fletores aquando do enchimento até à cota de 15,25 m . . . . . . . . . 86

4.16.Esforços axiais aquando do enchimento até à cota de 15,25 m . . . . . . . . . . . 86

4.17.Esforços transversos aquando do carregamento até à cota de 15,25 m . . . . . . 86

4.18.Resultado no final da escavação segundo o modelo elástico linear . . . . . . . . . 87

4.19.Resultado no final da escavação segundo o modelo de Mohr-Coulomb . . . . . . . 87

4.20.Resultado no final da escavação segundo o Hardening model . . . . . . . . . . . 88

4.21.Momentos fletores aquando do enchimento até à cota de 15,25 m . . . . . . . . . 89

4.22.Esforços axiais aquando do enchimento até à cota de 15,25 m . . . . . . . . . . . 89

4.23.Esforços transversos aquando do enchimento até à cota de 15,25 m . . . . . . . . 89

A.1. Enquadramento geral simplificação da aplicação dos métodos de caracterização


de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

A.2. Ensaios de classificação do solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

A.3. Ensaios laboratoriais para a determinação de parâmetros geotécnicos . . . . . . . 101

B.1. Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastio-


perfeitamente plástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

B.2. Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastico


plástico com endurecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

xv
B.3. Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastico
plástico com endurecimento e amolecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

B.4. Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Cam Clay para solos
com comportamento denso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

B.5. Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Cam Clay para solos
com comportamento solto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

xvi
Simbologia

Símbolo Descrição

[•] matriz

{•} vector

⇒ Implica

∂ operador derivada parcial

d operador derivada

operador integral
H

f (ε) função f depende do parâmetro ε

4 incremento

||•|| comprimento do vetor

Alfabeto latino

Símbolo Descrição

a Constante do modelo hiperbólico

a Constante da lei de endurecimento do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento

Al2 O3 Óxido de alumínio

b Constante do modelo hiperbólico

B Parâmetro B de Skempton

b Constante da lei de endurecimento do modelo Mohr-Coulomb com amolecimento

c0 coesão efectiva

CaO Óxido de cálcio

CCaCO3 Teor de carbonatos

CCl Teor de cloretos

xvii
Símbolo Descrição

COM Perda ao rubro

CO2 Dióxido de Carbono

cf v Resistência ao corte não drenada (não corrigida)

crv Resistência ao corte não drenada remoldada

CSO2− ,CSO2− Teor de Sulfatos


4 3

Cc coeficiente de compressibilidade

Cc Coeficiente de curvatura

Cs Coeficiente de expansibilidade (descarga-recarga)

Cu Coeficiente de uniformidade

cu Resistência ao corte não drenada

d Constante do modelo hiperbólico

+D,−D Pontos extremos da deformação relativa do ciclo

D30 Percentil 30 na distribuição granulométrica [mm]

D50 Percentil 50 na distribuição granulométrica [mm]

D60 Percentil 60 na distribuição granulométrica [mm]

Dr Densidade relativa

dx1 , dx2 comprimento do elemento infinitesimal segundo a direção

E0 Módulo de defomabilidade efetivo

EDM T Módulo dilatométrico

EF DT Módulo de deformabilidade dilatométrico

emáx Índice de vazios máximo

emín Índice de vazios mínimo

e1 ,e2 ,e3 Projeção do vetor da base canónica no eixo 1, no eixo 2 e no eixo 3

e01 ,e02 ,e03 Projeção do vetor noutra base no eixo 1, no eixo 2 e no eixo 3 dessa mesma base

ref
Eoed Módulo de deformabilidade edométrico de referência

xviii
Símbolo Descrição

Ep Módulo pressiométrico

Er Correção energética

Eu Módulo de deformabilidade em condições não drenadas

E50 Módulo de deformabilidade secante

f Constante do modelo hiperbólico

F Força

fs resistência de atrito lateral

F e2 O3 Óxido de férrico

G Potêncial plástico

G Módulo de distorção

Gs Densidade das partículas sólidas

(ui )Origem deslocamento na origem segundo a direção genérica i

(ui )P onto deslocamento no ponto segundo a direção genérica i

~
OA vetor que une os pontos O a A

~ 1
OA projeção no eixo 1 do vetor que une os pontos O a A

~ 2
OA projeção no eixo 2 do vetor que une os pontos O a A

~ 3
OA projeção no eixo 3 do vetor que une os pontos O a A

IDM T Índice do material

KDM T Índice da tensão horizontal

K2 O Óxido de potássio

M valor de η crítico

M∗ gradiente do potencial plástico (modelo de Mohr-Coulomb elasto-perfeitamente plástico)

Mc gradiente da LEC por compressão com compressão axial

Me gradiente da LEC por compressão com extensão axial

M gO Óxido de magnésio

xix
Símbolo Descrição

n Constante da extensão do modelo hiperbólico

N volume específico do solo NC para p0 igual a 1 kP a

N número de pancadas do ensaio SPT

N10 número de pancadas necessárias para cravar 10 centímetros o penetrómetro

N20 número de pancadas necessárias para cravar 20 centímetros o penetrómetro

Ni Função de forma

N a2 O Óxido de Sódio

P granulometria mal graduada

p0 tensão média efetiva

pLM Pressão limite do ensaio pressiométrico

p00 tensão média efetiva na LCN

p0 Pressão de abertura corrigida

p1 tensão média aquando da variação volumétrica nula

pa Pressão atmosférica

pf pressão de fluência

pf tensão média final

pl Pressão de expansão corrigida

pp tensão de média de pico

pp pressão isotrópica da superfície de cedência por compressão (Hardening model)

pu Pressão de contacto última

pref Tensão de referência

pH Potêncial de hidrogénio

q tensão deviatórica

q1 tensão deviatórica aquando da variação volumétrica nula

qc resistência de ponta

xx
Símbolo Descrição

qf tensão deviatórica final

qp tensão deviatórica de pico

qt resistência de corte corrigida

qu Índice de resistência à compressibilidade uniaxial

R Relação entre a superfície de subloading e a superfície de cedência

−R,R Pontos extremos da deformação

Re Relação entre o limite da região elástica e a superfície de cedência

Rf Relação entre q máximo do ensaio e q máximo do modelo hiperbólico

Rf resistência total do ensaio CPT

S areia

SiO2 Óxido de silício (Sílica)

T iO2 Óxido de titânio

u campo de deslocamentos

u Constante do material para o modelo Subloading

u pressão intersticial

U (R) variação do endurecimento da superfície de cedência com R

u(u1 ; u2 ) campo de deslocamentos no plano (x1 , x2 )

u1,1 , u1,2 , u2,1 , u2,2 Primeira derivada dos deslocamentos

ui,j primeira derivada do deslocamento da direção i segundo j

u1 , u2 deslocamento segundo a direcção 1 e 2

w teor de água

W trabalho interno de deformação

Wd trabalho interno de deformação distorcional

wL Índice de liquidez

wP Índice de plasticidade

xxi
Símbolo Descrição

Wv trabalho interno de deformação volumétrica

xi , xj Coordenada no ponto

Alfabeto grego

Símbolo Descrição

α ângulo que o vetor OA


~ faz com o eixo 1

α parâmetro da superfície de cedência por compressão (hardening model)

β ângulo que o vetor OA


~ faz com o eixo 2

β parâmetro da superfície de cedência por compressão (hardening model)

γ ângulo que o vetor OA


~ faz com o eixo 3

γ peso volúmico

Γ volume específico no estado crítico para p0 igual a 1 kP a

γd peso volúmico seco

γij deformação distorcional de engenharia

γw peso volúmico da água

γmáx Peso volúmico seco máximo

γmin Peso volúmico seco mínimo

δ taxa total de deformação intragranular (nível macroscópico)

δ̇ taxa relativa de deformação intragranular (nível microscópico)

ε tensor de deformação de corpo deformável (na hipótese dos pequenos deslocamentos)

εii componente de extensão do tensor das deformações

εij componente de distorção do tensor das deformações

ε1 , ε2 , ε3 deformações principais

xxii
Letra Descrição

εa deformação axial

εp deformação plástica

εe deformação elástica

εr deformação radial

εs deformação distorcional

εes deformação distorcional elástica

εps deformação distorcional plástica

εv deformação volumátrica

εev deformação volumétrica elástica

εps deformação volumétrica plástica

η q/p0

ηp relação entre qpico e p0pico

κ gradiente de uma linha de descarga-recarga (linha κ), numa representação (ν,ln p0 )

κ Ei /pa para σ3 nulo na extensão do modelo hiperbólico (Jambu,1963)

λ gradiente da LCN

λ multiplicador plástico

σ matriz representativa do estado de tensão num ponto

somatório
P

σ0 tensão total efetiva

σ11 , σ12 , σ13 componentes da tensão na faceta 1

σ21 , σ22 , σ23 componentes da tensão na faceta 2

σ31 , σ32 , σ33 componentes do tensão na faceta 3

σI , σII , σIII tensões principais

ρ Massa volúmica

ρs Massa volúmica das partículas sólidas

xxiii
Letra Descrição

σij Tensor das tensões

σp0 Pressão de pré-consolidação efetiva

σ tensor das tensões totais

σr tensão radial

τ tensão de corte =q/2

τ12 ,τ13 ,τ23 componentes

υ coeficiente de Poisson

φ ângulo de resistência ao corte (ângulo de atrito interno)

φ0 ângulo de resistância ao corte efectiva (ângulo de atrito interno)

φ0f ângulo de resistência ao corte efectiva no final do ensaio

φ0cv ângulo de resistência ao corte efectiva no esatado crítico

ϕi distorção de corpo deformável (na hipótese dos pequenos deslocamentos)

ψ ângulo de dilatância

ψp valor máximo do ângulo de dilatância

ωi,j tensor das rotações de corpo rígido (na hipótese dos pequenos deslocamentos)

ω1,2 componente da rotação dos eixos 1 para dois do tensor das rotações de corpo rígido

ψ ângulo de dilatância

ηp p/q de pico

φf ângulo de atrito

ηf p/q de final

φ1 ângulo de atrito aquando da variação volumétrica nula

η1 p/q aquando da variação volumétrica nula

ηp parâmetro de endurecimento no pico do modelo Mohr-Coulomb com endurecido

ηy parâmetro de endurecimento do modelo Mohr-Coulomb endurecido

ξ eixo do referencial local para as funções dos elementos finitos

xxiv
Letra Descrição

ζ eixo do referencial local para as funções dos elementos finitos

xxv
xxvi
Siglas

Siglas Descrição
3D três dimensões
C1 Correlações dos ensaios de campo
C2 Correlações dos ensaios de laboratório
CPT Ensaio de Penetração Estática
CPTU Ensaio de penetração estática com medição da pressão de água
CTa Compressão Triaxial por aumento da tensão radial
CTr Compressão Triaxial por aumento da tensão axial
DPH Penetração dinâmica pesada
DPL Penetração dinâmica leve
DPM Penetração dinâmica média
ELU Estados Limites Últimos
ELUt Estados Limites de Utilização
EMQ Erro médio quadrático
ETa Extensão Triaxial por diminuição da tensão axial
ETr Extensão Triaxial por diminuição da tensão radial
F1 Ensaio de campo 1
F2 Ensaio de campo 2
FLAC Programa de elementos finitos
L1 Ensaio de laboratório 1
L2 Ensaio de laboratório 2
LCN Linha de compressão normal
LEC Linha de estados críticos
MEF Método dos elementos finitos
NC Normalmente consolidado
PLAXIS Programa de elementos finitos
Rpcrítico Grau de sobreconsolidação crítico
SP 49 Nome da areia usada no trabalho
SPT Ensaio de penetração normalizado
SS Ensaio de Corte simples

xxvii
xxviii
Introdução

Considerações iniciais

O grande objetivo da Geotécnia é prever o comportamento dos geomateriais e a interação


com os materiais estruturais e o ambiente envolvente, para que, com este conhecimento se pos-
sam solucionar os desafios que a sociedade e a natureza colocam. A capacidade de criar mo-
delos geotécnicos capazes de representar a realidade tem sido um desafio desde os primórdios
da Engenharia Geotécnica. Baran e Sweezy, em 1968, frisaram que o conhecimento científico
cresce através da construção e a análise de modelos de segmentos ou aspetos da realidade
estudada. O propósito dos modelos não é fazer espelho da realidade, não é incluir todos os seus
elementos nos tamanhos reais e nas respetivas proporções, mas antes individualizar e tornar
acessíveis, para uma intensa investigação, aqueles que são decisivos. Abstraímo-nos do que
não é essencial, riscamos o que não é importante para obter uma visão desobstruída do que é
relevante e ampliamo-la no intuito de melhorar o alcance e a precisão das observações.

Nas últimas décadas introduziu-se um novo tipo de modelos: os modelos numéricos que
respeitando aproximadamente todas as equações estruturais (condições de equilíbrio, de com-
patibilidade, relações constitutivas e condições de fronteira) conseguem obter boas simulações
dos fenómenos físicos usando equações diferenciais. Tal permite, face aos antigos modelos con-
vencionais, não só obter as resistências do solo com o intuito de prevenir a ocorrência de Estados
Limte Últimos, mas também, e esta é a grande inovação, simular as deformações do solo e das
estruturas ao longo do processo de construção e da vida útil das mesmas, e com elas garantir os
Estados Limites de Utilização.

Para se poder criar um modelo numérico é necessário definir a geometria dos elementos que
vão ser representados, as ações que lhe vão ser aplicadas - quer as gerais (EN 1991, 2010)
quer as geotécnicas (EN 1997-1, 2009 e EN 1997-2, 200) - as equações constitutivas que vão
definir como os vários materiais presentes no modelo vão reagir face às ações aplicadas, quais
as condições de fronteira que permitem ao modelo estar em equilíbrio com o meio envolvente,
dado que o modelo não tem dimensões infinitas, e finalmente os métodos numéricos vão definir
as regras de propagação dos efeitos ao longo do modelo.

Acontece que nos programas cálculo comercializados existem vários modelos constitutivos,
nenhum deles perfeito, e consequentemente, limitados na capacidade de representar a realidade.
Ciente deste problema e com o intuito de tornar esta tese pedagógica, pretende-se mostrar que
não se pode simular a realidade com um qualquer modelo constitutivo, e que todos os modelos
podem ter um domínio limitado de aplicação.

1
Estruturação da Dissertação

Para a criação de modelos é preciso compreender o comportamento dos material que se


está a modelar para que se possa ter sensibilidade em relação aos resultados que se estão a
obter. Mesmo os modelos puramente matemáticos terão a um certo ponto de ser compreendi-
dos de um ponto de vista físico. Por esta razão, a presente tese começa, no capítulo 1, com
uma análise qualitativa do material em estudo, em especial das areias no que diz respeito ao
seu comportamento mecânico, realizar-se-á um breve acompanhamento teórico de todo o pro-
cesso de construção do modelo, desde a compreensão física dos conceitos matemáticos que
estão subjacentes a toda a abordagem quantitativa, passando pela definição dos parâmetros,
da compreensão dos ensaios e da seleção dos mesmos em função do projeto a realizar, até à
enumeração de alguns modelos atualmente existentes.

No capítulo 2 serão apresentados três ensaios: um ensaio triaxial convencional preparado


com a compacidade mínima conseguida, outro ensaio do mesmo tipo para a compacidade má-
xima e um terceiro ensaio triaxial mais complexo para determinação da superfície de cedência
e teste da capacidade de ajuste dos modelos usados no presente trabalho. Analisar-se-ão os
resultados e a coerência dos mesmos face ao comportamento teoricamente esperado.

No capítulo 3 explicar-se-á a conceptualização dos modelos elásticos e elastoplásticos e


a sua concretização matemática, ilustrar-se-á esquematicamente alguns modelos constitutivos
e fornecer-se-á em anexo um suplemento de apoio à construção dos drivers dos modelos.
Procurar-se-á retirar informação quanto ao domínio de aplicabilidade dos mesmos.

Finalmente, no capítulo 4 realizar-se-á dois testes: um de comparação de diferentes ângulos


de atrito intrínsecos ao solo correspondentes aos ângulos de atrito finais dos ensaios e assu-
mindo o mesmo ângulo de atrito; o outro de comparação da utilização de diferentes modelos
para o cálculo.

O trabalho termina com as conclusões e propostas para desenvolvimentos futuros.

2
Capítulo 1: Comportamento e modelação de areias

1.1 Caraterização fenomenológica dos solos

A Geotecnia é um segmento muito amplo da Engenharia Civil, dado que o seu objeto de
estudo é o terreno, as suas interações com as demais estruturas e o meio ambiente envolvente
em contínua mutação.

O terreno, por si só, comporta uma enorme variabilidade, a ponto da divergência nos parâme-
tros a analisar e, naturalmente, a consequente abordagem conceptual ter levado ao desenvolvi-
mento de duas grandes ramificações: a mecânica das rochas e a mecânica dos solos.

Mesmo dentro da mecânica dos solos, que será enfoque da presente dissertação, há um
enorme contraste entre materiais, uma vez que a gama de dimensões das partículas em estudo
inclui tanto grandezas da ordem dos micrómetros, como métricas (figura 1.1). Por isso, é uma
boa prática da engenharia separar e estudar os materiais com comportamentos radicalmente
diferentes – solos granulares evolutivos, solos granulares íntegros, siltes e solos argilosos. O
estudo dos solos reais, que integram os vários materiais em diferentes proporções, fica facilitado,
com a sobreposição dos efeitos dos elementos decisivos que o vêm explicar.

Figura 1.1 – Classificação granulométrica do solo

Numa abordagem mais genérica dos solos pode-se desde já afirmar que são um meio parti-
culado, cujo comportamento depende do conjunto da estrutura e da eventual cimentação, a que
se chama fábrica. Uma correta caraterização da estrutura implica o conhecimento das proprie-
dades, da disposição espacial das partículas e dos vazios do solo. Da estrutura vai depender a
interação física entre partículas, entre os fluidos que preenchem esses vazios - fluídos interstici-
ais - e as partículas, entre ambos e o meio atmosférico envolvente, nomeadamente a temperatura
e a humidade. A existência de cimentação está dependente da capacidade que as partículas só-
lidas têm de interagir física e quimicamente com os fluídos, com as restantes partículas e com o

3
meio ambiente.

São as partículas sólidas que, em última análise, vão suportar as tensões impostas sobre
o solo. Para as caraterizar é preciso conhecer a dimensão volumétrica, atrás mencionada, a
sua forma e a constituição mineralógica, pois estas vão definir as suas propriedades químicas
e físicas. Excluindo os materiais granulares evolutivos, porque apresentam deformações por
efeito de fraturação e de esmagamento, as restantes mantêm as suas caraterísticas constantes,
podendo-se considerar integras para a gama de tensões impostas no âmbito da Engenharia Civil.

Os vazios são outro elemento definidor do comportamento dos solos. A resposta dos vazios
entre as partículas irá depender das dimensões dos mesmos, dos fluidos com que são preenchi-
dos e da capacidade de escoamento dos fluídos pelos interstícios da estrutura sólida. Os vazios
podem ser preenchidos com ar, tornando o solo seco, mas se, ao invés, forem completamente
cheios com um fluido líquido tornam o solo saturado e o intermédio cria os solos não saturados.
A análise do comportamento dos vazios dos solos aqui presente será restrita ao domínio dos
solos teoricamente secos e dos saturados.

A deformabilidade dos solos com partículas indeformáveis pode ser originada microscopi-
camente pela deformação das próprias partículas, que retornam à sua posição inicial quando
o carregamento é retirado (adaptado de Hashiguchi, 2009), sendo essa deformação, por isso
mesmo, considerada elástica, ou ganhar contornos irreversíveis, plásticos, o que ocorre rapi-
damente como consequência do rearranjo das partículas, que face às pressões exercidas se
movem para encontrar um novo estado de equilíbrio e, uma vez alcançado, pelo princípio da
energia mínima, já não voltarão ao estado inicial.

Como ilustra a figura 1.2, as deformações dependem do tipo de carregamento, que pode ser
igual em todas as direções – carregamento isotrópico que gera tensões de confinamento – ou,
como é mais comum na natureza, devido à sedimentação, o solo tem um acréscimo de tensão
vertical pelo contínuo depositar de novas camadas. Este acréscimo, para distinguir da tensão
de confinamento, gera tensões deviatóricas ou de corte. Pode também acontecer que as forças
nas três direções sejam diferentes e o estado de tensão será tridimensional, em que existe uma
tensão de confinamento média e para cada direção existe uma força de deviatórica associada.
Este tipo de carregamento já está fora do âmbito de estudo.

A forma das partículas induz o modo de transmissão das tensões. As equidimensionais aju-
dam a que a transmissão do carregamento seja isotrópico, ao passo que as partículas laminares
vão criar direções preferenciais de transmissão, gerando anisotropia.

A tensão de confinamento quando comprime o solo provoca primeiramente deformações elás-


ticas e posteriormente o rearranjo das partículas do solo para o interior dos espaços vazios exis-
tentes, o que provoca a contração do volume total do solo. O alívio de tensões vai provocar a
expansão do mesmo, correspondente à parte elástica da deformação. Esta tensão é facilmente
resistida pelo solo, porque quanto maior for a tensão aplicada mais imbrincadas estão as partícu-

4
Ambos os solos contraem

Figura 1.2 – Efeito do arranjo estrutural do solo nas variações volumétricas por corte e compressão isotró-
pica

las e maior resistência o solo tem como um todo. A forma de gerar instabilidade do solo é, neste
caso, retirar-lhe toda a tensão de confinamento e, se este não tiver coesão, então desmoronar-
se-á.

A tensão de corte é mais prejudicial porque obriga o solo a mudar de forma, colocando-o em
posições instáveis que podem provocar a sua rotura parcial ou total por falta de resistência. Para
obrigar o solo a mudar de forma, dependendo do estado inicial do solo, vai haver repercussões
em termos de variação volumétrica. Se o solo estiver no estado chamado solto, em que existem
muitos vazios entre partículas, o rearranjo das partículas tende a ocorrer para o interior dos
vazios existentes, tratando-se, então, da contração do solo. Caso o solo esteja inicialmente já
num estado denso, há criação de espaços vazios originados pelas próprias partículas que, para
deslizarem umas sobre as outras, provocam a dilatação do solo.

Para que as partículas se possam deslocar, os vazios têm de poder aumentar ou diminuir. Há
duas hipóteses que permitem a concretização deste fenómeno. Ou os vazios são preenchidos
por um fluido que seja compressível, que é o que acontece nos solos teoricamente secos, pois
o ar é compressível. Ou as condições externas permitem a drenagem dos solos, de modo a
ser possível ao fluido incompressível entrar ou sair do solo, conforme este tenda a aumentar ou
diminuir de volume.

Frequentemente acontece, nos solos com vazios de pequenas dimensões, que a taxa de car-
regamento imposta é superior à capacidade de drenagem dos vazios, gerando, por isso, pressões
no fluido, que, na terminologia técnica, se denomina excesso de pressões intersticiais. Quando
a água não consegue ser drenada, e, consequentemente, não há variações volumétricas, diz-se
que o solo está em condições não drenadas.

5
A interação física e/ou química entre partículas e entre a partícula e o fluido está fortemente
dependente das dimensões e forma das partículas, da sua mineralogia e da capacidade de inte-
ração do próprio fluido. A interação química depende da constituição mineralógica das partículas
que as torna capazes, ou não, de possuir cargas positivas ou negativas, gerando forças de atra-
ção ou repulsão no interior da fábrica. Estas forças têm a particularidade de serem constantes
independentemente da tensão de confinamento. As forças químicas dependem da superfície es-
pecífica, cuja relação é inversamente proporcional ao volume das partículas (Maranha das Neves,
2013). Assim, com o aumento da dimensão das partículas a importância deste efeito torna-se
residual, enquanto que o peso das mesmas vai aumentando, consequentemente as forças físicas
vão ganhando predominância.

Para o caso particular dos solos granulares íntegros, em especial das areias puras, sobre as
quais a tese se debruça, as dimensões das partículas variam entre 0,06 e 2 mm. A sua forma
é aproximadamente equidimensional, o que lhe confere um comportamento isotrópico. São,
predominantemente constituídas por monominerais, duros, que não fraturam, nem se deformam
para as cargas aplicadas no âmbito da engenharia civil. Note-se que existem algumas areias em
que tal não se verifica, como as carbonatadas,que tendem a ser problemáticas e merecem um
estudo especial. São quimicamente estáveis (geralmente constituídas por quartzo) e, por isso,
não tendem a reagir quimicamente entre si, nem com os fluidos circundantes. Por estas razões,
do ponto de vista da Geotecnia, as interações químicas são desprezáveis e o comportamento do
solo é regido por forças gravíticas. Os vazios são criados pelos espaços entre partículas, dado
que estas não se agregam se não existirem ligações cimentícias. As sua dimensão só depende
do tamanho das partículas e do seu arranjo. A existência de partículas de várias dimensões
reduz os vazios disponíveis, dado que as partículas de menores dimensões tendem a preencher
os vazios deixados pelas maiores.

No caso de carregamentos quasi estáticos em solos arenosos saturados não há ocorrência


de pressões intersticiais no solo, pois, dadas as dimensões dos vazios, o movimento da água
no interior do solo tende a ser livre (condutividade hidráulica entre 10−2 e 10−5 m/s (Maranha
das Neves, 2013)). Exceção feita para o caso em que o solo arenoso está limitado por fronteiras
impermeáveis que impedem o escoamento da água.

A propagação das tensões neste tipo de material em estudo não se transmite uniformemente.
Drescher e Jong (1972) procuraram ilustrar na figura 1.3 que existem pontos de contacto que
transmitem grandes forças de umas partículas para outras, existem também partículas menores
que, por estarem na extremidade da interface entre partículas de maiores dimensões, transmitem
uma fração reduzida da força das grandes e, por fim, existem outras partículas menores que
somente repousam sobre outras e transmitem o próprio peso, que é muito reduzido.

A estabilidade do arranjo depende do equilíbrio entre as forças gravíticas e as forças de


contacto, normais aos planos que passam pelos pontos onde as partículas se tocam e que,
devido à rugosidade das partículas e à tendência de movimento, originam forças de atrito.

