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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM DESAFIO À

SUSTENTABILIDADE SÓCIO AMBIENTAL

Maria Benúbia Santos Correia


Maria Betânia Gomes da Silva Brito

RESUMO
Este trabalho aborda a experiência de um estágio no Núcleo de
Educação Ambiental–NEA/CEDU/UFAL que, em Convênio com a CHESF
proporcionou o desenvolvimento de atividades realizadas no sertão
alagoano, na área do Reservatório da Usina Hidrelétrica de Xingó. Nele,
destacam-se as relações entre o homem e o meio ambiente,
especificamente, em dois municípios, Piranhas e Delmiro Gouveia, que
se ressentem das transformações ocasionadas pela implantação da
hidrelétrica e de outros fatores. Está organizado em dois capítulos,
tratando primeiramente sobre a dicotomia homem/natureza, e seus
efeitos sobre o meio sócio-ambiental. No segundo capítulo trata do
caráter interdisciplinar da educação ambiental, fundamentando a análise
da experiência vivenciada, na área investigada. Considera, finalmente, a
importância da educação no processo de ampliação do conhecimento,
através da valorização da natureza em consonância com a promoção
humana.

1 - INTRODUÇÃO
A humanidade vive um grande desafio, o de realizar um projeto
civilizatório, ecologicamente sustentável, sem provocar a miséria humana e
ambiental assegurando a manutenção da vida no planeta.
Assim percebemos a relação sociedade–meio ambiente, em que este
não se refere, unicamente, à natureza, uma vez que comporta as dimensões
sociais, econômicas e políticas que não são esferas distintas. Não podemos
continuar com essa concepção dualista e mecânica da relação entre
desenvolvimento e meio ambiente, ou a dicotomia homem–natureza produzida
pela expansão das relações capitalistas de produção, resultando na delapidação
dos bens necessários à manutenção da vida no planeta.
É a partir do movimento ambientalista, em nível mundial, percebendo os
efeitos desastrosos dessa dicotomia, sendo acompanhado pela área acadêmico-
científica, que novas concepções passam a orientar o melhor entendimento dessa
relação. Resulta que não se pode admitir mais uma concepção de
desenvolvimento, sem agregar a sua dimensão ecológica.
Constatamos, também, a amplitude dos efeitos dessa nova concepção,
através das proposições estabelecidas pelos organismos internacionais, quando
definem a função estratégica da educação, no rumo da construção de um
desenvolvimento que sustente o equilíbrio dessas relações.
Essa nova abordagem nos permite uma visão mais ampla das
questões, possibilitando novas idéias e atitudes do ser humano frente à
sustentabilidade ambiental. E, se o equilíbrio ambiental, rompido pela quebra das
relações entre a sociedade e a natureza tem, na educação, a contribuição
estratégica.
Com essa compreensão, buscamos investigar a questão, situando-a, no
semi-árido do nordeste brasileiro, especificamente na área de abrangência do
Reservatório da Usina Hidrelétrica de Xingó, estudando as condições ambientais
dos municípios Olho D’ Água do Casado, Delmiro Gouveia, Piranhas, localizadas
no Estado de Alagoas e Canindé do São Francisco no Estado de Sergipe. Destes
municípios Canindé do São Francisco- Sergipe e Piranhas- Alagoas localizam-se
na área de influência direta do reservatório, enquanto Delmiro Gouveia e Olho D’
Água do Casado, compõem a área de influência indireta.
Para melhor possibilitar a compreensão da dinâmica da educação
ambiental e do processo de mudança pelo qual os municípios da região
percorreram ou ainda estão percorrendo, foi preciso delimitar a área de nossa
investigação que recaiu sobre Delmiro Gouveia e Piranhas, a partir dos seguintes
critérios: um municípios da área de influência direta do Reservatório de Xingó e o
outro da área de influência indireta; oss dois maiores municípios da área de nossa
intervenção, enquanto experiência de estágio.
Foi essa nova aprendizagem, ou seja, o confronto entre a teoria e a
prática que despertou o nosso interesse por investigar a educação ambiental
frente aos problemas do meio ambiente
O trabalho apoia-se nas teorias críticas para a educação e o meio
ambiente, notadamente, o paradigma da sustentabilidade ambiental. Sua
elaboração toma por base nossa própria experiência, algo vivido através da ação–
reflexão no Núcleo de Educação Ambiental como estagiárias da Universidade
Federal de Alagoas, através do Projeto de Educação Ambiental, desenvolvido em
parceria com a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF).
O trabalho é organizado em duas partes. Na primeira, intitulada Na
Aurora do Terceiro Milênio a Humanidade Precisa Despertar, tratamos sobre a
relação homem meio ambiente, perpassando o paradigma da sustentabilidade
ambiental situando a análise de nossa experiência na área do Reservatório de
Xingó, onde nos foi oportunizada a construção deste conhecimento.
Na Segunda parte, a Interdisciplinaridade na Educação Ambiental: um
encontro de saberes, fazemos uma análise sobre a ação interdisciplinar da
educação ambiental no contexto da educação formal e não formal, destacando as
ações desenvolvidas pelo NEA/CEDU/UFAL nos dois municípios localizados na
Área de Abrangência da Usina Hidrelétrica de Xingó, Delmiro Gouveia e Piranhas
no Estado de Alagoas.
Finalizamos com algumas considerações sobre o trabalho
desenvolvido, suas possibilidades e dificuldades encontradas no processo de
construção do conhecimento.

2 - NA AURORA DO TERCEIRO MILÊNIO A HUMANIDADE


PRECISA DESPERTAR: A Relação Homem x Meio Ambiente
Desde os primórdios, as sociedades humanas utilizaram os recursos
naturais existentes a sua volta, inicialmente de forma equilibrada, utilizando
apenas o que era necessário à perpetuação da espécie, intervenção essencial
para sua sobrevivência e permanência no planeta.
É por ocasião desse contato direto entre o meio ambiente e o homem
que podemos ver sua distinção como ser biológico. “Foi assim que o homem, pelo
processo natural do trabalho, aos poucos veio a desvendar, conhecer, dominar e
modificar a natureza para melhor aproveitá-la” (ALVES, 1993:58).
Contraditoriamente, porém, a degradação ambiental surge com o
próprio homem, pois no momento em que ele começa a intervir no meio ambiente,
produzindo para além da sua sustentação, e acumulando a produção excedente ,
ou seja, a partir da propriedade privada, inicia-se, também, a deterioração da
relação homem-natureza e as relações de produção social.
A esse fato, segue, historicamente, a instauração da sociedade
moderna que muda o modo de produção social do campo para a cidade, com o
modelo industrial-urbano criado pela sociedade capitalista.
Assim, a sociedade progride do ponto de vista sócio-econômico e
cultural, desprezando os fatores ecológicos, base necessária à produção da vida
social e a humanidade é despertada com o surgimento dos desastres ecológicos.
É na década de 60, com a publicação do livro Primavera Silenciosa, de
Rachel Carson, o primeiro grande alerta para as questões ambientais. Essa
publicação denuncia a ocorrência de desastres ecológicos criados pelo homem,
resultando em uma grande polêmica sobre o modelo predatório de
desenvolvimento que, tratando apenas, as questões políticas, econômicas e
sociais e desprezando os elementos ecológicos, poderá levar o planeta a uma
“primavera silenciosa”.
Assim é que, por esse modelo, o homem contemporâneo tem
fundamentado sua prática social no consumismo e desperdício, na busca da
acumulação de bens que é símbolo de status, pois para a teoria do capital, os
valores se invertem, significando a perda da essência do homem como ser
histórico e comprometendo a sobrevivência das futuras gerações.
Ao que parece, a humanidade vem esquecendo ou ignorando o que a Ciência
já deixou bem claro, há muito tempo – somos parte da complexa teia da vida,
e, a destruição de seus elementos pode acarretar a extinção da espécie
humana (ALVES, 1993:57).
Começa-se a perceber a urgência de um novo modelo de organização
social que resulte numa maior interação do ser humano com as leis naturais, já
que a sua permanência no planeta depende, fundamentalmente, da sua melhor
interação com o meio ambiente. O marco histórico dessa compreensão é
concretizado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
realizada na Suécia (Estocolmo), em 1972.
Há necessidade de se investigar as concepções que orientaram essa
prática de esquecer que a natureza é limitada, como também de rever nossas
práticas, consumindo com limites, evitando o desperdício, reaproveitando o que
for possível ou terminaremos acarretando a extinção de todos os seres vivos de
nosso planeta, inclusive o homo-sapiens.

