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História e Estética

Fotográfica
Material Teórico
Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina
Estabelecimento da Fotografia (1826 a
1860) e a Fotografia Artística

• Introdução;
• Criação da Fotografia:
Uma História Antiga...
• Química a Serviço da Fotografia;
• A Daguerreotipia Ganha o Mundo;
• A Primeira selfie
e a Era dos Estúdios Fotográficos;
• O Primeiro Negativo e o Calótipo de Talbot;
• Evolução Permanente:
O Colódio Úmido;
• Fotografia Artística:
Comunicação Gráfica ou uma Forma de Arte?

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer os diferentes procedimentos, técnicas e materiais utiliza-
dos entre os anos 1826 a 1860 na história da fotografia;
· Conhecer fotógrafos que marcaram a história da fotografia no sé-
culo XIX;
· Conhecer, contextualizar e analisar diferentes tendências estilos e
movimentos artísticos e estéticos da fotografia.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Contextualização

Figura 1 – Atribuído a Benjamin Cowderoy. The Reading establishment,


c.1845. Dois negativos de papel (calótipo)
Fonte: talbot.bodleian.ox.ac.uk

Figura 2 – Imagem atribuída a Benjamin Cowderoy. The Reading establishment, c.1845.


Montagem de duas fotografias em papel salgado a partir de negativo de papel (calótipo)
Fonte: talbot.bodleian.ox.ac.uk

Desde o primeiro passo, o da classificação (é preciso classificar, realizar


amostragens, caso se queira constituir um corpus), a fotografia se esquiva.
As divisões às quais ela é submetida são de fato empíricas (profissionais,
amadores), ou retóricas (paisagens, objetos, retratos, nus), ou estéticas
(realismo/pictorialismo), de qualquer modo exteriores ao objeto, sem re-
lação com sua essência, que só pode ser (caso exista) o novo de que ela
foi o advento, pois essas classificações poderiam muito bem aplicar-se
a outras formas, antigas, de representação. Diríamos que a fotografia é
inclassificável. (BARTHES, 1984, p. 12-13)

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Introdução
A fotografia, desde a sua criação, tem desempenhado inúmeros e fundamentais
papeis. Ela é importante como instrumento de informação e de conhecimento, como
apoio à pesquisa nos diversos campos da ciência e em campos da economia (a publici-
dade, por exemplo, só para citarmos uma área) e também como forma de expressão
artística, entre tantas outras aplicações e usos. Com toda essa utilização, a fotografia
se transformou em uma atraente carreira profissional, envolvendo técnicos e artistas
que se dedicam exclusivamente à tarefa de construção de imagens.

Resultado do trabalho abnegado de cientistas, pesquisadores, inventores e até de


curiosos, a fotografia acompanha os processos de transformação econômica, social
e cultural em todo o mundo desde o início do século XIX, quando efetivamente se
tornou concreta. Desde então, não parou de se aperfeiçoar e de sobreviver a tantos
outros atrativos visuais que a sucederam como o cinema e a televisão. Equipamentos
e materiais fotográficos, particularmente na Europa e Estados Unidos, especialmente
a partir de 1860, deram origem a verdadeiros impérios industriais e comerciais.

O mundo, conforme Kossoy (2001, p. 26), tornou-se “familiar” após a criação


da fotografia com o homem passando a ter conhecimento mais preciso e amplo de
outras realidades que, eram, até aquele momento, “transmitidas unicamente pela
tradição escrita, verbal e pictórica”. Com o desenvolvimento da indústria gráfica, a
multiplicação da imagem fotográfica ganhou uma exposição incalculável. “O mun-
do tornou-se, assim, portátil e ilustrado”, sintetiza Kossoy (2001, p. 27).

E hoje não é diferente. A máxima de que nos dias atuais todos nós somos “fo-
tógrafos” (entre aspas porque o correto talvez fosse dizer que todos nós “tiramos”
fotografias), traduz a importância da técnica em um mundo cada vez mais digital.
Observe as propagandas de aparelhos de telefones móveis. O apelo principal é a
qualidade das câmeras – coitado do dispositivo que não tiver uma câmera de boa
qualidade. A internet, por sua vez, tem desempenhado um importante papel na
proliferação sem precedentes de imagens fotográficas, tanto das atuais quanto das
do passado em um grau jamais visto.

Criação da Fotografia:
Uma História Antiga...
A fotografia não tem um único inventor. Ela é resultado de pesquisas, tentati-
vas, observações, acertos e erros de cientistas, pesquisadores e de pessoas curiosas
e determinadas em diferentes momentos da história. A invenção da fotografia é
consequência da combinação de duas técnicas científicas desenvolvidas ao longo
de vários séculos: a óptica (ou física), inicialmente por meio da câmara escura, e a
química, por meio da fotossensibilidade – qualidade de materiais sensíveis à luz ou a
radiações luminosas.

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e a Fotografia Artística

A câmara escura é uma caixa na qual apenas uma de suas paredes tem um furo
que permite a passagem da luz de uma fonte externa para um espaço escuro. A luz
é projetada na parede oposta à do furo, formando uma imagem invertida da cena
externa. Vejamos como esse equipamento, fundamental para a criação da câmera
fotográfica, se desenvolveu efetivamente a partir do século IV a.C., ainda que outras
iniciativas tenham sido registradas antes:

Tabela 1
Câmara escura: o princípio de tudo
Aristóteles (384-322 a.C.) Reiner Gemma Frisius (1508-1555)
É atribuída ao filósofo grego (Fig. 3), no século IV a.C., a des- O físico e matemático holandês publica, em 1545, a primeira
coberta dos princípios ópticos da câmara escura e o seu uso ilustração de uma câmara escura, definindo-a (Fig. 4). Leo-
para observaçãode eclipses. Ele percebeu que quanto menor nardo da Vinci (1452-1519) também descreveu o equipamen-
o furo, mais nítida era a imagem, que aparecia invertida. to, mas suas anotações foram publicadas somente em 1797.

Figura 4
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 3
Fonte: Wikimedia Commons
Johann Zahn (1641-1707)
O matemático alemão descreve, em 1685, a utilização de um espelho (Fig. 5), para redirecionar a imagem ao plano horizontal,
facilitando assim o ato de desenhar nas câmaras escuras portáteis (Fig. 6). Artistas começam a usar o equipamento
regularmente para facilitar o desenho de imagens da vida real.

Figura 5 Figura 6
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: iStock/Getty Images

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Câmara escura: o princípio de tudo
Giovanni Battista della Porta (1535-1615)
O cientista italiano publicou, no livro Magia Naturallis (1558), uma descrição detalhada sobre a câmara escura e seus usos
(Fig. 7), especialmente no auxílio ao desenho. Ainda no século XVI, foram acrescentadas lentes ao equipamento conferindo
maior nitidez às imagens.

Figura 7
Fonte: Wikimedia Commons

Química a Serviço da Fotografia


Mas, para que houvesse uma evolução na fotografia era fundamental que
uma substância sensível à luz fosse encontrada. Pesquisadores e cientistas, até
o século XVIII, haviam identificado substâncias que escureciam em contato com
a luz. Em 1727, o professor alemão de anatomia Johann Heinrich Schulze
(1687-1744), depois de uma série de experimentos, descobriu que os sais de
prata (cloreto de prata e nitrato de prata, entre outras substâncias químicas),
especificamente um pedaço de giz mergulhado em nitrato de prata, ficava preto
quando exposto ao sol. O lado não exposto permanecia branco. Ele experimen-
tou criar impressões fotográficas grosseiras, mas, eventualmente, tudo ficou
preto devido à exposição.

Em 1777, o químico sueco Carl Wilhelm Scheele (1742-1786), avança nas pes-
quisas de fixação de uma imagem a partir de sais de prata, mas ainda não consegue
que as imagens desapareçam com o tempo. No final do século XVIII, o britânico
Thomas Wedgwood (1771-1805) começou a utilizar nitrato de prata fotossensível
em papel e couro. E, em 1802, ele conseguiu imprimir em couro sensibilizado com
nitrato de prata, silhuetas de folhas e penas. Contudo, as imagens não se fixavam
e escureciam quando expostas à luz. Wedgwood havia criado imagens fotográficas,
mas não foi capaz, tecnicamente, de preservá-las.

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e a Fotografia Artística

Vários Caminhos e um Único Objetivo


Entre 1793 e 1816, o militar e cientista francês Joseph Nicéphore Niépce (1775-
1833) e seu irmão Claude, realizaram experiências utilizando a câmara escura, ten-
tando gravar imagens por meio de processos químicos também com sais de prata.
Contudo, foi somente em 1826 que Joseph, utilizando uma placa de estanho com
o mineral betume da Judeia – que endurece quando exposto à luz – conseguiu pro-
duzir aquela que é considerada a primeira fotografia permanente da História. Vista
da janela em Le Gras (Fig. 8), tirada da janela de sua casa, na cidade de Saint-
-Loup-de-Varennes, na França, existe até hoje. Após oito horas de exposição, ele
conseguiu gravar e revelar a imagem. O inventor francês criava, assim, a heliografia
(escrita com luz solar), processo de reprodução fotomecânica que se utiliza da luz.
Entretanto, a técnica tem baixa velocidade de captação e pouca qualidade de ima-
gem. A obra encontra-se no Harry Ransom Center, na Universidade do Texas, em
Austin, Estados Unidos.

Figura 8 – Joseph Nicéphore Niépce. Vista da janela em Le Gras, 1826. Heliografia (16,5 x 20 cm)
Fonte: Wikimedia Commons

Em 2012, a fotografia original foi exposta no Reiss-Engelhorn-Museum, em


Mannheim, sul da Alemanha, juntamente com a placa de estanho original utiliza-
da como negativo (Fig. 9).

Figura 9 – Placa de estanho original utilizada por Joseph Nicéphore Niépce, em 1826,
como negativo da primeira fotografia permanente da História: Vista da janela em Le Gras
Fonte: Wikimedia Commons

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O processo de Niépce mostrou-se, contudo, inadequado para a fotografia co-
mum. Foi quando, em 1829, ele se associou ao pintor e inventor parisiense Louis-
-Jacques-Mandé Daguerre (1787-1851), que também buscava encontrar um mé-
todo para produzir fotografias. Niépce faleceu logo após, em 1833, sem que o
grande público conhecesse seu sistema heliográfico.

Daguerre prosseguiu com suas pesquisas e, entre 1835 e 1837, havia padroni-
zado o processo no qual utilizava chapas de cobre sensibilizadas com prata e trata-
das com vapores de iodo, revelando a imagem com mercúrio aquecido, resultando
em positivos diretos de 16 x 21 cm. A fixação da imagem era feita em uma solução
aquecida de sal de cozinha. O processo foi chamado de daguerreótipo ou daguerre-
otipia. O ateliê do artista (Fig. 10), de 1837, uma natureza-morta, é considerado
o primeiro daguerreótipo exposto, revelado e fixado com sucesso por Daguerre.

A daguerreotipia aparentava-se conceitualmente à pintura por seu ca-


ráter de imagem única. Por isso não é de se estranhar que o daguer-
reótipo tenha obtido sucesso notável junto à burguesia emergente da
época, ávida por símbolo de status capaz de aproximá-la da nobreza,
dona do privilégio de ter seus retratos únicos eternizados pelos pinto-
res. (ZUANETTI, 2004, p. 160)

Figura 10 – Louis-Jacques-Mandé Daguerre. O ateliê


do artista, 1837. Daguerreótipo (16 x 21 cm)
Fonte: Wikimedia Commons

A Daguerreotipia Ganha o Mundo


Não tardou para Daguerre sair de seu estúdio e fotografar paisagens arquitetônicas
e a vida parisiense. De seu ateliê, na Rue des Marais, em 1838, ele tirou a
primeira fotografia na qual aparecem seres humanos: Boulevard du temple,
Paris (Fig. 11). O longo tempo de exposição e o rápido movimento de pessoas

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e a Fotografia Artística

e carruagens prejudicaram a captação de algumas imagens, que aparecem como


borrões. “No entanto, a preocupação de um homem com a aparência de seus
sapatos faria com que ele e seu engraxate ficassem parados por tempo suficiente
para fazerem história” (HACKING, 2012, p. 23) (Fig. 12).

Figura 11 – Louis-Jacques-Mandé Daguerre. Boulevard du Temple, Paris, 1838. Daguerreótipo


Fonte: Wikimedia Commons

Figura 12 – Louis-Jacques-Mandé Daguerre. Boulevard


du Temple, Paris, 1838 (detalhe). Daguerreótipo
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

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Em 7 de janeiro de 1839, foi anunciada oficialmente a criação da daguerreo-
tipia – processo fotográfico desenvolvido por Daguerre e Niépce – na Academia
de Ciências da França, em Paris. Sete meses depois, em 19 de agosto, durante
encontro realizado no Instituto da França, também em Paris, com a presença de
membros da Academia de Ciências e da Academia de Belas-Artes, o cientista
François Arago, secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comu-
nicou que o governo francês havia adquirido a invenção, colocando-a em domínio
público, ou seja, todos poderiam ter acesso ao sistema. Em troca, Louis Daguerre
e o filho de Joseph Niépce, Isidore, passaram a receber uma pensão anual vitalícia
do governo da França, de seis mil e quatro mil francos, respectivamente. Assim,
19 de agosto foi instituído como o Dia Internacional da Fotografia.

Figura 13 – Daguerreótipo Succe Frères, de 1839. Westlicht Photography Museum, Viena, Áustria
Fonte: Wikimedia Commons

Dois meses antes do anúncio público na Academia Francesa do seu sistema


fotográfico, Daguerre assinou contrato com seu parente Alphonse Giroux e com a
Maison Susse Frères para produzir comercialmente os daguerreótipos de acordo
com suas instruções. Não demorou muito para que os vendedores de equipamentos
de óptica começassem a ser contatados pelo público para pedidos do equipamento.
Em meados de outubro de 1839, os daguerreótipos já eram vendidos em sete
países da Europa e nos Estados Unidos. O manual sobre o equipamento, de autoria
de Daguerre, era publicado e vendido em oito idiomas, ainda que a invenção não
apresentasse qualidade nas fotografias e proporcionasse somente um único positivo.

A partir desse momento um novo mercado surgiu: a comercialização de ima-


gens de vários lugares do mundo, especialmente de países da Europa. O óptico
Noël Lerebours, apenas um mês após o anúncio do processo de Daguerre, con-
vocou artistas a viajarem pelo mundo para registrar paisagens, antiguidades e
modernidades com o novo equipamento. No final de 1839, Lerebours já vendia
daguerreotipias únicas (imagens) da Córsega e da Itália (Fig. 14). Logo, começa-
ram a chegar imagens de todo o mundo como Estados Unidos, Grécia, Espanha,
Egito, entre outros países (HACKING, 2012).

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Figura 14 – Fotógrafo desconhecido. Basílica de São Marcos, Veneza, 1845. Daguerreótipo


Fonte: Hacking, 2012

Figura 15 – Frédéric Martens. O Sena, a margem esquerda


e a Île de la Cité, c. 1844. Daguerreótipo panorâmico
Fonte: Wikimedia Commons

A divulgação do daguerreótipo, em 1839, cativou a imaginação do pú-


blico sobre a nova arte e abriu caminho para a exploração fotográfica do
mundo. Retratos em geral se limitavam ao âmbito privado, mas paisagens
estrangeiras naturalmente cativavam um público mais amplo. A chega-
da do papel levaria aqueles que basicamente eram registros fotográficos
particulares para a esfera pública, mas, durante seus primeiros 15 anos
de existência, a arte foi dominada pelas paisagens em daguerreotipia.
(HACKING, 2012, p. 29)

Na Inglaterra, ainda em 1839, o cientista e astrônomo Sir John Herschel


(1792-1871), em uma conferência na Royal Society, emprega pela primeira vez
as expressões fotografia, negativo e positivo, referindo-se a imagens fotográficas.
No mesmo ano ele anuncia que o hipossulfito de sódio pode fixar de forma per-
manente uma imagem fotográfica (J. PAUL GETTY MUSEUM, [2018]).

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A Primeira Selfie e a Era
dos Estúdios Fotográficos
Você imaginava que a selfie era uma criação
contemporânea? Então, vejamos: no final de
1839, poucos meses após o francês Daguerre
apresentar sua invenção, o químico amador norte-
-americano, Robert Cornelius (1809-1893), tirou
um autorretrato (Fig. 16) do lado de fora da loja
da família em Filadélfia, na Pensilvânia. Esse é o
mais antigo daguerreótipo americano preservado e
um dos primeiros retratos fotográficos de todos os
tempos (HACKING, 2012). A obra está guardada
na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos,
em Washington. Os americanos aderiram aos re-
tratos em daguerreotipia com grande entusiasmo,
realizando o maior número desse tipo de imagem
Figura 16– Robert Cornelius.
em todo o mundo. Em 1850, somente Nova York
Autorretrato, 1939. Daguerreótipo
contava com cerca de 70 estúdios de retratos. Fonte: Wikimedia Commons

Em março de 1841, Richard Beard (1801-1885) instalou, em Londres, o primei-


ro estúdio fotográfico comercial aberto ao público na Europa. Os alemães também
dominavam a técnica do daguerreótipo como observamos na figura 17, um retrato
coletivo da Associação dos Artistas de Hamburgo, tirada em 1843. A França, terra
de Daguerre, era outro grande mercado para esse tipo de fotografia, embora não
se comparasse com os Estados Unidos. Em Paris, entre 1848 e 1856, anos que
marcaram o auge e o declínio do daguerreótipo, foram criados mais de 150 estúdios
comerciais. “Conhecidos na época como ‘espelhos com memória’, esses retratos
eram tão extraordinariamente precisos que, na literatura, o termo ‘daguerreótipo’
se tornou sinônimo de verdade” (HACKING, 2012, p. 37).

Figura 17 – Carl Ferdinand Stelzner. Associação dos artistas de Hamburgo, 1843. Daguerreótipo
Fonte: Wikimedia Commons

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Você Sabia? Importante!

Em 1840, Sir Charles Wheatstone, físico inglês, cria o estereoscópio, dispositivo


para visualização de imagens em três dimensões. O sistema consistia em duas
imagens de uma mesma cena, tiradas de uma distância ligeiramente diferente,
coladas lado a lado em um cartão. A invenção de Wheatstone foi utilizada quase
que de forma imediata como veículo de divulgação da fotografia em função de
sua característica tridimensional. Onze anos depois (1851), um dos primeiros vi-
sores estereoscópicos com aplicação fotográfica de alta qualidade, fabricado pelo
francês Louis Jules Duboscq, foi apresentado à Rainha Victoria, na Crystal Palace
World Fair Exhibition, em Londres (Inglaterra).
A partir desse momento, o comércio das fotografias estereoscópicas tornou-se uma
febre, tendo Paris e Londres como seus dois centros de produção e difusão. Com o de-
senvolvimento da tecnologia tanto das chapas, que se tornaram mais sensíveis, como
das câmeras, com mais recursos óticos e mecânicos, na década de 1860, começaram
a surgir as primeiras estereoscopias retratando pessoas em movimento (TOREZANI.
2015; BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2016b).

Figura 18 – O lançamento do Verascope, pela Maison Richard, na França,


em 1893, contribuiu para que a estereoscopia se proliferasse, atraindo
a atenção de fotógrafos amadores e de foto clubes europeus
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 19 – Guilherme Santos. Ruínas do Morro do Castelo,


c. 1920, Rio de Janeiro/RJ. Estereoscopia brasileira
Fonte: ims.com.br

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O Primeiro Negativo e o Calótipo de Talbot
A divulgação do daguerreótipo, em janeiro de 1839, foi logo seguida pela
notícia da existência de outro processo fotográfico importante – desta vez na
Inglaterra – que também mudaria o rumo da fotografia. O cientista e ex-mem-
bro do Parlamento inglês, William Henry Fox Talbot (1800-1877), no final de
1840, relatou a descoberta do primeiro sistema simples para a produção de um
número indeterminado de cópias, a partir de uma chapa exposta. O dispositivo
de Daguerre resultava em apenas um positivo, ou seja, apenas uma imagem
sem possibilidade de cópias. A técnica de Talbot permitia o registro de uma
imagem sobre papel – um meio versátil, relativamente barato e capaz de repro-
duzir imagens com grande beleza – sensibilizado por ação da luz e emulsionado
por nitrato de prata.

O processo foi denominado de calótipo ou talbótipo (calotipia ou talbotipia),


sistema semelhante aos anteriores, mas que produzia um negativo de papel e, por
meio da técnica de contato, obtinha-se o positivo. As cópias fotográficas, resul-
tantes de contato, eram feitas em papel salgado, com uso de um “sanduíche” de
vidro em um chassi da madeira exposto à luz do sol. Talbot usava como fixador o
hipossulfito de sódio (tiossulfato de sódio).

Talbot vinha trabalhando em suas pesquisas desde 1833, quando obteve nega-
tivos minúsculos, após uma exposição de 30 minutos, em máquinas fotográficas
de fabricação local. Dois anos depois, em 1835, ele chegou ao que hoje é o mais
antigo negativo do mundo: a fotografia de uma das janelas da Abadia de Lacock,
em Wiltshire (Inglaterra), que poderia ser reproduzida para sempre (Fig. 20).

Figura 20 – William Henry Fox Talbot. Abadia de Lacock, em Wiltshire (Inglaterra), 1835. Negativo
Fonte: Wikimedia Commons

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e a Fotografia Artística

Entretanto, passaram-se cinco anos até que Talbot começasse a usar iodeto de
prata e percebesse que os tempos de exposição poderiam ser reduzidos para cerca
de um minuto. A prática da calotipia nas décadas de 1840 e 1850 na Grã-Bretanha
e na França contribuiu para o experimento e o desenvolvimento de uma série de
avanços técnicos e estéticos para a fotografia. Sir John Herschel, no início de 1840,
por exemplo, produziu negativos experimentais em vidro, e, em 1842, inventou o
cianótipo, negativo fotográfico em papel com base em sais de ferro, impróprio para
exposições em câmeras. O processo resultava em fotogramas detalhados em tons
de azul vivo (HACKING, 2012).

O primeiro livro ilustrado com fotografias, British algae: cyanotype impressions


(Algas britânicas: impressões em cianotipia) (Figs. 21 e 22), de Anna Atkins (1779-
1871), membro da Botanical Society of London, foi feito justamente com ima-
gens em cianotipia. A partir de 1843, e por uma década, Anna utilizou algas secas
achatadas como negativos em folhas de papel fotossensível sob a luz do sol, produ-
zindo milhares de exemplares de seu livro.

Figuras 21 e 22 – Capa e página interna do livro British algae: cyanotype impressions


(Algas britânicas: impressões em cianotipia), 1843-1853, de Anna Atkins. Cianotipia
Fonte: Adaptado de digitalcollections.nypl.org

Um ano após Anna Atkins iniciar sua publicação (1843), Talbot relata o desen-
volvimento de seu trabalho na série de livros The pencil of nature (O lápis da natu-
reza) (Figs. 23 e 24), editado em seis volumes, entre 1844 e 1846, com calótipos
e explicação de seu trabalho, estabelecendo padrões de qualidade do seu processo.
É considerado o primeiro livro ilustrado com fotografias distribuído comercialmente.
Existe um exemplar na Biblioteca Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. O calótipo
obteve grande sucesso na Grã-Bretanha até o final dos anos 1850.

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Figuras 23 e 24 – Capa do livro The pencil of nature (O lápis da natureza), de William Henry
Fox Talbot, 1844; editado por Longman, Brown, Green & Longmans, Londres;
e página interna (William Henry Fox Talbot, O palheiro, 1844; calótipo)
Fontes: Wikimedia Commons

Você Sabia? Importante!

Hippolyte Bayard (1807-1887), funcionário público francês, entre tantos pesquisadores


e curiosos na arte da fotografia, inventou, de forma independente, um processo que
aliava o positivo direto de Daguerre ao uso de papel de Talbot. Entretanto, como não ob-
teve reconhecimento do governo francês (assim como Daguerre o teve) nem do público,
ele decidiu protestar por meio da fotografia Autorretrato de um homem afogado,
1840 (Fig. 25), onde aparece nu. No verso da foto há o seguinte texto: “O cadáver do
senhor que vocês veem é do senhor Bayard, inventor do procedimento cujos maravilho-
sos resultados acabam de ver ou verão. [...] A Academia, o rei e quantos viram os seus
desenhos, admiraram-nos como vocês o estão admirando agora. Valeu-lhe muita honra
e não lhe rendeu um centavo. O governo, que deu demasiado ao senhor Daguerre, disse
que não podia fazer nada pelo senhor Bayard e o infortunado afogou-se”. Bayard, com
seu gesto – ainda que não tenha rendido recursos –, abriu muitas possibilidades para a
fotografia a partir do uso da imaginação e da criatividade (TOREZANI, 2015).

Figura 25 – Hippolyte Bayard. Autorretrato de um


homem afogado, 1840. Positivo direto em papel
Fonte: Wikimedia Commons

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Evolução Permanente: O Colódio Úmido


A partir do final da década de 1840, e por toda a década seguinte, foram realiza-
dos grandes avanços no processo fotográfico, especialmente em relação a cópias.
Pesquisadores, por exemplo, começaram a pensar na utilização do vidro como
negativo. O primeiro método prático de utilização de chapas de vidro, denominado
de albumina, foi anunciado, em 1847, pelo francês Abel Niépce de Saint-Victor
(1815-1870), sobrinho de Joseph Nicéphore Niépce. O processo consistia em co-
brir uma placa de vidro com clara de ovo (formada predominantemente por água
e pela proteína albumina) sensibilizada com iodeto de potássio e nitrato de prata.
A albumina é mais preciosa em detalhes e o tempo de exposição é de 15 minutos.
Em 1851, Sir Frederick Scott Archer (1813-1857), escultor inglês, inventa o
processo do negativo à base de colódio úmido (mistura de pó de algodão, pól-
vora, álcool e éter), usado como veículo para unir sais de prata a uma placa de
vidro, sendo menos dispendioso que os anteriores e cujo resultado era de ótima
qualidade. A placa é exposta ainda úmida na câmara escura e o tempo de expo-
sição é de 30 segundos. Por conta do éter a preparação evaporava rapidamente.
Este processo é dez vezes mais sensível que a albumina.
Aos poucos, tanto o daguerreótipo quanto o calótipo, foram sendo substituí-
dos pela fotografia em colódio úmido, que utilizava negativos de vidro para a pro-
dução de imagens em papel coberto por albumina. As imagens são caracterizadas
pela nitidez dos detalhes, por sua tonalidade marrom claro e superfície lustrosa.
A fotografia Vale da sombra da morte (1855) (Fig. 26), do inglês Roger Fenton
(1819-1869), considerado o primeiro repórter fotográfico da história, mostra um
campo de batalha sem cadáveres, na Guerra da Crimeia (1853-1856), no sul da
Rússia, mas cheio de balas de canhões e projéteis que se estendiam por uma estra-
da. A cópia foi feita em papel salgado a partir de negativo em colódio úmido.

Figura 26 – Roger Fenton. Vale da sombra da morte, 1855.


Cópia em papel salgado a partir de negativo em colódio úmido
Fonte: Wikimedia Commons

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Os negativos de vidro em colódio úmido de Fenton eram difíceis de produzir
e precisavam ser preparados no escuro, pouco antes da exposição, e reve-
lados logo em seguida, antes que o éter e o álcool evaporassem. Uma sala
escura portátil era necessária para que ele pudesse trabalhar nos campos de
batalha de Crimeia, de modo que Fenton adaptou a antiga caminhonete de
entregas de um comerciante de vinhos. (HACKING, 2012, p. 53)

Ainda em 1851 é fundada a Societé d’Heliographique, a primeira sociedade foto-


gráfica do mundo, que publica a primeira edição de seu periódico La Lumière. Mas, em
1854, a sociedade é extinta dando lugar à Société Française de Photographie.

Figura 27 – Charles Thurston Thompson. Exposição conjunta da Société


Française de Photographie e da Sociedade Fotográfica de Londres, 1858
Fonte: Wikimedia Commons

A Febre Carte-de-Visite
A década de 1850 foi, de fato, muito criativa. Em 1854, o francês André-Adolphe-
-Eugène Disdéri (1819-1889) patenteou uma invenção que iria revolucionar o merca-
do da fotografia, tornando-se uma verdadeira febre em vários países: o carte-de-visite
(cartão de visita fotográfico). A fotografia tornava-se, assim, parte da vida do homem
de forma efetiva.

O sistema era simples: uma câmera fotográfica com quatro lentes obtinha oito
pequenos retratos com variadas poses em apenas uma chapa de vidro; as primei-
ras quatro fotos eram expostas, a chapa se deslocava e permitia a exposição das
outras quatro fotos. Os cartes-de-visite (Fig. 28) apresentavam uma fotografia de
cerca de 9,5 x 6 cm montada sobre um cartão rígido de cerca de 10 x 6,5 cm a um
custo muito acessível. A cópia era feita geralmente com a técnica de impressão em
albumina. O invento permitiu a produção em massa de fotografias (BRASILIANA
FOTOGRÁFICA, 2016a). Inicia-se, no período, a prática do retoque do negativo e
a criação dos álbuns fotográficos.

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Figura 28 – André-Adolphe-Eugène Disdéri. Príncipe Lobkowitz, 1858.


Impressão carte-de-visite não cortado
Fonte: metmuseum.org

A troca de cartes-de-visite – cartões de visita fotográficos – foi um dos


grandes modismos da segunda metade do século XIX e deu origem a
outro modismo: os álbuns de fotografia. E foi a febre do retrato foto-
gráfico, por sua vez, que solidificou a fotografia no Brasil e no mundo.
Os cartes de visite eram trocados entre amigos, familiares e coleciona-
dores, que com eles se confraternizavam. Conferiam ao fotografado
um certo status social e, muitas vezes, continham dedicatórias e eram
datados. (BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2016a)

A grande popularidade dos cartes-de-visite começou, em 1859, quando, no


dia 10 de maio, Napoleão III parou no estúdio de Disdéri, em Paris, para ser re-
tratado. No dia seguinte, já havia filas na porta do ateliê fotográfico. Na década
de 1860, o fotógrafo e inventor Disdéri, era tido como o fotógrafo mais rico do
mundo. Ele empregava 90 pessoas em seu luxuoso estúdio e produzia mais de
duas mil fotografias por dia (BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2016a).
Nos Estados Unidos, a Guerra Civil norte-americana (1861-1865) deu grande
impulso aos cartes-de-visite, com os combatentes e suas famílias sendo retrata-
dos antes de serem separados pelo conflito. O formato permitiu que Abraham
Lincoln (Fig. 29), presidente do país na época, se tornasse a primeira celebrida-
de fotográfica dos Estados Unidos.

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Figura 29 – Alexander Gardner. Abraham Lincoln, sentado
segurando óculos, 1865. Impressão carte-de-visite cortado
Fonte: loc.gov

A partir do início da década de 1870, começou o declínio do formato carte-


-de-visite com o surgimento do cartão cabinet (gabinete), na Inglaterra, em
1866. Um pouco maior, apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14 cm mon-
tadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm. Disdéri chegou a abrir fi-
liais em Londres e Madri, entretanto, em 1890, morreu cego, surdo e na miséria
(BUSSELE, 1979).

