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Palavra-devir
Súbita parcela de pressa para entrar em outro sono. / Com chuva, 5 parcelas de suspiro. / Sem
óleo, olhos grudam no fundo. / Fora da situação, dentro do tempo. / Com sede, com chuva. /
Sinal de luz, acidente da fala. / Pigarro, cigarra. / Sem sinal, talvez mais tarde. / Com chuva, 7
pedaços de tomate. / 8 parcelas de pressa numa compressa. / Depois tossir. / Antes, piscar. / No
susto de uma pequena pausa em fogo baixo. / Coisas com atraso, sem pressa. / Atrasos com
coisas, sem testa. / 10 parcelas em 5 vezes sem sede ou 8 parcelas de sal em 3 vezes sem sol
ou 15 parcelas de sono em 7 vezes sem som. / Antes, latir. / Depois, coçar. / Sem respirar, sem
tropeçar. / 20 parcelas de calma em 40 vezes sem sono. / Súbita cena, sede de óleo. / Soluço
não faz mal. / Sem pé nem cabeça, sonâmbula. / De costas, com sono. / Com dúvida, 18
parcelas de suspiro. / 50 cenas de areia cabem em 15 bocas. / 70 bocas fechadas cabem em 15
anos de sono. / 80 minutos de sonho cabem em 27 cenas. / 50 minutos de fala cabem em 30
litros de óleo. / 3 segundos de som cabem em 3 dias de chuva. / 15 kg de areia cabem em 80
bocas com 80 bolsos. / Nenhum avesso frita sem se virar. / Nenhum som pára no ar. / Em
situação de nuvem, apague o olho. / Súbita parcela de sono para entrar em outra chuva. / Súbita
parcela de fala para entrar em outra boca. / Testar o texto na testa. / Texto sem som, sem sal. /
Dentro de um vento sem fome. / No susto de uma pequena pedra nos risos. / Engolir a fala. /
Atrasos imediatos. / Sapato sem par. / Susto sem ar. / Mapa misto com possibilidade de
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escorregar.
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Súbita parcela de sono para entrar em outra pressa. Sem sal, sem sinal. Com chuva, 5 parcelas
de espera. Com dúvida, parede ímpar. Dentro do sapato, pedra calva. Sem pé nem cabeça,
coceira. Sem óleo, olhos furam no fundo. Com vontade, compressa de vinagre. Ar do fora, sem
vento. Com soluço, acidentes da sala. Com sede, com chuva. Sem fôlego, com tempo. Com sol,
sem vento. Com vento, sem tempo. Com tempo, sem sol. Com calma, com sede de fala. Pigarro,
agarra. Súbita parcela de pressa para entrar em outro sono. Sem sinal, sem calma. Com luva, 7
pedaços de tomate. Sem sal, sem pé nem cabeça. 8 parcelas de pressa numa compressa. Sem
medo, sem sossego. Nos dedos, sem sede. Depois tossir. Antes, piscar. No susto de uma
pequena pausa. Coisas com atraso, sem pressa. Atrasos com coisas. Testes avulsos, sem som.
12 parcelas em 7 vezes sem som ou 4 parcelas de sim em 2 vezes sem sal ou 19 parcelas de
sono em 7 vezes sem sol. Antes, latir. Depois, ar. Sem medo, imóvel. Sem respirar, sem
tropeçar. 30 parcelas de calma em 4 vezes sem sono. Súbita cena, sede de olho. Sozinha em
casa, sem sal. É cedo, com sol. Sonâmbula, sem vento. De costas, com sono. Com dúvida, 18
parcelas de grilo. 80 cenas de água cabem em 15 bocas. 50 portas fechadas cabem em 15 anos
de sono. 80 minutos de susto cabem em 15 segundos. 50 minutos de sol cabem em 30 pés de
tomate. 3 segundos de chuva cabem em 3 dias de som. 15 kg de assobio cabem em 80 bolsos
com 80 bocas. Nenhuma língua dorme com sal. Nenhum som no ar. Nem em situação de cisco.
