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Protestantismo Tupiniquim

Gedeon Alencar

A r t e E d it o r ia l
A 368p
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
CIP-Brasil. Catalogação na fonte.__________
Alencar, G edeon
Sumário ^
P rotestantism o tupiniquim : hip óteses d a (não) contribuição *
evangélica à cultura brasileira / G edeon Alencar. — S ão Paulo: Arte Editorial,
, 2005.
1 6 0 p .;2 1 c m . «

ISBN 85*98172-08-1

1. Protestantism o - Brasil. 2. P entecostalism o - Brasil.


3. Cultura Religiosa. 4. M ovim entos Religiosos - Brasil. 5. Religião. I.
Título

____________________ CDD280

(Bibliotecário responsável: João Vitor H a n n a de S ouza - C RB 10/1649) Agradecim entos e Ressalvas ......................... , 7
In tro d u ç ã o . 11
I - Delimitando os c o n ce ito s....................................................................................... 15
1. Cultura como produção humana • 2. Da Reforma ao Gospel Protestante •
C opyrig ht © 2 0 0 5 pelo autor. 3. O protestantismo brasileiro é anti-católico • 4. O protestantismo brasileiro
C o o rd e n a ç ã o editorial: M a g n o P aganelli é brasileiro • 5. Seita, Igreja e Denominação • 6. Mimetismo denominational
R evisão: C élia Bonilha e R icardo M uniz sincrético e o samba do “teólogo doido"
Projeto gráfico: M a g n o P aganelli II - A Form ação da Nação B rasileira............................. 27
2 ã Edição: abril 2 0 0 7 1. As teorias de "explicação" do^ Brasil: a) A ideologia da democracia racial
de Gilberto Freyr.e b) O triângulo ritual de Roberto DaMatta • 2. Os brasis
P ublicado no Brasil por Arte Editorial da “tivilizaçãq sincrética brasileira": índios, portugueses e afros
III - A F orm ação Protestante Brasileira ........................ . . . 37

A
1. Protestantismo de emigração • 2. Protestantismo de missão • 3. Protes­
tantismo penteeostal • 4. Protestantismo contemporâneo
IV - A democracia brasileira tem um a "m arca b a tis ta " ? ............................... 53
Teologicamente democratas? • Antes da democracia brasileira, exis­
A r t e E d i t o r ia l tiam os batistas • Pentecostalismo de massas & comissão política •
A Democracia brasileira "tem uma marca batista"? 1. A democracia
batista é uma farsa • 2. O modelo social ê o passado e não o presente • 3.
Todos os direitos reservados na língua
A exacerbação do indivíduo • 4. A separação entre Igreja & Estado se
portuguesa por Arte Editorial
tomou Igreja & Sociedade • 5. O escatologismo milenarista • 6. Yes, nós
Rua Tiro ao Pombo, 402 / 2983 - Freguesia do Ó
temos batistas: modelo de vida americano • 7. A função da Igreja não é,
02844-060 - São Paulo - SP
editora@arteeditorial.com.br afinal, em-direitar o mundo? • 8. Democracia seletiva
V - A Construção do W asp Tupiniquim .................................................... 69
1. A histórica (não) relação da cultura brasileira com o protestantismo • a) A
cultura da pegação • b) A cultura da acomodação • c) A cultura da assimilação
• 2. “Camalização gospel": o protestantismo brasileiro produzindo cultura •
-3. A "pasterização" gospel: "seroa da opinião pública" • 4. A “carlapereniza-
ção" da cultura brasileira
, VI - Neopentecostalismo e sua adequação cultural . . . 83
l. Crescimento numérico • 2. O neopentecostalismo é a cara do Brasil sincrético
• 3. Samba, futebol e carnaval • 4. A Marcha para Jesus: "camavalização
gospel" • 5. Adequação da teologia do corpo • 6. Independência institucional
• 7. Personalismo versus hierarquia • 8. Big Brother Gospel'• 9. Quadro
"Os dois caminhos"
P rotestantism o T upiniquim

Portanto, o viés da análise é de alguém comprometido. Introdução


Sou b rasileiro , n o rd estin o, cabra da peste cearen se,
protestante, arm inian ista, filho de pastor, presbítero *
assembleiano, sociólogo, ex-petista e ex-tucano. De algumas
coisas eu pedi perdão a Deus, outras não tem jeito. Isto é
motivo de orgulho ou vergonha? Ô, xente!

As imagens são belíssimas. É um comercial de 30 segundos


produzidos pelo Governo para incentivar o turismo nacional.
Uma bricolagem. Tem gaúchos, mineiros, sertanejos, índios,
seringueiros, operários, vaqueiros, sambistas. Tem jangadas,
montanhas, praias, florestas, Cataratas do Iguaçu, o Pão de
Açúcar, o Elevador Lacerda, o Cristo Redentor e, na areia da
praia, algumas flores e velas. Esta imagem, como as demais, não
precisa de legenda. É singular. É tão paradigmática que pode,
junto com o Pão de Açúcar, ser símbolo da nação brasileira. Os
ethos in d ígen a, cató lico e afro estão lá bem d efin id os e
identificados. Mas nada, absolutamente nada, que possa ser
identificado com o protestantismo.
Por que os cultos afro1 com apenas 0,34%2 da população são
sempre citados, fotografados, filmados, cantados3, inclusos em
propagandas, filmes, peças de teatro, novelas e se tornaram o
ethos baiano? A "Bahia de todos os santos" é hofe uma expressão
axiomática da "civilização sincrética brasileira" (Queiroz, 1988:78),

