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"Viciei-me na adrenalina dos graffiti"

Foi preso por pintar nas ruas antes de se tornar uma referência mundial. Ia mudar o chão da 24
de Julho, em Lisboa, mas as coisas acabaram por não correr bem...

Esteve em Portugal a convite da iniciativa Pop Up Lisboa 2010 e preparava-se para deixar a
sua marca na Av. 24 de Julho: ia lá pintar no chão um ladrilhador a colocar azulejos.

No último momento foi-lhe recusada a autorização mas o artista não quis voltar para o Canadá
sem deixar qualquer sinal em Portugal. Enquanto a SÁBADO acompanhou a evolução do seu
trabalho nas paredes do parque de estacionamento do Carmo, no Chiado, Peter Gibson,
conhecido por Roadsworth, comemorou o 37.° aniversário com champanhe e pastéis de nata
entre os carros e explicou como passou de rapaz que queria ser músico a um dos artistas de
rua mais conceituados do mundo.

- O que aconteceu para lhe ser recusada a autorização para pintar no chão da Avenida 24
de Julho, em cima da hora?

- É uma grande frustração para mim e para o Phil [ Phil Allard, escultor canadiano que esteve
em Lisboa a ajudar Roadsworth] porque passámos quatro dias a observar a cidade para
incluirmos no nosso trabalho elementos tipicamente portugueses, como os azulejos. Foi pedida
a autorização e quando chegámos apresentámos um projecto à câmara de Lisboa. Talvez não
tenha havido tempo suficiente ou então não gostaram...

- O que vai fazer com a peça que tinha prevista para


Lisboa?

- Deixo-a cá para, numa próxima oportunidade,


regressar a Portugal e terminar de facto o trabalho. É
uma peça com elementos portugueses, só faz sentido
aqui.

-E como surgiu a ideia para o projecto do parque de


estacionamento do Carmo?

- Foi a alternativa encontrada para não sairmos de Lisboa sem deixarmos nada. Não é fácil ter
uma ideia para um espaço que nem sequer estava nos planos. Fizemos um prolongamento da
canalização que já aqui estava e que faz uma alusão ao derramamento de petróleo. Em todos
os trabalhos tento sempre transmitir algumas das minhas preocupações ambientais.

- É conhecido por Roadsworth. Porque escolheu este nome?

- É uma espécie de jogo de palavras. Literalmente, significa o valor que se encontra nas ruas,
na estrada, mas é também uma homenagem a um artista que me inspirou desde muito cedo:
Andy Goldsworthy. É uma referência ao seu nome. Mas há uma terceira interpretação: é um
nome reminescente de Wordsworth, o poeta, porque considero aquilo que faço como uma
espécie de poesia, só que recorrendo a imagens e figuras.
- Em criança, pintava as paredes em casa?

- Não exactamente. Desenhava e pintava muito mas nunca o fiz com qualquer espécie de
seriedade. Estava mais virado para a música. Em criança, fui apanhado pelo director da escola
a fazer o meu primeiro graffito. Fui suspenso por causa disso. Estava a tentar vingar-me de
alguém que tinha sido mau para mim. Não me lembro do que era. Mas para mim isso é o
graffito, é como o faço agora. Não para dizer mal mas para expressar a minha insatisfação com
alguma coisa.

- O que fez até aos 25 anos, altura em que começou a fazer graffiti?

- Tocava piano, ainda toco. Queria mesmo seguir a carreira de músico, tentar algo diferente -
provavelmente sentia-me frustrado. Por isso, comecei a meter-me na arte visual. Já tinha visto
tantos graffiti que pensei que tinha de haver uma abordagem mais inteligente e diferente. Em
Montreal, há 10 anos, só se via graffiti por todo o lado.

- Foi então que descobri Andy Goldsworthy, que me inspirou. Ele trabalha com a natureza, com
os elementos mais naturais. Eu queria fazer algo assim mas num ambiente urbano.

- Lembra-se do seu primeiro graffito?

- Foi uma bicicleta, porque naquela altura queria ver mais ciclovias em Montreal. Queria marcar
a minha posição.

- Como se sentiu quando viu o seu primeiro trabalho acabado?

- Foi excitante sentir que tinha expressado uma mensagem e ao mesmo tempo assustador
porque nunca antes tinha violado a lei. O meu coração batia acelerado. Foi por volta de 2001
que comecei a entrar nesta onda. Depois do 11 de Setembro, havia uma atmosfera pesada,
sobretudo na América do Norte. Pareceu-me ser uma boa altura para me fazer ouvir: para mim,
toda a hipocrisia da América do Norte estava a vir à tona. Queria chamar a atenção para isso.

