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A tríade do design emocional: comparações e intersecções semióticas

Article · June 2019

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5 authors, including:

Julia Yuri Landim Goya Leonardo Alvarez Franco


São Paulo State University São Paulo State University
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Paula Landim Galdenoro Botura Junior


São Paulo State University São Paulo State University
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Electrical Engineering at UEL View project

Innovation Environments, Design and Creative Industry View project

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semeiosis
SEMIÓTICA E TRANSDISCIPLINARIDADE EM REVISTA
TRANSDISCIPLINARY JOURNAL OF SEMIOTICS

A tríade do design emocional: comparações e intersecções


semióticas
Julia Julia Yuri Landim Goya | jylgoya@gmail.com
Leonardo Alvarez Franco | laf2809@gmail.com
Luiz Carlos Paschoarelli | paschoarelli@faac.unesp.br
Paula da Cruz Landim | paula@faac.unesp.br
Galdenoro Botura Júnior | galdenoro@gmail.com

resumo
O trabalho que segue teve como intenção traçar relações entre a tríade
semiótica criada por Pierce e compará-la às divisões realizadas por teóricos
do Design Emocional e áreas afins. Este levantamento bibliográfico
teve como conclusão a construção de relações metaprojetuais entre
as teorias apresentadas com o intuito de fornecer ferramentas para
elucidar os anseios do usuário durante o desenvolvimento de produtos.

PALAVRAS-CHAVE: Design Emocional. Tríade Semiótica. Design Teórico.

abstract
The work that follows was intended to draw relationships between the semiotic
triad created by Pierce and compare it to the divisions performed by Emotional
Design theorists and related areas. This bibliographical survey had as
conclusion the metaprojectual relationship between presented theories which
goal was to provide tools to clarify the user yearnings during the products
projectual process.

KEYWORDS: Emotional Design. Semiotic Triad. Theoretical Design.


Semiótica e transdisciplinaridade em revista, São Paulo, v.9, n.1, p.96-108, Jun. 2019 | ISSN 2178-5368

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Introdução
É notável que a humanidade seja guiada em termos comerciais e usuais
pelo seu senso estético, funcionalidade e pela emoção tanto quanto outras
percepções. Uma vez percebido isso, podemos colocar a figura do designer
como intermediador dessas reações do usuário com o objeto, seja ele gráfico
ou produto, para que esta relação seja tão satisfatória quanto for possível. Além
disso, a figura do designer chega para interpretar as diferentes maneiras em que
as pessoas se comunicam e se expressam, sendo com os objetos que os rodeiam
e também como emissores de mensagens.

Próximo do corpo ou não o Design acompanha a jornada diária das


pessoas de manhã até a noite. Quase todos os objetos da vida cotidiana (roupas,
móveis, louças, veículos e até mesmo alguns alimentos) foram desenhados. A
vida da maioria das pessoas já não é mais imaginável sem o ambiente produzido
pelo Design, que funciona como referência no contato do indivíduo com o
mundo, influenciando suas formas de pensar (FRANÇA e QUELUZ, 2012).

“O design, em todas as suas manifestações, é o DNA


de uma sociedade industrial – ou pós industrial, se isso
que temos hoje. É o código que precisamos explorar se
quisermos ter uma chance de entender a natureza do mundo
moderno. É um reflexo de nossos sistemas econômicos. E
revela a marca da tecnologia com que temos que trabalhar.
É um tipo de linguagem, e é reflexo de valores emocionais
e culturais. O que torna essa visão do design realmente
atraente é a noção que há algo a entender sobre os objetos
além das questões óbvias de função e finalidade. Isso
sugere que a tanto a ganhar explorando-se o significado
dos objetos quanto considerando o que fazem e o visual
que tem. O design é a linguagem que uma sociedade
usa para criar objetos que reflitam seus objetivos e seus
valores. […] O design é a linguagem que ajuda a definir,
ou talvez sinalizar, valor.” (SUDJIC, 2010: 49 )

De um lado, o Design é determinado pelas ideias e condições materiais


sobre as quais os designers não têm controle, mas, por outro lado, os designs
por outro lado são obra do exercício da autonomia criativa e originalidade dos
designers (FORTY, 2007). Mas não devemos esquecer de que as tecnologias e
trabalho envolvidos englobam fatores simbólicos, culturais, sociais, políticos
e econômicos que estão permeados desde a concepção do produto até a esfera
do consumo, havendo no percurso uma atribuição de valores aos artefatos
(MENDES, 2012).