1 Usaremos a designação cultos afro para identificar genericamente todas as manifes­


tações religiosas de origem africanas, apesar das diferenças regionais entre T aborde
Mina (Maranhão), Xangô (Pernambuco), C andom blé {Bahia), M acumba (Rio), Can-
g erê (Minas Gerais), Batuque (Rio Grande do Sul). Conquanto hoje exista uma
tensão entre o “purismo” do Candomblé e o “sincretismo” da Umbanda, esta ques­
tão não nos interessa no momento. ■
2 Censo 2000, IBGE. A pesquisa do Datafolha 1904 indicava 1,3% de afros e 13,3%
de evangélicos.
3 Pesquisa de Reginaldo Prandi indica a menção aos Orixás em 1500 músicas na
Música Popular Brasileira. F olha de S. Paulo, 27.11.00, E l. Calvani (1998) também
chama a atenção a grande presença afro na MPB.

IO
P ro t e st a n t ism o 'Tu pin iq u im Introdüçào

e torn ou -se até p rod u to m ade in B rasil4. N o entan to, o apenas as expressões indígenas - anteriores ao descobrimento,
prqtestantismo em tomo de 15,5% da população - 27 milhões - não as atuais - seriam "naturalmente" brasileiras.
não tem um só museü, uma festa popular, ou outra marca nacional De fato, os números e as características das Igrejas evangélicas
concreta e, quando é citado em novelas, filmes ou músicas é de exigem que se deixe de pensar esta alternativa religiosa como
forma caricata. Numa foto ou propaganda, ao sè verem velas e exógena, estranha à cultura brasileira e passemos a considerá-la como
flores na areia, já se sabe o que significa; idem para um rosário uma variável que conta na dinâmica da vida nacional (Fernandes,
ou alguém carregando uma cruz. Pergunta-se: existe alguma 1998:9, grifo nosso).
m arca concreta - m esm o caricatu ra - que, veiculada num Não é mais estranha à cultura brasileira porque faz parte dela
comercial ou algo similar, traga automaticamente a identificação - isto é um fato in q u estio n áv el. No ‘en tan to, nossa
de protestante? \ problem atização pretende algo além. A pergunta é: a igreja
A matriz cultural brasileira tem três componentes originais: protestante brasileira alterou a cultura brasileira ou foi alterada
indígena, católica e afro. Os três têm contribuição visível à cultura por ela? Assimilou ou foi assimilada? Modificou o ethos brasileiro
brasileira; qual, então, a contribuição protestante? Inicialmente, ou adaptou-se ao jeitin h o ? Q uais os alim entos, estilos de
se poderia afirmar que sua contribuição é pouco notada, ou está vestim entas, festas populares que foram produzidas e/ou
em desvantagem quantitativa. Mas, influência cultural não pode influenciadas pelo protestantismo? Se somos o país do samba,
ser reduzida ao aspecto quantitativo. A questão é mais complexa. futebol e carnaval, qual a contribuição protéstante a esse trinômio?
A lém disso, ter um a co n trib u ição pouco v isív el apenas
Esse trinôm io estereotipado já foi form ulado de diversas
problematiza ainda mais o entendimento da (não) contribuição
formas, até numa versão "para alemão ver". O antropólogo D.
cultural protestante e, pelo aspecto quantitativo, os cultos afro,
Rosenfel (1993), num texto publicado em 1954-56 em alemão,
percentualmente inferiores, tenderiam a desaparecer no cenário
sintetizou a cultura brasileira em "negro, macumba e futebol".
cultural, mas acontece o inverso.
Por que, então, não poderíamos propor que o Brasil fosse uma
De m inoria m arginal, o protestantism o passou a ser um
versão de samba, futebol e evangelho? Ou seja, nossa versão
segm ento v isív el e visad o. V isív el por seu crescim en to
tupiniquim do protestantismo.
vertiginoso e, desde 19305, a Igreja Católica já deu sinais de alerta.
Q u antitativam ente expressivo, é alvo p rin cip alm ente dos Não seria um a bobagem nestes tem pos, m odernos e
políticos. Hoje, presente no esporte, no empresariado, na política, secularizados tentar identificar a influência religiosa na cultura?6
na mídia, não há como esconder - mal ou bem - esta presença, Há muito que a arte (e também literatura, música, pintura etc.)
e, mordido pelo bicho do poder, está com síndrome de salvador p erdeu a m arca teo cên trica (m ed ieval) e se tornou
da pátria. Depois da versão militar, "Brasil, ame-o ou deixe-o", antropocêntrica (moderna). Pois se até mesmos teólogos falam
agora temos a versão gospel: "O Brasil é do Senhor, declare isso". de uma "teologia secular^, de uma "fé sem religião", em que a
O protestantismo é um estrangeirismo à cultura brasileira? cen tralid ad e tem com o foco m enos o d iv in o e m ais a
humanidade?
Pois então o catolicismo e o afro também são. Neste aspecto
As Assembléias de Deus no Brasil, com seus oito milhõés de
4 Ari P. Orò (1997), em G lobalização e Religião, contém diversos textos sobre a membros, algo de mais de 30% do universo evangélico brasileiro,
expansão dos cultos afros no Cone Sul. \
5 Em 1930, o Pe. Ângelo Rossi lançou o livro D iretório Protestante B rasileiro e,
segundo, César (1999:22) foi o primeiro registro católico sobre o “perigo protestan­ 6 Remeto, particularmente, aTamas (1990). Giddens (1994, especialmente o cap. 14)
te” no Brasil. e Martelli (1995) dentre outros.