Em busca de um modelo de desenvolvimento sustentável

No caso do Brasil, “a história da degradação ambiental é a nossa


história de 500 anos de dominação e exploração”, que vem desde o escravismo
colonial até o capitalismo predatório (FRANCO, 1993:12), fazendo surgir os
impasses do ponto de vista ambiental, como a abundância dos bens produzidos
que promove a opulência de alguns, contrastando com a pobreza crescente de
seus produtores.
Na busca da superação desses impasses vividos pela sociedade
moderna, temos, diante de nós, o desafio do desenvolvimento sustentável,
através do qual precisamos oferecer condições de vida que satisfaçam às
necessidades e anseios das gerações viventes e futuras.
Essas combinações, porém só podem ocorrer com o empenho e
integração das políticas-sociais, que direcionem o desenvolvimento tecnológico e
científico da sociedade, superando o individualismo possessivo gerador do
desequilíbrio ambiental e das desigualdades sociais e promovendo uma análise
crítica sobre as transformações provocadas no meio ambiente.
É urgente a busca de uma sociedade mais justa, solidária e equilibrada
na sua relação com a natureza. Este processo se dará através da mudança de
concepção e postura, na construção e produção do conhecimento na formação
integral dos seres humanos. Assim, temos a educação como estratégia
fundamental para a aquisição de novos valores capazes de superar o paradigma
cartesiano que fragmenta o saber.
Essa compreensão parte do reconhecimento da multiplicidade de
saberes sociais, enfrentando o modelo social dominante que faz do homem uma
máquina que age pela racionalidade instrumental e economicista, como queria o
Fordismo1[1]. Para tanto, é fundamental o trabalho interdisciplinar numa visão
crítica e abrangente, associando o saber historicamente acumulado pela

1[1] Menos do que um modelo de organização societal, que abrangeria igualmente esferas ampliadas da sociedade, compreendemos o fordismo de Henry Ford como o processo de
trabalho que, junto com o taylorismo, predominou na grande indústria capitalista ao longo deste século. (ANTUNES, 1995:17)
humanidade e, a partir daí, criar novos saberes e novas práticas individuais e de
grupos.
A temática ambiental é interdisciplinar e traz novos saberes e novas
culturas, deixando claro que a simples produção do conhecimento não é
suficiente para a preservação da vida, pois os homens podem se valer do
conhecimento para escravizar, explorar e destruir a natureza e os outros homens.
Trata-se da modificação das próprias relações de produção social.
Entendendo as manifestações da natureza
Inundando a imensidão e secura do sertão, o rio
caminha, ora doce e misteriosamente calmo, ora
revolto, brincalhão, salpicando de verde a vida
ribeirinha, pelos Estados de Minas Gerais, Bahia,
Pernambuco, Sergipe e Alagoas, formando um grande
vale.(ABC do São Francisco: 39)

Buscamos desenvolver a análise contextual da região do sémi-árido


nordestino, especificamente a região, localizada no Reservatório da Usina
Hidrelétrica de Xingó, num recorte definido sobre os municípios de Delmiro
Gouveia e Piranhas.
Essa região é banhada pelo Rio São Francisco que passa por um dos
piores momentos de sua existência, resultante do volume de ações impactantes
que vem sofrendo ao longo de sua extensão, tendo em vista o desmatamento de
suas margens, que provoca o assoreamento de todo o seu leito dificultando a
navegação, prejudicando os ecossistemas existentes, apresentando progressiva
redução e extinção da fauna e da flora da região que se torna alvo de um grande
desgaste ecológico além da extinção da pesca, forma primitiva de sobrevivência.
Na verdade, as agressões sofridas pelo Velho Chico é histórica, pois é
vista desde a colonização do país. O que chama a atenção, no entanto, são os
mais recentes e brutais impactos causados pela construção de usinas
hidrelétricas em toda a sua extensão, tais como: Sobradinho, Orocó, Ibó,
Itaparica, Paulo Afonso, Xingó e Pão de Açúcar, aprofundando o quadro de
degradação ambiental.
Na região situada na área do Reservatório de Xingó, a pesquisa detectou,
tanto pela manifestação da população como através da imprensa, que:
• • várias espécies de peixe estão desaparecendo como: pirá,
surubim, niquim e outras que já não existem;
• • o rio está sendo invadido pelo tucunaré2[2], peixe nativo da Região
Amazônica espécie carnívora que se alimenta, até, dos próprios
filhotes, dotado de uma grande capacidade de reprodução, predador
por natureza que está aniquilando com as várias espécies de peixes

2[2] Peixe percomorfo ( tem nadadeiras dorsais), da família dos Ciclídeos (parente do Atum).
nativas da região. “Sua presença, no São Francisco, mudou até a
culinária típica da região do sertão. Em decorrência, em Piranhas/AL,
o surubim e o pitu, naturais da região, viraram raridade, enquanto os
pratos servidos com o Tucunaré são oferecidos para todos os gostos
(...) (Gazeta de Alagoas:2000)
• • o avanço do mar sobre o Rio São Francisco, provoca o fenômeno
da cunha salínica, fazendo com que o rio perca, a cada ano, a força
de suas águas, enquanto o mar, por sua vez avança sobre ele. Esse é
um fenômeno natural. No entanto, a redução da vazão do rio de 3 mil
e 150 metros cúbicos por segundo para menos de 2.000 m³/seg é
consequência das barragens construídas ao longo de sua extensão.
Siri, Robalo e Agulha, são habitantes do mar que estão subindo o Rio
São Francisco até Propriá .de acordo dom os dados retirados do jornal
Gazeta de Alagoas (13.022000)

• • aumento da evaporação e a irregularidade de chuvas na cabeceira


do rio em decorrência das barragens construídas ao longo do rio, para
produção de energia elétrica;

• • pesca predatória, contraditoriamente, garantindo a sobrevivência


da população;

• • desconhecimento, pelos pescadores, do período de abertura das


comportas, para melhor controle da pesca, podendo minimizar a pesca
predatória. Sem o controle da vazão da água, o rio vai ficando, cada
vez mais assoreado;

• • concentração de coliformes fecais nas águas do Velho Chico. Esse


problema é decorrente da falta de saneamento básico nas cidades
ribeirinhas, ou seja, o rio banha 470 cidades desde Minas Gerais até
Alagoas, das quais, apenas duas dessas cidades, são dotadas de
saneamento básico. As demais despejam seus esgotos diretamente no
rio. (Gazeta de Alagoas:04/01/1999)

• • Assoreamento das margens do rio, com destruição das matas


ciliares.

Dentro de dez anos o São Francisco vai ser um


riacho e a gente vai atravessar caminhando, sem
problemas com a água no máximo até os joelhos.
Antônio Bonfim – Presidente da Associação dos
comerciantes da orla do São Francisco(Gazeta de
Alagoas, 13/02/2000).