Fotografia Artística: Comunicação Gráfica


ou uma Forma de Arte?
O surgimento da fotografia propôs uma série de desafios à prática artís-
tica tradicional, desde a redefinição dos conceitos de arte e artista até a
disputa de um mercado cada vez mais interessado na verossimilhança que
o novo meio podia proporcionar numa escala até então desconhecida.
(FABRIS, 2011)

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

O confronto com a imagem técnica da fotografia, a partir de meados do século


XIX, contribuiu para que artistas, especialmente pintores, buscassem novos meios
visuais de expressão. Até certo ponto, foi uma forma de sobrevivência frente
ao novo meio dominado pela exatidão fotográfica. Observamos isso a partir do
movimento artístico impressionismo, protagonizado por artistas franceses como
Claude Monet (1840-1926), influenciados por pintores holandeses. A abstração
começava a rondar a arte acadêmica.

Figura 30 – Claude Monet. Impressão – Nascer do sol, 1873. Pintura


Fonte: Wikimedia Commons

Em relação a esse período, Busselle (1979, p. 34) levanta algumas questões:


“[...] deveria ela [a fotografia] competir com a pintura e seria, de fato, uma forma
de arte? Cabia à nova técnica reproduzir ou interpretar? A fotografia era um veí-
culo de comunicação gráfica ou uma forma de arte?”.

Em princípio, a maioria dos fotógrafos preocupava-se apenas em registrar o que


via, entretanto, outros, adeptos da interpretação, começaram a realizar experiências
com diversos estilos que imitavam a pintura acadêmica da época. Assim, a década
de 1850 foi marcada pelo desenvolvimento da fotografia alegórica, compondo ce-
nas de gênero e religiosas com inspiração em poemas e figuras literárias, lendárias
e heroicas (FABRIS, 2011).

Uma das mais famosas fotografias alegóricas Dois modos da vida, de 1857
(Fig. 31), do pintor sueco Oscar Gustaf Rejlander (1813-1875), tem o tamanho
de um quadro de cavalete (78 x 40 cm). O tema obedece à iconografia da pintura
acadêmica com as poses dos personagens lembrando estátuas greco-romanas.
A composição é formada por 30 negativos sobrepostos em papel sensibilizado,
tendo levado seis semanas para sua execução. Rejlander fotografou cada modelo
e seção de fundo separadamente. O método foi denominado de fotografia com-
posta (ou impressão composta). O trabalho representa o desejo de fotógrafos
britânicos de provar o valor da técnica como arte.

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Figura 31 – Oscar Gustaf Rejlander. Dois modos da vida, 1857.
Processo de carvão a partir de impressão original em papel albuminado
Fonte: Wikimedia Commons

Em 1857, fotografias foram exibidas na Exposição de Tesouros Artísticos de


Manchester (Inglaterra), mostra dedicada às belas-artes e às artes decorativas.
Entretanto, em 1862, a Exposição Internacional de Londres decidiu que não
iria exibir conjuntamente fotografias com pinturas e esculturas, mas na seção
de equipamentos mecânicos. Após protestos de fotógrafos e admiradores, foi
decidido que elas seriam apresentadas na seção “Outros trabalhos”. Críticos con-
sideravam que a fotografia não era arte por se tratar de um processo mecânico.
“Outros argumentavam que a câmera era como o pincel, apenas uma das várias
ferramentas disponíveis para a produção artística” (HACKING, 2012, p. 112).

Vamos conferir, a partir de agora, os principais momentos da fotografia artísti-


ca a partir do século XIX.

Fotografia Pictorialista – Final do Século XIX e Início do Século XX


Tons sombrios, textura granulada, efeitos
decorativos e falta de perspectiva; alteração
da imagem fotográfica, tornando-a seme-
lhante a um quadro, dando a impressão de
serem feitas a lápis e a carvão. Influência do
Impressionismo. Robert Demachy (1859-
1936) é um de seus maiores representantes.
Seus temas são o nu, o paisagismo (Fig. 32)
– muito próximo a Claude Monet – e cenas
de balé, como as pinturas de Edgar Degas
(1834-1917).
Figura 32 – Robert Demachy. Windmills, 1913.
Goma bicromatada
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Fotografia Moderna – A Percepção da Realidade


O fim da Primeira Guerra Mundial (1914-
1918) criou um sentimento de renovação em
todos os sentidos, inclusive na fotografia ar-
tística. Os avanços tecnológicos mostravam
uma nova visão do mundo, mais realista. O
artista vanguardista húngaro László Moholy-
-Nagy (1895-1946) defendia a autonomia da
fotografia como arte e exaltava a percepção
da realidade proporcionada pela técnica.

Figura 33 – László Moholy-Nagy. Varandas


Bauhaus, 1925. Impressão a gelatina de prata
Fonte: Wikimedia Commons

Fotografia Dadaísta
O dadaísmo, gestado na Suíça, em 1916, ganhou o mundo, especialmente os
Estados Unidos. O movimento artístico contestava valores culturais de forma radical
e se utilizava de vários canais de expressão como revistas, manifestos, exposições
e outros. A fotografia oportunizou aos artistas dadaístas uma forma de integração
entre o trivial e cotidiano à pratica artística. Em Nova York, artistas como Man Ray
(1890-1976) utilizaram a fotografia como um meio de revitalizar a arte visual, “sen-
do capaz de embaralhar as fronteiras entre a arte clássica e a arte popular, o estilo
e a moda, a pintura e a ilustração”, afirma Floresta (2011, p. 5).

Figura 34 – Man Ray. Preto e branco, 1926. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

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Fotografia Abstrata
Em 1916, Alvin Langdon Coburn (1882-1966)
questionou: “Por que a câmera também não deve-
ria se livrar dos grilhões da representação conven-
cional?” (Hacking, 2012, p. 197). Ele sugeriu que
a câmera explorasse movimentos rápidos, exposi-
ções múltiplas e ângulos de perspectiva. Coburn
foi um dos primeiros fotógrafos a produzir foto-
grafias não-figurativas.

Figura 35 – Alvin Langdon Coburn.


Vortograph (The Eagle), 1917
Fonte: Wikimedia Commons

Fotografia Surrealista
O Surrealismo, movimento criado pelo escritor francês André Breton (1896-
1966), em 1924, abrangia belas-artes, fotografia e filosofia e explorava o sub-
consciente humano, usando os preceitos da psicanálise, como o significado dos
sonhos, por exemplo. O primeiro fotógrafo que Breton trouxe para o Surrealismo
foi o artista norte-americano Man Ray (olha ele de novo). Inovador em temas,
composição e técnica criou imagens modernas (Hacking, 2012).

Figura 36 – Man Ray. Lágrimas, 1930. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Pop Art
Movimento que surgiu no final dos anos 1950
na Inglaterra, e que no início da década seguin-
te conquistou os Estados Unidos, a Pop Art tem
uma relação visceral com os meios de comunica-
ção de massa, os bens de consumo e a cultura po-
pular. Expoente maior da Pop Art, Andy Warhol
(1928-1987) utilizou a fotografia como suporte
para suas criações, que foram reproduzidas, prin-
cipalmente, em serigrafia.

Figura 37 – Andy Warhol. Elvis


duplicado, 1963. Serigrafia
Fonte: Wikimedia Commons

Fotografia Conceitual
A arte conceitual, desenvolvida nas décadas de 1960 e 1970, privilegia o con-
ceito, ou a ideia, em detrimento do meio utilizado na produção artística, e tem
na fotografia uma forma importante de manifestação. Os artistas conceituais, en-
tretanto, questionaram os significados sociais e a estética da fotografia em suas
obras, especialmente no registro de suas performances – forma de arte que com-
bina elementos de teatro, artes visuais e música. O artista norte-americano Vito
Acconci (1940-2017) examinou o papel da fotografia como meio de vigilância e
controle social em Cena de perseguição (Fig. 38), de 1969. Ele seguia um des-
conhecido ao acaso até essa pessoa entrar em um local privado.

Figura 38 – Vito Acconci. Cena de perseguição, 1969. Performance / fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

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Fotografia Pós-Moderna
“Nas artes visuais, o pós-modernismo muitas vezes adotou uma ampla varie-
dade de estilos, mídias e práticas, com a fotografia desempenhando um papel de
destaque” (HACKING, 2012, p. 418). Vários artistas, especialmente nos Estados
Unidos, a partir do final da década de 1970, utilizaram a fotografia como forma
de desafiar conceitos modernistas como originalidade, subjetividade, autenticida-
de e autoria. Práticas como apropriação, pastiche e ironia passaram a dominar
a fotografia. A norte-americana Cindy Sherman (1954-) produziu uma série de
fotografias em preto e branco (entre 1977 e 1980) na qual ele posa em diversas
cenas que remontam às décadas de 1950 e 1960.

Figura 39 – Cindy Sherman. Fotograma sem título nº 13, 1978. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

Fotografia na Arte Contemporânea


A arte contemporânea valoriza o conceito, a atitude e a ideia da obra para que
haja reflexão subjetiva sobre a criação artística para além da contemplação estéti-
ca, ampliando a concepção do mundo. É a arte do “...aqui, agora”, conforme re-
gistrou Lars Nittve, diretor do Centro de Artes Louisiana, na Dinamarca, em 1996
(ARCHER, 2001, p. 236). Dois fotógrafos que se destacam internacionalmente
com seus trabalhos contemporâneos são o espanhol radicado no Brasil, Miguel
Rio Branco (1946-) (Fig. 40), que trabalha com contrastes cromáticos intensos,
e Sebastião Salgado (1944-) (Fig. 41), um narrador, com extrema realidade, de
condições humanas e ambientais adversas.

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Figura 40 – Miguel Rio Branco. Blue tango, 1984. Fotografia, cibachrome, 20 fotografias
Fonte: inhotim.org.br

Figura 41 – Sebastião Salgado. Poço de petróleo, Burhan, Kuwait, 1991


Fonte: Sebastião Salgado, 1991

O Inesgotável Mundo Digital


A fotografia digital apresentou um novo mundo técnico aos artistas contempo-
râneos. Após uma imagem ser clicada, a pós-produção digital abre um caminho
sem fim para a criatividade. O norte-americano Anthony Aziz (1961-) e o perua-
no Sammy Cucher (1958-) atuam juntos e, desde 1990, desenvolvem trabalhos
pioneiros com imagens digitais (HACKING, 2012). Em Chris (1994) (Fig. 42),
eles fazem referência aos “temores contemporâneos relacionados à engenharia
genética e à mutação” (2012, p. 531). A cabeça raspada do homem, que não
tem os quatro sentidos (paladar, olfato, audição e visão), representa a anulação da

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individualidade das pessoas. “Embora a manipulação digital das obras seja central
à concepção desta série, é o efeito de realidade na representação fotográfica que
torna os elementos fantásticos ao mesmo tempo verossímeis e perturbadores”
(HACKING, 2012, p. 531).

Figura 42 – Anthony Aziz e Sammy Cucher. Chris, 1994. Impressão colorida cromogênica
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Estabelecimento da Fotografia (1826 a 1860)
e a Fotografia Artística

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Cinetoscopio
Os 15 melhores filmes sobre fotografia.
https://goo.gl/1ZpyqM
Título da Página
Mais de 101 sites de fotografia que tem de conhecer – Parte 1.
https://goo.gl/hroQkd
Instagram
Cindy Sherman. Selfies no Instagram. Instagram da fotógrafa norte-americana Cindy
Sherman (1954-).
https://goo.gl/k8MeC8

 Filmes
Extraordinário
O filme Extraordinário (diretor: Stephen Chbosky, 2017, USA) não é sobre fotografia
ou sobre um grande fotógrafo: É sobre gente como nós. Em um determinado momen-
to, Auggie Pullman (Jacob Tremblay), um garoto que nasceu com uma deformação
facial, dá um show na feira de ciências da escola. Você logo vai reconhecer o equipa-
mento que ele e um colega de aula construíram.

34
Referências
ARCHER, Michael. Arte contemporânea – Uma ideia concisa. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.

BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.

BRASILIANA FOTOGRÁFICA. Cartões de visita – cartes de visite, 2016a. Dispo-


nível em: <http://brasilianafotografica.bn.br/?p=3873>. Acesso em: 08 mai. 2018.

________. Estereoscopia, 2016b. Disponível em: <http://brasilianafotografica.


bn.br/?tag=estereoscopia>. Acesso em: 03 mai. 2018.

BUSSELLE, Michael. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Livraria Pioneira Edi-
tora, 1979.

FABRIS, Annateresa. O desafio do olhar – Fotografia e artes visuais no período


das vanguardas históricas. Volume I. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.

FLORESTA, Merry A. Man Ray. São Paulo: Cosac Naify, 2011.

FONTES, Carlos. Curso História e ensino criativo, 2011. Disponível em:


<https://pt.slideshare.net/JDLIMA/breve-histria-da-fotografia-6929747>.
Acesso em: 01 mai. 2018.

HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia – Técnicas criativas de 100 grandes
fotógrafos. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.

HONNEF, Klaus. Fotografia. In: WALTHER, Ingo F. Arte do século XX. Lisboa:
Taschen, 2010.

J. PAUL GETTY MUSEUM. Sir John Frederick William Herschel [2018]. Dis-
ponível em: <http://www.getty.edu/art/collection/artists/1881/sir-john-frederick-
-william-herschel-british-1792-1871/>. Acesso em 03 mai. 2018.

KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

LOPES, Sóstenes Carneiro. A história da fotografia: origem da fotografia no


mundo, origem da fotografia no Brasil, 2009. Disponível em: <https://pt.sli-
deshare.net/hiperbalad/a-histria-da-fotografia?next_slideshow=1>. Acesso em: 01
mai.2018.

PEDROSA, Adriano; MOURA, Rodrigo (eds.). Através: Inhotim. Brumadinho:


Instituto Cultural Inhotim, 2008.

TOREZANI, Julianna Nascimento. Processos fotográficos do século XIX – Este-


reoscopia, panorama, albumina, colódio úmido, ambrótipo, 2015. Disponível em:
<http://ikoneblog.blogspot.com.br/2015/03/processos-fotograficos-do-seculo-
-xix.html>. Acesso em: 03 mai. 2018.

ZUANETTI, Rose et al. Fotógrafo: o olhar, a técnica e o trabalho. Rio de Janeiro:


Senac Nacional, 2004.

35
35
História e Estética
Fotográfica
Material Teórico
Popularização da Fotografia (1861
a 1900) e a Fotografia de Eventos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Popularização da Fotografia (1861
a 1900) e a Fotografia de Eventos

• Introdução;
• A Era dos Retratos;
• “Você Aperta o Botão, Nós Fazemos o Resto”;
• Brownie, a Fantástica Câmera da Kodak,
que Popularizou a Fotografia;
• Turismo e Kodak Contribuem
para a Popularização da Fotografia;
• Uma Breve História da Gigante Kodak ;
• Fotografia de Eventos: Eternizando Lembranças;
• A Fotografia e as Formaturas;
• A Fotografia de Casamento;
• Fotografia Contemporânea de Casamento.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer as inovações técnicas e materiais fotográficos utilizados
entre os anos 1861 a 1900 na história da fotografia;
· Conhecer fotógrafos de retratos que marcaram época na fotografia
no século XIX;
· Conhecer, contextualizar e analisar diferentes tendências e estilos da
fotografia de eventos (casamento, formatura) através dos tempos até
a contemporaneidade.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Introdução
“O que o olho humano observa casualmente e sem curiosidade, o olho
da câmera... observa com uma fidelidade implacável”. Berenice Abbot
(LOWE, 2017, p. 76)

Figura 1 – Jacob Riis. Inquilinos de um cortiço na Bayard Street, cinco centavos a vaga, 1899. Prata/gelatina
Fonte: moma.org

No início da década de 1880, a técnica do negativo de colódio úmido (mistura de


pó de algodão, pólvora, álcool e éter), usado como veículo para unir sais de prata
a uma placa de vidro, criado em 1851, pelo escultor inglês Sir Frederick Scott
Archer (1813-1857), já se tornara obsoleta. É que uma nova técnica, desenvolvida
pelo médico inglês Richard Leach Maddox (1816-1902), desde 1871, facilitou
muito a vida dos fotógrafos. Ele criou os primeiros negativos em placas secas, à
base de gelatina e brometo de prata sobre vidro, processo que seria sucessivamente
aperfeiçoado. O sistema, que substituiu o colódio úmido, foi publicado no British
Journal of Photograph, em 1871.

Por volta de 1877, já eram comercializadas no mercado placas secas de alta


sensibilidade, acondicionadas em caixas, prontas para serem utilizadas. A partir de
então, não havia mais a necessidade de preparar as chapas antes da exposição ou
de revelá-las logo após. Assim, o período de 1880 a 1910 foi marcado pelo uso
dos negativos de gelatina e brometo de prata sobre vidro e das cópias por contato
utilizando papel de fabricação industrial.

Com a simplificação da técnica fotográfica, por meio da chapa seca de gelatina,


foi possível – devido à redução do tempo de exposição – fotografar pessoas e
animais em movimento, oportunizando o surgimento dos “instantâneos”. Outro
avanço foi a redução do tamanho das câmeras, que se tornaram mais leves, mais
baratas e, consequentemente, mais fáceis de serem manejadas por amadores.

8
Você Sabia? Importante!

O primeiro exemplo de fotos de movimentos em sequência, ou seja, fotografias em


série, realizado pelo fotógrafo inglês Eadweard Muybridge (1830-1904), é resultado
de uma aposta. Dois amigos divergiam sobre se um cavalo conseguia tirar as quatro
patas do chão durante uma corrida. Muybridge descobriu a verdade em 1878 com
o uso de 24 câmaras fotográficas em fileira e negativos de colódio úmido (Fig. 2).
O cavalo realmente tira as patas do chão. A experiência contribuiu para o surgimento
do filme cinematográfico.

Figura 2– Eadweard Muybridge. O cavalo em movimento, 1878. Colódio úmido em vidro


Fonte: Wikimedia Commons

Em 1882, o fisiologista francês, Étienne-Jules Marey (1830-1904) também contribuiu


para o estudo científico do movimento por meio da fotografia. Ele desenvolveu a
cronofotografia, uma forma de análise do movimento por meio de fotografias tiradas
sucessivamente com intervalos iguais. A câmera criada por ele era semelhante a um
rifle e registrava 12 fotos sucessivas por segundo, sendo que todas as imagens ficavam
registradas em uma única fotografia. O invento foi batizado de “fuzil fotográfico” (Fig. 3),
que obtinha uma exposição de 1/720 de segundo. O comprimento do cano foi ajustado
para alterar o foco. As imagens eram registradas em um disco (embutido no fuzil), que
continha 12 quadros, ou em um cilindro externo com placas sensíveis. A técnica constitui
o fundamento teórico do cinema. Um dos estudos mais famosos de Marey é sobre um
homem saltando com vara (Fig. 4).

Figura 3 – Fuzil fotográfico Figura 4 – Estudo cronofotográfico de um


de Marey, criado em 1882 homem saltando com vara, 1890
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Hacking, 2012

Entretanto, as pesadas e frágeis placas de vidro dos negativos fez com que
pesquisadores, especialmente químicos, se dedicassem à criação de novos suportes
materiais para negativos. Os resultados não tardaram. O inglês John Carbutt (1832-
1905), radicado nos Estados Unidos, anunciou, em 1888, a criação do primeiro
filme fotográfico de celuloide – chapas finas cobertas com gelatina. Foi sucesso

9
9
UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

comercial. Por volta de 1890, Carbutt apresentou o filme com largura de 35 mm,
que definiria o padrão para câmeras fotográficas e de cinema. E, em 1896, ele
lançaria as primeiras placas de raios X para uso comercial.

A Era dos Retratos


A popularização da fotografia teve uma grande aliada nos retratos. A possibilida-
de de se tirar retratos fieis e com rapidez (e cada vez mais acessíveis em termos de
custo) virou uma verdadeira febre, tendo seu auge entre os anos de 1845 e 1890.
Em meados da década de 1850, estúdios fotográficos eram presença marcante nas
principais cidades da Europa, Estados Unidos e em outras partes do mundo. So-
mente em Nova York, havia 71 estúdios. A fotografia passou a ser uma profissão.
O censo britânico de 1861 registra 2.879 fotógrafos, contra apenas 51 profissio-
nais dez anos antes.

Mas nem tudo era entendido da mesma maneira. Em 1849, o poeta e crítico
de arte francês Charles Baudelaire bradava: “Nossa sociedade sórdida, pois induz
os narcisos a uma exultação unânime sobre suas imagens banais, gravadas sobre
um pedaço de metal” (BUSSELLE, 1979, p. 33). Entretanto, não tardou para que
Baudelaire se rendesse à nova mídia. Em 1863, ele foi fotografado por Etienne
Carjat (1828-1906). O retrato (Fig. 5) foi utilizado na Galerie Contemporaine,
Littéraire, Artistique (Galeria Contemporânea de Escritores e Artistas).

Figura 5 – Ettienne Carjat. Charles Baudelaire, 1863. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

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Um dos mais famosos (se não, o mais famoso) fotógrafos de retratos na épo-
ca de ouro foi, sem dúvida, Gaspard-Felix Tournachon, conhecido como Nadar
(1820-1910) (Fig. 6). Caricaturista e escritor, começou a se interessar pela foto-
grafia a partir do início da década de 1850. Sua forte personalidade, talento e au-
topromoção o levaram ao topo dos fotógrafos de retratos da época. Seus retratos
incluíam o escritor Victor Hugo, o pintor Eugène Delacroix, o compositor Franz
Liszt e a atriz Sarah Bernhardt (Fig. 7), entre outras personalidades.

Nadar não utilizava cenários extremamente decorados e sofisticados como


faziam seus colegas fotógrafos de retratos. Ele preferia um pano simples e liso de
fundo, roupas escuras e um enquadramento que privilegiava o rosto do retratado.
Em 1858, tirou as primeiras fotografias aéreas em um balão e, também de forma
inédita, utilizando iluminação artificial, fotografou as catacumbas e os esgotos de
Paris. Ele se tornou tão famoso quanto as celebridades que fotografava.

Figura 6 – Nadar. Autorretrato, 1865. Fotografia carte-de-visite


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Figura 7 – Nadar. Sarah Bernhardt, 1859. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

O século XIX também teve outro importante destaque no gênero retrato: Julia
Margaret Cameron (1815-1879). Nascida em Calcutá, na Índia (seu pai era um
oficial inglês da East India Company), foi educada na França, mas retornou à Índia
para se casar com um jurista inglês. Em 1848, quando seu marido se aposentou,
passou a morar na Inglaterra. Com 48 anos (1863) ganhou sua primeira câmera
fotográfica, como presente de uma de suas filhas. Sua carreira decolou rápido.
Em um ano, Julia já era membro das sociedades de fotografia inglesa e escocesa.

Seu trabalho como retratista era pouco convencional na época. As imagens –


retratos e alegorias encenadas, inspiradas em obras religiosas e literárias – tinham
grande apelo cênico e iluminação peculiar. Como tinha amigos famosos, e os
retratou, não demorou muito para ela também se tornar famosa como fotógrafa.
É considerada a mais notável retratista inglesa do século XIX.

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Figura 8 – Julia Margaret Cameron. Figura 9 – Julia Margaret Cameron. Rei Lear
Sir John Herschel com boné, 1867. distribuindo seu reino para suas três filhas, 1872.
Impressão em albumina; negativo Impressão em albumina; negativo
de vidro em colódio úmido de vidro em colódio úmido
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons

“Você aperta o Botão, Nós fazemos o Resto”


“Se o mérito de tornar os prazeres da fotografia acessíveis ao público cabe a
uma única pessoa, ela é, incontestavelmente, George Eastman.” (BUSSELLE,
1979, p. 36). O norte-americano George Eastman (1854-1932) começou a es-
crever seu nome na história da fotografia desde cedo. Funcionário de um banco
em Rochester, estado de Nova York, então com 23 anos (1877), comprou seu
primeiro equipamento fotográfico de colódio úmido e começou a ter aulas com
um fotógrafo profissional. Entretanto, insatisfeito com esse processo trabalhoso,
confuso e dispendioso, afirmava: “Parecia-me não ser necessário carregar tanto
quanto uma mula de carga”. Ele passou, então, a utilizar o método da placa seca
(BUSSELLE, 1979, p. 36).

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

As primeiras câmeras fotográficas eram conhecidas como máquina-cai-


xote ou máquina-caixão: no seu interior havia dois compartimentos que
funcionavam como tanques para revelação e fixação das fotografias.
[...] aquelas máquinas tinham como principal característica funcionar,
no momento posterior à captura da imagem, como um minilaborató-
rio de revelação de negativos e cópias fotográficas positivas. (FARIAS;
GONÇALVES, 2014)

Vislumbrando um cenário econômico promissor no campo da fotografia,


Eastman passou a fabricar e vender sua própria produção de chapas secas e, em
1881, deixou o emprego no banco para fundar a Eastman Dry Plate Company
(Companhia Eastman de Chapas Secas), em Rochester. O negócio se expandiu e,
em 1885, a empresa lançou um suporte de rolo em tiras de papel sensibilizadas
como alternativa aos negativos em placas de vidro. Neste mesmo ano, Eastman
abriu uma sucursal de sua empresa em Londres (Inglaterra), com o objetivo de con-
quistar o mercado europeu, e conseguiu.

O sistema de chapas secas possibilitou a criação das câmeras-detetive, que se popularizaram


Explor

a partir de 1881. Os dispositivos fotográficos eram disfarçados de pacotes, sacolas, armas,


livros, binóculos, bengalas e peças de vestuário como gravatas e se tornaram uma febre,
especialmente entre os mais ricos.

Câmera-detetive Facile, disfarçada de maleta, de Jonathan Fallowfield, 1890:


Explor

https://goo.gl/vYoPKn

Mas a grande sacada de Eastman ocorreu, em 1888, quando ele lançou um pro-
duto revolucionário: a câmera Kodak One (Fig. 11). Pequena (9,2 x 7,9 x 16,5 cm),
ela vinha carregada com um rolo de filme de papel sensibilizado de 6,35 cm de largura,
que proporcionava 100 exposições no formato circular. Nessa época, a empresa se
chamava Eastman Dry Plate and Film Company. O material de divulgação da câ-
mera anunciava: “Você aperta o botão, nós fazemos o resto”, enquanto o manual
de instruções lembrava: “Seu uso dispensa estudos preliminares, laboratórios ou
produtos químicos” (BUSSELLE, 1979, p. 36).

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Figura 10 – Câmera Kodak One um dos primeiros Figura 11 – Anúncio publicitário (1888)
equipamentos fabricada pela Eastman Dry Plate and da mesma câmera Kodak, na publicação
Film Company, de Rochester (Nova York), em 1888 norte-americana Harper’s Magazine
Fonte: Courtesy of George Eastman House Fonte: Courtesy of George Eastman House

Figura 12 – Anúncio da câmera Kodak, de 1889: You press the button – we do the rest
(Você aperta o botão, nós fazemos o resto)
Fonte: Wikimedia Commons

Foi George Eastman quem criou o nome Kodak. Vejamos como ele explica isso:
Não se trata de um nome ou palavra estrangeira; foi criado por mim para
servir a um propósito. Possui os seguintes méritos do nome de uma marca
registrada: primeiro, é curto; segundo, é impossível pronunciá-lo errado;
terceiro, não se parece com nada no ramo e não pode ser associado a
nada que exista nele. (HACKING, 2012, p. 159)

Tirar uma fotografia a partir daquele momento se tornou um processo extrema-


mente simples. Qualquer pessoa poderia manipular o equipamento. Tudo o que
estivesse a mais de um metro de distância da câmera ficava em foco. A câmera de
Eastman não tinha visor, bastava apontar o dispositivo para o que a pessoa queria
fotografar e apertar o botão do obturador. “A Kodak trouxe um novo espírito de
liberdade e espontaneidade à fotografia” (HACKING, 2012, p. 157).

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Depois que o usuário tirava as 100 fotografias, a câmera era enviada à Eastman
Company, que revelava o filme, copiava as fotografias e as montava em um cartão.
O dono do equipamento recebia de volta a sua câmera recarregada com um novo
rolo de filme. O preço da máquina, nos Estados Unidos era de 25 dólares e 10
guinéus na Grã-Bretanha. O serviço de revelação, as cópias e o novo rolo de filme
custavam 10 dólares ou 2 guinéus (BUSSELLE, 1979).

Como o preço de uma Kodak, na época, custasse mais do que um mês de salá-
rio de muitas pessoas, Eastman logo conseguiu reduzir os custos de suas máquinas,
utilizando métodos de produção em massa. Também foram realizados aperfeiçoa-
mentos técnicos nos equipamentos. No início de 1889, a empresa conseguiu pro-
duzir filmes em celuloide transparente em rolo, um material flexível como o papel
e transparente como o vidro. Pouco tempo depois, já haviam sido lançados no
mercado cinco modelos de câmeras Kodak, dois deles dobráveis. Todos utilizavam
filmes em rolo, colocados no laboratório da empresa.

Prestes a se tornar um dos empresários mais bem-sucedidos do mundo, George


Eastman passou a fazer viagens transatlânticas regulares à Europa para acompa-
nhar seus negócios no continente. Em 1890, a bordo do SS Gallia, ele foi foto-
grafado por seu sócio Frederick Church (Fig. 14), um advogado de patentes, um
grande amigo. Eastman reconhecia a importância do registro da patente para suas
criações. Na imagem, o empresário segura uma Kodak nº 2, o mesmo modelo
usado por Church para tirar a fotografia. O interessante é que por conta das limi-
tações da lente utilizada na câmera, as fotos saiam redondas. Isso, até certo ponto,
auxiliava o usuário que não precisava se preocupar em alinhar a imagem na hora
de fotografar.

Figura 13 – Frederick Church. George Eastman a bordo do SS Gallia, 1890. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

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Eastman nunca descansou na busca de encontrar formas de reduzir os preços
de seus produtos. Uma das soluções foi colocar o filme em rolo dentro de um
cartucho. Assim, a partir daquele momento, as câmeras não precisavam mais vir
com o filme dentro. Em 1895, foi lançada a Pocket Kodak (Fig. 15), uma câmera
de bolso vendida por apenas 5 dólares.

Figuras 14 e 15 – Anúncios da Kodak, apresentando a Pocket Kodak (1895) na revista americana


The Cosmopolitan; e cinco tipos de câmeras, na Harper’s Magazine Advertiser (1898)
Fonte: Duke University Libraries - Digital Repository

Figura 16– Câmera Kodak com objetiva escamoteável, 1897


Fonte: obviousmag.org

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Brownie, a Fantástica Câmera da Kodak,


que Popularizou a Fotografia
Como havia milhões de consumidores de baixo poder aquisitivo, Eastman enten-
dia que era preciso criar um modelo ainda mais simples e barato. O empresário pediu
para que Frank Brownell, responsável pelos projetos das câmeras da Kodak, criasse
o modelo mais barato possível, mas ainda capaz de tirar excelentes fotografias.

Assim, em 1900, surgiu a Brownie (Fig. 18), “talvez a máquina fotográfica mais
célebre da história, capaz de tirar fotos de qualidade, com filme em rolo dentro de
um cartucho ao preço de 5 xelins ou 1 dólar” (BUSSELLE, 1979, p. 36). O nome
da câmera foi uma referência a uma personagem de histórias em quadrinhos do
autor canadense Palmer Cox.

Em apenas um ano, mais de 100 mil unidades foram vendidas. A Brownie se


tornou sinônimo de fotografia popular. Pela primeira vez, o hobby da fotografia
estava ao alcance financeiro de praticamente todas as pessoas. A série, que durou
até 1986, teve quase 100 modelos diferentes Brownie.