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P rotestantism o T upiiíiquim

proclamam ser a "maior igreja do mundo"! E diversos líderes Capítulo I }


denominacionais repetem que temos o "m aior avivamento do
mundo",, somos a terceira maior nação evangélica do mundo, Delimitando os Conceitos *
perdendo apenas para os EUA e China. E daí? Ser a "maior do
m undo" apenas aum enta o ju íz o divino, porque há
proporcionalidade de tamanho e responsabilidade com a missão
- "a quem muito é dado muito será exigido". O discurso repetido
à exau stão de que está acon tecen d o no B rasil o "m a io r
avivamento de todos os tem pos"7 é, no mínimo, questionável;
até porque, na h istória, todos os avivam entos trouxeram
profundas transformações sociais, e no Brasil, ainda estamos
esperando as conseqüências deste avivamento. O Rio de Janeiro Estam os lidando com palavras amplas e controversas. É
é a cidade "menos católica do país" em que surge uma igreja necessário, portanto, delim itarm os o âm bito delas. É uma
evangélica por dia8 e tem uma das maiores táxas de crescimento tentativa. Podemos até não chegar a um consenso, mas, pelo
protestante; mas convenhamos, o Rio não é modelo de cidade menos neste trabalho, fica estabelecido que esta palavra está
cristã. E, pelas estatísticas, não está a caminho. Aliás, os quatro sendo usada nesta limitação.
últimos governadores do Rio de Janeiro - Nilo Batista, Antony I. Cultura como produção humana. Estamos adotando a definição
Garotinho, Benedita da Silva e Rosinha - são evangélicos. de Hiebert (1987:445) quando diz que cultura é "sistema integrado
Ufanistas, os protestantes brasileiros gostam de trombetear de comportamentos aprendidos, idéias e produtos que caracterizam uma
que são vinte, trinta, quarenta milhões - as famosas estatísticas sociedade". Uma definição mais completa é dada em "O Evangelho
"evangelásticas"! Ouvi, ao vivo e em cores, um líder político- e a Cultura" (Série Lausanne, 1991:10-11): - \
religioso dizer que somos 40 milhões e, dentro de dez anos, E um sistema integrado de crenças (sobre Deus, a realidade e o signifi­
seremos 80 milhões. Percebe-se que, como estatístico, ele é um cado da v,ida), de valores (sobre o que é verdadeiro, bom, bonito e nor­
ótimo(?) pastor. Então fica a pergunta: qual a alteração que 40 mativo), de costumes (como nbs comportar, como nos relacionar com os
milhões (a população de alguns países) de protestantes fizeram, outros, falar, orar, vestir, trabalhar, jogar, fazer comércio, comer, tra­
fazem ou farão na sociedade brasileira, cara pálida? Alguns dizem, balhar na lavoura etc.), e de instituições que expressam estas crenças,
"quando elegermos o presidente da República..." Ah, bom. valores e costumes (governos, tribunais, templos ou igrejas, família,
escolas, hospitais, fábricas, lojas, sindicatos, clubes etc.) que unem a
sociedade e lhe proporcionam um sentido de identidade, de dignidade,
de segurança e continuidade.
Usaremos, então, a palavra cultura de forma genérica, ou
seja, toda produção humana9 de idéias e/ou produtos e não apenas
o que, pretensamente, se chama de "cultura" no sentido clássico.
A idéia de "cultura clássica" é elitist^ e preconceituosa e hoje,
7 Aliás, os argentinos dizem o mesmo: eles têm o “maior avivamento e através deles
Deus está visitando o mundò” Wynarczyk (2003); 9 O ser humano nunca é simplesmente dado, mas, antes de tudo, tarefa, e esta é a
8 PNN e Lessa (2000). razão porque se diz que o homem é um ‘ser de cultura’” (Oliveira, 1993:12).