Diante de tamanha degradação, ainda surge uma proposta de


transposição que demonstra a falta de preocupação com as consequências que,
certamente, acumularão problemas ainda mais graves sobre os grandes impactos
responsáveis pelas mudanças visíveis nesse rio, que agora chora e sofre calado,
numa linguagem que os homens insensíveis não conseguem compreender.
Quando nos detemos a analisar a caatinga logo vemos que está
profundamente desgastada, quase não existindo a vegetação característica
como: craibeira, espinheiro, juazeiro, aroeira, mandacaru, etc. O desmatamento é
bem visível e o cheiro da fumaça paira no ar. Por toda parte da região do semi-
árido nordestino, predomina um vasto silêncio. Segundo A Terra Castigada. In
Revista Realidade (Nordeste:1972), “há quatrocentos anos, a floresta atacava a
caatinga. Hoje a caatinga ataca a floresta, e por toda parte da região semi-árida
nordestina predomina um vasto silêncio.” Hoje, no mesmo lugar, o único ruído é
de animais em busca do pasto ou o ronco de um motor de caminhão.
São visíveis as modificações ocorridas no ambiente natural apresentando
a correspondente mudança na ordem sócio-cultural da região que teve de adaptar-
se a outros moldes de desenvolvimento cultural.
Para os municípios, em estudo, os efeitos da degradação ambiental
modificam, nitidamente, suas peculiaridades.
O sol vem surgindo entre as montanhas, no começo um
espetáculo, mas com o passar das horas castiga homens,
mulheres, plantas e animais sem dó nem piedade. No sertão ele é
o todo poderoso. E abre as janelas da cidade de Piranhas, com o
Velho Chico bordando a terra seca com suas águas doces (...)
(LINS, 1999: GA)
Piranhas é uma cidade essencialmente bela, seja pela vista do Rio São
Francisco que circunda toda a cidade, seja pela sua vegetação nativa.

O sítio urbano da cidade de Piranhas situa-se no início do cannion do Rio


São Francisco, cannion resultado do recuo do batente da original cachoeira, que
hoje tem o seu lugar em Paulo Afonso, a 58 Km a montante de seu local de início.
A localização da cidade apresenta-se em um espaço físico íngreme, com a forma
de anfiteatro que se abre para o leito do São Francisco, ao sul.
Uma das paisagens marcantes do Município é o Museu do Sertão,
fundado em 1982, funcionando na antiga estação do trem, na parte inferior.
Segundo a escritora Rosiane Rodrigues, em entrevista à Gazeta de
Alagoas(1999), o museu foi ampliado, pois no começo constava, apenas, da
história do Município retratando a memória do homem sertanejo. Hoje, o museu,
também, possui um espaço reservado à história do cangaço. São, ao todo, 61
fotografias representando uma breve viagem sobre a história de Lampião e Maria
Bonita atraindo turistas no resgate à história do povo nordestino.
Os moradores também sentem muita saudade do apito do trem e a
Foto 4 – Passeio ecológico /Piranhas/1999
cidade ainda trás as marcas do tempo em que o trem foi a alegria daquela gente
viajante, animando e transportando pessoas que iam do Baixo São Francisco à
Cachoeira de Paulo Afonso, parando nas cidades de Penedo, Pão de Açúcar,
Piranhas, Delmiro Gouveia e Petrolândia na Bahia. O prédio da estação ferroviária
resiste até hoje, como patrimônio arquitetônico, contando com cerca de mais de
um século de vida, pois foi inaugurada em 25 de fevereiro de 1881. Segundo o
arquiteto Jenner Glauber, em entrevista à Gazeta de Alagoas, (1999), “o prédio “é
de estilo neoclássico , estilo surgido na Europa, no século XVIII, como reação ao
Barroco. Os edifícios têm fachadas simétricas e sóbrias. No Brasil este estilo
chegou no século XIX”.
Diante de todas as riquezas naturais e culturais existentes no Município
de Piranhas, destaca-se, como perspectiva de desenvolvimento, o turismo, que
pode possibilitar o crescimento da região que traz em si riquezas até então
desconhecidas pelo homem, como: a própria vegetação nativa, o Rio São
Francisco que tem o segundo maior cannion do mundo, uma fauna típica da
caatinga, produtos artesanais de qualidade rara, comidas típicas, o Museu do
Sertão, a Hidrelétrica de Xingó e, acima de tudo, uma gente muito hospitaleira e
poética.
No entanto, para que o turismo, potencial de desenvolvimento do
município, venha a acontecer é preciso políticas públicas que viabilizem a
infraestrutura necessária, além de um trabalho de educação ambiental que
promova a conscientização em prol da preservação e conservação desse
patrimônio histórico e cultural, que valorize os costumes dessa gente que não
perdeu suas raízes.
O Município Delmiro Gouveia que está localizado em pleno sertão alagoano, a
285km de Maceió, ainda é sinônimo de progresso e desenvolvimento para a região, apesar
da dura realidade que enfrenta. Esse desenvolvimento tem trazido ao longo dos tempos
graves problemas ambientais.
Desde o início de sua história, a economia baseada na pecuária (couro bovino,
peles de caprinos) e logo em seguida no cultivo do algodão que é mantido até os dias atuais.
O seu crescimento foi intensificado através de um plano de navegação interligado com a
contribuição da ferrovia que partia de Piranhas e atravessava Delmiro Gouveia,
originariamente, denominado Povoado de Pedra, a caminho da localidade Jatobá, hoje,
Petrolândia. Delmiro Gouveia já teve uma grande ascensão econômica e social com a
instalação da fábrica de tecidos
Embora a região seja tão seca, é recortada por uma rede hidrográfica
densa, constituída na sua maioria de riachos temporários, como o rio Moxotó
perenizado, em parte, com a construção da barragem da Hidrelétrica Apolônio
Sales, pelos lagos Delmiro Gouveia e Xingó que banham o município, numa
extensão de aproximadamente 55 km. Entretanto as comunidades rurais sofrem a
falta d’ água e carece de projetos de irrigação pública, cisternas e barragens.
No percurso de sua história de desenvolvimento, muita coisa mudou com
relação aos recursos naturais da região. Referindo-se à cachoeira da área de
Angicos3[3] por exemplo, dona Rosinha, como é conhecida, e José Correia,
moradores da região, falam: “Que lugar lindo era aquele ... o barulho da cachoeira
era ouvido há três quilômetros. Era uma doce melodia que a natureza não parava
de tocar para nós.” (Gazeta de Alagoas:1999)
A construção das barragens para represar as águas da CHESF silenciou a
cachoeira de Angiquinho que hoje chora baixinho, e esse silêncio grita na memória
dos antigos moradores do local, “desde que foi inundada sem que houvesse as
precauções de proteção devidas, a gigantesca obra uniu-se a Delmiro no seu
silêncio eterno” José Correia – morador.
E, ainda como escreveu o alagoano Graciliano Ramos se reportando ao
acontecido como está publicado no jornal Gazeta de Alagoas ( 25/07/1999).
Um profundo esquecimento cobriu Gouveia, amortalhou a
indústria aparecida com audácia no sertão, entre
imburanas, catingueiras, rabos de raposa, coroas-de-
frade. Certa companhia estrangeira apossou-se das
máquinas, rebentou-as, jogou-as no rio. Os cavalos,
despertos por Gouveia, adormeceram de novo na
cachoeira magnifica, celebrada em prosa, imortalizada em
verso, apontada com orgulho, sinal da nossa grandeza.

