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FACULDADE NOVA ROMA

CIÊNCIAS CONTÁBEIS

FILOSOFIA, ÉTICA E
RESPONSABILIDADE SOCIAL

Profa. Vânia Lima de Sant’Anna


Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

INTRODUÇÃO GERAL À FILOSOFIA

“A faculdade de conhecer existe em todo homem”

PRIMEIRA NOÇÃO DE FILOSOFIA


(Nascimento e desenvolvimento)

 Diógenes de Laércio (1º Historiador da Filosofia):


- Pitágoras (matemático e filósofo da Grécia Antiga) 1º a fazer o uso do termo
(substantivo).
- Para Pitágoras: Sábio, apenas Deus.
- Filosofia: vem de dois vocábulos gregos:
Amar + sabedoria: Filosofia
- Filósofo: amigo ou desejoso da sabedoria.
 Dentro da Filosofia há uma diferença entre:
Saber Sabedoria

(Teórico) (teórico e a prática)


 Numa definição superficial, podemos dizer que:
A Filosofia é a sabedoria do homem enquanto homem; é produto do raciocínio e,
portanto, tem sua precariedade.
 Filósofo: é um homem humanamente sábio e que tem o compromisso de transmitir
“aos homens as luzes humanas mais profundas sobre os grandes problemas que o
preocupam”. (Maritain, 1985: 20)
 NATUREZA DA FILOSOFIA

 A Filosofia entre os Antigos (primitivos):


- A pesquisa filosófica, propriamente, não foi conhecida entre os povos primitivos; (apenas
séc VIII e VI a. C.).
- Havia entre os antigos “verdades filosóficas”.
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- O conhecimento adquirido advinha do “senso comum” - “exercício absolutamente
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espontâneo e instintivo da razão”.
- Tais verdades filosóficas (que deram ensaio a uma pré-filosofia) eram discutidas e
orientadas pelas tradições religiosas (o que não permitiu que se chegasse a uma
especulação filosófica).

 Algumas Civilizações e a Filosofia:

Os Egípcios e os Semitas (caldeus e judeus):


- Possuíam uma elite intelectual com alto conhecimento científico;
- Suas noções filosóficas estavam inseridas na Religião: o respeito da Divindade, a alma
humana e sua condição após a morte, e os preceitos morais.
- A religião é quem faz as vezes da Filosofia.

Os Persas:
- As discussões filosóficas também estão inseridas na religiosidade.
- Zoroastro funda o masdeísmo, na qual tentou sistematizar algumas crenças das
tradições primitivas esforçando-se para aprofundar racionalmente uma das grandes
questões primárias da humanidade: o problema do mal.
- Cria um dualismo: a existência de dois princípios coeternos e incriados: o princípio do
bem (Ormuzd) e o Principio do Mal (Ahriman), “que entre si disputam o império das
coisas, e cuja luta sem tréguas constitui a história do mundo”. (Maritain, 1985: 25).

A Índia:
-As idéias filosóficas surgem se contrapondo aos costumes religiosos da época (os
Vedas). Surge, então, o bramanismo (ou hinduísmo).
-Sabedoria humana, embora orientada por atributos religiosos.
-O hinduísmo volta-se para a contemplação.
-A centralidade do bramanismo também era o problema do mal, mas considerado o mal
sob o aspecto da dor.
- A diferença básica em relação aos Persas consiste no fato de que para os Persas o mal
estaria relacionado à idéia de pecado (havia o bem moral e o mal moral).
- Posteriormente integra-se na Índia o conhecimento do Buda (o Iluminado).
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- O budismo apresenta-se como uma escola heterodoxa, opondo-se ao bramanismo.
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- Prega a doutrina da libertação da dor até chegar ao Nirvana (nudez espiritual).
- É uma filosofia agnóstica e atéia.

A China:
- Os sábios chineses portavam-se como moralistas: estavam preocupados em regrar as
ações humanas sem se preocuparem com questões metafísicas.
- Foram importantes representantes da filosofia chinesa: Confúcio e Lao-Tseu.

A Grécia:
- Apenas na Grécia a razão humana atingiu a idade de sua força e maturidade.
- A Filosofia toma autonomia e se distingue da Religião. Ela torna-se um campo
estritamente limitado à investigação científica das verdades puramente racionais.
- A religião grega cai – A filosofia forma-se criticando e combatendo a mitologia popular e
aparece como operação própria da razão.
- Os primeiros pensadores da Grécia são os poetas e interpretes da tradição religiosa,
mas não eram filósofos propriamente. De acordo com Aristóteles, Tales de Mileto foi o
precursor da Filosofia porque deu às questões filosóficas, corpo de Filosofia, ou seja,
abordou sistematicamente, os estudos especulativos. Era geômetra e astrônomo.
- Os sábios se propunham a melhorar os costumes da população. Alguns se propuseram
a elaborar lições práticas a partir de sua própria experiência de vida.
- Eram homens de ação, legisladores ou moralistas.

A FILOSOFIA PROPRIAMENTE DITA

Abordaremos desde Tales de Mileto até Aristóteles – nesse período a Filosofia se


consolidou de modo definitivo enquanto valor humano absolutamente universal. Esse
período abrange aproximadamente três séculos que divide-se em:

 Período de Elaboração (os filósofos pré-socráticos);


 Período de Crise (os Sofistas e Sócrates);
 Período de maturidade fecunda (Platão e Aristóteles).
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 Os Filósofos Pré-Socráticos:

 Os Jônios (Escola Jônica ou Hilozoísta)

- Os jônicos também eram chamados de filósofos da natureza.


- Os primeiros pensadores da Grécia limitaram-se a considerar nas coisas os elementos
(matéria) de que são feitas – a CAUSA MATERIAL.
- Achavam que todos os corpos eram formados pela mesma matéria-prima visto que a
mudança de um corpo se transforma em outro a transformação é um princípio da
Natureza.
- Havia, portanto, um sujeito comum de todas as transformações dos corpos.
- Julgavam encontrar esta matéria comum em qualquer um dos elementos que caem sob
os nossos sentidos – consideravam apenas o que se podia tocar.
Em síntese:
- O pensamento jônico consistia em buscar uma causa para a existência das coisas,
através dos elementos que constituem tal coisa, ou seja, buscavam saber a CAUSA.
- Admitiam haver o sujeito comum de todas as transformações dos corpos monismo
materialista”: a idéia de uma única substância material.

Principais representantes da Escola Jônica:


Tales (623-546):
Inspirando-se em muitos antigos que atribuíam às águas o elemento inicial de todas as
coisas e observando, além disso, que as plantas e os animais “nutriam-se de umidade” e
que os germes vivos eram úmidos, afirmou que: “a água é a substância única,
permanecendo sempre a mesma em todas as transformações dos corpos”.
Anaxímenes (588-524): o AR é o que terá esse papel.
Heráclito de Éfeso (540-475?): Será o FOGO.
Idéias centrais:
Idéia da mutação ou do Vir-a-ser. Proclamou ser tudo mudança – tudo flui – “e os homens
são loucos em comprazerem-se na segurança de sua falsa felicidade”:
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“Aqueles que nascem desejam estar vivos para se tornarem mortos e repousar, e deixam
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filhos sobre a terra para morrerem por sua vez. Não tocamos duas vezes o mesmo ser,
não nos banhamos duas vezes no mesmo rio. No momento que levamos a mão sobre a
coisa, esta já cessou de ser o que era. O que é muda pelo fato de ser”.
Isso quer dizer que:
- aquilo que é (a coisa que muda) ao mesmo tempo não é (porque nada há que
permaneça ao mudar);
- os contrários se confundem: “a água do mar é a mais pura e a mais suja... o bem e o
mal são a mesma coisa”.
Em síntese:
Heráclito foi o filósofo da evolução; do vir-a-ser puro. Em conseqüência, todas as coisas,
a seu ver, são diferenciações de um principio único em movimento, que ele imaginava sob
a forma do fogo – etéreo, vivo e divino. Suas idéias se ligam ao monismo e ao panteísmo.
Anaxímandro (610-547): Será o INFINITO (indeterminado) = mistura de todos os
conteúdos.
Demócrito de Abdera: (470-361?):
Tentou discernir, no fluxo dos fenômenos sensíveis, algo de fixo e estável, mas partindo
da IMAGINAÇÃO.
A única realidade por ele reconhecida é aquela que, ultrapassando a percepção dos
sentidos externos, vem cair sob a imaginação.
Em síntese:
O que o filósofo defendia era a idéia da “pura quantidade geométrica, como tal sem
qualidades (sem cor, sem odor, sem sabor, etc.) e que, nas três dimensões do espaço, só
comporta a extensão.” Tudo passa a explicar-se pelo cheio que ele confunde com o ser, e
o vácuo, que confunde com o não-ser; o cheio é dividido em porções de extensão
indivisíveis (“átomos”) que são separados pelo vácuo e eternamente em movimento e
que, entre si, só se diferenciam pela figura, pela ordem e pela situação e atribui à
necessidade cega do acaso a ordem do universo, assim como a estrutura de cada ser”.