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P rotestantism o T upiniqu im D elim ita n d o os C onceitos

economicamente, discriminatória10. O público consumidor de Conquanto a cultura popular seja simplista, comum, sem
Bach, Shakespeare e Woddy Allen é uma elite rica, mas não mais originalidade e produzida, descartavelm ente, apenas para
"cultural" que a consumidora de pagode/paulocoelho/tapioca. consumo11, ela é cultura.
Imanuel Kant, filósofo protestante pietista, acreditava que a 2. Da Reforma ao Gospel Protestante. O termo protestante está
cultura só se realizava junto à racionalidade. Talvez porque ele sendo usado no seu sentido histórico dos grupos originados da
não conheceu os brasileiros. Nem os discípulos de Hitler. Reforma Protestante, apesar do Mendonça (1984:42) dizer que
C ultura e arte são coin cid entes? Não necessariam ente. o term o protestante é som ente usado por "h istoriad ores e
Diversas pessoas cozinham, mas apenas algumas o fazem com sociólogos nãò comprometidos". Nieburh (1992) diz claramente
arte; outros costuram, mas apenas alguns com arte; cantam, que as divisões denominacionais do protestantism o não são
dançam, pintam. Qual o limite entre cozinha-cultura e cozinha- prioritariam ente teológicas, mas sociológicas, econôm icas e
arte? Por que a tapioca da Dona Maria, numa periferia nordestina, éticâs. Portanto, além da redução histórica, tem imparcialidade
não é arte - apesar de ser uma manifestação cultural - , mas o teoló g ica e resolve (p rovisoriam ente) a d elim itação para
Faisão, do Chef Pierre, de um hotel cinco estrelas é? O limite é "D enom inações Evangélicas". Freston (1993:1) estabelece a
artístico ou econômico? Ou preconceituoso com o popular? Por segu inte designação: evan gélicos é uma "id en tificação de
que um vestido da Maison do Yves Saint Laurent é arte, mas um identidade" e denominação é uma "identificação de organização".
vestido numa feira em Caruaru é apenas manifestação cultural? Estou, portanto, trabalhando com a identidadé histórica e social
. Evidentemente, não se pode avaliar de forma paritária o Balé das denom inações. John stone (1998:1119) usa o term o
Bolschoi e as dançarinas do É o Tchan. Por mais que Mozart tivesse "evangélico", como "uma posição teológica na suprema autoridade
problemas com a bebida e tenha composto algumas de suas da Escritura em fé e prática e experiência de confissão pessoal da
músicas em prostíbulos (músicas que algumas igrejas evangélicas salvação e fé em Deus". Como já avisei na introdução, não tenho
tradicionais executam com o "m ú sica sacra"), não dá para a pretensão teológica de dar respostas e resolver as questões,
comparar com as melodias da Xuxa. Uma comparação covarde - pois uma definição como esta implica em questões de fé, e também
adm ito. Uma coisa é arte - exp ressão de sing u larid ad e morais (certo e errado). Ora, algumas igrejas ditas evangélicas
inigualável. Outra é o caça-níquel produzido para consumo. Sem não têm esta posição sobre a Bíblia. Para dizer o mínimo.
fazer juízo de valor estético - e já fazendo - é por isso que o Aqui começa um dos meus muitos problemas. Já que estou
Grupo Corpo (para não citar apenas o Bolschoi e parecer elitista) é considerando o protestantismo historicamente, deveria então
respeitado por fazer arte, é estes grupelhos de pagode são incluir nesta análise as Testemunhas de Jeová (TJ), os Mórmons
vulgarizados por suas coreografias previsíveis, repetitivas e - lista interminável e confusa. Alguns, quando incluídos no
paupérrim as em criatividade e beleza. N isso está, aliás, a Censo (por exemplo, a Congregação e TJ), se auto-excluem.
diferença entre genialidade e vulgaridade. Poder-se-ia falar O utros querem ser incluídos (com o os A dventistas) e são
também na dança pomofunk, mas aí é descer muito à periferia (?) rech açad o s12. E stou con sid eran d o o qu e, grosso m odo, é
da produção cultural. 11 Catherine David, curadora francesa da Documenta de Kassel, diferencia criação
cultural e consum o cultural. A primeira é produzida para ser - e é - arte, a segunda
é apenas para consumo (?). F olha de S.Paulo, 06.02.01, E-8.
10 Uma discussão aprofundada sobre o conceito alemão de cultura e civilização numa 12 Uma tipologia protestante publicada pelo CEDI (1991:12) considera estes gmpos
perspectiva ideológica e teológica, respectivamente, encontra-se em Thompson pseudos-protestantes. Um autor que analisa as diversas tipologias do. protestan­
(1995) eCalvani (1998). tismo brasileiro é Mariano (2001).

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P rotestantism o T upiniquim D e lim ita n d o os C o n c e i t o s