Figura 17 – Câmera fotográfica Brownie nº 1 Modelo B, lançada pela Kodak, em 1901


Fonte: scienceandmediamuseum.org.uk

Figura 18– Câmera Brownie Box Rollfilm, de 1946


Fonte: iStock/Getty Images

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Figura 19 – David Lisk. Brownie II, a última edição da famosa série (1986), desta vez fabricada no Brasil
Fonte: David Lisk

George Eastman construiu seu empreendimento com base em quatro princí-


pios, fortemente relacionados: a) produção em massa a baixo custo; b) distribuição
dos produtos em nível internacional; c) campanhas publicitárias intensas; e, d) foco
no consumidor. Desde o princípio de seu trabalho, ele teve a convicção de que
atender às necessidades e aos desejos dos consumidores era o único caminho para
o sucesso do seu empreendimento.

Turismo e Kodak Contribuem para


a Popularização da Fotografia
O turismo também foi um importante fator para a popularização da fotografia.
Conforme Puls (2017, p. 86), ser um fotógrafo amador no início do século
XX trazia benefícios para a autoimagem das pessoas e “Os anúncios da Kodak
apresentavam o fotógrafo como um homem destemido, um ‘caçador’ de imagens”.
O autor lembra que George Eastman era um caçador de animais selvagens e dizia
que a fotografia substituía a caça. Em um anúncio publicitário de 1900 (Fig. 21),
lia-se: “If you want it – take it – with a KODAK” (Se você quiser – leve – com uma
KODAK). Eastman tinha extrema convicção da importância da propaganda, tanto
para a sua empresa quanto para o público consumidor.

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Figura 20 – Anúncio publicitário da Kodak, 1900


Fonte: digitalcollections.nypl.org

Nessa mesma época, as viagens turísticas – anteriormente um privilé-


gio de poucos – estavam se tornando acessíveis às demais classes so-
ciais devido ao surgimento de novos meios de transporte (navios a vapor,
trens, automóveis) e da concessão de férias remuneradas aos assalariados.
O fundador da Kodak percebeu que existia aí um grande mercado para
as câmeras portáteis e investiu pesadamente em campanhas publicitárias
para convencer o público de que férias não fotografadas eram férias des-
perdiçadas. Graças à fotografia, cada família podia agora ostentar seu
status de turista. (PULS, 2017)

A fotografia também cumpriria outro grande papel: o de registrar as localidades


cada vez mais remotas e exóticas do mundo, além, claro, das cidades e regiões
mais conhecidas e tradicionais. Um dos fotógrafos mais bem-sucedidos de viagem
do século XIX foi o inglês Francis Frith (1822-1898). Na metade da década de
1850, ele se lançou em uma série de expedições para produzir registros da Terra
Santa e do Egito, entre eles As pirâmides de Gizé (do Sudoeste) (Fig. 22). Logo
após, fotografou a Europa, a Índia e o Extremo Oriente.

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Figura 21 – Francis Frith. As pirâmides de Gizé (do Sudoeste), 1857.
Albúmen a partir de negativo de vidro em colódio úmido
Fonte: metmuseum.org

Uma Breve História da Gigante Kodak


A Kodak também teve papel fundamental no desenvolvimento do cinema e
do vídeo caseiro. O filme fotográfico de George Eastman foi essencial para as
câmeras de filmagem do inventor norte-americano Thomas Edison (1847-1931)
e o projetor Kodascope, juntamente com o filme colorido de 16 mm Kodacolor
criaram muitos cinegrafistas amadores. Entretanto, o grande passo veio em 1935
com o Kodachrome, um filme colorido clássico e de alta qualidade para a fotografia
e o cinema, produzido até 2009.

Vamos conferir alguns dos mais importantes momentos da Kodak:

Ao longo dos anos seguintes, a Kodak não parou de


contratar pesquisadores e cientistas para ajudar a
criar novos formatos de filme, além de se expandir
para outros países. Em 1907, já eram 5 mil funcio-
nários espalhados pelo mundo. A necessidade de
promover inovações que facilitassem a operação do
equipamento fotográfico sempre foi fundamental Figura 22 – Primeira logomarca da
para a empresa. Eastman Kodak Company, de 1907

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Em 1923, a Kodak facilita a produção cinematográ-


fica amadora com o lançamento do filme reverso de
16 mm em base de acetato de celulose; da primeira
câmera de 16 mm Cine-Kodak Motion Picture e do
projetor Kodascope. A imediata popularidade dos
filmes de 16 mm resulta em uma extensa rede de
laboratórios de revelação Kodak em todo o mundo.
Em 1927, o número de funcionários da Kodak no
mundo ultrapassa os 20 mil.
Em 1932, são lançados os primeiros filmes,
câmeras e projetores cinematográficos de 8 mm
para amadores. Neste mesmo ano, morre Figura 23 – Anúncio de câmera
George Eastman. cinematográfica da Kodak, em 1926
Fonte: Divulgação

As evoluções em filmes, câmeras e projetores


não pararam. A empresa foi também a primeira a
desenvolver um sistema de exposição automáti-
ca com oito velocidades no obturador: a câmera
Kodak Super Six-20 (Fig. 25), em 1938. “A câmera
custava, na época, o equivalente à metade do preço
de um carro Ford do ano. Só foram produzidas
mil unidades do modelo”, lembra Libério (2013).
Será apenas a partir da década de 1960, que as
primeiras câmeras de exposição automática se
tornariam verdadeiramente populares. Figura 24 – Câmera Kodak Super Six-20, de 1938:
a primeira com sistema de exposição automática
Fonte: Wikimedia Commons

Os negativos Kodacolor (Fig. 26), para impressão


colorida em papel, começam a ser comercializados,
em 1942.

Figura 25 – Caixa com rolo de filme Kodacolor


Fonte: Wikimedia Commons
1946: a Kodak lança no mercado o filme para
transparência Kodak Ektachrome, o primeiro filme
colorido da empresa que permitia aos próprios
Explor

fotógrafos revelar suas fotos, usando os recém- Caixa de filme Ektachrome, 1947:
-lançados kits de químicos. https://goo.gl/ygUeRt
O número de funcionários da Kodak em âmbito
mundial ultrapassa a marca dos 60 mil.

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Em 1963, a Kodak lançou mais uma linha de
sucesso: a câmera Instamatic (Fig. 28) com design
clássico. Ela ficou famosa por ser barata e ter o
filme na forma de cartucho facilmente substituído,
trazendo à fotografia amadora novos patamares
de popularidade.
Mais de 50 milhões de câmeras Kodak Instamatic
Figura 27 – Câmera Kodak Instamatic
foram produzidos, entre 1963 e 1970. Fonte: Wikimedia Commons

O close da cratera Copernicus na lua (Fig. 29),


feita pelo satélite Lunar Orbiter II, da Nasa, em
1966 – considerada por muitos como a “fotografia
do século” –, foi obtida por meio de uma lente
dupla de câmera, filme, processador e dispositivo
de leitura fornecidos pela Kodak.
Neste mesmo ano, as vendas combinadas de todas
as unidades Kodak no mundo ultrapassam os
US$ 4 bilhões. A companhia empregava mais de
100 mil pessoas e atuava, além da fotografia e
cinema, em áreas como saúde (diagnóstico por
imagem) aeroespacial e de patentes, entre outras. Figura 28 – Cratera Copernicus na lua
Fonte: Wikimedia Commons

O engenheiro da Kodak Steve Sasson cria, em 1975,


a primeira câmera digital do mundo (Fig. 30).
O protótipo, do tamanho de uma torradeira de
mesa, pesando 3,6 quilos, capturava imagens em
preto e branco com uma resolução de 10.000 pixels
(0,01 megapixels) e as gravava em uma fita casse-
te. Tempo de gravação: 23 segundos. Entretanto, a
novidade não agradou aos executivos da empresa
que suspenderam o projeto.
A tecnologia, que revolucionaria a indústria da
fotografia, determinou a decadência da Kodak,
na época, a maior fabricante de filmes e produtos Figura 29 – Protótipo da primeira câmera
químicos para fotografia do mundo. digital do mundo, feito pela Kodak
Fonte: cellar.org

A partir de 1994, a Kodak começou a entrar no


mundo das câmeras digitais, lançando um dos
primeiros modelos digitais para o consumidor: a
linha EasyShare (Fig. 31), em 2001, talvez o último
grande sucesso de hardware da Kodak. Mas quando
a empresa percebeu que o mercado digital tinha re-
almente chegado para ficar, ultrapassando o filme,
era tarde demais. Todos os concorrentes da Kodak
tinham câmeras digitais muito superiores a ela.
Figura 30 – Câmera digital Kodak EasyShare

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Os anos 2000 passaram a ser muito difíceis para a


Kodak. Em 2002, as câmeras com filme deixaram
de ser fabricadas em vários mercados e, dois anos
depois, aconteceu o mesmo com os filmes.
Em 2008, a maior receita da empresa passou a ser
do licenciamento de patentes e não de produtos ou
serviços. A falência não demorou a chegar.
A Kodak pediu concordata em janeiro de 2012,
entrando em um programa do governo dos Estados
Unidos de proteção às empresas que precisam se Figura 32 – Logomarca da Kodak (2018)
recuperar financeiramente. Fonte: Wikimedia Commons
Apple, Google e outras marcas de tecnologia adqui-
riram várias patentes da empresa.
Entretanto, a Kodak se mostrou como uma verda-
deira fênix – ave da mitologia grega, que morria,
mas depois de algum tempo, renascia das cinzas.
Atualmente, a Kodak é uma empresa de tecnologia
focada em imagem. Sua identificação hoje é Kodak:
Science, Art and Industry (ciência, arte e indústria).
Em 2016, lançou o smartphone Ektra (Android)
(Fig. 33), com uma câmera de 21 MP. Detalhe:
a câmera do iPhone X é de 12 MP, considerada Figura 33 – Smartphone Ektra da Kodak
uma das melhores do mercado. Fonte: Wikimedia Commons

Fontes: https://bit.ly/2IHO3xv e https://goo.gl/vpGrkt

Fotografia de Eventos:
Eternizando Lembranças
A fotografia vem, ao longo de seus quase dois séculos de existência, mostrando
o homem a si mesmo, registrando a vida, feitos, tragédias, alegrias... O certo é que,
em todas as situações, o fotógrafo de eventos, seja casamentos, formaturas, festas
de 15 anos, palestras, conferências, espetáculos (música, teatro, dança) deve, ne-
cessariamente, como profissional, ter habilidades fundamentais como sensibilida-
de, concentração, conhecimento técnico e rapidez para traduzir em imagens cada
momento importante desses eventos.

Um dos mais importantes fotógrafos de todos os tempos, o francês Henri


Cartier-Bresson (1908-2004), considerava que não era o equipamento o respon-
sável por uma boa foto, mas sim, o olho do fotógrafo que, de forma subjetiva, per-
cebe a importância do momento e o captura. Ele denominou esse instante como
“fotografia de autor” (LUISI, 2013, p. 21).

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Figura 34 – Henri Cartier-Bresson. Recém-casados em um café ao ar livre no Marne, 1938
Fonte: LUISI, 2013

Conforme Luisi (2013, p. 21), a subjetividade do fotógrafo deve ser entendida


não apenas como a postura pessoal no ato de fotografar:
O sentido de subjetividade indica a necessidade do repertório de informa-
ções e bagagem cultural do fotógrafo, seu conhecimento de História da
Arte e das diversas escolas de concepção estética e criativa; em síntese,
é a cultura em sua forma mais ampla, posto que a fotografia transcende a
mera documentação. Fotografar é, sobretudo, criar significado.

A Fotografia e as Formaturas
Os quadros e os álbuns de formatura, presentes nas vidas acadêmicas a partir do
início do século XX, também podem ser considerados como importantes registros
da memória das instituições de ensino, além dos formandos e de suas famílias.
As fotografias de formatura, como rito institucional, comunicavam a consagração
de um momento importante e podiam ser estampadas nas paredes ou em cima dos
móveis nas residências, escritórios, consultórios.

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

“As fotografias, elementos centrais nos quadros de formatura, podem ser inter-
pretadas na perspectiva de indiciárias do processo de inclusão da cidade na era dos
estúdios fotográficos”, afirma Coelho Júnior (2015, p. 130), lembrando que são
evidências da democratização do consumo da imagem e a consolidação do trabalho
dos fotógrafos e seus novos negócios, como os estúdios fotográficos. Conforme o
autor, os quadros de formatura no início da década de 1920 (Fig. 35), no Brasil,
a partir da análise de suas características físicas como molduras, desenhos, pintu-
ras, cores, adornos, rococós e assinaturas, “remetem a um trabalho impregnado de
prescrições estéticas tradicionalmente utilizadas por artistas plásticos” (COELHO
JÚNIOR, 2015, p. 130).

Figura 35 – Arthur Carmo. Quadro de formatura, de 1922, do curso


de Magistério do Colégio Bom Jesus (antigo Colégio Coração de Jesus), em Florianópolis/SC
Fonte: Coelho Júnior, 2015

Com o desenvolvimento da fotografia, as cerimônias e festas de formatura – que


se tornaram grandes eventos – passaram a ter uma cobertura fotográfica ampla,
com o registro de todas as suas etapas, desde as fotos para os convites até a festa.
O fotógrafo brasileiro Renan Radici busca aplicar referências da fotografia de ca-
samento e de moda nas suas coberturas fotográficas de formaturas: “Estudo muito
isso e me ajuda, pois o casamento é um evento mais delicado, criando uma estética
incrível, e a moda me traz, além da luz, poses e expressões”, afirma (BADLHUK,
2014). Para o profissional, é importante valorizar a diversificação de ângulos e
retratar o sentimento e a leveza de cada detalhe. A aproximação com o cliente tam-
bém é outro fator destacado por Radici: “Ao criar esse clima de amizade, o cliente
se sente muito mais à vontade para fazer as fotos”.

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Figura 36 – Renan Radici. Fotografia de formatura, s/d
Fonte: Renan Radici, S/D

A Fotografia de Casamento
Fotografias de casamento ou da união entre duas pessoas, estão presentes na
vida das famílias em praticamente todas as sociedades a partir de meados do século
XIX, quando a fotografia se tornou mais acessível tanto técnica quanto comercial-
mente. Esse tipo de registro se tornou tão importante ao ponto de ser classificado
como um subgênero fotográfico, derivado do gênero retrato. O certo é que para
eternizar a lembrança de uma união ou fazer com que as pessoas ausentes possam
compartilhar esse momento (ou as duas coisas) nada melhor que uma boa fotogra-
fia de casamento.

“Parte quase insubstituível, o retrato vem sendo o legitimador e faz parte da


publicidade do casamento. Não só torna pública uma relação como, com o passar
do tempo, acaba se confundindo com a lembrança do próprio casamento” (LEITE,
1979, p. 111). O retrato de casamento passou a ser, ao longo do tempo, um dos
ritos do matrimônio, assim como o vestido branco da noiva, o véu, a aliança...
Atualmente, com as novas formas de configurações familiares e de união conjugal,
o registro fotográfico da união entre duas pessoas se mantém vivo e cada vez mais
forte. Nunca se fotografou tanto esses tipos de cerimônias.

Até a década de 1880, conforme Lins (2015, p. 7), a tecnologia fotográfica da


época não permitia que as fotografias fossem produzidas no interior das igrejas e
das casas. “Os ateliês eram bem iluminados, parte do teto em vidro, com entrada
para luz solar, com cenários, mobiliários, tecidos para fundos e até peças de vestuá-
rio elaborados, para oferecer aos clientes.” As fotos eram sempre posadas e tiradas
em ateliês, estúdios ou ao ar livre.

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Os retratos de casamento, conforme Leite (1979, p. 119), têm, nesse perío-


do, frequentemente, duas formas fundamentais: “o retrato das duas famílias, com
membros de duas ou três gerações, com os noivos sentados ou de pé na primeira
fila, ou o retrato frontal dos noivos, de pé, fixando a objetiva”.

Figura 37 – Fotógrafo não identificado. Fotografia de casamento, ao ar livre, da família Procópio de Carvalho, 1917
Fonte: Leite, 1979

Figura 38 – Fotógrafo não identificado. Fotografia do casamento, em estúdio, da família Ahun, 1919
Fonte: Leite, 1979

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Você Sabia? Importante!

A cor branca do vestido da noiva é vista nos retratos de casamento das sociedades
ocidentais há muitos anos. Entretanto, na extinta Pomerânia (região geográfica situada
no Mar Báltico, entre as atuais Alemanha e Polônia), as noivas se casavam com vestidos
pretos (Fig. 39). Ainda hoje, na Europa e em regiões colonizadas por pomeranos no
Brasil (Espírito Santo e Rio Grande do Sul), a tradição é mantida. As explicações para
o vestido de noiva preto são várias, segundo Leite (1979, p. 112) “para o camponês o
preto significava fertilidade, o húmus da terra, as cinzas fertilizantes em contraposição
à brancura da morte e do gelo hibernal”. Outras, explicam que no período medieval,
quando um casal de servos se casava, a primeira noite da mulher era do senhor feudal e,
em forma de protesto, ela se vestia de preto durante a celebração do matrimônio.

Figura 39 – Fotógrafo desconhecido.


Fotografia de casamentode Jacob Feiten e Irma Boll, c. 1900
Fonte: Fotografo desconhecido

Fotografia Contemporânea de Casamento


A fotografia de casamento evoluiu muito, especialmente a partir das últimas
décadas do século XX com o advento da fotografia digital, da pós-produção e com
a adoção, por parte dos fotógrafos, de novas propostas de ensaios fotográficos no
registro do evento. Assim, hoje temos Trash the dress, Pré-wedding e Making of,
entre outras formas de contar a história dos noivos e da cerimônia. Vamos conferir
mais detalhes sobre essas propostas:
· Trash the dress – Em tradução livre seria algo como “jogar o vestido no
lixo”. Isso mesmo, nesse tipo de ensaio, realizado dias após a cerimônia

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

de casamento, a noiva não poderá se preocupar com o vestido que esta-


rá usando (algumas não se importam que seja o vestido do casamento),
pois em algumas situações ele poderá molhar ou sujar. Os noivos devem
ser fotografados em lugares onde se sintam à vontade, desde que sejam
inusitados, descontraídos ou exóticos – no mar, em uma fazenda, em uma
antiga fábrica em ruínas, por exemplo. O objetivo é sair do tradicional com
muita descontração, informalidade e espontaneidade. Mas existe The day
after, versão mais light desse tipo de ensaio.

Figura 40 – Ensaio fotográfico de casamento Trash the dress é realizado dias após a cerimônia
Fonte: iStock/Getty Images

·· Pré-wedding – Ensaio pré-casamento, realizado em lugares que fazem


parte da história do casal, normalmente dois meses antes da cerimônia.
O estilo das fotos e das roupas fica a critério dos noivos, podendo ser for-
mal, descontraído, temático etc.

Figura 41 – Já o ensaio pré-wedding é clicado em torno de dois meses antes do casamento


Fonte: iStock/Getty Images

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· Making of – É a cobertura fotográfica dos preparativos finais. É realizado
no dia do casamento quando a noiva e o noivo realizam massagens, vão
preparar o cabelo, maquiagem, vestido, traje, interação com pais e padri-
nhos etc.

Figura 42 – O making of registra os Figura 43 – Para o casamento


preparativos da noiva e do noivo no dia da cerimônia
Fonte: iStock/Getty Images Fonte: iStock/Getty Images

· Cerimônia e/ou festa – Enfim, chegaram os momentos mais aguardados


por todos. A ansiedade e o nervosismo tomam conta. É exatamente quan-
do não podem acontecer falhas dos profissionais que estão realizando a
cobertura fotográfica do casamento. As fotos geralmente são feitas com
câmeras DSLR (Digital Single-Lens Reflex, também chamadas de câme-
ras profissionais) e diferentes tipos de lentes: grande angular; lente normal
de 50 mm (para retratos); lente zoom (uso versátil); e teleobjetiva (para
fotografias distantes como os noivos no altar). Ter conhecimento prévio de
todas as etapas da cerimônia e da festa é fundamental. Mas cuidado com
os imprevistos. Eles (quase) sempre acontecem. Esteja sempre preparado!

Figura 44 – A fotografia de casamento se tornou um subgênero fotográfico derivado do gênero retrato


Fonte: iStock/Getty Images

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Mas o que é necessário para se tornar um profissional de sucesso nessa área?


Lovergrove (2014, p. 21), um fotógrafo inglês de sucesso responde: “O que é
preciso é a habilidade de capturar emoção”. Ele complementa: “Não é segredo para
ninguém. Eu vivo e vivo bem, da fotografia de casamentos” (2014, contracapa).

Figura 45 – Damien Lovegrove. Sem título, 2014. À esquerda a fotografia digital original e,
à direita a fotografia com pós-produção: foram retirados os pregos da parede
e adicionado contraste geral à imagem
Fonte: Lovegrove, 2014

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Kodak Brownie
Quer conhecer um pouco mais (muito mais) sobre a câmera revolucionária Brownie
da Kodak?
https://goo.gl/9UadMD
Grand Mond – Da Imagem e da Fotografia em Portugal
Workshop Os Ambrótipos e o Processo de Colódio Húmido.
https://goo.gl/SZ7y1Q
Richard Kalvar (1944-)
Imperdível. Um dos melhores fotógrafos de instantâneos contemporâneos.
https://goo.gl/dLf5pe

Vídeos
Fala, Doutor: Lívia Afonso de Aquino
A Kodak e a Construção de um Turista-Fotógrafo - PGM 121.
https://goo.gl/RLr7cg

Leitura
O Papel da Kodak na Construção do Turista
Aquino, Lívia Afonso de. O papel da Kodak na construção do turista. In:
XXVII Simpósio Nacional de História, Natal/RN, 2013. Associação Nacional de
História-Anpuh.
https://goo.gl/Sh85Mn

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UNIDADE Popularização da Fotografia (1861 a 1900) e a Fotografia de Eventos

Referências
BADLHUK, Cynthia. Criatividade na fotografia de formatura, 2014. Disponí-
vel em: <http://iphotochannel.com.br/cobertura-da-festa/criatividade-na-fotogra-
fia-de-formaturas>. Acesso em: 05 jun. 2018.

BUSSELLE, Michael. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Livraria Pioneira Edito-
ra, 1979.

COELHO JÚNIOR, Nelson Maurílio. O elo de veneração: o velho e o novo nos


quadros de formatura. In: Revista Linhas. Florianópolis/SC, v. 16, n. 30, p.
122–151, jan./abr. 2015. Disponível em: <http://www.revistas.udesc.br/index.
php/linhas/article/view/1984723816302015122>. Acesso em: 04 jun. 2018.

FARIAS, Lídia; GONÇALVES, Osmar. A fotografia ao longo do tempo: da Kodak


ao Instagram. XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nor-
deste da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comu-
nicação. João Pessoa/PB, 2014. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/
anais/nordeste2014/resumos/R42-1656-1.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2018.

HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia – Técnicas criativas de 100 grandes
fotógrafos. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.

LEITE, Miriam Moreira. Retratos de família – Leitura da fotografia histórica. São


Paulo: Edusp. 1993.

LIBÉRIO, Carolina Guerra. Indústria fotográfica e fotografia do século XX ao XXI.


In: 9º Encontro Nacional de História da Mídia, Ouro Preto/MG, 2013. Disponível
em: <http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/9o-encontro-2013/arti-
gos/gt-historia-da-midia-audiovisual-e-visual/industria-fotografica-e-fotografia-do-
-seculo-xx-ao-xxi>. Acesso em: 04 jun. 2018.

LINS, Alene. Tempo de posar – As transformações históricas da pose na foto-


grafia. In: ReCom 2015 – I Seminário de Comunicação e Processos Históricos,
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Cruz das Almas/BA, 2015. Dispo-
nível em: <https://www3.ufrb.edu.br/comunicacaoeprocessoshistoricos/images/
tempo_de_posar_recom_template.pdf>. Acesso em: 21 mai. 2018.

LUISI, Emidio. A arte da fotografia de espetáculo. Balneário Camboriú: Photos, 2013.

LOVEGROVE, Damien. Fotografia de casamento para profissionais – O guia


completo. Balneário Camboriú: Photos, 2014.

LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017.

PULS, Maurício. A onipresença da imagem – Estudos mostram como a fotografia


moldou a forma de ver o mundo. In: Revista Pesquisa da Fapesp, ed. 254, abr.
2017, p. 84-87. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/
uploads/2017/04/084-087_fotografia_254-1.pdf>. Acesso em: 17 mai. 2018.

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História e
Estética Fotográfica
Material Teórico
Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Fotografia Moderna (1901 a 1945)
e a Fotografia de Moda

• Introdução;
• Instantâneo Fotográfico e Novas
Formas de Enquadramento;
• Primeiros Passos da Fotografia em Cores;
• A Fotografia nas Duas Grandes
Guerras Mundiais;
• A Fotografia de Moda através do Tempo.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Identificar a fotografia documental como uma das primeiras etapas
da fotografia moderna no início do século XX;
· Conhecer a grande evolução das câmeras fotográficas ocorrida nas
primeiras décadas do século XX;
· Contextualizar e analisar os diferentes períodos da fotografia de
moda, desde os seus primórdios até a contemporaneidade e seus
principais fotógrafos.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Contextualização
Fotógrafo e cinegrafista, Ponting acompanhou a expedição britânica à Antártica
(1910-1913) e ensinou fotografia aos integrantes da missão cujo objetivo era o de
ser os primeiros a chegarem ao inexplorado Polo Sul. Entretanto, o capitão Robert
Falcon Scott, comandante da jornada, descobrira que o norueguês Roald Amundsen
havia estado na região um mês antes de sua chegada e colocado a bandeira da No-
ruega. Negativos não revelados foram encontrados na tenda em que o capitão Scott
e dois companheiros morreram durante a viagem de volta da Antártida.
O fotógrafo é um manipulador da luz; a fotografia é uma manipulação da
luz. Laszló Moholy-Nagy. (LOWE, 2017, p. 96)

Figura 1 – Herbert Ponting. Expedição Terra Nova, 1911. Fotografia


Fonte: Hacking, 2012

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Introdução
O início do século XX foi palco de importantes e fundamentais momentos para o
desenvolvimento da fotografia. Os avanços tecnológicos, que começavam a aparecer,
principalmente na indústria, na ciência, nos transportes, entre outras áreas, também
chegou à fotografia que, de forma ampla, passou a registrar intensamente as grandes
mudanças do mundo. A exploração dos últimos grandes territórios desconhecidos
(Figura 1), por exemplo, pode ser registrada justamente a partir dessa época.

Para que tudo isso fosse viável, a ciência se mostrou fundamental. Foi possível
a utilização de fotografias em jornais e revistas; a criação, pelo engenheiro alemão
Oscar Barnack, da icônica câmera Leica, precursora das câmeras de 35 mm e da
Rolleiflex; a fotografia em cores com qualidade; o diapositivo (slide); a fundação
da Nikon, em Tóquio; só para citarmos alguns desses momentos. O mundo pas-
sava a ser moderno.

Instantâneo Fotográfico e Novas


Formas de Enquadramento
O fotógrafo norte-americano Alfred Stieglitz (1864-1946) procurava, na pri-
meira década do século XX, abrir caminhos mais realistas e precisos para a fo-
tografia, juntamente com Edward Steichen (1879-1973) e Paul Strand (1890-
1976). Suas ideias eram difundidas na revista Camera Work. Eles buscavam impor
uma estética modernista urbana. Stieglitz foi, conforme Fels (2008), o precursor
do instantâneo fotográfico e de novas formas de enquadramento, buscando desta-
car os elementos geométricos de cada objeto fotografado. Ele explorava, também,
o equilíbrio dos elementos da composição fotográfica, especialmente os contrastes
entre o branco e o preto.

Stieglitz tirou uma das primeiras fotografias modernistas, em 1907, feita du-
rante uma viagem de navio à Europa. A terceira classe (Figura 2) mostra uma
grande aglomeração de pessoas em um pequeno espaço na grande embarcação,
parecendo um campo de refugiados. As condições contrastavam com a confor-
tável cabine onde o fotógrafo estava com sua família.

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Figura 2 – Alfred Stieglitz. A terceira classe, 1907. Fotografia


Fonte: Wikimedia Commons

Foi nessa mesma época que a fotografia se tornaria presente e efetiva nos
jornais diários, ainda que ela já fosse utilizada há algum tempo em revistas e
jornais semanais em decorrência do maior tempo que os editores tinham para
montar suas publicações. Em 1904, o jornal inglês The Daily Mirror (veja abai-
xo), começou a ilustrar suas páginas totalmente com fotografias, e não mais com
ilustrações. A partir desse momento, a fotografia passou a ser utilizada como um
elemento informativo. Consolida-se então o fotojornalismo – atividade desempe-
nhada por profissional responsável pelo registro fotográfico de qualquer fato ou
assunto de interesse jornalístico.

Capa do Daily Mirror (2 de setembro de 1904), o primeiro jornal diário do mundo totalmente
Explor

com fotografias. Disponível em: https://goo.gl/A53Cwz.

Embora o aumento de imagens utilizadas pela imprensa tenha levado


um número grande de fotógrafos a enveredar pelo caminho do fotojor-
nalismo, esse é um período de anonimato e desprestígio profissional.
Será apenas com uma nova espécie de fotojornalistas, da geração de
Erich Solomon (1896-1944) que os repórteres fotográficos serão reco-
nhecidos profissionalmente. (FELS, 2008, p. 8)

As fotografias de Erich Solomon – considerado o “pai” do moderno fotojorna-


lismo – retratam desde sessões de tribunais a conferências diplomáticas. “Ele pro-
curava bater a foto quando os retratados não estavam percebendo sua intenção”,

10
observa Fels (2008). Esse estilo de fotografar foi denominado pela revista inglesa
The Graphic como candid photography – quando o fotografado não percebe ou
desconhece a presença do fotógrafo ou da câmera.

Figura 3 – Erich Solomon. O cônsul alemão Schwarz (à direita) visita Max Schmeling
(à direita) no campo de treinamento, Kingston, Nova York, 1932
Fonte: icp.org

Primeiros Passos da Fotografia em Cores


Experiências exitosas, realizadas nas últimas décadas do século XIX, especial-
mente pelo francês Louis Ducos du Hauron (1837-1920), com a tricromia, deram
início à fotografia em cores. O sistema, criado em 1868, consistia em uma tripla
exposição em três chapas diferentes (vermelho, verde e azul) para a mesma foto-
grafia em uma câmera especial.