Em situação de nuvem, apague o olho. Em situação de olho, apague a nuvem. Súbita parcela de
chuva para entrar em outro sono. Súbita parcela de fala para entrar em outra boca. Testar o texto
na testa. Anotar depois do sono. Sem sinal. Cedo nos dedos sede. Texto-som sal. Dentro de um
vento sem fome. No susto de uma pequena pedra. Engolir a sala. Atrasos imediatos.
Circunstância circunscrita. Ato sem par. Susto. Mapa misto com possibilidade de escorregar. vi
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26 . palavras a vácuo
Palavras a jato + panquecas fantasmáticas = palavras a vácuo.
Texto muito cansativo, oleoso, invertebrado. Testar a fala. Contabilizar quantidades
de coisas e situações e tentar equivalências. Administrar a impaciência ou o
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desespero. / - Pular essa faixa sempre que quiser ou puder.
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As palavras estão em suspenso; essa suspensão é uma oscilação muito delicada, um tremor que
não as deixa nunca no lugar.
– No entanto, elas também são imóveis.
– Sim, de uma imobilidade mais movediça do que tudo que se move.
A desorientação age na palavra, por uma paixão de errar que não tem medida. xiv
escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa
qualquer matéria vivível ou vivida. É um processo, ou seja, uma passagem de Vida que
atravessa o vivível e o vivido. A escrita é inseparável do devir: ao escrever, estamos num devir-
mulher, num devir-animal ou vegetal, num devir-molécula, até num devir-imperceptível. (...) O
devir está sempre ‘entre’ ou no ‘meio’”. xv
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Para Gilles Deleuze e Félix Guattari, o devir não consiste em imitar algo
ou alguém, tampouco em identificar-se com ele. O devir consiste em “a partir
das formas que se tem, do sujeito que se é, dos órgãos que se possui ou das
funções que se preenche, extrair partículas, entre as quais instauramos
relações de movimento e repouso, de velocidade e lentidão, as mais próximas
daquilo que estamos em via de nos tornarmos, e através das quais nos
tornamos”. xvii O devir implica em colocar-se num processo de proximidade e
aproximação, de se colocar numa zona de vizinhança com o outro, e fazer
rizoma xviii com ele.
Obscuro silêncio
O erro e o facto de se estar a caminho sem jamais poder parar transformam o finito em infinito.
Ao que se acrescentam estes traços especiais: apesar de o finito ser fechado, é sempre possível
esperar sair dele, enquanto que a infinita vastidão, por ser sem saída, é prisão; do mesmo modo
que todo lugar absolutamente sem saída se torna infinito. O lugar do descaminho ignora a linha
recta; nunca se vai de um ponto a outro ponto; não se parte daqui para chegar ali;
xix
nenhum ponto de partida e nenhum começo para a caminhada.
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Hill sublinha que o que lhe interessa é criar uma relação com a
materialidade de um texto, com a sua ‘‘fisicalidade’’, muito mais do que querer
ter sua compreensão lógica ou explicação:
Pour moi, c'est comme si on touchait le texte, comme si on pénétrait à l'intérieur, comme si on en
abordait le sens par un autre axe. Par exemple, je pense que lorsqu'on lit un texte difficile, la
beauté de ce texte vient de ce qu'on n'est pas tout à fait sûr de son sens exact. Et ce n'est pas
parce qu'on est parti sur une autre piste, frontalière, ou qu'il nous faut relire parce qu'on a déjà
oublié ce qu'on vient de lire. C'est parce que cela ouvre sur quelque chose qu'on ne comprend
pas totalement. A ce moment-là, notre esprit doit tenter de construire à partir de ce texte qui est
plus qu'une syntaxe, plus qu'une simple succession de mots. Or c'est exactement ce vers quoi
xxii
tendent bon nombre de mes oeuvres: une sorte de rupture possible du sens.