6
(a) (b)

Figura 1.3 – Transferência de tensões por forças de contato: (a) esquema ilustrativo duma disposição
normal de solos granulares; (b) variabilidade extrema das tensões nas partículas (Drescher e
Jong, 1972)

A perspetiva qualitativa, anteriormente abordada, sendo ótima para intuir os fenómenos que
descrevem o problema é claramente insuficiente para prever o comportamento do solo do ponto
de vista da Engenharia Geotécnica. É necessária uma análise quantitativa dos fenómenos. Para
tal é preciso proceder à escolha dos parâmetros capazes de caraterizar o comportamento e
selecionar a forma mais fiável dos obter (ensaios) e um meio de interpretação dos parâmetros
que permita quantificar o comportamento em estudo (modelo).

Começando pelo último Muir Wood (1990) afirma que a compreensão do comportamento dos
solos vai melhorando se simplificações inteligentes da realidade forem feitas e as análises forem
realizadas utilizando modelos simplificativos de objetos reais. Segundo esta lógica começar-
se-á pelo modelo mais simples até ao modelo mais complexo, para ser mais fácil perceber as
aproximações das simplificações.

A primeira grande simplificação é o efeito de escala. Até agora definiu-se o comportamento


particulado dos solos, na sua natural heterogeneidade. Ao aumentar a escala de solo em análise
perde-se a sensibilidade que permite caraterizar cada elemento, como se consegue perceber na
figura 1.4a), em que as zonas mais escuras mostram como se propaga a força no interior do
disco birrefrigente. Em contraposição na figura 1.4b), tal já não é possível, nem se consegue ter
a sensibilidade para distinguir os discos com 1 mm de diâmetro, passando antes a ser visível o
encaminhamento das forças através dos contactos dos discos (Leśniewka e Muir Wood, 2009;
Muir Wood e Leśniewka, 2011; e Leśniewka e Muir Wood, 2011). Verifica-se assim que o solo em
grande escala tem um comportamento homogeneamente heterogéneo, como definido por Muir
Wood (2012).

Torna-se homogéneo devido à medianização das caraterísticas individuais de cada partícula,


dos vazios e das consequentes interações. As forças de contacto passam a ser trabalhadas
como tensões (força por unidade de área), as dimensões dos vazios pelo índice de vazios e
as deformações são a expressão dos deslocamentos devido à interação entre os elementos

7
(a) (b)

Figura 1.4 – Ensaio de polarização da luz em discos birrefrigentes que permite visualizar o encaminha-
mento da propagação das tensões principais: (a) um disco (Muir Wood e Leśniewska, 2011);
(b) assemblagem de discos (Muir Wood, 2012)

anteriores. Os deslocamentos podem subdividir-se nas parcelas independentes de translação,


rotação, extensão e distorção, como se pode ver na figura 1.5.

Campo de Deslocamentos
 P  h P xj
i
(ui )P onto = (ui )Origem − xj ωij + xi εij + 2
γij

Translação Rotação ExtensãoDistorção


Movimento de corpo rígido Deformação

Translação Rotação
1
ωij = −ωji = 2
(ui,j − uj,i )
u1 ~u
u1,1 dx1
+
e2 u1,2 dx2 u1,2 dx2
u1
u2,1 dx1
u2 u2 +
ϕ1 u2,2 dx2
u2,2 dx2

dx1 u2,1 dx1


ϕ2
u1,1 dx1
u2 dx2

O
e1
u1

εij = εji = 21 γij


εii = ui,i
γij = ui,j + uj,i

Figura 1.5 – Componentes do campo de deslocamentos e do tensor das deformações

Para representar a heterogeneidade é necessária a sobreposição destes três conjuntos de


grandezas (tensões, pressões intersticiais, índice de vazios) para ser possível definir o compor-
tamento do solo. Esta simplificação da análise é um bom artifício cuja a fiabilidade a prática da

8
engenharia tem vindo a comprovar e conceptualmente compreende-se que as variações pontuais
sejam diluídas no comportamento do todo.

O que atualmente ainda não está bem compreendido é a partir de que escala se passa da
mecânica dos meios particulados para a mecânica dos meios contínuos. Ou seja, a partir de que
escala as variações das caraterísticas ao nível local afetam significativamente as caraterísticas
do solo na sua globalidade. Na prática considera-se que se pode assumir uma amostra como
meio contínuo se o diâmetro da amostra for cinco vezes maior que o diâmetro da maior partícula.
Informação mais pormenorizada pode-se encontrar em Muir Wood (2012).

A visão do solo a esta escala homogeneamente heterogénea permite verificar um conjunto


de propriedades fundamentais do solo que são mensuráveis:

1. Não linearidade da resposta do solo.

2. Memória da história de tensões:

2.1 Comportamento dos solos na descarga e recarga;

2.2 Comportamento dilatante e contrátil dos solos;

3. Estados limite.

1.1.1 Não linearidade da resposta do solo

É do conhecimento geral do meio geotécnico que a relação de tensão vs deformação dos


solos é não linear, quer quando sujeito ao acréscimo de tensão de confinamento, quer da tensão
de corte. (Figura 1.6)

(a) (b)

Figura 1.6 – Propriedades não lineares do solo: (a) Variação do móduo de compressibilidade volumétrica
(K) na compressão isotrópica; (b) Variação do módulo de distorção (G) no corte (Maranha
das Neves, 2007)

Qualquer um dos módulo representados pode ser definido pela tangente à curva ou pela
secante. K0 e G0 correspondem às grandezas medidas inicialmente.

9
1.1.2 Memória da história de tensões

O processo de cargas e descargas permitiu verificar que o solo é afetado pela história de
tensões em ambas as solicitações (compressão isotrópica e corte).

A figura 1.7 ilustra o comportamento teoricamente esperado aquando do carregamento iso-


trópico. Segundo este, o solo sabe se o carregamento a que está a ser solicitado é menor do que
o que já foi outrora submetido. A sua rigidez face à deformação imposta é maior, deslocando-se
sobre a linha κ. Quando o carregamento é superior ao da sua historia, então a deformabilidade
do solo é muito maior, pelo rearranjo das partículas. O solo desloca-se então sobre a linha de
compressão normal (LCN) definida pelo declive λ.

Figura 1.7 – Comportamento teórico do solo sob compressão isotrópica

A figura 1.8 procura ilustrar a importância da história de carregamentos anteriores ao corte


na capacidade do solo resistir à deformação distorcional. Como se pode ver a figura 1.8b) ilustra
os resultados do módulo de distorção para uma trajetória de carregamento a p0 constante. Esta
trajetória é influenciada pelo carregamento anterior a que as quatro amostras foram submetidas.
A linha a vermelho corresponde a um solo que inicialmente estava num estado de tensão com
q de 100 kPa e p de 200 kPa (estado D) que foi descarregado para q nulo mantendo a tensão
de confinamento constante. A amostra marcada a azul, antes do corte foi descarregada iso-
tropicamente de 400 kPa (estado A) para 200 kPa (estado O). A amostra da linha magenta foi
carregada isotropicamente de 100 kPa (estado C) para 200 kPa (estado O) e, finalmente, a linha
verde partiu de uma tensão deviatórica de -100 kPa (estado B) para q nulo. Verifica-se, então,
que o módulo de distorção e a sua variação difere nos quatro ensaios, o que prova que o solo é
influenciado pela sua memória.

10
(a) (b)

Figura 1.8 – Memória da história de tensões: (a) trajectória de carregamentos no espaço p:q anteriores ao
corte; (b) Resultados no espaço G: γ do corte (Richardson, 1988 and Atkinson et al., 1990)

1.2.1.1 Comportamento dos solos na descarga e na recarga

O efeito da descarga e recarga no comportamento isotrópico já foi abordado para a figura 1.7.
O efeito que este tem sobre o comportamento de corte depende se o solo no início do corte está
sobre a LCN, em que, nesse caso, o solo se vai deslocar sobre a superfície de estados limite,
que será abordada no ponto 1.1.3, ou se está sobre a linha κ. Na linha κ o comportamento do
solo no corte vai depender do grau de sobre consolidação crítico (Rp crtico ) que é um plano que
divide o comportamento solto e denso do solo (fig. 1.9a)).

(a) (b)

Figura 1.9 – Comportamento teórico do solo no estado denso e solto: (a) Espaço (p,q,ν) ilustrativo do
plano Rp crtico que separa os dois estados do solo; (b) comportamento do solo no estado
solto e denso quando submetido ao corte.

No estado solto, o solo vai endurecendo na medida que, por corte, vai ficando mais compato,
como foi ilustrado na figura 1.2 até alcançar o ângulo de atrito crítico (φ0 ). A areia densa terá
um pico de tensão que será dado pela dilatância (ψ), que corresponde a um estado transitório,
como ilustrado na figura 1.9b) e depois perderá essa mesma resistência, com o acréscimo de
deformação, tendendo para a tensão crítica. No caso da tensão de confinamento inicial ser a
mesma o ângulo de atrito associado para os dois estados iniciais será o mesmo.

11
A descarga e recarga durante o corte pode ocorrer para qualquer tensão dentro daquelas
que estão delimitadas pela superfície limite (a ser desenvolvido em 1.1.3). No entanto, devido
ao rearranjo das partículas, a descarga não vai poder recuperar toda a deformação imposta na
carga. Para muito pequenas deformações a histerese criada pelo ciclo de descarga e recarga é
reduzida e o comportamento é aproximadamente linear elástico (fig. 1.10a)), mas com o aumento
das deformações, a histerese deixa de ser insignificante, gerando comportamentos não lineares
mas ainda elásticos, por isso o ciclo começa e termina no mesmo ponto (fig. 1.10b)). Para
deformações médias e grandes o comportamento é definitivamente elastoplástico, como se vê
no esquema da figura 1.10b).

(a) (b) (c)

Figura 1.10 – Histerese (a) para muito pequenas deformações; (b) para pequenas deformações; (c) para
médias e grandes deformações. (Gomes, 2012)

1.2.1.2 Comportamento dilatante e contrátil dos solos

Durante a compressão isotrópica, o comportamento do solo é contrátil quando carregado e


dilatante quando aliviado.

Ao nível das deformações, no início do corte, o solo possuir um Rp superior ou inferior ao


Rp crtico também tem repercussões, tal como foi explicado ao nível das partículas (fig. 1.2). O
solo solto tem um comportamento contrátil e o solo denso é dilatante, quando solicitados ao
corte. O parâmetro que mede a dilatação e a contração dos solo é o ângulo de dilatância (ψ).
Este fenómeno foi já descrito de uma forma conceptual ao nível da dimensão das partículas. No
entanto, há dois ponto que vale a pena frisar. Inicialmente o solo começa sempre a contrair,
correspondendo segundo a mecânica dos estados críticos à deformação elástica e, aquando do
rearranjo das partículas terá um comportamento dilatante ou contrátil, conforme o solo está num
estado denso ou solto. Independentemente do estado inicial do solo, este tenderá a estabilizar
ao aproximar-se dos estados assimptóticos.

1.1.3 Estados limites

Sabe-se que ao nível das grandes deformações o solo perde a memória da sua história de
tensão. Para tentar compreender o que ocorre, Hvorslev (1937) introduziu o conceito de superfí-
cie estados limites, que corresponde a uma fronteira que separa os estados de tensão possíveis
para o solo dos que são inatingíveis. Definiu-a com dois troços: um correspondente á superfí-

12
cie composta pelos pontos no estado de pico e outro à superfície de separação dos estados de
compressão (interiores à superfície) dos estados de tração (que os solos não podem suportar).
Atkinson e Bransby (1978) e Muir Wood (1990) realizaram um conjunto de ensaios que vieram
a mostrar que, para trajetórias η=q/p0 menores do que o declive M da Linha dos estados crí-
ticos (LEC) no plano p0 :q havia um limite correspondente aos estados possíveis. Sabe-se que
quando os solos são carregados sem que as condições de fronteira sejam impedimento, estes
alcançam o estado crítico. Estado este definido por ter deformações distorcionais plásticas que
teoricamente continuaram indefinidamente sem variação volumétrica nem das tensões efetivas.

(a) (b)

Figura 1.11 – Estados limite:(a) Superfície limite dos estados num espaço (p’,q,ν) (Maranha das Neves,
2013); (b) superfície dos estados limites de Cam-Clay e três estados assimptóticos: ensaio
de compressão isotrópica (LCN ), ensaio edométrico (K0 LCN ) e ensaio convencional de
compressão triaxial (LEC) (Mašin, 2014)

No entanto sabe-se que se houver constrangimentos devido às condições de fronteira, que


os solos desenvolverão trajetórias de tensão e deformação que não permitirão alcançar o estado
crítico. Exemplo disso é as trajetórias correspondentes ao ensaio edométrico e ao ensaio de
compressão isotópica, que alcançado a superfície dos estados limites não atingirão a LEC (figura
1.11b)), por esta razão é que a correta definição da superfície de estados limites é tão importante
pois permite correlacionar as possíveis solicitações para grandes deformações do solo.

Para rematar toda esta prévia informação levanta outra problemática realçada por Kolymbas
(2000), que traduzida é: A utilização repetida de um conceito dá-nos a sensação que nós o
percebemos (na realidade, não o percebemos mas aceitamo-lo). (...) A aplicação repetida do
critério de cedência de Mohr-Coulomb gerou a crença, na mecânica dos solos, que o ângulo de
atrito (φ0 ) está claramente definido e é que é uma constante intrínseca auto-evidente do material.
Ao assumir isso ignoramos que o ângulo de atrito não é constante e varia consideravelmente
dependendo da porosidade, do modo de deformação e da tensão média. Uma confusão similar
é relacionada com o ângulo de dilatância (ψ), cuja definição precisa na maior parte dos casos é
desconhecida.

13
1.2 Processo experimental

A segunda questão corresponde aos vários tipos de modelos que se usam para dimensionar:

• modelos físicos da estrutura de escala reduzida;

• modelos físicos dos solos para ensaios laboratoriais;

• modelos estruturais (modelo constitutivo e modelo numérico).

Os modelos físicos da estrutura de escala reduzida usam-se quando a compreensão mate-


mática é muito difícil e/ou insuficiente. Os protótipos da estrutura geotécnica que se pretende
projetar são sujeitos a condições representativas da realidade a simular. Este tipo de modelos
não vai ser desenvolvido no presente trabalho.

Os modelos físicos dos solos para ensaios laboratoriais são protótipos do solo do local e
fornecem resultados, tanto para aplicação direta em projeto, como para a aplicação nos modelos
estruturais, que são o meio de interpretação. Também podem ser usados na fase de criação e
de verificação da aplicabilidade dos modelos estruturais para averiguar o realismo dos mesmos.

Os modelos estruturais são uma abstração, fundamentada nas leis da física e da matemática,
capaz de reproduzir a realidade. Estes últimos recebem valores para os parâmetros através de
dados obtidos diretamente dos ensaios realizados no campo e em laboratório ou de correlações
estabelecidas a partir dos resultados obtidos - parâmetros indiretos.

Definidos os tipos modelos, passa-se então, para a forma mais fiável de obter os parâmetros
para os modelos estruturais que serão os abordados na presente tese. É preciso ter um grande
cuidado em relação aos dados utilizados para a dedução dos parâmetros porque os modelos
são gerados a partir deles, e consequentemente, estes serão determinantes na capacidade de
aproximação do modelo ao comportamento real, como se clarifica na figura 1.12, que ilustra o
processamento dos dados até ao dimensionamento. Maus dados, naturalmente, darão resulta-
dos absurdos.

É fácil ter maus dados se se esquecer que na sua origem estão ensaios com limitações.
A primeira máxima neste assunto é: Para que os ensaios e os respetivos estudos paramétri-
cos sejam bem conduzidos, há necessidade de situar e perspetivar o problema, enumerando as
variáveis (Caldeira, 1994) e seguidamente combinar os resultados dos vários tipos de ensaios
com as necessárias adaptações de forma a que a complementaridade contorne as limitações de
cada um (Cruz, 2010). Os eurocódigos ajudam a concretizar este problema fornecendo orienta-
ções de projeto e formas de cálculo das ações atuantes especialmente a EN 1990 (2009), a EN
1991 (2010), a EN 1997-1 (2009), a EN 1998 (2006) e a EN 1997-2 (2007) dá diretrizes para o
planeamento e interpretação dos ensaios laboratoriais e de campo.

14
Figura 1.12 – Esquema geral da seleção de valores derivados das propriedades geotécnicas (EN1997-
2,2010)

Os ensaios de campo, cujo guião de aplicabilidade pode ser consultado na tabela 2.1 da EN
1997-2 (2007) 2.4.1.1 (anexo A.1), têm a vantagem de serem rápidos e de custo reduzido, de se
ensaiarem grandes volumes representativos do solo nas condições locais, fornecendo direta ou
indiretamente informação, mais ou menos contínua no espaço (dependendo do ensaio), e sem
alterações significativas do estado de tensão, permitindo conhecer o estado atual do solo. Por
isso, são usados para a prosperação do local, com o intuito de identificar estratos e heteroge-
neidades, para fazer o controlo da construção e a monotorização do desempenho de estruturas
geotécnicas, bem como para medir as propriedades específicas do terreno correspondentes pe-
quenas distorções. Os resultados diretos passíveis de serem obtidos nesses ensaios estão lista-
dos na Tabela 1.1. Existe bibliografia (Been, 1985, ESLR, 1998, Kulhawy e Mayne, 1990, Morris
e Lockington, 2002, Sabatini et al., 2002) que permite correlacionar os resultados obtidos com
parâmetros fundamentais de dimensionamento, principalmente para um pré-dimensionamento.
Também podem ser correlacionados diretamente com os parâmetros obtidos em ensaios labora-
toriais.

Sabe-se (Caldeira, 1994) que as propriedades medidas em campo tendem a ser superiores
face às medidas em laboratório, porque nestas últimas há perturbação da amostra que originará
descompressão, e para os estados de tensão e a deformação equivalentes aos impostos em
campo, a memória da história de tensões é determinante e consequentemente a rigidez medida
em laboratório será minorada.

Ao nível da precisão dos resultados de campo existe dificuldade em estabelecer relações


fenomenológicas fiáveis por ser difícil separar os efeitos devido a:

15
Tabela 1.1 – Sintese dos resultados diretos que se podem obter através ensaios de campo abordados na tabela A1 da
EN1997-2 (2007)

Ensaios de campo Resultados dos ensaios


- Resistência de ponta (qc )
1
CPT - Resistência por atrito lateral (fs )
- Resistência total (Rf )
- Resistência do cone corrigida (qt )
2
CPTU - Resitência atrito lateral (fs )
- Pressão intersticial (u)
- Número de pancadas N10 para os seguintes testes:
Penetração dinâmica DPL3, DPM4, DPH5
- Número de pancadas (N10 ) ou (N20 ) para os ensaios DPSH
- Número de pancadas N
6
SPT - Correção Er
- Descrição do solo
- Módulo pressiométrico (Ep )
- Pressão de fluência (pf )
Ensaio pressiométrico (tipo Menard)
- Pressão limite (pLM )
- Curva de expansão
- Módulo de deformabilidade dilatométrico (EF DT )
Ensaio dilatométrico flexível
- Curva de deformação
Todos os outros ensaios pressiométricos - Curva de expansão
- Resistência de corte não drenada (não corrigida) (cf v )
Ensaio de molinete - Resistência ao corte não drenada remoldada (crv )
- Curva tensão-deformação
- Registo contínuo da resistência
- A resistência do ensaio WST é:
- ou a profundidade da penetração para um
Ensaio WST
carregamento uniformizado;
- ou o nº de meias rotações necessárias para cada
0,2 m de penetração, a carregamento constante de 1 kN
Ensaio de carga em placa - Pressão de contacto última (pu )
- Pressão de abertura corrigida (p0 )
- Pressão de expansão corrigida (pl ) a 1,1 mm
Ensaio de dilatómetro plano
- Módulo dilatométrico EDM T , índice do material (IDM T )
e Índice da tensão horizontal (KDM T )

1 4
Ensaio de penetração estática Penetração dinâmica média
2
Ensaio de penetração estática com medição da pressão inters- 5 Penetração dinâmica pesada
6
ticial de água Ensaio de penetração normalizado
3
Penetração dinâmica leve

16
• os campos de deformação, em geral, não serem uniformes;

• haver dissipação espacial do efeito das ações no solo;

• a delimitação das condições de fronteira tender a ser imprecisa;

• as condições de drenagem serem hipóteses assumidas, em vez de verificadas.

A identificação do solo também é realizada indiretamente, introduzindo subjetividade na aná-


lise, a não ser que se retirem amostras de solo. Os ensaios com recolha de amostras só são
possíveis para solos com a granulometria máxima correspondente às areias, pois os equipamen-
tos de furação têm um diâmetro interno máximo 12 centímetros.

Os ensaios laboratoriais, ao contrário dos de campo, tendem a ser morosos, têm um custo
elevado por ensaio e uma representatividade reduzida. Os resultados são afetados pelas pertur-
bações resultantes da extração, transporte e montagem dos provetes, especialmente em areias
devido à escassez ou ausência de cimentação, perdendo-se assim a influência da história de
tensões e de deformações. Para reduzir as perturbações, existe a possibilidade de congelar os
solos, de forma a extrair amostras o mais indeformadas possíveis. No entanto, a água ao conge-
lar pode expandir alterando o volume dos vazios do solo, e consequentemente, as propriedades
do mesmo. Por esta razão, no caso das areias, é mais comum reconstruir provetes em laboratório
e tentar reproduzir a história de carregamento in situ.

A Tabela 2.2 da EN 1997-2 (2007), ilustra a razoabilidade da utilização das amostras para os
vários solos nos vários ensaios, ao passo que a tabela 1.2, que provém da mesma fonte diz quais
os parâmetros passíveis de ser obtidos em cada ensaio laboratorial. Estes resultados são mais
precisos porque os três elementos definidores dos solos saturados (as tensões, as deformações
e o índice de vazios) são determinados ou conhecidos ao longo de todo o ensaio, bem como as
fronteiras e as condições de drenagem. É exatamente por esta razão que estes ensaios servem
tanto para verificar a aplicabilidade dos modelos constitutivos do solo, como também para, em
termos de investigação, criar novos modelos. Daqui depreende-se que se o modelo não for capaz
de representar bem o ensaio também a fiabilidade do dimensionamento será questionável. Isto
explica porque o EN 1997-2 (2007) refere que só se existir experiência local suficiente para corre-
lacionar os ensaios de campo com as condições de solo por forma a garantir uma interpretação
inequívoca dos resultados, se pode evitar a realização de ensaios laboratoriais, substituindo-os
por ensaios de campo. Tal como nos ensaios de campo, há vários tipos de ensaios laboratoriais,
cujo interesse para os vários tipos de geomateriais se pode encontrar na tabela 2.2 e 2.3 do EN
1997-2 (2007) (anexo A.2 e anexo A.3).

Não há um ensaio capaz de simular todas as solicitações que um solo pode ser sujeito. Em
termos práticos, quanto mais parecidas forem as condições de fronteira e a trajetória de carre-
gamento do que se pretende simular menor é a incerteza associada, porque menos correlações
são necessárias. Deste modo, dependendo das situações de projeto geotécnico, uns ensaios

17
Tabela 1.2 – Sintese dos resultados diretos que se podem obter através ensaios de laboratório abordados
na tabela A1 da EN 1997-2 (2007)

Ensaios laboratoriais Resultados dos ensaios


Teor de água (solo) - Valor de w
Massa volúmica (solo) - Valor de ρ
Massa volúmica das partículas sólidas (solo) - Valor de ρs
Granulometria das partículas (solo) - Curva granulométrica
Valor do limite de plasticidade (wP )
Limites de consistência (solo) -
e liquidez (wL )
Índice de compacidade (solo) - Valor de emax , emin e ID
Teor de matéria orgânica (solo) - Perda ao rubro (COM )
Teor de carbonatos (solo) - Valor do teor de carbonatos (CCaCO3 )
Teor de sulfato (solo) - Valor do teor de Sulfatos (CSO4
−2
) ou (CSO3
−2
)
Teor de cloreto (solo) - Valor do teor de Cloretos (CCl )
pH1(solo) - Valor de pH
- Curva de compressibilidade
- Curva de consolidação
- Curva de compressão secundária
Compressão edométrica (solo) (curva de fluência)
- Valores de M (intervalo de tensão)
e σp0 ou Cs , Cc , σp0
- Valor de Cα
Molinete laboratorial (solo) - Valor do da resistência de corte não drenada (cu )
Fall cone (solo) - Valor do da resistência de corte não drenada (cu )
- Valor do índice de resistência à
Compressão não confinada (solo)
compressibilidade uniaxial (qu = 2cu )
- Curva tensão-deformação
- Curva de pressão intersticial
- Trajetória de tensões
Compressão do tipo consolidado triaxial (solo) - Círculo de Mohr
- c’, φ0 ou cu
- Variação de cu com σc0
- Parâmetros de deformabilidade (E 0 ) ou (Eu )
- Curva de tensão-deslocamento
- Diagrama de τ -σ
Caixa de corte direto consolidada (solo)
- c’, φ0
- Parâmetros residuais
1
Potencial de hidrogénio

18
adequam-se melhor do que outros, como se pode ver nos exemplos referidos na figura 1.13.

O caso a) da figura 1.13 corresponde às tensões iniciais do solo. O caso b) corresponde à


simulação da consolidação vertical devido a um carregamento, sendo o ensaio a ele associado,
o edométrico. O caso c) corresponde a um ensaio de extensão triaxial por diminuição da tensão
radial (ETr) que é originado pela carga que o solo tende a fazer sobre o muro de suporte. O caso
d) corresponde à compressão que o solo sofre na zona de influência da ancoragem correspon-
dendo a uma compressão triaxial por aumento da tensão radial (CTr). O caso e) corresponde à
expansão que o solo tende a ter aquando do alívio do peso das camadas superiores devido à
escavação, cujo o ensaio correspondente é o de extensão triaxial por diminuição da tensão axial
(ETa). Finalmente o caso f) corresponde ao carregamento devido à construção de um aterro e
este caso tem vários ensaios para explicar os diferentes efeitos que tendem a ocorrer. Logo sob
o aterro o solo tende a ser comprimido - compressão triaxial por aumento da tensão axial (CTa),
depois na cunha de rotura o comportamento é como dois corpos rijos que deslizam um sobre
o outro - ensaio de corte simples (SS) - finalmente, o solo que está junto ao aterro tende a ser
empurrado para cima devido ao movimento de rotura da cunha - extensão triaxial por diminuição
da tensão axial (ETa).