chamado de "Igrejas Evangélicas". Sem nenhuma pretensão de Brasil. É a síndrome de minoria. Qualquer grupo minoritário visa
unanimidade - algo nunca alcançado no meio evangélico. sempre o majoritário, querendo, obviamente, tomar seu lugar.
O espectro é complexo e diverso. No entanto, têm origem Coincidentemente hoje, quando o protestantismo passa a ser um
comum e, apesar das diferenças teológicas irreconciliáveis, grupo significativo no país, essa característica começa a se diluir.
sociologicamente são próximas. Ou pelo menos eram. Para nosso O n eo p en teco stalism o , ap esar de suas cara cte rística s
ensaio em questão, o termo protestante é válido, pois diferencia acentuadam ente anti-católicas, assum e um novo campo de
a cultura ibérica/católica da cultura anglo-saxônica/protestante batalha: ser anti-afro. Por quê? Minha suspeita desse caráter anti-
(Moog; 1954; Sachs, 1988). afro, p articu larm en te da Ig reja U niversal, é que, com o a
E, se na questão cultural dá para se fazer uma opção genérica hegemonia católica já foi quebrada (mas não vencida), deve-se/
entre o popular e o clássico, no protestantismo não é tão fácil. O portanto, atingir o segundo grupo mais importante. A psicologia
protestantism o brasileiro é pluralista, eclético e tem muitas explica que no afã de destruir o inimigo termina-se por assumir
caras13. Da Reforma do século XVI até o gospel moderno há muitas algumas características dele. Neste aspecto o protestantismo de
manifestações ditas protestantes e nenhum consenso. Generalizar missão queria furar o bloqueio da elite católica. Á liderança
o termo poderia apenas encobrir a problem ática questão da católica era rica, culta e poderosa, daí o projeto protestante
in flu ência estran geira - prim eiro européia, depois n orte- elitista se apresentar essencialmente como "moderno e culto".
am ericana - no protestan tism o, in viabilizan d o, portanto, Pierre Sanchis (1997) afirma que o pentecostalismo é um
estabelecer o que seria ou não a cultura protestante brasileira. "repto à cultura católica-brasileira"15. É o primeiro grupo religioso
E stam os, en tão , p eriod izan d o o m ovim en to para efeitos que ameaça a hegemonia do ethos católico brasileiro. "Ameaça à
didáticos. Periodização questionável, adm ito. São recortes hegemonia católica" é um exagero, pois ela continua forte em
epistem ológicos sem a pretensão de totalização do assunto, poder político, econômico e cultural, mas o pentecostalismo se
repito, apenas para efeito didático. torna um con trap on to, p rin cip alm en te nos estratos
3. O protestantismo brasileiro é anti-católico. Pode parecer um economicamente mais pobres. Mesmo que o pentecostalismo
reducionismo, mas a religião de Lutero se estabelece aqui como tenha muita dificuldáde de inserção sócio-cultural, inclusive pela
contraponto ao Vaticano e, nesses dois séculos de presença, foi "natureza" do brasileiro ter-se formado pelo catolicismo, como
sempre uma tentativa de negação da cultura ibero-católica14. diz o Ziraldo:
Historicamente, a partir do protestantismo de emigração até hoje, A Contra-Reforma está no cerne daformação de nosso caráter nacional,
o grande desafio é furar o bloqueio da hegemonia católica, ou da nossa cara, do nosso jeito de estar vindo por aí, tão canalhas, tão
seja, afirmar algo diferente da sociedade brasileira. Acrescente- mordazes, tão injustos, tão cruéis, tão safados, comprando o perdão por
se, ainda que, 70% dos convertidos vêm do mundo católico dinheiro, indulgentes, enuncapor ações, indolentes (Sobral, 2001:334).
(Fernandes, 1998). A Igreja Católica é a "m aior doadora" ao
mundo evangélico (Almeida, 2003). Rubem Alves (1979) diz que 4. O protestantismo brasileiro é brasileiro. O antropólogo Rubem
é a partir desta luta/inimigo que o protestantismo se define no César Fernandes (1976) no texto O debate dos sociólogos a propósito
dos pentecostais, analisa o binômio, nos anos 70_em que a tese da
13 Isto é dito também do protestantismo latino americano por Bonino (1995). incursão cultural é notória:
14 Sobre o ethos católico brasileiro ver Sanchis (1994), Fernandes (1983), Brandão
(1978), Hoomaert (1994). Sobre o caráter anti-católico do protestantismo ver, 15 O pentecostalismo seria ameaça não só ao Catolicismo mas, inclusive, às demais
dentre outros, Araújo (1972) e Mendonça (1990). denominações protestantes, ver César (1999), Gutiérrez (1997).
P rotestantism o T u pin iqu im D elim ita n d o os C onceitos

