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INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CUIABÁ – MT
2009
1
Cuiabá – MT
2009
2
AGRADECIMENTOS E DEDICATÓRIA
A minha família pela força sempre e por ser esta rocha sólida onde se
consolida minha educação, sonhos, apoio e amor.
RESUMO
ABSTRACT
The Popular Environmental Education can contribute with the black slave’s
descendants called “quilombo” establishing connection through research processes
and militancy by means of the dialogue among many educations which can happen
under collective process. Based upon Sociopoetic and phenomenological
methodologies, the Popular Environmental Education of this work has as objective to
approach three connected dimensions in the construction of this research: a) an
ethical field of the citizen, in the Axiom of my identity while pedagogic and
environmental educator; b) one brief conceptual dimension of the course of the
pedagogy, Episteme – collective learning with the OTHER; and c) an empirical
experience of the educations (liberatory, quilombola and environmental) in the
context of environmental justice in Mata Cavalo, configuring itself as praxis -
WORLD. Daring to exceed the hegemonic education, the inventive way aims to
acomplish the liberatory hopes in the proposal of the counterpedagogy. By means of
phenomenological and socipoetic immersion, the Mata Cavalo’s quilombo is scenery
that plays the collective learning of Research Group in Environmental Education
(GPEA). Recognizing that the local particularities are linked with diverse looks, of the
researcher, and the other colleagues of the learning community, the research
supports that the collective learning can become an Environmental
Counterpedagogy, hence unmasks the hegemony of the fixed proposal, transforming
the cultural right to dream to the Earth for all, through social inclusion, cultural
differences and environmental protection.
SUMÁRIO
V. MOVIMENTOS METODOLÓGICOS
educação, que poderia ser considerada como progressista, ainda que naquele
momento houvesse muitas incertezas conceituais e significando apenas o começo
da caminhada.
Estudando, discutindo e nos organizando, procurávamos realizar ações
dentro da faculdade, sempre voltadas para a Educação Popular. Projetos como: a
Semana do Pedagogo, com diversas oficinas e seminários; Criança na
Universidade, ocasião em que várias atividades de recreação, lazer e oficinas eram
realizadas para as crianças do "Projeto Rádio Favela". O último projeto foi muito
importante porque nos mostrou a realidade de crianças da periferia de Belo
Horizonte e o questionamento sobre como nós, enquanto educadores,
prepararíamos para enfrentar estes desafios educacionais.
Embasados na Pedagogia de Paulo Freire além de outros autores
Progressistas, que segundo Gadotti (1995, pág.8) o pensamento pedagógico
progressista se propõe a "análise do sistema capitalista". A atitude anarquista do
"faça você mesmo" também estava presente nas nossas atitudes. O enfrentamento
contra o diretório acadêmico que se engessava na burocracia e não possibilitava
espaços e oportunidades de aprendizado coletivo também foram importantes. O
grupo era bem diversificado, na maioria estudantes, trabalhadores, em que negros,
religiosos, ativistas e portadores de necessidades especiais reuniam- se para: fazer,
estudar, discutir, o que intitulávamos de Antipedagogia.
Mesmo não fundamentando epistemologicamente a Antipedagogia, esta
representava uma atitude contrária perante uma educação excludente e
padronizadora a qual não levava em consideração as singularidades dos sujeitos.
Se a pedagogia proposta era aquela, então queríamos fazer a Antipedagogia.
11
1
Lapso Memorial de um Pedagogo. (SENRA, 2007).
12
2
Optou-se nesta dissertação por manter as duas formas lingüísticas: 1ª pessoa do singular (eu) e 1ª
pessoa do plural (nós), justamente pela construção epistemológica da própria pesquisa, não tendo
como desvincular a relação, do eu enquanto pesquisador e, do nós enquanto grupo pesquisador.
13
3
A expressão escola-comunidade, neste trabalho, é escrita propositalmente com hífem para justificar
a indissociabilidade desta relação em Mata Cavalo.
15
4
como "hipóteses” do objetivo. O objetivo da Pesquisa é abordar e interligar as três
dimensões: Axiológica, Epistemológica e Práxis. Sendo que:
- A Dimensão Axiológica: está estruturada na minha identidade, de militância, na
maneira política de transformação. Configurando-se no trabalho como o capítulo os
movimentos pedagógicos, na denúncia de uma pedagogia tradicional, burguesa e
excludente, para depois anunciar, entre tantas opções, uma contrapedagogia.
- A Dimensão Epistemológica: se funde na construção da pesquisa entre duas
comunidades aprendentes (Grupo Pesquisador em Educação Ambiental – GPEA e
Mata Cavalo). No aprendizado coletivo da Sociopoética e na identidade das teorias e
tendências pedagógicas da educação e da educação ambiental, é que irão justificar
o processo da pesquisa que será explicitada nos capítulos os movimentos
ambientais e indagantes.
- A Dimensão Praxiológica: é observada dentro do curso de Pedagogia e
principalmente no Projeto Mata Cavalo, ocasião em que a educação popular propõe
um curso de formação que envolve o próprio GPEA, os professores, membros da
comunidade e estudantes no mesmo aprendizado; na aliança entre a militância e a
academia, na busca de uma educação libertadora em comunidades biorregionais.