Ensaio Triaxial de Extensão por


Tensões iniciais in situ Escavação diminuição de tensão axial (TEa)

Ensaio de deformação
Reservatório Unidimensional (EDO)
Aterro

Ensaio Triaxial de Ensaio Triaxial de


Ensaio Triaxial de Extensão por Compressão por aumento Extensão por diminuição
Muro de suporte diminuição da tensão radial (TEr) da tensão axial (TCa) de tensão axial (TEa)

Ancoragem Ensaio Triaxial de Compressão Ensaio de


por aumento da tensão radial (TCr) corte simples (CS)

Figura 1.13 – Tensão inicial in situ e variação de tensões resultantes de algumas construções típicas da
engenharia geotécnica e ensaio que seguem as trajetórias correspondentes (Bardet, 1997
e Maranha das Neves, 2013)

Em relação à resistência e à compressibilidade, que são parâmetros que permitem carate-


rizar a evolução do comportamento do solo ao longo da construção e da vida da estrutura, o
Eurocódigo afirma que, para os métodos de dimensionamento rotineiros, basta realizar o ensaio
de compressão edométrica e a caixa de corte direto (EN 1997-2 (2007), 5.8.3(5)). Isto porque,

19
de acordo com a mecânica dos estados críticos o ângulo de atrito (φ’), λ e κ são parâmetros
intrínsecos do solo, que podem ser deduzidos por correlações a partir parâmetros provenientes
desses ensaios.

1.3 Introdução ao espaço da modelação

Com os modelos constitutivos pretende-se caraterizar o comportamento do solo. O modelo


só se considera adequado quando for capaz de representar todos os ensaios apresentados,
admitindo-se que, se assim for, em princípio, será capaz de reproduzir todos os tipos de com-
portamentos induzidos por diferentes solicitações impostas ao solo. Frequentemente acontece
que o modelo só é capaz de caraterizar um só ensaio, o que não é problema se corresponder
às solicitações do que se vai projetar. O modelo é interessante, porque aplicando em progra-
mas de modelos numéricos, permite prever as evoluções das tensões de todo projeto, como será
abordado no capítulo 3.

O esquema da figura 1.14 mostra esquematicamente como funciona teoricamente um mo-


delo constitutivo, estabelecendo uma relação direta entre os movimentos ocorridos na estrutura
(cinemática) e as ações impostas (estática), sendo que esta relação depende das propriedades
do material.

Deslocamentos (u) C
E I
S N
T E
M
Compatibilidade
T
I T
C I
A C
) ) A
Constitutivas

Figura 1.14 – Esquema dos modelos estruturais

Para se poder compreender visualmente como funciona um modelo constitutivo é preciso


perceber que os espaços matemáticos utilizados (afins) são definidos através de projeções. So-
mente com o intuito de clarificar este conceito, na figura 1.15 estão ilustrados três destes tipos
de espaços. Todos eles representam um triângulo equilátero, algures no espaço. A definição do
triângulo num espaço afim euclideano, em que as projeções se dão segundo planos, ou o afim
elíptico, que consiste na projeção sobre uma esfera, ou o afim hiperbólico, com a projeção sobre
a cela de cavalo, tem dimensões completamente diferentes bem como os respetivos ângulos,
ainda que representem exatamente o mesmo elemento, mais a soma dos ângulos internos dum
triângulo deixa de ser 180º, para passar a ser maior que 180º, no espaço elítico, e menor que
180º, no espaço hiperbólico. Com isto deduz-se que as propriedades dos espaços são diferentes,
e ainda que as propriedades dum elemento qualquer não plano, como as partículas do solo, pos-
sam ser projetadas num espaço euclediano, não ocorrem sem distorções e consequentemente
com perda de informação (Silvestrini, 2014).

20
Figura 1.15 – Projeção de um triângulo em vários espaços matemáticos afins

Esta consciência levantou uma questão curiosa que está fora do âmbito da tese: será que
existirá informação relativa ao comportamento do solo, ao nível particulado, a qual não se tem
acesso porque o modelo contínuo ocorre num espaço euclidiano? Isto porque as partículas
são aproximadamente esféricas, a transmissão das forças, quando não coagidas por fronteiras,
tendem a ser semiesféricas.

Recentrando na modelação, esta é desenvolvida no espaço afim euclidiano. Pode-se verificar,


na figura 1.16, que um mesmo objeto dependendo dos eixos tem projeções diferentes. Se se
correlacionar trigonometricamente ou algebricamente a rotação pode-se obter a projeção nos
novos eixos. O mesmo se aplica para o tensor das tensões e das deformações.

Figura 1.16 – Projeção no espaço (adaptado de Anton et al.,2007) e o respetivo efeito da projeção segundo
diferentes eixos ortonormados

O produto interno que dá o comprimento (escalar) da projeção de um vetor sobre outro é o


elemento chave que permite a projeção no espaço. A projeção de qualquer ponto A corresponde

21
(a) (b)

Figura 1.17 – Tensor das tensões: (a) Caso geral; (b) segundo as direções principais

à multiplicação do vetor que une a origem (ponto fixo) ao ponto A (OA)


~ pelos vetor base dos

eixos ~e=(1,0,0) ex +(0,1,0) ey +(0,0,1)ez . Assim, como se pode ver na figura 1.5 a projeção de

~ • ~e = ||OA||
OA ~ • ||~e|| • cos(θ) (1.1)

O tensor das tensões de um elemento infinitesimal em que cada uma das suas facetas está
sujeito a uma determinada tensão, se for projetado sobre os eixos locais, que são os eixos do
elemento, obtém-se o conhecido tensor das tensões, que se representa na figura 1.17a).

Este pode ser subdividido numa parcela isotrópica e numa deviatórica (1.2), correspondente
a uma tensão média, dada pela equação (1.3), e o restante correspondente à tensão deviatórica
segundo cada uma das direções (1.5).
    
σ11 τ12 τ13 p 0 0 σ −p τ12 τ13
     11 
 τ21 σ22 τ23  = 0 0 +  τ21 σ22 − p (1.2)
     
p τ23 
     
τ31 τ32 σ33 0 0 p τ31 τ32 σ33 − p

com
σ11 + σ22 + σ33
p= (1.3)
3

Ora, como o espaço Euclediano tem uma geometria de congruência, então todas as formas
espaciais são invariantes sob translação e/ou rotação. Ora esta propriedade permite que se
possa rodar o elemento por forma a que os eixos coincidam com as direções principais. Nesse
caso a matriz fica simplificada e permite reconhecer as tensões principais a que o solo está
sujeito como mostra a figura 1.17b, cuja decomposição, como anteriormente, corresponde à
equação (1.4).
   
σ 0 0 p 0 0 σ −p 0 0
 I     I 
0  = 0 0 +  0 σII − p (1.4)
     
0 σII p 0 
     
0 0 σIII 0 0 p 0 0 σIII −p

Fazendo isto localmente vê-se o encaminhamento das tensões principais no solo e isto cor-

22
responde ao que se vê nos programas numéricos através da gradação da cor ou de cruzes com
a direção e a intensidade das tensões principais e o tamanho consoante a grandeza. (Fig 1.18)

(a) (b)

Figura 1.18 – Modelo ilustrativo da primeira fase de escavação com o primeiro nível com suporte de pa-
redes moldadas: (a) Referência da tensão média em função das cores; (b) Referência das
tensões principais em função das cruzes diretrizes das tensões principais

Por simplicidade, e em alguns casos é suficiente, em vez de se analisar o solo em termos


das tensões e deformações no espaço tridimensional, considerar-se a tensão média e a tensão
devitórica máxima. A tensão devitórica calcula-se da forma geral

r
(σ11 − σ22 )2 + (σ11 − σ33 )2 + (σ22 − σ33 )2
q= 2 + τ2 + τ2 )
+ 3(τ12 13 23 (1.5)
2

e segundo as direções principais resume-se a equação (1.6).

r
(σI − σII )2 + (σI − σIII )2 + (σII − σIII )2
q= (1.6)
2

Assim, como na estática, na cinemática, pode-se obter o tensor de deformação no espaço


tridimensional ou, em termos de deformação volumétrica e distorcional. Nos eixos principais a
deformação volumétrica e distorcional é dada pelas equações (1.7) e (1.8).

εv = εI + εII + εIII (1.7)

A deformação volumétrica fisicamente é compreensível que resulte da soma da deformação de


cada uma das direções principais. A deformação distorcional não é óbvia e foi definida por
forma a haver uma relação direta com os parâmetros p e q da estática. A explicação pode ser
encontrada em Muir Wood (1990) e para o caso tridimensional em Spencer (1980).

2
εs = (εI − εIII ) (1.8)
3

23
Esta relação é muito importante porque permite medir o que ocorre no interior do corpo pelo
trabalho interno de deformação. Este trabalho corresponde ao esforço que o solo tem que ter,
para que, por causa de uma determinada ação, ocorra uma correspondente deformação e de tal
forma que a parcela do trabalho volumétrico (Wv ) seja independente do distorcional (Wd ):

W = Wv + Wd = pεv + qεs (1.9)

Nesta simplificação (p,q vs εv ,εs ) os eixos resultantes podem-se representar num espaço bi-
dimensional e correspondem ao eixo isotrópico do espaço tridimensional e qualquer ponto sobre
o plano perpendicular ao eixo isotrópico, como se pode ver na figura 1.19. Também se pode
verificar que se perde sensibilidade quanto à direção do vetor, seja ele de tensão ou deformação,
e que qualquer ponto centrado no eixo isotrópico com o mesmo raio tem o mesmo q.
3p

C q
q
q
2
3

A
D
D
σ3
E B
E C
3
σ
2
=
σ
1
=
σ

σ2
p

σ1

Figura 1.19 – Explicação das implicações da simplificação

Finalmente entrar-se-á propriamente nas relações constitutivas do modelo. O modelo consti-


tutivo não é mais do que uma relação matemática que define as tensões a partir das deformações
e vice-versa, de preferência oriunda de conceitos de engenharia bem definidos para se poder ter
sensibilidade para compreender o que está a acontecer no solo. O que o modelo for capaz de ca-
raterizar corresponde ao campo de aplicação dentro de um grau de fiabilidade ajustado, porque
é importante que se tenha consciência da dimensão do erro que se está a admitir. No capítulo
dos ensaios dir-se-á, para os resultados dos ensaios realizados, que caraterísticas segundo a
mecânica dos estados críticos são passíveis de quantificar e simular.

Tem havido um grande esforço de investigação no âmbito da modelação por parte da comuni-
dade internacional de geotecnia e naturalmente ramificações associadas à forma de abordagem
da modelação e aos conceitos teóricos subjacentes. Alguns modelos do processo de evolução

24
da modelação de areias estão indicados da figura 1.20.

Teoria Modelos
Rotura Mohr-Coulomb (Mohr,1900)
Hiperbólico (Konder,1960)
Hipo-elasticidade
K-G (Naylor et al., 1981)
Elasticidade Elasticidade

Hiper-elasticidade

Mohr-Coulomb elastico-perfeitamente plástico


Elasto-plasticidade
Mohr-Coulomb elastoplástico com endurecimento
convencional
Mohr-Coulomb elastoplástico com endurecimento e amolecimento
Cam-Clay (Roscue e Burland, 1968)

Multi-surfaces plasticity model (Mroz, 1967 e Iawn, 1967)


Elasto-plasticidade
Bounding surface (Dafalias e Popov, 1975 e Krieg,1975)
não convencional
Subloading model (Hashiguchi,1989)
...
Hipoplasticidade Hipoplastic model (Kolymbas, 1987)

Figura 1.20 – Evolução dos modelos para areias

Existem duas teorias base para qualquer modelo da Geotecnia que correspondem ao critério
de rotura, que têm um modelo associado de Mohr-Coulomb, e a teoria da elasticidade provinda
dos materiais estruturais, que, de diferentes formas, é aplicada na modelação elasto-plástica.
Sem estas duas teorias não é possível avançar para a mecânica dos estados críticos, que permite
a interpretação dos ensaios, e por isso excepcionalmente estas teorias e o modelo constitutivo
associado vai ser abordado neste capítulo.

A primeira grande preocupação da geotecnia foi prever e evitar a rotura das areias. Esta
modelação foi introduzida através do conceito de Mohr-Coulomb do ângulo de atrito interno do
solo que define uma superfície de rotura onde, qualquer ponto (σ1 ,σ2 ,σ3 ) sobre este tem um
comportamento de rotura, a esta superfície normalmente chama-se envolvente de rotura.

Evitado este problema, levantou-se a questão de como é que o solo evoluí desde o seu
estado de repouso até à rotura. A primeira abordagem foi a modelação elástica, transpondo
os conceitos de teoria da elasticidade do Módulo de Young (E) e do coeficiente de Poisson (υ).
Estes são caraterizados por terem um comportamento reversível em termos de deformações.
Isto é conseguido pela aplicação de uma única função (D) que correlaciona as tensões com as
deformações.

σ = Dε (1.10)

25
A adaptação para os solos consistiu em obter uma relação volumétrica e distorcional. Esta
transição obriga a considerar o tipo de comportamento do solo.

O solo conforme o carregamento a que esteve sujeito ao longo da sua história pode ter um
comportamento isotrópico, ou seja em que as propriedades inerentes ao solo são independentes
da direção de carregamento, ou pode devido ao processo de sedimentação ter maior rigidez
numa direção do que nas outras fazendo com que se deforme mais facilmente na direção menos
rígida, tendo portanto um carregamento anisotrópico.

Na natureza dificilmente o material é isotrópico. No entanto, devido à facilidade de aplica-


ção, à abundância de resultados na bibliografia que tem consequências na reprodutibilidade dos
ensaios e na comparação de resultados, bem como para despistar a variabilidade inicial de amos-
tras indeformadas, é corrente realizar-se os ensaios nestas condições (Muir Wood, 1990).

Este caminho teoricamente introduzido aqui vai ser simulado no presente trabalho para se
poder acompanhar o processo de modelação. A partir do próximo capítulo começar-se-á a con-
cretizar. Segue-se o capítulo dos ensaios que abordará de forma mais concreta os ensaios
laboratoriais realizados.

26
Capítulo 2: Programa de Ensaios

2.1 Introdução

Foram realizados três ensaios na presente tese (tabela 2.1) em amostras reconstituídas em
laboratório da areia SP 49, comercializada pela empresa Sibelco, com um duplo objetivo: ana-
lisar a capacidade que os modelos constitutivos da mecânica dos solos dos estados críticos
têm de descrever os resultados experimentais e testar a capacidade que os diferentes modelos
constitutivos (capítulo 3) têm de descrever os ensaios. Assume-se que o modelo que conse-
guir descrever os diferentes comportamentos de um solo em vários tipos de ensaios está apto
para descrever as várias solicitações que na realidade o solo pode ser submetido. Sabe-se que
os ensaios realizados não serão suficientes para garantir a adequabilidade do modelo, pois só
corresponde a um tipo de ensaios (ensaios triaxiais drenados).

Tabela 2.1 – Ensaios realizados

Descrição Objetivo
Ensaio CD de compressão
convencional monotónica
Ensaio 1 Obter a resposta do comportamento
(trajetória 1:3)(ASTM D 7181-11)
solto da areia
com compacidade relativa de 3%
(ASTM D 4254-00)
Ensaio CD de compressão
convencional monotónica
Ensaio 2 Obter a resposta do comportamento
(trajetória 1:3)(ASTM D 7181-11)
denso da areia.
com compacidade relativa de 100 %
(ASTM D 4253-00)
Ensaio de caraterização
Simular um carregamento não norma-
das superfícies de cedência lizado e testar a capacidade de ajuste
Ensaio 3 (Tatsuoka, 1974) dos modelos

com compacidade relativa de 100% Obter troços da superfície de cedência


e concluir sobre a sua forma.
(ASTM D 4253-00)

O solo ensaiado foi usado em Vieira (2008), o qual contém os resultados dos ensaios de
caraterização física do solo – análise granulométrica (LNEC E 239 e LNEC E 195), de determi-
nação da densidade das partículas (NP 83) e de determinação do valor máximo e mínimo do
peso volúmico seco (ASTM D 4253-93 e ASTM D 4254-93). A composição química foi fornecida
pela empresa Sibelco. Todos estes resultados estão sintetizados na tabela 2.2 e na figura 2.1.

Da caraterização química pode-se comprovar que se trata de uma areia siliciosa (composta
essencialmente por sílica – 99,6%). A análise granulométrica permite saber que o solo corres-

27
Tabela 2.2 – Caracterização física (Vieira, 2008) e química (Sibelco) da areia SP49

Caracterização química Caracterização física


Percentil 10 na distribuição granulométrica D10 [mm] 0,27
Óxido de silício (Sílica), SiO2 99,6 Percentil 30 na distribuição granulométrica D30 [mm] 0,36
Óxido de alumínio, Al2 O3 0,21 Percentil 50 na distribuição granulométrica D50 [mm] 0,45
Óxido de férrico, F e2 O3 0,040 Percentil 60 na distribuição granulométrica D60 [mm] 0,52
Óxido de titânio, T iO2 0,025 Coeficiente de uniformidade Cu 1,9
Óxido de potássio, K2 O 0,008 Coeficiente de curvatura Cc 0,9
Óxido de sódio, N a2 O 0,011 Peso volúmico seco máximo γmáx [kN/m3 ] 17,10
Óxido de cálcio, CaO 0,005 Peso volúmico seco mínimo γmin [kN/m ] 3
14,52
Óxido de magnésio, M gO 0,006 Índice de vazios máximo emáx 0,791
Índice de vazio mínimo emin 0,520
Densidade das partículas sólidas Gs 2.65

Figura 2.1 – Análise granulomérica da areia SP 49 (Vieira, 2008)

ponde a uma areia limpa, cujas partículas variam na casa das décimas de milímetro, e estão
contidas no intervalo da dimensão de partículas classificada como areia. O coeficiente de uni-
formidade é próximo da unidade - valor mínimo - bem como o coeficiente curvatura, donde se
conclui que a variação de diâmetros das partículas do solo é reduzida, o que confere uniformi-
dade ao solo, e por isso é classificada como uma areia mal graduada. O D50 é de 45 mm, ao
contrário do rótulo da fábrica que afirmava ser 49 mm. A compacidade máxima e mínima fornece
o intervalo passível de ser testado, que no caso específico das areias varia entre o peso volúmico
seco máximo e o peso volúmico seco mínimo, correspondente ao grau de sobreconsolidação crí-
tico (Mansin, 2014).

Os ensaios de resistência ao corte monotónica apresentados em Vieira (2008) foram o ensaio


de corte direto e o ensaio de corte simples, cujos resultados estão sintetizados na tabela 2.3 e

28
servirão de suporte para analisar os resultados obtidos nos ensaios realizados. Existe uma certa
variação no ângulo de atrito entre ensaios que advêm da utilização de diferentes métodos de
preparação e ensaio, e também devido à variação da compacidade relativa (Dr).

Tabela 2.3 – Síntese dos ângulos de atrito na fase final dos ensaios obtidos
em Vieira (2008)

Ensaio de corte direto Ensaio de


300 mm x 600 mm 60 mm x 60 mm corte simples

Ângulo de Atrito (º)


1
Areia Dr =70% 37,5 36,6 36,4

Areia Dr= 90% 43,4 47,6 -


1
Compacidade relativa

Dependendo dos parâmetros que se pretende obter há ensaios com maior precisão que ou-
tros (tabela 2.4).

Tabela 2.4 – Ensaios mais adequados para obter os parâmetros dos modelos (Von Wolf-
fersdorff, 1996)

Parâmetro Ensaio
φ1 Deposição da areia seca em talude
λ2,κ3,e0 4 Ensaio edométrico em solos com compacidade relativa mínima
5
G Ensaio triaxial drenado no estado denso
1
Ângulo de atrito
2
Gradiente da LCN
3
Gradiente duma linha de descarga-recarga (linha κ), numa representação (ν, ln p’)
4
Índice de vazios do solo NC para σ’ igual a 1 kP a
5
Módulo de distorção

Os ensaios triaxiais drenados em areias são usados frequentemente para testar a capacidade
de ajuste do modelo com base em parâmetros anteriormente calibrados. Na presente tese os
parâmetros de calibração foram obtidos nos ensaios 1 e 2.

2.2 Procedimento Realizado

2.2.1 Preparação

O ensaio 1 foi preparado segundo a norma ASTM D 7181-11 com aplicação do método de
deposição com colher (método A da ASTM D 4254-00) (figura 2.2a)), pois corresponde aquele
que consegue alcançar compacidades menores com uma distribuição mais uniforme, uma vez
que se consegue garantir que a altura de queda é mais ou menos constante, sem haver um
acréscimo de aceleração das partículas com o funil. A compacidade mínima conseguida com a
colher tem o adensamento correspondente à ação da gravidade.

29
Como a areia não tem coesão, foi necessário aplicar vácuo pelo interior da amostra para
gerar sucção capaz de manter a forma da amostra durante a preparação e enquanto a câmara
não é fechada, cheia de água e aplicada a pressão de confinamento, como se pode ver na
figura 2.2b). Este efeito leva a uma certa densificação da amostra, pois o excesso de sucção é
capaz de provocar o rearranjo das partículas. Também a montagem da amostra não é realizada
diretamente na prensa, obrigando ao transporte, gerando vibrações que também contribuem para
a densificação da amostra.

Os ensaios 2 e 3 foram preparados segundo a norma AST D4253-00 (figura 2.2c)) com utili-
zação da mesa vibratória para se conseguir obter a compacidade máxima. Foi testada a hipótese
de densificação em meio seco (método 1A ou 2A) e em meio húmido (método 1B ou 2B), para se
procurar determinar em qual dos casos se consegue maior densificação e confirmou-se que os
melhores resultados se obtinham nas areias em meio seco, sendo que a diferença era reduzida.

(a) (b) (c)

Figura 2.2 – Preparação da amostras: (a) colocação da areia no molde; (b) aplicação do sistema de vácuo;
(c) adensamento na mesa vibratória

2.2.2 Saturação

A fase de saturação é composta por duas subfases: a fase de expulsão do ar e a fase de


dissolução do ar por aplicação de pressão. Numa primeira fase os vazios são preenchidos com
água à pressão atmosférica, expulsando parte do ar do seu interior. Esta fase termina quando há
um fluxo continuado no topo do provete (Serra e Brito, 2008). Como a água à pressão atmosférica
não consegue expelir a totalidade do ar do interior da amostra, na segunda fase de saturação,
com a válvula de drenagem fechada, vai-se aumentando a pressão da água na câmara e no
interior da amostra. A pressão na câmara tem que ser sempre superior à da amostra, mas de
tal forma que a pressão efetiva a que a amostra é solicitada seja constante e reduzida. Assim, a
pressão sobre as partículas sólidas é a mesma, mas a pressão da água no interior da amostra
vai aumentando até que consiga dissolver o restante ar.

Para o caso específico das areias, como é difícil dissolver o ar na água e como as areias são
quimicamente estáveis, antes de começar a saturação, pode-se aplicar no interior da amostra
CO2 , que por ser mais denso que o ar, o expulsa do interior ocupando o seu lugar e, dado que é

30
mais solúvel em água do que o ar, consegue-se saturar melhor a amostra. Pode-se mesmo cons-
tatar, graças à variação do tempo de aplicação do CO2 , que este facilita e melhora os resultados
em termos do parâmetro B de Skempton (1954), minimiza o tempo de saturação e a contrapres-
são necessária para a saturação. Na segunda subfase o aumento da pressão da câmara foi pro-
vocada segundo pequenos incrementos com os controladores automáticos de pressão/volume e
lentamente para não gerar pressões intersticiais significativas capazes de alterar a estrutura do
solo (Bardet, 1997).

Considerou-se que o solo estava saturado quando o parâmetro B de Skempton estabilizou


para sucessivos incrementos de pressão, tentando-se sempre alcançar os valores de 0,9988,
no caso do ensaio solto da areia, e de 0,913, no caso da areia densa (Serra e Brito, 2008).
Como se pode verificar, mesmo para parâmetros altos de B o grau de saturação é baixo. O que
é natural dada a grande pressão que é necessária para a saturação das areias que pode ser
compreendida através da curva de retenção para areias.

2.2.3 Consolidação

A consolidação foi isotrópica com o sistema de rampa do controlador de pressão/volume e


aquisição automática no 1º e 3º ensaio. No 1º ensaio foi aplicada uma tensão de consolidação
de 100 kPa, para tentar obter o comportamento normalmente consolidado da areia para ten-
sões correntes de projeto, enquanto no 2º ensaio, para aumentar o grau de sobreconsolidação,
carregou-se o solo até aos 600 kPa e descargou-se até à tensão final de consolidação do 1º
ensaio. Desta forma, ambos os ensaios partiram das mesmas condições de tensão para o corte,
por forma a serem comparáveis. No 3º ensaio pretendeu-se carregar o solo até 600 kPa para se
poder obter vários troços da superfície de cedência na fase de corte. Ocorreu uma descarga aci-
dental, devido a uma fuga de água na câmara, o que obrigou a recarregar posteriormente o solo
para uma pressão superior à inicialmente pensada, por forma a compensar o efeito da descarga
ocorrida.

2.2.4 Corte

Os dois primeiros ensaios triaxiais CD de compressão restringiram-se à norma (ASTM D 71811-


11) com uma velocidade de corte de 0,01 mm/min, a pressão na câmara e contrapressão cons-
tantes. O critério de paragem foi o de alcançar uma extensão axial máxima (εa ) de 20 %.