Os objetos são nossa maneira de medir a passagem das nossas vidas. São
o que usamos para nos definir, para sinalizar quem somos, e o que não somos.
Ora são as joias que assumem este papel, ora são os móveis que usamos em

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nossas casas, ou objetos pessoais que carregamos conosco, ou as roupas que
usamos. (SUDJIC, 2010)

Sudjic (2010) levanta, porém, outro ponto na produção hoje em dia de


artefatos. Ele defende que os bens que conservamos durante décadas podem
ser os espelhos de nossas experiências da passagem do tempo. Agora, nossa
relação com os novos bens parece muito mais vazia. A atração de um produto
é criada e vendida na base de um olhar que não sobrevive ao contato físico.
A atração se esvai tão depressa que a paixão acaba quase tão logo a venda é
realizada. O desejo passa muito antes que o objeto envelheça.

Independentemente do significado do objeto, nós formulamos juízos de


modo instantâneo, decodificando segundo Rafael Cardoso “a natureza física
do objeto, o conceito por trás dele, sua serventia, sua origem, seu valor, suas
relações com outros objetos, e assim por diante”, (CARDOSO, 2012: 140).
Saber compreender artefatos é saber que eles mudam no tempo, impelidos
pela ação dos usuários e condicionados pela força do ambiente, até os limites
suportados da materialidade. Um único objeto pode dizer coisas ao longo de
sua existência, inclusive coisas contraditórias. Mas apesar de sua contrariedade
ou não esses objetos são expressão concreta do pensamento e comportamento
humano, estes artefatos refletem a nossa cultura. (CARDOSO, 2012)

É fato que a importância dada ao Design de objetos e/ou artefatos é


estudada em bibliografia recente e com ampla área de pesquisa ainda a ser
aprofundada. Porém ainda não há uma ligação clara entre linhas de pesquisa do
século passado com este, considerando que teorias antes usadas como fórmulas
(tais como usadas advindas da semiótica) para montar peças, hoje se entende
que o usuário não tem apenas a capacidade de perceber, mas também sentir,
levando em conta seu repertório pessoal além de sua cognição biológica e
condição social.

Sabendo deste contexto podemos traçar conexões entre as relações


metaprojetuais propostas na semiótica de Peirce e outros teóricos de Design
Projetual consagrados tais como Gomes (2006), Norman (2008), Hekkert e
Desmet (2007), Karjalainen (2006) e Ono (2006). Tais autores foram escolhidos
pela proximidade de pensamento em tríade assim como nas teorias semióticas.

Entrando no campo de comunicação, por exemplo, Munari (2006) nos


apresenta dentro da área visual a alguns elementos que interferem na nossa
interpretação das mensagens, sendo eles os filtros sensorial, operacional
e cultural. Onde é possível traçar as semelhanças entre o campo do Design
Emocional que trabalha com questões sinestésicas e culturais, além dos
fatores ergonômicos com a tríade semiótica de Peirce onde a mensagem será
interpretada e analisada conforme o contexto do usuário e forma da mensagem,

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tanto quanto em outros autores.

Niemeyer (2009) também concorda que a ocorrência de produto vem


da expressão de um cenário político, econômico, social, e cultural dentro das
dimensões histórica e geográfica. Logo, o produto sofre interferências de filtros
fisiológicos (percepção), filtros culturais (ambiente e experiência individual) e
emocionais (atenção e motivação) já mostrando o pensamento divido em três
etapas.

OBJETIVOS
Este levantamento bibliográfico pretende apresentar uma revisão
de pesquisadores da grande área do Design Emocional para que ao final do
trabalho possam ser traçadas intersecções entre as divisões feitas pelos autores
para compará-las a tríade semiótica peirceana, com a intenção de facilitar
a compreensão da experiência do usuário quando deparado a um produto e
engajar futuros projetistas em sua carreira a utilizar conceitos metaprojetuais
baseados nas tríades citadas.