Il lisait. Il lisait avec une minutie et une attention insurpassables. Il était, auprès de chaque signe,
dans la situation où se trouve le mâle quand la mante religieuse va le dévorer. L'un et l'autre se
regardaient. Les mots, issus d'un livre qui prenait une puissance mortelle, exerçaient sur le
regard qui les touchait un attrait doux et paisible. Chacun d'eux, comme un oeil à demi fermé,
laissait entrer le regard trop vif qu'en d'autres circonstances il n'eût pas souffert. Thomas se
glissa donc vers ces couloirs dont il s'approcha sans défense jusqu'à l'instant où il fut aperçu par
l'intime du mot. Ce n'était pas encore effrayant, c'était au contraire un moment presque agréable
qu'il aurait voulu prolonger. Le lecteur considérait joyeusement cette petite étincelle de vie qu'il ne
doutait pas d'avoir éveillée. Il se voyait avec plaisir dans cet oeil qui le voyait. Son plaisir même
devint très grand. Il devint si grand, si impitoyable qu'il le subit avec une sorte d'effroi et que
s'étant dressé, moment insupportable, sans recevoir de son interlocuteur un signe complice, il
aperçut toute l'étrangeté qu'il y avait à être observé par un mot comme par un être vivant, et non
seulement par un mot, mais par tous les mots qui se trovaient dans ce mot, par tous ceux qui
l'accompagnaient et qui à leur tour contenaient en eux-mêmes d'autres mots, comme une suite
xxiii
d'anges s'ouvrant à l'infini jusqu'à l'oeil de l'absolu".
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Escrever, não é expor a palavra ao olhar. O jogo da etimologia corrente faz da escrita um corte,
um dilaceramento, uma crise. [...] Falar, como escrever, nos engaja num movimento de
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separação, uma saída oscilante e vacilante.
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terreno se desfaz, se liquefaz no fluxo da água do mar. Basta uma palavra para
a erosão, para a queda, para o desfalecimento. Para Arlindo Machado, “a
metáfora do terreno desbarrancando cada vez que alguém pronuncia uma
palavra é precisa para designar a falência da linguagem como ponte de contato
entre nós, os outros e o mundo.” xxix
Seria a linguagem um silencioso espaço sem saída e, portanto, infinito?
Escrita e desvio
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Porque há dois silêncios, (...) ou duas maneiras de pensá-lo, ambas antagônicas e que definem
mais ou menos (enquanto estivermos no discurso) duas filosofias. (...) o silêncio nada mais é, de
início, que a ‘falta de sentido’ de tudo, e do próprio sentido. É outro nome do real. De fato, para
nós, que falamos, o silêncio é ausência, não de ruído, mas de sentido. Portanto, um som pode
ser silencioso (sempre o é, quando ninguém o interpreta), e pode dar-se que um silêncio seja
xxxix
sonoro. É o caso do eco das ondas ou das renúncias.
O silêncio, na realidade, não existe. Nunca existe uma ausência de som, que é como os
dicionários definem o silêncio. O silêncio é simplesmente... uma questão mental. Uma questão
de saber se uma pessoa está escutando os sons que não está provocando. Não sou eu que faço
os pássaros cantarem, mas eu os ouço e não estou falando: a isso chamamos de silêncio. O
silêncio é um meio de ouvirmos o que nos cerca. xlii
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silêncio existe que não esteja grávido de sons.” xliii O silêncio ganha uma
potência, uma dimensão de pausa e plano de partida, consistindo num motor
ou alavanca para a invenção de algo. Como escreve Deleuze,
O problema não é mais fazer com que as pessoas se exprimam, mas arranjar-lhes vacúolos de
solidão e de silêncio a partir dos quais elas teriam, enfim, algo a dizer. (...) Suavidade de não ter
nada a dizer, direito de não ter nada a dizer; pois é a condição para que se forme algo raro ou
xliv
rarefeito, que merecesse ser dito.