Figura 4 – Louis Ducos du Hauron. Agen, França, 1877. Tricromia


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Em 1903, os irmãos franceses Auguste e Louis Lumière – que, em 1895, ha-


viam realizado a primeira exibição pública de uma imagem em movimento, sendo
considerados os pais do cinema – patentearam os primeiros “filmes” fotográficos
para revelação em cores, sistema denominado de Autochrome Lumière, que não
precisava da tripla exposição da tricromia. Assim, o primeiro processo comercial
de fotografias coloridas foi lançado no mercado em 1907.
O segredo estava em uma chapa de vidro – que poderia ser usada em qualquer
câmera – coberta com milhões de grãos microscópicos de amido de batata, tingi-
dos de vermelho-laranja, verde ou azul-violeta, que agiam como filtros de cores.
Observada com uma lupa ou ampliada, a fotografia autocromática dava a mesma
impressão visual que uma pintura formada por pontos. O resultado que se obtinha
era o de uma imagem positiva visível por transparência, da mesma forma de como
seriam mais tarde vistos os diapositivos (slides).
Entre os grandes fotógrafos que utilizaram a autocromia, destacam-se Alfred
Stieglitz e Edward Steichen e o mais bem-sucedido de todos Heinrich Kühn
(1866-1944) (Figura 5).
Os autocromos de Kühn são sonhos etéreos de infância, repletos de
céus abobadados e ensolarados, e perspectivas estonteantes, gloriosa-
mente catárticas, tanto quanto emocionalmente carregadas. (HACKING,
2012, p. 277)

Até sua produção ser interrompida, em 1932, mais de 20 milhões de chapas


de autocromia haviam sido vendidas no mundo, “mas o futuro da fotografia colo-
rida estaria no papel, não no vidro”. (HACKING, 2012, p. 277)

Figura 5 – Heinrich Kühn. Miss Mary e Edeltrude deitadas na relva, c.1910. Autocromo
Fonte: Hacking, 2012

O próximo grande passo na fotografia colorida foi dado pelo norte-americano


George Eastman (1854-1932), fundador da Kodak, com o lançamento, em 1935,
do Kodachrome, filme diapositivo produzido em diversos formatos (8mm, 16mm,
35mm) para fotografia e cinema. Entretanto, a alemã Agfa também reivindica a
criação do filme fotográfico positivo 35 mm em cores, no final de 1935. Em 1942,
outra novidade: o Kodacolor, o primeiro filme negativo colorido de 35 mm, para
impressão colorida em papel, foi lançado pela Kodak.

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Leica e Rolleiflex, Xodós dos Fotojornalistas
As origens da câmera fotográfica Leica remontam ao ano de 1911, quando
o engenheiro alemão Oskar Barnack começou a trabalhar na fábrica de lentes e
microscópios Ernst Leitz Optische Werke, na cidade alemã de Weztlar. Com certe-
za, ele não esperava criar uma das câmeras fotográficas mais icônicas do mundo.
Apaixonado por fotografia, e em virtude de sua saúde fraca, tendo dificuldade de
carregar as pesadas câmeras de placa de vidro, que ficavam fixas sobre tripés,
Barnack decidiu estudar e pesquisar alternativas nas suas horas livres.

Em 1913, ele desenvolveu um protótipo com uma caixa de metal e uma lente
semelhante às utilizadas nos microscópios da época. Além disso, ele colocou um
mecanismo para utilizar o filme para cinema, só que ampliou o tamanho do foto-
grama para 24 x 36 mm, o dobro do utilizado na época. Estava criado o protótipo
de uma câmara 35mm de pequeno formato, que recebeu o nome de Ur-Leica.

• O nome Leica é resultado da união das três letras iniciais do nome da família Leitz (Lei)
Explor

com as duas letras iniciais da palavra camera, em inglês (ca).


• Em 1947, foi criada a primeira agência de fotografia do mundo, a Magnum, por Henri
Cartier-Bresson, Robert Capa, David Seymour e George Rodger. Todos esses grandes
fotógrafos usavam câmeras Leica.
• Em maio de 2011, uma câmera Leica, fabricada em 1923, foi leiloada por 1,9 milhão de
dólares, tornando-se uma das máquinas fotográficas mais caras da história.

Figura 6

Fonte: https://goo.gl/RU22Gf

Pouco tempo depois, em fevereiro de 1914 – meses antes da eclosão da Pri-


meira Guerra Mundial (1914-1918) –, Barnack construiu um novo protótipo.
Entretanto, o projeto teve de ser interrompido devido à guerra e grande inflação
que assolou a Alemanha logo após, sendo retomado a partir de 1920. Três anos
depois, foi lançada uma série de pré-produção de 31 máquinas capazes de su-
portar filmes de 35 milímetros para serem testadas pela fábrica e por fotógrafos
independentes. (LEICA, 2018)

Em 1924, finalmente entrou em produção a Leica I (Figura 7), primeira câme-


ra da marca fabricada em grande escala. Apresentada na Feira da Primavera de
Leipzig, no mesmo ano, o modelo teve sucesso imediato. A câmera tinha uma
objetiva de plano focal de 50 mm e abertura de f/3.5. Equipada com um visor
direto (visor óptico), vinha ainda com um telêmetro e um obturador Compur (ob-
turador de íris) de seis velocidades.

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

No início da década de 1930, a Leica surgiu com mais uma novidade: um mode-
lo com objetivas intercambiáveis (para concorrer com à recém-lançada Rolleiflex).
Logo, foram lançados os modelos Leica Luxur e Leica Compur. No total, foram
produzidas mais de 60 mil unidades desses modelos.

Figura 7 – Leica I, primeira câmera fotográfica


da marca produzida em série, a partir de 1924
Fonte: iStock/Getty Images

Mas, o maior trunfo da marca era, sem dúvida, sua lente, resultado do trabalho
de Ernst Leitz, como fabricante de microscópios e telescópios e da união com
Barnack, que trabalhou na empresa alemã Carl Zeiss, fabricante de uma das me-
lhores lentes do mundo. O resultado dessa sociedade foi uma câmera com uma
qualidade óptica extraordinária que, aos poucos, foi ganhando mercado, sendo
usada largamente no fotojornalismo. Em 1930, a Leica era tão popular que o
formato 35 mm começou a ser progressivamente preferido para o uso amador,
especialmente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Atualmente, a Leica, além da fábrica na Alemanha, possui uma grande unidade
em Portugal, responsável por 90% da produção de máquinas fotográficas da marca
no mundo. A produção geral anual em Portugal é de 40 mil binóculos, 15 mil obje-
tivas, 4 mil miras telescópicas e 20 mil máquinas fotográficas. Símbolo de qualidade,
os produtos da marca, hoje, estão entre os mais caros do mundo. Exemplo: a Leica
24 SL Type 601, Mirrorless Camera, Black (Figura 8), profissional, custa (preço em
2018), cerca de 6 mil dólares em sites internacionais de compra – somente o corpo.
Caso você queira uma lente Leica Vario-Elmarit-SL 24-90 mm f/2,8-4, terá de de-
sembolsar mais cerca de 5 mil dólares. Total: 11 mil dólares.

Figura 8 – Leica SL Digital Series, totalmente digital, fabricada a partir de 2016


Fonte: https://goo.gl/qnR2Xf

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A Revolucionária Rolleiflex
Outra câmera revolucionária foi a também alemã Rolleiflex – precursora de
inúmeras reflex de duas objetivas e filme de rolo –, desenvolvida, em 1929, pela
Frank & Heidecke. Foi uma das primeiras câmeras a trazer uma grande inovação:
a possibilidade da troca de lentes para alteração das distâncias focais. O grande
atrativo da marca sempre foi a alta qualidade de seus produtos.

Em uma câmera reflex, o fotógrafo enxerga o objeto refletido por um conjunto de espelhos
Explor

(visor óptico). A Rolleiflex possuía duas objetivas: a superior era usada para a formação
da imagem no visor enquanto a objetiva inferior, de mesma distância focal, formava uma
imagem sobre o filme. Uma limitação dessas câmeras é o erro de paralaxe, isto é, quando
uma cena fotografada é muito próxima, fotógrafos inexperientes podem “cortar” partes do
assunto. (FELS, 2008)

O modelo de 1929 (Figura 9) tinha o princípio das lentes gêmeas: a luz que passa
pela lente superior é refletida em um espelho e pode ser vista no visor acima da câ-
mara, e aí se dá a focalização. O filme é exposto através da luz que atravessa a lente
inferior. Muitas câmeras antigas ainda são utilizadas até hoje. A Rolleiflex passou a
ser a preferida dos profissionais.

Figura 9 – Primeira Rolleiflex, lançada em 1929


Fonte: Wikimedia Commons

Ao chegar ao mundo digital, a Rolleiflex começou a competir com as melhores


câmeras do mundo. Atualmente, o Mod 2 (Figura 10) é a mais nova versão e mais
avançada câmera da marca. Conforme a empresa, “é indiscutivelmente a câmera
de médio formato mais avançada do mundo que pode ser usada tanto com filme
quanto no formato digital”. (ROLLEIFLEX, 2018)

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

O modelo tem melhorias para o amortecimento do obturador, recursos atu-


alizados no firmware (conjunto de instruções operacionais programadas direta-
mente no hardware de um equipamento eletrônico) para registrar seus ajustes de
lente, entre outras. Uma ampla gama de lentes de foco automático e foco manual
estão disponíveis para o novo sistema. O valor? Em torno de 9,7 mil dólares no
site americano da empresa.

Figura 10 – Rolleiflex Hy6 Mod. 2 com objetiva


80 mm f/2.8 AFD e película de 4,5 x 6
Fonte: https://goo.gl/cfQMRv

Em oposição à excelência da técnica alemã, entre os anos 1910 e 1930, sur-


giu uma nova potência na fabricação de lentes e câmeras: os japoneses. Já havia
fabricantes de origem nipônica, desde 1890, mas em sociedade com empresas
alemãs. Entretanto, após a Primeira Guerra Mundial, houve um verdadeiro boom
de grandes indústrias fotográficas japonesas como Nikon (Nippon Kogaku), for-
mada em 1917; Olympus e Asahi Pentax, em 1919; Minolta, em 1928; Canon,
em 1933; e, Fuji, criada em 1934. (SALLES, 2004)

A Fotografia nas Duas Grandes


Guerras Mundiais
A ascensão dos meios de comunicação de massa nas primeiras décadas do
século XX, como jornais e revistas, especialmente por meio do desenvolvi-
mento de tecnologias de impressão, as quais possibilitaram a reprodução de
fotografias de forma mais barata, fez com que surgissem inúmeras novas pu-
blicações. E, a necessidade de fotografias para as notícias levou ao surgimento
do fotojornalista e dos correspondentes internacionais. “O público pôde ver os
eventos mundiais do ponto de vista de uma testemunha ocular”. (HACKING,
2012, p. 188)

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Por incrível que pareça, foi um conflito, a Primeira Guerra Mundial (1914-
1918), que contribuiu para isso, criando um grande fluxo de produção fo-
tográfica nos dois lados: Aliados (Reino Unido, França e Rússia) e Tríplice
Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália). “Esta guerra foi ‘facilmente’ fo-
tografada, uma vez que, ocorreu nas trincheiras, diferente da Segunda Guer-
ra. Outro uso da fotografia foi como um método auxiliar de reconhecimento
aéreo”. (TOREZANI, 2014, p. 4)

Figura 11 – Fotógrafo não identificado. Batalha de Somme,


França, Primeira Guerra Mundial, 1916
Fonte: Wikimedia Commons

Conforme Torezani (2014, p. 4), “a fotografia deste conflito serviu como ele-
mento de manipulação através de peças de propaganda para controlar a popula-
ção e estimular ódio e afeto”. Os serviços fotográficos dos exércitos registravam
as batalhas, controlavam a difusão das imagens e retocavam as cenas para evitar
a “foto-choque”. No final da década de 1930, exposições fotográficas pelo mun-
do mostraram a “verdadeira” guerra, pelos dois lados.

Outro conflito ocorrido entre 1936 e 1939, a Guerra Civil Espanhola, reve-
lou um jovem fotógrafo que, aos 25 anos, foi considerado pela revista britânica
Picture Post (1938) como o “maior fotógrafo de guerra do mundo”: o húngaro
Robert Capa (1913-1954). No front das piores guerras, ele combinava três de
suas mais importantes características: coragem, senso apurado de composição
e olhar humano.

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Você Sabia? Importante!

Robert Capa (nascido Endre Friedmann), em 1913, ficou mundialmente conhe-


cido por uma imagem tirada na cidade de Córdoba, durante os primeiros meses
da Guerra Civil Espanhola, em 1936. A fotografia, publicada pela primeira vez na
revista francesa Vu, dia 23 de setembro, mostra o momento exato em que um mi-
liciano é atingido e morto (Figura 12). A imagem, amplamente reproduzida em
todo o mundo, é considerada “uma das fotografias de guerra mais famosas já re-
alizadas” (HACKING, 2012, p. 191). Capa estava muito próximo do soldado, o que
confirma sua famosa frase: “‘Se suas fotografias não estão boas o suficiente, você
não está perto o suficiente”. Entretanto, a foto gerou muita controvérsia e polêmica
com a possibilidade de que ela poderia ter sido encenada e que o homem teria
sido morto por um franco atirador enquanto posava para uma fotografia e não
em uma batalha. Polêmicas à parte, o certo é que Robert Capa arriscou sua vida
para produzir imagens únicas, que são veneradas até hoje. Após a Segunda Guerra
Mundial – que ele também cobriu –, fundou, juntamente com outros profissionais,
a agência fotográfica Magnum Photos, em 1947, quando disse: “Espero ficar de-
sempregado como fotógrafo de guerra até o fim da minha vida”. Infelizmente isso
não ocorreu. Em 1954, ele morreu em decorrência de uma mina terrestre, na Guerra
da Indochina, região no sudeste da Ásia, onde hoje estão Vietnã, Laos e Camboja.

Figura 12 – Robert Capa. Morte de um miliciano legalista, 1936. Fotografia


Fonte: Hacking, 2012

Os Fotógrafos-Correspondentes
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) consolidou o poder da fotografia de
guerra em decorrência do grande número de jornais e revistas ilustrados em todo
o mundo. Além disso, os fotógrafos não precisavam utilizar volumosas câmeras,
pesados tripés e chapas de vidro como na primeira grande guerra. E, por isso, po-
diam se movimentar com mais agilidade na linha de frente das batalhas.

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Muitas imagens importantes e fortes da Segunda Guerra Mundial foram pro-
duzidas para a revista norte-americana Life pelos fotógrafos-correspondentes
George Rodger (1908-1995) e Robert Capa. Rodger, em 1941, entrou em um
campo de concentração na Baixa Saxônia (Alemanha) e encontrou mais de qua-
tro mil corpos; e Capa realizou a famosa série de 106 fotografias, em 6 de junho
de 1944, quando soldados norte-americanos desembarcaram na Praia Omaha,
na Normandia (França). A data ficou conhecida como “Dia D”. As imagens de
Capa ficaram ligeiramente fora de foco porque suas mãos tremiam enquanto
fotografava sob fogo cerrado (Figura 13).

Figura 13 – Robert Capa. Praia Omaha, Normandia, França, 1944. Fotografia


Fonte: Hacking, 2012

Embora a cobertura fotográfica da Segunda Guerra tenha tido problemas lo-


gísticos devido à ocorrência de batalhas em vários lugares da Europa, Ásia e Áfri-
ca, e a consequente dificuldade de transporte, alimentação, alojamento e comu-
nicação dos fotógrafos, muitas fotos se tornaram clássicas, servindo, inclusive, de
prova de acontecimentos daquele período. Vamos conferir algumas dessas fotos:

Tabela 1

A Old Glory é hasteada no monte Suribachi,


Iwo Jima (1945) (Figura 14), do fotógrafo
norte-americano Joe Rosenthal (1911-2006),
foi tirada em 23 de fevereiro de 1945, na ilha
japonesa de Iwo Jima, no Pacífico. A imagem
retrata fuzileiros americanos hasteando a
bandeira dos Estados Unidos no alto do monte
Suribachi, tomado pelos aliados. A foto serviu
como modelo para a confecção de uma estátua
de bronze instalada, em 1954, no Memorial
de Guerra do Corpo de Fuzileiros Navais dos
EUA, em Arlington, Virginia. A imagem valeu a
Rosenthal, em 1945, o Prêmio Pulitzer de Fo-
tografia – que reúne alguns dos mais icônicos
registros da história, “embora alguns se recu-
sassem a acreditar que uma composição tão
poderosa tivesse surgido por acaso”. (HACKING, Figura 14 – Joe Rosenthal. A Odl Glory é hasteada
2012, p. 314) no monte Suribachi, Iwo Jima, 1945
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

A bandeira vermelha sobre o Reichstag,


Berlim (1945) (Figura 15), do fotógrafo ucra-
niano Yevgeny Khaldei (1917-1997), que tra-
balhou para a Agência de Telégrafos da União
Soviética durante a Segunda Guerra Mundial,
registra o momento em que soldados do Exér-
cito Vermelho hasteiam a bandeira nacional
de seu país no alto do palácio do Reichstag,
em Berlim (Alemanha), em 1945, após tomá-
-lo dos alemães. A fotografia, na verdade, foi
encenada por Khaldei, dia 2 de maio, dois dias
após a tomada do prédio, pois ninguém havia
fotografado a cena original da colocação da
bandeira. “Ele viu a oportunidade de criar uma
obra-prima comparável com A Old Glory é has-
teada no monte Suribachi, de Joe Rosenthal,
tirada naquele mesmo ano”. (HACKING, 2012, Figura 15 – Yevgeny Khaldei. A bandeira vermelha
p. 319) sobre o Reichstag, Berlim, 1945
Fonte: Hacking, 2012

Guarda da SS morto, flutuando em um canal


(1945) (Figura 16), da ex-modelo e artista surre-
alista norte-americana Lee Miller (1907-1977)
– correspondente de guerra da Condé Nast e
única fotojornalista mulher oficial nas áreas de
combate da Segunda Guerra Mundial. Essa foto
gerou uma série de reações quanto à desumani-
dade da guerra. O corpo de um soldado alemão
está parcialmente submerso em uma água com
lama de um canal. Ela cobriu a liberação do cam-
po de concentração de Dachau, na Alemanha.

Figura 16 – Lee Miller. Guarda da SS morto,


flutuando em um canal, 1945
Fonte: Hacking, 2012

Dia V-J em Times Square (1945) (Figura 17), do


fotógrafo polonês naturalizado norte-america-
no, Alfred Eisenstaedt (1898-1995), é uma das
imagens mais icônicas de celebração do fim da
Segunda Guerra Mundial. A foto do marinheiro
norte-americano beijando uma enfermeira, em
comemoração da rendição japonesa, capta a eu-
foria dos Aliados, em Nova York, dia 14 de agosto
de 1945, quando foi anunciado o fim da guerra.
Eles simbolizam os soldados e o corpo médico de
apoio, livres do conflito. A imagem foi publicada
na revista Life uma semana depois.

Figura 17 – Alfred Eisenstaedt. Dia V-J em Times Square, 1945


Fonte: Hacking, 2012

20
A Fotografia de Moda através do Tempo
A roupa não fala, mas nos diz muitas coisas. Inúmeros são os códigos
das roupas que, ao serem decifrados, são capazes de transmitir informa-
ções, como por exemplo, as cores. Atualmente, no mundo ocidental,
com a liberdade de expressão, as cores perderam muito das suas simbo-
logias, mas, em outras épocas, já estiveram associadas às questões cultu-
rais como um verdadeiro diferenciador de condição social. (NOGUEIRA
apud BRAGA, 2008, p. 17)

As primeiras fotografias de moda tiveram origem nos retratos fotográficos do


século XIX e nas gravuras de moda. Mas o surgimento da fotografia de moda como
um gênero ocorreu no início do século XX com o desenvolvimento da indústria de
revistas ilustradas, como Harper’s Bazar (lançada em 1867) e Vogue (1892), ambas
em Nova York, que contrataram famosos fotógrafos de arte da época. As publica-
ções tinham como público-alvo mulheres ricas e as que gostavam do mundo do luxo.
“Antes do advento da fotografia, revistas de moda eram raras, mas na década de
1880, as revistas ilustradas se tornaram comuns”. (HACKING, 2012, p. 260)
Em 1909, a Vogue – até então uma publicação modesta – foi comprada pelo
editor Condé Nast, que, com grandes investimentos, especialmente na área de im-
pressão, transformou a revista em uma grande publicação de moda de alta classe.
Em 1913, a revista contratou seu primeiro fotógrafo em tempo integral: o barão
Adolph de Meyer (1868-1946), famoso por seus retratos e por suas ligações com a
alta sociedade. Suas fotos de moda, sempre com iluminação requintada, eram como
retratos românticos de mulheres “como criaturas mimadas e passivas” (HACKING,
2012, p. 261). Estudo de moda não publicado para a Vogue, de 1919 (Figura
18), que parece ter sido realizado ao ar livre (mas, foi em estúdio), mostra a técnica
refinada de Meyer no uso da contraluz. Em 1922, ele foi contratado pela publica-
ção rival da Vogue, a Harper’s Bazar (que em 1929 acrescentaria um “a” em seu
nome: Harper’s Bazaar), de William Hearst, para se tornar seu principal fotógrafo
em Paris.

Figura 18 – Adolph de Meyer. Estudo de moda não publicado para a Vogue, 1919. Fotografia
Fonte: Hacking, 2012

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

O sucesso da Vogue em terras americanas fez com que a publicação atraves-


sasse o Atlântico. Em 1916, foi lançada a sua edição britânica e, em 1921, seria
a vez da edição francesa. Na Europa, o inglês Cecil Beaton (1904-1980), que
lançou sua carreira como fotógrafo de sociedade, em 1927, com uma exposição
em Londres, foi contratado pela revista. Logo, ele foi reconhecido pelo seu esti-
lo refinado, romântico e um tanto exótico. O objeto fotografado era apenas um
elemento do todo, composto por diversos outros objetos e materiais (muitas vezes
inusitados). Beaton, que ainda hoje é referência para fotógrafos contemporâneos,
também fotografou para a revista Vanity Fair.

Figuras 19 e20 – Cecil Beaton. Mona von Bismarck by Cecil Beaton for Vogue, 1936
Fontes: Cecil Beaton, 1936

Entretanto, foi apenas em julho de 1932 que a Vogue publicou sua primeira
capa com uma fotografia. Produzida pelo fotógrafo Edward Steichen – um dos
mais famosos fotógrafos de moda da época –, a imagem mostra uma modelo
com maiô vermelho e branco e touca branca, segurando uma bola também ver-
melha e branca sobre um fundo azul (Figura 21).

Figura 21 – Edward Steichen. Primeira capa fotográfica da revista Vogue, 1932. Fotografia
Fonte: Torezani, 2015

22
A fotografia, além de substituir gradualmente os desenhos nas revistas
de moda e estilo de vida, começou a eclipsar as artes gráficas na publi-
cidade. Em 1923, menos de 15% dos anúncios ilustrados nas grandes
revistas usavam fotografia. Decorrida uma década, este número chegava
quase a 80%. (HACKING, 2012, p. 262)

Nos anos 1930, câmeras portáteis como a Leica contribuíram para que a foto-
grafia de moda começasse a ser mais realista, tendo como base o fotojornalismo,
fora dos limites do estúdio, por exemplo. Em 1933, a Harper’s Bazaar contratou
o húngaro Martin Munkácsi (1896-1963), um dos fotógrafos esportivos mais bem
pagos do mundo. Sua capacidade de captar o movimento revolucionou a fotografia
de moda (Figura 22). Ele ensinou, em 1935, em um artigo na Harper’s Bazaar:
Nunca mande seus modelos posarem. Deixe que se movam natural-
mente. Todas as grandes fotografias hoje são instantâneos. Tire ima-
gens por trás. Tire imagens correndo [...]. Escolha ângulos inespera-
dos, mas nunca sem razão.

Figura 22 – Martin Munkácsi. O salto da poça, 1934. Fotografia


Fonte: Martin Munkácsi, 1934

Período do Pós-Guerra Revoluciona a Fotografia de Moda


Durante a Segunda Guerra Mundial, a Vogue francesa parou temporaria-
mente de ser publicada, mas as edições americana e britânica mantiveram suas
circulações. No período pós-guerra, quando as revistas de moda e de com-
portamento já estavam cheias de imagens em cores, surge a fotógrafa norte-
-americana Louise Dahl-Wolfe (1895-1989), que ajudou a definir uma nova
estética visual para a Harper’s Bazaar (Figura 23). Usando filme Kodachrome,
ela produziu, até 1958, 86 fotografias de capas da revista, 600 fotos em cores
e mais de 2 mil fotografias em preto e branco. Louise começou a utilizar a luz
natural e se tornou famosa por fotografar em locações exóticas e ao ar livre.

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Figura 23 – Louise Dahl-Wolfe. Capa da revista


Harper’s Bazaar, junho de 1953. Fotografia
Fonte: Louise Dahl-Wolfe,1953

No final dos anos 1950, Londres se tornou o centro criativo para jovens estilistas
e fotógrafos de moda, um verdadeiro movimento cultural. Os jornais mostravam um
número cada vez maior de fotografias de moda “à medida que roupas sofisticadas,
porém acessíveis e produzidas em série, ficavam ao alcance do público em geral”
(HACKING, 2012, p. 345). Na época, também foi lançada a influente revista de
moda masculina Town, que mostrava modelos masculinos caracterizados como he-
róis ao estilo do agente secreto do cinema James Bond.

A década de 1960 marcou a transformação de modelos adolescentes em estre-


las internacionais como Lesley Hornby (1949-), conhecida como Twiggy, conside-
rada uma das primeiras supermodelos do mundo. Em 1966, ela foi fotografada,
aos 16 anos, por Barry Lategan (1935-) para o jornal britânico The Daily Express
(veja abaixo). Sua imagem quase andrógina, muito magra, pequena, com cabelos
loiros muito curtos e imensos passou a ser o padrão da mulher contemporânea.
Lategan – que se considera o descobridor de Twiggy – também fotografou para a
Vogue e para a Harper’s Bazaar.

Barry Lategan. Reportagem no The Daily Express com Twiggy, 23 de fevereiro de 1966.
Explor

Disponível em: https://goo.gl/xFojvB.

24
A década de 1960 seria marcada, ainda, pela ampliação da ideia de padrão de
beleza nas grandes revistas. Em março de 1966, Donyale Luna se tornou a primei-
ra modelo afro-americana a estampar a capa da Vogue britânica, fotografada por
David Bailey (1938-) (Figura 24).

Figura 24 – David Bailey. Capa da revista Vogue britânica


com Donyale Luna na capa, março de 1966. Fotografia
Fonte: David Bailey,1966

O Poder Abrangente da Fotografia de Moda


No final dos anos 1970, Alexander Liberman, diretor editorial da Vogue,
descreveu a fotografia de moda como “uma operação sutil e complexa que en-
volve arte, talento, técnica, psicologia e vendas” (HACKING, 2012, p. 488).
O executivo destacou o poder abrangente da fotografia, além do poder emer-
gente da nova mulher e da moda mundial.

Esses conceitos apareceram nas supermodelos Jerry Hall e Lauren Hutton e no


trabalho de importantes fotógrafos de moda como os alemães Helmut Newton (1920-
2004) (Figura 25) e Chris von Wangenheim (1947-1981), o francês Guy Bourdin
(1928-1991) e o italiano Gian Paolo Barbieri (1938-). Na época, a fotografia de
moda, muitas vezes, apresentava fantasias de luxúria e consumo, publicadas invaria-
velmente em revistas europeias.

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Figura 25 – Helmut Newton. Fotografia publicada


na revista Vogue francesa, abril 1977
Fonte: Helmut Newton, 1977

Nos anos 1980, as top models passaram a ser bem pagas (aliás, muito bem pa-
gas), consolidando-se o conceito de supermodelos. Fotógrafos como o norte-ame-
ricano Steven Meisel (1954-) foram fundamentais para a construção das carreiras
de diversas supermodelos como Cindy Crawford, Claudia Schiffer, Linda Evangelis-
ta, Naomi Campbell, entre outras. Meisel, que também era designer, coreografava
poses das modelos e as aconselhava sobre cor de cabelos, por exemplo.

Também fazia parte desse grupo de fotógrafos Herb Ritts (1952-2002). Seus
retratos de personalidades e editoriais de moda foram publicados em revistas de
luxo como Vogue e Vanity Fair. O norte-americano fotografou ainda para campa-
nhas publicitárias de marcas como Armani e Chanel e para varejistas como Levi’s
e Gap. (HACKING, 2012)

Figura 26 – Herb Ritts. Madonna (True Blue Profile), Hollywood, 1986. Fotografia
Fonte: Herb Ritts,1986

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Figura 27 – Herb Ritts. Stephanie, Cindy, Tatjana,
Naomi, Hollywoodi, 1989. Fotografia
Fonte: Hacking, 2012

Na Inglaterra, ganhavam espaço publicações de estilo destinadas a ambos os se-


xos, como as revistas i-D e The Face, ambas criadas em 1980. Elas apresentavam
a cultura jovem, música, tendências emergentes e uma moda despojada e descon-
traída, em contraponto com as grandes e tradicionais revistas de moda.

Figura 28 – Jamie Morgan. Capa da revista The Face, 1984


Fonte: Jamie Morgan, 1984

Os anos 1990 ficaram marcados pelo estilo de fotografia neorrealista, es-


pecialmente a partir de 1992, na Vogue britânica, sob o comando da editora
Alexandra Schulman. “Mas, as imagens de modelos pálidas e magérrimas, po-
sando em ambientes desolados geraram críticas” (HACKING, 2012, p. 490).
Era o estilo denominado heroin chic.

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Contudo, foi a fotógrafa britânica de moda Corinne Day (1965-2010), nos


anos 1990, quem criou uma estética a partir da simplicidade e da realidade, in-
fluenciando toda uma geração de profissionais com suas lentes. Rodando pelas
agências de modelos de Londres, encontrou uma garotinha de 14 anos, magri-
cela, que chamou a atenção por sua beleza crua. Era Kate Moss (Figura 29), que
definiria o espírito da moda nos anos 1990.

Figura 29 – Corinne Day. Kate Moss exposta, 1993. Fotografia


Fonte: Hacking, 2012

O Brasil também tem seus representantes no mundo da fotografia de moda.


Um deles é o paulistano Bob Wolfenson (1954-), que iniciou sua carreira aos
16 anos como assistente de fotografia. No final da década de 1970, montou
seu próprio estúdio. Depois de um período de trabalho em Nova York, voltou
ao Brasil e começou a trabalhar em editoriais de moda para diversas revistas.
É conhecido atualmente como um dos maiores fotógrafos da América Latina.
Já trabalhou com dezenas de modelos para editoriais de moda em revistas
como Elle e Playboy e em várias campanhas publicitárias.

Figuras 30 – Bob Wolfenson. A supermodelo brasileira Gisele


Bündchen em campanha publicitária, 2008.Fotografias
Fonte: Bob Wolfenson, 2008

28
A Fotografia de Moda na Era Digital
Na medida em que entende a linguagem da moda fotografada, o profis-
sional que atua no campo da moda ou da comunicação de moda torna-se
mais consciente ao eleger os signos capazes de estabelecer uma relação
eficiente e ética com o público. Essa consciência, fundamental em todas
as áreas, pode fazer a diferença em um campo que busca se firmar como
parte importante da cultura. (NOGUEIRA, 2012, p. 106)

A revolução tecnológica, principalmente com a popularização da internet, a par-


tir do final dos anos 1990, passou a fazer parte do trabalho dos fotógrafos em todas
as áreas, principalmente na moda, tornando-se um verdadeiro fórum para os pro-
dutores de imagem de moda e também para os consumidores. A fotografia, nesse
contexto, assume ainda mais um importante papel de instrumento da moda.

Devido ao avanço da tecnologia, as fotografias deixaram de aparecer somente


em revistas, mas também em meios virtuais, como websites, blogues e redes sociais,
que informam as pessoas sobre todas as novidades. De fotógrafos freelancers a
profissionais, é possível ver seus trabalhos divulgados na internet.

Um exemplo desse novo momento é o inglês Nick Knight (1958-), que, como
fotógrafo de moda, tem desafiado as noções convencionais de beleza, estando
entre os fotógrafos mais influentes e visionários do mundo. Como empreendedor,
ele criou e dirige o premiado site de moda SHOWstudio.com, empresa de promo-
ção dedicada a compartilhar na internet mídias ao vivo sobre moda (Figura 31).