protestantismo + dependência estrangeira = descontinuidade cultural suas categorias (pretensamente) teológicas, mas, muito mais, por
pentecostalismo + autonomia nacional = continuidade com a cultural local suas ligações sócio-econômicas. Até porque, na medida em que
Evidentemente, colocada assim, a fórmula se toma simplista este grupo religioso vai subindo nos extratos sociais (no caso,
e não exprime a total com plexidade do fenôm eno religioso. do neopentecostalismo), ele também assume alguns valores do
M u itas das exp ressões do p ro testan tism o clássico se mesmo. É aqui que se dá o aburguesamento do pentecostalismo
ab rasileiraram , ou su rgiram exatam ente contra o caráter dentró do estrangeirismo gospel.
estrangeiro (Presbiteriana Independente, Igreja Evangélica Neste aspecto, talvez pudéssemos entender a afirmação de
Fluminense, Igreja o Brasil para Cristo); por outro lado, diversas Maria Isaura Queiroz (1988) de que a "umbanda é a única religião
expressões do pentecostalismo nasceram e, se mantém até hoje, brasileira". Conquanto uma afirmação científica falsa, a umbanda
com matizes essencialmente estrangeiras (Igreja do Evangelho com seu sincretismo poderia ser considerada uma síntese do país16.
Q u ad ran g u lar, Ig reja de D eus), sem con tar com o Mas, em termos de "abrasileiramento", o neopentecostalismo não
deslumbramento gospel em relação aos EUA. perde terreno. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é a
A influência anglo-saxônica e am ericana nas igrejas do cara do país. Por razões óbvias (para alguns, admito), a IURD
p ro testan tism o clássico é p aten te. Da m úsica (estilo e tem mais "brasilidade" do que uma Igreja Presbiteriana (retorno
instrumentos) à formação dos ministros, da literatura à ocupação à questão no capítulo VII).
dos cargos, da arquitetura à aquisição do patrimônio, muitas O irôn ico é que, sè o p en teco stalism o a b rasile iro u , o
denominações ainda hoje, depois de dois séculos no Brasil, ainda neopentecostalismo já nasceu abrasileirado apesar de ser gospel.
se mantêm dependentes. Um "cristianismo brasileiro" era algo Mas convenham os, existe algo m ais brasileiro do que esta
que o ex-padre José Maria da Conceição, ainda no século XIX, síndrome de querer parecer com os EUA?
pedia (Ribeiro, 1979:206). Foi o nacionalismo das décadas de 30 . 5. Seita, Igreja e Denominação. Nunca é demais repetir: este
e 40 de Getúlio Vargas, e, principalmente, as complicações pós- é um trabalho sociológico, não teológico. Teologicam ente, a
guerra que obrigaram as denominações a celebrar seus cultos definição de seita, igreja ou denominação serve como insulto.
em português e publicar seus hinários em língua nacional. Até Ou elogio. No meu caso, seguindo Max Weber, é apenas uma
então, o hinário luterano e o da Congregação Cristã, era em conceituação sociológica.
alemão e italiano, respectivamente. Mas essas mudanças são
T roeltsch (1987), no seu clássico texto sobre o assunto,
factuais; muito mais importante é a doutrinação que continua
sintetiza os conceitos assim:
sendo estrangeira. Até a Assembléia de Deus (AD) nesta época
ainda era dirigida por estrangeiros. Dizem, oficiosamente, que
Seita: Igreja:
em muitas igrejas isso acontece até hoje. Afinal, na cultura
Exclusivista Inclusivista
brasileira, ter pedigree estrangeiro serve de valorização (Sodré,
1976). Made in USA, muito mais. Grupo de adesão voluntária; “se adere a . Grupo natural de nascimento; “se nasce
seita’’ na igreja”
Já o pentecostalism o, apesar de sua origem estrangeira,
Acentua a verdade de sua interpretação Acentua o universalismo do evangelho
sempre esteve mais próximo da cultura nacional. Exatamente
por ser periférico e pobre. No Rio de Janeijo, das cinco novas Ênfase na experiência Ênfase na tradição
igrejas que são fundadas por semana, 91,26% são pentecostais e (continua)
80% em áreas carentes (Fernandes, 1998). Portanto, o caráter
estrangeiro ou nacional do protestantismo não diz respeito às 16 Sincretismo é sempre visto de forma pejorativa no meio protestante, mas em outras
instâncias isto é elogio. Retomaremos a este assunto.
P rotestantism o T upin iqu im D elim itan do os C onceitos

(continuação) Já no meio protestante a designação é usada como carimbo


Seita: Igreja: para o inimigo ou concorrente. Heresia ou herege é sempre o
Negação do mundo; evita as formas Aceitação do mundo; relaciona-se com outro ou aquele que está contra mim, ou contra minha visão
sociais as ciasses dominantes teológica ou "verdade" denòminacional que, como diz Rubem
Opta pelo isolamento social, renuncia da Opta pelas alianças; aceita a ordem Alves (1982:126-127) é muito mais uma questão de poder. Um
idéia de dominar o mundo secular exemplo bem distante para não ferir as suscetibilidades atuais é
Ideai do Sermão do Monte: "comunismo Ascetismo é método eclesiástico dado por Justo Gonzáles (1985:89). No Concílio de Nicéia, a.
do amor” teologia vencedora é a que é defendida pelos bispos, que têm
Obediência literal e radicalismo Desenvolvimento e contemporização suas despesas pagas pelo Imperador. Mera coincidência.
Enfatiza e realiza a idéia de santidade Enfatiza a idéia de graça e a torna
A Assembléia de Deus, na década de 20, era retratada nos
subjetiva objetiva
jornais das denominações tradicionais como "seita pentecostista"
Grupo seleto de eleitos; comunidade de Sacerdócio, hierarquia: graça
(Alencar, 2000). Ora, até o cristianismo, em seus primeiros anos,
voluntários sacramental e jurisdição pclesiástica
foi cham ado de "s e ita dos n azaren o s". Plagiando Sartre,
Visão escatológica Elemento sobrenatural está na estrutura
"Hereges são os outros".
Quem é o herfege, o dissidente, o desviado? Ele ou ela pode
P ortan to, a qu estão h eresia não en tra na con ceitu açãò ser, em curto prazo, o próximo missionário, líder, apóstolo, bispo
sociológica de igreja e seita, até porque no grego, literalmente, da próxima "Igreja da Moda" para onde todos correram. Mesmo
esta palavra significa "escolha". Originalmente o "herege" é que para discordar dele/a. A ssim aconteceu com Paulo em
alguém que fez uma escolha; dá determinada ênfase neste e não relação ao Judaísmo, com Lutero em relação ao catolicismo, com
naquele assunto. Certo ou errado, isto não vem ao caso17. Wesley em relação ao Anglicanismo. No Brasil, com Manoel de
Na história das religiões, não só no cristianismo e não só no Melo em relação à AD, Edir Macedo em relação à Igreja Nova
pentecostalismo brasileiro, o "herege" foi aquele que escolheu Vida, R.R. Soares em relação à Universal, Valnice Milhomens
dar ênfase em determinado tema que, digamos, não estava na em relação à Igreja Batista. A lista é interminável. É isso. Assim
pauta oficial. E, ria história do cristianismo, mujtos dos "hereges" caminha a humanidade. Os evangélicos, inclusive.
não foram necessariamente aqueles que estavam queimando, mas
6. Mimetismo denominacional sincrético e o samba do teólogo doido.
os outros paramentados acendendo a fogueira.
Vou inventar a roda: toda manifestação religiosa é sincrética.
Enfim, no Brasil, quem é seita e quem é igreja? Depende muito
Posso perder metade de meus leitores com esta afirmação que
mais de quem está afirmando. Ou acusando. Inclui-se nesta
soa herética aos ouvidos de cristãos puristas, mas não há como
situação uma porção de jornalistas preconceituosos que podem
escapar. O irônico é que alguns falam (quase) com orgulho de
ser escusáveis de entenderem de teologia, mas dão demonstração
nossa herança hebraica (portanto, da religião ju d aica) da
de analfabetismo e burrice sociológica ao colocarem na vala
helenização da igreja primitiva (não só da filosofia, mas também
com um todas as m anifestações religiosas cham ando-as de
"seitas". da cosmovisão grega e adjacências), da herança anglo-saxônica,
mas falar de outras influências que o cristianismo teve, e tem,
ao longo de sua caminhada, é heresia. Eu não estou falando
17 Berger, 1985:146, diz que o certo e o errado são definidos por causa do herege.
apenas de teologia, mas principalmente de cultura. Como diz