Como pretendemos ir contra uma proposição de educação padronizadora,
tradicional, por meio de um mergulho fenomenológico e sociopoético dentro da
comunidade conseguimos interpretar e evidenciar os objetivos desta pesquisa;
sabendo que as especificidades locais estarão interligadas com o olhar do
pesquisador, assim como com os diversos olhares dos moradores e dos demais
pesquisadores. Corroborando assim, para muito além de um grupo que pesquisa
junto, o grupo pesquisador considera a aprendizagem e a participação de maneira
coletiva, a exemplo desta pesquisa.
4
Por ser uma pesquisa fenomenológica, hipótese está entre aspas, porque não tenho a intenção de
comprovar nada, apenas de compreender e interpretar o meu olhar fenomenológico sobre o processo
da pesquisa.
16
foto: R.Senra
5
SATO, Michèle. Fascículo de Educação Ambiental. GPEA/PPGE/UFMT, ano 2008, n.1. Grupo
Pesquisador em Educação Ambiental – GPEA; Projeto: Territórios e Temporalidades de Mata Cavalo
– FAPEMAT; Apoio: Juizado de Meio Ambiente – JUVAM (Em anexo).
17
Foto:R.Senra
6
Laudo Pericial Histórico-Antropológico: Comunidade Negra de Mata Cavalos. Drª Edir Pina de
Barros (Antropóloga/Perita). Processo nº 2002.36.00.00.6620-8/ 2ª Vara JFMT.
7
Muxirum eram os mutirões que os moradores da comunidade faziam para cultivar as roças, cada dia
em uma roça e sempre com as tarefas bem divididas e em conjunto.
18
A área sempre teve conflito por terra e inúmeras vezes houve tentativas de
tomada da terra dos quilombolas, por fazendeiros e pela elite local. Segundo os
mesmos autores, em 1890 houve uma tentativa, a qual não se realizou, de se
"expropriar o grupo negro de Mata Cavalos, que sobreviveu íntegro pelo menos até
a década de 1930" (p.51).
8
Laudo Pericial Histórico-Antropológico: Comunidade Negra de Mata Cavalos. Drª Edir Pina de
Barros (Antropóloga/Perita). Processo nº 2002.36.00.00.6620-8/ 2ª Vara JFMT.
19
9
Reportagem: Resistência se chama Mata Cavalo. Por Leonardo Gregianin 24/05/2003. Acessado
em: www.midiaindependente.org.br
20
Foto:R.Senra
Vale ressaltar que hoje uma das associações bem articuladas de Mata Cavalo
é a da Comunidade de Mata Cavalo de Baixo, tendo a Professora Gonçalina como
liderança. Na Comunidade de Mutuca a família da Rosa Domingas foi uma das
poucas que resistiram as inúmeras invasões e ameaças de fazendeiros e jagunços.
Inicialmente esta vivência empírica estava focada somente na Escola São
Benedito, contudo a interferencialidade não foi descartada da pesquisa, assim,
abordamos ambas as escolas porque durante o processo houve uma junção das
duas instituições. Ou seja, a Escola São Benedito, que é municipal, teve que se
juntar com a Escola Rosa Domingas, que é estadual e uma extensão de uma escola
do Município de Livramento, para que as aulas no quilombo não ficassem
prejudicadas. Esta junção só foi possível porque em Mata Cavalo de Baixo, onde se
localiza a Escola São Benedito, já estão sendo construídos os primeiros alicerces e
pilares onde será a sede da associação e o espaço da instituição escolar,
juntamente com o Tele-Centro (biblioteca, sala de computadores e rádio
comunitária).
Mesmo sendo relatado por algumas moradoras de Mata Cavalo de Baixo, que
os "alunos têm resistência em estudar na Escola Rosa Domingas", estes rearranjos
são necessários para a própria sobrevivência e fortalecimento das escolas nas
comunidades. De acordo com informações da Coordenadora da escola, ela está
funcionando da pré-escola até o ensino médio e com a Educação de Jovens e
Adultos. Atualmente a escola possui cerca de oito professoras, sendo que seis delas
21
10
Estarei nesta pesquisa nomeando a maioria dos sujeitos entrevistados por causa dos pressupostos
teórico-pedagógicos da Pedagogia de Paulo Freire, e por causa da solicitação da própria comunidade
de Mata Cavalo, que compreende que cada vez que suas vozes e indignações são divulgadas a luta
quilombola se fortalece.
22
11
Alves, Rubem. Escola da Ponte. IN: Correio Popular, Caderno C, 14/05/2000 – (publicada
originalmente com o título: Quero uma escola retrógrada). Disponível em:
http://www.rubemalves.com.br/escoladaponte1.htm
26
12
Texto: Idade Média, autoria desconhecida.
28
13
http://www.youtube.com/watch?v=M_bvT-DGcWw
29
14
http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb07a.htm
31
que segundo Sato15 haja uma “gestação educativa”, na qual já não há mais um que
ensina e outro que aprende, mas sim uma sustentabilidade educativa e ambiental,
em que todos e todas apreendam a re-olhar e re-significar o mundo que é nosso, é
dos animais, das plantas, é dos seres, é dele mesmo.
15
SATO, Michèle [Coordª]. Programa de Formação em Educação Ambiental – ProFEAP. Coletivo
Educador Cuiabá – CEC.