Figura 31 – Página inicial do site SHOWstudio.com, do fotógrafo inglês Nick Knight


Fonte: https://goo.gl/8DR4bD

Com a atual supervalorização da imagem, passaram a ter grande relevância


dentro da moda outros profissionais (muitas vezes sequer percebidos pelo grande
público), como o produtor de moda e o programador visual que, agora, fazem par-
te do sistema de produção e difusão de moda.

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29
UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

As mais impressionantes imagens de moda de hoje em dia são in-


crementadas por narrativas coloridas e poéticas. Assim como os de-
signers de moda reciclam e interpretam as tendências das décadas
passadas, os fotógrafos contemporâneos, muitas vezes, buscam inspi-
ração em seus antepassados, misturando influências de outras épocas.
(HACKING, 2012, p. 490)

O fotógrafo de moda britânico Tim Walker (1970-), por exemplo, mostra, em


seus trabalhos, um mundo fantasioso, extremamente colorido, que remetem aos
primeiros trabalhos de Cecil Beaton (1904-1980) e aos contos de fadas clássicos.
(HACKING, 2012)

Figura 32 – Tim Walker. Capa da Another Figura 33 – Tim Walker. Revista i-D, 2017
Man, 2017, para a Gucci Fonte: Tim Walker, 2017
Fonte: Tim Walker, 2017

Com a utilização de programas gráficos, toda a construção de imagens passou


a ser digital. A manipulação digital possibilita a associação de elementos muito
diferentes visualmente, favorecendo o processo de coloração e inserção de uma
figura dentro da outra, por exemplo, gerando paisagens híbridas, que correspon-
dem à outra imagem ou sequência de imagens sem referência real. “O digital, o
virtual, a simulação das imagens, a nova forma de criação nos leva cada vez mais
para o mundo da ficção, um mundo de imaginação e fantasia que está resignifican-
do valores e conceitos relativos à imagem”. (SPINELI, 2011, p. 43)

Essa característica, conforme Spineli (2011, p. 43), é muito utilizada por David
LaChapelle (1963-) em suas produções para moda, “pois ele manipula as imagens
fotográficas digitais ou digitalizadas e as compõem por meio do computador com
outro elemento”. O resultado, conforme a autora, são imagens que não encon-
tram necessariamente contraponto na realidade.

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Figura 34 – David LaChapelle. An image Figura 35 – David LaChapelle. Campanha
of some bright eternity, 2002, para publicitária Viva Glam da MAC, 2012,
a Vogue italiana. Fotografia com a rapper Nicki MinajFotografia
Fonte: David LaChapelle, 2002 Fonte: David LaChapelle, 2002

A Fotografia de Moda e o Instagram


O Instagram, rede social on-line de compartilhamento de fotos e vídeos com co-
nexão a outras redes sociais como Facebook, Twitter, Tumblr e Flickr, é a nova apos-
ta de um dos mais prestigiados fotógrafos brasileiros de moda: Jacques Dequeker
(1970-). Ele já fez perto de 100 capas para a Vogue nacional. Dequeker criou a
revista digital DQKER Nation, com quatro capas mensais e conteúdo sobre moda tra-
balhado exclusivamente no Instagram, uma comunidade com mais de 500 milhões
de pessoas. No âmbito comercial, as marcas podem patrocinar tanto as editorias, de
forma isolada, quanto a íntegra das publicações.
Explor

Veja o instagram da revista digital DQKER Nation. Disponível em: https://goo.gl/TRxRAA.

Figura 36 – Página inicial de DQKER Nation, revista digital do fotógrafo


brasileiro Jacques Dequeker no Instagram (jun. 2018)
Fonte: https://goo.gl/oe1Ztm

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UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Iphoto Channel
10 Fotógrafos de moda para seguir no Instagram.
https://goo.gl/QgdgV9
Amigo Fotografo
5 aplicativos de fotografia grátis que você deve conhecer.
https://goo.gl/iAiSrD

 Livros
Correspondente de guerra – Os perigos da profissão que se tornou alvo de terroristas e exércitos
LIOHN, André; SCHELP, Diogo. Correspondente de guerra – Os perigos da
profissão que se tornou alvo de terroristas e exércitos. São Paulo: Contexto, 2016.

 Filmes
A vida secreta de Walter Mitty
A vida secreta de Walter Mitty. Direção:.Ben Stiller, 2013. Sinopse: Walter Mitty
(Ben Stiller) é o responsável pelo departamento de arquivo e revelação de fotografias
da tradicional revista Life. Ele é um homem tímido, levando uma vida simples, per-
dido em seus sonhos. Ao receber um pacote com negativos do importante fotógrafo
Sean O’Connell (Sean Penn), ele percebe que está faltando uma foto. O problema é
que trata-se justamente da foto escolhida para ser a capa da última edição da revista.
É quando, Walter, com o apoio de Cheryl (Kristen Wiig) é obrigado a embarcar em
uma verdadeira aventura.

32
Referências
EPRIN – Escola Profissional da Raia. A evolução da câmera fotográfica
[2018]. Disponível em: <https://www.eprin.net/gamanho/fotpb/AEvolucao-
daCamaraFotografica.pdf>. Acesso em: 30 mai. 2018.

FELZ, Jorge Carlos. A fotografia de imprensa nas primeiras décadas do século


XX – O desenvolvimento do moderno fotojornalismo. In: 6º Encontro Nacional
da Rede Alfredo de Carvalho/Alcar. Associação Brasileira de Pesquisadores
de História da Mídia. Niterói, 2008. Disponível em: <https://bit.ly/2shV9Py>.
Acesso em: 29 maio 2018.

FLÔRES, Paula Mendonça. Styling e fotografia de moda: efeitos psicossociais e


emocionais. 2013. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Têxteis) – Fa-
culdade de Engenharia da Universidade da Beira Interior, Covilhã e Lisboa. 2013.
Disponível em: <https://ubibliorum.ubi.pt/handle/10400.6/1720>. Acesso em:
06 jun. 2018.

HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia: técnicas criativas de 100 grandes
fotógrafos. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.

LEICA. Leica – Uma história de sucesso, [2018]. Disponível em: <http://leica.


pt/leica-uma-cronologia-de-sucesso>. Acesso em: 30 mai. 2018.

LOWE, Paul. Mestres da fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2017.

NOGUEIRA, Letícia de Sá. Fotografia de moda: linguagem e produção de sentido.


CES Revista, Juiz de Fora/MG, jan./dez. 2012. Disponível em: <https://www.
cesjf.br/revistas/cesrevista/edicoes/2012/06%20Moda_%20Fotografia%20
de%20moda.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2018.

ROLLEIFLEX USA. Kit Rolleiflex Hy6 Mod 2 com objectiva 80 mm f / 2.8


AFD e película de 4,5 x 6, [2018]. Disponível em: <https://rolleiflex.us/pro-
ducts/rolleiflex-hy6-mod-2-kit-with-80mm-f-2-8-afd-lens-and-4-5-x-6-film-back>.
Acesso em: 20 mai. 2018.

SALLES, Filipe. Breve história da fotografia, 2004. Disponível em: <http://


www.miniweb.com.br/artes/artigos/Hist%F3ria_fotografia.pdf>. Acesso em: 31
mai. 2018.

SILVA, Vivianne Cabral e. Construção de identidade de marca, fotografia de


moda e erotismo – As campanhas Sisley. 20007. Dissertação (Mestrado em
Cultura Visual) – Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás.
2007. Disponível em: <https://culturavisual.fav.ufg.br/up/459/o/2007_Vivian-
ne_Cabral_e_Silva.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2018.

SPINELI, Patrícia Kiss. A arte da fotografia de moda: Man Ray e David


Lachapelle. Iara – Revista de Moda, Cultura e Arte, São Paulo/SP, v. 4,

33
33
UNIDADE Fotografia Moderna (1901 a 1945) e a Fotografia de Moda

n. 2, dez. 2011. Disponível em: <http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/


revistaiara/wp-content/uploads/2015/01/04_IARA_vol4_n2_Dossie.pdf>.
Acesso em: 07 jun. 2018.

TOREZANI, Julianna Nascimento. A fotografia anos 1930 – Parte 1. Ikoneblog,


2015. Disponível em: <http://ikoneblog.blogspot.com/2015/03/a-fotografia-
-anos-1930-parte-1.html>. Acesso em: 06 jun. 2018.

TOREZANI, Julianna Nascimento. A fotografia de conflitos: da Primeira Guerra


Mundial ao ataque ao World Trade Center. In: Anais do XXXVII Congresso
Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom, 2014. Foz do Iguaçu/
PR. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2014/re-
sumos/R9-2077-1.pdf>. Acesso em: 05 jun. 2018.

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História e Estética
Fotográfica
Material Teórico
O Mundo Passa a Ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999)
e a Fotografia Publicitária,
de Gastronomia e de Ação/Esportes

• Introdução;
• Magnum Photos;
• Polaroid: A Câmera “Mágica”;
• Evolução da Fotografia em Cores;
• Eletrônica a Serviço da Fotografia;
• Retratos de Celebridades;
• Paparazzo: um Mosquito?
• A Fotografia Publicitária, de Dastronomia e de Ação/Esportes.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer, contextualizar e analisar historicamente as diferentes fa-
ses do desenvolvimento da fotografia, técnica e artisticamente, na
segunda metade do século XX, assim como tendências, estilos e mo-
vimentos estéticos da fotografia;
· Reconhecer os subgêneros da fotografia publicitária, de gastrono-
mia e de ação/esportes a partir de sua história e principais nomes
de seus profissionais.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Introdução
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e até o início dos anos 1970,
os países ocidentais, principalmente, viveram um período de grande prosperidade
econômica, inclusive aqueles castigados duramente pelo conflito, como Alema-
nha, Japão e França. O período também foi marcado pela criação, em 1945, da
Organização das Nações Unidas (ONU), com sede em Nova York, cujo objetivo é
promover a cooperação internacional. Neste cenário, “os Estados Unidos concen-
travam sozinhos a quase totalidade da liquidez mundial. Seu território continen-
tal não havia sido atacado, e sua infraestrutura e malha industrial saíram ilesas”
(GASPAR, 2015, p. 268).

Figura 1 – Saul Leiter. Táxi, Nova York, 1957. Leiter trocou os filmes em preto e
branco pelos coloridos em 1948. O fotógrafo imortalizou as ruas de Nova York por mais
de meio século, desde os anos 1950, até sua morte, em novembro de 2013
Fonte: sva.edu

O desenvolvimento da pesquisa na área fotográfica, especialmente no território


norte-americano, por meio de George Eastman (leia-se Kodak), na época, fez com
que, em 1946, por exemplo, chegasse ao mercado o Kodak Ektachrome, o primei-
ro filme negativo colorido que os fotógrafos amadores podiam processar em casa,
usando os recém-lançados kits de químicos, simplificando a fotografia colorida.
E o que falar sobre a criação da mais importante agência de fotografia do mundo, a
Magnum Photos, em 1947, e que existe até hoje? Da câmera “mágica” Polaroid?
E da consolidação da fotografia em cores e de tantos outros momentos marcantes
na história da fotografia até o final do século XX? Então, vamos conferir!

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Magnum Photos
“Magnum é uma comunidade de pensamento, uma qualidade humana comparti-
lhada, uma curiosidade sobre o que está acontecendo no mundo, um respeito pelo
que está acontecendo e um desejo de transcrever visualmente.” A frase de Henri
Cartier-Bresson (1908-2004) contextualiza o perfil da mais importante agência de
fotografia já criada: a Magnum Photos (https://goo.gl/9pyspV).

Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1947, o húngaro Robert Capa
(1913-1954), o britânico George Rodger (1908-1995), o polonês David Seymour
(1911-1956) e o francês Cartier-Bresson, seguindo um modelo de cooperativa,
conceberam a agência “com o objetivo de tornar seus integrantes independentes
das revistas, que até então conservavam os direitos das fotografias que encomen-
davam” (HACKING, 2012, p. 326).

A Magnum documentou (e documenta) os principais eventos e personalidades


do mundo desde a sua criação, cobrindo indústria, sociedade e pessoas, locais de
interesse, eventos políticos e noticiosos, desastres e conflitos. “Resumindo, quando
você imagina uma imagem icônica, mas não consegue pensar em quem a tirou
ou onde ela pode ser encontrada, provavelmente veio da Magnum” (MAGNUM
PHOTOS, 2018).

Figura 2 – George Rodger. Os núbios, 1949. Fotografia. O campeão de uma luta livre
núbio é carregado nos ombros por seu oponente em uma aldeia no Sudão (África)
Fonte: Hacking, 2012

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UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Há mais de 70 anos, a Magnum fornece conteúdo fotográfico de alta qualidade


para uma base internacional de mídia, editores, marcas e instituições culturais.
A sua biblioteca é um arquivo atualizado regularmente com novos trabalhos de
todo o mundo, mas permanecendo fiel aos seus valores originais de “excelência
intransigente, verdade, respeito e independência” (MAGNUM PHOTOS, 2018).
Para que um fotógrafo seja associado da agência, é necessário um processo míni-
mo de mais de dois anos. Ser integrante da Magnum é um dos melhores reconhe-
cimentos da carreira de um fotógrafo. Atualmente, a agência possui escritórios em
Nova York, Paris e Londres.
A criação da Magnum possibilitou a seus fundadores afirmarem-se como
defensores de um fotojornalismo livre de estrutura que submetia a im-
prensa aos interesses do poder, um jornalismo humanista e de qualidade,
adotando como prática a proibição do uso de suas fotos fora do contexto
em que foram concebidas. (TOREZANI, 2015.)

Figura 3 – Robert Capa. Pablo Picasso e Françoise Gilot, 1948. Fotografia


Fonte: aperture.org

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Polaroid: A Câmera “Mágica”
“A fotografia Polaroid tem uma materialidade imediata, que se distancia dos
processos fotográficos convencionais e a aproxima mais da imagem digital contem-
porânea [...]” (FRANDOLOSO, 2014, p. 12). Por incrível que pareça, a fascinante
história da Polaroid tem início na indagação de uma criança de três anos, que não
entendia por que demorava tanto para ela ver as suas fotos das férias de verão.
O pai, o cientista norte-americano Edwin H. Land (1909-1991), respondeu à sua
filha com a colocação no mercado, em 1948, de uma das mais revolucionárias câ-
meras fotográficas já comercializadas: a Polaroid Land Model 95 (Fig. 4), primeira
câmera fotográfica instantânea da história. A partir daquele momento, a filha de
Land poderia ver as suas fotos reveladas em até 60 segundos após serem tiradas.

Figura 4 – Polaroid Land Model 95, a primeira câmera instantânea do mundo, lançada em 1948
Fonte: iStock/Getty Images

O primeiro modelo Polaroid fez tanto sucesso que permaneceu em produção,


com apenas pequenas alterações, até 1961. Foram fabricadas mais de 1,5 milhão
de câmeras do Modelo 95, incluindo as variações 95A e 95B. Na época, os produ-
tos Polaroid eram distribuídos em mais de 45 países em todo o mundo. Entretanto,
a principal dificuldade encontrada pelas câmeras Polaroid no mercado foi o alto
custo unitário das fotos, sua qualidade questionável e o pequeno tamanho de suas
fotos: 6 x 10 cm.

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a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

O apogeu da marca se deu nos anos 1970 com o lançamento do modelo SX-70
Land (Fig. 5), considerada uma das melhores câmeras instantâneas já fabricadas.
A câmera era completamente automática e revolucionária com um sistema de
fole, que, quando fora de uso, podia ser dobrada, cabendo em qualquer bolso.
Até 2002, a Polaroid havia fabricado um total de 13 milhões de câmeras.

Figura 5 – Polaroid SX-70 Land, lançada em 1972, com estojo e caixas


com filmes em cores e preto e branco. Um sucesso
Fonte: iStock/Getty Images

Figura 6 – O criador da Polaroid, Edwin Land, foi capa da revista Life, em outubro de 1972.
Ele segura uma Polaroid SX-70 Land, considerada uma das melhores câmeras instantâneas já fabricadas
Fonte: aiga.org

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Co Rentmeester. Sem título, 1972. O fotógrafo da revista Life teve a oportunidade de experi-
Explor

mentar a câmera Polaroid SX-70 Land antes do seu lançamento comercial: https://goo.gl/Z2g2rS

Steve Jobs & Edwin Land


Explor

Edwin Land, criador da Polaroid, é o caso de um inventor com imensas habilidades nos negócios.
Uma união perfeita. Entre as décadas de 1950 a 1970, a Polaroid foi considerada a mais
inovadora empresa de tecnologia do mundo, possuindo menos patentes apenas que Thomas
Edison, criador da lâmpada elétrica incandescente, entre suas 2.332 patentes registradas.
Steve Jobs, assumia abertamente ter várias vezes visitado Edwin Land e usado a Polaroid como
modelo para criar a Apple, aliando qualidade com simplicidade de uso. Deu certo!

Vamos ver como ocorre a “mágica” em uma câmera Polaroid analógica:

Quadro 1 – Processo químico e físico das primeiras câmeras Polaroid


· O material para o positivo e o negativo estão presentes em cada fotografia,
além do revelador e do fixador. Quando a foto é retirada da câmera,
elementos químicos reagem e juntam-se, homogeneamente, revelando e
fixando a fotografia rapidamente.
· Ao apertar o disparador, o filme Polaroid passa entre dois mecanismos,
que estouram uma bolha com reagentes químicos. Esta bolha é uma
cápsula que fica na borda do papel, longe do material sensível à luz
(prata), impedindo que ele seja revelado antes da exposição”.
· O líquido é espalhado para o meio do papel-filme, que é composto de
várias camadas químicas sensíveis à luz.
· Os reagentes penetram nas camadas do filme e ativam os reveladores, que
soltam as tintas coloridas para formar a foto na camada da imagem.
· Os reagentes dissolvem os bloqueadores de luz, que, com a reação
química, ficam mais claros. A imagem já está revelada, mas o clareamento
faz com que ela apareça aos poucos, dando a impressão de estar se
formando só depois que sai da câmera.
Fonte: Torezani, 2015.

A Polaroid também não resistiu à investida digital, que ocorreu forte a partir do
final do século XX. Em 2008, a empresa lançou a PoGo digital com a inovadora
tecnologia de impressão Zink, sem o uso de tinta (Zero ink). O segredo está no
papel, que possui cristais de corantes, ativados no momento da impressão da foto.
Tudo isso em menos de um minuto. Também é possível, por meio de bluetooth,
enviar imagens de celular para a impressora compatível com a tecnologia. A câme-
ra possibilita a edição da fotografia antes da sua impressão.
Explor

Polaroid PoGo digital com tecnologia de impressão Zink: https://goo.gl/c7ecsT

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Explor
Em 2010, a Polaroid firmou parceria com a cantora pop norte-americana Lady Gaga, que
assumiu o posto de diretora criativa da marca, em uma clara intenção de modernizar e atrair
jovens consumidores. Gaga ajudou na criação de novos modelos de máquinas digitais – como a
GL30 (Fig. 7a e b), com resolução de 12 megapixels e tecnologia de impressão instantânea Zink
– lançados comercialmente, em 2011, nas cores preta, azul e vermelha. Outro produto criado
com a colaboração da cantora foram uns óculos que permitem ao usuário tirar e exibir fotos por
meio das suas lentes (Fig. 7c). A história da Polaroid parece não ter fim.

Figuras 7a e 7b – Câmera GL30, com tela LCD – para mostrar


as fotos para os amigos – e impressora “escondida” na base
Fonte: Divulgação

Figura 7c – Óculos Polaroid GL20


Fonte: Divulgação

Evolução da Fotografia em Cores


Por que a fotografia em cores não teve uma disseminação mais rápida em
comparação com o desenvolvimento da fotografia em preto e branco? A resposta
pode estar, conforme Dias (2016), em dois motivos básicos: dificuldade de fixar a
imagem em cores em um suporte viável do ponto de vista técnico; e o medo que
alguns fotógrafos tinham de mudar para um processo no qual perderiam parte do
controle da revelação e da impressão (além de ser mais dispendioso).

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Entretanto, a introdução comercial da máquina de 35 mm, na década de 1930,
fez com que tudo mudasse. Os fotógrafos saíam mais facilmente dos estúdios para
realizar trabalhos de moda, documental ou autoral, com um investimento menor se
comparado com as máquinas de médio e grande formatos. Os fotógrafos passaram,
então, a se arriscar mais na utilização da cor.

Nas revistas do grupo editorial Condé Nast – Vogue, Vanity Fair e House &
Garden –, por exemplo, o uso de fotografias em cores foi incentivado a partir da
década de 1950, tendo como mote a ousadia e o moderno. O sucesso da fotogra-
fia em cores na publicidade e na moda nessas revistas foi tão grande que o grupo
“se viu sob o risco de adquirir uma reputação de frivolidade comercial populista,
ao passo que imagens em preto e branco transmitiam uma ideia de rigor artístico e
seriedade” (HACKING, 2012, p. 396). Sem querer ficar para trás, a Life publicou,
em setembro de 1953, 24 fotografias coloridas de Nova York, feitas pelo imigrante
austríaco Ernst Hass (1921-1986) – integrante da Magnum –, considerado um dos
mestres da fotografia em cores (Fig. 8).

Figura 8 – Ernst Hass. Billboard painter, Nova York, 1952. Fotografia


Fonte: Ernst Hass, 1952

“17 lições que Ernst Haas me ensinou sobre fotografia de rua”, por Eric Kim. O website
Explor

de Eric Kim é em inglês, entretanto, caso você queira ler o material em português, basta
clicar com o botão direito do mouse e clicar em “Traduzir para o português”:
https://goo.gl/Xaw7EL

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Figura 9 – Ernst Haar. Kyoto, Japão, 1984. Fotografia


Fonte: Ernst Hass, 1984

A partir da década de 1960, a fotografia em cores realmente disse a que veio,


atingindo o mesmo nível da imagem em preto e branco em diversas categorias,
como natureza, retrato, guerra, moda, publicidade, fotografia documental e cien-
tífica. Nesse período, também foi iniciada a formação acadêmica de fotografia em
escolas e universidades.

Até os anos 1980, a maioria dos fotógrafos que trabalhava com a imagem em
cores era bem remunerada somente pelos seus trabalhos em fotografia de moda ou
em trabalhos encomendados para outro tipo de produção. “Em galerias de arte ain-
da prevalecia o valor da imagem monocromática, sendo que muitos trabalhos feitos
a cores só atingiram preços elevados quando muitos dos seus autores já tinham fa-
lecido” (DIAS, 2016, p. 62). Outros atingiram esse reconhecimento público ainda
vivos, como William Eggleston (1939 —) e Annie Leibovitz (1949 —), entre outros.

Figura 10 – William Eggleston. Sem título, Menphis, 1970. Fotografia


Fonte: HACKING, 2012

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A fotografia documental também se rendeu às cores. Um dos mestres neste tipo
de trabalho, que combina as cores como ninguém, é o fotojornalista norte-ameri-
cano Steve McCurry (1950 —). Ele ficou mundialmente conhecido pela imagem
de uma jovem afegã, publicada na capa da National Geographic Magazine, em
junho de 1985. McCurry é adepto da fotografia digital desde o seu aparecimento,
nos anos 1990, pela facilidade de observação e de correção de imagens, principal-
mente em áreas, regiões ou situações onde pode não haver uma segunda tentativa
(DIAS, 2016).

Steve McCurry. Fotografia da jovem afegã Sharbat Gula em um campo de refugiados da


Explor

cidade de Peshawar (Afeganistão), em 1985. A imagem foi capa da revista National


Geographic, em junho de 1985: https://goo.gl/FHMsRt

Eletrônica a Serviço da Fotografia


A introdução de componentes eletromecânicos e eletrônicos em câmeras foto-
gráficas, a partir da década de 1950, seguiu a tendência geral de aplicação da tec-
nologia na época, especialmente, em benefício da automação de processos antes
mecanizados. Essa orientação seguia a mesma demanda que levava à automação
na indústria: aumento de produção, controle dos padrões de qualidade e redução
dos custos de produção.

A indústria fotográfica do século XX, conforme Libério (2013), trabalhou para


tornar a fotografia uma atividade descomplicada e de operação simples, principal-
mente na operação do dispositivo fotográfico, com a inserção de componentes ca-
pazes de calcular ajustes, sem a necessidade de interferência do fotógrafo. O resul-
tado foi o lançamento de equipamentos capazes de realizar fotografias a partir de
modos automáticos, passando a ter grande influência sobre a forma de aquisição
de imagens. A primeira câmera com filme 35 mm com programação automática
de exposição, conforme a autora, foi a alemã Agfa Optima, de 1959.
Se você pedisse aos especialistas dos laboratórios fotográficos líderes
de mercado para listar os problemas mais comumente encontrados nas
fotos de clientes, eles rapidamente responderiam: exposição imprópria,
enquadramento ruim e erro de foco. Sistemas automáticos conseguem
agora dar conta do cálculo da exposição fotográfica para várias pessoas.
O enquadramento ainda precisa estar na cabeça do fotógrafo. E, até re-
centemente, este também era o caso com a escolha do foco, mas agora,
sofisticados sistemas eletrônicos estão começando a colocar um fim nisso.
(LIBÉRIO apud JACOBS, 1980, p. 97.)

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Figura 11 – Câmera fotográfica Agfa Optima, de 1959, a primeira com programação automática de exposição
Fonte: Wikimedia Commons

As indústrias fotográficas japonesas, como Nikon, criada em 1917; Olympus e


Asahi Pentax, em 1919; Minolta (1928); Canon (1933); Fuji (1934); e Yashica,
fundada em 1949, passariam, a partir de meados do século XX, a praticamente
dominar o mercado de dispositivos fotográficos, essencialmente pela sua qualidade
e inovação tecnológica – liderança confirmada ainda mais a partir do final do século
XX, com as câmeras digitais.

A Yashica Electro 35 (Fig. 12), lançada em 1966, revolucionou a oferta de câ-


meras amadoras com um modelo compacto e novas tecnologias, como o obturador
eletrônico e exposição semiautomática. O equipamento teve várias atualizações até
o início dos anos 1970, quando foi substituído pela Yashica ME1 (Fig. 13), câmara
amadora de visor direto que bateu recordes de venda e motivou a instalação de uma
fábrica da Yashica no Brasil, em 1977. Esses dois modelos utilizavam filme 35 mm.

Figura 12 – Yashica Electro 35, lançada em 1966, com obturador eletrônico e exposição semiautomática
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 13 – Yashica ME1: recorde de vendas e fábrica no Brasil, em 1977


Fonte: Wikimedia Commons

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As 35 mm SLR (single-lens reflex) – ou simplesmente reflex, em que o fotógrafo
enxerga o objeto refletido por um conjunto de espelhos (visor óptico) – da Pentax,
Nikon, Canon, Minolta e Yashica, a partir do final da década de 1950, marcam a
chegada das máquinas de uma única lente, com enquadramento por meio da obje-
tiva. Os dispositivos permitem o uso de grande-angulares e teleobjetivas potentes,
além de motordrive para transporte rápido do filme.
As câmeras que mais se destacaram nessa época foram as da Nikon, que, após
tentativas de conquistar o mercado desde 1917, obtiveram êxito com a linha Nikon
F (Fig. 14). A primeira de muitos modelos Nikon F foi lançada em 1959 e se tornou
um sucesso mundial (EPRIN, 2018). Juntamente com a Leica M3, ela se tornaria a
preferida dos repórteres fotográficos. Nikon e Canon passam, então, a dominar o
mercado mundial de câmeras analógicas, até o final do século XX. A Canon AE-1,
por exemplo, foi a primeira no mundo a vir com um microcomputador embutido,
em 1976 (Fig. 15).

Figura 14 – A primeira Nikon F foi lançada em 1959


Fonte: Wikimedia Commons

Figura 15 – Canon AE-1, a primeira câmera do mundo a vir com um microcomputador embutido
Fonte: Wikimedia Commons

Em 1981, a Sony, outra marca japonesa, apresentou a Sony Mavica (abreviatura


de MAgnetic VIdeo CAmera), cuja principal característica era gravar as fotos (em
formatos de arquivos de imagem) em discos removíveis. As primeiras Mavicas não
eram exatamente câmeras digitais, mas “câmeras de vídeo estático”, ou seja, eram
basicamente câmeras de TV que congelavam imagens. As câmeras realmente
digitais só se tornariam populares na década de 1990.

A Sony Mavica (1981) – com lentes intercambiáveis – foi a primeira câmera totalmente
Explor

eletrônica que gravava as fotos em discos removíveis: https://goo.gl/NiR8ft

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Retratos de Celebridades
A era de ouro do cinema de Hollywood – entre os anos 1920 e 1960 –, prin-
cipalmente com os grandes filmes musicais, transformou rapidamente atores em
astros internacionais, levando consigo ao estrelado personalidades da música, da
arte, da literatura, da política e até da ciência. E as revistas de jornalismo, moda e
entretenimento precisavam de retratos dessas personalidades. Assim, a partir do
final da década de 1940, publicações como Life, Harper’s Bazaar e Fortune, nos
Estados Unidos, contrataram fotógrafos no mundo inteiro para entregar-lhes ima-
gens exclusivas dessas celebridades.
Retratos executados de forma meticulosa se tornaram cruciais na promo-
ção da aura das celebridades. Iluminados com esmero, habilmente estili-
zados e primorosamente retocados, esses retratos moldavam e fixavam a
imagem de uma estrela na mente do público. (HACKING, 2012, p. 350.)

O fotógrafo norte-americano Arnold Newman (1918-2006) se destacou nessa


área, assinando retratos icônicos de algumas das personalidades mais influentes e
inovadoras do século XX, entre pintores, cineastas, celebridades e figuras políticas.
Com uma carreira de quase sete décadas, ele é celebrado e reconhecido pela com-
posição meticulosa e por seu método de trabalho, que buscava captar a essência
de seus fotografados, mostrando-os em seus ambientes pessoais ao invés de serem
clicados em estúdio.

Uma das imagens mais famosas de Newman é um ensaio com o compositor,


pianista e maestro russo Igor Stravinsky (Fig. 16), uma das mais importantes figuras
da música do século XX. Ao colocar o retratado em um cenário que refletia sua
profissão ou personalidade, o fotógrafo desenvolveu um estilo próprio de retrato
“ambientado”. Ele observou como a tampa do piano faz lembrar a forma de um
bemol1, “sólido, forte e linear, as mesmas características que definem a música de
Stravinsky” (HACKING, 2012, p. 350).

Já o fotógrafo Irving Penn (1917-2009), que por mais de meio século tirou
fotografias para a Vogue americana, produzia suas fotos de celebridades, como o
artista Marcel Duchamp e o estilista Christian Dior, por exemplo, em um estúdio
anônimo (poucos sabiam do endereço), não bajulava os modelos e, na maioria das
vezes, “enfatizava a artificialidade do ambiente por meio da inclusão de cabos de
eletricidade e cenários montados” (HACKING, 2012, p. 351). Normalmente, ele
escolhia um fundo neutro que excluía toda e qualquer sugestão de narrativa, sem
objetos cênicos ou qualquer outra referência que demonstrasse a personalidade
retratada. “Era comum haver guimbas de cigarro, pedaços de tapetes e cabos à vista
no chão não pintado do estúdio, gerando o que Alexandre Liberman, diretor de arte
da Vogue, viria a reconhecer como ‘a sordidez do período’” (HACKING, idem).