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Referências bibliográficas
Catálogos
HILL, Gary. O lugar do outro. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1997.
Revistas
Código 3. Salvador, agosto de 1978, s/p.
Cds
STOLF, Raquel. FORA [DO AR]. Florianópolis: Edição do Autor, 2002-2004.
Vídeos
Kit para terceiros socorros. Concepção, câmera, ação e áudio: Raquel Stolf; Edição:
Glaucis de Morais. Duração: 5’ 24’’. Formato original: miniDV NTSC. Florianópolis,
2003-2004.
Projeto secreto [ estadias instáveis. Concepção, edição, câmera, ação e áudio:
Raquel Stolf. Formato original: miniDV NTSC. Florianópolis, 2004-2005.
Rabo do buraco. Concepção, edição, câmera, ação e áudio: Raquel Stolf. Duração: 1’
42’’. Formato original: miniDV NTSC. Florianópolis, 2005.
Outros
STOLF, Mª Raquel da Silva. O neutro, o outro e o fora – intersecção entre conceitos
de Maurice Blanchot e a produção artística contemporânea. In: Anais do XIV
Encontro Nacional da ANPAP – Cultura Visual e Desafios da Pesquisa em Arte,
ANPAP: Goiânia, 2005.
___ Espaços em branco – entre vazios de sentido, sentidos de vazio e outros
brancos. Dissertação de Mestrado em Artes Visuais no Instituto de Artes. Porto
Alegre: UFRGS, 2002.
STOLF, Raquel. Impossível silenciar o mundo. Caderno de poemas, Florianópolis:
1996.
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i
BLANCHOT, 2001, p. 68.
ii
STOLF, 2004, (instalação). A primeira montagem da instalação aconteceu na exposição individual
“FORA [DO AR]”, ocorrida no Museu de Arte de Santa Catarina, em Florianópolis, 2004.
iii
STOLF, 2002-2004.
iv
Pelo processo de jateamento, onde o texto continua transparente como a superfície de vidro,
diferenciando-se dela pelo aspecto fosco.
v
STOLF, 2002-2004 (cd-objeto de áudio).
vi
Idem, s/p.
vii
“Palavras a vácuo” constitui a faixa 26 do cd-objeto “FORA [DO AR]”.
viii
Quando estava fazendo panquecas para o almoço, em maio de 2002, na medida em que espremia as
panquecas com a espátula, pressionando-as contra a frigideira, elas faziam ruídos franzinos, assobios
agudos e quase fantasmagóricos. Resolvi gravar esse som digitalmente, sendo que esta experiência
culinária foi um dos fatores que desencadeou o desenvolvimento do projeto “FORA [DO AR]” (composto
por diferentes proposições artísticas: de instalações, objetos e vídeos a um cd-objeto).
ix
STOLF, 2003-2004.
x
Estes procedimentos podem também ser modos ou possibilidades de escrita. Onde, por exemplo, a
escrita entraria num devir-desenho (num devir-linha, devir-sombra, devir-desígnio, devir-contorno) ou num
devir-vídeo (num devir-tempo, devir-cross-dissolve). Mais adiante, desdobrarei o conceito de devir.
xi
STOLF, 2003-2004 (vídeo instalado).
xii
STOLF, 2004.
xiii
BLANCHOT, 2001, p. 29.
xiv
Ibid., p. 66.
xv
DELEUZE, 1997, p. 11. E “Escrever não é contar as próprias lembranças, suas viagens, seus amores e
lutos, sonhos e fantasmas. (...) As duas pessoas do singular não servem de condição à enunciação
literária; a literatura só começa quando nasce em nós uma terceira pessoa que nos destitui do poder de
dizer Eu (o ‘neutro’ de Blanchot)” (Ibid., p. 12-13).
