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31/10/2018 Os filhos herdam o sofrimento dos pais | Ciência | EL PAÍS Brasil
O cabo Calvin Bates no hospital, após sair de um campo de prisioneiros dos confederados em Andersonville. BIBLIOTECA DEL CONGRESO DE EE UU
O cabo Calvin Bates, do 20º Regimento de Infantaria do Maine, parte do Exército da União, foi feito prisioneiro por
soldados da Confederação em maio de 1864, durante a Guerra de Secessão dos EUA (1861-1865). Passou apenas
quatro meses no campo de prisioneiros de Andersonville (Geórgia), mas saiu de lá emaciado, doente, com os dois
pés amputados e um intenso sofrimento em seu olhar (ver foto). Tão duras eram as condições que 40% dos
prisioneiros não saíram vivos desse campo de detenção. Agora, um estudo com milhares deles mostra que os
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31/10/2018 Os filhos herdam o sofrimento dos pais | Ciência | EL PAÍS Brasil
filhos dos sobreviventes daquele inferno viveram menos que os de outros veteranos. Inclusive, morreram mais
jovens que seus irmãos nascidos antes da guerra. De alguma forma, a dor de seus pais ficou gravada em sua
genética.
Há anos, estudos em animais mostram que determinados fatores ambientais provocam mudanças na informação
genética transmitida de geração em geração. É como se deixassem marcas que ligassem ou desligassem certos
genes, mas sem alterar o DNA. Assim, ficou provado que o açúcar consumido pelos pais pode tornar seus
descendentes obesos, e que a má alimentação dos avós prejudicaria a saúde de seus futuros netos. Apesar do
potencial impacto para a ciência e a saúde, pouco se sabe desses mecanismos epigenéticos em humanos, e
conhecê-los melhor exigiria experiências que a ética impede.
Por isso é tão excepcional a história de Bates e o experimento social que representou a detenção de 200.000
soldados da União nas prisões sulistas durante a guerra que dividiu os EUA. Um grupo de pesquisadoras da
Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA) rastreou o que aconteceu com eles após deixarem os campos.
Graças aos arquivos militares, sabe-se se casaram depois ou já eram casados, onde viviam, a que se dedicavam e
quando e quantos filhos tiveram. Também puderam ver quando morreram os prisioneiros, suas esposas e seus
filhos. Assim, segundo publicam na PNAS, os filhos nascidos após a passagem dos seus pais por lugares como
Andersonville viveram menos que os filhos de outros veteranos de guerra.
“Certamente há transferência intergeracional de características em humanos, algo que pode ocorrer por
métodos bem conhecidos, como a herança genética e a herança cultural, como a aprendizagem”, recorda Neil
Youngson, professor da Universidade de Nova Gales do Sul (Austrália). “O que é especial aqui é que esta pesquisa
mostra um mecanismo de herança diferente, a epigenética, em que uma exposição ambiental (neste caso a fome
ou o estresse, as autoras não sabem dizer qual) induz a mudanças moleculares nos gametas, o que, por sua vez,
afeta a saúde ou a conduta de seus descendentes”, explica o pesquisador, não relacionado com o estudo.
Mas há um último dado do estudo com os prisioneiros de guerra que intriga os cientistas: o trauma decorrente de
tanto sofrimento só foi herdado pelos filhos homens; as filhas foram tão longevas como as dos demais veteranos
de guerra. Nem as autoras nem os especialistas consultados sabem com certeza o porquê dessa discriminação
por sexos. Talvez a análise dos dados da terceira geração, dos netos e netas de soldados como o cabo Bates, que
está em andamento, possa explicar.
ARQUIVADO EM:
Prisioneiros guerra · Epigenética · Estados Unidos · História · América · Genética · Biologia · Saúde · Ciências naturais · Ciência
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