O 3º ensaio foi planeado com base em Tatsuoka (1974) com o objetivo de compreender a
forma das superfícies de cedência das areias. A metodologia utilizada para prescrutar a forma
das superfícies consiste em fazer uma sequência de cargas e descargas da tensão de corte, e
descargas a tensão devitórica constante. Como pode ver-se na figura 2.3, a partir do estado
de compressão isotrópico (1) carrega-se o solo até a um determinado valor da tensão deviató-

31
rica (2), que posteriormente se verificará se já terá atingido o comportamento plástico, ou não.
Se não o tiver atingido não há problema porque na sequência de cargas e descargas este será
alcançado. Depois descarregou-se o solo segundo um conjunto de trajetórias (2-3-4) tal que,
quando recarregado, nenhum dos pontos a trajetória de tensão coincida com a anterior. Algures
no percurso da trajetória de recarga (4-6) existe um ponto (5) em que se alcança novamente a
superfície de cedência e há uma mudança no comportamento da tensão de corte do solo face
à variação da deformação. Note-se que, apesar de este ensaio ser interessante para aproximar
a forma da superfície de cedência, é preciso não esquecer que toda esta formulação está as-
sociada à conceptualização dos modelos plásticos convencionais (Kolymbas, 2000), e que, por
isso, não é diretamente extensível a outros modelos, como por exemplo o modelo de subloading
apresentado no próximo capítulo.

Figura 2.3 – Análise da cedência em ensaio triaxial em areias densas de rio Fuji: (a) trajetória de tensões
no plano p0 :q; (b) evolução de η : εv ; (c) evolução de η : εv ; (d) segmentos da curva de
cedência (adaptado de Tatsuoka, 1972)

2.3 Resultados

Na figura 2.4 a) consegue-se facilmente verificar que houve problemas na realização da fase
de compressão isotrópica dos ensaios com a compacidade máxima. Verifica-se na quase verti-
calidade do troço a fuga de água da câmara detetada no 3º ensaio. No segundo, como não foi
ensaiado nesta fase com aquisição automática, só se verificou a irregularidade após terminado

32
e com base na comparação com os outros ensaios.

Nos resultados corrigidos dos ensaios na figura 2.4 b) pode-se verificar que a inclinação da
linha κ é aproximadamente igual para todos os ensaios, a menos do intervalo de erro reduzido,
que assumindo a mecânica dos estados críticos, será oriundo incerteza experimental.

2.0 2.0

1.8 1.8

1.6 1.6
ν

ν
1.4 1.4 Linha k
Ensaio 1
1.2 1.2 Ensaio 2
Ensaio 3
1.0 1.0
20 100 200 400 800 20 100 200 400 800
p (kPa) p (kPa)

Figura 2.4 – Resultados de compressão isotrópica dos três ensaios realizados: (a) resultados experimen-
tais; (b)correção dos resultados e ajuste à linha κ

A figura 2.5 ilustra os resultados obtidos no corte do 1º e 2º ensaios. A figura 2.5 a) pretende
ilustrar que ambos os ensaios têm a mesma trajetória de tensões, com a inclinação 1:3, e permite
visualizar no espaço (p0 :q:ν) a as respetivas trajetórias.

A figura 2.5 b) do gráfico no plano (p0 :q) ilustra os resultados dos ensaios e a linha de estados
críticos (LEC). Pode-se verificar que, no fim do segundo ensaio, este ainda não convergiu para
a LEC. Os dados dos dois ensaios não estão sobrepostos, mas aproximam-se da trajetória 1:3
que o ensaio define.

A figura 2.5 c) mostra que ambos os ensaios apresentam uma tensão de corte de pico, maior
no ensaio 2, cuja compacidade inicial era maior do que a do ensaio 1. A relação η final, não sendo
coincidente, não revela tendência para coincidir se o ensaio 2 fosse prolongado. No entanto, nos
ensaios a taxa de variação de volume nula correspondeu a um intervalo, sombreado no gráfico e
registado na tabela 2.5 com dimensões diferentes. No segundo ensaio o intervalo inclui a tensão
final do primeiro ensaio. O valor de pico foi obtido em torno dos 4 % de εs , no segundo ensaio, e
11% no primeiro.

A figura 2.5 d) revela, para ambos os ensaios, uma variação crescente do índice de vazios
que corresponde a uma expansão do solo, sendo quase linear durante um troço alongado que
termina antes de se alcançar o pico, aumentando a partir desse ponto também as oscilações nos
resultados. O volume específico final dos dois ensaios não é o mesmo, nem tem tendência de vir
a coincidir.

A figura 2.5 e) ilustra a variação da deformação volumétrica com a variação da deformação

33
distorcional ao longo dos ensaios. Pode-se verificar que ambos tiveram um comportamento ini-
cialmente contrátil e que com o aumento da deformação se tornou dilatante. Pode-se ver que,
aquando do pico o comportamento já é dilatante e que, o pico corresponde ao ponto de inflexão
das curvas. Verifica-se também que, quer o troço contrátil, quer o ponto de inflexão, no primeiro
ensaio ocorrem para deformações distorcionais superiores ao do segundo caso.

Plano de trajetória 1:3


Resultados do ensaio 1
Resultados do ensaio 2
600

400
q (kPa)

dq
dp
=3
200

500
0 400
1.2 300
1.6 200
(a) 1.8
2.0100
ν p (kPa)

600 2.0

1.5
400
q (kPa)

1.0
η

200
0.5

0
0 100 200 300 0 5 10 15 20 25
(b) p (kPa) (c) εs (%)
2.0
0
1.8 -2
εv (%)

1.6 -4
ν

-6
1.4
-8
1.2 -10
0 100 200 300 0 5 10 15 20 25
(d) p (kPa) (e) εs (%)

Figura 2.5 – Resultados do ensaio de corte em compressão triaxial CD para as duas amostras

Os valores mais significativos podem ser verificados na tabela 2.5. Olhando para o conjunto

34
de resultados de consolidação e de corte, compreende-se que ambos os solos estavam no es-
tado denso quando ensaiados, um mais que o outro e que a teoria corrobora a resposta obtida
nas duas partes do ensaio. Verifica-se também que os φ0 no final dos ensaios 1 e 2 são inferiores
aos resultados obtidos nos ensaios de corte direto e que o φ0 do segundo ensaio é igual ao obtido
no ensaio de corte simples.

Como se pode ver na figura 2.6 a), a trajetória de tensões imposta ao solo foi complexa, com
uma sucessão de cargas e descargas irregulares, por forma a permitir a realização dos dois
objetivos definidos para este ensaio. Pode-se verificar que a prensa teve dificuldade em realizar
as descargas com o parâmetro q constante e daí advém a principal oscilação dos resultados.

Na figura 2.6 b) dá para perceber bem a dificuldade que experimentalmente se verifica no iní-
cio dos ensaios. Bem como a diferença na trajetória dos resultados corrigidos (ensaio 1 e 2) e por
corrigir (ensaio 3). Verifica-se que a histerese dos ciclos não foi grande e que, por isso, o com-
portamento do solo na descarga e recarga ainda é aproximadamente elástico e ajusta-se bem
a uma reta, sendo, como a teoria afirma, as retas aproximadamente paralelas. É interessante
também verificar que a deformação associada ao ciclo na recarga é menor que na descarga, ou
seja que há uma maior rigidez, e que este efeito com o aumento da deformação vai diminuindo.
Verifica-se também que o comportamento da areia é o correspondente ao estado denso, porque
η é maior do que o crítico. Face a estes resultados no final do ensaio, o solo está próximo de
alcançar o estado de pico, pois aproxima-se dos resultados do ensaio para este estado.

Nas figuras 2.6 a), c) e d) os pontos assumidos como pertencentes a uma superfície de
cedência são os correspondentes ao fim dos ciclos obtidos segundo a forma explicada no pro-
cedimento. Verifica-se que há uma correspondência entre o fim dos ciclos, quer em termos de
relação de tensões, quer na relação tensão-deformação. Verifica-se também que os segmentos
de reta que unem os pontos da mesma superfície são em cada ciclo mais inclinados, sendo que
há três possíveis fatores a influenciar esta variação - o número de ciclos realizados, os carre-
gamentos máximos associados a cada um dos ciclos e as diferentes trajetórias de descarga e
recarga. Verifica-se também que os ciclos fechados de η:εs ocorrem para ciclos que partem de
baixas tensões de carregamento, e os abertos para o contrário. A figura 2.3 d) refere-se aos
resultados do ensaio idealizado por Tatsuoka (1972), os quais serão modelados e apresentados
no capítulo 3.

Na figura 2.7 b) está bem patente a deformação volumétrica originada e é interessante veri-
ficar que, apesar das cargas e descargas e mesmo das diferentes direções de carregamento, a
curva do ensaio 3 tende a acompanhar a curva do ensaio 2, que têm um comportamento denso
bastante próximo. Na figura 2.7 a) verifica-se que a variação de ν foi pequena, o que é de esperar
pois está-se com deformações distorcionais da ordem dos 2%. Ocorre uma sucessão de valores
de ν com a variação de p, nos ciclos de descarga e recarga, cuja tendência foi de expansão, à ex-
ceção do troço inicial que foi de contração. É interessante notar que, apesar dos ciclos de carga
e descarga, a variação volumétrica não foi suficientemente grande para gerar ciclos fechados na

35
Tabela 2.5 – Resultados mais importantes dos ensaios

Ensaios
Grandezas
1 2 3

Altura [mm] 12,70 12,10 12,10


Diâmetro [mm] 6,94 6,93 6,90
Massa total [g] 713,82 796,00 789,00
Peso volúmico seco [kN/m3 ] 14,58 17,11 17,11
Preparação
B [ %] 1 99,5 88 98,2
Grau de saturação [%] 74 98 88
Volume específico 1,783 1,519 1,520
Compacidade relativa [ %] 3 100 100

Estado pico (pp ;qp ; νp )


p2p [kPa] 186,82 273,22
q 3p [kPa] 248,45 516,67
ν 4p 1,731 1,417
ψ 5p 1,0 9,6
η 6p 1,33 1,89
Final do ensaio (pf ,qf , νf )
pf [kPa] 181,93 219,00 Não se
qf [kPa] 236,79 353,99 alcançou
νf 1,741 1,504 nenhum
Corte
φ7f 32,3 36,4 destes
ηf 1,30 1,62 estados
Variação volumétrica nula (p1 ,q1 , ν1 )
p1 [kPa] [166,82;197,45] [171,96;212,88]
q1 [kPa] [197,99;209,97] [201,17;306,50]
ν1 1,716 1,389
φ1 [29,6;30,3] [32,1;37,4]
η1 [1,18;1,21] [1,29;1,52]
εa 8 na rotura [%] 19,65 20,63
9
εv máxima [%] -1,23 -9,04

Altura Final [mm] 10,08 9,31 12,03


Diâmetro final [mm] 7,79 8,08 7,16
Final do Corte
Peso volúmico seco [kN/m3 ] 14,56 16,37 16,00
Volume específico 1,786 1,588 1,625

1 6
Parâmetro B de Skempton (1954) q/p’
2 7
Tensão média Ângulo de atrito no estdo crítico
3 8
Tensão deviatórica Deformação axial na rotura
4 9
Volume específico Deformação volumétrica máxima
5
Ângulo de dilatância
36
1400 2.0
1200
1000 1.5

800
q (kPa)

1.0

η
600
400
200 0.5

200 400 600 800 1000 0 1 2 3


(a) (b)
p (kPa) εs (%)
1400 1400

1200 1200

1000 1000
800
q (kPa)

q (kPa)
800
600
600
400
400
200
200
0
0
-1.2 -1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0 1 2 3
(c) (d)
εv (%) εs (kPa)

Figura 2.6 – Resultados do ensaio de corte CD para o terceiro ensaio: (a) comparação entre os carre-
gamentos dos três ensaios no plano (p0 :q); (b) comparação três ensaios no plano εs :η; (c)
Resultados no plano εv :q; (d) Resultados no plano εs :q

relação p:ν.

1.43 1

0
ν (kPa)

εv (%)

1.42

-1

1.41 -2
200 400 800 1000 0 1 2 3
(a) (b)
p (kPa) εs (%)

Figura 2.7 – Resultado deformacionais do terceiro ensaio: (a) no plano ν:p; (b) comparação da deformação
dos três ensaio (εv :εs )

A figura 2.8 ilustra o contraste entre as areias que deformam continuamente até ao estado
crítico e o solo que desenvolve localização das deformações após a resistência de pico.

37
(a) (b)

Figura 2.8 – Forma do provete no final do ensaio: (a) Fim do ensaio da amostra do ensaio 1; (b) desmon-
tagem para ilustrar a localização das deformações do ensaio 2

2.4 Analise de Resultados

2.4.1 Análise das propriedades fundamentais do solo quando submetido


à compressão isotrópica

2.4.1.1 Não linearidade da resposta dos solos

Na fase de consolidação isotrópica verifica-se que, no intervalo de tensões ensaiado, a res-


posta do solo é mais aproximadamente linear do que semi-logarítmica, como a tabela 2.6 mostra.
No entanto, o erro associado a este ajuste não é relevante para invalidar a formulação teórica
das linhas de compressão.

Tabela 2.6 – Funções de ajuste ao resultado da compressão isotrópica do 1º ensaio e R2 associado

Função Expressão R2
Logarítmica ν=1,7964-0,004ln p0 0,9866
Linear ν=1,7852-0,00008p’ 0,9901
Quadrática ν=1,7862-0,0001p0 +4x10−7 0,9996
−5 0
Exponêncial ν=1,7852e−4x10 p
0,9902

A figura 2.9 vem ilustrar que os solos não tendem a ter um comportamento com uma variação
abrupta entre o comportamento elástico e plástico. Esta curvatura da transição está patente em
ambos os ensaios das areias densas, que tendem a aumentar a inclinação e a afastar-se do
comportamento linear à medida que se dá o acréscimo de pressão.

No caso das areias, Von Wolffersdorff (1996) afirma que a forma mais fiável de obter a linha
de compressão normal (LCN) é pela compressão de areias soltas, porque, como se pode ver
no ensaio de areias reconstruídas em laboratório da figura 2.9, as areias tendem a aproximar-

38
se muito lentamente da linha de compressão normal (LCN). Segundo Coop (2005) a variação
volumetrica que ocorre à medida que o solo é comprimido na LCN está associado com a fratura
das partículas, que se denomina de cedência clástica, e por isso uma das principais diferenças
entre areias e argilas é que a cedência durante o primeiro carregamento ocorre para tensões
muito altas, tal que dentro da gama de tensões aplicadas na engenharia a maior parte das areias
não alcançarão a LCN como se pode ver na figura 2.9.

Figura 2.9 – Resultado de compressão isotrópica e dados do estado crítico para três amostras reconstituí-
das em laboratório (Coop, 2005): (a) areias de Dog’s Bay - calcárias; (b) granito decomposto;
(c) areias do rio Ham - quartzosa

Na presente tese os ensaios de compressão para areias procuram representar cargas cor-
respondentes a projetos realistas e por isso as tensões aplicadas não foram suficientemente
grandes para se poder determinar a linha de compressão normal e verificar esta caraterística
do solo. Assim sendo, não foi possível alcançar o comportamento normalmente consolidado.
Conseguiu-se, no entanto, obter a compacidade relativa correspondente à área de influência do
grau de sobreconsolidação crítico, como foi afirmado por Mansin (2014), a justificação está na
secção 2.4.2.2.

2.4.1.2 A memória da história de tensões

Devido a problemas que ocorreram na fase de consolidação nos ensaios 2 e 3 não é possível
tirar conclusões sobre a mecânica do solo.

2.4.1.3 Comportamento na carga e descarga

Como se verificou no segundo ensaio, não existe coincidência entre os resultados na carga
e na descarga, sendo que não se sabe com precisão quando se deu o problema técnico e dado
que existe uma incerteza experimental não se consegue saber se o comportamento é puramente
elástico ou se já está a ocorrer alguma plastificação do solo. Teoricamente segundo Coop (2005)
a linha de descompressão é muito mais rígida do que a do primeiro carregamento no ensaio

39
realizado ao solo, mesmo que este ainda não pertença à LCN.

1.4.1.4 Comportamento contrátil e dilatante

O comportamento contrátil ou dilatante do solo nesta fase de consolidação, como os gráficos


da figura 2.4 podem comprovar, devido ao fenómeno explicado no capítulo 1, são resultado da
compressão ou do alívio de tensão de confinamento do solo.

2.4.1.5 Estados Limite

O estado limite correspondente à compressão isotrópica não foi claramente definido.

2.4.2 Análise das propriedades fundamentais do solo quando submetido


ao corte

1.4.2.1 Não linearidade da resposta dos solos

A não linearidade do comportamento dos solos é um facto que se deteta bem cedo nos
ensaios, principalmente em termos de tensões. A possibilidade duma análise mais exaustiva do
troço linear está fora de questão dado que, devido ao ajuste do êmbolo nos procedimentos e aos
efeitos da irregularidade local das amostras junto à placa porosa (Kung, 2007), os dados não são
fidedignos.

O comportamento cíclico é aproximadamente linear para o nível de deformações considerado


no ensaio 3, como se pode ver na figura 2.7.

1.4.2.2 A memória da história de tensões

Como se tinha já anteriormente constatado, ambos os solos estão no estado denso, pois
ambos não chegaram a ter oportunidade de sair da linha κ. No entanto, o grau de sobreconso-
lidação é diferente e a diferença dessa resposta é visível, pois, apesar de ambos se iniciarem
com o mesmo estado de tensão, a resposta no corte é muito diferente, quer em tensões, quer
em deformações.

A variação de η entre o pico e a resistência final é muito menor no primeiro ensaio e é tão
pequena que se pode compreender que o solo inicialmente estava muito próximo do Rpcrtico, o
que vai de encontro à explicação teórica introduzida em relação à capacidade de realização de
ensaios em areias limpas no estado solto.

40
1.4.2.3 Comportamento na carga e na descarga

Verifica-se que, quer as descargas ocorram segundo a mesma trajetória de tensões, quer
ocorram segundo trajetórias diferentes, os ciclos no plano η:εs são sempre fechados. Neste nível
de deformação a histerese é muito pequena, o que quer dizer que a energia dissipada no ciclo
é muito reduzida, ou seja, que neste nível de deformação, ainda que a descarga seja grande, o
amortecimento (ξ) provocado pelo ciclo é pouco significativo.

É interessante notar que nas figuras 2.7 a) e b) que quando a trajetória de descarga e de re-
carga foi a mesma (1º e 4º ciclo), os pontos inicias e finais do ciclo para este nível de deformação
praticamente coincidiram, ao passo que quando a trajetória diferiu (2º e 3º ciclo) a rigidez obtida
na recarga é inicialmente igual, mas o amortecimento foi muito menor e por isso o solo atingiu
a mesma tensão deviatórica com uma deformação distorcional menor do que quando carregado
pela primeira vez. O conceito da deformação intergranular (Niemunis e Herle, 1997) foi formu-
lado para modelos hipoplástico mas como foi definido a partir do conceito de Simpson (1992)
para modelos elasticoplásticos então será abordado de um ponto de vista fenomenológico dado
que as expressões em concreto não se aplicam diretamente.

Durante o ciclo histerético dá-se uma variação da rigidez quer na descarga como na recarga,
razão esta que justifica a existência de histerese. Segundo estes, como se vê na figura 2.7, existe
a deformação total medida nos ensaios (δ) que varia entre os pontos extremos da deformação
do ciclo teoricamente por uma questão explicativa foram denominados por +D e −D para que
seja um ciclo com a mesma trajetória de carga e descarga. A variável δ̇ corresponde à deforma-
ção relativa intragranular, que fisicamente corresponde à alteração dos pontos de contacto entre
partículas que se dá ao nível macroscópico, da qual o valor R corresponde ao valor máximo de
deformação após o qual se dá o clássico rearranjo das partículas associado ao comportamento
plástico. A esta deformação intragranular também se chama variação da interface devido ao
fenómeno físico que foi explicado.

Antes do início do ciclo o solo estava a ser forçado para ter uma deformação numa deter-
minada direção (ponto 6), quando se dá a descarga, desenvolve-se uma alteração gradual dos
pontos de contacto entre as partículas ao nível da micromecânica alterando-se assim a forma
da interface como se pode ver na trajetória de 1 para 2. Quando o solo recupera as deforma-
ções com que vinha forçado (2), alcança o ponto nulo da deformação intragranular (δ) a partir
da qual o continuar da deformação vai induzir a uma variação da deformação mais lenta que
vai diminuindo até chegar à deformação máxima que a interface consegue alcançar, este abran-
damento da variação leva à sucessiva perda da rigidez elástica (trajetória de 2 para 3) e a um
comportamento não linear do solo. Quando se recarrega, inicialmente o solo vai de novo recupe-
rar as deformações impostas (trajetória de 4 para 5) e posteriormente novamente perder rigidez
originando um comportamento não linear. Ora se se expandir para um espaço tridimensional a
rigidez associada a diferentes trajetórias de descarga e recarga, segundo este fenómeno, leva

41
a que os comprimentos dos troços não tenham que ser iguais e simétricos como ilustra a figura
2.10.

(1) D=-1 (2) D=-1

(4) (5)

R
=R =0
(3) D=0 (4) D=+1

-R 0 R
(3) (6) R R
=-R =-R
(5) D=+1 (6)
D=0

(2) (1)
R
=0 =R

Figura 2.10 – Conceito de deformação intergranular (Niemunis e Herle,1997)

1.4.2.4 Comportamento contrátil e dilatante

O comportamento contrátil e dilatante já foi referido que é coincidente com a teoria. A razão
porque quer o troço contrátil quer o ponto de inflexão no primeiro ensaio ocorrem para deforma-
ções distorcionais superiores ao segundo caso é porque, como a teoria afirma, vai havendo uma
transição entre o comportamento denso e o solto.

1.4.2.4 A plastificação dos solos

A plastificação dos solos é um facto notório no terceiro ensaio, dado que, na descarga, o solo
não consegue recuperar as deformações impostas no carregamento. Verifica-se também que,
com o aumento de deformação distorcional, há, não só um aumento da plastificação do solo,
como também um endurecimento do mesmo, que tende a estabilizar, como em todos os ensaios
se verifica.

1.4.2.4 Estados Limites

Segundo a teoria da mecânica dos estados críticos ambos os ensaios deveriam tender para
o mesmo valor de q, p e de ν, o que não aconteceu.

Como a figura 2.11 vem provar há uma incerteza probabilística associada à experimentação,
que justifica esta discrepância nos resultados dos ensaios 1 e 2 e verifica-se também que o
solo denso tende a aproximar o estado crítico por valores superiores ao solo solto. O Professor
Maišon numa comunicação pessoal mostrou um artigo que está em revisão no qual realizou um
conjunto de 40 ensaios todos preparados exatamente nas mesmas condições e os resultados do

42
corte devido a esta incerteza e à associada à experimentação laboratorial obtinha discrepâncias
da ordem das centenas de kPa na tensão deviatórica final.

Poder-se-ia pôr também a questão da areia estar a ter um comportamento evolutivo e assim
sendo o ângulo de atrito alterar-se com a pressão de confinamento associada. No entanto, a
mesma figura 2.11 descarta esta hipótese, porque para os valores de tensão de confinamento
de 500 kPa com que o solo foi carregado inicialmente, face aos valores da ordem dos MPa com
que as areias da figura 2.11 foram testadas, a pressão de confinamento utilizada nos ensaios
2 e 3 não é suficientemente grande para gerar um comportamento evolutivo dos solos. Este
intervalo de tensões também cobre os resultados do ângulo de atrito para a caixa de corte com
a Dr=70 %. No caso da Dr=90 %, os resultados são superiores, mas verifica-se também que o
ensaio foi finalizado sem que os resultados da variação dos deslocamentos vertical e horizontal
tivessem estabilizados.

Figura 2.11 – Resultados dos ensaios traixiais CD para areias do rio Sacramento no estado solto (Dr=38
%) e no estado denso (Dr=100 %) a várias pressões de confinamento (Lee e Seed,1967):
(a) σ10 /σ30 : ε1 da areia com comportamento denso; (b) εv :ε1 da areia com comportamento
denso; (c) σ10 /σ30 : ε1 da areia com comportamento solto; (d) εv :ε1 da areia com comporta-
mento solto

A explicação para a não coincidência dos resultados no plano p:ν no fim do ensaio advêm do
fenómeno de localização. Como se pode ver na figura 2.12 a deformação na banda de corte por
onde se dá a rotura do solo (local 1) é muito superior do que fora da banda (local 2). A variação
total medida normalmente nos ensaios, como se pode verificar pela linha que carateriza o troço
global, é muito inferior à que realmente ocorre, porque corresponde à média da resposta do solo.
Com isto quer-se dizer que na banda de corte a variação de p:ν seria tal que os ensaios deveriam

43
coincidir no ν crítico.

Por outro lado o primeiro ensaio, como se pode ver na figura 2.8 a), embarrilou. Dado que as
medições são feitas a partir de deduções que consideram que durante todo o ensaio o provete
é um cilindro perfeito, também não se pode garantir que o ponto final obtido no ν, nem que o
ângulo de atrito final correto seja o medido. No entanto, considera-se que o erro associado a
este efeito é menor do que o erro supramencionado.

Figura 2.12 – Estereofotogrametria baseada na evolução local e global das deformações do ensaio shf06
(Desrues e Viggiani, 2004)

44
Capítulo 3: Modelos Constitutivos
A análise modelar consiste na conceptualização de fenómenos físicos que se procura formu-
lar em teorias e parâmetros matematicamente explicativos. O caso das areias saturadas já foi
amplamente abordado nos capítulos anteriores. Há também uma outra abordagem inversa que
consiste em formular o modelo estritamente dum ponto de vista matemático, cuja desvantagem
é carece de sensibilidade física.