38
16
SCHILLING, Voltaire. Mundo: 1 9 6 8: A Revolução Inesperada. Acessado em 26 de dezembro de
2006 em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/1968.htm
41
17
SENRA, Ronaldo E. F. & SATO, Michèle. Projetos Ambientais Escolares Comunitários Como
Forma de Resignificação da Realidade Escolar. IN: Encontro de Pesquisa em Educação da Região
Centro-Oeste. CD-ROM do 8º Encontro de Pesquisa em Educação da Região Centro-Oeste / Cuiabá:
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), 2006.
42
18
Texto apresentado na disciplina Seminário Temático II do mestrado, autores: SENRA, Ronaldo;
CASTRO, Edward B.; PERUARE, Marileia Taiua de O.; SOBRINHO, Luciano M.; AZEVEDO, Aluízio
de S. Júnior ; SATO, Michèle.
19
Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb07a.htm.
43
com forte influência da Escola Nova, como uma das primeiras reformulações na
educação do Brasil. Sobre a Escola Nova Beane & Apple (1997) fazem alguns
questionamentos que remontam justamente a impossibilidade de negar a influência
da mesma na educação contemporânea.
Como desconectar a ênfase na organização de grupos heterogêneos,
defendida por tantos grupos contemporâneos, da luta mais longa do
movimento pelos direitos civis? Será que as políticas "corretamente
desenvolvidas" são uma invenção recente, ou remontam às escolas
progressistas centradas na criança, fundadas no começo deste século? Hoje
em dia, quando falarmos de aprendizagem cooperativa, estaremos
simplesmente ignorando o processo de trabalho de um grupo cooperativo
feito nas escolas e comunidades como parte dos movimentos democráticos
que começaram na década de 1920? Como podemos parecer desorientados
quanto às formas de ligar as escolas e as suas comunidades quando tantas
histórias de projetos de serviços importantes podem ser encontrados na
literatura profissional dos últimos sessenta anos, pelo menos? (BEANE &
APPLE, 1997, p.13).
educação de acordo com Freire, muito mais do que se preocupar com o para
alguma coisa, deve se questionar para quem estamos educando.
O próprio conceito de desenvolvimento sustentável está muito ligado à
questão econômica e aos interesses de países desenvolvidos que consideram o
ambiente como recursos naturais, mercadorias dentro da lógica do capitalismo.
Um dos focos privilegiados da crítica ao modelo de desenvolvimento
econômico dominante é a contradição existente entre uma proposta de
desenvolvimento ilimitado a partir de uma base de recursos finita. Esta
contradição básica tem sido analisada de diversas perspectivas, todas elas
evidenciando a insustentabilidade da proposta a longo prazo (LIMA,1997 ,
p.4).
Nesse sentido, tecendo uma rede costurada pelos marcos legais das políticas
públicas em Educação Ambiental em nível nacional e estadual, procurou-se
entrelaçar: a Lei nº 9.795/99 (BRASIL, 1999) que estabelece a Política Nacional
sobre a Educação Ambiental, passando pelo Programa Nacional de Educação
Ambiental – ProNEA onde "suas ações destinam-se a assegurar, no âmbito
educativo, a integração equilibrada das múltiplas dimensões da sustentabilidade -
20
ambiental, social, ética, cultural, econômica, espacial e política” e com os
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN que:
Constituem-se em um referencial para fomentar a reflexão tanto sobre o que
couber na planificação do currículo à dimensão nacional quanto sobre o que
couber aos currículos estaduais e municipais. Sua função é orientar e
garantir a coerência das políticas de melhoria da qualidade de ensino,
socializando discussões, pesquisas e recomendações, subsidiando a
participação (...) configuram uma proposta flexível, a ser concretizada nas
decisões regionais e locais sobre currículos e sobre programas de
transformação da realidade educacional empreendidos pelas autoridades
governamentais, pelas escolas e pelos professores (BRASIL, 1996, p.2).
20
Arquivo em pdf, do Programa Nacional de Educação Ambiental-PRONEA, Brasília, 2003. Acessado
em: http://portal.mec.gov.br/secad.
49
21
a Educação ambiental através do ensino formal” , contemplando o ambiente
escolar como um todo na medida em que estimula, enquanto estratégia, parcerias
com projetos voltados para a Educação Básica.
Uma das vivências de tal estratégia é o Projeto “Vamos Cuidar do Brasil com
as Escolas” que é o projeto para fomentar as Conferências Infanto-Juvenis de Meio
Ambiente nas escolas de todo país. Uma continuidade deste projeto foi à criação de
Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida – Com-Vida nas escolas. Com o
objetivo de "contribuir para um dia-a-dia participativo, democrático, animado e
saudável na escola" (BRASIL, 2004, p.9) enquanto forma de envolvimento da
comunidade escolar no processo de construção de Conferências cujos temas
estejam relacionados com a questão ambiental.
Um dos objetivos principais do projeto “Vamos Cuidar do Brasil com as
Escolas” (BRASÍLIA, 2007) é proporcionar em cada escola, de acordo com sua
realidade local, debates e discussões sobre questões relacionadas ao meio
ambiente, com formato de pré-conferências, onde são eleitos representantes dos
segmentos de estudantes, membros da comunidade e professores, para que os
mesmos discutam e defendam as idéias emanadas de suas bases. Dessa forma,
estaria criando mecanismos para representatividades em todas as instâncias de
construção de Conferências com abrangência municipal, estadual, nacional,
internacional e, conseqüentemente, garantindo a participação da sociedade na
construção de políticas públicas que atendam às demandas apresentadas nesse
espaço de diálogos criado com o Governo.