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P rotestantism o T upin iquim D elim ita n d o os C onceitos

N iebuhr (1992:21), "D o u trin as e p ráticas m udam com as fossem estereótipos. Mas existiam marcos teóricos distintos,
transformações da estrutura social e não vice-versa". estilos eclesiásticos específicos e posições doutrinárias definidas.
Essa metida de "mão na cumbuca" ao falar de sincretismo, é Ainda há, mas nem tanto. Hoje pode ser, mas pode também não
para dizer que, apesar dos teólogos dizerem o contrário, somos ser, o que dá na mesma.
todos sincréticos. Nenhuma de nossas denominações é pura ou Por exemplo, os hinários. Tradicionalistas eram a cara da
plenamente revelada por Deus18. Há um ramo batista que, em igreja. Uma pessoa com um Cantor Cristão era batista; Harpa Cristã,
cima de uma falsificação histórica chamada "Rastro de Sangue", assembleiano; Salmos e Hinos, presbiteriano, sem medo de errar.
advoga para si ascen d ência h istó rica anterior à Reform a Ao se ouvir de longe determinada música (no piano, órgão ou
Protestante, encontrando sua origem em João Batista. Resultado: tocada pela banda musical) podia se afirmar com toda certeza
são anteriores até mesmo a Jesus! Alguns grupos pentecostais, que era a igreja "x ". Hoje nem tanto. Pode ser, mas pode não
carentes de tradição e talvez para rivalizarem com algumas ser. Isto é bom ou ruim? Talvez as duas coisas (ah, minha veia
denominações seculares, insistem em estabelecer suas fundações tucana nunca plenamente curada...).
nos Atos dos Apóstolos. Talvez seja desta necessidade "histórica" Na atualidade as escolhas se relativizaram. Não há absolutos,
que a idéia "apostolar" tenha virado moda. não há extremos ou radicalizações. Tudo é resolvível, acessível.
Certa vez fui a uma igreja aqui em São Paulo cuja "fauna" era Possível. No mundo pós-èxtremos, sem esquerda e direita, vale
bastante diversa. O ministro de louvor era uma versão gospel tudo. Ou nada, inclusive. M esm o no mundo religioso,
do Carlinhos Brow. O excesso de tecido em sua roupa imensa e invariavelmente mais conservador - o evangélico pentecostal que
espalhafatosa daria para vestir a banda inteira; colete dourado, o diga - , as coisas estão bem diluídas. Já não há mais embates
cabelo rastafari com lenço còlorido, tudo muito fashion. Ao meu teológicos por causa da cristologia, da natureza do pão na ceia, da
lado um punk com p u lseiras ch eias de p regos, pu lava graça natural, da salvação eterna, da predestinação. Por que, então,
perigosamente; mas adiante um indivíduo fantasiado de dragão haveríamos de nos interessar por algo tão sem importância como
da in d ep en d ên cia, b astan te d iversa das p atricin h as e relação cultural? Afinal, agora somos todos m odernos - ou
mauricinhos aos montes. Pensei: "M eu Deus, entrei na boate modernistas, como queiram - e pouco importa o sistema de crenças,
errada!" Por outro lado, pode-se entrar em outro tem plo e mas sim como nos sentimos dentro dele. Ou fora. Ou contra.
encontrar um grupo de pessoas de branco, com um corredor de Estabelecim ento objetivo, dogm ático, fun dam en talista,
sal grosso, (des)fazendo encosto, invocando orixás, distribuindo exegético, sistemático ou, apenas didático? A questão é resolvida
rosa ungida, passando debaixo de um m anto sagrado, com subjetivamente, Você está se sentindo bem, mano? Ô meu, isto
inúmeras manifestações de demônios e você pode pensar que tra z alegria espiritual? Então tá, conquanto fique bom para
entrou no "Terreiro Errado"! "a m b as as p a rte s ". Com o d iria um sábio e herói do
Apesar disso estamqs cada vez mais parecidos uns com os entretenimento: "Faz parte!".
outros - principalm ente nos erros. Não sei se o leitor ainda Este mimetismo denominacional é péssimo. As distinções são
recorda, mas houve um tempo em que quando se mencionava necessárias para a vida. A analogia paulina para a Igreja é o
Igreja Batista, Presbiteriana, Assembléia de Deus ou Metodista corpo: diversos membros distintos com especificações próprias
sabíamos exatam ente o significado dado a isso. Mesmo que e não similares. Como todos parecem com todos, na hora de
18 Caio Fábio em entrevista a revista Istoé, n° 1321, 25.01.95, pg. 5, diz que a IURD jogar na vala comum de "ladrões e exploradores do povo", vai
é sincrética. As demais, pelo visto, são “puras”. tudo de uma lapada só. E antes de acusar a mídia e o povo em