Atualmente espera-se que os modelos sejam capazes de representar a relação de tensões


e deformações que ocorrem na estrutura ao longo de todo o processo de carregamento ou de
deformação externamente imposto pelo meio envolvente ao solo, por forma a obter-se uma boa
estimativa dos Estados Limite Últimos (ELU), e das pequenas e médias deformações associadas
ao cálculo do Estados Limite de Utilização (ELUt). Os estados limite últimos são estados de
rotura, e por isso, pretende-se com os modelos obter principalmente a evolução das tensões,
ao passo que nos estados limite de utilização pretende-se conhecer os estados de tensão e
deformação capazes de inviabilizar o bom funcionamento da estrutura. Note-se que ambos os
estados não estão só associados ao solo, nem principalmente mas antes à estrutura que se
pretende dimensionar. Com esta ressalva vai-se pensar os ELU do solo e o acompanhamento
da deformação para os ELUt por uma questão de transmitir o impacto dos modelos em termos
de projeto.

Serão apresentados os seguintes modelos:

1 Modelo de elasticidade variável

(a) Modelo Hiperbólico

2 Modelos elastoplásticos convencionais

(a) Modelo de Mohr-Coulomb

i. Elástico-perfeitamente plástico
ii. Elasto-plástico com endurecimento
iii. Elasto-plástico com amolecimento

(b) Cam-Clay modificado

3 Modelo elastoplástico não convencional

(a) Modelo Subloading aplicado ao Cam-Clay

3.1 Modelos Elásticos

Este tipo de modelos supõe que o solo tem sempre um comportamento elástico até atingir
a rotura. Ser elástico quer dizer que no final de um ciclo fechado de carga e descarga, inde-

45
pendentemente da variação deformacional que ocorre dentro desse ciclo, o trabalho é nulo, e
consequentemente a variação deformacional também é nula.

I
W = σε = 0 (3.1)

Dependendo do tipo de função capaz de reproduzir a relação entre as tensões e as deforma-


ções ao longo do ciclo, o material pode ter uma resposta elástica linear ou não linear. No caso
dos solos a resposta é não linear, como se pode concluir dos resultados dos ensaios do capítulo
anterior.

O conceito de hiperelasticidade é mais exigente, porque admite que, sabendo o estado de


deformação do solo em qualquer instante, se sabe o estado de tensão do mesmo e vice-versa,
dado que a tensão corresponde à derivada do potencial de energia de deformação (definido aqui
genericamente pela função g):

∂g(ε)
W = σε = ε (3.2)
∂ε

Esta função g não é conhecida. Na resposta elástica linear admite-se que se sabe a relação,
em cada instante, entre a tensão e a deformação.

    

 
  e
 
p
  K 0 εv 

= (3.3)
 


 
   e
q 
  0 3G  εs 

O conceito hipoelástico é menos exigente que o elástico porque afirma que não se sabe a
relação direta entre tensões e deformações, mas se consegue relacionar a variação das tensões
(∆σ) com a variação das deformação (∆ε). Um dos interesses deste modelo advém de que, se se
souber a variação de tensões no solo que um dado projeto vá implicar, então, utilizando o ensaio
que recria aproximadamente os condicionamentos externos e as solicitações que irão ocorrer,
pode-se usar diretamente os parâmetros de K e G desse intervalo, e saber a deformabilidade do
solo, o valor da deformação ou da tensão final, a proximidade a que o solo estará sujeito.

3.1.1 Modelo Hiperbólico

O modelo hiperbólico faz parte do conjunto dos modelos elásticos não lineares. A parte
esquematizada foi desenvolvida por Konder (1960) e expandida para poder modelar a variação
da pressão de confinamento por Janbu (1963). Além desta parte principal do modelo existem
extensões do mesmo para poder prever a descarga e recarga mas que não serão abordados
nesta tese, dada a complexidade do terceiro ensaio.

46
Consiste num ajuste duma função hiperbólica aos resultados obtidos. A forma de modelação
está esquematizada na figura 3.1. Como se pode ver, nos resultados obtidos deste modelo, só
foi possível desenvolver a parte de Konder do modelo, pois todos os ensaios tiveram uma tensão
de confinamento inicial igual.

Resultado para ensaio com 𝜎3 conhecido (Konder, 1963)


Módulo de Young (E) Coeficiente de Poisson (𝜐)
Expressão

𝜀1 𝜀3
𝜎1 − 𝜎3 = 𝜀1 =
𝑎 + 𝑏𝜀1 𝑓 + 𝑑𝜀3
Regressão Linear

(𝜎1 − 𝜎3 )𝑅
𝑅𝑓 =
(𝜎1 − 𝜎3 )𝑈
Resultado

Expansão do resultado para qualquer 𝜎3 (Janbu, 1963)


Expressão
Regressão Linear

Figura 3.1 – Esquema de aplicação do modelo hiperbólico

3.1.1.1 Resultados da modelação

Como se pode ver na figura 3.2, o ajuste do modelo para q:εa no caso do 1º ensaio tem um
erro médio quadrático (EMQ) de 0,6 kPa, sendo este mesmo erro de 5,5 kPa para as pequenas
deformações e 0,45 kPa, ao passo que no 2º ensaio o ajuste só é razoável para as pequenas

47
deformações (EMQ de 1,3 kPa). Não é possível determinar o coeficiente de Poisson com este
modelo, como ilustra a figura 3.8b), porque o ajuste não é linear.

0.08 -2

0.06
-1

εr /εa
q/εa

0.04

0
0.02

0 1
0 5 10 15 20 0 -5 -10 -15
(a) (b)
εa (%) εr (%)
600 20

15
400
q (kPa)

εa (%)

10

200
5

0 0
0 5 10 15 20 0 -5 -10 -15
(c) (d)
εa (%) εr (%)
ensaio 1 ensaio 2 melhor ajuste do ensaio 1
ajuste dos ensaios para os ELU melhor ajuste do ensaio 2

Figura 3.2 – Resultado da aplicação do modelo hiperbólico

Tabela 3.1 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, grandes defor-
mações e ELU para o modelo hiperbólico

Pequenas deformações Grandes deformações ELU


a = 0,0006
1º Ensaio
b = 0,0041
a = 0,0019
2º Ensaio - -
b = 0,0002

3.1.1.2 Análise do ajuste dos modelo

Os resultados em conjunto com a análise da capacidade de reprodução das propriedades


fundamentais do solo arenoso (tabela 3.2) permitem perceber que o modelo tem uma aplicação
muito limitada. Só se extrai informação sobre as relação entre tensões e deformações na direção

48
Tabela 3.2 – Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias com o
modelo hiperbólico

Propriedades Fundamentais do Solo

O modelo não é capaz de modelar o coeficiente de Poisson, como se


vê na figura 3.2 b), porque não se aproxima a uma reta como seria
esperado pelo esquema da figura 3.1.

O modelo carateriza E, que corresponde a uma deformação axial, per-


Comportamento
mitindo a não linearidade do comportamento elástico do solo. É capaz
e parâmetros de caraterizar a areia muito bem até ao pico, se ela estiver no estado
denso, e a partir daí deixa de ser realista; no caso da areia pouco
elásticos
densa, desprezando o valor de pico, é capaz de representar bem os
resultados em termos de variação de tensões.

O modelo não consegue modelar a variação de K e G, porque estes


são função do coeficiente de Poisson.

O modelo só consegue alcançar a rotura se se admitir que solo tem um

Critério comportamento solto. Foi o processo adotado no 2º ensaio, porque a


variação entre a tensão pico e rotura é insignificante. No caso de solos
de rotura densos (1º ensaio), o modelo assume que o critério de rotura ocorre no
estado de pico e os resultados só são significativos até aí.

Comportamento
O comportamento na carga e descarga do 3º ensaio era demasiado
na carga
complexo para ser reproduzido com este modelo.
e descarga

A memória do estado de tensão não é passível de ser caraterizada pelo


modelo, dado que não há forma de caraterizar a transição de resultados
Memória
inicialmente com o mesmo estado de tensão, que previamente tenham
da história sido sujeitos a diferentes estados de carregamento. Não foi testada
a hipótese da generalização do modelo (Jabu,1963) correspondente à
de tensões
variação da tensão inicial, mantendo as caraterísticas correspondentes
a um mesmo estado de carregamento.

Comportamento
O modelo não consegue representar a variação volumétrica dado, que
dilatante
não consegue modelar o parâmetro υ.
e contrátil

49
axial, sendo que a capacidade de descrição das defoos estados limite não é igual para os solos
densos e soltos e só se consegue para o equivalente a ensaios simples.

3.2 Modelos elastoplásticos convencionais

A execução de descargas nos ensaios permitiu perceber que facilmente se geram deforma-
ções residuais permanentes (plásticas). Segundo a teoria da plasticidade (Drucker, 1950 e Druc-
ker, 1951) estas deformações ocorrem quando o solo experiencia o limite máximo da sua história
de carregamento e consequentemente estas são controladas pela instabilidade que se gera nos
pontos de contacto entre partículas (capítulo 1). O comportamento antes de se alcançar este
limite é elástico e após este é elastoplástico.

O limite máximo da história de carregamento é um estado de transição entre o comportamento


elástico e a rotura. Para o detetar define-se conceptualmente uma superfície fronteira da região
elástica das tensões, denominada de superfície de cedência, matematicamente expressa por
uma função que, no plano p0 -q, corresponde a uma curva delimitante, e no plano tridimensional
(σ10 ,σ20 ,σ30 ) corresponde a uma superfície.

f (σ) = 0 (3.4)

A deformação total a partir daí passa a ser o somatório da componente elástica, que não
desaparece, com a componente plástica.

ε = εp + εe (3.5)

O passo seguinte é perceber como determinar as parcelas correspondentes ao comporta-


mento elástico e plástico. Convencionou-se, para modelos convencionais elastoplásticos, que a
relação elástica é linear, por forma a que as componentes elástica e plástica sejam independen-
tes uma da outra, e assim, sabendo constantemente o valor da componente elástica, o restante
corresponde à deformação plástica.

Tal como nos modelos elásticos, é através do trabalho que se conseguirá analisar a relação
entre tensões e deformações, sendo que agora o trabalho já não é nulo, mas é mensurável.
O teorema de Green permite saber o trabalho total sabendo a variação do trabalho sobre a
curva/superfície de fronteira. Para usar esta propriedade matemática ir-se-á conceptualmente
assumir a chamada condição de consistência, que afirma que os incrementos de deformação
plástica estão associados a uma variação da tensão que só pode ocorrer sobre a superfície de
cedência, matematicamente definida pela derivada da função f(σ 0 ), que só permite uma variação
tangente à superfície.

50
df (σ 0 ) = 0 (3.6)

Em termos de tensões estes dois conceitos bastariam se só considerassem modelos elásticos-


perfeitamente plásticos. Como se verificou nos ensaios, os solos sofrem endurecimento e nal-
guns casos posteriormente amolecimento até alcançarem a rotura. Para se poder contabilizar
este efeito a superfície de cedência tem de poder expandir ou contrair. Os modelos plásticos cor-
rentes assumem que a forma da curva se mantém igual, mas é multiplicada pelo parâmetro de
endurecimento (χ), que pode ser positivo, originando endurecimento, ou negativo, reproduzindo
o amolecimento.

Segundo Schofield e Wroth (adaptado, 1968) é da natureza dos materiais plásticos escoarem
para onde quer que sejam forçados pelas grandes tensões que levam o material à cedência. O
campo de deformações plásticas permite definir a função de potencial plástico (G) de tal forma
que através do gradiente seu se possa saber a tendência máxima do escoamento em qualquer
estado de tensão plástico e assim saber a direção e o sentido da deformação plástica, que é
definida por um vetor. A dimensão dessa deformação é dada por um multiplicador (escalar).

∂G
εp = λ (3.7)
∂σ 0

Os fenómenos físicos que permitem definir o potencial plástico ainda são desconhecidos.
Umas das formas de contornar o problema é através da lei de fluxo associado, que afirma que
a função de cedência e a função de potencial plástico são coincidentes. Outra delas é definir
uma função matemática sem significado físico que leve os resultados das deformações a ir de
encontro aos obtidos nos ensaios. Esta função deve incorporar uma relação com a superfície de
cedência e, se a superfície for evolutiva, o potencial plástico tem de ser, de alguma forma, função
do parâmetro de endurecimento (χ) para que este fenómeno que seja correlacionável com as
deformações.

Toda a conceptualização por detrás da teoria convencional da plasticidade foi explicada.


Segue-se a concretização em dois modelos clássicos: Mohr-Coulomb e Cam Clay.

51
3.2.1 Modelo Mohr-Coulomb

Modelo Elastoplástico
Modelo Elástico-perfeitamente plástico
com endurecimento

ߝ = ߝ݁ + ߝ‫݌‬
Rotura do geomaterial
q à compressão por
6sinφ ' compressão axial
= Mc

‫݌(ܨ‬′ , ‫ݍ‬, ߯) = ‫ݍ‬q-η


−y ߟ‫݌‬p′0
3−sinφ '
0
Mc = 6 sin φ 0
‫ ݍ‬− ߟ‫ ݌ ݌‬′ = 0
3−sin φ

p'
‫ ݍ‬− ߟ‫݌ ݕ‬′ = 0
6sinφ '
= Me
3+sinφ ' 0
Me = 6 sin φ 0
3+sin φ

Rotura do geomaterial
à compressão por
extensão axial

‫݌‬′‫ݎ‬
‫݌(ܩ‬′ , ‫ݍ‬, ߯) = ‫ ݍ‬− ‫݌ܯ‬′݈݊
‫݌‬′

߲‫ܩ‬
‫ۗ ۓ‬
݀ߝߥ ߲‫݌‬′ ‫ ܯ‬− ߟ‫ݕ‬
‫݌‬
ቊ ‫݌‬ቋ = = ߣ൜ ൠ
݀ߝ‫ݏ‬ ‫ۘ ܩ߲ ۔‬ 1
‫=ܭ‬
Δ‫݌‬′
‫ۙ ݍ߲ ە‬
Δߝߥ
Δ‫ݍ‬
3‫= ܩ‬
Δߝ‫ݏ‬

ߟ‫ݏߝ ݌‬
‫݌‬
ߟ‫= ݕ‬
ܽ + ߝ‫ݏ‬
‫݌‬

ߝ = ߝ݁ + ߝ‫݌‬

‫݌(ܨ‬′ , ‫ݍ‬, ߯) = ‫ ݍ‬− ‫݌ܯ‬′


(Maranha das Neves,2007)

‫݌(ܩ‬′ , ‫ ݍ = )ݍ‬− ‫݌ ∗ܯ‬′ + ݇


Modelo Elastoplástico
com amolecimento

߲‫ܩ‬
‫ۗ ۓ‬
݀ߝߥ ߲‫݌‬′ ߝ‫ݏ‬
‫݌‬ ‫݌‬
−‫∗ܯ‬
ቊ ‫݌‬ቋ = = ߣቄ ቅ ߟ = ߟ‫ ݌‬− ൫ߟ‫ ݌‬− ‫ܯ‬൯, 0 < ߝ‫ܾ < ݏ‬
‫݌‬
݀ߝ‫ݏ‬ ߲‫ܩ‬
‫ۘ ۔‬ 1 ቐ ‫ݕ‬ ܾ
‫ۙ ݍ߲ ە‬ ߟ‫ܯ = ݕ‬, ߝ‫ܾ > ݏ‬
‫݌‬

(Maranha das Neves,2007)

Figura 3.3 – Esquema de aplicação do modelo Mohr-Coulomb


52
O modelo de Mohr-Coulomb foi pensado para explicar o comportamento ao corte dos solos.
Como não é capaz de explicar a fase de consolidação, esta é definida, em modelos comerciais,
pela mecânica dos estados críticos.

O modelo foi desenvolvido como um conjunto de três submodelos: o elástico-perfeitamente


plástico, o elastoplástico com endurecimento e o elastoplástico com amolecimento (figura 3.3).
O modelo elástico-perfeitamente plástico assume que em termos de tensão o solo tem um com-
portamento elástico até atingir a tensão de rotura, sendo que uma vez atingida o solo continua
a deformar. Os esquemas auxiliares à construção dos drivers destes modelos podem ser visua-
lizados em anexo (apêndice B.1, apêndice B.2 e apêndice B.3) e verifica-se que os dois últimos
modelos podem ser modelados de forma sequencial.

Toda a sequência conceptual anteriormente explicada pode ser visualizada no esquema da


figura 3.3. Vale a pena fazer menção que, em qualquer das três facetas do modelo, a função de
potencial plástico é não associada. No caso da função elástica-perfeitamente plástica, como a
superfície de cedência é não evolutiva, G depende de M ∗ que é uma constante, ao contrário dos
restantes casos G(ηy ). Nestes modelos, o endurecimento tem a particularidade de ser formulado
só em função da deformação distorcional (ver mais em Wood, 1990)

3.2.1.1 Resultados da modelação

Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico


A figura 3.4 a) mostra que, para o primeiro ensaio, o modelo consegue descrever com precisão
a relação entre tensão e a deformação distorcional a partir dos 5% de deformação, ao passo que,
no segundo ensaio, os erros envolvidos não permitem o ajuste do modelo ao longo do ensaio,
como se pode verificar na tabela 3.3. Em ambos os casos, no entanto, fornecendo os valores de
Mc correspondentes a cada um dos ensaios, obtidos no capítulo 2, o modelo é capaz de garantir
a tensão crítica corresponde ao ELU.

Tabela 3.3 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, grandes defor-
mações e ELU para o modelo elástico-perfeitamente plástico

Pequenas deformações Médias deformações ELU


G=50 MPa
K= 20 MPa
1º Ensaio - -
M=1,3
M*=0,08
G=80 MPa G=80 MPa
K= 50 MPa K= 50 MPa
2º Ensaio -
M=1,3 M=1,3
M*=0,71 M*=0,45

53
2.0
0

1.5 -2

-4

εv
1.0
η

-6

0.5
-8

0 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
(a) (b)
εs (%) εs (%)
2 40

0 20
q (M P a)

-1
η

-2
0
-3

-4 -11
0 5 10 15 20 -500 -250 -50 50
(c) (d)
εs (%) p (MPa)

ensaio 1 ensaio 2 ajuste do ensaio 1


ajuste do ensaio 2 para ELU ajuste do ensaio 2 para ELUt

Figura 3.4 – Resultado do modelo Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico: (a) resultados dos en-
saios 1 e 2 e ajuste do modelo no plano η:εs com controlo de tensões (b) resultados dos
ensaios 1 e 2 e ajuste do modelo no plano εv :εs com controlo de tensões; (c) resultados dos
ensaios 1 e 2 e ajuste do modelo no plano η:εs com controlo de deformações (d) resultados
dos ensaios 1 e 2 e ajuste do modelo no plano q:p com controlo de deformações

Os parâmetros elásticos diferem nos dois ensaios e foram ajustados para obter a melhor
aproximação ao troço inicial. Pode-se verificar que a transição entre o comportamento elástico e
elastoplástico no modelo é abrupto, não correspondendo à realidade. A capacidade de ajuste da
parte elástica distancia-se significativamente da realidade, principalmente no caso do primeiro
ensaio a partir de valores de η da ordem de 1.

O valor de K é responsável pela variação volumétrica da parte elástica do ensaio e con-


sequentemente não pode ser igual para os dois ensaios. Não há uma função que permita a
transição entre os dois ensaios em termos desta componente. No entanto, quando manualmente
definido, permite alcançar boas aproximações da deformação na fase de contração do solo.

O valor de M ∗ é um valor constante que permite traçar uma reta para descrever a parte
plástica do ensaio em termos de variação volumétrica. Considerando as tensões como dados, no
caso do primeiro ensaio o ajuste é bom (figura 3.4 b) porque a variação volumétrica é aproximável

54
por uma reta, ao passo que, no segundo ensaio, a variação não linear obriga a formular dois
modelos, um para as pequenas deformações e outro para as grandes deformações, por forma a
conseguir acompanhar a deformação volumétrica inicial para os ELUt e conhecer o valor final da
deformação para a rotura.

Ao considerar as deformações como dados verifica-se que o facto de as deformações se-


rem independentes do endurecimento do solo faz com que a transição entre as tensões e as
deformações corresponda somente a um fator de amplificação da deformação ou de minoração
das tensões, como se pode ver nas equações (3.8) e (3.9) suficientemente grande para não
corresponder a uma realidade física.

3GK
dp0 = (dεv + M ∗ dεs ) (3.8)
KM M ∗ + 3G

3GK
dq = (M dεv + M M ∗ dεs ) (3.9)
KM M ∗ + 3G

em que qualquer uma das incógnitas é multiplicada por uma função que é só dependente de
constantes (a figura 3.4 d) ilustra bem o que se explicou). A variação abrupta na vertical da figura
3.4 c) existe porque a combinação da deformação volumétrica e distorcional ao longo do ensaio
é tal que permite que dp0 tenda para zero.

Mohr-Coulomb elastoplástico com endurecimento


Este modelo pode gerar os dois tipos de resultados ilustrados na figura 3.5 para o primeiro
ensaio: ou acompanha melhor o ensaio assumindo-se que o ângulo de atrito crítico é o de pico,
que lhe confere uma resistência acrescida de 12 kPa no final, ou, assumindo o real ângulo de
atrito, o erro associado ao longo do ensaio é maior, ainda que seja um erro do lado da segurança.

Quanto ao comportamento do segundo ensaio, pode-se verificar que o modelo só é capaz


de ser representativo até ao pico, pois não é capaz de decrescer o estado de tensão com o
aumento da deformação. No entanto, o ajuste até lá contém um menor erro associado do que o
do primeiro ensaio, porque como a resposta é mais rígida, adequa-se melhor à função definida
pelo modelo.

Os ajustes em termos de deformação têm grandes erros ao longo de todo o ensaio e nem
o valor final é coincidente. Isto ocorre porque a função do fluxo plástico depende diretamente
do endurecimento, ao contrário do modelo anterior, em que quando ocorre fluxo plástico este é
independente do estado de tensão.

Mohr-Coulomb Elastoplástico com amolecimento


Este modelo já é capaz de incluir o decréscimo da tensão com o aumento da deformação,
devido ao acoplamento do modelo endurecido até ao pico e do modelo amolecido após este.
A relação desta variação é linear, o que não coincide com a variação dos resultados, sendo,

55
2 2

0
1.5
-2

εv
1 -4
η

-6
0.5
-8

0 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
(a) (b)
εs (%) εs (%)
600
Ensaio 1
Ensaio 2
Ajuste (ensaio 1)
400 Ajuste (ensaio 1 ao ELU)
q (kP a)

Ajuste (ensaio 2)
Ajuste (ensaio 2 ao ELU)
200

0
0 5 10 15 20
(c)
εs (%)

Figura 3.5 – Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento: (a) resultados dos ensaios 1 e 2 e
do ajuste do modelo no plano η:εs ; (b) resultados dos ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo no
plano εv :εs ; (c) resultados dos ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo no plano q:εs ;

por isso, os erros por vezes conservativos, no início, e na parte final do ensaio contra a segu-
rança. Consegue-se, ainda assim, que o valor final da tensão seja a crítica, dado que é um dos
parâmetros impostos.

Tal como no modelo anterior, os resultados da deformação não são fiáveis e apesar de se
aplicar o amolecimento no primeiro ensaio a variação volumétrica do modelo não foi capaz de
expressar a existência de expansão no solo.

Há a possibilidade de ajustar o modelo para que os resultados de tensão sejam sempre


conservativos, como se pode ver na figura 3.6.

Como os resultados da figura 3.7 permitem comprovar, o melhor ajuste não corresponde aos
valores dos parâmetros definidos anteriormente para o ajuste dos resultados do ensaio de com-
pressão triaxial convencional, mas antes uns outros novos valores que também dão resultados
conservativos no ensaio convencional, ainda que com maior erro.

Pode-se verificar que os primeiros 2 ciclos de carga e descarga e no último o ajuste é bastante
aproximado, ao passo que o terceiro está bastante desfasado.

56
Tabela 3.4 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações,
grandes deformações e ELU para o modelo elastoplástico com endureci-
mento

Pequenas deformações Médias deformações ELU


1
G= 100 MPa G= 100 MPa G= 100 MPa
K= 40 MPa K= 40 MPa K= 40 MPa
1º Ensaio M = 1,3 M = 1,3 M = 1,3
ηp =1,36 ηp =1,3 ηp =1,3
a= 0,002 a= 0,0014 a= 0,0014
G= 100 MPa G= 100 MPa
K= 500 MPa K= 500 MPa
2º Ensaio M = 1,62 - M = 1,62
ηp =1,91 ηp =1,63
a= 0,0005 a= 0,0005
1
A variação de parâmetros para as pequenas deformações no solo solto são opcionais

Tabela 3.5 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações, grandes defor-
mações e ELU para o modelo elastoplástico com endurecimento e amolecimento

1º Ensaio 2º Ensaio
G= 1 000 MPa G= 100 MPa
K= 500 MPa K= 500 MPa
Pequenas deformações,
M = 1.3 M = 1,63
médias deformações e
ηp =1.38 ηp = 1,91
ELU
a= 0.0015 a= 0,0005
b=0.15 b= 0,125

A figura 3.7 mostra que, mais uma vez, o modelo não consegue reproduzir as variações
de deformação volumétrica. Segundo este ajuste o solo está durante todo o processo em fase
contrátil, ao passo que, na realidade, desde bem de cedo, que o solo passa a expandir.

3.2.1.2 Análise do ajuste dos modelos

Do ponto de vista do projeto há três aspetos que vale a pena analisar:

• Capacidades e limitações dos parâmetros do modelo;

• Quando o ajuste é adequado e pode servir para a avaliação de segurança;

• Qual a capacidade que o modelo tem de reproduzir as deformações e as consequências


inerentes.