xvi
“Anesdoque” constitui uma palavra que inventei, em 1997, significando: “Grupo de mosquitos que soam
mais agudo que o usual e que tentam picar superfícies de vidro”. De certo modo, influenciou toda uma
série de exercícios de escrita que catalisaram a construção dos textos que compõem as nove edições da
publicação experimental “Sofá”, projeto desenvolvido desde 2003 pelos participantes da disciplina que
venho ministrando no Centro de Artes da UDESC, denominada “Laboratório de Invenção de Textos”, que
propõe a investigação dos múltiplos usos da palavra em proposições artísticas, pensando suas
dimensões imagéticas, sonoras, ficcionais e documentais.
xvii
DELEUZE e GUATTARI, 1997, p. 64.
xviii
No campo artístico, talvez a ficção implique um uso rizomático da palavra, compartilhando
características do conceito proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari (DELEUZE e GUATTARI, 1995).
Para os autores, o rizoma é uma antigenealogia e uma antigenealogia significa que não existem nexos
associativos entre uma coisa e outra. O rizoma procede por variação, expansão, captura, picada. Podem-
se juntar incompossíveis – elementos/coisas díspares – num plano rizomático e não arborescente, no
sentido de não seguir uma hierarquia, ordem, procedência por linhagem ou gerações. O rizoma pode ser
quebrado em qualquer lugar, onde qualquer ponto se conecta a outro sem começo nem fim,
caracterizando-se pela heterogeneidade, descontinuidade, ruptura e multiplicidade.
xix
BLANCHOT, 1984, p. 104.
xx
“Transcriação” ou “intradução” é um termo proposto pelos escritores Augusto e Haroldo de Campos ao
se referirem à atividade de tradução, concebendo-a como reinvenção minuciosa, inevitável exercício de
criação. Segundo Haroldo de Campos, numa introdução à primeira edição da transcriação de fragmentos
de Finnegans Wake, de James Joyce, “(...) a tradução se torna uma espécie de jogo livre e rigoroso ao
mesmo tempo, onde o que interessa não é a literalidade do texto, mas, sobretudo, a fidelidade ao espírito,
ao ‘clima’ joyciano, frente ao diverso feixe de possibilidades do material verbal manipulado. E há uma rede
renhida de efeitos sonoros a ser mantida, entremeada de qüiproquós, trocadilhos, malapropismos”
(CAMPOS, 1986, p. 21-22).
xxi
HILL, 1997, p. 13.
xxii
HILL In http://www.mauriceblanchot.net/blog/index.php/2005/04/10/49-gary-hill-et-maurice-blanchot.
Tradução livre de minha autoria: “Para mim, é como se nós tocássemos o texto, como se penetrássemos
em seu interior, como se nós abordássemos o sentido por um outro eixo. Por exemplo, penso que quando
lemos um texto difícil, a beleza deste texto vem de não se estar completamente certo do seu sentido
exato. E não é porque se partiu por outra pista, fronteiriça, ou que precisamos relê-lo porque já nos
esquecemos do que se acaba de ler. É porque aquilo desdobra sobre algo que não se compreende
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totalmente. Neste momento, nosso espírito deve tentar construir a partir deste texto que é mais que uma
sintaxe, mais que uma simples sucessão de palavras. Ora é exatamente para isto que tendem muitas das
minhas obras: uma espécie de ruptura possível do sentido.”
xxiii
BLANCHOT, 2005, p. 27-28.
xxiv
ODIN In http://www.newmedia-art.org/cgi-bin/show-oeu.asp?ID=I0150295&lg=FRA. Tradução livre de
minha autoria: “É que o visível, bloqueado entre a solidez do tangível e o fio/corte da escrita, exprime
relações íntimas e violentas entre imagem, texto e corpos. Passamos da carne das palavras ao texto das
coisas.”
xxv
Idem. Tradução livre de minha autoria: “A escrita, etimologicamente, é precisamente um movimento
cortante, uma ruptura. Ela procede por incisões ou rupturas. A grafia, é o arranhão.”
xxvi
BLANCHOT, 2001, p. 66.
xxvii
Ibid., p. 68.
xxviii
Ibid., p. 68.
