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31/10/2018 Os filhos herdam o sofrimento dos pais | Ciência | EL PAÍS Brasil

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Os filhos herdam o sofrimento dos pais


Descendentes de prisioneiros da Guerra da Secessão viveram menos que os de outros soldados
MIGUEL ÁNGEL CRIADO

Madri - 29 OUT 2018 - 17:51 BRST

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O cabo Calvin Bates no hospital, após sair de um campo de prisioneiros dos confederados em Andersonville. BIBLIOTECA DEL CONGRESO DE EE UU

O cabo Calvin Bates, do 20º Regimento de Infantaria do Maine, parte do Exército da União, foi feito prisioneiro por
soldados da Confederação em maio de 1864, durante a Guerra de Secessão dos EUA (1861-1865). Passou apenas
quatro meses no campo de prisioneiros de Andersonville (Geórgia), mas saiu de lá emaciado, doente, com os dois
pés amputados e um intenso sofrimento em seu olhar (ver foto). Tão duras eram as condições que 40% dos
prisioneiros não saíram vivos desse campo de detenção. Agora, um estudo com milhares deles mostra que os

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filhos dos sobreviventes daquele inferno viveram menos que os de outros veteranos. Inclusive, morreram mais
jovens que seus irmãos nascidos antes da guerra. De alguma forma, a dor de seus pais ficou gravada em sua
genética.

Há anos, estudos em animais mostram que determinados fatores ambientais provocam mudanças na informação
genética transmitida de geração em geração. É como se deixassem marcas que ligassem ou desligassem certos
genes, mas sem alterar o DNA. Assim, ficou provado que o açúcar consumido pelos pais pode tornar seus
descendentes obesos, e que a má alimentação dos avós prejudicaria a saúde de seus futuros netos. Apesar do
potencial impacto para a ciência e a saúde, pouco se sabe desses mecanismos epigenéticos em humanos, e
conhecê-los melhor exigiria experiências que a ética impede.

Por isso é tão excepcional a história de Bates e o experimento social que representou a detenção de 200.000
soldados da União nas prisões sulistas durante a guerra que dividiu os EUA. Um grupo de pesquisadoras da
Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA) rastreou o que aconteceu com eles após deixarem os campos.
Graças aos arquivos militares, sabe-se se casaram depois ou já eram casados, onde viviam, a que se dedicavam e
quando e quantos filhos tiveram. Também puderam ver quando morreram os prisioneiros, suas esposas e seus
filhos. Assim, segundo publicam na PNAS, os filhos nascidos após a passagem dos seus pais por lugares como
Andersonville viveram menos que os filhos de outros veteranos de guerra.

“Duas coisas aconteceram no campo: inanição, com os homens


transformados em cadáveres ambulantes que morriam de escorbuto e Na mesma idade, os filhos
diarreia, e estresse psicológico”, comenta a economista Dora Costa, da dos prisioneiros
UCLA, principal autora do estudo. Nem ela nem seus colegas são concebidos depois da
especialistas em genética, nem foi possível estudar o DNA dos 6.5000 guerra tinham o dobro de
chance de morrer
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veteranos de guerra e seus 20.000 filhos incluídos na pesquisa. Mas


chegaram à epigenética por eliminação: descartando diversos fatores,
como condição socioeconômica, origem, data de alistamento, estado
de saúde prévio... Compararam a longevidade dos filhos dos veteranos que foram prisioneiros e dos que não
foram, concluindo que, sob iguais circunstâncias e à mesma idade, os primeiros tinham o dobro de chances de já
terem morrido. Há outro dado que reforça a tese da base epigenética: dentro da mesma família, os filhos que o
prisioneiro de guerra tiveram depois de sobreviver a um desses campos tinham até 2,2 vezes mais probabilidades
de morrer antes que seus irmãos à mesma idade.