METODOLOGIA
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica em periódicos e livros, tanto
nacionais quanto internacionais, afim de que se pudessem elencar semelhanças
e divergências entre teorias do Design Emocional e como são estruturados os
chamados de níveis de interação com o usuário, para que se pudesse realizar
uma comparação desta relação entre objeto e usuário com a tríade semiótica
de Peirce. A intenção é intensificar o pensamento de metaprojeto, ou seja,
aprofundamento da análise emocional (psicológica, fisiológica e física) do
usuário antes mesmo da construção do objeto em si, conceito aparentemente
pouco explorado nas metodologias de ensino de Design em nível de graduação.

NIEMEYER
O Design Atitudinal, como descrito e defendido por Niemeyer (2008), é
resultado do estudo das interações entre os produtos e os usuários, observando as
relações entre as características físicas dos primeiros e suas influências afetivas
sobre os últimos, visando entender como se dá a relação entre a eficiência,
dividida nos níveis físico e fisiológico, com a atribuição de significado em um
nível subjetivo.

O nível físico se refere à funcionalidade do produto através de suas


características técnicas de funcionamento. Entram nesse nível forma, materiais,
texturas e demais elementos construtivos do objeto, responsáveis por seu
desempenho.

O nível fisiológico se refere à usabilidade do mesmo pelo usuário.


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Nesse nível se encontram as características ergonômicas e de interface, que
permitem que o objeto seja utilizado pelo seu usuário da forma mais adequada
às necessidades do mesmo.

Já o nível subjetivo, de acordo com a autora, é o nível responsável


por estabelecer com os usuários as relações emocionais, que “provoquem as
emoções que eles gostariam de experimentar”. (NIEMEYER, 2008: 56). Ainda
segundo a autora, muitos dos objetos produzidos hoje já atingiram um aparente
limite técnico e, por consequência, os aspectos emocionais de um projeto se
tornam cada vez mais relevantes. Entretanto, a autora ressalta que esses aspectos
emocionais são projetados pelos objetos através das memórias evocadas e pelos
filtros culturais e sociais do usuário, sendo assim construtos pessoais de cada
usuário, e não atributos tangíveis do produto.

GOMES FILHO
Gomes Filho (2006) sistematiza a tricotomia dos signos ou dimensões
essenciais na relação semiótica entre objetos e usuários: as dimensões sintática,
semântica e pragmática. A dimensão sintática de um objeto refere-se ao
planejamento e ordenação do conjunto do mesmo, assim como a sintaxe verbal
trata da construção da linguagem. Dessa forma, um produto pode ser formado
por um único componente ou por uma relação de componentes interligados, e
esse é o aspecto da sintaxe do mesmo. Nele, tratamos dos elementos técnicos
do produto, sua parte estrutural, física.

Enquanto a semântica trata da linguagem e das relações polissêmicas


dos seus elementos, quando levada em consideração como aspecto do design, é
lida como a significação do produto em si, ou seja, do objeto e do que ele pode
significar dependendo do contexto no qual está inserido; é sua interpretação
tanto como símbolo quanto como disparador dos mesmos.

Por último, para Gomes Filho (2006), a dimensão pragmática trata da


utilidade dos objetos, e da relação direta do mesmo com seus usuários: a prática,
o uso, o convívio com o artefato, suas leis de funcionamento e, por extensão,
ergonomia e usabilidade.

NORMAN
Donald Norman (2008) descreve três níveis distintos de percepção do
usuário em relação ao produto levando em consideração estados positivos ou
negativos de afetividade: o primeiro nível, chamado visceral, é relacionado
a percepção inicial de um produto, principalmente a seus aspectos físicos
como forma, cores, simetria ou assimetria, toque e texturas. Por se tratar de
um nível de julgamento muito rápido, é praticamente incapaz de raciocínio.
Essas características, quando bem usadas e combinadas, induzem o consumidor

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primeiro a desejar o objeto, sem refletir sobre função, utilidade ou usabilidade.

O segundo nível do design emocional de Norman é o comportamental,


que está associado a quatro componentes: usabilidade, compreensividade,
função e sensação física. Esses quatro componentes relacionam-se a processos
cognitivos básicos, sem altos níveis de reflexão.