xxix
MACHADO In HILL, 1997, p. 32.
xxx
CABANNE, 1997, p. 153.
xxxi
STOLF, 1996, p. 4-50.
xxxii
STOLF, 2004-2005 (vídeos instalados).
xxxiii
A expressão “fantasma constrangido” foi colocada pelos artistas Diego Rayck e Aline Dias quando
ambos assistiram aos vídeos pela primeira vez, em 2005.
xxxiv
Em minhas viagens, em 2004, durante a itinerância da proposição “Lista de coisas brancas – coisas
que podem ser que parecem ou que eram brancas”, pelos espaços do SESC em Santa Catarina, a
estadia breve e solitária em diferentes hotéis, em cidades pequenas, catalisou o processo de criação dos
vídeos. Resolvi levar um saco de pano que havia costurado em 1998 (para realizar uma ação na
universidade, mas que acabou acontecendo somente como fotografia) e, diante da câmera de vídeo,
executava um silencioso passeio pelo quarto, registrando também alguns detalhes banais e/ou estranhos
do quarto em que estava. Em 2005, no processo de edição digital dessas imagens, o tempo foi
desacelerado e, entre outros procedimentos, foi anexado ao vídeo a trilha sonora (“Panquecas
Fantasmáticas”).
xxxv projeto
“ - bloco de coisas feitas e a fazer, com muitas tubulações de idéias e movimentos, com
incessantes intensidades e desejos abertos, lançados para diante / secreto- aquilo que tenta se manter
estadias
coeso como uma bola de cristal de bolso, mas que secreta algo sem saber, sem ver e sem falar / -
ficar lá por alguns instantes que duram noites ou ficar aqui por alguns dias que duram segundos ou
permanecer ali durante uma ou sete esquinas de tempo / instáveis- aquilo que insta. aquilo que não está
mais ali quando se pensa que está. aquilo que oscila num piscar. isso que passou e não ficou. tentar sair
de si. errância imóvel” (STOLF, 2005, texto em folder de exposição).
xxxvi
BLANCHOT, 1997, p. 81.
xxxvii
Proposição sonora que faz parte do cd-objeto “Caixa de sono”, em processo de finalização.
xxxviii
STOLF, 2005, (vídeo instalado).
xxxix
COMTE-SPONVILLE, 2000, p. 185.
xl
Idem, p. 330.
xli
CAGE In Código 3, 1978, s/p.
xlii
Idem, s/p. O silêncio é muito caro a John Cage, sendo crucial em suas concepções musicais e
constituindo o título do seu primeiro livro: “‘Silence’ inaugurou uma série de inclassificáveis livros-
mosaicos, misturando artigos, manifestos, conferências, poemas, aforismos e anedotas exemplares
(koans). A Year from Monday (1967) é o segundo compêndio da visão que eu chamaria ‘anarcosmusica’
de Cage: nesse livro ele inicia a publicação de seu ‘Diário: como Melhorar o Mundo (Você só Tornará as
Coisas Piores)’, uma série de reflexões pessoais, reunidas fragmentariamente numa salada de citações,
um tanto à maneira de Pound (nos ‘Cantos’), mas numa dimensão discursiva mais próxima do que
Buckminster Fuller viria a chamar de ‘ventilated prose’ (prosa porosa). Segue-se ‘M’ (1973), um título
sugerido pela letra ‘M’, escolhida ao acaso, mas que é a inicial de muitas palavras e nomes de Cage: de
‘mushrooms’ (cogumelos) a ‘music’, de Marcel Duchamp a Merce Cunningham (...). O último livro dessa
linhagem é ‘Empty Words’ (‘Palavras Vazias’), de 1979. Nele aparecem os derradeiros fragmentos do
‘Diário’, que ficou interrompido” (CAMPOS, 1998, p. 134).
xliii
CAGE, 1985, p. 98.
xliv
DELEUZE, 1992, p. 161-162.
xlv
SÁNG, 1999, p. 149.
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