Os desmatamentos e queimadas praticados, de forma intensa e


impensada, pela população dessa região, estão provocando um gravíssimo
desgaste do solo, além da mecanização utilizada que contribui para que eles
fiquem ainda mais rasos e compactados, principalmente, devido ao manejo
inadequado que causa a decadência do nível de matéria orgânica. O plantio do
feijão e do milho na região mais próxima do lago Moxotó, vem sendo o principal
responsável pelo processo erosivo que se intensifica devido ao desmatamento,
porque para plantar o milho arranca-se antes a jurema, um tipo de vegetação que
recupera e mantêm as propriedades do solo (SEPLAN/Delmiro, 1998: 31).
O término das obras de construção da última usina, a Hidrelétrica de
Xingó, em 1991, resultou em grave quadro ambiental pois a abundância de
recursos naturais (solo, clima, recursos hídricos e vegetação) do município foi
utilizado inadequadamente, acarretando problemas ecológicos como diminuição
do volume das águas, assoreamento e extinção de plantas e animais ocorrido por
conta da mudança do percurso do Rio São Francisco que se deu na década de
50.
Para reverter essa situação é necessário fazer investimentos de forma
organizada na sociedade, pois só através da conscientização ambiental
poderemos chegar a responsabilidade coletiva que busca um novo modelo de
desenvolvimento que contribua para a construção de uma sociedade sustentável.

3[3]
Localidade de Delmiro Gouveia onde encontrava-se uma das mais belas cachoeiras que foi berço
da primeira hidroelétrica. (Gazeta de Alagoas: 25.07.1999)
Assim, a educação é destacada como fator de vital importância para que esta
situação seja reparada.
Acreditamos que através de reflexões e práticas ambientais no ensino
interdisciplinar, será possível a promoção humana, ou seja, o entendimento sobre
sua sociedade e a possibilidade de melhorá-la, já que a luta pela ecologia é
também a luta pela cidadania.

As Consequências do Desenvolvimento em nome do


Progresso
O impacto ambiental caracteriza-se por alterações
significativas no meio ambiente, decorrente de atividade
antrópica ou natural, que podem levar ao comprometimento
da utilização dos recursos naturais, ar, solo e água
(PINHEIRO,1992:47)

Nossa experiência, na região, exercitando a pesquisa-ação, possibilitou


a identificação dos impactos ambientais, através da fala dos sujeitos que
construíram e vivenciaram a riqueza natural de uma região e, hoje, a vêem
degradada. Também, buscamos apoio em pesquisa documental junto às
prefeituras Municipais, IBAMA, IBGE e o EIA/RIMA/XINGÓ-IMA/AL.
O Estudo de Impacto Ambiental -EIA (TOMO II: pp. – 69,70), por exemplo, já
identificava a possibilidade de ação impactante do empreendimento da Hidrelétrica
de Xingó, citando os seguintes problemas:
• • intensificação de processos erosivos;
• • perda de cobertura vegetal;
• • alterações na fauna e flora;
• • alterações demográficas;
• • incremento das atividades econômicas;
• • alteração na disponibilidade de serviços públicos;
• • alterações nas relações socioculturais;
• • desaparecimento de espécies nativas;
• • redução do volume de água do Rio São Francisco;
Temos o entendimento de que não é só a Hidrelétrica que vem degradando
a região. Outros fatores vem causando os problemas que o meio ambiente do
semi árido apresenta, como a ausência de políticas governamentais e, sobretudo
o modelo de desenvolvimento predatório que a sociedade adotou.
Essa é apenas uma pequena parcela dos impactos que iriam aparecer após
a instalação da hidrelétrica. Hoje, os impactos são reais e em proporções mais
graves, como demonstra a fala dos moradores da região, aqueles que
participaram das ações de Projeto de Educação Ambiental, ao qual atuamos como
estagiárias:
• • desmatamento;
• • tratamento inadequado do lixo;
• • pesca e caça predatória;
• • queimadas;
• • ação predatória x sobrevivência;
• • ausência de saneamento básico;
• • ausências de ações governamentais frente aos problemas;
• • introdução de espécies predatórias;
• • êxodo rural;
• • ausência das questões ambientais no currículo escolar.
Assim, nos foi possível observar que os dois municípios destacam,
praticamente, os mesmos problemas visíveis nesta região, apresentando, porém
diferenças no enfrentamento das questões já que em Delmiro Gouveia a
população é dotada de um nível mais amplo de compreensão deste processo de
degradação da natureza, tendo em vista o nível educacional de seus habitantes.
Em Piranhas, a população vive, ainda, sob a ótica de um desenvolvimento
praticamente rural.
Em Piranhas, com o início da construção da Usina Hidrelétrica, em
1987, surge, no município, um novo impulso econômico e ao mesmo tempo
impactos, socioculturais e físico-ambientais. Nesse momento há uma expansão do
município através de novos bairros, como: uma vila permanente (Sergipe) e uma
temporária (Alagoas). Criou-se também uma vila satélite dotada de infra-estrutura
básica (Nossa Senhora da Saúde). As duas primeiras vilas constituem o Bairro
chamado Xingó.
Sabemos que não se pode opor meio ambiente e desenvolvimento
uma vez que a qualidade do primeiro é o resultado da dinâmica do segundo, ou
seja, não pode existir desenvolvimento sustentável sem que haja uma
preocupação com as questões ecológico-ambientais. Assim se faz necessário
saber utilizar os recursos colocados a nossa disposição pela natureza, pois o
homem tem sido, durante sua trajetória de vida no planeta, o maior causador do
desequilíbrio ambiental. Isso porque “as relações entre população, recursos e
meio ambiente carecem ainda de um substrato científico rigoroso, uma vez que
existem múltiplas variáveis interferindo nelas.” (Governo do Brasil, 1992:19)
Uma das paisagens que mais nos chamou a atenção durante a
pesquisa foi a barragem da Usina Hidro - Elétrica de Xingó, pois a obra é um
relato vivo do poder de transformação do homem sobre o ambiente natural.
A CHESF (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) tem elaborado
ações de desimpactação e recuperação das áreas degradadas pelo avanço
tecnológico, estabelecendo princípios e diretrizes que norteiam suas ações, no
sentido de executar a legislação ambiental, cumprindo o dever constitucional de
respeito à natureza.
Dessa forma, vem desenvolvendo diversos trabalhos de recuperação
das áreas degradadas, buscando uma maior e melhor interação com o meio
ambiente através de parceria com várias Universidades do Nordeste, somando
pontos positivos para a dinâmica da natureza.
O Convênio CHESF-UFAL, em parceria com a Universidade Federal de
Alagoas conta com dois Programas. Um deles é o Programa de Educação
Ambiental e de Preservação do Patrimônio Histórico, Arquitetônico e Cultural, na
Área do Reservatório de Xingó, com os seguintes projetos: Educação Ambiental
(no qual estamos envolvidas); Memória de Alagoas – com os seguintes sub-
projetos – Levantamento Histórico nos municípios do Reservatório de Xingó,
Elaboração do projeto restauração do Museu do Sertão de Piranhas/Alagoas,
Reinstalação do Museu no Sertão de Piranhas/Alagoas.
O outro é o Programa de Manejo e Conservação da Fauna e da Flora
na Área de influência do Reservatório do Xingó, contando com os seguintes
Projetos: Levantamento Floristico Estrutural e Etnobotânico da Vegetação na Área
da Estação Ecológica do Xingó, Alagoas/Sergipe; Inventário da Hepertofauna e
Mastofauna na Área da Estação Ecológica de Xingó, Alagoas/Sergipe;
Implantação do Banco Genético das Espécies da Caatinga da Região de Xingó;
Verde Xingó; Produção de Mudas das Espécies Nativas da Caatinga e
Recuperação de Áreas Degradadas.
Com atuação interdisciplinar, nas áreas de pesquisa e extensão, os
projetos caminham por ações contínuas de Educação Ambiental, através da
conscientização dos representantes da sociedade civil, das suas
responsabilidades para com a proteção ao meio ambiente, pois somente através
da sustentabilidade, da democracia e da participação é que poderemos alcançar o
equilíbrio ambiental, com a conservação dos recursos naturais e sócio-culturais
que são patrimônios da humanidade.
A velocidade das transformações ocorridas na Área do Reservatório de
Xingó, foi de grande impacto, principalmente, para a população das cidades
ribeirinhas. Resulta um grande desafio, o de possibilitar àquela gente a
capacidade de tornar o seu ambiente em condições necessárias à sobrevivência,
sem negar-lhes o direito a vida. Já que é necessário explorar as fontes de
energia em nome do progresso, faça-se considerando as diversas mudanças que
sofrerá a comunidade.
Não temos certeza do futuro, mas diante da realidade constatada nesta
região, fica visível a necessidade de atuarmos como verdadeiros cidadãos,
procurando reverter esse processo de degradação da natureza e do próprio
homem. Um novo comportamento frente à natureza só será possível através de
uma ação consciente do ser humano. Esse é o grande desafio para a educação,
fazer com que esses cidadãos compreendam que a qualidade de vida somente é
possível, através da justiça social e da preservação da natureza.
Educar! A cada dia aprendemos um pouco sobre esta arte
necessária, fundamental para o desenvolvimento de um povo, de
um país. Aprendemos muito com o que ouvimos, vemos, sentimos,
com o silêncio e as atitudes. Com certeza, todos os momentos
aprendemos desde que tenhamos vontade de ser, de crescer e
consequentemente compartilhar com as outras pessoas
(RAMINELLI, 1999:87).