1.  − Sinal gráfico que indica a redução de um semitom (meio tom) da nota que precede.

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Figura 16 – Arnold Newman. Igor Stravinsky, cidade de Nova York, 1946. Fotografia
Fonte: moma.org

Figuras 17, 18 e 19 – Irving Penn. O ator Spencer Tracy, a artista visual


Georgia O’Keeffe e o estilista Jacques Fath, respectivamente. Fotografias
Fonte: artic.edu

O fotógrafo russo, naturalizado norte-americano, Philippe Halsman (1906-1979)


também tem parte nesta história ao realizar importantes retratos de Marilyn Mon-
roe e Salvador Dalí (Fig. 20), por exemplo. Antes da Segunda Guerra Mundial, ele
contribui com trabalhos fotográficos para a Vogue, ganhando reputação de um
bom retratista. Mas, foi com a fotografia do cientista Albert Einstein, em 1947,
que ele fez uma de suas mais famosas fotografias. Durante a sessão de fotos, um
triste Einstein contou seus arrependimentos sobre seu papel nos Estados Unidos,
pesquisando a bomba atômica. A foto seria usada mais tarde, em 1966, em um
selo postal dos Estados Unidos e, em 1999, na capa da revista Time, nomeando o
cientista a “Pessoa do século” (TOREZANI, 2015).

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UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
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Figura 20 – Philippe Halsman. Dalí atômico, 1948. Instantâneo fotográfico.


Halsman não usou montagens nem qualquer truque, apenas encenação e muita preparação,
paciência e numerosas tentativas. Por fim, na 28ª sessão foi conseguido o efeito pretendido
Fonte: moma.org

Philippe Halsman. Albert Einstein, 1947. Fotografia. Capa da revista Time, de dezembro de
Explor

1999: https://goo.gl/TirXgx

Um dos mais conceituados fotógrafos contemporâneos de celebridades do mun-


do é o norte-americano Mark Seliger (1959 —). Desde sua primeira contribuição à
revista Rolling Stone, em 1987, pelas três décadas seguintes, em trabalhos edito-
riais e projetos pessoais, ele fotografou desde o Dalai Lama (Fig. 21) e o presidente
Barack Obama (Fig. 22) até a comunidade transexual de Nova York e os últimos
remanescentes sobreviventes do Holocausto. Suas imagens documentam atores e
músicos, além de ativistas de direitos humanos e líderes políticos e espirituais que
moldaram a história (GOTTSCHALK, 2018).

22
Figura 21 – Mark Seliger. Dalai Figura 22 – Mark Seliger. Figura 23 – Mark Seliger.
Lama, 2011. Fotografia Presidente Barack Obama, Kurt Cobain, 1993. Fotografia
Fonte: Mark Seliger, 2011 2010. Fotografia Fonte: Mark Seliger, 1993
Fonte: Mark Seliger, 2010

Paparazzo: um Mosquito?
Avanços técnicos, como dos filmes de alta sensibilidade, das lentes teleobjetivas
e do flash, contribuíram para a redução da fronteira entre as vidas públicas e
privadas das celebridades a partir da década de 1960. Muitos fotógrafos, oriundos do
fotojornalismo, fizeram fama ao fotografar famosos, de preferência em ambientes
pouco convencionais, para revistas e jornais. Foi quando surgiram os paparazzi
(a palavra paparazzi, plural de paparazzo2, é de origem italiana, designando os
fotógrafos de celebridades). “Na maioria dos casos, as fotos são ‘roubadas’, ou seja,
invadem a intimidade do ‘alvo’ e são tiradas sem o consentimento da celebridade”
(DIAS et al., 2016, p. 1). Os retratos altamente produzidos até então deram lugar
a instantâneos com a intenção de serem íntimos e autênticos.
A profissão de paparazzo ainda é muito criticada devido ao seu caráter
invasivo e antiético, que acaba muitas vezes gerando confusões. Tal ofício
é reprovado tanto pelas celebridades, como também por fotógrafos
de outras áreas. Entre tantos motivos que essa profissão é odiada, o
principal advém da manipulação de cenas, ou seja, a prática de fotografar
determinado momento alterando seu real contexto [...] Apesar das
controvérsias, é uma profissão que exige demasiado esforço, pois vale de
tudo para conseguir uma informação e foto antes de outros paparazzi, até
mesmo arriscar a própria vida. (DIAS, et al., 2016, p. 3 e 4.)

2. Uma das teorias para a origem do termo é uma analogia entre um mosquito siciliano chamado “papareceo” com a
profissão de paparazzo. Esse mosquito é conhecido por ficar rodeando e perturbando as pessoas; normalmente é
assim que esses fotógrafos são vistos: inconvenientes, como o mosquito (DIAS, et al., 2016, p. 2).

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Em agências de fotografia, um paparazzo pode exercer seu trabalho dentro do


staff – funcionário com salário fixo –, e ganhar bônus relativo à importância da
foto, ou pode exercer a atividade como freelancer, recebendo 70% do valor da
foto vendida. Em muitos casos, os paparazzi trabalham em equipe para facilitar
a realização da foto. Há, também, pessoas que colaboram com esses fotógrafos,
informando o paradeiro das celebridades e relatando o que fazem no momento.
Essas fontes acabam recebendo certa quantia pelas informações. “Há também
fotos que são tiradas com o consentimento da pessoa, como ensaios sensuais ou
subcelebridades que procuram os paparazzi, já que dependem deles para aparecer,
os chamados ‘flagras forjados’” (DIAS et al., 2016, p. 6).

Trocando ideias...Importante!
Ron Galella, o Rei dos Paparazzi
O fotógrafo norte-americano Ron Galella (1931 −) teve um relacionamento profissional
com Jackie Onassis que pode ser descrito como frenético. A ex-primeira-dama tornou-se
uma obsessão para ele e seu comportamento pode ser visto como “predador”. Jackie o
processou, conseguindo uma ordem de restrição que o manteria a 46 metros de distân-
cia, embora ele a tenha quebrado repetidamente. Quando essa distância foi reduzida
para 7,6 metros, Galella levava uma fita métrica enorme para que ele pudesse manter a
distância. “Por que eu tenho uma obsessão com Jackie? Eu analisei. Eu não tinha namo-
rada. Ela era minha namorada, de certa forma”, afirmou (TIME, 2018). O que você acha?
Galella é chamado de O Rei dos Paparazzi.
Explor

Ron Galella. Jackie Kennedy, Nova York, 1971: https://goo.gl/J4KZBf

Apesar de ser uma profissão não muito bem aceita pelos famosos, ela está
ganhando cada vez mais espaço no mercado como forma de entretenimento por
meio da exposição de celebridades, especialmente a partir do advento da internet.
Ao escolher a profissão de paparazzo, conforme Dias et al. (2016), é necessário
adquirir equipamentos específicos que costumam ir além de uma boa câmera.
O profissional deve levar em conta questões como situações de pouca luz, lentes
rápidas e com boa performance.

A câmera deve oferecer uma boa resposta do obturador, fotografando imedia-


tamente após ser clicada. Alguns acessórios também são imprescindíveis, como várias
lentes, sendo as mais utilizadas a 28-70 mm e a 70-200 mm, flashes, além de um
tripé – um paparazzo pode passar horas a fio à espera do momento oportuno–, uma
pequena escada desmontável, entre outros, dependendo do tipo de trabalho e poder
aquisitivo do fotógrafo.

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Importante! Importante!

A morte da princesa Diana e de seu namorado Dodi Al-Fayed, em um acidente de carro


em Paris, em 1997, foi resultado da negligência do motorista Henry Paul, que também
morreu, e dos paparazzi, que perseguiam o veículo no momento da colisão, segundo um
inquérito judicial sobre o caso. A decisão judicial confirmou o inquérito e colocou fim às
teorias de conspiração sobre a morte da princesa.

Paparazzo Digital
A profissão de paparazzo, como muitas outras, está sendo alterada pela era da
internet. Uma prova disso são alguns sites destinados aos paparazzi amadores,
onde pessoas comuns podem postar fotos de celebridades tiradas por elas mesmas.
“Desse modo, indivíduos comuns passam de receptores para emissores de fotos
e notícias, apenas usando câmeras ou smartphones, acessíveis à maioria hoje em
dia” (DIAS, 2016, p. 8).

Até mesmo Instagram e Twitter acabaram se tornando uma grande rede de


paparazzi amadores, pois os usuários podem postar fotos a qualquer hora e de
qualquer lugar, repercutindo de modo instantâneo.

A Fotografia Publicitária, de Dastronomia


e de Ação/Esportes
A definição/criação de gêneros fotográficos, como retrato, paisagem, nature-
za-morta e documental, nas primeiras décadas do século XX, contribuiu para a
classificação e catalogação dos tipos de fotografia para cada um dos conjuntos
de variantes considerados como subgêneros. Nesse contexto, temos a fotografia
publicitária, de gastronomia e de ação/esportes, que ganharam importância nas
últimas décadas.

Fotografia Publicitária
A definição de fotografia publicitária a caracteriza como especialmente pro-
duzida para a difusão comercial de um produto, independentemente do suporte
escolhido pelo anunciante, que tanto pode ser a mídia impressa – jornais, revistas,
cartazes, outdoors ou folhetos – quanto audiovisual, como anúncios transmitidos
pela televisão, pelo cinema ou no meio digital (internet). Poucos recursos se torna-
ram tão indispensáveis quanto a utilização da fotografia no mercado publicitário.

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UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

De acordo com a Enciclopédia Itaú Cultural (2018), na fotografia publicitária, de


modo geral, a concepção prévia da imagem é esboçada pelo diretor de arte de uma
agência que detém a conta do cliente e a tomada da foto é respaldada na atuação de
um produtor que reúne o material necessário. Esse produtor pode, inclusive, organi-
zar os elementos constitutivos da composição. Nestes casos, esses profissionais po-
dem ser considerados como parceiros do fotógrafo na realização da fotografia final.

Gradualmente, nas primeiras décadas do século XX, as publicações foram subs-


tituindo as ilustrações nas propagandas por imagens fotográficas como o retra-
to, primeiro gênero fotográfico a ser incorporado de maneira mais sistemática à
propaganda. Normalmente, era utilizada a imagem de uma personalidade para
recomendar o uso do produto (PALMA, 2007).

A partir da década de 1920, o still-life fotográfico (composição com um ou


mais objetos de uso cotidiano, de pequeno porte) foi valorizado, em fotogra-
fias extremamente bem cuidadas do ponto de vista técnico e de composição.
Entretanto, “não havia intuito predefinido de destacar um ou mais aspectos dos
produtos, empregando técnicas e truques para embelezar objetos e espaços que
viriam a constituir futuramente uma sintaxe da imagem publicitária moderna”
(PALMA, 2007, p. 6).

Figura 24 – Ator Ramon Navarro para a brilhantina Stacomb. Revista A Cigarra, 15 out. 1929
Fonte: PALMA, 2007

Hoje, uma infinidade de produtos e serviços são anunciados sem que uma úni-
ca palavra seja dita, graças ao apelo e expressividade que a fotografia é capaz
de causar. Isso pode ser explicado, em parte, pela aproximação cada vez maior,
principalmente a partir da década de 1980, da fotografia publicitária com as artes
visuais e também da produção de uma imagem com extrema inovação estética em
detrimento apenas do produto ou serviço.

26
Desde 2004, o francês Jean-Yves Lemoigne trabalha para as melhores agências
do mundo, como DDB, BBH, Euro RSCG, Saatchi & Saatchi, BBDO, TBWA,
Wieden & Kennedy, criando fotografias para diversas marcas e campanhas. Seu
trabalho mais conceituado e conhecido é uma campanha para a marca de água
Perrier em que faz um tributo à obra surrealista do artista catalão Salvador Dalí
(1904-1989) (Fig. 25). Sua fotografia é considerada uma das melhores no mundo
da publicidade.

Jean-Yves Lemoigne. Campanha para a água Perrier. Fotografia e manipulação digital:


Explor

https://goo.gl/qHZiee

Fotografia de Gastronomia
Devido à expansão do mercado mundial de alimentos, com o crescimento de
redes fast-foods, de restaurantes, bares, padarias, alta gastronomia e espaços
gourmets, além de publicações impressas e online sobre gastronomia, aumentou,
consequentemente, a procura por profissionais que possam atender à demanda de
registros fotográficos especializados em alimentos. Assim, a fotografia gastronômica
passa a se tornar uma peça fundamental e influente, ao utilizar uma linguagem
específica para apresentar o alimento.
Talvez não passe pela cabeça das pessoas que um pimentão, para ser
fotografado e sobretudo para se impor com um poder de verossimi-
lhança irresistível, precisa ser preparado; é preciso escolher o legume
ideal em termos de cor e textura, trabalhar a sua casca com resinas
que lhe realcem o brilho, dispor a câmera e a iluminação de modo a
acentuar-lhe o relevo e assim por diante. Ninguém melhor que os fotó-
grafos que trabalham com publicidade conhece essa técnica de transfi-
gurar o referente para aumentar o poder de convicção de sua imagem.
(MACHADO, 1984, p. 56.)

A história da fotografia de alimentos começa a partir da segunda metade do


século XIX, bem próxima à origem da própria fotografia. Confira momentos
importantes no desenvolvimento da fotografia gastronômica:

Influência da Pintura
Em 1945, apenas seis anos depois do anúncio oficial da criação do daguerreótipo,
William Henry Fox Talbot (1800-1877), cientista inglês pioneiro da fotografia, fez
uma das primeiras imagens cujo motivo central era alimentos. Tratava-se de um
registro de cestas de pêssegos e um abacaxi. Nessa fase, em que livros de receita
raramente recorriam à fotografia e a publicidade era ainda incipiente, as fotos de
comida – na sua grande maioria frutas – eram fortemente influenciadas pelo gênero
natureza-morta da pintura.

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UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Figura 25 – William Henry Fox Talbot. A fruit piece, 1845


Fonte: metmuseum.org

Fotografia Gastronômica Caminha Sozinha


Na virada para o século 20, alguns fotógrafos, como o americano Paul Strand
(1890-1976), tentaram fotografar alimentos sem lançar mão das convenções da
natureza-morta. Nos anos 1930 e 1940, duas novidades transformaram a maneira
de representar a gastronomia em fotos: a popularização da fotografia em cores na
publicidade e a produção de panfletos promocionais e de livros de receitas com
imagens de alta qualidade, feitos por marcas de produtos alimentícios.

Figura 26 – Nickolas Muray. Lemonade and fruit salad, 1943


Fonte: aperture.org

A fotografia de comida não era mais apenas um gênero de arte, agora as imagens
eram utilizadas para vender. Para parecerem vivos e com cores atraentes, alguns
alimentos chegavam a receber uma camada de verniz ou spray para cabelo antes
do registro. A espuma da cerveja era substituída por bolhas de sabão e o leite de
cereais por cola (que, digamos, ainda é utilizada hoje).

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Comida com Cara de Comida
Nos anos 1990, a fotografia comercial de comida passou a ser mais naturalista
e documental, e os alimentos voltaram a parecer mais comestíveis nas imagens.
Ao mesmo tempo, alimentos também estavam sendo utilizados por artistas e
fotógrafos em seus trabalhos artísticos e a qualidade das imagens dos livros de
receita tornou essas publicações mais parecidas com livros de fotografia.

Figura 27 – Revista Menu, nº. 160, 167 e 172, Editora Três, março de 2012
Fonte: SABBAG, 2014

Os Blogs de Gastronomia e o Instagram


No século XXI, a massificação das fotos de gastronomia por blogueiros e usuários
do Instagram, lançado em 2010, fez com que muito mais gente se interessasse por
comida e que as fotos de comida que se vê por aí ficassem cada vez melhores.

Contas do Instagram, como @symmetrybreakfast, de Michael Zee, conseguiram


atrair centenas de milhares de seguidores para suas refeições preparadas com arte.
As mídias sociais deram nova vida ao gênero.

Figura 28 – Michael Zee. @symmetrybreakfast, 2017


Fonte: Divulgação

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UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Fotografia de Ação/Esportes
Ao longo da história, muitas foram as dificuldades para que a fotografia de
esportes se consolidasse nas publicações. No passado, os fotógrafos de esportes
trabalhavam no “escuro”. As imagens registradas só eram vistas no momento de
sua revelação e ampliação. Nas coberturas de eventos esportivos importantes, os
fotógrafos montavam minilaboratórios nos banheiros dos hotéis, por exemplo,
revelando as fotografias captadas nos estádios e ginásios onde aconteciam as
competições. Hoje, em segundos, é possível ver os cliques e editá-los.

Desde as fotografias de esportes do francês Jacques Henri Lartigue (1894-1986),


na década de 1920 (Fig. 29), elas vêm sendo aprimoradas e impulsionadas pelos
desenvolvimentos tecnológicos, que criaram novas possibilidades expressivas.

Figura 29 – Jacques Henri Lartigue. Suzanne Lenglen, Nice, 1921


Fonte: Jacques Henri Lartigue, 1921

A evolução técnica da fotografia pode, conforme Oliveira (2012), ser dividida


em dois momentos fundamentais, ainda mais em relação à fotografia de ação
(esportes, natureza, cobertura de eventos):
1. As câmeras de 35 mm com controle de velocidade, que permitiram aos
fotógrafos o registro de imagens em movimento, por volta dos anos
1920/1930.
Para o fotojornalismo, a conquista do movimento revelou-se de impor-
tância vital, uma vez que permitiu “congelar” a ação, imprimi-la numa
imagem quase em tempo real, capturar o imprevisto, chegar ao instantâ-
neo e, com ele, acenar com a ideia de verdade: o que é assim capturado
seria verdadeiro; a imagem não mentiria [...] (OLIVEIRA apud SOUSA,
2000, p. 30.)

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2. A tecnologia digital, surgida comercialmente nos anos 1990, que beneficiou
sobremaneira o profissional especializado em fotografia de ação. A automa-
ção da tomada fotográfica liberou o fotógrafo para fixar sua atenção no visor
da câmera, monitorando com mais precisão o desenrolar da ação.
No fotojornalismo a máquina digital começou a ser testada na Copa do
Mundo de Futebol dos Estados Unidos de 1994, mas o formato diferen-
te do corpo de câmera e as dificuldades em se transmitir os fotogramas
resultaram em seu pouco uso. Foi em outro grande evento esportivo que
esta tecnologia começou a chamar a atenção dos profissionais, nas olim-
píadas de Atlanta, em 1996, vários fotógrafos utilizaram o equipamento.
(OLIVEIRA, 2012, p. 2.)

Figura 30 – Eugênio Sávio. Atlético Mineiro, 2003. Fotografia


Fonte: SANTOS, 2004

Oliveira (2012, p. 7) afirma que comparar um fotógrafo a um atleta pode pa-


recer exagero, no entanto existem muitas semelhanças entre estas duas partes:
“Para a realização de um bom trabalho no campo do fotojornalismo esportivo é
necessário muito treino”. Segundo ele, assim como um jogador de qualquer mo-
dalidade, o fotógrafo necessita de muita prática para conseguir um bom resultado
no seu trabalho. “Uma das melhores maneiras de exercitar a fotografia esportiva
é presenciar treinamentos das equipes em pauta. Geralmente é quando os atletas
simulam situações de jogo e o fotógrafo pode trabalhar sem a pressão da cobertura
de uma partida oficial”, ensina.
Explor

Leo Mason. Olimpíada de Beijing, 2008: https://goo.gl/xATh74

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UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
10 Fotógrafos de Gastronomia para Seguir no Instagram
https://goo.gl/E5JdRg

 Livros
Fundamentos da Fotografia Criativa
PRAKEL, David. Fundamentos da fotografia criativa. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.

 Filmes
Amnésia (Memento)
Direção: Christopher Nolan. Estados Unidos, 2000. Sinopse: homem sofre de distúr-
bios de memória recente. O personagem, então, lança mão de várias estratégias para
encontrar segurança diante dos desdobramentos da trama, já que não tem a memória
natural. Um deles, além de tatuagens e anotações de caneta no corpo, é justamente o
uso de Polaroids para criar esse lugar de referência.
Sentença de um Assassino
Direção: Joshua Sinclair. Estados Unidos, 2008. Sinopse: Na década de 1950, o fotó-
grafo Philippe Halsman se torna famoso por fotografar artistas de sua geração, crian-
do imagens inesquecíveis de famosas personalidades, como Salvador Dali, Marilyn
Monroe, entre outros. Antes de ir para os Estados Unidos, porém, Halsman vive um
fato terrível. Ao embarcar para uma caminhada turística pela Áustria com seu pai, com
o qual mantinha uma relação turbulenta, algo inesperado acontece. O pai é encon-
trado morto numa trilha, e Halsman acaba sendo declarado culpado pela morte dele.

32
Referências
CAIN, Abigail. Food photography didn’t start on onstagram – Here’s its 170
year history (Fotografia de alimentos não começou no Instagram – Aqui está sua
história de 170 anos). 2017. Disponível em: <https://www.artsy.net/article/ar-
tsy-editorial-food-photography-start-instagram-170-year-history>. Acesso em: 25
jun. 2018.

CARVALHO JÚNIOR, Rone Fabio; VASCONCELOS, Andrei da Silva; SILVA,


Fernando Nogueira da. Fotografia de esportes: a evolução tecnológica e o seu auxí-
lio na valorização da imagem esportiva. In: 16º Congresso Nacional de Iniciação
Científica, Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior/Semesp, 2016. Dispo-
nível em: <http://conic-semesp.org.br/anais/files/2016/trabalho-1000023096.
pdf>. Acesso em: 25 jun. 2018.

DIAS, António Pedro. A cor na fotografia: reflexão sobre a evolução histórica e


ensaio prático. Dissertação apresentada à Creative University, curso de Design e
Cultura Visual. Laureate International Universities, Lisboa, 2016. Disponível em:
<https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/17220>. Acesso em: 19 jun. 2018.

DIAS, Guilherme et al. Paparazzi – Profissional sem celebridade. In: XXI Con-
gresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, Intercom – Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Salto/SP, 17 a 19 jun.
2016. Disponível em: <http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2016/
resumos/R53-1001-1.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018.

ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Fotografia publicitária. 2018. Disponível


em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3868/fotografia-publicitaria>.
Acesso em: 22 jun. 2018.

EPRIN – Escola Profissional da Raia. A evolução da câmara fotográfica. 2018.


Disponível em: <https://www.eprin.net/gamanho/fotpb/AEvolucaodaCamara-
Fotografica.pdf>. Acesso em 30 mai. 2018.

FELZ, Jorge Carlos. A fotografia de imprensa nas primeiras décadas do século


XX – O desenvolvimento do moderno fotojornalismo. In: 6º Encontro Nacional
da Rede Alfredo de Carvalho/Alcar. Associação Brasileira de Pesquisadores de
História da Mídia, Niterói/RJ, 2008. Disponível em: <https://bit.ly/2shV9Py>.
Acesso em: 29 mai. 2018.

FRANDOLOSO, Luís Fernando. Retratos do cotidiano: o instantâneo fotográfico


a partir da Polaroid até o Instagram. Disponível em: <http://www.uel.br/even-
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O%20INSTANTANEO.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2018.

GASPAR, Ricardo Carlos. A trajetória da economia mundial: da recuperação do


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v17n33/2236-9996-cm-17-33-0265.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2018.

33
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UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

GOTTSCHALK, Molly. Celebrity photographer Mark Seliger on the stories


behind 8 of his iconic portraits (Fotógrafo de celebridades Mark Seliger e as
histórias por trás de oito de seus retratos icônicos). 2018. Disponível em: <https://
www.artsy.net/article/artsy-editorial-celebrity-photographer-mark-seliger-stories-
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OLIVEIRA, Pedro Revillion de. A fotografia esportiva e o momento decisivo. In:


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PALMA, Daniela. Fotografia e publicidade: primeiro ato. In: V Congresso Na-


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disciplinares da Comunicação, São Paulo/SP, 2007. Disponível em: <http://
www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/5o-encon-
tro-2007-1/Fotografia%20e%20publicidade%20primeiro%20ato.pdf>. Acesso
em: 22 jun. 2018.

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SABBAG, Pércia Helena. Fotografia gastronômica: um convite a comer com os


olhos. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunica-
ção da Universidade Paulista/Unip, 2014. Disponível em: <https://www.unip.br/
presencial/ensino/pos_graduacao/strictosensu/comunicacao/download/comu-
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SALLES, Filipe. Breve história da fotografia. 2004. Disponível em: <http://


www.miniweb.com.br/artes/artigos/Hist%F3ria_fotografia.pdf>. Acesso em: 31
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SANTOS, Rui Cezar dos. Anotações sobre a fotografia de futebol. In: Revista
Mediação, Universidade Fundação Mineira de Educação e Cultura/Fumec, nº 4,

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dez. 2004. Disponível em: <http://www.fumec.br/revistas/mediacao/article/
view/242/239>. Acesso em: 25 jun. 2018.

TIME. Ron Galella, King of the Paparazzi (Ron Galella, Rei dos Paparazzi). Disponível
em: <http://content.time.com/time/photogallery/0,29307,2008078_2171511,00.
html>. Acesso em: 22 jun. 2018.

TOREZANI, Julianna Nascimento. A fotografia anos 1950 – Parte 2. 2015.


Disponível em: <http://ikoneblog.blogspot.com/2015/03/a-fotografia-anos-
-1950-parte-2.html>. Acesso em: 21 jun. 2018.

35
35
História e Estética
Fotográfica
Material Teórico
O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
O Mundo passa a ser Digital e
a Fotografia de Pets e Newborn

• Introdução;
• Origem da Fotografia Digital;
• A Tecnologia Avança em Alta Velocidade;
• Consolidação e Popularização da Fotografia Digital;
• Em que Direção Caminhamos?
• Os Novos Subgêneros Fotográficos: Animais de Estimação e Newborn.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer a origem da fotografia digital e como a tecnologia modi-
ficou para sempre a fotografia, tanto técnica, quanto artisticamente.
Reconhecer como decorreu a popularização da fotografia a partir da
criação de novos dispositivos cada vez mais ao alcance da popula-
ção, tanto em custo, quanto em facilidade de manuseio. Valorizar os
novos subgêneros fotográficos, animais de estimação e newborn, a
partir de sua história e contexto atual.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

Introdução

Figura 1 – Alain Fleischer. Caminho da alegria, pista de atletismo


Estádio de Mármore, Roma, 1995. Fotografia digital
Fonte: medienkunstnetz.de

A fotografia é muito mais recente, ainda estamos na fase da pintura ru-


pestre. Talvez daqui a 500 anos cheguemos à Renascença da fotogra-
fia. Michael Hoppen, colecionador, curador e marchand de fotografia
(INGLEDEW, 2015, p. 6).

A câmera da Kodak, lançada em 1888, entrou para a história por mudar radi-
calmente a relação do homem com a fotografia. Seu slogan era simples, claro e ob-
jetivo: “Você aperta o botão, nós fazemos o resto”. George Eastman (1854-1932)
buscou incessantemente a popularização da fotografia. E conseguiu.

Hoje, você aperta o botão do seu smartphone e tem inúmeros aplicativos à


disposição, com as mais variadas funções e com a liberdade para criar sobre a ima-
gem captada. “As pessoas não querem mais somente eternizar o passado, querem
também decidir sobre como as imagens serão construídas, editadas, apresentadas”
(FARIAS, 2014, p. 8).

O desenvolvimento da fotografia digital mudou a maneira de se trabalhar com


fotografia. Não importa se o registro fotográfico é sobre cidades, vida cotidiana,
costumes, natureza ou qualquer outro tema, os avanços tecnológicos dos equipa-
mentos – consequentemente, da fotografia – proporcionam a exploração de novos
horizontes, praticamente sem limites.

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Origem da Fotografia Digital
A automação dos equipamentos fotográficos, até meados do século XX, estava
voltada para aspectos mecânicos da câmera como passagem de filmes, prevenção
de dupla exposição, retorno automático do espelho de visualização, entre outras
questões. A partir desse momento, a inserção de componentes eletrônicos, capazes
de colocar em funcionamento modos de programação complexos, passaram a ter
grande influência sobre a forma de aquisição de imagens em fotografia.

A introdução de componentes eletromecânicos nas câmeras fotográficas foi


orientada pela mesma demanda que levava a automação na indústria, ou seja,
aumento de produção, controle dos padrões de qualidade, redução dos custos de
produção. A primeira imagem digital em um computador foi captada em 1957,
pelo engenheiro e pesquisador norte-americano Russel Kirsch, trabalhando para
o órgão governamental National Bureau of Standards (hoje, Instituto Nacional
de Padrões e Tecnologia). Kirsch desenvolveu um scanner no qual produziu uma
imagem digital a partir de uma fotografia do seu filho (Fig. 2). Iniciava, também, a
história da fotografia digital.

Figura 2 – Primeira imagem digital, feita em 1957,


mostra o filho do pesquisador Russell Kirsch
Fonte: nist.gov

Em 1969, George Smith e Willard Boyle, dos Laboratórios Bell, também nos
Estados Unidos, desenvolveram o CCD (Charge-Coupled-Device), Dispositivo de
Carga Acoplada (em português), elemento vital no desenvolvimento da fotografia
digital. “O sensor permite converter luz em sinais eléctricos. Esta invenção consti-
tuiu a peça tecnológica-chave, que conduziu à revolução da fotografia digital” (IPF,
2017). Comercializado apenas a partir de 1973, pela Fairchild Imaging, o sistema
CCD, na época, era capaz de capturar imagens com resolução de 0,01 megapixel,
ou 100 pixels (pixel é o menor ponto que forma uma imagem digital).

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UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

Mas foi em 1975 que o engenheiro da Eastman Kodak, Steve Sasson, apresentou
o protótipo da primeira câmera sem filme, aquela que podemos identificar como a
primeira câmera fotográfica digital, ao reunir em um único equipamento um sensor
Fairchild CCD e uma objetiva de uma câmera de filmar da Kodak. A câmera pesava
cerca de quatro quilos (não tinha nada de portátil) e produzia apenas imagens digitais
em preto e branco, que eram gravadas em uma fita de videocassete. Entretanto, a
Kodak tinha todo o seu modelo de negócio na fotografia analógica e “nunca apostou
verdadeiramente no desenvolvimento da fotografia digital” (IPF, 2017).

O ano seguinte (1976) marca outro momento fundamental no desenvolvimento


da captura da imagem digital: Bryce Bayer inventa o Bayer Color Filter Array (Filtro
Bayer, ou Padrão Bayer) (Fig. 3), sistema de filtro que permite a um sensor registar
imagens em cores, utilizado até hoje na maioria das câmeras digitais modernas.

Figura 3 – Representação gráfica do filtro Bayer


Fonte: Wikimedia Commons

Em paralelo, outros avanços apontavam inexoravelmente para a automação dos


equipamentos fotográficos. A colocação no mercado da primeira câmera com ex-
posição automática é reivindicada, conforme Libério (2013), pela alemã Agfa, com
o modelo Agfa Optima, em 1959, foi um deles. E, em 1977, é lançada comercial-
mente a japonesa Konica C35AF (Fig. 4), a primeira câmera capaz de calcular o
foco de forma eletrônica, a partir de dois fotosensores instalados (autofoco) e com
exposição automática.