Se por um lado foi e está sendo extremamente positiva a participação dessas
escolas no processo e nas discussões de princípios para o estabelecimento de
políticas públicas sobre o meio ambiente, o que se percebe é que, para além de
atividades pontuais, faz-se necessário uma luta diária para que a Educação
Ambiental Escolarizada seja efetivamente uma realidade permanente e contínua.
Nesse sentido a participação e o comprometimento de toda comunidade escolar é
fundamental para a superação dos obstáculos postos, na garantia de um trabalho
efetivo de Educação Ambiental nas escolas.
Outro fator que pode contribuir para a continuidade de projetos de Educação
Ambiental Escolarizada é o fortalecimento dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente -
21
Arquivo em pdf, do Programa Nacional de Educação Ambiental-PRONEA, Brasília, 2003. Acessado
em: http://portal.mec.gov.br/secad
50
22
GALLO, Silvio. Conhecimento, transversalidade e educação: para além da interdisciplinaridade.
Disponível em: http://www.cedap.assis.unesp.br/cantolibertario/textos/0119.html
51
tais projetos na escola, seus objetivos, suas funções, seus embasamentos teórico-
práticos, metodologias, concepções.
Então, partindo do significado de Projeto ou "Projecto: plano, intento,
empreendimento" (BUENO, 1992), é que podemos inicialmente fazer uma distinção
entre: uma Pedagogia de Projetos, Projetos na Escola (Projetos de Trabalho) e os
Projetos Ambientais Escolares Comunitários - PAEC.
A Pedagogia de Projetos, os Projetos de Trabalho e os Projetos Ambientais
Escolares Comunitários – PAEC, todas estas concepções irão influenciar nos
aspectos pedagógicos e também nos aspectos políticos do processo educacional.
Por partir de uma concepção de educação crítica, que não vê dicotomia entre as
dimensões políticas e pedagógicas na educação, é que pretendemos nomear o
campo de ação destes tipos de projetos e destes aspectos.
Se o Projeto Político-Pedagógico é entendido como "a própria organização do
trabalho pedagógico" (VEIGA, 1995, p.22) e que apesar do termo se popularizar no
discurso educacional, Santiago (1995, p.163) observa que:
Nas práticas pedagógicas, que o esforço dos educadores no sentido de
conduzir propostas que identifiquem a escola como espaço de exercício da
cidadania (...) nem sempre tem conseguido superar a dicotomia entre as
dimensões política e pedagógica.
23
PETIT, Sandra Haydée. Sociopoética: potencializando a dimensão poética da pesquisa. FACED,
UFC. Arquivo em pdf.
60
24
Projeto: "Territorialidade e temporalidade da Comunidade Quilombola Mata Cavalo". Coord:
Michèle Sato & Michelle Jaber. Financiamento: Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado de Mato
Grosso - FAPEMAT.
63
25
Acessado em: http://www.cpcd.org.br/
64
Por meio da conexão entre estas três dimensões (já citadas brevemente no
tópico 1.3): Axiológica, Epistemológica e Práxis, o objetivo da pesquisa é abordar os
temas relevantes do processo investigativo que constituem essas dimensões, sendo
que:
- A Dimensão Axiológica: está estruturada na minha identidade, de militância, no
sentido político de transformação. Configurando-se no trabalho por meio do capítulo
os movimentos pedagógicos, na denúncia de uma pedagogia tradicional, burguesa e
excludente, para depois anunciar entre tantas opções, uma Contrapedagogia.
- A Dimensão Epistemológica: se funde na construção da pesquisa entre duas
comunidades aprendentes (GPEA e Mata Cavalo). No aprendizado coletivo da
Sociopoética, e na identidade das teorias e tendências pedagógicas da educação e
da educação ambiental, é que irão justificar o processo da pesquisa, a partir dos
capítulos os movimentos ambientais e indagantes.
- A Dimensão Praxiológica; é observada na vivência dentro do curso de Pedagogia
e, principalmente, no Projeto Mata Cavalo, onde a educação popular propõe um
curso de formação que envolve o próprio Grupo Pesquisador em Educação
Ambiental, os professores, membros da comunidade e estudantes no mesmo
aprendizado, na aliança entre a militância e a academia, a busca por uma educação
libertadora em comunidades biorregionais.
Alguns elementos essenciais à pesquisa como: elementos de resistência a
Educação Ambiental Popular e a Educação Quilombola estão contribuindo para uma
re-significação dos currículos (da escola e da vida); construção de Projetos
Ambientais Escolares Comunitários- PAEC; a construção de um currículo
fenomenológico. São também temas que estarão inseridos nas duas vivências
(curso de pedagogia e curso do Projeto Mata Cavalo) e, enquanto aprendizagens
coletivas podem se tornar uma Contrapedagogia propositiva para a emancipação de
comunidades biorregionais e excluídas como as comunidades quilombolas.