Enquanto os dois primeiros níveis podem ser considerados imediatos,


o terceiro se dá com o passar do tempo, é o chamado nível reflexivo. Está
amplamente relacionado à mensagem transmitida pelo objeto e a forma como
ele se relaciona com a cultura do usuário, com a transmissão de mensagens
ou evocação de memórias pessoais. É o nível verdadeiramente racional, que
faz com que o consumidor queira adquirir um produto e tenha orgulho de sua
posse, ainda que o mesmo não satisfaça completamente as condições do nível
comportamental.

HEKKERT e DESMET
A tríade proposta por Hekkert e Desmet (2007) considera três
componentes ou níveis de experiência do produto: prazer estético, atribuição de
significado e resposta emocional. Os autores definem “experiência do produto”
como todo o conjunto de afetos que é disparado numa interação entre usuário e
objeto, incluindo os graus em que nossos sentidos são agradados (experiência
estética), os significados que atribuímos a uma dada vivência (experiência de
significado) e os sentimentos e emoções que são despertados nessa interação
(experiência emocional).

Para os autores, a experiência estética considera a capacidade de um


produto causar deleite em uma ou mais modalidades sensoriais: se algo é bonito,
se emite um ruído agradável, questões de textura, cheiro, gosto. Já a experiência
de significado engloba cognição: por meio de processos mentais, o usuário
é capaz de relacionar características do objeto a coisas externas; metáforas,
memórias, as características culturais, pessoais e ou simbólicas de determinado
artefato. Um tipo de experiência de significado é o desenvolvimento de apego
por certo produto, ou a associação de valores intrínsecos a ele, representante de
categorias sociais ou religiosas, por exemplo.

Por último, a experiência emocional, segundo Hekkert e Desmet, refere-


se aos fenômenos afetivos tipicamente considerados pela psicologia emocional
e na linguagem do dia a dia sobre emoções, tais como amor, desgosto, medo,
desejo, desespero etc (HEKKERT e DESMET, 2007: 5). No caso, seria a
interpretação emocional da experiência com um objeto, e não o objeto em si
a causa dessa emoção: é o resultado cognitivo, ainda que automático, de um
processo inconsciente que termina numa análise diagnóstica de determinada
situação e produz uma resposta emocional compatível.
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KARJALAINEN
Ao investigar aspectos semânticos de design aplicados a marcas,
Karjalainen (2006) propõe uma estrutura de análise de produtos dividida em
três níveis: (1) funções do produto, (2) descrições qualitativas, ou “caráter do
produto” e (3) manifestações físicas. O autor tem como cerne da sua análise o
nível do caráter do produto que, segundo ele, apenas depois de identificar essa
característica é possível contemplar as demais manifestações de um objeto.

O nível de funções do produto compreende as funções técnicas e de


interação humana. As funções técnicas, operativas ou estruturais, são funções
intrínsecas dos produtos, podendo ser descritas por algumas poucas palavras,
como transformar, transmitir, regular, conectar, converter. As funções interativas
se referem a interação homem-máquina, podem ser ergonômicas na medida
em que podem ser descritas por termos como proteger, facilitar, habilitar ou
adaptar, ou então comunicativas, quando carregam descritores como expressar,
descrever, identificar.

O caráter do produto pode ser uma manifestação direta ou indireta das


suas características físicas. Também é importante observar as características de
construção de marca presentes em um objeto, particularmente as escolhas de
comunicação de sua identidade, e o uso estratégico do design com esse objetivo.
Seu caráter, por fim, é uma mescla de suas funções e características físicas, que
definem o objeto como harmonioso, seguro, moderno, entre outras definições
verbais. Está relacionado à percepção e interpretação de suas características
pelos usuários.

As manifestações físicas de um objeto são mais simples de se definir.


Forma, acabamento, tratamento de superfície, cores, todas essas características
são escolhidas arbitrariamente no momento de concepção de um produto, com
objetivos estratégicos. O autor cita como exemplo o ruído característico de
uma motocicleta Harley-Davidson (KARJALAINEN, 2006: 65), como sendo
deliberadamente projetados para a marca, sendo uma manifestação física
perceptível pelo sentido da audição. Outras características podem ser percebidas
por outros sentidos, ampliando os níveis de contato entre objeto e usuário e
aprimorando a experiência de uso do mesmo. Algumas dessas características
ainda podem estar implícitas no objeto, como elementos de Gestalt ou formas
que sugerem certas interpretações, como formas arredondadas e cores quentes
associadas para gerar uma sensação de acolhimento e proteção.