- O seu primeiro graffito foi planeado ou feito num impulso?

- Acho que a ideia já andava a germinar há algum tempo. Estava ansioso por fazer algo
diferente. Não me lembro de uma noite em particular em que tenha pensado: "Eis uma
oportunidade!" Fi-lo simplesmente. Lentamente viciei-me na adrenalina dos graffiti, na voz de
denúncia que têm.

- Quando o seu trabalho começou a espalhar-se pela cidade, houve mistério em torno do
autor?

- Sim. A minha família não sabia, mas tinha amigos que até foram comigo algumas noites. O
mistério também era uma das partes excitantes. Eu sabia que as pessoas andavam a falar
sobre os meus graffiti. Mas quanto mais as pessoas falavam mais eu ficava nervoso. Antes de
ter sido preso, havia pessoas que chegavam ao pé de mim e me perguntavam se eu era o tipo
dos graffiti e eu dizia que não. Mas sou um mau mentiroso e ficava embaraçado por estar a
mentir. Depois fui preso e o segredo foi descoberto.

- Como é que foi preso?

- Estava sozinho a pintar numa rua e fui interpelado por uns polícias. Eles não me tinham visto
a pintar, mas era óbvio: eu estava sujo de tinta. Tinha sprays na mochila, por isso inventei uma
desculpa. Disselhes que era um artista, que tinha estado no estúdio a pintar até tarde e que
andava a passear. Deixaram-me seguir e pensei que estava safo. Mais à frente, outros polícias
tinham um mandado para me prenderem e um dossiê inteiro sobre mim. Meteram-me na
cadeia, revistaram o meu apartamento, apreenderam o meu computador e todas as minhas
imagens e cadernos de esboços.
- Quanto tempo ficou na cadeia?

- Só lá estive 24 horas. A medida de coacção não me permitia sair da cidade nem ir a algumas
zonas, uma área bem grande, onde tinha feito a maioria do meu trabalho.

- Nessa altura o que fazia?

- Trabalhava num restaurante. Mas depois comecei a receber cada vez mais encomendas e
tenho-me sustentado assim.

- A prisão mudou a sua vida?

- De que maneira! Quando saí da prisão, andei muito nervoso mas depois comecei a receber
telefonemas de jornalistas. Nunca tinha passado por essa experiência e apercebi-me de que
havia uma comunidade que me estava a apoiar e isso era muito positivo. Os jornais saíram em
minha defesa. As pessoas chegaram mesmo a fazer uma petição, enviaram uma carta ao
presidente da câmara. Foi espantoso!

- Passou de criminoso a celebridade.

- Estava a dar em doido, com as encomendas do Cirque du Soleil, da própria câmara de


Montreal. Era surreal, passar de criminoso a alguém que recebia pedidos de trabalhos e,
atenção, por causa das mesmas coisas que me tinham levado à cadeia.

Conheci o polícia que tinha andado pela cidade a documentar tudo o que eu fazia, a tirar
fotografias. Ele não parava de me dar os parabéns! Na noite em que fui preso, na esquadra
perguntavam: "És tu o gajo que faz estas coisas? Adoro isto!"

- Durante quanto tempo esteve sujeito a essas medidas de coacção?

- Dois anos. Mas ao longo desse tempo estive, de facto, a trabalhar. Até cheguei a fazer um
trabalho na rua para o qual a câmara me deu autorização expressa, antes de ser julgado. Foi
bizarro! O meu advogado alertou-me: "Se eles te dão uma licença para fazer isto não te podem
condenar." Acabei por ter de fazer 40 horas de serviço comunitário - tive de pintar o recreio de
uma escola - e pagar 500 dólares [400 euros ] de multa.

- Fora do Canadá faz trabalhos encomendados?

- Normalmente, o que me traz a um país estrangeiro é um trabalho qualquer e, por regra, ao


mesmo tempo tento fazer sempre algo por minha conta, também. Já estive em França,
Alemanha, Espanha e Polónia. Sempre sem dormir. Em Barcelona não dormi durante quatro
dias. Foi uma loucura! No final já estava a

- Que tipo de materiais usa?

- Uso muitas vezes cartão, fita-cola e muita tinta. Mas evito os sprays, prefiro usar É uma coisa
que consome muito tempo. No asfalto, uso muitas vezes rolos e tinta.

- Do que viu em Lisboa, o que gostaria de mudar?

- Acho que vos dava jeito mais ciclovias e seria simpático ver restaurados os prédios
maravilhosos que estão em ruínas.

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