O modelo de Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico (figura 3.4) é realista, em termos


de tensões, no dimensionamento dos ELU e inadequado para os ELUt. Quando simula o compor-

57
600
0

-2
400
q (kP a)

-4

εv
-6
200
-8

0 -10
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
(a) (b)
εs (%) εs (%)

ensaio 1 ensaio 2 ajuste do ensaio 1


ajuste do ensaio 2 para ELU ajuste do ensaio 2 para ELUt

Figura 3.6 – Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento: (a) resultados dos
ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo no plano η:εs ; (b) resultados dos ensaios 1 e 2 e do
ajuste do modelo no plano εv :εs

tamento à compressão triaxial do segundo ensaio (solo denso) é economicamente desvantajoso


pois não aproveita todas as capacidades resistentes do solo. O mesmo tipo de simulação do
ensaio 1 é contra a segurança quando da aplicação do modelo para os ELUt porque o solo tem
maior deformabilidade do que o modelo admite, mas, uma vez alcançada a tensão do ensaio que
corresponde à plastificação do solo, obtém-se um ótimo ajuste até ao estado crítico.

O modelo de Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento é economicamente interes-


sante, pois nos três ensaios (fig. 1.3) a fig 3.7) acompanhou bem a relação q:s até ao pico (ELUt
das areias com comportamento denso) ou à rotura (ELU das areias com comportamento solto).
O valor real da resistência do solo no pico é ligeiramente superior, mas este erro é do lado da se-
gurança. A componente de amolecimento do modelo pode levantar problemas de segurança (fig.
3.6)). O ajuste tem que ser feito por defeito, para ser conservativo. Isso consegue-se obrigando
a que a rotura ocorra para deformações menores às normalmente definidas.

Note-se que o melhor ajuste dum mesmo modelo para os vários ensaio obrigou a um com-
promisso entre os erros admitidos.

Claramente qualquer um dos modelos de Mohr-Coulomb alcança um melhor ajuste para a


variação de tensões do que de deformações, o que levanta dois problemas: por um lado, não
se tem o conhecimento correto em termos de deformação do projeto e, por outro, ao considerar
uma deformação como condição de fronteira os resultados em termos de tensões e posteriores
deformações podem, com facilidade, não fazer sentido.

Do ponto de vista das deformações só o modelo de Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente


plástico foi capaz de dar resultados úteis, capazes de simular a variação volumétrica ao longo do

58
2.0 2.0

1.5 1.5

1.0 1.0
η

η
0.5 0.5

0 0
0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
(a) (b)
εs (%) εs (%)
1400 1

1200

1000
0
q (kP a)

εv (%)
800

600
-1
400

200

0 -2
0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
(c) (d)
εs (%) εs (%)
ensaio 2 ajuste do modelo com os parmetros definidos no ensaio 2
ensaio 3 melhor ajuste do modelo para os dois ensaios

Figura 3.7 – Resultado do modelo Mohr-Coulomb com endurecimento para ajuste dos ensaios 2 e 3: (a)
com os parâmetros do modelo definidos para o ensaio 2 (b) com os parâmetros do melhor
ajuste para os dois ensaios

primeiro ensaio, e, mais limitado, mas ainda assim capaz de estimar o valor final da deformação
para 2º ensaio.

Para o segundo ensaio, o erro associado à variação volumétrica obtida no modelo não é
conservativa, porque admite que o solo resiste muito mais do que na realidade para chegar a
uma determinada deformação, podendo atingir-se um ELUt mais depressa do que o previsto. Por
exemplo, implicou que, para as deformações iniciais, o solo tivesse mais resistência do que de
facto tinha. No caso hipotético de se obrigar o solo a suportar essa tensão a consequência seria
a deformação real ser maior do que a esperada. No caso específico deste ensaio a deformação
consequente seria menor que 1%, ao passo que a do solo solto iria até aos 4%.

No caso do modelo de Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento, devido ao amo-


lecimento pode-se incorrer em risco no domínio dos ELU, como a figura 3.6 procura ilustrar, mas
que são facilmente contornáveis se se tomar uma posição conservativa. Este facto obriga a con-
siderar dois cenários quando se modela: o cenário para saber o ELU e o cenário para conhecer
a evolução deformacional para os ELUt.

59
A separação do comportamento endurecido e amolecido permite que o parâmtero G e K
sejam ajustados por forma a consegui obter a rigidez do troço de endurecimento mais próxima
da realidade sem projodicar as tensões ao nível das deformações médias.

A avaliação das capacidade do modelo descrever as propriedades fundamentais do solo está


sintetizado na tabela 3.6.

Tabela 3.6 – Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias

Propriedades Fundamentais do Solo

Os módulos de deformabilidade volumétrica e de distorção são deter-


minantes na parte elástica do modelo com elástico-perfeitamente plás-
tico. Contudo a sua relevância nos modelos com endurecimento e amo-
Comportamento
lecimento é muito reduzida porque o peso do comportamento plástico
e parâmetros é muito superior, a não ser nas descargas e recargas.
Em todos os modelos, para obter o ajuste das tensões, os parâmetros
elásticos
K e G foram tais que o coeficiente de Poisson deu negativo, o que é
uma impossibilidade, porque implica que quando o solo é comprimido
axialmente, radialmente contrai em vez de expandir.

O critério de rotura é definido através do ângulo de atrito na rotura do


Critério solo e é um parâmetro constante. Pode induzir em erro pensar, que

de rotura como é um parâmetro intrínseco do solo, tem que ser constante nos
dois ensaios (como se pode ver na análise dos resultados dos ensaios).

Comportamento O modelo permite fazer descargas e recargas assumindo que o com-


portamento é elástico até atingir o η máximo anterior, passando então
na carga
a obedecer às leis regentes do comportamento plástico (esquema da
e descarga figura 3.3).

Memória A associação dos modelos permite reproduzir a história de tensões


com o endurecimento e amolecimento necessário. No entanto, não
da história
consegue considerar a alteração da resposta do solo senão de uma
de tensões forma manual.

Comportamento O modelo em função do endurecimento, do amolecimento e do parâ-


metro M ∗ (no caso so modelo elástico-perfeitamente e plástico) em
dilatante
combinação com os parâmetros elásticos consegue reproduzir o com-
e contrátil portamento contrátil e dilatante, mas com grandes erros associados.

60
3.2.2 Modelo Cam-Clay modificado

Modelo Elastoplástico
Modelo Elástico-perfeitamente plástico
com endurecimento

Rotura do geomaterial

ߝ =ߝ ߝ=+ߝ
݁ ߝ ‫݌‬+
q à compressão por do geomaterial
Rotura ‫݌‬
q
compressão axial
à compressão por ߝ݁
φ ' φ ' = Mc
6sin6sin compressão axial
=φM'0c
36 sin ' φ

‫݌(ܨ‬′ , ‫ݍ‬, ߯) = ‫ݍ‬q-η


−y ߟ‫݌‬p′0
3−φsin
Mc = −sin
3−sin φ0
0
Mc = 6 sin φ 0
‫ ݍ‬− ߟ‫ ݌ ݌‬′ = 0
p' 3−sin φ

q2
0
Me = 6 sin φ 0
p' f (σ 0 , p00 ) = M2
− p0 (p00 − p0 )
‫ ݍ‬− ߟ‫݌ ݕ‬′ = 0
3+sinφ ' φ 'φ= M
6sin6sin
= Me e
' φ'
3+φsin
3+sin 0
Rotura
M do geomaterial
sin φ6
e =
à compressão por 0
3+sin φ
extensão axial
Rotura do geomaterial
à compressão por
extensão axial

‫݌‬′‫ݎ‬
‫݌(ܩ‬′ , ‫ݍ‬, ߯) = ‫ ݍ‬− ‫݌ܯ‬′݈݊
‫݌‬′

߲‫ܩ‬
‫ۗ ۓ‬
݀ߝߥ ߲‫݌‬′ ‫ ܯ‬− ߟ‫ݕ‬
‫݌‬
ቊ ‫݌‬ቋ = = ߣ൜ ൠ
݀ߝ‫ݏ‬ ‫ۘ ܩ߲ ۔‬ 1
νp0

‫ۙ ݍ߲ ە‬
K=
Δ‫݌‬′
λ κ
‫=ܭ‬
Δߝߥ
Δ‫ݍ‬
3‫ ∆ܩ‬q =
κ
3G =
Δߝ‫ݏ‬

ߟ‫ݏߝ ݌‬
‫݌‬
∆εs

ߟ‫= ݕ‬
ܽ + ߝ‫ݏ‬
‫݌‬

ߝ = ߝ݁ + ߝ‫݌‬
Figura 3.8 – Esquema de aplicação do modelo de Cam-Clay

‫ ݌(ܨ‬, ‫ݍ‬, ߯) = ‫ ݍ‬− ‫݌ܯ‬


′ ′
O modelo Cam-Clay foi o primeiro modelo (originalmente pensado para argilas) capaz de
(Maranha das Neves,2007)
descrever a evolução dos ensaios em função do estado inicial do solo (p,q,ν), e o endurecimento
‫݌(ܩ‬′ , ‫ ݍ = )ݍ‬− ‫݌ ∗ܯ‬′ + ݇
Modelo Elastoplástico
com
e amolecimento, sendo que este, mais uma vez, só depende daamolecimento
variação volumétrica. Como se
߲‫ܩ‬
‫ۗ ۓ‬
vai poder verificar o comportamento denso da argilas é muito mais rígido do que a das areias, e
݀ߝ ߲‫݌‬′ ߝ
‫݌‬ ‫݌‬
−‫ܯ‬ ∗
‫ ݌‬ቋ = desenvolvimentos
por isso, existem ቊvários = ߣቄ ቅ ߟ =aplicar
ߟ‫ ݌‬− ൫ߟem−areias.
‫ܯ‬൯, 0 < ߝ‫ݏ‬Em
< ܾ anexo pode-
ߥ ‫ݏ‬ ‫݌‬
݀ߝ ‫ݏ‬
߲‫ܩ‬‫۔‬ 1 ۘ ቐ ‫ݕ‬
deste modelo para ܾ ‫݌‬
‫ۙ ݍ߲ ە‬
auxiliares (apêndice B.4 e apêndice ߟB.5)
‫ܯ = ݕ‬, ߝ‫ܾ > ݏ‬
‫݌‬
se encontrar dois esquemas à construção dos drivers
para o modelo de Cam Clay.

3.2.2.1 Resultados da modelação

Como se pode ver na figura 3.9, no 1º ensaio, o modelo quando


(Maranha alcança o estado crítico
das Neves,2007)

deixa de ser capaz de descrever qualquer tipo de variação deformacional e por isso o modelo
termina aos 11% de deformação. Neste ensaio os erros de tensão do modelo foram sempre
conservativos. O erro inicial da fase elástica do modelo não é conservativo.

Os ajustes em termos de deformação têm grandes erros ao longo de todo o ensaio e nem
o valor final é coincidente. Isto ocorre porque a função do fluxo plástico depende diretamente

61
2 600

1.5
400

q (kP a)
1
η

200
0.5

0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
(a) (b)
εs (%) εs (%)
2 1400

0 1200

1000
-2 q (kP a)
εv (%)

800
-4
600
-6
400
-8 200

-10 0
0 5 10 15 20 0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
(c) (d)
εs (%) εs (%)
ensaio 1 ajuste do ensaio 1 ensaio 3 ajuste do ensaio 3
ensaio 2 ajuste do ensaio 2

Figura 3.9 – Resultado do ensaio de aplicação do modelo Cam-Clay: (a) resultados dos ensaios 1 e 2 e
do ajuste do modelo no plano η:εs ; (b) resultados dos ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo
no plano q:εs ; (c) resultados dos ensaios 1 e 2 e do ajuste do modelo no plano εv :εs ; (d)
resultados do ensaios 3 e do ajuste do modelo no plano q:εs

do endurecimento e esta correlação não foi capaz de descrever o ensaio. No entanto, para o
2º ensaio, conseguiu-se considerar a expansão do solo. Esta questão tem como consequência,
como se pode ver, na mesma figura, no ensaio 2, que a relação em termos absolutos entre p0
e q não é a do ensaio e por isso há um desfasamento conservativo entre o valor resistência do
ensaio e do modelo, que se nota mais drasticamente quando o solo apresenta amolecimento.

Para ajustar o terceiro ensaio é preciso considerar que o comportamento do solo é solto,
porque se o comportamento for considerado denso, todo o ensaio resumir-se-ia a uma reta onde
as cargas e descargas ocorreriam. O máximo valor de q é o correspondente ao estado crítico e
a partir daí o restante ajuste é absurdo, pois corresponde à simples resolução matemática, sem
sentido físico.

62
Tabela 3.7 – Parâmetros a aplicar para cada um dos ensaios em pequenas deformações,
grandes deformações e ELU para o modelo de Cam-Clay

Pequenas deformações Médias deformações ELU


N = 2,025 N = 2,025
G= 100 MPa G= 100 MPa
1º Ensaio - M = 1,3 M = 1,3
κ=0,0039 κ=0,0039
λ= 0,04 λ= 0,04
N = 6,969 N = 6,969
G= 40 MPa G=40 MPa
2º Ensaio M = 1,3 - M = 1,3
κ=0,0039 κ=0,0039
λ= 0,3 λ= 0,3

3.2.2.2 Análise do ajuste dos modelo

Há dois parâmetros do solo (tabela 3.7) que parecem errados mas não o são necessaria-
mente. Um deles é o o valor de N que parece muito elevado mas dado que a LCN é atingida
muito tardiamente em termos de tensões, frequentemente fora do campo de aplicação de tensões
das estruturas geotécnicas, assim também o volume específico para a tensão de confinamento
nula também é um valor muito superior ao que comumente se está habituado a ver. O outro parâ-
metro é o módulo de distorção (G) cujo o efeito quando o solo já plastificou é muito reduzida e por
isso o melhor ajuste acontece para valores enormes mas se se reduzir consideravelmente este
parâmetro também a diferença não vai ser muito relevante. No caso do ensaio 2 o parâmetro G
já se torna essencial na definição do comportamento do solo até atingir a superfície de cedência
e por isso é mais baixo.

O ajuste do segundo ensaio até aos 2 % de deformação distorcional é enganador porque


segundo o modelo pode-se contar com uma resistência do solo superior à real (contra a segu-
rança).

O primeiro ensaio está sempre do lado da segurança e o ajuste até é económicamente inte-
ressante. No entanto a rotura dá-se aos 11 %, o que não é de todo verdade e, apesar de ser do
lado da segurança, não é de todo económico porque pode limitar as deformações antes de ser
realmente necessário.

Todos os resultados em termos de deformações foram maus, o que levanta os problemas


abordados no modelo de Mohr-Coulomb.

A avaliação das capacidade do modelo descrever as propriedades fundamentais do solo está


sintetizado na tabela 3.8.

63
Tabela 3.8 – Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias

Propriedades Fundamentais do Solo

Os módulos de elasticidade são particularmente importantes nos solos


Comportamento
densos até atingir pico ao contrário do solo solto em que o compor-
e parâmetros tamento plástico começa para muito reduzidas deformações. O valor
de K e G depende da compacidade do solo e são constantes neste
elásticos
modelo.

O critério de rotura também neste modelo é constante. Este modelo


Critério já considera outros estados assimptóticos definidos pela superfície de

de rotura cedência e em particular a rotura por aumento de p’ e por isso faz parte
do conjunto dos "cap models".

Comportamento
O modelo consegue reproduzir cargas e descargas admitindo um com-
na carga portamento linear e, por isso, não é capaz de descrever histereses, o
que não foi muito importante.
e descarga

Memória
A memória do estado de tensões é considerada neste modelo a partir
da história da relação (ν,p,q) inicial em relação ao Rpcrtico e em função deste o
comportamento é denso ou solto.
de tensões

Comportamento
O modelo é capaz de simular qualitativamente ambos os comporta-
dilatante
mentos.
e contrátil

64
3.3 Modelo elastoplástico não convencional

3.3.1 Modelo Subloading aplicado ao Cam-Clay

O modelo subloading vem admitir que existe uma transição entre a rigidez do comportamento
elástico e a do comportamento plástico. Esta transição é realizada através de uma superfície ho-
motética (com a mesma forma) da superfície de cedência e contida no interior desta, denominada
superfície de subloading (figura 3.10).

ij

f(

Subloading surface
f(

R 1
Re ij
p py

Figura 3.10 – Superfície de cedência, superfície de Suboading e região elástica (adaptado de Hashiguchi,
2009)

Como se pode verificar na figura 3.10 define-se um parâmetro R que corresponde à relação
entre o comprimento do segmento de reta que une a origem ao ponto de tensão corrente e o
comprimento, segundo a mesma direção, que une a origem à tensão na superfície de cedência.
O parâmetro R pode ser calculado através da equação 3.10 para os parâmetros p0 e q.



 p
py =

R (3.10)

 q
q y =

R

A função da superfície de Subloading é considerada através da substituição do estado cor-


rente de tensão através de σ̄ 0 na equação da superfície de cedência. Assim, considerando a
função da superfície de cedência de Cam-Clay, a função da superfície de cedência homotética
será dada pela equação 3.11.

 q 2
y
f (py , qy , pc ) = − py (pc − py ) (3.11)
M

Por sua vez, a direção e sentido da deformação plástica (3.7) é dada pelo gradiente da função

65
de potencial plástico (G) mas a intensidade (λ) vai depender do estado de transição de rigidez
que a tensão corrente tem face à superfície de cedência através do aumento progressivo de R,
que será obtido através da condição de consistência (3.6), que será agora definida por mais uma
parcela em relação ao modelo de Cam-Clay:

∂f ∂f ∂f
df = dσ 0 + dχ + dR (3.12)
∂σ 0 ∂χ ∂R

que pode ser decomposta nas derivadas parciais (3.13), (3.14), (3.16).

∂f ∂f
0
dσ 0 = Ddε (3.13)
∂σ ∂σ 0

 T
∂f ∂f ∂χ ∂g
dχ = λ (3.14)
∂χ ∂χ ∂εp ∂σ 0

por aplicação da lei de fluxo associado do modelo de Cam-Clay. A componente relativa ao


endurecimento da superfície é simplificada pela equação (3.15).

 T
∂f ∂f ∂χ ∂f
dχ = λ (3.15)
∂χ ∂χ ∂εp ∂σ 0

A derivada parcial (3.16) tem que conter em si mesmo uma função que seja capaz de des-
crever a variação de R em função da deformação, esta função é U (R) e relaciona-se com a
deformação pela dependência direta da deformação plástica.

∂f ∂f
dR = U (R)dεp (3.16)
∂R ∂R

A função U (R) tem que ser tal que:



→∞ para 0 ≤ R ≤ Re (estado quase elástico)









para Re ≤ R ≤ 1 (estado de sub-cedência)

 >0

U (R) =

para (estado de cedência)



 =0 R=1





para (estado impossível porque está fora da cedência)

 <0
 R>1
(3.17)

Hashiguchi (1989) definiu a expressão (3.18) para U (R)

< R − Re >
U (R) = −uln (3.18)
1 − Re

66
A constante u do material é um parâmetro ajustável consoante o estado de densificação do
solo e é responsável pela intensidade do efeito de transição. Se o u fôr muito alto, o compor-
tamento é praticamente linear até chegar à superfície de cedência. Quanto menor for u, maior
a não linearidade do solo no processo de carregamento antes de atingir a superfície de cedên-
cia. A parte logarítmica garante a diminuição de U (R) à medida que R tende para 1, que ocorre
quando a superfície de subloading e a superfície de cedência coincidem. Nesse caso o compor-
tamento corresponde ao definido pelo modelo de Cam-Clay. Quando numericamente R>1, lnR
dá negativo e a superfície de subloading encolhe para coincidir com a superfície de cedência.

Desta forma o multiplicador plástico será dado pela equação (3.19), que é igual à função de
Cam-Clay à exceção da última parcela do denominador.

 T
∂f
∂σ 0 Ddε
λ=  T     T       (3.19)
∂f ∂g ∂f ∂χ ∂g ∂f ∂g
∂σ 0 D ∂σ 0 − ∂χ ∂εp ∂σ 0 − ∂R u ln R ∂σ 0

Este modelo, com este λ, tem como implicação que, para Re igual zero, o comportamento
do solo é plástico desde o princípio e que o comportamento é sempre dependente do estado de
cedência do mesmo, ainda que esteja longe de o alcançar. A relevância dessa relação é dada
pela proximidade definida por R.

A superfície de subloading está sempre dependente do estado corrente do solo, dado que
é definida a partir deste, por isso aquando do carregamento é sempre crescente até alcançar a
dimensão máxima coincidente com a superfície de cedência, quando se descarrega acompanha
a tensão diminuindo elasticamente a sua dimensão.

A superfície de cedência está sempre a alterar-se com o aumento do carregamento, devido à


condição de consistência, que obriga que se dê o endurecimento positivo ou negativo da super-
fície dependendo da projeção da tensão corrente na superfície de cedência. Este facto permite
que no caso dos ensaios amolecidos inicialmente a superfície de cedência esteja a diminuir e a
superfície de subloading a aumentar por forma a que seja possível obter um comportamento não
linear de transição entre a elasticidade e a plasticidade clássica semelhante ao endurecimento e
um comportamento plástico amolecido.

Este modelo em relação à capacidade de descrever o comportamento cíclico tem uma limi-
tação que advém do processo de descarga. Quando esta ocorre, a superfície de subloading
contrai para acompanhar a tensão corrente, mas a superfície de cedência fica estática porque o
comportamento é puramente elástico. No entanto quando se dá a recarga, esta é logo plástica, o
que implica que começa logo a ocorrer o endurecimento da superfície de cedência, o que impede
a descrição do comportamento histerético, ou mesmo uma correta transição entre um compor-
tamento quase linear, que ocorre ao nível das pequenas deformações, e o comportamento não
linear, como ocorreu no ensaio 3.

67
Este modelo pode ser melhorado neste sentido pela introdução de propriedades cinemáti-
cas, propriedades estas consideradas no desenvolvimento deste modelo (Extended Subloading
Surface Model (Hashiguchi, 2009)).

A dedução do modelo Subloading para o modelo Cam-Clay encontra-se no apêndice C.

3.3.1.1 Resultados da modelação

As figuras 3.11 a) e b) e 3.12 a) e b) foram realizadas em excel com os dados diretos do


ensaio, enquanto as figuras 3.11 c) e d) e 3.12 c) e d) foram modeladas em FLAC, dado que
a reformulação em excel do modelo agora em função das tensões demora muito mais tempo,
com os dados que reproduzem a trajetória de tensões do ensaio com controlo de deformação,
mas que não incluem os resultados diretos e, por isso, os resultados têm menos oscilação do
que os primeiros. Existem técnicas de otimização de soluções que permitem encontrar o melhor
resultado, mas que devido à sua complexidade não foram desenvolvidas nesta tese.

Tabela 3.9 – Parâmetros usados na modelação do ensaio 1 e 2 com o modelo subloading aplicado ao
Cam-Clay

Ensaio 1 Ensaio 2
Ambos os controlos Controlo da deformação Controlo da tensão
G 40 MPa 40 MPa 40 MPa
k 0,0039 0,0039 0,0039
λ 0,2 0,2 0,2
u 50 30 50
Mc 1,2 1,3 1,2
pc 430 kPa 1100 kPa 1090 kPa

Os resultados da modelação do primeiro ensaio foram semelhantes quer considerando como


dados as deformações, quer se tenha considerado as tensões. No segundo, os parâmetros
tiveram de diferir para poderem obter o melhor ajuste individual, mas na prática só se aplicaria o
mais conservativo, que é o obtido com dados de tensões. Os resultados da tensão aquando os
dados são deformação seriam mais conservativos.

Verificam-se diferenças nos gráficos q:εs , que são comuns a ambos os métodos, e a justifica-
ção está nos outros gráficos onde a ordenada é o parâmetro que não é controlado (p0 ou εv ) e
como se vê tem dificuldade de ser ajustado. O ajuste das tensões no plano q:εs do 1º ensaio não
foi sempre conservativo, ao contrário do segundo ensaio.

68
300 300

200 200
q (kPa)

100 100

0 0
0 5 10 15 20 25 0 100 200 300
(a) (b)
εs (%) p’ (kPa)
300 1

200 0
q (kPa)

εv (%)

100 -1

0 -2
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25
(c) (d)
εs (%) εs (%)
ensaio 1 ajuste do modelo com os parmetros definidos no ensaio 1

Figura 3.11 – Resultados da modelação do ensaio 1: (a) Resultado q:εs a partir das deformações; (b) Re-
sultado q:p a partir das deformações; (c) Resultado q:εs a partir das tensões; (d) Resultado
εv :εs a partir das tensões

3.3.1.2 Análise do ajuste do modelo

As capacidade deste modelo dependem do modelo base, neste caso, o modelo Cam-Clay,
onde é aplicado, porque o que este permite é fazer uma transição mais suave entre o comporta-
mento elástico e plástico.

Dum ponto de vista económico, este modelo, de entre os apresentados, é sem dúvida o
melhor e é também, por isso, que se justifica a continua investigação no âmbito da modelação.

O programa com este modelo já tem uma resposta mais realista caso as condições de fron-
teira impostas sejam deslocamentos.

69
600

500
400
400
q (kPa)

300
200
200

100
0
0 0 100 200 300
0 5 10 15 20 25
(a) (b)
εs (%) p’ (kPa)
600
0
500
2
400
εv (%)
q (kPa)

1
300
0
200
-1
100

0 -2
0 5 10 15 20 25 0 5 10 15 20 25
(c) (d)
εs (%) εs (%)

ensaio 2 ajuste do modelo com os parmetros definidos no ensaio 2

Figura 3.12 – Resultados da modelação do ensaio 2: (a) Resultado q:εs a partir das deformações; (b) Re-
sultado q:p a partir das deformações; (c) Resultado q:εs a partir das tensões; (d) Resultado
εv :εs a partir das tensões

3.4 Conclusões sobre a capacidade de ajuste dos modelos


em geral

Pode-se concluir que há modelos melhores que outros e que cada um tem um domínio de
aplicação específico. O modelo hiperbólico é o mais limitado de todos os estudados porque
permite analisar o comportamento só em termos de tensões e na direção axial. A maior parte dos
modelos à excepção do Cam-Clay, do Subloading aplicado ao Cam-Clay e do Mohr-Coulomb com
endurecimento e amolecimento necessitam que se usem parâmetros diferentes para analisar
os ELU e os ELUt. O modelo de Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento tem a
desvantagem de ser definido por troços e, por isso, o valor de pico tem que ser conhecido à
partida e tem que se programar a transição dos troços.

