Para Hampate Bá, a tradição oral permite o entrosamento humano, sendo ao mesmo
tempo “religião, conhecimento, ciência natural, iniciação à arte, história, divertimento e
recreação” (HAMPATE BÁ, 1982, p. 183); assim, convoca o ser para sua totalidade, onde o eu e a comunidade não é algo abstrato e isolado da vida, mas é uma presença genuína no mundo, “concebido como um Todo onde todas as coisas se religam e interagem.” (HAMPATE BÁ, 1982, p. 183).
Desse modo;
[...] o que estou chamando aqui de identidade é um construto de
natureza social – portanto político -, isto é, identidade social, compreendida como construída em práticas discursivas, e que não tem nada a ver com uma visão de identidade como parte da natureza da pessoa, ou seja, identidade pessoal, nem com sua essência nem com um si-mesmo unitário. (MOITA LOPES, 2003; p.20)
Concebe-se, pois, que as identidades sociais de grupos ou indivíduos se
constroem mutuamente nos jogos de espelhamento das relações de pertença, às quais não se foge na vida em sociedade. Através da articulação de um referencial baseado na Filosofia da Sagacidade e seu contraste com outros referenciais como o político-social, escolar-acadêmico, o religioso-cristão e o político-partidário estrutura-se uma crítica aos componentes da ideologia e do pensamento em angola e nas correntes formadoras de sua sociedade.
Os aspectos político-sociais levantados em Mãe, materno mar numa
atmosfera simbólica, cujos elementos da natureza, força vital para os bantu e, consequentemente, dos rituais religiosos, típicos da cultura africana, revelam a preocupação com a memória e a tradição do povo. Devido ao processo de assimilação dos padrões europeus, esta cultura foi metamorfoseada pela colonização e pela disputa de poder tanto político como religioso do pós-colonialismo. O imaginário e as adaptações por que passaram os negros são aspectos nítidos nas entrelinhas da voz narradora, como um meio possível de dialogar com a tradição. (FERREIRA, 2010, p.173)
A noção de identidade costuma se confundir com a de cultura, pois ambas
implicam na construção de significados. Quanto a esses diálogos culturais, Bastide afirma que “o pensamento negro se move no plano [...] das participações, das analogias, das correspondências” (BASTIDE, 1973, p. 182), e por meio delas é que se pretende reafirmar a identidade.