Tornou-se, portanto, o fundador do atomismo e da Filosofia Mecanicista que eleva a


Geometria em Metafísica.
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Anaxágoras de Clazomeno (500-428):
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Compreendeu que o princípio material, de que são feitas as coisas não era o suficiente
para explica-las. Era preciso também conhecer o agente que as produz (“causa eficiente”
ou “causa motora”) e o fim para o qual esse agente age (“causa final”).
Reconheceu que existia, além dos elementos materiais do mundo, uma Inteligência
separada, ordenadora das coisas.

 Os Itálicos (Itália Meridional)

Principais representantes:

 Pitágoras de Samos (572-500 ou 582-497):


- Fundou a sociedade filosófica, religiosa e política;
- Percebeu que havia realidades mais elevadas que as percebíveis pelos sentidos.

- Reveladas pela ciência dos números. Seria a única realidade


verdadeira; a própria essência das coisas.

- Para Pitágoras os princípios dos números são os princípios de tudo o que é, toda
essência tem seu número.
- Toda especulação sobre a origem ou a natureza das coisas se desfaz em uma
especulação sobre a gênese dos números e as propriedades dos números.
- A escola Pitagórica confunde a Filosofia com a ciência dos números (que carregam
interpretações qualitativas e por isso permanece nas cadeias da imaginação).
- A escola Pitagórica não alcançou a idéia de causa formal (Aristóteles).
Devemos a Pitágoras:
- O nome da Filosofia;
- A defesa da dignidade da ciência (p. 42);
- A idéia de Deus único, presente em todas as coisas;
- A doutrina da transmigração das almas (ou metempsicose);
- O desenvolvimento da filosofia;
- Defendia o relativismo quando dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”.
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 Os Eleatas:
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- Conseguiram elevar o pensamento grego ao nível da metafísica.

Principais representantes:

 Xenófanes (570): o mais antigo;

 Parmênides de Eléia (540):

- Defendia a idéia do Ser. Só uma coisa ele vê: o que é, e não pode deixar de ser; o ser é,
o não-ser não é.
- Por conseqüência, formulou o princípio de identidade ou de não contradição,
princípio supremo de todo pensamento.
- Logo, se oporá a Heráclito. Parmênides negará a idéia da transformação. Para este, a
mudança, o movimento, o vir-a-ser, assim como a diversidade das coisas é apenas uma
aparência ilusória. Nada mais existe além do Ser e do Um.

PERÍODO SOCRÁTICO OU ÁUREO:

- Começa em Atenas;
- Os pré-socráticos deram resultados essenciais para o pensamento humano, mas que
foram encobertos pela confusão das teorias contraditórias e pela abundância e gravidade
dos erros.
- Os conhecimentos obtidos pelos filósofos ao invés de se unirem para se completarem,
tinha-se fragmentado com a ambição de saber tudo e de descortinar, de uma só vez, todo
o conhecimento humano:
“Por causa dessa ambição sem limites e porque ignoravam a disciplina e a medida no
manejo das idéias, conseguia-se apenas entrechocar conceitos de modo confuso e opor,
indefinidamente, verossimilhança a verossimilhança”.

Crise Intelectual
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“Em que certo mal do Espírito, ou corrupção, ia pôr tudo em perigo”.

SOFÍSTICA

SÓCRATES

- Combatia os sofistas. Não cobrava pela sua sabedoria;


- Chegou a ser confundido com eles, por Aristóteles;
- Ensinou a procurarmos apenas a verdade. Toda sua obra foi uma obra de
CONVERSÃO; procurou soerguer a razão, orientando-a para a verdade, isto é, para
aquilo para o qual ela foi feita.

Há três características a serem destacadas em Sócrates:

1) Era considerado um médico das almas sua preocupação era fazer com que as
inteligências trabalhassem.
- Seus discursos se referiam, primordialmente, a conduta da vida humana ao
problema moral;
* Ele dizia: “Devo fazer só o que me é bom, e o que me é bom é o que me é útil,
verdadeiramente útil”.
O que é verdadeiramente útil: é o bem absoluto e incorruptível.
É o bem honesto onde deve predominar os nossos grandes interesses eternos (morais e
espirituais).
* Para ele: o homem, para poder se dirigir, deve primeiramente saber; a virtude se
identifica com a ciência e todo pecador não passa de um ignorante.
- A moral só existirá, ou seja, só será verdadeira se constituir um conjunto de verdades
estabelecidas demonstrativamente uma ciência.
- Foi, portanto, o fundador da CIÊNCIA MORAL.

2) Ele realizou um verdadeiro trabalho de reflexão lógica e crítica: disciplinou a


inteligência filosófica; mostrou a atitude que se deve tomar e os processos que se deve
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empregar com relação à verdade. Para esse objetivo, estruturou o seguinte método de
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trabalho:

1º - Purificar os espíritos da falsa ciência (das idéias fáceis).


Persuadia as pessoas a confessarem sua ignorância a respeito daquilo que
pensavam saber = IRÔNIA SOCRÁTICA.

2º - Realizava várias perguntas, seqüenciais, para levar o interlocutor a descobrir por si


mesmo a verdade que confessava ignorar = MAIÊUTICA “a arte de dar à luz os
espíritos”.

Isso significa que: para Sócrates, “a tomada de posse da verdade é uma operação vital e
pessoal, em que o mestre apenas ajuda a inteligência do discípulo como o médico „ajuda
a natureza‟, mas em que a inteligência do discípulo desempenha papel de „agente
principal‟”. (Maritain: 49)
* Como a Maiêutica contribuiu para a construção da Filosofia?

“Determinando com precisão o seu objeto próprio, ensinando-lhe a procurar a essência e


as definições das coisas”.

A Filosofia de Sócrates é, pois, a FILOSOFIA DAS ESSÊNCIAS, porque ele exigia que se
distinguisse sempre o essencial do acidental e que se exercitasse incansavelmente a
busca das essências.
Em outras palavras,
Sua filosofia consistia em buscar, intelectualmente, uma definição para as coisas, ou
melhor, para cada coisa, delimitando e determinando o que ela é, por um conceito que
convém somente a ela.
3) Sócrates aparece, então, como MESTRE DO ESPÍRITO CIENTÍFICO e do
INTELECTUALISMO MINUCIOSO.

Em síntese:
- Reverteu a crise sofistica para a salvação da razão;
- Fundou a ciência da ética e libertou o pensamento da fascinação sensível;
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- Orientou a especulação filosófica para a metafísica e para a sabedoria propriamente
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dita;
- Foi, enfim, um iniciador da Filosofia propriamente dita. A consumação da Filosofia
estava reservada a Platão e a Aristóteles.
- Foi condenado à morte sob a acusação de “corruptor da juventude e de não ter respeito
pelas instituições”.
* A Filosofia Socrática é, enfim, a Filosofia das Essências. *

 Os Socráticos Menores:

Basearam-se em alguns aspectos fragmentários do pensamento Socrático.