Ao Interpretar sobre estes elementos essenciais à pesquisa, não pretendo
constatar quantitativamente ou diagnosticar o grau educacional das escolas de Mata
Cavalo, mas fundamentalmente poder lançar um olhar fenomenológico sobre o
65
V. MOVIMENTOS METODOLÓGICOS
5.1. O Grupo Pesquisador em Educação Ambiental – GPEA
Segundo a líder do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental
[GPEA], as metas investigativas não estão dissociadas de um
conjunto de compromisso político do movimento ecologista, nem do
processo formativo. Abarcando dimensões de múltiplas áreas do
conhecimento, acolhe as ciências no diálogo aberto com a arte e com
a subjetividade humana. Atuando tanto nos espaços da educação
ambiental escolarizada como popular, diversos projetos de pesquisa e
parte da produção científica da equipe estão disponíveis no website
[www.ufmt.br/gpea] 26
26
Dados fornecidos via e-mail, pela Profª Michèle Sato.
67
27
PETIT, Sandra Haydée. Sociopoética: potencializando a dimensão poiética da pesquisa. FACED,
UFC. Arquivo em pdf.
68
29
Por ser uma comunidade, de descendentes para "resistentes” , excluída e
com grandes injustiças socioambientais, é que pretendemos ousar uma educação
diferenciada: a construção coletiva de "círculos de aprendizagens socioambientais"
no Quilombo de Mata Cavalo.
A Fenomenologia tem seu postulado básico na noção de intencionalidade,
onde toda consciência tende para o mundo, é consciência de alguma coisa.
Abordando os objetos do conhecimento tais como aparecem, o olhar do ser humano
sobre o mundo é o ato pelo qual o homem experiencia o mundo, percebendo,
imaginando, julgando, amando, temendo, etc.; é a filosofia da vivência (ARANHA,
1993).
Segundo Chauí (1997) perceber é uma relação do sujeito com o mundo
exterior, estando o mundo percebido qualitativamente e significativamente, o sujeito,
sendo ativo neste mundo, dá às coisas percebidas novos sentidos e novos valores.
A nossa inserção na comunidade de Mata Cavalo ocorre de forma coletiva e
participativa, sempre no pressuposto do PROFEAP, que preconiza o conceito de
28
SATO, Michèle [Coordª]. Programa de Formação em Educação Ambiental - ProFEAP
Coletivo Educador Cuiabá – CEC.
29
Termo utilizado por algumas comunidades quilombolas, já que o termo quilombola era
desconhecido e também assumido aqui para demonstrar o caráter de resistência e de luta destas
comunidades.
71
30
Oliveira Jr, Samuel B.; Oliveira, Herman H.; Acco, Graciela C. B. Saberes Quilombolas. In: Fascículo
de Educação Ambiental. GPEA/PPGE/UFMT, ano 2008, n3. Grupo Pesquisador em Educação
Ambiental – GPEA; Projeto: Territórios e Temporalidades de Mata Cavalo – FAPEMAT; Apoio:
Juizado de Meio Ambiente – JUVAM (Em anexo).
76
31
Este programa de formação é parte do Projeto: "Territorialidade e temporalidade da
Comunidade Quilombola Mata Cavalo". Coord: Michèle Sato & Michelle Jaber. Financiamento:
Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado de Mato Grosso - FAPEMAT.
77
fundamental importância, Freire (2000, p.67) afirma: "se a educação sozinha não
transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda".
Outra entrevistada, sabendo dessa função de transformação, revela que:
"depende, do comprometimento do aluno, professor, governo, sociedade, de vários
fatores". Ou seja, a educação até pode não fazer a revolução necessária para a
transformação da sociedade, contudo, esse comprometimento que levará a uma das
modificações possíveis só se realiza por meio de uma Pedagogia do Oprimido, uma
Educação Libertadora. A Coordenadora da escola e líder da associação de Mata
Cavalo de Baixo nos revela que "a partir da escola a luta quilombola se fortalece
mais" (Profª. Gonçalina).
A tarefa progressista é assim estimular e possibilitar, nas circunstancias mais
diferentes, a capacidade de intervenção no mundo, jamais o seu contrário, o
cruzamento de braços em face dos desafios (...) A marcha esperançosa dos
que sabem que mudar é possível (FREIRE, 2000, p.61).
Uma escola para muitos pode simplesmente parecer apenas, uma escola.
Com sua estrutura física, muros, grades, aquele barulho todo das crianças, salas de
aula, cantina, pátio, diretoria, quadra de esportes, algumas árvores e quando muito
uma biblioteca. Talvez essa seja a visão de escola de uma área urbana, mas nas
áreas rurais as escolas são bem diferentes , seja na estrutura física, seja na sua
importância. Uma escola não pode simplesmente ser um "fenômeno" que se
apresenta para nós como uma percepção superficial de sua estrutura.
Fundamentalmente, uma escola deve ter seus múltiplos significados, por isso, na
atualidade educacional se discute tanto o Projeto Político Pedagógico – PPP de
cada escola, onde um dos significados desta estará explicito nas suas propostas e
ações didático-pedagógicas.
83
32
Muxirum eram os mutirões que os moradores da comunidade faziam para cultivar as roças, cada
dia em uma roça e sempre com as tarefas bem divididas e em conjunto.
85
Mas a exclusão não estava somente nas pessoas da cidade em relação aos
quilombolas, o próprio sistema ou não-sistema de educação já excluíam os negros,
certo dia o filho do Sr. Antônio Mulato não foi à escola e estava acuado em um
canto, foi até lá para saber por que o filho não estava indo. Em conversa com o Sr.
Maneco, pessoa com quem tinha "tratado" e resolvido fazer a escola descobre que a
professora só escolheu apenas vinte alunos, "só os filhos dos brancos, porque ela
falou que filho de negro não podia estudar lá” (Sr. Antônio Mulato).