3 - INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: um


encontro/confronto de saberes

É na incapacidade de compreender o universo, extremamente rico e


complexo, que a humanidade vem enfrentando nessa mudança de século, a auto
destruição do Planeta e a quebra do ciclo da vida que vem se acentuando e, por
isso, arriscando tornar-se irreversível.
Educação Ambiental é a preparação do indivíduo, mediante a
compreensão dos principais problemas do mundo contemporâneo,
proporcionando-lhe conhecimentos e habilidades necessárias para desempenhar
uma função produtiva, com vistas a melhorar a vida e proteger o meio ambiente,
articulando valores éticos em função da qualidade de vida.
Nessa concepção, a educação ambiental visa despertar, nos indivíduos,
as mudanças necessárias à qualidade de vida nas sociedades e a preocupação
com o desenvolvimento sustentável, através do processo de uma educação
emancipadora e crítica.
O crescimento dos problemas ambientais torna-se uma grande
preocupação para a população em geral e provoca uma contínua busca por
soluções. Para que os processos ambientais resultantes da relação entre homem
e meio ambiente se desenvolvam harmonicamente, é preciso que, aos sistemas
ecológicos sejam articulados os sistemas culturais e sócio-econômicos da
humanidade.
Por isso, é necessário promover um melhor entendimento e
redirecionamento das atividades humanas, devendo-se levar em conta o processo
educativo através do qual esse conhecimento esteja sendo construído. Dessa
forma, vemos o papel fundamental da educação, a partir de uma relação mais
articulada entre a humanidade e o ambiente social, natural e físico, garantindo a
sustentabilidade na complexa tarefa de construção de uma vida equilibrada no
Planeta.
Educação Ambiental é um processo educativo que trata sobre a relação
do homem com seu entorno natural e com aqueles constituídos por ele; implica o
ensino de juízos de valor e habilidades para pensar claramente sobre problemas
complexos – sobre o meio ambiente – que são tanto políticos, econômicos e
filosóficos, quanto técnicos (Conferência sobre Educação e Meio Ambiente nas
Américas, 1971) .
É sobre a crença de que, a Educação Ambiental poderá ter
conseqüências significativas na responsabilidade coletiva em torno do meio
ambiente, que pretendemos tratar, neste capítulo, a articulação entre os diversos
saberes pois, a sustentabilidade ambiental comporta uma reflexão entre as
ciências naturais e sociais , por isso, uma questão interdisciplinar.
A educação, enquanto se propõe a formar o cidadão para viver uma
vida em sentido mais pleno possível de modo que possa conhecer e transformar
sua situação social e existencial, marcada pela complexidade e globalidade,
mostra a necessidade de adotar o paradigma da interdisciplinaridade. No entanto,
não é a ação do ensino que vai garantir tais resultados, mesmo como um enfoque
interdisciplinar. Isso porque a qualidade de vida de pessoas depende da
conjunção de múltiplos fatores da sociedade como um todo, em relação aos quais
o ensino pode apenas auxiliar o educando a compreender (LUCK, 1995:56).
Admitimos, ainda, segundo a Constituição da Republica Federativa do
Brasil promulgada em 05 de outubro de 1988, no título VIII capítulo VI – do Meio
Ambiente, Art. 225, temos a seguinte afirmativa: Todos tem direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo
para presente e futuras gerações.
Esse princípio constitucional implica, pois, na responsabilidade política
de governantes, nas diversas esferas e das representações da sociedade civil,
como um todo. Nessa consideração, a educação, como um processo social
indispensável à formação da mentalidade de cidadãos de uma sociedade, integra
as responsabilidades dos poderes públicos e da cidadania.
Dessa forma, acreditamos que a contribuição da educação para o
contínuo processo de transformação pelo qual passa a sociedade é extremamente
relevante, resgatando a escola como principal espaço de socialização do
conhecimento.
Vendo educação ambiental como um processo contínuo, tentamos
abordar a inserção da temática ambiental, de forma interdisciplinar, ou seja,
trabalhada em todas as áreas do conhecimento presentes no cotidiano escolar,
nas relações entre o homem e a natureza, sendo articulada ao desenvolvimento
de aulas ativas e significativas que devem permear todo o processo ensino-
aprendizagem.
A proposta de tratamento interdisciplinar ao tema, engloba a visão
social e política que temos da realidade que queremos transformar. É uma
abordagem de integração horizontal das diversas disciplinas, procurando romper
com o simples somatório das partes para se atingir à integração.
Buscando a forma mais adequada de encaminhar esse conhecimento,
de maneira que facilite a compreensão da crise ambiental atual, ressaltamos a
interdisciplinaridade dos conteúdos que envolvam a questão, na educação formal
e não formal, privilegiando a gestão de uma educação por inteiro. Somente dessa
forma podem ser estabelecidas mudanças de atitudes com relação à formação e
ação do homem das quais fazem parte os aspectos afetivos, relacionais e éticos
concomitante aos racionais, lógicos e objetivos.
Como o conhecimento está ligado à formação da humanidade, o nosso
objetivo, neste trabalho, é o de levá-lo a contribuir, através dos processos
educativos, com formas solidárias de convivência entre os homens e a natureza.
Trata-se de uma educação una e múltipla no sentido cultural, e por isso, a
dimensão ambiental não deve ser confinada a uma disciplina, nos programas
educacionais, mas ser abordada em uma dimensão integrada e integradora dos
conteúdos, para produzir um pensar global e um atingir local.
Não queremos nos limitar a uma postura metodológica, mesmo porque
sabemos que a crise ambiental é uma questão complexa e instigante que envolve,
elementos teóricos e de ordem política, contraditórios. É que, interessadas na
compreensão e solução dos problemas sócio-ambientais vemos na
interdisciplinaridade uma contribuição valiosa no modo de se entender a questão
ambiental, uma vez que vemos essa abordagem como acolhedora do
conhecimento global que envolve tanto os conceitos locais como universais.
Buscamos a consciência de todos os indivíduos da sociedade para que
possamos chegar a uma maior equidade social. Interligamos, também a
concepção espiritual e material das funções do conhecimento para dar à vida,
sentido de humanização e transcendência. E somente essa consciência é capaz
de produzir as transformações necessárias no seio da sociedade.
A educação tem por finalidade contribuir para a formação do
homem pleno, inteiro, uno, que alcance níveis cada vez mais
competentes de integração das dimensões básicas – o eu e o
mundo – a fim de que seja capaz também de produzir
conhecimentos dos problemas com que os diversos grupos sociais
se defrontam ( Idem, 1995:83 ).
Tendo em vista a transdisciplinaridade4[4] da educação, o nosso objeto
de estudo, a educação ambiental, leva, também, em consideração a autonomia da
escola, sem a qual não seria possível uma única mudança na ampliação do seu
currículo, considerado nos diferentes contextos da educação escolar.
A análise de qualquer formação social tem que reconhecer a relação
dialética que existe entre o ser humano e o meio ambiente que ela vem
explorando, historicamente. Dessa forma, a abordagem interdisciplinaridade é a
mais adequada no entendimento da questão ambiental, sem querer dizer, no
entanto, que a interdiscipinaridade, por si só, deva solucionar os problemas
ambientais.