Dividem-se em:
 Simples moralistas os Cirenaicos;
os Cínicos.

- Os Cirenaicos: Para estes o fim último do homem consistia na voluptuosidade do


momento.
Principais representantes: Aristipo de cirene; Teodoro o Ateu; Hegésias e Aniceris.
- Os Cínicos: Estes divinizavam a força ou a virtude.
Principais representantes: Antístene (445 a. C.), Diógenes de Sinope (400 – 323) e Crates
de Tebas.

 Lógicos Os neo-sofistas de Elis;


Os neo-sofistas de Megara.

A tendência destes pensadores era arruinar toda a ciência, embora tenham contribuído
para o desenvolvimento da Lógica.
Principais representantes:
- Os neo-sofistas de Elis: Fede, Menédemo.
- Os neo-sofistas de Megara: Euclides de Megara, Eubúlides de Mileto, Diodoro Cronos e
Estilpão.
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 Os Socráticos Maiores:
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 Platão e seus discípulos

PLATÃO (427 – 347 a. C.):

- Tentou sistematizar todo o pensamento filosófico de seus antecessores. Não logrou


êxito, mas também não deixou de realizar um trabalho de valor.
- Para Platão o ser é imperfeito; há coisas que são mais ou menos belas; mais ou menos
perfeitas; mais ou menos dignas de amor... e se há o imperfeito, é porque a perfeição
deve existir. Assim ele resgata o verdadeiro Deus, transcendente e distinto do mundo,
que lhe aparece como a própria Bondade, o Bem absoluto.
* A Filosofia de Platão é a FILOSOFIA DAS IDÉIAS, que consiste nas seguintes
afirmações:
“O que há nas coisas em estado de participação deve encontrar-se em algum lugar em
estado puro”, ou seja, para Platão existia um mundo supra-sensível e que neste havia
uma multidão de modelos imateriais ou arquétipos, imutáveis ou eternos que ele
denominava de idéias objeto apreendido pela inteligência, faculdade (atributo)
do verdadeiro, que são, portanto, a Realidade. (Maritain: 53)

IDÉIA REALIDADE

- O Mito da Caverna:
Aquilo que vemos e sentimos são tão inconsistentes como as sombras que passam
numa parede.
O homem – cativo do corpo e dos sentidos – é comparado a um prisioneiro
acorrentado numa caverna que vê no fundo as imagens/sombras dos que circulam fora
da caverna sob a luz do sol – sombras fugazes e inatingíveis das idéias-substâncias, que
o sol do mundo inteligível, Deus ou Idéia do Bem, ilumina.

A Teoria das Idéias é uma sistematização do conhecimento, do homem e do


mundo físico.
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O conhecimento humano se divide em dois gêneros diferentes: - a imaginação e a
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opinião aplica-se a tudo aquilo que não pode ser objeto da ciência, ao mundo
visível e corruptível e às sombras enganadoras;
- o conhecimento intelectual cujo objeto são as coisas inteligíveis, que
requerem raciocínio, exigem o uso da razão = os números matemáticos e a inteligência
que se eleva pela dialética à contemplação intuitiva da Idéias – Essências, de Deus.
- Todas as nossas idéias apreendemos antes do nosso nascimento nas vivências
espirituais. Não há nada construído nesse mundo que antes não tenhamos apreendido no
mundo espiritual. Esse mundo é uma cópia imperfeita da realidade vivida espiritualmente.
Em outras palavras,
Não há nada que passe pelos nossos sentidos que antes não tenha se passado pela
esfera das idéias.

* Platão estabeleceu a verdade fundamental da filosofia moral:


- Deus, e só Deus, é o Bem do homem.
Devemos nos assemelhar a Ele por meio da virtude e da contemplação.
- Ele aprofundou a noção da virtude e esboçou a Teoria das Quatro Virtudes Cardeais:
PRUDÊNCIA, JUSTIÇA, FORÇA e TEMPERANÇA.
“É melhor sofrer a injustiça do que a cometer”.
- Ensinava que a vontade segue sempre a conduta da Inteligência.
“Todo pecador não é senão um ignorante”.

Em síntese:
* Pretendia encontrar na filosofia da salvação, a purificação e a vida integral do homem.

ARISTÓTELES (384 – 322 a.C.)

- Aluno da Academia de Platão.


- Natural da Macedônia.
- Pai médico (filósofo natural).
- Seu maior interesse: a natureza viva. Interessava-se pelas mudanças, pelos processos
naturais.
- Foi, portanto, o último filósofo grego e o primeiro biólogo europeu.
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- Aristóteles, além da razão, usou também os sentidos observava a natureza.
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- Escreveu mais de 170 títulos. Destes, 47 sobreviveram até hoje. Toda sua construção
teórica foi resultado de seus estudos.
- Não foram livros completos. Eram apontamentos para as aulas.
- Criou uma linguagem técnica até hoje usada nas ciências.
- Escreveu sobre todas as ciências.
- Sua filosofia seria a filosofia natural.
- Colocou-se contra as idéias da teoria de Platão.
- Tentou colocar ordem em nossos conceitos e funda a lógica como ciência.
- Elaborou sua visão de homem e de sociedade.

* QUANTO ÀS IDÉIAS:

- Estas não são inatas.


- Não existe nada na consciência que já não tenha sido experimentado pelos sentidos.
- Tudo o que existe na alma humana não passa de meros reflexos dos objetos da
natureza.
- Embora afirmasse que as idéias não eram inatas, admitia que a razão era. Segundo
Aristóteles, temos uma capacidade inata de ordenar em diferentes grupos e classes
todas as nossas impressões sensoriais, permitindo, assim, que surjam os conceitos.
- Para Aristóteles, a razão era a característica mais importante do homem. Todavia, esta
permanece totalmente “vazia” enquanto não PERCEBEMOS nada.

* A CONSTATAÇÃO DA REALIDADE A PARTIR DA “FORMA” E DA “SUBSTÂNCIA”:

- A realidade consiste em várias coisas isoladas, que representam uma unidade de


“forma” e de “substância”:
FORMA: são as características das coisas;
SUBSTÂNCIA: o material do qual a coisa se compõe.

Sempre tem a possibilidade de adquirir determinada forma.


Daí,
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- Toda mudança observada na natureza é uma transformação ocorrida na substância, de
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uma possibilidade para uma realidade.
Portanto,
- A forma de uma coisa revela tanto as suas possibilidades como as suas limitações.
- Forma e substância não dizem respeito apenas aos organismos vivos, mas a tudo o que
existe na natureza.

* A CAUSA FINAL OU “CAUSA DA FINALIDADE”

- Para Aristóteles, tudo possuía uma finalidade, ou seja, por trás de tudo na natureza
havia um propósito/intenção maior.
- Aristóteles já reconhecia existir três tipos de causa para os fenômenos: Causa
substancial ou material; Causa atuante ou eficiente; Causa formal (inerente à forma).
Porém, para ele havia ainda a causa final ou de finalidade, válida para tudo na natureza.

* LÓGICA:

- Aristóteles foi um organizador queria pôr ordem nos conceitos dos homens.
- Fundou, então, a ciência da lógica estabeleceu uma série de normas rígidas
para que conclusões ou provas pudessem ser consideradas logicamente válidas.
Exemplo:
Todas as criaturas vivas são mortais. 1ª premissa
Hermes é uma criatura viva. 2ª premissa
Logo, Hermes é mortal. Conclusão
Concluímos, pois, que:
- A lógica aristotélica trata da relação entre os conceitos.
- Para se chegar ao conceito de ciência é preciso percorrer o caminho da lógica.
- Aristóteles tratou da lógica nos seguintes livros:
- Categorias: analisou as idéias particulares e universais e os predicados;
- Da Interpretação: abordou a teoria das idéias e conceitos;
- Primeiros e Segundos Analíticos: tratou da teoria dos raciocínios e silogismo;
- Tópicos: onde apresentou os lugares comuns;
- Refutação sofística: onde mostrou os raciocínios errôneos ou sofísticos.
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- A investigação científica é, enfim, a passagem de um conhecimento de um fato às
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explicações das razões desse fato. Em outras palavras,
- A investigação científica se dá pelo método observação causa:

indução
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observação princípios explicativos
4 3
dedução

- O caminho sugerido por Aristóteles (Livro Segundo Analítico) para a dedução é o de


abstrair os conceitos universais a partir da observação dos particulares.
- Assim, Aristóteles apresenta dois processos de investigação: o Indutivo e o Dedutivo.
- Para se deduzir é preciso que tenhamos alguns conceitos básicos, como: que é juízo,
que é idéia, que é conceito, que é proposição, que é silogismo.
- A lógica se tornou, portanto, o seu método de trabalho.
- Sua filosofia passou a ser denominada, então, como a FILOSOFIA DA LÓGICA.