O modelo de Subloading, como melhoramento do Cam-Clay, conseguiu ser sempre conserva-


tivo e acompanhar o decorrer do ensaio, ainda que os resultados em termos de tensões obtidos

70
Tabela 3.10 – Avaliação da capacidade de modelação das propriedades fundamentais das areias

Propriedades Fundamentais do Solo

Comportamento Os parâmetros elásticos são os mesmos, mas o seu campo de influên-


cia é afetado desde o princípio, dado que, em carga, deixa de haver um
e parâmetros
comportamento puramente elástico. Esta diferença confere ao solo um
elásticos comportamento não linear logo de princípio.

O critério de rotura com este modelo passa a poder ser o mesmo in-

Critério dependentemente do estado de densificação, porque devido à combi-


nação de efeitos do parâmetro de endurecimento (p0 ) e do parâmetro
de rotura de rigidez (u) consegue-se descrever as diferentes tensões obtidas no
final do ensaio.

Comportamento

na carga Este modelo não é feito para modelar o comportamento cíclico.

e descarga

Memória A memória da história de tensões é um comportamento definido pelo


modelo de Cam-Clay. No entanto, dados os diferentes comportamen-
da história
tos das superfícies, o modelo é capaz de descrever o comportamento
de tensões endurecido e amolecido do ensaio.

Comportamento Como se pode verificar, neste modelo pode-se partir dos resultados de
deformação para obter razoáveis resultados de tensão, assim sendo
dilatante
o modelo é capaz de descrever razoavelmente o comportamento dila-
e contrátil tante e contrátil do solo.

pelo modelo Mohr-Coulomb com endurecimento e amolecimento são mais próximos devido à
independência dos troços, o que permite um melhor ajuste para cada uma das fases.

Em termos de deformações o modelo que melhor conseguiu acompanhar os resultados dos


ensaios convencionais foi o modelo de Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico, porque o
potencial plástico é independente do parâmetro de endurecimento. Ainda assim a função de
potencial plástico definida não é capaz de acompanhar a evolução da deformação. Com isto não
se pretende dizer que a melhor solução é tornar as duas variáveis independentes, mas que a sua
relação ainda não está bem definida. Este facto verifica-se quando partindo das deformações se
pretende chegar às tensões e nesta questão o modelo de Subloading torna-se claramente melhor
que o modelo de Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico, porque a resposta em termos de
tensões não sendo coincidente com as que o solo foi sujeito, são próximas face às obtidas pelo

71
modelo de Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico.

A tabela 3.11 sintetiza a capacidade de ajuste de cada um dos modelos. A este respeito
é importante fazer dois reparos. O primeiro é o facto de que todos os resultados estudados
corresponderem a respostas axissimétricas e que, na realidade, o solo é solicitado também para
outros tipos de resposta. Conseguir um bom ajuste para todos os tipos de solicitações é uma das
principais dificuldades dos modelos. Em segundo lugar, os melhores ajustes nem sempre são do
lado da segurança, e por isso, os coeficientes parciais são muito importantes para minorar o fator
de risco. Neste sentido é possível durante o processo de execução da obra, realizar a recolha
de novos dados e os parâmetros podem ser reajustados para obter soluções que alcancem um
melhor compromisso entre a segurança e a economia.

Tabela 3.11 – Quadro síntese da possibilidade de utilização dos modelos usando tensões como dados em
estados axissimétricos

Comportamento solto Comportamento denso


Pequenas Grandes Pequenas Grandes
Modelos ELU ELU
deformações deformações deformações deformações
Hiperbólico x x x x x
Mohr-Coulomb
Elástico
x x x
perfeitamente
plástico
Mohr-Coulomb
Elastoplástico
x x x x x
com
endurecimento
Mohr-Coulomb
Elastoplástico
com x x x x x x
endurecemento
e amolecimento
Cam-Clay x x x x x
Subloading x x x x x

A compacidade dos solos vai-se alterando em profundidade ainda que pertençam ao mesmo
estrato. Para que ocorra a evolução dos parâmetros associados é preciso que o programa usado
permita definir a evolução em profundidade dos mesmos. Estes parâmetros variam dependendo
do modelo. Caso a variação paramétrica não seja permitida então será necessário gerar estratos
de solo homogéneos no seu domínio.

72
3.5 Superfícies de cedência

Os dados do ensaio 3 ilustrados nas figuras 3.13 foram estudados à luz dos modelos cons-
titutivos de Mohr-Coulomb e de Cam-Clay. Assumiu-se que nos ciclos de carga e descarga o
ponto máximo de η antes da descarga (figura 2.3 a)) por exemplo o ponto 2) era um dos pontos
da superfície de cedência e que o segundo ponto dessa mesma superfície corresponderia ao
último ponto com comportamento elástico no processo de recarga do solo (fig. 2.6a)) o ponto 5,
do mesmo exemplo). Esses pontos foram marcados diretamente a partir dos dados do ensaio,
sobre o mesmo, os correspondentes troços elásticos estão a azul e os troços plásticos estão a
vermelho. Note-se que, como a cedência ocorre em pontos diferentes dependendo do modelo,
assim também os troços elásticos e plásticos variam. (figura 3.13c) e d)). As superfícies de
associadas também estão ilustradas.

No modelo de Cam-Clay só foi possível desenhar duas superfícies porque o terceiro troço já
está a cima do estado crítico e o resultado já não é válido. Por sua vez, no modelo de Mohr-
Coulomb, como o critério que define as superfícies é η ser constante, apesar de só se ter co-
meçado a modelar para o segundo ciclo de carregamento, pode-se conhecer a superfície de
cedência para o primeiro ciclo, que tem a particularidade de ter tensões de corte muito baixas.

1400 1400
1200 1200
1000 1000
800 800
q (kPa)

q (kPa)

600 600
400 400
200 200
0 0

0 200 400 600 800 1000 0 1 2 3


(a) (b)
p (kPa) εs (%)
1400 1400
1200 1200
1000 1000
800 800
q (kPa)

q (kPa)

600 600
400 400
200 200
0 0

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 0 1 2 3


(c) (d)
p (kPa) εs (%)

Figura 3.13 – Superfícies de cedência de modelo de Mohr-Coulomb e Cam-Clay

73
3.5.1 Análise de resultados

Ambos os modelos conseguiram obter resultados, mas verifica-se que, além do modelo de
Cam-Clay só ser capaz de modelar estes resultados se se assumir a hipótese do solo estar no
estado solto, o que não é verdadeiro, também os pontos onde se inicia a cedência já estão muito
longe do comportamento elástico linear admitido pelo modelo, o que não é congruente. A partir
desta análise torna-se simples compreender o acrescento que o modelo subloading dá ao modelo
Cam-Clay porque o comportamento não linear do solo passará a ser definido pela superfície
homotética e não a partir do momento que atinge a superfície de cedência (para este tipo de
ensaios o modelo mais indicado é o extended subloading, que corresponde a um alargamento
do conceito para poder considerar o carregamento cíclico através das propriedades cinemáticas
do modelo). Esta não linearidade conferida ao comportamento do solo durante o processo de
carregamento até chegar à superfície de cedência permite que a curva do modelo se ajuste à
experimental. Permite também, como foi abordado na secção 3.3.1, que a superfície de cedência
não seja atingida no decorrer deste ensaio, porque só ocorre aquando do amolecimento, sendo
todo este comportamento teoricamente descrito pela expansão e contração da superfície de
subloading.

Tal como Poorooshasb et al. (1967) sugeriu, a descrição da superfície de cedência pode ser
obtida considerando η constante, que corresponde às superfícies de cedência de Mohr-Coulomb.
Claramente os pontos marcados segundo este modelo estão muito mais próximos do início da
não linearidade visível do comportamento do solo do que os do Modelo Cam-Clay, o que leva a
pensar que esta definição da superfície de cedência é muito mais ajustável que a do modelo de
Cam-Clay. No entanto, o modelo Cam-Clay tem a grande vantagem de num só modelo ser capaz
de definir o comportamento de endurecimento e amolecimento, bem como é capaz de definir o
comportamento do solo em função da sua compacidade, razão que o torna tão interessante.

Ainda assim, este critério de η constante como marco da mudança de comportamento, mesmo
que não seja para definir a superfície de cedência, não deve ser desprezado. Só o modelo 3D
poderá mostrar uma melhor aproximação da real capacidade de ajuste de ambos os modelos.
Por outro lado, a forma da superfície de cedência não deve ser desprezada, uma vez que com
modelos como o subloading, esta já não é tão imprescindível para a mudança de comportamento
do solo, dado que o endurecimento ocorre com a superfície homotética. No entanto, a superfície
homotética também depende da forma da superfície de cedência, mas principalmente porque
esta é fundamental para definir os estados limite do solo.

74
Capítulo 4: Aplicação do programa Plaxis
Após a compreensão dos diferentes resultados dos ensaios e dos modelos, neste capítulo
verificam-se as suas implicações no dimensionamento. Far-se-ão dois testes:

Teste A: Variação do ângulo de atrito

Para o mesmo tipo de areias, com compacidades diferentes, denominadas de areia densa e
areia solta, verificar-se-á os resultados dos esforços e dos deslocamentos para os estados
limite definidos pelos eurocódigos considerando, numa primeira hipótese, que os ângulos
de atrito das areias são iguais e numa segunda hipótese que os ângulos de atrito diferem.

Teste B: Utilização de diferentes modelos

Nesta fase assumir-se-á o mesmo ângulo de atrito nos dois solos e verificar-se-á o efeito
em termos de esforços e deslocamentos da utilização de diferentes modelos (elástico linear,
o de Mohr-Coulomb, e o Hardening model).

4.1 Introdução

4.1.1 Exemplo de aplicação

A estrutura estudada é o hydrolift do estaleiro de Mitrena (figura 4.1), que integrada num
sistema de docagem, fica situada no extremo leste dos estaleiros de reparação naval da Lisnave,
no estuário do Rio Sado, Portugal.

(a) (b)

Figura 4.1 – Hydrolift do estaleiro em Mitrena (LISNAVE-Estaleiros Navais,SA): (a) Eclusa aberta; (b)
Eclusa fechada com a bacia de manobras inundada.

O hydrolift consiste num conjunto de três docas do tipo plataforma, que ficam aproximada-
mente ao nível dos terrenos circundantes ficando o fundo das mesmas com acesso por meio de
rampas de pequeno declive. Estas três docas são servidas por uma lagoa de elevação, desig-
nada por eclusa que permite a elevação do navio até ao nível destas (Rodrigues, 2008).

75
O processo de docagem consiste em: tendo como ponto de partida a localização do navio
a docar dentro da doca contígua, começa-se por colocar as comportas móveis entre esta doca
e o exterior. A partir do momento em que a estanquicidade em relação ao exterior é atingida,
bombeia-se água para a doca até ao ponto em que o nível desta dentro da doca é suficiente para
que a embarcação possa passar para a plataforma e aí são realizadas um conjunto de manobras
para pousar os barcos nos picadeiros, que correspondem aos blocos onde assenta o fundo da
embarcação (Rodrigues, 2008).

4.1.2 Plaxis

O programa comercial usado para o dimensionamento foi o Plaxis. Por forma a se compreen-
der melhor o funcionamento do programa, segue-se uma breve introdução. Como foi expresso
na introdução os modelos numéricos respeitam aproximadamente todas as equações estrutu-
rais: condições no domínio (condições de equilíbrio, condições de compatibilidade e equações
constitutivas) e condições de fronteira.

Condições no Domínio

O método dos elementos (MEF) permite que toda a geometria envolvida no problema seja
subdividida em pequenas regiões, denominadas elementos finitos, as quais têm nós, quer nas
fronteiras quer no interior (Maranha das Neves, 2007). As condições de equilíbrio e de com-
patibilidade são estabelecidas pela interligação dos elementos finitos através de pontos nodais.
Dependendo da tipologia dos materiais, os elementos finitos são diferentes, mas têm que ser
compatíveis entre si, ou seja, todos os nós têm que estar interligados.

Os elementos finitos para o solo são, no Plaxis, triangulares e as funções de interpolação e


de forma escolhidas para a resolução desta estrutura, em específico, são quadráticas, corres-
pondendo a 6 pontos nodais. A integração deste programa é calculada a partir dos pontos de
Gauss sinalizados com um (x) na figura 4.2.

As paredes e lajes da eclusa correspondem a elementos estruturais do tipo lineares de 3


nós (4.3), para serem compatíveis com os elementos do solo do solo. Têm três graus de liber-
dade correspondentes aos deslocamentos horizontal e vertical e à rotação por nó. A forma de
integração implícita é com dois pontos de Gauss.

Condições de Fronteira

As condições de fronteira são restrições que definem o comportamento dos pontos nodais e
consequentemente reduzindo as possibilidade de movimentos dos elementos a eles associados.
Por esta razão, as condições de delimitadoras do domínio têm que estar afastadas o suficiente da
estrutura para que não afetem, ou pelo menos significativamente, a distribuição e os valores das

76
(a) (b)

Figura 4.2 – Elemento finito usado para definir o solo: (a) Numeração local, posição dos nós e pontos
de integração de Gauss (x) num elemento triangular de 6 nós; (b) Funções de forma em
coordenadas locais definidoras do elemento

(a) (b)

Figura 4.3 – Elemento finito estrutural linear: (a) numeração local, posição dos nós e pontos de integração
de Gauss (x) num elemento triangular de 3 nós; (b) funções de forma em coordenadas locais

tensões e deformações da estrutura a projetar, sendo que normalmente a distância horizontal


necessária das fronteiras à estrutura é inferior em comparação à distância vertical.

Ainda do ponto de vista da mecânica, é possível aplicar cargas pontuais ou distribuídas, como
condições de fronteiras.

As fronteiras hidráulicas usadas são de dois tipos: as interfaces, que impedem o fluxo da
água pelo interior da estrutura, e o nível freático, que permitirá ao programa calcular as pressões
intersticiais resultantes.

Equações constitutivas

O programa Plaxis está equipado com alguns modelos constitutivos prontos a usar. No en-
tanto, também permite que se programe de forma explícita outros modelos, trabalho este que
não será realizado nesta tese. Os modelos testados foram:

• Modelo Elástico Linear

O modelo elástico linear desenvolvido é definido com base na lei de Hooke. O programa pede
o valor do módulo de deformabilidade E, o seu incremento em profundidade e o coeficiente de
Poisson (υ). Este, último, é restringido para valores superiores a 0.

77
Este modelo, como as indicações do manual do Plaxis afirma, não é apropriado para definir
comportamentos altamente não lineares, como o dos solos, mas é útil para definir elementos
estruturais, cujo comportamento se adequa.

• Modelo Mohr-Coulomb elástico perfeitamente plástico

O modelo de Mohr-Coulomb elástico-perfeitamente plástico está definido na figura 4.4:

(a) (b)

Figura 4.4 – Definição do modelo de Mohr-Coulomb pelo Plaxis: (a) plano q:εa ; (b) plano: εa :εv (Brinkgreve
et al., 2004)

em que:

M∗
 
ψ = sen−1 (4.1)
M∗ + 2

Dos cinco parâmetros amplamente abordados ao longo da tese (E, υ, c0 , φ0 e ψ) vale a pena
referir que, por questões puramente numéricas, o manual do Plaxis aconselha que o valor de c0
seja no mínimo 0,2 kPa. O valor de E deve corresponder à inclinação da reta secante que passa
pelo ponto com 50% da resistência (E50 ).

• Modelo Hardening soil

O modelo Hardening soil é um “cap model” com duplo endurecimento por corte e por com-
pressão isotrópica. Este modelo esquematizado na figura 4.5 pode ser consultado em pormenor
em Schanz et al. (1999). Como se pode verificar este é composto por dois tipos de endureci-
mentos: por corte e por compressão.

A formulação do endurecimento por corte é formulada a partir da adaptação do modelo hiper-


bólico para a plasticidade em que é permitida a evolução da linha de rotura através da variação
do módulo de deformabilidade devido ao endurecimento da superfície de cedência que não tem
que corresponder a uma linha reta no plano p0 :q uma vez que este depende da potência dada
pelo parâmetro m que pode ser diferente de 1.

A formulação do endurecimento por compressão é realizada através da função f c que torna


este modelo num cap model em que o valor de α corresponde ao módulo de compressão volu-
métrica (K0 ) sobre a linha de compressão normal e o β corresponde ao módulo de deformação
ref
endométrica (Eoed ).

78
Hardening model (Schanz, 1998)
Critério de Mohr-Coulomb Limite da deformação

SUPERFÍCIE DE ENDURECIMENTO POR


CORTE

Adaptação do modelo hiperbólico para a


plasticidade
Para 𝑒 < 𝑒𝑚á𝑥

Para 𝑒 ≥ 𝑒𝑚á𝑥

SUPERFÍCIE DE ENDURECIMENTO POR


COMPRESSÃO

O parâmetro m permite que as superfícies de


cedência possam ser curvilíneas.

Figura 4.5 – Esquema do Hardening model (Schanz,1998)

4.2 Metodologia

4.2.1 Processo construtivo

Para ambos os testes desenvolvidos neste capítulo o processo construtivo foi o mesmo. Co-
meçou com o rebaixamento do nível freático. Assim sendo, as condições iniciais aplicadas no

79
Plaxis corresponderam a ter o nível freático um pouco abaixo da cota do terreno natural (figura
4.6).

Figura 4.6 – Fase inicial após o rebaixamento do nível freático

As condições de fronteira como a figura 4.6 mostra, não permitem deslocamentos nem ver-
ticais nem horizontais na base da estrutura. Nas fronteiras laterais o solo pode deslocar-se
verticalmente, mas está impedido de se deslocar na horizontal.

O aterro da ensecadeira foi realizado em três fase consecutivas com alturas de aterro de 2,5
m e de 3 m. A secção superior a branco existe somente porque os Plates têm de estar sempre
associados a uma malha de elementos finitos do tipo do solo, ainda que essa malha não tenha
sido acionada.

Figura 4.7 – Construção da ensecadeira

Seguidamente (figura 4.8), procedeu-se à compactação dinâmica, por queda de blocos, que
tem como objetivo compactar as areias para apoio rígido das sapatas, uma vez que as defor-
mações diferenciais são muito prejudiciais ao bom funcionamento da estrutura de betão. Esta
compactação teve de ser realizada nesta fase para não instabilizar os taludes de escavação, ou,
caso fosse feito à posteriori, danificar a estrutura de betão.

Figura 4.8 – Escavação da ensecadeira

As escavações foram realizadas com inclinações que garantissem a estabilidade dos taludes.

80
Construiu-se, então a estrutura rígida de betão inferior (figura 4.9).

Figura 4.9 – Construção da primeira fase da estrutura

Seguiram-se, três fase de colocação dos solos a tardoz do elemento estrutural com areia
solta, para dar apoio à estrutura para resistir aos impulsos de água. Finalizou-se então a estrutura
superior que terá que suportar as cargas devido ao enchimento do hydrolift.

Figura 4.10 – Carregamento correspondente à fase cqp dos ELUt da estrura

4.2.2 Hydrolift

Realizou-se o corte da figura 4.11 correspondente à zona do hydrolift em que a largura da


plataforma superior é variável. As cotas de água na vida útil da estrutura são as apresentadas.

Figura 4.11 – Níveis de água das situações de projecto para a fase de Exploração

A estrutura foi subdividida em nove partes, ilustradas na figura 4.12, por forma a poder dar
ao elemento estrutural Plate, que as vai representar como se fossem secções retangulares, a
rigidez axial e de flexão mais parecida com a real.

Os parâmetros fornecidos para cada uma destas secções estão sintetizadas na tabela 4.1.
Os valores da secção sapata 2.1 variam porque dependem da seção de corte da eclusa que,
dada a forma, que pode ser visualizada na figura 4.1, varia de largura.

81
Figura 4.12 – Segmentação da estrutura para geração de diferentes Plates no Plaxis.

Tabela 4.1 – Propriedades usadas para as Plates

Comprimento Área Espessura EA EI w


(m) (m2 ) equivalente (m) (kPa) (kPa) (kN/m/m)
Parede 1 8,50 7,905 0,930 2,77E+08 1,99E+07 23,25
Parede 2 6,00 5,400 0,900 1,89E+08 1,28E+07 22,50
Top 0,45 0,780 1,733 2,73E+07 6,84E+06 43,33
Sapata 1.1 13,66 5,464 0,400 1,91E+08 2,55E+06 10,00
Sapata 1.2 4,93 3,944 0,800 1,38E+08 7,36E+06 20,00
Sapata 1.3 13,66 16,392 1,200 5,74E+08 6,88E+07 30,00
Sapata 2.1 7,25 1,813 0,250 6,34E+07 3,30E+05 6,25
Sapata 2.2 3,88 2,813 0,725 1,89E+08 1,28E+07 22,500
Sapata 2.3 7,01 4,700 0,670 9,85E+07 3,53E+07 30,00

4.2.3 Teste A: Variação do ângulo de atrito

Projetou-se dois cenários (Tabela 4.2) no modelo de Mohr-Coulomb para avaliar as implica-
ções práticas, em termos de dimensionamento, da utilização dos diferentes ângulos de atrito
obtidos nos ensaios do capítulo 2 e considerando o ψ a partir dos parâmetros obtidos nos mode-
los do capítulo 4 e obedecendo à equação (4.1), razão esta que torna o ψ um valor tão alto.

Tabela 4.2 – Hipóteses de teste por variação do ângulo de atrito

Hipótese 1 Hipótese 2
Areia Areia
Parâmetros solta densa solta densa
φc 32,3º 36,4º 32,3º 32,3º
ψ 1,94º 20,87º 1,94º 20,87º

82
4.2.4 Teste B: Utilização de diferentes modelos

Os modelos aplicados nos solos, dado a explicação toda precedente no anterior capítulo, não
foram sempre os mesmos para todos os estados limites. O modelo elástico linear não é de todo
adequado para os solos dado o seu comportamento não linear, mas usou-se para se poder ter
um resultado de contraste para medir a qualidade dos outros. As caraterísticas definidas para
cada um dos modelos estão na tabela 4.3.

4.3 Resultados e Conclusões

4.3.1 Teste A: Variação do ângulo de atrito

4.3.1.1 Fim da fase de escavação

Como se pode ver nas figuras 4.13 e 4.14, os diagrama de deformações são iguais o que
mostra que a diferença dos ângulos não foi relevante nem em termos de resistência, nem de
deformação. A razão para tal advém do efeito de escala, dado que a área de aplicação da areia
densa é muito reduzida face à da areia solta, o que faz com a diferença de comportamento seja,
neste caso, diluída no todo.

(a) (b)

Figura 4.13 – Resultado no final da escavação por aplicação da 1ª hipótese (ângulos de atrito diferentes):
(a) deformação horizontal; (b) deformação vertical

(a) (b)

Figura 4.14 – Resultado no final da escavação por aplicação da 2ª hipótese (ângulos de atrito iguais): (a)
deformação horizontal; (b) deformação vertical

A ordem de grandeza das deformações é espectável dado que se tratam de areias e o empo-
lamento esperado pela descarga é muito reduzido. A simetria da escavação da estrutura permite

83
Tabela 4.3 – Tabela com os valores aplicados para cada um dos modelos

Elástico Linear Mohr-Coulomb Hardening Model


ref
E50 =1,702x105 kN/m2
oed
E50 =1,702x105 kN/m2
Eref =2x105 kN/m2 ref
Eur = 5,105x105 kN/m2
Eref 1=2x105 kN/m2 Einc =2 000 kN/m2 /m power 8=1,0
Einc 2=2 000 kN/m2 /m υ= 0 υur 9
= 0,2
Areia
υ 3= 0 γ= 14,58 kN/m3 γ= 17,10 kN/m3
Solta
γ 4= 14,58 kN/m3 γsat = 17,79 kN/m3 γsat = 20,87 kN/m3
γsat 5 = 17,79 kN/m3 φ6= 32,3º φ= 32,3º
7
ψ = 1,938º ψ= 1,938º
10
pref = 100 kN/m2
K0nc 11
=0,466
ref
E50 =1,702x105 kN/m2
oed
E50 =1,702x105 kN/m2
ref
Eur = 5,105x105 kN/m2
power=1,0
Areia υur = 0,2
5 2
Densa Eref =3,6x10 kN/m γ= 17,10 kN/m3
(ELU) Einc =500 kN/m2 /m γsat = 20,87 kN/m3
υ= 0 φ= 32,3º
γ= 14,58 kN/m3 ψ= 20,874º
3
γsat = 17,79 kN/m pref = 100 kN/m2
φ= 32,3º K0nc =0,466
ψ= 20,87º ref
E50 =1,702x105 kN/m2
oed
E50 =1,702x105 kN/m2
ref
Eur = 5,105x105 kN/m2
Eref =3,6x105 kN/m2 power=1,0
2
Areia Einc =500 kN/m /m υur = 0,2
Densa υ= 0 γ= 17,10 kN/m3
(ELUt) γ= 17,10 kN/m3 γsat = 20,87 kN/m3
γsat = 20,87 kN/m3 φ= 46º
ψ= 20,874º
pref = 100 kN/m2
K0nc =0,466

1 7
Módulo de deformabilidade uniaxial Ângulo de dilatância
2 8
Módulo de deformabilidade incremental Potência da função de rigidez
3 9
Coeficiente de Poisson Coeficiente de Poisson na descarga e recarga
4 10
Peso volúmico Tensão isotrópica de referência
5 11
Peso volúmico saturado Coeficiente de tensão lateral para o estado nor-
6
Ângulo de atrito malmente consolidado
84
o equilíbrio de tensões de corte estabilizando os taludes e assim sendo as deformações obser-
vadas são pouco influenciadas pelo corte. As figuras 4.13 a) e figuras 4.14 a) induzem a esta
compreensão, uma vez que correspondem à deformação que neste caso melhor expressa a com-
ponente de corte e é muito menor que a deformação vertical (figuras 4.13 b) e figuras 4.14 b))
que é principalmente dependente da base da escavação que está associada ao empolamento
devido a tensões de tração que se geram.

