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Cláudia Pinheiro
Julho 2006
Introdução
O título – Sentir (-se bem), a permissão dos sentidos – sintetiza a ideia base, o
fio condutor deste Trabalho Final do Curso de Massagem Biodinâmica.
Cada vez mais se reconhecem as aptidões sensoriais do feto, já que têm vindo
a ser confirmadas por diversos estudos científicos realizados nas últimas
décadas: ele recebe informações através de todos os sentidos, reage a essas
informações e memoriza-as. Estas percepções estimulam e afinam o
desenvolvimento dos órgãos dos sentidos e o cérebro, e constituem também
aquisições precoces que favorecerão o despertar e a adaptação da criança ao
mundo.
Segundo Eva Reich existe uma dimensão espiritual no toque quando aplicado
à prática da massagem do bebé. Segundo esta pediatra e psicoterapeuta a
massagem do bebé oferece aos pais a possibilidade de entender e apoiar o
suave processo da livre pulsação Bioenergética do seu bebé. Deste processo
depende a capacidade de auto-regulação da saúde presente e futura da
criança.
Na década de vinte nos Estados Unidos a taxa de mortalidade para bebés com
menos de um ano em diversas instituições e orfanatos era muito próxima dos
cem por cento. O Dr. Fritz Talbot, de Boston, lançou a ideia do "Cuidado Terno
e Amoroso" que surgiu após uma visita a uma clínica de crianças em
Dusseldorf, depois da Segunda Gerra Mundial. Talbot ficou muito
impressionado com o método que era usado, com muito sucesso para a
recuperação de crianças que não respondiam aos tratamentos médicos.
Apesar da clínica manter um determinado padrão de higiene e beleza, aquelas
crianças eram entregues aos cuidados de uma ama, que cuidava delas com
carinho mantendo-as próximas do seu corpo.
Em pesquisas realizadas nos anos seguintes, tornou-se evidente que a causa
de alta mortalidade infantil estava relacionada com a falta de amor e de toque
das crianças órfãs, mesmo que se tivessem superado as dificuldades de
privação material.
O facto de um terço dos bebés prematuros e com baixo peso, que no mundo
correspondem a vinte milhões de nascimentos por ano, morrer antes de
completar um ano de vida, levou muitos estudiosos a pesquisas e discussões
permanentes. Um modelo eficaz de atendimento a estes bebés, que se
denominou de método “Mãe Canguru, assenta no contacto da pele do bebé
prematuro com a pele da sua mãe. O recém-nascido é retirado da incubadora e
permanece ao colo da mãe, com a cabeça encostada ao seu coração.
Observou-se que este procedimento favorece os batimentos cardíacos, a
temperatura e a respiração do bebé, além de mantê-lo inclinado, impedindo o
refluxo do alimento para o pulmão. Ao permitir um maior contacto com a mãe
vai ainda promover o aleitamento materno.
Foi a partir da época dos romanos que, como explica Michel Odent, a evolução
humana enveredou por uma estratégia básica para a sobrevivência que
consistia em dominar a Natureza e dominar outros grupos humanos, havendo
vantagem em tornar os seres humanos mais agressivos e capazes de destruir
a vida. Nessa fase, que dura até aos nossos dias (que podemos chamar de
patriarcal), houve vantagem em moderar a capacidade de amar, incluindo o
amor à Natureza, ou seja, o respeito pela Mãe Terra.
Jean Shinoda Bolen (1995) descreve deste modo como admite que, apesar da
repressão, a memória da Deusa-Mãe ainda perdura:
“Uma mulher não tem que ser uma mãe biológica para se tornar
numa iniciada na faceta maternal da Deusa: isso vem-lhe da sua
natureza materna encarnada e feminina – por meio da qual sente o
seu parentesco com as mulheres, os animais, e a Natureza. A psique
reside-lhe no corpo e a sabedoria brota-lhe de um conhecimento
instintivo de como usar as mãos e o corpo para mitigar, confortar ou
A gente não lê
Ai Senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
E rezar a Deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino nas mãos
Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais
E do resto entender mal
Soletrar, assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz
Ai Senhor das furnas
Que escuro vai dentro de nós
Agente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezíria
De boca em boca passando o saber
Com os provérbios que ficam na gíria
De que nos vale essa pureza
Sem ler fica-se pedreneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entende-los à nossa maneira
Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
Mas não negar a tradição
Que dos nossos avós já vem
De Carlos Tê e Rui Veloso, cantado por Isabel Silvestre.
afirma Sukie Colegrave no seu livro Unindo o Céu e a Terra, citando Karl
Gustav Jung. Esta curta definição do princípio feminino é muito coincidente
com a descrição da “atitude Biodinâmica”, do massagista para com o cliente.
Num mundo ideal, a nossa mãe é o protótipo da pessoa com quem nos
sentimos seguros sem nos sentirmos observados nem julgados. É sinónimo de
necessidade primária e de conforto do domínio terreno, encarnado, emocional
e instintivo.
Criar um vínculo seguro com o bebé, amando-o e respeitando-o, como um ser
completo e consciente, representa o Amor Fundamental que o vai beneficiar
para toda a sua vida futura. Os gestos de ternura, estabelecidos através do
toque corporal, desde a concepção, proporcionaram ao indivíduo um
desenvolvimento mais completo, mais humano.