* HIERARQUIA DA NATUREZA:

- Aristóteles observou na natureza que havia uma escala/hierarquia que era determinada
não só pelas características das coisas, mas principalmente pelo que elas fazem ou são
capazes de fazer.
- Para Aristóteles, a natureza progride, passo a passo, das coisas inanimadas para as
criaturas vivas. Ele dividiu a natureza em dois grupos principais:

INANIMADOS: pedras, gotas d‟água, torrões de terra. Não possuem


potencialidade de transformação.

ANIMADOS: CRIATURAS VIVAS: possuem uma potencialidade de transformação.


Divide-se em:
* os animais;
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* o homem.
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- Além dos seres vivos, Aristóteles admitia a existência de um DEUS coordenando os
movimentos da natureza e por isso está colocado no topo da hierarquia da natureza.
- Deus coordenaria não só os movimentos aqui na Terra, como também os movimentos
de todo o universo.
- Deus foi denominado de “primeiro impulsor”, não apenas porque impulsionava o
movimento universal, mas era a própria causa primordial de todo o universo, incluindo a
vida natural do Planeta Terra.
Então, a hierarquia da natureza seria:
Deus;
Homem: vive a plenitude da vida da natureza porque tem a racionalidade de pensar
racionalmente.
Animais: cresce, se alimenta e se locomove.
As plantas: cresce e se alimenta.
Os inanimados.

A ÉTICA ARISTOTÉLICA:

Quanto à Felicidade:
- O homem só é feliz se puder desenvolver e utilizar todas as suas capacidades e
possibilidades.
- A felicidade divide-se em três formas:
1ª) Uma vida de prazeres e satisfação; REAL
2ª) Uma vida como cidadão livre e responsável; FELICIDADE
3ª) a vida como pesquisador e filósofo.

Quanto à Virtude:

- Nos chama a atenção para um “meio-termo de ouro”:


“Não devemos ser nem covardes, nem audaciosos, mas corajosos”.
“Não devemos ser nem avarentos, nem extravagantes, mas generosos”.
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A POLÍTICA:

- O homem é um “ser político”.


- Sua visão de sociedade também expressa essa necessidade de moderação.
- Sem a sociedade, não somos pessoas.
- A família e a cidade satisfazem nossas necessidades vitais primárias (comida e calor;
casamento e criação dos filhos).
- Mas a forma mais elevada do convívio humano, só poderia ser o Estado.
- Algumas formas de organização do Estado, conforme Aristóteles, boas:
- Monarquia: aquela em que há um único chefe de Estado.
- Aristocracia: aquele em que o Estado é governado por um grupo maior ou
menor de soberanos; (seria a oligarquia de hoje);
- Democracia: governo de todos (povo).
- Aristóteles nos alertava para o fato de que todas essas formas poderiam sofrer
desvirtuações – serem utilizadas para interesses de poucos, inclusive a própria
democracia que poderia ser transformada em “domínio da plebe”.

A MULHER:

- Achava que faltava alguma coisa à mulher;


- A mulher “é um homem incompleto”;
- Na reprodução a mulher “é passiva e receptora”, enquanto o homem é ativo e
reprodutivo.
- O filho do casal herdava apenas as características do pai.
- Essa visão predominou por toda a Idade Média e sobre a Igreja (São Tomás
de Aquino).

A DIVISÃO DA FILOSOFIA:

Instrumental: Lógica ou Órganon – ciência da forma ou lei do próprio pensar.


Teórica ou Física (primeiro grau de abstração)
Especulativa Matemática (segundo grau de abstração)
Metafísica (terceiro grau de abstração)
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Ética – ao nível do indivíduo
Agível Econômica – ao nível familiar
Prática Política – ao nível do Estado

Factível Artes Liberais (escultura, música)


Artes Mecânicas (carpintaria, náutica)

Sobre a Filosofia Especulativa:


- Na Física: primeiro grau de abstração, Prescinde-se dos caracteres individuais e
concretos das coisas, e se retêm apenas os caracteres físicos ou naturais, sujeitos ao
movimento e ao tempo, hoje abrangendo questões que fazem parte da Cosmogonia e da
Psicologia.
Sobre a Física, Aristóteles escreveu:
Da Física: oito livros, sendo os primeiros quatro sobre o movimento.
Do Céu: quatro livros.
Da Geração e Corrupção: dois livros.
Da meteorologia: quatro livros.

- Na Matemática, segundo grau de abstração, prescinde-se da qualidade específica ou


natural das coisas para se fixar numa quantidade pura, o número.
- Na Metafísica, terceiro grau de abstração, prescinde-se da quantidade e se atém
unicamente ao ser, isto é, àquilo que todas as coisas têm em comum. Essa questão
Aristóteles chamou de Filosofia Primeira.

Sobre a Filosofia do Agível e do Factível:


- Agível: trata-se da vida concreta do homem no mundo. É aquela que é feita pelo homem
no mundo intelectual.
- Factível: é feita no mundo material.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna
Sobre a Agível escreveu:
20
Ética a Nicômaco
- Ética – sobre a vida individual Ética a Eudemo
Grande Ética (na verdade trata-se da mais
breve)
- Econômica – sobre a vida familiar.
- Política – sobre a vida política. Escreveu oito livros que versam:

1º) Família; 5º) Sobre as Mudanças da Forma do


2º) Analisa teorias sobre o Estado; Estado (as sedições e as revoluções)
3º) Sobre os fundamentos das instituições 6º) Sobre as instituições democráticas;
políticas; 7º) Sobre a constituição ideal;
4º) Sobre as Características das instituições; 8º) Sobre a Educação

DIFERENÇAS ENTRE PLATÃO E ARISTÓTELES

PLATÃO ARISTÓTELES
* Mergulhado no mundo das idéias * Estudou peixes, rãs e as plantas.
(idéias perfeitas que estão acima do
mundo sensorial)
* Não observava as mudanças ao nosso * Interessava-se pelos processos
derredor. Queria encontrar algo que naturais (mudanças da natureza).
fosse eterno e imutável.
* Usou apenas a razão. * Usou os sentidos.
* Usava uma linguagem poética e * Usou uma linguagem sóbria,
mitológica em seus escritos. pormenorizada, como os de uma
enciclopédia.
* Tudo o que escrevia era resultado de
seus estudos – observados e
“experimentados”.
* O grau máximo da realidade está em * O grau máximo da realidade está em
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

pensarmos com a razão. PERCEBERMOS e SENTIRMOS com 21


os sentidos.
* Considerava tudo o que vemos meros * Tudo o que existe na alma humana
reflexos daquilo que existe no mundo não passa de mero reflexo dos objetos
das idéias. da natureza.
* Não há nada na natureza que antes * Não existe nada no mundo das idéias
não tivesse existido no mundo das que antes não tenha passado pelos
idéias. sentidos.
* Na ética, defende a idéia do equilíbrio * Na ética, na busca da verdade,
e da moderação para a harmonia. devemos buscar o “meio-termo de ouro”.
* As mulheres deveriam se libertar da * A mulher seria um ser incompleto;
vida doméstica; ter acesso aos estudos passivo e apenas receptor na
filosóficos e ocupar cargos políticos. reprodução.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

22
PERÍODO PÓS-SOCRÁTICO

 O Helenismo

Cultura grega vigente nos três grandes reinos helênicos: a Macedônia, a Síria e o Egito.