4[4] É um enfoque holístico do conhecimento que recupera as dimensões para a compreensão do mundo na sua integralidade ( AMBROSIO, 1998:19 ).
A partir dessa compreensão, dimensionamos, didaticamente, o
desenvolvimento desse capítulo em dois momentos. No primeiro, buscamos fazer
uma reflexão por dentro da escola e, no segundo, registramos nossa experiência,
na educação ambiental, através da intervenção do NEA/CEDU/UFAL, na área do
Reservatório da Hidrelétrica de Xingó.

Voltando o olhar sobre a Escola


(...) é possível superar a visão atomizada-
fragmentária e ter uma inserção mais
realista no movimento da sociedade
contemporânea.
(SILVA, 1993: 77)

A escola precisa construir um processo em que os alunos dominem


concepções e destrezas essenciais para a vida moderna, no sentido da proteção
do meio ambiente e da biodiversidade.
Acreditamos que a melhor forma de revolucionar o ensino encontra-se
nos pressupostos da pedagogia dialética que compreende a formação do homem
sendo construída, através, da elevação da consciência coletiva realizada,
concretamente, no processo do trabalho(integração) que cria o próprio homem.
Por isso, “(...) a pedagogia dialética da educação é social, cientifica, é uma
pedagogia voltada para a construção do homem coletivo, voltada portanto para o
futuro” (Gadotti, 1997: 147).
Orientada pelo enfoque interdisciplinar, a prática pedagógica da escola
deve romper com hábitos de acomodações, passando a construir a humanização
pela visão da dinâmica globalizadora. O processo de construção dessa prática
deve contar com o entendimento da necessidade de se trabalhar o coletivo com
diálogo, produzindo a intercomunicação dos educadores, associando teoria e
prática, relacionando o conteúdo do ensino à realidade social.
A relação da escola com a sociedade é que vai estruturar o currículo no
sentido de promover o homem ao invés de desumanizá-lo. Para isso é importante
enfocar a escola transformadora que deve buscar soluções para os problemas que
ameaçam a nossa própria sobrevivência.
O currículo da escola que propomos, deve levar em consideração a
contribuição e participação de todos os seus integrantes, tendo um olhar voltado
para as condições concretas de vida dos indivíduos que, também, estão inseridos
no contexto educacional. Assim se fará possível a superação da mesmice que se
processa na maior parte das escolas, onde a realidade dos sujeitos é totalmente
desconsiderada o que provoca a falta de interesse dos agentes desses processos,
considerados enquanto educadores e educandos.
Para se contemplar as demandas e a pluralidade cultural que compõe a
realidade brasileira, a temática ambiental elege conteúdos e instrumentos que
possibilitam aos alunos se posicionarem em relação às questões ambientais.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) o conteúdo de
Educação Ambiental deve ser trabalhado de forma transversal. A proposta é fazer
o aluno conhecer e compreender o meio ambiente, adotar novas posturas,
analisar situações, perceber fenômenos, conservar recursos naturais, valorizar a
diversidade natural e sociocultural e identificar-se como parte da natureza. Deve
assim, proporcionar ao aluno diversas experiências para poder trabalhar as
diferentes realidades na escola e, fora dela, considerando as especificidade de
cada região.
Baseadas nos PCNs e na experiência, destacamos, alguns temas
relacionados à temática ambiental que podem ser trabalhados nas instituições de
ensino:
• • conservação, tratamento e utilização da água;
• • saneamento básico: fossas, esgotos e outros;
• • coleta, destino, seleção e reciclagem do lixo;
• • poluição do ar, da água, do solo, etc.
• • manejo e conservação do solo;
• • cuidados com plantas, animais e seu desenvolvimento;
• • desperdício dos recursos naturais;
• • áreas de conservação, proteção e reserva ambiental;
• • valorização e proteção das diferentes formas de vida;
• • biodiversidade e direitos humanos.

A proposta apresentada nos PCNs deveria ter considerado a diversidade


das experiências cotidianas que foram desenvolvidas em sala de aula, de
diferentes Estados e Regiões, ao longo dessas duas últimas décadas. Isso porque
a realidade do aluno, ou seja, as suas representações devem ser o ponto de
partida para os demais conteúdos. Sem perder o enfoque teórico que perpassa
todas as questões ambientais, as atividades educativas nunca devem ter um fim
em si mesmas e as vivências de alunos e professores devem ser tomadas como
referencial de um currículo que se pretende interdisciplinar.
A escola precisa ser aberta e criativa e os educadores devem estar
conscientes da complexidade do mundo atual que implica em novas idéias e
maneiras para que possamos superar a rotina escolar que, muitas vezes, tem
sufocado o processo educativo.
Além disso, temos que proporcionar aos nossos alunos o exercício de
seus direitos e deveres como cidadãos do mundo e, “neste sentido a educação se
converte em um processo estratégico com o propósito de formar os valores, as
habilidades e as capacidades para orientar a transição na direção da
sustentabilidade”(LEFF, 1999:112).
A proposta maior da educação ambiental deve residir na transformação da
realidade pois, não é a natureza que está em desarmonia e sim o modelo de
desenvolvimento adotado pela sociedade atual, o promotor dessa desarmonia, por
isolar ao invés de interrelacionar os fatores do desenvolvimento.
Não podemos admitir processos educativos, apenas, pela promoção de
campanhas educativas. É preciso, fundamentalmente promover discussões
sobre a importância da educação como um processo contínuo e articulado em que
conhecimentos e valores precisam ser construídos e não transmitidos.
Para isso, faz-se necessário uma formação continuada dos educadores
para que possam contribuir para a busca do homem ser sócio-histórico que tem
perdido sua essência, num processo crescente de desumanização. Pretendemos
que seja promovida a conscientização para a preservação da natureza e da vida,
na diversidade de suas manifestações. Assim, a educação acontecerá de forma
mais significativa e dinâmica na produção sócio-antropológica.
A educação ambiental deve ser uma concepção totalizadora de
educação, e que só é possível quando resulta de um projeto
político-pedagógico orgânico, construído coletivamente na
interação escola e comunidade, e articulado com os movimentos
populares organizados e comprometidos com a preservação da
vida em seu sentido mais profundo (GARCIA, 1993: 35).
Os objetivos da educação ambiental devem estar incluídos na proposta
curricular da escola pois, em suas diretrizes, a educação ambiental deve integrar-
se ao conjunto dos processos educativos, ou seja, permear todos os conteúdos e
práticas dando sentido concreto às informações e ao conhecimento. Isso significa
fazer com que as experiências vivenciadas no cotidiano sirvam para a produção
de hábitos e internalização de valores, visando a integração dinâmica e construtiva
entre o homem, a natureza e a sociedade.
Para isso a escola deve ser o espaço de aprendizagens significativas,
facilitando a reconstrução dos princípios referenciais de análise da realidade que
deve ser trabalhada, entre todas as disciplinas, buscando uma visão
transdisciplinar em prol da melhoria das condições da biodiversidade no Planeta
Terra.
É importante considerar os avanços visíveis, nas escolas brasileiras, no
que diz respeito a essa nova leitura da relação sociedade natureza, apesar de que
algumas delas, ainda se mantenham num nível de reprodução e, não, de criação
do saber. Conserva-se, ainda, a relação aluno-mero receptor do conhecimento e
professor-detentor do saber.
Nesse sentido, a proposta que apresentamos para a Educação
Ambiental, busca uma ruptura com esse paradigma positivista e cartesiano do
conhecimento que distanciou o homem da natureza, para que possamos instituir a
produção do conhecimento em sua totalidade. E, sendo o conhecimento gerado,
integralmente, através da realidade na qual estamos imersos, sua estruturação na
forma fragmentária, por disciplinas, tem se apresentado inoperante na solução dos
problemas enfrentados pela humanidade.
Uma das alternativas na busca de solução para a inconsistência da
estrutura disciplinar é a interdisciplinariade que ultrapassa as fronteiras da
compartimentização do ensino-aprendizagem.
É através de um contato maior com a natureza que o aluno vai poder
questionar o que está acontecendo e idealizar um mundo novo que ele mesmo
será capaz de construir pelo desenvolvimento da consciência crítica que gera a
responsabilidade e o compromisso social. Por isso, à escola cabe provocar
processos de transformação coletiva de consciências e atitudes e, também,
voltar-se para a formação integral e integrada do ser humano, tendo como
princípio ativo a capacidade de:
Amar a si mesmo, amar o outro ser humano e os outros seres da
natureza - animados e inanimados. Amar. Amar. Amar.
Reverenciar a vida. Deslumbrar-se com o profundo mistério do
universo. Estabelecer relações harmoniosas com todos os seres,
compartilhando a alegria de pertencer ao planeta azul – Terra
(VIANA & HOEFFEL, 1998:69 ).
É, portanto, uma necessidade inadiável possibilitar, através da escola, o
entendimento das interações dos múltiplos componentes da realidade planetária
envolvendo os problemas ambientais naturais e sociais que ameaçam a
sobrevivência humana.
A educação precisa estabelecer suas reais finalidades para que ela
possa trabalhar, de forma clara, a noção de homem, cidadão do mundo, através
de uma ação conjunta e interdisciplinar, gerando um conhecimento questionador e
reflexivo, onde os conceitos relacionados ao meio ambiente sejam trabalhados
possibilitando que a compreensão do mundo seja algo possível.
Precisamos acabar com a postura comodista de pensar que nada
podemos, diante da imensidão dos problemas que nos cerca. Precisamos adquirir
uma responsabilidade política e técnico-pedagógica com as transformações que
precisam ser objetivadas e estabelecidas como metas, em nossas escolas.
Considerando, ainda, o papel da escola, na contemporaneidade do
desenvolvimento urbano-industrial, concordamos com Penteado (1994), na
necessidade de redefinir o papel da escola, na relação meio ambiente e educação,
quando afirma que:
o desenvolvimento da cidade e a formação da consciência
ambiental tem na escola um local adequado para sua realização
através de um ensino ativo e participativo, capaz de superar os
impasses e insatisfações vividas de modo geral pela escola na
atualidade, calcado em modos tradicionais (Penteado, 1994:54).