ONO
Maristela Ono (2006) divide a percepção do usuário em relação ao produto
em três funções: simbólica, de uso e técnica. As funções simbólicas estão
diretamente vinculadas “à percepção das formas, cores, texturas, à aparência
visual, às associações simbólicas e afetivas e, portanto, a um determinado
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contexto” (ONO, 2016: 30). Segundo a autora, por suas características
subjetivas, as funções simbólicas são “não quantificáveis”: não podem ser
medidas com exatidão, dependendo de diversos aspectos inconscientes do
usuário. Modificam-se com significados aprendidos e associações atribuídas
dependendo do contexto em que se encontram.

As funções de uso remetem ao que o usuário espera de um produto


em relação à execução de sua funcionalidade; manuseio, manutenção,
movimentação, entre outras características interativas. É nas funções de uso
que encontram-se as preocupações ergonômicas do designer. Para Ono, essas
são funções “quantificáveis”: o quanto o produto suporta peso, qual seu nível
de brilho, como conduz eletricidade, de que forma se adapta às medidas do
usuário etc.

Por último, as funções técnicas são as que transitam entre as simbólicas


e as de uso: são aquelas características que satisfazem a demanda do usuário: a
eficiência, o rendimento, a facilidade de uso e de limpeza, os níveis de ruído e a
própria escolha de materiais que podem ter significados diferentes dependendo
das funções às quais são submetidos.

PEIRCE
Como ciência que investiga os fenômenos de produção de significação
e de sentido, a semiótica tem diversas vertentes que estruturam esse processo
de maneiras diferentes. Para este estudo, observamos a proposição semiótica
de Peirce, que divide os fundamentos da interpretação de signos em tríades,
indo ao encontro da nossa análise de teóricos do design que também dividem as
funções perceptivas de produtos em tricotomias.

Uma das tríades propostas por Peirce é constituída por diferentes


níveis de percepção e interpretação de sentido pela consciência, as chamadas
primeiridade, secundidade e terceiridade.

A consciência em primeiridade trata das percepções imediatas,


literalmente das primeiras impressões da nossa interação com algum fenômeno
ao qual atribuímos sentido. É a “qualidade do sentimento [...] a primeira
apreensão das coisas.” (SANTAELLA, 2005: 71) Ao mesmo tempo que ela
é instantânea, no entanto, é formada de toda nossa experiência prévia, de
significados, memórias pessoais e sociais e, portanto, varia de contexto em
tempo e espaço; é fresco, novo, “original, espontâneo e livre” (SANTAELLA,
2005: 69).

Na secundidade, que vem logo após a primeira impressão, o principal


fator é o surgimento de uma relação de dependência entre dois termos: é a
sensação, ou seja, o resultado de um estímulo causado pela primeiridade. A
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secundidade é a nossa reação à ação da primeiridade, o impacto da percepção
inicial na cognição: são as correlações que criamos a partir da percepção. A
memória e as experiências prévias encontram-se na secundidade da ação
perceptiva.

Finalmente, a terceiridade engloba e arremata os dois níveis anteriores.


Enquanto a primeiridade é a qualidade e a secundidade é o fato, a última
caracteriza-se como previsão: é a interpretação complexa das relações entre
os dois primeiros níveis, e a nossa capacidade de atribuir significados diversos
a partir dessa experiência. É essa terceira categoria a responsável por uma
síntese das outras duas, por meio de signos e representações; é o maior nível
de abstração.

DISCUSSÃO
A questão chave é como o ser humano decodifica objetos e reage a eles
de maneiras distintas. Os teóricos do Design Emocional e de metaprojeto
desenvolvem análises para poder quantificar e metrificar essa interpretação
para que futuramente existam diretrizes projetuais focadas nestes mesmos
usuários, pensando tanto em seu conforto quanto em como convencê-los que
aquele objeto é o mais adequado para ele.