* Acontecimentos históricos importantes:

- Atenas perdeu a sua posição hegemônica As conquistas de Alexandre o


Magno (356-323 a. C.).

- Rei da Macedônia.
- Foi aluno de Aristóteles.
- Vitória final sobre os persas.
- Uniu o Egito e todo o Oriente até a Índia, à civilização grega.
- Fez surgir uma comunidade internacional, na qual a cultura e a língua grega
desempenharam um papel importante.
- Este período durou aproximadamente 300 anos.
- A partir de 50 a.C., Roma foi a predominância militar. Conquistou os reinos helênicos.
- A cultura e língua romana predominavam da Espanha, no Ocidente, até o extremo da
Ásia.
- Seria o início do período romano ou “Final da Antigüidade”.
- Mas antes dessa conquista, Roma já teria sido província da cultura grega, o que também
permitiu que a Filosofia grega continuasse com um papel importante na construção do
conhecimento ocidental, mesmo que a sociedade grega já havia sido esquecida.

 A Filosofia no Helenismo
- não surgiram novos e nem grandes nomes.
- Os três grandes filósofos de Atenas (Sócrates, Platão e Aristóteles) se tornaram
inspiração para diferentes correntes filosóficas, tais como:
- Os cínicos;
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

- Os estóicos;
23
- Os Epicureus;
- O neoplatonismo.
- O ponto em comum entre eles era o desejo de responder às perguntas sobre qual a
melhor maneira de o homem viver e morrer.
- A ética também foi uma discussão importante, ou melhor, a discussão central.
- Procuraram saber em que consistia a verdadeira felicidade e como ela poderia ser
alcançada.
- A partir das respostas encontradas pelos filósofos, através das pesquisas, surgem as
ciências.
- A Filosofia não surgiu, portanto, como uma ciência, mas primeiramente como reflexão e
lógica.
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24
A PATRÍSTICA E SANTO AGOSTINHO

AURELIUS AUGUSTINUS

- Nascimento: 13 de Novembro de 354 d. C. – Tagaste/ África.


- Estudou: Tagaste, Madaura e Cartago;
- Influenciado: pelos escritos de Cícero (106-43 a. C.) – Hortensius.
- Dedicou-se à Filosofia, fundou uma escola em Cartago e mudou-se para Roma;
- Freqüentou a Academia Platônica;
-O neoplatonismo foi considerado na época a filosofia por excelência – a melhor
formulação da verdade racionalmente estabelecida. Era vista como a doutrina capaz de
auxiliar a fé cristã a tomar consciência da própria estrutura interna e defender-se com
argumentos racionais, elaborando-se como teologia.
- Influenciado: por Sto. Ambrósio (340?-397), bispo de Milão.
- Em 386: Foi inspirado pelas palavras do apóstolo Paulo, que lhe foi revelada por um
canto infantil.
- Seguiu então para o campo – propriedade rural do amigo Verecundo, com a família e
amigos a fim de descansar “das angústias do século”.
- Aos 36 anos se tornou vigário.
- Em 391 foi indicado pelos fiéis para ser um auxiliar das funções sacerdotais – “bispo
coadjutor” – aos 41 anos de idade.
- Exerceu funções de um verdadeiro juiz – desde Constantino ((288? – 337), o império
romano reconhecia a autoridade episcopal nos processos civis.
- Morreu em 23 de Agosto de 430, aos 76 anos de idade.

PRINCIPAIS OBRAS

386 – Contra os Acadêmicos


387 – Solilóquios
388-395 – Do Livre Arbítrio
389 – De Magistro
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400 – Confissões
25
412 – Espírito e Letra
413-426 – A Cidade de Deus
413-426 – Retratações

A PATRÍSTICA

Inicialmente foi uma doutrina constituída por algumas regras de conduta moral e
pela crença na salvação através do sacrifício de Cristo, sem nenhuma fundamentação
filosófica.
Posteriormente foi feito um esforço em conciliar as verdades reveladas com idéias
filosóficas, isso pelos primeiros pensadores cristãos – Padres da Igreja, por isso
PATRÍSTICA.

O que se encontra na Patrística são escritos de elogios ao cristianismo e tentativas


de mostrá-lo como doutrina não-oposta às verdades racionais do pensamento helênico e
Santo Agostinho foi o principal adepto dessa maneira de pensar.

FÉ E RAZÃO: A BUSCA DA FELICIDADE

O problema da felicidade constitui, para Agostinho, toda a motivação do pensar


filosófico.
A filosofia é entendida como uma indagação sobre a condição humana à procura
da beatitude.
A razão se relaciona duplamente com a fé: precede-a e é sua conseqüência. É
necessário compreender para crer e crer para compreender. (“Intellige ut credas, créd ut
intelligas”).
A filosofia é para Agostinho, apenas um instrumental auxiliar destinado a um fim
que transcende seus próprios limites.
Agostinho conseguiu sistematizar uma grandiosa concepção do mundo, do homem
e de Deus.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

UMA TEORIA DOGMÁTICA DO CONHECIMENTO


26

O primeiro problema filosófico, focalizado por Agostinho foi o dos fundamentos do


conhecimento. Ao redigir o diálogo Contra os Acadêmicos, reabilita a argumentação dos
sentidos como fonte da verdade. Para ele a sensação jamais é falsa. Falso é querer ver
nela a expressão de uma verdade externa ao próprio sujeito. Em Cidade de Deus, ele
reforça essa tese.

A AÇÃO DA ALMA SOBRE O CORPO – UMA NOVA TEORIA DO CONHECIMENTO

Agostinho mantém a compreensão de Platão de que o homem possui uma alma


que se serve de um corpo, adotando inclusive a idéia de transcendência hierárquica da
alma sobre o corpo.
O conhecimento seria a descoberta de regras imutáveis, tais como “2 + 2 = 4”, ou
então o princípio ético segundo o qual é necessário fazer o bem e evitar o mal.
Ele nos coloca, portanto, duas formas de conhecimento: o primeiro limitado aos
sentidos e referente aos objetos exteriores ou imagens; o segundo, encontrado na
matemática e nos princípios fundamentais da sabedoria, que constitui a verdade e que
remete ao questionamento: será o próprio homem a fonte dos conhecimentos perfeitos?
Para agostinho só haveria uma resposta possível: a aceitação de que alguma coisa
transcende a alma individual e dá fundamento à verdade: Deus.

A DOUTRINA DA ILUMINAÇÃO DIVINA

Trata-se de uma metáfora recebida de Platão, que a partir do mito da caverna diz
que o conhecimento, em ultima instância, é o resultado do bem, considerado como um sol
que ilumina o mundo inteligível. A diferença, porém, de Agostinho para Platão é que, para
o primeiro, o conhecimento não seria uma descoberta pela alma de um conteúdo do
passado, mas sim uma irradiação divina no presente.
Todo conhecimento verdadeiro, portanto, é resultado de um processo de
iluminação divina, que possibilita ao homem contemplar as idéias, arquétipos eternos de
toda a realidade. Essa iluminação também pode advir quando o homem passa a
contemplar a luz divina ao olhar o sol: seria a “experiência mística”.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

27
O HOMEM E A ESSÊNCIA DO PECADO

Na ordem das coisas o homem ocupa uma posição privilegiada, visto que foi feito à
semelhança de Deus. A alma possui três faculdades que corresponde às três pessoas da
Trindade:
 A memória (persistência de imagens) – Deus (essência – aquilo que é e nunca
deixa de ser);
 A inteligência (correlato do verbo, razão ou verdade) – Filho
 A vontade (expressão humana do amor) – Espírito Santo.