“Certamente há transferência intergeracional de características em humanos, algo que pode ocorrer por
métodos bem conhecidos, como a herança genética e a herança cultural, como a aprendizagem”, recorda Neil
Youngson, professor da Universidade de Nova Gales do Sul (Austrália). “O que é especial aqui é que esta pesquisa
mostra um mecanismo de herança diferente, a epigenética, em que uma exposição ambiental (neste caso a fome
ou o estresse, as autoras não sabem dizer qual) induz a mudanças moleculares nos gametas, o que, por sua vez,
afeta a saúde ou a conduta de seus descendentes”, explica o pesquisador, não relacionado com o estudo.

Até agora, os escassos experimentos sociais que permitiram estudar a


transmissão intergeracional do trauma em humanos tinha como
protagonistas crianças ou fetos, mas não adultos. Nos últimos meses
da Segunda Guerra Mundial, no norte dos Países Baixos, ainda sob
dominação alemã, houve uma terrível onda de fome. Em cidades como
Roterdã e Amsterdã, as rações não alcançavam nem as 1.000 calorias
diárias. A fome afetou a fertilidade das mulheres, mas o pior viria
depois: os filhos das mulheres que estavam grávidas naqueles meses
nasceram em média com 300 gramas a menos. Quando adultos, aquela
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exposição pré-natal à fome reduziu seu tamanho corporal e aumentou a


incidência de diabetes e esquizofrenia.
esquizofre

Esses efeitos se manifestam às vezes na terceira geração. Em 2017, um


trabalho com uma enorme amostra de 800.000 crianças suecas
comprovou que o trauma de perder pai ou mãe deixa uma marca que os
filhos acabam herdando. Seus autores observaram que as crianças que
ficam órfãs nos anos anteriores à adolescência tendem a ter, já adultos,
mais filhos prematuros e com menor peso do que os que não perderam
seus pais. “Logo antes da puberdade, durante o período de crescimento
lento, é quando se programa a espermatogênese e quando os
testículos começam a amadurecer. Também é um momento
psicologicamente formativo, e em nosso estudo vimos que um trauma
psicológico grave durante esse período, como a morte de um dos pais,
predizia os resultados ao nascer dos filhos dessas crianças”, relata a
pesquisadora Kristiina Rajaleid, da Universidade de Estocolmo (Suécia)
Um dos soldados da União, depois de ser solto
de uma prisão confederada. As imagens e coautora do estudo.
frontais recordam as dos sobreviventes do
Holocausto. BIBLIOTECA DEL CONGRESO DE EE UU

Um dos pais da hipótese epigenética da transmissão do trauma é o


pesquisador Lars Olov
Bygren, do Instituto Karolinska (Suécia). Junto com o geneticista
As filhas dos prisioneiros
britânico Marcus Pembrey, Bygren realizou o chamado estudo
de guerra, por outro lado,
Överkalix, no qual foi observada uma relação entre a disponibilidade de
foram tão longevas como
comida em idades precoces e o estado de saúde dos descendentes
entre os habitantes de um pequeno povoado dentro do Círculo Polar
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Ártico. Especificamente, comprovaram que os netos de crianças que os filhos de outros


viveram penúrias por causa de colheitas ruins tinham maior incidência veteranos
de problemas cardiovasculares. “Vimos três períodos sensíveis à
resposta transgeracional: os primeiros meses, até os dois anos;
durante o período de crescimento lento [em torno dos 10 anos]; e nos
17-18 anos”, conta Bygren por e-mail. Muitos dos que se alistaram para enfrentar os confederados na Guerra da
Secessão tinham essa idade.

Mas há um último dado do estudo com os prisioneiros de guerra que intriga os cientistas: o trauma decorrente de
tanto sofrimento só foi herdado pelos filhos homens; as filhas foram tão longevas como as dos demais veteranos
de guerra. Nem as autoras nem os especialistas consultados sabem com certeza o porquê dessa discriminação
por sexos. Talvez a análise dos dados da terceira geração, dos netos e netas de soldados como o cabo Bates, que
está em andamento, possa explicar.

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