Em psicologia, na neurociência e nas ciências cognitivas, a percepção


é a função cerebral que atribui significado a estímulos sensoriais, a partir de
histórico de vivências passadas. Por meio da percepção um indivíduo organiza
e interpreta as suas impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio
que consiste na aquisição, na interpretação, na seleção e organização das
informações obtidas pelos sentidos. A percepção pode ser estudada do ponto
de vista estritamente biológico ou fisiológico, envolvendo estímulos elétricos
evocados pelos estímulos nos órgãos dos sentidos. Do ponto de vista psicológico
ou cognitivo, a percepção envolve também os processos mentais, a memória e
outros aspectos que podem influenciar na interpretação dos dados percebidos.
(CASTRO, 2016)

Porém é com a abordagem semiótica que complementamos as análises já


realizadas em Design Emocional que criam meios para que estes processamentos
sejam facilmente elencados em forma de diretrizes projetuais preocupadas com
o usuário e não apenas a análise pela pesquisa puramente.

Partindo da estrutura do pensamento de analise pós-projetual é possível


também aplicar esses conhecimentos em nível de planejamento, considerando
que a etapa de ideação (criação de opções viáveis a serem testadas) faz parte do
metaprojeto além do desígnio das experiências que aquele usuário irá vivenciar
ao utilizar um produto.

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Isso já ocorre em termos ergonômicos, considerando que as características
físicas do objeto são previamente planejadas bem como seu desempenho nas
interações com o usuário. A partir das interpretações dos autores podemos então
supor ser possível planejar as experiências simbólicas, não somente físicas e/
ou fisiológicas, de forma que seja viável projetar reações psicológicas para
públicos alvos específicos.

Considerando que o mercado hoje em dia esta progressivamente mais


segmentado, em termos de nicho, é interessante que a análise do usuário seja
cada vez mais detalhada no metaprojeto, uma vez que tendo essa persona
definida é legítimo esperar ou prever determinadas reações, possibilitando o
planejamento de prazeres emocionais ligados ao objeto ou até ao momento de
compra do mesmo.

RESULTADOS
Este trabalho demonstra diversos pensadores que abordam questões de
como os objetos influenciam o nosso meio e de como nós interpretamos eles.
Como visto em tópicos anteriores, a maioria dos teóricos do Design Emocional
dividem as relações que usuários têm com objetos em três níveis, assim como
a semiótica peirceana. O intuito deste manuscrito é cruzar estas informações e
discutir suas semelhanças, portanto foi elaborada uma tabela ilustrativa com
estes objetivos. Nela, as relações por proximidade teórica foram organizadas
em colunas, enquanto nas linhas foram distribuídas as tríades propostas pelos
autores.
Tabela 1: Resumo das
informações coletadas
na bibliografia e
cruzamento das
mesmas.
Fonte: Elaborado pelos
autores.

Levando em consideração que o termo primeiridade se refere a


percepções imediatas, torna-se plausível ligar as expectativas descritas por Ono
(2006) na função de uso. Dentro destas características podemos ligar a esse
uso os aspectos físicos descritos por Gomes (2006), Norman (2008), Hekkert
e Desmet (2007), Karjalainen (2006) e Niemeyer (2008). Ou seja, durante a
escolha dos materiais, texturas, odores, acabamentos, cores, formas e estrutura
é viável ter um planejamento estratégico e ergonômico da primeira impressão
do usuário.

Tomando a secundundidade por correlações que criamos a partir da

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cognição explicada por Hekkert e Desmet (2007) e partindo do pressuposto
que para o estabelecimento de qualquer relação é imprescindível a interação
humana (KARJALAINEN, 2006) admite-se supor que a reação a um artefato é
a maneira que o usuário entende seu funcionamento, como descrito por Norman
(2008), Niemeyer (2008), Gomes (2006). Lembrando que para a efetiva
utilização de um determinado objeto se faz necessária a compreensão da sua
interface, funcionalidade e usabilidade (NIEMEYER, 2008; NORMAN 2008;
GOMES, 2006) partindo de uma demanda e necessidade de uso (ONO, 2006).

A terceiridade envolve a capacidade de abstração e atribuição de


significados, pontos também destacados por Gomes (2006) como significação,
assim como a interpretação descrita nos trabalhos de Karjalainen (2006),
Hekkert e Desmet (2007) além de Gomes (2006) novamente. Essa última
característica pode ser ligada a comunicação (KARJALAINEN, 2006),
transmissão de mensagens (NORMAN, 2008) e significados (ONO, 2006;
GOMES, 2006), além de associação de emoções (ONO, 2006), bem como,
dentro de um contexto social e cultural, geradora de emoções e evocadora de
memórias (NIEMEYER, 2008 e NORMAN, 2008), provocando uma associação
afetiva com características subjetivas (ONO, 2006).