Nossa experiência na Educação Ambiental


O relato, bem como a análise de nossa experiência na área da
Educação Ambiental foi oportunizada pelo estágio do Projeto de Educação
Ambiental, constante do Convênio CHESF/UFAL desenvolvido pelo Núcleo de
Educação Ambiental5[5], na área contextualizada.
Registraremos as etapas das atividades de intervenção, desenvolvidas,
sem a pretensão de análises mais profundas, mesmo porque não é esse o nosso
objetivo, neste trabalho.
Começamos por considerar, em primeiro lugar, que essas atividades
possibilitaram resultados positivos, ainda que pontuais, para o povo daquela
região e para nós pesquisadoras da temática ambiental, cujo potencial poderá ser
perseguido pelas instituições e representações sociais locais. Em segundo lugar,
registramos a validade da experiência que nos permitiu ver o sertão nordestino de
maneira diferente.
Com o principal objetivo de desenvolver processos educativos formais e
não formais, o NEACEDU/UFAL iniciou sua intervenção, a partir do conhecimento
da realidade sócio-econômica e ambiental dos municípios no processo de
conservação e preservação ambiental.
Considerando a cultura como caracterizadora do modo de ser de uma
sociedade, com relação ao seu próprio desenvolvimento e a sua ligação com o
ambiente em que vive, o NEA/CEDU/UFAL procurou inserir a questão ambiental
sem confundir diferenças culturais com falta de cultura e sem querer impor nova
cultura ou descaracterizar a já existente.
Nesse sentido, analisamos a cultura da região do sémi-árido como
processo de identificação comunitária e como ponto de partida para conquistar a
participação dos moradores daquele município, oferecendo-lhes um projeto
revestido de traços culturais e inacabado, oportunizando a participação, através de
iniciativas que indicavam suas potencialidades e criatividade. Dessa forma as
propostas do NEA/CEDU/UFAL foram contempladas e compartilhadas entre os
moradores da região, ou seja, entre os agentes do processo.
Essa intervenção se deu, inicialmente, através de contatos e reuniões
com as representações locais, com vistas ao conhecimento da área e,
posteriormente, a elaboração do estudo sócio-ambiental através da participação
comunitária, desde o planejamento das ações.
Percebemos que os procedimentos de todo o projeto acompanham as
diretrizes pedagógicas transformadoras que priorizam a democracia e a
participação comunitária. Isso ficou demonstrado, através da intervenção dos
participantes (denunciando, sugerindo), a integração (através dos trabalhos em
grupo), a valorização do saber local, a percepção ambiental (através de palestras
e técnicas de sensibilização), a aprendizagem significativa (através de trilhas
ecológicas), a construção do conhecimento (através da produção, nas oficinas).
Além disso, a preocupação de articular as formulações do movimento

5[5] A partir desse momento, quando nos referirmos ao Núcleo de Educação Ambiental, usaremos a abreviatura, NEA/CEDU/UFAL..
ambientalista e a legislação ambiental permitiu capacitar multiplicadores em
educação ambiental, organizar ações educativas e instrumentos didáticos.
Para fazer uma sondagem sobre a problemática ambiental da região,
buscamos, a princípio, investigar na área do Reservatório do Xingó, a história de
vida dos seus moradores, valorizando os conhecimentos locais e comunitários,
que a nossa equipe procurou entender e respeitar, considerando que quem mais
entende de sua realidade é o povo que, nela, está inserido.
Assim, constata-se a necessidade de promover a conscientização dos
indivíduos para que eles mesmos façam a intervenção necessária em sua
comunidade, partindo de sua organização, buscando construir sua autonomia.
Outra etapa da nossa intervenção, sempre, contando com a
participação de técnicos, lideranças de ONG’s, integrantes de outros projetos e
professores municipais, foi a promoção dos cursos de capacitação de agentes
multiplicadores em educação ambiental. Sua concepção e metodologia
apresentava-se, através de uma abordagem transformadora e interdisciplinar do
conhecimento, visando a construção de sujeitos criativos, participativos e
conhecedores do seu poder de intervenção no processo de mudança necessária à
sociedade atual.
Percebemos que o NEA/CEDU/UFAL, vem procurando trabalhar com
dois elementos fundamentais da participação que são a cidadania e a cultura dos
envolvidos na multiplicação da educação ambiental. Além disso, considera a
escola e a sociedade como responsabilidade de todos e de cada um, vendo o
processo de construção de consciência e posturas éticas como fundamental para
que a escola e a sociedade se transformem plenamente. Por isso, norteia suas
ações pelos princípios básicos de uma educação ambiental transformadora e
promotora da sustentabilidade.
Todo o curso envolvia de forma ativa os seus participantes, através de
estratégias de integração, interdisciplinaridade, democracia e responsabilidade
sistematizada em cima dos diversos níveis do conhecimento, envolvendo a
produção didático-científica em inter-relação com o conhecimento popular;
articulando com as considerações metodológicas compreendidas pelo
NEA/CEDU/UFAL , que buscando operacionalizar a relação meio ambiente e
educação vem desenvolvendo também processos educativos no sentido de
possibilitar que a ação consciente e organizada dos grupos sociais envolvidos
exercitem a vivência da cidadania, no trato das questões ecológicas e ambientais,
em sintonia com a qualidade de vida.
Essa capacitação foi de grande importância para a reflexão e ação
pois trouxe resultados significativos como a construção de um
plano de ação a partir da percepção ambiental, priorizando a
construção de bases de apoio na busca de ações autônomas dos
grupos sociais articulados, através da eleição de representantes
para a composição de um grupo de Educação Ambiental - GEA
para, sob acompanhamento do NEA, coordenar e desenvolver as
ações planejadas pelo grupo e pelos participantes do curso de
multiplicadores em educação ambiental.(Relatório Trimestral
(NEA/CEDU/UFAL 1998).