A vontade é a faculdade mais importante porque interfere nos atos do espírito


constituindo o centro da personalidade humana. A vontade é criadora e livre e, portanto,
pode levar o homem a afastar-se de Deus e aproximar-se do mal. Reside aqui a essência
do pecado que é visto como algo não necessário à vida. Seria resultado apenas da
vontade humana.
A alma que peca não consegue salvar-se sozinha, por suas próprias forças. Pecar
é de inteira responsabilidade do homem, mas a sua salvação (retorno às origens divinas)
dependerá da ação/iluminação do Pai. Logo, não será uma questão de querer, mas sim
de poder. Essa é a doutrina da predestinação e da graça de Santo Agostinho – cerne da
sua antropologia.

Na obra Cidade de Deus ele irá discutir a dualidade dos eleitos e dos condenados,
discussão central de sua filosofia da história. Ainda irá discutir acerca das oposições entre
o inteligível e o sensível, alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal, ser e não-ser.
A história é vista por Agostinho como resultado do pecado original de adão e Eva,
que se transferiu a todos os homens. Aqueles que neles persistem constroem a cidade
humana, ou terrena, onde são permanentemente castigados. Os eleitos pela graça divina
edificam a Cidade de Deus e vivem em bem-aventurança eterna. A construção
progressiva da Cidade de Deus seria, pois, a grande obra começada depois da criação e
incessantemente continuada.
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A ESCOLÁSTICA E SÃO TOMÁS DE ÁQUINO

A ESCOLÁSTICA

Trata-se de uma das fases do período medieval – do pensamento medieval. Seria


a Filosofia e a Teologia que eram ensinadas nas escolas medievais.

Desenvolvimento do pensamento medieval:

1) Do séc. V ao IX “obscurantismo” medieval depressão da cultura


1
medieval. Alguns representantes: Boécio e Escoto de Erigena.
Historicamente: foi o período da Consolidação do sagrado Império Romano.

2) Séc. X e XI se caracterizou pelas reformas monásticas. Alguns


representantes: Anselmo de aosta; Abelardo; Escola de Chartres e de São Victor.
Historicamente: foi o período das lutas pelas investiduras e cruzadas.

3) Séc. XIII era de ouro da Escolástica. Alguns representantes: Santo Tomás de


Aquino; São Boa Ventura e Duns Escoto.

4) é o Tempo de Ockham marca a crise da Igreja – a revelação entre fé e razão


– e também do Império.

As mudanças no sistema educacional – fim das escolas pagãs – por Justiniano


com o edito de 529 e a abertura de novas escolas – marca o inicio da formação e
organização de uma nova cultura.

Até o século XIII, as escolas são:

1
Severino Boécio – primeiro dos escolásticos; importante para o início do período medieval. Traduziu obras
gregas para o latim, como a Lógica aristotélica.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

1) Monacais ou Abaciais – anexas a uma abadia;


29
2) Episcopais – anexas a uma catedral;
3) Palatinas – anexas à corte palatium.

* Nos séculos XII e XIII nasceram as primeiras universidades – Bolonha e Paris –


associação corporativa de mestres e estudantes.

TOMÁS DE AQUINO

- Nascimento: Em 1225, no castelo de Roccasecca, próximo a Aquino;


- Estudou: Com os monges beneditinos da Abadia de Montecassino; em 1244: ingressou
na Ordem dos Dominicanos; em 1245 continuou os estudos em Teologia, em Paris, com
Alberto Magno; em 1259 obtém o título de doutor em teologia.
- Lecionou: na Itália, em 1259, em Argani, Orvieto, Roma e Viterbo. Em 1269 a 1272, em
Paris.
- Morreu: em 07 de Março de 1274, na Itália – convento dos cistercienses de Fossanova,
aos 49 anos de idade.

OBRAS

Comentários Sobre as Sentenças – 1253/1256 – em Paris;


Os Princípios;
O ente e a Essência;
A Súmula Contra os Gentios;
As Questões Sobre a alma – 1259/1264;
Questões Diversas – iniciadas em 1263;
Suma Teológica (não concluída).

Em suas obras encontram-se as influências de pensadores profanos – Eudóxio, Euclides,


Hipócrates, Galeno, Ptolomeu – dos filósofos gregos – Platão e Aristóteles – dos árabes e
judeus – Al Farabi, Avempace, al Ghazali, Avicebrom, Avicena, Averróis, Israeli – e
escolásticos como Anselmo de Aosta, Bernardo Clairvoux, Pedro Lombardo. Todavia, sua
maior influência veio de Santo Agostinho e Alberto Magno.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

30
DIALÉTICA X TEOLOGIA

Ao longo do tempo, o interesse intelectual pelas idéias aristotélicas vem tomando força
em Paris – capital do mais poderoso reino da Europa e pólo de atração de estrangeiros. A
partir da segunda metade do século XII, os conteúdos desse pensador são divulgados
graças as traduções feitas pela escola de Toledo. Na física de Aristóteles a idéias de
concepção de mundo se opõe a do cristianismo: “o mundo é eterno e incriado. Deus é o
motor imóvel do universo, o „pensamento que se pensa a si mesmo‟ (...). A alma é
entendida, pois, como forma do corpo organizado, devendo nascer e morrer com ele sem
ter nenhuma destinação sobrenatural”.
Os adeptos a esses princípios aristotélicos eram chamados de dialéticos e o
número de pessoas que assim pensavam crescia cada vez mais. Acirra-se, dessa
maneira, as discussões entre dialéticos e a Igreja que toma as medidas legais:
 Em 1211, o concílio de Paris proíbe o ensino da física de Aristóteles;
 Em 1215, o legado papal proíbe a leitura das obras Metafísica e Filosofia Natural;
 Em 1231, a disposição papal determinava que a dialética não deveria ser mais que um
instrumento auxiliar à teologia e os mestres não deveriam fazer “ostentação da
filosofia”.

RELIGIÃO – LEI – RAZÃO

O EIXO DA TEO-FILOSOFIA

O problema da divergência entre a filosofia de Aristóteles e a Teologia acerca da


Criação foi resolvida por Tomás de Aquino ao retomar a idéia do grego acerca da
“essência e existência”. Aristóteles questionou: “O que é um ser?” e “esse ser existe?”. A
resposta à primeira pergunta constitui a definição de uma essência, todavia, uma resposta
não implica jamais a existência, lógica ou empírica, do definido. Assim, a distinção entre
essência e existência é puramente conceitual, lógica.
Tomás de Aquino, por sua vez, vai interpretar essa distinção como real
(ontológica), servindo, então, às teses teológicas. Ele conclui que a definição da essência
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

das criaturas não implica sua existência e, daí, elas não existem por si mesmas e sim
31
devido a uma outra realidade.
A distinção real entre essência e existência torna-se o fundamento metafísico da
contingência das criaturas humanas e permite introduzir na filosofia aristotélica a idéia da
criação.
Apenas em Deus haveria identidade entre essência e existência. Deus existe por si
- “Eu sou aquele que sou” (Moisés). Deus seria, assim, criador de todas as coisas e
fundamento de suas existências contingentes.
AS VIAS QUE LEVAM A DEUS

A razão pode provar a existência de Deus através de cinco vias:

1) No universo existe movimento. Todo movimento tem uma causa exterior ao próprio ser
que está em movimento. – Uma coisa não pode ser ela mesma a coisa movida e o
princípio motor que a faz movimentar-se e o próprio motor deve ser movido por um outro,
e este por um terceiro, e assim por diante. Daí deve-se admitir ou que a série de motores
é infinita e não existe um primeiro termo ou que a série é finita e seu primeiro termo é
Deus;

2) A idéia de causa em geral. Todas as coisas ou são causas ou são efeitos, não se
podendo conceber que alguma coisa seja causa de si mesma. Para Santo Tomás toda
causa deve ter sido causada por outra e esta por uma terceira e assim sucessivamente.
Logo, deve-se admitir duas possibilidades: admitir a existência de uma primeira causa não
causada – Deus – ou aceitar uma série infinita e não explicar a causalidade;

3) Os conceitos de necessidade e de possibilidade. Todos os seres estão em permanente


transformação, alguns sendo gerados, outros se corrompendo e deixando de existir. Se
alguma coisa existe é porque participa do necessário. Este, por sua vez, exige uma
cadeia de causas, que culmina no necessário absoluto, ou seja, Deus.
4) Baseia-se nos graus hierárquicos da perfeição observados nas coisas. Para avaliar
esses graus se faz necessário ter como base de comparação um termo que seja absoluto.
Deverá haver, então, uma verdade e um bem em si: Deus;
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

5) Fundamenta-se na ordem das coisas. Para Santo Tomás, todas as operações dos
32
corpos materiais tenderiam a um fim, mesmo quando desprovida da consciência disso. A
regularidade com que alcançam seu fim mostraria que eles não estão movidos pelo
acaso; a regularidade seria intencional e desejada, e mais, ordenada por uma inteligência
primeira – Deus.