Podemos notar que nas tríades elencadas, independentemente de sua


nomenclatura, existem estados de complexidade que vão se aprofundando
conforme a interação com o público alvo. Em todas elas há uma relação de
tempo, distância e prenoção da interpretação do usuário e objeto a ser “lido”.

Algumas dessas tríades passam da percepção inicial de características


físicas ou superficiais para a análise de uso e então na aprofundam nas relações
afetivas construídas ao longo do tempo e da experiência do objeto. Essas
concentram seu foco na percepção e interpretação das características do objeto
pelo usuário, mais do que o artefato em si. Outras levam em consideração mais
os atributos físicos do objeto do que o repertório do próprio usufruidor.

É interessante ressaltar também como as trindades elencadas neste


trabalho são atuais, todas feitas nos últimos quinze anos, permitindo análises
diferenciadas da mesma perspectiva da relação da peça com seu possível cliente.
Este tema, abordado em conceitos mais antigos como a análise semiótica,
ainda se apresenta pouco usufruído em termos metaprojetuais, mostrando
possibilidades de aprofundamento em estudos e construção de personas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como características ergonômicas podem ser calculadas e
planejadas tais como texturas, cores, materiais, formas, ou seja características
físicas do objeto, e quais as reações de conforto ou desconforto de um item a ser
manuseado, também pode ser possível prever as ações durante a interação do
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usuário, uma vez que este seja bem segmentado como persona e dentro do público
alvo daquele produto, como apresentado nas teorias de Design Emocional.

Este artigo teve o intuito de mostrar as possibilidades de metaprojeto focadas


na experiência do usuário não apenas física e fisiológica, já abordada na maioria das
metodologias projetuais conhecidas e estudadas, mas também das possibilidades
de previsão de conduta do usuário tendo o conhecimento de suas necessidades
psicológicas.

Sabemos que a utilização de um objeto depende não apenas do objeto em si,


mas também do estado de ânimo do usufruidor, além das características biológicas,
como apresentado neste manuscrito. Portanto, inserir análises e comparações
subjetivas nas etapas do metaprojeto pode acarretar em um objeto melhor direcionado
ao seu público alvo, uma vez que este seria planejado com intenções não apenas
materiais mas também imateriais.

Referências bibliográficas
CARDOSO. Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify,
2012

CASTRO, J. A. G. F. Sistema delineador em design de superfície para significação


e identidade arquitetônica corporativa. (Doutorado em Arquitetura) – Faculdade
de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas. 2016.

DESMET, Pieter; HEKKERT, Paul. Framework of product experience. International


Journal of Design, vol. 1, nº 1, 2007. p. 13–23.

FRANÇA, Maureen Schaefer, QUELUZ, Marilda Lopes Pinheiro.

A herança do Kitsch no design de frascos de perfume no século XXI. Em: Design &
Cultura Material / organização: Marilda Lopes Pinheiro Queluz – I ed. Curitiba:
Ed.UTFPR, 2012

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autores

Julia Julia Yuri Landim Goya | jylgoya@gmail.com


Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Design da UNESP - Universidade Estadual
Paulista, FAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação;

Leonardo Alvarez Franco | laf2809@gmail.com


Mestranda Programa de Pós-Graduação em Design da UNESP - Universidade Estadual
Paulista, FAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação;

Luiz Carlos Paschoarelli | paschoarelli@faac.unesp.br


Professor Dr. do Programa de Pós-Graduação em Design da UNESP -
Universidade Estadual Paulista, FAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação;

Paula da Cruz Landim | paula@faac.unesp.br


Professora Dr.ª do Programa de Pós-Graduação em Design da UNESP -
Universidade Estadual Paulista, FAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação;

Galdenoro Botura Júnior | galdenoro@gmail.com


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Semiótica e transdisciplinaridade
e transdisciplinaridade em revista,
em revista, São São Paulo,
Paulo, v.9, p.96-108,
v.9, n.1, n.1, p.96-108,
Jun. Jun.
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