Esse plano elaborado pelos participantes traz a situação sócio–


ambiental acerca dos efeitos e impactos causados pelo próprio homem e pela
construção de usinas hidrelétricas e barragens constatando o uso incorreto dos
recursos naturais, desmatamentos, queimadas, introdução de espécies
predatórias, redução do volume do pescado, lixo, devastação da flora e da fauna,
caça predatória, pesca predatória, falta de saneamento básico, ausência de água
encanada, redução de água e seca que promove a fome e a miséria.
Na verdade e, considerando os aspectos positivos de nossa
experiência, constatamos, no entanto limitações como a falta de acesso a escola
(zona rural), moradia, oportunidade de trabalho e renda, informação, integração,
alternativa para o pescador, articulação dos conteúdos curriculares das escolas às
proposições de educação ambiental, ações políticas efetivas para o
desenvolvimento regional, tratamento da vazão da água do reservatório, manejo
adequado dos solos da região.
Do ponto de vista do NEA/CEDU/UFAL, a falta de recursos humanos,
financeiros e materiais dificultam uma melhor dinamização de sua proposta.
A forma como este trabalho está tendo andamento, ou seja, sempre
seguindo processos metodológicos de participação, sistematizando o
conhecimento construído da realidade sócio-ambiental e das atividades, mostra
que é possível educar esses indivíduos para que eles cuidem do ambiente que
ocupam conservando, preservando e multiplicando o compromisso com a
sobrevivência das futuras gerações.
Cooperando com a recuperação do meio ambiente, o NEA não procura
esconder a sua posição de elemento externo aos municípios, pelo contrário,
procura se identificar com a causa comunitária além de buscar uma interação
através de contatos constantes que resultam numa convivência de confiança e
cooperação que permite um trabalho conjunto.
Acreditamos que os municípios com os quais trabalhamos precisam,
principalmente, do apoio necessário para continuar, preservando o meio ambiente,
descobrindo formas de conviver e respeitar o sertão para que continuem vivendo e
escrevendo a história do semi-árido.
A experiência de nosso estágio contribuiu para a nossa conscientização
em torno das alternativas para melhorar a qualidade de vida das populações,
enquanto educadoras formadas pelo NEA/CEDU/UFAL. Valorizando a prática e o
conhecimento adquiridos a convivência com as populações do semi-árido
estimulou a construção de atitudes racionais perante os problemas ambientais
citado por eles, para criar alternativas de sustentabilidade na relação homem-meio
ambiente e para promover a sabedoria em Educação Ambiental para a qualidade
de vida.
Aprendemos muito com essa experiência, inclusive pela própria
natureza do projeto do NEA/CEDU/UFAL que traz uma ação interdisciplinar e
flexível, sendo democrática na valorização do saber popular daquela região,
seguindo os rumos indicados no desenvolvimento das ações o que possibilita a
conscientização e o compromisso com a questão da educação ambiental.
Para que haja essa multiplicação, ou seja, para que a formação de
consciência seja contínua numa determinada sociedade é preciso que haja a
relevante contribuição da escola como espaço de socialização do conhecimento
que pode transformar a sociedade. A estrutura do currículo escolar, também,
deve promover o homem, fazendo-o buscar soluções para os problemas que
ameaçam a nossa sobrevivência, porque só se aprende a ser cidadão
participando das decisões que dizem respeito ao seu ambiente/município.
Pretendemos educar em sentido mais amplo, considerando as diversas
experiências sociais, culturais e intelectuais do aluno, ou seja, respeitando sua
história de vida, linguagem, costumes, condições sociais, moradia e lazer.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da pesquisa-ação nos foi possível constatar que as
comunidades nas quais foram feitas as análises são conhecedoras de suas
necessidades, limites e dificuldades, porém as mudanças precisam ser profundas,
tendo em vista o nível de degradação constatado.
A experiência nos ensina que é preciso considerar que o melhor para o
homem, talvez não seja o melhor para a natureza, porque as capacidades
humanas podem ser utilizadas para a destruição ou conservação. O ser humano
pode derrubar e plantar árvores, degradar ou adubar o solo, proteger os animais
ou matá-los até a sua extinção, provocar ou evitar queimadas, purificar ou poluir a
água, acelerar a desertificação ou contê-la.
Nesse processo de investigação e compreensão da dinâmica do
modelo de desenvolvimento adotado, naquela região e no mundo, destacamos as
transformações pela qual a sociedade está passando e sua contribuição na busca
da sustentabilidade das relações entre o homem e o ambiente. Percebemos,
também, a educação formal e não-formal como base para o exercício da cidadania
e a leitura crítica da realidade, porque somente através da participação plena e
consciente do homem é possível a construção de uma sociedade sustentável.
É importante considerar que a ampliação do conhecimento conduz o
educando a um entendimento mais consciente da questão ambiental, a partir de
uma participação mais efetiva na realidade, construindo suas próprias
experiências de vida, na perspectiva do processo de mudança e de transformação
da sociedade onde vive.
Na aurora do terceiro milênio a humanidade precisa despertar.
Precisamos enxergar melhor o mundo, voltando o olhar para essa realidade,
devendo retirar o que nos impossibilita ver, da melhor maneira, um planeta
esplêndido, sua biodversidade espetacular, a importância da cadeia da vida.
Considerando a relação sociedade-natureza apreendemos que o processo
educativo na busca da sustentabilidade vai trabalhar a valorização da natureza em
consonância com a promoção humana. Este processo não pode ser reduzido a
um aligeiramento de conscientização ou à incorporação de conteúdos ecológicos
na grade curricular e a disciplinas como: estudos sociais e ciências, uma vez que,
certamente, provocará uma mutilação do conceito de ambiente, conduzindo ao
desconhecimento do valor da educação ambiental.
No mundo contemporâneo, precisamos, urgentemente, contribuir para a
construção de uma sociedade sustentável ou iremos entrar em extinção
juntamente com as diversas espécies de animais e vegetais. Fazemos parte de
uma cadeia biológica e, se esta for quebrada, todos os seres vivos serão
grandemente afetados. O que será desse “Planeta Azul”?!
Com essa experiência de poder identificar problemas e buscar soluções,
descobrimos, a cada dia, novas relações entre o ser humano, a natureza e a
educação. Reconhecemos a educação ambiental como uma questão intrínseca ao
exercício da cidadania, vendo-a, portanto, como uma educação política. Com essa
concepção, temos certeza que a terra castigada e tão querida do sertão, traz na
vontade de construir consciências, hoje, a esperança sobre o futuro. Esperança de
termos uma educação melhor, uma qualidade de vida melhor. Um mundo melhor.
Essa experiência foi muito importante por nos oportunizar ações
transformadoras, uma vez que participamos do desenvolvimento de consciências
emancipatórias promovido pelo NEA/CEDU/UFAL, acerca da questão ambiental.
Esperamos ter construído uma referência para as entidades competentes da educação
em geral e, especialmente, aquelas que trabalham a questão, ambiental tanto em relação aos
municípios pesquisados como em nível planetário.

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