Figura 4 – A japonesa Konica C35AF, a primeira produzida


comercialmente com autofoco, em 1977

10
A Tecnologia Avança em Alta Velocidade
Enfim, chegamos ao momento do desenvolvimento da primeira câmera verda-
deiramente digital. Em 1981, uma equipe de cientistas da University of Calgary
Canada criou a All-Sky Camera, com um sensor CCD da Fairchild de 100 x 100
pixels, concebida com o objetivo de fotografar auroras boreais. O equipamento
obteve o status de digital, pois foi a primeira que utilizou um microcomputador para
processar as imagens capturadas. No mesmo ano, a Sony lançaria comercialmente
a Mavica (abreviatura de MAgnetic VIdeo CAmera), basicamente uma câmera de
TV que congelava imagens (câmera de vídeo estático).
Com a inserção da fotografia no campo da tecnologia digital, os sensores que
antes eram externos ao modo de existência da fotografia analógica – a própria
película – passaram a ocupar o lugar central.
Na fotografia digital vemos a transformação do equipamento fotográfico
em uma máquina sensora, capaz de receber e processar informações.
Com esta transformação, a complexidade das programações de contro-
le no âmbito do aparelho fotográfico chegou a interessantes extremos.
Para além da sofisticação nos cálculos de exposição e focagem automá-
tica, surgem modos de aquisição fotográfica que chegam mesmo a subs-
tituir o papel do fotógrafo naquele que foi, durante todo o século XX,
considerado o momento místico e central de consecução de uma imagem
fotográfica: o momento do clique (LIBÉRIO, 2013, p. 9).

Conforme Libério (2013, p. 12), “o lugar de desconfiança acerca do digital não


é, portanto, a questão da geração da imagem em si, mas o das possibilidades de
modificação do registro científico da imagem através de escolhas feitas pelos ope-
radores dos dispositivos”. De acordo com a autora, apenas em áreas da fotografia
documental é que a questão da possibilidade de edição a partir do meio digital
provoca polêmicas. Embora saibamos que isso já era feito no sistema analógico.

Com o processo de migração do meio analógico para o sistema digital consoli-


dado, observamos a proliferação de celulares com câmera e aplicativos de edição,
os smartphones. No Brasil, conforme a 29ª Pesquisa Anual de Administração e
Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo (FGV-SP), divulgada em abril de 2018, o Brasil superou a
marca de um smartphone por habitante e contava com 220 milhões de celulares
inteligentes ativos. Segundo o levantamento, em dezembro de 2017, o país atingiu
210 milhões de habitantes (MEIRELLES, 2018).

Outro avanço significativo ocorreu em 1988, quando a japonesa Fujifilm anun-


ciou o lançamento comercial da primeira câmera que armazenava informações
em um cartão de memória removível. Um avanço absolutamente revolucionário.
O cartão de memória utilizado pela Fujix DS-1P (Fig. 5) possibilitava armazenar
informações correspondentes entre cinco e dez fotografias. E, um ano depois, a
Macintosh (leia-se Apple) lançaria aquele que é considerado o primeiro software de
edição de imagem, o Color Studio 1.0.

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11
UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

Figura 5 – Fujix DS-1P, da Fujifilm: a primeira


câmera a utilizar um cartão de memória
Fonte: Divulgação

Consolidação e Popularização
da Fotografia Digital
A partir da última década do século XX, foram registrados avanços significativos
na implementação e utilização da tecnologia digital na fotografia e sua efetiva popu-
larização no mercado, quer profissional ou amador. Logo, em 1990, a Adobe lançou
a primeira versão do Photoshop, importante marco na história da fotografia digital.
O software de edição de imagem é o mais utilizado atualmente no mercado em fun-
ção de seus recursos de edição de fotografias (IPF, 2013). Entretanto, um ano antes,
a Macintosh havia lançado o software de edição de imagem Color Studio 1.0.

Em 1991, outra boa notícia. A Kodak lança no mercado o primeiro sistema de


fotografia SLR digital voltado a fotojornalistas: o Kodak Professional DCS 200 IR,
popularmente conhecido como DCS 100 (sim, o revisor de uma revista nomeou a
câmera como DCS 100 e, acredite, pegou). O sistema consistia no corpo de uma
câmera analógica Nikon F-3 adaptado, acoplado a um motor e a um sensor CCD
de 1.3 megapixel. As fotos capturadas eram armazenadas em uma unidade digital
separada (DSU) que se conecta à câmera por meio de um cabo (Fig. 6) (KODAK,
2018). Ao adquirir o equipamento, o fotógrafo ganhava um estojo rígido para car-
regar o, digamos, grande equipamento.

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Figura 6 – Jarle Aasland. Sistema Kodak Professional DCS 200 IR,
popularmente conhecido como DCS 100, de 1991
Fonte: Wikimedia Commons

A partir desse momento, inicia uma verdadeira corrida das empresas na busca
de melhorias nos equipamentos digitais. Várias marcas começaram a investir tempo
e recursos no aumento da resolução e na capacidade de armazenamento. Vamos
conferir alguns desses momentos mais marcantes:
1994
· Apple Computer lança a Apple QuickTake 100 (Fig. 7), câmera
digital (fabricada pela Kodak) em cores com as resoluções de
640 x 480 pixels (máximo de oito fotos armazenadas), de 320
× 240 pixels (32 fotos) ou uma mistura de ambas resoluções,
e lentes de foco fixo de 50 mm. A câmera se conectava a
qualquer Macintosh por meio de um cabo serial da Apple. As
fotos só podiam ser visualizadas no computador.
· Olympus apresenta a Deltis VC-1100, a primeira câmera com
um sistema de transmissão de fotos integrado, que permitia
enviar imagens por modem ligado a telefones fixos ou celulares
para outras câmeras ou computadores, com resolução de
768 x 576 pixels. As fotos eram armazenadas em cartões de
memória removível.
Figura 7 – QuickTake 100, da Apple Macintosh
Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

1997

·· Hitachi coloca no mercado a MP-EG1, primeira câmera digital


a transferir para o computador vídeos no formato MPEG.
·· Sony lança a Cybershot DSC-MD1 (Fig. 8), primeira a gravar
imagens a laser em pequenos discos plásticos no formato JPEG.
·· Philippe Kahn, engenheiro francês, é reconhecido como o pri-
meiro desenvolvedor da câmera fotográfica em um aparelho de
telefonia móvel. Ele reuniu um celular Motorola StarTAC, um lap-
top Toshiba, uma câmera digital Casio QV-10 e um emaranhado
de fios. Em 1999, Kahn conseguiria, por meio de uma parceria
com a Sharp e com uma pequena operadora de telefonia móvel
japonesa, criar o primeiro “câmera-fone” no país asiático.
Figura 8 – Cybershot DSC-MD1, da Sony
Fonte: Wikimedia Commons
1999

·· Nikon apresenta a Nikon D1 (Fig. 9), câmera fotográfica reflex


digital (DSLR), com sensor de 2.7 megapixels, que permitia
a utilização de toda a linha de objetivas F-mount da Nikon.
O corpo da câmera era praticamente igual ao da câmera
analógica F5, que permitia rápida adaptação dos fotógrafos
à nova câmera.

Figura 9 – Nikon D1, da Nikon


Fonte: Wikimedia Commons
2000

·· Canon lança a câmera EOS D30 (Fig. 10), com um sensor de


8.2 megapixels, corpo pequeno e leve, modo de fotografia
automático; ajudou a expandir a utilização da fotografia di-
gital a fotógrafos amadores.

Figura 10 – EOS D30, da Canon


Fonte: Wikimedia Commons

14
2002

· Canon lança a EOS 1Ds (Fig. 11), a primeira câmera full-frame


digital (sensor que captura as imagens com tamanho de 35
mm) capaz de atender ao exigente mercado profissional.
Full-frame oferece resultados mais nítidos, com menos ruído;
maior versatilidade para o controle de foco e uso de lentes,
além de sensibilidade maior para captura de qualidade de
imagens em sombra e em luz.

Figura 11 – EOS 1Ds, da Canon


Fonte: Wikimedia Commons
2009

· Fuji apresenta o modelo FinePix Real 3D W1 (Fig. 12), primeira


câmera digital 3D, que filma e fotografa em três dimensões.

Figura 12 – FinePix Real 3D W1


Fonte: Wikimedia Commons
2012

· Sonylança a DSC RX-1 (Fig. 13), a primeira câmera compac-


ta com sensor full-frame Exmor CMOS de 35 mm e 24 MP, o
mesmo utilizado na SLT-A99 de nível profissional da Sony. O
equipamento vem com lente Zeiss profissional e um potente
motor de processamento.

Figura 13 – DSC RX-1, da Sony


Fonte: Wikimedia Commons
Fontes: Conti, 2017; Paschoal, 2015; IPF, 2013.

Uma câmera digital profissional de alto rendimento pode durar fisicamente


em torno de dez anos, “mas como a tecnologia progride com muita rapidez,
começa a ficar obsoleta já no momento da compra”, afirma Präkel (2015, p.
188). Conforme o autor, uma câmera D-SLR dura de dois a três anos nas mãos
de um fotógrafo profissional.

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UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

O impacto da tecnologia digital no mercado da fotografia profissional foi


imenso. Muitos clientes pensam equivocadamente que a tecnologia digital
significa “gratuidade” no sentido de que uma vez comprado o equipamento,
não haverá mais gastos com filmes e revelação. (...) O que esse argumento
não leva em conta é o capital investido no equipamento digital e o curto
prazo em que esse capital deve ser amortizado (PRÄKEL, 2015, p. 188).

Outra questão contemporânea importante é sobre a nova geração de software


para computadores, planejada para satisfazer as necessidades do fotógrafo profis-
sional. Conforme Präkel (2015, p. 190), o Adobe Photoshop Lightroom e o Apple
Aperture “tomam o fluxo de trabalho fotográfico como ponto de partida para seu
planejamento”. A maioria dos profissionais utiliza uma seleção pessoal de aplicati-
vos, preferindo, geralmente, misturar e combinar programas que se ajustem às suas
necessidades e seu estilo de trabalho fotográfico.

Em que Direção Caminhamos?


Apesar dos grandes avanços técnicos, houve poucas mudanças na maneira
de se fotografar. “A fotografia (...) precisa gerar formas radicalmente novas”
(ANG, 2015, p. 382). Em relação ao mercado de trabalho, Präkel (2015)
entende que o panorama mudou nos últimos anos, especialmente em relação à
tecnologia e emprego:
Você terá que possuir grande domínio técnico da fotografia – e algumas
competências em âmbitos relacionados, como a escrita, o webdesign, o
retoque ou a catalogação. Para trabalhar como fotógrafo nas indústrias
criativas você não pode confiar só na técnica. Em qualquer momento ou-
tro descobrirá o truque e copiará, ou até melhorará, aquilo que você tinha
conseguido (2015, p. 192).

Diante da rápida e da profunda transformação que está ocorrendo no universo


globalizado digitalmente, segundo Mansur (2005, p. 6), “é muito importante a
formação de profissionais que documentem os momentos por meio de imagens”.
Segundo ele, para isso, será necessário aperfeiçoamento e constante reciclagem,
tanto na área técnica, social, política, quanto cultural. O autor reproduz uma opinião
do fotógrafo Sebastião Salgado:
O fotógrafo para ser fotógrafo precisa de uma grande quantidade de hu-
mildade e a cada manhã dizer que ele não compreendeu, que ele não
é nada, que ele ainda não é fotógrafo, que ele tem de compreender a
sociedade, que há muita coisa para aprender, e que tem de refazer tudo
que fez (2005, p. 6).

Conforme Ang (2015, p. 382), existe uma grande diferença entre as imagens
tiradas pelo usuário padrão do Facebook e aquelas obtidas pelos fotógrafos
profissionais a serviço de empresas de banco de imagens e de agências de

16
notícias (Associated Press e Reuters), por exemplo: “Embora a profissão de
fotógrafo tenha passado por uma crise na virada do milênio, quando a era digital
disponibilizou equipamentos de alta qualidade a preços acessíveis, a tecnologia
não confere aos usuários visão certeira e talento artístico”. O autor salienta que
a tecnologia não melhora a capacidade individual de fazer fotos, “apenas facilita
habilidades existentes”.

O aperfeiçoamento do talento amador está cada vez mais evidente pela qualidade de mi-
Explor

lhares de inscrições feitas nos principais concursos internacionais como, por exemplo, o
Prêmio Mundial de Fotografia da Sony (Sony World Photography Awards), nas categorias
Profissional, com o reconhecimento de obras excepcionais; Open, que premia as melho-
res imagens individuais do mundo; Prêmios Nacionais, que celebra o talento fotográfi-
co local; Youth, que premia as melhores imagens individuais de fotógrafos entre 12 e 19
anos; e Student Focus, voltado a estudantes de fotografia de todo o mundo. Confira em:
https://goo.gl/e3ckzi. Temos, também, o Prémio de Fotografia ZEISS (ZEISS Photography
Award). O prémio é organizado pela Zeiss e pela Organização Mundial de Fotografia (World
Photography Organisation). Em 2017, cerca de 4,7 mil fotógrafos de 132 países apresenta-
ram mais de 31 mil fotografias. Confira os dois concursos em: https://goo.gl/Ed3dfk

Figura 14 – Nick Hannes (1974-), vencedor do Prêmio


de Fotografia ZEISS 2018. Jardim do prazer, 2018
Fonte: worldphoto.org
Confira outras imagens do fotógrafo em: https://goo.gl/43b74p

“Assim como a fotografia foi moldada pela tecnologia no passado, isso também
acontecerá no futuro” (ANG, 2015, p. 382). Conforme o autor, na verdade, a
maior influência sobre a fotografia não foi a câmera digital, mas a sua versão no
smartphone: “O surgimento de uma câmera dessas, prontamente disponível, am-
pliou o escopo da fotografia” (p. 382). Além disso, ele lembra que o celular com
câmera gerou um fenômeno genuinamente novo: a possibilidade de compartilha-
mento das imagens pela internet.

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UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

Os Novos Subgêneros Fotográficos:


Animais de Estimação e Newborn
História da Fotografia de Animais de Estimação
A fotografia de animais estimação ainda é, de certa forma, desconhecida por
muitos. Mas a história da fotografia mostra que animais têm participado de com-
posições de imagens fotográficas desde o seu início, mesmo com as dificuldades
técnicas da época – para que a imagem fosse formada corretamente, o tempo de
exposição era longo e deveria se adequar à imobilidade. O que, digamos, não é
característica de grande parte dos animais.

Em 1854, o fotógrafo canadense naturalizado norte-americano Alexander Hesler


(1823-1895) produziu uma daguerreotipia (Fig. 15) que entrou para a história por
sua qualidade composicional, que se assemelha muito a uma pintura, característica
da fotografia na época. Com uma pose e rosto angelicais, uma menina segura dois
pássaros, um preto e um branco, tendo no canto inferior direito da imagem, um
coelho em cima do vestido da criança. “Apesar de mostrar uma criança com três
animais, não há espontaneidade, ou demonstração de afeto, parece que todos os
elementos foram colocados juntos apenas para a fotografia”, analisa Limberger
(2011, p. 31). Entretanto, a autora chama a atenção para o título da fotografia:
Três animais de estimação, “O que nos leva a crer que desde aquela época essa
relação entre ser humano e animais de estimação não só era valorizada, como
também havia o interesse de ser registrada”.

Figura 15 – Alexander Hesler. Três animais de estimação, 1854. Daguerreotipia


Fonte: getty.edu

18
Já a imagem de Thomas Eakins (1844-1916) (Fig. 16), também ficou marcada
na história, mas por sua espontaneidade. O daguerreótipo mostra uma mulher de
cabelos claros com um gato em seu ombro. Ela tem os olhos baixos, concentrados
na leitura de um livro, enquanto o gato olha fixo para a câmera. “Percebe-se a in-
teração entre a mulher e o gato, a provável confiança que eles têm um pelo outro;
pela maneira como ele está posicionado no ombro dela e como ela gentilmente o
segura” (LIMBERGER, 2011, p. 33).

Figura 16 – Thomas Eakins. Amelia Van Buren a cat, 1891


Fonte: Wikimedia Commons

Avançando um pouco no tempo, no início do século XX, cartões postais viraram


febre de consumo, principalmente nos Estados Unidos. “Esses cartões representa-
vam uma espécie de humor irreverente, por isso cães, crianças, brincadeiras eram
os assuntos escolhidos para estampá-los” (LIMBERGER, 2011, p. 33). O interesse
em guardar uma lembrança com a imagem de animais de estimação acompanha o
ser humano desde o surgimento da fotografia.

Na realidade, o fator que mais gera encantamento na fotografia é o poder que


ela tem de inventar ou descobrir uma nova realidade. Por isso, Limberger lembra
que, mesmo os avanços técnicos ajudando a fotografia a transmitir essa realidade,
é muito importante o olhar aguçado e sensível do fotógrafo. Na fotografia de ani-
mais de estimação não é diferente. Todas as técnicas do gênero retrato podem – e
devem – ser utilizadas. Assim, a sensibilidade do fotógrafo é fundamental e causa
toda a diferença. Atualmente, a tecnologia não é mais problema para a fotografia,
a diferença está justamente no toque personalizado do profissional.

19
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UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

A sensibilidade surge com a observação. Quanto mais se observa um lugar,


uma pessoa ou um objeto, maior a possibilidade de ver o que ninguém mais
viu. É comum encontrar um grande número de fotógrafos com o mesmo
nível de qualidade e conhecimento. Difícil são os que se destacam. Somente
aqueles que despendem boa parte do tempo observando, procurando o
melhor ângulo, a expressão única, a luz diferenciada e o assunto visto por
uma perspectiva nova é que se diferenciam. (LIMBERGER apud CESAR,
2000, p. 211).

Figura 17 – Miras Wonderland. Filhote de buldogue francês bonito em um


balde de sauna de madeira em um cenário de casa de banho rosa, 2017
Fonte: iStock/Getty Images

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em


2013, o Brasil contava com mais de 132 milhões de animais de estimação, sendo
39,4% cães; 28,7% aves canoras (pássaros que cantam) e ornamentais; 16,7%
gatos; 13,6% peixes; e, 1,6% outros (répteis e pequenos mamíferos) (BRASIL,
2013). Esses números demonstram o potencial do mercado para fotos de animais
de estimação no país.

Um exemplo prático da atividade profissional de fotógrafo de animais de estimação é a


Explor

empresa Cão em Quadrinhos – Fotografia de estimação, com sede em Porto Alegre/RS.


“Nosso produto final é fotografia, tendo como vertentes o design, o ensino, a informação, as
campanhas e, principalmente, a troca de experiência. Não seguimos tendências, seguimos
nossos corações, portanto, nos mantemos fiéis a uma constante: nosso amor pelos animais”,
afirma a empresária e fotógrafa Manoela Dutra, no site da empresa: https://goo.gl/B3dZru

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Breve História da Contemporânea Fotografia Newborn
Vivemos um momento no qual se tornou comum fazer registros de todos os nos-
sos momentos marcantes. Os primeiros dias de recém-nascidos, por exemplo, são
importantes para a família, mas passam muito rápido. O subgênero da fotografia
conhecido como newborn – recém-nascido, em inglês – se tornou hoje muito mais
que registrar momentos. Agora é possível usar a imaginação e contar histórias por
meio da fotografia, fazendo uma narrativa daquilo que gostaríamos que ficasse
eternizado na memória da família. Mais comum nos Estados Unidos e na Austrália,
a fotografia newborn tem crescido nos últimos anos no Brasil.

O ensaio newborn tem por objetivo registrar os primeiros dias de vida do bebê,
normalmente até o 15° dia. Existem, basicamente, duas vertentes: pose/estúdio,
que apresenta uma produção, tanto em relação ao cenário e acessórios quanto às
poses do bebê e dos pais; e life style (estilo de vida), fotos mais espontâneas e na-
turais, que registram o recém-nascido e sua família, na própria residência.

A história da fotografia newborn é recente. Nas décadas de 1980 e 1990 a


cena da fotografia newborn ganhou destaque mundial com o trabalho inédito da
australiana Anne Geddes (1956-). Fotos de adoráveis bebês sentados em vasos de
flores ou em algum cenário inusitado emplacaram em livros, calendários e outros
itens comerciais. As imagens de Anne captam singularmente a beleza, a pureza e a
vulnerabilidade das crianças, incorporando sua crença profunda de que toda crian-
ça merece ser “protegida, nutrida e amada” (GEDDES, [2018]).

A primeira fotografia de Anne que se tornou famosa e icônica em todo o mundo


foi produzida, em 1991: dois bebês gêmeos de sete meses, sentados em repolhos,
com uma folha na cabeça e olhos fixos um no outro (Fig. 18).

Figura 18 – Anne Geddes. Os gêmeos Rhys e Grant, 1991. Fotografia


Fonte: Anne Geddes, 1991

Desde 1992, a organização filantrópica de Anne doou mais de 5,7 milhões de


dólares para instituições de caridade do mundo inteiro. Calendários ainda são pro-
duzidos tendo os pequenos bebês como principal assunto. Anne também ganhou
inúmeros prêmios por seu trabalho inovador. A massificação da internet e da ma-
nipulação de imagens foram fundamentais para esse sucesso.

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UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

Explor
No website de Anne Geddes (https://goo.gl/DLb5CK) você poderá fazer download gratuito de
papéis de parede (wallpapers) com trabalhos da fotógrafa. E, também, o site da Associação
Brasileira de Fotógrafos de Recém-Nascidos (ABFRN) (https://goo.gl/aWDTHZ). Vale a pena
dar uma olhada!

Figura 19 – Anne Geddes. Wallpaper de junho 2018


Fonte: Anne Geddes, 2018

“Podemos concluir que o fotógrafo de newborn é sim um contador de histórias,


no qual em sua narrativa faz a união da emoção, da composição e da técnica para
produzir as fotografias” (GODOI; BAPTISTA; DIAS, 2017, p. 10).

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Os 7 Passos da Fotografia Newborn
INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA. Os 7 passos da fotografia newborn.
https://goo.gl/Koc1g6
Blog de Fotografia Canon College
https://goo.gl/yYyyrs

Livros
Manual do Fotógrafo de Rua
GIBSON, David. Manual do fotógrafo de rua. São Paulo: Gustavo Gili, 2016.
Diante da Dor dos Outros
SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

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UNIDADE O Mundo passa a ser Digital e a Fotografia de Pets e Newborn

Referências
ANG, Tom. Fotografia – O guia visual definitivo do século XIX à era digital. São
Paulo: Publifolha, 2015.

CONTI, Fátima. História da informática e da internet: 1990-1999, 2017.


Disponível em: <http://www.ufpa.br/dicas/net1/int-h199.htm>. Acesso em:
29 jun. 2018.

FARIAS, Lídia; GONÇALVES, Osmar. A fotografia ao longo do tempo: da Ko-


dak ao Instagram. XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nor-
deste da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comu-
nicação. João Pessoa/PB, 2014. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/
anais/nordeste2014/resumos/R42-1656-1.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2018.

GEDDES, Anne. Sobre Anne, [2018]. Disponível em: <http://www.annegeddes.


com/aboutanne/>. Acesso em: 3 jul. 2018.

GODOI, Marlon Avila; BAPTISTA, Íria Catarina Queiróz; DIAS, Ricardo Henrique
Almeida. Newborn: a fotografia como instrumento de registro histórico. In: XVIII
Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, Caxias do Sul/RS,
15 a 17 jun. 2017. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicação. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/anais/sul2017/
resumos/R55-1321-1.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2018.

HACKING, Juliet (ed.). Tudo sobre fotografia – Técnicas criativas de 100 grandes
fotógrafos. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.

INGLEDEW, John. Fotografia. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.

IPF – INSTITUTO PORTUGUÊS DE FOTOGRAFIA. História da fotografia digi-


tal: uma introdução, 2017. Disponível em: <https://www.ipf.pt/site/historia-fo-
tografia-digital/>. Acesso em: 26 jun. 2018.

KODAK. Milestones, [2018]. Disponível em: <https://www.kodak.com/BR/pt/


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LIBÉRIO, Carolina Guerra. Indústria fotográfica e fotografia do século XX ao XXI.


In: 9º Encontro Nacional de História da Mídia, Intercom – Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Ouro Preto/MG, 2013. Disponível
em: <http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/9o-encontro-2013/arti-
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LIMBERGER, Francisca Muller. Fotografia de estimação: um estudo de caso que


aborda a recordação como desejo de consumo. Trabalho de conclusão de cur-
so, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade Federal do Rio
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br/bitstream/handle/10183/31806/000785570.pdf?sequence=1>. Acesso em:
29 jun. 2018.

24
MANSUR, Douglas Amparo. O futuro da documentação fotográfica na era digital.
In: I Encontro Paulista de Professores de Jornalismo, Universidade de Soro-
caba/SP, Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, 2005. Disponível em:
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MEIRELLES, Fernando. 29ª Pesquisa Anual do Uso de TI, 2018. Fundação Ge-
túlio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Disponível em: <https://eaesp.fgv.br/sites/
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PASCHOAL, Mariana. Conheça a história da câmera fotográfica digital, 2015.


Disponível em: <https://blog.emania.com.br/conheca-a-historia-da-camera-foto-
grafica-digital/>. Acesso em: 29 jun. 2018.

PRÄKEL, David. Fundamentos da fotografia criativa. São Paulo: Gustavo


Gili, 2015.

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História e Estética
Fotográfica
Material Teórico
História da Fotografia no Brasil

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
História da Fotografia no Brasil

• Introdução;
• Hercule Florence e a Descoberta da Fotografia no Brasil;
• Uma Grande Novidade Desembarca no Brasil: O Daguerreótipo;
• Os Pioneiros (e o Olhar Estrangeiro) no Século XIX;
• O importante trabalho de Marc Ferrez;
• Militão e Augusto Malta, Cronistas Fotográficos;
• Os Fotoclubes e a Fotografia Moderna Brasileira;
• Bob Wolfenson: O Mago da Fotografia de Moda no Brasil.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer a história da fotografia no Brasil desde a chegada do pri-
meiro daguerreótipo ao Rio de Janeiro, em 1839, bem como as ex-
periências exitosas do francês radicado no país, Hercule Florence.
· Reconhecer os fotógrafos pioneiros no nosso país, entre estrangeiros
e os brasileiros natos.
· Valorizar a fotografia contemporânea brasileira como forma de ex-
pressão e de trabalho profissional.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
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as redes sociais.

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Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Figura 1 – Hercule Florence. Epréuve nº 2 (photographie). Fotografia, 1833.


Rótulos para frascos farmacêuticos feitos em papel sensibilizado fotograficamente com cloreto de prata em
contato com um desenho produzido com ponta metálica sobre um vidro previamente enegrecido com fuligem,
que foi exposto à luz do sol. Florence recebeu informações do boticário Joaquim Corrêa de Mello (1816-1877)
sobre as propriedades do nitrato de prata. A imagem é considerada como um dos mais antigos registros
fotográficos existentes no continente americano
Fonte: Adaptado de fotografia.ims.com.br

Introdução
A história da fotografia no Brasil está ligada à chegada do primeiro daguerreóti-
po ao Rio de Janeiro, em 1839 – mesmo ano em que a criação do francês Louis-
-Jacques-Mandé Daguerre foi anunciada,  oficialmente, em Paris – e também às
pesquisas e ao trabalho do francês Hercule Florence (1804-1879), realizadas em
Vila de São Carlos, atual cidade de Campinas, em São Paulo. Florence tornou-se
internacionalmente conhecido como inventor de um dos primeiros métodos de
fotografia do mundo.

Entre 1840 e 1860, a daguerreotipia se difunde pelo país. A partir desse mo-
mento, nomes como Victor Frond (1821-1881), Marc Ferrez (1843-1923), Augus-
to Malta (1864-1957), Militão Augusto de Azevedo (1837-1905) e José Christiano
Júnior (1832-1902) marcam o pioneirismo da fotografia no Brasil. O valor expres-
sivo e também documental de suas obras, dedicadas ao registro de aspectos varia-
dos da sociedade brasileira da época, como por exemplo, os escravos de Christiano
Júnior, ou a paisagem urbana de Militão, são fundamentais para compreendermos
o desenvolvimento da fotografia no Brasil.

Hercule Florence e a Descoberta


da Fotografia no Brasil
O nosso personagem, Antoine Hercule Romuald Florence – desenhista, pintor,
fotógrafo, tipógrafo, litógrafo, professor, inventor –, nasceu em Nice (França), em
1804 e, desde muito cedo, desenvolveu interesse e habilidades para o desenho,
a física, a matemática, a geografia e por viagens marítimas. Ele chegou ao Brasil,

8
em 1824, e trabalhou inicialmente como caixeiro. Posteriormente, empregou-se
em uma tipografia e livraria onde também executava serviços de desenhos como
mapas e retratos. Em 1825, partiu com a comitiva da Expedição Langsdorff para
explorar o interior do Brasil. Sua função era registrar, por meio de desenhos e pin-
turas, aspectos da flora, da fauna, das paisagens, dos povos e costumes existentes
nos locais visitados. Ao final da expedição, que durou quatro anos, Florence se
radicou em Campinas (SP), onde viveu até a sua morte.
No início da década de 1930, ele iniciou pesquisas com o objetivo de desenvol-
ver um sistema diferente de impressão, que não precisasse das tradicionais máqui-
nas impressoras. Assim, ele criou a poligrafia (polygraphie), pranchas de madeira
embebidas em tinta capazes de imprimir.
Em 1933 – ano considerado como a descoberta isolada da fotografia no Brasil –,
Florence obtém outros resultados positivos de suas pesquisas, desta vez em relação
à sensibilização de papéis fotográficos utilizando-se de sais de prata fotossensíveis,
como o cloreto de prata. Esse momento representa um importante marco na história
da fotografia mundial, embora o fato seja pouco reconhecido. Ele obtém resultados
práticos e os registra em seus diários científicos, em 1834, quando usa pela primeira
vez o verbo photographier (fotografar, em português) (Fig. 2), anterior ao uso do
termo por John Frederick William Herschel (1792-1871), na Inglaterra, em 1839.
No mesmo diário, na data de 19 de fevereiro de 1934, ele escreveu photographie.

Figura 2 – Verbo photographier (fotografar) achado em trecho de diário de Hercule Florence, escrito em 1834
Fonte: revistapesquisa.fapesp.br

Com o anúncio da daguerreotipia, em 1839, em Paris, Florence tem uma sensação


de perda da oportunidade de reconhecimento de uma de suas invenções. Ao escrever
à imprensa, enviando exemplares de seus resultados a diversos jornais, contribuiu para
que seu trabalho sobrevivesse “e para que esta importante contribuição à história da
fotografia brasileira e mundial por parte deste pesquisador de origem francesa traba-
lhando isoladamente no Brasil se fizesse conhecida e reconhecida” (BURGI, 2014).

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Além dos próprios esforços de Florence em registrar suas descobertas, Bur-


gi (2014) ressalta o fundamental trabalho do pesquisador brasileiro Boris Kossoy
(1941-), historiador da fotografia brasileira, que comprovou a descoberta isolada da
fotografia no Brasil por Hercule Florence.
A vida e a obra de Florence inserem-se assim como um belíssimo mo-
mento de transição entre o período pré-fotográfico e o fotográfico. Se
Florence não deu continuidade a seus experimentos realizados entre os
anos 1833 e 1835 e, portanto, não deixou uma obra fotográfica própria,
isto deve-se sem dúvida a sua situação de isolamento e dificuldade de in-
tercâmbio com outros pesquisadores do período (BURGI, 2014).