A HIERARQUIA DAS CRIATURAS E DOS HOMENS

No ápice da hierarquia das criaturas encontram-se os anjos. Santo Tomás afirma


que é por intermédio da forma que Deus proporciona existência aos anjos. Os anjos
seriam criaturas como as demais, embora incorpóreas e possuidora da mais alta
perfeição entre as criaturas.
Os humanos, por sua vez, aparecem como seres dotados de duplo compromisso –
espiritual e material. Como ser material não é portador de uma inteligência pura, como a
dos anjos, mas por possuir alma está sujeito a transcender os limites do corpo físico. O
homem, portanto, pode conhecer, porque é alma, mas não pode ter contato direto com o
inteligível, porque é corpo. O conhecimento humano parte sempre dos sentidos, mas ele
é capaz de abstrair, ou seja, formar conceitos universais.
Em outras palavras, Santo Tomás afirmou que o intelecto pode gerar conceitos
abstratos e universais porque não é um mero intelecto passivo, a receber e registrar os
dados dos sentidos. A teoria do conhecimento tomista, enfim, se baseia no princípio de
que embora este – o conhecimento – se inicie no plano corpóreo, na verdade o processo
é comandado pelo fim, no plano incorpóreo, espiritual.

A IGREJA E O ESTADO

Em política, Santo Tomás distingue três tipos de lei que dirigem a comunidade ao
bem comum:
1) Lei Natural – conservação da vida, geração e educação dos filhos, desejo da vontade;
2) Lei Positiva – estabelecidas pelo homem com base na lei natural e dirigida à utilidade
comum;
3) Lei Divina – guia o homem na consecução de seu fim sobrenatural, enquanto alma
imortal.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

33
Com relação ao Estado, foi entendido como instituição natural, cuja finalidade
consistiria em promover e assegurar o bem comum.

A Igreja, por sua vez, seria uma instituição dotada fundamentalmente de fins
sobrenaturais. Assim, o Estado não precisaria se subordinar à Igreja, como se ela fosse
um Estado superior. A subordinação do Estado à Igreja deveria limitar-se aos vínculos de
subordinação existentes entre a ordem natural e a ordem sobrenatural, na medida em que
esta aperfeiçoasse a primeira.

A expressão equilíbrio está presente no entendimento tomista entre plano social e


político, filosofia e teologia e, finalmente, entre razão e fé.

DESCARTES

O idealismo: o que existe é a razão subjetiva.

A razão é regida por princípios do conhecimento universais e necessários. A realidade é o


que podemos conhecer por meio das idéias da nossa razão.

[Opõe-se ao realismo: afirma a existência objetiva de uma realidade externa. O que existe
é a razão objetiva]

A dúvida como método: a crítica sistemática ao produto do raciocínio.

Os princípios
- Evidência: o claro e distinto / intuição intelectual que não vai se colocar em dúvida;
- Decomposição: análise
- Ordem: do mais simples ao mais complexo
- Enumeração: descrição

A ATIVIDADE RACIONAL
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

A intuição: o conhecimento direto e claro


34

Dedução: o conhecimento que parte de premissas e chega a uma conclusão clara e


evidente.

Indução: o conhecimento que parte do particular para chegar a leis ou conhecimentos


gerais

KANT

A FILOSOFIA CRÍTICA

A superação da dicotomia racionalismo / empirismo


Fundamentar o conhecimento
O conhecimento a priori da experiência
A inversão copernicana
O ponto de partida do conhecimento é o estudo da faculdade de conhecer, da razão.

Crítica: em que condições são possíveis os conhecimentos verdadeiros.


A razão como forma da sensibilidade e como forma do entendimento.

HEGEL

A DIALÉTICA

A dialética: a realidade como movimento contraditório, condensável em três momentos


sucessivos (tese, antítese e síntese) que se manifestam simultaneamente em todos os
pensamentos humanos e em todos os fenômenos do mundo material.

A razão é histórica: ela procede e devem. A consciência resulta de um processo histórico


de formação.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

O senhor e o escravo: o processo de formação da consciência determinado pela relação


35
com o outro. No processo dialético o senhor precisa ser reconhecido como tal pelo
escravo.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

36

ÉTICA

CONCEITO DE ÉTICA

ETIMOLOGIA

Vocábulo grego ethos = morada; lugar onde se habita. Mas também pode significar
“modo de ser” ou “caráter”.

Esse modo de ser é a aquisição de características resultantes da nossa forma de


vida. A reiteração de certos hábitos nos faz virtuosos ou viciados. Logo, o ethos “é o
caráter impresso na alma por hábito”2. “Como os hábitos se sucedem, tornam-se por sua
vez fonte de novos hábitos. O caráter seria essa segunda natureza que os homens
adquirem mediante a reiteração da conduta”. (Nalini, 2006: 26)
É a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. É a teoria dos
costumes, ou melhor, ciência dos costumes. Ciência porque tem objeto, lei e método
próprios.

OBJETO DA ÉTICA

A moral, especificamente a moralidade positiva (“conjunto de regras de


comportamento e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do
bem”3)

OBJETIVOS DA ÉTICA:

Geral

2
Cortina (1997) apud Nalini (2006: 26)
3
Maynez (1939) apud Nalini (2006: 26)
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

Extrair dos fatos morais os princípios gerais a eles aplicáveis. Como ciência, deve
37
aspirar a racionalidade e objetividade mais completas e, ao mesmo tempo, deve
proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível,
comprováveis.

Específicos

- Elucidar em que consiste o moral – que não se identifica com outros saberes
práticos: jurídico, político e religioso), embora estejam interligados;
- Tentar fundamentar o moral, ou seja, inquirir as razões para que haja moral ou
denunciar que não há;
- Tentar uma aplicação dos princípios éticos descobertos aos distintos âmbitos da
vida cotidiana

A Ética reveste conteúdo mais teórico do que a moral. Está mais direcionada a
uma reflexão dos fundamentos do que a moral – mais pragmática. O que distingue a ética
da moral é que a ética está além dos limites da moral, ou seja, a ética não se limita a um
conjunto de regras de conduta de uma cultura, mas diz respeito a uma “metamoral” =
doutrina além da moral. “Daí, a primazia da ética sobre a moral: a ética é desconstrutora e
fundadora, enunciadora de princípios ou de fundamentos últimos”. (Nalini, 2006: 27)

HIPÓTESE

Há potencialidade no ser humano para conversão do seu comportamento, ou seja,


para comportar-se eticamente em seu universo. O ser humano pode tornar-se cada dia
melhor.

Em resumo, afirmará Nalini (2006:27):

“A ética é uma disciplina normativa, não por criar normas,


mas por descobri-las e elucida-las. Seu conteúdo mostra às pessoas os
valores e princípios que devem nortear sua existência. A ética aprimora e
desenvolve o sentido moral do comportamento e influencia a conduta
humana.”
(...) A ética é a doutrina do valor do bem e da conduta
humana que tem por objetivo realizar esse valor. Se torna uma das formas
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

de autalização ou de experiência de valores ou, por outras palavras, um dos


aspectos da Axiologia ou Teoria dos Valores. Assim, o complexo de 38
normas éticas se alicerça em valores, normalmente designados valores do
bom. Há concesão indissolúvel entre o dever e o valioso. Pois a pergunta
o que devemos fazer? Só se poderá responder depois de saber a
resposta à indagação o que é valioso na vida? [grifos do autor].