O processo educacional brasileiro, segundo Moreira (1997) em sua
sistematização é muito recente onde em meados dos anos vinte é que vamos ter as
grandes reformas educacionais, visando uma maior centralização do ensino e com a
influência das idéias da Escola Nova. Assim, a tentativa da superação de uma
educação jesuítica vigorando até aquele momento no país é que origina o
pensamento curricular, como outras abordagens educacionais. Principalmente na
Pós-Primeira Guerra Mundial o elitismo do ensino e do currículo é questionado e a
alfabetização dos trabalhadores é vista como instrumento para mudar o poder
político, vale ressaltar que o movimento da Escola Nova não era um grupo
homogêneo e não se caracterizava como uma única abordagem, mas possuía
fatores em comum que foram assim classificados por uma tendência pedagógica.
Com a revolução de 1930 podemos destacar várias modificações no país,
entre elas podemos citar o crescente aumento da classe média e uma maior
necessidade de escolarização, a vinda de imigrantes para o Brasil, a chegada de
idéias socialistas e anarquistas culminando em greves, a industrialização do país e a
centralização da educação com a criação do Ministério da Educação e da Cultura.
Sendo que com o fim do sistema oligárquico e o esvaziamento do regionalismo
redefine-se o papel do Estado (HAIDAR e TANURI, 1998). Com a influência do
movimento da Escola Nova a educação básica foi reivindicada como gratuita e
obrigatória, contudo, na Constituição de 1934, surge como sendo direito de todos,
devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. 33
Ao reivindicar uma escola para os seus filhos, os quilombolas estão apenas
almejando um direito constitucional, e para que os mesmos saiam do ciclo de
exclusão e de analfabetismo que ainda atingem grande parte dos jovens e adultos
das comunidades rurais. Então uma escola, não é apenas o local construído na
34
http://portal.mec.gov.br/secad
88
Estes dados são do censo escolar e podem não revelar os outros "inúmeros
números" invisíveis de áreas e comunidades remanescentes de quilombolas que
não são reconhecidas ainda. As políticas públicas atualmente são:
Para enfrentar os desafios e elevar a qualidade da educação oferecida a
essas comunidades, o Ministério da Educação destina, anualmente, apoio
financeiro aos sistemas de ensino para formação continuada de professores
para área remanescente de quilombos; ampliação e melhoria da rede física
35
escolar; e produção e aquisição de material didático .
35
Idem, nota 31
36
http://www.inep.gov.br/informativo/pdf/informativo63.pdf
89
37
Laudo Pericial Histórico-Antropológico: Comunidade Negra de Mata Cavalos. Drª Edir Pina de
Barros (Antropóloga/Perita). Processo nº 2002.36.00.00.6620-8/ 2ª Vara JFMT.
38
Idem, nota acima.
94
seja de certa forma como um currículo velado. Perpassando por alguns aspectos do
currículo é que iremos indagar: quais aspectos curriculares que entrecruzam a
questão da Educação Ambiental e da Educação Quilombola? A Educação Ambiental
como um campo do conhecimento pode ser um elemento de luta e de fortalecimento
da Educação Quilombola, que só agora recentemente está sendo discutida.
O Projeto Ambiental Escolar Comunitário, como proposta pedagógica,
contribui para a valorização e o diálogo dos conhecimentos dessa comunidade.
Além dos conteúdos pedagógicos, a interface curricular entre a Educação Ambiental
e a Educação Quilombola dialoga com processos educativos socioambientais.
Podemos, assim, afirmar que ao fazer a interlocução entre o currículo da
escola (educação ambiental escolarizada) e o currículo da vida (educação ambiental
popular), o Projeto Ambiental Escolar Comunitário estará sendo alicerce para que a
Educação Quilombola se fortaleça nesse processo de educação diferenciada, ou
seja, libertadora.
Entender a concepção de Educação Popular e de Educação Ambiental
Popular torna-se necessário para "situar o ambiente conceitual e político onde a
educação ambiental pode buscar sua fundamentação enquanto projeto educativo
que pretende transformar a sociedade" (CARVALHO, 2004, p.18).
Acreditando que toda educação popular ocorre por meio de processos
educativos essencialmente realizados com o povo e para o povo, sendo que para o
povo não é uma atitude "paternalista e de cima para baixo", mas uma opção político-
ideológico do para quem ensino-aprendizagem, que tanto preconizava Paulo Freire.
Constata-se que:
A educação crítica tem suas raízes nos ideais democráticos e emancipatórios
do pensamento crítico aplicado à educação. No Brasil, estes ideais foram
constitutivos da educação popular que rompe com uma visão de educação
tecnicista, difusora e repassadora de conhecimentos, convocando a
educação a assumir a mediação na construção social de conhecimentos
implicados na vida dos sujeitos (CARVALHO, 2004, p.18).
Isso também pode ser constatado em Mata Cavalo nas pesquisas em curso
de Herman Hudson e na de Graciela Acco; a primeira pesquisa a musicalidade do
congo, do Siriri e Cururu e o processo educativo e, a segunda pesquisa, a relação
da dança do congo no currículo escolar. A musicalidade no pantanal e baixada
cuiabana (onde se localiza a comunidade), principalmente no que se refere ao Siriri
e ao Cururu, refletem a relação destas comunidades com o meio ambiente local, já
que em muitas músicas estão repletas os elementos do bioma local. Assim como ao
pesquisar, a relação de uma festa tradicional como a dança do congo no currículo,
pode fortalecer a relação escola-comunidade e ser embasamento para a resistência
destas biorregiões.