Figura 3 – Hercule Florence. Diploma da maçonaria, provavelmente de 1933,


embora apareça a data de 1832 no documento. Fotografia
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

Entretanto, em 1839, Hercule Florence desistiu definitivamente das experiên-


cias com a fotografia quando chegou ao Brasil a notícia sobre os trabalhos de
Niépce e Daguerre e o reconhecimento do governo da França aos dois como in-
ventores da técnica de imprimir pela luz. Em comunicado ao jornal A Phenix, de
São Paulo, em outubro do mesmo ano, Florence fala sobre suas invenções, mas
não reivindica pioneirismo: “…não disputarei descobertas a ninguém, porque uma
mesma ideia pode vir a duas pessoas, porque sempre achei precariedade nos fatos
que eu alcançava, e a cada um o que lhe é devido” (MARCOLIN, 2008, p. 11).

Uma Grande Novidade Desembarca


no Brasil: O Daguerreótipo
Do primeiro daguerreotipista em atividade no Brasil praticamente nada se
sabe senão que era francês, abade e chamava-se Louis. Sua demonstração
impressionou vivamente o jovem Pedro II, então com quase 15 anos, e

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terá contribuído de forma decisiva para o entusiasmo do imperador com
a fotografia, constantemente manifestado ao longo dos quase cinquenta
anos que lhe restariam de exercício do poder (AGUILAR, 2000, p. 230).

Em 16 de janeiro de 1840, o abade francês Louis Compte (1798-1868) de-


sembarca no Rio de Janeiro, trazendo consigo todos os equipamentos necessários
para a produção de daguerreótipos. Com certeza, ele não tinha noção de que viria
a produzir as primeiras fotografias da América do Sul, tiradas no Rio, ainda hoje
conservadas (Fig. 4). No dia seguinte, os jornais da época noticiaram o fato, entre
eles o Jornal do Commercio:
Finalmente passou o daguerreótipo para cá os mares e a fotografia, que
até agora só era conhecida no Rio de Janeiro por teoria [...] Hoje de ma-
nhã teve lugar na hospedaria Pharoux um ensaio fotográfico tanto mais
interessante, quanto é a primeira vez que a nova maravilha se apresenta
aos olhos dos brasileiros. [...] É preciso ver a cousa com seus próprios
olhos para se fazer ideia da rapidez e do resultado da operação. Em me-
nos de nove minutos o chafariz do Largo do Paço, a Praça do Peixe, o
mosteiro de São Bento, e todos os outros objetos circundantes se acha-
ram reproduzidos com tal fidelidade, precisão e minuciosidade, que bem
se via que a cousa tinha sido feita pela própria mão da natureza, e quase
sem a intervenção do artista (BORGES, s/d).

Figura 4 – Louis Compte. O Paço da Cidade, com a tropa formada à sua frente, 1840. Daguerreótipo
Fonte: Wikimedia Commons

O invento foi adquirido pelo jovem Imperador do Brasil, Dom Pedro II, antes
mesmo de completar 15 anos. Ele se tornou um grande entusiasta da daguerreoti-
pia e também o primeiro fotógrafo nascido no país. O imperador se transformou
em um dos maiores colecionadores de fotografia do século XIX. Hoje, o acervo se
encontra na Biblioteca Nacional. Ele promoveu a arte fotográfica brasileira e difun-
diu a nova técnica por todo o país.

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Uma importante contribuição para o desenvolvimento da fotografia brasileira no


século XIX, foi o título de Photographo da Casa Imperial, agraciado por Dom Pedro
II a diversos fotógrafos, muitos deles de estúdios fotográficos de renome no período
como Buvelot & Prat, Joaquim Insley Pacheco, Stahl & Wahnschaffe, José Ferreira
Guimarães e Henschel & Benque (BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2016).

Figura 5 – Dom Pedro II. Autorretrato, c.1860. Daguerreotipia


Fonte: Wikimedia Commons

Os Pioneiros (e o Olhar Estrangeiro)


no Século XIX
Fotógrafos europeus começaram a chegar ao Brasil na década de 1840, se insta-
lando, inicialmente, em cidades portuárias como Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
O fotógrafo francês, Jean Victor Frond (1821-1881), que chegou ao país, em ou-
tubro de 1856, e, um ano depois, já era proprietário de um estúdio fotográfico no
Rio de Janeiro, é considerado por pesquisadores como o primeiro grande paisagista
do Brasil. Suas imagens foram reproduzidas em litografia1 no livro Brazil Pitoresco

1 Impressão sobre papel, por meio de prensa, de escrito, desenho ou imagem fotográfica executado com tinta sobre
uma superfície calcária ou uma placa metálica.

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(1861), primeira publicação com fotografias realizada na América Latina e, segundo
Pedro Vasquez, o “mais ambicioso trabalho fotográfico realizado no país, durante o
século XIX” (BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2016). As imagens retratam paisagens
e a vida rural do Rio de Janeiro, Minas Gerais e da Bahia. A publicação foi um im-
portante marco para a fotografia e para as artes gráficas no Brasil.

Figura 6 – Victor Frond. Vitória e colônias, 1860, Espírito Santo


Fonte: https://bit.ly/1Q92WDK.

Outra utilização da fotografia, o retrato de estúdio, conforme Kossoy (2002),


registrou pequena expansão no Brasil durante o período da daguerreotipia (en-
tre 1840 e 1858, aproximadamente), muito pelas características itinerantes dos
fotógrafos pioneiros – estrangeiros na sua grande maioria – que, após reunir al-
gum dinheiro, embarcavam de volta. Entretanto, a partir da década de 1860, em
decorrência da introdução de novos processos e de técnicas fotográficas baseadas
no princípio do negativo-positivo, que reduziram os custos de produção, o retrato
fotográfico se tornaria acessível a um público maior.
Por outro lado, assiste-se a um progresso econômico: multiplicam-se as
ligações ferroviárias, a imigração europeia é incentivada, transformam-se
as feições dos mais importantes centros urbanos, há, enfim, um efetivo
crescimento de uma classe média nas maiores cidades, particularmente
no Rio de Janeiro, sede da Corte e, mais tarde, da República. A clientela,
nesta altura, já teria um perfil diferente daquele dos primeiros tempos da
daguerreotipia, quando o retratado era, via de regra, um representante da
elite agrária ou da nobreza oficial (KOSSOY, 2002, p. 11-12).

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Figura 7 – Alberto Henschel. Retrato de criança, c.1870. Recife, Pernambuco. Frente e verso, carte-de-visite
Fonte: https://bit.ly/2zabdsy.

O Importante Trabalho de Marc Ferrez


Nascido no Rio de Janeiro, Marc Ferrez (1843-1923) é considerado o mais im-
portante fotógrafo brasileiro do século XIX, com uma obra que se equipara à dos
maiores nomes da fotografia em todo o mundo. Apesar de ter nascido no Brasil,
ele passou sua infância na França, retornando ao nosso país com cerca de 18 anos.
Aos 23 anos, estabeleceu-se por conta própria “anunciando como especialidade
‘vistas do Brasil’” (AGUILAR, 2000, p. 258). Entretanto, um incêndio, em 1873,
destrói seu estúdio, deixando-o quase na miséria.

Ajudado por amigos, Ferrez vai à Europa comprar novo material de trabalho.
Ao retornar, em 1875, participa de uma importante expedição geológica ao Norte
do Brasil. O resultado foi mais de 200 fotografias que ele expôs em duas oportuni-
dades: 1877 e 1878. Pronto, ele estava novamente reestabelecido financeiramen-
te e como profissional.

Figura 8 – Carimbo utilizado por Marc Ferrez em suas fotografias. Acervo Instituto Moreira Salles
Fonte: https://bit.ly/1eY8cwO.

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Ferrez retratou cenas dos períodos do Império e início da República, entre
1865 e 1918, sendo que seu trabalho é um dos mais importantes legados visuais
daquela época. Suas obras mostram o cotidiano brasileiro na segunda metade
do século XIX, principalmente da cidade do Rio de Janeiro, então capital brasi-
leira. Há fotos da Floresta da Tijuca, da Praia de Botafogo, do Jardim Botânico
do Rio de Janeiro, da Ilha das Cobras, focadas nas imagens urbanas de uma
cidade que começava a se expandir, em um período anterior à reurbanização
empreendida pelo prefeito Francisco Pereira Passos, no início do século XX.
Mas Ferrez não se limitou a ser um grande fotógrafo de paisagem, ele também
foi um excelente retratista.

Figura 9 – Marc Ferrez. Entrée de Rio: de Nova Cintra, c.1890. Baía de Guanabara, Rio de Janeiro.
Acervo Fundação Biblioteca Nacional
Fonte: fotografia.ims.com.br

Figura 10 – Marc Ferrez. Vue topographique de Botafogo, c. 1890. Botafogo, Baía de Guanabara e Pão de Açúcar,
Rio de Janeiro. Acervo Fundação Biblioteca Nacional
Fonte: fotografia.ims.com.br

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Figura 11 – Marc Ferrez. Estação da estrada de ferro Central do Brasil, c. 1899. Campo de Santana, Rio de Janeiro.
Acervo Fundação Biblioteca Nacional
Fonte: https://bit.ly/1eY8cwO.

Figura 12 – Marc Ferrez. Retrato de Machado de Figura 13 – Marc Ferrez. Menino índio, c.1880,
Assis, 1890. Fotografia Mato Grosso. Acervo Instituto Moreira Salles
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: fotografia.ims.com.br

Ferrez, considerado um “brilhante cronista visual das paisagens e dos costumes


cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX” (BRASILIA-
NA FOTOGRÁFICA, 2018), produziu uma série de registros de objetos e aspectos
da vida indígena durante a Exposição Antropológica Brasileira, inaugurada em 29
de julho de 1882, no Museu Nacional, no Rio de Janeiro (Figs. 14 e 15). A mostra
durou três meses e teve muito sucesso, com um público de mais de mil visitantes.

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Figuras 14 e 15 – Marc Ferrez. Exposição Antropológica Brasileira: artefatos e aspectos da vida indígena, 1882.
Acervo Fundação Biblioteca Nacional
Fonte: https://bit.ly/2KK72s4.

A Cor no Trabalho de Ferrez


Marc Ferrez iniciou  suas experiências com imagens em cores, em 1912, uti-
lizando as placas Autochrome Lumière, primeiro processo industrializado para
fotografias em cores, lançado comercialmente pela fábrica francesa, em 1907.
“Suas imagens coloridas, realizadas nesse período, são diferentes das fotografias
panorâmicas e de grandes obras públicas, produzidas por ele no século XIX e na
primeira década do século XX” (BRASILIANA FOTOGRÁFICA, 2017). O fotó-
grafo começa a registrar cenas do interior de sua casa e a sua família – sua mulher
Marie, o filho Julio, a nora Claire e os dois netos, Gilberto e Eduardo.

Nesse período, o fotógrafo também refez, em cores, algumas das fotografias de


paisagens, edificações e monumentos que se tornaram clássicas em preto e bran-
co, como a Pedra de Itapuca, vistas do Jardim Botânico, o Theatro Municipal do
Rio de Janeiro, o Palácio Monroe e a Pedra da Gávea, entre outras imagens.

Figura 16 – Marc Ferrez. Vista do Pão de Açúcar tomada do morro da Urca, c.1912. Acervo Instituto Moreira Salles
Fonte: fotografia.ims.com.br

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Militão e Augusto Malta,


Cronistas Fotográficos
Outros dois importantes fotógrafos brasileiros também se destacaram na se-
gunda metade do século XIX e início do século XX: o carioca Militão Augusto de
Azevedo (1837-1905), que deixou um legado único de documentação da cidade de
São Paulo, entre os anos de 1860 e 1880, quando ainda eram raros os registros
urbanos no Brasil; e o alagoano Augusto César Malta de Campos (1864-1957),
principal fotógrafo da evolução urbana do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do
século XX. Radicado na cidade desde 1888, trabalhou inicialmente como comer-
ciante de tecidos, até dar seus primeiros passos como fotógrafo amador na virada
do século.

O que Militão fez ao chegar à capital paulista pode ser relacionado ao que ocor-
reu em fins da década de 1850 e princípio dos anos 1860, em Recife, pelas mãos
do fotógrafo francês Theophile Auguste Stahl (1828-1877) e, no Rio de Janeiro,
com o alemão Revert Henry Klumb (c.1825-1886), ou seja, o registro das trans-
formações urbanas nas grandes cidades.

Conforme Borges (s/d), enquanto outros fotógrafos da época dedicavam-se es-


sencialmente ao mercado de retratos – o maior da época –, Militão “levou a efeito
uma liberdade artística e criativa bastante exclusiva ao escolher a paisagem urbana
como alvo de seus registros”. As fotografias, todas em papel albuminado – não há
negativos –, são registros da cidade de São Paulo (Fig. 17).

Figura 17 – Militão Augusto de Azevedo. Mosteiro de São Bento (São Paulo, SP), 1862. Fotografia
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

O alagoano Augusto César Malta de Campos foi um dos mais importantes fo-
tógrafos do Brasil no início do século XX. Seu trabalho como fotógrafo oficial do
Distrito Federal (então, no Rio de Janeiro) entre as décadas de 1900 e 1930, gerou

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um gigantesco acervo documental sobre as transformações pelas quais passou a
capital do Brasil na época. Foi um verdadeiro cronista fotográfico, registrando ima-
gens da vida cotidiana, a arquitetura, as alterações urbanísticas (como as primeiras
favelas), manifestações culturais como festas, o carnaval, as “Batalhas das Flores”
e desfiles cívicos e militares. O acervo de Malta é composto por mais de 80 mil
fotografias (BORGES, s/d).

Figura 18 – Augusto Malta. Grupo de homens fantasiados para o carnaval, As Marrequinhas, 1913.
Democráticos carnavalescos, Rio de Janeiro. Acervo Instituto Moreira Salles
Fonte: fotografia.ims.com.br

Os Fotoclubes e a Fotografia
Moderna Brasileira
Ainda que o Photo Club do Rio de Janeiro tenha sido criado antes, em 1910,
a pesquisadora Maria Teresa Bandeira de Mello entende que o Foto Clube Brasi-
leiro, fundado em 1923 por um grupo de amadores, seja efetivamente o primeiro
clube de fotógrafos organizado no Brasil ao promover exposições, cursos teóricos
e práticos, debates, concursos, excursões, salões e a publicação das revistas Photo
Revista do Brasil e Photogramma. A intenção do grupo do Foto Clube Brasileiro,
também com sede no Rio, era debater as relações entre arte e fotografia (ENCI-
CLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL apud MELLO, 1998).

Os cariocas mantêm correspondência com sociedades internacionais, funcio-


nando como uma instituição divulgadora de novidades técnicas e estéticas. O Foto
Clube Brasileiro exerce papel fundamental na difusão da ideia de fotografia como
arte até os anos 1940, quando é criado o Foto Cine Clube Bandeirante, em 1939,
em São Paulo, que passa a divulgar uma estética modernista identificada com mo-
vimentos internacionais e o conceito de fotografia de autor.

19
19
UNIDADE História da Fotografia no Brasil

A produção fotográfica do grupo paulista é regida por temas e normas de com-


posição características da pintura ensinada na Escola Nacional de Belas Artes, com
seus associados registrando cenas dos gêneros retrato, paisagem, natureza-morta e
nu, equilibrando as imagens entre as formas e as áreas de luz e sombra.

Figura 19 – Hermínia Borges. Instrução divulgada, 1926. Fotografia. Figura 19 – Hermínia Borges. Instrução
divulgada, 1926. Fotografia. Fonte: https://bit.ly/2KBW5K3. Fotógrafa, pintora e desenhista, Hermínia é uma das
pioneiras da fotografia de expressão pessoal no Brasil. Ela participa, em 1923, juntamente com seu marido, João
Nogueira Borges e um grupo de amigos, da criação do Foto Clube Brasileiro, que tem como primeira sede a casa
dos dois em Laranjeiras, no Rio de Janeiro/RJ.
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

Em contrapartida, Fernandes Júnior (2003) entende que a fotografia moderna


brasileira se desenvolveu não diretamente em decorrência da criação do Foto Cine
Clube Bandeirante, mas sim, devido à conjuntura histórica nacional do dos anos
1940, com os primeiros investimentos de capitais estrangeiros no país e as inicia-
tivas para alavancar o desenvolvimento industrial. O autor destaca, a partir desse
momento, o período de 1940 e 1950, quando fotografia documental e fotografia
experimental começam a caminhar lado a lado e se desenvolvem no Brasil com os
trabalhos de Geraldo de Barros (1923-1998), Thomaz Farkas (1924-2011) e José
Medeiros (1921-1990), entre tantos outros profissionais.

1940-1950
Dentro do Foto Cine Clube Bandeirante, a partir do final dos anos 1940, ob-
serva-se a experimentação de uma nova linguagem fotográfica, nos trabalhos do
húngaro radicado no Brasil Thomaz Farkas e do paulista Geraldo de Barros. Os
trabalhos de Farkas permitem identificar a preocupação com pesquisas formais,
exploração de planos e texturas, além da escolha de ângulos inusitados (Fig. 20).
Geraldo de Barros – pintor, fotógrafo e designer –, por sua vez, notabiliza-se pelas
cenas montadas, pelos recortes e desenhos que realiza sobre os negativos. Ele foi
um dos expoentes da vanguarda na arte brasileira, precursor da arte concreta e
pioneiro na fotografia abstrata (Fig. 21).

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Figura 20 – Thomaz Farkas. Salto ornamental na piscina do Estádio do Pacaembu, São Paulo/SP, 1945. Fotografia
Fonte: fotografia.ims.com.br

Figura 21 – Geraldo de Barros. Cadeira Unilabor, São Paulo/SP, 1954.


Reprodução fotográfica Sérgio Guerini/Itaú Cultural
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

Um dos méritos do modernismo que a fotografia brasileira experimentou nesses


anos foi a incursão definitiva da fotografia artística de expressão pessoal nos mu-
seus do país, principalmente com as exposições e com a criação de um laboratório
de fotografia no Museu de Arte de São Paulo (Masp), organizado por Geraldo de
Barros, além de a crítica de arte do país ter voltado seus olhos para a produção
fotográfica nacional.

Outro fotógrafo que marcou época foi o piauiense José Medeiros (1921-
1990), que dos 25 aos 40 anos, integrou a equipe da revista O Cruzeiro, então
a maior do país. O departamento de fotografia da publicação revolucionou o
tratamento dado à imagem na imprensa nacional nos moldes de revistas estran-
geiras como Life, Paris Match e Der Spiegel, tornando a fotorreportagem seu
principal atrativo.

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Medeiros registrou com competência técnica cenas de rua e retratos de famosos


e anônimos, pobres e ricos, foliões no Carnaval e internas em um manicômio, en-
tre outros extremos da vida brasileira, que mostrou em suas reportagens. A década
de 1950 marca a expansão do fotojornalismo no país. Além dos profissionais con-
tratados, os órgãos de imprensa se valiam de colaboradores como Pierre Verger
(1902-1996) e Marcel Gautherot (1910-1996).

Figura 22 – José Medeiros. A pedra da Gávea, o morro Dois Irmãos e as praias de Ipanema e do Leblon,
Rio de Janeiro, 1952. Fotografia
Fonte: fotografia.ims.com.br

1960-1970: A Contemporaneidade Pede Passagem


Nas décadas de 1960 e 1970, observa-se a entrada cada vez maior de trabalhos
fotográficos em museus e galerias de arte. É o período da representação da iden-
tidade nacional a partir de manifestações populares. A contemporaneidade pede
passagem e ganha espaço. A produção fotográfica no período oscila, também,
entre trabalhos de cunho documental e de caráter experimental. Destaques para
a inglesa naturalizada brasileira Maureen Bisilliat (1931-) e para a suíça, também
naturalizada brasileira, Claudia Andujar (1931-) – que seguem a trilha etnográfica
de Gautherot e Verger –; e para o carioca Luis Humberto (1934-).

Formado em arquitetura, em 1959, pela Faculdade Nacional da Universidade


do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), Luis Humberto trocou a
arquitetura pela fotografia em 1966, destacando-se no fotojornalismo, sobretudo
nas revistas Veja (1968/1978) e Isto É (1978/1982), e como diretor de arte e
editor de fotografia do Jornal de Brasília (1973). Também colaborou com outras
publicações da Editora Abril, entre as quais as revistas Quatro Rodas, Cláudia e
Realidade (VASQUEZ, [2018]). Humberto produziu, ainda, farta documentação da
paisagem urbana de Brasília. Publicou vários livros de fotografia.

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Figura 23 – Luís Humberto. Palácio da Alvorada, 1979. Fotografia
Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

Figura 24 – Claudia Andujar. Yanomami, 1974. Fotografia


Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

A fotografia brasileira esteve, de maneira geral, atrelada por muito tempo a


sua função documental da realidade brasileira que, apesar de mostrar o caráter de
compromisso social, apresentava pouca experimentação. Essa análise do profes-
sor, curador e crítico de arte Tadeu Chiarelli (Dobranszky, 2002) diz muito sobre
a fotografia nacional nas últimas décadas do século XX. Conforme ele, algumas
obras refletem a subjetividade do olhar dos fotógrafos e mostram até mesmo um
discurso sobre a própria fotografia. Chiarelli observa que na exposição Identidade/
Não identidade – A fotografia brasileira contemporânea, realizada em 1997, no
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), houve uma ruptura com a tradição
da fotografia no Brasil:

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Contra ou parodiando, em chave irônica, essa vertente, a grande maioria


dos artistas presentes em Identidade/Não identidade parecia evidenciar
o descompromisso com aquela cartilha, sobretudo os jovens artistas. Por
outro lado, a mostra tentava evidenciar como essa mesma geração busca-
va novos valores de identidade tanto para eles próprios - como indivíduos
cidadãos e artistas, vivendo no final de um milênio, num país como o
Brasil – como também para a própria arte e a fotografia (DOBRANSZKY
apud CHIARELLI, 2002, p. 10).

Participaram desta mostra coletiva os fotógrafos Marcela Hara, Marcia Xavier,


Marcelo Arruda, Cris Bierrenbach, Rafael Assef, Rosangela Rennó e Rubens Mano,
além de Claudia Jaguaribe, com a série Retratos, que constrói faces despersonali-
zadas a partir do recorte de vários rostos (Fig. 25).

Figura 25 – Claudia Jaguaribe. Retratos anônimos, 1997. Fotografia


Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

A década de 1990 ficou marcada por várias ações protagonizadas pelos pró-
prios fotógrafos brasileiros e também pesquisadores, como a criação do Núcleo de
Amigos da Fotografia (Nafoto), que concebeu maio como o Mês Internacional da
Fotografia de São Paulo. Destaque, também, para a iniciativa do Masp, que con-
juntamente com a multinacional Pirelli, cria, em 1991, a Coleção Pirelli / Masp de
Fotografia, adquirindo obras de fotógrafos brasileiros no intuito de estabelecer um
ponto de referência da fotografia nacional.

Um grupo de grandes fotógrafos surge e se consolida como Mario Cravo Neto,


Antonio Saggese, Araquém Alcântara, Pedro Vasquez, Ed Viggiani, Elza Lima,
Cássio Vasconcellos, Luiz Braga, Eustáquio Neves e Miguel Rio Branco (a realidade
social, as cenas urbanas e os pobres conhecem novo tratamento nos trabalhos de
Miguel Rio Branco, desde os anos 1980, quando fotografa o cotidiano de Salva-
dor), entre outros fotógrafos.

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A Coleção Pirelli / Masp de Fotografia representa a produção contemporânea brasileira, ofe-
recendo condições para seu estudo e divulgação. Ela parte do reconhecimento do valor da
Explor

fotografia brasileira em si e na consideração da fotografia enquanto forma de representação


e sistema de conhecimento. Confira as edições anuais da coleção em: https://goo.gl/RBzH3q

Figura 26 – Miguel Rio Branco. Amaú, 1983. Fotografia


Fonte: enciclopedia.itaucultural.org.br

A explosão de cores, a granulação da imagem e os ângulos inéditos recolocam


o problema da relação entre a fotografia e a pintura. As contribuições recentes
de Rochelle Costi (1961-), Vik Muniz (1961-), Arthur Omar (1948-), Rosângela
Rennó (1962-) e Cassio Vasconcellos (1965-) e muitos outros apontam para as
possibilidades abertas no campo das experimentações fotográficas.

Óbvio que o nome de Sebastião Salgado (1944-) deve ser acrescentado a essa
lista. Repórter fotográfico desde a década de 1970, Salgado realiza ensaios temá-
ticos dedicados às questões sociais, políticas e ambientais que afetam o mundo,
como Trabalhadores (documenta o trabalho manual e as difíceis condições de vida
dos trabalhadores em várias regiões do mundo), em 1996, Gênesis (2013) e Êxo-
dos (2016), entre outros, sendo reconhecido mundialmente.

Figura 27 – Reprodução das capas dos livros de Sebastião Salgado:


Trabalhadores (1996), Gênesis (2013) e Êxodos (2016)

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Explor
Fique por dentro dos concursos fotográficos que ocorrem no Brasil e no Exterior, como o
2º Concurso Internacional Photo Nature 2018; o 30º Concorso Fotografico Internazionale; o
UNESCO: Youth Eyes on the Silk Roads; o 25º Prêmio CNH Industrial de Jornalismo; e o VI Sa-
lão Nacional de Arte Fotográfica, entre outros, acessando o portal da Confoto (Confederação
Brasileira de Fotografia) (Fig. 28) https://goo.gl/knddmE

Figura 28 – Página inicial da Confederação Nacional de Fotografia (Confoto). Acesso em: 7 jul. 2018
Fonte: http://www.confoto.art.br/fotografia/

Bob Wolfenson: O Mago da Fotografia


de Moda no Brasil
Não há como falar de fotografia contemporânea brasileira sem citar o paulistano
Bob Wolfenson (1954-). Desde que iniciou sua trajetória profissional, aos dezesseis
anos de idade, no estúdio da Editora Abril, trabalhou com os principais gêneros
fotográficos. E, todos com grande sucesso, tanto em seu estúdio como em viagens
pelo Brasil e pelo mundo. Uma das referências nacionais como retratista, fotógrafo
de nus e de moda, Wolfenson transita entre a publicidade e a arte. Trabalha para
grandes publicações como Folha de São Paulo, Veja, Vogue, Elle, S/N, Playboy,
Harper’s Bazaar, Marie Claire e Rolling Stone. Ele também é criador e editor da
revista de arte e moda S/N.

Wolfenson publicou vários livros como Jardim da Luz (Editora DBA/Com-


panhia das Letras, 1996), Moda no Brasil por brasileiros (Cosac Naify, 2003),
Antifachada-Encadernação dourada (Cosac Naify, 2004), Cinépolis (Schoeler,
2009), Apreensões (Cosac Naify, 2010), Belvedere (Cosac Naify, 2013), 24x36
(Schoeler Editions, 2013) e, finalmente, Bob Wolfenson (Terra Virgem Edições,
2017), além de participar de diversas exposições individuais.

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Muitas de suas obras fazem parte dos acervos do Museu de Arte de São Paulo
(Coleção Pirelli-Masp), Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Bra-
sileira – FAAP, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (MAC-USP), Zacheta
National Gallery of Art (Varsóvia) e muitas coleções particulares. Wolfenson se-
gue baseado em São Paulo.

Figura 29 – Bob Wolfenson. Camila Pitanga Figura 30 – Bob Wolfenson.


para a capa da Marie Claire, 2015. Fotografia Capa e editorial de Claudia Andujar para a Trip, 2017
Fonte: Acervo do Conteudista Fonte: Acervo do Conteudista

Figura 31 – Bob Wolfenson. Isabelli Fontana para a Elle, 2018


Fonte: Acervo do Conteudista

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Dicas de Fotografia
https://goo.gl/LJeh
Instituto Moreira Salles (IMS)
https://goo.gl/PH5yr9
Associação Brasileira de Fotógrafos (Abrafoto)
https://goo.gl/beCD3g

 Livros
Geração 00: A nova fotografia brasileira
CHIODETTO, Eder (Coord.). Geração 00: A nova fotografia brasileira. São Paulo:
Edições Sesc: São Paulo, 2013.

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Referências
AGUILAR, Nelson (Org.). Mostra do redescobrimento: o olhar distante. São
Paulo: Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais, 2000.

BOB WOLFENSON. Sobre. Disponível em: <https://www.bobwolfenson.com.


br/copy-of-about>. Acesso em: 7 jul. 2018.

BORGES, Déborah Rodrigues. História da fotografia no Brasil, s/d. Disponível em:


<http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/14299/
material/Hist%C3%B3ria%20da%20Fotografia%20no%20Brasil.pdf>. Acesso em:
4 jul. 2018.

BRASILIANA FOTOGRÁFICA. Marc Ferrez e a Exposição Antropológica Brasi-


leira no Museu Nacional em 1882, 2018. Disponível em: <http://brasilianafoto-
grafica.bn.br/?tag=marc-ferrez>. Acesso em: 4 jul. 2018.

BRASILIANA FOTOGRÁFICA. Jean Victor Frond (França, 1/11/1821 –


França, 16 /1/1881), 2016. Disponível em: <http://brasilianafotografica.
bn.br/?p=3885>. Acesso em: 4 jul. 2018.

BURGI, Sergio. A descoberta de Florence. In: Instituto Moreira Salles, 2014.


Disponível em: <https://ims.com.br/por-dentro-acervos/a-descoberta-de-floren-
ce/>. Acesso em: 4 jul. 2018.

_________. Composição em preto-e-branco – Os panoramas de 360º de Mi-


litão Augusto de Azevedo, [2018]. Disponível em: <http://brasilianafotografi-
ca.bn.br/wp-content/uploads/2015/05/Milit%C3%A3o-Texto-de-Sergio-Burgi.
pdf>. Acesso em: 5 jul. 2018.

DOBRANSZKY, Diana de Abreu. Referente e imagem na fotografia brasileira


em fins do século XX. Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Multi-
meios, do Instituto de Artes da Unicamp, 2002. Disponível em: <http://reposito-
rio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/285045>. Acesso em: 5 jul. 2018.

ETCHEVERRY, Carolina Martins. História da fotografia moderna brasileira: expe-


rimentações de Geraldo de Barros e José Oiticica Filho (1950-1964). In: MONTEI-
RO, Charles (Org.). Fotografia, história e cultura visual: pesquisas recentes.
Porto Alegre: EdiPucrs, 2012.

ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Foto Clube Brasileiro. São Paulo: Itaú


Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/institui-
cao480027/foto-clube-brasileiro-rio-de-janeiro-rj>. Acesso em: 5 de jul. 2018.

FERNANDES JÚNIOR, Rubens. Labirinto e identidades - Panorama da foto-


grafia no Brasil 1946-1998. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro. São Paulo: Instituto


Moreira Salles, 2002.

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UNIDADE História da Fotografia no Brasil

MARCOLIN, Neldson. Caminhos paralelos – Há 175 anos Hercule Florence se tor-


nava, no interior de São Paulo, um dos muitos inventores da fotografia. In: Pesqui-
sa Fapesp, ed. 150, ago. 2008, p. 8-11. Disponível em: <http://revistapesquisa.
fapesp.br/2008/08/01/folheie-a-ed-150/>. Acesso em: 4 jul. 2018.

VASQUEZ, Pedro. Brasil, Memória das Artes – Biografia de Luis Humberto. In:
Fundação Nacional de Artes/Funarte, [2018]. Disponível em: < http://www.fu-
narte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/infoto/biografia-de-luis-humberto/>.
Acesso em: 7 jul. 2018.

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