ÉTICA ABSOLUTA OU ÉTICA RELATIVA

Ética Absoluta: a validez da ética deve ser atemporal e absoluta. O conhecimento da


norma ética deve ser feito à priori. Propõe a moral universal objetiva.
Parte do princípio que todo ser humano (normal) tenha em si uma bússola natural
do certo e do errado. Possui uma consciência estimativa na qual reside o seu sentido de
valor. Assim, chega à conclusão de que não há criação e nem transmutação de valores,
senão descobrimento ou ignorância dos mesmos. Daí caberá à Ética proporcionar
instrumentos ao homem que proporcione o descobrimento dessa moral.

Ética Relativa: a norma ética tem vigência puramente convencional e mutável. O


conhecimento da ética se dá pelo empirismo. O empirismo defende o princípio da
existência de várias morais e, portanto, do subjetivismo.
Parte da idéia de que os valores se relacionam com a subjetividade humana, isto é,
cada ser humano possui sua escala valorativa. Bem e Mal são apenas palavras cujos
significados são condicionados por referência de tempo e espaço. O bem é fruto de
criação subjetiva e a norma moral é mero convencionalismo

CONCEITO DE MORAL

ETIMOLOGIA:

Deriva da palavra romana: mores, com o sentido de costumes, conjunto de normas


adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática.

A moral é um dos aspectos do comportamento humano. Não é ciência. É objeto da


ciência.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

O moral, nos referimos a um fenômeno, e não a uma doutrina, acompanha a vida


39
dos homens. É analisado pela reflexão filosófica em várias dimensões: na filosofia do ser
é abrangida como dimensão moral; na filosofia da consciência, como consciência moral e
aceita-se um tipo de linguagem denominada linguagem moral (justo, mentira, lealdade).
O moral, então, é inerente ao ser humano. Todos possuímos aquilo que é
denominado intuição moral. Pode haver homens imorais, porém, não amorais. Em
resumo, moral é a formação do caráter individual.

CONCEITO DE NORMA

Norma é regra de conduta que postula dever. Toda norma pressupõe uma
valoração: conceito do bom, corresponde ao valioso; conceito do mau, corresponde ao
desvalioso.
Todo juízo normativo é regra de conduta, mas nem toda regra de conduta é uma
norma, pois algumas regras de conduta têm caráter obrigatório, enquanto outras são
facultativas. Ex: as regras técnicas.
As normas têm fins práticos. Não pretendem explicar nada, mas provocar um
comportamento. Exprime um dever e se dirige aos seres capazes de cumpri-la ou viola-la.
É de essência da norma a possibilidade de sua violação.

CLASSIFICAÇÃO DA ÉTICA

São várias as classificações. A aqui apresentada leva em consideração as quatro


formas fundamentais de manifestação do pensamento ético ocidental. Recebem o nome
de: ética empírica, ética dos bens, ética formal e ética valorativa. Esta classificação
compreende o desenvolvimento do pensamento moral.4

Ética Empírica: é aquela que pretende derivar seus princípios na observação dos
fatos. Nesse caso, não deve questionar o que o homem deve fazer, mas examinar o que
ele faz. Pois o homem deve ser como naturalmente é, e não se comportar como as
normas queiram que ele seja.

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A classificação exposta foi adotada pelo pensador Eduardo Garcia Maynez, em seus estudos.
Ver mais a esse respeito em NALINE (2006: 33)
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A ética empírica conduz ao relativismo e o subjetivismo ético ou subjetivismo moral


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torna-se uma de suas principais variantes. Ela ainda apresenta uma tríplice configuração:
a ética anarquista, a ética utilitarista e a ética ceticista, mas trazendo ainda a ética
subjetivista.
- Ética anarquista: “sem governo”. Predomina a vontade do homem. É uma ética
egoísta;
- Ética utilitarista: bom é aquilo que é útil. A conduta ética desejável é aquilo que é
útil. Porém, o útil na verdade, não se confunde com o bom, ou seja, a eficácia ética
dos meios não corresponde ao valor ético dos fins;
- Ética Ceticista: aquela que duvida de tudo; que, portanto, se isenta de adotar uma
atitude. Leva o indivíduo a uma estagnação. É a atitude de nada fazer – a atitude
da omissão. Torna-se nefasta e indesejável e até criminosa: crime da omissão.
- Ética subjetivista: consiste em cada qual adotar para si a conduta ética mais
conveniente com a sua própria escala de valores. Há o subjetivismo individualista –
o homem aqui se torna a medida de todas as coisas – e o subjetivismo social ou
específico – de uma coletividade.

Ética dos Bens: o bem é a força ordenadora da Ética e momento culminante da


vida espiritual. A vida humana é o percurso em busca do bem. O supremo bem da vida
consistirá na realização do fim próprio da criatura humana. Esse objetivo, na hierarquia
dos bens, é o que se chama de bem supremo.
Origem e desenvolvimento das formulações teóricas da ética dos bens:
- O eudonismo: deriva de eudemonia (em grego = felicidade). A tendência à
felicidade é inata e essa seria o bem supremo.
- O idealismo: a finalidade última do homem é a prática do bem; não se deve
aspirar a ser feliz, mas a ser bom. A virtude é um fim e não o meio.
- O hedonismo: a felicidade está no prazer (sensual, ou o deleite pela apreciação
das artes, etc).
As três formas podem se combinar: - o eudemonismo idealista: a felicidade é o
fim supremo e a virtude o meio para atingi-la; ou o eudeminismo hedonista: a felicidade
é o fim e o prazer, o meio.
- A ética socrática: a bondade é resultado do saber. Para ser feliz é necessário ser
bom e para ser bom é necessário ser sábio. Logo, a virtude é saber. Principais
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

preceitos: “só sei que nada sei” – dúvida metódica/provisória que conduz ao
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conhecimento e denota humildade – e “conhece-te a ti mesmo” – para se chegar
ao verdadeiro conhecimento. Para Sócrates não havia pessoas más. A maldade
seria produto da ignorância.
- A ética platônica: a virtude reside no mundo das idéias;
- A ética aristotélica: a ética consiste na realização do bem comum;
- A ética epicurista: retoma o hedonismo: o homem deve procurar o prazer e o gozo
da vida. A felicidade é o bem último da existência e consiste exatamente no prazer.
- A ética estóica: pode ser sintetizada em duas fórmulas: vive de acordo contigo
mesmo e vive de acordo com a natureza. A natureza humana se submete à razão.
Logo, viver de acordo com a natureza é viver de acordo com a razão.

Ética Formal: baseia-se nos princípios kantianos: a significação moral do


comportamento reside na pureza da vontade e na retidão dos propósitos daquele que
pratica. A moralidade parte do foro íntimo da pessoa.
Ética dos Valores: todo dever encontra fundamento em um valor. Os valores são
inatos. Não cabe, portanto, à consciência criar valores, mas apenas descobri-los.
Filosofia, Ética e Responsabilidade Social Profa. Dra. Vânia Sant‟Anna

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REFERENCIAS

CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática

LÖWY, M. Ideologias e Ciência Social – Elementos Para uma Análise Marxista. 4ª Ed.
São Paulo: Cortez, 1988.

MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de


Janeiro: Zahar

MARITAIN, J. Elementos da filosofia I: Introdução Geral à Filosofia. 14ª ed. Rio de


Janeiro: Agir, 1985.

MARITAIN, J. Elementos da filosofia II: a Ordem dos Conceitos, Lógica Menor. 11ª ed.
Rio de Janeiro: Agir, 1986.

NETO, H. N. Filosofia Básica. 3ª Edição. São Paulo: Atual. 1986.

MORENTE, M. G. Fundamentos de filosofia: lições preliminares. São Paulo: Editora


Mestre Jou

VAZQUEZ, A. S. Ética. 11 ed. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 1980.

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