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P rotestantism o T upin iqu im

geral de preconceituosos, lem brem os: hoje sabem os nossas


4 J
Capítulo II ^ T
diferenças teológicas? As novas gerações de crentes sabem o
que distingue um batista de um metodista, de um presbiteriano
etc.? Se nós, inclusive, não temos bem esta noção, como podemos
A Formação da Nação Brasileira*
exigir dos outros?
Ótimo! Nunca tivemos tanta unidade! Ou conformidade. "Antes dos portugueses
Afinal a igreja precisa ser conhecida por seu amor fraternal e descobrirem o Brasil, o Brasil
não por futricas denominacionais. "Im porta que o evangelho descobriu a felicidade".
seja pregado." Se com banda de música, grupo de pagode, no Oswald de Andrade
Arraial Gospel, na TV, no surfe, na penitenciária, na universidade,
o que nos interessa é a presença evangélica se fazendo sentir de
todas as formas e em todos os lugares. Mesmo que existam
p resb iterian o s co n g reg acio n ais, b a tista s p en teco stais,
pentecostais tradicionais, tradicionais renovados, episcopais
presbiterianos, menonitas gospel e alguns tipos que nem eles ■ Uma das bobagens mais insanas de nossa história é essa: Brasil
próprios sabem se autodefinir. E se alguém tentar, pode fazer o descoberto em 1500 por Cabral. Prim eiro, o Brasil não foi
samba do teólogo doido. Como Amorese (1995:265) bem definiu: descoberto, foi achado; segundo, antes da trupe de Cabral
"Pergunte a qualquer irmão qual é a espinha doutrinária de sua fé; chegar, já existia aqui uma civilização estimada em 3 milhões de
pergunte quais as principais doutrinas que sustentam sua crença, pessoas com uma cultura de pesca, caça, vida comunitária e muito
descobrirá muito de uma nova-era evangélica. Um pouquinho de banho, coisa, aliás, a que os europeus "civilizados" não eram
predestinação aqui, uma pitada de arminianismo ali, uma guerrinha muito chegados; terceiro, 'posteriormente, a chegada de franceses
espiritual acolá (que ninguém é deferro), um charme carismático dali, e holandeses é historicam ente vista com o "in v a sã o ". E os
e pronto. Tenho um evangelicalismo equilibrado? Equilibrado ou portugueses eram o quê, Convidados? Em 21 de abril de 1500,
sincrético? Ora, qué diferença faz? (grito no original). uma missa foi celebrada como tomada de posse. A elite econômica
financiando, a Igreja legalizando e os índios assistindo. Algo,
Diríam os que o protestantism o de im igração tem óbvias aliás, qge quase se repetiu na fatídica celebração dos 500 anos.
razões étnicas: A elíte-no poder, a igreja celebrando, e os índios? Agora,
• o protestantismo de missão, razões ideológicas; apanhando da polícia. Sorte dos índios de 1500 que a Polícia da
• o pentecostalismo, razões teológicas; Bahia ainda não existia!
• e o neopentecostalismo, razões políticas19. ^ Miscigenado desde seu início e com dimensões geográficas
continentais, o Brasil é hoje o resultado de uma conjugação
cultural imensá. A própria dimensão já é em si algo fenomenal.
Enquanto a colonização espanhola nas Américas do Sul e Central
se dividiu em mais de 20 nações, apesar de manter o mesmo
19 Esta afirmação precisa ser lida dentro do contexto geral de nosso texto. Em cada
idioma, a colonização portuguesa fincou raízes no BrasiL Temos,
capítulo em que tratamos especificamente de cada período histórico. em algumas regiões, a predominância desta ou daquela etnia e/

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