Os ensaios no segundo capítulo mostraram que a deformação de compressão pode ser dada
por uma expressão linear o que permite que o valor de K seja ajustável e dado que a inclinação de
descompressão, não sendo bem igual pode ser razoavelmente aproximada pela mesma equação,
a formulação de Mohr-Coulomb para a componente isotrópica é relativamente boa. O que não foi
testado é se a descompressão por corte em termos de deformações pode ser bem representada.
O ensaio de Mohr-Coulomb com endurecimento apesar da dependência que a deformação tem
do parâmetro de endurecimento, consegue qualitativamente descrever o comportamento. Por
esta razão, existe a possibilidade de, dado o controlo direto que se consegue ter dos parâmetros
de deformação no modelo de Mohr-Coulomb elástico perfeitamente plástico, se conseguir um
ajuste quantitativamente razoável. No entanto, o modelo usado no Plaxis do Mohr-Coulomb tem
a componente elástica limitada pela inclinação máxima que é permitida à reta de descompressão,
essa limitação não foi forçada no mesmo modelo desenvolvido no capítulo 4, e esta impede o
modelo de aproximar uma deformação mais realista da descompressão do solo.

Por uma questão de coerência é preciso também fazer menção que o estado de deformação
neste caso é plano em vez de axissimétrico como foi estudado nos ensaios e que a transposição
dum para o outro não é direta, como foi abordado no capítulo 1, e assim sendo também existe
aqui uma certeza associada aos resultados da utilização dos parâmetros.

4.3.1.2 Esforços na estrutura ELU após enchimento

Como se pode ver nas figuras 4.15, 4.16 e 4.17 os resultados dos esforços para o valor de
ângulo de atrito diferentes é ligeiramente superior dado o efeito de escala. Verifica-se que a prin-
cipal alteração dá-se sobre secção da estrutura sobrejacente à areia densa. Consequentemente,
o momento é menor na sapata 2.3 devido à maior rigidez da base e isso reflete-se na sapata
1.3 que absorve mais momento, ainda que na globalidade se tenha gerado menos momentos
diferentes aos da hipótese 2.

Estes resultados corroboram com o princípio pelo qual se decidiu em projeto realizar esta
compactação de área tão reduzida. Aumentou-se a rigidez do solo localmente para que a pa-
rede 1, que não é suportada por aterro no tardoz, pudesse resistir às cargas com que é solicitada
durante a sua vida útil da estrutura e também para que as deformações geradas fossem me-
nores, por forma a minimizar os assentamentos diferenciais. Neste sentido, verifica-se que o
deslocamento vertical obtido na base da estrutura na hipótese 1 foi de 3,77 mm ao passo que

85
(a) (b)

Figura 4.15 – Momentos fletores aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) hipótese 1; (b) hipó-
tese 2

(a) (b)

Figura 4.16 – Esforços axiais aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) hipótese 1; (b) hipótese
2

(a) (b)

Figura 4.17 – Esforços transversos aquando do carregamento até à cota de 15,25 m: (a) hipótese 1; (b)
hipótese 2

na hipótese 2 foi de 3,83 mm, o que quer dizer que o ângulo de atrito pode ter indiretamente
influência no cálculo dos ELUt da estrutura, porque influencia o valor da rigidez. Assim, para
dimensionar esta estrutura aos ELUt pode ser relevante a utilização do ângulo de atrito de pico
que é 46º, uma vez que assim o comprimento do troço elástico, consequentemente mais rijo, é
maior. Verificou-se no entanto que a diferença é reduzida. Sob a sapata 2.3 o momento passa
para 300 kNm/m e na sapata 1.3 à somente um reajusto de esforços mas da mesma grandeza.
A razão pelo qual isto acontece é em geral a massa de solo envolvida estar sobre o troço elástico
que só depende dos mesmos valores de E e υ.

86
4.3.2 Teste B: Utilização de diferentes modelos

4.4.1.1 Fim da fase de escavação

Como se pode verificar nas figuras 4.19 e 4.18 as deformações maiores ocorrem no modelo
de Mohr-Coulomb porque o solo alcançou, no troço localizado junto à superfície, o patamar de
cedência e a deformação plástica é muito superior à elástica. A diferença para a deformação
elástica linear é de cerca de 1 mm o que quer dizer que a maior parte do solo ainda não plasti-
ficou. Esta constatação está patente na marcação dos pontos de plastificação da figura 4.18b),
que como anteriormente abordado correspondem a uma estreita faixa de solo descomprimido em
torno da escavação. Verifica-se também a existência de plastificação correspondente à camada
superior do solo e junto aos bordos mas considera-se que é resultante do efeito das condições
de fronteira.

Figura 4.18 – Resultado no final da escavação segundo o modelo elástico linear

(a) (b)

Figura 4.19 – Resultado no final da escavação segundo o modelo de Mohr-Coulomb: (a) deformação total;
(b) Pontos de plastificação

As deformações obtidas pelo hardening model são menores que a de Mohr-Coulomb. Existe
nitidamente um ganho na redução das deformações devido ao corte com o hardening model que
fazem sentido devido ao endurecimento que se dá nos taludes gerando deformações finais me-
nores do que no caso perfeitamente plástico. Por outro lado a deformação também depende da
componente isotrópica da tensão do solo que é dada pelo cap model e cuja real fiabilidade, dado
que não foi ensaiada, não se pode medir. Sabe-se, no entanto que nenhum dos modelos estu-
dados foi capaz (note-se que não apliquei nenhuma metodologia de optimização de soluções) de
relacionar eficientemente a deformação volumétrica com o parâmetro de endurecimento o que
leva a que a deformação obtida pelo modelo seja muito menor que a real.

87
O hardening model não foi testado e por isso quanto a este assunto nada se sabe, no entanto
é possível que se consiga modelar melhor a variação volumétrica pois este modelo tendo duas
funções de endurecimento distintas deve conseguir somar a componente volumétrica por efeito
de corte e de compressão isotrópica permitindo ter uma aproximação melhor que os anteriores
modelos. Excepção feita ao modelo de subloading que devido ao endurecimento tridimensional
da superfície de subloading fica capacitado para incorporar a sensibilidade para a deformação
em função da direção.

(a) (b)

Figura 4.20 – Resultado no final da escavação segundo o Hardening model: (a) deformação total; (b)
Pontos de plastificação

Verifica-se na figura 4.20 b) que o solo é composto por zonas de endurecimento, como ex-
plicado, por zonas de empolamento que já alcançam a rotura de Mohr-Coulomb, na base da
escavação, como esperado, e que tal como o modelo de Mohr-coulomb existe o endurecimento
por compressão associado às condições de fronteira laterais, sendo que para a compreensão da
estrutura só interessa o que acontece em torno da escavação. A distância das fronteiras laterais
ainda foi suficientemente afastada para que não haja endurecimento por compressão do solo na
zona de escavação.

4.4.1.2 Esforços na estrutura ELU após enchimento

As figuras 4.21, 4.22 e 4.23 permitem perceber claramente o efeito de usar diferentes modelos
no dimensionamento, porque os esforços e a sua distribuição ao longo da estrutura é drastica-
mente diferente. Os esforços escritos a azul realçam essa diferença. Verifica-se que estre os
esforços elásticos lineares (figura 4.21 a), figura 4.22 a) e figura 4.23 a)) e os esforços do modelo
de Mohr-Coulomb (figura 4.15 b), figura 4.16 b) e figura 4.17 b)) a diferença é pequena mas este
último é mais conservativo do lado da segurança.

O Hardening model por sua vez tem outra distribuição de esforços que pode ser mais fa-
vorável ao dimensionamento. É natural que assim seja porque o modelo de Mohr-Coulomb é
demasiado conservativo no que se refere à deformabiliade do solo o que implica que as tensões
de plastificação associadas à rotura aconteçam muito mais precocemente originando esforços
muito maiores. Por esta razão é razoável que os esforços obtidos pelo Hardeninig model sejam
mais realistas que os de Mohr-Coulomb, no entanto, como não foi realizado o driver, não há
certezas.

88
(a) (b)

Figura 4.21 – Momentos fletores aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) modelo elástico linear;
(b) Hardening model

(a) (b)

Figura 4.22 – Esforços axiais aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) modelo elástico linear;
(b) Hardening model

(a) (b)

Figura 4.23 – Esforços transversos aquando do enchimento até à cota de 15,25 m: (a) modelo elástico
linear; (b) Hardening model

4.3.3 Conclusões

A variação do ângulo de atrito pode ser um fator importante no dimensionamento dependendo


da área de influência do mesmo e a alternância entre os ângulos de atrito para ELUt e ELU, nos
modelos menos sofisticados, também pode ser interessante de um ponto de vista económico
como foi abordado no teste A.

A utilização de diferentes modelos tem um efeito à partida superior tanto em termos de defor-

89
mação como de tensão, mas é preciso ter cuidado para compreender o realismo dos resultados
que são obtidos porque como se viu diferem bastante.

Por último, à que realçar que ainda não existe um modelo que consiga fornecer respostas
igualmente boas para os vários estados de tensão e deformação a que o solo está sujeito.

90
Capítulo 5: Conclusões e Proposta de desenvolvi-
mentos futuros

Conclusões

A utilização da modelação em programas comerciais no dimensionamento de uma qualquer


obra, atualmente, é uma prática inevitável. A utilização cega desses modelos no dimensiona-
mento não é isenta de riscos. Nesse sentido, na presente tese procurou abordar-se os vários
procedimentos que compõem o processo de dimensionamento - a realização de ensaios, a es-
colha do modelo, a aplicação em modelos comerciais - para perceber os erros inerentes a cada
um deles e se ter uma perceção do acumular destes.

Esta tese teve a particularidade de dentro deste vasto tema não ter sido bem pré-definida
e delimitada à partida. A sua construção foi resultado da vontade de saber que levou ao de-
safio mútuo e constante entre orientando e orientador. Assim sendo, foram explorados temas
e questões que não se estava à espera e chegou-se posteriormente à conclusão de que teria
feito sentido fazer determinados ensaios, etc. que já não havendo tempo serão remetidos para
desenvolvimentos futuros.

Inicialmente procurou-se explicar em pormenor o comportamento particulado (microescala)


do material e fazer a transição para o comportamento macro com que se lida correntemente
para compreender o embrincamento da compreensão física e matemática da modelação e uma
perceção da sensibilidade que se tem na escala comum. Por outro lado, pretendeu-se fazer
perceber os limites dos conceitos que se consideram como verdades absolutas.

Pretendeu-se explicar o sentido da realização dos ensaios e a linha orientadora que leva a
perceber quais deles escolher, dado que envolve grandes custos. Realizaram-se alguns ensaios
e os restantes foram assinalados como importantes.

Chegou-se à conclusão que os ensaios têm bastantes limitações e que é preciso saber efe-
tivamente o que se pretende para poder saber se o ensaio escolhido será fiável. Em particular,
destacou-se as grandes tensões necessárias para o solo alcançar o estado assimptótico isotró-
pico, os erros probabilísticos dos ensaios e o fenómeno de localização associado a ensaios com
comportamento denso e o embarrilamento associado aos ensaios comportamento aproximada-
mente solto.

A Geotecnia já deu grandes passos no desenvolvimento da modelação, ainda que muitos dos
modelos ainda só sejam usados no âmbito da investigação, pela falta de implementação em pro-
gramas comerciais. Com esta tese pretendeu-se confrontar os modelos e mostrar a necessidade
da realização de testes para verificar a adequabilidade dos modelos a um qualquer o solo e a ra-
zoabilidade da utilização de modelos mais avançados que permitem ganhos económicos diretos

91
e indiretos (diminuição do risco).

Ao nível da utilização de programas numéricos verificou-se que a utilização de diferentes


modelos tem consequências em termos de deformações e esforços nos vários elementos estru-
turais.

Não se conseguiu chegar a programar o modelo Subloading em Plaxis por falta de tempo,
mas é de grande interesse, pois é uma forma eficiente de divulgação do modelo.

Proposta de desenvolvimentos futuros

1. Realização de todos os ensaios standards e outros de interesse de investigação numa areia


para que se possa ter a informação o mais completa possível para verificar a capacidade
de modelação do novo modelo que está a ser desenvolvido no LNEC.

2. Fazer uma análise semelhante para exploração noutros materiais, como argilas, areias
calcárias, etc.

3. Criação da aplicação dos modelos desenvolvidos no Plaxis para expansão da aplicação do


modelo do LNEC.

4. Desenvolver um projeto passo a passo de aplicação do método observacional.

5. Desenvolver um projeto com base na análise semi-probabilistica alternativa ao uso do eu-


rocódigo.

92
Bibliografia
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97
98
Apêndice A: Tabelas do Euródigo 7

Figura A.1 – Enquadramento geral simplificação da aplicação dos métodos de caracterização de campo
(EN 1997-2:2007 Tabela 2.2)

99
Figura A.2 – Ensaios de classificação do solo (EN 1997-2:2007 Tabela 2.2)

100
Figura A.3 – Ensaios laboratoriais para a determinação de parâmetros geotécnicos (EN 1997-2:2007 Ta-
bela 2.3)

101
102
Apêndice B: Esquema dos drivers dos modelos

103
MODELO ELASTICO-PERFEITAMENTE PLÁSTICO DE MOHR-COULOMB
Ensaio Drenado

Parâmetros do Modelo:
G
K
M
M*

εmáx

p'i qi εs q/p εv εa
104

(KPa) (KPa)
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio
Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio
p'0 q'0

3 × 𝑝′0 − 𝑞0 𝑞𝑖 − 𝑞𝑖−1 𝑝𝑖 − 𝑝𝑖−1 𝜀𝑣𝑖


𝑝′𝑖 × 𝑀 𝑀 𝜀𝑠𝑖 +
3−𝑀 3𝐺 𝐾 3

3 × 𝑝′0 − 𝑞0 𝜀𝑣𝑖
𝑝′𝑖 × 𝑀 𝜀𝑚á𝑥 𝑀 𝜀𝑣𝑖 − 𝑀 ∗ 𝜀𝑖 − 𝜀𝑖−1 𝜀𝑠𝑖 +
3−𝑀 3

Figura B.1 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastio-perfeitamente plástico
MODELO ELASTICO-PLÁSTICO ENDURECIDO DE MOHR-COULOMB
Ensaio Drenado
600 εs
Parâmetros do Modelo: 500 0
G 0.0 0.1 0.2
400 -0.02
K
q 300 εv
M -0.04
200
ηp
100 -0.06
a
0 -0.08
p 0 0.05
δεs εs
ex: 0,001
105

εs q/p εv p εa
p'i qi εs
(KPa) (KPa)

Valor no início do
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio 0
ensaio

𝑝
3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 𝑝 𝑞𝑖𝑖 𝜂𝑝 × 𝜀𝑠𝑖 𝑝𝑖 − 𝑝𝑖−1 𝜀𝑣𝑖
𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠𝑠𝑝𝑖𝑖 + 𝑝
𝑝
𝜀𝑣𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝑀 − 𝜂𝑖 + 𝑝
𝜀𝑠𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠
𝑝
𝜀𝑠𝑖 +
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝑎 + 𝜀𝑠𝑖 𝐾 3

… … … … … … …

Notas:
1. É assumido que logo desde o princípio que o comportamento do solo é Plástico.
2. O ensaio termina quando εps é o pretendendido. No caso de ser um ensaio normalmente consolidado o fim
corresponde ao fim do ensaio, caso seja sobreconsolidado então corresponderá ao valor máximo do pico e
finalmente caso corresponda a um projecto a deformação vai até onde consiga descrever a realidade do que está a
acontecer.
3. O parâmetro δεsp ilustra a precisão que o modelo irá ter porque define a dimensão da diferença finita.

Figura B.2 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastico plástico com endurecimento

MODELO ELASTICO-PLÁSTICO COM ENDURECIMENTO E AMOLECIMENTO DE MOHR-COULOMB


MODELO ELASTICO-PLÁSTICO COM ENDURECIMENTO E AMOLECIMENTO DE MOHR-COULOMB
Ensaio Drenado

Parâmetros do Modelo: εs
0
G 600
0 0.05 0.1 0.15 0.2
K 500 -0.02
M 400
εv
q 300 -0.04
ηp
200 Parte Endurecida do Modelo
a -0.06
100 Parte amolecida do Modelo
b
p
0 -0.08
δεs 0 0.1 0.2 0.3
ex: 0,001 εs
Parte endurecida do Modelo Parte amolecida do Modelo
106

p'i qi εs q/p εv εsp εa


(KPa) (KPa)

Valor no início do
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio 0
ensaio

𝑝
3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 𝑝 𝑞𝑖 𝜂𝑝 × 𝜀𝑠𝑖 𝑝 𝑝𝑖 − 𝑝𝑖−1 𝑝 𝑝 𝜀𝑣𝑖
𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠𝑖 + 𝑝 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝑀 − 𝜂𝑖 + 𝜀𝑠𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝜀𝑠𝑖 +
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝑎 + 𝜀𝑠𝑖 𝐾 3

… … … … … … …
Fim da parte endurecida do Modelo : Quando o εs

3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 𝑝 𝑞𝑖 𝑝
𝜀𝑠𝑖 𝑝 𝑝𝑖 − 𝑝𝑖−1 𝜀𝑣𝑖
𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠𝑖 + 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝑀 − 𝜂𝑖 + 𝑝 𝑝
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝜂𝑝 − 𝜂𝑝 − 𝑀 𝐾 𝜀𝑠𝑖−1 + 𝛿𝜀𝑠 𝜀𝑠𝑖 +
𝑏 3

… … … … … … …

Figura B.3 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Mohr-Coulomb elastico plástico com endurecimento e amolecimento
MODELO ELASTICO-PLÁSTICO DE CAM-CLAY
Ensaio Drenado

Parâmetros do Modelo:
N
G
k
M 𝜂 2

λ 𝑆𝑒: 𝑝′𝑖 1 + = 𝑝′0


𝑀
Δ𝑝′ Δ𝑝′0
ν=1+e 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝜀𝑣 = 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝑘 + 𝜆−𝑘
𝜐𝑝𝑖−1 𝜐𝑝𝑖−1
ηp Δ𝑞
𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 𝜀𝑠 = 𝜀𝑠𝑖−1 +
3𝐺

p'i qi
107

εs q/p εv p'0 ν
(KPa) (KPa)

Valor no início do
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio 0 Valor no início do ensaio
ensaio

3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 Δ𝑞 Δ𝑝′ 𝜂𝑝 2


𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠 = 𝜀𝑠𝑖−1 + 𝜂𝑖−1 + 𝑑𝜂 𝜀𝑣 = 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝜅 𝑝′𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 1 + 𝜈𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 1 − 𝜀𝑣
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝜐𝑝′𝑖−1 𝑀2

… … … … … … …
Uma vez alcançado o ηp então é alcançada a superfície de cedência

3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 Δ𝑞 2Δ𝜀𝑣 𝜂 Δ𝑝′ Δ𝑝′0 𝜂𝑝 2


𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠 = 𝜀𝑠𝑖−1 + + 𝜂𝑖−1 − 𝑑𝜂 𝜀𝑣 = 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝜅 + 𝜆−𝜅 𝑝′ 1 + 𝜈𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 1 − 𝜀𝑣
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝑀2 + 𝜂2 𝜐𝑝′𝑖−1 𝜐𝑝′𝑖−1 𝑀2

… … … … … … …

Figura B.4 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Cam Clay para solos com comportamento denso
MODELO ELASTICO-PLÁSTICO DE CAM-CLAY
Ensaio Drenado

Parâmetros do Modelo:
N
G
k
M 𝜂 2

λ 𝑆𝑒: 𝑝′𝑖 1 + = 𝑝′0


𝑀
Δ𝑝′ Δ𝑝′0
ν=1+e 𝑒𝑛𝑡ã𝑜 𝜀𝑣 = 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝑘 + 𝜆−𝑘
𝜐𝑝𝑖−1 𝜐𝑝𝑖−1
ηp Δ𝑞
𝑠𝑒 𝑛ã𝑜 𝜀𝑠 = 𝜀𝑠𝑖−1 +
3𝐺

p'i qi
108

εs q/p εv p'0 ν
(KPa) (KPa)
Valor no início do
Valor no início do ensaio Valor no início do ensaio A17/B17 Valor no início do ensaio 0 Valor no início do ensaio
ensaio

… … … … … … …
Uma vez alcançado o ηp então é alcançada a superfície de cedência

3 × 𝑝′𝑖−1 − 𝑞𝑖−1 Δ𝑞 2Δ𝜀𝑣 𝜂 Δ𝑝′ Δ𝑝′0 𝜂𝑝 2


𝑝′𝑖 × 𝜂𝑖 𝜀𝑠 = 𝜀𝑠𝑖−1 + + 𝜂𝑖−1 − 𝑑𝜂 𝜀𝑣 = 𝜀𝑣𝑖−1 + 𝜅 + 𝜆−𝜅 𝑝′ 1 + 𝜈𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 1 − 𝜀𝑣
3 − 𝜂𝑖 3𝐺 𝑀 2 + 𝜂2 𝜐𝑝′𝑖−1 𝜐𝑝′𝑖−1 𝑀2

… … … … … … …

Figura B.5 – Esquema auxiliar à construção do driver para o modelo de Cam Clay para solos com comportamento solto
Apêndice C: Deduçao do modelo Subloading

Função de cedência de Cam-Clay:


qy 2
f (py , q y , pc ) = ( ) − py (pc − py ) (C.1)
M

Propriedades da homototia:

(C.2)

f (σ) = f (σ y ) σ 1
y= R σ

Relação entre as tensões de ambas as superfícies:




 p
1 py =

σ = σ => R (C.3)
R 
 q
q y =

R

Condição de consistência :
df = 0 (C.4)

∂f ∂f ∂f
df = dσ + dχ + dR (C.5)
∂σ ∂χ ∂R

Componente perfeitamente-plástica:
   
   
∂f

   
∂f ∂f ∂σ

 1

 2p

y
 ∂p pc

 1
(C.6)
y
= => =
∂σ ∂σ ∂σ  R  2q R

∂f 
 My2 

  

 ∂q  
y

Componente de endurecimento:
( )( ) ! ( )( )T ( )( )
∂f
dχ = ∂f ∂χ dεp 1= ∂f ∂χ λ ∂g ∂σ (C.7)
∂χ ∂χ ∂εp ∂χ ∂εp ∂σ ∂σ

  T       
( )  ∂pc 
 
∂g
  
2py − pc 
    ( 
) 
  ∂εp 
 
 ∂p 
 1   1
v
(C.8)
y
λ  = λ −py νpc
 ∂f   
 ∂pc  R λ−κ 0  R

2q y
    

 ∂pc 
 
 ∂g   
 

 ∂ε p  ∂q   M2 
s y

 
νpc 1
λ −py (2py − pc ) (C.9)
λ−κ R

109
Componente da evolução da superfície de subloading:
 T    
∂p
     
 ∂f   y
  
p
   ( )  
∂f ∂f ∂σ  ∂p   ∂R
 1  y 
(C.10)
y 2q y
= = = 2py − pc (− )
∂R ∂σ ∂R    ∂q y 
 M2 R 
 ∂f    
  
 ∂q   ∂R   q 

y

y

q
(2py − pc )py + 2( My )2
− (C.11)
R

Evolução da relação de R:
dR = −ulnR||dεp || (C.12)

u é uma constante do material.

Ao contrário do endurecimento da superfície de cedência do modelo de Cam-clay que só cujo


potêncial plástico só depende da variação volumétrica plástica, o endurecimento da superfície
homotética depende de todas as componentes do tensor das tensões, desta forma, o ||dεp || já
não é tão simplificado e é dado por:

r
∂g ∂g ∂g ∂g
p
||dε || = λ =λ + + (C.13)
∂σ ∂σI ∂σII ∂σIII

∂g dg dp dg dq
= + (C.14)
∂σ dp dσ dq dσ

∂g 1 dg dg
= + (C.15a)
∂σI 3 dp dq
∂g ∂g 1 dg 1 dg
= = − (C.15b)
∂σIII ∂σII 3 dp 2 dq

em que:

∂p 1
= (C.16a)
∂σI 3
∂p 1
= (C.16b)
∂σII 3

3 (p + 23 q) − p
r
∂q ∂q ∂s ∂σ 3 σI − p
= = q = =1 (C.16c)
∂σI ∂s ∂σ ∂σI 2 2
q 2 q
3

3 (p + 23 q) − p
r
∂q ∂q ∂s ∂σ 3 σI − p 1
= = q = =− (C.16d)
∂σII ∂s ∂σ ∂σII 2 2
q 2 q 2
3

s  
2  2
∂g 3 dg 1 dg dg 1 dg
= − + (C.17)
∂σ 2 dq 3 dp dq 3 dp

110
Multiplicador Plástico :
 T
∂f
∂σ D
λ=  T     T     dε (C.18)
∂f ∂g ∂f ∂χ ∂g ∂f ∂g
∂σ D ∂σ − ∂χ ∂εp ∂σ − ∂R ulnR|| ∂σ ||

Numerador
   
T ) νpy 
 (2p y −p c )νp

y

0
 ( 
∂f 1 
 κ 1  κ

D= 2q y
= (C.19)

∂σ R 2py − pc M2

 R 6q y G
  

0 3G 
 M2

Primeira componente do denominador


 
 T !T   ( )
 
2p − p 

∂f ∂g 1  y c
D = (2py −pc )νpy 6q y G (C.20)
∂σ ∂σ R κ M2 
 2q y


 
M2
 

!
1 (2py − pc )2 νpy 12q 2y G
+ (C.21)
R κ M4

Segunda componente do denominador


( )( )T ( )( )  
νpc 1
∂f ∂χ ∂g ∂σ = py (2py − pc ) (C.22)
∂χ ∂εp ∂σ ∂σ λ−κ R

Terceira componente do denominador

 
∂f ∂g
ulnR|| || (C.23)
∂R ∂σ

q ! s   
2  2
(2py − pc )py + 2( My )2
− ulnR 3 dg −
1 dg dg 1 dg 
+ (C.24)
R 2 dq 3 dp dq 3 dp

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