"A afirmação da identidade nas comunidades negras rurais passa pelo valor
da terra e pela especificidade de suas expressões culturais" (MOURA, 2007, p.3) e,
se a Educação Ambiental vai contribuir na valorização da identidade quilombola e
nos conhecimentos fenomenológicos, portanto, passando pelas questões
curriculares, dos conhecimentos tradicionais/locais, das festas, da cultura, podemos
afirmar que:
É esse conhecimento que constitui o contexto em que se tecem as teias de
significados que recriam incessantemente sua cultura e sua identidade
contrastiva, isto é, a afirmação da diferença. Nas práticas dos moradores
das comunidades, há o forte apelo ao reconhecimento dessa identidade.
(GOMES, 2007, p.23).
103
F
105
39
SATO, Michèle. Relato de viagem de campo do Curso realizado em Mata Cavalo. Cuiabá: GPEA-
UFMT, 2008 [mimeo].
40
Anotações e socialização das imagens feita pela pesquisadora Imara Quadros.
41
Laudo Pericial Histórico-Antropológico: Comunidade Negra de Mata Cavalos. Drª Edir Pina de
Barros (Antropóloga/Perita). Processo nº 2002.36.00.00.6620-8/ 2ª Vara JFMT.
107
corda, sofrimento, perigo, desespero (não sabe o que faz o medo), falta de conforto,
ódio, mal, forte, ruim, desespero e tristeza (despejo).42
Ao destacar estes outros três elementos básicos: amordaçado, choro e
capoeira; jamais poderá se tornar "palavra inautêntica":
A palavra inautêntica, por outro lado, com que não se pode transformar a
realidade, resulta da dicotomia que se estabelece entre seus elementos
constituintes. Assim é que, esgotada a palavra de sua dimensão de ação,
sacrificada, automaticamente, a reflexão também, se transforma em
palavreria, verbalismo, blábláblá. Por tudo isto, alienada e alienante. É uma
palavra oca, da qual não se pode esperar a denúncia do mundo, pois que
não há denúncia verdadeira sem compromisso de transformação, nem este
sem ação (FREIRE, 2005, p.90).
42
Anotações e socialização das imagens feita pela pesquisadora Imara Quadros.
109
mudar é possível e necessário, pois "o mundo não é. O mundo está sendo"
(FREIRE, 2000, p.79).
Estes três elementos básicos, rejeitados e opressores, fazem parte intrínseca
da luta cotidiana, metaforicamente podemos supor que as "raízes" históricas de
opressão são como "os eucaliptos" e as "raízes" da resistência (se torna também
educação) "é como as velhas árvores" (ALVES, 1985, p.13). E no chão quilombola
"raízes daninhas" são arrancadas e plantadas "raízes autênticas" tornando-se
palavras. Mas, verdadeiramente palavras que sejam práxis que leve a
conscientização da resistência quilombola. Então de elementos opressores, passam
a ser elementos de resistência, propulsores de todos os aspectos socioambientais.
Nessa propulsão de aspectos socioambientais, dos elementos básicos, e ao
relacioná-los com o processo das educações ocorridas em Mata Cavalo e a
construção de um currículo fenomenológico. Propomos apenas uma confluência de
como isto ocorre na comunidade, sem querer oferecer receitas prontas, mas,
subsidiar a práxis pedagógica. Na figura a seguir a proposta da confluência
curricular de Mata Cavalo.
Sobre a Educação Quilombola, Botelho (2007) faz uma ressalva para que "a
escola transcenda a transmissão de conhecimento e seja, também, um espaço de
reflexões críticas acerca dos processos de ensino/aprendizagem de inclusão" (p.34)
estimulando os educandos a "reconhecerem a legitimidade dos diferentes saberes
presentes na sociedade” (p.35). Por isso, faz sentido em falar de uma Educação
Ambiental em uma comunidade quilombola, para que ela seja a ponte e/ou o
alicerce para este diálogo de saberes e para a valorização de uma educação que
seja própria de Mata Cavalo, ou seja, uma Educação Quilombola. Portanto, um
currículo que para além de conteúdos, inscreve-se na espiral de significações do
local, de saberes. Em outras palavras, um currículo fenomenológico!
Um conceito que expressa e traduz as dimensões dessas comunidades
quilombolas é o de Quilombo Contemporâneo, onde:
São comunidades negras rurais habitadas por descendentes de escravos
que mantêm laços de parentesco. A maioria vive de culturas de subsistência
em terra doada/comprada/secularmente ocupada. Seus moradores valorizam
tradições culturais dos antepassados, religiosas (ou não), recriando-as.
Possuem história comum, normas de pertencimento explícitas, consciência
de sua identidade étnica. (MOURA, 2007, p.10)
43
SATO, Michèle; JABER, Michelle; SILVA, Regina; MACHADO, Thays. Territórios Quilombolas e
Justiça Ambiental. In: Fascículo de Educação Ambiental. GPEA/PPGE/UFMT, ano 2008, n.4. Grupo
Pesquisador em Educação Ambiental – GPEA; Projeto: Territórios e Temporalidades de Mata Cavalo
– FAPEMAT; Apoio: Juizado de Meio Ambiente – JUVAM (Em anexo).
113
44
Não no sentido unilateral de que surgem somente do grupo, mas sim de um aspecto propositivo e
construtivo de diálogo de saberes.
45
SATO, Michèle. Fascículo de Educação Ambiental. GPEA/PPGE/UFMT, ano 2008, n.1. Grupo
Pesquisador em Educação Ambiental – GPEA; Projeto: Territórios e Temporalidades de Mata Cavalo
– FAPEMAT; Apoio: Juizado de Meio Ambiente – JUVAM (Em anexo).
115
afirma que "a opressão, que é um controle esmagador, é necrófila. Nutre-se do amor
a morte e não do amor à vida" (p.74).
A todo o momento é relatada uma experiência de opressão vivida pelos
quilombolas. Freire (2005) declara que "qualquer que seja a situação em que alguns
homens proíbam aos outros que sejam sujeitos de sua busca, se instaura como uma
situação violenta" (p.86). Fazendeiros expulsam os moradores do local e a relação
opressor-oprimido se instaura como uma das Interferencialidades existentes em
Mata Cavalo. "É só os fazendeiros saírem, para a gente poder plantar e trabalhar
mais” (fala de uma moradora do quilombo). Em uma das viagens de campo
podemos constatar que:
Grande parte dos danos ecológicos existente na área da antiga terra de
sesmaria foi causada pelos fazendeiros da localidade (...) A opressão é um
fenômeno pulsante em Mata Cavalo, e a história e as narrativas pessoais
revelam que a dor racial é somada ao processo de injustiça socioambiental.
(SATO et. al, 2008).
No local onde fica a escola São Benedito ainda há o conflito pela posse da
terra, assim como em outros locais do quilombo. Isso impede uma série de ações e
propostas de se constituir uma educação de direito, que, de acordo com uma das
professoras “há uma verba do MEC para fazer a escola via prefeitura, contudo os
fazendeiros estavam com liminar para impedir a escola” (Profª Gonçalina).
Mesmo a Escola São Benedito sendo feita de palha, ela representa a força e
a identidade daquelas pessoas, como forma de resistência e luta como relata uma
moradora: "a escola pode ser de palha, mas as professoras são de ferro” (D.Tereza),
uma das maiores lutas em Mata Cavalo é para se construir o Telecentro integrado
com a escola, que será construída com tijolos.
Estes projetos parecem não sair do papel e da vontade dos quilombolas,
impedimentos burocráticos, ausência do Estado, falta de políticas públicas e muitas
outras dificuldades acarretam para a Escola São Benedito continuar sob a palha.
Contudo, o processo de escolarização e educação não se perde na comunidade
pelas dificuldades, ao contrário, se transforma em desafios para a superação por
meio da resistência "férrica" de suas educadoras.
A Educação Ambiental, ao propor que a escola de Mata Cavalo crie e recrie o
seu Projeto Ambiental Escolar Comunitário está contribuindo para que a Educação
Quilombola seja cada vez mais elemento de luta contra as injustiças
socioambientais. Segundo Oliveira (2007, p.16) o vínculo das comunidades
117
46
SATO, Michèle. Impressões de uma viagem de campo em Mata Cavalo. Cuiabá: GPEA-UFMT,
2008 [mimeo].
47
Jão Guató. A Luta das Mulheres pelas Terras de Mata Cavalo: esses passos vêm de longe...
Revista Sina. Mato Grosso, maio/junho de 2008. – Ano 2- Nº 16.
118
Fotos: R. Senra
O ato público, para além de ter resultados pontuais, que são importantes,
representou um processo político-educativo permanente. Somente com uma
concepção de educação abrangente é que podemos, sim, contrapor Gadotti (1980,
p.73) onde pondera que ainda "esse tempo em que a escola ousadamente vai as
ruas não é nosso tempo", e referendar que o tempo da educação é este sim, e é nas
ruas! Portanto, tendo como referências movimentos, contestações, atitudes,
revoluções que contrapõem uma cultura dominante, hegemônica, individualista. Uma
educação que se torne contracultura, contrapedagogia, pelos chãos de terra da
Educação Ambiental.
A todo o momento desta pesquisa a referência de se propor uma
Contrapedagogia, só poderia estar inspirada no movimento da contracultura.
Justamente por representar um momento histórico importante para os movimentos
de contestação e de proposição de uma nova forma de pensar e de agir.
Os anos 60, acima de tudo, foi um período de explosão de juventude em
todos os aspectos. Era a vez dos jovens, que influenciados pelas idéias de
liberdade começavam a se opor à sociedade de consumo vigente. O
movimento (...) passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria
novas mudanças de comportamento, como a contracultura e o pacifismo do
final da década (...). Suas organizações políticas multiplicavam-se e os
choques com a polícia tornavam-se freqüentes. Protestos comuns iam dando
um mesmo sentido às manifestações em várias partes do mundo: as
demonstrações eram contra a guerra do Vietnã, contra o racismo, pela paz,
pelos subdesenvolvidos. A esse conjunto de manifestações, que surgiram em
diversos países, deu-se o nome de contracultura. Uma busca por um outro
tipo de vida48.
48
Acessado em: http://intro-design.blogspot.com/2007/08/anos-60movimento-hippe-contracultura.html
121
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Anexos
136